folha de sala "e agora?"

8
A partir de textos de Gonçalo M. Tavares

Upload: acert-tondela

Post on 24-Jul-2016

222 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

"E Agora?" espetáculo do Trigo Limpo teatro ACERT a partir de textos de Gonçalo M. Tavares. Estreia no Novo Ciclo ACERT (Tondela) no dia 18 de dezembro de 2015

TRANSCRIPT

Page 1: Folha de sala "E Agora?"

A partir de textos de Gonçalo M. Tavares

Page 2: Folha de sala "E Agora?"

VAMOS

Tem sido permanente em todo o percurso criativo do Trigo Limpo teatro ACERT a colaboração com autores de língua portuguesa. O projeto “interiores”, desenvolvido de 2006 a 2008, visava essencial-mente contribuir para o desenvol-vimento da dramaturgia em lín-gua portuguesa e ao mesmo tempo levar à descoberta de personagens que ajudassem a refletir sobre os distintos sinais da portugalidade contemporânea.Nesse projeto um dos seis autores convidados foi Gonçalo M. Tavares que escreveu “as conferências do Sr. Eliot”, texto integrado no espe-táculo “circOnferências”.Dessa colaboração ficou a vontade de nos voltarmos a encontrar. Esse desejo é agora concretizado.

Quando, o ano passado, pedimos ao Gonçalo M. Tavares um texto que servisse de base a uma nova peça do Trigo Limpo, estávamos longe de imaginar o que seria essa peça. Na conversa que então tivemos falámos do desemprego, da crise, da Europa e de um pequeno texto que ele tinha escrito, e ele ficou de remoer ideias e escrever o que qui-sesse.

Em junho deste ano, recebemos um conjunto de belíssimos textos a que ele chamou “os cansados, os animais, os suicidas”, e demos iní-cio à construção do espetáculo. Passámos nós a remoer ideias, mas ainda sem saber onde iríamos parar. Lemos, relemos, cortámos, acres-centámos pedaços de outros tex-tos dele, até termos uma história, já nossa também, fruto da poética caótica do autor.

Page 3: Folha de sala "E Agora?"

VAMOS

Temos por método de trabalho pro-curar, depois da história, o local tea-tral onde se vai desenrolar a ação. A partir daí fez-se luz. Facilmente se definiu o cenário. Uma primeira foto dos atores deu o pontapé de partida para a construção das personagens. A partir daí foi trabalho, porque isto da criatividade tem muita mão-de-obra, quem corre por gosto não cansa mas se queremos concretizar os nossos sonhos temos fazer por isso e trabalhar.

Chegámos a um espetáculo que nos surpreendeu. Penso que criámos uma peça “três em um”. Um conjunto de três quadros (10 cenas) que estranhamente se unem e dão forma a uma história que estava escondida nas palavras do autor.Partilhamos agora esta nossa cria-ção com o público, conversando com ele do desemprego, da crise, da Europa, na tentativa de que no final do espetáculo alguém se levante e nos questione: E agora?

Pompeu José

Ric

ard

o C

hav

es®

Page 4: Folha de sala "E Agora?"
Page 5: Folha de sala "E Agora?"

Gonçalo M. Tavares é um dos mais prolíficos autores da literatura portuguesa dos nossos dias, contando, entre as mais de trinta de obras publi-cadas, com vários prémios e distinções. A sua escrita traz para as páginas dos livros um mundo que reconhecemos nosso contemporâneo, sem-pre descrito, encenado e trabalhado a partir de uma certa ideia de intemporalidade. Os meca-nismos desse mundo, o modo como funciona ou o pomos a funcionar e a reflexão sobre esse funcionamento e as falhas que afectam qual-quer mecanismo são alguns dos temas recorren-tes nesta escrita.

Nos textos que deram origem a E Agora?, Gon-çalo M. Tavares olha para a aparente perfeição de um sistema económico-financeiro baseado na ilusão de valor e mostra como o seu bom funcio-namento tem um equivalente perverso, e oposto, no quotidiano da maioria das pessoas que vivem sob a sua orientação. Não é a perfeição que inte-ressa à escrita do autor, mas antes a sucessão de causas e consequências que, quando percebidas, criam os espaços possíveis para a a pedrinha que pode (ou não) parar a engrenagem.

Ric

ard

o C

hav

es®

Page 6: Folha de sala "E Agora?"

No seu último livro, Uma História da Curiosidade, o argentino Alberto Manguel descreve uma conversa com um amigo versado em econo-mia e finanças e o modo como este lhe explicou claramente que “as quantias fabulosas mencionadas nas transacções nacionais e inter-nacionais na verdade não existem: são meras cifras aceites em boa-fé, baseadas em estatísticas abstrusas e previsões semelhantes às dos viden-tes” (Uma História da Curiosidade, ed. Tinta da China, pg. 258-259). Os objectos que chamamos de artísticos são tanto mais interes-santes e provocadores quanto con-seguem fazer-nos pensar, muitas vezes convocando relações com outros objectos mais ou menos aparentados. Na primeira cena

de E Agora?, o espectáculo que o Trigo Limpo teatro Acert leva à cena a partir de textos de Gonçalo M. Tavares, o texto de Alberto Man-guel ecoará na cabeça de quem o leu (e, agora, talvez ecoe também, pelo menos como vontade, na de quem ainda não leu). As quantias que diariamente se referem, nem sempre com grande rigor, nos ser-viços noticiosos do nosso descon-tentamento são, afinal, uma ficção, e nem por isso deixam de deci-dir-nos os dias. Governos, bancos, instituições financeiras de toda a espécie, afirmam as suas deci-sões, aquelas que hão-de reflectir--se sem dó nem piedade nos nos-sos serviços públicos, no nosso dia a dia, na nossa carteira, baseando--se em coisas que não existem. No

Page 7: Folha de sala "E Agora?"

palco, quatro actores hão-de mos-trar isso mesmo, desfilando papéis e números que seriam apenas sím-bolos, convenções semânticas para explicar o mundo, e que transfor-mámos em valores absolutos. Não é sobre dinheiro, real ou vir-tual, o espectáculo E Agora?, mas daí parte a sua deambulação pelos modos que fomos escolhendo (ou abstendo-nos de escolher) para nos organizarmos enquanto comu-nidade(s). E entre dedos aponta-dos a um “outro” que nunca que-remos saber quem é, até chegar a nossa vez de o ser, e soluções que são sempre talhadas para cumpri-rem um novo e maior problema, o espectáculo do Trigo Limpo a partir de Gonçalo M. Tavares dará razão a Alberto Manguel até à última cena:

“O meu amigo explicou-me a coisa de tal maneira, que me pareceu que a ciência da economia era um ramo mais ou menos bem-sucedido da literatura fantástica.” Entre dra-gões e máquinas impossíveis, tal-vez ainda haja uns quantos modos de encontrarmos uma saída – nos textos, nos palcos e no que vamos fazendo com eles, pelo menos.

Sara Figueiredo Costa

Ric

ard

o C

hav

es®

Page 8: Folha de sala "E Agora?"

FICHA ARTÍSTICA E TÉCNICA Texto a partir de “Os cansados, os animais, os suicidas” “hotel, as cabeças rapa-das” e “Matteo perdeu o emprego” de Gonçalo M. TavaresDramaturgia e Encenação: Pompeu JoséAssistência de encenação: Raquel CostaInterpretação: António Rebelo, Ilda Teixeira, José Rui Martins e Sandra SantosCenografia: Pompeu José e ZétavaresDesenho de luz: Paulo Neto Música: Miguel Cardoso / Sonoplastia: Luís Viegas Figurinos: Coletivo / Costureira: Sandra RodriguesDesenho gráfico: Zétavares / Edição vídeo: Zito MarquesAssistência Cenográfica: Carlos Fernandes, João Silva, José Pereira e Pedro SousaFotografia de cena: Carlos Fernandes, Carlos Teles e Ricardo ChavesConstrução: Carmosserra e Tondagro, LdaProdução: Marta Costa / Apoio à produção: Rui Coimbra e Pedro Sousa

Agradecimentos: Ana Bastos, Ana Isabel Carvalho, António Sá Pinto, Beiratoldos, Carlos Silva, Casa da Boneca (Viseu), Francisca Gomes, Jorge Almeida, José Carlos Coimbra, Lisete Lemos, Madalena Silva, Madalena Sousa, Magda Escada, Margarida Loureiro, Maria de Lurdes Quintano, Matos Silva, Mónica Veiga, Rita Mamede, Sílvia Leão e Victor Midões.

108ª Produção do Trigo Limpo teatro ACERTEstreia a 18 de dezembro de 2015, no Novo Ciclo ACERTMaiores de 12 anos / Duração 70 minutos

Trigo Limpo teatro ACERT

Rua Dr. Ricardo Mota, 183460-613 Tondelawww.acert.pt/trigolimpo

Estrutura financiada por

Apoio