fonética e fonologia em língua inglesa

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FONÉTICA E FONOLOGIA EM LÍNGUA INGLESA UNIASSELVI-PÓS Autoria: Viviane Yamane da Cunha Indaial - 2021 1ª Edição

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Page 1: Fonética e Fonologia em Língua Inglesa

FONÉTICA E FONOLOGIA EM LÍNGUA INGLESA

UNIASSELVI-PÓS

Autoria: Viviane Yamane da Cunha

Indaial - 2021

1ª Edição

Page 2: Fonética e Fonologia em Língua Inglesa

CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCIRodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito

Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SCFone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090

Copyright © UNIASSELVI 2021Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri

UNIASSELVI – Indaial.

C972f

Cunha, Viviane Yamane da

Fonética e fonologia em Língua Inglesa. / Viviane Yamane da Cunha. – Indaial: UNIASSELVI, 2021.

136 p.; il.

ISBN 978-65-5646-325-4 ISBN Digital 978-65-5646-324-7

1. Língua Inglesa. – Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci.

CDD 420Impresso por:

Reitor: Prof. Hermínio Kloch

Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol

Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Carlos Fabiano FistarolIlana Gunilda Gerber CavichioliJóice Gadotti ConsattiNorberto SiegelJulia dos SantosAriana Monique DalriMarcelo BucciJairo MartinsMarcio Kisner

Revisão Gramatical: Equipe Produção de Materiais

Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

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Sumário

APRESENTAÇÃO ............................................................................5

CAPÍTULO 1PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E DE FONOLOGIA ............................7

CAPÍTULO 2SISTEMA FONOLÓGICO CONSOANTAL .....................................51

CAPÍTULO 3SISTEMA FONOLÓGICO VOCÁLICO E CARACTERÍSTICASSUPRASSEGMENTAIS DA PRONÚNCIA .....................................97

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APRESENTAÇÃOQuando estudamos uma língua, sabemos da importância de conhecer o

vocabulário, a composição das palavras e das frases, a estrutura de um texto, mas você sabe a importância de estudar fonética e fonologia?

Muitos professores acabam focando no ensino da gramática e do vocabulário, preocupando-se com a fala, a escuta, a escrita e a audição. Todavia, o estudo da pronúncia e de outros aspectos da fala e da audição, que, muitas vezes, acabam sendo deixados de lado, capacitam o indivíduo a falar de forma compreensível. A pronúncia está relacionada com as necessidades modernas de se aprender uma língua estrangeira. De acordo com Yoshida (2013), os tempos em que os estudantes deveriam somente praticar as habilidades de escrita e de leitura ficaram no passado, e, hoje, eles necessitam falar e compreender o inglês com nativos e com falantes de outras línguas.

Nós, professores da língua inglesa, devemos estar preparados para ensinar a pronúncia de maneira efetiva para os nossos estudantes, para tanto, além dos conhecimentos relacionados à estrutura e ao vocabulário, precisamos compreender como ocorre o processo de sistematização dos sons da língua inglesa, além de questões, como tonicidade, ritmo e entonação; conhecer as dificuldades que os nossos alunos podem ter em relação à pronúncia e por que ocorrem; e ensiná-la, adaptando métodos que se encaixem a suas necessidades, a fim de superar qualquer problema que possam ter.

Este livro está organizado em três capítulos. No primeiro, apresentaremos os conceitos de Fonética e Fonologia e refletiremos a respeito do ensino da pronúncia. No segundo, identificaremos os sons consonantais e vocálicos, classificando os modos e os lugares de articulação e diferenciando sons similares por meio de pares mínimos. Por fim, no terceiro capítulo, compreenderemos como ocorre a articulação da entonação, do ritmo e da fluência, e como é feita a transcrição fonética. Em todos os capítulos, discutiremos como esses conceitos podem ser aplicados no ensino de língua inglesa.

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CAPÍTULO 1

PRINCÍPIOS DE FONÉTICAE DE FONOLOGIA

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem:

• Apresentar os conceitos de Fonética e de Fonologia. • Distinguir os símbolos do alfabeto fonético.• Diferenciar letra e fonema.• Investigar práticas de ensino-aprendizagem da pronúncia.

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PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E DE FONOLOGIA Capítulo 1

1 CONTEXTUALIZAÇÃOPodemos dividir o Capítulo 1 em duas grandes partes: conceitos de Fonética

e Fonologia e ensino da pronúncia em língua inglesa. Os conceitos de Fonética e de Fonologia estão divididos em duas seções: Fonética e Fonologia, conceitos iniciais e Aparelho Fonador e Alfabeto Fonético. Nessas seções, será preciso diferenciar Fonética e Fonologia; compreender o objeto de estudo; distinguir as características suprassegmentais e segmentais da pronúncia; problematizar acerca do que seja uma boa pronúncia da língua inglesa; entender como funciona o mecanismo fi siológico, para produzir sons; e identifi car os símbolos que correspondem aos sons das línguas por meio do alfabeto fonético.

A terceira e última seção deste capítulo, Como Aprimorar o Estudo da Pronúncia?, trará o panorama histórico da pronúncia e o ensino de línguas, abordando os diversos métodos que surgiram ao longo do tempo, focando nas questões da pronúncia. Sabemos que ensinar não é só ter um bom método, além de seguir tal esquema, por isso, para escolher quais métodos e práticas atendem às necessidades dos estudantes, discutiremos, também, os fatores que afetam a pronúncia e como lidar melhor com eles. Ao fi m, fornecemos algumas dicas e materiais que podem ser incorporados às aulas de língua inglesa.

No decorrer de todo o capítulo, ocorrerão questionamentos para que você refl ita a respeito da sua trajetória de aprendizagem de língua inglesa e das suas ações como professor.

2 FONÉTICA E FONOLOGA, CONCEITOS INICIAIS

Fonética e Fonologia são nomes que estamos acostumados a ouvir, mas você sabe distinguir esses dois conceitos?

Fonética é uma ciência com objeto e métodos próprios de investigação, e está relacionada à descrição, à classifi cação e à transcrição dos sons da fala, ou seja, de acordo com Silva (2014, p. 23), é a “produção da fala dos pontos de vista fi siológico e articulatório”. A autora também explica que há quatro áreas de interesse dessa ciência:

• Fonética Articulatória: compreende o estudo de produção da fala dos pontos de vista fi siológico e articulatório.

• Fonética Auditiva: compreende o estudo da percepção da fala.

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• Fonética Acústica: compreende o estudo das propriedades físicas dos sons da fala a partir da transmissão do falante ao ouvinte.

• Fonética Instrumental: compreende o estudo das propriedades físicas da fala, levando em consideração o apoio de instrumentos laboratoriais.

A Fonologia estuda as diferenças fônicas intencionais e distintivas, como esses elementos se relacionam entre si e em quais situações eles se combinam para formar morfemas, palavras e frases (CALLOU; LEITE, 2009).

No campo da Fonologia, os traços distintivos, de acordo com Callou e Leite (2019), referem-se a unidades mínimas, contrativas e distinguem as palavras. Um determinado traço pode opor o fonema a outros fonemas. Esses traços são considerados a unidade mínima e indivisível da língua. Observe os fonemas /p/ e /b/. Ambos são produzidos usando os lábios (bilabial), e há o bloqueio do ar na cavidade bucal (oclusivos), porém, ao produzirmos /p/, nossas cordas vocais se encontram abertas (som surdo ou desvozeado), enquanto, em /b/, as cordas vocais estão fechadas (som sonoro ou vozeado). Esse vozeamento ou não, causado pelas cordas vocais, é um traço distintivo, é somente esse traço que difere os termos “pata” e “bata”, isto é, pronunciar o primeiro som dessas palavras, com as cordas vocais abertas ou fechadas, muda o signifi cado.

A distinção entre Fonética e Fonologia, segundo Callou e Leite (2009, p. 11), ocorre

pelo fato de considerar os sons independentemente das suas oposições paradigmáticas — aquelas cuja presença ou ausência importa em mudança de signifi cação (pala: bala: mala: fala: vala: sala: cala: gala etc.) — e das suas combinações sintagmáticas, ou seja, arranjos e disposições lineares no contínuo sonoro (Roma, amor, mora, ramo etc.).

O quadro a seguir demonstrará a diferença entre esses dois conceitos. Observe:

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PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E DE FONOLOGIA Capítulo 1

QUADRO 1 – DIFERENÇAS ENTRE FONÉTICA E FONOLOGIA

Fonética FonologiaDescreve os sons da linguagem e analisa as

particularidades articulatórias.Estuda as diferenças fônicas opositivas.

Unidade: fone (representado por colchetes [p]). Unidade: fonema (representado por barras /p/).Fones são entidades físico-articulatórias

isoladas.Fonemas são elementos que interagem no

sistema linguístico.Ponto de vista estrutural. Ponto de vista funcional.Substância da expressão. Forma da expressão.

FONTE: A autora

Fonética e Fonologia são disciplinas interdependentes, explicam Callou e Leite (2009), pois os estudos fonológicos partem do conteúdo fonético para defi nir quais são as unidades distintivas de cada língua. Por isso, essas disciplinas não são opostas, mas complementares.

Diferentemente da gramática e do vocabulário, que têm sido estudados por linguistas há muito mais tempo e, por isso, são mais bem compreendidos, a pronúncia começou a ser estudada, sistematicamente, pela Fonética e pela Fonologia, no início do século XX. Segundo Callou e Leite (2009), o termo fonologia existe desde o século XVIII, porém, passou a ter a conotação que tem hoje somente a partir de 1928, com a contribuição dos estudos de Ferdinand Saussure e Baudoin de Courtenay. Este foi um dos pioneiros a estabelecer um estudo sistemático dos fonemas, focando nos resultados das realizações individuais dos falantes. Já com os estudos de Saussure, foi possível distinguir Fonética e Fonologia a partir dos conceitos de langue e de parole (língua e fala). Os trabalhos de Trubetzkoy, de Jakobson e de outros estudiosos do Círculo Linguístico de Praga, em 1928, contribuíram para que a Fonética se constituísse em uma disciplina autônoma com um objeto próprio de estudo.

Essas disciplinas não são

opostas, mas complementares.

Saussure (2008) argumenta que língua é uma construção coletiva, um produto social, isto é, todos os falantes de uma comunidade têm acesso a uma determinada língua, no nosso caso, à língua portuguesa. Nessa perspectiva, a língua é homogênea e abstrata, não varia entre os falantes. Já a fala é um ato individual, sujeito a fatores externos, ou seja, cada indivíduo tem a sua forma de se expressar. Ao relacionar essa dicotomia com Fonética e Fonologia, temos que a Fonética se relaciona com a língua por ser uma construção coletiva, abstrata e ter um ponto de vista estrutural, e a Fonologia se relaciona com a fala devido à perspectiva funcional.

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Em todas as línguas, é possível identifi car um número regular de sons, que conhecemos como vogais e consoantes. Cada língua tem o seu conjunto de fonemas próprio. Na Fonética, esses sons são chamados de fones, e são representados por símbolos entre colchetes;

na Fonologia, são chamados de fonemas, e os símbolos aparecem entre barras. Por exemplo, o som da letra “p”, em “pata”, pode ser representado, foneticamente, por [p], ou, fonologicamente, por /p/. Os símbolos que representam os sons são os mesmos para a Fonética e para a Fonologia. Algumas variações que ocorrem estão relacionadas à escolha do alfabeto fonético e a casos da transcrição da variação do mesmo som (como o som do “r”, no português), transcritos de maneira arbitrária. Estudaremos mais a respeito desses símbolos na parte do Alfabeto Fonético.

2.1 ALOFONESQuando falamos, é possível pronunciar o mesmo fonema de maneiras

diferentes. Essas formas podem ser mais sutis, de modo que não percebemos ou percebemos pouco essa diferença, ou de forma mais substancial. Yoshida (2013), ao discorrer acerca do assunto, explica que, para classifi car os sons que ouvimos, como uma diferença mínima ou substancial, podemos fazer um teste que consiste em verifi car se o signifi cado daquele termo muda ou não. Por exemplo, se falamos talk - /tɔk/ -, signifi ca “conversar”, mas se você pronuncia walk - / wɔk/ -, signifi ca caminhar. Ao mudar o /t/ pelo /w/, mudam-se a palavra e o signifi cado, e sabemos que /t/ e /w/ são fonemas distintos na língua inglesa. Se mudarmos /t/ por /z/ - zalk, a palavra se torna sem signifi cado, uma vez que não é uma palavra real. Então, temos certeza de que /t/ e /z/ também são fonemas distintos.

Por outro lado, quando alteramos a realização de um fonema, mas o signifi cado não muda, essa realização é uma variação do mesmo fonema, continua a autora. É o caso de butter, que pode ser pronunciada de maneiras diferentes. No inglês americano, é comum ouvirmos o som do /t/ de forma rápida, como se fosse um /d/, já os britânicos pronunciam /t/. No português, a título de exemplo, seriam as diversas formas de se pronunciar o /r/ de porta. A essas variações

de pronúncia do mesmo fonema, chamamos de alofones. Embora os alofones sejam sons fi sicamente diferentes, a função sonora é a mesma (YOSHIDA, 2013).

Cada língua tem o seu conjunto de fonemas próprio.

Embora os alofones sejam

sons fi sicamente diferentes, a função sonora é a mesma (YOSHIDA, 2013).

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PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E DE FONOLOGIA Capítulo 1

Para compreender melhor essa questão dos alofones, assista ao vídeo British vs American Accents, do canal Improve your Accent. No vídeo, o autor trará trechos de discursos da ex-primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, e do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contrastando as diferentes formas ao pronunciar um mesmo som: https://youtu.be/vj7o0AAfM1U.

A autora ilustra o conceito de alofone de maneira bem didática. Ela compara os sons com as cores:

FIGURA 1 – COMPARAÇÃO DE SONS E DE CORES

FONTE: Yoshida (2013, p. 18)

Quando olhamos para os círculos, dizemos que todas as cores são azuis. Ainda assim, nenhum azul é igual ao outro. Há tons mais claros, outros mais escuros, outros puxam mais para o roxo. Nós chamamos todas essas cores de azul, pois existe uma categoria chamada de azul que abrange todas essas nuances, e não porque são fi sicamente deferentes. Da mesma forma, os alofones são grupos de sons que um nativo reconhece como sendo o mesmo som. No caso, o /r/, em português, seria a cor azul, e as variações – tepe, vibrante, retrofl exa – seriam os tons de azul.

2.2 CARACTERÍSTICAS SEGMENTAIS E SUPRASSEGMENTAIS DA PRONÚNCIA

Quando nos referimos à Fonética e à Fonologia, é comum focarmos nas questões individuais dos sons, como dos consonantais e dos vocálicos. Contudo, os sons, por eles mesmos, não são os únicos que afetam a pronúncia. Yoshida (2013) nos lembra de que há o aspecto musical da pronúncia, como o ritmo, a entonação

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e a tonicidade, além de entender como os sons afetam outros e como eles mudam durante o discurso conectado. Esses aspectos da pronúncia são chamados de características suprassegmentais da pronúncia (as quais estudaremos, mais detalhadamente, no Capítulo 3 deste livro). Quando nos referimos aos fonemas individuais de uma língua – as consoantes e as vogais –, chamamo-nos de características segmentais da pronúncia (as quais serão estudadas no Capítulo 2), uma vez que estes afetam somente um segmento do som.

Nós podemos dividir os fonemas de uma determinada língua em dois tipos: consoantes e vogais. Consoantes são sons em que o ar, ao sair dos pulmões, encontra um obstáculo na boca ou na glote. Nesse caso, o ar pode sair de forma explosiva, comprimida ou ser completamente bloqueado. De acordo com Yoshida (2013), a maioria das palavras da língua inglesa possui, pelo menos, um som consonantal, como saw, e outras podem conter mais, como play (que tem duas) e split (que tem quatro). Contudo, uma palavra pode não ter sons consonantais, como I e a, que são constituídas de vogais, apenas. As vogais são sons em que o ar sai suavemente e sem encontrar obstáculos, ou seja, a passagem de ar é livre. As vogais constituem o coração das sílabas das palavras em inglês. Termos, como apple, east e over, começam com sons vocálicos. No Capítulo 2 deste livro, descreveremos, minuciosamente, como cada som consonantal e

vocálico da língua inglesa é articulado.

As sílabas são unidades rítmicas em um discurso. Yoshida (2013) explica que são, obrigatoriamente, constituídas por vogais, e que as consoantes podem acompanhá-las antes e/ou depois. Por exemplo, a palavra potato tem três sílabas: po-ta-to, já a palavra strong é monossílaba.

É importante que, para aprendermos a pronúncia de uma língua e/ou as variações, conheçamos bem o som, praticando palavras soltas ou frases curtas, porém, a língua em uso não ocorre dessa forma, como lembra O’Connor (1980). Os sons e as palavras se conectam com outros para formar discursos, e estes têm difi culdades específi cas de pronúncia. O autor pontua quatro situações em que a pronúncia vai além do fonema:

• Sons interligados: são combinações entre as palavras. Não é complexo pronunciar os termos library, been, laletly, you separadamente, mas a situação pode se tornar mais complicada quando devemos pronunciar a pergunta Have you been to the library lately? sem hesitar ou errar.

• Ênfase em termos importantes: em um discurso, algumas palavras são consideradas mais importantes do que outras, e é importante saber quais são e como elas devem ser tratadas no discurso oral.

Consoantes são sons em que o ar,

ao sair dos pulmões, encontra um

obstáculo na boca ou na glote.

As vogais são sons em que o ar sai

suavemente e sem encontrar obstáculos, ou seja, a passagem

de ar é livre.

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PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E DE FONOLOGIA Capítulo 1

• Ritmo: está relacionado com a duração da pronúncia das palavras dentro de um discurso.

• Melodia: a língua inglesa usa a melodia de uma maneira bem particular. O’Connor (1980) traz o exemplo da expressão thank you, que pode ter duas melodias. A primeira é quando a voz vai de uma nota maior para uma mais baixa, que implica em uma gratidão sincera. A segunda é quando ocorre o contrário, da nota baixa para a alta, o que signifi ca um agradecimento rotineiro.

2.3 VARIEDADES DO INGLÊS E A BOA PRONÚNCIA

A língua inglesa é a língua falada em diversos países, como Reino Unido, Estados Unidos, Canadá, Austrália, África do Sul, Índia, Jamaica e outros tantos. Além disso, o inglês tem sido um idioma internacional (língua franca), isto é, muitos indivíduos de outros países, como o Brasil, aprendem a falar a língua inglesa para se comunicar melhor no meio profi ssional ou pessoal. Dessa forma, existe uma grande quantidade de variedades da língua inglesa. Ademais, as diferenças geográfi cas, sociais, educacionais e temporais contribuem para aumentar a variedade.

As variantes linguísticas do inglês são muitas, devido a diversos países adotarem essa língua como ofi cial e pelo fato de o inglês ser uma língua franca. A título de brincadeira, Jake Wardle resolveu mostrar o inglês em 24 sotaques. Confi ra em https://youtu.be/dABo_DCIdpM.

Importante distinguir a diferença entre sotaque e dialeto. Roach (2009) explica que sotaque está relacionado com a pronúncia diferente das pessoas, devido ao lugar geográfi co a que pertencem, ou devido à classe social, idade, escolaridade etc. Já o dialeto é uma variante da língua que se difere não somente na pronúncia, mas, também, no vocabulário, na gramática e na ordem das palavras.

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Yoshida (2013) traz dois modelos de variantes da língua inglesa:

• Standard American English: é forma falada nos Estados Unidos e no Canadá por falantes escolarizados e por comunicadores de rádio e de TV.

• Received Pronunciation (RP): é considerado o modelo do inglês britânico, baseado no inglês do sul da Inglaterra. Também é conhecido como o inglês da rainha, ou BBC English.

Roach (2009) considera que o termo Received Pronunciation está um pouco ultrapassado, além de poder ser um tanto confuso, uma vez que o termo receivedpode ser considerado como “aceito” ou “aprovado”, e isso pode trazer a ideia de que outros sotaques não são aceitos. O autor prefere o termo BBC pronunciation.

Essas questões nos remetem à ideia de que, quando aprendemos uma língua, focamos na boa pronúncia, mas o que é uma “boa pronúncia”?

Quando você aprendeu inglês, qual modelo de pronúncia desejava alcançar? O seu professor orientava alguma variação específi ca?

Muitos acreditam que ter uma boa pronúncia é soar como um nativo. Yoshida (2013) argumenta que isso não é tão verdadeiro. O fato é que determinar como soa um nativo é complexo, uma vez que existem diversas variantes da língua inglesa, o que torna impossível defi nir uma “pronúncia ideal”. Além disso, tentar falar como um nativo pode ser um objetivo frustrante e difícil de alcançar. A autora também nos lembra de que, fatores, como idade e localização (em relação a ter fácil acesso a áreas que falam inglês ou não), infl uenciam na pronúncia “igual à do nativo”.

O que seria um objetivo mais realístico? Muitos professores e pesquisadores recomendam uma pronúncia inteligível, ou seja, falar de um modo que os ouvintes, nativos ou não, possam compreender, sem muito esforço ou confusão (YOSHIDA, 2013). Para isso, é necessário focar não somente na precisão da pronúncia, mas, também, na fl uência. Muitos estudantes aprendem uma palavra nova e aprendem a pronunciá-la corretamente, porém, quando esse termo está em uma conversação, eles não conseguem pronunciá-la com fl uência. É difícil pronunciar de forma precisa e fl uente, por isso, a prática deve ir além de sons e de palavras.

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PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E DE FONOLOGIA Capítulo 1

De acordo com Yoshida (2013), fl uência é a habilidade de se comunicar, além de pronunciar sons de modo suave e fácil, mesmo que a pronúncia não seja precisa.

Estudar Fonética e Fonologia e aprimorar a pronúncia são processos que exigem tempo, dedicação e paciência. Novos sons podem ser difíceis de identifi car, e, para superar essa difi culdade, Yoshida (2013) sugere que devemos nos perguntar: Como posso mover a minha boca para fazer esse mesmo som? Como devo posicionar a minha língua e os lábios? O que devo fazer para produzir um som similar? Isso signifi ca que, para aprender a pronúncia, deve-se aprender a ouvir, e, para esse efeito, é preciso se conscientizar de como os sons são produzidos.

1 - Qual é a diferença entre Fonética e Fonologia?

2 - O que são alofones?

3 - O que um professor deve considerar boa pronúncia?

3 APARELHO FONADOR E ALFABETO FONÉTICO

Nesta seção, conheceremos o Alfabeto Fonético Internacional e porque ele é tão útil nas disciplinas de Fonética e de Fonologia. A seguir, compreenderemos como funcionam o mecanismo e a articulação da produção da fala, para isso, estudaremos o aparelho fonador e as questões que estão ligadas a ele.

3.1 ALFABETO FONÉTICOAlfabeto Fonético, de acordo com Yoshida (2013), é um conjunto de

símbolos que representa os sons de uma língua. Para cada fone, há um símbolo

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correspondente. Por exemplo, o símbolo [p] traduz a descrição “oclusiva bilabial surda”, isto é, [p] é um som produzido com obstrução cavidade bucal em contato com os articuladores labiais e sem vibração das cordas vocais. O Alfabeto Fonético é útil, pois as línguas não têm um sistema ortográfi co perfeito, com uma letra para cada som. Muitas vezes, um mesmo grafema pode representar mais de um som, como a letra “c”, em inglês, cat [k]; city [s] e cello [tʃ], ou um som pode ser representado por mais de uma ortografi a, como o [f], em fun, phone e cough. Por isso, é válido ter um conjunto de símbolos fonéticos que representa os sons de forma mais precisa.

Fone, como vimos na primeira parte deste capítulo, representa cada som de uma determinada língua, é a unidade da Fonética.

Grafema é a unidade do sistema de escrita da língua, envolvendo não só as letras, mas, também, outros sinais, como hífen, de pontuação, números e acentuação.

É importante ressaltar que não devemos confundir as letras do alfabeto com os símbolos fonéticos. Apesar de alguns símbolos corresponderem às letras do alfabeto, letras e sons são conceitos distintos. As letras são símbolos que estão relacionados à escrita, e os sons são vibrações que podemos ouvir e interpretar (YOSHIDA, 2013; ROACH, 2009). O’Connor (1980) complementa que as letras escritas são muito úteis para nos lembrar do correspondente sonoro, e que isso é a única função. As letras não podem fazer produzir sons que desconhecemos ou que não fazem parte da nossa língua (é só pensar na letra A e quais sons ela nos lembra em português e em inglês). No inglês, continua o autor, a ortografi a nem sempre é tão simples, por exemplo, as palavras city, busy, woman, pretty, villagee as letras i, y, u, o, e e a, todas com o mesmo som vocálico /ɪ/. Já a letra a, dos termos banana, bather, man e many, possui som distintos.

Entendemos, então, que uma mesma letra pode representar dois ou mais fones diferentes, como a letra “g”, dos termos, em inglês, go e gentle. Um mesmo fone pode ser representado por letras distintas, como o som /k/, em car e key. Além disso, uma letra pode indicar fone nenhum, ou seja, é muda, como em know. O quadro a seguir mostrará a quantidade de letras e a quantidade de fones das línguas portuguesa e inglesa, separadas por vogais e consoantes. Veja:

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PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E DE FONOLOGIA Capítulo 1

QUADRO 2 – QUANTIDADE DE LETRAS E DE FONES DA LÍNGUA PORTUGUESA E DA LÍNGUA INGLESA

PORTUGUÊS INGLÊSLetras Fones Letras Fones

Vogais 5 7 5 12Consoantes 21 19 21 24

FONTE: Godoy, Gontow e Marcelino (2006, p. 34)

Podemos observar que, principalmente, na língua inglesa, há um número maior de fones do que de letras. As vogais, por exemplo, mais que dobram a quantidade quando focamos nos fones.

Observe os símbolos fonéticos consonantais e as palavras correspondentes na língua inglesa:

SÍMBOLOS FONÉTICOS CONSONANTAIS E CORRESPONDENTES NA LÍNGUA INGLESA

1. [p] - put 13. [ ʃ ] - show2. [b] - best 14. [ʒ] - usual3. [t] - talk 15. [ tʃ ] - change4. [d] - dad 16. [dʒ] - jeans5. [k] - cat 17. [m] - mom

6. [g] - good 18. [n] - note7. [f] - fi ve 19. [ŋ] - thing8. [v] - vest 20. [l] - love9. [θ] - think 21. [r] - road10. [ð] - they 22. [h] - home11. [s] - sad 23. [w] - want12. [z] - zoo 24. [y] - yellow

FONTE: A autora

Quais símbolos são familiares? Quantos são esses símbolos? O que você pode concluir?

Há uma quantidade signifi cativa de alfabetos fonéticos elaborados por diversos pesquisadores da área, mas o mais conhecido e o que utilizaremos aqui é o Alfabeto Fonético Internacional (IPA – International Phonetic Alphabet), proposto pela Sociedade Internacional de Fonética e desenvolvido por Henry

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Sweet, Wilhelm Viëtor e Paul Passy (CELCI-MURCIA; BRINTON; GOODWIN, 2006). De acordo com o site International Phonetic Alphabet, o IPA, criado pela Associação Internacional de Fonética, é um sistema de notação fonética que usa símbolos para representar cada som distinto que existe na linguagem humana, abrangendo todas as línguas do mundo. O sistema foi criado em 1886, e foi atualizado, pela última vez, em 2005. O IPA consiste em 107 letras, 52 diacríticos (sinais gráfi cos que atribuem novo valor fonético ou fonológico) e quatro marcas prosódicas (que representam o ritmo, a tonicidade e a entonação da fala). Os símbolos são baseados no alfabeto latino, embora existam caracteres não latinos também. A tabela do alfabeto fonético está disponível no site e possui a versão com áudio.

Os primeiros quadros do IPA se referem aos sons consonantais (Consonants – pulmonic e non-pulmonic). Nas colunas, estão descritos os lugares de articulação, e, nas linhas, os modos de articulação (estudaremos essas questões, minuciosamente, no Capítulo 2).

Consoantes não pulmônicas são aquelas do tipo oclusivas, mas diferem na fonte e no fl uxo de ar (corrente de ar ingressivo).

FONTE: https://enunciate.arts.ubc.ca/linguistics/world-sounds/consonants-non-pulmonic/#:~:text=Consonants%20%E2%80%93%20Alternative%20Airflows,-Linguistics%20Home&text=These%20are%20called%20non%2Dpulmonic,clicks%2C%20ejectives%2C%20and%20implosives.&text=Thus%2C%20clicks%20are%20velaric%20ingressive,out%20from%20the%20vocal%20tract. Acesso em: 11 abr. 2021.

O IPA apresenta, também, no lado direito, o sistema dos sons vocálicos (Vowels), que são dispostos, levando em consideração os graus de abertura e de arredondamento dos lábios e a posição da língua na cavidade bucal. Além dos símbolos fonéticos, há o quadro dos diacríticos (Diacritics), que são marcas que modifi cam o símbolo de alguma maneira, por exemplo, o símbolo [a] pode ser modifi cado quando acrescentamos a trema [ä ]. Esse dígrafo mostra a centralização da vogal [a], isto é, a posição da língua se encontra em um local mais central da boca, enquanto, em [a], a posição é baixa (ROACH, 2009).

Atente-se ao quadro do IPA:

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PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E DE FONOLOGIA Capítulo 1

FIGURA 2 – ALFABETO FONÉTICO

FONTE: <https://www.internationalphoneticassociation.org/IPAcharts/IPA_chart_orig/IPA_charts_E.html>; <https://commons.wikimedia.

org/w/index.php?curid=92652779>. Acesso em: 24 abr. 2021.

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

O alfabeto fonético é composto por símbolos do alfabeto escrito e por outros, que podem ser semelhantes, por exemplo, /g/ e /ɑ/, ou /u/ e /ʊ/. Apesar da semelhança, são sons distintos e com particularidades próprias (como veremos no Capítulo 2), e devemos ser claros ao utilizarmos esses símbolos em uma transcrição fonética, por exemplo. Além disso, há símbolos que não são encontrados na ortografi a comum, como /ə/, /θ/ e /ŋ/. Para isso, o site https://ipa.typeit.org/ permite que você digite esses símbolos e copie e cole em um documento.

Roach (2009) argumenta que, quanto mais estudamos Fonética e Fonologia, mais a nossa audição fi ca aguçada para percebermos diferentes sons, possibilitando uma descrição cada vez mais detalhada (por isso, tantos diacríticos). É inviável estudar todos os símbolos e diacríticos do IPA, até porque, por ser um alfabeto internacional, alguns representam sons que não constituem os sistemas fonético e fonológico da língua inglesa.

Ao compararmos as diversas propostas de alfabetos fonéticos – algumas delas, feitas por dicionários –, percebemos que há uma base comum que remete ao IPA, segundo Callou e Leite (2009). Yoshida (2013) argumenta que essas modifi cações são feitas com o intuito de adequar os símbolos às necessidades dos aprendizes e dos professores.

Quer conferir como uma palavra é descrita pelo alfabeto fonético? Alguns dicionários on-line oferecem esse recurso. Seguem dois: Cambridge (https://dictionary.cambridge.org/) e Longman (https://www.ldoceonline.com/). Em ambos, você pode conferir a transcrição fonética e ouvir a pronúncia. São de uso gratuito.

A autora ressalta uma questão importante: devemos usar o alfabeto fonético para ensinar pronúncia? Na verdade, devemos pensar nos estudantes, neste momento. Devemos levar em consideração a idade, as expectativas e os modos

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PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E DE FONOLOGIA Capítulo 1

de aprendizagem. Para alguns estudantes, isso pode ser válido, para outros, pode ser confuso e assustador, continua a autora. Devemos pensar com cuidado antes de tomar essa decisão.

3.2 APARELHO FONADORComo nós produzimos os sons?

Esse mecanismo é tão automático que nem percebemos como a produção dos sons acontece dentro do nosso organismo. Quando falamos, movimentamos nossa língua, lábios, mandíbula, isso acontece de modo muito rápido e complexo. Esse mecanismo fi siológico próprio, para produzir sons, chamamos de aparelho fonador, constituído de pulmões, laringe, faringe e cavidades oral e nasal. Callou e Leite (2009) observam que os órgãos constituintes do aparelho fonador têm outras funções, diferentes dos usados para a produção do som. Os pulmões e a cavidade nasal, por exemplo, fazem parte do sistema respiratório, “mas, para a produção do som, servem de câmara iniciadora da corrente de ar, e a cavidade nasal funciona como câmara de ressonância para a produção dos sons nasais ou nasalizados” (CALLOU; LEITE, 2009, p. 14).

Esse mecanismo fi siológico próprio, para produzir sons,

chamamos de aparelho fonador,

constituído de pulmões, laringe,

faringe e cavidades oral e nasal.

FIGURA 3 – APARELHO FONADOR

FONTE: <File:Human-respiratory-system-structure.jpeg>; <https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0>. Acesso em: 11 abr. 2021.

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

A fala é realizada por meio de vibrações, com frequências, intensidades e durações-características, produzidas por uma corrente de ar em movimento. Infl amos os nossos pulmões por meio da corrente de ar ingressiva (inspiração), e soltamos a corrente de ar egressiva ao produzirmos sons (note que, nas línguas portuguesa e inglesa, não conseguimos falar, claramente, quando inspiramos). O ar, nessa corrente egressiva, é expulso dos pulmões pelo levantamento do diafragma, passando pela laringe, cordas vocais, glote e faringe. A saída de ar pode ocorrer pelas duas cavidades: bucal e/ou nasal.

Tal trajeto ainda não se diferencia de uma simples respiração. Para produzir os sons, o ar da corrente egressiva é interrompido em lugares estratégicos, como nas cordas vocais, na glote e nas cavidades bucal e nasal.

As cordas vocais, ou pregas vocais, encontram-se na laringe, e desempenham um papel fundamental na produção da fala humana, pois são responsáveis pela fonação. Veja como Callou e Leite (2009, p. 18) descrevem as cordas vocais:

As cordas vocais têm a forma de dois lábios e são constituídas do músculo tireocricoide e do tecido elástico, denominado de ligamento. Uma das suas extremidades está unida às cartilagens aritenoides, e, a outra, à tireoide. A tireoide é vulgarmente conhecida por pomo de adão, por ser uma protuberância no pescoço bem visível nos homens. As aritenoides são dotadas de vários movimentos, devido a um intrincado sistema de músculos, movimentos que ocasionam posições diversas das cordas vocais e, consequentemente, sons diferentes. A abertura triangular existente entre as cordas vocais se denomina glote.

Observe a anatomia das cordas vocais na fi gura a seguir:

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FIGURA 4 – ANATOMIA DAS CORDAS VOCAIS

FONTE: <https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=244424>. Acesso em: 11 abr. 2021.

No momento da fala, as pregas vocais (vocal fold) estão juntas ou separadas. Quando as pregas vocais estão separadas, e, a glote, aberta, a corrente de ar passa livremente, não causando vibrações. Chamamos esses sons de surdos, ou de desvozeados (voiceless). Já quando as pregas vocais estão juntas, e, a glote, fechada, a corrente de ar encontra um obstáculo, tendo que gerar uma vibração para sair. Essa vibração é muito rápida, chegando a mais de 100 vezes por segundo. Os sons produzidos, nesse caso, são chamados de sonoros, ou de vozeados (voiced).

FIGURA 5 – ABERTURA E FECHAMENTO DAS CORDAS VOCAIS

FONTE: <https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1677918>. Acesso em: 11 abr. 2021.

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

Exemplos de um som desvozeado e de um vozeado são os sons [s], de cinco, e [z], de zinco, respectivamente. Entenda como funciona essa questão da vibração fazendo um pequeno teste. Coloque dois dedos no meio da sua garganta, mais ou menos onde fi ca o nosso pomo de adão. Agora, pronuncie as palavras cinco e zinco, mas se alongue no som [s] (não na sílaba cin-, somente no s) e no som [z]. Perceba que, ao pronunciarmos [s], as cordas vocais não vibram, o que signifi ca que as pregas vocais estão separadas, e o ar passa livremente. Quando pronunciamos o [z], há uma vibração, o que indica que as pregas vocais estão juntas.

Roach (2009) apresenta mais duas aberturas das cordas vocais, importantes para o estudo da Fonética e da Fonologia da língua inglesa. O autor argumenta que, apesar de parecerem simples as questões da abertura e do fechamento das cordas vocais, na realidade, nós conseguimos produzir uma variedade complexa de mudanças nas posições das cordas vocais. Além das posições aberto e fechado, como já citado, há as posições glote estreita (narrow glottis) e bem fechada (tightly closed). Quando as cordas vocais se encontram na posição glote estreita, o ar passa e gera o som fricativo [h], como em house. O autor explica que esse som não é diferente de um sussurro, e é chamado de fricativa glotal desvozeada (estudaremos melhor essas classifi cações mais adiante). A outra posição que Roach (2009) apresenta é quando as cordas vocais estão bem fechadas e pressionadas, de modo que o ar não consegue passar dessa barreira, causando uma oclusiva glotal, representada pelo símbolo [ʔ]. Veja a fi gura a seguir, que ilustrará as diversas aberturas da glote:

FIGURA 6 – ABERTURAS DA GLOTE

FONTE: <https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=118530>. Acesso em: 29 abr. 2021.

Seguindo pelas cordas vocais, o ar pode chegar na cavidade bucal (vocal tract). Nesse ponto, há muitas partes que se movem, de diversas maneiras, para produzir todos os sons de uma língua. Na cavidade bucal, encontramos os lábios (lips), os dentes (teeth), o alvéolo (alveolar ridge), o palato duro (hard palate), o palato mole (soft palate), a língua (tongue) e a mandíbula (jaw).

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PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E DE FONOLOGIA Capítulo 1

FIGURA 7 – CAVIDADE BUCAL

FONTE: <https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1678037>. Acesso em: 11 abr. 2021.

De acordo com Yoshida (2013) e Roach (2009), as partes que compõem a cavidade bucal são chamadas de articuladores (articulators). Veja como esses articuladores podem se mover durante o processo de fala da língua inglesa:

• lábios (lips): servem para pronunciarmos diversas consoantes, como [p], [b], [m], [f] e [v]. Podemos movê-los de diversas formas – arredondando, esticando e pressionando;

• dentes (teeth): podem encostar nos lábios ou nos dentes para produzirmos os sons [f], [v], [θ] e [ð];

• alvéolo (alveolar ridge): é a parte rígida, logo atrás dos dentes superiores. A língua pode encostar (ou quase) nesse ponto quando pronunciamos [t], [d], [s], [z], [l] e [n];

• palato duro (hard palate): é a parte rígida no topo da boca, logo após o alvéolo, mais conhecida como “céu da boca”. Nossa língua encosta (ou quase) no palato duro quando pronunciamos [ ʃ ], [ʒ], [ ʧ ], [ʤ] e [y];

• palato mole (soft palate): é a parte mais macia do céu da boca, logo atrás do palato duro. Se você encostar a ponta da sua língua no palato duro, e deslizar para o fundo, encontrará essa área mole. A nossa língua encosta nesse local quando produzimos os sons [k], [ɡ] e [ŋ];

• língua (tongue): está presente em quase todas as produções sonoras da língua inglesa, em consoantes e em vogais. Às vezes, referimo-nos a uma parte específi ca da língua, como a ponta (tip), o dorso (blade) e o fundo (back);

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• mandíbula (jaw): move-se para cima e para baixo, permitindo que a boca abra e feche. O movimento permite, também, que a língua se articule em posições altas ou baixas.

Roach (2009) chama a atenção ao considerar, a mandíbula, um articulador. Ele reconhece que a movemos muito durante a fala, mas esta não é um articulador como os outros, uma vez que não interage com outros articuladores (como ocorre com a língua e o alvéolo, para a produção de [t]). Dessa forma, temos os articuladores ativos, ou seja, aqueles que se movimentam: a língua, o lábio inferior, o véu palatino e as cordas vocais; e os articuladores passivos, o lábio superior, os dentes, os alvéolos, o palato duro e o palato mole.

A cavidade nasal é outra parte importante no processo de produção do som, principalmente, das consoantes [m], [n] e [ŋ]. Para isso, o ar sai pelo nariz ao invés de sair pela boca. Observe isso, produzindo o som [m]. Diga “humm” sem abrir a boca, e sinta que o ar sai, totalmente, pelo nariz. Não há nada ativo que podemos executar com o nariz quando este está relacionado ao processo de fala. Apesar disso, é uma parte importante na produção do som, conforme lembra Roach (2009).

O que defi ne se o ar deve sair pela cavidade nasal ou pela cavidade bucal é o véu palatino (o terço posterior do céu da boca). Quando o véu palatino está levantado, o ar sai pela cavidade bucal, e produzimos os sons orais. Quando o véu palatino está abaixado, o ar sai pela cavidade nasal, e, em alguns casos, pela cavidade bucal também, e produzimos os sons nasais.

Que tal ver como o aparelho fonador trabalha durante o processo de fala? No vídeo a seguir, Geoff Lindsey explica como os articuladores trabalham na cavidade bucal para produzir sons por meio de imagens de ressonância magnética: https://youtu.be/SVKR3ESdAk8.

O infográfi co a seguir resumirá o processo de produção da fala, observe:

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FIGURA 8 – INFOGRÁFICO PRODUÇÃO DA FALA

FONTE: A autora

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1 - Complete o diagrama, classifi cando cada uma das partes indicadas do aparelho fonador e da cavidade bucal:

FONTE: <https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=1498087>. Acesso em: 24 abr. 2021.

1) 2) 3) 4) 5) 6) 7) 8) 9)

2 - Embora todos os sons consonantais tenham uma ortografi a frequente, é importante perceber que existem ortografi as incomuns também. Relacione as colunas a seguir. Alguns itens se referem à ortografi a comum, e outros não. Consulte um dicionário, se preciso.

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PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E DE FONOLOGIA Capítulo 1

1. [k] ( ) t ou tt – teach, better2. [f] ( ) s ou ss/ce, ci or cy – six, less, face, decide, cycle3. [ � ] ( ) s/ss – reason, possess4. [z] ( ) sh - shop, fi sh5. [g] ( ) gu – guard, guess 6. [t] ( ) ck/qu/ch – ticket, quiet, ache 7. [s] ( ) j/g – jaw; age8. [d�] ( ) ph/gh – photograph, laugh

3 - Acerca das cordas vocais, complete a sentença a seguir com as opções que estão no quadro:

surdo - sonoro - vozeamento - laringe - fechado - aberto

R.: As cordas vocais estão localizadas na _____ e são responsáveis pelo _____ dos sons da língua por meio dos movimentos de abertura e de fechamento dos músculos. Quando as pregas vocais estão _____, o ar encontra passagem livre e passa sem causar vibração, produzindo os sons ____. Quando as pregas vocais estão ____, o ar encontra uma barreira, gerando uma vibração, produzindo os sons _____ da língua.

4 PANORAMA HISTÓRICO DA PRONÚNCIA E O ENSINO DE LÍNGUAS

O estudo da pronúncia nem sempre foi alvo dos fi lologistas e dos linguistas. Por muito tempo, focaram-se em questões gramaticais e de vocabulário, e, somente no começo do século XX, a pronúncia começou a ser estudada de maneira sistemática. Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006) afi rmam que duas abordagens de ensino da pronúncia foram desenvolvidas:

• Abordagem intuitiva-imitativa (intuitive-imitative approach): depende das habilidades do aprendiz de ouvir e de imitar os sons e os ritmos da língua estrangeira sem a intervenção de qualquer explicação.

• Abordagem analítico-linguístico (analytic-linguistic approach): usa recursos, como alfabeto fonético, descrições da articulação, informações contrastivas e outros suplementos de audição, imitação e produção.

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No decorrer da história do ensino de línguas estrangeiras, diversos métodos foram desenvolvidos para atender às necessidades daquele período. O Método Tradicional, ou Método da Gramática – Tradução (Grammar Translation), enfatizou a tradução e a versão de textos literários. A gramática era o foco central, de forma que os estudantes realizavam trabalhos estruturalistas e de memorização para adquirir consciência das regras gramaticais. Percebe-se que o desenvolvimento oral não era a fi nalidade desse método, ou seja, o ensino da pronúncia era bem irrelevante (CELCI-MURCIA; BRINTON; GOODWIN, 2006).

O Método Direto (Direct Method), que se popularizou no início de 1900, trouxe uma versão mais natural do que o método anterior, pois enfatizava a língua estrangeira e os processos de aquisição. De acordo com Jalil e Procailo (2009, p. 776-777),

o “pensar na língua estrangeira” é a norma, assim como a comunicação, no seu sentido mais amplo. A leitura segue sendo uma das habilidades privilegiadas, porém, o desenvolvimento caminha com a habilidade da fala e a aquisição do vocabulário por meio dos textos e das situações propostas. Para evitar a tradução e incentivar o uso da língua estrangeira, o professor usa imagens, demonstrações, pantomimas e realia (objetos e atividades provenientes do contexto real de uso da língua estrangeira). Inclusive, o currículo é baseado em situações, e não em pontos gramaticais, e a pronúncia dos alunos é trabalhada desde o início dos estudos.

Nesse método, a pronúncia é ensinada por meio da intuição e da imitação. Esse processo é baseado, segundo Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006), na observação do processo de aquisição de língua das crianças.

A pronúncia ganha mais destaque no Método Audiolingual (Audiolingualism), chegando a ganhar status de “importante”, sendo ensinada desde o início. Celce-Murcia et al. (2006) afi rmam que, além de o professor trazer exercícios de imitação ou de repetição, fornece, aos estudantes, informações da Fonética, como o alfabeto fonético, e quadros, que ilustram a articulação dos sons. Além disso, a técnica de contraste, por meio de pares mínimos (quando duas palavras diferem apenas por um som diferente na mesma posição, como night e light), foi amplamente usada para práticas auditivas e orais.

A Abordagem Comunicativa abarca o conceito de competência comunicativa de Hymes (1970). Para o estudante atingir a competência de se comunicar em língua estrangeira, é necessário o desenvolvimento de outras competências, como a cultural, a sociolinguística, a discursiva etc. (JALIL; PROCAILO, 2009). Nessa abordagem, tem-se o pressuposto de que se a língua é a comunicação, então, usar a língua para comunicar deve ser o centro das aulas. Celce-Murcia,

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PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E DE FONOLOGIA Capítulo 1

Brinton e Goodwin (2006) afi rmam que o ensinar pronúncia surge, aqui, com certa urgência, uma vez que, se o estudante não a aprimorar, terá problemas de comunicação, não importa o quão bom em gramática e vocabulário seja.

Atualmente, o Pós-Método surge como uma forma de personalização do ensino, uma vez que não prega um método específi co para ser aplicado nas aulas de língua. Jalil e Procailo (2009, p. 780) afi rmam que,

segundo Silva (2004, p. 2), “os métodos e as abordagens são apresentados como soluções para problemas de ensino que podem ser aplicados em qualquer lugar e em qualquer circunstância”. Entretanto, nenhuma sala de aula, seja ela onde for, é igual a outra, tem os mesmos alunos, os mesmos objetivos, as mesmas intenções, as mesmas expectativas, os mesmos professores. [...] Indagações, como “por que fazer essa atividade, com qual objetivo, embasado em quê, de onde e como”, devem fazer parte das ações diárias do professor, com o intuito de se tornar mais crítico e consciente daquilo que realiza.

Percebemos que o Pós-Método possibilitou, ao professor, escolher a metodologia e a prática mais adequadas para os estudantes.

Veja o exposto a seguir, o qual resumirá os métodos que estudamos até agora:

O Pós-Método surge como uma forma

de personalização do ensino, uma vez que não prega um método específi co para ser aplicado

nas aulas de língua.

FIGURA 9 – INFOGRÁFICO PANORAMA HISTÓRICO DA PRONÚNCIA E ENSINO DE LÍNGUAS

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FONTE: A autora

Que métodos auxiliaram você a aprender inglês? Que métodos você usa como professor (a)? Que métodos podem ajudar você a ensinar a pronúncia da língua inglesa?

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PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E DE FONOLOGIA Capítulo 1

4.1 FATORES QUE AFETAM A PRONÚNCIA

Já discutimos, neste capítulo, que o estudo da pronúncia é um processo que demanda tempo e dedicação. Podemos conhecer a produção de um som específi co da língua inglesa e entender o mecanismo de execução, mas treinar a nossa musculatura, produzir o som nas palavras, frases e discursos, ouvir e diferenciar exigem tempo e prática.

Existem algumas questões que podem afetar o aprendizado da pronúncia de uma língua estrangeira, de acordo com Yoshida (2013). O fator idade é um deles. Crianças de até 14 anos conseguem absorver, com mais facilidade, os sons e as palavras que ouvem, e, pouco a pouco, aprendem a imitá-los de forma precisa. A autora argumenta que as crianças aprendem os sons de uma forma mais natural do que os adultos, e podem se aproximar mais da pronúncia de um nativo. Todavia, isso ocorre somente se a criança tiver contato frequente com a língua estrangeira.

Uma pronúncia efetiva não é limitada a crianças de até 14 anos. Um adulto também pode atingir um nível de pronúncia satisfatório, porém, não consegue soar como um nativo. Nem tudo são pedras na vida dos adultos. Yoshida (2013) afi rma que, com a idade, vem o amadurecimento, e eles conseguem estabelecer objetivos e praticá-los, conseguem entender explicações abstratas e analisar como os sons são pronunciados e como soam a melodia e o ritmo da língua estudada. A autora ressalta que aprendizes adultos não devem desistir de ter uma pronúncia fácil e inteligível, encontrada de um modo diferente das crianças.

E você, com quantos anos aprendeu inglês? Quais foram as suas difi culdades em relação à pronúncia? Você acha que essas difi culdades estavam relacionadas com o fator idade?

EFL – English as a Foreign Language, traduzido, do inglês, como língua estrangeira, signifi ca que um indivíduo está aprendendo inglês na terra-natal, por exemplo, os brasileiros que aprendem inglês nas escolas regulares e de idiomas. Quando o estudante faz

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

intercâmbio e vai aprender inglês em um país nativo, chamamos de ESL – English as a Second Language (inglês como segunda língua).

Como você descreveria o ambiente em que aprendeu inglês? Como você aumentou a sua exposição com a língua inglesa?

A motivação também é um fator a ser considerado. Os estudantes tendem a fazer mais progresso se querem aprender. Yoshida (2013) ressalta que nenhum professor pode forçar o aluno a aprender se ele não estiver motivado. Godoy, Gontow e Marcelino (2006) lembram que não devemos nos enganar pela falsa crença de que existem pessoas que nasceram com a habilidade natural de aprender línguas e que, se você não for uma delas, não terá uma boa pronúncia. Estudos apontam que a motivação é tão forte quanto a habilidade natural. Três objetivos gerais, citados por Yoshida (2013), têm sido sugeridos para que os indivíduos se motivem a aprender uma língua estrangeira:

1. Querem ser aceitos em um grupo que usa a língua. O grupo pode reconhecê-los como falantes de segunda língua, mas a comunicação funciona.

2. Querem ser aceitos como pertencentes ao grupo, e não como falantes de segunda língua.

3. Querem ser capazes de usar a língua para alcançar um determinado objetivo, como conseguir um emprego, gerenciar um negócio, passar em um teste ou viajar para fora do país.

Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006) concluem que, se reconhecermos os objetivos dos estudantes, poderemos motivá-los, mostrando como o aprimoramento da pronúncia deve ajudá-los a alcançarem os objetivos.

A personalidade do indivíduo também é um fato que pode afetar o aprendizado da pronúncia. Yoshida (2013) e Godoy, Gontow e Marcelino (2006) explicam que alunos mais extrovertidos podem aprender pronúncia, com mais facilidade, do que os tímidos, e que os confi dentes podem ser mais dispostos a tentar novas palavras, mas o sucesso deles não é garantido. Alguns estudantes podem estar pulando etapas, e não prestando muita atenção na precisão da

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PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E DE FONOLOGIA Capítulo 1

pronúncia. Se a fl uência impressiona, a pronúncia inadequada acaba sendo aceita, o que prejudica o desenvolvimento.

Por outro lado, aqueles estudantes que são mais quietos podem estar, na verdade, refl etindo a respeito dos sons e praticando com eles mesmos. A autora aconselha não subestimar esses alunos e apreciar o esforço e as tentativas, encorajando-os.

Wong (1987b), citado por Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006), afi rma que ensinar pronúncia não é um problema exclusivamente linguístico, e que precisamos levar em consideração fatores, como idade, exposição à língua-alvo, o quanto e como foi a instrução da pronúncia anterior, e, talvez, o mais importante, a atitude dos estudantes em relação à língua estrangeira e a motivação para alcançarem a pronúncia inteligível.

Os fatores discutidos até aqui estão ligados aos aprendizes, mas há outros fatores que não dependem deles, como os métodos e a qualidade do ensino, uma infl uência muito forte. Yoshida (2013) faz questionamentos, como:

• Eles têm recebido muito, pouco ou nenhum treino de pronúncia?• Quantas chances eles têm de praticar a pronúncia?• O que é mais efetivo: usar uma variedade de atividades ou atividades

“repeat after me”?• Os professores consideram a pronúncia um assunto interessante ou

consideram algo desnecessário?• É possível que o professor anterior tenha passado alguma informação

falsa ou fornecido um modelo incorreto?

A qualidade do ensino que os alunos recebem, defi nitivamente, afeta a qualidade da aprendizagem.

De acordo com algumas teorias, explicam Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006), o estudante deve consumir muito material na língua-alvo para se familiarizar, antes de começar a falar, de fato. A exposição à língua-alvo é um fator determinante para o sucesso dos estudos. Nos casos do inglês como língua estrangeira (EFL), muitos estudantes têm pouco contato com a língua-alvo, muitas vezes, limitando-se a poucas horas semanais. Dessa forma, cabe, ao professor, oferecer o modelo adequado de pronúncia. É comum, nessa situação, professores oferecem oportunidades de extraclasse, como aulas em laboratório de línguas, vivências nas quais se usa a língua-alvo e outras situações em que o estudante pode experienciar amostras de discurso oral autêntico. Em situações de inglês como segunda língua (ESL), o estudante pode acabar recorrendo a comunidades que falem a língua materna, diminuindo a exposição à língua-alvo. Em qualquer um dos casos, argumentam Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006), o professor

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pode maximizar a exposição do estudante à língua-alvo, incentivando-o a expandir as competências linguísticas e enfatizando a importância da exposição no processo de aquisição de todos os aspectos da língua: pronúncia, gramática e vocabulário.

Muitos estudantes se baseiam nos sons da língua materna para pronunciar os da língua estrangeira. Algumas vezes, há sons correlatos entre as línguas, mas, em outros casos, pode ocorrer certa difi culdade ao pronunciar um som que não existe na língua materna. Um exemplo disso, segundo Godoy et al. (2006), é o /θ/, em think, que não existe em português. Os brasileiros têm difi culdade em executar esse som e muitos acabam pronunciando como /f/ ou /s/. Essa infl uência é chamada de interferência da língua nativa ou transferência de idioma. Yoshida (2013) explica que, diante disso, alguns problemas podem ocorrer:

• Fusão (merging): quando o indivíduo ouve um som novo da língua estrangeira que não é familiar, tende a interpretá-lo nos termos da língua materna. O cérebro do ouvinte ouve os dois sons como se fossem o mesmo, e isso direciona para a pronúncia incorreta.

• Substituição (substitution): quando o indivíduo ouve um som que não se encaixa em nenhum som já conhecido, tende a substituí-lo por um som similar e mais fácil de pronunciar. Esse processo pode causar problemas de inteligibilidade.

• Termos emprestados (borrowed words): muitas línguas tomam alguns vocábulos da língua inglesa emprestados e acabam adaptando a pronúncia para adaptar a língua vernácula. Os termos emprestados da língua inglesa, como Facebook e petshop, são recorrentes no dia a dia dos brasileiros, e tendemos a acrescentar a vogal /i/ após as consoantes (/feɪsɪ.bukɪ/ e /petɪʃɔpɪ/). A familiaridade com essas palavras pode tornar difi cultoso pronunciá-las de maneira correta em inglês.

Um dos maiores desafi os que um professor enfrenta ao ensinar pronúncia é a fossilização (fossilization). Esse processo ocorre quando o indivíduo chega a certo ponto e não progride mais, por exemplo, ele estuda inglês por muitos anos e não consegue diferenciar o /θ/ do /f/. O aluno, quando inicia os estudos em língua inglesa, faz muitos progressos, uma vez que começa do zero. Depois de um tempo, pode achar que tudo bem dizer o /f/ no lugar do /θ/, porque o professor e os colegas o entendem, então, ele perde a iniciativa de tentar pronunciar /θ/ com precisão (YOSHIDA, 2013). Esse comportamento acaba se fossilizando, ou seja, é muito difícil de mudar, mas não é impossível.

Para mudar isso, primeiramente, é necessário reconhecer essa fossilização, além de auxiliar o estudante a perceber o erro que está cometendo e o porquê desse problema, fornecendo informações, oportunidades de prática e pareceres

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PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E DE FONOLOGIA Capítulo 1

acerca da pronúncia. Daí, o estudante deve estar disposto a se dedicar para mudar (YOSHIDA, 2013). O melhor caminho é evitar que a fossilização aconteça, enfatizando a pronúncia desde o início do processo de aprendizagem de língua inglesa.

Vamos refl etir a respeito da pronúncia? Celce-Murcia et al. (2006) trazem algumas refl exões acerca da aquisição da pronúncia da língua estrangeira. Veja:

Quais obstáculos você enfrentou/enfrenta ao aprender a língua inglesa? Se você tem difi culdades com a pronúncia, quais itens, a seguir, você acredita que sejam verdadeiros para a sua situação?

( ) Eu não sei qual é o meu problema de pronúncia, pois eu não percebo.

( ) Eu noto que transfi ro os sons da minha língua materna.( ) Eu não consigo ouvir a diferença entre alguns sons da língua-alvo

e da minha língua materna.( ) Eu não consigo produzir a diferença entre alguns sons da língua-

alvo e da minha língua materna.( ) Aprimorar a pronúncia não é importante para mim, pois as

pessoas me entendem sem problemas.( ) Embora eu consiga produzir alguns sons da língua-alvo, eu tenho

que me esforçar e me concentrar muito enquanto eu falo.( ) Eu gosto do meu sotaque e não desejo ter uma pronúncia de

nativo ou próxima a isso.( ) Nativos comentam que o meu sotaque é fofo ou charmoso e eu

não tenho motivos para mudá-lo.( ) Eu não tive muito contato com falantes nativos. Minha pronúncia

poderia ser melhor se eu tivesse me exposto mais.( ) Eu não tive muito treinamento ou prática em pronúncia enquanto

eu aprendia a língua-alvo.( ) Eu aprendi a língua-alvo muito tarde. Somente pessoas jovens

podem adquirir uma língua estrangeira sem sotaque.

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

4.2 APRIMORANDO A PRONÚNCIA Como professores podem aprimorar a pronúncia dos estudantes de modo

que eles se comuniquem de forma inteligível?

Quem responde essa pergunta são Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006). As autoras listam técnicas e materiais práticos que foram desenvolvidos ao longo do tempo e que auxiliam no ensino da pronúncia. Algumas das técnicas podem ser vistas como ultrapassadas, se comparadas a outras, que valorizam mais a comunicação real. Contudo, nenhuma delas deve ser descartada, uma vez que os professores precisam fornecer técnicas que atendam às necessidades e à realidade dos alunos. Confi ra quais são essas técnicas:

1. Ouvir e imitar (listen and imitate): uma técnica do Método Direto a partir da qual os estudantes ouvem o professor e repetem ou o imitam.

2. Treino fonético (phonetic training): uso de descrições, de diagramas articulatórios, do alfabeto fonético e de exercícios de transcrição fonética.

3. Exercícios de pares mínimos (minimal pair drills): técnica introduzida pelo Método Audiolingual, ajuda os estudantes a distinguirem sons problematicamente similares da língua estrangeira, por meio do áudio e da prática da fala. A atividade pode ser feita no nível da palavra ou da frase. É uma boa prática para aqueles que têm difi culdade em distinguir sons similares.

4. Pares mínimos contextualizados (contextualized minimal pairs): nesta técnica, o professor estabelece um contexto, por exemplo, fazer compras no shopping, e apresenta o vocabulário. Então, os estudantes são treinados para responder a sentenças com a expressão apropriada.

5. Auxílio Visual (visual aids): aprimoramento da descrição de como os sons são produzidos. O professor pode recorrer a sound-color charts, imagens, espelhos, acessórios etc. Yoshida (2013) acrescenta o recurso audiovisual, como vídeos, que demonstram como os sons são produzidos. Enfatiza a necessidade de conferir a qualidade do material.

6. Trava-línguas (tongue twisters): uma técnica de estratégia de correção de fala para falantes nativos, por exemplo, “she sells seashells by the seashore”. Yoshida (2013) explica que essas sentenças possuem diversas palavras com o mesmo som ou similares, e que é uma técnica valiosa se usada sabiamente. Se não, pode frustrar o estudante. Recomenta usar trava-línguas esporadicamente, conferindo se os estudantes entendem o que dizem. É importante, também, não recorrer a trava-línguas muito longos ou muito difíceis, e não focar na velocidade logo de início. Dê tempo para os estudantes se familiarizarem com o som.

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PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E DE FONOLOGIA Capítulo 1

7. Exercícios de aproximação do desenvolvimento (developmental approximation drills): atividades de escuta e de fala com pares de palavras com sons similares. A diferença dos exercícios com pares mínimos é que, aqui, o foco é auxiliar na produção que o indivíduo tem difi culdade de executar, encorajando-o a pronunciar um som similar. Por exemplo, se o estudante não consegue pronunciar /r/, começa a treinar com /w/, como em wed – red, witch – rich, até que consiga produzir /r/.

8. Ler em voz alta ou recitar (reading aloud/recitation): textos ou trechos para os estudantes praticarem lendo em voz alta, focando na tonicidade, no tempo e na entonação. Essa técnica pode ou não envolver memorização, e, geralmente, são trabalhados gêneros orais, como discursos, conversas, músicas, poemas e peças.

9. Gravação da produção oral dos estudantes (recordings of learner’s production): gravações de áudio e/ou vídeos de situações ensaiadas ou espontâneas podem ser uma oportunidade de feedback do professor e de autoavaliação.

10. Jogos (games): técnica explicitada por Yoshida (2013), pode ser uma ferramenta bem efetiva. Devido à característica competitiva, pode ser realizada individualmente ou em grupos. Alguns jogos comuns para serem usados em sala de aula são:

• Bingo (bingo): crie uma tabela de bingo com pares mínimos, usando vogais e consoantes, ou pares de palavras que são idênticas, mas possuem acentuação diferente.

• Jogos de Cartas (card games): adapte os diversos jogos de cartas para praticar a pronúncia apenas adaptando as cartas com conteúdo de fonética, sejam imagens, transcrições, acentuação, pares mínimos etc. A autora sugere um site que traz diversos jogos de cartas que podem ser modifi cados: https://www.activityvillage.co.uk/card-games.

• Jogo da Memória (concentration): muito popular, pode-se criar pares com a palavra e o signifi cado, com uma fi gura e a transcrição fonética, com pares mínimos.

• Jogos de tabuleiro (board games): também é possível criar um jogo a partir de um modelo, apenas adaptando para o conteúdo da pronúncia.

Já utilizou algumas dessas técnicas em sala de aula? Quais foram mais efi cientes? Quais você gostaria de experimentar?

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

Quando falamos do ensino da pronúncia, o que vem a nossa mente é a oralidade, a fala. Contudo, ouvir as diferenças dos sons da língua estrangeira é tão importante quanto produzi-los. Yoshida (2013) explica que ouvir sons novos não é sempre tão fácil, uma vez que, ao ouvi-los, nós os classifi camos na nossa língua materna, ou seja, não ouvimos todos os sons da fala que chega aos nossos ouvidos, somente

aqueles com os quais estamos acostumados. Quando nascemos, nosso cérebro está aberto a todos os sons e, conforme o tempo vai passando, compreende quais são os da língua materna. Como não precisamos mais compreender outros sons, nosso cérebro cria uma espécie de fi ltro fonológico, que permite ouvirmos somente os sons da nossa língua. Para uma boa pronúncia de um idioma estrangeiro, é preciso aprender a ouvir novamente. É necessário reconhecer esse fi ltro e removê-lo, para que o cérebro passe a ouvir, aceitar, analisar e reproduzir os novos sons. A autora apresenta algumas dicas de como fazer isso:

• Conscientizar-se desse fi ltro e se livrar dele.• Reconhecer os sons novos, prestando atenção no que se ouve, imitando-

os, até chegar à precisão.• Ouvir os bem os sons da mesma forma que se pratica bem a pronúncia.• Refl etir acerca do som novo: Como eu posso mover a minha boca para

produzir esse som? Onde devo posicionar os meus lábios e a minha língua?

• Ouvir o que você fala e comparar com o que deveria ser (você pode fazer um vídeo e, além de ouvir, pode ver o movimento da sua boca).

O’Connor (1980) trata desse assunto também. Hoje, fi lmes, músicas, discursos e outras fontes orais da língua inglesa são bem acessíveis, e podemos inserir, se já não estão inseridos, no nosso dia a dia, porém, o autor nos lembra de que não devemos ouvir por ouvir, mas prestar atenção naquilo que ouvimos e focar na pronúncia, mesmo que isso implique em deixar o entendimento do sentido de lado. Foque em um som, por exemplo, no /p/, ouça-o, concentre-se em perceber como soa, refl ita a respeito do que faz esse som ser diferente da língua materna, e, então, comece a dizer as palavras que você ouve em voz alta. As plataformas de vídeo disponíveis na internet nos possibilitam pausar, voltar e até diminuir a velocidade do vídeo para aprimorar os estudos.

A pronúncia envolve a nossa mente e o nosso corpo. Precisamos aprender a mover os músculos da boca de uma forma diferente da que estamos acostumados (GODOY; BRINTON; GOODWIN, 2006). Esse processo demanda treino e tempo.

Isso é como aprender a dançar ou a praticar algum esporte, compara Yoshida (2013). Não podemos fazer isso de imediato, começamos aos poucos, praticamos e, gradualmente, aprimoramos as habilidades. O mesmo processo é

Ouvir as diferenças dos sons da língua estrangeira é tão importante quanto

produzi-los.

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PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E DE FONOLOGIA Capítulo 1

com a pronúncia, pois a nossa boca precisa de tempo para construir a memória muscular.

Ensinar pronúncia também é um processo que demanda tempo, pois os estudantes não aprendem tudo de imediato, os professores precisam voltar em algum tópico algumas vezes, fornecer revisões e práticas aos alunos. Yoshida (2013) lista alguns tipos de conhecimento que um professor deve ter para ensinar pronúncia:

1. Conhecer os fatos da pronúncia, como a boca se move para produzir um determinado som, e como a tonicidade, o ritmo, a entonação e o discurso conectado funcionam.

2. Compreender e prever os problemas que os estudantes podem ter durante o ensino da pronúncia e por que ocorrem.

3. Entender como ensinar pronúncia, adaptando os métodos, que sirvam para os estudantes e as necessidades, ajudando-os a praticarem para superar, efetivamente, qualquer problema que possam ter.

4. Saber alguns princípios básicos de ensino da pronúncia, como:

• ir além do “repeat after me”, pois exercícios de repetição são úteis, mas não se deve se limitar a isso;

• encorajar os alunos a usarem os outros sentidos, como a visão, o som e o movimento, pois isso ajuda a compreender e a se lembrar;

• oferecer exercícios práticos, como teorias e explicações técnicas, que podem ser difíceis de entender para alguns estudantes, enquanto demonstrações simples e concretas apresentam melhores resultados;

• incluir práticas comunicativas, sempre que possível, para os estudantes treinarem a pronúncia em situações reais;

• treinar os estudantes para se tornarem independentes e autônomos.

4.3 RECURSOS PARA O ENSINO-APRENDIZAGEM DA PRONÚNCIA EM LÍNGUA INGLESA

Já vimos, no decorrer deste capítulo, que aprender bem a pronúncia de uma determinada língua é um processo que demanda tempo e dedicação.

Com a fi nalidade de auxiliar o aprendiz nesta jornada, apresentaremos alguns recursos que podem ser úteis na sala de aula. São sugestões que podem ser modifi cadas para atender às necessidades dos estudantes e à realidade da aula.

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

Um recurso benéfi co é o Diário de Pronúncia. Nele, o aprendiz faz anotações de expressões e de sons, a fi m de ajudá-lo a estar atento às difi culdades. Além disso, de tempos em tempos, pode-se recorrer a esse diário como uma forma de revisar o que foi aprendido (ideal para aqueles que acham que não aprendem nada, mas, na verdade, estão progredindo).

Veja uma sugestão de modelo para o Diário de Pronúncia:

QUADRO 3 – DIÁRIO DE PRONÚNCIA

Data Expressão Pronúncia O que posso melhorar?

Thank you /'θæŋkyuw/O som “th” é difícil para mim. Às vezes, eu digo “f”. Vou continuar praticando.

recipe /'r�s�pi/A pronúncia é traiçoeira. Eu achava que deveria soar como “recite,” mas com um “p” no lugar do “t,” é diferente. A palavra tem três sílabas.

FONTE: A autora

É importante manter o registro das palavras e dos sons que causam qualquer tipo de problema, como a pronúncia de um som específi co, a tonicidade, ou a confusão com sons da língua materna. Compreender qual é o problema ajuda para a solução e a superação, mas não se deve apenas anotar as expressões, rever as difi culdades e praticar as expressões em voz alta também são chaves para o sucesso. O Diário de Pronúncia pode ser feito no caderno, no computador, no smartphone, onde for conveniente para o aprendiz.

Alguns sites podem ser úteis:

• Sounds of Speech (University of Iowa Phonetics): esse recurso fornece a compreensão e o entendimento de como cada som do inglês americano é formado. Há recursos de animação, vídeos e áudio que descrevem as características essenciais de cada consoante e de cada vogal. Pode ser encontrado on-line ou como aplicativo. Disponível em https://soundsofspeech.uiowa.edu/home.

• English Central: uma plataforma com amplas quantidade e variedade de vídeos, com textos e atividades. Os vídeos apresentam legendas em inglês e/ou em português, e, enquanto você assiste ao vídeo, é possível pausá-lo, reproduzir de forma mais lenta, e clicar nas palavras que você desconhece o signifi cado ou quer aprimorar a pronúncia, surgindo uma nova tela com o signifi cado, a pronúncia e a transcrição fonética. Também na versão on-line ou aplicativo. Disponível em https://www.englishcentral.com/videos.

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PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E DE FONOLOGIA Capítulo 1

• Sounds American: um canal do YouTube com vídeos explicativos para cada som da língua inglesa. É possível compreender como se articula um determinado som, além de praticá-lo com expressões oferecidas no vídeo. Disponível em https://www.youtube.com/c/SoundsAmerican/featured.

• Shaw English: outro canal no YouTube que foca no aprimoramento da pronúncia, vocabulário e conversação, além da explicação de pontos gramaticais. Disponível em https://www.youtube.com/c/ShawenglishOnline/featured.

• English Speeches: canal no YouTube cuja proposta é auxiliar na prática e no aprimoramento das habilidades de audição e de leitura da língua inglesa enquanto assiste a discursos famosos, como os de Martin Luther King, Barack Obama e Lady Gaga. Disponível em: https://www.youtube.com/c/EnglishSpeeches/featured.

Para mais recursos para ensinar pronúncia em língua inglesa, veja o site Teaching Pronunciation, da professora Marla Yoshida, em http://teachingpronunciation.weebly.com/.

Podemos encontrar uma diversidade de materiais para praticar a pronúncia, em livros ou na internet. Contudo, Yoshida (2013) ressalta que dar preferência a materiais autênticos, na língua inglesa, reforça o interesse e a efi cácia da prática da pronúncia. Materiais autênticos são conteúdos criados sem a intenção de ensinar, isto é, são da vida real, como jornais, revistas, programas de rádio e de TV, fi lmes, vídeos do YouTube, propagandas, receitas, poemas e músicas.

1 - Relacione os métodos de aprendizagem de segunda língua com a sentença que a melhor representa:

I- Método Tradicional ou Gramática-Tradução II- Método Direto III- Método Audiolingual IV- Abordagem Comunicativa

( ) As atividades orais são por meio da repetição e da memorização, e a pronúncia é ensinada desde o início.

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

( ) Comunicação oral não é o principal objetivo, não se foca muito na fala e quase não há preocupação com a pronúncia.

( ) Desenvolvimento da competência comunicativa por meio da interação, da comunicação e das necessidades do estudante.

( ) O processo de ensino é baseado somente na língua estrangeira, e cabe, ao estudante, fazer as associações. Os exercícios orais são por meio de repetição, imagens e mímicas.

2 - Julgue as sentenças a seguir em verdadeiras (V) ou falsas (F):

a) ( ) A personalidade do estudante é um parâmetro para avaliar se o aluno se desenvolve bem na pronúncia ou não.

b) ( ) Os métodos e a qualidade do ensino de pronúncia de língua estrangeira são fatores que não estão relacionados diretamente aos estudantes e podem afetar a qualidade da aprendizagem.

c) ( ) Algumas difi culdades que o estudante pode ter, ao aprender pronúncia, é confundir os sons da língua materna com os da língua-alvo, gerando problemas, como fusão e substituição.

d) ( ) Fossilização é quando há adaptação de uma pronúncia de termos emprestados, como petshop, e o estudante não consegue pronunciá-la de maneira correta em inglês.

e) ( ) A idade é um fator a ser considerado quando for estudar uma língua estrangeira, pois, quanto mais velho for o indivíduo, mais difi culdades ele terá em aprender uma língua nova, e, logo, sentir-se-á desestimulado.

f) ( ) Exercícios de pares mínimos são uma técnica efi caz de auxiliar os estudantes a distinguirem sons similares da língua-alvo.

g) ( ) Trava-línguas são uma atividade que pode ser aplicada em todas as idades e em todos os níveis, com a garantia de que será sempre bem-sucedida.

h) ( ) Para garantir que a nossa pronúncia seja inteligível, é necessário que reaprendamos a ouvir, ou seja, que reconheçamos os novos sons, imitando-os.

i) ( ) Dentre os recursos para ensinar pronúncia, os materiais autênticos são altamente recomendáveis por trazerem, com precisão, a língua-alvo em uso, e por estimularem os estudantes.

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PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E DE FONOLOGIA Capítulo 1

ALGUMAS CONSIDERAÇÕESIniciamos este capítulo diferenciando Fonética e Fonologia. Aprendemos que

a Fonética descreve os sons da linguagem de uma perspectiva estrutural, analisa as particularidades articulatórias, estuda o alfabeto fonético e o aparelho fonador e que o seu objeto de estudo é o fone. Já a Fonologia estuda as diferenças fônicas intencionais, os elementos que interagem no sistema linguístico, com uma perspectiva funcional e tendo, como objeto de estudo, o fonema. Outro conceito importante para os estudos de Fonologia é o alofone, que são as diversas formas de pronunciar um mesmo fonema. Apesar dessas diferenças, Fonética e Fonologia não são disciplinas opostas, mas complementares.

O estudo da pronúncia é dividido em duas caraterísticas: segmentais e suprassegmentais. As características segmentais de pronúncia se referem aos fonemas individuais, consoantes e vogais, pois afetam apenas um segmento. As consoantes são produzidas por obstáculos que o ar encontra na cavidade bucal ao ser expirado, e as vogais não encontram essa barreira, sendo modeladas apenas pela posição da língua. As características suprassegmentais da pronúncia se referem ao ritmo, à melodia, à entonação, à ênfase em termos importantes, e à acentuação, que também afeta a inteligibilidade da pronúncia.

Neste capítulo, abordamos as variedades do inglês, e verifi camos que as variações podem ser diversas, desde as geográfi cas até as sociais e as temporais. Dessa forma, é complexo estabelecer qual inglês devemos ensinar. Atualmente, é sabido que soar como um nativo é um objetivo praticamente inalcançável, devido a vários fatores, porém, não devemos sair pronunciando o inglês da maneira que mais convém. Aprimorar a precisão da pronúncia das palavras é essencial para alcançar uma pronúncia inteligível.

Para produzirmos todos os sons, há um mecanismo fi siológico chamado de aparelho fonador, que consiste nos pulmões, laringe, faringe, cavidade bucal e cavidade nasal. Nos casos da língua portuguesa e da língua inglesa, os pulmões liberam o ar em uma corrente egressiva, e, neste momento, produz-se a fala. Após a saída do ar dos pulmões, ele passa pela laringe e encontra as cordas vocais, que podem estar abertas, fazendo com que o ar passe livremente, gerando um som surdo, ou fechadas, bloqueando a passagem de ar, com vibrações (som sonoro). Assim, o ar segue pela laringe e pode sair por dois lugares, pela cavidade nasal, que origina os sons nasais, ou pela cavidade bucal, que gera os sons orais (maioria, em língua inglesa).

Na cavidade bucal, o ar é modifi cado pelos articuladores, gerando a maioria das consoantes.

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

A fi m de facilitar o estudo de Fonética e de Fonologia, criou-se o Alfabeto Fonético, um conjunto de símbolos em que cada um deles representa um som. Alguns símbolos correspondem à letra do alfabeto, mas não devemos confundir os sons com as letras.

Na última seção deste capítulo, identifi camos alguns métodos, as características, que foram desenvolvidos no decorrer dos anos, como o Método Direto, o Audiolingual e a Abordagem Comunicativa. Atualmente, o Pós-Método atende bem às necessidades dos estudantes e à realidade das aulas, uma vez que não há um método preestabelecido e infl exível. Ao contrário, com o Pós-Método, é possível personalizar o ensino, visando à evolução e ao sucesso do estudante.

Ter consciência do método mais adequado não é sufi ciente. Precisamos compreender que fatores podem afetar a aprendizagem da pronúncia. Assim, é possível suprimi-los, além de seguir adiante. Alguns desses fatores são a idade, a motivação, a personalidade, a exposição à língua-alvo, a qualidade de ensino, a interferência da língua nativa e a fossilização.

Finalizamos este capítulo, apresentando algumas técnicas e práticas que podem seu usadas pelo professor, em sala de aula, para ensinar ou aprimorar a pronúncia dos estudantes, além da indicação de sites que podem ser úteis.

REFERÊNCIASC ALLOU, D.; LEITE, Y. Iniciação à Fonética e à Fonologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2009.

CELCE-MURCIA, M.; BRINTON, D. M.; GOODWIN, J. M. Teaching pronunciation: a reference for teacher of English to speakers of other languages. USA: Cambridge University Press, 2006. GODOY, S.; GONTOW, C.; MARCELINO, M. English pronunciation for brazilians: the sounds of american english. São Paulo: Disal, 2006.

INTERNACIONAL Phonetic Alphabet. International Phonetic Alphabet. 2021. Disponível em: https://www.internationalphoneticalphabet.org/. Acesso em: 29 abr. 2021.

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PRINCÍPIOS DE FONÉTICA E DE FONOLOGIA Capítulo 1

JALIL, S. A.; PROCAILO, L. Metodologia de ensino de línguas estrangeiras: perspectivas e refl exões sobre os métodos, abordagens e o pós-método. 2009. Disponível em: https://educere.bruc.com.br/cd2009/pdf/2044_2145.pdf. Acesso em: 29 abr. 2021.

O’CONNOR, J. D. Better english pronunciation. USA: Cambridge University Press, 1980.

ROACH, P. English phonetics and phonology: a practical course. USA: Cambridge University Press, 2009.

SAUSSURE, F. de. Curso de linguística geral. São Paulo: Editora Cultrix, 2008.

SILVA, T. C. Fonética e Fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercícios. São Paulo: Contexto, 2014. YOSHIDA, M. T. Understanding and teaching the pronunciation of english. USA: Yoshida, 2013.

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CAPÍTULO 2

SISTEMA FONOLÓGICO CONSOANTAL

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem:

• Identifi car os sons consonantais da língua inglesa.• Classifi car os modos de articulação dos sons consonantais.• Classifi car os lugares de articulação dos sons consonantais.• Diferenciar a produção dos sons consonantais e da língua inglesa.

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SISTEMA FONOLÓGICO CONSOANTAL Capítulo 2

1 CONTEXTUALIZAÇÃOOs termos consoantes e vogais são conhecidos, mas, quando estudamos os

fonemas, percebemos que não é tão simples defi ni-los com precisão. De um modo geral, vogais são sons nos quais a corrente de ar egressiva sai livremente, sem obstruções. As consoantes são produzidas quando o ar encontra um obstáculo criado pelos articuladores.

Na língua inglesa, de acordo com Roach (2009), existem alguns casos nos quais não é tão fácil decidir se um fonema é uma vogal ou uma consoante. Um dos problemas apontados pelo autor é que, em alguns fonemas, que parecem ser consoantes, como nas iniciais das palavras hay ([heɪ]) e way ([weɪ]), não há tanta obstrução do ar. Além disso, línguas diferentes podem classifi car os fonemas vocálicos e consonantais de modo diferente.

O autor continua explicando que há outra maneira de classifi car os fonemas em vogais ou consoantes: pela distribuição dos sons nas palavras. Estudos mostram que é possível observar dois grupos de fonemas com diferentes características de distribuição, que são as vogais e as consoantes. Por exemplo, se considerarmos o fonema /h/, que inicia uma palavra, qual fonema pode aparecer em seguida? A maioria das opções é vogal, como em hen, house e hill, com exceção de huge [hjuːdʒ]. Quando pensamos em palavras em inglês que começam com dois fonemas, como [bɪ], encontramos diversos casos em que o fonema precedente é uma consoante, como em bid e em bill (ROACH, 2009).

Iniciaremos os nossos estudos acerca do sistema fonológico, analisando as consoantes neste capítulo e, as vogais, no Capítulo 3. Compreenderemos como as consoantes são classifi cadas, analisando as características articulatórias.

O foco deste capítulo é o estudo do sistema fonológico consonantal, contudo, questões fonéticas podem aparecer no decorrer, pois são essenciais para detalhar a articulação de um determinado som. Vale lembrar que Fonética e Fonologia são disciplinas que se complementam.

2 CLASSIFICAÇÃO: VOZEAMENTO, MODOS E LUGARES DE ARTICULAÇÃO

Agora, estudaremos o sistema consonantal da língua inglesa, analisando as distinções mínimas dos fonemas e das variações.

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Como vimos no capítulo anterior, a língua inglesa é constituída por 24 sons consonantais. Para estudar essa variedade de sons, estudiosos descrevem as consoantes baseadas em três categorias: vozeamento, lugar de articulação e modo de articulação.

2.1 VOZEAMENTO DAS CONSOANTES DA LÍNGUA INGLESA

Já detalhamos o processo de vozeamento no Capítulo 1, quando tratamos das cordas vocais, mas é importante se lembrar, aqui, de que o vozeamento é a produção de dois tipos de som: o surdo (ou desvozeado), que surge quando as cordas vocais se encontram abertas, e a corrente de ar passa livremente, sem produzir vibração; e o sonoro (ou vozeado), originado a partir das cordas vocais fechadas, e a corrente de ar gera vibração durante a passagem.

As consoantes podem ser classifi cadas em surdas ou sonoras. Muitas consoantes da língua inglesa formam pares – um som surdo e outro sonoro, isto é, o som é o mesmo, salvo pelo vozeamento, explica Yoshida (2013). Por exemplo, [b] e [p] são idênticos, exceto que [b] é

sonoro e [p] é surdo. Outras consoantes sonoras, como [m], [n] e [l], não têm a contraparte surda.

Veja o exposto a seguir, que mostrará os sons consonantais surdos e sonoros da língua inglesa:

As consoantes podem ser

classifi cadas em surdas ou sonoras.

QUADRO 1 – VOZEAMENTO DAS CONSOANTES DA LÍNGUA INGLESA

Consoantes Sonoras Consoantes Surdas[b] big [p] pen[d] dog [t] top[g] give [k] cat[v] vote [f] food[ð] this [θ] thick[z] zoo [s] sun[ʒ] beige [ ʃ ] ship

[h] house[d�] juice [ tʃ ] chip[m] man[n] now[ŋ] sing

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SISTEMA FONOLÓGICO CONSOANTAL Capítulo 2

[l] love[r] run[w] wet[j] yes

FONTE: Adaptado de Yoshida (2013)

2.2 LUGARES DE ARTICULAÇÃOPodemos classifi car as consoantes, de acordo com o lugar em que são

articuladas, ou seja, que parte do sistema articulatório é ativada na produção de cada som. Alguns termos usados para defi nir o lugar de articulação se referem aos articuladores do aparelho fonador (estudamos cada articulador e o aparelho fonador no Capítulo 1). Yoshida (2013) e Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006) descrevem os lugares de articulação das consoantes da língua inglesa:

• Bilabial: os lábios se tocam ou quase se tocam, como [p], em pie, [b], em buy, [m], em my, e [w], em wool.

• Labiodental: os dentes superiores tocam suavemente os lábios inferiores, como [f], em fee e [v], em veal.

• Dental: a ponta da língua encosta na borda inferior do topo dos dentes ou entre os dentes, como [θ], em thick e [ð], em then.

• Alveolar: a ponta da língua toca ou quase toca a crista alveolar, como [t], em to, [d], em do, [s], em so, [z], em zoo, [n], em new e [l], em light.

• Palatal (também chamado de alveopalatal): o corpo da língua encosta ou quase encosta no palato duro, como [ʒ], em beige, [ ʃ ], em show, [dʒ], em Jim, [ tʃ ], em chow, [r], em rake, e [j], em you.

• Velar: a parte posterior da língua encosta ou quase encosta no palato duro, como [k], em kite, [g], em go, e [ŋ], em bang.

• Glottal: há uma fricção na glote, como [h], em home.

Atente-se aos lugares de articulação das consoantes da língua inglesa:

QUADRO 2 – LUGARES DE ARTICULAÇÃO DAS CONSOANTES DA LÍNGUA INGLESA

Bilabial [p], [b], [m], [w]Labiodental [f], [v]

Dental [θ], [ð]Alveolar [t], [d], [s], [z], [n], [l]Palatal [ʒ], [ ʃ ], [dʒ], [ tʃ ], [r], [j]Velar [k], [g], [ŋ]

Glottal [h]FONTE: A autora

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

2.3 MODOS DE ARTICULAÇÃOComo percebemos, há mais de um som que pode ser pronunciado no mesmo

local de articulação, como o [p] e o [m], que são bilabiais. Para distinguir esses sons, é possível descrever a maneira como são articulados.

Os modos de articulação nos mostram como produzimos um determinado som consonantal, se o ar sai de forma suave ou bruscamente, se se parece com uma pequena explosão, fricção ou murmúrio. Yoshida (2013) e Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006) descrevem os modos de articulação das consoantes da língua inglesa:

• Stops ou plosives (oclusivas): a corrente de ar egressiva é completamente bloqueada em algum lugar da cavidade bucal. A pressão do ar aumenta e, então, é liberada, como uma pequena explosão. As oclusivas da língua inglesa são: [p], [b], [t], [d], [k] e [g].

• Fricatives (fricativas): a corrente de ar egressiva é comprimida e passa por uma pequena abertura na cavidade bucal, gerando a fricção. A corrente de ar não é totalmente bloqueada, então, o som pode ser contínuo. As fricativas da língua inglesa são: [f], [v], [θ], [ð], [s], [z], [ ʃ ], [ʒ] e [h].

• Affricatives (africadas): uma combinação de oclusiva seguida de fricativa, ou seja, uma explosão com liberação lenta da corrente de ar egressiva. As africadas da língua inglesa são [ tʃ ] e [dʒ]. Cada um desses símbolos é constituído de duas partes: um símbolo oclusivo e um símbolo fricativo, o que nos lembra que esse som tem duas partes.

• Nasals (nasais): a língua ou os lábios bloqueiam a cavidade bucal, de modo que o ar não consegue sair pela boca. Como alternativa, a passagem que conduz a corrente de ar egressiva para o nariz é aberta para que o ar possa sair pelo nariz. Os sons nasais da língua inglesa são: [m], [n] e [ŋ].

• Liquids (laterais): esses são sons que são produzidos suavemente, como água fl uindo no rio. A corrente de ar egressiva se move em torno da língua, sem obstáculos. Os sons laterais da língua inglesa são [l] e [r].

• Glides: também conhecidas como semivogais, os glides parecem com uma vogal rápida (por isso, são considerados semivogais). São sons que soam como vogais, mas funcionam como consoantes. Os glides, na língua inglesa, são: [w] e [j].

Para auxiliar nos seus estudos, veja o quadro a seguir, com um resumo dos modos de articulação das consoantes da língua inglesa:

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SISTEMA FONOLÓGICO CONSOANTAL Capítulo 2

QUADRO 3 – MODOS DE ARTICULAÇÃO DAS CONSOANTES DA LÍNGUA INGLESA

Stop [p], [b], [t], [d], [k], [g]Fricative [f], [v], [θ], [ð], [s], [z], [ ʃ ], [ʒ], [h]Affi cative [ tʃ ], [dʒ]

Nasal [m], [n], [ŋ]Liquid [l], [r]Glide [w], [j]

FONTE: A autora

O mapa mental a seguir ilustrará os conceitos até aqui estudados:

FIGURA 1 – MAPA MENTAL - CLASSIFICAÇÃO DAS CONSOANTES DA LÍNGUA INGLESA

FONTE: A autora

1 - Marque verdadeiras ou falsas para as afi rmações a seguir:

a) ( ) As consoantes podem ser classifi cadas quanto ao vozeamento, sendo surdas (desvozeadas) ou sonoras (vozeadas).

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

b) ( ) Todas as consoantes da língua inglesa formam par surdo-sonoro, como /p/ e /b/ e /v/ e /f/.

c) ( ) A maioria dos fonemas da língua inglesa é surda, ou seja, são produzidos sem a vibração das cordas vocais.

2 - Analisando os lugares de articulação, complete as sentenças a seguir:

a) As consoantes bilabiais são produzidas com os dois ____.b) As consoantes labiodentais são produzidas com os ____

superiores e o ____ inferior.c) As consoantes alveolares são produzidas com a ____ tocando o

alvéolo.d) As consoantes velares são produzidas com a língua próxima ou

encostada no ____ mole.e) As consoantes glotais são produzidas pelo ar, passando ou sendo

bloqueado nas ____ vocais.

3 AS CONSOANTES DA LÍNGUA INGLESA

Nas seções anteriores deste capítulo, aprendemos como classifi car as consoantes da língua inglesa de modo separado, isto é, verifi camos quais consoantes são surdas e quais são sonoras, quais os lugares de articulação e como são articuladas. Acontece que, para produzirmos um som, é necessário que esses três recortes ocorram simultaneamente. Observe:

QUADRO 4 – SISTEMA CONSONANTAL DA LÍNGUA INGLESA

MODO DE ARTICULAÇÃO LUGAR DE ARTICULAÇÃOBilabial Labiodental Dental Alveolar Palatal Velar Glotal

OclusivaSurdaSonora

[p][b]

[t][d]

[k][g]

FricativaSurdaSonora

[f][v]

[θ][ð]

[s][z]

[ ʃ ][ʒ]

[h]

AfricadaSurdaSonora

[ tʃ ][dʒ]

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SISTEMA FONOLÓGICO CONSOANTAL Capítulo 2

NasalSonora

[m] [n] [ŋ]

LateralSonora

[l] [r]

GlideSonora

[w] [j]

FONTE: Adaptado de Yoshida (2013)

Essas informações também se encontram no quadro do Alfabético Fonético Internacional, disponível no Capítulo1, mas, no exposto anterior, você pode focar somente nos sons da língua inglesa.

Agora que você já estudou como as consoantes podem ser classifi cadas, descreveremos cada um desses sons com detalhes, de modo que a sua articulação seja explicitada, possibilitando uma pronúncia mais precisa.

Para facilitar os estudos, a apresentação desses sons consonantais será feita por grupos orientados pelo modo de articulação. Dessa forma, analisaremos todas as consoantes oclusivas, depois as fricativas, e assim por diante. Quando as consoantes são pares, como [p] e [b], ou [s] e [z], estas são explicadas simultaneamente, facilitando a percepção das diferenças entre elas. Daqui em diante, consideraremos o fonema como unidade de estudo.

3.1 OCLUSIVASComo já estudamos, as oclusivas são as consoantes formadas pelo bloqueio

da corrente de ar, sendo liberada em seguida, como uma explosão. Abarcaremos as consoantes /p/, /b/, /t/, /d/, /k/ e /g/.

Um ponto importante a ser abordado aqui é a questão da aspiração. A aspiração é um sopro extra de ar que é liberado na produção das consoantes oclusivas surdas - /p/, /t/ e /k/. O fonema é aspirado somente em posição inicial ou nas tônicas das palavras. Roach (2009), Silva (2020), Carr (2019) e Godoy, Gontow e Marcelino (2006) explicam que a aspiração é a principal diferença entre as duplas surdas e sonoras. Se o /p/, em pill, não for aspirado, um nativo pode entender bill (se o nativo não percebe o sopro extra, ele assume que o fonema é sonoro).

A aspiração é um sopro extra de

ar que é liberado na produção

das consoantes oclusivas surdas -

/p/, /t/ e /k/.

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

Quer saber se você está produzindo os fonemas oclusivos surdos de forma aspirada? Pegue uma folha de papel e deixe a parte de cima tocar o seu nariz enquanto você segura a metade inferior com as mãos, alinhando com a boca. Diga a palavra pai (em português mesmo) algumas vezes. O papel não deve se mover. Então, diga a palavra pie /paɪ/, aspirando o /p/. Se a aspiração for bem-sucedida, a folha de papel deve se mover visivelmente (GODOY; GONTOW; MARCELINO, 2006).

Silva (2020) explica que a aspiração é marcada pelo diacrítico ʰ, colocado acima e à direita da consoante: /pʰ/, /tʰ/ e /kʰ/. A aspiração, continua a autora, “não é marcada em dicionários e livros, pois a ocorrência varia de pessoa para pessoa, embora existam contextos mais propícios [...]” (SILVA, 2020, p. 92). Dessa forma, não indicaremos a aspiração nas oclusivas surdas das transcrições deste livro.

Assista ao seguinte vídeo da Carina Fragozo, a respeito da aspiração. Observe como os fonemas /p/, /t/ e /k/ são pronunciados e as diferenças com a língua portuguesa: https://youtu.be/AbpDeqv9_PM.

Uma questão importante, também, principalmente, para nós, aprendizes brasileiros, é não adicionar uma vogal no fi m de palavras que terminam com fonemas oclusivos, conforme lembram Godoy, Gontow e Marcelino (2006) e Silva (2020). Ao pronunciar, em inglês, uma vogal /i/ após o término do que foi feito, marcamos a nossa pronúncia de falantes brasileiros de inglês, segundo Silva (2020). A autora explica que, “no fi m de palavras, as consoantes oclusivas, em inglês, podem ser pronunciadas com travamento. O travamento diz respeito aos casos em que a consoante é articulada no fi m, mas não ocorre a soltura da oclusão-característica das consoantes oclusivas” (SILVA, 2020, p. 96).

O acréscimo da vogal /i/ pode ocorrer no meio da palavra também, em situações nas quais as consoantes oclusivas surgem no fi m de sílabas e são

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SISTEMA FONOLÓGICO CONSOANTAL Capítulo 2

seguidas de outra consoante, ou nas formas do passado e do particípio do inglês. Por exemplo, em actor / æk.tɝ/, é inserida a vogal /i/ entre /k/ e /t/, ou no caso do verbo kissed, sendo que os brasileiros tendem a pronunciar / ̍kisidʒi/ ou /ˈkisid/, enquanto a pronúncia em inglês é /kɪst/.

Há casos em que as oclusivas são mudas. Veja algumas palavras a seguir, listadas por Godoy, Gontow e Marcelino (2006):

QUADRO 5 – OCLUSIVAS MUDAS

Fonema Palavra Transcrição Fonema Palavra Transcrição

/p/

pneumonia /nʊˈmoʊn·jə/

/b/

dumb /dʌm/psychology /sɑɪˈkɑ·lə·dʒi/ thumb /θʌm/

psychiatrist /sɑɪˈkɑɪ·ə·-trɪst/

plumber /ˈplʌm.ɚ/

cupboard /ˈkʌb·ərd/ climb /klaɪm/receipt /rɪˈsit/ climber /ˈklaɪ.mɚ/

raspberry /ˈræzˌber·i/ bomb /bɑːm/

/t/

listen /ˈlɪs·ən/ lamb /læm/fasten /ˈfæs·ən/ tomb /tuːm/

Christmas /ˈkrɪs·məs/ debt /det/mortgage /ˈmɔr·ɡɪdʒ/

/d/Wednesday /ˈwenz·deɪ/

castle /ˈkæs·əl/ handkerchief /ˈhæŋ·kər·tʃɪf/whistle /ˈhwɪs·əl/ handsome /ˈhæn·səm/

/k/

knight /nɑɪt/

/g/

sign /saɪn/knife /nɑɪf/ resign /rɪˈzaɪn/knee /ni/ assign /əˈsaɪn/know /noʊ/ design /dɪˈzaɪn/knock /nɑk/ reign /reɪn/knack /næk/ campaign /kæmˈpeɪn/knit /nɪt/ gnome /noʊm/

knob /nɑb/ gnat /næt/FONTE: Adaptado de Godoy, Gontow e Marcelino (2006)

3.1.1 /P/ E /B/Comecemos pelo par /p/ e /b/:

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

As consoantes /p/ e /b/ são oclusivas bilabiais, sendo /p/ surdo e /b/ sonoro. O’Connor (1980) descreve como esses fonemas são produzidos: os lábios estão fi rmemente fechados e o palato mole é erguido para que a corrente de ar egressiva não saia pelo nariz e pela boca, assim, o ar fi ca preso durante um curto período. Quando os lábios se abrem, de forma súbita, a corrente de ar sai como uma pequena explosão.

Quer praticar esses fonemas? Veja os vídeos do canal Sound American.

Som de consoante /p/, como em “pie” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/V_n_rUKQSew.

Som de consoante /b/, como em “boy” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/LbCOXRz7Uf8.

Os correlatos ortográfi cos dos fonemas /p/ e /b/, segundo Silva (2020), serão indicados a seguir:

QUADRO 6 – CORRELATOS ORTOGRÁFICOS DE /P/ E DE /B/

Correlatos ortográfi cos de /p/p piece /pis/

pp appeal /əˈpil/Correlatos ortográfi cos de /b/

b boy /bɔɪ/bb abbey /ˈæb·i/

FONTE: Adaptado de Silva (2020)

Uma forma de ensinar e de aprimorar a pronúncia é praticando trava-línguas. Uma bem conhecida é a do Peter Piper. Será que você consegue cantar?

Peter Piper picked a peck of pickled peppers.A peck of pickled peppers Peter Piper picked.If Peter Piper picked a peck of pickled peppers,Where’s the peck of pickled peppers Peter Piper picked?

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SISTEMA FONOLÓGICO CONSOANTAL Capítulo 2

Comece tentando devagar e, depois, vá aumentando a velocidade. Caso queira praticar, veja o vídeo a seguir: https://youtu.be/iBKsh-duJDg.

3.1.2 /T/ E /D/Estudaremos, agora, o par /t/ e /d/:

As consoantes /t/ e /d/ são oclusivas alveolares, sendo que /t/ é surdo e /d/ é sonoro. Veja como esses fonemas são pronunciados, de acordo com O’Connor (1980): a ponta da língua fi ca fi rmemente contra a crista alveolar, não tão perto dos dentes, nem tão perto do palato duro. O palato mole é erguido para que a corrente de ar egressiva não escape pelo nariz e pela boca, assim, o ar fi ca preso por um curto período. Quando a ponta da língua é repentinamente abaixada, o ar sai como uma pequena explosão.

Quer praticar esses fonemas? Veja os vídeos do canal Sound American:

Som de consoante /t/, como em “toy” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/mLlotV_0dRI.

Som de consoante /d/, como em “dog” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/N73xPe0x79g.

As consoantes /t/ e /d/ possuem alofone na língua inglesa, o tepe, representado pelo símbolo /ɾ/. Esse traço sonoro, denominado de tapping, ou fl apping, distingue o inglês americano do inglês britânico (CARR, 2019).

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

De acordo com Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006), alguns linguistas diferenciam os processos tapping e fl apping, alegando que um tepe (tap) consiste na ponta da língua tocando, brevemente, no alvéolo, como em data /ˈdeɪ.ɾə/ e city /ˈsɪɾ.i/, e o fl ap consiste na ponta da língua roçando no alvéolo, como em party /ˈpɑːr.ɾi / e dirty /ˈdɝː.ɾi/. Alguns dicionários, como o da Cambridge, usam o símbolo /t̬/ para esse alofone. Neste livro, utilizaremos o termo tepe e o símbolo /ɾ/ para nos referirmos a ambos os processos.

Godoy, Gontow e Marcelino (2006) explicam que essa variação ocorre no inglês americano quando /t/ e /d/ se encontram em posição átona. Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006) acrescentam que, na realidade, falantes nativos do inglês americano não distinguem a articulação das palavras catty e caddy ou latter e ladder. Godoy, Gontow e Marcelino (2006) listam algumas situações que favorecem a pronúncia do /ɾ/:

• entre vogais: better /ˈbeɾ.ɚ/, meadow /ˈmeɾ.oʊ/;• entre vogais no discurso conectado: get up /ˈɡeɾ.ʌp/, hide out /haɪɾ.aʊt/;• entre /r/ e uma vogal: party /ˈpɑːr.ɾi /, birdie /ˈbɝː.ɾi/;• entre /r/ e uma vogal no discurso conectado: part of /ˌpɑːrɾəv/ the

problem, art and /ɑːrɾən/ history;• entre uma vogal e o /l/ silábico: little /ˈlɪɾ.əl/, beetle /ˈbiː.ɾəl/.

Estudamos que as sílabas, em inglês, são constituídas por vogais. Entretanto, segundo Yoshida (2013), isso não é totalmente verdadeiro. Em alguns casos, podemos ter uma sílaba sem vogal, caso a consoante se estique mais para substituir a vogal. Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006) também tratam dessa questão. As autoras explicam que a consoante nasal /n/ e a lateral /l/ têm a capacidade de se tornarem silábicas e que o sistema ortográfi co da língua inglesa, geralmente, indica a presença de uma vogal onde, na verdade, há uma consoante silábica, entretanto, isso é uma convenção, apenas. As consoantes silábicas são transcritas com uma pequena linha vertical na parte de baixo: [n̩] e [l̩]. Exemplos: button /ˈbʌʔ.n/; didn’t /dɪdn̩t/; kettle /kɛɾl̩/; tunnel /tʌnl̩/.

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SISTEMA FONOLÓGICO CONSOANTAL Capítulo 2

Complementando essa lista, Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006) e Silva (2020) explicam que o processo de tapping também pode ocorrer depois da consoante nasal /n/ em limite de sílaba, e que, nesse caso, o tepe pode ser nasalizado, por exemplo, os termos Atlantic /ətˈlæn.ɾɪk/ e winter /ˈwɪn.ɾɚ/. Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006) acrescentam que, para muitos falantes nativos do inglês americano, pares de palavras, como winner/winter e banner/banter, podem ter a mesma pronúncia, principalmente, nas falas informal e casual. Esse fenômeno, continuam os autores, chama-se de desaparecimento do “t”, e é particularmente comum em termos com /nt/ no meio de frases e de expressões: twen(t)y-one; win(t)er break; the em(t)ertainment business. As autoras argumentam que, considerando essa explicação, a palavra potato pode ser pronunciada /pəˈteɪ.təʊ/ ou /pəˈteɪ.ɾəʊ/, mas nunca /pəˈɾeɪ.ɾəʊ/, uma vez que o primeiro /t/ é tônico.

O tepe é um som que ocorre em português quando um único som de “r- ortográfi co” se encontra entre vogais: gari, caro ou arara [...]. Do ponto de vista articulatório, o tepe é produzido com uma única batida da ponta da língua atrás dos dentes superiores. O símbolo sugerido pelo Alfabeto Fonético Internacional de fonética, para representar o tepe, é ɾ. Esse símbolo é utilizado no português, em palavras, como gari /gaˈɾi/ (SILVA, 2020, p. 103, grifos da autora).

Quer praticar esse alofone? Veja o vídeo do canal Sound American.

Flap ‘T’ som de consoante / t̬ /, como em “water” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/9b-UIkuwOdU.

Outra variação do fonema /t/, de acordo com Silva (2020), mais comum em alguns dialetos britânicos, como o londrino, mas que também ocorre no inglês americano, é o /ʔ/. Esse som é denominado de uma oclusiva glotal, e, para produzi-lo, “as cordas vocais se juntam rapidamente, causando a oclusão total da passagem da corrente de ar. A abertura súbita das cordas vocais produz o som denominado de oclusiva glotal” (SILVA, 2020, p. 105).

Esse processo é chamado do glottaling, e, no inglês britânico, ocorre entre vogais, como em city /sɪʔi/; no fi m da palavra, como em gate /geɪʔ/; e no fi m da sílaba, seguida de /l/, como em bottle /ˈbɔʔ.l/. No inglês britânico e no americano, /t/ e /ʔ/ podem se alternar em formas, como cotton: /ˈkɑ·tən/ ou /ˈkɑʔ·n/; kitten: /ˈkɪt·ən/ ou /ˈkɪtʔ·n/; e button: /ˈbʌt.ən/ ou /ˈbʌʔ.n/. Observe que, nesses casos, a vogal /ə/ é cancelada e a consoante nasal se torna silábica.

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

Quer praticar esse alofone? Veja o vídeo do canal Sound American.

Som de consoante Glotal ‘T’ / ʔ /, como em “button” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/Vabg-EUHOQk.

Os correlatos ortográfi cos dos fonemas /t/ e /d/, segundo Silva (2020), serão indicados no quadro a seguir:

QUADRO 7 – CORRELATOS ORTOGRÁFICOS DE /T/ E DE /D/

Correlatos ortográfi cos de /t/t top /tɑp/tt letter /ˈlet·ər/ed looked /lʊkt/

Correlatos ortográfi cos de /d/d door /dɔr/

dd ladder /ˈlæd·ər/ed begged /bɛgd/

FONTE: Adaptado de Silva (2020)

Regras fonéticas para fi nal -ed na formação do passado de verbos regulares da língua inglesa.

Sabemos que, para formar o passado dos verbos regulares, é preciso acrescentar -ed, porém, esse fi nal pode ser pronunciado de três maneiras, dependendo de como se dá a terminação sonora do verbo. Observe:

• Verbos que terminam com os fonemas /d/ e /t/, acrescenta-se / ɪd/, como em need /niːd/ – needed /niːd.ɪd/; hate /heɪt/ – hated /heɪt.ɪd/.

• Verbos que terminam com o som surdo, acrescenta-se /t/, como em like /laɪk/ – liked /laɪkt/; kiss /kɪs/ – kissed /kɪst/.

• Verbos que terminam com o som sonoro, acrescenta-se /d/, como em call /kɑːl/ – called /kɑːld/; name /neɪm/ – named /neɪmd/.

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SISTEMA FONOLÓGICO CONSOANTAL Capítulo 2

Veja o professor de inglês Gavin Roy, do canal Small Advantages, explicando a pronúncia do fi nal -ed dos verbos regulares do inglês. De uma forma bem diferente, Gavin nos incentiva a “sentir” a pronúncia sem fi carmos presos às regras na hora de falar: https://youtu.be/C4GtEIBCXq4.

1 - Que palavra tem a mesma terminação sonora de talked?

a) Arrived.b) Lived.c) Dragged.d) Helped.e) Robbed.

2 - Em qual das alternativas a seguir, todos os verbos terminam com o fonema /d/?

a) Landed – ended – aided.b) Waxed – cuffed – pushed.c) Sentenced – market – itched.d) Founded – developed – craved.e) Subbed – revealed – studied.

3.1.3 /K/ E /G/Para fi nalizar as oclusivas, abordaremos o par /k/ e /g/.

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

As consoantes /k/ e /g são oclusivas velares, sendo que /k/ é surdo e /g/ é sonoro. Para produzir esses fonemas, de acordo com O’Connor (1980), a parte de trás da língua deve estar fi rmemente em contato com o palato mole, e, este, erguido, de modo que a corrente de ar egressiva fi que bloqueada por um curto período. Quando a língua é subitamente abaixada, a corrente de ar sai pela boca, como uma pequena explosão.

Quer praticar esses fonemas? Veja os vídeos do canal Sound American.

Som de consoante / k /, como em “key” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/zxrveu6yu6E.

Som de consoante / ɡ /, como em “gift” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/vP5XKYvxe0Q.

Os correlatos ortográfi cos dos fonemas /k/ e /g/, segundo Silva (2020), serão indicados no quadro a seguir:

QUADRO 8 – CORRELATOS ORTOGRÁFICOS DE /K/ E DE /G/

Correlatos ortográfi cos de /k/k key /ki/ ch orchestra /ˈɔr·kə·strə/

ck pack /pæk/ cu biscuit /ˈbɪs·kɪt/c cup /kʌp/ cq acquaire /əˈkwɑɪər/

cc occurs /əˈkɜr/ q aquarium /əˈkweər·i·əm/Correlatos ortográfi cos de /g/

g grease /ɡris/ gh ghost /ɡoʊst/gg begged /bɛgd/ gu guard /ɡɑrd/

FONTE: Adaptado de Silva (2020)

1 - Marque verdadeiras ou falsas para as afi rmações a seguir:

a) ( ) Em português, a palavra pai, e, em inglês, a palavra pie, têm a mesma pronúncia.

b) ( ) A única diferença entre /t/ e /d/ é que /t/ é uma consoante surda, e /d/ é sonora.

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SISTEMA FONOLÓGICO CONSOANTAL Capítulo 2

c) ( ) Os fonemas /p/, /t/ e /k/ têm algo em comum, além de serem oclusivas surdas.

2 - Explique o que é aspiração, quando ocorre e se há isso no português.

3.2 FRICATIVASFricativas são consoantes com a característica de que a corrente de ar

egressiva escapa por uma pequena passagem e produz um som sibilante. Nesse grupo, estão as consoantes /f/, /v/, /θ/, /ð/, /s/, /z/, /ʃ/, /ʒ/ e /h/. Segundo Roach (2009), as fricativas são consoantes contínuas, ou seja, podemos continuar executando esse som sem interrupção enquanto tivermos ar sufi ciente nos pulmões, diferentemente das oclusivas, que não são contínuas.

Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006) explicam que as fricativas podem ser divididas em dois grupos: em sibilantes (aquelas consoantes com som mais agudo, de frequência alta) e em não sibilantes (consoantes produzidas com menos fricção e menos energia). As fricativas sibilantes são: /s/, /z/, /ʃ/ e /ʒ/, e as fricativas não sibilantes são /f/, /v/, /θ/, /ð/ e /h/.

Assim como fi zemos com as oclusivas, estudaremos esses sons por pares, exceto o fonema /h/.

3.2.1 /S/ E /Z/

As consoantes /s/ e /z/ são fricativas alveolares, sendo que /s/ é surdo e /z/ é sonoro. Para produzir esse fonema, O’Connor (1980) explica que o palato mole é erguido para que a corrente de ar egressiva saia pela cavidade bucal. A parte posterior da língua fi ca próxima do alvéolo, mas sem encostar. A posição mais precisa da língua não é muito próxima dos dentes nem muito próxima do palato duro. Os dentes superiores e inferiores estão próximos uns dos outros, mas sem encostar também. O ar é liberado, passando pelo centro da língua.

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

Quer praticar esses fonemas? Veja os vídeos do canal Sound American.

Som de consoante / s /, como em “sun” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/6hWPXaPXrnQ.

Som de consoante / z /, como em “zoo” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/ky7Jh9Bbjts.

O estudante brasileiro tende a inserir uma vogal após a consoante fi nal de algumas fricativas, mais especifi camente, nos fonemas /f/, /v/, /s/ e /z/, assim como fazem nas oclusivas. Silva (2020) explica que, quando a palavra termina em “s” ou em “ss”, não há problemas para os aprendizes brasileiros pronunciarem, uma vez que há termos, na língua portuguesa, com a mesma terminação sonora. A questão se torna problemática quando /s/ tem correlato ortográfi co “se” ou “ce”, como em house /haʊs/ e piece /piːs/, sendo que o estudante brasileiro acaba pronunciando /haʊsɪ/ e /piːsɪ/, respectivamente. Esse é um caso típico de interferência da ortografi a na aprendizagem do inglês.

Godoy, Gontow e Marcelino (2006) e Silva (2020) também chamam a atenção para outro ponto. No português, o fi nal “s” é pronunciado como /z/, quando seguido por um som sonoro. Observe “mas(/z/) eu”, “mas(/s/) você”. O mesmo acontece em termos nos quais o “s” se encontra entre vogais, como em casa /kaza/. Por essa razão, os estudantes brasileiros tendem a pronunciar, de forma inadequada, palavras comuns, como basic /ˈbeɪ.sɪk/ e fantasy /ˈfæn.tə.si/. No inglês, a letra “s” pode ser pronunciada como /s/ ou /z/, e isso não muda, de acordo com o contexto, ou seja, uma palavra em inglês que termina com /s/ é pronunciada sempre dessa forma, independentemente do termo que vem a seguir.

O /s/ inicial, seguido de uma consoante, também pode ser um problema para os aprendizes brasileiros. Godoy et al. (2006) e Silva (2020) explicam que não há essa combinação no português, então, estamos propensos a inserir uma vogal antes do /s/, adicionando uma sílaba extra na palavra inglesa, como em street /striːt/; sky /skaɪ/ e star /stɑːr/, que acabamos pronunciando /ɪstriːt/; /ɪskaɪ/ e /ɪstɑːr/, respectivamente. Silva (2020, p. 63, grifos da autora) sugere

que o falante brasileiro de inglês pense em pronunciar o som de S como se ele estivesse em início de uma sílaba – por exemplo, nas sílabas se /sɪ/ ou só /sɔ/. Contudo, deve-se pensar em pronunciar somente o S da sílaba: SSSS, ou seja, pense em pronunciar o S no início de uma sílaba e, então, pronuncie sky /skaɪ/.

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SISTEMA FONOLÓGICO CONSOANTAL Capítulo 2

Assista ao vídeo a seguir, o qual abordará as difi culdades de estudantes falantes de português e de espanhol ao pronunciarem o /s/ inicial, seguido de consoante. Observe as dicas de como aprimorar essa pronúncia e algumas palavras para praticar: https://youtu.be/J2NDsQgbL-Y.

Outra questão em relação ao par /s/ e /z/ está na formação do plural regular e nos verbos no presente da 3ª pessoa do singular. Silva (2020) explica que, nesses casos, a regra é bem defi nida: quando a palavra termina com um som sonoro, o plural ou a forma da 3ª pessoa do singular presente (3psp) tem, sempre, som de /z/, que é uma consoante sonora. Quando a palavra termina com um som surdo, surge o som de /s/, uma consoante surda. De modo geral, podemos afi rmar que “a formação regular de plural e 3psp é sujeita à assimilação de vozeamento: sons vozeados [sonoros] são seguidos da consoante vozeada /z/, e sons desvozeados [surdos] são seguidos da consoante desvozeada /s/” (SILVA, 2020, p. 64). Por fi m, quando o termo termina com /s/ ou /z/, a forma, no plural e na 3psp, é sempre /ɪz/.

Quer praticar esses fonemas? Veja o vídeo do canal Sound American.

Como pronunciar palavras com fi nais ‘-s’ – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/hde9Sg75Nn4.

Aproveite e aprenda mais a respeito das regras de pronúncia dos fonemas /s/ e /z/. Assista ao vídeo Is it S or Z? American English Pronunciation Rules: https://youtu.be/GUpQOmkSRUo.

Os correlatos ortográfi cos dos fonemas /s/ e /z/, segundo Silva (2020), serão indicados a seguir:

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

QUADRO 9 – CORRELATOS ORTOGRÁFICOS DE /S/ E DE /Z/

Correlatos ortográfi cos de /s/s silly /ˈsɪl·i/

ss piss /pɪs/sc science /ˈsɑɪ·əns/c price /prɑɪs/

Correlatos ortográfi cos de /z/z zip /zɪp/zz fi zz /fɪz/s his /hɪz/ss scissors /ˈsɪz.ɚz/x xerox /ˈzɪr.ɑːks/

FONTE: Adaptado de Silva (2020)

3.2.2 /ʃ/ E /ʒ/

As consoantes /ʃ/ e /ʒ/ são fricativas palatais, sendo que /ʃ/ é surdo e /ʒ/ é sonoro. A produção desses fonemas ocorre quando o palato mole está erguido, de modo que a corrente de ar egressiva saia pela boca. Há um estreitamento entre a ponta da língua e a parte de trás do alvéolo. A parte frontal da língua está em posição mais alta do que a posição para pronunciar /s/ e /z/. Os lábios estão levemente arredondados (O’CONNOR, 1980).

O fonema /ʒ/ não é muito comum na língua inglesa, e ocorre, na maioria das vezes, no meio da palavra, e, geralmente, o correlato ortográfi co é a letra “s”. Godoy, Gontow e Marcelino (2006) e Yoshida (2013) explicam que apenas poucas palavras de origem estrangeira começam com a consoante /ʒ/, como genre, de origem francesa. O mesmo ocorre em palavras que terminam com essa consoante, como mirage, garage, beige etc.

Quer praticar esses fonemas? Veja os vídeos do canal Sound American.

Som de consoante / ʃ /, como em “show” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/wINb4HFguck.

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SISTEMA FONOLÓGICO CONSOANTAL Capítulo 2

Som consoante / ʒ /, como em “vision” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/k8ImSmVOSVA.

Os correlatos ortográfi cos dos fonemas /ʃ/ e /ʒ/, segundo Silva (2020), serão indicados a seguir:

QUADRO 10 – CORRELATOS ORTOGRÁFICOS DE /Ʃ/ E DE /Ʒ/

Correlatos ortográfi cos de /ʃ/sh shy /ʃaɪ/ ci social /ˈsoʊ.ʃəl/ss pressure /ˈpreʃ.ɚ/ s sugar /ˈʃʊɡ.ɚ/ce ocean /ˈoʊ.ʃən/ si pension /ˈpen.ʃən/ch chef /ʃef/ chs fuchsia /ˈ�juː.ʃə/ti action /ˈæk.ʃən/

Correlatos ortográfi cos de /ʒ/z azure /ˈæʒ.ɚ/ s pleasure /ˈpleʒ.ɚ/g regime /reɪˈʒiːm/ si vision /ˈvɪʒ.ən/

ge rouge /ruːʒ/FONTE: Adaptado de Silva (2020)

3.2.3 /F/ E /V/

As consoantes /f/ e /v/ são fricativas labiodentais, sendo que /f/ é surdo e /v/ é sonoro. Para produzi-las, O’Connor (1980) explica que o palato mole deve estar erguido, de modo que a corrente de ar egressiva saia pela cavidade bucal. Os dentes superiores encostam nos lábios inferiores, formando um estreitamento, de forma que o ar seja empurrado por essa abertura, causando fricção. A língua não tem uma função direta na produção dessas consoantes, mas, também, não fi ca de modo ocioso. A língua toma a posição necessária para o próximo som.

De um modo geral, esses fonemas não apresentam problemas, em termos de articulação, para os aprendizes brasileiros, conforme argumentam Godoy, Gontow e Marcelino (2006). Contudo, é necessário atenção para não adicionar

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

uma vogal extra quando a palavra termina em /f/ ou em /v/, como em arrive /əˈraɪv/ e wife /waɪf/.

Quer praticar esses fonemas? Veja os vídeos do canal Sound American.

Som consoante / f / , como em “fun” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/05f62-73nrY.

Som consoante / v /, como em “very” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/U5Oro6v0klg.

Os correlatos ortográfi cos dos fonemas /f/ e /v/, segundo Silva (2020), serão indicados a seguir:

QUADRO 11 – CORRELATOS ORTOGRÁFICOS DE /F/ E DE /V/

Correlatos ortográfi cos de /f/f feet /�iːt/ff off /ɑːf/

ph phase /feɪz/gh cough /kɑːf/

Correlatos ortográfi cos de /v/v vote /voʊt/vv savvy /ˈsæv.i/ph Stephen /ˈstiː.vən/f of /ɑːv/FONTE: Adaptado de Silva (2020)

3.2.4 /Θ/ E /Ð/

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SISTEMA FONOLÓGICO CONSOANTAL Capítulo 2

As consoantes /θ/ e /ð/ são fricativas dentais, sendo que /θ/ é surdo e /θ/ é sonoro. Observe como ocorre a produção desses fonemas, de acordo com O’Connor (1980): o palato mole está erguido, de modo que a corrente de ar egressiva saia pela cavidade bucal. A ponta da língua está próxima da parte de trás dos dentes superiores (esse é o estreitamento no qual se realiza a fricção). O ruído feito por essa fricção não é muito audível, bem menos do que /s/ e /z/. Posicione a ponta da sua língua próxima da ponta dos dentes superiores. Ao olhar no espelho, você deve ver a ponta dela. Assopre de modo que haja fricção, mas não tanto, como /s/, mas algo mais próximo de /f/, ou seja, de um modo mais suave, gentil.

Esses fonemas não existem na língua portuguesa e não são muito comuns em outras línguas, por isso, são consoantes que são difíceis para os estudantes brasileiros pronunciarem. A fi m de auxiliá-los, é comum professores orientarem os estudantes a posicionarem a língua entre os dentes. Essa dica é válida, entretanto, de acordo com Yoshida (2013) e Roach (2009), a língua fi ca, normalmente, atrás dos dentes superiores, com a ponta da língua tocando o lado interno dos dentes frontais inferiores. Devido a essa difi culdade de pronúncia, nós, brasileiros, acabamos substituindo as consoantes /θ/ e /ð/ por sons próximos da nossa língua materna, como /s/, /f/ ou /t/ e /z/ ou /d/, respectivamente (SILVA, 2020). O problema de fazer essas substituições é que pode haver troca de signifi cado das palavras, como three por free ou tree, think por sink.

Quer praticar esses fonemas? Veja os vídeos do canal Sound American.

TH ‘: som de consoante / θ /, como em “think” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/qC0l6GQZtM4.

TH ‘: som de consoante / ð /, como em “this” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/EZb_EWVCUoE.

Os correlatos ortográfi cos dos fonemas /θ/ e /ð/, segundo Silva (2020), serão indicados a seguir:

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

QUADRO 12 – CORRELATOS ORTOGRÁFICOS DE /Θ/ E DE /Ð/

Correlatos ortográfi cos de /θ/th three /θriː/

Correlatos ortográfi cos de /ð/th either /ˈiː.ðɚ/

FONTE: Adaptado de Silva (2020)

O jornal britânico The Telegraph publicou que linguistas preveem que o som do “th” poderá sumir até 2066. A matéria explica que esse desaparecimento poderá ocorrer por causa da presença de estrangeiros em terras britânicas. O Received Pronunciation(RP) tem sido substituído pelo Multicultural London English (MLE), que é fortemente infl uenciado por pessoas do Caribe, do Oeste da África e da Ásia. E vocês? Acham que os fonemas do “th” desaparecerão? Leia mais em KNAPTON, S. ‘Th’ sound to vanish from english language by 2066 because of multiculturalism, say linguists. 2016. Disponível em: https://www.telegraph.co.uk/science/2016/09/28/th-sound-to-vanish-from-english-language-by-2066-because-of-mult/. Acesso em: 11 abr. 2021.

3.2.5 /H/

A consoante /h/ é fricativa glotal surda. Roach (2009) explica que o local de articulação dessa consoante é na glote, ou seja, o estreitamento que produz a fricção está entre as cordas vocais, como descrito no Capítulo 1. É como se respirássemos de boca aberta. Uma forma para termos consciência desse som é através da “técnica do espelho sujo”. Quando um espelho ou vidro está sujo, damos uma “baforada”, para que a superfície fi que embaçada. Depois, limpamos com um paninho. Essa “baforada” é como o fonema /h/ é produzido, de modo

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SISTEMA FONOLÓGICO CONSOANTAL Capítulo 2

geral. Roach (2009) e O’Connor (1980) comentam que a língua e os lábios apresentam a posição articulatória da vogal seguinte.

Por ser uma consoante, /h/ é comumente seguido por uma vogal, e é muito comum encontrarmos nas posições inicial e média da palavra, como em house/haʊs/, ahead /əˈhed/ e greenhouse /ˈɡriːn.haʊs/. Yoshida (2009) e O’Connor (1980) explicam que o fonema /h/ não ocorre em fi ns de palavras. Quando vemos a letra “h” no fi m da palavra, ela é muda, com em hurrah /həˈrɑ/, ou é parte de uma combinação de duas letras que se escreve de forma diferente de como se fala, como em rich /rɪtʃ/ e fi sh /fɪʃ/.

Silva (2020) argumenta que o fonema /h/ ocorre em algumas variedades do português brasileiro, principalmente, na região Sudeste, como nas palavras rua e rato. Outro ponto observado pela autora, e por Godoy, Gontow e Marcelino (2006), é a tendência de os brasileiros pronunciarem “o som equivalente à fricativa glotal /h/ do inglês como uma fricativa velar, que é um som produzido na região velar” (SILVA, 2020, p. 84). Isso ocorre porque a fricativa velar é a inicial da palavra ri, logo, nesses casos, he (inglês) e ri (português) acabam sendo pronunciadas da mesma forma, quando, na verdade, não é para acontecer.

O /h/ é mudo em algumas palavras. Veja algumas delas a seguir:

QUADRO 13 – /H/ MUDO

ghost /ɡoʊst/ exhibit /ɪɡˈzɪb.ɪt/rhyme /raɪm/ honest /ˈɑː.nɪst/bright /braɪt/ honor /ˈɑː.nɚ/what /wɑːt/ hour /aʊr/

vehicle /ˈviː.ə.kəl/ heir /er/

FONTE: A autora

Quer praticar esse fonema? Veja o vídeo do canal Sound American.

Som consoante / h /, como em “home” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/dV6At0g4n78.

Page 78: Fonética e Fonologia em Língua Inglesa

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

3.3 AFRICADAS /Tʃ/ E /Dʒ/

As africadas são consoantes que combinam a articulação de uma consoante oclusiva (/t/ ou /d/) com uma consoante fricativa (/ʃ/ e /ʒ/). Durante a produção, segundo Silva (2020), ocorre, primeiramente, a oclusão, seguida, imediatamente, da fricção, ou seja, o ar é bloqueado (oclusiva) e liberado com uma fricção (fricativa). Observe como O’Connor (1980) descreve a produção desses fonemas: a ponta da língua toca a parte de trás dos alvéolos e o palato mole é erguido, de modo que o ar fi que preso por um curto período. O resto da língua fi ca na posição de /ʃ/ e /ʒ/. A ponta da língua se move um pouco do alvéolo, e, então, a língua toda assume a posição de /ʃ/ e /ʒ/. Nesse curto período, ocorre a fricção. A fricção de /tʃ/ e /dʒ/ não é tão longa como em /ʃ/ e /ʒ/. Roach (2009) complementa que /tʃ/ é levemente aspirado em posições em que /p/, /t/ e /k/ são aspirados, mas com menos intensidade.

Há, somente, dois fonemas africados: /tʃ/ e /dʒ/. São denominados de africados palatais surdo e sonoro, respectivamente.

Quer praticar esses fonemas? Veja os vídeos do canal Sound American.

Som consoante / tʃ /, como em “chair” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/WoyI_omRpcw.

Som consoante / dʒ /, como em “job” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/zJJ3hhHtjtI.

Os correlatos ortográfi cos dos fonemas /tʃ/ e /dʒ/, segundo Silva (2020), serão indicados a seguir:

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SISTEMA FONOLÓGICO CONSOANTAL Capítulo 2

QUADRO 14 – CORRELATOS ORTOGRÁFICOS DE /TƩ/ E DE /DƷ/

Correlatos ortográfi cos de /tʃ/ch choice /tʃɔɪs/ t nature /ˈneɪ.tʃɚ/tch witch /wɪtʃ/ te righteous /ˈraɪ.tʃəs/c cello /ˈtʃel.oʊ/ ti question /ˈkwes.tʃən/

cz czech /tʃek/ cc cappuccino /ˌkæp.əˈt�iː.noʊ/Correlatos ortográfi cos de /dʒ/

j joy /dʒɔɪ/ gg suggest /səˈdʒest/g gin /dʒɪn/ d educate /ˈedʒ.ə.keɪt/ge cage /keɪdʒ/ dg edge /edʒ/dj adjective /ˈædʒ.ek.tɪv/ di soldier /ˈsoʊl.dʒɚ/

FONTE: Adaptado de Silva (2020)

1 - Marque verdadeiras ou falsas para as afi rmações a seguir:

a) ( ) A consoante /ʒ/ é um fonema frequente na língua inglesa.b) ( ) A consoante /ʒ/ ocorre nas posições inicial, média e fi nal da

palavra.c) ( ) A consoante /ʒ/ é, geralmente, escrita com a letra “s”, quando

está entre vogaisd) ( ) A consoante /dʒ/ ocorre nas posições inicial, média e fi nal da

palavra.e) ( ) A consoante /dʒ/ tem, geralmente, o correlato ortográfi co “j” ou

“g”.

2 - As palavras off e of:

a) Têm exatamente a mesma pronúncia.b) Têm o mesmo fonema vocálico.c) Têm o mesmo fonema consonantal.d) Soam completamente diferentes.

3 - Escreva o símbolo fonológico consonantal das letras sublinhadas das palavras a seguir. Consulte um dicionário, se necessário:

a) witch:b) judge: c) situation: d) changing: e) education:

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

f) physician: g) tough: h) childish:

3.4 NASAIS A principal característica das consoantes nasais é que o ar sai pela cavidade

nasal. Para isso acontecer, o palato mole deve estar abaixado, ao contrário das outras consoantes da língua inglesa, que apresentam o palato mole levantado, para que o ar não passe pelo nariz. Além do palato mole estar abaixado, o ar é bloqueado na cavidade bucal por um articulador. De acordo com Roach (2009), são três os tipos de bloqueio: bilabial, alveolar e velar, que correspondem aos fonemas /m/, /n/ e /ŋ/.

Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006) comparam as consoantes nasais com as oclusivas e as fricativas. As nasais são similares às oclusivas porque há um bloqueio completo da passagem de ar pelos articuladores. Por exemplo, os dois lábios para /p/, /b/ e /m/, a língua e o alvéolo para /t/, /d/ e /n/, e a língua e o véu palatino para /k/, /g/ e /ŋ/. São similares às fricativas porque são contínuas, isto é, as consoantes nasais podem ser pronunciadas enquanto houver ar nos pulmões a ser solto pela cavidade nasal. Para entender como ocorrem as consoantes nasais, as autoras sugerem prender o nariz e dizer a sentença: Martha knew the remaining member would vote against the measure. Perceba que, quando as nasais são articuladas pela cavidade bucal, /m/ soa como /b/, /n/, como /d/, e, /ŋ/, como /g/.

De modo geral, /m/ e /n/ não apresentam problemas para os aprendizes brasileiros, pois são sons presentes nos sistemas fonético e fonológico da língua portuguesa. Contudo, a consoante /ŋ/ pode apresentar algum desafi o para os estudantes (O’CONNOR, 1980; CELCE-MURCIA; BRINTON; GOODWIN, 2006; ROACH, 2009; SILVA, 2020). Estudaremos cada um desses fonemas individualmente. Começaremos pelo /m/ e pelo /n/, e, depois, teremos uma parte exclusiva para /ŋ/.

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SISTEMA FONOLÓGICO CONSOANTAL Capítulo 2

3.4.1 /m/ E /N/

A consoante /m/ é classifi cada como nasal bilabial sonora e, /n/, nasal alveolar sonora. Para produzir esses fonemas, é preciso que o palato mole esteja abaixado para /m/ e para /n/. Para /m/, os dois lábios se juntam para fechar a bocar e criar um bloqueio. Para /n/, é necessário pressionar o alvéolo com a ponta da língua.

Você acha que o português tem /m/ no fi m de palavras? Acha que os aprendizes brasileiros têm problemas com esse fonema no fi m da palavra ou da sílaba? Godoy, Gontow e Marcelino (2006) afi rmam que a nasal /m/ não ocorre no fi m das palavras em português. Palavras, como também e sem, são escritas com “m”, mas são pronunciadas como um ditongo nasal /ẽ i/. Outro contraste trazido pelos autores são os termos cantarão e cantaram, em que ambos terminam com ditongo /ão/, sem movimento bilabial, e a real diferença é a tonicidade. O /n/, na posição fi nal da sílaba, também não é pronunciado pelo brasileiro, continuam os autores. Quando a letra “n” aparece nessa situação, ocorre o processo de nasalização. Por exemplo, na palavra inseto, não pronunciamos /i/ + /n/, mas um /i/ nasal.

O’Connor (1980) comenta a respeito da questão e afi rma que brasileiros podem ter difi culdades com as consoantes /m/ e /n/ em posição fi nal ou antes de outra consoante, como em can /kæn/ e camp /kæmp/. Para que não ocorra um ditongo nasalizado nessas situações, devemos fechar os nossos lábios fi rmemente para /m/, colocar a língua contra os alvéolos para /n/ e nos certifi carmos que o bloqueio está completo em todas as vezes que essas consoantes aparecerem.

Quer praticar esses fonemas? Veja os vídeos do canal Sound American.

Som de consoante / m /, como em “map” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/tkiN8BsBEfA.

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

Som consoante / n /, como em “nice” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/1eyr7O4TFmI.

Os correlatos ortográfi cos dos fonemas /m/ e /n/, segundo Silva (2020), serão indicados a seguir:

QUADRO 15 – CORRELATOS ORTOGRÁFICOS DE /M/ E DE /N/

Correlatos ortográfi cos de /m/m me /mi/ mb climb /klaɪm/

mm hammer /ˈhæm.ɚ/ gm phlegm /�lem/me some /sʌm/ lm calm /kɑːm/mn solemn /ˈsɑː.ləm/

Correlatos ortográfi cos de /n/n no /noʊ/ gn gnome /noʊm/

nn dinner /ˈdɪn.ɚ/ pn pneumonia /nuːˈmoʊ.njə/ne lane /leɪn/ mn mnemonic /nɪˈmɑː.nɪk/kn knee /niː/ dn Wednesday /ˈwenz.deɪ/

FONTE: Adaptado de Silva (2020)

3.4.2 /Ŋ/

A consoante /ŋ/ é nasal velar sonora. O’Connor (1980) descreve como esse fonema é produzido: o palato mole é abaixado de forma que o ar saia pela cavidade nasal. A cavidade bucal é bloqueada pela parte de trás da língua, que é pressionada pelo palato mole. Uma dica do autor para pronunciar esse fonema é posicionar a língua como se fosse produzir o fonema /g/. Faça isso com a boca bem aberta e olhe no espelho para ajudar. Perceba que a ponta da língua fi ca abaixada e, a parte de trás, erguida. Mantenha essa posição e comece a zumbir, como se produzisse um /m/ bem longo. Assegure-se de que a posição da língua não mude e de que a ponta da língua não se erga muito. Outra dica fornecida por Godoy, Gontow e Marcelino (2006) é dizer as palavras, em português, manga ou banco. Diga a primeira sílaba e segure no último fonema: /maŋŋŋ/, /banŋŋŋ/.

Page 83: Fonética e Fonologia em Língua Inglesa

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SISTEMA FONOLÓGICO CONSOANTAL Capítulo 2

Quer praticar esse fonema? Veja o vídeo do canal Sound American.

Som de consoante / ŋ / (NG), como em “thing” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/5xVq8T88oJw.

Roach (2009) descreve como esse fonema aparece em palavras da língua inglesa: não ocorre em posição inicial, /ŋ/ é a única consoante da língua inglesa que não aparece no início da palavra.

Em posição média, /ŋ/ é um pouco frequente, porém, há algumas complexidades na forma como /ŋ/ pode ser pronunciado, principalmente, quando relacionadas com oclusivas. Quando encontramos as letras “nk” no meio da palavra, “k” é sempre pronunciada, entretanto, as palavras escritas com “ng” podem ser pronunciadas como /ŋg/, ou somente /ŋ/, por exemplo, fi nger /ˈfɪŋ.ɡɚ/ e singer /ˈsɪŋ.ɚ/. A diferença está em como essas palavras são constituídas, ou seja, na morfologia. Singer é dividida em dois morfemas, “sing” + “-er”, enquanto fi nger não pode ser dividida da mesma forma, constituindo-se em um morfema, apenas. Em posição fi nal, fi nal de palavra e/ou fi nal de morfema, com ortografi a “ng”, a palavra deve ser pronunciada com /ŋ/, e nunca seguido por /g/, como hang /hæŋ/ e long /lɑːŋ/. Contudo, para toda regra, há uma exceção. Nesse caso, os modos comparativo (-er) e superlativo (-est) permitem a pronúncia do /g/, a exemplo de longer /lɑːŋgə/e longest /lɑːŋgəst/.

Os correlatos ortográfi cos do fonema /ŋ/, segundo Silva (2020), serão indicados a seguir:

QUADRO 16 –CORRELATOS ORTOGRÁFICOS DE /Ŋ/

Correlatos ortográfi cos de /ŋ/ng song /sɑːŋ/ n(k) drink /drɪŋk/

n(c) uncle /ˈʌŋ.kəl/ n(g) hungry /ˈhʌŋ.ɡri/

FONTE: Adaptado de Silva (2020)

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

A princípio, um aprendiz brasileiro pode encontrar difi culdades em diferenciar /n/ de /ŋ/. A melhor maneira de ter consciência dessas diferenças é praticar a audição e a fala. Assista ao vídeo intitulado de Thin ou Thing? Sin ou Sing? Pronúncia do Inglês Americano, do canal Sounds American, e aprenda e pratique esses fonemas com pares mínimos: https://youtu.be/8bKIm60nK80.

1 - Todos as consoantes nasais são sonoras.

a) ( ) Verdadeiro.b) ( ) Falso.

2 - Que fonema é velar?

a) ( ) /m/.b) ( ) /n/.c) ( ) /ŋ/.

3 - Que fonema é bilabial?

a) ( ) /m/.b) ( ) /n/.c) ( ) /ŋ/.

4 - Que fonema é alveolar?

a) ( ) /m/.b) ( ) /n/.c) ( ) /ŋ/.

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SISTEMA FONOLÓGICO CONSOANTAL Capítulo 2

3.5 LATERAISAs consoantes laterais são produzidas quando a passagem da corrente de

ar egressiva é bloqueada do centro da boca e o ar sai pelas laterais. São dois os fonemas laterais, o /l e o /r/.

3.5.1 /L/

A consoante /l/ é uma lateral alveolar sonora e, para a produção desse som, O’Connor (1980) explica que o palato mole é erguido e a ponta da língua fi ca em contato fi rme com o alvéolo, obstruindo a passagem central da boca. As partes laterais da língua não estão em contato com o palato, dessa forma, a corrente de ar pode passar entre os lados da língua.

Quer praticar esse fonema? Veja o vídeo do canal Sound American.

Som de consoante / l /, como em “let” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/JamM8TgB_AA.

No inglês, ocorrem dois tipos de /l/: light /l/ e dark /ɫ/. O light /l/, de acordo com Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006), é formado quando o ar passa pelas laterais da língua, enquanto a ponta toca o alvéolo, como em listen /ˈlɪs.ən/ e lily /ˈlɪl.i/. Esse alofone é encontrado no começo de sílabas, principalmente, antes de vogais (YOSHIDA, 2013). O dark /ɫ/ é formado com o ar passando sob o corpo da língua, o qual está agrupado na área velar. Carr (2019) explica que esse processo se chama velarização, pois se articula na região velar da cavidade bucal. Nesse caso, a ponta da língua pode ou não permanecer em contato com o alvéolo, como

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

em bell /beɫ/ e em call /kɑːɫ/. Esse alofone é encontrado no fi m de sílabas e antes de consoantes, assemelhando-se ao som da vogal /u/ (ROACH, 2009).

Muitos falantes nativos da língua inglesa, segundo Roach (2009), não têm consciência dessas diferenças entre o light /l/ e o dark /ɫ/, mas são capazes de detectar quando ouvem um sotaque diferente ou um estrangeiro. O’Connor (1980) complementa que muitos nativos usam somente o light /l/, e outros mesclam o light /l/ com o dark /ɫ/. Assim, para nós, brasileiros, é possível escolher qual alofone usar, isso é, se alguém optar por usar somente o light /l/, será compreendido.

Quer praticar esse alofone? Veja o vídeo do canal Sound American.

Som consoante “L mais dark’’, como na palavra “call” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/ZTgYjGXFAkw.

O fonema /l/ é mudo em algumas palavras. Observe algumas delas a seguir:

QUADRO 17 – /L/ MUDO

half /hæf/ should /ʃʊd/calf /kæf/ could /kʊd/talk /tɑːk/ balm /bɑːm/walk /wɑːk/ palm /pɑːm/chalk /tʃɑːk/ calm /kɑːm/would /wʊd/ salmon /ˈsæm.ən/

FONTE: Adaptado de Godoy, Gontow e Marcelino (2006)

Atente-se aos correlatos ortográfi cos do fonema /l/, segundo Silva (2020):

QUADRO 18 – CORRELATOS ORTOGRÁFICOS DE /L/

Correlatos ortográfi cos de /l/l lice /laɪs/ll belly /ˈbel.i/

FONTE: Adaptado de Silva (2020)

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SISTEMA FONOLÓGICO CONSOANTAL Capítulo 2

3.5.2 /r/

A consoante /r/ é classifi cada como lateral velar sonora. Silva (2020) aponta que alguns autores a classifi cam como retrofl exa, como Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006) e Roach (2009). Para produzir esse fonema, O’Connor (1980) explica que a língua adota uma posição cursa, sendo que a ponta fi ca direcionada para o palato duro, logo atrás do alvéolo, mas sem estar muito perto, para não gerar fricção. Os lábios estão arredondados, principalmente, quando /r/ inicia a palavra. O palato mole é erguido, e a corrente de ar egressiva fl ui entre a ponta da língua e o palato, sem causar fricção.

Pense no “r” em português. É sempre pronunciado da mesma forma? E no inglês? Existe alguma variante do “r” em português que é similar à do inglês?

Esse fonema encontra similares na língua portuguesa, segundo Silva (2020, p. 74, grifos da autora): “um som com características articulatórias semelhantes ao som de ‘r’ do inglês ocorre em certos dialetos do português brasileiro que, não popularmente, são denominados de dialetos caipiras ou dialetos nos quais ‘se puxa o r’”.

Falantes não nativos tendem a substituir /r/ pelo som que representa a letra “r” da língua materna (O’CONNOR, 1980). O falante brasileiro tem certa facilidade em pronunciar o /r/ no fi m de sílabas, como em card /kɑːrd/ e em star /stɑːr/, provavelmente, por estar familiarizado com o dialeto caipira, explica Silva (2020). Contudo, a difi culdade, aqui, está em produzir /r/ em posição intervocálica, como very /ˈver.i/.

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

Quer praticar esse fonema? Veja o vídeo do canal Sound American.

Som de consoante / r /, como em “run” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/q5a2-KuHkBU.

Os correlatos ortográfi cos do fonema /r/, segundo Silva (2020), serão indicados a seguir:

QUADRO 19 – CORRELATOS ORTOGRÁFICOS DE /R/

Correlatos ortográfi cos de /r/r very /ˈver.i/rr carry /ˈker.i/rh rhyme /raɪm/wr write /raɪt/rrh diarrhoea /ˌdaɪ.əˈriː.ə/

FONTE: Adaptado de Silva (2020)

1 - Ao estudarmos uma nova língua, deparamo-nos com diversos desafi os, como a pronúncia adequada. Em alguns casos, os fonemas da língua inglesa se parecem muito com os fonemas da nossa língua materna, em outros, são semelhantes. Ainda, há casos em que ouvimos aquele fonema pela primeira vez, e temos que treinar todo o nosso aparelho fonador para formá-lo. Para nós, brasileiros, não é diferente. Há fonemas que conhecemos, outros que precisamos adequar e alguns que são totalmente novos. Com base nisso, discorra acerca dos fonemas que existem no português e que precisam apenas de uma adaptação no inglês, e dos que não existem no português, mas são recorrentes no inglês. Comente as difi culdades de pronunciar esses sons. Cite, pelo menos, três exemplos.

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SISTEMA FONOLÓGICO CONSOANTAL Capítulo 2

3.6 GLIDES /W/ E /J/

A categoria fi nal das consoantes são os glides, chamados, também, de semivogais. Os glides são consideradas semivogais, pois, conforme explicam Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006), comportam-se como consoantes em sílabas iniciais de palavras. Dessa forma, /w/, como em wood, e /j/, como em year, são glides. Roach (2009) argumenta que o mais importante a ser lembrado a respeito desses fonemas é que eles são foneticamente iguais às vogais [i] e [u], mas, fonologicamente, iguais a consoantes. Do ponto de vista fonético, a articulação de /j/ é praticamente a mesma em comparação à vogal [i], só que mais curta. Do mesmo modo, /w/ é similar a [u]. Esses fonemas são considerados consoantes, pois ocorrem antes de vogais.

Quer praticar esses fonemas? Veja os vídeos do canal Sound American.

Som consoante / w /, como em “way” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/nMB5mX_PGHQ.

Som consoante / j /, como em “yes” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/1G8SCotE2yg.

O fonema /w/ é mudo em algumas palavras. Veja algumas delas a seguir:

QUADRO 20 – /W/ MUDO

answer /ˈæn.sɚ/ wrinkle /ˈrɪŋ.kəl/sword /sɔːrd/ wrap /ræp/who /huː/ wrist /rɪst/

whose /huːz/ wrong /rɑːŋ/whole /hoʊl/ wrestle /ˈres.əl/write /raɪt/

FONTE: Adaptado de Godoy, Gontow e Marcelino (2006)

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

Observe os correlatos ortográfi cos dos fonemas /w/ e /j/, segundo Silva (2020):

QUADRO 21 – CORRELATOS ORTOGRÁFICOS DE /W/ E DE /J/

Correlatos ortográfi cos de /w/w well /wel/ (g) u language /ˈlæŋ.ɡwɪdʒ/

wh why /waɪ/ (s) u suite /swiːt/(q)u quit /kwɪt/ o one /wʌn/

Correlatos ortográfi cos de /j/y yes /jes/ e Europe /ˈjʊr.əp/i million /ˈmɪl.jən/ j hallelujah /ˌhæl.ɪˈluː.jə/u unique /juːˈniːk/ ew few /�juː/

FONTE: Adaptado de Silva (2020)

1 - Marque verdadeiras ou falsas nas afi rmações a seguir:

a) ( ) As palavras ear e year são pronunciadas da mesma maneira.b) ( ) Umbrella e uniform começam com o mesmo fonema.c) ( ) Would e wood são pronunciadas da mesma maneira.d) ( ) As semivogais /w/ e /j/ nunca são tônicas.

2 - Pronuncie as palavras a seguir e sublinhe os correlatos ortográfi cos de /j/ e /w/:

Europe - uniform - quite - language - cure - year - equal - one - million - university - liquid - persuade

Agora que você conhece as consoantes da língua inglesa, leia a pesquisa da professora Maria Lucia de Castro Gomes, intitulada de Understanding the Brazilian Way of Speaking English. Nesse artigo, a autora compartilha os resultados de uma experiência com estudantes brasileiros, gravando a pronúncia em laboratório para compreender melhor o processo de aquisição da fonologia da língua inglesa: https://www.researchgate.net/prof i le/John-Levis/publ icat ion/283176773_Pronunciat ion_

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SISTEMA FONOLÓGICO CONSOANTAL Capítulo 2

and_assessment_Proceedings_of_the_4th_Pronunciation_in_Second_Language_Learning_and_Teaching_Conference_2012/links/562d9a0408aef25a24431b16/Pronunciation-and-assessment-Proceedings-of-the-4th-Pronunciation-in-Second-Language-Learning-and-Teaching-Conference-2012.pdf#page=296.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕESNeste capítulo, compreendemos como funciona o sistema consonantal

da língua inglesa. Vimos que as consoantes são classifi cadas, de acordo com o vozeamento, o lugar e o modo de articulação. Essas características já foram apresentadas no Capítulo 1, e, partir do exposto aqui, aprofundamos esse conhecimento, classifi cando os fonemas da língua inglesa.

Tentamos descrever como cada fonema é produzido, mas sabemos que nem sempre é fácil entender dessa forma, por isso, a sugestão de vídeos após cada fonema, ou par de fonema, para que seja possível visualizar, assimilar, produzir, ensinar cada consoante.

Nas explicações, procuramos identifi car as possíveis difi culdades fonológicas que os aprendizes brasileiros enfrentam ao aprender a língua inglesa, como a produção do /θ/ e do /ŋ/.

É importante saber quais são as possíveis dúvidas dos estudantes para assim, nós, professores, direcionarmos a aula, visando ao desenvolvimento das habilidades. Embora as consoantes possam ser apresentadas individualmente, é comum o contraste entre elas, de acordo com Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006). Por exemplo, ao ver que o estudante tem difi culdades com /θ/ e com a pronúncia, como se fosse /f/ ou /s/ ou /t/, é possível trabalhar com pares mínimos, para que ele perceba a diferença entre esses fonemas. Para estudantes em níveis mais básicos, pode-se adequar a prática, mostrando como um fonema é articulado por meio de imagens. É necessário, também, como lembram Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006), que os estudantes sejam agentes do próprio aprendizado, e que não apenas recebam informações do professor. Para isso, sugira que os estudantes, em grupos, criem as próprias sentenças, utilizando o fonema em questão.

Diversos recursos e práticas já foram descritos no Capítulo 1, como exercícios com pares mínimos, material que expõe o estudante à língua-alvo. Cabe, ao professor, escolher, adaptar o recurso e a prática que mais funcionam com os estudantes, de modo que alcancem os objetivos.

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

REFERÊNCIASCARR, P. English phonetics and phonology: an introduction. USA: John Wiley & Sons, 2019.

CELCE-MURCIA, M.; BRINTON, D. M.; GOODWIN, J. M. Teaching pronunciation: a reference for teacher of English to speakers of other languages. USA: Cambridge University Press, 2006.

GODOY, S.; GONTOW, C.; MARCELINO, M. English pronunciation for brazilians: the sounds of american english. São Paulo: Disal, 2006.

O’CONNOR, J. D. Better english pronunciation. USA: Cambridge University Press, 1980.

ROACH, P. English phonetics and phonology: a practical course. USA: Cambridge University Press, 2009.

SILVA, T. C. Pronúncia do inglês: para falantes do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2020.

YOSHIDA, M. T. Understanding and teaching the pronunciation of english. USA: Yoshida, 2013.

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CAPÍTULO 3

SISTEMA FONOLÓGICO VOCÁLICO ECARACTERÍSTICAS SUPRASSEGMENTAIS DA PRONÚNCIA

A partir da perspectiva do saber-fazer, são apresentados os seguintes objetivos de aprendizagem:

• Identifi car os sons vocálicos da língua inglesa e as conexões e as transformações sonoras nos encontros vocálicos e consonantais.

• Diferenciar a produção dos sons vocálicos e da língua inglesa.• Comparar a produção dos sons vocálicos da língua inglesa por meio de pares

mínimos.• Articular entoação, ritmo e fl uência.• Produzir e interpretar transcrições fonéticas.• Empregar os conceitos no ensino de língua inglesa.

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SISTEMA FONOLÓGICO VOCÁLICO E CARACTERÍSTICASSUPRASSEGMENTAIS DA PRONÚNCIA Capítulo 3

1 CONTEXTUALIZAÇÃONo Capítulo 3, concluiremos os nossos estudos de Fonética e de Fonologia

de língua inglesa. Para isso, compreenderemos o sistema fonológico vocálico do inglês, analisando as características de produção e as possíveis difi culdades que aprendizes brasileiros podem ter. Como veremos, no decorrer da primeira seção, a respeito das vogais, muitos fonemas soam de forma muito similar, e a melhor forma de perceber a diferença entre eles é através da comparação por meio de pares mínimos, que vocês podem ouvir nos vídeos recomendados. Ao fi m, você poderá praticar transcrições fonéticas.

Na segunda parte deste capítulo, dedicar-nos-emos a apresentar e a compreender as características suprassegmentais da língua inglesa, como estrutura silábica, tonicidade, ritmo e entoação. Aqui, também, relacionaremos com possíveis difi culdades que estudantes brasileiros podem ter e como o professor pode ajudá-los nessas situações.

2 AS VOGAIS DA LÍNGUA INGLESALogo, quando começamos a estudar inglês, aprendemos a nomear as

vogais do alfabeto: a, e, i, o, e u. Contudo, descrever as propriedades fonológicas dessas vogais não é tão simples quanto nomear as cinco (relembre essa questão revendo os conceitos de grafema e de fonema, no Capítulo 2). Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006) afi rmam que, quando começamos a examinar as vogais do inglês norte-americano, de forma científi ca, é possível encontrar, pelo menos, doze fonemas vocálicos distintos. Quando comparamos as variações da língua inglesa, como o inglês americano, britânico, australiano, explica Yoshida (2013), a pronúncia das vogais difere muito mais do que das consoantes.

Antes de começarmos o estudo detalhado das vogais, é necessário entender o que é uma vogal. Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006) explicam que vogais constituem o núcleo da sílaba (embora, como vimos no Capítulo 2, as consoantes /n/ e /l/ têm a capacidade de se tornar silábicas, como lembra Yoshida (2013)). Dessa forma, uma sílaba pode se constituir apenas de uma vogal (V), como em eye (V), ou a vogal pode vir acompanhada de consoantes (C), como nas palavras bray (CCV), ants (VCCC) e pranks (CCVCCC). Outro modo de descrever as vogais, continuam as autoras, é defi ni-las como fonemas em que há vibração contínua das cordas vocais e a corrente de ar egressiva sai pela cavidade bucal, sem que ocorram obstrução e interrupção. Essas descrições nos auxiliam a compreender a diferença entre vogais e consoantes, uma vez que, na produção das consoantes, a vibração das

Vogais constituem o núcleo da sílaba

Fonemas em que há vibração contínua das cordas vocais e a corrente de ar egressiva sai pela cavidade bucal,

sem que ocorram obstrução e interrupção.

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

cordas vocais pode ser interrompida, e há obstrução da corrente de ar egressiva, além da consoante não ser o núcleo da sílaba.

Descrever as vogais pode ser mais complexo do que as consoantes. Isso se deve ao fato de a língua se posicionar livremente na cavidade bucal, sem encostar em outro articulador, e isso torna difícil descrever,

exatamente, o que ocorre dentro da boca, explicam Celce-Murcia, Brinton e Goodwim (2006), Yoshida (2013) e O’Connor (1980). Além disso, como lembram Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006), vozeamento não é uma característica distintiva, como é nas consoantes, uma vez que todas as vogais são sonoras. Dessa forma, as vogais são mais bem descritas quando comparadas umas com as outras.

2.1 QUALIDADE VOCÁLICAAs vogais podem ser apresentadas, levando em consideração alguns

aspectos, de acordo com Yoshida (2013) e Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006): posição da língua; posição dos lábios; vogais tensas e frouxas; e vogais simples, semivogais (glides) e ditongos. Silva (2020) explica que o conjunto dessas características se denomina qualidade vocálica. Essas categorias não são precisas como as que usamos para descrever as consoantes. Algumas descrições vocálicas podem variar, dependendo do falante. Entretanto, essas descrições são úteis para o ensino e é importante que o professor saiba como as vogais são, tradicionalmente, descritas (YOSHIDA, 2013), pois, assim, essa consciência fonológica evita incompreensões e, até mesmo, equívocos na troca de pares mínimos, como bed /ɛ/ e bad /æ/. Entenderemos o que representa cada uma dessas categorias:

2.1.1 PoSiÇÃo DA LÍNGuAO modo como movemos e moldamos a nossa língua representa uma boa

parte da produção de uma vogal. Quando pronunciamos um fonema vocálico, até uma pequena mudança na posição da língua pode causar uma grande diferença em como uma vogal soa. Quando descrevemos a posição da língua, segundo Yoshida (2013), referimo-nos à parte mais alta, mais tensa ou mais ativa da língua.

Ao descrever uma vogal, listamos a posição vertical da língua: alta (high), média (mid) ou baixa (low), ou seja, a língua é erguida próxima ao palato, ou mais abaixo, com a mandíbula mais aberta. A posição horizontal também é descrita: anterior (front), central (central) ou posterior (back). A descrição da posição da

Todas as vogais são sonoras.

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língua abrange essas duas “coordenadas”, explica Yoshida (2013). Por exemplo, /æ/, como em cat, é uma vogal baixa e anterior, ou seja, a parte mais ativa da língua está na parte baixa da cavidade bucal.

FIGURA 1 – POSIÇÃO VERTICAL DA LÍNGUA

FONTE: <https://en.wikipedia.org/wiki/Vowel#/media/File:Cardinal_vowel_tongue_position-front.svg>. Acesso em: 11 abr. 2021.

Essas dimensões são sintetizadas no quadrante vocálico (vowel quadrant), uma tabela dividida em nove seções, sendo que cada uma representa um diferente posicionamento da língua. Seguem as seções do quadrante vocálico, relacionadas a partes da cavidade bucal.

FIGURA 2 – QUADRANTE VOCÁLICO E AS PARTES DA CAVIDADE BUCAL

FONTE: Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006, p. 95)

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

2.1.2 PoSiÇÃo DoS LáBioSOs fonemas vocálicos também são afetados pelo formato dos lábios, se eles

estão muito ou pouco arredondados, relaxados ou esticados. Roach (2009) explica que, apesar dos lábios poderem ter diferentes formas e posições, os estudiosos consideram essas três possibilidades:

1. Lábios arredondados: quando os cantos dos lábios se aproximam um do outro e os lábios são empurrados para frente. Alguns exemplos são as vogais /uː/, /ʊ/ e /ɔ/.

2. Lábios esticados: quando um canto dos lábios se move em direção oposta ao outro canto, como em um sorriso. Um exemplo é a vogal /i/.

3. Lábios neutros: quando os lábios não estão nem arredondados, nem esticados, mas em posição neutra.

Observe a fi gura a seguir, que ilustrará as posições dos lábios:

FIGURA 3 – POSIÇÃO DOS LÁBIOS

FONTE: <https://slideplayer.com/slide/5880701/19/images/8/Position+of+the+lips.jpg>. Acesso em: 6 abr. 2021.

Yoshida (2013) explica que, na realidade, a posição dos lábios dos falantes nativos pode variar um pouco, pois algumas pessoas movem mais do que as outras, porém, conhecer e imitar esse padrão de posição labial podem ajudar os estudantes a pronunciarem as vogais de forma inteligível.

2.1.3 VoGAiS TENSAS E FrouXASPodemos dividir as vogais em duas categorias, chamadas de vogal tensa e

vogal frouxa, de acordo com Yoshida (2013). Essa distinção separa os pares de vogais, como em sheep /ʃiːp/ e ship /ʃɪp/, fool /fuːl/ e full /fʊl/. Yoshida (2013) cita

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Ladefoged (2006) para argumentar que fonologistas, tradicionalmente, acreditam que isso é uma questão de tensionar ou não os músculos da língua e dos lábios enquanto se pronuncia o fonema, mas é uma simplifi cação excessiva. Muitas vezes, não há uma grande diferença física entre as vogais tensas e frouxas.

Yoshida (2013) esquematiza as vogais tensas e frouxas pelo quadrante vocálico. Observe, a seguir, que as vogais tensas estão em vermelho, e, as frouxas, em azul:

FIGURA 4 – VOGAIS TENSAS E FROUXAS

FONTE: Yoshida (2013, p. 54)

Note que o pontilhado azul divide as vogais em dois grupos. As vogais tensas estão próximas aos limites do quadrante, o que indica que, para executá-las, a língua se encontra em posição mais extrema, ou seja, a língua tem que se esticar um tanto mais para alcançar o ponto. Já as vogais frouxas estão no meio do quadrante, logo, a língua não precisa se esticar muito para as extremidades da cavidade bucal, fi cando mais relaxadas.

Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006) e Yoshida (20013) apontam que há outra distinção entre as vogais tensas e frouxas. Vogais tensas podem ocorrer em sílabas tônicas abertas (não terminam com consoante, como em tea, may, law e zoo) e em sílabas tônicas fechadas (terminam com consoante, como em team, main, lawn e zoom). Além disso, as vogais tensas, em alguns casos, podem vir acompanhadas de glide (processo de ditongação). As vogais frouxas /ɪ/, /ɛ/, /æ/, /ʌ/ e /ʊ/ são articuladas de modo mais relaxado, e, geralmente, não têm a mesma tendência à ditongação, como as vogais tensas. Em monossílabas ou em sílabas tônicas, as vogais frouxas ocorrem somente em sílabas fechadas, como em him,met, hand, fun e put. Em suma, é preciso uma consoante para fechar uma sílaba tônica com uma vogal frouxa.

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Observe o quadro a seguir, comparando as vogais tensas e frouxas:

QUADRO 1 – COMPARAÇÃO ENTRE VOGAIS TENSAS E FROUXAS DA LÍNGUA INGLESA

Vogais tensas/iː/, /uː/ e /ɔ/

Vogais frouxas/ɪ/, /ɛ/, /æ/, /ʌ/ e /ʊ/

Músculos mais tensosCertas vogais têm um glide relacionadoOcorrem em sílabas abertas e fechadas

Músculos mais relaxadosMenor tendência ao glide

Ocorrem somente em sílabas tônicas fechadasFONTE: Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006, p. 97)

Outros teóricos classifi cam as vogais, de acordo com a duração, assim, surgem vogais longas e vogais breves, como menciona Roach (2009). Nesse sentido, Silva (2020, p. 21-23, grifos da autora) explica que

uma vogal longa é, também, uma vogal tensa. Em oposição a uma vogal tensa, temos uma vogal frouxa (ou lax). Há controvérsia quanto à defi nição de vogais tensas e frouxas. O que é relevante na discussão em curso é que, no inglês, as vogais tensas e frouxas têm comportamento diferente à estrutura silábica [...]. Vemos, tipicamente, em análises do inglês americano, a distinção entre vogais tensas e frouxas (lax), ao invés da distinção entre vogais longas e breves. Isso quer dizer que, no inglês americano, a maneira como a vogal é produzida (se tensa ou frouxa) é mais relevante do que a duração da vogal, se longa ou breve.

Yoshida (2013) argumenta que a diferença entre algumas vogais não está somente na duração da produção, ou seja, a diferença entre as vogais /iː/ e /ɪ/ não está em somente uma ser longa e, a outra, ser breve, mas devem ser consideradas a posição da língua e a tensão ou o afrouxamento da vogal. A autora continua explicando que a duração de qualquer vogal varia muito, e que todas as vogais tendem a ser mais longas ou mais curtas, dependendo do contexto. Cita dois principais princípios que afetam a duração da vogal:

1. O próximo fonema: a duração de uma vogal depende do fonema que vem a seguir. Vogais têm duração mais curta quando precedem fonemas surdos, e são mais longas quando precedem fonemas sonoros. As vogais são mais longas, ainda, quando estão no fi m da palavra.

2. Tonicidade: todas as vogais tendem a durar mais quando compõem a sílaba tônica, isto é, em uma palavra com mais de uma sílaba, a tônica deve ser mais longa do que as outras.

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SISTEMA FONOLÓGICO VOCÁLICO E CARACTERÍSTICASSUPRASSEGMENTAIS DA PRONÚNCIA Capítulo 3

Neste livro, classifi caremos as vogais como tensas ou frouxas, e comentaremos a respeito da duração, quando necessário.

2.1.4 VoGAiS SimPLES, SEmiVoGAiS (GLiDES) E DiToNGoS

Finalmente, podemos classifi car as vogais com base na quantidade de movimento que a língua faz durante a produção do fonema, conforme Yoshida (2013). Por exemplo, quando dizemos /æ/, como em bad, a posição da língua e a qualidade vocálica permanecem constantes durante a produção do fonema, mesmo se prolongarmos o tempo. A essa característica, denominamos de vogais simples ou vogais puras.

Outras vogais têm uma pequena mudança na posição da língua, por exemplo, /eɪ/, como em day. Nossa língua se move, sutilmente, da posição /ɛ/ para /iː/. Denominamos esses tipos de vogais de glide. Yoshida (2013) explica que, em alguns casos, pode parecer difícil perceber a diferença entre vogais simples e vogais com glide, especialmente, se levarmos em consideração a fala na velocidade natural, porém, fi ca mais fácil perceber a mudança da posição da língua das vogais com glide quando as pronunciamos mais lentamente. A autora expõe que alguns autores não consideram as vogais com glide um grupo separado, incluindo esses fonemas no grupo das vogais simples, ou no grupo dos ditongos.

Por fi m, outras vogais têm uma mudança signifi cativa na posição da língua, e, às vezes, na posição dos lábios também. Por exemplo, /aɪ/, como em buy, soa como uma combinação das vogais /a/ e /ɪ/, como se fossem uma só vogal, mas com a primeira parte mais proeminente e longa e, a segunda, mais curta. Chamamos essas vogais de ditongos (O’CONNOR, 1980; CELCE-MURCIA; BRINTON; GOODWIN, 2006; ROACH, 2009; YODHIDA, 2013).

Nós já estudamos os glides, que são chamados, também, de semivogais, no Capítulo 2. Agora, compreenderemos melhor por que esses fonemas são considerados semivogais: são fonemas que soam como vogais rápidas, mas funcionam como vogais e consoantes, dependendo do contexto.

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

Tritongos na língua inglesaRoach (2009) considera os tritongos, na língua inglesa, como

complexos e difíceis de pronunciar e de reconhecer. O autor defi ne tritongo como uma sequência de três vogais, sendo que a do meio é um glide, todas pronunciadas de forma rápida e ininterrupta. Por exemplo, a palavra hour começa com a voga /a/, segue para o glide /u/ e, então, termina com a vogal /ə/. Para ajudá-lo a identifi car os tritongos na língua inglesa, observe os exemplos: player /ˈpleɪ.ɚ/, liar/ˈlaɪ.ɚ/, lawyer /ˈlɑː.jɚ/, lower /ˈloʊ.ɚ/ e power /ˈpaʊ.ɚ/.

2.2 SISTEMA FONOLÓGICO VOCÁLICO DA LÍNGUA INGLESA

A seguir, apresentaremos as vogais da língua inglesa.

2.2.1 SCHWA /ə/O fonema /ə/ é tão importante que até tem um nome, schwa. Segundo Godoy,

Gontow e Marcelino (2006), o termo tem origem hebraica e signifi ca “nada” ou “ausência de vogal”. Também associam à origem do termo, schwa, da expressão alemã schwaches ausspruch, que signifi ca pronúncia fraca. Os autores explicam que /ə/ é um dos fonemas mais fáceis de produzir, basta apenas abrir a boca um pouco (deixá-la em posição neutra) e emitir o som, então, produz-se /ə/. Essa vogal é classifi cada, de acordo com Silva (2020), como central, média alta, e é produzida sem o arredondamento dos lábios, sendo uma vogal frouxa e breve. Também é denominada de vogal reduzida.

Schwa é um dos fonemas mais importantes da língua inglesa, explicam Godoy, Gontow e Marcelino (2006), por ser a vogal mais frequente. De acordo com a tabela de frequência de fonemas em inglês, /ə/ aparece com a frequência de 10,74% (GODOY; GONTOW; MARCELINO, 2006). Essa alta frequência deriva do fato de que quase todas as sílabas átonas são constituídas de /ə/. Veja alguns exemplos: brazilian /brəˈzɪl.jən/, construction /kənˈstrʌk.ʃən/, jealous/ˈdʒel.əs/ e proportional /prəˈpɔːr.ʃən.əl/. Observe que, exceto as sílabas tônicas, todas as outras vogais são /ə/. Outro ponto importante para notar, segundo os

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SISTEMA FONOLÓGICO VOCÁLICO E CARACTERÍSTICASSUPRASSEGMENTAIS DA PRONÚNCIA Capítulo 3

autores, é que vogais átonas são pronunciadas /ə/, não importa a ortografi a. Muitos aprendizes não se dão conta do quanto /ə/ é comum na língua inglesa, e, consequentemente, acabam não produzindo esse fonema. Acabam se guiando pela forma escrita e pronunciam de acordo com o que leem.

Apesar de /ə/ ser uma vogal bem frequente em sílabas átonas, os fonemas /ɪ/ e /ʊ/ também podem ocorrer, nesse caso. Inclusive, segundo Godoy, Gontow e Marcelino (2006), esses fonemas podem ser usados de modo intercambiável. A escolha depende do falante, do dialeto e da situação. Observe:

QUADRO 2 – FONEMAS EM SÍLABAS ÁTONAS

behind /bəˈhaɪnd/ /bɪˈhaɪnd/prefer /prəˈfɝː/ /prɪˈfɝː/

delicate /ˈdel.ə.kət/ /ˈdel.ɪ.kət/ /ˈdel.ɪ.kɪt/today /təˈdeɪ/ /tʊˈdeɪ/

FONTE: Godoy, Gontow e Marcelino (2006, p. 164)

Quer praticar esse fonema? Veja o vídeo do canal Sound American.

Som de vogal / ə / (Schwa), como em “ago” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/m1mDSUSwNls.

Os correlatos ortográfi cos do fonema /ə/, segundo Silva (2020), serão indicados a seguir:

QUADRO 3 – CORRELATOS ORTOGRÁFICOS DE /Ə/

FONTE: Silva (2020, p. 198)

Correlatos ortográfi cos de /ə/a about /əˈbaʊt/ oi porpoise /ˈpɔːr.pəs/ai villain /ˈvɪl.ən/ io action /ˈæk.ʃən/ia parliament /ˈpɑːr.lə.mənt/ e operate /ˈɑː.pə.reɪt/o correct /kəˈrekt/ eo surgeon /ˈsɝː.dʒən/

ou marvelous /ˈmɑː.vəl.əs/

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1 - O que é schwa?

2 - Por quê /ə/ é tão importante?

3 - Por que /ə/ é tão frequente na língua inglesa?

2.2.2 /iː/ E /ɪ/Muitos aprendizes brasileiros não conseguem diferenciar esses dois fonemas

/iː/ e /ɪ/, pois o fonema português brasileiro /i/ está entre /iː/ e /ɪ/, de acordo com Godoy, Gontow e Marcelino (2006). Por isso, muitos estudantes acabam pronunciando os termos, em inglês, seat e sit da mesma forma. É importante distinguir esses fonemas, pois cada um deles forma uma palavra diferente, e, se não tomarmos cuidado, podemos dizer uma palavra que não gostaríamos.

Os fonemas vocálicos adotam diversos símbolos, dependendo do autor ou do dicionário. Silva (2020) aponta que /iː/ pode ter, como símbolos concorrentes, /i/, /iy/, /ɪː/ ou /ē /, e o símbolo concorrente de /ɪ/ é encontrado como /i/. Neste livro, adotaremos o símbolo /iː/ e /ɪ/.

Diversos professores de língua inglesa acreditam que a diferença entre /iː/ e /ɪ/ está na duração, pois /iː/ é longo, e /ɪ/ é breve. Contudo, Godoy, Gontow e Marcelino (2006) lembram que há mais diferenças entre esses fonemas. Uma delas é a posição da língua. Em /iː/, a língua se posiciona mais acima em comparação a /ɪ/. Uma forma para verifi car isso, como apontam os autores, é pronunciar /iː/ (inglês), /i/ (português) e /ɪ/ (inglês), nessa sequência, sendo possível notar que a mandíbula vai abaixando, conforme a boca vai abrindo. Além disso, /iː/ é uma vogal tensa, e /ɪ/ é uma vogal frouxa. Veja:

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SISTEMA FONOLÓGICO VOCÁLICO E CARACTERÍSTICASSUPRASSEGMENTAIS DA PRONÚNCIA Capítulo 3

QUADRO 4 – DIFERENÇAS ARTICULATÓRIAS ENTRE /Iː/ E /ɪ/

/iː/ /ɪ/Língua em posição alta e anterior Língua em posição média-alta e anterior

Lábios estendidos Lábios estendidosVogal tensa e longa Vogal frouxa e breve

FONTE: Silva (2020, p. 42)

Quer praticar esses fonemas? Veja os vídeos do canal Sound American.

Vowel Sound /i/, como na palavra ‘’be’’ – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/PIu5WDIco0I.

Som da vogal /ɪ/, como em “it” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/Ok_HG-0lNCA.

Os correlatos ortográfi cos dos fonemas /iː/ e /ɪ/, segundo Silva (2020), serão indicados a seguir:

QUADRO 5 – CORRELATOS ORTOGRÁFICOS DE /Iː/ E DE /ɪ/

Correlatos ortográfi cos de /iː/ea sea /siː/ i machine /məˈ�iːn/ee see /siː/ ey key /kiː/e scene /siːn/ ie niece /niːs/ei receive /rɪˈsiːv/ oe amoeba /əˈmiː.bə/eo people /ˈpiː.pəl/

Correlatos ortográfi cos de /ɪ/i kiss /kɪs/ u busy /ˈbɪz.i/e enjoy /ɪnˈdʒɔɪ/ o women /ˈwɪm.ɪn/a beverage /ˈbev.ɚ.ɪdʒ/ ia carriage /ˈker.ɪdʒ/ui built /bɪlt/ ie sieve /sɪv/

FONTE: Adaptado de Silva (2020)

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

Vamos praticar o par mínimo /iː/ e /ɪ/? Veja o vídeo do canal Sound American.

Sheep ou Ship? Heat ou Hit? Beat ou Bit? – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/FYI6Vt3uq7s.

2.2.3 /ɛ/ E /Æ/A língua portuguesa tem apenas um fonema “é”. Já o inglês tem dois

fonemas, diferentes do português “é”, que fi ca entre /ɛ/, como em get, e /æ/, como em cat, de acordo com Godoy, Gontow e Marcelino (2006). Dessa forma, surge a seguinte escala:

QUADRO 6 – ESCALA /Ɛ/, “É” E /Æ/

Menos aberto /ɛ/, como em egg Aberturada boca

Intermediário “é” português, como em péMais aberto /æ/, como em cat

FONTE: Godoy, Gontow e Marcelino (2006, p. 178)

Silva (2020, p. 87, grifos da autora) também chama atenção para essa diferença. Leia o que ela afi rma a respeito:

Se compararmos a vogal ɛ do inglês americano – como em “x” ɛks – com a vogal ɛ do português brasileiro, como em “pé” –, verifi camos que há uma pequena diferença de qualidade vocálica, isso porque a vogal ɛ, no inglês americano, tem a qualidade vocálica intermediária entre os sons e – como na palavra “vê”, do português – e ɛ – como na palavra “pé”, do português. Em termos articulatórios, o que ocorre é que a vogal ɛ, do inglês americano, é pronunciada com a boca um pouco mais fechada do que a vogal ɛ, do português.

Para entender, na prática, como esses fonemas são pronunciados, Godoy, Gontow e Marcelino (2006) aconselham dizer “é”, em português, e, então, fechar um pouco a boca. A pronúncia deve ser /ɛ/. Depois, é preciso abrir a boca como se fosse dizer “a”, em português, mas não diga “a”, diga “é”, o que gera /æ/.

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SISTEMA FONOLÓGICO VOCÁLICO E CARACTERÍSTICASSUPRASSEGMENTAIS DA PRONÚNCIA Capítulo 3

Os fonemas vocálicos adotam diversos símbolos, dependendo do autor ou do dicionário. Silva (2020) aponta que /ɛ/ pode ter, como símbolos concorrentes, /e/ ou /ē /, e o símbolo concorrente de /æ/ é encontrado como /a/. Neste livro, adotaremos o símbolo /ɛ/ e /æ/.

A vogal /ɛ/ é classifi cada como frouxa e breve, a língua está em posição central e baixa, e, os lábios, estendidos. A vogal /æ/ é classifi cada como frouxa e breve, a língua está em posição centro-anterior e baixa, e, os lábios, estendidos (SILVA, 2020).

Explicamos, nos capítulos anteriores, que uma das questões que difere o sotaque britânico do americano é o modo como as vogais são pronunciadas. No caso do par /ɛ/ e /æ/, Silva (2020, p. 86-87) explica que,

no inglês britânico, a diferença de qualidade vocálica entre ɛ e æ é bem maior do que no inglês americano, ou seja, no inglês britânico, as vogais æ e ɛ são muito diferentes, e é mais fácil, para o falante brasileiro de inglês, identifi cá-las como sons distintos. Já no inglês americano, as vogais æ e ɛ são mais semelhantes por apresentar qualidades vocálicas mais próximas. Assim, é mais difícil, para o falante brasileiro de inglês, observar æ e ɛ, no inglês americano, como sons distintos. Na articulação de æ, no inglês americano, a língua se encontra mais baixa do que na articulação da vogal æ, no inglês britânico. Estando a língua em uma posição mais baixa, observamos que a boca fi ca mais aberta. Isso é o que ocorre na articulação de æ, no inglês americano (sendo que, na articulação de æ, no inglês britânico, a língua está em posição mais alta, e a boca se encontra menos aberta).

Quer praticar esses fonemas? Veja os vídeos do canal Sound American.

Som de vogal / ɛ /, como em “bed” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/OLG3cCLcNiI.

Som de vogal / æ /, como em “cat” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/mynucZiy-Ug.

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

Os correlatos ortográfi cos dos fonemas /ɛ/ e /æ/, segundo Silva (2020), serão indicados a seguir:

QUADRO 7 – CORRELATOS ORTOGRÁFICOS DE /Ɛ/ E DE /Æ/

Correlatos ortográfi cos de /ɛ/e yes /jɛs/ ue guest /ɡɛst/ei heifer /ˈhɛf.ɚ/ ay says /sɛz/a many /ˈmɛn.i/ ea ready /ˈrɛd.i/ai said /sɛd/ eo Leonard /ˈlɛn.ərd/ie friend /frɛnd/

Correlatos ortográfi cos de /æ/a cat /kæt/ au laugh /læf/al half /hæf/

FONTE: Adaptado de Silva (2020)

Vamos praticar o par mínimo /ɛ/ e /æ/? Veja o vídeo do canal Sound American.

Bed ou Bad? Head ou Had? Men ou Man? – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/GnWPcvI20Uk.

1 - Identifi que as palavras e escreva /ɛ/ ou /æ/. Consulte um dicionário, caso necessário.

a) / /pple.b) ch/ /nce.c) n/ __ /st.d) dem/ __ /nd.e) / __ /lephant.f) b/ __ /nk.g) gl/ __ /sses.h) / __ /ver.

2 - Complete o quadro a seguir com uma palavra com /ɛ/ ou /æ/, nas respectivas categorias:

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SISTEMA FONOLÓGICO VOCÁLICO E CARACTERÍSTICASSUPRASSEGMENTAIS DA PRONÚNCIA Capítulo 3

Month /ɛ/: /æ/:

Country /ɛ/: /æ/:

Animal /ɛ/: /æ/:

Part of the house /ɛ/: /æ/:

Food /ɛ/: /æ/:

Color /ɛ/: /æ/:

Object /ɛ/: /æ/:

Place around town /ɛ/: /æ/:

2.2.4 /uː/ E /ʊ/Godoy, Gontow e Marcelino (2006) e Silva (2020) afi rmam que, no português,

há apenas um fonema “u”, mas, em inglês, há dois fonemas: /uː/ e /ʊ/. O “u” em português é similar ao /uː/ em inglês, só que mais breve. Quando pronunciamos /uː/, os lábios fi cam arredondados, e, os músculos das bochechas, tensos. Quando pronunciamos /ʊ/, os lábios não fi cam tão arredondados, e, os músculos das bochechas, relaxados. Veja o quadro comparativo a seguir:

QUADRO 8 – DIFERENÇAS ARTICULATÓRIAS ENTRE /Uː/ E /Ʊ/

/uː/ /ʊ/Língua em posição alta e posterior Língua em posição média-alta e posterior

Lábios arredondados Lábios arredondadosVogal tensa e longa Vogal frouxa e breve

FONTE: Adaptado de Silva (2020)

Os fonemas vocálicos adotam diversos símbolos, dependendo do autor ou do dicionário. Silva (2020) aponta que /uː/ pode ter, como símbolo concorrente, /uʷ/, e o símbolo concorrente de /ʊ/ seja encontrado como /u/. Neste livro, adotaremos o símbolo /uː/ e /ʊ/.

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Quer praticar esses fonemas? Veja os vídeos do canal Sound American.

Som da vogal /u/, como em “blue” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/lkM6CKBM2ns.

Som de vogal / ʊ /, como em “put” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/moLTR-dLQQY.

Os correlatos ortográfi cos dos fonemas /uː/ e /ʊ/, segundo Silva (2020), serão indicados a seguir:

QUADRO 9 – CORRELATOS ORTOGRÁFICOS DE /Uː/ E DE /Ʊ/

Correlatos ortográfi cos de /uː/oo fool /fuːl/ oe shoe /ʃuː/o move /muːv/ eu due /duː/u rude /ruːd/ ew chew /tʃuː/

ou soup /suːp/ eu maneuver /məˈnuː.vɚ/wo two /tuː/ ieu lieu /ljuː/ui suit /suːt/ ioux Sioux /suː/

Correlatos ortográfi cos de /ʊ/oo book /bʊk/ u pull /pʊl/o wolf /wʊlf/ oul would /wʊd/

FONTE: Adaptado de Silva (2020)

2.2.5 /ɑ/, /ɔ/ E /ʌ/Godoy, Gontow e Marcelino (2006) relacionam o fonema /ɑ/ com o som

que fazemos quando nos desapontamos com algo: Ah... Os autores explicam, também, que /ɑ/ é mais longo do que “a” em português, e apresentam algumas regras ortográfi cas desse fonema:

• correlato ortográfi co “o”: entre consoantes CoC, ou em sílaba tônica, no início da palavra, como em pot e em object;

• correlato ortográfi co “a”: quando seguido de “r”, como em start.

Muitos aprendizes brasileiros pronunciam palavras escritas, como CoC, com fonema /ɔ/, o que se aproxima do sotaque britânico. Entretanto, devemos nos preocupar em mudar a nossa pronúncia, apenas é preciso ter certeza de que conseguimos reconhecer esses termos.

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Silva (2020) explica que a vogal /ɑ/, no inglês britânico, apresenta qualidade vocálica diferente de “ó”, no português, pois /ɑ/ é articulado com a posição da língua mais baixa e mais recuada do que a vogal da palavra dó, em português. Para articular /ɑ/, no inglês britânico, pronuncia-se a vogal “ó”, como da palavra dó, em português, só que com a boca mais aberta, pois, assim, a língua fi ca em uma posição mais baixa também.

Os fonemas vocálicos adotam diversos símbolos, dependendo do autor ou do dicionário. Silva (2020) aponta que /ɑ/ pode ter, como símbolos concorrentes: /ɑː/, /aː/, /ɔ/, /ɒ/, /ŏ / e /o/. Neste livro, adotaremos o símbolo /ɑ/.

As características articulatórias da vogal /ɑ/, apresentadas por Silva (2020), são: língua em posição média-baixa e posterior; lábios arredondados; e vogal breve e tensa.

Quer praticar esse fonema? Veja o vídeo do canal Sound American.

Som de vogal / ɑ /, como em “got” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/R5CY1UniS68.

A vogal /ɔ/, em inglês, é similar ao “ó”, em português, porém, /ɔ/ é mais longa do que “ó”, então, os termos saw, em inglês, e só, em português, não são pronunciados exatamente da mesma maneira, segundo Godoy, Gontow e Marcelino (2006) e Silva (2020). Godoy, Gontow e Marcelino (2006) apresentam algumas possibilidades ortográfi cas dessa vogal:

• au ou aw, como em daughter e em law;• a seguido de l ou ll, como em always e em mall;• o seguido de ng, como em wrong;• o seguido de ff, th ou ss, como em off, em month e em cross;• aught ou ought, como em caught ou em thought.

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Essas palavras podem ser pronunciadas com o fonema /ɔ/ e com o /ɑ/, explicam os autores. As palavras que são, exclusivamente, pronunciadas com o fonema /ɔ/, são escritas com o, ou ou oo, seguidas de r, como em or, four e door.

Os fonemas vocálicos adotam diversos símbolos, dependendo do autor ou do dicionário. Silva (2020) aponta que /ɔ/ pode ter, como símbolos concorrentes: /ɔː/, /ɑː/ e /ō /. Neste livro, adotaremos o símbolo /ɔ/.

As características articulatórias da vogal /ɔ/, apresentadas por Silva (2020), são: língua em posição média-baixa e posterior; lábios arredondados; e vogal longa e tensa.

Quer praticar esse fonema? Veja o vídeo do canal Sound American.

Som de vogal / ɔ /, como em “on” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/pr_KAu-_Hmo.

Quanto à vogal /ʌ/, Godoy, Gontow e Marcelino (2006) afi rmam que algumas pessoas se referem a ela como uma versão tônica da vogal /ə/. Já Silva (2020) explica que, para articular a vogal /ʌ/, deve-se ter, como referência, a vogal /ɔ/ (como em pó, em português), e, mantendo a pronúncia contínua dessa vogal, movimenta-se a língua um pouco em direção à parte central da boca, estendendo os lábios.

Os fonemas vocálicos adotam diversos símbolos, dependendo do autor ou do dicionário. Entretanto, Silva (2020) aponta que não há símbolo concorrente para a vogal /ʌ/.

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Segundo Silva (2020, p. 169), “a vogal /ʌ/ é articulada com a língua em posição central, com altura média, e é produzida sem o arredondamento dos lábios. Essa vogal é breve e frouxa”. Veja o quadro comparativo a seguir, com as três vogais estudadas:

QUADRO 10 – DIFERENÇAS ARTICULATÓRIAS ENTRE /ɑ/, /Ɔ/ E /Ʌ/

/ɑ/ /ɔ/ /ʌ/Língua em posição média-bai-

xa e posteriorLíngua em posição média-bai-

xa e posteriorLíngua em posição média-bai-

xa e centralLábios arredondados Lábios arredondados Lábios estendidosVogal frouxa e breve Vogal tensa e longa Vogal frouxa e breve

FONTE: Adaptado de Silva (2020)

Quer praticar esse fonema? Veja o vídeo do canal Sound American.

Som da vogal / ʌ /, como em “us” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/X1utTZqC3AI.

De modo geral, expõem Godoy, Gontow e Marcelino (2006), os aprendizes brasileiros não encontram difi culdades para pronunciar esse fonema. O único problema é o equívoco de pronúncia em algumas palavras, como em country, cuja pronúncia correta é /ˈkʌn.tri/, muitas vezes, pronunciada /ˈkaʊn.tri/. Isso nem é considerado uma questão de articulação, mas um equívoco na pronúncia, devido à ortografi a. Já Silva (2020) ressalta que, pela proximidade articulatória entre /ɔ/ e /ʌ/, os estudantes brasileiros tendem a pronunciar /ɔ/ ou /o/ no lugar de /ʌ/, sobretudo, nos casos em que a palavra é escrita com a letra “o”. Observe: love/lʌv/, cover /ˈkʌv.ɚ/ e cousin /ˈkʌz.ən/.

Vamos praticar o par mínimo /ɔ/ e /ʌ/? Veja o vídeo do canal Sound American.

Bus ou Boss? Luck ou Lock? – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/MqcCCFptaJk.

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

Os correlatos ortográfi cos dos fonemas /ɑ/, /ɔ/ e /ʌ/, segundo Silva (2020), serão indicados a seguir:

QUADRO 11 – CORRELATOS ORTOGRÁFICOS DE /ɑ/, /Ɔ/ E /Ʌ/

Correlatos ortográfi cos de /ɑ/o hot /hɑt/ al calm /kɑm/a wash /wɑʃ/

Correlatos ortográfi cos de /ɔ/o lord /lɔrd/ oo fl oor /�lɔːr/a hall /hɔl/ awe awe /ɔː/

eo George /ˈdʒɔr.dʒ/ ao abroad /əˈbrɔːd/au taught /tɔːt/ aw saw /sɔː/ou ought /ɔt/ al call /kɔːl/

Correlatos ortográfi cos de /ʌ/u cut /kʌt/ oe does /dʌz/o love /lʌv/ ou double /ˈdʌb.əl/

oo fl ood /�lʌd/FONTE: Adaptado de Silva (2020)

2.2.6 /Aɪ/ /Eɪ/ E /ɔɪ/ Trataremos, agora, dos ditongos na língua inglesa. Como já

explicamos neste capítulo, ditongos são duas vogais que ocorrem na mesma sílaba, sendo que uma delas é mais forte do que a outra (CELCE-MURCIA; BRINTON; GOODWIN, 2006; ROACH, 2009; SILVIA, 2020). A vogal não acentuada se chama glide. Em um ditongo decrescente, segundo Silva (2020, p. 146), “a vogal decresce do status de vogal para o de glide”. No inglês, ocorrem cinco ditongos

decrescentes: /aɪ/ /eɪ/, /ɔɪ/, /aʊ/ e /oʊ/, os quais terminam com os glides /ɪ/ e /ʊ/. Esses ditongos existem no português e no inglês, com pequenas diferenças articulatórias. Assim, estudaremos os três primeiros, e, mais adiante, os dois últimos. Além desses cinco, Roach (2009) apresenta outros três: /ɪə/, /eə/ e /ʊə/, o quais são denominados de ditongos centralizados.

Ditongos são duas vogais que ocorrem na mesma sílaba, sendo que uma

delas é mais forte do que a outra.

Os fonemas vocálicos adotam diversos símbolos, dependendo do autor ou do dicionário. Silva (2020) aponta que /aɪ/ pode ter, como símbolos concorrentes, /ɑɪ/ ou /ɑi/. O símbolo concorrente de /eɪ/ é encontrado, como /ei/ ou /ey/, e o símbolo concorrente de /ɔɪ/ como /oɪ/ ou /oi/. Neste livro, adotaremos os símbolos /aɪ/ /eɪ/, /ɔɪ/, respectivamente.

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Silva (2020, p. 146) explica que, “na articulação de glides, a língua se movimenta contínua e ininterruptamente de uma determinada posição vocálica, por exemplo, de /a/, para uma outra posição vocálica, por exemplo, /ɪ/. A posição dos lábios também é alternada contínua e ininterruptamente”.

Quer praticar esses fonemas? Veja os vídeos do canal Sound American.

Som do Ditongo / aɪ /, como em “like” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/8uD-GuuSgyk.

Som da vogal / eɪ /, como em “make” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/0RXzfRcjk-s.

Som do ditongo /ɔɪ/, como em “boy” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/ZfjPBN22mK8.

Os correlatos ortográfi cos dos fonemas /aɪ/ /eɪ/ e /ɔɪ/, segundo Silva (2020), serão indicados a seguir:

QUADRO 12 – CORRELATOS ORTOGRÁFICOS DE /Aɪ/, /Eɪ/ E /Ɔɪ/

Correlatos ortográfi cos de /aɪ/i side /saɪd/ ie tried /traɪd/

ai aisle /aɪl/ ei height /haɪt/ae maestro /ˈmaɪ.stroʊ/ aye aye-aye /aɪ.aɪ/y style /staɪl/ ey eye /aɪ/

uy buy /baɪ/Correlatos ortográfi cos de /eɪ/

a grade /ɡreɪd/ ay say /seɪ/ai pain /peɪn/ ea great /ɡreɪt/

Correlatos ortográfi cos de /ɔɪ/oi oil /ɔɪl/ oy boy /bɔɪ/

FONTE: Adaptado de Silva (2020)

2.2.7 /Aʊ/ E /oʊ/A respeito dos ditongos decrescentes terminados em /ʊ/, Silva (2020, p.

149) chama atenção para a característica articulatória, comparando com a língua portuguesa. Veja:

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

Observe que, em inglês, nos ditongos decrescentes terminados em ʊ, o glide (representados por ʊ) tem características articulatórias próximas da vogal ô, no português (na palavra vovô). Já no português, nos ditongos terminados em ʊ, o glide tem características articulatórias mais próximas da vogal u, em tatu.

Como nos ditongos estudados anteriormente, na articulação dos glides, a língua e os lábios se movimentam de forma contínua e ininterrupta, de uma posição vocálica /a/ ou /o/ para outra /ʊ/.

Os fonemas vocálicos adotam diversos símbolos, dependendo do autor ou do dicionário. Silva (2020) aponta que /aʊ/ pode ter, como símbolos concorrentes: /ɑː/, /ɑ/ ou /ā /, e o símbolo concorrente de /oʊ/ ser encontrado como /a/. Neste livro, adotaremos os símbolos /aʊ/ e /oʊ/, respectivamente.

Quer praticar esses fonemas? Veja os vídeos do canal Sound American.

Som de ditongo /aʊ/, como em “cloud” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/-V690OA75bA.

Som de vogal / oʊ /, como em “”go” – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/4kPJLHiiGdU.

Os correlatos ortográfi cos dos fonemas /aʊ/ e /oʊ/, segundo Silva (2020), serão indicados a seguir:

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SISTEMA FONOLÓGICO VOCÁLICO E CARACTERÍSTICASSUPRASSEGMENTAIS DA PRONÚNCIA Capítulo 3

QUADRO 13 – CORRELATOS ORTOGRÁFICOS DE /AƱ/ E DE /OƱ/

Correlatos ortográfi cos de /aʊ/ou house /haʊs/ ow now /naʊ/

Correlatos ortográfi cos de /oʊ/o so /soʊ/ ow show /ʃoʊ/

oe hoed /hoʊd/ ao croak /kroʊk/oa boat /boʊt/ ou soul /soʊl/

FONTE: Adaptado de Silva (2020)

2.2.8 /ɪə/, /Eə/ E /ʊə/Esses ditongos ocorrem somente no inglês britânico, uma vez que, no inglês

americano, ocorre /r/ no lugar de /ə/, segundo Silva (2020). A glide, para esses ditongos centrais, é /ə/ (ROACH, 2009).

Os fonemas vocálicos adotam diversos símbolos, dependendo do autor ou do dicionário. Silva (2020) aponta que /aʊ/ pode ter, como símbolos concorrentes, /ɑː/, /ɑ/ ou /ā /, e o símbolo concorrente de /oʊ/ ser encontrado como /a/. Neste livro, adotaremos os símbolos /aʊ/ e /oʊ/, respectivamente.

Quer praticar esses fonemas? Veja os vídeos do canal Pronunciation with Emma.

How to Pronounce /ɪə/ Vowel Sound in English: https://youtu.be/ftwSXO8Fsjk.

How to Pronounce /eə/ Vowel Sound: https://youtu.be/nbEQvRq3p84.

The /ʊə/ Sound (tour, Europe, poor): https://youtu.be/l11euAJJgcs.

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

Os correlatos ortográfi cos dos fonemas /ɪə/, /eə/ e /ʊə/, segundo Silva (2020), serão indicados a seguir:

QUADRO 14 – CORRELATOS ORTOGRÁFICOS DE /ɪƏ/, /EƏ/ E /ƱƏ/

Correlatos ortográfi cos de /ɪə/ie(r) pier /pɪə/ ea(r) really /ˈrɪə.li/ee(r) deer /dɪə/ e(r) hero /ˈhɪə.rəʊ/

Correlatos ortográfi cos de /eə/ea(r) bear /beə/ ai(r) hair /heə/a(r) vary /ˈveə.ri/

Correlatos ortográfi cos de /ʊə/ou(r) tourist /ˈtʊə.rɪst/ u(r) sure /ʃʊə/oo(r) poor /pʊə/

FONTE: Adaptado de Silva (2020)

2.2.9 VoGAL rÓTiCA (r-CoLoriNG)No inglês americano, algumas vogais são afetadas quando certas consoantes

as precedem, como no caso de uma vogal seguida por /r/ em uma mesma sílaba, como em fur, pour, bird e party. Esse processo é chamado de r-coloring, em português, vogal rótica. Explicam Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006), quando a consoante /r/ segue uma vogal, na mesma sílaba, a vogal se antecipa e desliza em direção à posição central, adquirindo a qualidade retrofl exa de /r/, o que altera a articulação de forma bem perceptível.

As vogais róticas são /ɝ/, /ʊr/, /ɪr/, /ɛr/, /ɑr/, /ɔr/, /aɪr/ e /aʊr/. Dentre elas, /ɝ/ e /ɚ/ são as mais recorrentes na língua inglesa e não costumam trazer difi culdades para os aprendizes brasileiros. Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006) apresentam exemplos para ilustrar os graus de vogais róticas, quando /r/ segue as vogais simples /ɪ/, /ɛ/, /ʊ/, /ʌ/, /ɑ/ e /ɔ/ e os ditongos /aɪ/ e /aʊ/. Observe:

QUADRO 15 – VOGAIS RÓTICAS

Vogais simples Vogais róticas/ɪ/ lid /ɪr/ leered/ɛ/ fed /ɛr/ fared/ʊ/ should /ʊr/ assured/ʌ/ hut /ɝ/ hurt/ɑ/ pot /ɑr/ part/ɔ/ caught /ɔr/ court/aɪ/ tie /aɪr/ tire/aʊ/ ow! /aʊr/ our

FONTE: Adaptado de Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006)

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SISTEMA FONOLÓGICO VOCÁLICO E CARACTERÍSTICASSUPRASSEGMENTAIS DA PRONÚNCIA Capítulo 3

As autoras explicam que, quando uma vogal é rótica, algumas das distinções usuais podem emergir ou desaparecer, o que gera um inventário menor de vogais róticas.

Quer saber mais das vogais róticas? Veja o vídeo do canal Sound American.

Revisão dos sons R-Сolored – Pronúncia do inglês americano: https://youtu.be/ZJnrTGH3aXo.

Vamos praticar transcrição fonética?

1 - Identifi que as transcrições e, então, escolha o termo que melhor completa cada sentença a seguir:

/tʃeɪndʒ/ - /θɔt/ - /piːs/ - /puːl/ - /aɪz/ - /hɜrt/

a) It’s hot. let’s enjoy the /__/.b) She /__/ she had been invited.c) Let’s /t__/ clothes to the party.d) He was /__/ in the accident.e) Look at my /__/.f) Hippies believed in love and /__/.

2 - Decifre as mensagens a seguir:

a) /wʌns juː pɜrˈsweɪd jʊrəˈpiːəm ˈwɪmən tə wɛr ˈsʌmθɪŋ ðə rɛst əv ðə wɜrd wɪl ˈfɑloʊ/.

b) /ðə fuːl ˌʌndərˈstʊd ðə gʊd bʊk/.

c) /aɪ sɛd bæd/.

d) /huːz kæt ɪz ɪt/.

e) /juː kænt tiːtʃ ən oʊld dɑːg nuː trɪks/.

f) /aut əv ðə ˈfraɪ.ɪŋ pæn ænd ˈɪn.tuː ðə ˈfaɪr/.

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

3 CARACTERÍSTICAS SUPRASSEGMENTIAS: ALÉM DO FONEMA

No Capítulo 1 deste livro, já nos referimos às características suprassegmentais da pronúncia. Em suma, essas características estão relacionadas a aspectos que vão além do fonema, no caso, são questões de ritmo, de entoação e de tonicidade. Dessa forma, falaremos das sílabas, tonicidade, ritmo e entoação.

3.1 SÍLABASA sílaba é uma unidade rítmica da fala, uma estrutura sonora

formada por uma “batida” em uma palavra, de acordo com Yoshida (2013). Conforme vimos no Capítulo 1 e reforçamos neste capítulo, cada sílaba é formada por uma vogal (na maioria dos casos, em outros, ocorre a consoante silábica). Roach (2009) nos lembra de que, quando olhamos para a natureza das vogais e das consoantes (já explicitadas neste livro), podemos defi nir o que é cada um desses conceitos pela

perspectiva fonética (em relação a quanto o ar é obstruído) ou pela perspectiva fonológica (vogais e consoantes têm distribuições distintas).

O autor acredita que, para defi nir uma sílaba, devemos levar em consideração as duas perspectivas também. Foneticamente, ou seja, em relação ao modo como as produzimos e como elas soam, sílabas são, geralmente, descritas como consistindo o centro, o qual tem pouca ou nenhuma obstrução da corrente de ar egressiva e soa alto; antes e depois desse centro, ou seja, no começo e no fi m da sílaba, há obstrução da corrente de ar egressiva e/ou som menos alto. Assim, as sílabas podem ser feitas de uma única vogal isolada (minimum syllabe), ter uma ou mais consoantes que precedem o centro da sílaba (onset), terminar com uma ou mais consoantes (coda), e ocorrer os dois casos, onset e coda, simultaneamente.

De modo mais simples, Yoshida (2013) explica que as sílabas, às vezes, apresentam uma ou mais consoantes antes ou depois da vogal. Observe alguns exemplos:

A sílaba é uma unidade rítmica da fala, uma estrutura sonora formada por

uma “batida” em uma palavra.

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SISTEMA FONOLÓGICO VOCÁLICO E CARACTERÍSTICASSUPRASSEGMENTAIS DA PRONÚNCIA Capítulo 3

QUADRO 16 – SÍLABAS NA LÍNGUA INGLESA

book 1 sílabapen-cil 2 sílabas

com-put-er 3 sílabasdic-tion-ar-y 4 sílabas

con-grat-u-la-tions 5 sílabasre-spon-si-bil-i-ty 6 sílabas

FONTE: Adaptado de Yoshida (2013)

Na perspectiva fonológica, a defi nição de sílaba é um tanto diferente, explica Roach (2009), pois envolve analisar as possíveis combinações dos fonemas da língua inglesa. Para isso, devemos compreender o que pode ocorrer no início da primeira palavra quando começamos a falar após uma pausa. Nota-se que uma palavra pode iniciar com uma vogal ou com uma, duas ou três consoantes, mas nenhuma palavra com mais de três consoantes. Da mesma maneira, é possível compreender como uma palavra termina quando é a última de uma fala antes da pausa, e ela pode terminar com uma vogal ou com uma, duas, três ou, raramente, quatro consoantes.

Como você conta sílabas em português? Você acha que podemos fazer da mesma forma em inglês?

Em português, quando conhecemos as sílabas na escola, aprendemos a contá-las, associando-as à sonoridade, à “batida” da palavra. Muitos são incentivados, por professores, a usar os dedos, a bater palmas ou algo similar, para auxiliar a sentir melhor esse ritmo. Em inglês, o método é o mesmo, mas por que identifi car as sílabas em língua inglesa parece ser algo tão complexo para os aprendizes brasileiros? Yoshida (2013) lista algumas situações que podem gerar essa confusão na contagem:

• quando um fonema vocálico tem correlato ortográfi co com mais de uma vogal, ou com o fi m -e (que é mudo), como nos termos read, beautiful e make, os aprendizes tendem a contar as letras vocálicas ao invés dos sons;

• em alguns casos, é difícil defi nir se uma sequência de duas letras vocálicas representa uma sílaba ou duas, como em cream e suit, em que cada uma tem uma sílaba, mas create e ruin apresentam, cada uma, duas;

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

• em palavras com encontros consonantais, os aprendizes podem achar que cada consoante deve ter a própria sílaba, principalmente, se for um nativo de língua que possui estrutura silábica rigidamente dividida em consoante-vogal, com pouco ou nenhum encontro consonantal. Por exemplo, spring e strike podem parecer que possuem mais de uma sílaba para os aprendizes que não estão familiarizados com encontros consonantais;

• aprendizes de línguas que não possuem fonemas consonantais em fi ns de palavras tendem a adicionar uma vogal estra depois da consoante e, assim, acreditam que isso é uma sílaba a mais;

• muitos aprendizes podem se confundir com a ortografi a de algumas palavras, com “disappearing syllables”, geralmente, não pronunciadas.

Algumas palavras da língua inglesa são, normalmente, pronunciadas com o que é chamado de disappearing syllabes, ou seja, são letras que vemos na ortografi a da palavra, e se pronunciarmos essa palavra de forma lenta e cuidadosa, é possível ouvir a sílaba, mas, em uma fala normal, não é pronunciada. Um exemplo é o termo em inglês chocolate, que aparenta ser constituído de três sílabas, choc-o-late, mas, na fala normal, tem apenas duas sílabas: /ˈtʃɑːk.lət/. Isso não deve ser visto como algo desleixado ou descuidado, pois é um processo comum e aceitável na língua inglesa (YOSHIDA, 2013).

3.2 ESTRUTURA SILÁBICA DA LÍNGUA INGLESA

Analisaremos a estrutura silábica de forma mais detalhada. Iniciaremos com as sílabas onset, nas quais as consoantes precedem o centro vocálico, segundo Roach (2009). Se a primeira sílaba de uma palavra começa com uma vogal (qualquer vogal pode ocorrer, apesar de /ʊ/ ser raro), considera-se que essa sílaba inicial tem onset zero. Se a sílaba começa com uma consoante, essa consoante inicial pode ser qualquer fonema consonantal, exceto /ŋ/, e /ʒ/ é raro.

Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006) explicam que a estrutura silábica mais comum e universal nas línguas é CV, ou seja, uma sílaba composta por

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SISTEMA FONOLÓGICO VOCÁLICO E CARACTERÍSTICASSUPRASSEGMENTAIS DA PRONÚNCIA Capítulo 3

um fonema consonantal seguido por um vocálico. Diversas palavras, em inglês, seguem esse padrão: see, pay, buy e you. Entretanto, muitas monossílabas da língua inglesa seguem o modelo CVC, ou seja, uma sílaba composta por um fonema consonantal, seguido por um vocálico e por outro consonantal. Veja alguns exemplos: seem, paid, bite, dip, bed, mat, book, goal e zoom. As autoras nos lembram, também, de que nem todos os fonemas vocálicos podem ocorrer no modelo CV, mas todos podem aparecer no modelo CVC.

Quando há duas ou mais consoantes juntas, iniciando uma sílaba, chamamos de encontro consonantal (consonant cluster) (CELCE-MURCIA; BRINTON; GOODWIN, 2006; ROACH, 2009). Os encontros consonantais com duas consoantes são de dois tipos em inglês: a) composto por /s/ (consoante pré-inicial), e seguido por um grupo pequeno de consoantes (consoante inicial), como sting, sway e smoke; e b) composto por um conjunto de quinze consoantes (consoante inicial), como /p/, /t/, /k/, /b/, /d/, /g/, /f/, /θ/, /s/, /ʃ/, /h/, /v/, /m/, /n/, /l/, e seguido por /l/, /r/, /w/ ou /j/ (consoante pós-inicial), como em play, try, quick e few. Existem algumas restrições em relação a quais consoantes podem ocorrer juntas.

Com relação a encontros consonantais com três consoantes, explicam Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006) e Roach (2009), pode-se perceber uma clara relação entre eles e os dois tipos de encontros consonantais formados por duas consoantes citadas no parágrafo anterior, como split, stream e square. O /s/ é a consoante pré-inicial, /p/, /t/, /k/, que seguem o /s/ nos exemplos dados, são consoantes iniciais, e /l/, /r/ e /w/ são consoantes pós-iniciais. A quantidade de possibilidades de encontros consonantais iniciais formados por três consoantes é bem reduzida, e podem ser defi nidos por completo. Alguns exemplos são split, spray, spew, string, stew, sclerosis, screen, squeak e skewer. Observe as combinações:

Quando há duas ou mais consoantes

juntas, iniciando uma sílaba, chamamos

de encontro consonantal

(consonant cluster).

FIGURA 5 – POSSÍVEIS COMBINAÇÕES DE ENCONTROS CONSONANTAIS INICIAIS COM TRÊS CONSOANTES

FONTE: Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006, p. 86)

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

De forma similar, analisamos os encontros consonantais em fi ns de sílabas. Nesses casos, explica Roach (2009), atentamo-nos à possibilidade de um encontro consonantal com quatro consoantes. Se, no fi m da sílaba, não há consoantes, chamamos de coda zero. Quando há somente uma consoante, de consoante fi nal. Qualquer consoante pode aparecer em posição fi nal, exceto /h/, /w/ e /j/.

A consoante /r/ é um caso especial, pois, no inglês britânico, não é pronunciada, e, no inglês americano, surge como vogal rótica. Há dois tipos de encontros consonantais com duas sílabas, uma começando com a consoante pré-fi nal, seguida da consoante fi nal, e outra com a consoante fi nal seguida de consoante pós-fi nal. O grupo das consoantes pré-fi nais são: /m/, /n/, /ŋ/, /l/ e /s/, como em bump, bent, bank, belt e ask. O grupo das consoantes pós-fi nais são /s/, /z/, /t/, /d/ e /θ/, como em bets, beds, backed, bagged e eighth.

Nos encontros consonantais com três silabas, ocorrem duas situações. Na primeira, a primeira consoante é a pré-fi nal, seguida da consoante fi nal e da consoante pós-fi nal. A segunda situação demonstra como mais de uma consoante pós-fi nal pode ocorrer em um encontro consonantal fi nal, daí a estrutura consoante fi nal seguida de dois fonemas consonantais pós-fi nais. Veja exemplos:

QUADRO 17 – ENCONTRO DE TRÊS CONSOANTES EM FINS DE SÍLABAS

Pré-fi nal, seguida da consoante fi nal e da consoante pós-fi nalExemplo Pré-fi nal Final Pós-fi nalhelped /l/ /p/ /t/banks /ŋ/ /k/ /s/bonds /n/ /d/ /z/

twelfth /l/ /f/ /θ/Consoante fi nal seguida de duas consonante pós-fi nais

Exemplo Pré-fi nal Final Pós-fi nal 1 Pós-fi nal 2fi fths - /f/ /θ/ /s/next - /k/ /s/ /t/

lapsed - /p/ /s/ /t/FONTE: Adaptado de Roach (2009)

A maioria dos encontros consonantais fi nais com quatro consoantes, afi rma Roach (2009), pode ser analisada como uma consoante fi nal precedida por uma consoante pré-fi nal e duas consoantes pós-fi nais, como em twelfths e prompts. Uma pequena quantidade de casos parece exigir uma análise diferente. São termos que não possuem uma consoante pré-fi nal, mas surgem três consoantes pós-fi nais. Observe os casos a seguir:

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SISTEMA FONOLÓGICO VOCÁLICO E CARACTERÍSTICASSUPRASSEGMENTAIS DA PRONÚNCIA Capítulo 3

QUADRO 18 – ENCONTRO DE QUATRO CONSOANTES NO FIM DE SÍLABAS

pré-fi nal fi nal pós-fi nal 1 pós-fi nal 2 pós-fi nal 3twelfths /l/ /f/ /θ/ /s/ -prompts /m/ /p/ /t/ /s/ -sixths - /k/ /s/ /θ/ /s/texts - /k/ /s/ /t/ /s/

FONTE: Adaptado de Roach (2009)

Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006) chamam atenção para a forma como os nativos de língua inglesa pronunciam os encontros consonantais fi nais, uma vez que tendem a fazer reduções. Observe:

QUADRO 19 – REDUÇÃO DE ENCONTROS CONSONANTAIS FINAIS

Exemplo Reduçãoasked /skt/ - /st/ /æskt/ - /æst/asks /sks/ - /ss/ /æsks/ - /æss/lists /sts/ - /ss/ /lɪsts/ - /lɪss/facts /kts/ - /ks/ /fækts/ - /fæks/

scripts /pts/ - /ps/ /skrɪpts/ - /skrɪps/fi fths /fθs/ - /fs/ /fɪfθs/ - /fɪfs/sixths /ksθs/ - /ks/ /sɪksθs/ - /sɪks/tenths /nθs/ - /ns/ /tɛnθs/ - /tɛns/

FONTE: Adaptado de Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006)

3.3 DIVISÃO SILÁBICARoach (2009) refl ete a respeito da questão da divisão silábica, afi rmando

que ainda há uma questão não respondida, de como se decide a divisão entre sílabas quando encontramos uma sequência conectada. O que acontece é que, frequentemente, uma ou mais consoantes do fi m de uma palavra combinam com o início da palavra seguinte, o que gera uma sequência consonantal que poderia ocorrer em uma única sílaba. Por exemplo, em walked through /wɑːkt θruː/, há a sequência consonantal /ktθr/.

A mesma questão se repete quando pensamos na divisão de palavras com mais de uma sílaba. Por exemplo, o termo morning /mɔːrnɪŋ/ consiste em duas sílabas, mas como essa divisão foi estabelecida? Seria mɔːr e nɪŋ ou mɔːrn e ɪŋ? Um caso mais complexo, apontado por Roach (2009), é a palavra extra /ekstrə/. Veja as possibilidades de divisão apresentadas pelo autor (o símbolo . marca o limite da sílaba):

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

• e.kstrə.• ek.strə.• eks.trə.• ekst.rə.• ekstr.ə.

Qual é a divisão certa? A direção para a divisão de sílabas mais aceita é a máxima do princípio dos onsets, segundo Roach (2009). Tal princípio afi rma que, na divisão de sílabas, as consoantes, entre elas, devem fi car no lado direito da sílaba, não no esquerdo. Aplicando esse princípio no termo morning, a divisão silábica seria mɔːr.nɪŋ (/r/ é rótico). Ao seguir essa regra, a divisão silábica de extra seria e.kstrə, mas sabemos que uma sílaba, em inglês, não pode começar com kstr. Então, na divisão silábica, as consoantes são direcionadas para a direita, mas respeitando as restrições que regem as sílabas onsets e as codas. Isso signifi ca que devemos rejeitar a divisão (a) e.kstrə, devido à impossibilidade de onset, e (e) ekstr.ə , pela impossibilidade de coda. Dessa forma, pelo princípio dos onsets, a opção correta é (b) ek.strə.

3.4 TONICIDADEQuando uma palavra tem mais de uma sílaba (palavras

polissilábicas), uma delas é tônica, ou seja, essa sílaba tem mais ênfase na pronúncia do que as outras. Yoshida (2013), Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006) e Roach (2009) defi nem sílaba tônica como aquelas sílabas, dentro de uma sentença, que são mais longas, mais altas, mais altas em tom. Nem todas as sílabas tônicas têm essas qualidades, principalmente, se o falante falar de forma rápida, argumenta Yoshida

(2006), mas, de qualquer forma, são sinais de como um estudante pode identifi car a sílaba tônica. A tonicidade, explicam Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006), envolve um grande dispêndio de energia, conforme o falante expele o ar dos pulmões e articula as sílabas. Esse processo todo é, sem dúvidas, o que permite, ao nativo, entoar o ritmo das sílabas de uma palavra ou de palavras de uma sentença.

É importante dar ênfase à sílaba correta, pois, se errada, pode causar desentendimento. O’Connor (1980) e Yoshida (2013) explicam que compreendemos as palavras não somente pelo som, mas, também, pelo padrão de tonicidade. Por exemplo, se um falante pronuncia a palavra conversation da seguinte maneira kɑːn.vɚ.seɪ.ʃən, ao invés de pronunciar da forma esperada, kɑːn.vɚ.seɪ.ʃən, pode levar um tempo para compreender que palavra é e o signifi cado.

A direção para a divisão de sílabas

mais aceita é a máxima do princípio dos onsets, segundo

Roach (2009).

É importante dar ênfase à sílaba correta, pois, se

errada, pode causar desentendimento.

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SISTEMA FONOLÓGICO VOCÁLICO E CARACTERÍSTICASSUPRASSEGMENTAIS DA PRONÚNCIA Capítulo 3

A diferença entre sílabas tônicas e sílabas átonas, na língua inglesa, é muito mais acentuada do que em outras línguas. Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006) comparam os padrões tônicos da língua inglesa com a língua francesa. Observe:

FIGURA 6 – COMPARAÇÃO - PADRÃO TÔNICO DO INGLÊS COM O FRANCÊS

FONTE: Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006, p. 132)

Nessa comparação, pode-se observar que o padrão tônico da língua inglesa não se dá somente pelo fato de a sílaba ser tônica ou não, como no francês e no português, mas que há uma graduação na tonicidade (observe o tamanho das bolinhas). Yoshida (2013), Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006) e Roach (2009) explicam que, no inglês, há três níveis de tonicidade, que se referem à forte, média e fraca. Alguns teóricos usam diferentes expressões, como primário, secundário e terciário, ou tônica forte, tônica fraca e átona. Neste livro, adotaremos a última opção.

Para indicar a tonicidade das sílabas em transcrições fonéticas, convencionou-se o símbolo ˈ para a sílaba tônica forte, e o símbolo ˌ para a sílaba tônica fraca, que são postos antes da sílaba em questão. Para sílabas átonas, não há a necessidade de indicar por meio de símbolos. Observe alguns exemplos: under /ˈʌn.dɚ/, clockwork /ˈklɑːk.ˌwɝːk/, aptitude /ˈæp.tə.ˌtuːd/.

Assista ao vídeo Word Stress in American English: English Rhythm for Clear Pronunciation (Syllable Stress), do canal English With Kim, e aprenda mais a respeito do assunto: https://youtu.be/vvdFF5PO1G8.

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

Outra característica da tonicidade das palavras em inglês é que a tônica pode ocorrer em qualquer sílaba, dependendo da origem do termo. Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006) explicam que essa aparente falta de previsão, a respeito de que sílaba é tônica, é confusa para alguns estudantes, cuja tonicidade dos termos da língua materna ocorre de modo mais transparente. Algumas regras e generalizações podem nos dar dicas de qual sílaba é a tônica, segundo Yoshida (2013). Para isso, devemos levar em conta a origem histórica da palavra, prefi xos e sufi xos e a função gramatical da sentença.

De acordo com Avery e Ehrlich (1992), citados por Yoshida (2013), substantivos formados com duas sílabas têm a primeira sílaba tônica em cerca de 90% das vezes, enquanto verbos com duas sílabas apresentam a primeira sílaba tônica em cerca de 60% das vezes. Alguns exemplos de substantivos são table /ˈteɪ.bəl/, pencil /ˈpen.səl/ e apple /ˈæp.əl/, e, de verbos, receive /rɪˈsiːv/, appear /əˈpɪr/ e believe /bɪˈliːv/. Há casos em que o substantivo e o verbo são escritos da mesma forma, porém, a tonicidade é diferente, como em permit: /ˈpɝː.mɪt/ (substantivo) – primeira sílaba é tônica, e /pɚˈmɪt/ (verbo) – segunda sílaba é tônica. A autora menciona que nem todos os pares substantivos-verbos seguem esse padrão. Por exemplo, travel, practice e answer podem ser usados como substantivos e verbos, sempre com a primeira sílaba tônica.

Os termos result, command e attempt têm a segunda sílaba tônica sempre. Há, ainda, casos em que uma palavra pode ser pronunciada com a primeira silaba tônica e a segunda, como ocorre em adress. Yoshida (2013) explica que a língua costuma ser variável e inconsistente. A esse grupo de palavras com a mesma pronúncia, mas com classes gramaticais distintas, Roach (2009) chama de pares de classes de palavras (word class pairs). Nesse grupo, além de substantivos e verbos, o autor considera os adjetivos. Veja alguns exemplos a seguir:

QUADRO 20 – TONICIDADE EM CLASSES GRAMATICAIS

Exemplo Substantivo Adjetivo Verboabstract /ˈæb.strækt/ /ˈæb.strækt/ /æbˈstrækt/export /ˈek.spɔːrt/ - /ˈek.spɔːrt/perfect /ˈpɜː.fekt/ /ˈpɝː.fekt/ /pəˈfekt/object /ˈɑːb.dʒɪkt/ - /əbˈdʒekt/record /ˈrek.ɚd/ /ˈrek.ɚd/ /rɪˈkɔːrd/

FONTE: Adaptado de Roach (2009)

Outro fator que infl uencia a tonicidade é a origem da palavra. De acordo com Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006), nas palavras de origem germânica, a primeira sílaba é a tônica, como em father /ˈfɑː.ðɚ/, yellow /ˈjel.oʊ/ e fi nger /ˈfɪŋ.ɡɚ/. Atualmente, muitas palavras de duas

Outro fator que infl uencia a

tonicidade é a origem da palavra.

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SISTEMA FONOLÓGICO VOCÁLICO E CARACTERÍSTICASSUPRASSEGMENTAIS DA PRONÚNCIA Capítulo 3

sílabas de origem francesa, e outras línguas, são assimiladas fonologicamente, e seguem o padrão germânico de tonicidade, como em picture /ˈpɪk.tʃɚ/, fl ower /ˈfl aʊ.ɚ/ e manage /ˈmæn.ədʒ/.

Palavras com o mesmo radical, mas que têm sílabas tônicas diferentes, podem gerar alguma confusão. A princípio, essas mudanças podem parecer completamente aleatórias. Observe alguns exemplos apresentados por Yoshida (2013):

• eˈlectric elecˈtricity electrifi ˈcation• ˈtechnical techˈnique techniˈcality• ˈspecify speˈcific specifi ˈcation• ˈnatural ˈnaturalize naturaliˈzation

Um padrão observável nesses termos é a presença dos sufi xos -ic, -ity, -ify, e -tion, adicionados aos radicais para mudar o signifi cado da palavra. Yoshida (2013) explica que certos sufi xos, principalmente, aqueles que foram emprestados do latim e do grego, acentuam uma sílaba em particular. Existem diversos grupos de sufi xos que afetam a tonicidade das palavras de diferentes maneiras. A autora apresenta quatro grupos:

• Grupo 1: muitos sufi xos fazem com que a tônica seja na sílaba logo anterior ao sufi xo, como em congratulations /kənˌɡrætʃ·əˈleɪ·ʃənz/, scientifi c /ˌsaɪənˈtɪf.ɪk/ e musician /mjuːˈzɪʃ.ən/.

• Grupo 2: uma quantidade menor de sufi xos faz com que a tônica caia duas sílabas antes do sufi xo, como em graduate /ˈɡrædʒ.u.ət/, demonstrate /ˈdem.ən.streɪt/ e collaborate /kəˈlæb.ə.reɪt/.

• Grupo 3: alguns sufi xos se acentuam, são emprestados do francês, como em technique /tekˈniːk/, kitchenette /ˌkɪtʃ.ənˈet/ e volunteer /ˌvɑː.lənˈtɪr/.

• Grupo 4: muitos sufi xos não causam efeito tônico na palavra, ou seja, a acentuação permanece na mesma sílaba que estava antes do acréscimo do sufi xo. Muitos são de origem germânica, embora alguns venham do latim. Alguns exemplos são: understandable /ˌʌn.dɚˈstæn.də.bəl/, beautiful /ˈbjuː.t̬ə.fəl/ e emotionless /ɪˈmoʊ.ʃən.ləs/.

Diferentemente dos sufi xos, os prefi xos têm pouco efeito na tonicidade das palavras, afi rma Yoshida (2013). Os próprios prefi xos são, geralmente, átonos ou tônicos fracos, e não causam mudanças tônicas no restante da palavra. Observe alguns exemplos:

• ˈcover unˈcover disˈcover reˈcover• oˈbey disˈobey

Existem diversos grupos de sufi xos

que afetam a tonicidade das

palavras de diferentes maneiras.

Os prefi xos têm pouco efeito na tonicidade das

palavras.

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FoNÉTiCA E FoNoLoGiA Em LÍNGuA INGLESA

• curˈricular extrecurˈricular• apˈpraise reapˈpraise

Assista ao vídeo Pronounce English Words Correctly | Word Stress | Syllables | Pronunciation, do canal mmmEnglish, e aprenda mais a respeito do assunto: https://youtu.be/XAIoSYqzGkY.

1 - Marque a tônica forte das palavras a seguir:

Verbos

a) protect.b) clamber.c) disconect.d) enter.

Substantivos

e) language.f) carrer.g) event.h) connection.

3.5 RITMOComo a música tem um ritmo, cada língua tem o próprio, também, isto é, o

próprio padrão de sílabas, longas ou breves, rápidas ou lentas e mais ou menos enfatizadas. Yoshida (2013) nos lembra de que ritmo não é a mesma coisa de entonação (da mesma maneira, o ritmo de uma música é diferente da melodia). Ritmo está relacionado com tempo, e entonação é como o tom de voz do falante sobe e desce.

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Estudiosos dividem as línguas em dois grupos, baseados no tipo de ritmo (YOSHIDA, 2013):

• Línguas marcadas pelo tempo silábico ou Iiasocronia (syllable-timed languages): língua que possui um ritmo regular, isto é, a duração de cada sílaba é igual, recebendo a mesma ênfase, como o português, o francês e o coreano.

• Línguas marcadas pelo tempo tônico (syllable-timed languages): o ritmo não é tão uniforme, e as sílabas não possuem o mesmo tempo de duração. Sílabas tônicas são mais longas, e as átonas são mais breves e rápidas. Algumas línguas que possuem essa característica são o inglês, o alemão e o russo.

Em inglês, como vimos, nem todas as sílabas têm a mesma duração. De acordo com Yoshida (2013), as sílabas tônicas duram mais do que as átonas, e, juntas, criam um padrão de ritmo do inglês. As sílabas tônicas precisam durar mais e as átonas precisam durar menos, pois, assim, estas não precisam competir com aquelas. Para soar natural, esse padrão precisa estar correto. Observe como é o ritmo em sentenças em inglês:

Em inglês, como vimos, nem todas as sílabas têm a mesma duração.

FIGURA 7 – RITMO EM SENTENÇA NA LÍNGUA INGLESA

FONTE: Yoshida (2013, p. 117)

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O tempo entre a sílaba tônica, em cada sentença, é constante, não precisamente igual, mas bem próximo, apesar de existirem muito mais sílabas átonas, entre alguns pares de sílabas tônicas, do que outros (YOSHIDA, 2013).

A relação de tonicidade das palavras e das sílabas em uma sentença está relacionada ao fato de o termo ser um gramema (function words) ou um lexema (content words). Gramemas são palavras gramaticais, como os pronomes, as preposições, os artigos e as conjunções. Já os lexemas são palavras que possuem uma informação básica de signifi cado, como os substantivos, os verbos, os adjetivos e os advérbios. Dessa forma, os lexemas recebem mais ênfase do que os gramemas, e, geralmente, têm duração maior, enquanto os gramemas tendem a ser átonos e, portanto, com duração menor.

Assista ao vídeo English: A Stress-Timed Language – American Pronunciation, do canal Rachel’s English, e complemente os seus conhecimentos de ritmo: https://youtu.be/PrAe07KluZY.

3.6 ENTOAÇÃOEntoação é a melodia de uma língua, a característica do tom (alto ou baixo)

de quando falamos. É importante usar a entoação de forma apropriada, para que isso facilite a compreensão auditiva. A entoação pode mudar uma afi rmativa para uma pergunta ou mudar um pedido educado para um comando rude. Na entoação, demonstramos nossas emoções, se estamos felizes, tristes, confusos ou bravos.

A entoação, de acordo com Yoshida (2013), não é algo simples e fácil de prever, uma vez que é um ponto variável e pode ser afetada por diversas questões, como pela forma gramatical da sentença, suposições do falante acerca do que o ouvinte sabe ou não sabe, emoções e intenções do falante, a idade e a personalidade dele, se deseja continuar falando ou vai dar a vez para o ouvinte falar, se o falante está lendo um roteiro ou falando livremente, a situação comunicativa (formal ou informal) e outros fatores.

A ideia não é passar, para os estudantes, todos os tipos de entonação que, como pudemos perceber, são inúmeros. O professor deve focar em modelos básicos, os quais os estudantes podem usar de forma confi ável, como um pontapé

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inicial. Com o passar do tempo, podemos expor os estudantes a mais e mais modelos, por meio de material autêntico.

Uma questão importante a ser abordada pelos professores em relação à entoação é a tonicidade da sentença. Uma sentença é constituída por palavras e pelo destaque dado a estas por meio da entoação, podendo mudar o sentido. Por exemplo, na sentença Sarah bought a new car, se se enfatiza o termo “Sarah”, sugere-se que não foi o John ou Peter, mas a Sarah; se enfatizo o “bought”, sugere-se que ela o comprou e não ganhou ou roubou; e, se enfatizo o “car”, sugere-se que ela comprou um carro, e não uma moto ou uma bicicleta.

Para compreender melhor a questão da tonicidade da sentença, assista ao vídeo Sentence Stress: Dica de Pronúncia em Inglês, do canal Inglês na Ponta da Língua: https://youtu.be/knB7g9fvUi8.

A entoação do inglês americano tende a ter uma faixa mais ampla de tom, isto é, com mais altos e baixos, comparando com outras línguas. O movimento do tom, dentro de uma unidade de entoação, é chamado de contorno de entoação. Esses contornos podem se expandir para cima ou para baixo, o que depende do contexto. Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006) sintetizam os contornos de entoação em duas categorias: entoação crescente e decrescente e entoação crescente.

Entoação crescente e decrescente é a mais comum no inglês americano, continuam as autoras. Nesse padrão, a entoação começa em um nível neutro ou médio e, então, sobe para o nível alto, no principal elemento tônico da sentença. Daí, a entoação cai para o nível baixo, sinalizando que a sentença acaba ali; cai para o nível neutro, sinalizando que a sentença não acabou. Tipos de sentenças que possuem essa característica são: sentenças declarativas, perguntas com WH e comandos ou direções.

A entoação crescente também é bem comum no inglês, e começa, geralmente, na sílaba, com destaque para discursiva e contínua, ligeiramente, até o fi m da frase. Celce-Murcia, Brinton e Goodwin (2006) explicam que há duas entoações crescentes diferentes: uma que se move do nível médio para o alto e outra que se move do nível baixo para o médio. Tipos de sentenças que possuem essas características são: perguntas de sim ou não; questões de alternativas;

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sentenças inacabadas, que criam um suspense; perguntas retóricas; perguntas de repetição (quando se repete a pergunta porque o ouvinte não ouviu); e tag questions, sinalizando incerteza.

Quer praticar entoação? Veja os vídeos do canal English with Kim.

Rising Intonation in American English: Yes/No Questions and More!: https://youtu.be/FzdiZnvRVbY.

Falling Intonation in American English: Statements and Information Questions: https://youtu.be/h1k_oN0yvY0.

Choosing Falling or Rising Intonation: Show You’re Done Talking or Ask a Question: https://youtu.be/JAKw-_s1T90.

Assista ao vídeo American Intonation - What They Don’t Teach You in School | The Secrets of Native Speakers, do canal Accent’s Way English with Hadar, e aprenda mais acerca do assunto: https://youtu.be/FStyKn4V8cE.

ALGUMAS CONSIDERAÇÕESNeste capítulo, aprofundamos os nossos estudos e observamos as

características dos fonemas vocálicos da língua inglesa. Vimos que há algumas diferenças vocálicas sutis, que muitos aprendizes brasileiros têm difi culdades para perceber, e são essas questões que devem ser enfatizadas pelo professor durante o processo de ensino-aprendizagem, recorrendo a práticas apresentadas no Capítulo 1 deste livro e a outras mais, que achar conveniente.

Seguimos para as características suprassegmentais da língua inglesa, começando pelas sílabas, descrevendo-as a fi m de compreender como se dá o processo de separação na língua inglesa, algo que pode parecer complexo para nós, brasileiros, uma vez que são estruturas distintas do português. Além disso, analisar a estrutura silábica pode ser muito útil para os aprendizes e para

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os professores, pois os auxilia a se conscientizarem dos tipos de encontros consonantais que apresentam problemas de pronúncia para eles. Já o professor pode recorrer a esse tipo de conhecimento e fornecer exercícios adequados para suprir a difi culdade (ROACH, 2009).

Notamos o quão complexo é descrever a tonicidade de uma língua e como diversos fatores podem alterar a tônica de uma palavra. Diante disso, alguns professores se perguntam se eles devem exigir que estudantes memorizem todas essas regras de tonicidade. Assim como tantos outros aspectos de pronúncia, não é uma boa ideia tentar ensinar regras para os estudantes ou esperar que eles memorizem tudo, principalmente, ao lidar com os mais novos. A melhor maneira é orientar, para que eles mesmos descubram as generalizações básicas da tonicidade das palavras, além de fornecer oportunidades para a prática (YOSHIDA, 2013).

É importante mencionar os padrões de tonicidade do inglês. É necessário compreender, também, que mesmo que eles pronunciem todos os fonemas de forma correta, enfatizar a sílaba errada pode causar mal-entendidos. Dessa forma, é papel, do professor, citar como os nativos enfatizam as sílabas tônicas, como pronunciam as sílabas átonas e quais são os três níveis de tonicidade (tônica forte, tônica fraca e átona).

Ao estudar o ritmo, percebemos, então, que as línguas possuem as próprias características rítmicas, e o inglês é um tanto diferente de algumas línguas dos aprendizes. A fi m de que sejam compreendidos facilmente, os aprendizes precisam ter consciência de que o ritmo é uma importante parte da língua, tentando imitar o ritmo da língua em questão (YOSHIDA, 2013).

Por fi m, a entoação é a melodia da língua e está relacionada com os objetivos da interação (se faço uma declaração, se busco uma informação etc.) e com os sentimentos do falante. Dessa forma, é importante proporcionar, aos estudantes, situações comunicativas nas quais eles possam praticar e aprimorar a fala.

REFERÊNCIASCELCE-MURCIA, M.; BRINTON, D. M.; GOODWIN, J. M. Teaching pronunciation: a reference for teacher of English to speakers of other languages. USA: Cambridge University Press, 2006.

GODOY, S.; GONTOW, C.; MARCELINO, M. English pronunciation for brazilians: the sounds of american english. São Paulo: Disal, 2006.

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O’CONNOR, J. D. Better english pronunciation. USA: Cambridge University Press, 1980.

ROACH, P. English phonetics and phonology: a practical course. USA: Cambridge University Press, 2009.

SILVA, T. C. Pronúncia do inglês: para falantes do português brasileiro. São Paulo: Contexto, 2020.

SILVA, T. C. Fonética e Fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercícios. São Paulo: Contexto, 2014.

YOSHIDA, M. T. Understanding and teaching the pronunciation of english. USA: Yoshida, 2013.