folia de reis em minas gerais

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  • Ciencias Sociales y Religin/Cincias Sociais e Religio, Porto Alegre, ano 15, n. 18, p. 33-55, Ene./Jun. 2013.

    FOLIA DE REIS EM MINAS GERAIS: ENTRESMBOLOS CATLICOS E AMBIGUIDADES

    AFRICANASAndiara Barbosa Neder

    Universidade Federal de Juiz de Fora, Brasil*

    Resumo: O presente artigo busca compreender as relaes de estreitamentoreligioso entre a Folia de Reis, manifestao relacionada ao catolicismo popular(ou santorial) e a religiosidade de matriz africana. No campo a se pesquisar, omunicpio de Leopoldina, Minas Gerais, est a Folia da Ma, formada por umafamlia negra e umbandista, devotos de So Sebastio. Entre os diversos ritu-ais, est a entrega da bandeira em um centro de umbanda, realizado no dia 20de janeiro, dia de So Sebastio no calendrio litrgico catlico. Portanto, essaFolia se caracteriza tanto como uma prtica do catolicismo santorial, quantoexpresso religiosa da umbanda. O palhao por sua vez, o brincante de tantaexpresso e popularidade, entendido pelo vis catlico como o Rei Herodes,ou at mesmo o prprio diabo, simbolicamente possui analogias com Exu.Orienta essa comunicao, a ideia de que os traos da religiosidade afro-brasi-leira e do catolicismo santorial esto imbricados intimamente. Por meio deconversas e entrevistas, anlise das imagens rituais no centro de umbanda e nacasa de Dona Ma, e da chula dos palhaos, procura-se entender a relevnciado mascarado da Folia como produto desse processo de sntese cultural. Por-tanto, nesse contexto sua posio marginal d lugar eminncia como repre-sentante dessa sntese e como brincante de grande notoriedade e simpatiajunto assistncia.

    Palavras-chave: Palhao, Folia de Reis, catolicismo santorial, religiosidade dematriz africana.

    Abstract: This article seeks to understand the relationships between religiousnarrowing Folia de Reis, expressions related to popular Catholicism (or santo-rial) and religiosity of African origin. In the field to be researched, the city ofLeopoldina, Minas Gerais, there is the Mas Folia formed by a black familyand Umbanda followers, devotees of St. Sebastian. Among the many rituals,there is the delivery of the flag in a center of Umbanda, held on January 20,feast of St. Sebastian in the Catholic liturgical calendar. Therefore, this Folia ischaracterized both as a practice of santorial Catholicism, and as Umbanda re-ligious expression. In turn, the clown, character of so much expression andpopularity, is understood by the Catholic looking as King Herod, or even thedevil, bears analogies with Exu symbolically. The idea that the traces of afri-

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    can-Brazilian religion and santorial Catholicism are intimately linked guidesthis communication. Through conversations and interviews, analysis of ima-ges in the center of Umbanda rituals at Dona Mas home, and of Clownsfouls, we seek to understand the relevance of the Masked Revelry as a productof this process of cultural synthesis. So, in that context, his marginal positiongives rise to the eminence as a representative of this synthesis and as a cha-racter of great notoriety and sympathy with assistance.

    Keywords: Clown, Folia de Reis, santorial Catholicism, religiosity of Africanorigin.

    Introduo

    O presente artigo busca compreender as relaes de estreita-mento entre a Folia de Reis, manifestao relacionada ao catolicismosantorial (ou popular) e a religiosidade de matriz africana.

    Como ponto de partida para esta discusso ser analisado oGrupo Folclrico Estrela do Oriente, mais conhecido como Folia daMa. Liderado por Dona Ma, o grupo se apresenta desde o dia 24 deDezembro at o dia de So Sebastio, 20 de Janeiro, na periferia domunicpio de Leopoldina.

    Leopoldina um pequeno municpio situado na Zona da Matamineira. Tem sua origem atrelada crise do ciclo do ouro em MinasGerais, em fins do sculo XVIII. Porm a construo da primeira ca-pela do ento lugarejo data de 1831, dedicada s So Sebastio, que setornou o padroeiro da cidade. Leopoldina encontra seu momento augecom o avano da cafeicultura na regio na segunda metade do sculoXIX. Com a alta atividade cafeeira no Rio de Janeiro, a cafeiculturachegou s terras frteis da Zona da Mata mineira, o que proporcionouum grande crescimento na regio. No sculo XIX Leopoldina era umacidade essencialmente agrria. Em 1883, chegou apresentar o segundomaior nmero de escravos da provncia de Minas Gerais. O que podeesclarecer a presena da cultura negra junto s manifestaes popularesem Leopoldina, como na Folia de Reis, na qual essa influncia se mos-tra bastante efetiva.

    Nesse cenrio permeado pela f catlica e pelas crenas de ma-triz africana, tomando como legtima a ocorrncia da fuso dessas reli-giosidades, torna-se necessrio partir de uma breve discusso sobre aresignificao da tradio e o que isso implica na sua longevidade, bus-

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    cando compreend-la inserida em uma sociedade que sofre transfor-maes. Como afirmou Giovannini (2005): ... os rituais se modificame se adaptam s novas circunstncias, o que evidencia sua insistncia empermanecer diante da vida contempornea, revelando sua capacidadedinmica de adaptao" (GIOVANNINI, 2005, p. 17). A partir da, possvel incluir a Folia da Ma nesse contexto: ela se ressignifica deacordo com a necessidade e devoo dos seus integrantes, sem se con-siderar degenerada, impura ou inferiorizada por suas remodelagens.

    Em um segundo momento, faz-se necessria uma abordagemsobre catolicismo santorial e catolicismo afro-brasileiro, busca-se apre-sentar seus conceitos e idias principais, alm de estabelecer as relaesexistentes entre eles como um ponto de partida para uma anlise maisdirecionada e uma melhor compreenso dos aspectos aparentementecontraditrios que se constroem em torno da Folia. Compreendendo oprocesso de formao do catolicismo santorial, em dilogo constantecom o catolicismo afro-brasileiro e suas peculiaridades, possvel notarque este se encontra na gnese daquele. E que o folguedo em foco nes-ta pesquisa, a Folia de Reis, em especial a Folia da Ma, se apresentamem total consonncia com seus pressupostos, pois um produto e si-multaneamente produtor desse processo vivo da ressemantizao decrenas e prticas dentro da religiosidade brasileira.

    A partir desta Folia especfica, ser traada uma reflexo maisampla sobre a sntese cultural existente no interior dessa manifestaopopular. Como referncia fundamental, a figura do palhao ser colo-cada no centro da discusso. Como personagem de grande expresso,sempre desperta o interesse, seja pela sua performance, pela farda1, oupelo seu simbolismo intrnseco. Mesmo sendo muitas vezes identifica-do com o mal, de acordo com informaes colhidas em entrevistascom folies, o palhao um personagem de grande simpatia e desta-que. E a chula,3 seu momento performtico, o mais esperado pela as-sistncia.2

    Por fim, o palhao no processo de sincretismo cultural e religio-so, revela equivalncias simblicas com Exu, no se furtando de analo-gias com a divindade at mesmo no gestual de sua tradicionalperformance.

    Tradio perdida? O que se ganha e o que se transforma nasperdas

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    importante ressaltar que a tradio oral, to cara s sociedadesafricanas (MONTEIRO, 2005), se mostra como via legtima de conti-nuidade da tradio das Folias de Reis. O ritual passado de gerao paragerao, de pai para filho, num processo hereditrio, mantm seus tra-os essenciais por meio da tradio oral. No h um roteiro escrito aser seguido, h uma ritualstica experienciada desde criana por essesfolies, que interiorizam, a partir do vivido, a prtica ritual. Tambmno h outro modo de se transmitir a performance do palhao senopelas palavras esclarecedoras dos mais antigos e pela observao e par-ticipao mesmo como platia, do momento da chula. A tradio oral forte e viva em Leopoldina e atravs dela a tradio continua sua tra-jetria rumo posteridade, no sem as ressignificaes ricas e necess-rias, mas sempre adiante. Portanto, para se compreender o processopelo o qual a Folia se mantm em pleno vigor na cidade, preciso con-siderar a tradio oral como ponto importante do processo de conti-nuidade cultural, como parte significativa de um todo.

    A longevidade da tradio no encontra um forte aliado apenasna oralidade mas tambm na sua prpria resignificao, o que se confi-gura como uma capacidade de adaptao a novas situaes. Importaneste estudo compreender a relao que os folies mantm com as fes-tas religiosas no sentido de manter e construir sua tradio, como ato-res da sua prpria histria. Nesse contexto, convm explicitar que essatradio no corresponde a um tradicionalismo esttico, estagnado notempo e no espao como uma mera repetio de prticas e rituais obri-gatrios. Capone (2004) ressalta que tradicionalidade diferente de tra-dicionalismo. Este entendido como um comportamento ligado perpetuao da tradio. E tradicionalidade, relevante aqui neste con-texto, uma qualidade inerente ao tradicional, se configurando como aessncia de uma prtica ou de um grupo. (CAPONE, 2004, p. 255)No se pode pensar que a tradio est imune s transformaes queoperam no seio da sociedade em que est inserida. Capone (2004) res-salta que as mudanas esto sempre presentes na tradio, nesse sentidoela sempre passa por ... uma arrumao constante e inconsciente dopassado operado pelo presente... .(CAPONE, 2004, p. 256). Se h algode perptuo, que preservado de maneira imutvel nesse panorama, acapacidade de readaptao da tradio, atravs de sua ressignificao,que impede sua falncia. Segundo Capone (2004) a tradio no umdado pronto e acabado, mas continuamente reinventada e construda apartir da interao social. Alm disso, esse processo interacional con-

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    duz a construo da identidade do grupo. Como afirma a autora:

    No se pode pensar a tradio como um simples reservatrio de ideiasou elementos culturais: ela antes de tudo um modelo de interaosocial. E, por isso, torna-se um dos principais instrumentos de cons-truo da identidade, por meio da seleo de um nmero determinadode caractersticas que ajudam a estabelecer as fronteiras entre ns e osoutros. (CAPONE, 2004, p. 257).

    Portanto, nesta anlise a tradio ser tratada como um elementovivo em Leopoldina, em constante mutao e ressignificao, que trilhaum caminho coerente com a modernidade e no em oposio a ela.Nesse sentido, no se estabelece como horizonte desta pesquisa defen-der um estado de pureza que possa legitimar uma possvel verdade oupadro para a Folia de Reis. O que poderia inclusive definir rigidamenteuma fronteira intransponvel do que certo e errado em uma dada tra-dio de um determinado grupo. Sendo a tradio interacional e cons-truda e com um alto grau de plasticidade, a Folia da Ma segueencerrando seu compromisso com os santos somente no dia 20 de Ja-neiro, dia de So Sebastio, o Santo de devoo do grupo. Essa remo-delagem afirma que a tradio no algo dado, ..mas continuamentereinventado, sempre investido por novas significaes. (CAPONE,2004, p. 257). Quando determinada tradio perde sua plausibilidadepara um grupo deixando de fazer sentido para ele, as pessoas passam ano se identificar com ela mais e assim ela perde sua aderncia. A plas-ticidade da tradio o que a mantm viva como um elemento de inte-rao social, tornando a identificao permanente, o que faz parte doprocesso de construo da identidade daquele grupo de pessoas.

    Assim, a tradicionalidade da Folia de Reis no pode ser entendi-da como uma essncia que se extingue e por isso necessrio resgat-la,como uma sobrevivente ainda protegida dos solavancos da modernida-de em um pequeno lugarejo. Tambm no plausvel analisar Leopol-dina como um pequeno lugar perdido no caos da modernidade, que aresiste e se torna um reduto que abriga a tradio. Essa oposio bin-ria entre tradio e modernidade j problematizada por Capone (2004,p. 256) no se aplica na perspectiva desta pesquisa. pretendido aquiseguir o caminho contrrio, aquele que no prope uma viso de puroversus degenerado, tendendo legitimar uma posio de pureza em umamanifestao que na sua gnese j se encontra degenerada, permeada

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    por influncias outras incontestveis. Portanto no h perda de tradi-o. Nesse sistema no h subtrao, h soma, transformaes e resse-mantizaes.

    Catolicismo Santorial e Catolicismo Afro-brasileiro

    Como ritual do catolicismo santorial, a Folia de Reis se configura comoum importante folguedo encontrado em vrias regies do pas. Na re-gio da Zona da Mata de Minas Gerais, especificamente no pequenomunicpio de Leopoldina, a Folia de Reis uma manifestao popularbastante expressiva. Nesta localidade a religiosidade catlica se mostramuito forte, a cultura e os saberes populares se propagam a partir datradio oral e se remodelam e ressignificam atravs do tempo, perce-bendo que as mudanas se do no interior de sobrevivncias.

    Por catolicismo santorial busca-se entender o catolicismo devo-cional praticado pelos leigos, com base na cosmologia oficial, mas seminterferncia direta da instituio. Esse catolicismo santorial, muitas ve-zes conhecido como popular, entendido como um catolicismo...autnomo expresso em festas tradicionais variadas, devoes aossantos com prticas de estilos mgicos,... . (MARIZ, 2006, p. 56). Parase evitar ambiguidades em torno do termo popular, que pode caracte-rizar tanto algo que pertence ao povo, como tambm algo famoso econhecido, etc., aqui ser utilizado catolicismo santorial, j que essa fa-ceta tradicional de ser catlico caracterizado principalmente pela de-voo aos santos.

    Neste contexto, o leigo assume um papel fundamental de criadore produtor da religio. De acordo com Antoniazzi (1989), o leigo adotauma caracterstica de ...agente relativamente autnomo, capaz de inici-ativa no campo religioso. (ANTONIAZZI, 1989, p. 28). Como assi-nala Mariz (2006), o catolicismo mundial, assim como o brasileiro, marcado pela autonomia e at discordncia das suas prticas e crenaspopulares em relao a Roma. (MARIZ, 2006, p. 57). Nessa perspecti-va, o sagrado e o profano no possuem limites claros, e a linha que ossepara se faz to tnue que se dissolve na efervescncia coletiva dasfestas religiosas.

    Remetendo religiosidade colonial, discutida por Abreu (1994),na qual pode ser identificada uma das razes do catolicismo santorial,pode-se notar que dentro dessa prtica o clero tinha ao limitada. Seu

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    trabalho de evangelizao era pouco expressivo, devido tambm aosparcos recursos da Coroa Portuguesa destinados ao campo religiosobrasileiro. Desse modo, os leigos assumiram o papel de maiores agentesdesse catolicismo, que compreendiam no seu interior diversas sobrevi-vncias pags como supersties e feitios, que atraam tambm os ne-gros, facilitando sua adeso. (ABREU, 1994, p. 183) Na verdade,feitios e supersties, (despidas da carga pejorativa que essas palavrascarregam hoje) tambm faziam parte da contribuio dos negros naformao dessa forma peculiar de religiosidade brasileira. O catolicis-mo santorial tem sua gnese no catolicismo afro-brasileiro. Este seria oproduto de um processo de aproximao entre a religiosidade africanae a cosmologia crist, atravs da interpretao desta pelas lentes daque-la. Segundo Marina de Mello e Souza (2001)

    A adoo do catolicismo foi uma forma de integrao dos africanos eseus descendentes sociedade escravista, estimulada pelos senhores epelos administradores e aceita pelas comunidades negras, que, no en-tanto, tinham formas bastante particulares de vivenciar a religio, rein-terpretando smbolos, ritos e dogmas a partir de suas culturas deorigem. Como vimos, esses processos de reinterpretao eram comunsna frica Centro-Ocidental e aconteceram tambm no Brasil, mesmodiante da opresso, imposta pela sociedade escravista. (SOUZA, 2001,p. 184).

    Este processo vem sendo definido desde a chegada dos escravi-zados africanos no Brasil colnia, e veio se desenvolvendo atravs darelao de africanos e seus descendentes com os colonizadores (j ini-ciada na frica, antes da travessia do Atlntico) e pessoas livres da so-ciedade. Sweet enfatiza que a crioulizao das formas religiosas no foium processo unidirecional, que aponta somente no sentido da puraconverso dos africanos. No s a religiosidade destes era modificadapela catlica, como esta tambm era modificada pela africana. Segundoo autor

    ... a adopo, por parte dos Portugueses, das formas religiosas africanasera, em muitos aspectos, semelhante a adopo das formas catlicaspelos africanos. Portugueses e africanos recorriam aos poderes religio-sos uns dos outros para responder s necessidades temporais e espiri-tuais com que deparavam. (SWEET, 2007, p. 253)

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    Berkenbrock (1999), nesse sentido, assinala que: O sincretismo uma rua de mo dupla. Tanto h elementos cristos em meio s tra-dies africanas, como h elementos africanos na tradio do catolicis-mo brasileiro (principalmente em nvel da piedade popular).(BERKENBROCK, 1999, p. 177).

    No processo de converso dos negros ao catolicismo, muitosbrancos nessa relao, acabavam adotando prticas da religiosidadeafricana, as quais provavam sua eficcia atravs dos resultados tempo-rais apresentados. (SWEET, 2007, p. 255) Dessa forma, pde ser nota-da uma crescente e generalizada crena nos poderes religiososafricanos, mesmo aps a rgida codificao da doutrina catlica peloConclio de Trento. (SWEET, 2007, p. 256). O qual, talvez, no tenhatido grande impacto no cenrio do Brasil no que tange credibilidadedos elementos da religiosidade africana pelos brasileiros. Pode-se suporque a extrema falta de padres no referido espao e tempo histrico,principalmente nas reas rurais, possa ter contribudo para isso.

    Nesse contexto de crioulizao da religiosidade brasileira, Sweetaponta ainda o culto dos santos como uma porta de entrada dos africa-nos na f catlica, pois

    O panteo das figuras religiosas catlicas era, em muitos aspectos, se-melhante ao panteo de espritos ancestrais africanos. Jesus, a VirgemMaria e os santos eram seres humanos que tinham vivido um dia naTerra. [...] Alm disso, tinham o poder mgico de mudar a vida daspessoas. (SWEET, 2007, p. 240-241).

    Assim como os espritos ancestrais africanos, os santos tambmpodiam ser invocados para resolver problemas temporais concretos,num contexto pragmtico. (SWEET, 2007, p. 241). Dessa forma, o au-tor anuncia as influncias da religiosidade africana sobre a religiosidadebrasileira, esta pautada no catolicismo portugus, mas profundamentemodificado pela cosmologia africana. A humanizao dos santos foimais um ponto inserido nesse processo e ressaltado por Sweet (2007, p.241): Os africanos no permitiam que o carter dos santos fosse pe-trificado pela Igreja Catlica. Muitas vezes, transformavam as caracte-rsticas dos santos, tornando-os mais humanos e mais receptivos snecessidades especficas da sua comunidade imediata.

    Como as religies africanas so excessivamente pragmticas, um ato recorrente e natural apelar ao mundo dos mortos para a soluo

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    dos problemas prticos do cotidiano dos vivos. Esse trao foi transfe-rido para a religiosidade brasileira, tanto nas promessas e nos pedidosaos santos milagreiros humanizados e no mais colocados em umpedestal etreo- como na prtica de fazer pedidos a entes queridos quefaleceram e por esse motivo acreditam-se nos seus poderes como in-tercessores junto a Jesus.

    Lima (1988) faz referncia devoo popular em Santo Antnio,e suas inmeras funes, e eficcia na resoluo de problemas de todoo tipo, alm da postura oficial da Igreja Catlica diante do fato:

    A tradio popular atribui a Santo Antnio muitas valias. J o padreAntnio Vieira,[...] denunciava a difuso popular das virtudes cannicasdo Santo que ele tanto reverenciava: Se vos adoece o filho, SantoAntnio se vos foge o escravo, Santo Antnio se mandais a enco-menda, Santo Antnio se esperais o retorno, Santo Antnio se reque-reis o despacho, Santo Antnio se aguardais a sentena, SantoAntnio se perdeis a menor miudeza de vossa casa, Santo Antnio e,talvez, se quereis os bens alheios, Santo Antnio. (LIMA, 1988, p. 3)

    Desta passagem se conclui que a devoo extremada a um SantoAntnio milagreiro e humanizado no corresponde postura oficial daIgreja e sim um trao forte da religio popular, que tem suas origenstambm em uma cosmologia africana. Alis, os santos no catolicismopopular europeu, tambm eram chamados a intervir, para a soluo deproblemas dos homens. Mas a relao que o negro tinha com os santosera diferente, e esta peculiaridade que no era percebida pelos brancos.Souza (2001) ressalta essa relao que os negros mantinham com oSanto Antnio: ...um dos santos majoritariamente escolhidos paraocupar posies de intermedirios entre os homens e os espritos, emais uma vez os sacerdotes catlicos no estranharam a relao que sedesenvolveu entre os negros e o santo. (SOUZA, 2001, p.182). A au-tora ainda relata sobre os castigos impostos imagem do santo e queos sacerdotes j desaprovavam no sculo XIX. A postura oficial daIgreja Catlica ainda hoje se mantm, e percebida por Jorge,4 dono deum terreiro de Omoloc e catlico praticante:

    Eu no vou na missa na Igreja do meu bairro. Chega todo mundo co-chicha. Todo mundo aponta dedo. Porque todo mundo sabe, vem oJorginho macumbero. [...] Sou catlico, fao minha comunho, comun-go, confesso, adoro as procisses... n! Sou esprita, mas sou praticante

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    catlico. [...] Me d ni mim uma ira! Me d uma revolta que eu nem seio que que eu t fazendo ali! [....] Igual tinha um padre aqui, que Deus otenha, faleceu [...] Era s cheg um macumbero que ele comeava a jo-gar essas piada na hora do sermo, da palavra. Que a palavra o qu? a palavra da Bblia. No fal que o macumbero enfi o Santo An-tonho na cachaa, que o macumbero marr o Santo Antonho de cabe-a pra... no era esse o sermo. Tem condio de c ir numa Igrejadessa?5

    Dessa observao de Jorge, pode ser enfatizada alm da posturaortodoxa da Igreja Catlica em relao crena popular em SantoAntnio e as atitudes junto sua imagem, a questo da dupla pertena,como um processo que se insere no contexto do catolicismo afro-bra-sileiro. Este, que corrobora na formao do catolicismo santorial, marcado por essa multiplicidade de crenas encontradas no mesmo in-divduo, como uma prtica alm de possvel, muito naturalizada. Tantoque em Leopoldina muito comum se escutar a seguinte frase: todobom catlico tambm um bom macumbeiro.Essa frase ilustra bem oque Sweet (2007) expe sobre a questo da aceitao de cosmologiasduais na religiosidade brasileira. (SWEET, 2007, p. 255). O autor enfa-tiza que a busca do catolicismo pelos africanos no era uma estratgiade dissimulao frente opresso dos senhores aos seus cultos origin-rios da frica e sim uma escolha seguindo a lgica do empoderamento.Por essa lgica, os vencidos vo cultuar os deuses dos vencedores, poisprovavelmente so to ou mais poderosos que os seus, j que foramsubmetidos escravido, como uma forma de complementaridade es-piritual e fortalecimento, sem se desvencilhar das suas crenas tradicio-nais.

    Abreu (1994), na mesma direo apontada por Sweet (2007),aposta na lgica inclusiva das cosmovises africanas dentro desse pro-cesso de interao entre as diversas religiosidades encontradas em ter-ras brasileiras. De acordo com Berkenbrock(1999) Nesta lgicainclusivista no h lugar para elementos estranhos. Todos eles soordenados dentro da existncia. (BERKENBROCK, 1999, p.174). Se-gundo Abreu (1994) os povos de origem banto compartilhavam de umprocesso chamado complexo cultural ventura/desventura, que no im-plicava o abandono da antiga religio, mas a incorporao e aceitaode smbolos e ritos externos sua cultura. Acreditavam que esses novoselementos poderiam trazer um novo ciclo de fortuna e felicidade. Essa

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    flexibilizao da religio africana no apontava necessariamente parauma converso dos escravos ao catolicismo, tampouco a uma estratgiade esconder as divindades africanas por trs dos santos catlicos. Se-gundo Abreu (1994) Significava, principalmente, a incorporao dasimagens catlicas, dos novos smbolos, religio da frica Central.(ABREU, 1994, p.192).

    Essa flexibilidade prpria da matriz cultural banto, que segun-do Slenes prevalece no Sudeste do pas, com uma relativa homogenei-dade cultural. (SLENES, 2006, p. 279). Entendendo Jesus e os santosdentro da perspectiva politesta, cultuavam-nos assim como cultuavamespritos de ancestrais e no lhes conferindo nenhuma superioridadediante dos seus. Ou seja, lendo o catolicismo com as lentes africanas.No reproduzindo o Catolicismo Oficial de Roma, mas interpretando-o a seu modo, com a plasticidade prpria dos bantos.

    J Berkenbrock (1999), admite a dissimulao como um dos ele-mentos possveis no incio do complexo processo do sincretismo afro-catlico, mas no como nico e tampouco o mais relevante. (BER-KENBROCK, 1999, p. 176)

    Nesse contexto de sincretismo como assinala Berkenbrock(1999), ou de criolizao como Sweet (2007) prefere analisar, havia ati-tudes tanto de represso quanto de permissividade. At porque, comoassevera Abreu (1994), o Catolicismo sempre foi, na medida do poss-vel, tolerante em relao s manifestaes afro-brasileiras, pois a tole-rncia se configura como uma ... estratgia poltica e de controle maiseficaz que a simples represso ... (ABREU, 1994, p. 200). De acordocom Souza (2002) ... havia uma tolerncia com relao a manifesta-es de origem africana quando estas se aproximavam ou se combina-vam com elementos da comunidade senhorial, de origem lusitana.(SOUZA, 2002, p. 131). Assim, a Folia de Reis de origem claramenteportuguesa, no foi inicialmente alvo de perseguio quando os afro-descendentes comearam a lhe imprimir traos da religiosidade e cultu-ra africanas.

    A Folia da Ma

    A Folia da Ma se insere num contexto afro-catlico, no qual afesta assume uma posio central e Dona Ma, como leiga ativa do ca-tolicismo santorial, dinamiza as rezas, as devoes e a prpria festa.

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    (PASSOS, 2002, p.173). Quando Berkenbrock afirma que no a reli-gio que faz a festa, a festa que faz a religio (BERKENBROCK,2002, p.218), ou quando discorre sobre a importncia das festas: A re-ligio organizada, institucionalizada, compreendida a partir dessepressuposto. Sem ele, estas religies cairiam por terra como um baloque perde seu ar quente. No teriam qualquer fora propulsiva.(BERKENBROCK, 2002, p. 219), pode-se pensar que o autor est sereferindo ao catolicismo santorial. Porm, o autor aponta para as reli-gies afro-brasileiras, afirmando ser a festa o ponto de partida dasmesmas. Sob esse ponto de vista, pode ser afirmada uma conflunciaentre o catolicismo santorial e as religies afro-brasileiras. Ambos apre-sentam a festa como um elemento propulsor. Destarte, pode ser afir-mado um processo sincrtico pelo qual passou o catolicismo e asreligies de matriz africana. Entendendo o sincretismo como dilogoentre lgicas ou sistemas diferentes, no qual um modifica o outro porconta dessa interao (BERKENBROCK, 1999, p. 168), pode ser en-tendido que como consequncia desse processo (no somente as duasreligiosidades em questo, mas em contato com outras tantas) foi semoldando uma religiosidade devocional hbrida que est no cerne docatolicismo santorial.

    Como exemplo dessa religiosidade devocional hbrida, pode sercitada a Folia da Ma. Dona Ma coordena o grupo composto por suafamlia e amigos prximos desde 1996. A devoo tem em sua vida pa-pel central, alm disso, a Folia representa para ela (e para muitos fo-lies) nica forma de lazer e um espao para alegria e diverso, ondetodo o trabalho e as madrugadas em claro so recompensados. Deacordo com Monteiro (2010), a Folia Configura-se como uma ce-rimnia de festividade e troca, desenvolvendo-se como entretenimentoe ritual para toda uma populao de folies. (MONTEIRO,2010, p. 9).

    A Folia da Ma conta hoje com um nmero aproximado de 22integrantes, mas um nmero flexvel, visto que a admisso de mem-bros e sada por desobedincia s regras ou por necessidade, no raro.Todos so negros e umbandistas. Tem por Mestre Sr. Turino, comoafinador dos instrumentos Z Cristvo (marido de Dona Ma), comopalhao Rodrigo (filho de Dona Ma) que assume a posio h 15anos, e afirma que aprendeu tudo com o Mestre. A Folia da Ma, selocaliza na periferia da cidade, no bairro conhecido como Nova Leo-poldina. O grupo se mostra como o elo entre o catolicismo e a religio-

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    sidade de matriz africana. Realiza o ritual da Entrega da Bandeira6 to-dos os anos no dia 20 de Janeiro no centro de Umbanda ao lado de suacasa, dirigido atualmente por um dos folies. Dessa forma, observa-seo processo sincrtico no campo emprico: os integrantes da Folia daMa so seguidores de uma religio de matriz africana, participantes deuma festa do catolicismo santorial e devotos de So Sebastio, o queest tudo intimamente ligado e sem qualquer tipo de incoerncia.

    A tradio se redefine de acordo com a realidade dos participan-tes. No dia 6 de Janeiro, ao invs de fazer o arremate7 com a Entrega daBandeira, os folies visitam o Cruzeiro e cantam l o padecimento deJesus na cruz, lembrando seu martrio. Sendo eles devotos de So Se-bastio, padroeiro da cidade de Leopoldina, entregam a bandeira nono dia de Santos Reis, como manda a tradio da Folia, mas continuama jornada at o dia 20 do mesmo ms, dia de So Sebastio. Por isso,Passos (2002) conclui que A lio maior do catolicismo popular, comseu aspecto afetivo e festivo, revelar a possibilidade de o homem in-terpretar, criar e recriar sua cultura, conferindo-lhe significado. (PAS-SOS, 2002, p. 189). Nesse sentido, os hibridismos so recorrentes einmeros nesse universo, o que se clarifica na figura do palhao que se-r discutida adiante.

    O palhao o Rei da Folia

    O palhao pode ser entendido por diversos pontos de vista co-mo o rei da Folia. Primeiramente, comparado com rei por ser o per-sonagem de enorme relevncia na festa. O mais esperado e de grandepopularidade junto assistncia.

    Diante de tamanha notoriedade, j se pode entender a majestademetafrica do mascarado no ritual. Porm, o palhao no s o rei daFolia nesse sentido. De acordo com o mito que se encontra na gnesedo rito, existia de fato um Rei, relacionado ao mal. J de acordo com oconhecimento popular, a histria no composta apenas por um rei,mas por quatro. Um identificado com o mal, Herodes, e trs com obem, os trs Reis Magos. O palhao, em sua ambiguidade, pode repre-sentar tanto o mal, quanto o bem, tanto pode representar Herodes, co-mo Melchior, Garpar e Baltazar. E isso pode diferir de regio pararegio e at de Folia para Folia. Como bem afirma Pereira (1997) CadaFolia recriou o evento mtico de acordo com a situao vivencial do

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    agrupamento... (PEREIRA, 1997, p. 67) Segundo o autor, a maior re-adaptao do mito no processo de ressignificao foi a transformaodos magos em Santos pela religiosidade popular (PEREIRA, 1997, p.66), alis em Santos Reis, e no nmeros de trs. De acordo com oEvangelho de Mateus (Mt 2: 1-12), se fala em apenas uns magos e notrs santos reis magos. Portanto, enquanto em algumas Folias o palhao entendido como o Rei Herodes, em outras pode ser identificado comos soldados do rei e por isso, algumas Folias apresentam mais de umpalhao. Outros grupos ainda o entendem como um soldado arrepen-dido do rei Herodes, e com sua brincadeira tenta ludibriar os outrospara que Maria, Jos e o Menino tivessem tempo hbil para fugir e seesconderem. E em outros lugares, os palhaos so a representao dosReis Magos. Pereira (1997) esclarece que A mitologia que fundamentao ritual explica que os reis tiveram de se disfarar, com mscaras e ves-tes de palhaos, para despistar os soldados de Herodes. (PEREIRA,1997, p. 143) que tinham a ordem de segui-los para se chegar ao Meni-no. Por isso a presena de palhaos mascarados nas Folias. Em outromomento o autor ainda explicita:

    ... quem veste a mscara se torna o representante do santo, passa a fa-lar a linguagem dele, assumindo a sua histria, no seu tempo. A msca-ra tem esse carter mediador, de aproximar o fiel do santo, regulando,contudo, esse contato. Os reis usaram mscaras para mudar sua identi-dade... (PEREIRA, 1997, p. 139).

    Mesmo sendo as mscaras utilizadas nas Folias de Santo Ant-nio do Ba citadas por Pereira (1997) muito diferentes daquelas utiliza-das em Leopoldina e regio, em qualquer Folia elas podem serentendidas como um smbolo da transformao. Mas, sobre as varia-es regionais existentes, Pereira (1997) ressalta tambm as modifica-es ocorridas devido ao tempo: ... com os acrscimos ocorridos notempo, modificou-se essencialmente a fundamentao simblica e hojetemos processos rituais diversos como resultantes de crenas que segeraram em diferentes situaes sociais. (PEREIRA, 1997, p. 67).Berkenbrock (1999) explica essa diferena ressaltada por Pereira se-guindo a lgica da finalidade nos processos sincrticos a que foramsubmetidas as manifestaes populares durante todos esses sculos. Algica da finalidade busca compreender o que a composio de ele-mentos deseja alcanar. (BERKENBROCK, 1999, p. 174). O objetivo

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    de cada grupo social ser diferente de acordo com a regio. E assim osincretismo a que foram submetidas as Folias da comunidade de SantoAntnio do Ba no ser igual ao que as Folias de Leopoldina passa-ram. Por isso as diferenas de significados em torno da figura do pa-lhao: podendo entend-lo tanto como Herodes, e portanto o mal, oucomo os Santos Reis, assim representando o bem, ou ainda um soldadode Herodes arrependido diante do poder do Menino Jesus, que nessemomento est entre o bem e o mal. A ambiguidade do mascarado jcomea a.

    Palhao: Herodes, Santos Reis ou Exu?

    possvel notar que as ressignificaes e o sincretismo entre oselementos da tradio africana e do catolicismo no Brasil no foi dis-creto tampouco pontual. Como exemplo claro da existncia desse pro-cesso de sincretismo afro-catlico pode ser citada a correspondnciaentre os santos e os orixs. Alguns autores como Berkenbrock (1999),acreditam que no incio desse processo a dissimulao ocorreu. O ob-jetivo pretendido seria a realizao dos cultos tradicionais africanosmascarados por trs das imagens catlicas. (BERKENBROCK,1999, p.176). Outros o contradizem, como j analisado aqui.

    De uma forma ou de outra, admite-se que muitas das fusesculturais, inclusive as religiosas, seguiram um caminho de reelaboraocultural. O qual faz parte do processo vivo, e no esttico, de sincretis-mo. Observando a anlise de Berkenbrock (1999) sobre a lgica da fi-nalidade, pode-se perceber que a amlgama de elementos religiosos seconstroem, desconstroem e reconstroem a partir dos objetivos a seremalcanados. Compreendendo o palhao da Folia como produto (nuncaacabado) deste processo, Monteiro (2005) compara o brincante aodanarino africano que por meio de sua dana se relaciona com o sa-grado em movimentos dinmicos que proporcionam momentos dealegria e prazer. Segundo a autora:

    ... comparar o palhao da Folia com o danarino africano que desen-volve, nas prticas rituais, um sentido de seriedade profundamentemarcado pelo ganho de alegria e prazer. [...] Comparativamente, atravsda consolidao da trade danar-batucar-cantar, o palhao da Folia in-cendeia seu corpo e promove, a partir de seus movimentos dinmicos,sua estreita ligao com o sagrado. (MONTEIRO, 2005, p. 64-65).

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    A autora (2010) inclui a atividade deste brincante na performan-ce artstica afro-americana, a qual possui caractersticas prprias queso encontradas na chula do palhao. A partir da, declara que sua per-formance multidimensional, compreendendo desta forma, ritual,dana, msica, acrobacias, etc participativa, performer e assistncia serelacionam, construindo uma linha tnue entre esses elementos oni-presente na vida cotidiana e coloquial, se expressando na relao entresolista e os instrumentos num dilogo constante afirma o estilo pessoaldo artista e por fim, cumpre seu papel socializador e aglutinador, sen-do uma manifestao coletiva. (MONTEIRO, 2010, p.13-14) Ressal-tando a ideia de interao entre o palhao e o pblico, Monteiro (2005)afirma que uma das caractersticas marcantes da performance da tradi-o oral africana o dilogo e interao entre a platia e o performer, oque pode ser percebido claramente na brincadeira do palhao.

    Monteiro (2010) ao comparar o brincante, em toda a sua ambi-guidade, com o ator revela:

    O ator tem recebido atravs dos sculos uma capa de trapaceiro, defalso, e ao mesmo tempo de sagrado e de maravilhoso. O ator vende oque faz mais abertamente e libera as pessoas para rirem-se dos aconte-cimentos mais escondidos, guardados e controversos. O ator despertaadmirao e encantamento pela sua atuao... (MONTEIRO, 2010, p.11).

    Seguindo essa lgica, ela descreve a figura do palhao em suaperformance e revela ainda seu carter profano em contraste com o sa-grado dos outros folies, ressaltando seu vnculo com o mundo real:

    Enquanto ator, ele desperta a admirao, veste-se com roupas coloridase impactantes, transforma-se com a mscara de couro de animal, atrai atodos com o brilho independente das idias ou temas que aborda. aomesmo tempo prximo e reverenciado, e congrega as pessoas, quandorecita, dana e faz acrobacia. Ao atuar, distancia-se do plano existenciale simultaneamente marca com seu pertencimento comunidade, rece-bendo dinheiro no instante da chula, definindo o vnculo da Folia como mundo real. (MONTEIRO, 2010, p.12).

    A autora (2010) analisa a formao da performance do palhao apartir das suas matrizes culturais africanas e conclui: As celebraesdos negros nas procisses, o mascarado que tem parte com o Exu e o

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    amarrado da sua dana, no verso e na msica, so sinais 7da resistnciae dos silncios das culturas africanas encontrados na performance dopalhao da Folia brasileira. (MONTEIRO, 2010, p. 25). Monteiro(2010) ainda cita autores que estabelecem relaes sugestivas para aexistncia de vnculos entre os palhaos e as representaes simblicasde Exu (MONTEIRO, 2010, p. 21).

    Para alm da exposio de Monteiro, possvel perceber equiva-lncias simblicas entre o palhao e a entidade. Birman (1985) afirmaque os Exus na umbanda representam o lado marginal, o domnio darua, a ambiguidade. Ao mesmo tempo em que sincretizado com o di-abo, ele abre caminhos e um bom protetor. Alm disso, o Exu omediador por excelncia entre os deuses e os humanos, transitando en-tre o sobrenatural e o real (BIRMAN, 1985, p. 41-42).

    O palhao na Folia tambm ocupa um lugar marginal, tanto fsi-co quanto simbolicamente, nunca pode ultrapassar a linha da Bandeirae isso respeitado por todos. ambguo por representar o mal, o per-seguidor do menino Jesus e por vezes at o diabo e por isso sua margi-nalidade, e ao mesmo tempo ser o protetor do grupo e principalmenteda Bandeira, o oratrio de caminhada. Quando chegam casa de umdevoto, o palhao no entra, fica na rua onde seu domnio, na portado patro (como. chamado o dono da casa) como sentinela, prote-gendo o grupo e o ritual de qualquer interferncia mal vinda. O lugarde Exu nos centros de umbanda e terreiros de candombl, tambm aporta e seu domnio tambm a rua, e possui a mesma funo domascarado: proteger. Assim como o Exu, o brincante tambm transitana fronteira do real e sobrenatural no imaginrio popular, que assegurater ele o poder de proteger a Folia de almas penadas, animais e tam-bm de ladres e todo tipo de adversidades.

    Em relao performance do palhao, pode ser ressaltada a ma-zurca8 e o ritual da Entrega da Bandeira. Quando pede a mazurca, opalhao encena um andar cambaleante e na Entrega da Bandeira vairastejando at o smbolo sagrado9 da Folia se despindo da farda. Ne-gro (1996) descreve o Exu da seguinte forma: Aparecem nos terreirosrastejando, bebem pinga jogada no cho se eretos tm o andar camba-leante... (NEGRO, 1996, p. 83).

    Na Folia da Ma, um dos figurinos de seus palhaos trs nascostas da capa o ponto de Exu, e por baixo, nas costas da camisa, umcrucifixo. A capa do palhao assim como a de Exu, possui a cor preta evermelha Nota-se grande semelhana entre elas:

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    Entendendo a funo protetora do palhao, ele por sua veztambm precisa de proteo. Esta encontrada na bandeira, em Exu ena Cruz. A Bandeira, ao mesmo tempo em que protegida por ele,tambm lhe oferece cobertura. Exu o protetor por excelncia, nopodendo ser excludo desse time. E a Cruz, segundo Dona Mau,exerce a mesma funo. Por isso, muitos palhaos antes de sair em jor-nada, vo a um terreiro pedir proteo ao pai de santo, carregam cor-do de sete guias e objetos protetores. Como ressalta Brando (2007)No mundo dos catlicos de foice e viola, a fronteira entre religio emagia tem contornos pouco definidos. Por isso, pedir no sarav no

    Figura 01 - Farda completa do palhao da Folia

    Fonte: arquivo pessoal.Figura 02 - Farda do

    palhao da Folia da Ma

    Fonte: arquivo pessoal.

    Figura 03 - Capa de Exu

    Fonte: arquivo pessoal.

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    pecado, mas equivale a usar um recurso a mais. (BRANDO, 2007,p. 266). Utilizando a j citada lgica de flexibilidade da tradio banto,de soma, da complementaridade espiritual, da aceitao de cosmovisesduais.

    Devido ao poder10 conferido pelos brasileiros s religies dematriz africana, Sweet (2007) afirma que ... o poder religioso africanotinha a capacidade de inverter a ordem social. (SWEET, 2007, p. 260).Segundo o autor, era comum que brancos abastados se curvassem di-ante do poder do negro, levando a ele presentes e agrados em troca deseus servios espirituais, tornando-o to importante que se configuravacomo o foco das atenes. (SWEET, 2007, p. 260) Dessa maneira, po-de-se entender que o negro ocupava uma posio inferior socialmente,mas na esfera da magia assumia o comando e era o detentor de poderesespirituais. A umbanda, na qual possvel perceber a relevncia dospersonagens sociais mais desprezados como a prostituta, o malandro, ovelho negro e o indgena, recebe essa herana. Embora marginalizadossocialmente, no culto ocupam posio de destaque, dignos de respeitoe reverncia. Com o palhao acontece algo semelhante: mesmo ocu-pando um lugar no privilegiado na Folia e at mesmo marginalizado,na hora da chula o palhao o Rei da Folia, tornando-se a atraoprincipal, digno de respeito e agrados. Nesse sentido, Monteiro (2005)define que

    Nas caractersticas que compe o perfil do palhao, notamos muitasatitudes restritivas e que so normas no ritual da Folia de Reis, como o caso do palhao ter que caminhar ao lado e nunca frente da ban-deira estar sempre de mscara durante as marchas e caminhadas daJornada no comer ou comemorar junto com os outros folies, em si-nal de respeito. No entanto, em um momento da chula do palhao, hum tipo de comportamento ritual que espelha justamente um senti-mento oposto e coloca o palhao na posio privilegiada de receberdonativos e agrados. (MONTEIRO, 2005, p. 52).

    Desse modo, o palhao tanto representando o bem quanto omal, ou quando assume equivalncias com Exu, o elemento sntese daFolia. Segundo Monteiro (2005) suas vestes, versos e performance emgeral, so influncias diretas das heranas africanas. Por sua naturezaambgua pode transitar simbolicamente entre os dois nveis de existn-cia, espiritual e material. Dessa forma, pode-se entender a relevncia

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    desse brincante em uma manifestao de razes to mltiplas e por issoto rica em sua essncia.

    Consideraes Finais

    Compreendendo a Folia de Reis como uma manifestao inseri-da no catolicismo santorial, pode ser apresentado o seu carter hbrido,enquanto um folguedo pertencente a uma tradio catlica e que apre-senta vrios elementos relacionados cultura afro-brasileira. Porm, seanalisada a formao do catolicismo santorial em oposio a sua inter-face oficial, pode ser percebido que a dupla origem da Folia no apre-senta qualquer dialtica ou discenso, visto que no cerne do catolicismosantorial se encontra o catolicismo afro-brasileiro: uma verso africani-zada da f europia, interpretada pelas lentes africanas, por pessoas queno partilhavam a mesma cosmoviso que lhes apresentavam os portu-gueses. Dessa forma faziam as prprias analogias e ressignificaes apartir do que entendiam por religio, sagrado e f. A partir de uma tra-dio plstica, os banto, responsveis por uma certa unidade nas senza-las do Sudeste do Brasil, percebida por Slenes (2006) quando observauma relativa homogeneidade cultural da senzala (SLENES, 2006, p.279), aderiam f catlica como quem admite mais um elemento naprpria religio. Sem subtrao de nenhum outro, seguiam no sentidode fortalecimento, acumulao de poder religioso. A partir disso, pode-se compreender que organizavam os novos elementos sobre uma gra-mtica africana, ou seja, numa base de tradio banto.

    Nesse contexto, foi apresentada a Folia da Ma, grupo leopoldi-nense de grande relevncia no que tange a questo dos hibridismos en-volvidos nesse cenrio. Nessa Folia a religio de matriz africanaapresenta importncia indiscutvel, visto que na madrugada do dia 20de janeiro cantam no centro de umbanda, iniciando os festejos do en-cerramento da jornada, que se conclui na casa de Dona Ma.

    Esse grupo apresenta uma peculiaridade percebida na farda deum dos palhaos, a devoo a Exu apresentada sem vus. Devoo estaque sobrepe-se cruz, smbolo entendido como catlico11. Esse fatosuscita as questes sobre o lugar da divindade na Folia. Dessa forma, possvel concluir que h equivalncias simblicas entre o palhao eExu, j levantadas por Monteiro (2010) mas no analisadas sistematica-mente, nem mesmo citadas e relacionadas, como foi o intento em de-

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    terminada seo deste trabalho. Analisando o simbolismo e perfor-mance do brincante comparando-os s caractersticas e domnios dadivindade.

    O simbolismo do palhao atinge o auge de suas ambiguidades. nesse aspecto que o palhao pode ser relacionado a um rei, o rei daFolia. Sua nobreza reconhecida tanto em nvel de popularidade ecentralidade junto assistncia, como o significado de suas representa-es: ora se situando no universo do mal, ligado ao Rei Herodes, oraatrelado ao bem, como os Trs Reis Magos. Concluindo, dessa forma,que o mascarado na Folia o personagem que mais instiga e suscitaquestionamentos. Tanto acerca de seus significados mltiplos, comotambm de sua origem. um personagem hbrido por excelncia, ro-deado pelas influncias africanas na performance, muito prxima doperformer africano, nas vestes e no simbolismo.

    Destarte, a partir da reflexo e anlise desenvolvida neste artigo possvel perceber a notoriedade do polissmico mascarado no ritualda Folia de Reis, como manifestao do catolicismo santorial. Nessesentido, uma anlise sobre essa religiosidade to hbrida quanto o povoque lhe deu origem, fez-se necessria. E assim, foi encontrado o cami-nho para se alcanar a compreenso sobre a influncia das culturasafricanas sobre a Folia de Reis, enquanto folguedo de origem branca,mas de caractersticas bem coloridas pelos afro-brasileiros.

    Notas

    * Mestranda em Cincia da Religio pela Universidade Federal de Juiz de Fora, MG. E-mail: [email protected]. Devido maior clareza deste ttulo e preciso sobreo tema tratado, achou-se por bem substituir o anterior pelo atual.1 Vestimenta volumosa e colorida especfica do palhao.2 Platia que assiste performance do palhao, oferecendo-lhe dinheiro em troca deseus gracejos e piadas. Est sempre em interao com o mascarado.3 Ritmo tocado pelos folies para o palhao danar e interagir com a platia. A chula dopalhao o momento da sua performance.4 Jorge dono de um terreiro de Omoloc em Leopoldina. Essa religio constitui emuma fuso do candombl com a umbanda.5 Entrevista realizada com Jorge em sua residncia, dia 21 de abril de 2013, em Leopol-dina, MG.6 Ritual entendido como o encerramento da jornada da Folia naquele ano, geralmenterealizado no dia 6 de janeiro, dia dos Santos Reis, de acordo com o calendrio da IgrejaCatlica. Geralmente (mas no necessariamente) se entrega a bandeira na casa do donoda Folia e este oferece uma festa para receb-la de volta. Neste ritual o palhao se arre-

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    pende de todo mal, se considerado Herodes ou um de seus soldados. Vai de joelhos oumesmo arrastando at a bandeira se despindo da farda e da mscara. Quanto maisemocionado est o palhao neste ritual, maior a nfase no seu arrependimento. Algunsencenam o pranto, outros de fato choram neste momento. Quando alcanam a bandei-ra pedem a sua bno de joelhos e beijam o smbolo ritual sagrado, em sinal de respei-to, adorao e f.7 Festa de encerramento da Jornada da Folia de Reis, geralmente realizada no dia 6 dejaneiro, muitas vezes feita junto com a Entrega da Bandeira.8 Momento da apresentao do palhao caracterizado por um ritmo mais lento.9 A bandeira considerada o smbolo sagrado da Folia, conhecido como o oratrio decaminhada. Confere proteo e beno s casas que a recebe.10 Mesmo os pentecostais e neopoentecostais que hoje demonizam as religies de ma-triz africanas, acreditam em seu poder. Caso contrrio no perderiam tanto tempo eenergia nos seus ataques. Alm disso, apresentam continuidades com as mesmas no quediz respeito s prticas mgicas de cura,etc. Se lhes considerassem ineficazes, no assu-miriam a guerra pelo monoplio dessas prticas.11 Mesmo estando ciente da importncia da cruz para os africanos, anteriormente dis-seminao da f portuguesa em suas terras (SOUZA, 2001, p. 178), essa questo hoje jse encontra mais diluda. Encontrada talvez nos subterfgios da memria coletiva, co-mo na devoo popular direcionada aos cruzeiros, como um ponto a ser venerado.

    Referncias

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