forma moderna da autobiografia
TRANSCRIPT
-
7/26/2019 Forma Moderna Da Autobiografia
1/7
IX Congresso Internacional da Associao Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC)Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do SulPorto Alegre, 18 a 21 de julho de 2004
Rousseau e a Forma Moderna da Autobiografia
Jos Oscar de Almeida MarquesDepartamento de FilosofiaUniversidade Estadual de Campinas
RESUMO: Reconhece-se geralmente que as Confisses (1764-1770) de Jean-JacquesRousseau inauguram a forma moderna do gnero autobiogrfico. Se a relevnciafilosfica que Rousseau pretendia para a obra demorou a ser reconhecida, sua influncialiterria foi imensa e imediata. Com sua peculiar mistura de narrativa factual e elementosficcionais e poticos, ela criou o que seria marca caracterstica da autobiografiaromntica, desenvolvida nas produes de Goethe, Wordsworth, E.T.A. Hoffmann emuitos outros que se seguiram. Pretendo nesta comunicao apontar e discutir algunsmomentos dessa filiao, especialmente no que se refere a Goethe e Hoffmann, tomandocomo ponto de partida algumas idias oferecidas por Eugene L. Stelzig em seu The
Romantic Subject in Autobiography: Rousseau and Goethe.
Esta comunicao se insere em um projeto mais amplo que visa explorar as relaes entre
o escritor e msico genebrino Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) e o escritor e msico alemo
Ernst Theodor Amadeus Hoffmann (1776-1822).
Rousseau exerceu sabidamente uma profunda influncia na constituio do iderio
esttico do Romantismo
1
, e, nesse sentido, no haveria por que considerar Hoffmann um receptormais privilegiado que qualquer outro autor romntico. O que me motiva a investigar mais
particularmente esses dois autores minha progressiva percepo, ou constatao, de que h
entre eles ligaes mais profundas do que essa influncia geral, desde o nvel mais visvel dos
paralelos biogrficos2at nveis mais complexos que pretendo esboar neste trabalho.
J tratei anteriormente da influncia de Rousseau em relao a um conto pouco conhecido
de Hoffmann, Das fremde Kind3, em um trabalho apresentado em 2002, em um colquio aqui
1P. ex.: o culto de uma Natureza pura e originria, a rejeio do artificialismo e das convenes, a primazia daexperincia subjetiva, o valor da expresso autntica e espontnea, a busca das razes da vida pessoal e social, e odesconforto diante do progresso tcnico alienante e desumanizador.2P. ex.: suas infncias em famlias desfeitas, seus amores juvenis por mulheres mais velhas, suas duradouras relaesconjugais com mulheres de pouco esprito, suas frustradas paixes tardias por mulheres mais jovens e socialmenteinacessveis, e, finalmente, a intensa dedicao de ambos a carreiras musicais nas quais depositavam grandesesperanas e que por fim abandonaram em favor de carreiras literrias extraordinariamente bem-sucedidas.3HOFFMANN, E. T. A. Das fremde Kind. In:Die Serapions Brder. Munique: Winkler, 1976. p. 472-511.
-
7/26/2019 Forma Moderna Da Autobiografia
2/7
Jos Oscar de A. Marques Rousseau e a forma moderna da autobiografia ABRALIC/Porto Alegre/2004 2
mesmo em Porto Alegre4. Meu objetivo final, contudo, levar essa anlise obra prima de
Hoffmann, seu romance inacabadoLebensansichten des Katers Murr.5De fato, para um leitor de
Rousseau, fascinante a quantidade de passagens e temas nesse romance que podem ser
associados de maneira mais ou menos explcita s Confisses6, mas a dificuldade que seapresenta ao investigador como dar conta metodicamente dessas relaes sem cair na mera
listagem comparativa ingnua e superficial.
A soluo, ou uma possvel soluo que venho explorando, adotar, como um passo
inicial, um enfoque que permita reduzir as duas obras a uma perspectiva comum, considerando-as
ambas como exemplares de um gnero literrio relativamente circunscrito, que a autobiografia
romntica7. Referindo ambas a esse gnero, seus paralelos e suas diferenas podem ser mais
precisamente identificados e localizados, ao serem compreendidas como desdobramentos detendncias internas ao prprio gnero, e uma linha de desenvolvimento se descortina do mesmo
modo como a referncia de dois organismos a uma linhagem comum permite dirigir a
comparao para traos primeira vista desconexos mas que a anlise revela serem aparentados.
Evidentemente h muito de arriscado nessa tentativa de reduo das duas obras, as
Confisses e o Kater Murr a um gnero comum. As primeiras so supostamente um relato
verdico, e visam transmitir um conhecimento filosfico sobre a natureza humana em geral; o
segundo conta-se inequivocamente entre as produes puramente literrias e ficcionais. Mas essadistncia pode no ser to crtica: s muito recentemente as Confissesforam reconhecidas como
obra de valor filosfico8, e, esse reconhecimento necessitou o emprstimo e a aplicao de um
instrumental conceitual proveniente dos estudos literrios9. Em contrapartida, influncia literria
4Das fremde Kind. Rousseau no lbum de famlia de E. T. A. Hoffmann. Runa: Revista Portuguesa de EstudosGermansticos. Porto [no prelo].5HOFFMANN, E. T. A.Lebens-Ansichten des Katers Murr.Munique: Winkler Verlag, 1977.6Hoffmann afirma em seu dirio, em 1804, estar lendo as Confissesde Rousseau vielleicht zum dreiigsten Mal(talvez pela trigsima vez).7 Segundo a definio de STELZIG, Eugene L. The Romantic Subject in Autobiography: Rousseau and Goethe.Charlottesville: Virginia University Press, 20008 Cf. KELLY, Christopher. Rousseaus Exemplary Life. The Confessions as Political Philosophy. Ithaca NY:Cornell University Press, 1987.9 Cf. DERRIDA, Jacques. De la grammatologie. Paris: Les Editions de Minuit, 1967 e De MAN, Paul. TheRhetoric of Blindness: Jacques Derridas Reading of Rousseau.In: Blindness and Insight: Essays in the Rhetoric ofContemporary Criticism. 2a. ed. revista, Minneapolis: University of Minnesota Press, 1983. Discuto mais
-
7/26/2019 Forma Moderna Da Autobiografia
3/7
Jos Oscar de A. Marques Rousseau e a forma moderna da autobiografia ABRALIC/Porto Alegre/2004 3
dessa obra de Rousseau foi enorme e imediata, tendo criado, sozinha, o prprio gnero da
autobiografia (sendo que nem esta palavra existia antes). Do mesmo modo, como veremos
frente, os elementos autobiogrficos no romance de Hoffmann so importantes, o que, em seu
conjunto, aproxima as duas obras.
Mas o que seria, propriamente, o gnero autobiogrfico? Recordemos a influente tentativa
de demarcao proposta por Philippe Lejeune: Narrativa (rcit) retrospectiva em prosa que uma
pessoa real faz de sua prpria existncia enfatizando sua vida individual, em particular, a histria
de sua personalidade.10
Essa definio pe em jogo elementos de 4 categorias:
1) Quanto forma da linguagem: (a) uma narrativa; e (b) em prosa.
2) Quanto a seu assunto: uma vida individual, a histria de uma personalidade.
3) Quanto situao do autor: identidade do autor (cujo nome remete a uma pessoa real) e
do narrador.
4) Quanto posio do narrador: (a) identidade do narrador e do personagem principal;
(b) perspectiva retrospectiva da narrativa.
Note-se que no se menciona aqui a verdade, afervel, em todo caso, apenas se
resolvermos previamente a questo da referencialidade do relato autobiogrfico, com seus
imensos problemas associados.11
Contra essas tentativas de definio, Paul De Man levantou objees (curiosamente
reminiscentes das crticas de Aristteles no livro IX da Potica), ao recusar a monumentalidade
ou dignidade de um gnero literrio a uma forma que parece pouco respeitvel e auto-indulgente,
e cuja tentativa de definio naufraga em questes que so ao mesmo tempo despropositadas e
detalhadamente estes tpicos em minhas comunicaes Autobiografia e Referencialidade: O caso das ConfissesdeJ. J. Rousseau (APLC, Coimbra 2004) e Rousseau e a possibilidade de uma autobiografia filosfica (ANPOF,Salvador, 2004).10LEJEUNE, Philippe.Le Pacte autobiographique. Paris: Ed. du Seuil, 1975, p. 14.11MAY, Georges.LAutobiographie.Paris: PUF, 1979; e tambm DERRIDA, op. cit.
-
7/26/2019 Forma Moderna Da Autobiografia
4/7
Jos Oscar de A. Marques Rousseau e a forma moderna da autobiografia ABRALIC/Porto Alegre/2004 4
irrespondveis12. Entre as questes irrespondveis est a exatamente a delimitao da fronteira
entre autobiografia e fico, entre o trabalho dos autobigrafos e dos romancistas.
Borrar essas fronteiras pode nos ajudar a tornar mais plausvel a considerao do carter
autobiogrfico do romance de Hoffmann. Estou consciente de que estou abusando um tanto da
flexibilidade dos conceitos, mas a proposta no me parece, afinal, to despropositada.
Lembremos as linhas gerais do Kater Murr: h nele duas narrativas entremeadas: a
primeira, declaradamente autobiogrfica, na qual Murr, o gato letrado, relatou suas experincias
de vida, entremeando acidentalmente seu escrito com folhas arrancadas de uma outra obra,
identificada como uma biografia doKapellmeisterJohannes Kreisler. Enviado para a publicao,
a autobiografia do gato impressa juntamente com a biografia de Kreisler, por um engano do
editor, produzindo como resultado um livro em que blocos de um e outro texto se sucedem
inesperadamente produzindo os mais notveis efeitos. Kreisler, como se sabe, ele prprio um
alter ego de Hoffmann, que usou o personagem em muitos outros contos, e so as passagens
Kreislerianas que do o tom propriamente autobiogrfico ao romance de Hoffmann
Mas se o gnero autobiogrfico de circunscrio difcil ou impossvel, de que nos
adianta insistir nessa nomenclatura? Aqui o auxlio me veio do livro de Steltzig, The Romantic
Subject in Autobiography: Rousseau and Goethe, que, reconhecendo as dificuldades gerais da
delimitao, prope que ao menos um subsetor do gnero pode ser caracterizado de maneira
frutfera, que ele denomina a autobiografia romntica, caracterizada como:
a type of confessional narrative of the self in the later eighteenth and the early nineteenthcenturies that, as a retrospective account and interpretation of how the writers identityand personality were formed, artfully merges reality and imagination, the historiographicand the poetic poles of narrativeor what Goethe calls the poetry and the truth of alife13.
Para Steltzig, assim, a quintessncia da autobiografia romntica so as distintas formas
imaginativas que autores como Rousseau, Goethe e Wordsworth (que ele arrola entre osfundadores do gnero) deram narrativa de suas vidas.
12 De MAN, Paul. Autobiography as De-Facement. In: The Rhetoric of Romanticism. Nova York: ColumbiaUniversity Press, 1989. p. 68.13Cf. STELTZIG, op. cit.p. 8.
-
7/26/2019 Forma Moderna Da Autobiografia
5/7
Jos Oscar de A. Marques Rousseau e a forma moderna da autobiografia ABRALIC/Porto Alegre/2004 5
No posso me estender mais, dado os limites desta comunicao, sobre os diversos
aspectos identificados por Steltzig em seu estudo, aspectos que fornecem excelentes pistas para
minha prpria investigao, e concluo apenas com duas observaes sobre sua importncia para a
tarefa que eu pretendo realizar.
Em primeiro lugar, o livro de Steltzig proporciona uma mediao indispensvel, qual eu
no havia dado a necessria ateno, que a introduo de Goethe como um elo entre Rousseau e
Hoffmann. Mas preciso qualificar essa mediao. Certamente Hoffmann leu Goethe at mais do
que leu Rousseau, e seus ecos so extremamente perceptveis no Kater Murr, em que as vrias
etapas da formao do gato e suas vicissitudes e relacionamentos atuam como impagvel pardia
do romance de formao representado pelo Wilhelm Meister14e suas elevadas pretenses. No
porm o romance de Goethe que vai me interessar principalmente, mas antes sua prpriaautobiografia,Poesia e verdade (Dichtung und Wahrheit).
Em segundo lugar, deixando de lado os ecos explcitos de Goethe em Hoffmann, o que
interessa para esta pesquisa a evoluo de atitude que a considerao da autobiografia de
Goethe permite intermediar e esclarecer. Contrastando Rousseau e Goethe, Steltzig sumariza:
whereas Rousseau's psychologizing, subjective, egotistical, and at times rhetoricallydefensive confessional autobiography polarizes or juxtaposes the self against the world,Goethe's historicizing, objectivizing, world-embracing, and largely non-confessional and
nondefensive life narrative unfolds his development as a progressive imbrication in theworld in all its historical richness and circumstantiality15
Assim, para Steltzig, em Rousseau a atitude defensiva, principalmente apologtica, e o
autor v com desconfiana a poca e os homens com quem convive, como se seu ncleo interno
rejeitasse e hostilizasse a poca e a histria que a conduz. Em Goethe, ao contrrio, atitude no-
defensiva, afirmativa, capaz de abraar a histria e o mundo, no como um agente interno que se
impusesse a ele, mas como algo com quem o agente se identifica e capaz de conceber como
resultado de sua prpria atuao.
Em ambos, porm, opera um eu centrado, capaz de dar unidade a uma seqncia de
experincias, de estabelecer uma ordem, e que se impe a tarefa de colocar sua vida em uma
14Conforme o captulo doKater Murrintitulado Auch ich war in Arkadien.15Cf. STELTZIG, op. cit.p. 16.
-
7/26/2019 Forma Moderna Da Autobiografia
6/7
Jos Oscar de A. Marques Rousseau e a forma moderna da autobiografia ABRALIC/Porto Alegre/2004 6
narrativa compreensvel, julgando-se capaz de estabelecer uma ordem a suas memrias e
sentimentos. A escrita autobiogrfica , em ambos, a recuperao de uma unidade prvia e
subjacente sua vida e individualidade.
Mas claro que dar forma a uma vida por meio da narrativa autobiogrfica exige
inevitavelmente a interveno da imaginao, modificando e suplementando a experincia vivida
para impor um sentido que a srie bruta de eventos e experincias no consegue por si s
transmitir. E a atitude de ambos com relao a essa inevitabilidade tambm bastante reveladora:
para Rousseau, a interveno imaginativa tem algo de censurvel, de que ele tem de se desculpar
interminavelmente. Da sua artificiosa distino entre mentira e fico, elaborada nos Devaneios
do caminhante solitrio. Goethe, por sua vez, est muito mais vontade com a interveno
imaginativa, e considera, ao contrrio, a autobiografia como principalmente um instrumento paraliberar sua escrita criativa, como se a nfase fosse em Poesia e (s ento) a verdade(Dichtung
und (nur dann) Wahrheit)
Sem estender-me mais nessas comparaes, aponto por fim para a lio que da extraio
encaixar o Kater Murr de Hoffmann no prolongamento dessa continuidade para interpretar,
principalmente, sua atitudefrente autobiografia. A fico aqui se liberta inteiramente, e pe em
questo a prpria unidade do selfque se encastelava nas atitudes dos dois autores anteriores. O
carter fragmentado do texto de Hoffmann a contraparte formal da fragmentao do eu doautor, ao qual respondem as formas discursivas descentradas, e interrompidas da narrativa
textual. A inquietao que impregna a relao do autor com seu personagem torna-se ainda mais
pungente pelo prprio olhar distanciado e irnico que ele lana sobre a loucura de seu alter ego.
Rousseau e Goethe viam-se ainda, cada qual a seu modo, como sbios e mestres da humanidade;
Hoffmann, porm, no julga ter mais nada a ensinar ao mundo, embora tampouco a aprender. Se
os dois primeiros inauguraram a forma moderna do gnero autobiogrfico, plausvel dizer que,
no Kater Murr, pela vasta assimilao de elementos das produes intermedirias, pela mescla
sutil e paradoxal de pardia e autenticidade, e pela original forma artstica de collage e as
conseqentes rupturas de linearidade e consistncia, Hoffmann comea a abrir o caminho para a
linguagem da subjetividade cindida que dominar o sculo XX penetrando at o ps modernismo.
-
7/26/2019 Forma Moderna Da Autobiografia
7/7
Jos Oscar de A. Marques Rousseau e a forma moderna da autobiografia ABRALIC/Porto Alegre/2004 7
Referncias Bibliogrficas
CRANSTON, Maurice.Jean-Jacques. The Early Life and Work of Jean-Jacques Rousseau1712-1754. Londres: Allen Lane, 1983.
_____ . The Noble Savage. Jean-Jacques Rousseau 1754-1762. Londres: Allen Lane, 1991._____ . The Solitary Self. Jean-Jacques Rousseau in Exile and Adversity. Chicago: The
University of Chicago Press, 1997.
De MAN, Paul. The Rhetoric of Blindness: Jacques Derridas Reading of Rousseau. In:Blindness and Insight: Essays in the Rhetoric of Contemporary Criticism. 2a. ed. revista,Minneapolis: University of Minnesota Press, 1983.
De MAN, Paul. Autobiography as De-Facement.In: The Rhetoric of Romanticism. Nova York:Columbia University Press, 1989.
DERRIDA, Jacques.De la grammatologie.Paris: Les Editions de Minuit, 1967.
FELDGES, Brigitte & STADLER, Ulrich. E. T. A. Hoffmann. Epoche - Werke - Wirkung.Munique: C. H. Beck Verlag, 1986.
HOFFMANN, E. T. A.Lebens-Ansichten des Katers Murr.Munique: Winkler Verlag, 1977.
KELLY, Christopher. Rousseaus Exemplary Life. The Confessions as Political Philosophy.Ithaca NY: Cornell University Press, 1987.
KLEMANN, Eckart.E.T.A Hoffmann oder Die Tiefe zwischen Stern und Erde. Eine Biographie.Insel Verlag, 1995.
LEJEUNE, Philippe.Le Pacte autobiographique. Paris: Ed. du Seuil, 1975.
McGLATHERY, James M.E.T.A. Hoffmann. Nova York: Twayne Publishers, 1997.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Oeuvres compltes. Paris: Gallimard, Bibliothque de la Pliade, 5v., 1959-1995.
SAFRANSKI, Rdger. E.T.A. Hoffmann: Das Leben eines skeptischen Phantasten. Frankfurt a.M.: Fischer Verlag, 1987.
STAROBINSKI, Jean. Jean-Jacques Rousseau : La Transparence et lobstacle suivi de septessais sur Rousseau.Paris: Gallimard, 1971.
STAROBINSKI, Jean. Jean-Jacques Rousseau et le pril de la rflexion , In : Lil vivant.Paris: Gallimard, 1961, 1999.
STELZIG, Eugene L. The Romantic Subject in Autobiography: Rousseau and Goethe.
Charlottesville: Virginia University Press, 2000.
TAYLOR, Charles. Sources of the Self. Cambridge Mass.: Harvard University Press, 1989.
THALMANN, Marianne (1961),Das Mrchen und die Moderne. W. Kohlhammer Verlag, 1961.
WITTKOP-MNARDEAU, Gabrielle (1966),E.T.A. Hoffmann. Hamburg: Rowohlt Verlag.