folhetim - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/709697/per709697_1853_00020.pdf · sra. taglioni, acaba...

4
y; L.. >; ;¦,¦.>¦ «¦¦¦-• - æ ²—————-——————^—^——¦ Propriedade de Antônio Maximiano Morando.— Publica-se ás terças, quinta&c sabbados (não sendo dia santo). Subscreve-se : por tres mezes, 1*800. Avulso, 40 rs. Annuncios 40 rs. por linha. Vende-se e assigna-se na rua* do Ouvidor N. 158. As assignaturas serão pagas adiantadas. —A cceita-so qualquer artigo gracioso ecritico, não sendo politico ouaffensivo á moral publica; osfartigos com urgência, pagarão 40 reis por linha, sendo responsáveis seus autores; e entregues no escriptorio até ao meio dia na véspera da folha. APO IV. RIO 113AÍiÍ!liÍA ife U, U FEVEREIRO ÍE i&SS. H. M. I m^iaiBàstn f ^cts^O »Q o 0 y^y^^_ ^\ Precisa-se de um caixeiro de me- nor idade, que fiador á sua con- dueta. para o escriptorio desta folha. VISITA DAS PRIMIiMUS Priminha Maricota estou aíílitissima por sa- ber noticias suas. ²Como assim ? ²Porque me dissérão que a senhora esteve no theatro Provisório no sabbado, e que der- rissou que foi unia cousa nunca vista, e estava com medo que ainda não estivesse pregada no camarote. ²Ora não cassôe, que eu não gosto destas cassoadas. FOLHETIM CARTA DO BARÃO DE KIKIRIKI * Ex-Deputado, á sua esposa a baroneza do mesmo titulo. Hontem de tarde, meu anjo, Tive uma dor de barriga, Eu não sei como lhe diga ! Achei-me nesla tormenta Entre a cruz e agua benta. Veio-me a lagrima ao olho ! Que figura fiz, não sei: O que sei é que chorei, Como em criança chorava, Quando meu pai me açoitava. A minha criada Antonia, Que gosta muito de arroz, Sohre o umbigo me poz Uma enxundia de galinha, Que encontrara ua cosiuha. Esta bom não desconfie, conte-me tudo o que se passou no Provisório. ¦—Representou-se a bella opera— Bondei- rhorit aonde, na minha opinião, tanto brilha aSrâ. Zechinni, c nessa noile esteve bastante inspirada, apesar da maré de vasante em que estava o theatro. O Sr. De Lauro, como sempre, esteve desafinadissimo,corno bem disse o Chro- nista do Diário do Hio este cantor é o Ho- mem do Regresso. OSr. Labocela,o artista sym- pathico do povo fluminense, sempre agrada, e nesta opera, a sua parte inda*que pequena é desempenhada com perfeição, gosto e arte. Emfim gostei muito da opera. Dançarão nessa noite as bailarinas do theatro de S. Pedro, me- nos a Sra. Petit —e a patulêa do Provisório patearão tauto a queredinha Baderna, como a risonha Vandras, lisla receita Baroa Apesar de ser caseira, Nao teve nada (1'asneira; A tal dor se mitigou, E a final se evaporou. È' verdade que tomei Um semicupio caliente; Que o meu doutor assistente, Tendo-me o pulço tomado A' pressa iiííia receitado Esle, mou doutor, Baroa, E' um grande ratazana, , A* primeira vista engana: Não deixa de ter talento, Mas é cabeça de vento. Km lhe cheirando a mulher, Perde logo as estribeiras, l)iz um chorrilho d'asncfras! Receita o qui pro quó, Sem consciência, sem ! lhe soflVi a gracinha, QuMiia cheirando a mortorio ! Impingio-mc um vomilorio, Cm ando-me a dòr tfum dente, Que cra assaz iaiperlinculc. ²Que injustiça prkninha ! ²Que se hade fazer: ha meia duzia de sugeiünhos que querem dominar a platéia desse theatro. —O que elles querem é pescarem nas águas turvas*. ²Por fallar em bailarinas, deixe lhe dar uma noticia. «—Qualé? ²A filha da grande dançarina da Europa a Sra. Taglioni, acaba de casar-se com um principe. ²Deos nosso Senhor os faça felizes. ²Outra cousa priminha, o Exm. Sr. de- zembargador chefe de policia não dará provi-^ dencias para que se acabe de uma vez para' sempre com uma casa de jogo que existe no Nilo me deixava dormir, Nem de noile, nemi de dia, Comia a letria, Todo o Iflxo da cosinha Erão papas de farinha. Como pois a dôr se foi Vou lhe contar o que corre, Muila gente grossa morre Tambem do povo miúdo, Morre senhora de tudo. D. Parca, a quem os vales Pimão de foice na mão, Mala sem ter altemjão Não lhe escapa, o rico, o pobre Ncpi o hurguez, nem o nobre ! Até os próprios barões Sentem da morte o cutelo! Elles vão dando ao chinelo para a tal eternidade, Que me esfria na verdadi*. v Quando me lembro que heide ir A' porta inferi, suo! palavra d'honra 1 que amuo ! Tenho logo uma sezão, Não 'sia mais na miulia mão.

Upload: others

Post on 18-Oct-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: FOLHETIM - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/709697/per709697_1853_00020.pdf · Sra. Taglioni, acaba de casar-se com um principe. ²Deos nosso Senhor os faça felizes. ²Outra cousa

y; L.. >; ;¦,¦.>¦

«¦¦¦-• - —————-——————^—^— —¦

Propriedade de Antônio Maximiano Morando.— Publica-se ás terças, quinta&c sabbados (não sendo dia santo). Subscreve-se : por tresmezes, 1*800. — Avulso, 40 rs. — Annuncios 40 rs. por linha. — Vende-se e assigna-se na rua* do Ouvidor N. 158. — As assignaturasserão pagas adiantadas. —A cceita-so qualquer artigo gracioso ecritico, não sendo politico ouaffensivo á moral publica; osfartigoscom urgência, pagarão 40 reis por linha, sendo responsáveis seus autores; e entregues no escriptorio até ao meio dia na véspera da folha.

APO IV. RIO 113AÍiÍ!liÍA ife U, U FEVEREIRO ÍE i&SS. H. M. Im^iaiBàstn

f ^cts^O »Q o 0 0° y^y^^_ ^\

Precisa-se de um caixeiro de me-nor idade, que dé fiador á sua con-dueta. para o escriptorio destafolha.

VISITA DAS PRIMIiMUS

Priminha Maricota estou aíílitissima por sa-ber noticias suas.

Como assim ?Porque me dissérão que a senhora esteve

no theatro Provisório no sabbado, e que der-rissou que foi unia cousa nunca vista, e estavacom medo que ainda não estivesse lá pregadano camarote.

Ora não cassôe, que eu não gosto destascassoadas.

FOLHETIMCARTA DO BARÃO DE KIKIRIKI

*

Ex-Deputado, á sua esposaa baroneza do mesmo titulo.

Hontem de tarde, meu anjo,Tive uma dor de barriga,Eu não sei como lhe diga !Achei-me nesla tormentaEntre a cruz e agua benta.

Veio-me a lagrima ao olho !Que figura fiz, não sei:O que sei é que chorei, •Como em criança chorava,Quando meu pai me açoitava.

A minha criada Antonia,Que gosta muito de arroz,Sohre o umbigo me pozUma enxundia de galinha,Que encontrara ua cosiuha. •

— Esta bom não desconfie, conte-me tudoo que se passou no Provisório.

¦—Representou-se a bella opera— Bondei-rhorit — aonde, na minha opinião, tanto brilhaaSrâ. Zechinni, c nessa noile esteve bastanteinspirada, apesar da maré de vasante em queestava o theatro. O Sr. De Lauro, como sempre,esteve desafinadissimo,corno bem disse o Chro-nista do Diário do Hio este cantor é o Ho-mem do Regresso. OSr. Labocela,o artista sym-pathico do povo fluminense, sempre agrada, enesta opera, a sua parte inda*que pequena édesempenhada com perfeição, gosto e arte.Emfim gostei muito da opera. Dançarão nessanoite as bailarinas do theatro de S. Pedro, me-nos a Sra. Petit —e a patulêa do Provisóriopatearão tauto a queredinha Baderna, como arisonha Vandras,

lisla receita BaroaApesar de ser caseira,Nao teve nada (1'asneira;A tal dor se mitigou,E a final se evaporou.

È' verdade que tomeiUm semicupio caliente;Que o meu doutor assistente,Tendo-me o pulço tomadoA' pressa iiííia receitado

Esle, mou doutor, Baroa,E' um grande ratazana, ,A* primeira vista engana:Não deixa de ter talento,Mas é cabeça de vento.

Km lhe cheirando a mulher,Perde logo as estribeiras,l)iz um chorrilho d'asncfras!Receita o qui pro quó,Sem consciência, sem dó !

Já lhe soflVi a gracinha,QuMiia cheirando a mortorio !Impingio-mc um vomilorio,Cm ando-me a dòr tfum dente,Que cra assaz iaiperlinculc.

Que injustiça prkninha !Que se hade fazer: ha meia duzia de

sugeiünhos que querem dominar a platéia dessetheatro.

—O que elles querem é pescarem nas águasturvas*.

Por fallar em bailarinas, deixe lhe daruma noticia.

«—Qualé?A filha da grande dançarina da Europa a

Sra. Taglioni, acaba de casar-se com um

principe.Deos nosso Senhor os faça felizes.Outra cousa priminha, o Exm. Sr. de-

zembargador chefe de policia não dará provi-^dencias para que se acabe de uma vez para'sempre com uma casa de jogo que existe no

Nilo me deixava dormir,Nem de noile, nemi de dia,Comia só a letria,Todo o Iflxo da cosinhaErão papas de farinha.

Como pois a dôr se foiVou lhe contar o que corre,Muila gente grossa morreTambem do povo miúdo,Morre senhora de tudo.

D. Parca, a quem os valesPimão de foice na mão,Mala sem ter altemjãoNão lhe escapa, o rico, o pobreNcpi o hurguez, nem o nobre !

Até os próprios barõesSentem da morte o cutelo!Elles vão dando ao chinelopara a tal eternidade,Que me esfria na verdadi*.v

Quando me lembro que heide irA' porta inferi, suo!palavra d'honra 1 que amuo !Tenho logo uma sezão,Não 'sia mais na miulia mão.

Page 2: FOLHETIM - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/709697/per709697_1853_00020.pdf · Sra. Taglioni, acaba de casar-se com um principe. ²Deos nosso Senhor os faça felizes. ²Outra cousa

/

ItfggSjSt&gaSSSSltmW&TESíB&m SXZSU&SSií sascaasaaBtaBEa^rasaaaEasc^^ aa !¦"¦ firüi<.iiirirití^'tar"- soa

largo do Rocio, ainda os paios são depennados¦horrivelmente.

Talvez elle não saiba.t.__ Pois então peça ao primo Chico para ro-

gar-lhe.—• Uma outra cousa que merefie muita a at-

tenção do Exm. Sr. chofe de policia.Está a senhora prima hoje como uma de-nunciante! ,

Não, mas quero dizer certas cousas quesei, para se providenciarem.

Está bom, vá dizendo tudo o que sabe.Em'S. Christovão, pen^pque na rua dos

Quartéis, ha uma venda aonde ha sempre umareunião de vadios, em completa desordem, <3

depois das 10 horas da noite, não ha galinhas,nem perus, e outras cousinhas mais por£ssa visinhança que não sejão,tiradas da casados* seus donos contra a sua vontade.

E não ha inspector de quarteirão ahi?Pra, inspector de quarteirão! Mora

d'ahi bem long<y, em quarteirão muito dis-tante, eno seu, poucos o conhecem, é comoo fiscal do Engenho Velho que não ha al-guem em S. Christovão «me o tenha visto umaúnica vez.

-- Em que desleixo vai esse pobre bairro.Ainda não é tudo: ha um divertimento

muito bello em S. Christovão o jogo da malha á

porta de quanta taverna há; de maneira quenas immediações dessas tavernas duranle oexercicio(do tal jogo, não podem as fcyniliaschegarem aos portões do suas chácaras, ou ás !

janellas de suas casas, por isso que as palavras;obscenas, e as immoralidades qne se pratição Iexigem promptas providencias para a supres-são de tal jogo.

—- E como você sabe destas cousas ?—*. Ainda não é tudo ; em Andarahy ha um

sugeito que depois de 11 horas da noite andapelas chácaras tirando oque encontra, comopor exemplo uma bacia, , ou .outra qualquercousa que por esquecimento tenha, ficadopor ahi.

Dra, é um modo de viver.Nó Engenho Velho quo também existe

um sugeitiuho, bem perto da igreja, que tempor costume andar especulando da vida alheia,e mesmo levantar aleives ás familias, etc.0 etc

Sabe um remédio muito bom para issoQuai é ?

O mal das uvas baroa, *Prejudicou o cachinho,K'aono de pouco vinho.Mas apezar dos poucos cachos,Não ha falta de borrachos.

Temos theatro Uri^ue,No cj.ualf por sulfa nos caniao.

• A* lariuges não cspantão :A Caslelaid poremUm grande mérito tem.

Canta como os anjos cantão,Se é que os anjos são cantores.Eu por mim destes senhoresNão teuho até agora ouvidoNem sequer am sustinido.

A'cerca da coroprimaria,Que a boa mulher me cheira,Já se ergueu grande poeira!Ainuou, sábio, tornou ;A procedia serenou.

Temos theatro franclt,Não é cousa superfina.Não fallando na Paulina,Que é pesyrinha, que temMuito quem lhe queira bem.

Entre os fidalgos que dãoPela Paulina o beicinho,Entra este seu criadinho.Este barão amnteur,Aucun legislateur.

Casca de boi!Mi diga ^friuiinhn diverlio-so multo dia

dos seus annos, tive muito pezar nào visital-a.—Pois não sabe o que perdeu, üve uma reu-

nião de f*imãs § primos muito brilhante.~* Que vocês não farião !

Ora mi àéxe, brincamos muito e a Mari.cota derriçou suflrivehnente eom o primo Ma-noelinho

Usaria das regras excenciaes des namo-radas, priminha?

Gentes, que regras são essas ? ahi vemalguma cacoada das suas quem foi que tal in-veutou? pois para derriçar é preciso haver re-

gras, onomoro priminha,nunca teve preceitos.Tem sim, minhas correntinhas; segundo

dizem está-so imprimindo esta interessanteobra, contendo seis capítulos: pedi uma copiaantes de sahir á luz.

Quero vêr priminha, para saber se usareidesses artigos.

Ora vou lôr, preste toda a attenção.

Regras excenciaes para as namoradas seremcorrespondidas pelos amantes.

Art. l.° Terem olhos e não se servirem dei-les, se não para olharem para os seus namora-dos (menos quando elles estiverem distrahidoscom aljfhma magoa com que ellas se não devemimportar, >*sto que fazem dobrado, ou outrotanto.)

Art. 2 ° Mostrarem sempre ar agradável aosseus namorados, ainda quo elles estejão arru-fados; a moça deve estar risonha, mesmo quealgum thelegrapho em contrario, lheollusquea vista.

Art. 3.° Serem promptas nas suas corres-pondencias, porque muitas vezes a demora doscorreios é prejudicial a um negocio de tão linotrato.'

Art 4.° Fazerem bastantes presentes aosseus namorados, principalmente de doces (queé cousa que nunca amargou) para íhesadoçara boca, e traze-los pelo beicinho.

Art. 5,° Serem sinceras para com seus na-morados, e aífugentarem a todos ps outros pre-tendentes, porque panella mechiclà por muitagente nunca fica bem temperada,

Art. 6.° Serem firmes e constantes para comura só namorado, e que este seja preferido aoutro?com quem derrissem, por passar tempo.

Baroa, per Diòs lhe pidoE pelas chagas de ChristoNão deite veneno nisto,Homo iwn : mas em verdade

• • Sou homem de caslidade.Saberá que vamos ter

TTm novo divertimento.Vai abrir-se o parlamentoQuando mião desesperadosOs gatos sobre os telhados.

Haja, priminha, o que houver,Caia o raio, haja o corisco,Eu não perco esle petisco ;Hei de assistir ás sessões,Galeria dos barões.

* Falla-se em guerra de morte,Em mil cousas destemperadas:São ludo patacuadas.Cara baroa, a meu ver

•Saro ludo verbos de encher.Também se falia que saiho

Por aqui, por acolá 1Ora esta não eslá má I! *

Eu não jpiero, encanto amadoDesta vez ser deputado.

Toda a moca que não seguir á risca estes .áf.tigõs, não será considerada como bella, massim existirá no rol das feias, e muito feias.

Assignadas, presidenta D. Antonia do Me-nino Deos. — Vice presidenta, D josefa dosCarinhos. —- Secretaria D. Ambrozia dos Suspi-ros; seguem-se os nomes de outras senhoras.

Agora priminha, veja se quer ir pifta o roldas feias.

Boas, não 6 com essa que mudará omeu derriço.

A' caxorrinha. Então não lhe agradão osartigos?

—Ora mi deixe, falíamos doutra cousa, issosão historias da carochinha.

—Aproposito de historia, priminha já ouviofallar cía oração do cão antes de se deitar, você"hade reparar que nenhum se deita sem dar tresvol tinhas.

Ora isso é velho, priminha.Não é não; as nossas visinhas tem em

casa uma velha filharia Ilha Grande, que ou-tro dia muito nos fez rir com esta historia. Dizella que quando o cão está dando as tres vol-tas, está rosando.

E o que rosa ollo ?lia já quer saber? bem dizem que nâo

ha cousa inais curiosa que a mulher. Ora ouça,o que ello diz :

Deos me mostre portas abertasMulher sem cuidados,Homem embriagado0 pão mal guardado,Livre-me Deos (Ealgum cajadoDeita-te corpo, espichado rabo.

Cá, cá, cá, ora priminha vocôéodiabi-nho, veja do (pie se foi lembrar. Vamos fallarde cousas serias. Tem visto sua maninha ?

Não; porém hontem lhe enviei este bi-lhetinho.

Maninha.Ha muito que te não vejo, grande tem sido

minha saudade, por este motivo, te enviomeus protestos de verdadeira estima, e provado meu terno amor; sirva meu pensamento domedianèiro para te levar estes toscos versos.

Ligeiro voa pensamentoOnde Maninha habitar,Em seu terno coraçãoVai meus suspiros lançar.

Mande, baroa, aos jornaes •Que. digno que não acceito.Oue se acaso for eleitoChamo o doutor assistente,li dou parle de doente.

Sei com certesa mui certaQue o governo me faz guerra !Que alicia o mar. e a terra 1l.spafge graças, favores,E corrompe os eleitores.

O meu forte são finanças:Entendo muilo da cousa,Nas minhas barbas não ousaO financeiro mais ricoAcredite, abrir o bico.

O governo com razãoMostrou ler medo de mim !Falta-me saber latim ;Algum grego, algum fraucezE era o Neker portuguez.

Emfim, baroa, acrediteQue quando a vez me chegar,Eu a pátria hei de salvar.Creia que nào amorllsotNem mesmo capitaliso.

Deixa-los financiarNo inverno e uo verão,Elles por fim cá virãoK humildes, baroa, raraE beijarão a pedra «Tara. {F.xtr.)

Page 3: FOLHETIM - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/709697/per709697_1853_00020.pdf · Sra. Taglioni, acaba de casar-se com um principe. ²Deos nosso Senhor os faça felizes. ²Outra cousa

t

Dize-llie que a linda rosaPerde a graça, perde a côrPorém em meu coraçãoAcabar nâo pôde amor.

Se ella quizer, pensamento,5ensivel isto acceitar,

tt Dize-lhe que meu amorNão pode assim acabar.Bravo eomo você está inspirada. Vere-

mos a resposta.Priminha descanse um bocadinho; tome

um docinlio è uin copo d'agu:i, deve estar fali-gada de lauto conversar?

A ceei to o seu favor minhas corren tinhas;mi diga quem é o seu fornecedor de doces?

Fu lhe digo, dia dos meus annos, man-dei eiKominendar algumas bandejas de doceslicores &.&. na Goníf itaiia Magonolia, juntono ihèatro de S. Francisco, e muito satisfeitafiquei pelo bem que me servio; que ricas es»pei:í.arias e que lindo preparo do bandejas!Ora veja osta, quo uão llie loquei? tome estedelicado doce.

Que bello priminha! e diga-me é razoa-vei nos preços? que quer dizer esse titulo Mog-no liai

Mognolia é a delicada flor dos bailes e oSr João Raulino, dono dessa confeitaria fezboa escolha no nome que adoptou; peto aobem que serve; muitas sociedades de baile de-verão ali fazer suas encommendas; não só emattenção á eommodidade de preços, como tam-bem pelo esmero e delicadeza com queaprompta um bom serviço de chá.

Todas as familias devera procurar a Meg$o-lia, quo tão linda ali so osteuta nessa casa, paraverem quanto economizão (sendo bem servi-das) á vista dos preços que ali aprezenta.

Da minha parte, priminha, felecite o Sr.Raulino, e diga-lhe que farei todo o possivelpara que todas as nossas Camaradinhas, nãocomprem doce em oulra parte; estou gostandobem, primiuha;-V. pelo preço, caxorrinha. Tome mais estedocinho.

—O' gentes você não quer que hoje jante?...J3ello, agora, estou confortativa, capaz do fallaraté amanhã. Vamos á nossa palestra.Ora, antes leia mais ura Capitulo da No-vella contada por uma Senhora.

Ficará para outra vez, adeos priminha.

lado que me voltasse não via senão bellezas;nisso é bem rico o nosso paiz, % duvido que al-gum outro possa se gabar de possuir moçasmais bonitas o em maior numero. E então nes-te bailo paredão todas ter dado rendez-vos, por isso o baile apezar* da íhuva foibrilhantíssimo, uma doce alegria reinafa noüemhlaute de todos, e em dtspeilo da febreque todos os dias Ceifa o nosso bello paiz, dostuberculos pulmunares e das prescripções dósnossos médicos, dansouse cora um entraininaudito.

Não podemos deixar do dirigir á illustre D\-rectoria nossas felecitações pela feliz inspira-ção que leve de preencher os intervallos comcantorias, lealmente celestes; pois erão deve-ras divinos e estes cantos que vierão encau-tar os ouviitos de todos, justificando bem o no-me da sociedade. A orchestra tambem não dei-xou Hada a desejar, Quadrilhas escolhidas,ricas walsásj schotlisches, animarão tanto obaile que só retirarão-se os sócios quando a or-chestra á hora costumada deu o signal da par-tida.

O serviço esteve optimo: e multo bem coor-denado. Por isso que se não via como em mui-las outras sociedades cercar as bandejas desorvetes, que para todos chegarão com pro-fusão.

Quizera ser um Lamartine ou um Camões,para celebrar uma por uma, todas a* bonitasmoças que encantarão meus olhos durante estanoute de delicias. Infelizmente miliha penna ébem fraca, e por isso desculpar» me-hão osleitores soem proza mal traçadCa proguro pa-lentear-lheso prazer que gozei neste bellissi-mo baile.

Toilottes elegantes e de summo gosto enchiãoo salão ; entre alguns notei o de duas moçasirmãas, moradoras em Nitherohi,uma penteadade largos bandos trajava um vestido de escossiabranca coin ramos de seda cor de ouro, e flô-res artificiacs sobre o p.ilo, que fazendo sobre-sahir este encantador collo de alabastro comque a natureza a doutou, tornava inuitissi-mo lindo um vestido cuja simplicidade mos-trava o bom gosto circulando sua bella cintura,fitas brancas com um laço cabido na frente.Uma grinalda de rosas brancas ornando seusbellos cabellos castanhos tão finos, completavao toiletle d'essa moça rainha do baile, a meuparecer.

A segunda penteada a Sluart brilhava tam-bem pelo bom gosto du seu toilelie, trajavabello vestido de seda furta-cores conr floresartificiaes sobre o peito, sem mais outro enfeiteque uma grinalda de rosas brancas nos ca-bellos.

D scul|vm-mo as outras moças que estive-rão neste rico baile sc não trato do toi-

Aviso importante para quemquizer ganhar dinheiro.

Da.sahida do theatro deS. Pedro, até árua(lãs Arcos, perdeu-se um bracelete de ouro,de corrente chata, o qual dá duas voltas ; suadona, moradora na rua dos Arcos n. 26 ; não _ ^ _duvida dar boas alviçaras a quem o achou e j jeltc (|C ca(|a uma dellas, mas erão tanta*,

.... ... - • ¦'-'%" ¦' ' ' . •*. ¦¦._'•¦¦_ A ''

queira restituil-o.

O baile da Sociedade HarmoniaNitherohense.

Presentemente em que o furor das dansas fazestrear cutro nós todos os dias, novas socieda-des, necessário é fazermos notar as que se lor-não superioros ás oulras pelo bom gosto dosadornos e sobretudo pela boa escolha das pes-soas que as frequentão. Entre todas uma exis-te qne mais brilhante se torna de dia em dia.Ila já muilo tempo ouvia eu fallar do Bailo daHarmonia Nitherohense mas nunca me tinhadado ao trabalho de atravessar a bahia para alichegar Sabbado 12 d» corrente pela primeiravez decidi-me a ir lá, e com effeito uão perdi opasseio. Quando entrei no bello salão da so-ciedade, fiquei extasiado, llluiniuado com to-t\o o gosto, radiante de flores artisticamentecollocadas; o sallão encantava a vista de todos,mas o que uo meio das flores atlrahiu logomeus olhos, foi o lindo cordão de moças quecingia toda a sala. do todas qual era a maisbella? Impossível édizel-o, pois dc qualquer

todas lão bellas, e vestidas tão primorosanien-le, que além das forças a memória me falta, porisso conlentar-me-hei em repelir queo baileesteve bellissimo e multo bera freqüentado,iodos que desejarem diverlir-se devem, procu»rar esta sociedade que so distingue sobre todosos tituios, e que de certo hade chegar a serumadas priucipaes de nosso Paiz.

Utn convidado.

Não sou poeta, mas amo tanto a poesia,que invejo a sorte dos poetas, é pois por esseamor que tenho á poesia, e inspirado, nâosei sc por me achar junto de uma bella emum dia em que juntos passamos^n^praia dasNeves em*Nitherohy, ou se por esse amor de

poeta, me atrevo a offertar a Amélia as duasseguistes décimas, pelo que peço perdão a

Amélia pela liberdade que tomo, e aos poetaspelo meu arrojo:

MOTTE;Amélia de ti distanteEu já não posso viver*

GLOZA.Suspirando a cada instante

A triste» sorte lamento,Suporto cruel tormentoAmélia de ti distante.sContjoe-te querida amante, jDo meu triste padecer,Vê meu bem que sem te *er,Pôde findar minha vidaSem ti Amélia queridaJá não posso viver.

Meu padecer é constanteQuer de noite, quer de dia,Não posso ter alegriaAmélia de ti distante.Concede-me querida amanteUm momento de prazer,Deixa-me teu rosto ver,Gozar a tua ternura $;Que sem tua formosuraEu já não posso viver.

¦}/!

'.-/¦ ¦,.'-:•'.¦. ' 1

Appareceu um monstro raivoso,Offerecendo uma empada,Tão boa, e tão delicada,Qual manjar mais saboroso;O tal presente mimoso

' Foi recebido com agrado^las logo foi despresadoPor não ser censa capaz,E oecupou-se o tal rapazA offertar um tal bocado,Que foi partido a machado.Como ninguém a quizesseNem tambem perco houvesseSe lançou então aos patosQue deixarão logo intactosOs pedaços do petisco,E aiuda existe no ciscoA empada que trouxerâoQue nem os patos quizerão.

..¦ ._ ;.: ¦¦//.

p.

Questões.Qual dos bens amor te tira?

A ira.Quem pôde mais que a razão ?

A paixão.Quem de quanto vê se esquece?

O interesse.Logo, com razão mereceQue uão seja conhecido *

Quem traz no peito escondidoIra, paixão, interesse.Qual dos bens amor bem faz ?

A paz. •E nella que é melhor?

A mór.Que faz do amor a igualdade?

Caridade.Logo, da boa amizadeTem-se duração segura,Quando n'ella se procuraPaz, amor, e caridade. (Ext,)

Um improviso.Puro zephiro que ouvistes

Fallar 4"j° encantador,Deixa d'as flores beijarSeule tambem miulia dôr.

Mas esta dôr que me encantaHo sentimento de amor, •E se doe u-almá uni suspiroSente tambem unuha dòr.

S. Christovão 9 de Ecvereiro de 1853.A. /. S. N.

Page 4: FOLHETIM - memoria.bn.brmemoria.bn.br/pdf/709697/per709697_1853_00020.pdf · Sra. Taglioni, acaba de casar-se com um principe. ²Deos nosso Senhor os faça felizes. ²Outra cousa

maga—

Ms annos do meu amigo Ricardo AntonioMachado, no dia 3 de Fevereiro ãe 1853,dia do seu natalVicio.

Consagro-te amizade.Caro amigo neste dia

Para mim sempre faustôsoSaüda-te com alegriaEste meu peito amoroso. •Sabes que sempre te amei»Desde aunos te estimeiCom toda a sinceridadeEmquanto eu existir %•Verás meu coração ^epelirConsagro-te amizade.

4*Sim da esposa és amante

De teus filhos adoradorAos amigos és prestanteDe todos consolador.E's em tudo virtuosoSede feliz e ditosoPermitta-o a DivindadeSobre ti cm sua bençãoEu tenlfo-te affeiçãoConsagro-te amizade.

Que teus filhos educandoLá no futuro porvirElles seu pai estimaudoGlorias te facão fruir.Que sempre os vejas brilharAo mundo admirarNo cume da felicidadeEu lho desejo assim*E amigo quanlo a mim «Consagro-te amizade.

Qwq sempre firme ella sejaNuuca seja alteradaMeu coração o almejaSeja por nós estimada,üm ao outwadoremos£ hoje nos abracemosProtestemos lealdadePois mesmo na sepulturaAcharás a gravuraConsagro-te amizade!

Por A. C. P.

Os progressos da nação. •Eu não digo senão verdades puras.

{Camões.)Que te importa, louca Musa,

Que o mundo vá como vai ?Se o filho zomba do pai,Se lhe escarra no carão;Sé manda, se grita e berra,Se põe a casa confusa.. .Que te importa, louca Musa ?¦.— São progressos da nação. *.

Se a menina — quando apenasConta seis annos deidade,Já tem mais sagacidadeQue o mais experto ancião ;Se já perde horas no quartoEnfeitando o casto seio....Julgas tu ser isto feio ?!..— São progressos da nação!

Se a mocinha na janella,Qual dançarina, enfeitada,Passa o dia repimpada —Somente por distração ;•Se conhece os cantos todosDa casa, e portas da rua;Que tens ti^— co'a vida sua ?..•n- São progressos da nação l

Sc nos theatros e bailesFalia e sorri pa\a todos;Setem setem certos modosQue tocão no coração;

Se, dançando, o corpo quebraCom or de sonambulisino,São artes do romantismoSão progressos da nação.

1 Ancfa ura velho enamoradoCom postiças cabelleiras....Porém, oh musa, não queiras

fLá n'isso metter a mão :Dizes tu — que andar um velhoTodo á moda — hoje é tolice !..— São progressos da velhiceCom progressos da nação.

Que interessante figura !Oh meu Deos, tão senhoril!D*algum baile pastoril ,Será Cupido, ou Adão?Que grandíssimas orelhas!Oh! que modos impostores !E' de certo um dos authoresDos progressos da nação.

Oh! pois não.... é deputado,E deputado excellente;De palitinho no dente,E bengalinha na mão, —Vai passando e cortejando,Comicamente sorrindo,Pelas orelhas medindoOs progressos da nação.

Paciência — meu doutor ;0 culpado não fui eu;Foi ümusa..^ que me deuTão sublime inspiração:Sigo os impulsos da musa, —De que sou mero instrumento,Como tu no-ParlamentoDos ministros da nação.

Notas tu, musa, que um padreSeja author de muitosfíilhos? IPois o padre segue os trilhosPrecisos á geração:Se deste modo não fora,Responde — mas sem detensa:— Onde estava a força immensaDos progressos da nação ?

O Egas.——^—¦——¦——¦ ¦ ¦

A borboleta.Adeja ó borboleta

Da bella Deli na ao ladoVai saber se ella é constanteOu se acaso tem mudado.

Pousa no cândido peitoQue rivalisa co' o marfimVé se um constante amorSeu coração sente por mim.

Se ella amor sentir por mimConta-lhe o meu penar,As saudades era que vivoQue por fim me bão de matar.

Diz-lhe que no meu peitoJamais perfídia morouQue jurei-lhe ser constanteOue constante inda lhe sou.

Mas se accaso a ingrataA outro tiver amadoE se finalmente cufòrPara sempre desgraçado.

Bate as asas borboletaA tal luirar não voltes maisVem ouvir os mens gemidos.Vem ouvir meus tristes ais.

For J. S. S.

KIMf.UUIMA.Iu fui Parochi attesto

( líscrevia inchado Cura )Oue sollVeu Lopo forçuraDa morte o golpe funesto.

Tal clareza não se achouMas attesto -o por ter vistoDos hábitos no registo,A receita que tomou. Bocage.

Advinhacao.As minhas irmans, e a mim

Ceraste tu, que estás lendo,E fui homem, que nasci,De maneira, que em nascendoNesse ponto pereci.Minhas irmans por mostrarQuem eramós, eu e ellas,Como me virão espirar,Logo se forão lançarDn magoa pelas janellas.'

CHARADAS.Quando dobrada

PVa doce é procurado; — 1Assim disse saudoso!...Da caza paterna lembrado.

Joven formosaDe venus rival:Põe-no no peitoOue não está mal.

— 1

M.

Sou fatal a muita genteSou má porque sirvo na guerra; — 1Sou do globo uma parte,Mas que sc não chama terra. — 1

Sou de Portugal uma villa,Em titulo a um nobre dado;Na historia o acharás,Dq cabeça decepada.

Adecifração das charadas do N. antecedentesão — 1 .a Amélia.— 2.a Jacaré.

ANNUNCIOS.SANTO MILAGRE .

Oli CASTIGO DE DEOS.contra o homem que disparou um tiro sobreuma Cruz, donde verteu sangue. A explicaçãoé ornada da estampa do desacato; vende-seneste escriptorio por^O rs.

D. MIGUELE A DEFEZA DA PÁTRIA.

Acaba dc chegar do Porto este interessantefolheto, contendo artigos que todos devemlér, mostrando se D. Miguel era ou não rei dePortugal — O descaminho das suas jóias emÉvora Monte &c. &c. por 500 rs., Ouvidor158.

MSAs pessoas que desejarem enfeitar Anjos

com toda, a riqueza, encontrarão bonitas jóiaspara alugar, na rua do Cano n. GG , sobrado.

1853.—TYP. DE A. M. MORANDO,Rua do Ouudor N.°158.