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FOLHA O MELHOR DO TEATRO EM LONDRINA GRUPOS E ATORES CONSAGRADOS, ESPETÁCULOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS A PREÇOS POPULARES, O MELHOR DA CENA LOCAL E UMA DIVERSIDADE DE OPÇÕES PARA TODOS OS PÚBLICOS. O FILO FAZ 43 ANOS E TRAZ TUDO ISSO A LONDRINA DO DIA 10 A 26 DE JUNHO. NÃO DÁ PARA PERDER. CONFIRA NESTA EDIÇÃO. Maria Alice Vergueiro na peça “As Três Velhas” Londrina - Junho de 2011 SUPLEMENTO ESPECIAL NITIS JACON ABRE O BAÚ DA MEMÓRIA E REVELA, EM FATOS E FOTOS, POR QUE O FILO É O QUE É HOJE. Páginas 14 e 15 CARTAZ DO FILO 2011: DIVERSIDADE E ARTE FILO MEU: POESIA E CRÔNICAS ESCRITAS POR QUEM VIVEU O FESTIVAL DE PERTO EVENTO INJETA R$ 1,5 MILHÃO NA ECONOMIA LOCAL Página 6 UEL E A CULTURA: UM CASAMENTO DE 40 ANOS Página 7 O FILO NA VIDA DE CINCO LONDRINENSES Páginas 12 e 13 Criação Pianofuzz

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Londrina - Junho de 2011 SUPLEMENTO ESPECIAL

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Ministério da Cultura e apresentam

PATROCÍNIO

APOIO

REALIZAÇÃO

FOLHA

O MELHORDO TEATROEM LONDRINA

GRUPOS E ATORES CONSAGRADOS, ESPETÁCULOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS A PREÇOS POPULARES, O MELHOR DA CENA LOCAL E UMA DIVERSIDADE DE OPÇÕES PARA TODOS OS PÚBLICOS. O FILO FAZ 43 ANOS E TRAZ TUDO ISSO A LONDRINA DO DIA 10 A 26 DE JUNHO. NÃO DÁ PARA PERDER. CONFIRA NESTA EDIÇÃO.

Maria Alice Vergueirona peça “As Três Velhas”

Londrina - Junho de 2011SUPLEMENTO ESPECIAL

NITIS JACON ABRE O BAÚ DA MEMÓRIA E REVELA,EM FATOS E FOTOS, POR QUE O FILO É O QUE É HOJE. Páginas 14 e 15

CARTAZ DO FILO 2011:DIVERSIDADE E ARTE

FILO MEU: POESIA E CRÔNICAS ESCRITAS POR QUEM VIVEU O FESTIVAL DE PERTO

EVENTO INJETAR$ 1,5 MILHÃO NAECONOMIA LOCALPágina 6

UEL E A CULTURA: UM CASAMENTODE 40 ANOSPágina 7

O FILO NA VIDADE CINCO LONDRINENSESPáginas 12 e 13

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BILHETERIA

Os ingressos para os espetáculos do FILO 2011 começaram a ser vendidos no dia 4 de junho, no Royal Plaza Shopping (Rua Mato Grosso, 310, Centro), das 10h às 19h.

E atenção! Do dia 4 até o dia 10 de junho, os ingressos serão vendidos com preços promocionais: R$ 7,50 a meia-entrada e R$ 15,00 a inteira. A partir do dia 11 de junho, os ingressos passam a custar R$ 10,00 a meia e R$ 20,00 a inteira (veja nesta página quem tem direito à meia-entrada e a descontos especiais).

Cada pessoa poderá adquirir, no máximo, quatro ingres-sos por espetáculo – regra que não vale para estudantes e ingressos com descontos (veja nesta página).

Importante lembrar: a bilheteria dará prioridade a idosos, deficientes físicos e gestantes. Os ingressos do dia que restarem na bilheteria serão vendidos nas portarias do teatro, uma hora antes dos espetáculos.

VENDAS DE INGRESSOSJÁ COMEÇARAM

BALLET DELONDRINA

ABRE FESTIVAL

MEIA-ENTRADASerá vendida apenas uma meia-entrada por pessoa. É obrigatóriaa apresentação do devido documento no ato da compra.

ESTUDANTES – A PARTIR DOS 11 ANOSDocumentos: carteira de identificação expedida pelas instituiçõesde ensino e uniões de estudantes.

IDOSOS – A PARTIR DOS 60 ANOSDocumento: carteira de identidade.

PROFESSORES DAS REDES MUNICIPAL E ESTADUALDocumentos: demonstrativo de pagamentoe documento de identidade com foto.

...

DESCONTOSSerão vendidos apenas dois ingressos com desconto por pessoa.Para os estudantes das escolas municipais de Teatro e de Dança, a cota é de um ingresso por pessoa. É obrigatória a apresentação do devido documento no ato da compra.

SERVIDORES DA UEL – DESCONTO DE 50%Documentos: carteira de identificação expedida pela UELe documento com foto.

SERVIDORES MUNICIPAIS – 50%Documentos: identificação funcional e documento com foto.

ALUNOS DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE TEATRO E DE DANÇA – 50%Documentos: carteira expedida pelas escolas e documento com foto.

PORTADORES DO CARTÃO, FUNCIONÁRIOSE FORÇA DE TRABALHO DA PETROBRAS – 50%Documentos: Crachás; documento de identificação com foto.

CLIENTES DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – 20%Documentos: Cartão Petrobras ou crachá; documentode identificação com foto.

...

ENTRADA DO TEATROÉ OBRIGATÓRIA A APRESENTAÇÃO DE DOCUMENTO QUECOMPROVE O DIREITO À MEIA-ENTRADA E AO DESCONTO.

PROIBIDO A ENTRADA, INCLUSIVE NO SAGUÃO,COM ALIMENTOS E BEBIDAS.

NÃO SERÁ PERMITIDA A ENTRADA APÓS O INÍCIO DO ESPETÁCULO

SE VOCÊ ESQUECER OS DOCUMENTOS EM CASA, NÃO PERCA TEMPO: PEÇA PARA ALGUÉM OU VOLTE PARA BUSCÁ-LOS IMEDIATAMENTE.

...

$ACEITAMOS CARTÃO VISA OU MASTERCARD, SOMENTE PARA DÉBITO.

NÃO ACEITAMOS CHEQUE, NÃO FAZEMOS DEVOLUÇÃO DE DINHEIRO.

NÃO FAZEMOS TROCA NEM RESERVA DE INGRESSOS....

Para a abertura do festival, dia 10 de junho, às 20h30, no Teatro Ouro Verde, foi convidada a companhia Ballet de Londrina, que faz a estreia nacional do espetáculo “A Sagração da Primavera”, com direção e coreografia de Leonardo Ramos. A participação londrinense no festival tem outros 12 espetáculos, mostran-do um panorama do que vem sendo produzido em artes cênicas na cidade. Também estão na programação dois espetáculos de Maringá.

Cinco oficinas, um lançamento de livro e 15 palestras com atores e di-retores de grupos de teatro participantes do FILO. São algumas das atividades dos Projetos Formativos, de 13 a 25 de junho. A programa-ção é direcionada à capa-citação e aperfeiçoamento de estudantes e profissionais das artes cênicas.

Formação ecapacitação emartes cênicas

Confira a programação: www.filo.art.br

FILO 2011

NOMES CONSAGRADOS DO TEATRO E DA DANÇASE APRESENTAM NOS PALCOS DE LONDRINA

O MELHORDO TEATROESTÁ AQUIO Festival Interna-

cional de Londrina (FILO) de 2011 é

uma grande oportunidade de conhecer o melhor da produção teatral brasileira e internacional. A progra-mação vai de 10 a 26 de ju-nho e promete mexer com a cidade, com espetáculos de qualidade, para todos os públicos. Confira a progra-mação completa nas pági-nas 8 e 9.

Quem dá um panorama da programação é o diretor

artístico do festival, Luiz Bertipaglia. “Os espetá-culos nacionais são uma mostra do bom momento que vive o nosso teatro. São peças que comportam várias propostas, todas de altíssimo nível”, afirma.

O FILO recebe, entre outras atrações nacionais, as companhias de Maria Alice Vergueiro (“As Três Velhas”), Beth Coelho (“Terceiro Sinal”), Cacá Carvalho (“O Hóspede Se-creto”) e Teatro Lume (“O

que seria de nós sem as coi-sas que não existem”).

Vergueiro é uma das gran-des damas do teatro nacional e volta a Londrina depois de anos. Coelho é uma das atrizes mais premiadas e consagradas do País. Cacá Carvalho é um intérprete que fez e faz história na cena brasileira. O grupo Lume é um dos mais aclamados re-presentantes do chamado teatro de grupo.

A programação local e nacional conta com 35 espetáculos, de várias re-giões do País. Bertipaglia destaca também a Mostra Petrobras, uma novidade para este ano. Leia nesta página.

Uma das atrações inter-nacionais do FILO 2011, a Cia. Point Zero adapta o texto “As Três Velhas”, o mesmo levado à cena pelo grupo de Maria Alice Vergueiro

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FILO 2011 - SUPLEMENTO ESPECIAL

FILOmeuApolo Theodoro*

Nordestino de nascimento, a escolha de João Pessoa para o papel de aju-dante de cangaceiro, no 1º Festival

Universitário de Londrina, em 1968, tinha tudo para dar certo se não fosse por um de-talhe: seu jeito explosivo de ser, diziam os cochichos, fatalmente entraria em choque com o de alguém tão bicudo e tempera-mental quanto ele: o diretor da peça, Alex Soares de Almeida.

E não deu outra: “Levanta esta espingar-

da, João, já falei isso mil vezes, cacete! Isso é cara de cangaceiro, João? Conta outra, não assusta nem criança! C..., João, você só tem duas falas e só gagueja, gagueja e nada...” Se aguentou, quase calado, tudo isso por cerca de vinte dias, João explodiu ao ouvir algo – “Assim não dá, João, que cangaceiro de merda é você, achei que sendo nordes-tino você faria um cangaceiro...” – que lhe pareceu ofensivo, tanto que interrompeu Alex e, também aos berros, sem gaguejar, pôs fim à sua curta carreira de ator:

“O que você falou?! Tá pensando que

nordestino só serve pra ser cangaceiro, é? Isso é preconceito da sua parte! E se eu sou um cangaceiro de merda, você também é um diretor de merda, tá bom assim, e quer saber de uma coisa, pra mim também che-ga!” Berrou e, mais furioso, jogou o chapéu e a cartucheira longe; mais possesso ainda atirou a espingarda – “Tome e enfie naque-le lugar...” – em direção a Alex, que a segu-rou enquanto falava empolgado:

“É assim que eu quero o cangaceiro,

João, eu provoquei pra ver se você rea-gia, é esse olhar furioso que eu quero ver no cangaceiro na hora que vocês invadem a cidade. Se fizer assim, o papel ainda é seu!” O ex-ajudante de cangaceiro olhou para o diretor da peça e saiu pisando duro, resmungando, enquanto respondia: “Pega esse papel e enfia no mesmo lugar que eu mandei você enfiar a espingarda!”

* Jornalista, um dos funda-dores do FILO. Ganhou o prêmio de melhor ator na edição do festival (1968)

DOIS BICUDOSNA COMPADECIDA

O Proteu estreou ZY Drina, em 1985, uma peça sobre a Era do Rádio em Londrina. Faz parte de uma série de espetáculos antológicos do Proteu encenados na dé-cada de 80. Entre eles, Salto Alto (1983), Transgreunte (85/87), A Peste (1988).

UMA ERA DE OURONos seus 43 anos, o FILO fez das ruas de Londrina um grande palco. Muitos espetáculos de rua estarão para sempre na memória do londrinense, como Bivouak, do grupo Générik Vapeur, da França (1994). “O acesso de todos ao teatro é uma marca do FILO”, lembra Nitis.

O GRANDE PALCO

A vinda de Kazuo Ono para o FILO em 1992 é uma experiência que vale por si mesma. Um dos maiores dançarinos de todos os tempos, o mestre do Butô emocionou os londrinenses nos palcos e os encan-tou nas ruas, por onde andou com sua simplicidade e generosidade. “Inesquecível”, define Nitis.

UM MESTRE ENTRE NÓS

Em 1987, o FILO realizou sua 1ª Mostra Latino-ame-ricana – início da fase internacional do festival, que abriu ainda mais as portas da cidade para o mundo. O festival abrigou grupos como o Odin Teatret, da Di-namarca, que influenciou o teatro local e nacional. Na foto, Roberta Carreri no espetáculo “Judith” (1991).

CONEXÃO COM O MUNDO

Em 1994, Londrina recebeu a 8ª Sessão da ISTA – Es-cola Internacional de Antropologia Teatral. Coman-dada por Eugênio Barba, um dos grandes nomes da cena contemporânea, a ISTA colocou Londrina defi-nitivamente no mapa do teatro mundial, uma cidade antenada com a produção teatral mais avançada.

ESCOLA DE TEATRO

Nitis Jacon lançou recentemente o li-vro “Memória e Recordação”, sobre os 40 anos do FILO, comemorados em 2008. Um documento precioso, base-ado em muitas histórias e imagens ra-ras. À venda na Vila Cultural “Espaço de Todas as Artes” (Rua Cuiabá, 39). Telefone (43) 3344-3386.

HISTÓRIA DO FILOCONTADA EM PROSAE IMAGENS

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Page 3: Folha Filo

Cena da peça “Gruta conta Tiradentes”, apresentada no IV Festival Universitário de Londrina, em 1971. O grupo Gruta, criado e dirigido por Nitis, foi “uma das sementes do FILO”. Muitos de seus atores trabalharam na organização do festival.

UMA SEMENTENuma época de resistência à ditadura militar, Nitis dirigiu “O Verdugo” (1972), de Hilda Hilst, uma montagem ousada e expe-rimental do grupo Núcleo. Era Londrina na vanguarda do teatro nacional. “Sem dúvida, um marco político e artístico”, diz Nitis.

RESISTÊNCIA E INOVAÇÃO

Londrina comemora-va 50 anos e o grupo Proteu, dirigido por Nitis, ousou ao tratar a “colonização” longe do mito do “Eldorado no Norte do Paraná”, no espe-táculo Bodas de Café (1984). “Muitos se tornaram marginais da sociedade.” Bodas foi censurado.

50 ANOSDE LONDRINA

“Parte integrante do festi-val, um lugar de encontro do público e dos artistas, um espaço para a experi-mentação cênica. E, claro, um evento com diversão de qualidade.” Assim Nitis define o Cabaré. Na foto, o Cabaré de 1998, com instalações do catalão Jordi Rocosa.

O CABARÉDO FILO

“Não perdia um espetáculo do Mário Bortoloto (dra-maturgo londrinense de renome nacional). Eu dizia: esse cara vai longe.” Nitis fala de um entre vários ar-tistas e grupos locais que deram saltos importantes em suas carreiras participando do FILO. Outros podem ser citados, como o Armazém Companhia de Teatro.

SALTO NAS ALTURAS

“LONDRINA ÉMINHA PÁTRIA”

Nitis Jacon, presidente de honra do FILO, abre o “baú de memó-rias do festival”, com suas muitas fotos e imagens. Fala sobre alguns fatos que marcaram 43 anos de uma história de resistência,

paixão e arte, que continua a ser escrita. E declara seu amor a Londrina – cidade inquieta, aberta ao mundo e realizadora, assim como ela.

Em 1968, Nitis foi convidada pelo jornalista Délio César a participar da primeira edição do FILO, que se chamava Festival Universitário de Londrina. “Eu me apaixonei por tudo aquilo.” Em 1971, assumiu a dire-ção do festival, quando este foi incorporado pela recém-criada Universi-dade Estadual de Londrina (UEL).

Desde então, as histórias do FILO e da médica psiquiatra – e “atriz e diretora de teatro”, enfatiza – não se separam. E Londrina é o pal-co de um “processo”, como ela faz questão de dizer, em que sonhos foram realizados, vidas e realidades transformadas. E, importante, há ainda muito que fazer. Talvez por isso ela fique tão à vontade em dizer: “Londrina é minha pátria”.

Em 1968, Nitis foi convidada pelo jornalista Délio César a participar da primeira edição do FILO, que se chamava Festival Universitário de Londrina. “Eu me apaixonei por tudo aquilo.” Em 1971, assumiu a dire-ção do festival, quando este foi incorporado pela recém-criada Universi-dade Estadual de Londrina (UEL).

Desde então, as histórias do FILO e da médica psiquiatra – e “atriz e diretora de teatro”, enfatiza – não se separam. E Londrina é o pal-co de um “processo”, como ela faz questão de dizer, em que sonhos foram realizados, vidas e realidades transformadas. E, importante, há ainda muito que fazer. Talvez por isso ela fique tão à vontade em dizer: “Londrina é minha pátria”.

Nitis não esconde a satisfação de perceber que o FILO está em pleno movimento. É um festival capaz de combinar tradição e inovação. Por isso, é um dos mais importantes do País e o mais antigo da América Latina. Na foto, espetáculo Fragments (2008), de Peter Brook, um dos principais diretores de teatro do mundo.

FESTIVAL EM MOVIMENTO

14 FILO 2011 - SUPLEMENTO ESPECIAL

FILOmeuDomingos Pellegrini*

Encontro de línguas tantasfalando a mesma linguagemo jardim floresce em junhoflores de luzes e espantos

História de insistênciasplantando a eterna utopia:

viver não só de pão como também de magia

e ouvir bem cada silêncioacreditar na alegria

e nos mistérios humanos

Então com tamanho empenhoplantamos todos os anos

jardim que floresce em junho

*Escritor,um dos fundadores

do FILO

FILORES

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EXPEDIENTE

Direção: Luiz BertipagliaPresidente de Honra: Nitis JaconORGANIZAÇÃODarlene KopinskiJorge FordianiJosé Eduardo MaestrelliPaulo BrazValéria VictórioPRODUÇÃO E APOIODaniele PereiraGabriela Viecili

MOSTRA PETROBRASUM SUCESSO DEPÚBLICO E CRÍTICA

A Petrobras apoia e incentiva a cultura em todo o País, nas suas mais variadas manifestações (teatro, dança, cinema etc.). É a maior patrocinadora do FILO, que rea-liza este ano uma mostra com o nome da empresa. “São espetáculos de sucesso de crítica e público, que colocam Londrina em sintonia com o melhor das artes cênicas do momento”, enfatiza Luiz Bertipaglia.

A Mostra trará a Londrina “Antes da Coisa Toda Acon-tecer”, do Armazém Companhia de Teatro (RJ) – grupo que iniciou sua trajetória em Londrina; “Tio Vânia”, do Grupo Galpão (MG); “Sua Incelença, Ricardo III”, do Clowns de Shakespeare (RN); “Devassa”, da Companhia dos Atores (RJ); e “Tatyana”, novo espetáculo da Cia. de Dança Deborah Colker”, uma das mais importantes do mundo, que encerra o festival.

“Se o teatro nacional vive um grande momento, sem dúvida o apoio de empresas como a Petrobras e as leis de incentivo têm um grande papel nisso”, enfatiza Bertipaglia.

Um dos maiores grupos de dança daatualidade, a Companhia de Dança Deborah Colker encerra o festival dia 26 de junho

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A Cia. Armazém de Teatro, que iniciou sua trajetória em Londrina,se apresentana Mostra Petrobras

DOZE ESPETÁCULOSINTERNACIONAIS

A programação internacional deste ano faz jus a uma tradição do FILO: a diversidade. Espetáculos de 12 países atingem todos os públicos. “Isso só é possível

porque estamos ligados a vários importantes festivais do Brasil e do mundo”, diz Luiz Bertipaglia.

Chama a atenção a utilização de várias linguagens artísticas (dança, teatro, vídeo, marionetes), em espetá-culos como “Keskusteluja”, da Finlândia. O “teatro de bonecos”, que caiu no gosto do público londrinense, está em produções como da belga Cia. Point Zero, que adapta o texto “As Três Velhas”, de Alejandro Jodorowsky – o mesmo levado à cena pelo Grupo Pândega, de Maria Alice Vergueiro. Da América Latina, vem a real e crua AMAR, do argentino Alejandro Catalán.

Guillaume FesneauJoão Darwin RodriguesMargareth de AlmeidaPatrícia de Castro SantosPROGRAMAÇÃO VISUALPianofuzzASSESSORIA DE IMPRENSAJackeline Seglin

REALIZAÇÃO

AMENPresidente: Luiz BertipagliaDiretor Administrativo: José Eduardo MaestrelliUELReitora: Profa. Dra. Nadina Moreno

Vice-reitora: Profa. Dra. Berenice Quinzani JordãoDiretora da Casa de Cultura: Adriane GomesChefe da Divisão de Artes Cênicas: Camilo ScandolaraPRODUÇÃO DO JORNALEdição: Luciano Bitencourt Colaboração: Ricardo da Guia Rosa e Juliana BoligianFotografia: Celso Pacheco, Saulo Ohara e Arquivo FILOEdição de arte e diagramação: Editora Londrina NorteRevisão: Jackson LiaschImpressão: Ed. e Gráf. Paraná Press SATiragem: 18.000

Page 4: Folha Filo

4

Quando os espetáculos “A Cura”, da Cia. Gira Dança (RN), e “D...Equilíbrio”, da Cia.

Vindança (SP), que têm pessoas com deficiência em seus elencos, estive-rem sendo apresentados nos palcos do FILO deste ano, uma história em muitos capítulos vai passar pela ca-beça das pessoas que fazem o festival (leia mais sobre esses espetáculos no site www.filo.art.br).

Entre outras, por Paulo Braz, que coordena as ações de acessibilidade para pessoas com deficiência, dentro dos Projetos de Inclusão e Acessibili-dade, que têm a coordenação geral de Darlene Kopinsk.

O capítulo inicial da história acontece em 2000, chamado de Ano Zero – De Todas as Artes. Foi quando, segundo Darlene, “o festival incorporou de maneira definitiva o acesso aos bens culturais como algo imprescindível para se combater a exclusão social e promover a igualdade de direitos.

OLHOSE OLHARES

Paulo Braz guarda com carinho um capítulo da história. A oficina “Con-tadores de Histórias”, coordenada pela carioca Fátima Café, em 2001, realizada no Instituto Londrinense de Instrução e Trabalho para Cegos (ILITC), integrava os Pro-jetos de Maio, precursores dos atuais Projetos de In-clusão.

A partir da experiência, Braz dirigiu o espetáculo “As Cidades e os Olhos” (2003), encenado por ato-res cegos. A peça foi apre-sentada em capitais como Rio, São Paulo e Belo Horizonte. Deu visibili-dade nacional ao trabalho realizado pelo FILO com

CIDADANIA CULTURAL

FESTIVAL É REFERÊNCIA PARA TODO O PAÍS QUANDO O ASSUNTO É ACESSIBILIDADE PARA DEFICIENTES

FILO AJUDA A ESCREVERA HISTÓRIA DA INCLUSÃO

inclusão e acessibilidade. “As Cidades...” é base-

ado na obra de Ítalo Cal-vino, “As Cidades Invisí-veis”. Alguns dos textos da peça foram escritos por Sebastião Narciso, que par-ticipou da oficina de Fáti-ma Café e também é ator da peça (leia na página 5).

Em 2010, o grupo es-treou “Olhares Guarda-dos”, também dirigido por Braz. Em cartaz há dois anos, o espetáculo ganhou

o prêmio Miriam Muniz, da Funarte, concorrendo com grupos de atores pro-fissionais de todo o Bra-sil. “Foi um exemplo de como o trabalho com defi-cientes está sendo avalia-do por seu valor artístico, sem perder sua relevância política e social.”

BARREIRASTRANSPOSTAS

A apresentação do espe-táculo “Judith Quer Cho-

rar Mas Não Consegue”, com Eduardo O., dança-rino e cadeirante, é outro momento mágico dessa história. “Ali todas as bar-reiras entre deficiência e arte foram transpostas. Foi um dos principais espetá-culos de 2008. Foi lindo, impactante”, avalia Braz. O festival tem sido palco para grupos locais de de-ficientes como o Getepae (Grupo de Teatro para Atores Especiais).

TODAS ASACESSIBILIDADES

O FILO fez história nas ações pela inclusão e aces-sibilidade com a encenação de “Os Inclusos e os Cisos”, da Escola de Gente, do Rio de Janeiro, em 2009. Possi-velmente, foi a primeira vez que uma peça teatral foi en-cenada no País com todas as acessibilidades (lingua-gem de libras, para surdos--mudos, áudio-descrição e legendagem eletrônica para cegos). Segundo publicação da escola, a apresentação “abriu caminho para que se conhecesse e incorporasse a reflexão e a prática do teatro inclusivo”.

O FESTIVAL DAINCLUSÃO

Também na edição de 2009, foi realizado o deba-te “Acessibilidade para a Democratização da Cultu-ra”, do qual saiu a Carta da 41ª Edição do FILO, assi-nada por mais de 50 enti-dades e que circula o País e o mundo. A carta propõe a adoção de medidas de acessibilidade em todas as manifestações artísticas e culturais. “Por iniciativas como essa, somos reco-nhecidos como o festival--referência na promoção de políticas de acessibili-dade”, afirma Braz.

Na condição de referên-cia, o FILO tem participa-do dos principais debates pelo País sobre o tema. Em 2008, foi o único fes-tival presente na “Oficina Nacional Para a Indicação de Políticas Públicas Cul

Cena do espetáculo A Cura, da Cia. Gira Dança (RN): arte e inclusão de mãos

FILO 2011 - SUPLEMENTO ESPECIAL

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13SAMIRAPeças do festival sãosua brincadeira favorita

A adolescente Samira Dote, de 14 anos, acompanha o FILO

desde 2006. Filha única da bancária Sueli Tazaki, ela nunca quis ser atriz pro-fissional, mas gosta de as-sistir aos espetáculos para poder reproduzir o que vê aos finais de semana com seus primos. “Sou a mais velha e sempre organizei as brincadeiras. Tudo o que via no teatro tentava fazer com eles”, conta.

A cada edição do fes-tival, Samira confere o maior número de peças que consegue. “Deve ser por isso que eu só consigo me lembrar do que gostei no espetáculo e nunca do nome dele”, brinca. Hoje, Samira confere tan-to os espetáculos da grade infantil quanto da progra-mação adulta do festival.

“Mas os espetáculos de rua e com palhaços conti-nuam sendo os meus pre-feridos”, diz sobre o que acaba por deixá-la ansiosa pela chegada do FILO.

“Houve época em que a Samira pedia que eu es-crevesse e-mails para a or-ganização do festival para saber sobre os espetáculos que seriam apresentados”, conta Sueli sobre a paixão da filha que foi herdada dela. Nascida em São Pau-lo, Sueli morava no Bexiga, bairro que abrigava teatros famosos, como o Cardoso e o Bandeirantes. Mas Sueli não tinha nem idade nem condições financeiras para ir ao teatro na época. “Por isso acho o FILO excep-cional: inclui o público in-fantil na sua programação e tem um custo acessível”, avalia Sueli.

Em casa, Samira costuma divertir os primos com as palhaçadas que aprendeu nos espetáculos do FILO

RAULLondrinista lava a alma em show do Cabaré

O empresário Raul Fulgêncio é o que se pode chamar

de londrinista, adjetivo um grau acima de londri-nense. O londrinista é, antes de tudo, uma alma apaixonada por Londri-na. Não consegue se ima-ginar sem a cidade que resolveu chamar de sua.

Qualquer coisa que deponha contra a cidade parece ofensa pessoal, tal a identidade entre um e outra. Mas quando

ela é motivo de orgulho e objeto de elogios, sai de baixo. O londrinista não esconde a autoesti-ma elevada, o orgulho na estratosfera.

O imobiliarista Raul vi-veu dois episódios opos-tos, em que seus sen-timentos por Londrina foram colocados à prova. O primeiro, um show-jan-tar com Fafá de Belém, num clube da cidade, frequentado por muita “gente bacana”. “A can-

tora teve que interromper o show no meio, porque a plateia estava mais preo-cupada em comer, beber e falar do que assistir ao show”, conta, desaponta-do com o comportamento “indigno” do melhor es-pírito londrinista.

A forra veio justamente no Cabaré de 1998, no an-tológico show de Ângela Maria e Cauby Peixoto. Os dois grandes astros da época de ouro da música popular brasileira foram

recebidos com pompa e circunstância no FILO. O show – numa noite ilu-minada, relembra o em-presário – foi apoteótico.

Ângela e Cauby foram aplaudidos de pé por mui-tos minutos pela plateia londrinense, em grande parte formada por jovens. “Sim, nós somos um povo que sabe valorizar a arte e o artista.” O coração lon-drinista de Raul bateu acelerado. Ele foi para casa com a alma lavada.

O empresárioRaul Fulgênciovibrou com a atitudedo público deLondrina

ISADORAUm nome, uma homenagemà vida e à arte

“Isadora Rara sem-pre teve um ‘quê’ de nome de artista

mesmo.” É assim que a jovem Isadora Rara Abramo Pellegrini co-menta sobre o nome que ganhou por conta de um espetáculo que seu pai, o músico e jornalista Bernardo Pellegrini, es-colheu para ela durante o FILO de 1989. “Eu sempre tive dúvidas se me chamava Isadora por causa da bailarina Isado-ra Duncan ou por conta de um espetáculo do FILO”, comenta na en-trevista.

A dúvida é esclareci-da por sua mãe, a jorna-lista e aromaterapeuta Maria Angélica Abramo. O nome tem mesmo os dois motivos de escolha. “Sempre soube que se tivesse uma menina se chamaria assim porque gostava muito da bailari-na. Mas não contei para ninguém. Aí, quando o Bernardo assistiu ao es-petáculo do FILO ‘Isa-dora’, ele decidiu que esse seria o nome da filha que estávamos esperan-do”, relata. O espetáculo era do bailarino peruano Edgar Guillén e homena-geava Isadora Duncan.

Cursando o último ano da faculdade de Publici-dade e Propaganda e co-ordenando um projeto de fotografia que se trans-formará em livro, Isadora conta que o FILO aca-bou marcando sua vida. “Tenho lembranças de

quando era bem novi-nha de assistir espetácu-los a céu aberto, de ver meu pai tocando no Ca-baré na adolescência”, justifica sobre sentir “a cidade envolvida por uma magia na época do festival”.

O nome da estudante Isadora Rara foi inspirado em um espetáculodo FILO de 1989

Page 5: Folha Filo

12

FOI UM FILO QUE PASSOU EM MINHA VIDAUm festival como o FILO é feito por artistas de vários países, reconhe-

cidos por seu trabalho e, até mesmo, célebres num mundo midiático. É feito também pelo público “iniciado” nas artes teatrais.

Mas, aos 43 anos, identificado como um patrimônio da cidade de Londrina, o FILO é feito, sobretudo, por pessoas comuns que, no escuro de uma sala de espetáculos ou misturadas à multidão, têm experiências significativas que elas levam vida afora, ajudando a propagar o festival pelo tempo e espaço.

Confira a história de cinco dessas pessoas, que tiveram suas vidas atraves-sadas pelo rio caudaloso do FILO.

Como diz a música de Paulinho da Viola, artista que se apresentou com sucesso no festival em 2005: “Foi um rio que passou em minha vida e meu coração se deixou levar...”

CLÁUDIARainha do Carnavalencontrou seu “príncipe”

Cláudia Maria de Souza, eleita a Rainha do Car-

naval de Londrina em 2007, enxergou na his-tória de um príncipe em busca de sua amada a sua própria história. Em 2009, Cláudia foi pela primeira vez a um espe-táculo do FILO e assistiu à peça “Le Jeune Prince et la Verité” (O Jovem Príncipe e a Verdade), do grupo francês Studio--Théâtre de Stains. “Ele foi enganado, passou por diversas dificuldades, mas não desistiu. E essa também é a minha traje-tória: de sempre continu-ar buscando”, conta.

Aos 29 anos, Cláudia é formada em Pedagogia, está cursando pós-gradu-ação na mesma área, tra-balha em uma escola de educação infantil no perí-odo da manhã e limpa tú-mulos de dois cemitérios no período da tarde. Mas há pouco tempo não des-lumbrava a realidade que vive hoje. Com o dinhei-

ro que ganhava limpando túmulos, não conseguiria pagar a tão sonhada facul-dade que concluiu no final de 2010. “Quando vi a premiação do concurso de Rainha, não tive dúvidas e me inscrevi”, conta sobre o prêmio em dinheiro que a ajudou nas despesas da faculdade.

“Já tinha assistido a pe-ças de teatro em espaços públicos, mas esse espe-táculo do FILO eu vou levar para sempre comi-go”, afirma a bela negra que bancou seu sonho de cursar Pedagogia e está correndo atrás de outros objetivos agora. Cláudia pretende dar aula para crianças com necessida-des especiais e, para isso, faz especialização à noite e frequenta a Biblioteca Pública aos sábados em busca de mais conheci-mento. “Esse príncipe me ensinou que o importante é lutar pelo que a gente quer, independente das dificuldades no meio do caminho”, avalia.

Cláudia já tinha assistido a peças de teatro em

espaços públicos, mas um espetáculo do FILOficou para sempre com ela

NIVALDOFoi à Europa realizar um sonhoe conquistar prêmios

Quando participou como assisten-te da atividade “Processus de Création Théatral em Milieu Carcéral” (Processo de Criação Teatral no Meio Carceral), que integrava os “Projetos de Maio” do FILO 2004, o ator e agen-te penitenciário Nivaldo Lino só queria facilitar o trabalho da ministrante Elisabeth Gonçalves na Penitenciária Estadual de Londrina (PEL). “Tra-balhava como agente na PEL e sabia que não seria fácil formar um grupo de atores entre os detentos. Abracei a ‘bronca’ para que o projeto pudesse acontecer”, lembra.O esforço acabou ren-dendo a Nivaldo prê-mios, viagens ao exterior e uma participação como protagonista em um cur-ta-metragem. Ele, que tinha como sonho “inal-cançável” uma viagem ao exterior, foi para a França e a Espanha em 2005. “A ministrante francesa en-

xergou que sem a minha ajuda o projeto não teria acontecido. Ficou muito agradecida e me presen-teou com a viagem”, relata.No ano seguinte, Elisa-beth Gonçalves voltou à PEL com o roteirista fran-cês Florence Bresson para realizar um curta-metragem documental que Nivaldo protagonizou. O curta-me-tragem “Nada a Ver”, lan-çado em 2008, rendeu uma nova viagem à França, pois

o trabalho concorreu e foi premiado em festivais de cinema locais.Ator desde 1990, Nivaldo atua no grupo londrinense Boca de Baco e afirma que o FILO sempre esteve pre-sente na sua vida durante esse tempo. “O FILO trou-xe muitas coisas para mim, além das viagens: outras oficinas que fiz e as peças a que assisti ajudaram muito na minha formação como ator”, contabiliza.

O ator e agente penitenciário Nivaldo Lino mostra as fotos das viagens que fez à França

FILO 2011 - SUPLEMENTO ESPECIAL

FILOmeu Célia Musili*

Em 2008, quando o FILO comple-tou 40 anos, uma de suas grandes atrações foi a companhia dirigida

pelo inglês Peter Brook. Recebido com atenção total, o grupo apresen-tou em Londrina o espetáculo ‘Frag-ments’, uma montagem que mostrava a mestria do diretor e o talento de três grandes atores. Na entrevista coleti-va, que contava com profissionais dos principais jornais do Brasil, o grupo chegou com uma produtora conside-rada muito exigente. Como assessora de imprensa, eu participava das en-trevistas e cuidava para que os artistas fossem bem recebidos. Assim, ofereci um cafezinho que os atores aceitaram prontamente, mas a produtora disse que queria chá.

Well, nossos patrocinadores ofe-reciam café, capuccino, biscoitos, mas não tínhamos chá. Então, pedi a uma pessoa da produção que pro-videnciasse a bebida. A moça foi até o supermercado e trouxe uma caixa de chá-mate Leão. Arrepiei quando percebi que aquilo tinha sabor de pêssego. Pensei que, nem de longe, a bebida lembrava os chás do Ceilão ou da Índia. Mas a mulher tomou o mate sem reclamar, com a mesma deferência que devia dispensar aos leões do brasão britânico. Com toda cerimônia, sentada sem se recostar na cadeira, ainda repetiu a dose sem ver a embalagem. De Londres para Londrina, ela levantava a sobrance-lha direita a cada vez que tirava o pires da xícara. Eu olhava a mise en scéne, imaginando que, por algum milagre, nossos leões tinham agrada-do à “dama de ferro”, que foi até o fim com sua performance very, very british.

*Jornalista,foi assessora de

imprensa do FILO

VERY BRITISH

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Paulo Braz, à direita, e o elenco do espetáculo “Olhares Guardados” durante ensaio da peça

turais Para Pessoas com Deficiência”, realizada no Rio. A oficina orientou que todos os eventos te-nham projetos e espetácu-los voltados para deficien-tes e à acessibilidade.

INCLUSÃO ÉPARA TODOS

De acordo com Paulo Braz, o debate sobre de-ficiência e acessibilidade chegou a um tal ponto de sofisticação que não se fala mais só em inclusão para de-ficientes, mas em inclusão para todos. “Somos nós que temos que derrubar precon-ceitos. Entender as muitas dificuldades, mas também as potencialidades de quem tem deficiência. Até porque todos nós, com o tempo, vamos perdendo nossas ca-pacidades e habilidades. Por isso, temos que nos preocu-par com a acessibilidade.”

MUITO QUE FAZERO diretor-geral do FILO,

Luiz Bertipaglia, comemo-ra os avanços dos Projetos de Inclusão e Acessibili-dade, mas aponta que há muito que avançar. “Reco-nhecemos que nossos espa-ços têm que avançar muito quando o assunto é acessi-bilidade. A construção do Teatro Municipal, obede-cendo todas as normas atu-ais, seria um avanço.”

Além dos projetos que trabalham com cegos, surdos e mudos, os Projetos de Inclusão e Acessibilidade focam grupos de idosos e jovens da região Norte de Londrina. Realizados desde 1995, a partir de 2000 eles foram incorporados à estrutura orgânica do festival, ao lado da programação artística e das atividades formativas voltadas a estudantes, pesquisadores e profissionais da cultura.

Segundo Darlene Kopinski, vários moradores do cam-po e da cidade passaram pelo projeto e permanecem no cenário cultural da cidade. “São verdadeiros cidadãos pelas mãos da cultura”, afirma.

Projetos envolvemdeficientes, jovens e idosos

Confira a programação: www.filo.art.br

TIÃO NASCEU PARAA LITERATURA NO FILO

Sebastião Narciso, o Tião Balalão, não nasceu cego. Perdeu a visão num acidente de carro, quando tinha 28 anos de idade e quatro me-ses de casado. Nada hoje em seu semblante lembra tristeza e mágoa. Tião irra-dia confiança, bom humor e entusiasmo pela vida.

Ex-bancário, Tião hoje é escritor, ator e palestran-te. Diz ter nascido para a literatura na oficina “Contadores de Histórias”, coordenada por Fátima Café, no FILO 2001. São dele alguns textos do espetáculo “As Cidades e os Olhos” (2003).

Desde então, Tião não parou mais. Publicou “Por Detrás dos Olhos”, livro de crônicas lançado no festival

de 2004. Lançou os livros de histórias infantis “O Engenho da Imaginatião I” (2006) e II (2008). Vai lançar em agosto Engenho III, com o subtítulo “Tião Ba-lalão Entre Bruxas e Sacis”.

Tião dá palestras de motivação profissional e estímulo à leitura.

Page 6: Folha Filo

ECONOMIA DA CULTURATODO ANO, DINHEIRO NOVO NA PRAÇA

O FILO movimenta cerca de R$ 1,5 milhão diretamente na eco-nomia de Londrina, injetando

dinheiro nos setores de hotelaria, gastro-nomia, comércio, vida noturna, comuni-cação, mídia e diversos outros setores.

Nos 17 dias do festival, a cidade recebe cerca de 500 pessoas, com permanência média de quatro dias, com vínculo direto ao FILO. São atores, diretores, produto-res, técnicos, palestrantes, autoridades do setor cultural e outros profissionais

Hotéis, restaurantes, lanchonetes e bares que atendem os participantes e o público do FILO normalmente ampliam em 20% o quadro de funcionários para dar conta do movimento no período do festival.O cálculo do vice-presidente do Sindicato dos Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares de Londrina, Alzir Bocchi, inclui contratações temporárias, que vão desde garçons e ajudantes de cozinha até músicos, seguranças e promoters.Ele diz que o sindicato orienta setores de hotelaria, gastronomia e vida noturna, que são de sua área de atuação, a treinar colaboradores para atender bem a clientela do FILO. “São pessoas de fora, de outros países, de outros estados brasileiros, que movimentam a cidade”, afirma Alzir Bocchi.

O FILO contribui para o desenvolvimento do setor de turismo da cidade, porque coloca Londrina como destino regional e até nacional no segmento de cultura. “É importante ver Londrina projetada com notícias boas e o festival de teatro faz isso anualmente”, ressalta o presidente do Londrina Convention & Visitors Bureau, Reinaldo Cassimiro da Costa Junior.Para ele, não há dúvidas de que o FILO seja um dos mais importantes eventos londrinenses, sempre presente no calendário de atividades da cidade e apresentado como referência do potencial de Londrina na atração de outros eventos e também de novos investimentos. “O FILO é um dos grandes exemplos do que Londrina tem de bom”, diz.

Setores contratam mais para atender visitantes

Um exemplodo que a cidadetem de bom

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que se hospedam, comem, passeiam e gastam em Londrina.

O turismo de eventos, categoria em que se enquadra o FILO, tem um cálculo de gasto médio diário de R$ 300 por pessoa, somente em hospedagem e alimentação. Considerando-se as 500 pessoas, em quatro dias, são R$ 600 mil que permanecem na economia.

Mas os recursos começam a circular na cidade bem antes do festival, com investi-mentos na equipe de trabalho, na confecção

de impressos, na compra de materiais para produção dos espetáculos, aquisição de passagens aéreas e outros itens.

Durante o festival, outro volume de recursos considerável é das pessoas que vêm a Londrina para acompanhar as apresentações. No ano passado, o pú-blico foi estimado em 100 mil pessoas. Milhares são de cidades do Norte do Paraná e do Sul de São Paulo, visitantes que também aquecem a movimentação econômica do município.

Qualquer apre-sentação sobre Londrina, para

mostrar os potenciais do município e atrair empreendedores e in-vestimentos, tem um capítulo da vida cultural londrinense. E o desta-que maior sempre é o FILO, por sua tradição, pela projeção que pro-porciona à cidade e pela movimentação nos mais diversos segmentos da economia. É uma espé-cie de cartão de visitas de Londrina.

“É impossível separar a imagem de Londrina do FILO, que projeta a cidade de forma positi-va. O festival de teatro é um ativo que ajuda a vender a marca de Lon-drina para investidores”, ressalta Nivaldo Benve-nho (foto), presidente da Associação Comercial e Industrial de Londrina.

Estudo do Sebrae e de órgãos ligados ao turismo

UM CARTÃO DE VISITAS

aponta que um evento como o FILO mobiliza 51 segmentos da econo-mia, “desde os mais sim-ples, como pipoqueiros, até setores industriais e especializados da área co-mercial”. Benvenho cita

que o comércio é bas-tante beneficiado com o FILO, pela quantidade de atores e produtores culturais que traz a Lon-drina e também pelos vi-sitantes que vêm assistir aos espetáculos.

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FILO 2011 - SUPLEMENTO ESPECIAL

FILOmeuJanaína Ávila*

Há algumas semanas, recebi um aviso do facebook dizendo que alguém ha-via me “marcado” em uma foto. Fui

conferir e era coisa de um amigo canaden-se, tirada no Cabaré do longínquo 2002. Eu e ele abraçados, acho que na última noite dele em Londrina, onde veio participar do FILO daquele ano. Jason é um técnico de cenografia da companhia que era uma das grandes atrações da Mostra Internacional.

Onde e quando seria possível levar o maior coreógrafo da Europa para tomar vi-tamina na Sergipe ou ver gringas brancas como leite tomando sol de topless no Ze-rão? Só mesmo nos dias de FILO. A foto no facebook me fez ficar morrendo de sauda-des dele e de todas as pessoas que encon-trei durante tantos anos.

É como se o festival se transformasse em um tipo de ímã, capaz de atrair pessoas que vivem em realidades completamente dife-rentes, mas que naquele intervalo de tem-po podem se conhecer, virar amigas, namo-radas, trocar experiências ou simplesmente secreções. Quem é que nunca conheceu o “melhor amigo” ou a “alma gêmea” duran-te o FILO que atire o primeiro crachá! O FILO já promoveu casamentos, fez filhos, deve ter netos e, do jeito que a coisa vai, até bisnetos!

Saudade, uma palavra que deve ser co-mum para quem lembra de algum FILO. Saudade da cidade em fibrilação, das pes-soas de todos os cantos juntas para ver e construir algo belo. E se viver é a arte do encontro, como diz o Poetinha, este é o pe-ríodo ideal para viver e amar Londrina.

Pronto, fiquei com ainda mais saudades.

Artistas, produtores e demais integrantes de um grupo de teatro ti-

nham acabado de descer do ônibus quando o motorista Jessé Alves da Rocha rece-beu um comunicado urgen-te: a esposa mandou avisar que estava sentindo dores, achava que tinha chegado a hora. Jessé não teve dú-vidas e, antes de pegar ou-tro grupo do festival que o aguardava, tocou o ônibus para sua casa, embarcou a mulher e a deixou na Ma-ternidade Municipal. Dali seguiu para o compromisso de trabalho.

Pouco tempo depois, quando se dirigia ao local determinado pela organi-zação do FILO, recebeu outro recado, pelo radio-comunicador: “Nasceu! É uma menina e está tudo bem!” Foi aquela festa, uma quantidade enorme de felicitações pelo walkie-

*Jornalista, foi assessora de

imprensa do FILO. Mora atualmente

na Itália

UM TIPO DE ÍMÃ

TRABALHADORES DA CULTURA

QUEM DIZ É O MOTORISTA DA UEL JESSÉ ALVES DA ROCHA, QUE VIU SUA FAMÍLIA CRESCER DURANTE O FILO

“O FILO É PURAADRENALINAPARA MIM”

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Luiz Bertipaglia, Valéria Victório, Patrícia Castro, Paulo Braz, Darlene Kopinski e Jorge Fordiani (foto) inte-gram a linha de frente da organiza-ção do FILO. Luiz é o coordenador geral e diretor artístico desde 2003, substituindo Nitis Jacon. Paulo Braz, o Paulinho, é o que está há mais tempo. Já são mais de duas décadas e meia dedicadas ao festival. Começou aos 15 anos, quando atuava no grupo Proteu e já ajudava na produção.Foi com Paulinho que Luiz e Vic se aproximaram do FILO. Em 1988, ainda estudantes, participaram como atores da peça “Insônia”, com o grupo Fora do Eixo, dirigidos por Fernanda Coelho e Paulo Braz como assistente. Trajetória semelhante tem Darlene, que igualmente manteve os primeiros contatos com o FILO parti-cipando de grupos teatrais. E depois seguiu o mesmo caminho. Patrícia Castro e Jorge Bordiani entraram para o time recentemente.

ESSE TIME VESTE A CAMISA

O FILO cria campo de trabalho para cerca de 150 pessoas no período de 30 a 40 dias, contando a preparação e a desmontagem do festival. São trabalhadores em diversas funções, entre elas produtores, técnicos de som, iluminadores, auxiliares, marceneiros, assistentes administrativos e artísti-cos, tradutores, cicerones dos grupos, jornalistas, repórteres fotográficos e cinematográficos, motoristas, seguranças e serviços gerais. “Além de empregar mão de obra, o FILO contribui para a formação profissional”, avalia Bertipaglia.

CAMPO DE TRABALHOE PROFISSIONALIZAÇÃO

-talkie, todos dando pa-rabéns e comemorando o nascimento da filha mais nova do Jessé. “Por isso, o FILO é pura adrenalina para mim”, diz ele.

Essa história aconteceu no FILO de 1997, no dia 20 de junho, por volta das 16 horas. Hoje aos 13 anos, Nadyege Victória se diver-te com o pai e ambos já estão ansiosos pelo início do festival. Ela aprendeu a gostar de teatro, pela influ-ência do pai e pelas circuns-tâncias de seu nascimento.

Servidor da Universidade Estadual de Londrina há 16 anos, Jessé integra a equipe cedida para atuar no FILO desde que entrou na UEL. “No primeiro ano, em 1995, nunca tinha ouvido falar do festival. Quando a

chefia pediu, fui pro FILO, gostei e todo ano quero de novo”, relata. Sempre dis-posto, encarou sem recla-mar as jornadas prolonga-das. “Teve dia que parei às quatro da madrugada e na manhã seguinte já estava na rodoviária com a Kombi, esperando pra transportar outra turma”, conta.

Entrosado com a equipe do FILO, Jessé comenta: “Gosto do pessoal, da mo-vimentação, de participar do festival. Já fiz muitos amigos estrangeiros e, quando não consigo conversar na língua deles, nos entendemos pe-los gestos. Tenho convite pra visitar e lugar pra ficar na Itália e na França. É um sonho conhecer Paris, a cida-de-luz. Falta só um dinheiri-nho”, afirma, sorrindo.

Page 7: Folha Filo

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PALCO

PARA DIRETOR DO FESTIVAL, LONDRINA ENFRENTA PROBLEMAS COM A FALTA DE ESPAÇOS ADEQUADOS

FESTIVAL PASSEIAPOR ESPAÇOS DA CIDADE

O Espaço das Artes pode ser chamado de a “Casa do FILO”. Trata-se de um dos espaços mantidos pelo programa Vilas Culturais, da Prefeitura de Londrina. Ao todo, o programa mantém outros nove espaços.Instalado num antigo barracão na Rua Cuiabá, 39, o Espaço das Artes é a sede administrativa do festival durante todo o ano e também é usado para a realização de cursos, oficinas, palestras e ensaios. Bem como palco de apresentações de teatro, shows musicais, exposições e outras manifestações ar-tísticas. É mantido pela Associação dos Amigos da Educação e Cultura do Norte do Paraná (AMEN).

ESPAÇO DAS ARTES ÉA “CASA DO FILO”

Na memória da organização, ganha destaque o desdobra-mento da equipe de produção para transformar o Moringão no palco do grupo De La Guar-da, com o espetáculo “Período Villa Villa” (foto acima), que pela primeira vez se apresenta-va fora da Argentina.“Vieram duas carretas lotadas de equipamentos e tivemos oito dias para a montagem e preparação técnica, num local totalmente cru para teatro”, relembra Paulo Braz, da orga-nização do FILO.O resultado foi compensador: filas de público e uma reporta-gem no Fantástico, programa da Rede Globo. “Londrina foi a primeira cidade a assistir ao espetáculo, que depois foi para a França, o Japão e fez temporada na Broadway, em Nova York”, conta.

MORINGÃOABRIGOUESPETÁCULOGRANDIOSO

Seis locais fechados e outros diversos espa-ços públicos serão os

palcos do FILO em Lon-drina, mantendo a tradição do festival de levar espe-táculos aos teatros propria-mente ditos, lugares adap-tados para apresentações e ruas. Nesta 43ª edição, o Ouro Verde é o único espa-ço convencional de teatro, mesmo com as limitações técnicas que diretores, pro-dutores e artistas sempre apontaram.

Usina Cultural, antigo Cine Vila Rica, Cemitério de Automóveis, Circo Fun-cart e Teatro FILO são os outros cinco locais fechados que receberão espetáculos. Todos têm em comum a ousadia dos produtores cul-turais de Londrina, que há décadas encaram o desafio de transformar barracões ou outros tipos de instalações em espaços para abrigar ce-nários, equipamentos, artis-tas e público.

O diretor artístico Luiz Bertipaglia diz que o FILO abriu caminho para a pro-posta de criação de espaços alternativos para a produção cultural. “Londrina enfren-ta problemas com a falta de lugares adequados. Mas, além de ter de superar essa dificuldade, o FILO sem-pre foi um laboratório de

ideias e de novos projetos. O público e os grupos que participam do festival se surpreendem com a capaci-dade de imaginar e adaptar espaços para os mais varia-dos tipos de espetáculos”, afirma o diretor.

O FILO já passeou por diversos endereços de Lon-drina. Desde as divertidas e inusitadas apresentações de rua no Calçadão, Concha Acústica, Zerão e margens do Igapó, até sobre as águas do lago num palco flutuan-te. Dos gramados do cam-pus da UEL, oficinas de carros, barracões e espaços comerciais desativados, até hangar de aviões, cadeião, praças e feiras livres.

Saguão do Teatro Ouro Verde, em noite de festival

A licitação da primeira fase da obra do Teatro Municipal deve ser aberta no mês de junho, informa o secretário de Cultura de Londrina, Leonardo Ramos. Sonho antigo de toda a cidade e especialmente da comunidade cultural, a construção do teatro começou a ganhar fôlego em 2006, com a definição do terreno junto ao empreendi-mento Marco Zero e a escolha do projeto arquitetônico por meio de um concurso.O investimento projetado para a primeira etapa é de R$ 8 milhões, sendo R$ 6,5 milhões do governo federal e R$ 1,5 milhão da Prefeitura. O projeto do Teatro Municipal

Licitação do teatro sai em junho, afirmasecretário de Cultura

é ousado, com uma grande sala de espetáculos para 1.200 pessoas, um espaço específico para teatro e outro multiuso, chamado de black box (sala preta). O investimento total na obra é estima-do em R$ 70 milhões.

Luiz Bertipaglia: Londrina sente a falta de espaços adequados parao teatro

FILO 2011 - SUPLEMENTO ESPECIAL

FILOmeu Paulo Briguet*

No primeiro ato, um jovem de 19 anos incompletos se propõe a ver todas as peças do Festival de Teatro de Lon-

drina. É 1989; ele acaba de chegar à cidade. O Muro de Berlim ainda não caiu. Com ex-ceção de dois ou três espetáculos, por coin-cidência de horários, ele acompanha toda a programação do festival. Em algumas pe-ças, faladas em espanhol, ele não entende nada. Em Brasília, Sarney comanda a hipe-rinflação.

No segundo ato, o mesmo jovem faz o paste-up da revista do festival. Até hoje ele se lembra da luz entrando pela janela da sala. Esse paste-up – coisa tão antiga quan-to máquina de escrever, telex e orelhão de ficha – é o primeiro trabalho jornalístico do rapaz. O Muro de Berlim já caiu. Collor é o presidente – cairá também.

No terceiro ato, ele conversa com amigos na velha casinha de madeira do Valentino. Faz frio – é tempo de FILO. Um dos ami-gos, Francelino França, entrega-lhe uma pasta com vários papéis: são peças de teatro e roteiros de cinema. Fernando Henrique vencerá Lula no primeiro turno. O rapaz pede mais uma cerveja; França não bebe.

No quarto ato, o personagem – não é mais tão jovem – está no Cabaré do FILO quando encontra uma colega de faculdade. Enquanto todos assistem ao show, eles se beijam. Qual é mesmo o presidente da Re-pública?

No quinto ato, silêncio. Uma luz se acen-de no palco. Da coxia, entra correndo o me-nino de um ano. Ao observar os movimentos do filho, ele pensa que a vida é ao mesmo tempo ensaio e peça. Quem a dirige?

Jornalista e escritor,foi assessor de

comunicação do FILO

FESTIVALDO TEMPO

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PARCERIAUEL E FILO, JUNTOS HÁ 40 ANOS

A Universidade Es-tadual de Londrina (UEL), principal

parceira na realização do FILO, completa 40 anos em outubro e nessas quatro décadas sempre esteve ao lado do festival de teatro, abrindo espaço, dando suporte, financiando e fortalecendo o evento.

A vice-reitora da UEL, Berenice Quinzani Jordão, lembra que a instituição mantém desde 1971 a Casa de Cultura, responsável pela realização de impor-tantes eventos.

A vice-reitora cita alguns exemplos da presença direta da UEL na cultura da cidade: o Cine-teatro Ouro Verde, principal palco do FILO; o Cine Com--Tour, com filmes artísticos que não encontram espaço no circuito comercial; a Orquestra Sinfônica da UEL, a primeira sinfônica do Paraná; e o Museu His-tórico Padre Carlos Weiss, também mantido pela universidade.

Para Berenice Jordão, a UEL e o FILO têm ligações históricas, que hoje vão bem além de seus domínios. “O FILO é da cidade há um bom tempo, um festival que leva o nome de Londrina para outras regiões e para fora do Brasil”, destaca.

Berenice Jordão, vice-reitora da UEL: instituição disponibiliza funcionários, espaços e infraestru-tura para a realização do FILO

A Associação dos Amigos da Edu-cação e Cultura do Norte do Paraná (AMEN) é a entidade realizadora do FILO, juntamente com a UEL. É a AMEN que, ano após ano, estrutura o projeto do festival, sai em busca de dinheiro e patrocínios, administra documentação, recursos e toda a programação artística e cultural do evento. “A AMEN é a alma e o co-ração, o cérebro, as mãos e os pés do FILO”, brinca Luiz Bertipaglia, diretor da entidade há nove anos.

AMEN,corpo ealma dofestival

Como evento cultural mais tradicional de Londrina, o FILO norteou a criação dos demais festivais de Londri-na, nas áreas de música, dança, circo e outras expres-

sões artísticas. Assim o secretário de Cultura de Londrina, Leonardo Ramos, define a importância do FILO. O secretá-rio lembra que neste ano a Prefeitura investe R$ 350 mil no festival, R$ 50 mil a mais do que no ano passado.

PARA SECRETÁRIO,FILO É A BASEDOS FESTIVAIS

Na parceria com o FILO, além de patrocinadora, a UEL disponibiliza integral-mente o Cine-teatro Ouro Verde e outros espaços físicos e a infraestrutura da Casa de Cultura. Apoio logístico material, de fun-cionários para instalação de equipamentos, transportes e pessoal de apoio às ativi-dades do festival são outras formas de investimento.

Outra ligação direta do FILO com a UEL é o cur-so de Artes Cênicas. “Não só teve o FILO como em-brião. O festival continua a ser um grande laboratório para alunos deste e de ou-tros cursos de graduação”, salienta a vice-reitora.

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PALCO

PARA DIRETOR DO FESTIVAL, LONDRINA ENFRENTA PROBLEMAS COM A FALTA DE ESPAÇOS ADEQUADOS

FESTIVAL PASSEIAPOR ESPAÇOS DA CIDADE

O Espaço das Artes pode ser chamado de a “Casa do FILO”. Trata-se de um dos espaços mantidos pelo programa Vilas Culturais, da Prefeitura de Londrina. Ao todo, o programa mantém outros nove espaços.Instalado num antigo barracão na Rua Cuiabá, 39, o Espaço das Artes é a sede administrativa do festival durante todo o ano e também é usado para a realização de cursos, oficinas, palestras e ensaios. Bem como palco de apresentações de teatro, shows musicais, exposições e outras manifestações ar-tísticas. É mantido pela Associação dos Amigos da Educação e Cultura do Norte do Paraná (AMEN).

ESPAÇO DAS ARTES ÉA “CASA DO FILO”

Na memória da organização, ganha destaque o desdobra-mento da equipe de produção para transformar o Moringão no palco do grupo De La Guar-da, com o espetáculo “Período Villa Villa” (foto acima), que pela primeira vez se apresenta-va fora da Argentina.“Vieram duas carretas lotadas de equipamentos e tivemos oito dias para a montagem e preparação técnica, num local totalmente cru para teatro”, relembra Paulo Braz, da orga-nização do FILO.O resultado foi compensador: filas de público e uma reporta-gem no Fantástico, programa da Rede Globo. “Londrina foi a primeira cidade a assistir ao espetáculo, que depois foi para a França, o Japão e fez temporada na Broadway, em Nova York”, conta.

MORINGÃOABRIGOUESPETÁCULOGRANDIOSO

Seis locais fechados e outros diversos espa-ços públicos serão os

palcos do FILO em Lon-drina, mantendo a tradição do festival de levar espe-táculos aos teatros propria-mente ditos, lugares adap-tados para apresentações e ruas. Nesta 43ª edição, o Ouro Verde é o único espa-ço convencional de teatro, mesmo com as limitações técnicas que diretores, pro-dutores e artistas sempre apontaram.

Usina Cultural, antigo Cine Vila Rica, Cemitério de Automóveis, Circo Fun-cart e Teatro FILO são os outros cinco locais fechados que receberão espetáculos. Todos têm em comum a ousadia dos produtores cul-turais de Londrina, que há décadas encaram o desafio de transformar barracões ou outros tipos de instalações em espaços para abrigar ce-nários, equipamentos, artis-tas e público.

O diretor artístico Luiz Bertipaglia diz que o FILO abriu caminho para a pro-posta de criação de espaços alternativos para a produção cultural. “Londrina enfren-ta problemas com a falta de lugares adequados. Mas, além de ter de superar essa dificuldade, o FILO sem-pre foi um laboratório de

ideias e de novos projetos. O público e os grupos que participam do festival se surpreendem com a capaci-dade de imaginar e adaptar espaços para os mais varia-dos tipos de espetáculos”, afirma o diretor.

O FILO já passeou por diversos endereços de Lon-drina. Desde as divertidas e inusitadas apresentações de rua no Calçadão, Concha Acústica, Zerão e margens do Igapó, até sobre as águas do lago num palco flutuan-te. Dos gramados do cam-pus da UEL, oficinas de carros, barracões e espaços comerciais desativados, até hangar de aviões, cadeião, praças e feiras livres.

Saguão do Teatro Ouro Verde, em noite de festival

A licitação da primeira fase da obra do Teatro Municipal deve ser aberta no mês de junho, informa o secretário de Cultura de Londrina, Leonardo Ramos. Sonho antigo de toda a cidade e especialmente da comunidade cultural, a construção do teatro começou a ganhar fôlego em 2006, com a definição do terreno junto ao empreendi-mento Marco Zero e a escolha do projeto arquitetônico por meio de um concurso.O investimento projetado para a primeira etapa é de R$ 8 milhões, sendo R$ 6,5 milhões do governo federal e R$ 1,5 milhão da Prefeitura. O projeto do Teatro Municipal

Licitação do teatro sai em junho, afirmasecretário de Cultura

é ousado, com uma grande sala de espetáculos para 1.200 pessoas, um espaço específico para teatro e outro multiuso, chamado de black box (sala preta). O investimento total na obra é estima-do em R$ 70 milhões.

Luiz Bertipaglia: Londrina sente a falta de espaços adequados parao teatro

FILO 2011 - SUPLEMENTO ESPECIAL

FILOmeu Paulo Briguet*

No primeiro ato, um jovem de 19 anos incompletos se propõe a ver todas as peças do Festival de Teatro de Lon-

drina. É 1989; ele acaba de chegar à cidade. O Muro de Berlim ainda não caiu. Com ex-ceção de dois ou três espetáculos, por coin-cidência de horários, ele acompanha toda a programação do festival. Em algumas pe-ças, faladas em espanhol, ele não entende nada. Em Brasília, Sarney comanda a hipe-rinflação.

No segundo ato, o mesmo jovem faz o paste-up da revista do festival. Até hoje ele se lembra da luz entrando pela janela da sala. Esse paste-up – coisa tão antiga quan-to máquina de escrever, telex e orelhão de ficha – é o primeiro trabalho jornalístico do rapaz. O Muro de Berlim já caiu. Collor é o presidente – cairá também.

No terceiro ato, ele conversa com amigos na velha casinha de madeira do Valentino. Faz frio – é tempo de FILO. Um dos ami-gos, Francelino França, entrega-lhe uma pasta com vários papéis: são peças de teatro e roteiros de cinema. Fernando Henrique vencerá Lula no primeiro turno. O rapaz pede mais uma cerveja; França não bebe.

No quarto ato, o personagem – não é mais tão jovem – está no Cabaré do FILO quando encontra uma colega de faculdade. Enquanto todos assistem ao show, eles se beijam. Qual é mesmo o presidente da Re-pública?

No quinto ato, silêncio. Uma luz se acen-de no palco. Da coxia, entra correndo o me-nino de um ano. Ao observar os movimentos do filho, ele pensa que a vida é ao mesmo tempo ensaio e peça. Quem a dirige?

Jornalista e escritor,foi assessor de

comunicação do FILO

FESTIVALDO TEMPO

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PARCERIAUEL E FILO, JUNTOS HÁ 40 ANOS

A Universidade Es-tadual de Londrina (UEL), principal

parceira na realização do FILO, completa 40 anos em outubro e nessas quatro décadas sempre esteve ao lado do festival de teatro, abrindo espaço, dando suporte, financiando e fortalecendo o evento.

A vice-reitora da UEL, Berenice Quinzani Jordão, lembra que a instituição mantém desde 1971 a Casa de Cultura, responsável pela realização de impor-tantes eventos.

A vice-reitora cita alguns exemplos da presença direta da UEL na cultura da cidade: o Cine-teatro Ouro Verde, principal palco do FILO; o Cine Com--Tour, com filmes artísticos que não encontram espaço no circuito comercial; a Orquestra Sinfônica da UEL, a primeira sinfônica do Paraná; e o Museu His-tórico Padre Carlos Weiss, também mantido pela universidade.

Para Berenice Jordão, a UEL e o FILO têm ligações históricas, que hoje vão bem além de seus domínios. “O FILO é da cidade há um bom tempo, um festival que leva o nome de Londrina para outras regiões e para fora do Brasil”, destaca.

Berenice Jordão, vice-reitora da UEL: instituição disponibiliza funcionários, espaços e infraestru-tura para a realização do FILO

A Associação dos Amigos da Edu-cação e Cultura do Norte do Paraná (AMEN) é a entidade realizadora do FILO, juntamente com a UEL. É a AMEN que, ano após ano, estrutura o projeto do festival, sai em busca de dinheiro e patrocínios, administra documentação, recursos e toda a programação artística e cultural do evento. “A AMEN é a alma e o co-ração, o cérebro, as mãos e os pés do FILO”, brinca Luiz Bertipaglia, diretor da entidade há nove anos.

AMEN,corpo ealma dofestival

Como evento cultural mais tradicional de Londrina, o FILO norteou a criação dos demais festivais de Londri-na, nas áreas de música, dança, circo e outras expres-

sões artísticas. Assim o secretário de Cultura de Londrina, Leonardo Ramos, define a importância do FILO. O secretá-rio lembra que neste ano a Prefeitura investe R$ 350 mil no festival, R$ 50 mil a mais do que no ano passado.

PARA SECRETÁRIO,FILO É A BASEDOS FESTIVAIS

Na parceria com o FILO, além de patrocinadora, a UEL disponibiliza integral-mente o Cine-teatro Ouro Verde e outros espaços físicos e a infraestrutura da Casa de Cultura. Apoio logístico material, de fun-cionários para instalação de equipamentos, transportes e pessoal de apoio às ativi-dades do festival são outras formas de investimento.

Outra ligação direta do FILO com a UEL é o cur-so de Artes Cênicas. “Não só teve o FILO como em-brião. O festival continua a ser um grande laboratório para alunos deste e de ou-tros cursos de graduação”, salienta a vice-reitora.

Page 11: Folha Filo

ECONOMIA DA CULTURATODO ANO, DINHEIRO NOVO NA PRAÇA

O FILO movimenta cerca de R$ 1,5 milhão diretamente na eco-nomia de Londrina, injetando

dinheiro nos setores de hotelaria, gastro-nomia, comércio, vida noturna, comuni-cação, mídia e diversos outros setores.

Nos 17 dias do festival, a cidade recebe cerca de 500 pessoas, com permanência média de quatro dias, com vínculo direto ao FILO. São atores, diretores, produto-res, técnicos, palestrantes, autoridades do setor cultural e outros profissionais

Hotéis, restaurantes, lanchonetes e bares que atendem os participantes e o público do FILO normalmente ampliam em 20% o quadro de funcionários para dar conta do movimento no período do festival.O cálculo do vice-presidente do Sindicato dos Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares de Londrina, Alzir Bocchi, inclui contratações temporárias, que vão desde garçons e ajudantes de cozinha até músicos, seguranças e promoters.Ele diz que o sindicato orienta setores de hotelaria, gastronomia e vida noturna, que são de sua área de atuação, a treinar colaboradores para atender bem a clientela do FILO. “São pessoas de fora, de outros países, de outros estados brasileiros, que movimentam a cidade”, afirma Alzir Bocchi.

O FILO contribui para o desenvolvimento do setor de turismo da cidade, porque coloca Londrina como destino regional e até nacional no segmento de cultura. “É importante ver Londrina projetada com notícias boas e o festival de teatro faz isso anualmente”, ressalta o presidente do Londrina Convention & Visitors Bureau, Reinaldo Cassimiro da Costa Junior.Para ele, não há dúvidas de que o FILO seja um dos mais importantes eventos londrinenses, sempre presente no calendário de atividades da cidade e apresentado como referência do potencial de Londrina na atração de outros eventos e também de novos investimentos. “O FILO é um dos grandes exemplos do que Londrina tem de bom”, diz.

Setores contratam mais para atender visitantes

Um exemplodo que a cidadetem de bom

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que se hospedam, comem, passeiam e gastam em Londrina.

O turismo de eventos, categoria em que se enquadra o FILO, tem um cálculo de gasto médio diário de R$ 300 por pessoa, somente em hospedagem e alimentação. Considerando-se as 500 pessoas, em quatro dias, são R$ 600 mil que permanecem na economia.

Mas os recursos começam a circular na cidade bem antes do festival, com investi-mentos na equipe de trabalho, na confecção

de impressos, na compra de materiais para produção dos espetáculos, aquisição de passagens aéreas e outros itens.

Durante o festival, outro volume de recursos considerável é das pessoas que vêm a Londrina para acompanhar as apresentações. No ano passado, o pú-blico foi estimado em 100 mil pessoas. Milhares são de cidades do Norte do Paraná e do Sul de São Paulo, visitantes que também aquecem a movimentação econômica do município.

Qualquer apre-sentação sobre Londrina, para

mostrar os potenciais do município e atrair empreendedores e in-vestimentos, tem um capítulo da vida cultural londrinense. E o desta-que maior sempre é o FILO, por sua tradição, pela projeção que pro-porciona à cidade e pela movimentação nos mais diversos segmentos da economia. É uma espé-cie de cartão de visitas de Londrina.

“É impossível separar a imagem de Londrina do FILO, que projeta a cidade de forma positi-va. O festival de teatro é um ativo que ajuda a vender a marca de Lon-drina para investidores”, ressalta Nivaldo Benve-nho (foto), presidente da Associação Comercial e Industrial de Londrina.

Estudo do Sebrae e de órgãos ligados ao turismo

UM CARTÃO DE VISITAS

aponta que um evento como o FILO mobiliza 51 segmentos da econo-mia, “desde os mais sim-ples, como pipoqueiros, até setores industriais e especializados da área co-mercial”. Benvenho cita

que o comércio é bas-tante beneficiado com o FILO, pela quantidade de atores e produtores culturais que traz a Lon-drina e também pelos vi-sitantes que vêm assistir aos espetáculos.

. . . .

. . . .

FILO 2011 - SUPLEMENTO ESPECIAL

FILOmeuJanaína Ávila*

Há algumas semanas, recebi um aviso do facebook dizendo que alguém ha-via me “marcado” em uma foto. Fui

conferir e era coisa de um amigo canaden-se, tirada no Cabaré do longínquo 2002. Eu e ele abraçados, acho que na última noite dele em Londrina, onde veio participar do FILO daquele ano. Jason é um técnico de cenografia da companhia que era uma das grandes atrações da Mostra Internacional.

Onde e quando seria possível levar o maior coreógrafo da Europa para tomar vi-tamina na Sergipe ou ver gringas brancas como leite tomando sol de topless no Ze-rão? Só mesmo nos dias de FILO. A foto no facebook me fez ficar morrendo de sauda-des dele e de todas as pessoas que encon-trei durante tantos anos.

É como se o festival se transformasse em um tipo de ímã, capaz de atrair pessoas que vivem em realidades completamente dife-rentes, mas que naquele intervalo de tem-po podem se conhecer, virar amigas, namo-radas, trocar experiências ou simplesmente secreções. Quem é que nunca conheceu o “melhor amigo” ou a “alma gêmea” duran-te o FILO que atire o primeiro crachá! O FILO já promoveu casamentos, fez filhos, deve ter netos e, do jeito que a coisa vai, até bisnetos!

Saudade, uma palavra que deve ser co-mum para quem lembra de algum FILO. Saudade da cidade em fibrilação, das pes-soas de todos os cantos juntas para ver e construir algo belo. E se viver é a arte do encontro, como diz o Poetinha, este é o pe-ríodo ideal para viver e amar Londrina.

Pronto, fiquei com ainda mais saudades.

Artistas, produtores e demais integrantes de um grupo de teatro ti-

nham acabado de descer do ônibus quando o motorista Jessé Alves da Rocha rece-beu um comunicado urgen-te: a esposa mandou avisar que estava sentindo dores, achava que tinha chegado a hora. Jessé não teve dú-vidas e, antes de pegar ou-tro grupo do festival que o aguardava, tocou o ônibus para sua casa, embarcou a mulher e a deixou na Ma-ternidade Municipal. Dali seguiu para o compromisso de trabalho.

Pouco tempo depois, quando se dirigia ao local determinado pela organi-zação do FILO, recebeu outro recado, pelo radio-comunicador: “Nasceu! É uma menina e está tudo bem!” Foi aquela festa, uma quantidade enorme de felicitações pelo walkie-

*Jornalista, foi assessora de

imprensa do FILO. Mora atualmente

na Itália

UM TIPO DE ÍMÃ

TRABALHADORES DA CULTURA

QUEM DIZ É O MOTORISTA DA UEL JESSÉ ALVES DA ROCHA, QUE VIU SUA FAMÍLIA CRESCER DURANTE O FILO

“O FILO É PURAADRENALINAPARA MIM”

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Luiz Bertipaglia, Valéria Victório, Patrícia Castro, Paulo Braz, Darlene Kopinski e Jorge Fordiani (foto) inte-gram a linha de frente da organiza-ção do FILO. Luiz é o coordenador geral e diretor artístico desde 2003, substituindo Nitis Jacon. Paulo Braz, o Paulinho, é o que está há mais tempo. Já são mais de duas décadas e meia dedicadas ao festival. Começou aos 15 anos, quando atuava no grupo Proteu e já ajudava na produção.Foi com Paulinho que Luiz e Vic se aproximaram do FILO. Em 1988, ainda estudantes, participaram como atores da peça “Insônia”, com o grupo Fora do Eixo, dirigidos por Fernanda Coelho e Paulo Braz como assistente. Trajetória semelhante tem Darlene, que igualmente manteve os primeiros contatos com o FILO parti-cipando de grupos teatrais. E depois seguiu o mesmo caminho. Patrícia Castro e Jorge Bordiani entraram para o time recentemente.

ESSE TIME VESTE A CAMISA

O FILO cria campo de trabalho para cerca de 150 pessoas no período de 30 a 40 dias, contando a preparação e a desmontagem do festival. São trabalhadores em diversas funções, entre elas produtores, técnicos de som, iluminadores, auxiliares, marceneiros, assistentes administrativos e artísti-cos, tradutores, cicerones dos grupos, jornalistas, repórteres fotográficos e cinematográficos, motoristas, seguranças e serviços gerais. “Além de empregar mão de obra, o FILO contribui para a formação profissional”, avalia Bertipaglia.

CAMPO DE TRABALHOE PROFISSIONALIZAÇÃO

-talkie, todos dando pa-rabéns e comemorando o nascimento da filha mais nova do Jessé. “Por isso, o FILO é pura adrenalina para mim”, diz ele.

Essa história aconteceu no FILO de 1997, no dia 20 de junho, por volta das 16 horas. Hoje aos 13 anos, Nadyege Victória se diver-te com o pai e ambos já estão ansiosos pelo início do festival. Ela aprendeu a gostar de teatro, pela influ-ência do pai e pelas circuns-tâncias de seu nascimento.

Servidor da Universidade Estadual de Londrina há 16 anos, Jessé integra a equipe cedida para atuar no FILO desde que entrou na UEL. “No primeiro ano, em 1995, nunca tinha ouvido falar do festival. Quando a

chefia pediu, fui pro FILO, gostei e todo ano quero de novo”, relata. Sempre dis-posto, encarou sem recla-mar as jornadas prolonga-das. “Teve dia que parei às quatro da madrugada e na manhã seguinte já estava na rodoviária com a Kombi, esperando pra transportar outra turma”, conta.

Entrosado com a equipe do FILO, Jessé comenta: “Gosto do pessoal, da mo-vimentação, de participar do festival. Já fiz muitos amigos estrangeiros e, quando não consigo conversar na língua deles, nos entendemos pe-los gestos. Tenho convite pra visitar e lugar pra ficar na Itália e na França. É um sonho conhecer Paris, a cida-de-luz. Falta só um dinheiri-nho”, afirma, sorrindo.

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FOI UM FILO QUE PASSOU EM MINHA VIDAUm festival como o FILO é feito por artistas de vários países, reconhe-

cidos por seu trabalho e, até mesmo, célebres num mundo midiático. É feito também pelo público “iniciado” nas artes teatrais.

Mas, aos 43 anos, identificado como um patrimônio da cidade de Londrina, o FILO é feito, sobretudo, por pessoas comuns que, no escuro de uma sala de espetáculos ou misturadas à multidão, têm experiências significativas que elas levam vida afora, ajudando a propagar o festival pelo tempo e espaço.

Confira a história de cinco dessas pessoas, que tiveram suas vidas atraves-sadas pelo rio caudaloso do FILO.

Como diz a música de Paulinho da Viola, artista que se apresentou com sucesso no festival em 2005: “Foi um rio que passou em minha vida e meu coração se deixou levar...”

CLÁUDIARainha do Carnavalencontrou seu “príncipe”

Cláudia Maria de Souza, eleita a Rainha do Car-

naval de Londrina em 2007, enxergou na his-tória de um príncipe em busca de sua amada a sua própria história. Em 2009, Cláudia foi pela primeira vez a um espe-táculo do FILO e assistiu à peça “Le Jeune Prince et la Verité” (O Jovem Príncipe e a Verdade), do grupo francês Studio--Théâtre de Stains. “Ele foi enganado, passou por diversas dificuldades, mas não desistiu. E essa também é a minha traje-tória: de sempre continu-ar buscando”, conta.

Aos 29 anos, Cláudia é formada em Pedagogia, está cursando pós-gradu-ação na mesma área, tra-balha em uma escola de educação infantil no perí-odo da manhã e limpa tú-mulos de dois cemitérios no período da tarde. Mas há pouco tempo não des-lumbrava a realidade que vive hoje. Com o dinhei-

ro que ganhava limpando túmulos, não conseguiria pagar a tão sonhada facul-dade que concluiu no final de 2010. “Quando vi a premiação do concurso de Rainha, não tive dúvidas e me inscrevi”, conta sobre o prêmio em dinheiro que a ajudou nas despesas da faculdade.

“Já tinha assistido a pe-ças de teatro em espaços públicos, mas esse espe-táculo do FILO eu vou levar para sempre comi-go”, afirma a bela negra que bancou seu sonho de cursar Pedagogia e está correndo atrás de outros objetivos agora. Cláudia pretende dar aula para crianças com necessida-des especiais e, para isso, faz especialização à noite e frequenta a Biblioteca Pública aos sábados em busca de mais conheci-mento. “Esse príncipe me ensinou que o importante é lutar pelo que a gente quer, independente das dificuldades no meio do caminho”, avalia.

Cláudia já tinha assistido a peças de teatro em

espaços públicos, mas um espetáculo do FILOficou para sempre com ela

NIVALDOFoi à Europa realizar um sonhoe conquistar prêmios

Quando participou como assisten-te da atividade “Processus de Création Théatral em Milieu Carcéral” (Processo de Criação Teatral no Meio Carceral), que integrava os “Projetos de Maio” do FILO 2004, o ator e agen-te penitenciário Nivaldo Lino só queria facilitar o trabalho da ministrante Elisabeth Gonçalves na Penitenciária Estadual de Londrina (PEL). “Tra-balhava como agente na PEL e sabia que não seria fácil formar um grupo de atores entre os detentos. Abracei a ‘bronca’ para que o projeto pudesse acontecer”, lembra.O esforço acabou ren-dendo a Nivaldo prê-mios, viagens ao exterior e uma participação como protagonista em um cur-ta-metragem. Ele, que tinha como sonho “inal-cançável” uma viagem ao exterior, foi para a França e a Espanha em 2005. “A ministrante francesa en-

xergou que sem a minha ajuda o projeto não teria acontecido. Ficou muito agradecida e me presen-teou com a viagem”, relata.No ano seguinte, Elisa-beth Gonçalves voltou à PEL com o roteirista fran-cês Florence Bresson para realizar um curta-metragem documental que Nivaldo protagonizou. O curta-me-tragem “Nada a Ver”, lan-çado em 2008, rendeu uma nova viagem à França, pois

o trabalho concorreu e foi premiado em festivais de cinema locais.Ator desde 1990, Nivaldo atua no grupo londrinense Boca de Baco e afirma que o FILO sempre esteve pre-sente na sua vida durante esse tempo. “O FILO trou-xe muitas coisas para mim, além das viagens: outras oficinas que fiz e as peças a que assisti ajudaram muito na minha formação como ator”, contabiliza.

O ator e agente penitenciário Nivaldo Lino mostra as fotos das viagens que fez à França

FILO 2011 - SUPLEMENTO ESPECIAL

FILOmeu Célia Musili*

Em 2008, quando o FILO comple-tou 40 anos, uma de suas grandes atrações foi a companhia dirigida

pelo inglês Peter Brook. Recebido com atenção total, o grupo apresen-tou em Londrina o espetáculo ‘Frag-ments’, uma montagem que mostrava a mestria do diretor e o talento de três grandes atores. Na entrevista coleti-va, que contava com profissionais dos principais jornais do Brasil, o grupo chegou com uma produtora conside-rada muito exigente. Como assessora de imprensa, eu participava das en-trevistas e cuidava para que os artistas fossem bem recebidos. Assim, ofereci um cafezinho que os atores aceitaram prontamente, mas a produtora disse que queria chá.

Well, nossos patrocinadores ofe-reciam café, capuccino, biscoitos, mas não tínhamos chá. Então, pedi a uma pessoa da produção que pro-videnciasse a bebida. A moça foi até o supermercado e trouxe uma caixa de chá-mate Leão. Arrepiei quando percebi que aquilo tinha sabor de pêssego. Pensei que, nem de longe, a bebida lembrava os chás do Ceilão ou da Índia. Mas a mulher tomou o mate sem reclamar, com a mesma deferência que devia dispensar aos leões do brasão britânico. Com toda cerimônia, sentada sem se recostar na cadeira, ainda repetiu a dose sem ver a embalagem. De Londres para Londrina, ela levantava a sobrance-lha direita a cada vez que tirava o pires da xícara. Eu olhava a mise en scéne, imaginando que, por algum milagre, nossos leões tinham agrada-do à “dama de ferro”, que foi até o fim com sua performance very, very british.

*Jornalista,foi assessora de

imprensa do FILO

VERY BRITISH

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Paulo Braz, à direita, e o elenco do espetáculo “Olhares Guardados” durante ensaio da peça

turais Para Pessoas com Deficiência”, realizada no Rio. A oficina orientou que todos os eventos te-nham projetos e espetácu-los voltados para deficien-tes e à acessibilidade.

INCLUSÃO ÉPARA TODOS

De acordo com Paulo Braz, o debate sobre de-ficiência e acessibilidade chegou a um tal ponto de sofisticação que não se fala mais só em inclusão para de-ficientes, mas em inclusão para todos. “Somos nós que temos que derrubar precon-ceitos. Entender as muitas dificuldades, mas também as potencialidades de quem tem deficiência. Até porque todos nós, com o tempo, vamos perdendo nossas ca-pacidades e habilidades. Por isso, temos que nos preocu-par com a acessibilidade.”

MUITO QUE FAZERO diretor-geral do FILO,

Luiz Bertipaglia, comemo-ra os avanços dos Projetos de Inclusão e Acessibili-dade, mas aponta que há muito que avançar. “Reco-nhecemos que nossos espa-ços têm que avançar muito quando o assunto é acessi-bilidade. A construção do Teatro Municipal, obede-cendo todas as normas atu-ais, seria um avanço.”

Além dos projetos que trabalham com cegos, surdos e mudos, os Projetos de Inclusão e Acessibilidade focam grupos de idosos e jovens da região Norte de Londrina. Realizados desde 1995, a partir de 2000 eles foram incorporados à estrutura orgânica do festival, ao lado da programação artística e das atividades formativas voltadas a estudantes, pesquisadores e profissionais da cultura.

Segundo Darlene Kopinski, vários moradores do cam-po e da cidade passaram pelo projeto e permanecem no cenário cultural da cidade. “São verdadeiros cidadãos pelas mãos da cultura”, afirma.

Projetos envolvemdeficientes, jovens e idosos

Confira a programação: www.filo.art.br

TIÃO NASCEU PARAA LITERATURA NO FILO

Sebastião Narciso, o Tião Balalão, não nasceu cego. Perdeu a visão num acidente de carro, quando tinha 28 anos de idade e quatro me-ses de casado. Nada hoje em seu semblante lembra tristeza e mágoa. Tião irra-dia confiança, bom humor e entusiasmo pela vida.

Ex-bancário, Tião hoje é escritor, ator e palestran-te. Diz ter nascido para a literatura na oficina “Contadores de Histórias”, coordenada por Fátima Café, no FILO 2001. São dele alguns textos do espetáculo “As Cidades e os Olhos” (2003).

Desde então, Tião não parou mais. Publicou “Por Detrás dos Olhos”, livro de crônicas lançado no festival

de 2004. Lançou os livros de histórias infantis “O Engenho da Imaginatião I” (2006) e II (2008). Vai lançar em agosto Engenho III, com o subtítulo “Tião Ba-lalão Entre Bruxas e Sacis”.

Tião dá palestras de motivação profissional e estímulo à leitura.

Page 13: Folha Filo

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Quando os espetáculos “A Cura”, da Cia. Gira Dança (RN), e “D...Equilíbrio”, da Cia.

Vindança (SP), que têm pessoas com deficiência em seus elencos, estive-rem sendo apresentados nos palcos do FILO deste ano, uma história em muitos capítulos vai passar pela ca-beça das pessoas que fazem o festival (leia mais sobre esses espetáculos no site www.filo.art.br).

Entre outras, por Paulo Braz, que coordena as ações de acessibilidade para pessoas com deficiência, dentro dos Projetos de Inclusão e Acessibili-dade, que têm a coordenação geral de Darlene Kopinsk.

O capítulo inicial da história acontece em 2000, chamado de Ano Zero – De Todas as Artes. Foi quando, segundo Darlene, “o festival incorporou de maneira definitiva o acesso aos bens culturais como algo imprescindível para se combater a exclusão social e promover a igualdade de direitos.

OLHOSE OLHARES

Paulo Braz guarda com carinho um capítulo da história. A oficina “Con-tadores de Histórias”, coordenada pela carioca Fátima Café, em 2001, realizada no Instituto Londrinense de Instrução e Trabalho para Cegos (ILITC), integrava os Pro-jetos de Maio, precursores dos atuais Projetos de In-clusão.

A partir da experiência, Braz dirigiu o espetáculo “As Cidades e os Olhos” (2003), encenado por ato-res cegos. A peça foi apre-sentada em capitais como Rio, São Paulo e Belo Horizonte. Deu visibili-dade nacional ao trabalho realizado pelo FILO com

CIDADANIA CULTURAL

FESTIVAL É REFERÊNCIA PARA TODO O PAÍS QUANDO O ASSUNTO É ACESSIBILIDADE PARA DEFICIENTES

FILO AJUDA A ESCREVERA HISTÓRIA DA INCLUSÃO

inclusão e acessibilidade. “As Cidades...” é base-

ado na obra de Ítalo Cal-vino, “As Cidades Invisí-veis”. Alguns dos textos da peça foram escritos por Sebastião Narciso, que par-ticipou da oficina de Fáti-ma Café e também é ator da peça (leia na página 5).

Em 2010, o grupo es-treou “Olhares Guarda-dos”, também dirigido por Braz. Em cartaz há dois anos, o espetáculo ganhou

o prêmio Miriam Muniz, da Funarte, concorrendo com grupos de atores pro-fissionais de todo o Bra-sil. “Foi um exemplo de como o trabalho com defi-cientes está sendo avalia-do por seu valor artístico, sem perder sua relevância política e social.”

BARREIRASTRANSPOSTAS

A apresentação do espe-táculo “Judith Quer Cho-

rar Mas Não Consegue”, com Eduardo O., dança-rino e cadeirante, é outro momento mágico dessa história. “Ali todas as bar-reiras entre deficiência e arte foram transpostas. Foi um dos principais espetá-culos de 2008. Foi lindo, impactante”, avalia Braz. O festival tem sido palco para grupos locais de de-ficientes como o Getepae (Grupo de Teatro para Atores Especiais).

TODAS ASACESSIBILIDADES

O FILO fez história nas ações pela inclusão e aces-sibilidade com a encenação de “Os Inclusos e os Cisos”, da Escola de Gente, do Rio de Janeiro, em 2009. Possi-velmente, foi a primeira vez que uma peça teatral foi en-cenada no País com todas as acessibilidades (lingua-gem de libras, para surdos--mudos, áudio-descrição e legendagem eletrônica para cegos). Segundo publicação da escola, a apresentação “abriu caminho para que se conhecesse e incorporasse a reflexão e a prática do teatro inclusivo”.

O FESTIVAL DAINCLUSÃO

Também na edição de 2009, foi realizado o deba-te “Acessibilidade para a Democratização da Cultu-ra”, do qual saiu a Carta da 41ª Edição do FILO, assi-nada por mais de 50 enti-dades e que circula o País e o mundo. A carta propõe a adoção de medidas de acessibilidade em todas as manifestações artísticas e culturais. “Por iniciativas como essa, somos reco-nhecidos como o festival--referência na promoção de políticas de acessibili-dade”, afirma Braz.

Na condição de referên-cia, o FILO tem participa-do dos principais debates pelo País sobre o tema. Em 2008, foi o único fes-tival presente na “Oficina Nacional Para a Indicação de Políticas Públicas Cul

Cena do espetáculo A Cura, da Cia. Gira Dança (RN): arte e inclusão de mãos

FILO 2011 - SUPLEMENTO ESPECIAL

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13SAMIRAPeças do festival sãosua brincadeira favorita

A adolescente Samira Dote, de 14 anos, acompanha o FILO

desde 2006. Filha única da bancária Sueli Tazaki, ela nunca quis ser atriz pro-fissional, mas gosta de as-sistir aos espetáculos para poder reproduzir o que vê aos finais de semana com seus primos. “Sou a mais velha e sempre organizei as brincadeiras. Tudo o que via no teatro tentava fazer com eles”, conta.

A cada edição do fes-tival, Samira confere o maior número de peças que consegue. “Deve ser por isso que eu só consigo me lembrar do que gostei no espetáculo e nunca do nome dele”, brinca. Hoje, Samira confere tan-to os espetáculos da grade infantil quanto da progra-mação adulta do festival.

“Mas os espetáculos de rua e com palhaços conti-nuam sendo os meus pre-feridos”, diz sobre o que acaba por deixá-la ansiosa pela chegada do FILO.

“Houve época em que a Samira pedia que eu es-crevesse e-mails para a or-ganização do festival para saber sobre os espetáculos que seriam apresentados”, conta Sueli sobre a paixão da filha que foi herdada dela. Nascida em São Pau-lo, Sueli morava no Bexiga, bairro que abrigava teatros famosos, como o Cardoso e o Bandeirantes. Mas Sueli não tinha nem idade nem condições financeiras para ir ao teatro na época. “Por isso acho o FILO excep-cional: inclui o público in-fantil na sua programação e tem um custo acessível”, avalia Sueli.

Em casa, Samira costuma divertir os primos com as palhaçadas que aprendeu nos espetáculos do FILO

RAULLondrinista lava a alma em show do Cabaré

O empresário Raul Fulgêncio é o que se pode chamar

de londrinista, adjetivo um grau acima de londri-nense. O londrinista é, antes de tudo, uma alma apaixonada por Londri-na. Não consegue se ima-ginar sem a cidade que resolveu chamar de sua.

Qualquer coisa que deponha contra a cidade parece ofensa pessoal, tal a identidade entre um e outra. Mas quando

ela é motivo de orgulho e objeto de elogios, sai de baixo. O londrinista não esconde a autoesti-ma elevada, o orgulho na estratosfera.

O imobiliarista Raul vi-veu dois episódios opos-tos, em que seus sen-timentos por Londrina foram colocados à prova. O primeiro, um show-jan-tar com Fafá de Belém, num clube da cidade, frequentado por muita “gente bacana”. “A can-

tora teve que interromper o show no meio, porque a plateia estava mais preo-cupada em comer, beber e falar do que assistir ao show”, conta, desaponta-do com o comportamento “indigno” do melhor es-pírito londrinista.

A forra veio justamente no Cabaré de 1998, no an-tológico show de Ângela Maria e Cauby Peixoto. Os dois grandes astros da época de ouro da música popular brasileira foram

recebidos com pompa e circunstância no FILO. O show – numa noite ilu-minada, relembra o em-presário – foi apoteótico.

Ângela e Cauby foram aplaudidos de pé por mui-tos minutos pela plateia londrinense, em grande parte formada por jovens. “Sim, nós somos um povo que sabe valorizar a arte e o artista.” O coração lon-drinista de Raul bateu acelerado. Ele foi para casa com a alma lavada.

O empresárioRaul Fulgênciovibrou com a atitudedo público deLondrina

ISADORAUm nome, uma homenagemà vida e à arte

“Isadora Rara sem-pre teve um ‘quê’ de nome de artista

mesmo.” É assim que a jovem Isadora Rara Abramo Pellegrini co-menta sobre o nome que ganhou por conta de um espetáculo que seu pai, o músico e jornalista Bernardo Pellegrini, es-colheu para ela durante o FILO de 1989. “Eu sempre tive dúvidas se me chamava Isadora por causa da bailarina Isado-ra Duncan ou por conta de um espetáculo do FILO”, comenta na en-trevista.

A dúvida é esclareci-da por sua mãe, a jorna-lista e aromaterapeuta Maria Angélica Abramo. O nome tem mesmo os dois motivos de escolha. “Sempre soube que se tivesse uma menina se chamaria assim porque gostava muito da bailari-na. Mas não contei para ninguém. Aí, quando o Bernardo assistiu ao es-petáculo do FILO ‘Isa-dora’, ele decidiu que esse seria o nome da filha que estávamos esperan-do”, relata. O espetáculo era do bailarino peruano Edgar Guillén e homena-geava Isadora Duncan.

Cursando o último ano da faculdade de Publici-dade e Propaganda e co-ordenando um projeto de fotografia que se trans-formará em livro, Isadora conta que o FILO aca-bou marcando sua vida. “Tenho lembranças de

quando era bem novi-nha de assistir espetácu-los a céu aberto, de ver meu pai tocando no Ca-baré na adolescência”, justifica sobre sentir “a cidade envolvida por uma magia na época do festival”.

O nome da estudante Isadora Rara foi inspirado em um espetáculodo FILO de 1989

Page 14: Folha Filo

Cena da peça “Gruta conta Tiradentes”, apresentada no IV Festival Universitário de Londrina, em 1971. O grupo Gruta, criado e dirigido por Nitis, foi “uma das sementes do FILO”. Muitos de seus atores trabalharam na organização do festival.

UMA SEMENTENuma época de resistência à ditadura militar, Nitis dirigiu “O Verdugo” (1972), de Hilda Hilst, uma montagem ousada e expe-rimental do grupo Núcleo. Era Londrina na vanguarda do teatro nacional. “Sem dúvida, um marco político e artístico”, diz Nitis.

RESISTÊNCIA E INOVAÇÃO

Londrina comemora-va 50 anos e o grupo Proteu, dirigido por Nitis, ousou ao tratar a “colonização” longe do mito do “Eldorado no Norte do Paraná”, no espe-táculo Bodas de Café (1984). “Muitos se tornaram marginais da sociedade.” Bodas foi censurado.

50 ANOSDE LONDRINA

“Parte integrante do festi-val, um lugar de encontro do público e dos artistas, um espaço para a experi-mentação cênica. E, claro, um evento com diversão de qualidade.” Assim Nitis define o Cabaré. Na foto, o Cabaré de 1998, com instalações do catalão Jordi Rocosa.

O CABARÉDO FILO

“Não perdia um espetáculo do Mário Bortoloto (dra-maturgo londrinense de renome nacional). Eu dizia: esse cara vai longe.” Nitis fala de um entre vários ar-tistas e grupos locais que deram saltos importantes em suas carreiras participando do FILO. Outros podem ser citados, como o Armazém Companhia de Teatro.

SALTO NAS ALTURAS

“LONDRINA ÉMINHA PÁTRIA”

Nitis Jacon, presidente de honra do FILO, abre o “baú de memó-rias do festival”, com suas muitas fotos e imagens. Fala sobre alguns fatos que marcaram 43 anos de uma história de resistência,

paixão e arte, que continua a ser escrita. E declara seu amor a Londrina – cidade inquieta, aberta ao mundo e realizadora, assim como ela.

Em 1968, Nitis foi convidada pelo jornalista Délio César a participar da primeira edição do FILO, que se chamava Festival Universitário de Londrina. “Eu me apaixonei por tudo aquilo.” Em 1971, assumiu a dire-ção do festival, quando este foi incorporado pela recém-criada Universi-dade Estadual de Londrina (UEL).

Desde então, as histórias do FILO e da médica psiquiatra – e “atriz e diretora de teatro”, enfatiza – não se separam. E Londrina é o pal-co de um “processo”, como ela faz questão de dizer, em que sonhos foram realizados, vidas e realidades transformadas. E, importante, há ainda muito que fazer. Talvez por isso ela fique tão à vontade em dizer: “Londrina é minha pátria”.

Em 1968, Nitis foi convidada pelo jornalista Délio César a participar da primeira edição do FILO, que se chamava Festival Universitário de Londrina. “Eu me apaixonei por tudo aquilo.” Em 1971, assumiu a dire-ção do festival, quando este foi incorporado pela recém-criada Universi-dade Estadual de Londrina (UEL).

Desde então, as histórias do FILO e da médica psiquiatra – e “atriz e diretora de teatro”, enfatiza – não se separam. E Londrina é o pal-co de um “processo”, como ela faz questão de dizer, em que sonhos foram realizados, vidas e realidades transformadas. E, importante, há ainda muito que fazer. Talvez por isso ela fique tão à vontade em dizer: “Londrina é minha pátria”.

Nitis não esconde a satisfação de perceber que o FILO está em pleno movimento. É um festival capaz de combinar tradição e inovação. Por isso, é um dos mais importantes do País e o mais antigo da América Latina. Na foto, espetáculo Fragments (2008), de Peter Brook, um dos principais diretores de teatro do mundo.

FESTIVAL EM MOVIMENTO

14 FILO 2011 - SUPLEMENTO ESPECIAL

FILOmeuDomingos Pellegrini*

Encontro de línguas tantasfalando a mesma linguagemo jardim floresce em junhoflores de luzes e espantos

História de insistênciasplantando a eterna utopia:

viver não só de pão como também de magia

e ouvir bem cada silêncioacreditar na alegria

e nos mistérios humanos

Então com tamanho empenhoplantamos todos os anos

jardim que floresce em junho

*Escritor,um dos fundadores

do FILO

FILORES

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EXPEDIENTE

Direção: Luiz BertipagliaPresidente de Honra: Nitis JaconORGANIZAÇÃODarlene KopinskiJorge FordianiJosé Eduardo MaestrelliPaulo BrazValéria VictórioPRODUÇÃO E APOIODaniele PereiraGabriela Viecili

MOSTRA PETROBRASUM SUCESSO DEPÚBLICO E CRÍTICA

A Petrobras apoia e incentiva a cultura em todo o País, nas suas mais variadas manifestações (teatro, dança, cinema etc.). É a maior patrocinadora do FILO, que rea-liza este ano uma mostra com o nome da empresa. “São espetáculos de sucesso de crítica e público, que colocam Londrina em sintonia com o melhor das artes cênicas do momento”, enfatiza Luiz Bertipaglia.

A Mostra trará a Londrina “Antes da Coisa Toda Acon-tecer”, do Armazém Companhia de Teatro (RJ) – grupo que iniciou sua trajetória em Londrina; “Tio Vânia”, do Grupo Galpão (MG); “Sua Incelença, Ricardo III”, do Clowns de Shakespeare (RN); “Devassa”, da Companhia dos Atores (RJ); e “Tatyana”, novo espetáculo da Cia. de Dança Deborah Colker”, uma das mais importantes do mundo, que encerra o festival.

“Se o teatro nacional vive um grande momento, sem dúvida o apoio de empresas como a Petrobras e as leis de incentivo têm um grande papel nisso”, enfatiza Bertipaglia.

Um dos maiores grupos de dança daatualidade, a Companhia de Dança Deborah Colker encerra o festival dia 26 de junho

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A Cia. Armazém de Teatro, que iniciou sua trajetória em Londrina,se apresentana Mostra Petrobras

DOZE ESPETÁCULOSINTERNACIONAIS

A programação internacional deste ano faz jus a uma tradição do FILO: a diversidade. Espetáculos de 12 países atingem todos os públicos. “Isso só é possível

porque estamos ligados a vários importantes festivais do Brasil e do mundo”, diz Luiz Bertipaglia.

Chama a atenção a utilização de várias linguagens artísticas (dança, teatro, vídeo, marionetes), em espetá-culos como “Keskusteluja”, da Finlândia. O “teatro de bonecos”, que caiu no gosto do público londrinense, está em produções como da belga Cia. Point Zero, que adapta o texto “As Três Velhas”, de Alejandro Jodorowsky – o mesmo levado à cena pelo Grupo Pândega, de Maria Alice Vergueiro. Da América Latina, vem a real e crua AMAR, do argentino Alejandro Catalán.

Guillaume FesneauJoão Darwin RodriguesMargareth de AlmeidaPatrícia de Castro SantosPROGRAMAÇÃO VISUALPianofuzzASSESSORIA DE IMPRENSAJackeline Seglin

REALIZAÇÃO

AMENPresidente: Luiz BertipagliaDiretor Administrativo: José Eduardo MaestrelliUELReitora: Profa. Dra. Nadina Moreno

Vice-reitora: Profa. Dra. Berenice Quinzani JordãoDiretora da Casa de Cultura: Adriane GomesChefe da Divisão de Artes Cênicas: Camilo ScandolaraPRODUÇÃO DO JORNALEdição: Luciano Bitencourt Colaboração: Ricardo da Guia Rosa e Juliana BoligianFotografia: Celso Pacheco, Saulo Ohara e Arquivo FILOEdição de arte e diagramação: Editora Londrina NorteRevisão: Jackson LiaschImpressão: Ed. e Gráf. Paraná Press SATiragem: 18.000

Page 15: Folha Filo

2

BILHETERIA

Os ingressos para os espetáculos do FILO 2011 começaram a ser vendidos no dia 4 de junho, no Royal Plaza Shopping (Rua Mato Grosso, 310, Centro), das 10h às 19h.

E atenção! Do dia 4 até o dia 10 de junho, os ingressos serão vendidos com preços promocionais: R$ 7,50 a meia-entrada e R$ 15,00 a inteira. A partir do dia 11 de junho, os ingressos passam a custar R$ 10,00 a meia e R$ 20,00 a inteira (veja nesta página quem tem direito à meia-entrada e a descontos especiais).

Cada pessoa poderá adquirir, no máximo, quatro ingres-sos por espetáculo – regra que não vale para estudantes e ingressos com descontos (veja nesta página).

Importante lembrar: a bilheteria dará prioridade a idosos, deficientes físicos e gestantes. Os ingressos do dia que restarem na bilheteria serão vendidos nas portarias do teatro, uma hora antes dos espetáculos.

VENDAS DE INGRESSOSJÁ COMEÇARAM

BALLET DELONDRINA

ABRE FESTIVAL

MEIA-ENTRADASerá vendida apenas uma meia-entrada por pessoa. É obrigatóriaa apresentação do devido documento no ato da compra.

ESTUDANTES – A PARTIR DOS 11 ANOSDocumentos: carteira de identificação expedida pelas instituiçõesde ensino e uniões de estudantes.

IDOSOS – A PARTIR DOS 60 ANOSDocumento: carteira de identidade.

PROFESSORES DAS REDES MUNICIPAL E ESTADUALDocumentos: demonstrativo de pagamentoe documento de identidade com foto.

...

DESCONTOSSerão vendidos apenas dois ingressos com desconto por pessoa.Para os estudantes das escolas municipais de Teatro e de Dança, a cota é de um ingresso por pessoa. É obrigatória a apresentação do devido documento no ato da compra.

SERVIDORES DA UEL – DESCONTO DE 50%Documentos: carteira de identificação expedida pela UELe documento com foto.

SERVIDORES MUNICIPAIS – 50%Documentos: identificação funcional e documento com foto.

ALUNOS DAS ESCOLAS MUNICIPAIS DE TEATRO E DE DANÇA – 50%Documentos: carteira expedida pelas escolas e documento com foto.

PORTADORES DO CARTÃO, FUNCIONÁRIOSE FORÇA DE TRABALHO DA PETROBRAS – 50%Documentos: Crachás; documento de identificação com foto.

CLIENTES DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – 20%Documentos: Cartão Petrobras ou crachá; documentode identificação com foto.

...

ENTRADA DO TEATROÉ OBRIGATÓRIA A APRESENTAÇÃO DE DOCUMENTO QUECOMPROVE O DIREITO À MEIA-ENTRADA E AO DESCONTO.

PROIBIDO A ENTRADA, INCLUSIVE NO SAGUÃO,COM ALIMENTOS E BEBIDAS.

NÃO SERÁ PERMITIDA A ENTRADA APÓS O INÍCIO DO ESPETÁCULO

SE VOCÊ ESQUECER OS DOCUMENTOS EM CASA, NÃO PERCA TEMPO: PEÇA PARA ALGUÉM OU VOLTE PARA BUSCÁ-LOS IMEDIATAMENTE.

...

$ACEITAMOS CARTÃO VISA OU MASTERCARD, SOMENTE PARA DÉBITO.

NÃO ACEITAMOS CHEQUE, NÃO FAZEMOS DEVOLUÇÃO DE DINHEIRO.

NÃO FAZEMOS TROCA NEM RESERVA DE INGRESSOS....

Para a abertura do festival, dia 10 de junho, às 20h30, no Teatro Ouro Verde, foi convidada a companhia Ballet de Londrina, que faz a estreia nacional do espetáculo “A Sagração da Primavera”, com direção e coreografia de Leonardo Ramos. A participação londrinense no festival tem outros 12 espetáculos, mostran-do um panorama do que vem sendo produzido em artes cênicas na cidade. Também estão na programação dois espetáculos de Maringá.

Cinco oficinas, um lançamento de livro e 15 palestras com atores e di-retores de grupos de teatro participantes do FILO. São algumas das atividades dos Projetos Formativos, de 13 a 25 de junho. A programa-ção é direcionada à capa-citação e aperfeiçoamento de estudantes e profissionais das artes cênicas.

Formação ecapacitação emartes cênicas

Confira a programação: www.filo.art.br

FILO 2011

NOMES CONSAGRADOS DO TEATRO E DA DANÇASE APRESENTAM NOS PALCOS DE LONDRINA

O MELHORDO TEATROESTÁ AQUIO Festival Interna-

cional de Londrina (FILO) de 2011 é

uma grande oportunidade de conhecer o melhor da produção teatral brasileira e internacional. A progra-mação vai de 10 a 26 de ju-nho e promete mexer com a cidade, com espetáculos de qualidade, para todos os públicos. Confira a progra-mação completa nas pági-nas 8 e 9.

Quem dá um panorama da programação é o diretor

artístico do festival, Luiz Bertipaglia. “Os espetá-culos nacionais são uma mostra do bom momento que vive o nosso teatro. São peças que comportam várias propostas, todas de altíssimo nível”, afirma.

O FILO recebe, entre outras atrações nacionais, as companhias de Maria Alice Vergueiro (“As Três Velhas”), Beth Coelho (“Terceiro Sinal”), Cacá Carvalho (“O Hóspede Se-creto”) e Teatro Lume (“O

que seria de nós sem as coi-sas que não existem”).

Vergueiro é uma das gran-des damas do teatro nacional e volta a Londrina depois de anos. Coelho é uma das atrizes mais premiadas e consagradas do País. Cacá Carvalho é um intérprete que fez e faz história na cena brasileira. O grupo Lume é um dos mais aclamados re-presentantes do chamado teatro de grupo.

A programação local e nacional conta com 35 espetáculos, de várias re-giões do País. Bertipaglia destaca também a Mostra Petrobras, uma novidade para este ano. Leia nesta página.

Uma das atrações inter-nacionais do FILO 2011, a Cia. Point Zero adapta o texto “As Três Velhas”, o mesmo levado à cena pelo grupo de Maria Alice Vergueiro

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FILO 2011 - SUPLEMENTO ESPECIAL

FILOmeuApolo Theodoro*

Nordestino de nascimento, a escolha de João Pessoa para o papel de aju-dante de cangaceiro, no 1º Festival

Universitário de Londrina, em 1968, tinha tudo para dar certo se não fosse por um de-talhe: seu jeito explosivo de ser, diziam os cochichos, fatalmente entraria em choque com o de alguém tão bicudo e tempera-mental quanto ele: o diretor da peça, Alex Soares de Almeida.

E não deu outra: “Levanta esta espingar-

da, João, já falei isso mil vezes, cacete! Isso é cara de cangaceiro, João? Conta outra, não assusta nem criança! C..., João, você só tem duas falas e só gagueja, gagueja e nada...” Se aguentou, quase calado, tudo isso por cerca de vinte dias, João explodiu ao ouvir algo – “Assim não dá, João, que cangaceiro de merda é você, achei que sendo nordes-tino você faria um cangaceiro...” – que lhe pareceu ofensivo, tanto que interrompeu Alex e, também aos berros, sem gaguejar, pôs fim à sua curta carreira de ator:

“O que você falou?! Tá pensando que

nordestino só serve pra ser cangaceiro, é? Isso é preconceito da sua parte! E se eu sou um cangaceiro de merda, você também é um diretor de merda, tá bom assim, e quer saber de uma coisa, pra mim também che-ga!” Berrou e, mais furioso, jogou o chapéu e a cartucheira longe; mais possesso ainda atirou a espingarda – “Tome e enfie naque-le lugar...” – em direção a Alex, que a segu-rou enquanto falava empolgado:

“É assim que eu quero o cangaceiro,

João, eu provoquei pra ver se você rea-gia, é esse olhar furioso que eu quero ver no cangaceiro na hora que vocês invadem a cidade. Se fizer assim, o papel ainda é seu!” O ex-ajudante de cangaceiro olhou para o diretor da peça e saiu pisando duro, resmungando, enquanto respondia: “Pega esse papel e enfia no mesmo lugar que eu mandei você enfiar a espingarda!”

* Jornalista, um dos funda-dores do FILO. Ganhou o prêmio de melhor ator na edição do festival (1968)

DOIS BICUDOSNA COMPADECIDA

O Proteu estreou ZY Drina, em 1985, uma peça sobre a Era do Rádio em Londrina. Faz parte de uma série de espetáculos antológicos do Proteu encenados na dé-cada de 80. Entre eles, Salto Alto (1983), Transgreunte (85/87), A Peste (1988).

UMA ERA DE OURONos seus 43 anos, o FILO fez das ruas de Londrina um grande palco. Muitos espetáculos de rua estarão para sempre na memória do londrinense, como Bivouak, do grupo Générik Vapeur, da França (1994). “O acesso de todos ao teatro é uma marca do FILO”, lembra Nitis.

O GRANDE PALCO

A vinda de Kazuo Ono para o FILO em 1992 é uma experiência que vale por si mesma. Um dos maiores dançarinos de todos os tempos, o mestre do Butô emocionou os londrinenses nos palcos e os encan-tou nas ruas, por onde andou com sua simplicidade e generosidade. “Inesquecível”, define Nitis.

UM MESTRE ENTRE NÓS

Em 1987, o FILO realizou sua 1ª Mostra Latino-ame-ricana – início da fase internacional do festival, que abriu ainda mais as portas da cidade para o mundo. O festival abrigou grupos como o Odin Teatret, da Di-namarca, que influenciou o teatro local e nacional. Na foto, Roberta Carreri no espetáculo “Judith” (1991).

CONEXÃO COM O MUNDO

Em 1994, Londrina recebeu a 8ª Sessão da ISTA – Es-cola Internacional de Antropologia Teatral. Coman-dada por Eugênio Barba, um dos grandes nomes da cena contemporânea, a ISTA colocou Londrina defi-nitivamente no mapa do teatro mundial, uma cidade antenada com a produção teatral mais avançada.

ESCOLA DE TEATRO

Nitis Jacon lançou recentemente o li-vro “Memória e Recordação”, sobre os 40 anos do FILO, comemorados em 2008. Um documento precioso, base-ado em muitas histórias e imagens ra-ras. À venda na Vila Cultural “Espaço de Todas as Artes” (Rua Cuiabá, 39). Telefone (43) 3344-3386.

HISTÓRIA DO FILOCONTADA EM PROSAE IMAGENS

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Cena da peça “Gruta conta Tiradentes”, apresentada no IV Festival Universitário de Londrina, em 1971. O grupo Gruta, criado e dirigido por Nitis, foi “uma das sementes do FILO”. Muitos de seus atores trabalharam na organização do festival.

UMA SEMENTENuma época de resistência à ditadura militar, Nitis dirigiu “O Verdugo” (1972), de Hilda Hilst, uma montagem ousada e expe-rimental do grupo Núcleo. Era Londrina na vanguarda do teatro nacional. “Sem dúvida, um marco político e artístico”, diz Nitis.

RESISTÊNCIA E INOVAÇÃO

Londrina comemora-va 50 anos e o grupo Proteu, dirigido por Nitis, ousou ao tratar a “colonização” longe do mito do “Eldorado no Norte do Paraná”, no espe-táculo Bodas de Café (1984). “Muitos se tornaram marginais da sociedade.” Bodas foi censurado.

50 ANOSDE LONDRINA

“Parte integrante do festi-val, um lugar de encontro do público e dos artistas, um espaço para a experi-mentação cênica. E, claro, um evento com diversão de qualidade.” Assim Nitis define o Cabaré. Na foto, o Cabaré de 1998, com instalações do catalão Jordi Rocosa.

O CABARÉDO FILO

“Não perdia um espetáculo do Mário Bortoloto (dra-maturgo londrinense de renome nacional). Eu dizia: esse cara vai longe.” Nitis fala de um entre vários ar-tistas e grupos locais que deram saltos importantes em suas carreiras participando do FILO. Outros podem ser citados, como o Armazém Companhia de Teatro.

SALTO NAS ALTURAS

“LONDRINA ÉMINHA PÁTRIA”

Nitis Jacon, presidente de honra do FILO, abre o “baú de memó-rias do festival”, com suas muitas fotos e imagens. Fala sobre alguns fatos que marcaram 43 anos de uma história de resistência,

paixão e arte, que continua a ser escrita. E declara seu amor a Londrina – cidade inquieta, aberta ao mundo e realizadora, assim como ela.

Em 1968, Nitis foi convidada pelo jornalista Délio César a participar da primeira edição do FILO, que se chamava Festival Universitário de Londrina. “Eu me apaixonei por tudo aquilo.” Em 1971, assumiu a dire-ção do festival, quando este foi incorporado pela recém-criada Universi-dade Estadual de Londrina (UEL).

Desde então, as histórias do FILO e da médica psiquiatra – e “atriz e diretora de teatro”, enfatiza – não se separam. E Londrina é o pal-co de um “processo”, como ela faz questão de dizer, em que sonhos foram realizados, vidas e realidades transformadas. E, importante, há ainda muito que fazer. Talvez por isso ela fique tão à vontade em dizer: “Londrina é minha pátria”.

Em 1968, Nitis foi convidada pelo jornalista Délio César a participar da primeira edição do FILO, que se chamava Festival Universitário de Londrina. “Eu me apaixonei por tudo aquilo.” Em 1971, assumiu a dire-ção do festival, quando este foi incorporado pela recém-criada Universi-dade Estadual de Londrina (UEL).

Desde então, as histórias do FILO e da médica psiquiatra – e “atriz e diretora de teatro”, enfatiza – não se separam. E Londrina é o pal-co de um “processo”, como ela faz questão de dizer, em que sonhos foram realizados, vidas e realidades transformadas. E, importante, há ainda muito que fazer. Talvez por isso ela fique tão à vontade em dizer: “Londrina é minha pátria”.

Nitis não esconde a satisfação de perceber que o FILO está em pleno movimento. É um festival capaz de combinar tradição e inovação. Por isso, é um dos mais importantes do País e o mais antigo da América Latina. Na foto, espetáculo Fragments (2008), de Peter Brook, um dos principais diretores de teatro do mundo.

FESTIVAL EM MOVIMENTO

14 FILO 2011 - SUPLEMENTO ESPECIAL

FILOmeuDomingos Pellegrini*

Encontro de línguas tantasfalando a mesma linguagemo jardim floresce em junhoflores de luzes e espantos

História de insistênciasplantando a eterna utopia:

viver não só de pão como também de magia

e ouvir bem cada silêncioacreditar na alegria

e nos mistérios humanos

Então com tamanho empenhoplantamos todos os anos

jardim que floresce em junho

*Escritor,um dos fundadores

do FILO

FILORES

3

EXPEDIENTE

Direção: Luiz BertipagliaPresidente de Honra: Nitis JaconORGANIZAÇÃODarlene KopinskiJorge FordianiJosé Eduardo MaestrelliPaulo BrazValéria VictórioPRODUÇÃO E APOIODaniele PereiraGabriela Viecili

MOSTRA PETROBRASUM SUCESSO DEPÚBLICO E CRÍTICA

A Petrobras apoia e incentiva a cultura em todo o País, nas suas mais variadas manifestações (teatro, dança, cinema etc.). É a maior patrocinadora do FILO, que rea-liza este ano uma mostra com o nome da empresa. “São espetáculos de sucesso de crítica e público, que colocam Londrina em sintonia com o melhor das artes cênicas do momento”, enfatiza Luiz Bertipaglia.

A Mostra trará a Londrina “Antes da Coisa Toda Acon-tecer”, do Armazém Companhia de Teatro (RJ) – grupo que iniciou sua trajetória em Londrina; “Tio Vânia”, do Grupo Galpão (MG); “Sua Incelença, Ricardo III”, do Clowns de Shakespeare (RN); “Devassa”, da Companhia dos Atores (RJ); e “Tatyana”, novo espetáculo da Cia. de Dança Deborah Colker”, uma das mais importantes do mundo, que encerra o festival.

“Se o teatro nacional vive um grande momento, sem dúvida o apoio de empresas como a Petrobras e as leis de incentivo têm um grande papel nisso”, enfatiza Bertipaglia.

Um dos maiores grupos de dança daatualidade, a Companhia de Dança Deborah Colker encerra o festival dia 26 de junho

Foto

: Mar

celo

Fau

stini

/Mau

ro K

uri

Foto

: Wal

ter C

arva

lho/

Leo

Ave

rsa

A Cia. Armazém de Teatro, que iniciou sua trajetória em Londrina,se apresentana Mostra Petrobras

DOZE ESPETÁCULOSINTERNACIONAIS

A programação internacional deste ano faz jus a uma tradição do FILO: a diversidade. Espetáculos de 12 países atingem todos os públicos. “Isso só é possível

porque estamos ligados a vários importantes festivais do Brasil e do mundo”, diz Luiz Bertipaglia.

Chama a atenção a utilização de várias linguagens artísticas (dança, teatro, vídeo, marionetes), em espetá-culos como “Keskusteluja”, da Finlândia. O “teatro de bonecos”, que caiu no gosto do público londrinense, está em produções como da belga Cia. Point Zero, que adapta o texto “As Três Velhas”, de Alejandro Jodorowsky – o mesmo levado à cena pelo Grupo Pândega, de Maria Alice Vergueiro. Da América Latina, vem a real e crua AMAR, do argentino Alejandro Catalán.

Guillaume FesneauJoão Darwin RodriguesMargareth de AlmeidaPatrícia de Castro SantosPROGRAMAÇÃO VISUALPianofuzzASSESSORIA DE IMPRENSAJackeline Seglin

REALIZAÇÃO

AMENPresidente: Luiz BertipagliaDiretor Administrativo: José Eduardo MaestrelliUELReitora: Profa. Dra. Nadina Moreno

Vice-reitora: Profa. Dra. Berenice Quinzani JordãoDiretora da Casa de Cultura: Adriane GomesChefe da Divisão de Artes Cênicas: Camilo ScandolaraPRODUÇÃO DO JORNALEdição: Luciano Bitencourt Colaboração: Ricardo da Guia Rosa e Juliana BoligianFotografia: Celso Pacheco, Saulo Ohara e Arquivo FILOEdição de arte e diagramação: Editora Londrina NorteRevisão: Jackson LiaschImpressão: Ed. e Gráf. Paraná Press SATiragem: 18.000

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Ministério da Cultura e apresentam

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O MELHORDO TEATROEM LONDRINA

GRUPOS E ATORES CONSAGRADOS, ESPETÁCULOS NACIONAIS E INTERNACIONAIS A PREÇOS POPULARES, O MELHOR DA CENA LOCAL E UMA DIVERSIDADE DE OPÇÕES PARA TODOS OS PÚBLICOS. O FILO FAZ 43 ANOS E TRAZ TUDO ISSO A LONDRINA DO DIA 10 A 26 DE JUNHO. NÃO DÁ PARA PERDER. CONFIRA NESTA EDIÇÃO.

Maria Alice Vergueirona peça “As Três Velhas”

Londrina - Junho de 2011SUPLEMENTO ESPECIAL

NITIS JACON ABRE O BAÚ DA MEMÓRIA E REVELA,EM FATOS E FOTOS, POR QUE O FILO É O QUE É HOJE. Páginas 14 e 15

CARTAZ DO FILO 2011:DIVERSIDADE E ARTE

FILO MEU: POESIA E CRÔNICAS ESCRITAS POR QUEM VIVEU O FESTIVAL DE PERTO

EVENTO INJETAR$ 1,5 MILHÃO NAECONOMIA LOCALPágina 6

UEL E A CULTURA: UM CASAMENTODE 40 ANOSPágina 7

O FILO NA VIDADE CINCO LONDRINENSESPáginas 12 e 13

Cria

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