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1 FITNESS AFRID: CRIAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DE UMA NOVA MODALIDADE ESPORTIVA PARA A TERCEIRA IDADE. DAYANE FERREIRA RODRIGUES¹, GENI ARAÚJO COSTA² ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Resumo Introdução: A atividade física na terceira idade, de forma geral, tem como perspectiva principal o retardamento do processo inevitável do envelhecimento. É uma prática suficientemente saudável, senão perfeitamente equilibrada que possibilita a normalização da vida do idoso, afastando os fatores de risco comuns à terceira idade. Esta atividade denominada, atividade FITNESS AFRID, foi criada com o propósito de oferecer uma modalidade diferente a ser empregada pela população idosa, pois é um trabalho que agrupa exercícios resistidos e atividades aeróbias. O treinamento aeróbico assim como o treinamento resistido específicos para idosos seguem os princípios de condicionamento fisiológicos básicos do treinamento em geral. Com esse agrupamento promoverá melhora nas atividades cotidianas, provocando alterações fisiológicas e qualidade de vida desta população. Objetivo: Avaliar o impacto provocado nos idosos por meio de treinamento funcional, otimizando as atividades cotidianas, visando ao aumento da força, da resistência muscular, melhora funcional do sistema cárdio-respiratório, da agilidade e da flexibilidade. Material e Métodos: A atividade foi realizada com 12 voluntárias divididas em dois grupos. O grupo 1 treinou sete meses e o grupo 2 quatro meses, ambos três vezes por semana. Testes de capacidade funcional da AAHPERD (American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance) foram realizados com voluntárias idosas do sexo feminino, a fim de mensurar antes e depois da atividade proposta a agilidade, equilíbrio dinâmico, coordenação, flexibilidade, resistência de força de membros superiores e capacidade aeróbia. Os dados foram avaliados estatisticamente através do test t de student. Foram aplicados questionários SF-36, PAR-Q, perfil sócio demográfico e anamnese. Resultados: Com o treinamento FITNESS AFRID foram encontrados ganhos nas capacidades: flexibilidade (99%), coordenação (5%), resistência de força dos membros superiores (25%), agilidade (16,5%) e capacidade aeróbia (4,88%). Conclusão: Os resultados deste estudo mostraram que o FITNESS AFRID foi eficiente ao promover ganhos significativos estatisticamente nas capacidades funcionais de flexibilidade, resistência de força dos membros superiores, capacidade aeróbica e agilidade dinâmica em idosas, melhorando suas atividades de vida diária. Palavras-chave: Envelhecimento, qualidade de vida e atividade física. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- ¹Acadêmica da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Uberlândia Endereço: Rua Benjamin Constant, 1286 – Bairro: Aparecida Uberlândia – MG Cep: 38400-678 [email protected] ² Profa. Dra. da Faculdade de Educação Física – [email protected]

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1FITNESS AFRID: CRIAÇÃO E IMPLANTAÇÃO DE UMA NOVA

MODALIDADE ESPORTIVA PARA A TERCEIRA IDADE.

DAYANE FERREIRA RODRIGUES¹, GENI ARAÚJO COSTA²

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Resumo

Introdução: A atividade física na terceira idade, de forma geral, tem como perspectiva principal o

retardamento do processo inevitável do envelhecimento. É uma prática suficientemente saudável, senão

perfeitamente equilibrada que possibilita a normalização da vida do idoso, afastando os fatores de risco

comuns à terceira idade. Esta atividade denominada, atividade FITNESS AFRID, foi criada com o propósito

de oferecer uma modalidade diferente a ser empregada pela população idosa, pois é um trabalho que agrupa

exercícios resistidos e atividades aeróbias. O treinamento aeróbico assim como o treinamento resistido

específicos para idosos seguem os princípios de condicionamento fisiológicos básicos do treinamento em

geral. Com esse agrupamento promoverá melhora nas atividades cotidianas, provocando alterações

fisiológicas e qualidade de vida desta população. Objetivo: Avaliar o impacto provocado nos idosos por meio

de treinamento funcional, otimizando as atividades cotidianas, visando ao aumento da força, da resistência

muscular, melhora funcional do sistema cárdio-respiratório, da agilidade e da flexibilidade. Material e

Métodos: A atividade foi realizada com 12 voluntárias divididas em dois grupos. O grupo 1 treinou sete

meses e o grupo 2 quatro meses, ambos três vezes por semana. Testes de capacidade funcional da AAHPERD

(American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance) foram realizados com voluntárias

idosas do sexo feminino, a fim de mensurar antes e depois da atividade proposta a agilidade, equilíbrio

dinâmico, coordenação, flexibilidade, resistência de força de membros superiores e capacidade aeróbia. Os

dados foram avaliados estatisticamente através do test t de student. Foram aplicados questionários SF-36,

PAR-Q, perfil sócio demográfico e anamnese. Resultados: Com o treinamento FITNESS AFRID foram

encontrados ganhos nas capacidades: flexibilidade (99%), coordenação (5%), resistência de força dos

membros superiores (25%), agilidade (16,5%) e capacidade aeróbia (4,88%). Conclusão: Os resultados deste

estudo mostraram que o FITNESS AFRID foi eficiente ao promover ganhos significativos estatisticamente nas

capacidades funcionais de flexibilidade, resistência de força dos membros superiores, capacidade aeróbica e

agilidade dinâmica em idosas, melhorando suas atividades de vida diária.

Palavras-chave: Envelhecimento, qualidade de vida e atividade física.

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

¹Acadêmica da Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Uberlândia Endereço: Rua Benjamin Constant, 1286 – Bairro: Aparecida Uberlândia – MG Cep: 38400-678 [email protected] ² Profa. Dra. da Faculdade de Educação Física – [email protected]

2 FITNESS AFRID: CREATION AND IMPLANTATION OF A NEW PROGRAM OF TRAINING FOR SENIOR AGE.

DAYANE FERREIRA RODRIGUES¹, GENI ARAÚJO COSTA²

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Abstract:

Introduction: The principal purpose of physical exercise for the senior age in general is to

postpone the inevitable aging process through a sufficiently healthy state, if not perfectly well

balanced state, which enables the senior person well being and keep him/her away from

common risks at this age. The AFRID fitness activity was developed with the purpose of

offering a different way of exercising for the senior population, comprising both resistance

and aerobic exercises. The aerobic training as well as the resistance training specifically for

older adults follow the principles of basic physiological fitness in general. So the purpose is to

promote a better quality in every day life and ultimately cause physiological changes and a

better quality of life. Target: Evaluate the impact on older adults through functional training,

optimizing every day tasks, aiming strength gaining, muscle resistance, better functioning of

cardio-respiratory system, agility, and flexibility. Material and Methods: The activity was

performed with 12 volunteers divided into 2 groups. The group 1 trained seven months and

the group 2, four months, both three times a week. Tests of functional capacity from

AAHPERD (American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and Dance) were

given to female volunteers in order to measure: agility, dynamic equilibrium, coordination,

flexibility, strength resistance from the upper limbs, and aerobic capacity before and after the

proposed activity. The data was evaluated statistically through t student test. Were applied

questionnaires SF-36, PAR-Q, socio demographic profile and anamnesis. Results: With the

training FITNESS AFRID were found statistically significant gains in capacities of flexibility

(99%), coordination (5%), resistance force of the higher members (25%), aerobic capacity

(4,88%). Conclusion: The results of this study showed that the FITNESS, the voluntary

AFRID were statistically significant gains in functional capabilities of flexibility, resistance

force of the higher members, aerobic capacity and dynamic agility, optimizing the daily

activities carried out by the senior person.

Key words: Aging, quality of life, physical activity.

3

INTRODUÇÃO

Este estudo tem como temática central a atividade física e qualidade de vida

relacionada ao processo de envelhecimento. A escolha deste tema se explica pelo considerável

aumento de idosos no mundo, especialmente no Brasil. Tornou-se necessário estimular os

idosos a mudarem o seu estilo de vida, inserindo, no seu cotidiano, hábitos saudáveis, como a

prática de atividades físicas.

O envelhecimento humano é definido como um processo gradual, universal e

irreversível. Acelera com a maturidade e provoca uma perda funcional progressiva no

organismo.

A velhice e o envelhecimento, para Neri (1999), são realidades heterogêneas, isto é,

variam conforme os tempos históricos, as culturas e sub-culturas, as classes sociais, as

histórias de vida pessoais, as condições educacionais, os estilos de vida, os gêneros, as

profissões, as etnias e outros aspectos que configuram a trajetória de vida dos indivíduos e

grupos.

A população idosa, que até então consistia em uma minoria e era preterida em função

de outras faixas etárias, passou a ser alvo de preocupação e atenção por parte de governos,

estudiosos e pesquisadores. Esta emergente e preocupante realidade exige busca de estudos

por parte dos profissionais de todas as áreas. As diferentes concepções que orientam este novo

contexto, juntamente com a implementação de novas linhas de ação redimensionam o olhar

sobre o processo e, criticamente, ampliam e complexificam o campo de estudos sobre a

velhice.

Segundo o IBGE, Instituto responsável pelo Censo Demográfico do país, o

envelhecimento da população está se acentuando: em 2000, o grupo de 0 a 14 anos

representava 30% da população brasileira, enquanto os maiores de 65 anos eram apenas 8,6%

(14.536.029). Em 2050, os dois grupos se igualarão em 18%. E mais: pela revisão 2004, se

em 2000 o Brasil tinha 1,8 milhões de pessoas com 80 anos ou mais, em 2050 este

contingente poderá ser de 13,7 milhões, tornando-se assim cada vez mais importantes as

políticas de saúde voltadas para a terceira idade. Podemos afirmar, também, que no ano de

2025 já haverá pouca diferença entre a população jovem (0 a 14 anos) e idosa (mais de 60

anos).

Em Uberlândia, obviamente o fenômeno se repete. Uberlândia é uma cidade do

interior do Estado de Minas Gerais, localizada na Região Nordeste do Triângulo Mineiro. Sua

4população é de mais de 622 mil habitantes, sendo 40 mil idosos, com 60 anos ou mais e,

destes, 326 são residentes de instituições geriátricas.

Uberlândia foi a cidade escolhida para a realização da pesquisa, e os dados não são

diferentes das outras partes do país, havendo aqui, como se viu, um elevado contingente de

pessoas idosas.

A partir dos dados levantados sobre esse contingente idoso e os processos que

envolvem o envelhecimento, procuramos estudar e compreender o porquê de um número tão

alto de idosos.

Na velhice, o ser humano fica mais sujeito a perdas evolutivas em vários domínios, em

virtude da sua programação genética, dos eventos biológicos, psicológicos e sociais

característicos de sua história individual e dos elementos que ocorrem ao longo do curso da

história de cada sociedade.

Os idosos, sem dúvida, mais que qualquer outra faixa etária, precisam se movimentar,

sob pena de transformar sua existência em uma crescente perda de autonomia, tanto no plano

pessoal e individual, como nos diferentes graus de inserção social. Durante o processo de

envelhecimento vários fenômenos funcionam conjuntamente, por isto necessário se torna

considerá-lo num contexto plural e daí, portanto, assumi-lo na singularidade de cada sujeito

do processo.

A atividade física na terceira idade, de forma geral, tem como objetivo principal o

retardamento do processo inevitável do envelhecimento através de um estado suficientemente

saudável, senão perfeitamente equilibrado, que possibilite a normalização da vida do idoso e

afaste os fatores de risco comuns na terceira idade. (MEIRELLES, 2002).

Neste sentido, o bem-estar geral está relacionado à qualidade de vida, fenômeno

permeado por múltiplas dimensões, no qual três pontos importantes devem ser salientados: o

estado físico, o psicológico e o estado social, comportando cada um deles vários aspectos. A

saúde percebida e a capacidade funcional são variáveis de destaque que devem ser avaliadas,

assim como o bem-estar subjetivo, indicadas por satisfação (PASCHOAL, 2002).

Berger (1989) acredita que a qualidade de vida da população idosa está melhorando.

Para ele, vários são os fatores envolvidos nestas mudanças, como os econômicos, os sociais e

os psicológicos, e, dentre estes, o autor aponta a importância da atividade física na melhora

das funções física, mental e psicológica do idoso, o que, consequentemente, contribui para a

melhoria da expectativa de vida e favorece a manutenção saudável e ativa dos sujeitos na

longevidade.

5Cada vez mais programas de atividade física são oferecidos com a intenção de

minimizar o declínio inerente ao processo. Busca-se, desta forma, garantir a manutenção e/ou

a otimização das potencialidades individuais de cada sujeito. O treinamento esportivo está,

cada vez mais, sendo indicado por estudiosos da área e praticado por idosos, rompendo assim

com alguns “tabus” que até então existiam.

Diversos trabalhos já demonstraram que a prática do treinamento resistido, mesmo

com o aumento da idade, pode evitar a perda de massa muscular e até mesmo desenvolver seu

ganho, obtendo também, melhoria da qualidade de vida do idoso e diminuindo os riscos de

lesões e de queda (MAZO, 2001).

As atividades mais preconizadas para o treinamento da capacidade cardiorrespiratória

dos idosos são a caminhada, em solo plano e adequado, a natação, o ciclismo e a bicicleta

estacionária. Destas, as mais indicadas são a caminhada e a bicicleta estacionária. O esforço,

nestas atividades, é facilmente controlado, evitando-se riscos e desconfortos físicos

indesejáveis resultantes das reações metabólicas ocasionadas pelo excesso de intensidade na

atividade.

Diversos trabalhos já demonstraram que o treinamento aeróbico, assim como o

treinamento resistido específico para idosos (atividades propostas no FITNESS AFRID), segue

os princípios de condicionamento fisiológico básico do treinamento em geral. Os princípios da

especificidade e da sobrecarga promovem um aumento do grau do desempenho, visando a

provocar alterações fisiológicas.

Portanto, seguindo esta trajetória literária e metodológica, pode-se afirmar que a

deterioração “normal” da função fisiológica com a idade pode ser atenuada ou revertida com

o treinamento regular aeróbico e de força dentro da capacidade da população dos idosos que

está sendo servida, com o objetivo de obter melhorias nestes componentes do

condicionamento físico.

A preocupação inicial desta pesquisa foi avaliar a qualidade de vida (QV – entendida

aqui num sentido mais amplo de bem-estar geral) nos domínios capacidade funcional,

aspectos físicos, estado geral de saúde, aspectos sociais e emocionais além de saúde mental de

indivíduos com 60 anos ou mais que participam do projeto AFRID - Atividades Físicas e

Recreativas para a Terceira Idade, tendo em vista a ampliação do campo de atendimento

(criação de uma nova modalidade esportiva – FITNESS AFRID).

Com a implementação desta modalidade, algumas capacidades funcionais, como

resistência de força dos membros superiores, agilidade, equilíbrio, coordenação, flexibilidade

e capacidade aeróbia, que declinam com o envelhecimento, podem ser melhoradas por meio

6das adaptações dos músculos esqueléticos ao treinamento proposto, aumentando assim a

força dos músculos para andar, levantar de uma cadeira, ficar em pé, subir escadas, enfim,

realizar atividades habituais, cotidianas (atividades de vida diária -AVDs e atividades

instrumentais de vida diária -AIVDs).

Com base nas informações citadas e tentando verificar se um programa regular de

atividade física e recreativa (FITNESS AFRID) pode propiciar melhoria na qualidade geral de

vida dos idosos e na aptidão física, que estão fortemente correlacionadas com a manutenção

e/ou melhoria da independência e autonomia do idoso, é que se justifica este trabalho

proposto.

A pesquisa aqui apresentada nasceu do interesse de desenvolver uma nova atividade

no projeto AFRID, buscando enfocar dois pontos aparentemente distintos: análise quantitativa

relacionada a causa e efeito da prática de atividade física (autonomia, qualidade de vida,

aptidão física), composição corporal e aptidão física versus pré e pós-atividades) e uma

análise mais qualitativa (observação do pesquisador quanto à prática dos exercícios propostos,

aplicação e análise de questionários e/ou depoimentos), tentando empreender estudos que

envolvam a especificidade do envelhecimento de modo a vislumbrar possibilidades de

iluminar o olhar sobre o envelhecimento e suas alterações inevitáveis.

A atividade “FITNESS AFRID” foi criada com o propósito de oferecer uma

modalidade diferente a ser praticada pela população idosa, porque já existiam atividades

isoladas para esta população, como exercício resistido e aeróbio, mas são incipientes as

pesquisas de um programa que agrupe estas duas formas de exercício.

Por ser uma atividade com música e ritmos, a aula torna-se mais animada, havendo

uma motivação para quem não gosta de fazer exercícios físicos ou para quem deseja iniciar

alguma prática corporal. As aulas também possibilitam melhora na coordenação motora, mais

agilidade, entretenimento, uma sensação de bem-estar e mais desenvoltura e facilidade nos

movimentos do dia-a-dia.

Inicialmente surgiram as seguintes indagações: Será que, com um treino mais

específico, poderemos conseguir que os idosos adquiram mais flexibilidade articular em até

60%? Após três meses de aplicação do treino haverá melhora na agilidade e no equilíbrio dos

idosos participantes? De quanto será o aumento da resistência de força muscular dos membros

superiores desses indivíduos? Com todos os benefícios propostos, os exercícios do FITNESS

AFRID irão auxiliar os idosos nas atividades de vida diária? As aulas trarão uma qualidade de

vida e sensação de ´´bem-estar`` geral.

7A estas questões pretende a pesquisa responder, visando desta forma, contribuir para

o avanço científico em aspectos relacionados a vida de milhões de pessoas que, com certeza,

envelhecerão.

Este estudo tem por objetivo geral avaliar o impacto provocado (nos domínios motor,

social e psicológico), por uma nova modalidade de atividade física - FITNESS AFRID,

organizada, produzida e implementada pelas pesquisadoras, com uma programação voltada

para a recreação, a interação social e o movimento expressivo e espontâneo.

De modo específico, pretende-se:

ü Divulgar no âmbito da Faculdade de Educação Física, na Universidade Federal

de Uberlândia a implementação de uma nova modalidade esportiva do Projeto

AFRID.

ü Aplicar os testes protocolados por AAHPERD (American Aliance for Health,

Physical Education, Recreation and Dance.), com o interesse de montar um

banco normativo de dados para a população idosa.

ü Propor atividades dinâmicas e recreativas com o intuito de tornar as aulas mais

prazerosas.

ü Propor exercícios simples, porém rítmicos, coordenativos, dinâmicos e alegres.

ü Verificar o nível de transferência de performance do treinamento resistido para

a avaliação em testes específicos.

ü Aplicar testes específicos para avaliação física e funcional dos idosos – pré e

pós realização do programa de atividade física determinado.

ü Maximizar o contato social, reduzindo os problemas psicológicos e consequentemente

estimular suas funções cognitivas.

ü Aplicar os questionário PARQ, anamnese e de perfil sócio- demográfico.

ü Aplicar o questionário SF-36 (Medical Outcomes Study- 36 item Short Form Health

Survey Questionnaire).

ü Publicar resultados da pesquisa em forma de artigo em periódicos de classificação

ótima pela CAPES.

Esperamos que o presente estudo, por um lado contribua para gerar programas de

melhoria nas atividades físicas e ações educacionais voltadas para o viver com qualidade,

como também auxiliar a produção científica e acadêmica e, por outro, para que os próprios

idosos, conhecedores das limitações e possibilidades que o próprio envelhecimento acarreta,

possam, de forma consciente, buscar alternativas saudáveis de bem viver a velhice.

8

MATERIAIS E MÉTODOS

Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa de campo. A população é formada por

idosos voluntários participantes do projeto AFRID, e se desenvolve no Campus da Faculdade

de Educação Física da Universidade Federal de Uberlândia. O termo de consentimento livre

foi entregue a cada participante para que, desta forma, todos fossem informados sobre o

desenvolvimento da proposta de estudo. Fizemos uma leitura geral para todos os participantes

e aqueles que quisessem obter informações com seus familiares poderiam fazê-las,

comprometendo-se a devolver o documento assinado até o início da prática da nova

modalidade em atividades físicas.

A amostra dos sujeitos para a pesquisa foi inicialmente constituída por oito idosas

voluntárias já participantes do projeto AFRID. A proposta era iniciar com uma amostra de 20

idosos, porém houve dificuldade no início do projeto de se conseguir o número desejado.

Contudo, após três meses conseguimos mais oito alunas, totalizando 16 pessoas. Como houve

desistência de algumas por problemas de saúde e/ou por não participarem frequentemente do

treinamento, restaram apenas 12 voluntárias assíduas.

A atividade sugerida pela pesquisadora é o FITNESS AFRID, um programa que

engloba aulas com exercícios aeróbios que trabalham o sistema cardiovascular e também

exercícios funcionais.

O FITNESS AFRID é composto por aulas dinâmicas, pré-coreografadas. Durante o

desenvolvimento da aula, os alunos usaram equipamentos como bolas, elásticos e

colchonetes. As aulas foram oferecidas três vezes por semana, durante uma hora.

Iniciávamos a aula com um aquecimento de aproximadamente 5 minutos, preparando

as articulações e aquecendo o corpo, para assim poder aumentar a intensidade da aula,

fazendo quatro músicas de trabalho cardiovascular com maior movimentação de membros

superiores e inferiores, aumentando a frequência cardíaca com movimentos simples. Depois

fazíamos quatro músicas de trabalho de força funcional, sendo uma de equilíbrio, duas de

exercícios de resistência para membros superiores e inferiores, utilizando elásticos, e uma de

fortalecimento dos músculos posturais. A aula terminava com um alongamento, possibilitando

a volta à calma e relaxamento.

a) Tratamento dos dados:

9Foram aplicados testes em cada participante da pesquisa de três em três meses para

obter uma análise de diferentes tempos de treino realizados pelas idosas.

Os dados foram analisados de forma quali/quantitativa, dando maior ênfase na

segunda, sem, contudo, deixar de valorizar ao máximo as verdades contidas nas relações

próximas com os idosos, sujeitos da pesquisa.

Para a análise dos dados quantitativos relativos às mudanças de desempenho na

aptidão física (força, equilíbrio, velocidade, agilidade, percepção cognitiva, coordenação),

foram utilizados testes de hipótese de significância da média das diferenças de cada variável.

Neste estudo foi utilizado o teste t de Student para descrever e verificar relações entre as

variáveis e para detectar as diferenças entre o pré e o pós teste, que, segundo Thomas e

Nelson (2002), é apropriado para este tipo de estudo.

b) Ambiente de estudo:

A pesquisa foi realizada na Faculdade de Educação Física (FAEFI), da Universidade

Federal de Uberlândia (UFU), no ginásio 7 (G7). A escolha do local se deu pelo fato de ser

este um amplo espaço físico e ainda pela presença de espelhos, o que facilita a visão dos

movimentos realizados pelos idosos para que fossem corrigidos, se necessário.

c) Instrumentos:

Como instrumento de coleta de dados, na busca de informações sobre o objeto de

estudo, foram utilizados questionários aplicados aos participantes da pesquisa. O primeiro era

um instrumento de identificação, ou seja, uma anamnese detalhada para tomar ciência de

questões relacionadas à idade, gênero, peso, exercício físico, tabagismo, pressão arterial,

histórico familiar.

Em seguida foi aplicado o questionário PARQ, objetivando identificar a necessidade

de uma avaliação clínica ´´mais rigorosa`` antes do início da atividade física proposta pela

nova modalidade a ser implantada.

Vale salientar que todos os sujeitos da pesquisa já participavam do projeto AFRID e a

estes foram solicitados atestados médicos (a cada 6 meses), os quais deveriam indicar se os

idosos estavam aptos ou não para a prática da atividade física.

Tendo em vista a extensão do questionário de qualidade de vida (QV)-SF36, sua

aplicação foi agendada com antecedência com as informantes. Todo o documento foi lido

para estas com o fato de dar ciência de seu conteúdo e a razão de ele ser aplicado: colher

10dados sobre a saúde de cada uma, sobre como se acentuam e quanto seriam capazes de

realizar suas AVDs.

Para avaliação da aptidão funcional foi utilizada a bateria de testes de capacidade

funcional da AAHPERD (American Alliance for Health, Physical Education, Recreation and

Dance). Esta bateria é composta por cinco testes motores que avaliam a agilidade e o

equilíbrio dinâmicos, coordenação, flexibilidade, força de membros superiores e a capacidade

aeróbia. Foram aplicados pré e pós atividade física com o propósito de verificar resultados e

compará-los posteriormente aos testes de performance. Os testes aplicados foram:

1. Teste de agilidade e equilíbrio dinâmico (AGIL): O participante inicia o teste

sentado numa cadeira com os calcanhares apoiados no solo. Ao sinal de “pronto, já”, levanta-

se e dirige-se para a direita e circunda um cone posicionado a 1,50m para trás e 1,80m para o

lado da cadeira, retorna e senta-se. Imediatamente se levanta novamente, move-se para a

esquerda e circunda o segundo cone, retornando para a cadeira e sentando-se novamente. Isto

completa um circuito. O avaliado deve concluir dois circuitos completos. Para certificar-se de

que realmente o avaliado se senta após retornar da volta ao redor dos cones, ele deve fazer

uma leve elevação dos pés, retirando-os do solo. São realizadas duas tentativas e o melhor

tempo (o menor) é anotado em segundos como o resultado final.

2. Teste de coordenação (COO): Um pedaço de fita adesiva com 76,2cm de

comprimento é fixado sobre uma mesa. Sobre a fita são feitas 6 marcas com 12,7cm

equidistantes entre si com a primeira e última marca a 6,35cm de distância das extremidades

da fita. Sobre cada uma das 6 marcas é afixado, perpendicularmente à fita, um outro pedaço

de fita adesiva com 7,6cm de comprimento. O participante senta-se de frente para a mesa e

usa sua mão dominante para realizar o teste. Se a mão dominante for a direita, uma lata de

refrigerante é colocada na posição 1, a lata dois na posição 3 e a lata três na posição 5. A mão

direita é colocada na lata 1,com o polegar para cima, estando o cotovelo flexionado num

ângulo de 100 a 120 graus. Quando o avaliador sinaliza, um cronômetro é acionado e o

participante, virando a lata, inverte sua base de apoio, de forma que a lata 1 seja colocada na

posição 2; a lata 2 na posição 4 e; a lata 3 na posição 6. Sem perda de tempo, o avaliado,

estando agora com o polegar apontado para baixo, apanha a lata 1 e inverte novamente sua

base, recolocando-a na posição 1 e, da mesma forma, procede colocando a lata 2 na posição 3

e a lata 3 na posição 5, completando assim um circuito. Uma tentativa equivale à realização

do circuito duas vezes, sem interrupções. Caso o participante seja canhoto, o mesmo

11procedimento é adotado, mas com as latas colocadas a partir da esquerda, invertendo-se as

posições. A cada participante são concedidas duas tentativas de prática, seguidas por outras

duas válidas para avaliação, sendo estas duas últimas anotadas até décimos de segundo, e

considerado como resultado final o menor dos tempos obtidos.

3. Teste de Flexibilidade (FLEX): Uma fita adesiva de 50,8cm é afixada no solo e

uma fita métrica de metal também é afixada no solo perpendicularmente, com a marca de

63,5cm diretamente colocada sobre a fita adesiva. São feitas duas marcas equidistantes

15,2cm do centro da fita métrica. O participante, descalço, senta-se no solo com as pernas

estendidas, os pés afastados 30,4cm entre si, os artelhos apontando para cima e os calcanhares

centrados nas marcas feitas na fita adesiva. O zero da fita métrica aponta para o participante.

Com as mãos uma sobre a outra, o participante, vagarosamente, desliza as mãos sobre a fita

métrica tão distante quanto pode, permanecendo na posição final no mínimo por 2 segundos.

O avaliador segura o joelho do participante para não lhe permitir que flexione. São oferecidas

duas tentativas de prática, seguidas de duas tentativas de teste. O resultado final é dado pela

melhor das duas tentativas anotadas.

4. Teste de resistência de força de membros superiores (RESIFOR): É utilizado

um halter pesando 1,84kg para as mulheres (peso proposto 2Kg) e para homens 3,63kg (peso

proposto 3kg) O participante senta em uma cadeira sem braços, apoiando as costas no seu

encosto, com o tronco ereto, olhando para a frente e com a planta dos pés completamente

apoiadas no solo. O braço dominante deve permanecer relaxado e estendido ao longo do

corpo, enquanto a mão não dominante apóia-se sobre a coxa. O primeiro avaliador se

posiciona ao lado do avaliado, colocando uma mão sobre o seu bíceps e a outra suporta o

halter que é colocado na mão dominante do participante. O halter deve estar paralelo ao solo

com uma de suas extremidades voltadas para a frente. Quando o segundo avaliador

responsável pelo cronômetro sinalizar, o participante contrai o bíceps, realizando uma flexão

do cotovelo até que o antebraço toque a mão do primeiro avaliador, que está posicionada no

bíceps do avaliado. Quando a tentativa de prática for completada, o halter é colocado no chão

e 1 minuto de descanso é permitido ao avaliado. Após esse tempo, o teste é reiniciado,

repetindo-se o mesmo procedimento, mas desta vez o avaliado realiza o maior número de

repetições que conseguir no tempo de 30 segundos, sendo anotado como resultado final do

teste o melhor desempenho de duas tentativas realizadas.

125. Teste de capacidade aeróbia e habilidade de andar (CA):

O participante é orientado para caminhar (sem correr) 804,67 metros, numa pista de

atletismo de 400 m, o mais rápido possível. O tempo gasto para realizar tal tarefa é anotado

em minutos e segundos e reduzido a segundos.

d) Características da População:

A população do estudo foi constituída por um grupo de pessoas que participam das

atividades do AFRID semanalmente, estando na faixa etária de 60 anos ou mais, residentes

em Uberlândia.

e) Justificativa de uso deste grupo:

O uso desta população do programa AFRID se justifica pela proposta da pesquisa em

adaptar uma atividade de FITNESS para esta população. Esta iniciativa testa a viabilidade da

inclusão de mais uma modalidade a ser praticada pela população idosa, visando a auxiliar na

melhora da qualidade de vida dos mesmos, tendo em vista o processo inovador que esta

atividade pode proporcionar.

f) Planos de recrutamento

Critérios de inclusão:

• Pessoa com 60 anos de idade ou mais.

•Participar voluntariamente do programa de atividade física oferecido pelo Projeto AFRID

•Ter disponibilidade para participar do programa de forma assídua e responsável

• Ser residente em Uberlândia – MG

•Apresentar atestado do médico particular e encaminhamento para as atividades físicas

•Não possuir dependência física limitante (com acompanhamento é permitida a participação)

Critérios de exclusão:

• Já ter praticado atividade semelhante ao FITNESS AFRID.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A apresentação dos dados foi realizada pela análise do perfil socio-demográfico,

seguida de uma anamnese detalhada (PAR-Q) e do questionário de qualidade de vida SF- 36.

Na tabela 1 são apresentados os dados do perfil sociodemográfico.

13Tabela 1: Perfil Sociodemográfico

Perfil Sociodemográfico

GRUPO 1

Perfil Sociodemográfico

GRUPO 2

SEXO: feminino

SEXO: feminino

Número de voluntárias: 6

Número de voluntárias: 6

IDADE MÉDIA (∑): 64,5 anos

IDADE MÉDIA (∑): 63,5 anos

DESVIO PADRÃO (σ): 5,04

DESVIO PADRÃO (σ): 4,88

Primeiramente analisamos de forma descritiva a distribuição em porcentagem dos

dados sobre estado civil, escolaridade, saúde, aposentadoria, com quem moram e quanto

tempo por dia e com que frequência praticam atividades físicas.

No grupo 1 (G1), 50 % das idosas são casadas, 16,7%, solteiras e 33,33% viúvas. Já

no grupo 2 (G2), 33,3% são casadas; 33,3%, divorciadas e 33,3%, viúvas.

Quanto à escolaridade, 33,3% cursaram o ensino básico, 33,3%, o ensino médio e

33,3%, a graduação. No segundo grupo, 50% cursaram o ensino básico, 16,7%, o ensino

fundamental, 16,7%, o ensino médio e 16,7%, a graduação.

Grande parte das idosas é casada, com baixa escolaridade, não aposentada e

possuidora de doenças crônicas.

Esses dados confirmam a previsão de Berquó (1996) de que no século XXI a

população teria baixa escolaridade, analfabetismo elevado entre os idosos, principalmente

entre mulheres idosas, pelo difícil acesso à educação escolar.

No grupo 1 as idosas que sofrem de doenças crônicas representam 83,4% e as que não

sofrem 16,7%. Entre as doenças crônicas, as citadas com maior frequência foram problemas

de coração (16,7%) e hipertensão (66,7%). No grupo 2, as idosas que têm doenças crônicas

são 66,7% e 33,3% não têm. Entre as doenças crônicas, as citadas com maior frequência

foram problemas de coração (16,7%) e hipertensão (50%).

Com relação à saúde, observa-se que, entre as doenças crônicas, a hipertensão aparece

em primeiro lugar; seguida da cardiovascular. Ambas são consideradas importantes problemas

de saúde pública e merecem destaque, pois é possível promover ações para sua prevenção.

14Estudos comprovam que a prevalência da hipertensão aumenta com a idade e sua

magnitude depende dos atributos biológicos/demográficos das populações, do estilo de vida

predominante em cada uma delas, do ambiente físico e psicossocial, das características da

organização dos serviços e das respectivas interações entre estes vários elementos. (LESSA,

1998).

Quanto à aposentadoria, no primeiro grupo 33,3% das idosas são aposentadas e 66,7%,

não. No outro, 50% são aposentadas e 50%, não.

A maioria das voluntárias não dispõe deste direito, o que certamente dificulta seu

acesso a recursos básicos para uma boa qualidade de vida.

Das idosas entrevistadas, 16,7% moram com cônjuge, filhos e netos; 16,7%, com

cônjuge; 33,3% somente com os filhos; 16,7% com irmãos e 16,7% com cônjuge e filhos. Já

no segundo grupo, 33,3% moram com cônjuge e filhos, 16,7% com filhos e 50% moram

sozinhas.

Também esses dados confirmam o que Berquó (1996) previa para o século XXI, a

maioria das idosas seriam viúvas, morando na casa dos filhos ou sozinhas.

Quanto à prática diária e semanal de exercícios físicos, constata-se uma boa adesão a

eles, pois todas as participantes de ambos os grupos praticam mais de 30 minutos de

exercícios por dia mais de três vezes por semana. Os idosos, por efeito da divulgação de

informações sobre a relação entre saúde e atividade física, estão se preocupando em manter a

longevidade com independência.

Na tabela 2 apresentam-se os dados sobre tabagismo, problemas de coração e sobre o

uso de medicamentos para pressão arterial.

Tabela 2: Resultados da aplicação do questionário: PAR-Q e Anamnese

Grupo 1 Grupo 2

Sim Não % Sim Não %

Fumante

0 6 100 0 6 100

Problemas de Coração

1 5 83.3 1 5 83.3

Medicamentos Pressão Arterial

4 2 66,7 4 2 66,7

15A partir da análise do questionário PAR-Q, constatamos que a população estudada

se apresentou como não fumante, algumas com problemas de coração e hipertensas usuárias

de medicamentos.

A tabela 3 apresenta os dados da avaliação da capacidade funcional. Entre as

capacidades avaliadas estão: agilidade e equilíbrio dinâmico; coordenação; flexibilidade;

força de membros superiores e a capacidade aeróbia.

Tabela 3: Resultados da Média (∑), desvio padrão (σ) e Test t de student das

capacidades funcionais avaliadas:

Grupo 1 (n=6) Grupo 2 (n=6)

Antes Depois P- valor Antes Depois P- valor

Flexibilidade (cm) 28.00± 9,01 53.75± 20,91 0.0051** 28.42±8,20 58.67±8,68 0.0001**

Coordenação (seg) 7.52 ± 0,55 7.14 ± 0,59 0.3753 7.77± 1,20 7.43± 1,49 0.4710

Força (n° de rep) 17.67± 3,93 23.67± 1.97 0.0105* 19.00± 2,00 22.33± 2,17 0.0041**

Agilidade e equilíbrio (seg) 15.35 ±1,54 12.50 ±1,87 0.0623 14.29±1,56 12.20± 2,27 0.014*

Capacidade aeróbia (seg)

496.83± 42,90 461.33± 28,24 0.0182* 496.3±46,40 486.83±51,46 0.1770

*, **, significativo a 5% e a 1%, respectivamente pelo teste t.

Escolhemos avaliar essas capacidades, pois o FITNESS AFRID engloba tanto

exercícios aeróbios, que trabalham o sistema cardiovascular, quanto exercício funcional

(resistido), que visa justamente a treinar aqueles grupos musculares que servirão de base para

movimentos do dia-a-dia.

Os exercícios resistidos estimulam a força, potência, resistência, flexibilidade e

coordenação. A resistência é aumentada devido ao prolongamento de esforços musculares

intensos, a flexibilidade também aumenta porque os limites dos movimentos são solicitados

nas amplitudes articulares disponíveis e a coordenação é melhorada por serem exercícios

amplos e lentos, estimulando terminações nervosas proprioceptoras, responsáveis pelo

incremento no equilíbrio, precisão de movimentos e consciência corporal (SANTAREM,

1999).

Já o exercício aeróbio proporciona benefícios em relação à potência aeróbica em

indivíduos idosos, provocando assim melhorias na aptidão física. Segundo Pechar (1974, In

Mc Ardle et al., 1998), a especificidade do treinamento aeróbico está relacionada aos

16músculos que participam do desempenho desejado, já que as solicitações neuromusculares e

motoras exigidas promovem adaptações fisiológicas específicas e correspondentes, a

sobrecarga deve ser aplicada de modo a exercitar os grupamentos musculares específicos

solicitados no desporto e com intensidade suficiente, estimulando aumentos no volume de

ejeção e no débito cardíaco e atuando como facilitadora tanto no transporte de oxigênio

quanto na utilização, no nível local, dos músculos treinados.

Segundo Dantas (1998), o treinamento aeróbio pode ter finalidade estética, visando ao

emagrecimento, ou seja, a diminuição da gordura corpórea, ou, até certo grau, visando à

modelagem corporal com aumento de massa muscular.

O treinamento aeróbio para esta população pode também ter fins profiláticos,

protegendo os idosos de possíveis doenças geradas pela hipocinesia, ou ainda finalidade

terapêutica, quando atua como coadjuvante em tratamentos de algumas patologias em idosos

com a finalidade de estabilizar disfunções ou afecções advindas de certas doenças como, por

exemplo, o diabetes.

Foram observados ganhos em quase todas as capacidades funcionais analisadas em

ambos os grupos. Porém, o G1 apresentou diferenças significativas estatisticamente nas

variáveis: flexibilidade, força e capacidade aeróbia. Já o G2 apresentou diferenças

significativas estatisticamente nas variáveis: flexibilidade, força, agilidade e equilíbrio

dinâmico. O ganho de flexibilidade e força se deu nos dois grupos pela característica do

programa FITNESS AFRID, que visa a trabalhar valências funcionais com o uso de elásticos,

melhorando a força, e com o uso de alongamentos que proporcionaram uma melhora da

flexibilidade.

O fato de a agilidade ter sido significativa estatisticamente somente no grupo 2 se

justifica pelo reduzido número de indivíduos na amostra.

Já a capacidade aeróbia foi significativa apenas no grupo 1 e isso está relacionado ao

maior tempo de treinamento deste grupo em relação ao segundo.

Na tabela 4, são apresentados os dados da aplicação do questionário SF-36.

17Tabela 4 – Distribuição das médias, desvios padrão dos domínios e componentes do SF-36 para o grupo de estudo.

DOMÍNIOS E COMPONENTES

(∑) (σ)

capacidade funcional 80,83 13,46 aspectos físicos 89,58 16,71 dor 65,92 16,68

estado geral da saúde 86,00 13,42

aspectos emocionais 77,78 35,77 vitalidade 75,83 9,25 saúde mental 79,33 9,62 aspectos sociais 87,50 13,06 componente físico 52,10 5,92 componente mental 52,82 8,56

A tabela 4 traz informações sobre a qualidade de vida dos idosos. As idosas avaliadas

nesse questionário apresentaram melhor domínio nos aspectos físicos e mentais. Acreditamos

assim, que a atividade física proporciona a esta população, juntamente com o convívio com

outras pessoas, a diminuição do estresse, da ansiedade e minimização de dores, sendo

importante o organismo humano apoiar-se nestes dois domínios.

CONCLUSÃO:

A especificidade do FITNESS AFRID se mostrou eficiente ao melhorar capacidades

funcionais das idosas praticantes deste programa, como a flexibilidade em mais de 60%,

coordenação, força de membros superiores, agilidade dinâmica e capacidade aeróbia,

fundamentais para que tenham um envelhecimento com maior independência e saúde. Apesar

de a coordenação motora não ter apresentado ganhos significativos estatisticamente,

observou-se que houve melhora de acordo com o testemunho das voluntárias e pela

observação do professor que ministrava a aula.

O FITNESS AFRID, por ser um treinamento em grupo que estimula a comunicação,

cria relações positivas entre os participantes, fazendo-os sentir-se parte de um grupo, torna a

aula mais interessante e o aluno aproveita bem, gerando bem estar.

Os benefícios extrapolaram a esfera física, atingindo também a psicossocial, como foi

observado nas respostas aos questionários que visavam a avaliar a qualidade de vida

relacionada com a prática de atividade física regular. Quanto melhores forem as condições de

18um indivíduo em relação a esses aspectos, menor será sua vulnerabilidade ao estresse

psicológico, com frequência causador de outras doenças. Desta maneira, as atividades físicas

precisam ser adequadas para os idosos, visando à especificidade e funcionalidade de suas

atividades de vida diária.

O estudo identificou o perfil dos idosos praticantes de atividade física e verificou que

atividades com essa característica têm aumentado e/ou mantido os níveis de satisfação com a

vida e a autopercepção positiva de suas habilidades físicas.

Acreditamos que os dados contidos neste trabalho poderão subsidiar os educadores

físicos e profissionais da área de Gerontologia, da Assistência Social e outros, que lidam com

a população de melhor idade em suas ações, permitindo-lhes planejar trabalhos com

intervenções mais adequadas a atingir o objetivo de um envelhecimento independente e

saudável. O FITNESS AFRID foi proposto a fim de servir aos idosos como uma opção

diferente e divertida, mais não menos eficiente para a promoção da qualidade de vida.

19REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS:

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Néri, A. Velhice e Sociedade. Campinas: Papirus, 1999.

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população no Brasil. Anais do I Seminário Internacional Populacional: uma agenda

para o final do século. Brasília: Ministério da Previdência, Assistência Social e

Secretaria da Assistência Social, 1996.

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Terceira Idade) capturado em <http://www.afrid.faefi.ufu.br/> no dia 14/06/2007 às

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• D`ÈLBOUX, Maria José; NÈRI, Anita Liberalesso; CACHIONI Meire. Saúde e

qualidade de vida na velhice – Campinas, SP Editora Alínea, 2004

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da saúde e educação física: conceitos, princípios e aplicações – Rio de Janeiro:

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• KOPILER, Daniel Arkader. Atividade física na terceira idade/ Anging Health. Rev

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transmissíveis. São Paulo: Editora Hucitec/Rio de Janeiro: ABRASCO; 1998. p. 77-

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concepção gerontológica. PortoAlegre: Sulina, 2001. 240 p.

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