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Forense Enquadramento Legal e Avaliação Pericial RUTE AGULHAS ALEXANDRA ANCIÃES em Psicologia Prefácio: Posfácio: Revisão Técnica: Jorge Costa Santos Telmo Mourinho Baptista Jorge Costa Santos Maria Perquilhas EDIÇÕES SÍLABO Casos Práticos 2ª Edição Revista e Actualizada

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Este livro tem como objectivo dar maior visibilidade à forma como a investigação cienti-

fica pode e deve estar subjacente aos processos de avaliação psicológica forense. A primeira

parte do livro, intitulada «Enquadramento Geral» apresenta a sistematização teórica dos prin-

cipais aspectos relativos à Psicologia Forense e aos seus princípios éticos, bem como ao

enquadramento legal da prova pericial e dos vários tipos de perícias psicológicas que

podem ser solicitadas no âmbito do Direito Penal, Direito Civil e Direito de Família e Menores.

A segunda parte do livro, intitulada «Casos Práticos», tem como objectivo apresentar

diversos relatórios periciais, todos eles casos reais, permitindo ao leitor, não apenas familiari-

zar-se com a multiplicidade de situações que podem ser alvo de um processo de avaliação

psicológica, mas também ter acesso à informação recolhida e às metodologias utilizadas.

A discussão que é feita na parte final de cada relatório pretende ajudar o leitor a compre-

ender de que forma a informação recolhida pode ser analisada e sistematizada.

Rute Agulhas é psicóloga e terapeuta familiar e tra-

balha há 17 anos na área clínica e forense. Desde 2005

exerce funções como perita na Delegação do Sul do

INMLCF, I.P. Professora assistente convidada no ISCTE-

IUL, onde lecciona disciplinas do Mestrado em Psico-

logia Comunitária, Protecção de Crianças e Jovens em

Risco. Investigadora no CIS/ISCTE-IUL e no CENCIFOR

– Centro de Ciências Forenses da Fundação para a

Ciência e Tecnologia (FCT). Doutoranda no ISCTE-IUL.

Formadora na área Clínica e Forense.

Alexandra Anciães é psicóloga, pós-

graduada em Comportamentos Desvian-

tes e Ciências Criminais e em Medicina

Legal. Trabalha há 17 anos na área clínica

e forense, exercendo desde 2000 funções

como perita na Delegação do Sul do

INMLCF, IP. Investigadora do CENCIFOR

– Centro de Ciências Forenses da Fun

dação para a Ciência e Tecnologia (FCT).

Formadora na área Forense.

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ForenseEnquadramento Legal

e Avaliação Pericial

R U T E A G U L H A S • A L E X A N D R A A N C I Ã E S

em Psicologia

Prefácio:

Posfácio:

Revisão Técnica:

Jorge Costa Santos

Telmo Mourinho Baptista

Jorge Costa Santos

Maria Perquilhas

E D I Ç Õ E S S Í L A B O

ForenseEnquadramento Legal

e Avaliação Pericial

Casos Práticos

em Psicologia

Casos PráticosRUTE AGULHAS

ALEXANDRA ANCIÃES

«Um volume com o presente formato só pode resultar de uma combinação feliz entre o conhecimento

produzido e a experiência da sua aplicação em contexto real (...) A concretização em exemplos é um pode-

roso instrumento de aprendizagem (...) um contributo para as boas práticas (...)».

Telmo Mourinho Baptista

Bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses

«Estamos, pois, perante um livro que alia uma grande utilidade prática a uma assinalável qualidade técnico-

-científica. Uma obra que dignifica não apenas as autoras, mas também a instituição onde exercem a sua acti-

vidade profissional e a rede forense em que esta se inscreve. (...) Um saber de experiência feito que, em boa

hora, as autoras entenderam partilhar com quantos – magistrados, advogados, psicólogos e outros actores

forenses, estudantes ou simples curiosos – se interessam por estas matérias. Um livro a ler e a recomendar».

Jorge Costa Santos

Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa

e ex-director da Delegação do Sul do INMLCF, I.P. (2004-2014)

«Este livro constitui um manual de referência para todos quantos trabalham ou se interessam pelo judiciário

(...) inova ao apresentar uma série de casos judiciários, adequadamente trabalhados (...) tudo isto nos é

dado a conhecer de uma forma acessível, através de uma linguagem aparentemente simples, o que torna

este livro um manual para todos os operadores do judiciário (...) agradeço às autoras esta tão valiosa ajuda

em prol de todos quantos carecem do judiciário nesta sua vertente mais humana e individual».

Maria Perquilhas

Juíza de Direito, docente do Centro de Estudos Judiciários

2ª EdiçãoRevista e Actualizada

480

ISB

N 9

78-9

72-6

18-8

31-5

7897

269

1883

15

Este livro é dedicado a todos os profissionais que procuram honrar aqueles a quem servem:

as pessoas.

Para os nossos filhos.

Por vontade das autoras, este livro não obedece às regras do novo Acordo Ortográfico.

Casos Práticos em Psicologia Forense

Enquadramento Legal e Avaliação Pericial

RUTE AGULHAS ALEXANDRA ANCIÃES

2ª EDIÇÃO REVISTA E ACTUALIZADA

Prefácio:

JORGE COSTA SANTOS Professor da Faculdade de Medicina de Lisboa,

ex-vogal do Conselho directivo e ex-director da Delegação do Sul do INMLCF, I.P.

Posfácio:

TELMO MOURINHO BAPTISTA Bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses

Revisão Técnica:

JORGE COSTA SANTOS

MARIA PERQUILHAS Juíza de Direito, Docente do Centro de Estudos Judiciários

EDIÇÕES SÍLABO

É expressamente proibido reproduzir, no todo ou em parte, sob qualquer forma ou meio, NOMEADAMENTE FOTOCÓPIA, esta obra. As transgressões serão passíveis das penalizações previstas na legislação em vigor.

Visite a Sílabo na rede www.silabo.pt

Editor: Manuel Robalo

FICHA TÉCNICA Título: Casos Práticos em Psicologia Forense – Enquadramento Legal e Avaliação Pericial Autoras: Rute Agulhas, Alexandra Anciães © Edições Sílabo, Lda. Capa: Pedro Mota

1ª Edição – Lisboa, Junho de 2014. 2ª Edição – Lisboa, Novembro de 2015. Impressão e acabamentos: Cafilesa – Soluções Gráficas, Lda. Depósito Legal: 400809/15 ISBN: 978-972-618-831-5

EDIÇÕES SÍLABO, LDA.

R. Cidade de Manchester, 2 1170-100 Lisboa Telf.: 218130345 Fax: 218166719 e-mail: [email protected] www.silabo.pt

Índice

Nota das autoras à segunda edição 11

Nota à segunda edição por Maria Perquilhas 13

Agradecimentos 15

Prefácio 17

Introdução 21

Parte 1

Enquadramento geral 1. Psicologia Forense 27 2. Princípios éticos em Psicologia Forense 28 3. Enquadramento legal da prova pericial em sede de Direito Penal e Civil 32 4. Especificidades dos diversos tipos de perícias 41

4.1. Direito Penal 41 4.1.1. Perícia sobre a personalidade (Artigo 160.º do CPP) 41 4.1.2. Perícia para avaliação da capacidade e dever de testemunhar

(Artigo 131.º do CPP) 53 4.1.3. Perícia psicológica complementar à perícia psiquiátrica

(Artigo 159.º do CPP) 62

4.2. Direito civil 68 4.2.1. Perícia para avaliação especial de interdição/inabilitação

(artigo 898.º do CPC) 68

4.2.2. Direito de Família e Menores 74 4.2.2.1. Perícia psicológica ao abrigo da Lei n.º 61/2008, de 31 de Outubro

(Regime Jurídico do Divórcio) e da Lei n.º 141/2015, de 8 de Setembro (aprova o Regime Geral do Processo Tutelar Cível) 74

4.2.2.2. Perícia psicológica ao abrigo da Lei n.º 147/99, de 1 de Setembro (Lei de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo) com as devidas alterações introduzidas pela Lei n.º 142/2015, de 8 de Setembro 83

4.2.2.3. Perícia psicológica ao abrigo da Lei n.º 166/99, de 14 Setembro (Lei Tutelar Educativa) 91

4.3. Direito Penal e Civil 96 4.3.1. Perícia psicológica complementar para avaliação do dano

em sede de Direito Penal e Civil 96

5. Avaliação instrumental 118 6. Relatório pericial 126 7. O perito em tribunal 137 8. Objecto de perícia/quesitos 139

Fotografias pertencentes ao espólio do INMLCF, I.P. 143

Parte 2

Casos práticos

Direito Penal

Crimes contra a liberdade sexual e autodeterminação sexual

Caso 1 – Crime de violação e roubo – Avaliação do alegado agressor 153 Caso 2 – Crime de abuso sexual de pessoa incapaz de resistência

– Avaliação da alegada vítima 169 Caso 3 – Crime de abuso sexual de criança – Avaliação do alegado abusador 183 Caso 4 – Crime de abuso sexual de criança – Avaliação da alegada vítima 195 Caso 5 – Abuso sexual de criança agravado – Avaliação da alegada vítima 205

Crimes de homicídio

Caso 6 – Avaliação do alegado autor 223

Crime de ofensas à integridade física

Caso 7 – Avaliação psicológica complementar à avaliação psiquiátrica do alegado autor 237

Processo tutelar educativo

Caso 8 – Avaliação do adolescente 243

Crimes de maus-tratos

Caso 9 – Avaliação dos alegados agressores 255 Caso 10 – Avaliação do alegado agressor numa situação de negligência 269 Caso 11 – Avaliação do sistema familiar num caso de alegada Perturbação

Factícia Imposta Sobre Outro (Anterior Perturbação Factícia por Procuração – Síndrome de Münchausen por Procuração) 277

Caso 12 – Avaliação das alegadas vítimas 311

Dano psicológico

Caso 13 – Avaliação da alegada vítima adulta 325 Caso 14 – Avaliação da alegada vítima adolescente 333

Direito Civil

Crimes contra a liberdade sexual e autodeterminação sexual

Caso 15 – Avaliação num caso de interdição/inabilitação 347 Caso 16 – Avaliação da capacidade de compreensão 353

Dano psicológico

Caso 17 – Avaliação da alegada vítima menor 359

Direito de Família e Menores

Processo de regulação do exercício das responsabilidades parentais

Caso 18 – Avaliação do progenitor e menores 369

Processo de alteração à regulação do exercício das responsabilidades parentais

Caso 19 – Avaliação dos progenitores e menor 395

Processo de inibição e limitação do exercício das responsabilidades parentais

Caso 20 – Avaliação dos progenitores e menor 427

Processo de incumprimento do exercício das responsabilidades parentais

Caso 21 – Avaliação dos progenitores e menor 449

Processo de promoção e protecção

Caso 22 – Avaliação de menor 469

Posfácio 479

Referências 483

Nota das autoras à segunda edição

A primeira edição deste livro foi acolhida pelos nossos pares, colegas de outras áreas do saber e dos leitores em geral, quer a nível nacional, quer internacional, de uma forma que excedeu as nossas expectativas. Têm sido várias as críticas positivas que temos recebido, quer pela pertinência e abrangência do tema, quer pela forma simples e aces-sível como este é abordado e ilustrado com casos reais.

Esta segunda versão, revista e actualizada, de acordo com as alterações legislativas mais recentes, procura dar resposta à crescente procura que o livro tem tido.

A todos, os nossos sinceros agradecimentos.

Nota à segunda edição por Maria Perquilhas

Juíza de Direito, docente do Centro de Estudos Judiciários

Este livro constitui um manual de referência para todos quantos trabalham ou se inte-ressam pelo judiciário, mais concretamente pelas jurisdições que dizem respeito especi-ficamente à pessoa.

O Direito aplicado nos tribunais, através do processo, carece cada vez mais de se socorrer de outras áreas do saber, para que, entendendo o indivíduo concreto a que se destina a acção judiciária e, em especial a decisão, esta possa ser adequada, proporcio-nal e justa.

Esta consciência é já uma realidade. Não obstante, deparamo-nos ainda com muitas dificuldades sobre o tipo de perícias a determinar por parte dos tribunais e a requerer por parte dos advogados, a que acresce a dificuldade de, determinada qual a perícia ade-quada ao caso concreto, saber o que perguntar. O que pode o perito responder. O que é susceptível de ser apurado numa perícia. Saber o que perguntar é essencial para que a perícia possa efectivamente esclarecer o julgador (ou não), dotando-o de mais um ele-mento, especialmente relevante ou vinculante, consoante os processos, com vista à deci-são.

Com uma parte geral onde nos são apresentados alguns conceitos e procedimentos necessários ao entendimento da perícia psicológica em si mesma, que se encontra escrita de uma forma perceptível a qualquer pessoa, este livro inova ao apresentar uma série de casos judiciários, adequadamente trabalhados, em que igualmente de forma clara e escorreita se descreve o caso, o que se pretendia e urgia averiguar e o que se conseguiu alcançar com a perícia. Esta parte geral é essencial para que o leitor perceba que tipo de instrumentos o perito usa e deve utilizar consoante a perícia em causa, tal como a razão de ser das diversas perícias e a sua adequação ao processo judicial. A psi-cologia judiciária não se destina ao tratamento do indivíduo que padeça de uma qual-quer perturbação ou dor emocional, sendo antes, uma disciplina fundamental ao Direito na sua concretização prática, e um auxiliar fundamental para a compreensão do ser sub judice, a quem se destina protecção/decisão judicial.

Os casos apresentados, reflectem a intervenção desta área do saber no judiciário e informam-nos, antes de mais sobre a metodologia a que uma perícia deve obedecer.

Informam-nos sobre o que é susceptível de ser apurado ou não em cada caso, e o que deve ser referido em relatório. O rigor da metodologia e a humildade do perito de mãos dadas.

Tudo isto nos é dado a conhecer de uma forma acessível, através de uma linguagem aparentemente simples, o que torna este livro um manual para todos os operadores do judiciário.

As novas alterações introduzidas na legislação respeitante às crianças, já aprovadas na Assembleia da República vêm reclamar da psicologia forense e, em especial do psi-cólogo capacitado para agir no e para o judiciário, ainda que como assessor ou consul-tor, uma relação mais estreita com o processo, com as partes e com o tribunal. Relação mais estreita mas, simultaneamente, independente e equidistante.

Apesar deste livro não abranger as assessorias a elas alude para as distinguir das perícias, pelo que também nesta matéria constitui um bom elemento de trabalho. Por tudo o que acima foi dito agradeço às autoras esta tão valiosa ajuda em prol de todos quantos carecem do judiciário nesta sua vertente mais humana e individual.

Agradecimentos

A elaboração deste livro não teria sido possível sem a colaboração de diversas pes-soas, a quem gostaríamos de agradecer em particular. Em primeiro lugar, agradecemos ao Conselho Directivo do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, I.P. [INMLCF, I.P.] (Professor Duarte Nuno Vieira, Professor Jorge Costa Santos, Pro-fessor Francisco Corte-Real e Professora Teresa Magalhães), por ter autorizado a publi-cação deste livro, com a utilização de casos reais avaliados ao longo dos anos na nossa prática pericial.

Agradecer também ao ex-director da Delegação Sul do INMLCF, I.P., Professor Jorge Costa Santos, por todo o apoio, incentivo e sabedoria que nos transmitiu. Também pelo rigor, minúcia e exigência com que efectuou a revisão técnica, e pelas preciosas sugestões que contribuíram de forma muito significativa para o enriquecimento deste trabalho. Pelo afecto e perspectiva humana com que sempre encarou a medicina legal, e que tem sido um modelo para nós. Obrigada também pela honra de prefaciar este livro e por tudo aquilo que nos tem ensinado ao longo do tempo.

Ao Professor Telmo Mourinho Baptista, Bastonário da Ordem dos Psicólogos Portu-gueses [OPP], pela confiança no nosso trabalho, pela amizade demonstrada ao longo dos anos e por todo o seu contributo na afirmação da Psicologia em Portugal. Muito obrigada pelas palavras de encorajamento que encerram este livro.

À Dra. Maria Perquilhas, Juíza de Direito e docente no Centro de Estudos Judiciá-rios, pelo rigor e empenho com que efectuou a revisão técnica, pelos esclarecimentos e correcções, e também pela enorme disponibilidade, entusiasmo e carinho com que abra-çou este projecto.

Agradecemos ao nosso editor, Dr. Manuel Robalo, por ter acreditado neste trabalho desde o primeiro momento e, também, pelas sugestões muito pertinentes que nos deu. Esperamos que este seja apenas o início de um longo caminho percorrido em conjunto.

Obrigada também a todos os nossos colegas do INMLCF, I.P., e, em particular, à Dra. Manuela Marques, Técnica Superior de Biblioteca da Delegação Sul, que tem sido o nosso anjo da guarda neste trabalho e em tantos outros, pela ajuda na pesquisa biblio-gráfica, pela sua capacidade em descobrir coisas que mais ninguém descobre e, também, pela pesquisa e legenda das fotografias que integram este livro. À Dra. Cláudia Vieira Silva, Especialista Superior de Medicina Legal do Serviço de Genética e Biologia Forenses e aos colegas do Serviço de Patologia e Clínica Forenses, em especial à Espe-

cialista de Medicina Legal Dra. Filipa Gallo, pela ajuda prestada e colaboração em dois dos casos práticos apresentados, permitindo uma interdisciplinariedade que se revela fundamental para um maior rigor científico e descoberta da verdade material.

Um especial agradecimento à Dra. Mafalda Gonçalves pelo apoio, incentivo e auxílio na gestão logística.

De forma igualmente importante, agradecemos a todos os professores, alunos, cole-gas, formandos e estagiários com quem tivemos a oportunidade de nos cruzar ao longo do tempo e que sempre nos ajudaram a reflectir, numa busca constante de aprendizagem e crescimento pessoal e profissional. Acreditamos sinceramente que aprendemos com todos vocês.

Uma palavra muito especial também a todos os examinandos que já avaliámos. Lidar com a dor e o sofrimento, a vergonha e o medo, a raiva, a violência e a frustração, tem contribuído para uma aprendizagem única, desafiando-nos a um processo de objectivi-dade e imparcialidade, mas sem esquecer as pessoas, as suas vicissitudes e sentimentos. Porque cada caso é único e exige uma dedicação total.

Por fim, não poderíamos deixar de agradecer à nossa família, pelas horas sem fim em que estivemos menos disponíveis. Porque continua a ser o nosso porto de abrigo.

Prefácio

Impõe-se, a abrir, uma declaração de interesses para dissipar eventuais dúvidas ou suspeitas. Ligam-me às autoras, Rute Agulhas e Alexandra Anciães, muitos anos de trabalho em comum e laços de afecto que se foram estreitando ao longo desse tempo. Aceitei, pois, com naturalidade, o convite que ambas me dirigiram para rever e prefaciar este seu livro. Não o fiz, todavia, por mera solidariedade pessoal ou institucional, mas por imperativo de consciência e exigência profissional. Primeiro, porque se trata de uma obra construída, essencialmente, com material obtido na rotina pericial do serviço que criei e da instituição que dirigi durante mais de dez anos – a Delegação de Lisboa, agora Delegação do Sul do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, I.P. (INMLCF, I.P.). Depois, porque conheço bem o empenho, a qualidade, o rigor e o ele-vado sentido ético das autoras, ambas psicólogas clínicas com vasta experiência na área forense, forjada na instituição. Finalmente – last but not least –, pela obra e pelo que esta representa.

O título do livro fala por si: Casos Práticos em Psicologia Forense. E é justamente disso que se trata. De um livro que espelha, de certo modo, a rotina pericial de um ser-viço clínico do INMLCF, I.P., cuja lei orgânica – Decreto-Lei n.º 166/2012, de 31 de Julho – estabelece expressamente, no âmbito da sua missão e atribuições (artigo 1.º, n.º 3), a natureza de laboratório do Estado e de instituição nacional de referência. Uma referência que não se queda, porém, pela letra da lei, mas que se constrói no trabalho quotidiano, no estudo, na investigação, na formação contínua, na reflexão e no debate, enfim, na exigência da qualidade posta ao serviço das pessoas e do interesse público. E, naturalmente, da justiça.

Mas, mais do que um espelho, este livro representa uma ponte entre as ciências nor-mativas, como o direito, e as ciências empíricas, como a psicologia, tradicionalmente separadas por um fosso epistemológico nem sempre fácil de transpor. Ambas as disci-plinas trabalham com pessoas e para as pessoas, e ambas buscam a compreensão e con-trolo do comportamento humano, embora escoradas em conhecimentos, regras e méto-dos diferentes. Com propósitos naturalmente distintos. Intersectam-se na dimensão forense, onde a psicologia põe a sua experiência e conhecimentos técnico-científicos ao serviço da ordem jurídica e das regras jurídicas que a regem, contribuindo, assim, para a realização da justiça.

Há muito que o mundo do direito sabe que a realidade não se confina ao visível, àquilo que é imediatamente apreensível pelos sentidos, que existem condições e efeitos ocultos que, em certa medida, influenciam a nossa percepção da realidade. Condições e efeitos, com implicações pessoais, sociais e judiciais, que envolvem linguagens e códi-gos, cuja decifração faz apelo à intervenção especializada de outros profissionais, nomeadamente psicólogos e psiquiatras. Daí a necessidade de peritos que auxiliem o julgador ou a autoridade judiciária a quem cabe instruir o processo, na sua função de desvendar o significado de provas preexistentes ou de apreciar o seu valor. Provas cuja finalidade reside na demonstração da realidade dos factos.

Todavia, apesar do longo caminho percorrido desde finais do século XIX, marcado por diversas vicissitudes, e do aprofundamento do diálogo que permitiu a superação de dúvidas, desconfianças e reservas mútuas, subsiste ainda uma ampla zona de penumbra, que resulta, em larga medida, de diferenças discursivas. Do direito com a psiquiatria e a psicologia, da lei com a doença mental, da visibilidade dos crimes com a invisibilidade das motivações, da razão do poder com o poder da razão. Discursos cuja vocação hege-mónica compromete, não raras vezes, o seu sentido e alcance. Logo, a sua utilidade prática. Daí a necessidade de ultrapassar as barreiras discursivas e harmonizar procedi-mentos, sem negar a identidade das disciplinas e a relevância do papel dos seus profis-sionais. Daí, também, a importância do conhecimento das virtualidades e limites das perícias. E, consequentemente, dos meios de informação e formação em matéria ainda não isenta de alguma controvérsia.

Livros de psicologia forense, psicologia criminal e afins, há muitos. Alguns em lín-gua portuguesa. Quase todos de inegável qualidade. A maioria, porém, de índole teórica e doutrinária, pouco acessível a juristas e outros profissionais da área forense menos familiarizados com a complexa teia de conhecimentos que constituem o corpus da espe-cialidade.

Ora, o livro que agora é dado à estampa visa colmatar uma lacuna editorial neste domínio, dando a conhecer o trabalho de rotina da psicologia forense e as suas práticas, ou seja, o que fazem os psicólogos forenses, porque o fazem e como o fazem. Com cla-reza e em discurso directo, reduzindo as referências teóricas ao indispensável enqua-dramento conceptual. Não se trata, pois, de uma obra académica destinada a especialis-tas, mas de um trabalho técnico-científico de revelação e partilha de conhecimentos, contendo um manancial de informação útil, exaustiva e minuciosa, sobre os vários tipos de exames periciais, solicitados pelas entidades competentes em áreas tão diversas como o direito penal, o direito civil, o direito de família e menores e o direito do traba-lho. Casos reais, devidamente anonimizados, que nos falam de pessoas e das suas cir-cunstâncias.

O escopo do trabalho é a perícia ou exame pericial psicológico, que, como é sabido, constitui um meio auxiliar de investigação, que visa o esclarecimento dos pressupostos da apreciação da prova ou a prestação de informações susceptíveis de contribuir para uma decisão judicial esclarecida. As referências adoptadas pelas autoras são, natural-mente, as que resultam do nosso ordenamento jurídico e dos procedimentos metodoló-gicos em uso no INMLCF, I.P., sem prejuízo da autonomia técnico-científica do perito, consagrada na lei.

Em cada caso é apresentado o enquadramento e resumo dos dados processuais tidos por mais relevantes; a indicação da entidade requisitante e do objecto da perícia; os métodos e técnicas que suportam a avaliação e o relatório pericial; o exame clínico e psicopatológico; o relato dos factos segundo o examinando, contendo amplas transcri-ções em discurso directo; os antecedentes pessoais e familiares, incluíndo os antece-dentes médicos, psiquiátricos e criminais, e o consumo de substâncias tóxicas; a situa-ção à data do exame; a avaliação instrumental; a informação colateral quando justificada e possível, e, finalmente, a discussão e conclusões, onde são resumidos e fundamenta-dos os aspectos mais relevantes para a compreensão do caso, o diagnóstico psicológico ou psicopatológico, a resposta ao objecto da perícia e a eventuais quesitos, e formuladas as recomendações tidas por pertinentes.

Ainda que, por razões metodológicas, todos os casos obedeçam, em linhas gerais, a este padrão, isso em nada diminui o seu interesse, tal o vasto leque de situações judiciais contempladas e a singularidade com que cada um dos casos é tratado. Com efeito, as autoras, que, manifestamente, põem o melhor de si naquilo que fazem, respeitando tanto a pessoa examinada, quanto o tempo e o espaço requeridos pela perícia, conduzem-nos, ao longo de cada um dos casos, como se estivéssemos a observar os protagonistas atra-vés de um vidro espelhado. Uma experiência estimulante, que não deixará de cativar os leitores, sobretudo os que têm uma ideia vaga e difusa do que é a perícia psicológica.

Estamos, pois, perante um livro que alia uma grande utilidade prática a uma assinalá-vel qualidade técnico-científica. Uma obra que dignifica não apenas as autoras, mas também a instituição onde exercem a sua actividade profissional e a rede forense em que esta se inscreve. Ao serviço das pessoas, dos profissionais e do interesse público. Um saber de experiência feito que, em boa hora, as autoras entenderam partilhar com quantos – magistrados, advogados, psicólogos e outros actores forenses, estudantes ou simples curiosos – se interessam por estas matérias.

Um livro a ler e a recomendar.

Estoril, 7 de Abril de 2014

Jorge Costa Santos

Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa; ex-vogal do Conselho Directivo do INMLCF, I.P.

e ex-director da sua Delegação do Sul (2004-2014)

Introdução

Este livro tem vindo a ser pensado há alguns anos, fruto de diversas necessidades que a prática da Psicologia Forense permitiu identificar. Por um lado, sentimos a necessi-dade de dar maior visibilidade à forma como a investigação científica pode e deve estar sempre subjacente no modo como são pensados e conduzidos os processos de avaliação psicológica forense. Estamos ao serviço da Psicologia, no auxílio à realização da justiça mas, acima de tudo, estamos ao serviço das pessoas. Pessoas para quem uma avaliação desta natureza pode ter um impacto muito significativo, de forma directa ou indirecta. Desta forma, exige-se ao psicólogo forense uma prática de excelência, que apenas o poderá ser se for orientada pelo rigor científico e por uma constante actualização de conhecimentos. Mas uma prática de excelência requer também a humildade necessária ao reconhecimento dos limites daquilo que é a sua área de especialização. Parafraseando Brouardel,1 a melhor qualidade do perito não é a extensão dos seus conhecimentos, mas a noção exacta do que sabe e do que ignora. Assim, sublinhamos a importância de uma prática reflectida e rigorosa, assente nos dados da investigação, mas também norteada por princípios morais e éticos que permitam o respeito e salvaguarda dos direitos fun-damentais de todas as pessoas envolvidas.

A primeira parte do livro, intitulada «Enquadramento Geral», visa dar resposta a esta primeira necessidade, com a sistematização teórica dos principais aspectos relativos à Psicologia Forense e aos seus princípios éticos, bem como ao enquadramento legal da prova pericial e dos vários tipos de perícias psicológicas que podem ser solicitadas no âmbito do Direito Penal, Direito Civil e Direito de Família e Menores. Este capítulo engloba ainda uma breve descrição dos instrumentos de avaliação psicológica referidos ao longo dos casos práticos. Consideramos que esta descrição é fundamental, na medida em que os relatórios de avaliação psicológica forense têm como destinatários profissio-nais de diferentes áreas, não psicólogos, o que exige um cuidado acrescido na forma como são apresentadas as metodologias e provas utilizadas.

No final da primeira parte do livro são referidas algumas orientações gerais para a elaboração de um relatório pericial, bem como diversas questões pertinentes sobre o papel do perito em tribunal. Relativamente aos relatórios, não se pretende transmitir a

(1) Paul Brouardel (1837-1906) foi um patologista francês, uma das principais autoridades da Medicina Legal.

2 2 C A S O S P R Á T I C O S E M P S I C O L O G I A F O R E N S E

ideia de que existe apenas uma forma correcta de elaboração, mas sim reflectir sobre alguns aspectos centrais que devem ser tidos em conta na sua construção.

Por outro lado, temos observado ao longo dos anos, no âmbito das peças processuais recebidas para consulta, a diversidade de relatórios que são efectuados em Portugal. Esta diversidade pode ser entendida de forma positiva, tendo em conta que provêm de múltiplos serviços, públicos e privados. Muitos destes relatórios revelam, no entanto, lacunas importantes ao nível do tipo de informação que é recolhida e das metodologias utilizadas, por um lado, mas, sobretudo, no modo como esta mesma informação é siste-matizada e analisada, por forma a responder aos pedidos formulados. Com alguma fre-quência, as entidades requisitantes da avaliação psicológica forense (na maioria das vezes, os tribunais) concluem não terem sido respondidas as questões formuladas, soli-citando esclarecimentos e, por vezes, mesmo a realização de uma segunda perícia. A realização de uma segunda perícia conduz, inevitavelmente, a uma maior morosidade do processo, com tudo o que isso pode implicar, mas, acima de tudo, submete as pessoas examinadas a uma nova avaliação psicológica, com todos os inconvenientes que esta situação envolve.

Neste contexto, a segunda parte do livro, intitulada «Casos Práticos», tem como objectivo apresentar diversos relatórios periciais, permitindo ao leitor, não apenas fami-liarizar-se com a multiplicidade de casos que podem ser alvo de um processo de avalia-ção psicológica, mas também ter acesso à informação recolhida e às metodologias utili-zadas. A discussão que é feita na parte final de cada relatório pretende ajudar o leitor a compreender de que forma a informação recolhida pode ser analisada e sistematizada, tendo em conta o objecto de perícia e os quesitos inicialmente formulados.

Num dos casos, relativo à avaliação do sistema familiar numa alegada Perturbação Factícia Imposta Sobre Outro (anterior Perturbação Factícia por Procuração – Sín-drome de Münchausen por Procuração), solicitámos o contributo de uma especialista em medicina legal, a Dra. Filipa Gallo, a quem renovamos os nossos agradecimentos. Este valioso contributo justifica-se atendendo à natureza do caso e da perturbação em causa, cujo diagnóstico e abordagem são, em grande parte, efectuados pelos profissio-nais das ciências da saúde. Consideramos, assim, que a apresentação do caso do ponto de vista médico-legal e psicológico enriquece de forma bastante significativa a análise que é posteriormente feita. A discussão deste caso revela-se também um desafio acres-cido, tendo em conta que é uma perturbação muito pouco estudada e sobre a qual sub-sistem ainda muitas dúvidas.

Todos os casos apresentados são reais. Por questões éticas e de garantia do anoni-mato, todos os dados que pudessem, de alguma forma, permitir a identificação dos visa-dos foram alterados. Todos os nomes são fictícios e outros dados de identificação foram também intencionalmente mudados.

Apenas uma nota para salientar que, em alguns casos, a discussão teve por base a 4.ª versão revista do Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais [DSM- -IV-TR] (American Psychiatric Association [APA], 2000), por ser aquele que, à data de avaliação das situações, estava ainda em vigor. A 5.ª versão deste mesmo manual só recentemente foi publicada (APA, 2013a) e é também com base nesta que apresentamos alguns aspectos teóricos na primeira parte.

I N T R O D U Ç Ã O 2 3

Este livro pretende ser, assim, um livro de análise e discussão de casos práticos, cujas especificidades teóricas e legais são apresentadas de forma breve na primeira parte. Não se destina apenas a psicólogos forenses, mas também a todos os profissionais que podem ser intervenientes num processo judicial e que provêm de diversas áreas do saber. Destina-se a profissionais (e estudantes) da área forense (como sejam Magistra-dos judiciais e do Ministério Público, advogados e outros juristas), mas também das áreas sociais e humanas, das ciências biomédicas e educacionais. Porque são, muitas vezes, os técnicos destas diversas áreas que intervêm inicialmente nos casos, efectuando relatórios médicos, sociais ou de acompanhamento aos vários níveis. Para estes técni-cos, pensamos que este livro pode ser importante na medida em que salienta aquilo que é mais relevante conhecer e analisar em cada uma das áreas abrangidas. Esperamos, assim, que estes técnicos possam também beneficiar deste livro, ajudando-os a repensar a forma como conduzem e sistematizam as suas avaliações.

Por fim, sentimos que escrever este livro foi também muito importante para nós, na medida em que nos ajudou a sistematizar ideias e procedimentos, obrigando-nos a uma reflexão conjunta sobre cada um dos casos apresentados. Sentimos que esta reflexão se constituiu num importante momento de aprendizagem, reforçando a importância de um trabalho em equipa.

Mas escrever este livro contribuiu também para uma maior consciencialização das necessidades que ainda se fazem sentir em Portugal, no âmbito da Psicologia Forense. Em primeiro lugar, é fundamental que quem assuma este papel possa beneficiar de formação e treino específicos. Embora muitas universidades disponibilizem já formação académica específica, muitos são os profissionais provenientes de outras escolas, com outras forma-ções de base, envolvidos no complexo sistema da Psicologia no auxílio à realização da justiça. Não apenas para estes profissionais mas, particularmente, para quem possui menos experiência nesta área, a supervisão deve ser assumida de forma obrigatória.

Em segundo lugar, deparamo-nos com a escassez de instrumentos de avaliação psi-cológica aferidos para a população portuguesa e, em particular, para a população forense. Este aspecto constitui, sem dúvida, um constrangimento muito importante nos processos de avaliação psicológica forense, que os profissionais devem ter presente quando emitem um parecer.

Finalmente, sentimos que é fundamental uma maior articulação com a área do Direito, nomeadamente, feedback por parte dos tribunais sobre as avaliações periciais que recebem, e em que medida estas correspondem, ou não, às suas expectativas e necessidades, o que permitiria repensar e melhor adequar as práticas de avaliação psi-cológica forense.

Escrever este livro foi também um enorme prazer, e esperamos que a sua leitura tam-bém o possa ser para si.

Rute Agulhas e Alexandra Anciães1

(1) Para qualquer assunto relacionado com este livro, contactar: [email protected] ou [email protected] Gostaríamos muito de receber o feedback de todos os leitores.

Parte 1

Enquadramento geral

E N Q U A D R A M E N T O G E R A L 2 7

1. Psicologia Forense

A Psicologia Forense é um campo da Psicologia aplicada que diz respeito à utilização de informação proveniente de qualquer especialidade da Psicologia no sistema de jus-tiça (Bush, Connell, & Denney, 2006; Day & White, 2008; Machado & Gonçalves, 2011; Maloney, 1985), o que exige o reconhecimento dos psicólogos enquanto profis-sionais com a competência necessária para poderem providenciar um contributo rele-vante em diversas situações judiciais (Heilbrun & Brooks, 2010; Otto & Heilbrun, 2002; Packer, 2008). A Psicologia Forense surge, assim, como uma disciplina cuja especificidade se assume como a interface entre a Psicologia e o Direito, pretendendo dar resposta às questões científicas e práticas que o sistema de justiça coloca aos psicó-logos que nele trabalham, podendo envolver actividades tão diversas como a avaliação pericial, investigação, consultadoria, elaboração de estudos, depoimentos periciais ou pareceres relativos a situações variadas (Bush et al., 2006; Fonseca, 2006; Heltzel, 2007; Machado & Gonçalves, 2011; Maloney, 1985).

A Psicologia Forense enquadra-se numa variedade de contextos (Bush et al., 2006; Otto & Heilbrun, 2002) e apoia-se no contributo de diferentes áreas do conhecimento como, por exemplo, a Psicologia do Desenvolvimento, a Psicologia Experimental e Cognitiva, a Psicologia Clínica, a Psicologia Social, a Neuropsicologia, a Psiquiatria e mesmo o Direito (Fonseca, 2006). Tendo em conta a relação mantida com a área do Direito, é fundamental que o psicólogo forense esteja familiarizado com as exigências e práticas do sistema judicial, incluindo a compreensão da doutrina jurídico-penal e os quadros teóricos e legais de referência, procurando responder de forma rigorosa às questões específicas que lhe são colocadas (Fonseca, 2006; Otto & Heilbrun, 2002; Pfeifer & Brigham, 1993; Simões, 2001).

Em termos históricos, a Psicologia começou a dar os primeiros passos na área forense nos finais do século XIX, com os estudos sobre a influência da memória nos testemunhos. O primeiro caso registado de um psicólogo como perito em tribunal data de 1896. Neste caso em concreto, o alemão Albert Von Schrenk-Notzing, apoiando-se nos seus estudos sobre a memória e a sugestionabilidade (Backburn, 2006), defendeu em tribunal a falsificação retroactiva da memória das testemunhas num caso de triplo homicídio, tendo por base o facto de ter havido publicidade antes do julgamento. Sensi-velmente na mesma altura, nos Estados Unidos da América, Hugo Munsterberg interviu como psicólogo consultor em dois julgamentos de homicídio, contribuindo para a cres-cente afirmação da Psicologia enquanto auxiliar no contexto forense (Colman, 1995). No entanto, é somente nos anos 60 do século XX, que a Psicologia Forense começa a ganhar maior visibilidade e a expandir-se através da realização de diversos estudos com relevância para o contexto legal (e.g., fiabilidade dos depoimentos de testemunhas ocu-lares, condições em que os erros de identificação podem ser minimizados, capacidade dos agentes detectarem a mentira e a simulação), publicação de manuais e ensino ao nível superior. Um outro marco importante ocorreu em 1992, com a fundação da Euro-pean Association for Psychology and Law, destinada a promover o conhecimento cientí-fico dos aspectos psicológicos e do funcionamento do sistema legal, bem como a inves-tigar a validade dos pressupostos psicológicos subjacentes à produção legislativa

2 8 C A S O S P R Á T I C O S E M P S I C O L O G I A F O R E N S E

(Backburn, 2006). Em Portugal, é na década de 80 do século XX que se observa uma progressiva afirmação da Psicologia como ciência auxiliar da Justiça, com a inserção de psicólogos no mercado de trabalho (e.g., Instituto de Reinserção Social, actual Direcção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais), produção científica e formação académica específica (Gonçalves, 2010).

2. Princípios éticos em Psicologia Forense

A ética pode ser definida como as regras ou princípios que orientam a conduta dos membros de uma dada profissão (American Psychological Association [APA], 2003, 2013b; Heltzel, 2007), procurando regular, educar e até inspirar quem exerce essa mesma profissão (Day & White, 2008). Todos os princípios éticos são baseados em valores humanos fundamentais, ou seja, valores que a sociedade considera importantes (Agulhas, 2012b). Neste contexto, destacamos o modelo ético biomédico sistematizado (Bush et al., 2006), e que tem vindo a ser adaptado a uma grande variedade de especia-lidades no âmbito dos cuidados de saúde, incluindo a Psicologia. Este modelo é com-posto por quatro princípios básicos, nomeadamente, os princípios da Autonomia, Não- -Maleficência, Beneficência e Justiça, sendo que os três últimos estão claramente pre-sentes no Código de Ética da APA (2002). O princípio da Autonomia surge inserido num outro princípio geral, o princípio do Respeito pela Dignidade e pelos Direitos das Pessoas (APA, 2002; Bush et al., 2006).

Em Portugal, assume especial relevância o Código Deontológico da OPP (2011),1 que pretende integrar os princípios éticos da actividade profissional da Psicologia em qual-quer área de aplicação ou contexto, com o objectivo de guiar os psicólogos para práticas de excelência. Este Código Deontológico enumera cinco princípios gerais que preten-dem ser orientações para os profissionais, no sentido de os conduzir para uma actuação centrada nos ideais da intervenção psicológica: Princípio A – Respeito pela Dignidade e Direitos da Pessoa; Princípio B – Competência; Princípio C – Responsabilidade; Princí-pio D – Integridade, e Princípio E – Beneficência e Não-Maleficência. Identifica, depois, diversos princípios específicos que pretendem delinear regras de conduta ética dos psicólogos nas várias áreas e contextos onde estes exercem as suas funções profis-sionais, bem como face a alguns dilemas éticos com que estes podem ser confrontados. Os princípios específicos são os seguintes: 1. Consentimento Informado; 2. Privacidade e Confidencialidade; 3. Relações Profissionais; 4. Avaliação Psicológica; 5. Prática e Intervenção Psicológicas; 6. Ensino, Formação e Supervisão Psicológicas; 7. Investi-gação, e 8. Declarações Públicas.

(1) Aprovado pelo Regulamento n.º 258/2011, publicado no Diário da República, 2.ª série, n.º 78, de 20 de Abril de 2011.

Este livro tem como objectivo dar maior visibilidade à forma como a investigação cienti-

fica pode e deve estar subjacente aos processos de avaliação psicológica forense. A primeira

parte do livro, intitulada «Enquadramento Geral» apresenta a sistematização teórica dos prin-

cipais aspectos relativos à Psicologia Forense e aos seus princípios éticos, bem como ao

enquadramento legal da prova pericial e dos vários tipos de perícias psicológicas que

podem ser solicitadas no âmbito do Direito Penal, Direito Civil e Direito de Família e Menores.

A segunda parte do livro, intitulada «Casos Práticos», tem como objectivo apresentar

diversos relatórios periciais, todos eles casos reais, permitindo ao leitor, não apenas familiari-

zar-se com a multiplicidade de situações que podem ser alvo de um processo de avaliação

psicológica, mas também ter acesso à informação recolhida e às metodologias utilizadas.

A discussão que é feita na parte final de cada relatório pretende ajudar o leitor a compre-

ender de que forma a informação recolhida pode ser analisada e sistematizada.

Rute Agulhas é psicóloga e terapeuta familiar e tra-

balha há 17 anos na área clínica e forense. Desde 2005

exerce funções como perita na Delegação do Sul do

INMLCF, I.P. Professora assistente convidada no ISCTE-

IUL, onde lecciona disciplinas do Mestrado em Psico-

logia Comunitária, Protecção de Crianças e Jovens em

Risco. Investigadora no CIS/ISCTE-IUL e no CENCIFOR

– Centro de Ciências Forenses da Fundação para a

Ciência e Tecnologia (FCT). Doutoranda no ISCTE-IUL.

Formadora na área Clínica e Forense.

Alexandra Anciães é psicóloga, pós-

graduada em Comportamentos Desvian-

tes e Ciências Criminais e em Medicina

Legal. Trabalha há 17 anos na área clínica

e forense, exercendo desde 2000 funções

como perita na Delegação do Sul do

INMLCF, IP. Investigadora do CENCIFOR

– Centro de Ciências Forenses da Fun

dação para a Ciência e Tecnologia (FCT).

Formadora na área Forense.

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ForenseEnquadramento Legal

e Avaliação Pericial

R U T E A G U L H A S • A L E X A N D R A A N C I Ã E S

em Psicologia

Prefácio:

Posfácio:

Revisão Técnica:

Jorge Costa Santos

Telmo Mourinho Baptista

Jorge Costa Santos

Maria Perquilhas

E D I Ç Õ E S S Í L A B O

ForenseEnquadramento Legal

e Avaliação Pericial

Casos Práticos

em Psicologia

Casos PráticosRUTE AGULHAS

ALEXANDRA ANCIÃES

«Um volume com o presente formato só pode resultar de uma combinação feliz entre o conhecimento

produzido e a experiência da sua aplicação em contexto real (...) A concretização em exemplos é um pode-

roso instrumento de aprendizagem (...) um contributo para as boas práticas (...)».

Telmo Mourinho Baptista

Bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses

«Estamos, pois, perante um livro que alia uma grande utilidade prática a uma assinalável qualidade técnico-

-científica. Uma obra que dignifica não apenas as autoras, mas também a instituição onde exercem a sua acti-

vidade profissional e a rede forense em que esta se inscreve. (...) Um saber de experiência feito que, em boa

hora, as autoras entenderam partilhar com quantos – magistrados, advogados, psicólogos e outros actores

forenses, estudantes ou simples curiosos – se interessam por estas matérias. Um livro a ler e a recomendar».

Jorge Costa Santos

Professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa

e ex-director da Delegação do Sul do INMLCF, I.P. (2004-2014)

«Este livro constitui um manual de referência para todos quantos trabalham ou se interessam pelo judiciário

(...) inova ao apresentar uma série de casos judiciários, adequadamente trabalhados (...) tudo isto nos é

dado a conhecer de uma forma acessível, através de uma linguagem aparentemente simples, o que torna

este livro um manual para todos os operadores do judiciário (...) agradeço às autoras esta tão valiosa ajuda

em prol de todos quantos carecem do judiciário nesta sua vertente mais humana e individual».

Maria Perquilhas

Juíza de Direito, docente do Centro de Estudos Judiciários

2ª EdiçãoRevista e Actualizada

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