fisioterapia e a evolução funcional do idoso numa unidade ...§ão... · mas nunca te detenhas!...

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Instituto Politécnico de Leiria Escola Superior de Educação e Ciências Sociais Escola Superior de Saúde Mestrado em Intervenção para um Envelhecimento Ativo Dissertação Joana Marisa Martinho da Cruz Leiria, setembro de 2018 Fisioterapia E a Evolução funcional do idoso numa unidade de cuidados continuados de convalescença

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Instituto Politécnico de Leiria

Escola Superior de Educação e Ciências Sociais

Escola Superior de Saúde

Mestrado em Intervenção para um Envelhecimento Ativo

Dissertação

Joana Marisa Martinho da Cruz

Leiria, setembro de 2018

Fisioterapia E a Evolução funcional do idoso

numa unidade de cuidados continuados de

convalescença

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Instituto Politécnico de Leiria

Escola Superior de Educação e Ciências Sociais

Escola Superior de Saúde

Mestrado em Intervenção para um Envelhecimento Ativo

Dissertação Joana Marisa Martinho da Cruz (N.º5150370)

Orientador: Professor Doutor José Alves Guerreiro

Leiria, setembro de 2018

FISIOTERAPIA E a Evolução funcional do idoso

numa unidade de cuidados continuados de

convalescença

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I

Enquanto estiveres viva, sente-te viva.

Se sentes saudades do que fazias, volta a fazê-lo.

Não vivas de fotografias amarelecidas...

Continua, quando todos esperam que desistas.

Não deixes que enferruje o ferro que existe em ti.

Faz com que em vez de pena, te tenham respeito.

Quando não conseguires correr atrás de anos, trota.

Quando não consigas trotar, caminha.

Quando não consigas caminhar, usa uma bengala.

Mas nunca te detenhas!

Madre Teresa de Calcutá

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II

Dedico este estudo de investigação a todos os utentes

que sofreram um AVC, especialmente aos utentes

entrevistados; a todos os familiares e profissionais que

diariamente abraçam com carinho o desafio de cuidar!

A todos deixo o meu sincero desejo:

Muita força e determinação….

Nunca percam a fé, para que possam superar os

obstáculos com que se deparam durante a difícil

caminhada da vida!

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III

AGRADECIMENTOS

Antes de apresentar este trabalho quero expressar o meu sentido reconhecimento, em sinal de

gratidão, a todos aqueles que, de alguma forma, o tornaram possível.

Ao orientador deste trabalho, Professor Doutor José Alves Guerreiro, o meu profundo

reconhecimento, pela sua orientação, pelos conhecimentos transmitidos, o apoio e a

disponibilidade demonstrados em todas as fases deste trabalho.

À Professora Doutora Cândida Silva, pelas preciosas sugestões e indicações na metodologia e

no campo da estatística.

Ao Conselho de Administração do Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro –

Rovisco Pais, e ao Diretor do Serviço da Unidade Cuidados Continuados de Convalescença

do Rovisco Pais, Dr. Jorge Manuel Costa Laíns, pela recetividade e autorização para a

elaboração deste trabalho.

Um agradecimento, em particular, à fisioterapeuta Fátima Faím, Coordenadora do Serviço de

Fisioterapia do Rovisco Pais, por ter permitido a execução deste estudo, e pela força e

motivação durante este ciclo de estudos.

Aos utentes, com quem aprendi e evoluí, e que sempre se mostraram disponíveis para

participar no meu trabalho de investigação, o meu profundo reconhecimento.

Um agradecimento especial aos meus pais, que me apoiaram em todos os momentos, e

acreditaram em mim. Agradeço com um carinho muito especial a presença, a compreensão e

o incentivo fundamental no desenvolvimento deste trabalho.

À Ana Gabriel e à Carolina, pela amizade e disponibilidade nestes momentos de trabalho

intenso.

Aos meus colegas e amigos que de alguma maneira tornaram possível a realização deste

trabalho.

Um bem-hajam pelo vosso apoio!

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IV

RESUMO

Introdução: O Acidente Vascular Cerebral (AVC) representa a principal causa de

dependência funcional da população idosa. Como tal, a reabilitação funcional do utente é um

dos requisitos básicos no tratamento pós-AVC, em colaboração com a equipa

multidisciplinar. Este trabalho explora a vertente biopsicossocial, a partir da qual esta equipa

multidisciplinar deverá trabalhar utilizando a Classificação Internacional de Funcionalidade

(CIF). Este modelo defende que a deficiência e a funcionalidade são resultados de uma

determinada condição de saúde (ex. lesão), a par dos fatores contextuais (ex. interações

sociais). Assim, o modelo biopsicossocial promove o bom funcionamento do sistema de

saúde, incluindo não só o tratamento, mas também a prevenção de doenças e promoção da

saúde.

Objetivo: O objetivo principal deste estudo é descrever o perfil de funcionalidade e

incapacidade em idosos diagnosticados com AVC, utilizando o Brief Core Set da CIF.

Metodologia: Foi realizado um estudo descritivo, com uma amostra de conveniência de

idosos com AVC. As entrevistas foram efetuadas com a versão reduzida da CIF- Brief Core

Set para o AVC, em dois momentos: na admissão e na alta.

Resultados: Neste estudo foram incluídos 97 idosos. Após intervenção, verificou-se uma

evolução positiva em várias categorias. Na categoria estruturas do corpo, com maior

frequência (74,3%), nas funções da força muscular (b730) (n=72). Em relação às estruturas

corporais, a progressão foi mais frequente (77,3%) na estrutura do membro superior (s730)

(n=75). Nas atividades e participação, constatou-se uma evolução na maioria das atividades,

sendo mais frequente 90,7% no andar (d450) (n=88); 85,6% no lavar-se (d510) (n=83); 89,7%

ir à casa de banho (d530) (n=87); 88,7% no vestir-se (d540) (n=86); e 56,7% no comer (d550)

(n=55). 62,9% do contributo das funções ambientais manteve-se inalterado (n=61).

Conclusões: O Brief Core Set para o AVC permitiu conhecer a evolução dos utentes idosos.

Neste sentido, deu um contributo positivo à prática clínica, caracterizando a funcionalidade ou

a incapacidade dos utentes idosos e promovendo o envelhecimento ativo. A par disso, revelou

ser uma ferramenta útil para os profissionais de saúde, fomentando a utilização de uma

linguagem comum e universal. Os estudos futuros deverão continuar a analisar o potencial do

Brief Core Set para o AVC, em particular a influência do tipo de lesão e do tempo de

evolução.

Palavras-chave: Classificação Internacional da Funcionalidade; Envelhecimento; Acidente

Vascular Cerebral.

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V

ABSTRACT

Introduction: Stroke is the main cause of functional dependence of the elderly population.

As such, functional rehabilitation of the patient is one of the basic requirements in post-stroke

treatment, where physiotherapy plays an important role in collaboration with the

multidisciplinary team. This work, based on a review of the literature on aging and stroke,

analyzes the model under which this multidisciplinary team should work, exploring the

biopsychosocial aspect of the International Classification of Functionality (ICF). This model

assumes that disability and functionality are the result of a particular health condition (e.g.,

injury), along with contextual factors (e.g., social interactions). So, this model promotes the

proper functioning of the health system, including not only treatment, but also disease

prevention and health promotion.

Aim: The aim of the present study is to describe the profile of functionality and disability in

the elderly diagnosed with stroke using the ICF Brief Core Set.

Methodology: A descriptive study was performed with a convenience sample of elderly

people with stroke. The interviews were conducted with the reduced version of the ICF-Brief

Core Set for stroke, in two moments, at admission and at discharge.

Results: 97 elderly were included in this study. After intervention we found a positive

evolution in several categories. For body structures category, the most expressive progression

(74,3%) was observed in muscle power functions (b730) (n=72). Regarding body structures,

the upper limb structure (s730) showed evolution (n=75), 77,3%. In the activities and

participation category, it was observed an evolution in most activities, the most frequent were

90,7% walking (d450) (n=88), 85,6% washing (d510) (n=83), 89,7% going to the bathroom

(d530) (n=87), 88,7% dressing (d540) (n=86) and 56,7% eating (n=55). 62,9% of the

contribution from environmental functions remained unchanged (n=61).

Conclusions: The Brief Core Set for stroke showed the evolution among elderly patients. In

this way, it was a positive contribution to clinical practice, characterizing the functionality or

disability of elderly patients and promoting active aging. In addition, it has proved to be a

useful tool for health professionals, promoting the use of a common and universal language.

Future studies should continue to examine the potential of the Brief Core Set for stroke,

particularly the influence of the type of lesion and evolution time.

Key words: International Classification of Functionality; Aging; Stroke.

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VI

LISTA DE ABREVIATURAS

ADFA – Associação dos Deficientes das Forças Armadas

ADN – Ácido desoxirribonucleico

APA – Ajustes Posturais Antecipatórios

APC – Ajustes Posturais Compensatórios

AVC – Acidente Vascular Cerebral

CIF – Classificação Internacional de Funcionalidade

CMRRC-RP – Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro – Rovisco Pais

CP – Controlo Postural

DGS – Direção Geral da Saúde

ESO – European Stroke Organisation

ICF – International Classification of Functionality

INE – Instituto Nacional de Estatística

IPL – Instituto Politécnico de Leiria

MI – Membro Inferior

MI’S – Membros Inferiores

MS – Membro Superior

OMS – Organização Mundial da Saúde

SNC – Sistema Nervoso Central

UE – União Europeia

UAVC – Unidade de Acidente Vascular Cerebral

UCCC – Unidade de Cuidados Continuados Convalescença

WSO – World Stroke Organization

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VII

ÍNDICE GERAL Página PENSAMENTO ...................................................................................................................................... I DEDICATÓRIA ................................................................................................................................... II AGRADECIMENTOS ........................................................................................................................ III RESUMO ............................................................................................................................................. IV ABSTRACT .......................................................................................................................................... V LISTA DE ABREVIATURAS ........................................................................................................... VI ÍNDICE GERAL ............................................................................................................................... VII ÍNDICE DE TABELAS ................................................................................................................... VIII ÍNDICE DE FIGURAS ....................................................................................................................... IX INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 1 CAPÍTULO 1 – ENQUADRAMENTO TEÓRICO ........................................................................... 5 1 - ENVELHECIMENTO..................................................................................................................... 6 1.1 ENVELHECIMENTO: DADOS DEMOGRÁFICOS .. ………………………………………...6 1.2 - ENVELHECIMENTO E O ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL....................................... 7 2 – ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL........................................................................................ 9 3 – MODELOS DE SAÚDE E DOENÇA ......................................................................................... 14 3.1 - A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DA FUNCIONALIDADE, INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF) ........................................................................................................................................ 15 4 - IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA E OBJETIVOS .............................................................. 19 CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA ................................................................................................... 20 5 - METODOLOGIA .......................................................................................................................... 21 5.1 - POPULAÇÃO E AMOSTRAGEM ....................................................................................... 211 5.2 - INSTRUMENTOS PARA AVALIAÇÃO DA FUNCIONALIDADE E INCAPACIDADE . 21 5.3 - PLANO DE INTERVENÇÃO DO FISIOTERAPEUTA ........................................................ 22 5.4 - PROCEDIMENTOS ................................................................................................................ 24 6 - APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ................................................................................... 25 6.1 - CARATERIZAÇÃO SÓCIO DEMOGRÁFICA DA AMOSTRA ......................................... 25 6.2 – PERFIL FUNCIONAL NA ADMISSÃO ............................................................................... 26 6.2.1 – Funções e Estruturas do Corpo ................................................................................. 26 6.2.2 – Atividades e Participação........................................................................................... 28 6.2.3 – Fatores Ambientais ..................................................................................................... 30 6.3 – PERFIL FUNCIONAL NA ALTA ......................................................................................... 31 6.3.1 – Funções e Estruturas do Corpo ................................................................................. 31 6.3.2 – Atividades e Participação........................................................................................... 33 6.3.3 – Fatores Ambientais ..................................................................................................... 35 6.4 – EVOLUÇÃO DO PERFIL FUNCIONAL DA ADMISSÃO PARA A ALTA ...................... 36 7 - DISCUSSÃO .................................................................................................................................. 40 8 - CONCLUSÃO ................................................................................................................................ 45 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................. 46 ANEXOS: ............................................................................................................................................. 51 ANEXO I:Categorias da CIF Brief Core Sets para AVC ............................................... 52 ANEXO II:Aprovação da Comissão de Ética da Instituição ......................................... 54 ANEXO III:Consentimento Informado .......................................................................... 56

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VIII

ÍNDICE DE TABELAS

Tabela 1: Áreas comummente afetadas após o AVC, expresso nos termos da CIF…………......……12

Tabela 2: CIF – Brief Core Set para AVC ……………..…………………………………….…22

Tabela 3: CIF – Plano de Intervenção de Fisioterapia Segundo o Conceito de Bobath…………....…23

Tabela 4: Alterações observadas nos qualificadores das categorias da CIF entre o momento da

admissão e o momento da alta nos 97 participantes do estudo…………………………………...……36

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IX

ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1: Distribuição dos níveis de deficiência nas categorias do domínio “funções e estruturas

corporais” no momento da admissão ………………………………………………………........……27

Figura 2: Distribuição dos níveis de deficiência nas categorias do domínio “atividade e participação”

no momento da admissão …………………………………………………………….....……..………29

Figura 3: Distribuição dos níveis de deficiência nas categorias do domínio “fatores ambientais” no

momento da admissão ……………………………………………………………...…………………30

Figura 4: Distribuição dos níveis de deficiência nas categorias do domínio “funções e estruturas

corporais” no momento da alta ………..……..………………………………………………………32

Figura 5: Distribuição dos níveis de deficiência nas categorias do domínio “atividade e participação”

no momento da alta ……………..……………………………………………………………..………34

Figura 6: Distribuição dos níveis de deficiência nas categorias do domínio “fatores ambientais” no

momento da alta ……………………………………………………………..………...………….…...35

Figura 7: Distribuição dos níveis de deficiência em todas os domínios da CIF do momento da

admissão para a alta …………………………………………………………………………………...38

Figura 8: Distribuição dos níveis de deficiência em todas os domínios da CIF do momento da

admissão para a alta ………………………………………………………………….……………..…39

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1

INTRODUÇÃO

Os serviços de saúde, sistemas e políticas visam manter e melhorar a saúde dos cidadãos. A

saúde não está apenas associada a ausência de doença, mas está também relacionada com um

estado funcional. Este último, poderá remeter-nos para a influência do funcionalismo

estrutural de Émile Durkheim que projetou a organização da sociedade em partes (ex.

hospitais, escolas), contribuindo para um fim comum de estabilidade social.

Falar de funcionalismo social é também falar de funcionamento humano, pois este, pela sua

complexidade, pode apresentar-se como um problema para cada profissão e partes

interessadas. É neste contexto que retomar o pensamento durkheimiano faz sentido, na

medida em que as partes de um determinado organismo social não funcionam isoladamente,

acabando por se relacionar entre si (ex. hospital e família).

A referida interdependência constitui um pilar importante para trabalhar efetivamente a saúde

das pessoas, traduzindo-se no trabalho conjunto e de cooperação de uma equipa. A capacidade

de comunicar e entender todas as partes, para além da fronteira das profissões, é um pré-

requisito para o trabalho de uma equipa bem-sucedida. Em causa, não só está a relação entre

os diferentes profissionais de saúde, como também entre as diferentes partes interessadas.

Uma equipa bem-sucedida também tem em consideração a Diversidade Funcional. Esta

expressão foi iniciada por Javier Romañach e Manuel Lobato em 2005, sendo amplamente

utilizada enquanto termo positivo para realçar a diversidade das funções existentes, ao invés

de enfatizar uma limitação tal como no modelo biomédico. É neste contexto que o modelo

biopsicossocial, oposto ao modelo médico individualizado, permite demonstrar que as

barreiras existentes nos diferentes contextos dificultam a integração dos atores sociais. Neste

sentido, trata-se de um modelo que abrange o tratamento, a prevenção de doenças e a

promoção da saúde. A abordagem biopsicossocial evidencia “o impacto facilitador ou

limitador das características do mundo físico, social e atitudinal que decorre dos fatores

contextuais ambientais” (OMS, 2004).

Associada ao modelo biopsicossocial, a intervenção centrada na pessoa, de modo holístico,

tornou-se um novo paradigma caracterizado pela inclusão do utente no planeamento dos

cuidados a serem prestados. O utente contribui para um diagnóstico mais completo, na medida

em que pode dar a conhecer as várias realidades existentes, bem como barreiras que enfrenta

com frequência e que são desconhecidas/ignoradas pelos profissionais de saúde. Este modelo

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2

relembra que o ser humano é multidimensional, sendo por isso importante considerar as

dimensões intrínsecas e extrínsecas ao corpo.

Face ao exposto acima, a doença causa um forte impacto na vida dos utentes, envolvendo, em

certos casos, o aparecimento de deficiências e incapacidades, que são complexas e

multifatoriais, e por isso difíceis de quantificar. Nesse sentido, seria importante uma pesquisa

mais aprofundada sobre a experiência idiossincrática de cada pessoa, bem como de

instrumentos de medida para os relatos das pessoas com doença e estudos de qualidade de

vida (Stevens et al., 2017).

Reconhecendo a referida necessidade de instrumentos de medida e importância dos fatores

contextuais, a Organização Mundial de Saúde (OMS) aprovou em maio de 2001, (Resolução

WHA54.21), a International Classification of Functioning Disability and Health/

Classificação Internacional da Funcionalidade (CIF), Incapacidade e Saúde. Esta organizou-se

de acordo com elementos, funções e estruturas do corpo, atividade e participação e fatores

contextuais, representados pelo ambiente, bem como pelos fatores pessoais.

A CIF enfatiza a funcionalidade e incapacidade como uma componente da saúde. O seu

objetivo geral é proporcionar uma linguagem unificada e padronizada, assim como uma

estrutura de trabalho para descrever a saúde e os estados relacionados com a saúde. Deste

modo, a CIF materializa o modelo biopsicossocial, em reação à perspetiva biomédica,

atribuindo à funcionalidade e à incapacidade um resultado que depende da dupla interação de

estados de saúde com os fatores contextuais (OMS, 2004). Na CIF foram criadas três

dimensões estruturais: 1) funcionamento corporal (funções fisiológicas ou psicológicas) e

estrutural (partes anatómicas); 2) atividades ao nível individual; e 3) participação na

sociedade.

Tendo a CIF como ponto de partida, o ICF Research Branch1, em parceria, a OMS (2001b)

desenvolveu ferramentas práticas como os CIF Core Set. Estes são conjuntos de descritores

mais relevantes para caraterizar diferentes patologias (como por exemplo o AVC), nos vários

domínios da CIF. Deste modo, a utilização da CIF e das suas dimensões torna-se mais prática

para os profissionais da saúde, possibilitando um conhecimento mais aprofundado sobre o

impacto de um AVC no quotidiano de um indivíduo, através de um perfil funcional.

1 https://www.icf-research-branch.org/about-us/our-mission

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3

O AVC é a terceira principal causa de morte na população idosa, constituindo um dos

principais problemas neurológicos em todo o mundo (Jaracz et. al., 2015). Segundo a

Classificação Internacional de Doença (CID-102), O AVC é uma doença cerebrovascular. As

suas consequências podem provocar limitações nas atividades, restrição na participação e

danos e/ou perdas em estruturas e funções várias. A sua manifestação clínica depende do local

e extensão da lesão bem como da lateralidade do utente (Rocha, 2008).

O AVC é uma das patologias que provoca maior número de mortes e é a principal causa de

incapacidade nos idosos (DGS, 2001). Por isso, esta patologia representa um número elevado

de internamentos e de gastos económicos (Martins, 2006b). Na generalidade, os encargos

económicos do AVC são suportados pela sociedade como um todo, através do pagamento de

impostos. No entanto, os sobreviventes do AVC, as suas famílias e os seus amigos também

sofrem economicamente. Esta situação merece maior atenção, no sentido de um planeamento

efetivo dos cuidados de saúde e dos recursos, bem como dos encargos financeiros (Stevens et.

al., 2017).

O objetivo do presente trabalho é descrever o perfil de funcionalidade e incapacidade em

idosos diagnosticados com AVC, utilizando o Brief Core Set da CIF.

Este é um estudo de natureza quantitativa, descritiva, que se reporta a um espaço temporal

compreendido entre maio e dezembro de 2017, com uma amostra por conveniência de 97

idosos com diagnóstico de AVC, internados na Unidade de Cuidados Continuados de

Convalescença (UCCC) do Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro – Rovisco

Pais (CMRRC-RP).

No que diz respeito à estrutura do estudo, este organiza-se do seguinte modo: introdução;

enquadramento teórico e metodologia.

Na primeira parte, (Capitulo 1), inclui-se o enquadramento teórico que consiste na revisão da

literatura que suporta este estudo, mais especificamente, o envelhecimento, o acidente

vascular cerebral e os modelos de saúde e doença. No final, identifica-se o problema e os

objetivos do estudo.

A segunda parte, (Capitulo 2), apresenta-se a metodologia, explorando todo o estudo

desenvolvido, bem como os resultados encontrados após submetidos a tratamento estatístico,

2 https://iclinic.com.br/cid/capitulo/9/grupo/99/

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4

permitindo assim a sua interpretação. A discussão dos resultados é uma análise crítica

relativamente aos resultados obtidos, tendo por base o quadro concetual atual e a literatura

revista. Segue-se a conclusão, onde se identificam algumas limitações do estudo, bem como

sugestões e/ou implicações para a prática clínica.

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5

CAPÍTULO 1 – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

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6

1 - ENVELHECIMENTO

1.1 - ENVELHECIMENTO: DADOS DEMOGRÁFICOS Toda a envolvência do envelhecimento, os desafios e as oportunidades que se apresentam a

uma sociedade constituída por pessoas cada vez mais idosas, tornam o envelhecimento,

enquanto objeto de estudo, numa temática continuamente atual, exigindo uma análise

multidimensional.

A melhoria das condições socioeconómicas das populações e dos acentuados progressos da

medicina têm contribuído para um aumento significativo da esperança média de vida, o que se

repercute num envelhecimento da população. Sendo assim, o aumento do número de idosos é

uma manifestação da mudança do perfil demográfico a nível mundial e particularmente no

cenário português, passando da esfera da responsabilidade individual para a responsabilidade

social. Nesse sentido, será importante o desenvolvimento de uma dimensão ética.

O envelhecimento demográfico é característico das sociedades modernas, industrializadas e

urbanizadas (Fernandes, 2008). Consiste no aumento da proporção de idosos (≥ 65 anos) na

população total. Segundo os dados mais recentes do INE (2016), em Portugal, a população

idosa estima-se em 2 140 824 indivíduos, dos quais 1.249.687 são do género feminino e

891.137 do género masculino.

A manifestação do fenómeno de envelhecimento ao longo da vida é variável, dando origem a

inúmeras definições de envelhecimento biológico. Apesar de as definições discordarem na

orientação teórica subjacente, comungam a noção de perda de funcionalidade e consequente

incapacidade progressiva, bem como maior suscetibilidade e incidência de doenças,

aumentando a probabilidade de morte (Mota, Figueiredo, & Duarte, 2004).

O envelhecimento é mais do que a sua dimensão biológica. É uma fase da vida que implica

várias mudanças, em diferentes dimensões da vida da pessoa, nem sempre favoráveis. No

entanto, os idosos podem envolver-se no seu processo de envelhecimento de forma positiva,

apostando no envelhecimento ativo. Este consiste num processo de otimização das

oportunidades contínuas de saúde, participação e segurança, promovendo assim a qualidade

de vida no idoso (Ministério da Saúde, 2004). O objetivo do envelhecimento ativo é aumentar

a expetativa de uma vida saudável e a qualidade de vida para todas as pessoas que estão a

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7

envelhecer, inclusive as que são frágeis, incapacitadas, com deficiências e que requerem

cuidados (OMS, 2009).

O envelhecimento ativo está dependente de influências ou determinantes que rodeiam os

indivíduos, as famílias e as nações. Para além do género e da cultura, que constituem fatores

transversais neste processo, enumeram-se outros fatores determinantes para o envelhecimento

ativo: o contexto individual, comportamental, social e económico; o ambiente físico; e os

serviços sociais e de saúde (OMS, 2009). Importa acrescentar que é a interação dos fatores

genéticos com os fatores ambientais que determina a longevidade do indivíduo (Pinto &

Botelho, 2007).

1.2 - ENVELHECIMENTO E O ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL

Apesar dos avanços mais recentes na biologia molecular e na genética, os mistérios que

controlam o tempo da vida humana estão ainda a ser desvendados. Não obstante, têm sido

propostas diversas teorias para explicar o processo de envelhecimento, sendo que as teorias

tradicionais sustentam que o envelhecimento está geneticamente programado ou que não é

uma adaptação. As teorias biológicas modernas sobre o envelhecimento dos seres humanos

podem ser divididas em duas categorias principais: as teorias programadas e as teorias do

dano ou erro (Jin, 2010).

As teorias programadas defendem que o envelhecimento segue um calendário biológico,

sendo uma continuação do que regula o crescimento e o desenvolvimento infantil. Esta

regulação depende de mudanças na expressão genética que afetam os sistemas responsáveis

pelas respostas de manutenção, de reparação e de defesa. As teorias programadas incluem três

sub-categorias: longevidade programada, teoria endócrina e teoria imunológica. Na

longevidade programada, o envelhecimento é o resultado da ativação e inativação de certos

genes. A senescência de uma célula é definida como o momento em que os défices associados

à idade se manifestam. A doença vascular é um exemplo de envelhecimento programado. A

teoria endócrina defende que os relógios biológicos funcionam em função das hormonas,

controlando deste modo a velocidade do envelhecimento. A teoria imunológica relaciona-se

com o declínio do sistema imunitário programado ao longo do tempo, o que leva a um

aumento da vulnerabilidade a doenças infeciosas e, possivelmente à morte (Jin, 2010).

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8

As teorias do dano ou erro enfatizam as agressões ambientais para os organismos, as quais

induzem danos cumulativos a vários níveis, causando envelhecimento. Estas teorias incluem

várias hipóteses, tais como o desgaste, a taxa de vida, os radicais livres e os danos no ADN. O

desgaste das células e dos resulta no envelhecimento. Esta hipótese é útil, mas não está

completamente adequada para explicar o período máximo de vida. Em relação aos radicais

livres, esta proposta sugere que o superóxido e outros radicais livres causam danos aos

componentes macromoleculares da célula. Estes danos originam alterações cumulativas nas

células e, eventualmente nos órgãos, interferindo no seu funcionamento. No que diz respeito

aos danos no ADN somático, os mesmos ocorrem continuamente nas células de organismos

vivos. Embora a maioria destes danos sejam reparados, alguns acumulam-se. Por exemplo, as

mutações genéticas ocorrem e acumulam-se com a idade, fazendo com que as células se

desgastem do mau funcionamento. Deste modo, o envelhecimento resulta do dano da

integridade genética das células do corpo (Jin, 2010).

De acordo com as teorias descritas anteriormente, o envelhecimento aumenta a fragilidade e a

suscetibilidade à doença em vários sistemas do corpo humano. O sistema cardiovascular

engloba a vascularização do encéfalo, verificando-se um aumento da deformação das

arteríolas e uma diminuição no número e comprimento dos capilares no processo de

envelhecimento. Como resultado destas alterações, existe uma redução significativa do fluxo

sanguíneo no cérebro envelhecido (Popa-Wagner, Buga, Turner, Rosen, & Toescu, 2012).

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9

2 - ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL

O Acidente Vascular Cerebral (AVC) constitui, atualmente, um grave problema de saúde,

apresentando altas taxas de indicência na Europa e em Portugal, sendo a primeira causa de

morte e de incapacidade (Silva, 2013).

O número de acidentes vasculares cerebrais tem vindo a aumentar, porque a proporção de

europeus com mais de 70 anos também está a aumentar. As projeções apresentadas indicam

que entre 2015 e 2035, haverá um aumento de 34% no número total de AVC na UE, a partir

de 613.148 indivíduos (2015) a 819.771 indivíduos (ano 2035) (Stevens et. al., 2017).

De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE, 2015), em Portugal, registaram-se

11778 mortes devido a doenças cerebrovasculares. Relativamente à variável género,

observou-se que faleceram 5057 indivíduos do género masculino e 6721 do género feminino.

A média de idades aquando da morte por AVC foi de 81,8 anos (79,4 anos para o género

masculino e 83,6 anos para o género feminino).

Na União Europeia (UE), em 2017, o custo total do AVC foi calculado em € 45 biliões, sendo

que 44% desse montante, ou seja, 20 mil milhões de euros, se devem aos custos diretos dos

cuidados de saúde. Os cuidados hospitalares representam 72% dos custos diretos de cuidados

de saúde e os medicamentos representam 7% (Stevens et. al., 2017). Segundo a Organização

Mundial de Saúde (OMS, 2004), inúmeras pessoas com AVC ficam permanentemente

incapacitadas, sofrendo consequências graves a nível pessoal, familiar, laboral e social. Os

encargos económicos do AVC são suportados pela sociedade como um todo, através do

pagamento de impostos, mas também pelos sobreviventes do AVC, pelas suas famílias e

amigos. Por isso, será importante investir no planeamento efetivo dos cuidados de saúde e dos

recursos (Stevens et al., 2017).

O AVC foi definido como “uma doença súbita que afeta uma zona limitada do cérebro,

causada pelo bloqueio ou rompimento de uma artéria cerebral” (Ferro, 2016). A interrupção

da circulação sanguínea no encéfalo impede o fornecimento de oxigénio e nutrientes,

causando danos no tecido cerebral (WHO, 2006). Quando se trata de um AVC provocado

pelo bloqueio ou obstrução da artéria cerebral, significa que ocorreu um AVC isquémico. Por

outro lado, quando se trata de um AVC originado pela rutura de uma artéria, designa-se de

AVC hemorrágico, o qual é menos frequente do que o primeiro (Ferro, 2016; WHO, 2014-

2016).

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A maior ou menor gravidade do AVC é determinada, essencialmente, pela localização e

extensão das lesões cerebrais iniciais, assim como do período que decorre entre o

aparecimento dos primeiros sintomas e a implementação da terapia na fase aguda. Consoante

a gravidade, o indivíduo apresentará sequelas associadas ao AVC, as quais podem ser

organizadas em quatro categorias (Cruz, 2016):

Danos nas funções musculares (b730-b749): funções de força muscular (b730), funções

tónus muscular de um lado do corpo (b7352), controlo de movimentos voluntários simples

(b7600), funções relacionadas com o padrão de marcha (b770), ou mesmo as funções de

deglutição (b5105);

Danos nas funções mentais (b140-b189): funções mentais de linguagem (b167), funções

de memória (b144), funções mentais e de linguagem (b167) ou mesmo funções de atenção

(b140) e funções intelectuais (b117)s;

Danos nas funções emocionais (b152);

Danos nas funções sensoriais adicionais (b250-b279).

Considerando que o AVC afeta de forma significativa várias dimensões da vida humana, será

prioritário apostar na prevenção. Esta abrange a diminuição do impacto dos principais fatores

de risco no aparecimento do AVC, nomeadamente a idade, a hipertensão arterial, a

dislipidémia, a diabetes e o tabagismo. A idade é um dos fatores de risco3 para o AVC, pois

quanto mais idade o indivíduo tiver, maior é o risco (Stevens et. al., 2017).

De acordo com Silva (2013), o risco de sofrer um AVC Isquémico duplica por cada década de

vida que passa, após os 55 anos de idade. O mesmo autor, para justificar a relação entre

envelhecimento e AVC, tema do presente trabalho, explica que “os efeitos cumulativos do

envelhecimento no nosso sistema cardiovascular (coração e vasos sanguíneos) e a natureza

progressiva (e efeito associado) dos fatores de risco para o AVC (hipertensão arterial,

diabetes, hiperlipidemia ou tabagismo, por exemplo) justificam que o risco de ocorrência de

AVC aumente com a idade”. Contudo segundo o mesmo autor, importa sublinhar que não é

correto associar o AVC apenas a idades mais avançadas, porque este pode surgir em

indivíduos jovens, estando a aumentar a sua incidência nesta população.

3 Segundo Silva (2013, p. 6), o risco corresponde “à probabilidade de ocorrência de um acontecimento – por exemplo, uma trombose cerebral (nome comum de um acidente vascular cerebral) – no decurso de um dado período de tempo”.

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Após um AVC, a situação clínica do utente caracteriza-se por dependência e incapacidade.

Esta refere-se “à situação em que a pessoa se encontra, que por falta ou perda de autonomia

física, psíquica e intelectual, resultante ou agravada por doença crónica, demência orgânica,

sequelas pós-traumáticas, deficiência, doença severa e/ou incurável em fase avançada,

ausência ou escassez de apoio familiar ou de outra natureza, não consegue, por si só,

realizar as atividades da vida diária”, (Decreto Lei 101/2006, Art.º 3, alínea h). Esta

dificuldades em realizar atividades diárias do quotidiano significa que a pessoa apresenta

restrições à participação, a qual foi descrita na CIF como “o envolvimento de um indivíduo

numa situação da vida real” (OMS, 2004).

Luengo-Fernandez, Gray e Rothwell (2006; 2009) verificaram que os utentes com AVC

sofreram um impacto muito negativo na saúde devido ao aumento de incapacidade, restrições

à autonomia e perda de qualidade de vida.

A par das restrições na participação, o ambiente (fatores pessoais e externos) é fundamental

na atenuação ou eliminação da incapacidade provocada pelas lesões que ocorreram como

consequência de condições de saúde adversas como o AVC (OMS, 2001).

A Tabela 1 apresenta um conjunto de problemáticas, que podem surgir após o AVC (Algurén,

2010).

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Tabela 1- Áreas comummente afetadas após o AVC, expresso nos termos da CIF.

Funções Corporais

Estruturas

Actividade e Participação

Funções Ambientais

Funções Mentais (b110-b139) Estrutura do Sistema Nervoso (s199)

Aprendizagem e Aplicação do

Conhecimento (d199)

Produtos e Tecnologias (e199)

Funções Sensoriais e Dor (b399)

Tarefas e Exigências Gerais (d299)

Ambiente Natural e Mudanças

Ambientais feitas pelo Homem

(e299) Função da Voz e da Fala

(b399) Comunicação (d398) Apoio e

Relacionamentos (e399)

Funções do Aparelho Cardiovascular, dos Sistemas Hematológico e Imunológico

do Aparelho Respiratório (b499)

Mobilidade (d499) Atitudes (e499)

Funções do Aparelho Digestivo e dos Sistema

Metabolico e Endócrino (b599)

Auto-cuidados (d598) Serviços Sistemas e Políticas (e599)

Funções Geniturinárias e Reprodutivas(b699)

Vida Doméstica (d699)

Funções Neuromusculoesqueleticas e

relacionadas com o Movimento (b799)

Interacções e Relacionamentos

Interpessoais (d799)

Áreas principais da Vida (d899)

Vida Comunitária, Social e Cívica (d999)

Fonte: Algurén, B. (2010). Functioning after stroke, an application of the

international classification of functioning Disability and Health (ICF)

Um estudo mais recente, realizado por Lo Coco, Lopez e Corrao (2016), revelou que o AVC é

cada vez mais apontado como uma das causas que provoca problemas cognitivos e tem sido

associado ao desenvolvimento da demência vascular e da doença de Alzheimer. Além disso,

este estudo revela ainda que a prevalência do comprometimento cognitivo após o AVC é alta.

Na maioria dos casos, as consequências de um AVC interferem na esfera individual, social,

familiar e laboral. O utente fica com algum grau de dependência, afastando-se de alguns

papéis relevantes para si, modificando as suas rotinas, a sua participação laboral e a vida da

sua família.

As famílias apresentam necessidades que vão desde os aspectos materiais até aos aspectos

emocionais, passando pela necessidade de constantes informações. Mas o que se verifica na

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prática é cada vez mais a escassez de cuidadores familiares. A existência de poucos

rendimentos e um acesso deficitário à informação estão associados a níveis baixos na

participação social. Segundo o estudo de Jaracz et al. (2015), os profissionais de saúde devem

também reconhecer as necessidades dos cuidadores e, se necessário, fornecer orientações de

cuidados e de apoio.

Goljar et al., 2010 referiu no seu estudo que o utente precisa de confiar em membros da

família para a maioria das suas necessidades. Os médicos devem levar em consideração a

possibilidade de fornecer ajuda profissional, e suavizar a carga de cuidados dos membros da

família, favorecendo a saúde do utente e levando a consequências positivas para ambos, o

utente e os seus familiares.

Ao nível social, as repercussões do AVC podem estar associadas com a forma como o utente

se relaciona com os amigos, a família e a integração na comunidade, podendo constatar-se

isolamento social.

A fim de evitar algumas dificuldades, com a ajuda dos profissionais de saúde e da família, o

utente deve reabilitar a função e adaptar o seu ambiente. Nestes casos, um ambiente adaptado

e facilitador é de extrema importância para o utente ser capaz de recuperar a funcionalidade

mesmo com incapacidades. Por exemplo, os dispositivos e tecnologias de assistência aliviam

algumas barreiras e podem inclusive elimina-las como é o caso de algumas adaptações que

permitem tomar banho, usar a casa de banho, ir para a cama, entre outras (Algurèn, 2010).

Apesar da utilização de intervenções multidisciplinares na gestão clínica de indivíduos

diagnosticados com AVC, cerca de metade desta população tem alta com sérios danos e

limitações funcionais (Stein et al., 2009).

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3 - MODELOS DE SAÚDE E DOENÇA

A OMS define a saúde como um estado de completo bem estar físico, mental e social e não

meramente a ausência de doença ou enfermidade (OMS, 1946). Reconhecendo que a anterior

definição tem aspetos positivos e negativos, terá de se assumir que a saúde não é apenas uma

questão médica, mas também social, humana e ideológica e, como tal, existem muitas teorias

diferentes sobre a sua natureza (Algurén, 2010).

Quando a saúde se altera, o indivíduo apresenta incapacidade/ deficiência. Algurén (2010)

define a deficiência como uma anormalidade, defeito ou perda de algo relacionado com o

padrão das estruturas do corpo. Ou seja, descreve as deficiências de acordo com os

conhecimentos biológicos atuais ao nível dos tecidos ou das células e ao nível sub-celular ou

molecular. Está alinhado com o ponto de vista médico, pois salvaguarda que as deficiências

não são equivalentes às patologias subjacentes, mas sim às manifestações dessas patologias

(DGS, 2004b).

A avaliação da deficiência tem sido uma preocupação constante. Os principais modelos sobre

deficiência podem ser divididos em limitações funcionais biomédicas e abordagens sócio-

políticas. A abordagem biomédica considera a deficiência como um problema do indivíduo

que está diretamente relacionado com a patologia, doença e outros desvios das normas

biomédicas. Neste modelo, a deficiência pode ser descrita e quantificada. No entanto, este

modelo ignora os aspetos sociais de invalidez e tende a ver o utente como um diagnóstico, em

vez de um indivíduo (Algurén, 2010). Neste sentido, a abordagem social da doença, face ao

modelo biomédico, relaciona a deficiência com a sociedade e não o corpo (Oliver, 1996).

Na história moderna da deficiência, o reconhecimento dos direitos dos trabalhadores feridos

da Guerra foi consagrado na legislação nacional e internacional. Este constitui-se um marco

nas abordagens das sociedades ocidentais quanto à deficiência. Foi neste contexto que se

desencadeou outro fenómeno característico do século XX, a mobilização ativista de civis

deficientes (Stiker, 1997).

Durante a Primeira Guerra Mundial, os regimes de pensões para soldados feridos expandiu as

noções de responsabilidade coletiva e de “Dívida Nacional” para com os feridos enquanto

serviam a nação em Guerra. Não menos importantes foram as necessidades para compensar a

escassez de trabalho em tempo de Guerra e levar os Países a estabelecer um seguro social para

trabalhadores. A consciência de que as pessoas com deficiência necessitavam de ser

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reabilitadas, ao invés de serem assistidas como pobres, foi-se enraizando. A posição política

relativa à deficiência foi amplamente desenvolvida em todos os países industrializados após a

Segunda Guerra Mundial (Stiker, 1997).

Em meados dos anos 60, Saad Nagi propõe uma nova visão sobre o processo de incapacidade.

Esta nova proposta considera as consequências físicas das patologias, um processo mais

dinâmico que medeia alterações na função. Incapacidade passa a ser a expressão de uma

limitação mental ou física num determinado contexto social e deficiência é entendida como

uma relação desigual entre as capacidades limitadas do indivíduo e as exigências criadas pelo

ambiente social e físico.

O modelo de Nagi (1976) visava classificar a deficiência e orientar a reabilitação, não

incluindo um esquema de classificação. Este modelo implica que o meio ambiente possa ser

estudado simultaneamente com o indivíduo. O mesmo autor constatou que o estudo da relação

entre deficiências, limitações funcionais e papéis sociais era pouco frequente. Assim, iniciou

uma investigação sobre os fatores ambientais que afetam a deficiência, que, por sua vez,

serviu de ponto de partida para o modelo biopsicossocial.

Engel (1977) identificou a necessidade de um novo modelo médico. Pretendia criar um

modelo holístico que respondesse às críticas de reducionismo, mantendo o rigor científico.

Dentro do modelo holístico, foram propostas três dimensões: biológica, psicológica e social,

as quais desempenhavam um papel significativo no funcionamento de uma pessoa com ou

sem deficiência. Nesse sentido, foram sugeridos os tratamentos ou os cuidados necessários

para abordar cada dimensão. Posteriormente, vários autores contribuíram para a alteração

desta linha de pensamento, tendo como elemento central a relação de poder entre médico e

utente e o impacto desta na prestação de cuidados (Kumar, 2010).

3.1 - A CLASSIFICAÇÃO INTERNACIONAL DA FUNCIONALIDADE,

INCAPACIDADE E SAÚDE (CIF)

A avaliação da deficiência, incapacidade e saúde, bem como do nível de saúde em condições

específicas, adquiriu particular importância nos últimos anos (Goljar et al., 2010). No sentido

de abordar a deficiência de uma nova maneira, a CIF recorreu ao modelo biopsicossocial,

defendendo que a funcionalidade e a incapacidade resultam de interações complexas entre

características intrínsecas do indivíduo e fatores contextuais (Escorpizo et al., 2010; Atkinson

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& Nixon-Cave, 2011). Neste sentido, pode dizer-se que a CIF se transformou num elemento

fundamental na definição de políticas e instrumentos de intervenção nesta matéria. O seu

principal objetivo é fornecer uma linguagem que seja aceite de modo universal, a qual poderá

ser utilizada por diferentes profissionais, em diferentes países.

A CIF é um sistema de classificação desenvolvido pela OMS (2004) que fornece uma

estrutura para descrever o funcionamento e saúde no indivíduo através de dois elementos

principais: funcionalidade e incapacidade; e fatores contextuais. Cada um destes elementos

tem dois componentes: funções do corpo e atividades e participação (funcionalidade e

incapacidade); fatores ambientais e fatores pessoais (fatores contextuais). A CIF fornece um

quadro concetual que permite a recolha de informações para além das doenças e do

diagnóstico médico. Este sistema de classificação pode ser utilizado no âmbito da medicina

física e reabilitação, especialmente no campo da reabilitação neurológica, para aprofundar os

conhecimentos acerca da situação clínica atual do utente e para facilitar a comunicação na

equipa multidisciplinar, contribuindo para estruturar o processo de reabilitação, para a fixação

de metas, para a documentação e para relatar a evolução funcional (Goljar et al., 2010).

A CIF sugere definições operacionais padronizadas dos domínios relacionados com a saúde

em contraste com as definições mais frequentes. Essas definições descrevem os atributos

essenciais de cada domínio, o que inclui ou exclui. Outra vantagem consiste na codificação

dos resultados obtidos a partir de instrumentos de avaliação existentes (OMS, 2004).

Cada componente da CIF contém diversos domínios e dentro de cada um existem várias

categorias, que são as unidades de medida da classificação (OMS, 2004). Através de um

código alfanumérico, cada categoria é representada por uma letra que indica a componente –

(b) funções do corpo, (s) estruturas do corpo, (d) atividades e participação e (e) fatores

ambientais –, seguida de um código numérico, iniciado pelo número do capítulo (um dígito),

seguido pelo segundo nível (dois dígitos), pelo terceiro nível (um dígito) e pelo quarto nível

(um dígito) (OMS, 2004).

Baseado na hierarquia da estrutura das categorias CIF, uma categoria de nível superior

partilha os atributos da categoria de nível inferior a qual a primeira pertence (OMS, 2004).

Todas as categorias CIF estão acompanhadas de uma definição bem como o que inclui e

exclui, tornando-as inequívocas. Além disso, todas são quantificáveis.

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Assim sendo, a saúde e os estados relacionados com a saúde de um indivíduo podem ser

registados através do código/códigos apropriados à categoria, que apenas estão completos

com um qualificador. Estes são códigos de uma escala ordinal genérica de 0 a 4, que

especifica a extensão da funcionalidade ou da incapacidade naquela categoria, ou em que

medida um factor ambiental facilita ou constitui um obstáculo (OMS, 2004).

Apesar da definição objetiva de todas as categorias, um dos principais desafios na utilização

da CIF tem sido a morosidade da aplicação na prática clínica, verificando-se ainda a falta de

simplificação. No sentido de ultrapassar este desafio, a OMS desenvolveu uma lista de

verificação da CIF, utilizando um conjunto restrito de categorias relevantes. Além disso, a

aplicabilidade clínica da CIF foi facilitada pelo desenvolvimento dos Brief Core Sets da CIF

(Goljar et. al., 2010).

A CIF Core Set para o AVC é uma aplicação da CIF4 e representa o espectro de problemas no

funcionamento de utentes com AVC. As categorias5 que são selecionadas para a CIF Core Set

para o AVC incluem os aspetos mais fundamentais e impressionantes da funcionalidade em

utentes após-AVC (Quintas et al., 2011).

Segundo Quintas e colaboradores (2011), o processo de desenvolvimento da CIF Core Set

para o AVC envolve um método formal na tomada de decisão e de consenso de peritos,

integrando evidência reunida a partir de estudos preliminares, incluindo uma revisão

sistemática, e recolha de dados a partir da checklist da CIF. O resultado final é uma lista de

cento e trinta categorias da CIF incluídas no Comprehensive ICF Core Set for Stroke, dezoito

das quais (14% do total) estão incluídas no Brief Core Set de categorias específicas para

AVC: seis categorias do Comprehensive ICF Core Set das funções corporais (15%), duas

categorias (40%) das estruturas corporais, sete (14%) da atividade e participação e três (9%)

dos fatores ambientais.

De acordo com, (Geyh et al., 2004), as seis categorias das funções corporais representam 10%

do número total das categorias de segundo nível da CIF neste componente, as duas categorias

das estruturas corporais representam 4%, as sete categorias da atividade e participação

representam 6% e as três categorias dos fatores ambientais representam 4%.

4 https://www.icf-research-branch.org/icf-core-sets-projects2/cardiovascular-and-respiratory-conditions/icf-core-set-for-stroke. 5 https://www.icf-research-branch.org/download/finish/13-cardiovascular-and-respiratory-conditions/198-brief-icf-core-set-stroke-18categ.

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As categorias da CIF Core Set para o AVC encontram-se no Anexo I.

A CIF Brief e o Comprehensive Core Set for Stroke demonstram validade de conteúdo

suficiente na perspetiva dos médicos, definindo quais as áreas de funcionamento e saúde que

são relevantes para os utentes com AVC. Deste modo, o CIF Core Set para o AVC pode ser

usado como ponto de partida para a avaliação dos utentes (Quintas et al., 2011).

Há, contudo, limitações da funcionalidade que acompanham o processo de envelhecimento e

podem culminar na incapacidade do idoso em responder às suas necessidades, motivo pelo

qual a manutenção da independência social, da mobilidade funcional e das capacidades

cognitivas se torna cada vez mais relevante. Nesse sentido, importa também relembrar que a

maioria das deficiências sucede ao longo da vida devido a diversos fatores, como por exemplo

a pobreza, a poluição, os acidentes, a violência, a guerra, o estilo de vida e o envelhecimento

(OMS, 2001a).

Assim, o comprometimento da capacidade funcional do idoso tem implicações importantes

para a família, comunidade, para o sistema de saúde e para a vida do próprio idoso, uma vez

que a incapacidade ocasiona maior vulnerabilidade e dependência na velhice.

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4 - IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA E OBJETIVOS

De acordo com a revisão de literatura, o AVC é uma condição clínica que interfere de forma

significativa em várias dimensões da vida dos utentes idosos. Por este motivo, a

funcionalidade do idoso com AVC é a principal preocupação da reabilitação e, como tal, a

avaliação do perfil de incapacidade é essencial para uma recuperação eficaz.

Para que seja possível atentar nos fatores sociais da deficiência (e que são perspetivados pelos

fatores contextuais), é necessária a integração de categorias de análise intersecionais (género,

etnia, sexualidade, etc.) sob a lente de outros modelos, como é o caso do modelo social da

deficiência do Michael Oliver (1990), em vista a aprimorar a consciencialização pública.

É neste contexto que a Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF) apoia a

compreensão do funcionamento e da deficiência como conceitos multidimensionais que se

relacionam não apenas com os aspetos físicos e psicológicos, mas também com a situação de

vida e o papel social de uma pessoa que é influenciada por fatores externos tais como o

ambiente físico. Todavia, os impactos do AVC são complexos e difíceis de quantificar, sendo

necessário que se efetuem mais pesquisas sobre a experiências e medidas de resultado

relatadas pelo paciente, tal como estudos de qualidade de vida (Stevens et al., 2017). Desta

forma, é fulcral avaliar os seus principais problemas, definir metas de reabilitação, escolher

intervenções de reabilitação e avaliar os resultados da intervenção. Neste sentido, com apenas

um instrumento, a utilização da CIF permite definir e validar o perfil de funcionalidade

orientador da intervenção clínica (Goljar et. al., 2010).

O objetivo deste trabalho é descrever o perfil de incapacidade e funcionalidade em idosos

diagnosticados com AVC utilizando o Brief Core Set da CIF.

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CAPÍTULO 2 – METODOLOGIA

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5 - METODOLOGIA

5.1 - POPULAÇÃO E AMOSTRAGEM

A amostra deste estudo é constituída por 97 idosos, que sofreram um AVC, internados na

Unidade de Cuidados Continuados de Convalescença (UCCC) do Centro de Medicina de

Reabilitação da Região Centro – Rovisco Pais (CMRRC _ RP). Estes foram selecionados por

conveniência dentro da população disponível. O estudo decorreu no período de 1 de maio a 30

de setembro de 2017.

5.2 - INSTRUMENTOS PARA AVALIAÇÃO DA FUNCIONALIDADE E

INCAPACIDADE

Os participantes preencheram um questionário sobre informações sócio-demográficas,

nomeadamente género, idade, estado civil, ano de escolaridade e atividade profissional. De

seguida, foi aplicada a Brief Core Set para AVC, que inclui 4 categorias e 18 dimensões, as

quais foram selecionadas da CIF Compreensiva. Especificando, 6 dimensões provenientes das

funções do corpo, 2 das estruturas do corpo, 7 das atividades e participação e 3 dos fatores

ambientais.

Cada dimensão da CIF pode ser registada através de códigos apropriados à categoria, com um

qualificador, por meio de uma escala ordinal genérica de 0 a 4. Esta escala especifica a

extensão da funcionalidade ou da incapacidade numa determinada categoria, sobre a forma de

percentagem. Ver tabela 2.

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Tabela 2- CIF - Brief Core Set para AVC

Funções do corpo

Funções da Consciência (b110) 0-Nenhuma deficiência 0-4%

1-Deficiência ligeira 5-24%

2-Deficiência moderada 25-49%

3-Deficiência Grave 50-95%

4-Deficiência completa 96-100%

Funções de Orientação (b114) Funções da Atenção (b140) Funções de Memória (b144)

Funções Mentais (b167) Funções de Força Muscular (b730)

Estruturas do Corpo

Estrutura do Cérebro (s110) Estrutura do Membro Superior (s730)

Atividades e Participação

Comunicar e Receber Mensagens Orais (d310) 0-Nenhuma dificuldade 0-4%

1- Dificuldade ligeira 5-24%

2- Dificuldade moderada 25-49%

3- Dificuldade Grave 50-95%

4- Dificuldade completa 96-100%

Falar (d330) Andar (d450)

Lavar-se (d510) Ir a Casa de banho (d530)

Vestir-se (d540) Comer (d550)

Fatores Ambientais

Família (e310)

0-Nenhum obstáculo 0-4%

1- Obstáculo leve 5-24%

2- Obstáculo moderado 25-49%

3- Obstáculo Grave 50-95%

4- Obstáculo completo 96-100%

+1- Facilitador Leve 5-24%

+2- Facilitador Moderado 25-49%

+3- Facilitador Grave 50-95%

+4- Facilitador Completo 86-100%

Profissionais de Saúde (e355) Serviços de Saúde, Sistemas e Políticas (e580)

O Core Set da CIF para o AVC é uma ferramenta prática que representa todas as categorias e

dimensões da CIF necessárias para descrever indivíduos em situação Pós-AVC, sendo estas

largamente consistentes com os sintomas conhecidos (Geyh et. al., 2004).

5.3 - PLANO DE INTERVENÇÃO DO FISIOTERAPEUTA

A tabela abaixo apresenta o plano de intervenção com duração de 12 semanas (3 meses), em

contexto de internamento (6 dias por semana) durante 45 minutos por sessão. O tratamento foi

realizado segundo o conceito de Bobath e adaptado à condição e timing de cada idoso.

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Tabela 3 – Plano de intervenção de fisioterapia segundo o conceito de Bobath

1.ª Semana

Treino do Sistema Somatossensorial do MS e MI hemiparético (15 minutos)

Alinhamento corporal na posição de sentado (10 minutos)

Core stability (5 minutos)

Estabilidade dinâmica da escápula (15 minutos)

2.ª Semana Alinhamento corporal na posição de sentado (15 minutos)

Ajustes posturais antecipatórios (APA) (15 minutos)

Hand contact e alcance funcional (15 minutos)

3.ª Semana Stop-standing (15 minutos)

Sit-to-stand (15 minutos)

APA (15 minutos)

4.ª Semana Crook-ling na posição de deitado (15 minutos)

Placing da anca na posição deitado (15 minutos)

Placing do MS na posição deitado (15 minutos)

5.ª Semana Sit-to-stand (15 minutos)

Single-leg-stance (15 minutos)

Alcançar na posição de pé (15 minutos)

6.ª Semana

Estabilidade dinâmica da escápula na posição de sentado (15 minutos)

Alcance durante o sit-to-stand (15 minutos)

Alcance na posição de pé (15 minutos)

7.ª Semana Trabalho da propulsão na posição de sentado (15 minutos)

Trabalho da propulsão na posição de pé (15 minutos)

Treino de marcha com facilitação de duas pessoas (15 minutos)

8.ª Semana Trabalho da extensão linear na posição de pé (15 minutos)

Single-leg-stance (15 minutos)

Treino de marcha com facilitação de duas pessoas (15 minutos)

9.ª Semana APA (15 minutos)

Sistema somatossensorial na posição de pé (15 minutos)

Treino de marcha com facilitação de duas pessoas (15 minutos)

10.ª Semana Esquema corporal postural (15 minutos)

Ajustes posturais compensatórios (APC) (15 minutos)

Treino de marcha com facilitação de uma pessoa (15 minutos)

11.ª Semana Estratégia do tornozelo (15 minutos)

Estratégia do passo atrás /estratégia reativa do MS (15 minutos)

Treino de marcha (15 minutos)

12.ª Semana Treino de subir /descer escadas (15 minutos)

Treino de marcha em superfícies e irregulares (15 minutos)

Treino de marcha em plano inclinado (15 minutos)

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5.4 – PROCEDIMENTOS

O projeto foi submetido à aprovação pela Comissão de Ética da Instituição (Anexo II). Os

utentes foram convidados a participar no estudo de acordo com os critérios de inclusão

previamente definidos: idade igual ou superior a 65 anos, vítimas do primeiro AVC e com 3

meses de internamento. Os critérios de exclusão foram: idade ≤ 65 anos, presença de

comorbidades, período de internamento inferior a 3 meses, défices de compreensão e AVC de

repetição.

Os utentes foram informados sobre os procedimentos investigacionais e declararam

formalmente o seu Consentimento Informado para a participação no estudo (Anexo III). Foi

assegurada a confidencialidade de todos os dados recolhidos, uma vez que as informações

foram codificadas e mantidas estritamente confidenciais para todos aqueles que não estiveram

diretamente envolvidos no estudo.

Procedeu-se à recolha dos elementos sociodemográficos (idade, género, estado civil,

escolaridade, profissão) seguida da aplicação da CIF- Brief Core Set para AVC, de forma a

traçar um perfil de funcionalidade. Cada entrevista durou aproximadamente 45 minutos.

Os participantes realizaram o Plano de Intervenção de Fisioterapia segundo o conceito de

Bobath, num período de 3 meses, conforme os resultados obtidos na entrevista da CIF.

Aquando da alta, os idosos com AVC foram novamente submetidos à aplicação da Brief Core

Set para AVC, de forma a perceber a evolução de cada participante idoso no estudo.

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6 - APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

6.1 - CARATERIZAÇÃO SÓCIO DEMOGRÁFICA DA AMOSTRA

A amostra é constituída por 97 idosos com diagnóstico de AVC. No que diz respeito à idade

dos participantes, esta varia entre os 65 e os 99 anos (76,14±9,51). Observa-se que 52,6% dos

partcicipantes (n=51) se situam no grupo etário com idades compreendidas entre os 65 e os 74

anos; 26,8% dos participantes (n=26) têm entre 75 e 84 anos; 16,5% dos participantes (n=16)

apresentam idades compreendidas entre os 85 e os 94 anos e 4,1% dos participantes (n=4) têm

idade igual ou superior a 95 anos.

No que diz respeito ao género, verifica-se 56% de indivíduos do género masculino (n=55) e

43,3% indivíduos do género feminino (n= 42).

No que diz respeito à distribuição dos utentes em estudo de acordo com o seu estado civil,

57,7% idosos são casados (n=56); 21,6% idosos são viúvos (n=21); 13,4% dos idosos são

solteiros (n=13) e 7,2% dos participantes idosos encontram-se divorciados (n=7).

Relativamente aos anos de escolaridade dos participantes, estes variaram entre um mínimo de

zero (sem escolaridade) e um máximo de 20 (doutorado), sendo a média 3,68 anos, com um

desvio padrão de 2,42, sendo a moda e mediana de 3 anos de escolaridade. Assim, 83,6% dos

participantes (n=81) têm uma escolaridade igual ou inferior a quatro anos; 11,3% dos

participantes (n=11) estudaram entre 5 e 6 anos; 4,1% dos participantes (n=4) estudaram por

um período de 7 e 9 anos e 1% (n=1) dos participantes estudou 20 anos.

A distribuição da vida socioprofissional dos participantes caracteriza-se da seguinte forma:

40,2% são reformados (n=39), sendo que 21,6% são trabalhadores não qualificados (n=21),

seguindo-se 19,6% que são agricultores ou pescadores (n=19). De referir que apenas 1% é

especialista das profissões intelectuais e científicas (n=1).

Quando questionados acerca da sua situação profissional atual, 59,8% dos utentes em estudo

ainda estão no ativo, exercendo a atividade profissional mesmo que não remunerada (n=58) e

40,2% não exercem qualquer atividade profissional (n=39).

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6.2 – PERFIL FUNCIONAL NA ADMISSÃO

Esta avaliação foi realizada segundo as componentes da CIF, Brief Core Set para AVC nos

momentos da admissão com AVC, tendo sido avaliadas as funções fisiológicas dos sistemas

orgânicos (incluindo as funções psicológicas) e as partes anatómicas do corpo, tais como,

órgãos, membros e seus componentes.

6.2.1- Funções e Estruturas do Corpo

Na Figura 1 é apresentada a distribuição dos níveis de deficiência nas categorias do domínio

“funções e estruturas corporais” no momento de admissão: 34% dos participantes (n=33)

classificaram a deficiência relativa ás funções da consciência (b110) como ligeira; 35,1% dos

participantes (n=34) classificaram a deficiência relativa ás funções de orientação (b114) e nas

funções de atenção (b140) como ligeira; 34% dos participantes (n=33) classificaram a

deficiência relativa ás funções da memória (b144) como ligeira; 35,1% dos participantes

(n=34) classificaram a deficiência relativa ás funções mentais (b167) como ligeira; 38,1% dos

participantes (n= 37) classificaram a deficiência relativa ás funções de força muscular (b730)

como moderada; 48,5% dos participantes (n=47) classificaram a deficiência relativa ás

funções da estrutura do cérebro (s110) como moderada; 36,1% dos participantes (n=35)

classificaram a deficiência relativa a estrutura do membro superior (s730) como grave.

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Figura 1- Distribuição dos níveis de deficiência nas categorias do domínio “funções e estruturas corporais” no momento de admissão.

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6.2.2 – Atividades e Participação

No que concerne às componentes atividade e participação, foram avaliados os aspetos da

funcionalidade através dos domínios incluídos no Brief Core Set para o AVC.

Na Figura 2 é apresentada a distribuição dos níveis de deficiência nas categorias do domínio

“atividade e participação” no momento de admissão: 35,1% dos participantes (n=34)

classificaram a deficiência relativa aos domínios de comunicar e receber mensagens orais

(d310) como nenhuma dificuldade; 41,2% dos participantes (n=40) classificaram a

componente de Falar (d330) como nenhuma dificuldade; 38,1% dos participantes (n=37)

classificaram a componente vestir-se (d540) como dificuldade grave; 44,3% dos participantes

(n=43) classificaram a dificuldade relativa a componentes de andar (d450) como dificuldade

completa; 42,3% dos participantes (n= 41) classificaram a dificuldade relativa á componente

de ir a casa de banho (d530) como dificuldade completa; 32% dos participantes (n=31)

classificaram a dificuldade relativa á componente de comer (d550) como dificuldade

completa; 35,1% dos participantes (n=34) classificaram a dificuldade relativa a componente

lavar-se (d510) como dificuldade completa e grave.

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Figura 2- Distribuição dos níveis de deficiência nas categorias do domínio “atividade e participação”

no momento de admissão.

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6.2.3 - Fatores Ambientais

Os participantes idosos com AVC também avaliaram o impacto facilitador ou limitador da sua

situação clínica, segundo as caraterísticas do mundo físico e social.

Na Figura 3 é apresentada a distribuição dos níveis de deficiência nas categorias do domínio

“fatores ambientais” no momento de admissão: 26,8% dos participantes (n=26) classificaram

a família (e310) como facilitador leve; 28,9% dos participantes (n=28) classificaram os

profissionais de saúde (e355) e os serviços de saúde, sistemas e políticas, relacionadas com a

saúde (e580) como nenhum obstáculo.

Figura 3 – Distribuição dos níveis de deficiência nas categorias do Domínio “fatores ambientais” no momento de admissão.

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6.3- PERFIL FUNCIONAL NA ALTA

Esta avaliação foi realizada segundo as componentes da CIF, Brief Core Set para AVCno

momento da alta com AVC, tendo sido avaliadas as funções fisiológicas dos sistemas

orgânicos (incluindo as funções psicológicas) e as partes anatómicas do corpo, tais como,

órgãos, membros e seus componentes.

6.3.1- Funções e Estruturas do Corpo

Na Figura 4 é apresentada a distribuição dos níveis de deficiência nas categorias do domínio

“funções e estruturas corporais” no momento da alta: Classificações da deficiência, no

momento da alta: 47,4% dos participantes (n=46) classificaram a deficiência relativa ás

funções da consciência (b110) como sem deficiência; 48,5% dos participantes (n=47)

classificaram a deficiência relativa ás funções de orientação (b114) e nas funções de atenção

(b140) como sem deficiência; 44,3% dos participantes (n=43) classificaram a deficiência

relativa ás funções da memória (b144) como sem deficiência; 47,4% dos participantes (n=46)

classificaram a deficiência relativa ás funções mentais (b167) como sem deficiência; 43,3%

dos participantes (n=42) classificaram a deficiência relativa ás funções de força muscular

(b730) como deficiência ligeira; 38,1% dos participantes (n=37) classificaram a deficiência

relativa ás funções da estrutura do cérebro (s110) como moderada; 32% dos participantes

(n=31) classificaram a deficiência relativa a estrutura do membro superior (s730) como

ligeira.

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Figura 4- Distribuição dos níveis de deficiência nas categorias do domínio “funções e estruturas corporais” no

momento da alta.

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6.3.2 – Atividades e Participação

Na Figura 5 é apresentada a distribuição dos níveis de deficiência nas categorias do domínio

“atividades e participação” no momento da alta: Classificações da deficiência, no momento da

alta: 49,5% dos participantes (n=48) classificaram a deficiência relativa aos domínios de

comunicar e receber mensagens orais (d310) como nenhuma dificuldade; 55,7% dos

participantes (n=54) classificaram a componente de Falar (d330) como nenhuma dificuldade;

38,1% dos participantes (n=37) classificaram a componente vestir-se (d540) como ligeira;

38,13% dos participantes (n=37) classificaram a dificuldade relativa a componentes de andar

(d450) como ligeira; 40,2% dos participantes (n= 39) classificaram a dificuldade relativa á

componente de ir a casa de banho (d530) como ligeira; 32% dos participantes (n=31)

classificaram a dificuldade relativa á componente de comer (d550) como nenhuma

dificuldade; 41,2% dos participantes (n=40) classificaram a dificuldade relativa a componente

lavar-se (d510) como dificuldade ligeira.

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Figura 5 – Distribuição dos níveis de deficiência nas categorias do domínio “Atividades e Participação” no momento da alta.

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6.3.3 – Fatores Ambientais

Na Figura 6 é apresentada a distribuição dos níveis de deficiência nas categorias do domínio

“fatores ambientais” no momento da alta: 32% dos participantes (n=31) classificaram a

família (e310) como nenhum obstáculo; 32% dos participantes (n=31) classificaram os

profissionais de saúde (e355) como nenhum obstáculo e 35,1% dos participantes (n=34)

classificaram os serviços de saúde, sistemas e politicas, relacionadas com a saúde (e580)

como nenhum obstáculo.

Figura 6- Distribuição dos níveis de deficiência nas categorias do domínio “fatores ambientais” no momento da alta.

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6.4 – EVOLUÇÃO DO PERFIL FUNCIONAL DA ADMISSÃO PARA A ALTA

A avaliação da funcionalidade dos utentes em estudo, no momento da admissão e da alta, foi

realizada recorrendo ao CIF- Brief Core Set para AVC. A Tabela 4 apresenta os valores

médios obtidos para cada dimensão do referido instrumento nos dois momentos da avaliação e

contém a análise das diferenças intragrupo.

Tabela 4- Alterações observadas nos qualificadores das categorias CIF entre o momento da admissão e o

momento da alta nos 97 participantes do estudo.

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De acordo com a Tabela 4- Brief Core Set para AVC e a Figura 7, pode verificar-se uma

evolução positiva na categoria estruturas do corpo, com maior frequência (74,3%). nas

funções da força muscular (b730) (n=72), Em relação às estruturas corporais, a progressão foi

mais frequente (77,3%) na estrutura do membro superior (s730) (n=75). Nas atividades e

participação, constatou-se uma evolução na maioria das atividades, sendo mais frequente

90,7% no andar (d450) (n=88), 85,6% no lavar-se (d510) (n=83), 89,7% ir à casa de banho

(d530) (n=87), 88,7% no vestir-se (d540) (n=86) e 56,7% no comer (d550) (n=55). 62,9% do

contributo das funções ambientais manteve-se inalterado (n=61).

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Figura 7- Distribuição dos níveis de deficiência em todos os domínios da CIF do momento de admissão para a

alta.

De acordo com a Tabela 4 e a Figura 8, pode verificar-se que as componentes com maior

evolução correspondem a atividades e participação (68,2%). A componente das fatores

ambientais apresentou um maior número de idosos piorados (27,1%), e também um maior

número de idosos sem alterações até ao momento da alta (10,3%).

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Figura 8- Distribuição dos níveis de deficiência nas categorias do momento de admissão para a alta.

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7 - DISCUSSÃO

O AVC constitui hoje uma das principais causas de incapacidade em idosos afectando

significativamente este grupo étario (DGS, 2001). Os resultados demonstram que mais de

metade da amostra tem idades compreendidas entre os sessenta e cinco e os setenta e quatro

anos, a probabilidade do indivíduo sofrer um AVC é maior a partir dos cinquenta e cinco anos

e vai aumentando cada vez mais com a idade (AHA, 2012 cit. in Pires, 2014).

No que diz respeito ao género, cerca de cinquenta e sete por cento da amostra é do género

masculino e quarenta e três por cento pertencem ao género feminino, ou seja, participaram no

estudo mais homens do que mulheres. Os resultados encontrados confirmam o que é apontado

pela American Heart Association, que afirma que a probabilidade de um utente do sexo

masculino sofrer um AVC é dezanove por cento maior comparativamente com a de um

indivíduo do sexo feminino (AHA, 2012 cit. in Pires, 2014). Além disso, outro aspeto que se

quer salientar é que uma vez que em Portugal existe um maior número de idosos do sexo

masculino (INE, 2016), a probabilidade destes sofrerem um AVC é maior. Contudo, no que

respeita à morte provocada por AVC, verifica-se o oposto, tendo, no ano de dois mil e quinze,

falecido mais mulheres do que homens (INE, 2015).

No presente estudo, e no respeitante à distribuição dos utentes segundo o seu estado civil,

verifica-se que cinquenta e oito por cento da amostra é casada, seguindo-se o grupo dos

viúvos, que representa vinte e dois por cento da amostra. Comprovando que, à medida que se

envelhece, a probabilidade do idoso ficar viúvo vai aumentando. Os resultados obtidos neste

estudo são semelhantes aos de Veloso (2015), que realizou um estudo onde aferiu o impacto

da prática de um envelhecimento ativo na qualidade de vida dos idosos, e verificou que mais

de metade da sua amostra era casada, seguindo-se o grupo dos viúvos.

O mesmo se verifica em relação ao nível de escolaridade da amostra que, no nosso estudo,

apresenta baixos níveis de escolaridade, à semelhança dos resultados apresentados por Veloso

(2015). O mesmo investigador apresentou outro dado interessante e que diz respeito ao nível

de ensino, sugerindo que uma escolaridade mais elevada não contribui, de forma positiva,

para a autoavaliação do estado de saúde. O estudo de Martins (2015) acrescentou que os

indivíduos com menor educação estão em maior risco de reportar má saúde. Deste modo, o

nível de escolaridade não parece influenciar a auto-perceção relativamente à saúde.

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Na nossa amostra foi possível verificar que existem mais idosos reformados do que no ativo.

No entanto, dentro do grupo dos reformados, cinquenta e oito idosos ainda estão no ativo,

ainda exercem algum tipo de atividade (mesmo não sendo remunerada). A carência

socioeconómica desta população pode justificar o facto de muitos idosos ainda desenvolverem

atividades no setor primário. A este respeito, Coutrim (2006) indicou que quando os idosos se

envolvem noutras atividades para além das regulares, paralelamente promovem outras

competências relacionais de comunicação, mantendo-se cognitivamente ativos.

Face aos resultados referentes à avaliação do perfil funcional na admissão, a partir do Brief

Core Set para AVC, os resultados relativos às funções e estruturas do corpo permitem aferir

que os idosos em estudo classificam como deficiência ligeira as funções da consciência

(b110), as funções de orientação (b114), as funções de atenção (b140), as funções de memória

(b144) e as funções mentais (b167). Já as funções de força muscular (b730) e de estrutura do

cérebro (s730) são classificadas como deficiência moderada. A estrutura do membro superior

(s110) é a função que se apresenta pior, sendo considerado como: deficiência grave. Estes

resultados aproximam-se dos resultados elencados no estudo realizado por Quintas et al.

(2012), os quais verificaram que os problemas mais relatados nas funções do corpo foram

memória (b144), funções de força muscular (b730) e funções de atenção (b140).

No que concerne à categoria das atividades e participação, os resultados demonstram que,

aquando da admissão, os idosos não apresentavam nenhuma dificuldade ao nível da

comunicação e receção de mensagens orais (d310) e falar (d330). Dentro da mesma categoria,

encontra-se a componente vestir-se (d540), que é classificada como dificuldade grave. As

componentes de andar (d450), ir à casa de banho (d530) e comer (d550) são descritas como

dificuldades completas. A atividade de lavar-se (d510) foi a única componente

simultaneamente classificada de dificuldade completa e dificuldade grave. No entanto, em

comparação com o estudo de Quintas et al. (2012), as atividades de andar (d450), falar (d330)

e comunicar e receber mensagens orais (d310) são as principais atividades restritas e

limitadas. Outro estudo realizado por Urimubenshi (2015), verificou que as pessoas com AVC

apresentam limitações de atividade, nomeadamente de locomoção, auto cuidado e atividades

da vida diária. Além disso, alguns participantes indicaram ainda incapacidade de voltar à

ocupação anterior, diminuição das interações sociais e aumento da incapacidade de

participação em atividades religiosas (Urimubenshi, 2015).

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Relativamente aos factores ambientais, constatou-se que, no momento da admissão, a família

(e310), os profissionais de saúde (e355) e os serviços de saúde, sistemas e políticas (e580) são

considerados como um facilitador leve e nenhum obstáculo.

O impacto dos fatores ambientais na realização de atividades na sua vida habitual, decorrem

ao nível das atividades de autocuidado, como o lavar-se (d510) ou vestir-se (d540), sendo que

a família e os profissionais de saúde (e355) são os principais facilitadores relatados pelos

pacientes (Quintas et al., 2012), tal como neste estudo.

Na avaliação do perfil funcional no momento da alta constatou-se que, no que respeita às

funções e estruturas do corpo, os idosos avaliaram as funções da consciência (b110), funções

de orientação (b114), funções da atenção (b140), funções da memória (b144) e funções

mentais(b167) como: sem problemas. Por sua vez, as funções da força muscular (b730) e a

estrutura do membro superior (s730) foram avaliadas como deficiência ligeira e a estrutura do

cérebro (s110) como deficiência moderada.

No que concerne as atividades e participação, os resultados do estudo demonstram que os

idosos não apresentavam nenhuma dificuldade face ao falar (d330) e receber mensagens orais

(d310). A amostra apresentava também dificuldade ligeira ao nível do andar (d450), do lavar-

se (d510), do ir à casa de banho (d530) e do vestir-se (d540). Segundo Goljar et. al. (2011),

estas são as componentes que refletem os principais desafios para a reabilitação do AVC pós-

agudo para alcançar o funcionamento ideal dos utentes. Os resultados do presente estudo

estão em linha com os resultados obtidos por Geyeh et al, verificando-se que as componentes

que as componentes de Atividades e Participação podem ser, de facto, as mais relevantes para

os utentes com AVC. Importa clarificar que estas se relacionam com situações da vida

quotidiana, mostrando que o AVC interfere no dia a dia dos utentes e respetivas famílias.

Os resultados relativos aos fatores ambientais indicam que, aquando da alta, a família (e310),

os Profissionais de Saúde (e355), os Serviços, os Sistemas e as Políticas relacionadas com a

saúde (e580) não constituíam nenhum obstáculo. Como referido na literatura, as famílias

apresentam necessidades que vão desde os aspetos materiais até aos aspetos emocionais,

passando pela necessidade de informações frequentes. Mas o que se verifica na prática é cada

vez mais a escassez de cuidadores na família (Vicente, 2008). A existência de baixos

rendimentos e de um acesso deficitário à informação estão associados a uma diminuição na

participação social. Por isso, o estudo de Jaracz et. al. (2015) defende que os profissionais de

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saúde também devem reconhecer as necessidades dos cuidadores e fornecer informações

abrangentes, i. e., orientações de cuidados e apoio.

Considerando o exposto anteriormente, e de acordo com a revisão da literatura, os

profissionais de saúde deverão apoiar as famílias, diminuindo a carga de cuidados a prestar ao

utente, trazendo consequências positivas para todos os intervenientes. Verifica-se, pois, a

necessidade de realizar estudos mais aprofundados sobre o papel da família na reabilitação,

englobando parâmetros reconhecidos por estas como essenciais. Existe uma necessidade

urgente de repensar a forma como a família é integrada no processo de reabilitação, de modo

a tornar-se num facilitador na funcionalidade do utente, à semelhança do que se constatou

noutros estudos (Goljar et. al., 2010).

Shahan et al. (2018) avaliaram os impactos a longo prazo da lesão cerebrovascular. Os autores

seguiram, ao longo de cinco anos, setenta e sete utentes, dos quais seis sofreram AVC, e

verificaram que a medida de atividade média para os resultados de cuidados pós-agudos foi de

cinquenta e nove utentes (mobilidade), cinquenta e oito(atividade) e quarenta e quatro (função

cognitiva), cada um indicando um comprometimento significativo em comparação com o

normal. Ainda neste estudo, Shahan et al. (2018) identificaram um conjunto de preditores face

à mobilidade, atividade e função cognitiva: idade como preditor de mobilidade diminuída; o

score de gravidade da lesão como preditor de mobilidade reduzida, atividade e função

cognitiva; e AVC como preditor de diminuição da atividade, função cognitiva e provável

mobilidade (Shahan et al., 2018).

No que diz respeito à evolução do perfil funcional da admissão para a alta, os resultados

apontam para uma evolução na categoria estruturas do corpo, com maior frequência nas

funções de força muscular. Face às estruturas corporais, a progressão foi mais frequente na

estrutura do membro superior (s730), sendo que nas atividades e participação, constatou-se

uma evolução na maioria das atividades, com destaque para o andar (d450), o lavar-se (d510),

o ir à casa de banho (d530), o vestir-se (d540) e o comer (d550). Por fim, relativamente os

fatores ambientais, estes permaneceram inalterados para a maioria dos idosos. Comparando os

quatro componentes da CIF, verificou-se que as categorias com maior evolução correspondem

a atividades e participação e a categoria dos fatores ambientais foi a que apresentou um maior

número de idosos que pioraram e também um maior número de idosos sem alterações até ao

momento da alta.

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Estes resultados permitem perceber o impacto que um AVC tem na vida de uma pessoa e as

mudanças que este provoca no dia a dia da mesma, bem como a necessidade de se

compreender a experiência de viver com as sequelas ou as consequências de um AVC. No

âmbito desta matéria, Salter, Hellings, Foley e Teasell (2008) sugerem que a transformação

súbita e avassaladora do AVC constitui um pano de fundo para perda, incerteza e isolamento

social, mas por outro lado, os pacientes podem avançar para a adaptação e recuperação.

A utilização do Brief Core Set para AVC na descrição e caraterização do perfil de

incapacidade desta população, demonstrou a sua utilidade, relevância e aplicabilidade clínica

tal como o de Quintas et al. (2012) e de Geyh et al. (2004), permite evidenciar a utilidade e

aplicação breve do Brief Core Set da CIF e a importância deste instrumento ser utilizado na

prática clínica, nomeadamente, para planear intervenções com utentes que sofreram um AVC.

Também Goljar, Burger, Vidmar, Leonardi e Marinček (2011) concluíram, na sua

investigação, que a classificação das categorias da CIF com qualificadores permite detetar

alterações nos perfis funcionais de pacientes com AVC.

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45

8 - CONCLUSÃO

O presente estudo foi desenvolvido com a finalidade de descrever o perfil de funcionalidade e

incapacidade em idosos diagnosticados com AVC utilizando o Brief Core Set da CIF em

contexto de internamento, avaliando os utentes em dois momentos: na admissão e na alta.

Com base nos resultados obtidos, foi possível constatar que o AVC tem um impacto

significativo no quotidiano dos utentes idosos e respectivas famílias; e que o perfil funcional

de um idoso em situação de pós-AVC pode ser descrito através do Brief Core Set para o

AVC.

No intuito de promover um envelhecimento ativo e manter a independência dos idosos após o

AVC, o maior tempo possível, é indispensável a identificação do seu nível de funcionalidade,

daí a relevância na utilização da CIF.

A aposta terapêutica na funcionalidade constitui um importante contributo para o

envelhecimento ativo, possibilitando um maior envolvimento do idoso em diversas atividades,

tanto no domicílio como na comunidade em que está inserida.

A utilização do Brief Core Set permitiu conhecer aprofundadamente a funcionalidade e a

incapacidade, uma vez que privilegia o modelo biopsicossocial. Deste modo, permite uma

intervenção mais direcionada e específica, contribuindo para melhorar o desempenho do

idoso, facilitando a comunicação dos resultados no âmbito da equipa multidisciplinar

(linguagem comum e universal) e consequentemente apoiando a decisão clínica.

As principais limitações do trabalho reportam-se à amostra de conveniência, que não foi

subdividida de acordo com o tipo de AVC ou com o tempo de evolução. Além disso, os

participantes estavam internados em apenas uma instituição da região centro de Portugal.

Estudos futuros deverão analisar a influência do tipo de lesão e do tempo de evolução no

progresso dos utentes, medindo-o através do Brief Core Set da CIF, possibilitando assim uma

visão completa e abrangente da funcionalidade e incapacidade. Será igualmente pertinente

realizar estudos em mais do que uma instituição, validando a importância da CIF no traçar de

perfis de funcionalidade.

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ANEXOS

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ANEXO I

Categorias da CIF- Brief Core Sets para o AVC

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CIF – Core Sets for Stoke

Avaliação ID:_________ T: Dados Sócio Demográficos

Nome:

Idade:

Género:

Estado Civil:

Anos de escolaridade:

Profissão:

ICF categories ICF Qualificador problema 0 1 2 3 4 b110 Funções da consciência b114 Funções da orientação b140 Funções da atenção b144 Funções de memória b167 Funções Mentais b167 b730 Funções de força muscular s110 Estrutura do Cérebro s730 Estrutura do Membro Superior d310 Comunicar e receber mensagens orais d330 Falar d450 Andar d510 Lavar-se d530 Ir a casa de banho d540 Vestir-se d550 Comer FacilitadorBarreira 4+ 3+ 2+ 1+ 0 1 2 3 4 e310 Família e355 Profissionais de saúde e580 Serviços, sistemas e políticas

relacionadas com a saúde

Perfil categórico ICF - Qualificador ICF: classifique a extensão dos problemas (0 = nenhum problema ate 4 = problema completo) nos componentes das funções corporais (b), estruturas corporais (s), atividades e participação (d) e a extensão positiva (+) ou negativa dos fatores ambientais (e) e fatores pessoais (pf)

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ANEXO II

Aprovação da Comissão Ética da Instituição

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ANEXO III

Consentimento Informado

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CONSENTIMENTO Ex.mo(a) Senhor(a) O Estudo sobre “Fisioterapia e Evolução Funcional do Idoso numa Unidade de Cuidados

Continuados de Convalescença”.é parte integrante de um trabalho de mestrado de Joana

Marisa Martinho da Cruz . O estudo tem o aval e a colaboração do Instituto Politécnico de

Leiria Escola Superior de Saúde.

O objetivo geral desta investigação corresponde à caraterização da evolução funcional,

durante um período de três meses, dos utentes com diagnóstico de AVC submetidos a um

programa de fisioterapia, nos Cuidados Continuados de Convalescença do Centro de

Medicina Física e Reabilitação - Rovisco Pais.

Conhecer um pouco mais sobre o que se passa com a sua funcionalidade e saúde permitira

trata-lo ainda melhor no futuro.

A sua participação e inteiramente voluntaria, mas por favor considere que sem ela não será

possível levar este trabalho a bom termo. Participar não interfere, de modo algum, com o

tratamento que esta a fazer. Não implica quaisquer custos ou riscos para si. Os dados são

confidenciais. Nenhuma identificação pessoal será feita em qualquer publicação dos

resultados deste estudo.

A sua colaboração far-se-á apenas através do preenchimento de dois questionários em dois

momentos distintos, a entrada e a saída do seu internamento nesta unidade. Estes

questionários dizem respeito à avaliação da sua capacidade funcional e o modo como efetua

algumas tarefas da vida diária.

No momento do estudo estarei disponível para responder a qualquer dúvida que tenha acerca deste estudo. Tendo em vista a minha participação no estudo, eu Nome ________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ Pelo que me foi dado a ler e o que me foi explicado, aceito participar neste estudo. Data: _______/________/_________

O Participante: _______________________________

Muito Obrigada

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