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1 FOLHA DE ROSTO UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE <> <> <> <> < <> <> <> <> Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes como condição prévia para a conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito e Processo Penal Por: Márcio Dias Rodrigues

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1

FOLHA DE ROSTO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

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<>

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para a

conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”

em Direito e Processo Penal

Por: Márcio Dias Rodrigues

2

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Deus por ser a luz da

minha vida e sempre estar ao meu

lado.

Em especial aos professores e

professoras da Universidade Candido

Mendes por seus ensinamentos.

3

DEDICATÓRIA

Dedico está monografia para a minha

família, a quem amo e agradeço por

todo apoio neste período de estudo.

4

RESUMO

A escolha deste tema para o projeto se refere à implantação de um

sistema eleitoral que permita a punição destes tipos de crimes, procurando

proteger a convivência em sociedade e um melhor exercício da cidadania.

Porque o agravamento destes crimes eleitorais, provoca um problema muito

maior, que produz um reflexo claro no sistema processual penal, no ponto de

que deverá existir uma punição exata para a venda de votos, para a boca de

urna, para a corrupção eleitoral, para a violação do sistema eletrônico e a

própria desobediência eleitoral.

A fim de emprestar agilidade à Justiça Eleitoral no processo e

julgamento dos crimes eleitorais, o Código Eleitoral (Lei nº. 4.737, de 15 de

julho de 1965) apresenta um sistema processual especial, ligeiramente

simplificado, mas sem desvirtuar o direito ao contraditório. As infrações

eleitorais, definidas nos artigos 289 a 354 do Código Eleitoral, submetem-se a

procedimento detalhado nos arts. 355 a 364. Quanto aos crimes definidos no

corpo da Lei nº. 9504/97 que é a Lei Eleitoral, o seu art. 90 manda que também

lhe sejam aplicadas às mesmas regras processuais referidas no Código

Eleitoral. A todos, aplica-se subsidiária ou supletivamente o Código de

Processo Penal (art. 364 do Código Eleitoral).Embora estejam relacionados

nestes dispositivos crimes de diferentes graus, apenados com reclusão,

detenção ou simplesmente com multa, o procedimento para todos é o mesmo.

A única diferença é no que tange ao número de testemunhas a serem

arroladas. Tendo em vista a omissão do Código Eleitoral quanto a este

aspecto, aplicam-se as regras do Código de Processo Penal. Assim, nas

infrações apenadas com reclusão, poderão ser arroladas até oito testemunhas,

tanto pela defesa quanto pela acusação; nas demais, o número passa a ser de

cinco (arts. 398 e 539, § 1º do Código de Processo Penal).

5

METODOLOGIA

A monografia foi estruturada utilizando-se a seguinte metodologia:

revisões bibliográficas extraídas de algumas doutrinas e fichamentos,

referentes ao tema, para determinar as etapas de levantamento bibliográfico,

os recursos para a desenvoltura e realização deste projeto monográfico estão

reunidos na leitura de obras especificas. A monografia será baseada em

pesquisa bibliográfica, para justificar os objetivos e contribuições da própria

pesquisa, não esquecendo a importância de um estudo comparativo.

O emprego da metodologia científica terá por objetivo, solucionar as

questões relativas à classificação de dados, segundo critérios

preestabelecidos, e orientar as pesquisas futuras, além de facilitar o

treinamento de especialistas. Pelo fato de selecionar dados iniciais, toda

metodologia se impregna de uma filosofia particular que se resume nas

conclusões a que conduz. Essa metodologia representará os métodos de

investigação do pensamento dos autores que militam na área escolhida,

visando delimitar um determinado problema, analisando e desenvolvendo

observações, criando o problema, e interpretando a partir das relações de

causa e efeito. Será também utilizado o método científico que compreende

basicamente um conjunto de dados iniciais e um sistema de operações

ordenadas adequado para a formulação de conclusões, de acordo com certos

objetivos predeterminados.

6

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 7

CAPITULO I – A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO ELEITORAL 10

CAPITULO II – A ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA ELEITORAL 27

CAPITULO III – CRIMES ELEITORAIS E O PROCESSO PENAL

ELEITORAL

41

CONCLUSÃO 68

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 70

BIBLIOGRAFIA CITADA 71

ÍNDICE 72

FOLHA DE AVALIAÇÃO 73

ANEXOS 74

7

INTRODUÇÃO

A história do Direito Eleitoral, no Brasil, é direta e gradualmente

estudada, em razão das mutações constitucionais que já se alcançou em 164

anos, oito Constituições e diversas emendas, dando a exata dimensão das

sensíveis transformações políticas, sociais, econômicas e jurídico-

institucionais, ao longo de pouco tempo de história, em atendimento à

casuística do clamor e opiniões públicas, reservando à horística do Direito a

árdua tarefa de definir a exata efetividade da norma ao caso concreto.

Atendidos os reclamos da opinião pública com a produção de normas

que causam verdadeiro sismo na sistemática da ordem jurídica já existente,

cabe ao exegeta interpretar as minúcias e os particularismos da letra da lei com

a apresentação de soluções de momento, causando, ao longo do tempo, o

envelhecimento das leis, ao contrário do sistema adotado no Bill of Rights, na

Inglaterra, que disciplina os ingleses desde os idos de 1868, e aos Estados

Unidos da América, que ainda conservam os postulados de Hamilton. Portanto,

o conservadorismo das normas, ao longo dos tempos, está a confirmar o grau

de efetividade prática e aceitação social, mas as leis devem ser diretas,

objetivas, retirando as vacilações e dubiedades próprias ao entrave do

desenvolvimento e dinamismo social.

De que forma os crimes contra a honra são penalizados no Código

Eleitoral e na Lei que regulamenta as eleições, Lei nº 9.504/97? No Código

Eleitoral a remissão é taxativa ao Código Penal (art. 287): assim, não há que se

aplicar a Lei de Imprensa subsidiariam ente aos crimes eleitorais praticados

pela imprensa. O rito procedimental é específico dos crimes eleitorais, até

porque a Lei de Imprensa possui outra espécie de rito especial, além de

institutos como o pedido de explicações, declaração de inidoneidade e direito

de resposta que são inerentes a uma ritualidade especializante cuja

competência é da Justiça Comum. Pode-se afirmar que os crimes contra a

8honra praticados durante a propaganda política partidária são tipificados na Lei

nº 5.250/67 em razão da ausência de elementar objetiva normativa ,de

conteúdo valorativo jurídico. E o rito processual da Lei de Imprensa não se

aplica aos crimes eleitorais de forma subsidiária.

Visando à adoção, em termos infraconstitucionais, de uma maior

clareza de objetividade normativa, foi necessária a publicação da Lei

Complementar nº 95, de 26 de fevereiro de 1998, que trata da elaboração,

redação e alteração da consolidação das leis.

A fragmentação dos partidos políticos, contribuiu para o

enfraquecimento da democracia, tendo como causa direta a facilidade da

criação, fusão e incorporação, pois se exige apenas o registro dos mesmos

perante o Tribunal Superior Eleitoral, após sua constituição jurídica legal

perante o registro civil, onde adquirem personalidade jurídica na forma da lei

art. 17, § 2º, da Constituição da República Federativa do Brasil; e as regras que

deveriam ser observadas estatutariamente, exemplo, a fidelidade partidária,

não encontram sanções adequadas para resguardar os princípios e programas

partidários, previamente divulgados aos eleitores e filiados partidários. A

inobservância das regras partidárias pelos filiados, aditada à ausência de

sanção eficaz correspondente, gera um senso de irresponsabilidade cívica,

afetando diretamente a unidade dinâmica do sistema partidário vigente.

A fidelidade partidária somente poderá ser exigida de forma real,

quando os candidatos demonstrarem um compromisso maior com os partidos

políticos do que com o eleitor. Desta forma, com o fortalecimento do sistema de

lista fechada, certamente surgirá à fidelidade aos programas e diretrizes

partidárias. Atualmente, os candidatos não podem afastar-se das bases

populares que os elegeram, sob pena de não serem reeleitos,. o que cria um

ciclo vicioso ao processo de lisura das eleições, considerando que o verdadeiro

compromisso nutre-se do voto popular e afasta-se do cumprimento de um

programa partidário que possa transcender as pessoas e projetar uma nova

política nacional.

9

Além de tudo, as multas eleitorais, aplicadas pela Justiça Eleitoral em

épocas de propaganda política partidária ou eleitoral, e as provenientes de

penas criminais e sanções administrativas eleitorais em geral, deveriam, em

parte, ser destinadas a estabelecimentos públicos ou particulares de filantropia,

cultura, educação, creches, orfanatos e outros, como verdadeira prestação de

serviços à comunidade. Enfim, são as instituições políticas e os eleitores que,

bem cultivados e responsáveis de suas tarefas cívicas, atribuem a formatação

das representações políticas no Estado Democrático.

10

CAPÍTULO I

A EVOLUÇÃO HISTORICA DO DIREITO ELEITORAL

Surgiu, na Grécia antiga, a idéia do consenso para a eleição de um

representante daquela coletividade. Em Atenas, por exemplo, magistrados e

membros do Conselho advinham de um processo eletivo mesclado com

critérios de sorteio, e a fase da votação eleitoral era manifestada publicamente

pelo povo com o levantamento de seus braços em assembléia pública.

Significante era a forma pela qual as questões de maior importância

eram votadas. Eleitores registravam seus votos em pedaços de pedra

denominados ostrakon expressão que originou a palavra ostracismo e, em

seguida, colocavam esses votos em pedra numa urna apropriada (GAGGIANO,

2004). Os romanos utilizavam, no processo de votação eleitoral, alguns tipos

de peças de madeira talhada, mas, seja na Grécia como em Roma, o sufrágio

não era uniVersal, mas restrito a determinadas castas sociais.

Registre-se, ainda, o instituto do Direito Romano da capitis

deminutioene, ou seja, a mudança de um estado anterior pela perda de um

atributo de um status, que podia ser de cunho familiar, status familiae, referente

à posição do indivíduo como homem livre, status libertatis, e concernente ao

atributo da cidadania, aos direitos de votar e ser votado, como, por exemplo, a

perda do status civitatis, influindo diretamente na concepção do indivíduo

dentro do ordenamento jurídico vigente à época (CÂNDIDO, 2006).

Uma das principais instituições legislativas, durante a República, em

Roma, foi o Senado e, em termos eletivos, eram escolhidos dois censores pelo

período de cinco anos, que tinham como principal missão supervisionar

eventuais mudanças na formação do Senado. Dois cônsules tinham a tarefa de

chefiar o Senado e comandar os exércitos, enquanto dois edis cuidavam das

11ruas e dos logradouros públicos, bem como dos edifícios públicos, além de 20

questores e administradores financeiros e oito juízes superiores ou pretores.

Todos formavam a organização política durante o Império Romano, que deixou

exemplo vivificante para o mundo moderno, gerando modelos que foram

copiados pelas civilizações mais evoluídas, pois Senado e República, por

exemplo, são institutos advindos da formatação jurídica do Direito Romano.

Historicamente, o período da Idade Média é considerado como

inexistente para o processo eleitoral lato sensu, pois a eleição era

absolutamente restrita, imperando o sufrágio restrito, como foi o caso do

feudalismo na Inglaterra e do Colégio dos Cardeais, em 1562, para escolha do

Papa (CÂNDIDO, 2006). Nessa época, o poder era transmitido como herança

entre reis que tinham o controle de seus súditos, de modo que o processo

eleitoral ficava vinculado a decisões dos reis, príncipes e de alguns

conselheiros.

A história registra outros sistemas jurídicos tidos como tradicionais,

possuidores de características próprias e não-moldados às regras jurídicas do

sistema romanista e do Direito Canônico, como é o caso do Direito dos hindus,

chineses, muçulmanos e japoneses.

O fundamento básico tradicional do sistema político na Índia era

centrado na figura do rajá, rei, chefe da aldeia, sendo a realeza considerada

instituição necessária e fundamental para a manutenção da ordem política e

social, tendo como dogma hinduísta o lema de que uma "sociedade sem rei

não é viável" (CORDEIRO & DA SILVA, 2006). As mudanças de cunho eleitoral

surgiram a partir de 1947 e, com a Constituição de 1950, adotou-se o regime

democrático, com a composição de Estados e a substituição dos rajás, mas os

costumes tradicionais permanecem com fortes raízes.

No sistema chinês, milenar em sua essência, registrava-se, no século

XII antes de Cristo, o regime feudal. Já no século III antes de Cristo, principia o

Império Antigo e o sistema das dinastias dos Chineses, que servem de nome

12ao país. Com as profundas transformações sentidas a partir de 1912 e, em

1949, a China virou uma república comunista, mas a história registra maiores

influências no sistema eleitoral entre 1912 até a tomada do poder pelo Partido

Comunista, em 1949, pois, nesse intervalo de tempo, surgiram às codificações

ocidentais naquele país, com a penetração de princípios e dogmáticas diversas

da tradição oriental.

Outra observação importante é a de que alguns regimes mantiveram-

se primeiro pela força, com a realização posterior de eleições apenas para dar

legitimidade aparente. Isso é visível em algumas ditaduras modernas, com a

adoção de partidos únicos, aniquilamento de candidaturas oposicionistas e

forte domínio da propaganda política partidária e eleitoral, com a utilização da

máquina administrativa e manipulação da opinião pública, dando margem às

fraudes e à corrupção eleitoral.

Com a Revolução Inglesa do século XVII, que marca o início da

ascensão da classe burguesa, criando forte campo para a implementação do

capitalismo, e, em seguida, a Revolução Francesa, cujas ideologias eleitorais

proclamavam a participação de camponeses, artesãos e da imensa classe

burguesa, rompeu-se o domínio pleno da aristocracia e, conseqüentemente,

expandiu-se o liberalismo político pela Europa (CORDEIRO & DA SILVA,

2006).

Foi um período de sumárias transformações sociais, pois o que duraria

anos e séculos consumava-se em meses ou semanas, por exemplo, em 17 de

junho de 1789, o denominado Terceiro Estado proclamou-se Assembléia

Nacional Constituinte em 9 de julho, os deputados proclamaram a Assembléia

Nacional Constituinte em 14 de julho, foi tomada a Bastilha e, em 26 de agosto,

foi aprovada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, consolidando-

se o sufrágio e o processo eleitoral de forma mais ampla, pois a teoria liberal

ressaltou a importância do sufrágio universal, tendo, como conseqüência,

influenciado as teorias políticas e filosóficas modernas, com a aceitação da

inafastável necessidade do processo eleitoral.

13A Revolução Francesa é, incontestavelmente, apontada pelos

historiadores como um marco na era das revoluções burguesas e seus efeitos

repercutiram em terras brasileiras.

1.1 DIREITO ELEITORAL NO BRASIL

Historicamente no Brasil, pode-se de forma resumida, apresentar o

seguinte quadro de mutações legiferantes, em matéria eleitoral. Necessário

faz-se ressaltar a existência do Regime de Tomé de Souza, reconhecido como

uma autêntica Carta Constitucional, pois, outorgada por Dom João III, rei de

Portugal à época, regulava as relações colonizadoras sob a influência do

Código Manuelino de 1512, não se aplicando aos indígenas, mas estruturava

órgãos políticos descentralizados, tais como a figura do governador-geral,

provedor-mor e ouvidor-geral, cujas regras para preenchimento dessas funções

e cargos advinham de pura nomeação do Rei de Portugal, inexistindo eleições

nesse período colonial, mas aplicando-se as regras do Código Manuelino como

fonte inspiradora da formação descentralizadora, havendo uma colisão de

forças dos poderes locais das capitanias hereditárias que formavam um

embrião do Estado Federal (SOUZA JUNIOR, 2004).

Dentre as Constituições brasileiras é importante descrever como o

Direito Eleitoral foi sendo evoluído:

a) Constituição de 1824

Apresentava, como característica, o sufrágio restrito, excluindo-se, por

exemplo, os menores de 21 anos, os filhos-famílias, os criados de servir, os

religiosos e os que não tinham renda líquida anual de cem mil réis por bens de

raiz, de votar nas Assembléias Paroquiais (SOUZA JUNIOR, 2004).

Conseqüentemente, os que não pudessem votar nessas Assembléias estavam

impedidos de votar na nomeação de autoridades eletivas nacionais e locais.

Nota-se por expressa disposição legal, no art. 90 da Constituição de

1824, que as nomeações dos deputados e senadores, para a Assembléia

14Geral, e dos membros dos Conselhos Gerais das Províncias eram feitas por

eleições indiretas.

Outra característica do sistema eleitoral à época residia nas limitações

à capacidade eleitoral passiva ou ius honorum, na medida em que, entre outros

requisitos para a elegibilidade, impunha-se à quantia de quatrocentos mil réis

de renda líquida, mas é importante frisar que todo o Poder Legislativo era

delegado à Assembléia Geral com a sanção do imperador, e não estavam

disciplinadas, no texto constitucional, as regras concernentes ao modo prático

das eleições e ao número de deputados relativamente à população do Império.

Os mandatos eletivos dos deputados eram temporários, enquanto os

dos senadores, vitalícios, e a primeira alteração do texto constitucional ocorreu

em 1834, através da Lei nº 16 ou Ato Adicional. Fazia também o texto

constitucional, nos arts. 7º e 8º, uma preliminar distinção entre as hipóteses de

perda e suspensão dos direitos políticos, por exemplo, quem fosse banido por

sentença perdia os direitos políticos, enquanto quem tivesse incapacidade

moral ou fosse, por sentença, condenado ao degredo inserir-se-ia na

qualificação de suspensão dos direitos políticos (CORDEIRO & DA SILVA,

2006).

A Constituição de 1824 foi redigida por José Bonifácio de Andrade e

Silva, Antônio Luiz Pereira da Cunha e J. J. Carneiro Campos, dentre outros

constituintes, além do próprio D. Pedro I, e tinha a denominação de

Constituição Política do Império do Brasil.

b) Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil,

promulgada em 24 de fevereiro de 1891

É sobremodo importante assinalar que também encontravam-se, no

texto constitucional, hipóteses de perda dos direitos políticos, por exemplo, a

aceitação de emprego ou pensão de governo estrangeiro, sem licença do

Poder Executivo Federal, e suspensão dos direitos políticos como a

condenação criminal, enquanto durarem seus efeitos e a incapacidade moral.

15

Convém notar a introdução de uma hipótese de inelegibilidade, ou seja,

a falta de alistamento, em razão da redação do art. 70, parágrafo 2º da

Constituição Republicana, criando uma premissa errônea, pois quem não se

alista não possui uma condição de elegibilidade que é o alistamento, situação

jurídica diversa da inelegibilidade. Todavia, essa falha perdura nos textos

constitucionais subseqüentes até os dias atuais.

Era vedado o alistamento aos mendigos, analfabetos, praças de pret.

que eram os recrutas ou conscritos, com exceção dos alunos de escolas

militares ensino superior, os aspirantes a oficial e os suboficiais, os guardas

civis e funcionários da fiscalização administrativa, federal ou local. Sobre o

assunto dispunha o Código Eleitoral: Decreto n º 21.076, de 24 de fevereiro de

1932, no art. 4 º, alínea c, incisos I e II, entre outros (SOUZA JUNIOR, 2004).

Convém ressaltar a criação de inelegibilidade para os cargos de presidente e

vice-presidente dos respectivos parentes consangüíneos e afins de primeiro e

segundo graus, que tenham por alvo a disputa de candidatura aos respectivos

mandatos eletivos, bem como a expressa menção de que o processo eleitoral e

de apuração seria regulado por lei de natureza ordinária.

Tratou a Constituição Republicana, no art. 19, da imunidade material; o

art. 27, referiu-se à incompatibilidade eleitoral, que deveria ser regulada em lei

especial, e estipulou condições de elegibilidade para o Congresso Nacional,

tais como (CÂNDIDO, 2006): a) estar na posse dos direitos de cidadão

brasileiro e ser alistável como eleitor e, b) para a Câmara, ter mais de quatro

anos de cidadania brasileira; e para o Senado, mais de seis anos, com

exceções ao caso dos estrangeiros (art. 26)

As eleições para senadores e deputados deveriam ser simultâneas e

com o recebimento do diploma até a nova eleição. Eles não poderiam ser

presos, nem processados criminalmente, sem prévia licença de sua Câmara,

salvo nos casos de flagrância de crime inafiançável, criando-se a imunidade

formal.

16

O presidente era eleito juntamente com o vice, por quatro anos, inseria-

se o princípio da irreelegibilidade para o período subseqüente. A eleição do

presidente e do vice dava-se pelo sufrágio direto e maioria absoluta de votos.

Dentre os renomados constituintes, estavam Prudente José de Moras e

Innocencio Serzedello Corrêa, Raymundo Nina Ribeiro, Lauro Sodré, José

Higino, J. F. de Assis Brasil e Antonio Euzébio Gonçalves de Almeida

(CORDEIRO & DA SILVA, 2006).

c) Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil,

promulgada em 16 de julho de 1934

Como argumenta Joel José Cândido, a Constituição teve o grande

mérito, valor e respeito de erigir ao patamar constitucional a Justiça Eleitoral,

como órgão do Poder Judiciário, pois, no nível infraconstitucional, já havia o

Decreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932 o Código Eleitoral.

Os historiadores identificam uma forte influência dos princípios normas

da Constituição Alemã de Weimar na Constituição de 1934, aceitando por

exemplo, várias agremiações políticas, estipulando regras trabalhistas e

alterando o processo eleitoral (GAGGIANO, 2004).

Impende observar que a Justiça Eleitoral adquire destacada seção no

texto constitucional, formatando-se a organicidade da mesma, através dos

Tribunal superior Eleitoral, Tribunais Regionais Eleitorais, juízes eleitorais e

juntas eleitorais, trazendo ao conhecimento regras detalhadas sobre a

composição dos órgãos jurisdicionais eleitorais, recursos e competência para

que o Egrégio Tribunal Superior Eleitoral regule a forma e o processo dos

recursos de que lhe caiba conhecer, além de diversas outras competências

constitucionais de relevante importância ao aprimoramento do processo

eleitoral e da democracia.

Acresça-se que a ordem constitucional vigente à época foi

inovadoramente democrática, introduzindo valiosos institutos jurígenos, que se

17tomaram parte integrante dos princípios políticos positivos do Direito

Constitucional, gerando suas repetições nas Constituições subseqüentes.

portanto, a Constituição de 1934 merece especial relevo no campo do Direito

Eleitoral. Consagra as imunidades formais e materiais, relaciona as hipóteses

de incompatibilidades e impedimentos, trata da desincompatibilização, da

ineelegibilidade, do sufrágio universal, igual e direto, dispondo, ainda, nos

artigos 108 e 109, sobre as vedações ao alistamento e ao voto, consagrando o

instituto da inelegibilidade, perda e suspensão dos direitos políticos, além de

outras regras de grande importância para o aperfeiçoamento da democracia.

d) Constituição dos Estados Unidos do Brasil, decretada em 10 de

novembro de 1937, Chamada de Constituição do Estado Novo, com ela Getúlio

Vargas assumia a responsabilidade política de forma centralizada, com

poderes para decretar intervenção nos Estados, além de vários outros (SOUZA

JUNIOR, 2004).

A história aponta no sentido da consagração das tendências ditatoriais

da época, quando, no mundo, faziam-se presentes as figuras políticas de

Mussolini, na Itália, e Hitler, na Alemanha, além de Franco, na Espanha,

Salazar, em Portugal, e ditadores na Romênia, Hungria e Polônia,

impregnando-se desses ideais o Brasil, o que gerou o desaparecimento, por

exemplo, da Justiça Eleitoral nos moldes da Constituição de 1934, que sofreu

críticas por sua inadaptação na esfera da realidade da época.

Tratava, no entanto, da figura da circunscrição eleitoral que

correspondia cada Estado disposto no art. 47, que sofreu supressão posterior

pela Lei Constitucional nº 9, de 28 de fevereiro de 1945. Vedava ao poder

Judiciário conhecer de "questões exclusivamente políticas” (art. 94). No art.

117, dispunha sobre vedações ao alistamento dos analfabetos, militares em

serviço ativo, mendigos e os que tivessem privados temporária ou

definitivamente dos direitos políticos, sofrendo o disposto alteração posterior

pela Lei Constitucional nº 5. de 10 de março de 1942 (D.O.U.,10/3/1942).

Participaram da elaboração da nova ordem jurídica constitucional, entre outros

18renomados homens públicos, Getúlio Vargas, Eurico G. Dutra, Francisco

Campos e Marques dos Reis (CORDEIRO & DA SILVA, 2006).

e) Constituição dos Estados Unidos do Brasil, promulgada em 18 de

setembro de 1946

Historicamente, a Constituição de 1946 foi convocada através da Lei

Constitucional nº 13, de 12 de novembro de 1945, que tratava dos poderes

constituintes do parlamento que foi eleito em 2 de dezembro de 1945, tendo

direta participação do Presidente José Linhares. Foram criadas dez

subcomissões, que tinham por missão redigir o projeto da Constituição. Após

várias questões, o projeto, de cunho definitivo, foi publicado no dia 17 de

setembro de 1946, aprovado e promulgado em 18 de setembro de 1946,

trazendo, ao patamar constitucional, a Justiça Eleitoral, no art. 109 até o art.

121, tratando de regras mais aprimoradas sobre competência, organização,

recursos eleitorais e várias outras matérias de direito material, processual e de

cunho administrativo eleitoral (SOUZA JUNIOR, 2004).

No art. 96, inciso III, vedava-se o exercício de atividade político-

partidária pelo juiz. Consagrava-se o biênio para o exercício da função

judicante eleitoral, com possibilidade de nova recondução por mais um biênio.

O princípio da irrecorribilidade das decisões do Tribunal Superior Eleitoral foi

disciplinado. As argüições de inelegibilidade deveriam merecer disciplinamento

infraconstitucional, bem como entre outros importantes instituto eleitorais, o

registro e a cassação dos mesmos, inclusive dos partidos políticos

(CORDEIRO & DA SILVA, 2006).

O sufrágio era direto, e o voto, secreto, assegurando-se a

representação proporcional dos partidos políticos nacionais, na forma da lei.

Fez-se, de forma definitiva, a consagração dos institutos da perda suspensão

dos direitos políticos, inelegibilidades, incompatibilidades impedimentos.

Saliente-se, ainda, que participaram, na relação dos constituintes, as

renomadas autoridades, entre outras: Haroldo Valladão, Themístocles Brandão

Cavalcanti, Pedro Calmon, Heráclito E Sobral Pinto, Hermes de Lima, Mário

19Masagão, Gustavo Capanema, Arthur Bernardes, Aliomar Baleeiro e Raul Pilla

(CÂNDIDO, 2006).

f) Constituição do Brasil, promulgada a 24 de janeiro de 1967

A Constituição anterior, de 1946, sofreu substanciosas alterações

através dos Atos lnstitucionais de nºs 1, 2, 3 e 4, além de várias emendas

constitucionais que iriam trilhar princípios para a elaboração de um novo texto

constitucional, que seria a Constituição de 1967.

Deve-se notar que as alterações produzidas pela Revolução de 1964

resultaram historicamente na elaboração de duas emendas, sendo ambas

importantes para o tema eleitoral, na medida em que uma delas, por exemplo,

revogava a inelegibilidade do chefe do Executivo, à época o General Humberto

Castelo Branco, e a outra acabava com o sigilo do voto na eleição presidencial,

tornando conhecido o voto no Congresso.

A Justiça Eleitoral continuava tratada em níveis constitucionais, arts.

123 até 132, mantendo-se o princípio da irrecorribilidade das decisões do

Tribunal Superior Eleitoral, com suas exceções legais na hipótese de negação

de habeas corpus e mandado de segurança.

A organização da Justiça Eleitoral foi mantida. Os institutos da

suspensão e perda dos direitos políticos estavam disciplinados e o sufrágio era

considerado universal, e o voto direto e secreto, salvo nos casos previstos na

Constituição. Os partidos políticos estavam tratados no art. 149, com a

proibição de coligações partidárias, sendo mantidos os institutos do

impedimento e da incompatibilidade.

Participaram, da Constituição de 1967, ilustres personalidades da vida

pública, tais como Castelo Branco, Carlos Medeiros Silva, Orozimbo Nonato,

Levi Carneiro, Filinto Muller, Pedro Aleixo, Miguel Seabra Fagundes e Antônio

Carlos Konder Reis (SOUZA JUNIOR, 2004).

20g) Constituição da República, de 24 de janeiro de 1967, com redação

dada pela Emenda Constitucional nº 1/69 e alterações determinadas pelas

Emendas Constitucionais de nºs 2 a 25

No dia 17 de outubro de 1969, com a invocação do art. 3º do Ato

Institucional nº 16 e art. 2º, § 1º, do Ato Institucional nº 5, o Poder Executivo

Federal promulgou a Emenda Constitucional nº 1, de 17 de outubro de 1969,

publicada no Diário Oficial do dia 20 de outubro de 1969, surgindo, ao longo do

tempo, diversas emendas.

O art. 112, que trata do Poder Judiciário, incluiu os tribunais e juízes

eleitorais na organização judiciária, olvidando-se de fazer menção às juntas,

eleitorais, mas, disciplinando os tribunais e juízes eleitorais nos arts. 130 até

140, conservando a omissão redacional (CÂNDIDO, 2006).

Os direitos políticos e seus institutos são regulados nos arts. 147 até

151 donde, inevitavelmente, faz-se expressa menção às inelegibilidades,

perda, suspensão dos direitos políticos, irreelegibilidade e, no art. 149,

parágrafo 3º está expresso que a lei complementar disporá sobre direitos

políticos, fruição, exercício, perda, suspensão e condições de reaquisição.

A toda evidência, a Constituição Federal tratou os direitos públicos

políticos subjetivos ativos e passivos, especialmente as hipóteses de

neutralização definitiva ou temporária da capacidade passiva, no âmbito da

incidência legiferante da Lei Complementar, e, no que presta à matéria,

emprestou-Ihe caráter elevado no posicionamento normativo constitucional,

exigindo quorum de maioria absoluta (CORDEIRO & DA SILVA, 2006).

Especificamente, os arts. 130 até 140 regulavam os tribunais e juízes eleitorais,

e a Emenda Constitucional n º 7, de 13 de abril 1977, produziu alteração da

seção onde se situavam as regras constitucionais da organização do Poder

Judiciário Eleitoral.

21h) Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 5 de

outubro de 1988

A Constituição vigente tratou, dentro da organização do Poder

Judiciário, dos tribunais e juízes eleitorais, além de atribuir ao Ministério Público

e, especialmente, ao Ministério Público Eleitoral (art. 127) a defesa do regime

democrático. Os partidos políticos passaram a ser considerados pessoas

jurídicas de Direito Privado, sendo livre sua criação junto ao registro civil,

restando-lhe apenas registrar seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral,

sem maiores indagações sobre sua constituição e organização, devendo

conter, em seus estatutos, sanções sobre a infidelidade partidária, entre outras

(CÂNDIDO, 2006).

É imperativo notar que a periodicidade e sucessividade das eleições

implicam uma impostergável necessidade de salutar organização permanente e

extremamente funcional da Justiça Eleitoral, dos partidos políticos, bem como

do Ministério Público Eleitoral, instituições democráticas diretamente

responsáveis pela higidez do sufrágio universal, através do qual os cidadãos

são os grandes protagonistas, juntamente com os elegíveis no cenário

brasileiro.

Conclusivamente, pode-se afirmar que o aprimoramento das eleições

no Brasil, ou seja, do processo eleitoral, englobando as fases de alistamento,

votação, apuração e diplomação dos eleitos, só poderá atingir um nível elevado

com a educação do homem político e a ampla fiscalização das eleições pelo

órgão do Ministério Público que, juntamente com os partidos políticos e

candidatos, formam, de modo notável, um mecanismo legal e eficaz na

prevenção e repressão das fraudes e corrupção eleitoral, possuindo a Justiça

Eleitoral a imparcialidade necessária ao deslinde das questões eleitorais.

É inegável a importância jurídica do Direito Eleitoral como complexo de

normas estruturantes e garantidoras das condições de elegibilidade, do pleno

exercício da cidadania, dos direitos políticos, das hipóteses vedatórias das

inelegibilidades da organicidade dos partidos políticos e dos sistemas eleitorais.

22

Quando a necessidade de preservação dos direitos eleitorais emerge

nas sociedades, a declaração jurisdicional de sua inviolabilidade é matéria de

garantia das democracias contemporâneas. O aprimoramento da Justiça

Eleitoral é uma realidade inadiável na ordem social hodierna, cabendo aos

órgãos institucionalizados fiscalizar as normas atinentes ao âmbito eleitoral e

aos juízes e tribunais, o exclusivo exame da índole orgânica das correlações

legais desse direito, velando pela inexpugnabilidade do alistamento, votação,

apuração e regular exercício do mandato eletivo.

Na verdade, o Direito Eleitoral é múltiplo, na medida em que, na sua

composição jurígena, materializam-se regras de Direito Constitucional (sua

fonte direta), Administrativo, Civil, Penal e Processual, além de ser um direito

fundamental de natureza política, quando assegura. o sufrágio, disciplinando

normas de organicidade do Poder Político.

Damásio Evangelista de Jesus, chama atenção para o seguinte:

(...) Quanto ao estatuto penal, os tipos incriminadores

passam a ser descritos com a inclusão de normas

elásticas e genéricas, enfraquecendo o princípio da

legalidade e da tipicidade. No afã de combater e extinguir

o delito, filosofia penal vencida e ultrapassada, novas leis

são incessantemente editadas, o que Juary C. Silva

denomina inflação legislativa e Alberto Zacharias Tomn,

esquizofrenia legislativa. Entram em vigor, na mesma data

de sua publicação, leis a granel, umas sobre as outras,

malfeitas, sem técnica, formando um emaranhado

confuso e contraditório (..)(apud, CORDEIRO & DA

SILVA, 2006, p. 127)

No âmbito legislativo do Direito Eleitoral, a multiplicidade de leis,

resoluções e normas diversas enseja a árdua tarefa na busca do texto em vigor

23e sua exata aplicabilidade, causando extremas dificuldades ao interprete e à

fiscalização do amplo processo democrático.

Os deveres de conteúdo cívico-político são disciplinados

infraconstitucionalmente pelo Direito Eleitoral, que ocupa, no ordenamento

jurídico positivo, esse campo normativo, sendo o principal elo entre a

representação e a sociedade de eleitores. Sendo esta, portanto, a principal

missão do Direito Eleitoral, ou seja, instrumentalizar, interligar o universo de

eleitores com o melhor aperfeiçoamento dos mecanismos eletivos, sua

gradativa evolução está historicamente vinculada ao fenômeno da

representatividade, com a exteriorização do voto na escolha dos chefes e

representantes políticos (RAMAYAMA, 2006). Portanto, é irreversível o

reconhecimento do proeminente destaque do Direito Eleitoral no complexo das

Ciências Jurígenas, especialmente em razão da preservação e do controle do

processo eleitoral, que não pode ficar a cargo de uma fiscalização meramente

política que certamente abrigará as conseqüências dos atentados cometidos

contra o direito cívico do voto e os abusos e desvios de poder.

O Direito Eleitoral deve ser considerado uma pedra angular na

edificação dos regimes democráticos e o único capaz de defender, com

eficácia se amoldado corretamente e dotado de imediata incidência, a liberdade

na votação e a autonomia individual do eleitor, principalmente, através de

mecanismos prévios, concomitantes e posteriores das candidaturas e do

mandato eletivo, criando-se um senso eleitoral como meio eficaz de

moralização das urnas, escoimando-as dos vilipêndios, ilegalidades abusivas e

manipulação do eleitorado com a fabricação de representantes políticos.

A Constituição da República Federativa do Brasil define claramente

que a "cidadania" é um princípio fundamental do Estado Democrático de Direito

(art. 1º, inciso II), dispondo, em todo o Capítulo IV do Título I, sobre os "Direitos

Políticos", seu exercício, as condições de elegibilidade, as inelegibilidades,

tratando inovadoramente da ação de impugnação do mandato eletivo,

referindo-se às hipóteses de perdas e suspensão dos direitos políticos,

24estabelecendo uma condição essencial à vigência da lei que altera o processo

eleitoral e estabelecendo, no Capítulo V, os preceitos dos partidos políticos

numa missão soberana da democracia tutelada em nível constitucional,

deixando de forma evidenciada a autonomia do Direito Eleitoral e Partidário

(RAMAYAMA, 2006).

A normatividade do Direito Eleitoral lastreia-se numa realidade

inafastável, na medida em que as questões e os litígios eleitorais necessitam

ser resolvidos de forma imparcial, e com intervenção absolutamente

independente dos pronunciamentos exclusivamente partidários e políticos, em

especial, quando são atingidos direitos sociais, difusos e que dizem respeito à

lisura do processo democrático.

Com relação ao primeiro Código Eleitoral no Brasil, Decreto nº 21.076,

de 24 de fevereiro de 1932, denominado Código Eleitoral da República dos

Estados Unidos do Brasil, João C. da Rocha Cabral, já fazia menção ao novo

organismo eleitoral que se almejava em moldura idealista para a época,

trazendo à baila os seguintes comentários, que valem uma transcrição, in

verbis:

Depois das linhas mestras em que se assenta o direito

individual de eleitor, importa imediatamente saber quais

as da estrutura orgânica a que se entrega a qualificação e

o alistamento dos eleitores e bem assim todas as funções

judicantes e administrativas, do processo eleitoral, até

formação do corpo eletivo. Aspiração geral tornou-se no

Brasil o arrancar-se o processo eleitoral, ao mesmo

tempo, do arbítrio dos governos e da influência

conspurcadora do caciquismo local (...)(apud,

RAMAYAMA, 2006, p. 172)

251.2 CONCEITO DE DIREITO ELEITORAL

O Direito Eleitoral é um conjunto de normas jurídicas que regulam

processo de alistamento, filiação partidária, convenções partidárias, registro de

candidaturas, propaganda política eleitoral, votação, apuração, proclamação

dos eleitos, prestação de contas de campanhas eleitorais e diplomação, bem

como as formas de acesso aos mandatos eletivos através dos sistemas

eleitorais.

Na verdade, o Direito Eleitoral tem por função regulamentar a

distribuição do eleitorado, o sistema eleitoral, a forma de votação, a apuração,

a diplomação e garantir a soberania popular através do voto eletrônico ou do

depósito da cédula na urna eleitoral. Não se pode esquecer de que o Direito

Eleitoral possui sua fonte principal na Constituição da República, extraindo do

seu texto o conceito, as noções e os princípios regedores das decisões,

resoluções, consultas e legislação em geral.

Especificamente sobre a conceituação didática do Direito Eleitoral,

esclarece Joel José Cândido:

O Direito Eleitoral é o ramo do Direito Público que trata de

institutos relacionados com os direitos políticos e das

eleições, em todas as suas fases, como forma de escolha

dos titulares dos mandatos eletivos e das instituições do

Estado (2006, p. 133).

Enquanto que Fávila Ribeiro afirmava:

O Direito Eleitoral, precisamente, dedica-se ao estudo das

normas e dos procedimentos que organizam e disciplinam

o funcionamento do poder de sufrágio popular, de modo a

que se estabeleça a precisa adequação entre a vontade

do povo e a atividade governamental (1998, p. 122).

26

Para Torquato Jardim:

O Direito Eleitoral é o liame que une a eficácia social da

República democrática representativa à eficácia legal da

Constituição, que lhe dá forma jurídica. A soberania

popular é a pedra angular da República (Constituição, art.

1º, parágrafo único); à proposição sociológica juridicizada

na norma há de corresponder um ordenamento positivo o

Direito Eleitoral, capaz de concretizá-la na práxis coletiva

(apud, CÂNDIDO, 2006, p. 99.

Desta forma, pode-se conceituar o Direito Eleitoral como ramo do

Direito Público que disciplina o alistamento eleitoral, o registro de candidatos,

propaganda política eleitoral, a votação, apuração e diplomação, além de

regularizar os sistemas eleitorais, os direitos políticos ativos e passivos, a

organização judiciária eleitoral, dos partidos políticos e do Ministério Público

dispondo de um sistema repressivo penal especial.

27

CAPÍTULO II

A ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA ELEITORAL

A Justiça Eleitoral possui sua destinação diretamente vinculada à

garantia dos direitos de votar e de ser votado, assegurando o pleno exercício

da cidadania em suas diversas manifestações.

Eleitores, candidatos e partidos políticos fazem parte da engrenagem

dinâmica da cidadania, tendo o Ministério Público Eleitoral à tarefa de fiscalizar

o processo eleitoral lato sensu, ainda que suas atribuições não estejam

minudentemente regulamentadas, no âmbito da vasta normatividade positiva

de natureza subconstitucional, mas emergem de uma visão enciclopédica da

posição institucional, diante do preceituado no caput do art. 127 da

Constituição Federal de 1988.

Não quer isto dizer, entretanto, que a sociedade, manifestada em suas

mais variadas formas de organicidade, inclusive o principal personagem que é

o eleitor, abstenha-se de fiscalizar, as vicissitudes eleiçoeiras que possam

abalar o processo democrático, pois, como argumentava José Joaquim Gomes

Canotilho (apud, RAMAYAMA, 2006), existem, como garantia do direito

fundamental, o status activus processualis e o status interactivus socialis,

sendo o primeiro ligado à necessidade de as leis e normas dinamizarem

maiores dimensões participatórias de cunho procedimental, e o segundo,

vinculado a uma dinamização, por parte do legislador, por exemplo, de leis

eleitorais que assegurem igualdade de oportunidades (RAMAYAMA, 2006).

Cumpre, portanto, à Justiça Eleitoral a missão de resguardar a,

democracia e o Estado Democrático, nos moldes do disposto no art. 1º e

incisos da Constituição Federal, efetivando, praticamente, a soberania popular,

a cidadania e o pluralismo político como princípios fundamentais trilhados pelo

28legislador-constituinte. O art. 118 da Constituição Federal de 1988 disciplina os

órgãos da Justiça Eleitoral, ou seja, o Tribunal Superior Eleitoral, grau mais

elevado de jurisdição nessa matéria, com exceção dos recursos extraordinário

e ordinário para o Supremo Tribunal Federal.

O Tribunal Superior Eleitoral é composto de sete juízes: três ministros c

Supremo Tribunal Federal, dois ministros do Superior Tribunal de Justiça dois

advogados nomeados pelo presidente da República em lista tríplice (duas

listas) dentre seis advogados indicados pelo Supremo Tribunal Federal.

Acrescentando ao assunto, algumas observações sobre os Tribunais

Regionais Eleitorais (BONFIM, et. al., 2009, p. 201):

I) Haverá um TRE na capital de cada estado e um TRE no Distrito

Federal;

II) composição é, em suma, a seguinte (art. 120 da Constituição

Federal de 1988): dois juízes dentre os desembargadores do Tribunal de

Justiça, que sã escolhidos por eleição e voto secreto; b) dois juízes dentre os

juízes de direito, escolhidos pelo Tribunal de Justiça; c) um juiz do Tribunal

Regional Federal; d) dois juízes da classe dos advogados, que são nomeados

pelo residente da República e escolhidos numa lista tríplice, elaborada pelo

tribunal de Justiça, devendo possuir, igualmente, notável saber jurídico de

idoneidade moral;

III) as escolhas por eleição são fiéis à letra da Constituição Federal de

1988 e regimento interno, bem como às respectivas leis de organização

judiciária local, e Tribunal Regional Federal também segue as normas de cunho

regimental;

IV) frise-se mais: a) o presidente e o vice-presidente são os

desembargadores escolhidos em eleição interna; b) o Corregedor Regional

Eleitoral é escolhido, por eleição, na forma regimental; c) os juízes dos três

servem por um biênio no mínimo, e nunca por mais de dois biênios

29consecutivos, sendo os substitutos escolhidos na mesma ocasião e pelo

mesmo processo, em numero Igual para cada categoria; d) compete

privativamente ao TRE dividir a respectiva circunscrição eleitoral em zonas

eleitorais, submetendo essa divisão, assim como a criação de novas Zonas

Eleitorais por desmembramento, à aprovação final pelo Tribunal Superior

Eleitoral; e) compete, outrossim, ao TRE constituir as Juntas Eleitorais e

designar as respectivas sedes e jurisdições dentre várias outras competências

que seguem regramento normativo, ex radice dos regimentos internos;

V) os juízes eleitorais são obrigatoriamente magistrados de carreira,

designados pelos TREs para presidir as zonas eleitorais.

No Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, a Resolução nº 561, de 28

de abril de 2003, do Tribunal Regional Eleitoral disciplina o sistema de

investidura a termo nas Zonas Eleitorais, estabelecendo regras para o

provimento de juízes estaduaIs para acumularem as funções de juízes

eleitorais, tratando a referida norma, dentre outras questões atinentes à

investidura, especificamente do seguinte (BONFIM, et. al., 2009, p. 206):

a) o exercício da jurisdição é privativo dos juízes de

Direito do Estado; b) a temporariedade na investidura; c) o

prazo de dois anos no exercício da função, sendo

possível a recondução por igual período; d) a contagem

ininterrupta dos biênios, independentemente de qualquer

espécie de afastamento; e) a possibilidade da investidura

está afeta à condição de o juiz de Direito ser titular da

comarca e, excepcionalmente, com competência nas

Regiões Judiciárias; f) preserva-se, durante o biênio da

investidura, a garantia da inamovibilidade pela forma e

condições disciplinadas pela Lei Orgânica da Magistratura

Nacional, Código Eleitoral e, principalmente, a

Constituição Federal; g) trata da substituição nas férias e

licenças, sendo de competência do presidente do TRE a

30designação, ad referendum do Pleno, observando-se

critérios de antiguidade; h) trata de uma hipótese de

vacância quando o juiz perde a titularidade do órgão

judiciário estadual; i) inadmite permuta e remoção, além

de disciplinar regras claras e precisas sobre os juízes

eleitorais.

De acordo com Marcos Ramayana:

Inexiste inconstitucionalidade na formação de comissões

e designações de juízes auxiliares para a fiscalização e

coordenação da propaganda eleitoral e para exame da

prestação de contas, mas merece maior atenção dos

estudiosos da matéria que a possibilidade de interposição

de recursos das decisões das comissões em nível

colegiado ou monocrático para os TREs, nas eleições do

tipo nacionais e estaduais, implique a legiferação e

alteração de regras de natureza constitucional, por

exemplo, se um juiz auxiliar denegar mandado de

segurança ou habeas corpus e serem estas medidas

judiciais de natureza constitucional ajuizadas novamente

para o presidente do TRE que, denegando-as, criaria um

grau intermediário na apreciação da questão, pois já

caberia diretamente ajuizamento das medidas no TSE,

gerando eventuais prejuízos aos demandantes (art. 121, §

4º, inciso V, da Constituição da República Federativa do

Brasil) (2006, p. 155).

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, as zonas eleitorais são

consideradas como uma ideal parte territorial, cuja divisão é fomentada por

critérios legais, tendo ampla jurisdição nos limites que foram predeterminados e

sendo integrante da circunscrição judiciária eleitoral. Para cada zona eleitoral,

haverá necessidade de investidura de um juiz eleitoral, sendo que a

31competência fica circunscrita ao local onde ocorreu o fato, ressalvando-se as

questões que envolvam prerrogativas de função e aquelas atinentes ao

ajuizamento de medidas judiciais disciplinadas em lei.

Algumas observações (RAMAYAMA, 2006, 164): a) não podem servir

como escrivão eleitoral membros de diretórios de partido político, candidatos,

cônjuges e parentes consangüíneos e afins até o segundo grau dos juízes

eleitorais daquela zona eleitoral, onde exerçam jurisdição eleitoral; b) cabe aos

juízes dividirem as zonas eleitorais em seções eleitorais; c) designar, em até 60

dias antes da eleição, os locais das seções, além de outras competências

previstas geralmente nos regimes internos dos três.

A seção eleitoral é uma subdivisão territorial da zona eleitoral, para fins

de votação e até apuração dos votos, sendo o local destinado ao efetivo

exercício do sufrágio, ao qual o eleitor previamente alistado está vinculado ao

ius suffraggi. As Juntas Eleitorais são compostas de um juiz de Direito que

exerce a função de presidente da Junta Eleitoral e dois ou quatro membros

(juízes de fato) titulares e dois suplentes que se fizerem necessários.

São as Juntas Eleitorais órgãos não-monocráticos, que se situam

hierarquicamente na mesma posição do juiz de Direito que é, na verdade, o

presidente da Junta. O voto, portanto, do juiz presidente terá o mesmo valor do

voto do juiz leigo, tendo a Junta Eleitoral competências fixadas na legislação

eleitoral. Ao presidente da Junta Eleitoral caberá (RAMAYAMA, 2006, p. 166):

a) fiscalizar, coordenar e orientar os trabalhos de escrutinação

realizados;

b) nomear um secretário-geral e, na medida em que ocorrer o

desdobramento da Junta em Turmas Apuradoras, deverá nomear um

secretário para cada uma das Turmas, escolhidos dentre os escrutinadores.

O secretário geral deverá (RAMAYAMA, 2006, p. 167):

32a) lavrar as atas, assinar boletins e urnas, providenciar o controle sobre

o real comparecimento dos escrutinadores, pois é comum ocorrerem faltas

injustificadas ou justificadas;

b) providenciar as assinaturas dos fiscais e representantes dos comitês

interpartidários nos respectivos boletins de urnas, separando e orientando a

melhor forma de encaminhar os boletins para a digitação, além de ficar

responsável pela entrega da via dos boletins de urnas ao representante do

comitê interpartidário, afixando, ainda, em quadro, parede ou local de livre

disponibilidade visual, uma via dos boletins de urnas para conhecimento amplo

dos interessados, sejam candidatos, fiscais e pessoas diversas, bem como

imprensa;

c) providenciar o credenciamento dos representantes da imprensa,

partidos políticos, fiscais, autoridades e candidatos, além de outras atribuições

ligadas à otimização dos serviços eleitorais e da fase apuratória do processo

eleitoral.

Os escrutinadores devem (RAMAYAMA, 2006, p. 169):

a) efetivar a contagem dos votos atribuídos aos candidatos e legendas

partidárias, mas, antes de tudo, devem separar os votos nulos e em branco

para agilizar o processo de escrutinação, tendo cuidado para, de pronto,

colocar o carimbo em branco e nulo nesses tipos de voto, pois tal medida evita

tentativas de fraudes eleitorais com o preenchimento, por exemplo, do voto por

integrante da escrutinação ou terceiros;

b) e, antes de iniciarem o trabalho de contagem de votos, contar se o

total de votos corresponde ao número de votantes daquela seção eleitoral, pois

uma substancial discrepância entre o número de votos e o número de votantes

enseja motivo para impugnação e, conseqüentemente, anulação dos votos,

mas cada caso deverá merecer uma análise, evitando-se a decretação de

nulidade em hipótese que possa aproveitar a vontade dos eleitores, diante do

princípio do aproveitamento do voto e do sufrágio.

33

Cada Turma Apuradora deverá ter um secretário, que terá as funções

de (RAMAYAMA, 2006, p. 173):

a) somar os votos e preencher as colunas de fechamento dos boletins

de urna;

b) seguir as orientações e as regras de supervisão estipuladas pelo

presidente da Turma;

c) ficar responsável pelo preenchimento dos boletins de urna, pois a

prática está a demonstrar que a delegação de função a mais de um

escrutinador poderá ser altamente prejudicial, em razão da parcial ausência de

controle quanto aos mecanismos de fraude eleitoral, na alteração dos

resultados dos boletins de urnas, que podem ser manipulados, daí a

importância legal de preencherem-se os boletins de urna com caneta

esferográfica vermelha, evitando-se rasuras que podem indicar uma tentativa

de fraude ou simples erro material.

Caberá aos escrutinadores conferir os materiais destinados ao

processo de escrutinação, por exemplo, canetas, carimbos, envelopes, listas

de candidatos. Os órgãos da Justiça Eleitoral são: Tribunal Superior Eleitoral,

Tribunais Regionais Eleitorais, juízes eleitorais e juntas eleitorais. As zonas

eleitorais são divisões de ruas e avenidas, inclusive de parte de circunscrições

(espaço geográfico do município) para fins de organização do eleitorado. Uma

zona eleitoral poderá abranger um único município; e poderá existir uma zona

que abranja dois municípios.

As zonas eleitorais não exercem jurisdição eleitoral, pois não são

órgãos da Justiça Eleitoral. A Junta Eleitoral é um órgão eclético, misto e

colegiado, sendo formada por três ou cinco integrantes, o seu presidente é um

juiz de direito e mais dois ou quatro cidadãos de notória idoneidade (art. 36 do

Código Eleitoral).

O juiz de direito que é presidente da Junta Eleitoral poderá nomear

cidadãos de notória idoneidade como escrutinadores e auxiliares. Todavia,

34compete ao Tribunal Regional Eleitoral constituir as juntas eleitorais e ao

presidente do TRE nomear os membros (cidadãos de idoneidade moral)

indicados pelo juiz eleitoral (arts. 30, inciso V, e 38 do Código Eleitoral).

A Junta Eleitoral tem uma competência especial, ou seja, expedir o

diploma aos eleitos para prefeito, vice-prefeito e vereador (art. 40, inciso IV, do

Código Eleitoral). O art. 64 da Lei nº. 9.504/97 veda que os integrantes de uma

mesma Junta Eleitoral sejam parentes. O impedimento atinge qualquer grau.

O art. 37 do Código Eleitoral permite que o Tribunal Regional Eleitoral

constitua Juntas Eleitorais sem juízes titulares de zonas eleitorais, pois a regra

é que para cada zona exista uma junta; no entanto, é possível existir uma junta

eleitoral presidida por juiz eleitoral temporário, designado somente para a

votação, apuração e diplomação. As seções eleitorais são locais de votação

(arts. 117 e 135 do Código Eleitoral), sendo que para cada seção haverá uma

urna eletrônica, mas a lei permite duas cabines por seção (duas urnas). Uma

zona eleitoral possui diversas seções eleitorais.

2.1 JUSTIÇA ELEITORAL E SUA COMPETÊNCIA

Diversas competências estão inseridas à Justiça Eleitoral: questões de

natureza administrativa, por exemplo, organização administrativa das zonas

eleitorais, tais como locais destinados à votação, apuração, funcionários e o

próprio alistamento eleitoral de natureza declaratória administrativa; questões

atinentes ao poder regulamentar, pois o Poder Legislativo, ao editar as leis em

matéria eleitoral, deixa sempre uma substanciosa margem de

complementariedade afeta ao poder regulamentar do Tribunal Superior

Eleitoral (BONFIM, et. al., 2009).

Esse poder regulamentar exteriorizado pelo Egrégio Tribunal Superior

Eleitoral é uma marcante característica da legislação eleitoral vigente. O poder

regulamentar está disciplinado nos arts. 23, inciso IX, que trata da expedição

35de instruções convenientes à execução do Código Eleitoral, bem como da

legislação eleitoral lato sensu, art. 1º, parágrafo único, ambos do Código

Eleitoral, e nas respectivas leis específicas que disciplinam as eleições, por

exemplo, art. 105 da Lei nº 9.504/97.

Saliente-se, ainda, que a própria Lei nº 9.504/97, em seu art. 105, fixa

prazo para que o Tribunal Superior Eleitoral expeça as resoluções necessárias

à executoriedade da lei, onde são ouvidos previamente, em audiência pública,

os delegados dos partidos participantes do pleito eleitoral vindouro

(CORDEIRO & DA SILVA, 2006). Formalmente, o poder regulamentar, em

matéria eleitoral, processa-se através de resoluções e instruções sobre

propaganda eleitoral, votação, apuração, registro de candidatos, calendários

eleitorais e outras.

Sobre essa matéria, deve-se observar que o poder regulamentar deve

situar-se secundum e praeter legem, sob pena de invalidação e, em

atendimento ao disposto no art. 5º, inciso lI, da Constituição Federal de 1988,

pois "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em

virtude de lei." É cabível, portanto, um controle pelos partidos políticos e

Ministério Público, quando se detectar uma extensão demasiada na

regulamentação da matéria, axiomada a regulamentação contra legem; além

de ser viável o ajuizamento do mandado de injunção (art. 5º, inciso LXXI) nas

hipóteses de inércia

Do órgão regulamentador, ou seja, na ausência de norma

regulamentadora sobre determinada matéria eleitoral. Saliente-se, ainda, que é

cabível o mandado de segurança, se determinada resolução, por exemplo,

atingir efeitos concretos (CORDEIRO & DA SILVA, 2006).

Todavia, cumpre observar que as competências do TSE, no que dizem

respeito ao reexame de decisões administrativas dos três, restringem-se

àquelas que tenham características jurisdicionais de fundo eleItoral, como no

caso dos plebiscitos. Para que se determine tal competência, a matéria . deve

36ser atinente à administração das eleições, que não se confunde com a

administração da própria máquina judiciária eleitoral. (Acórdão nº 12.693 -

2/911996 - Recurso Especial Eleitoral nº 12.693 - Brasília - DF, Publicado DJ

de 11/911996, p. 32.818).

A competência da Justiça Eleitoral está cingida dentro das fases

elencadas pela doutrina. A doutrina majoritária entende que à Justiça Eleitoral

compete processar e julgar causas que estejam compreendidas entre o

alistamento e a diplomação dos candidatos eleitos, e, por força de ação de

natureza constitucional, que é a ação de impugnação ao mandato eletivo (art.

14, § 10), ainda possui competência para decidir essas ações que são

ajuizadas no prazo decadencial de 15 dias, contados da diplomação. Fora

desse prazo legal, não haverá mais competência da Justiça Eleitoral, devendo

as questões serem dirimidas pela Justiça Comum.

Dentro das fases do Processo Penal pode-se citar de acordo com

Marcos Ramayama (2006, p. 233):

a) Alistamento eleitoral.

b) Convenções nacionais, estaduais ou municipais para a escolha de

pré-candidatos (art. 8 º da Lei nº 9.504/97).

c) Pedido de registro de candidaturas (art. 11 da Lei nº 9.504/97).

d) Propaganda política eleitoral (art. 36 da Lei nº 9.504/97).

e) Votação.

f) Apuração.

g) Proclamação dos eleitos.

h) Diplomação.

2.2 LEGISLAÇÃO ELEITORAL NO BRASIL

As principais leis eleitorais são: Lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965,

que institui o Código Eleitoral; Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990,

que estabelece, de acordo com o art. 14, § 9 º da Constituição Federal, casos

37de inelegibilidade, prazos de cessação, e determina outras providências; Lei nº

9.096, de 19 de setembro de 1995, que dispõe sobre partidos políticos,

regulamenta os arts. 17 e 14, § 3 º, inciso V, da Constituição Federal; Lei nº

9.504, de 30 de setembro de 1997, que estabeleceu normas para as eleições;

Lei nº 6.091, de 15 de agosto de 1974, que dispõe sobre o fornecimento

gratuito de transporte, em dias de eleição, a eleitores residentes nas zonas

rurais, e dá outras providências; Lei nº 6.996, de 7 de junho de 1982, que

dispõe sobre a utilização de processamento eletrônico de dados nos serviços

eleitorais e dá outras providências; e a Lei nº 7.444, de 20 de dezembro de

1985, que dispõe sobre a implantação do processamento eletrônico de dados

no alistamento eleitoral e a revisão do eleitorado e dá outras providências

(BONFIM, et. al., 2009).

O Código Eleitoral de 1965 deve ter sua leitura atualizada pela

legislação superveniente acima referida, especialmente em razão do texto da

Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997, pois, sendo lei posterior revogou

expressa e tacitamente diversos artigos do Código Eleitoral, inclusive

regulando de forma diversa algumas matérias. Como exemplo, pode-se

salientar os arts. 94 e 240 do Código Eleitoral, que foram revogados

respectivamente pelos arts. 11 e 36 da Lei nº 9.504/97.

No exame dos artigos do Código Eleitoral, o intérprete deve ter atenção

e fazer uma comparação com a Constituição Federal. Por exemplo, o art. 26 do

CE faz menção à figura do terceiro desembargador como Corregedor do

Tribunal Regional Eleitoral, mas o art. 120, inciso I, alínea a, da Constituição

Federal de 1988,limitou a dois desembargadores do Tribunal de Justiça como

integrantes da composição dos juízes dos Tribunais Regionais Eleitorais.

Assim, os corregedores dos Tribunais Regionais Eleitorais são escolhidos

dentre os outros juízes da Corte, exceto os dois desembargadores estaduais,

pois um será o presidente e o outro o vice-presidente.

É fundamental examinar, que todas as leis eleitorais são

complementadas por resoluções do Tribunal Superior Eleitoral. No entanto, o

38poder regulamentar está interligado ao teor legiferante das próprias leis, não

podendo ser contra, mas apenas praeter e secundum legem.

O Tribunal Superior Eleitoral expede resoluções temporárias que se

referem a uma determinada eleição, por exemplo, registro de candidatos,

propaganda política eleitoral, e prestação de contas de campanhas. Estas têm

curta duração e específica aplicabilidade, mas podem servir como futuras

normas de interpretação e integração. Todavia, o TSE também expede

resoluções permanentes ou com feição de maior durabilidade temporal, pois

não são alteradas em função de um calendário eleitoral das eleições; portanto,

não se lhes aplica o artigo 105 da Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997.

Dentre as resoluções permanentes destaca-se como exemplo: a

Resolução nº 21.538/03, a que dispõe sobre o alistamento eleitoral; Resolução

nº 19.406/95, que trata das instruções para fundação, funcionamento e extinção

de partidos políticos; Resolução nº 21.841/04, que disciplina a prestação de

contas dos partidos políticos, e a Resolução nº 21.975/04, que disciplina o

recolhimento de multas previstas no Código Eleitoral e em leis conexas

(BONFIM, et. al., 2009).

O intérprete da legislação eleitoral deve: ler o Código Eleitoral em

comparação com a Constituição Federal e as leis posteriores, inclusive as

resoluções eleitorais, priorizando as alterações supervenientes, especialmente

as decorrentes do poder normativo. Neste sentido, tenha-se sempre presente

que as resoluções minudenciam aspectos da Lei nº 9.504/97, do Código

Eleitoral e da Lei das lnelegibilidades e, portanto, são seguidas pelos juízes

eleitorais no cumprimento das regras de julgamento, por exemplo, o art. 21 do

Código Eleitoral: "Os tribunais e juízes inferiores devem dar imediato

cumprimento às decisões, mandados, instruções e outros atos emanados do

Tribunal Superior Eleitoral". Por fim, as resoluções eleitorais decorrentes do

poder regulamentar do Egrégio Tribunal Superior Eleitoral devem limitar-se a

preencher e interpretar as normas do Código Eleitoral, e das leis eleitorais, por

exemplo, Leis nºs 9.504/97 e 9.096/95.

39

Assim, as resoluções eleitorais devem ser apenas atos normativos

secundários ou de natureza interpretativa. Nesta hipótese, constatada a

desconformidade entre a lei ordinária e a resolução, se estará diante de uma

ilegalidade não controlável por ação direta de inconstitucionalidade, ajuizada

em sua maioria por partidos políticos. Todavia, quando a resolução pode ser

vista como um ato normativo autônomo, cuja feição é de verdadeira lei eleitoral

inovadora, pode-se vislumbrar a violação ao princípio da anualidade (art. 16 da

Constituição Federal de 1988), bem como a consagração da própria invasão na

esfera do legislador, ou seja, um problema de afetação à competência

legislativa do Congresso Nacional (arts. 22, inciso I, e 48, da Constituição

Federal de 1988). Neste último caso, é perfeitamente possível o controle da

constitucionalidade por ação direta de inconstitucionalidade em face do texto

da resolução. No sentido acima, verificar as ADINS 2.626- DF e 2.628 - DF,

relatores Min. Sidney Sanches e redação para acórdão com a Ministra Ellen

Gracie, em 18 de abril de 2002 (BONFIM, et al., 2009).

O Supremo Tribunal Federal examinando ação direta de

inconstitucionalidade em face das Resoluções 21.702/04 e 21.803/04 do

Tribunal Superior Eleitoral que disciplinam o número de vereadores em cada

Câmara Municipal em relação à proporcionalidade defluente do número de

habitantes, assim decidiu:

"Resolução do TSE e Fixação do Número de Vereadores - 1. O

Tribunal, por maioria, julgou improcedentes os pedidos formulados em duas

ações diretas de inconstitucionalidade propostas pelo Partido Progressista - PP

(ADI3345/DF) e pelo Partido Democrático Trabalhista - PDT (ADI 3365/DF) em

face da Resolução nº 21.702/04, editada pelo Tribunal Superior Eleitoral - TSE,

que estabeleceu instruções sobre o número de vereadores a eleger segundo a

população de cada município. Inicialmente, reconheceu-se inexistir, em relação

aos Ministros Sepúlveda Pertence, Carlos Velloso e Ellen Gracie, que

subscreveram, no TSE, o ato impugnado, qualquer hipótese de impedimento

ou suspeição para julgamento das ações diretas em questão, haja vista o

40entendimento predominante do Supremo no sentido de não se aplicarem, em

regra, ao processo de controle normativo abstrato, os institutos do impedimento

e da suspeição. Em seguida, rejeitando a preliminar de não-conhecimento da

ação, suscitada pelo procurador-geral da República, reputou-se dotada de

suficiente densidade normativa a Resolução em causa, revelando-se, assim,

suscetível de fiscalização abstrata de constitucionalidade. ADI 3345/DF e ADI

3365/DF, reI. Min. Celso de Mello, 25/8/2005. (ADI-3345) (ADI-3365).

Resolução do TSE e Fixação do Número de Vereadores - 2. Em relação ao

mérito, concluiu-se pela inexistência das apontadas violações aos princípios da

reserva de lei, da separação de poderes, da anterioridade da lei eleitoral e da

autonomia municipal. Esclareceu-se que a Resolução 21.702/04 foi editada

com o propósito de dar efetividade e concreção ao julgamento do Pleno no RE

197917/SP (DJU de 27/4/2004), já que nele o STF dera interpretação definitiva

à cláusula de proporcionalidade inscrita no art. 29, inciso IV da Constituição

Federal de 1988, conferindo efeito transcendente aos fundamentos de

terminantes que deram suporte ao mencionado julgamento. Salientando que a

norma do art. 16 da Constituição Federal de 1988, consubstanciadora do

princípio da anterioridade da lei eleitoral, foi prescrita no intuito de evitar que o

Poder Legislativo pudesse inserir, casuisticamente, no processo eleitoral,

modificações que viessem a deformá-lo, capazes de produzir desigualdade de

participação dos partidos e respectivos candidatos que nele atuam, entendeu-

se não haver afronta ao referido dispositivo, uma vez que a Resolução sob

análise não ocasionou qualquer alteração que pudesse comprometer a

finalidade visada pelo legislador constituinte (.......). ADI 3345/DF e ADI

3365/DF, Rel. Min. Celso de Mello, 25/8/2005. (ADI-3345) (ADI-3365)".

41

CAPITULO III

CRIMES ELEITORAIS E O PROCESSO PENAL ELEITORAL

O Direito Eleitoral possui uma inegável importância jurídica como

complexo de normas estruturantes e garantidoras das condições de

elegibilidade, do pleno exercício da cidadania, dos direitos políticos, das

hipóteses vedatórias das inelegibilidades e da própria organicidade dos

partidos políticos e dos sistemas eleitorais.

A necessidade de preservar os direitos eleitorais e a declaração

jurisdicional de sua inviolabilidade pertencem à garantia da própria democracia

contemporânea. Gradativamente, as regras tutelares do Direito Eleitoral vão

sendo reconhecidas e aplicadas nas questões jurídicas, trazendo à baila

diversos desafios aos juristas, que devem enfrentar a cientificação doutrinária

desse ramo do Direito Público (CÂNDIDO, 2006).

Os crimes eleitorais estão disciplinados nos arts. 289 até 354 do

Código Eleitoral e em outras leis que integram a legislação eleitoral em sentido

amplo, tais como: a Lei nº 7.021, de 6 de setembro de 1982, que estabelece o

modelo de cédula única; Lei nº 6.091, de 15 de agosto de 1974, que disciplina o

fornecimento gratuito de transporte, em dias de eleições, a eleitores residentes

em zonas rurais, e dá outras providências; Lei nº 6.996, de 7 de junho de 1982,

que disciplina o processamento eletrônico de dados nos serviços eleitorais; Lei

Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, que estabelece casos de

inelegibilidade e disciplina outras matérias; e a Lei nº 9.504, de 30 de setembro

de 1997, que estabelece normas para as eleições (RAMAYAMA, 2006).

Deve-se destacar que, para cada eleição, seja de cunho nacional,

estadual ou municipal, existe uma lei especial disciplinadora. Esta lei trata de

42tipos penais, cuja aplicação é temporária, seguindo o art. 16 da Constituição

Federal de 1988, que disciplina o princípio da anualidade em matéria eleitoral.

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 16, consagra o princípio

da anualidade em matéria eleitoral, quando textualmente diz que: "A lei que

alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se

aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência". A

alteração foi operada pela redação da Emenda Constitucional nº 4, de 14 de

setembro de 1993. A redação anterior era a seguinte: "A lei que alterar o

processo eleitoral só entrará em vigor um ano após sua promulgação".

Assim, as leis específicas para as eleições que ocorrem de dois em

dois anos, alternadamente, em observância ao princípio da periodicidade (art.

60, § 4 º, inciso lI, da Lei Maior) para prefeito, vice-prefeito, vereadores,

presidente da República, vice-presidente, governador, vice-governador,

senadores, deputados federais, distritais e estaduais, são leis de natureza

temporária.

As eleições de 1992, 1994, 1996, 1998 e 2000 possuem leis

específicas, que trazem tipos penais incriminadores. No entanto, a Lei nº 9.504,

de 30 de setembro de 1997, que estabeleceu normas para as eleições, perdeu

o sentido da especificidade para determinada eleição, rompendo uma tradição

legiferante, sendo, portanto, aplicável para todas as eleições municipais,

estaduais e federais, até que seja eventualmente revogada ou sofra

modificações (CORDEIRO & DA SILVA, 2006). É sabido, portanto, que os tipos

penais incriminadores disciplinados em leis penais temporárias possuem

vigência previamente fixada pelo legislador.

As leis de natureza temporária são ultra-ativas, ou seja, são aplicáveis

aos fatos praticados durante sua vigência, mesmo ocorrendo sua

autorevogação. Aplicável sobre essa matéria, o art. 3 ºdo Código Penal. Em

suma: se o candidato Pedro, durante a fase apuratória das eleições de 2000,

de forma consciente e voluntária, agindo dolosamente, obtém acesso ao

43sistema de dados usado pelo serviço eleitoral, a fim de alterar a apuração ou a

contagem de votos, responde pelo crime do art. 72, inciso I, da Lei nº 9.504/97,

mesmo que seja julgado no ano de 2004, em razão da ultra-atividade da Lei

Penal especial.

A auto-revogação das leis especiais materializam-se no Direito Penal

Eleitoral, pelo simples decurso do prazo de sua duração. Esse prazo, embora

não venha expresso nas referidas leis, coincide com o término das eleições ou

do período de apuração.

As leis específicas para as eleições, portanto, consagram o fenômeno

das leis temporárias, que vigem para disciplinar circunstâncias jurígenas

criminais, além de várias outras matérias indiferentes ao Direito Penal Eleitoral,

mas que o complementam como norma penal em branco em sentido lato ou

amplo (provenientes da mesma fonte formal homogênea, in casu, o Congresso

Nacional). Como exemplo, as normas que tratam de regras de doações em

campanhas eleitorais podem, por exemplo, caracterizar delitos eleitorais

(CÂNDIDO, 2006).

O caso mais comum é quando o candidato recebe dinheiro não-

contabilizado na sua prestação de contas com a finalidade de corromper o

eleitor em busca de votos, incidindo, em tese, na prática do crime do art. 299

do Código Eleitoral, nominado por Nelson Hungria como "crime de corrupção

eleitoral", estando o sujeito, ainda, à sanção de inelegibilidade pela prática do

abuso do poder econômico ou político, conforme disciplina o art. 22 da Lei

Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990, cognominada de Lei das

Inelegibilidades, porque disciplina as causas de inelegibilidade

infraconstitucional, as hipóteses de desincompatibilização e a representação ou

investigação judicial eleitoral.

Frise-se, ainda, que essas leis tipificam condutas que só podem ocorrer

diante de certas peculiaridades próprias do calendário eleitoral, pois possuem.

elementares penais objetivas, descritivas e normativas, exigindo-se um juízo de

44valoração. Como exemplo: a danificação dolosa do aparelho de computador

utilizado na apuração dos votos, a prática do aliciamento de eleitores, a

distribuição de material de propaganda eleitoral no dia da eleição.

Convém analisar que essas leis regulam o calendário eleitoral num

período de tempo que geralmente varia de abril a dezembro do ano da eleição,

estabelecendo o caráter temporal das normas penais. Por exemplo: a Lei nº

9.504, de 30 de setembro de 1997, em seu art. 36, fixa a data a partir da qual é

permitida a propaganda eleitoral, ou seja, após o dia 5 de julho do ano da

eleição (RAMAYAMA, 2006). Somente a partir do dia 6 de julho do ano da

eleição, por exemplo, é que poderá haver a incidência da norma penal

incriminadora do art. 40 da própria Lei nº 9.504/97, que pune com pena de seis

meses a um ano o uso de símbolos, frases ou imagens semelhantes às

empregadas por órgão de governo, empresa pública ou sociedade de

economia mista.

Terminadas as eleições, com a proclamação dos eleitos e a expedição

dos diplomas eleitorais, essas leis não trazem em seus dispositivos penais

nenhum tipo penal que possa incidir sobre condutas de natureza ativa ou

omissiva, sendo aplicáveis pela adoção do princípio da ultra-atividade.

A Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997, que estabelece normas

para as eleições, rompendo uma tradição ao princípio da anterioridade, tornou-

se uma lei de cunho definitivo, possuindo, em alguns de seus dispositivos

penais e extrapenais, caráter permanente, servindo de paradigma para as

sucessivas leis que serão aplicadas no âmbito das eleições.

Dispõe o art. 1 º da Lei nº. 9.504, de 30 de setembro de 1997: As

eleições para presidente e vice-presidente da República, governador e vice-

governador de estado e do Distrito Federal, prefeito e vice-prefeito, senador,

deputado federal, deputado estadual, deputado distrital e vereador dar-se-ão,

em todo o País, no primeiro domingo de outubro do ano respectivo.

45De fato, o Tribunal Superior Eleitoral exerce uma atividade normativa

ou, no fundo, o exercício de um poder atípico, pois, por expressa determinação

legal, cabe-lhe regulamentar as eleições através de resoluções específicas que

acabam alterando dispositivos do próprio Código Eleitoral. Os arts. 1º,

parágrafo único, e 23, inciso IX, do Código Eleitoral obrigam o . Tribunal

Superior Eleitoral a normatizar as eleições, expedindo resoluções para regular

diversas matérias, tais como: propaganda eleitoral, votação, apuração, .

prestação de contas e outras.

O poder normativo do Tribunal Superior Eleitoral regulamenta o próprio

6alendário eleitoral, por exemplo, a Resolução nº. 20.506, de 18 de novembro

de 1999. E algumas decisões tratam, inclusive, de questão atinentes à

competência na apreciação de certas matérias, por determinado órgão

jurisdicional eleitoral. Sobre a força legal das resoluções em matéria eleitoral,

leciona Torquato Jardim que: Força legal impositiva têm as resoluções do

Tribunal Superior Eleitoral, tanto que a ofensa ao que nelas se dispõe é

fundamento para recurso ou mandado de segurança quando dela surtem

efeitos concretos contra os impetrantes, causando-lhes prejuízo (TSE, Ac. nº

10.859, ReI. Min. Sanches, DJU 13/10/1989; Ac. nº 10.871, ReI. Min. Vilas

Boas, DJU 6/10/1989).

Com elas, expede o Tribunal às instruções que julgar convenientes à

execução do Código Eleitoral, ou julga os litígios e controvérsias de natureza

judicial (Código Eleitoral, arts. 23, inciso IX, e 22). Os Tribunais e Juízos

inferiores devem-lhe cumprimento imediato (Código Eleitoral, art. 21).

As resoluções são decisões, administrativas ou judiciais, que têm por

função dar eficácia legal e eficácia social às normas constitucionais e legais

eleitorais, (a) explicando os seus fins e traduzindo, em linguagem acessível ao

eleitorado, aos candidatos e aos partidos políticos, os requisitos e os

procedimentos adequados ao exercício da cidadania, ou (b) pondo termo ao

processo judicial.

46Elcias Ferreira da Costa também fez uma análise sobre o poder

legiferante do Tribunal Superior Eleitoral, lecionando que:

Do princípio constitucional da divisão de poderes resulta,

como se sabe, que, reservada ao Poder Legislativo a

competência específica para criar direito novo, mediante

normas genéricas e abstratas, ao TSE foi atribuída a

competência para prover a concreção, não só dos direitos

surgidos do processo eleitoral, como, ainda, dos direitos

pré-eleitorais. Dentro dessa competência supletivo-

Iegislativa do TSE, deve-se considerar a revogação tácita,

diga-se, prática de alguns dispositivos do Código Eleitoral,

que, por força de Resoluções do TSE, deixaram de ser

aplicados ( ... ) (1994, p. 15).

Entretanto, o entendimento de José dos Santos Carvalho Filho é que:

Atos, normativos ou individuais, emanados de autoridade

de elevado escalão administrativo, como, por exemplo,

ministros e secretários de estado ou município, ou de

algumas pessoas administrativas ligadas ao Governo.

Constituem matéria das resoluções todas as que se

inserem na competência específica dos agentes ou

pessoas jurídicas responsáveis por sua expedição (2007,

p. 97).

Outrossim, a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral já decidiu que

as resoluções integram a ordem jurídica eleitoral e equiparam-se à lei ordinária,

ensejando a interposição de recurso especial previsto no Código Eleitoral, na

hipótese de descumprimento. Como visto, as resoluções disciplinam várias

matérias, servindo para preencher as normas penais em branco em sentido

estrito ou restrito, cuja definição complementativa encontra-se em fonte

heterogênea, ou seja, o próprio Tribunal Superior Eleitoral.

47

Joel José Cândido (2006, p. 199) apresenta a melhor classificação

sobre os crimes eleitorais:

a) Crimes contra a organização administrativa da Justiça Eleitoral, arts.

305, 306, 310, 311, 318 e 340, todos do Código Eleitoral.

b) Crimes contra os serviços da Justiça Eleitoral, arts. 289 a 293, 296,

303, 304, 341 a 347; art. 11 da Lei nº 6.091/74; art. 45, §§ 9 º e 11; art. 47, § 4 º;

art. 68, § 2 º; art. 71, § 3 º; art. 114, parágrafo único, e art. 120, § 5 º, todos do

Código Eleitoral.

c) Crimes contra a Fé Pública Eleitoral: arts. 313 a 316, 348 a 354, art.

15 da Lei nº 6.996/82 e art. 174, § 3º, do Código Eleitoral.

d) Crimes contra a Propaganda Eleitoral: arts. 323 a 327; 330 a 332; e

334 a 337, todos do CE.

e) Crimes contra o sigilo e exercício do voto: arts. 295, 297 a 302, 307

a 309, 312, 317, 339; art. 5º da Lei nº 7.021/82; art. 129, parágrafo único; e art.

135, § 5º, do Código Eleitoral.

f) Crimes contra os partidos políticos: arts. 319 a 321 e 338 do Código

Eleitoral e art. 25 da Lei Complementar nº 64/90.

Os tipos penais eleitorais disciplinam condutas ativas e omissivas

praticadas desde a fase do alistamento eleitoral até a diplomação dos eleitos. A

classificação procura situar o bem jurídico atingido nas fases do processo

eleitoral. A lesão ao bem jurídico é o norte da classificação apresentada.

De acordo com Marcos Ramayama, existem duas correntes sobre a

natureza jurídica dos crimes eleitorais. São elas:

1ª corrente. São os crimes eleitorais objetivamente

políticos, pois atingem a personalidade do Estado e

ofendem o interesse político do cidadão. Posição de

Vincenzo Manzini. Para as doutrinas de Ortolan e

48Maggiore, os crimes eleitorais também são crimes

políticos, porque atingem o interesse público das

instituições representativas do Estado. Fávila Ribeiro

também comunga dessa corrente. 2ª corrente. Joel José

Cândido, Desembargador Camargo Aranha e Ministro

Celso de Mello, do STF, afirmam que os crimes eleitorais

são crimes comuns (2006, p. 178).

Os crimes eleitorais são crimes comuns, pois estes são todos os

delitos, com exceção dos impropriamente chamados crimes de

responsabilidade, definidos na Lei nº 1.079, de 1º de abril de 1950.

Essa lei, que define os crimes de responsabilidade, trata no Capítulo

1II, Dos Crimes Contra o Exercício dos Direitos Políticos, Individuais e Sociais,

definindo no art. 7l! dez itens típicos criminais, tais como: obstar o livre

exercício das funções de mesário, utilizar o poder federal para impedir a livre

execução da Lei Eleitoral e impedir, por violência, ameaça ou corrupção, o livre

exercício do voto.

O crime político é definido por três teorias (BONFIM, et. al., 2009, p.

244).

a) Teoria Objetiva - Cuja autoria se identifica com os doutrinadores

Prins, Haus, Garraud e Impallomeni. Originária da Alemanha. São crimes

políticos os que atentam contra as condições de existência do Estado como

organização política.

b) Teoria Subjetiva - Seus defensores são Lombroso, Ferri e Jimenez

d’ Asuá. Originária da Espanha. São crimes políticos, quando o dolo do agente

tiver motivação puramente política, ou seja, o seu objetivo fica limitado a

destruir, por exemplo, o regime democrático.

c) Teoria Mista - A mais aceita, sustentada por Florian e Sebastian

Soler. Originária da Itália. São crimes políticos quando o bem jurídico lesado é

49a existência do Estado além de se considerar a motivação puramente política.

No Brasil, foi adotada a teoria mista, defendida, principalmente, pelo

doutrinador Nelson Hungria.

A Lei de Segurança Nacional, Lei nº 7.170/83, consagrou, em seu art.

2°, a teoria mista. A classificação, no Brasil, sobre crimes políticos ainda

merece aprimoramento, mas se apresenta como: a) crimes políticos próprios -

ofendem a organização do estado, a organização política. b) crimes políticos

impróprios - ofendem a um interesse político do cidadão.

Outra classificação, lembrada por Damásio Evangelista de Jesus, é a

seguinte:

a) crimes políticos puros - de exclusiva natureza política;

b) crimes políticos relativos - são os delitos políticos

mistos ou complexos que ofendem simultaneamente a

ordem política e um interesse privado; c) crimes comuns

conexos a delitos políticos (apud, CARVALHO FILHO,

2007, p. 162)

Existem, ainda, os chamados crimes sociais, ou seja, alguns autores

distinguem os crimes sociais como os que atingem a organização social e os

crimes políticos como os que atingem diretamente a personalidade do Estado.

Entretanto, os crimes sociais, no Brasil, são englobados no conceito jurídico

dos crimes políticos próprios, segundo Damásio de Jesus. Todavia, os crimes

eleitorais são crimes comuns, especialmente, diante das regras eleitorais

específicas, das normas de caráter temporário e da incidência típica delimitada

pelo calendário eleitoral entre o alistamento e a diplomação dos candidatos

eleitos, pois, fora dessas fases, o crime perde sua natureza jurídico-eleitoral e

passa a atingir bens jurídicos diferenciados.

Ao ensejo da conclusão desse item, pode-se afirmar que os crimes

eleitorais atingem não a organização política do Estado de forma direta, mas a

50organização do processo democrático eleitoral, atingindo os direitos públicos

políticos subjetivos ativos e passivos e a ordem jurídica da relação pública da

legitimidade política dos mandatos eletivos. Conclusivamente, os crimes

eleitorais não são crimes políticos, sendo inaplicável aos mesmos a regra do

art. 64, inciso II, do Código Penal, ou seja, essa regra diz que não é

considerada a condenação anterior para fins de reincidência, se for decorrente

de crime militar próprio e político.

Impende observar ainda que, segundo o disposto no art. 12 do Código

penal e no art. 288 do Código Eleitoral, aplicam-se aos crimes eleitorais várias

regras e institutos jurídicos disciplinados na parte geral do Código Penal.

Neste sentido, deve-se dizer que se aplica aos crimes eleitorais a

regra referente ao princípio da anterioridade da lei, lei penal no tempo, lei

excepcional ou temporária, tempo do crime, territorialidade, lugar do crime,

extraterritorialidade, pena cumprida no estrangeiro, eficácia da sentença

estrangeira, contagem de prazo, frações não-computáveis na pena, relação de

causalidade, crimes consumados e tentados, desistência voluntária, crime

impossível, crime doloso e culposo, erros de tipo e de proibição, legítima

defesa, estado de necessidade, inimputabilidades, concurso de pessoas,

algumas espécies de penas e regimes, fixação de pena, circunstâncias

agravantes e atenuantes, cálculo da pena, concurso material, formal e

continuado, suspensão da pena, efeitos da condenação, reabilitação, medidas

de segurança e algumas hipóteses de extinção da punibilidade.

3.1 DOS CRIMES ELEITORAIS EM ESPÉCIES

3.1.1 TIPIFICAÇÃO DO CRIME DE DIVULGAR PROPAGANDAS E FATOS ELETORAIS INVERÍDICOS

Art. 323 Divulgar, na propaganda, fatos que sabe inverídicos, em

relação a partidos ou candidatos e capazes de exercerem influência perante o

51eleitorado: Pena: detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano, ou pagamento de

120 (cento e vinte) a 150 (cento e cinqüenta) dias-multa. Parágrafo único. A

pena é agravada se o crime é cometido pela imprensa, rádio ou televisão

(RAMAYAMA, 2006).

O bem jurídico tutelado é a verdade dos fatos divulgados durante a

propaganda. Joel José Cândido ensina que o tipo protege a honra e a ética na

propaganda. A doutrinadora Suzana de Camargo Gomes (2002, p. 188) diz que

“o tipo tutela a veracidade e a autenticidade da propaganda eleitoral”.

O sujeito ativo deste tipo de crime são os candidatos, cabos eleitorais,

partidos políticos e coligações através de seus representantes legais, o eleitor

e qualquer pessoa do povo. Enquanto que os sujeitos passivos, são o Estado e

indiretamente o candidato, partido político, coligação, pré-candidatos e

qualquer pessoa que tenha pretensões futuras para lançar determinada

candidatura. Admite-se a co-autoria e participação dos jornalistas e terceiros.

De acordo com Suzana de Camargo Gomes o tipo objetivo deste crime

é:

No mínimo, três diferentes espécies de propaganda

eleitoral, sendo a primeira a chamada de propaganda

eleitoral partidária, a segunda a denominada propaganda

pré-eleitoral ou intrapartidária, e, por fim, a terceira, que

compreende a propaganda eleitoral propriamente dita

(2002, p. 201).

Diferentemente dos delitos contra a honra, calúnia, difamação e injúria

eleitorais, entende-se que o crime em comento aplica-se em relação às

espécies de propaganda política (partidária, intrapartidária e eleitoral), o

legislador utilizou a elementar "propaganda" em sentido amplo.

52Deve-se notar a amplitude do alcance da norma penal eleitoral, pois

atinge indubitavelmente a propaganda política partidária com arrimo na Lei nº

9.096/95. O agente ativo valendo-se do horário eleitoral gratuito ou através da

imprensa escrita ou panfletagem poderá propalar fatos inverídicos capazes de

exercer influência perante o eleitorado. O eleitorado existe e se faz presente de

forma difusa ou transindividual dentro ou fora do tempo do calendário eleitoral

reservado à propaganda política eleitoral.

A propaganda política partidária deve ser reservada para: difundir

programas partidários; transmitir mensagens aos filiados; tratar da execução de

programas; informar sobre eventos; informar sobre as atividades congressuais

do partido político e divulgar a posição do partido quanto aos temas políticos da

atualidade. Nesse sentido é a norma expressa do art. 45 da Lei nº 9.096/95. É

vedada na propaganda política partidária a "divulgação da propaganda de

candidatos a cargos eletivos e a defesa de interesses pessoais ou de

outros partidos" (Lei dos Partidos Políticos, art. 45, § 1º, inciso III). Vê-se,

portanto, que, além do impedimento da utilização do horário eleitoral

gratuito para difundir inverdades capazes de exercer influência no

eleitorado, é proibido o uso egoístico ou personalista deste horário.

O tipo penal alcança as três espécies de propaganda antes

aviventadas pela eminente doutrinadora. Ver comentários das Disposições

Preliminares (observações gerais sobre os crimes eleitorais). Outrossim, a

elementar capazes de exercerem influência é de alta .subjetividade, cuja

valoração normativa não pode ser mensurada pelo juiz sem uma análise das

pesquisas eleitorais naquela comunidade, pois a presunção não é suficiente

para um decreto condenatório. As pesquisas seguem estritamente as normas

eleitorais disciplinadas na Lei nº 9.504/97 e nas resoluções do Tribunal

Superior Eleitoral.

Como há de se verificar, o crime será sempre sujeito a uma tipicidade

aberta que dependerá de uma rigorosa investigação pelo juiz quanto à

capacidade de influência, pois a influência, como bem assinalou a doutrinadora

53Suzana de Camargo Gomes, poderá ser negativa ou positiva (a primeira se dá

através de conceitos morais desabonadores, e a segunda por intermédio de

elogios e menções desprovidas de veracidade). Todavia, o legislador não

contentou-se com a prova da inveracidade das divulgações. do além,

mergulha-se em questionamento nebuloso e sujeito a inseguranças ,análise da

completude da tipicidade e da eficaz aplicação da lei penal ao p concreto. Em

suma: o agente poderá divulgar fato inverídico que não recebe nenhuma

influência perante a sociedade politicamente esclarecida, as, nas camadas

sociais mais humildes e desprovidas de maiores informações, o impropério

poderá cair como uma premissa de efeito

Aplica-se a regra do art. 285 do Código Eleitoral. Entende-se que o

parágrafo único aplica-se para quaisquer meios de informação ou divulgação

que possam caracterizar-se como imprensa. Assim, o art. 12 da Lei nº 5.250, de

9 de fevereiro de 1967, é redigido: Art. 12 - Aqueles que, através dos meios de

informação e divulgação, pratIcarem abusos no exercício da liberdade de

manifestação do pensamento e informação ficarão sujeitos às penas desta Lei

responderão pelos prejuízos, que causarem. Parágrafo único. São meios de

informação e divulgação, para os efeitos deste artigo, os jornais e outras

publicações periódicas, os servIços de radiodifusão e os serviços noticiosos.

Dessa forma, as divulgações de serviços noticiosos pela Internet

sujeitam-se ao tipo em comento. A menção à Lei de Imprensa é para a

compreensão do que significa imprensa e, conseqüentemente, informação e

divulgação. Tratá-se apenas de processo interpretativo de hetero-integração

normativa. Tipo subjetivo dolo. Este tipo de crime encontra remissão nos arts.

15 e 16 da Lei nº 5.250/67 - Lei de Imprensa

3.1.2 TIPIFICAÇÃO DO CRIME DE CALÚNIA ELEITORAL

Art. 324 Caluniar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando fins de

propaganda, imputando-lhe falsamente fato definido como crime: Pena:

54detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos e pagamento de 10 (dez) a 40

(quarenta) dias-multa. § 1º Nas mesmas penas incorre quem, sabendo falsa a

imputação, a propala ou divulga. § 2º A prova da verdade do fato imputado

exclui o crime, mas não é admitida: I. se, constituindo o fato imputado crime de

ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível; lI. se o

fato é imputado ao presidente da República ou chefe de governo estrangeiro;

III. se do crime imputado, embora em ação pública, o ofendido foi absolvido por

sentença irrecorrível.

O bem jurídico tutelado é a honra objetiva. A proteção é em relação à

reputação pessoal ou conceito que o indivíduo usufrui dentro da sociedade,

especialmente perante o eleitorado. O sujeito ativo deste tipo de crime são os

candidatos, terceiros, cabos eleitorais, pessoas comuns do povo. Admite a

legislação à prática do crime pela pessoa jurídica (partido político), ver o art.

336 do Código Eleitoral (CORDEIRO & DA SILVA, 2006).

Entretanto, os sujeitos passivos são o Estado, os candidatos, os

partidos políticos, as coligações, os terceiros, inclusive doentes mentais e

menores. Admite-se a calúnia contra os mortos, por exemplo, na hipótese de

um candidato atingir a honra objetiva de outro candidato fazendo menção a um

parente já falecido. No entanto, o artigo em comento não possui regra similar

ao art. 138, § 2º, do Código Penal. Todavia, a hipótese seria de uma calúnia

reflexa cujos parentes vivos é que são ofendidos.

O crime é de dupla subjetividade passiva, pois o legislador consagrou o

princípio do interesse público e da verdade dos fatos durante as campanhas

eleitorais. Assim, o Estado é o sujeito passivo imediato, e a pessoa física ou

jurídica, o sujeito passivo mediato. Existe forte controvérsia na jurisprudência e

doutrina quanto à possibilidade de a pessoa jurídica ser sujeito passivo do

crime de calúnia. O STF entendeu que não (RHC 64.860, DJU 30/4/1987, p.

7.650), admitindo a possibilidade apenas no crime de difamação.

55A redação do tipo eleitoral é similar ao do crime de calúnia do art. 138

do Código Penal. A imputação falsa se dá através de inculpação, incriminação

ou argüição. O termo "falsamente" deve ser referente a crime (eleitoral ou não),

desde que decorrente de lei em plena vigência ou que possua ultra-atividade

(leis penais temporárias). A propagação ou divulgação (§ 1º) refere-se ao

espalhar, assoalhar, difundir ou apregoar. A doutrina entende que é suficiente

que apenas uma pessoa tome conhecimento da ofensa, pois já teria ocorrido o

verbo divulgar (RAMAYAMA, 2006).

O crime de calúnia se dá em relação ao fato ou à autoria falsa do crime

imputado. Esta imputação deve ser falsa e outra pessoa sem ser o ofendido

precisa saber. Trata-se de crime comissivo. Pode o delito ser praticado por

cartas, imprensa, documentos, internet, verbalmente ou por qualquer outro

meio. Sustenta-se a posição de que o delito só pode se aplicar aos crimes

praticados durante a propaganda política eleitoral. O elemento normativo do

tipo propaganda eleitoral refere-se à espécie, e não ao gênero propaganda

política ou simplesmente propaganda, até porque o regramento penal eleitoral

tem um propósito específico que é a eleição.

Outrossim, nos casos de ofensas durante a propaganda política

partidária ou intrapartidária a capitulação deve ser feita no art. 20 da Lei nº

5.250/67, Lei de Imprensa. Não cabe ao intérprete ampliar o sentido da norma

de valoração jurídica gerando maior insegurança na aplicação da legislação

eleitoral, porque a calúnia eleitoral visa fins de propaganda. O legislador repete

por duas vezes a expressão propaganda, sendo que em uma delas usa

propaganda eleitoral.

Com efeito, a Lei nº 9.096/95, no art. 45, § 1 º, inciso IlI, diz que a

propaganda não pode ser para divulgar interesses pessoais ou de outros

partidos, nem tampouco promover candidatos. Assim, o desvirtuamento da

propaganda política partidária encontra assento em norma de Direito Partidário,

e não de Direito Penal Eleitoral.

56De acordo com Suzana de Camargo Gomes em que admite que a

calúnia eleitoral ocorra em qualquer tipo das três propagandas. O STJ (CC

3.619-PR, ano 1992, 3ª Seção, Relator Ministro José Dantas, julgado em

22/10/1992, p. 21.085) entendeu pela não aplicação da calúnia eleitoral em

período diverso do calendário eleitoral. ou seja, no sentido anteriormente

afirmado (BONFIM, et. al, 2009).

Acresça-se, além do já expendido, o fato de que durante a propaganda

política eleitoral, que se inicia a partir do dia 5 de julho do ano eleitoral (no art.

36 da Lei nº 9.504/97), os juízes eleitorais são designados para conhecer e

processar as questões referentes à propaganda irregular e conhecem, por

extensão, os feitos de natureza penal. A competência em primeiro grau de

jurisdição é definida dentro do calendário eleitoral. Terminada a propaganda

política eleitoral, cessa a competência dos juízes designados. Certamente que

não seria o juiz eleitoral designado, mas, sim, o juiz penal da Justiça Comum

do local do fato. Em razão da transmissão pela imprensa escrita, rádio ou

televisão a competência seria. Obviamente que o local do delito seria definido

pelo art. 42 da Lei nº 5.250/67.

Por fim, os delitos de calúnia não se encontram apenas definidos no

Código Eleitoral, Código Penal ou na Lei de Imprensa. A Lei nº 7.170, de 14 de

dezembro de 1983, que define os crimes contra a segurança nacional no art.

26, trata do delito de calúnia contra o presidente da República e parlamentares

do Senado Federal e da Câmara dos Deputados. Nesta hipótese, o crime é

político, mas não eleitoral, ou seja, pelo art. 2º da Lei, leva-se em conta a

motivação do agente e a lesão real ou potencial aos bens jurídicos.

Como se vê, o delito em apreço também encontra fundamento no

Código Penal Militar. E, ainda, a representação por ato de improbidade,

sabendo que o representado é inocente, enseja o crime tipificado no art. 19 da

Lei nº 8.429/92. Saliente-se ainda a falta de previsão do delito de denunciação

caluniosa eleitoral. Ocorrendo a denunciação caluniosa, a capitulação dar-se-á

no art. 339 do Código Penal. No entanto, o juízo competente não é eleitoral.

57Assim, se porventura o juiz penal desclassificar o fato para o delito de calúnia

eleitoral, também deverá declinar da competência para a Justiça Eleitoral (juiz

da zona eleitoral do local do fato, aplicando-se a regra do art. 70 do Código de

Processo Penal de forma subsidiária, segundo prevê expressamente o art. 364

do Código Eleitoral). Faz-se necessário ressaltar que as ofensas decorrentes

de acirrada discussão não são consideradas dolosas, conforme decisões

jurisprudenciais (RT, 544: 381; JTACrimSp, 61:294).

Magalhães Noronha (2000, apud, CARVALHO FILHO, 2007, p. 118)

leciona que não é cabível na exceção da verdade que se “devasse,

esquadrinhe ou vasculhe toda do ofendido ...”. Não admissão da exceção da

verdade No § 2 º, inciso I, se o ofendido estiver respondendo a uma ação penal

privada, o ofensor não poderá utilizar a exceção da verdade. Justifica-se a não

admissão em razão do princípio da disponibilidade da ação penal privada, pois

cabe ao ofendido ajuíza-la mediante queixa-crime.

Alberto Silva Franco citado por Marcos Ramayama esclarece:

Nos crimes de ação privada, deixa a lei ao arbítrio do

ofendido a iniciativa da ação penal, considerando que o

strepitus judicii, ou seja, a publicidade do processo judicial

pode ser-lhe ainda mais danosa. Seria evidente

contradição permitir a lei à prova da verdade

relativamente a um crime, cuja investigação e processo

faz depender dos interesses da vítima (1995, apud,

RAMAYAMA, 2006, p. 177).

Ao ensejo da conclusão deste item, percebe-se que o legislador, no §

2º, inciso I, não atentou para o fato de que as ações penais são públicas

incondicionadas nas hipóteses de crimes de calúnia, difamação e injúria

eleitorais (CE art. 355 no Código Eleitoral). Dessa forma, entende-se que a

alínea refere-se apenas às ações penais privadas do Código Penal e da

legislação extravagante que não disponha de modo contrário quanto à

58legitimidade. Por exemplo, se Álvaro é ofendido por uma difamação eleitoral, o

legitimado para a ação penal é o promotor eleitoral, sendo possível a prova da

verdade, caso João seja processado por crime de calúnia por ter imputado

falsamente o fato a Álvaro. A exceção do inciso I não teria aplicabilidade em

relação aos crimes contra a honra de natureza eleitoral. Quanto ao inciso lI,

protege a lei as funções e não as pessoas do Presidente da República ou do

chefe de governo estrangeiro.

De fato, conclui-se que a norma não foi recepcionada pelo instituto da

reeleição (art. 14, § 5º, da Constituição Federal de 1988). Nesse sentido, pois,

sendo possível ao presidente da República ser reeleito e participar dos

programas eleitorais e de toda a propaganda política eleitoral, deverá competir

em igualdade de condições com os demais candidatos, inclusive com a

exposição de fatos de sua vida pública e privada, sujeitando-se à admissão e

ao processamento de exceções da verdade com a preservação da isonomia

subsumida na Carta Magna e em todo o arcabouço legiferante eleitoral, como

se vê, por exemplo, através das condutas vedadas aos agentes públicos (nos

arts. 73 a 78 da Lei nº 9.504/97). O sistema igualitário é a âncora segura das

disputas pela legítima contabilização dos votos e constitui-se na razão

primordial dos direitos públicos políticos subjetivos da cidadania.

Quanto ao chefe de governo estrangeiro, não sendo possível ao

estrangeiro ser candidato, uma vez que o art. 14, § 2º, da Constituição Federal

de 1988, veda-lhe o alistamento, ele irremediavelmente estará sem uma

condição de elegibilidade constitucional (art. 14, § 3º, inciso III da Constituição

Federal de 1988) e, assim, a regra do inciso II é plenamente aplicável. O inciso

III, tutela o valor e respeito à coisa julgada.

O Código Eleitoral, no art. 364, admite a aplicação subsidiária do

Código de Processo Penal. Trata-se de matéria de competência quando o

querelante, tenha foro por prerrogativa de função. Por exemplo, Zeca afirma

falsamente no horário eleitoral gratuito, durante o período da propaganda

política eleitoral, que Ubaldo, Deputado Federal, é corrupto, pois no dia 10 de

59maio de 2005 desviou verba pública destinada à construção de escolas

municipais. Ubaldo provoca por notícia criminal o promotor eleitoral com

atribuições na zona eleitoral do local do fato (art. 70 do Código de Processo

Penal) para denunciar Zeca. Zeca é denunciado (art. 355, na ação penal

pública por crime eleitoral de calúnia no Código Eleitoral), e a denúncia é

recebida pelo juiz eleitoral do local do fato (art. 70 do Código de Processo

Penal). Zeca poderá propor a exceção da verdade, que será julgada pelo

Tribunal Regional Eleitoral (órgão jurisdicional competente para julgar deputado

estadual por crime eleitoral, art. 96, inciso III, da Constituição Federal de 1988,

embora o crime imputado não seja de natureza eleitoral. Pode-se admitir,

inclusive, posições no sentido de que a exceção deveria ser julgada pelo

Tribunal de Justiça). Todavia, o Tribunal competente é apenas para o

julgamento (BONFIM, et. al, 2009). Dessa forma, o processamento da exceção

e o juízo de admissibilidade da mesma são do juiz eleitoral que está

processando a denúncia recebida do promotor eleitoral. Nesse sentido é o

entendimento do STF e do STJ em julgados não eleitorais, mas que ao pensar

são aplicáveis à hipótese (exceção da verdade 541 /DF, ReI. Ministro

Sepúlveda Pertence, plenário 22/10/1992, DJU de 2/4/1993 - RTJ 151117 e

STJ, 51., HC 3.458-1 PE, ReI. Ministro Assis Toledo, DJU de 25 de setembro

de 1995, p. 31.057).

Ainda quanto ao processamento, quando o acusado for responder a

ação penal (art. 359 do Código Eleitoral, após o interrogatório), deverá

apresentar a exceção de verdade. A apresentação ocorre nos autos principais

e dentro de 2 (dois) dias é oferecida à resposta do excepto (CPP art. 523), e

cabe ao excipiente a prova dos fatos, seguindo o processo o seu rito. Observe-

se que, se não for feita a prova, a exceção é rejeitada. Nesse sentido, recairá

uma presunção juris tantum quanto ao delito de calúnia (STE RTJ nº 145/546).

De acordo com a Jurisprudência:

Habeas corpus - Acórdão 473 - Duas Estradas-PB 06.11.2003 - art.

324 CA. Relatar Francisco Peçanha Martins. Relatar designado. Publicação: DJ

-Diário de Justiça, V. I, data 28/11/2003, p. 139. Ementa: Habeas corpus.

60Calúnia. Eleição 2000. Denúncia. Competência. Justiça eleitoral. Ordem

denegada. Para caracterização do delito previsto no art. 324 do Código

Eleitoral, não se impõe que o registro de candidatura tenha sido definitivamente

deferido.

Habeas corpus - Acórdão 386. Porto Alegre-RS 28/3/2000 - art. 324

CA. Relator Maurício José Corrêa. Relator designado. Publicação: DJ - Diário

de Justiça, data 12/5/2000, p. 87. Ementa: Habeas corpus. Veiculação de

publicidade caluniosa. Delito tipificado no art. 324 do Código Eleitoral.

Materialidade. Autoria. Comprovação. 1. O rito especial do habeas corpus não

comporta revolvimento de fatos que, analisados durante a fase instrutória,

comprovaram a materialidade e autoria do delito. 2. Esta corte é incompetente

para apreciar questão relativa a exacerbação da pena, que não foi debatida

pelo tribunal a quo. Habeas corpus parcialmente conhecido e, nesta parte,

indeferido.

Agravo de Instrumento. Acórdão 1.251/MS 20/4/1999 - art. 324 CA.

Relator Eduardo Andrade Ribeiro de Oliveira. Relatar designado. Publicação:

DI-Diário de Justiça, data 14/5/1999, p. 132. Ementa: Crime Eleitoral. Calúnia.

Divulgação. Constatando da denúncia que o acusado procedeu a distribuição

de publicação, atribuindo falsamente a prática de crime à vítima, justifica-se a

condenação com base no art. 324, § 1º do Código Eleitoral, embora não

demonstrado que tivesse ele providenciado a feitura dos impressos, corno

também consignado na inicial. Incidência do disposto no caput do art. 384 do

Código de Processo Penal. Este tipo de crime encontra sua previsão legal no

art. 138 do Código Penal; no art. 20 da Lei nº 5.250/67; no art. 26 da Lei nº

7.170/83; no art. 19 da Lei nº 8.429/92.

3.1.3 TIPIFICAÇÃO DO CRIME DE DIFAMAÇÃO ELEITORAL

Art. 325 Difamar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando a fins de

propaganda, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação: Pena: detenção de 3

61(três) meses a 1 (um) ano e pagamento de 5 (cinco) a 30 (trinta) dias-multa.

Parágrafo único. A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é

funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções. O bem

jurídico tutelado é a honra objetiva, a reputação do sujeito no meio político,

social e familiar.

O sujeito ativo, por ser um crime comum, são os candidatos, terceiros,

cabos eleitorais, pessoas comuns do povo. Admite a legislação à prática do

crime pela pessoa jurídica (partido político). O sujeito passivo é a pessoa

jurídica é sujeito passivo na medida em que goza de reputação. Assim, os

partidos políticos podem ser atingidos. Na hipótese de coligação são ofendidos

todos os partidos que a integram (BONFIM, et. al, 2009).

O tipo objetivo deste crime é o verbo imputar que tem o significado de

atribuir. É importante verificar que o fato imputado pode ser falso ou verdadeiro.

O crime não exige a falsidade da imputação como no caso da calúnia. A

doutrina e jurisprudência admitem a imputação ofensiva referente a infração

penal, conseqüentemente, englobando a contravenção.

Exige-se a finalidade propagandista eleitoral e o animus diftamandi.

Exceção da verdade O parágrafo único admite a exceção quando se tratar de

funcionário público. O conceito de funcionário público é atribuído pelos arts.

327 do Código Penal e 283 do Código Eleitoral (BONFIM, et. al, 2009).

Na difamação, a exceção de verdade julgada procedente é causa de

exclusão da antijuridicidade. A falsidade da afirmação não é elementar do tipo.

Seja o fato falso ou verdadeiro não terá modificação na análise do tipo. Na

calúnia é excludente de tipicidade. Algumas observações devem ser

aviventadas:

a) O agente deve ser funcionário público. O fundamento da admissão

da exceção é que os cidadãos podem fiscalizar o Poder Público e o exercício

das funções públicas. b) A admissão da exceção deve ser restrita ao exercício

62da atividade pública. Argumentam Eduardo Magalhães Noronha e Fernando

Capez que: Se Zeca .. fala que o servidor se embriaga no serviço é um fato

ofensivo e que tem correlação com as funções públicas, mas se a afirmação é

referente à vida privada do servidor não admite-se a exceção.

c) Na hipótese de o servidor ter deixado o cargo público. Nélson

Hungria e Magalhães Noronha (apud, RAMAYAMA, 2006, p. 193) entendem

“não ser admissível a exceção”. Em sentido contrário, admitindo a exceção é a

posição de Cezar Roberto Bittencourt. Argumenta o mencionado autor que se

deve verificar “se a imputação é referente a fato praticado à época em que o

servidor estava no exercício de suas funções, porque subsiste o direito à

demonstração da verdade” (apud, RAMAYAMA, 2006, p. 195).

d) A exceção de verdade por delito de difamação é julgada pelo juiz da

causa, mesmo que tenha o excepto foro privilegiado. Nesse sentido, STF, RTJ

nº 152/12. Em matéria eleitoral o juiz da causa pode ser o juiz eleitoral ou o

Tribunal Regional Eleitoral. Este tipo de crime encontra remissão no art. 139 do

Código Penal, no art. 21 da Lei nº 5.250/67; no art. 26 da Lei nº 7.170/83.

3.1.4 TIPIFICAÇÃO DO CRIME DE INJÚRIA ELEITORAL

Art. 326 Injuriar alguém, na propaganda eleitoral, ou visando a fins de

propaganda, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro: Pena: detenção até 6

(seis) meses, ou pagamento de 30 (trinta) a 60 (sessenta) dias-multa. Este tipo

de crime encontra sua remissão no art. 284 do Código Eleitoral (CARVALHO

FILHO, 2007

No § 1º, o juiz pode deixar de aplicar a pena: I. se o ofendido, de forma

reprovável, provocou diretamente a injúria; II. no caso de retorsão imediata,

que consista em outra injúria. § 2º Se a injúria consiste em violência ou vias de

fato, que, por sua natureza ou meio empregado, se considerem aviltantes:

Pena: detenção de 3 (três) meses a 1 (um) ano e pagamento de 5 (cinco) a 20

63(vinte) dias-multa, além das penas correspondentes à violência prevista no

Código Penal. O bem jurídico tutelado é a honra subjetiva, a dignidade do

indivíduo. O conceito que o indivíduo faz de si mesmo é atingido pelo ofensor.

Crime comum. O sujeito ativo, por ser um crime comum são os

candidatos, terceiros, cabos eleitorais, pessoas comuns do povo. Admite a

legislação a prática do crime pela pessoa jurídica (partido político), Enquanto

que o sujeito passivo por ser um crime comum, é somente a pessoa física. A

ofensa contra os partidos ou coligações é reputada como sendo feita em

relação ao presidente, delegado ou representante do comitê partidário, ou seja,

quem representa o partido político ou a coligação.

No caso do tipo objetivo, observa-se a dignidade é a estima individual.

É o valor social ou moral que o indivíduo conquistou dentro do partido político,

coligação, sociedade e família. O decoro é o respeito. Enquanto que no tipo

subjetivo, o ponto mas importante é o dolo de menosprezar. Dolo específico

segundo a doutrina tradicional.

No § 1°, inciso I, existe um revide à ofensa. Luiz Regis Prado (apud,

RAMAYAMA, 2006, p. 193) diz que a razão de ser do dispositivo é a justa

causa. A provocação deve ser direta (na frente do agente) e reprovável, ou

seja, censurável. O § 1°, inciso lI, trata da retorsão. O agente ofendido replica,

retoma ou retruca a ofensa por outra ofensa injuriosa. A doutrina não admite a

reciprocidade de injúrias. Destaca-se:

Enquanto na retorsão a resposta ultrajante deve ser

imediata (sine intervallo) e motivada pela primeira injúria,

na reciprocidade as injúrias não precisam ser sucessivas,

além de dispensarem o nexo causal. Ademais, se a

retorsão exige que os agentes se encontrem presentes, a

reciprocidade prescinde deste requisito (PRADO, 2002,

apud, RAMAYAMA, 2006, p. 198)

64

O § 2° tratou da injúria real eleitoral. É uma injúria especial, porque

neste caso o ofensor agride a integridade física ou a saúde do ofendido para

ofender-lhe a honra subjetiva. Vê-se que o agente ativo usa de tapas, socos,

armas, facas etc. para agredir o ofendido, mas com a finalidade de injuriá-lo, ou

seja, visando ainda fins de propaganda eleitoral ou na própria propaganda

eleitoral.

Se o agente agride outra pessoa injuriando-a, mas sem finalidade

eleitoral, mesmo durante o período do calendário eleitoral, certamente não

estará incurso no crime eleitoral. Poderá responder por vias de fato (art. 21, da

Lei de Contravenção Penal) ou lesão corporal (art. 129 do Código Penal). O

crime de injúria real eleitoral exige a concomitância entre a ação de agredir e

ofender com o dolo específico de exteriorizar uma propaganda negativa sobre

a pessoa, menosprezando-a ou ultrajando-a durante o embate eleitoral. Se

estes elementos não forem detectados, não haverá este crime de injúria real

eleitoral.

Deve-se observar, contudo que o fato de que o legislador eleitoral

utilizou tipicidade remetida no preceito secundário da norma do § 2°, "além das

penas correspondentes à violência prevista no Código Penal". A técnica da

tipicidade remetida causa confusão, porque sugere a incidência de concurso

material (art. 69 do Código Penal) entre o crime de injúria e o crime de lesão

corporal ou a contravenção de vias de fato.

Leciona Cezar Roberto Bitencourt que

Tanto a violência quanto as vias de fato necessitam ter

sido empregadas com o propósito de injuriar, caso

contrário subsistirá somente a ofensa à integridade ou à

incolumidade pessoal. A distinção entre uma figura

delituosa e outra reside exatamente no elemento subjetivo

do tipo que distingue uma infração da outra, ainda que o

65fato objetivo seja o mesmo (2002, apud, RAMAYAMA,

2006, p. 550).

Registre-se, ainda, a inexistência no Código Eleitoral da denominada

injúria preconceituosa do art. 140, § 3°, do Código Penal. Se durante a

propaganda política eleitoral, e com a finalidade eleitoral, o agente atinge a

raça, cor, etnia, religião ou origem de outro candidato, responderá pelo crime

do Código Penal comum.

Nessa hipótese, se a ofensa injuriosa for através dos meios de

comunicação, inclusive a internet, deverá responder pelo delito do art. 20, § 2°,

da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 (Lei de Preconceito Racial). Nestes

casos, o dolo específico ou finalidade de atingir a honra na propaganda política

eleitoral deve ser absorvido (princípio da absorção) pelo delito de maior

gravidade social, ou seja, o preconceito racial. Não há como adotar o concurso

entre a injúria do caput ou a real e mais o crime de injúria real do Código Penal,

sob pena de bis in idem, nem tampouco sugestionar-se pela atipicidade da

conduta se subsiste na ordem jurídica outro bem jurídico moral .diretamente

violentado pela conduta discriminatória.

Sendo assim, pode-se entender que a competência para o processo e

julgamento do caso concreto não será da Justiça Eleitoral. Este tipo de crime

também encontra remissão no art. 140 do Código Penal; e no art. 22 da Lei nº

5.250/67 - Lei de Imprensa.

3.1.5 TIPIFICAÇÃO E AUMENTO DAS PENAS DOS CRIMES CONTRA A HONRA NO DIREITO ELEITORAL

Art. 327 As penas cominadas nos arts. 324, 325 e 326 aumentam-se

de 1/3 (um terço), se qualquer dos crimes é cometido: I. contra o presidente da

República ou chefe de governo estrangeiro;

66Ensina Magalhães Noronha, in verbis:

Tem o dispositivo em consideração, em primeiro lugar, a

pessoa do presidente da República. Desnecessário, por

certo, ressaltar a razão fundamental do aumento de pena.

Trata-se do supremo magistrado da Nação, cuja honra

deve ser ciosamente resguardada. Tutela-se não só sua

vida funcional, como a particular, conquanto leis outras,

como a da Imprensa, se ocuparem igualmente desse

objeto. Por sua qualidade, pelas elevadas funções que

exerce o presidente, pode dizer-se que a ofensa à lei

irrogada não deixa de refletir em todos os cidadãos (2000,

apud, RAMAYAMA, 2006, p. 133).

Nos comentários ao art. 324, § 2°, inciso lI, do Código Eleitoral

exterioriza-se em comum acordo o entendimento da não recepção da norma

em razão do instituto da reeleição. Desta forma, em harmonia com o que já foi

dito, a presente causa especial de aumento de pena também não foi

recepcionada pelo art. 14, § 5º, da Constituição Federal de 1988 (reeleição),

exceto quando o presidente da República em exercício for atingido pela ofensa

e não for candidato à reeleição, pois, caso contrário, violaria-se o princípio da

culpabilidade e razoabilidade na aplicação da pena, especialmente

desigualando candidatos durante as campanhas eleitorais.

Em relação ao chefe de governo estrangeiro, a norma eleitoral seguiu o

Código Penal comum protegendo não a pessoa da autoridade, mas as relações

internacionais e a higidez do processo democrático com a evitabilidade do

rompimento da cooperação entre os povos, aliás princípio com subsunção

constitucional.

Tutela-se a função pública, e não simplesmente a pessoa do servidor

público. Se o delito for praticado na presença do funcionário o crime não será

eleitoral, mas, sim, de desacato, previsto no art. 331 do Código Penal, pois a

67legislação eleitoral não tipifica este crime. Neste caso, o agente está atingindo

a administração pública. A competência para processo e julgamento do crime

de desacato não é da Justiça Eleitoral, além de ser delito de menor potencial

ofensivo, segundo nova definição da Lei dos Juizados Especiais Federais (Lei

nº 10.259/01).

Heleno Fragoso (apud, RAMAYAMA, 2006, p. 202) salienta que o delito

subsiste se a ofensa for em razão da função pública. III. na presença de várias

pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da ofensa.

O legislador faz menção à ofensa que foi propalada para um número

indeterminado de pessoas. Trata-se de tipicidade porosa, pois o alcance da

elementar várias pessoas é de ampla subjetividade. Com esta causa de

aumento de pena, tutela a lei o fato de a ofensa causar maior dano social ao

interessado na disputa do pleito eleitoral. A causa especial de aumento de

pena aplica-se aos crimes cometidos por qualquer meio de comunicação,

inclusive Internet.

68

CONCLUSÃO

Dentre o que foi exposto nesta pesquisa monográfica percebe-se que a

Lei das Eleições definiu em vários artigos, diversos crimes. No caput desse

artigo, manda que aos crimes definidos seja aplicada a norma do art. 287 do

Código Eleitoral, que determina sejam aplicadas às normas gerais do Código

Penal, e as normas do chamado processo penal eleitoral, contidas nos arts.

335 a 364 do Código Eleitoral.

Aos crimes eleitorais aplicam-se as normas já existentes e contidas na

Parte Geral do Código Penal Brasileiro. Os cidadãos que integrarem órgãos da

Justiça eleitoral, os membros das mesas receptoras e, das juntas apuradoras,

e os funcionários requisitados pela Justiça Eleitoral. São membros e

funcionários da Justiça Eleitoral os magistrados que presidirem juntas

apuradoras ou se encontrarem exercendo qualquer função por designação do

Tribunal Regional. Os crimes eleitorais cometidos pelos meios de comunicação

serão punidos nos termos do Código Eleitoral e não pela Lei de Imprensa.

O sistema exclusivamente jurisdicional eleitoral, denominado de

tipicamente judiciário no qual as questões pertinentes às inelegibilidades,

elegibilidades, impedimentos, votação, apuração e outras específicas do Direito

Eleitoral estão inseridas ao Poder Judiciário, através de juízes eleitorais,

visando à preservação do princípio da igualdade na propaganda eleitoral e à

ausência de tendências previamente anunciadas ao favoritismo político das

questões submetidas à apreciação e a julgamento. Historicamente, a doutrina

faz expressa menção à Tchecoslováquia, que instituiu um Tribunal Eleitoral

especializado, da organização da Justiça Trabalhista atualmente no Brasil.

O terceiro sistema é, de fato e de direito, o mais adotado

mundialmente, considerado como sistema do controle judicial, havendo

importantes pensamentos doutrinários voltados para a implantação da Justiça

69Eleitoral especializada, que certamente poderia trazer mais benefícios do que

malefícios sociais. Dentre as ponderações contrárias à implementação da

justiça especializada em alguns sistemas eleitorais, finca-se o aspecto dos

custos econômicos e elevados gastos com a manutenção de equipamentos e

funcionários, mas esse tipo de argumentação poderá resultar na ineficiência

absoluta da própria Justiça Eleitoral, em detrimento do princípio da igualdade

nas eleições, gerando graves conseqüências nos quadros de alternância

política nos Poderes Legislativo e Executivo e prejudicando o direito das

minorias.

Há de considerar-se, ainda, que, em qualquer grupo ou coletividade, as

decisões que implicam a manifestação dos interesses primordiais não

conseguem ser ratificadas e aprovadas por todos os integrantes da sociedade,

ou seja, mesmo que, nas sociedades mais primitivas, essa prática fosse

possível, as sociedades organizadas sempre se valeram de adotar um sistema

para escolha de seus dirigentes e representantes.

Os anciões, por exemplo, representavam certas tribos indígenas e sua

importância social, historicamente, foi muito valorizada entre os hebreus.

Outras organizações sociais escolhiam seus representantes e dirigentes

através de castas sociais, onde a idéia dos nascimentos predestinados e da

hereditariedade era predominantemente respeitada, gerando a base dos

sistemas monárquicos absolutistas.

70

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ALEXANDRINO. Marcelo e PAULO. Vicente. Direito Constitucional Descomplicado. 2 ed., Niterói (RJ): Impetus, 2008. BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Código Eleitoral Anotado e Legislação Complementar. 6 ed., Brasília: TSE/SDI, 2004. DELMANTO, Celso. Código Penal comentado. 7.ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2007. KARAM, Maria Lúcia. Juizados Especiais Criminais: A concretização antecipada do poder de punir. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. MIRABETE, Julio Fabbrini. Juizados Especiais Criminais. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2000. MORAES, Alexandre de. Curso de Direito Constitucional. São Paulo: Editora Atlas, 2006. NUCCI, Guilherme Souza. Leis Penais e Processuais Penais Comentadas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. PINTO, D. Direito Eleitoral: Improbidade Administrativa e Responsabilidade Fiscal. Noções Gerais. São Paulo: Atlas, 2003. RANGEL, Paulo. Direito Processual Penal. 3 ed. São Paulo: Lúmen Júris, 2000. ROLLO, A. (org.). Propaganda Eleitoral: Teoria e Prática. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. SOBREIRO NETO, A. A. Direito Eleitoral: teoria e prática. 2 ed., Curitiba: Juruá, 2003. TOURINHO FILHO, Fernando da Costa. Comentários à Lei dos Juizados Especiais Criminais. São Paulo: Saraiva, 2000.

71

BIBLIOGRAFIA CITADA

BONFIM, Edilson Mougenot; et. al., Direito Eleitoral. 4 ed., Coleção Curso & Concurso. São Paulo: Saraiva, 2009, v. 27. CAGGIANO, Monica Herman Salem. Direito parlamentar e direito eleitoral. Barueri, Manole, 2004. CÂNDIDO, Joel J. Direito Eleitoral Brasileiro. 12 ed. São Paulo: Edipro, 2006. CAPEZ, Fernando. Legislação Penal Especial. 4 ed. São Paulo: Damásio de Jesus, 2005, v.2. CARVALHO FILHO, José dos Santos. Direito Administrativo e Administração Publica. 17 ed. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2007. CONEGLIAN, Olivar. Propaganda Eleitoral. 8 ed. Curitiba: Juruá, 2006. CORDEIRO, Vinicius, DA SILVA, Anderson Claudino. Crimes Eleitorais e seu Processo. Rio de Janeiro: Forense, 2006. COSTA, Elcias Ferreira da. Direito eleitoral: legislação, doutrina e jurisprudência. 2. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 1994. GOMES, Suzana de Camargo. Crimes Eleitorais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. NICOLAU, Jairo. Sistemas Eleitorais. 5 ed., Rio de Janeiro: FGV; 2004. PERELMAN, Chaim. In Lógica Jurídica. Martins Fortes, São Paulo, 2004. RAMAYANA, Marcos. Direito eleitoral. 6.ed. Niterói (RJ): Impetus, 2006 RIBEIRO, Fávila. Abuso de Poder no Direito Eleitoral. Rio de Janeiro: Forense, 1998. ROSAS, Roberto. A corrupção eleitoral. In: O Regime democrático e a questão da corrupção política. Zilveti, Fernando Aurelio, Lopes, Silva. (coord). São Paulo, Atlas, 2004. SOUZA JUNIOR, Cezar Saldanha. Direito constitucional e a corrupção política, in O Regime democrático e a questão da corrupção política. Zilveti, Fernando Aurelio, Lopes, Silva – coordenadores. São Paulo, Atlas, 2004.

72

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO ........................................................................................... 1

AGRADECIMENTOS ......................................................................................... 2

DEDICATÓRIA .................................................................................................. 3

RESUMO ............................................................................................................ 4

METODOLOGIA ................................................................................................ 5

SUMÁRIO .......................................................................................................... 6

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 7

CAPÍTULO I ..................................................................................................... 10

A EVOLUÇÃO HISTORICA DO DIREITO ELEITORAL .................................. 10

1.1 DIREITO ELEITORAL NO BRASIL ......................................................... 13 1.2 CONCEITO DE DIREITO ELEITORAL ................................................... 25

CAPÍTULO II .................................................................................................... 27

A ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA ELEITORAL ............................................... 27

2.1 JUSTIÇA ELEITORAL E SUA COMPETÊNCIA ..................................... 34 2.2 LEGISLAÇÃO ELEITORAL NO BRASIL ................................................ 36

CAPITULO III ................................................................................................... 41

CRIMES ELEITORAIS E O PROCESSO PENAL ELEITORAL ...................... 41

3.1 DOS CRIMES ELEITORAIS EM ESPÉCIES .......................................... 50 3.1.1 TIPIFICAÇÃO DO CRIME DE DIVULGAR PROPAGANDAS E FATOS ELETORAIS INVERÍDICOS .................................................................... 50 3.1.2 TIPIFICAÇÃO DO CRIME DE CALÚNIA ELEITORAL ................... 53 3.1.3 TIPIFICAÇÃO DO CRIME DE DIFAMAÇÃO ELEITORAL ............. 60 3.1.4 TIPIFICAÇÃO DO CRIME DE INJÚRIA ELEITORAL..................... 62 3.1.5 TIPIFICAÇÃO E AUMENTO DAS PENAS DOS CRIMES CONTRA A HONRA NO DIREITO ELEITORAL ......................................................... 65

CONCLUSÃO .................................................................................................. 68

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ..................................................................... 70

BIBLIOGRAFIA CITADA ................................................................................. 71

ÍNDICE ............................................................................................................. 72

ANEXOS .......................................................................................................... 74

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes

Título da Monografia: Analise sobre os crimes contra a honra (calúnia, injúria e difamação), no Código Eleitoral e na Lei 9.504/97

Autor: Márcio Dias Rodrigues

Data da entrega:

Avaliado por:Prof Conceito:

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ANEXOS

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