filosofia

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O Racionalismo de Descartes Descartes considerava a razão a principal fonte do conhecimento, a fonte do conhecimento universal e necessário. Descartes procurou na razão os fundamentos do conhecimento. Só encontrando esses fundamentos é que seria possível superar os argumentos dos céticos radicais. O Método (inspirado na matemática- as proposições matemáticas têm origem exclusivamente racional e a priori) Existem quatro regras do método (permitem guiar a razão ou bom senso, orientando devidamente as operações fundamentais do espírito – a intuição – ato de apreensão direta e imediata de noções simples, evidentes e indubitáveis – e a dedução – encadeamento de intuições, envolvendo um movimento do pensamento, desde os princípios evidentes até às consequências necessárias): Regra da evidência: Não aceitar nada como verdadeiro se não se apresentar à consciência como claro e distinto, sem qualquer margem para dúvidas. Regra da análise: Dividir cada uma das dificuldades em partes, para melhor as resolver. Regra da síntese: Começar pelo mais simples e fácil de compreender e subir gradualmente para o mais complexo. Regra da revisão/enumeração: Fazer enumerações tão completas e revisões tão gerais, que tivesse a certeza de nada omitir. A existência de uma ordem entre os vários pensamentos radica no facto de a sabedoria humana permanecer una e idêntica. A ela se reduzem todas as ciências, cujos fundamentos importa estabelecer. A filosofia é comparada a uma árvore: as raízes equivalem à metafísica (é por ela que se deve começar a fim de encontrar os princípios fundamentais do conhecimento humano), o tronco é a física e os ramos são todas as outras ciências, que se reduzem a três principais: a medicina, a mecânica e a moral, a mais elevada e perfeita moral que, pressupondo um inteiro conhecimento das outras ciências, é o último grau da sabedoria. A principal utilidade da filosofia depende, assim, das partes que só se podem aprender em último lugar. A dúvida A dúvida traduz um momento importante do método. Por meio dela, recusaremos todas as crenças em que se note a mínima suspeita de incerteza – embora as verdades da Revelação, por pertencerem ao âmbito da fé e do sobrenatural, não sejam sujeitas à dúvida. Instrumento da luz natural ou razão, a dúvida é posta ao serviço da verdade. Descartes adota inicialmente a postura do cético, sujeitando à dúvida todas as crenças. É necessário colocar tudo em causa, no processo de busca dos princípios fundamentais e indubitáveis. Se alguma crença resistir à dúvida, então ela poderá ser a base ou o fundamento para as restantes. A dúvida justifica-se pelas seguintes razões: Por causa dos preconceitos e dos juízos precipitados que formulámos na infância. Porque os sentidos muitas vezes nos enganam e seria imprudência depositar confiança excessiva naqueles que nos enganam, mesmo que só uma vez. Convêm, portanto, fazer de conta que os sentidos nos enganam sempre. Porque não dispomos de um critério que nos permita discernir o sonho da vigília. Podemos estar a sonhar e não o sabemos: não temos justificação para acreditar que estamos despertos. Isso fará com que tudo o que julgamos saber seja ilusório. Porque alguns seres humanos se enganaram nas demonstrações matemáticas. Porque é possível que exista um deus enganador, ou um génio maligno, que nos ilude a respeito da verdade, fazendo com que estejamos sempre enganados, seja o tocante às verdades e às demonstrações das matemáticas, seja no que se refere à própria existência

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Descartes e Hume

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O Racionalismo de Descartes Descartes considerava a razo a principal fonte do conhecimento, a fonte do conhecimento universal e necessrio. Descartes procurou na razo os fundamentos do conhecimento. S encontrando esses fundamentos que seria possvel superar os argumentos dos cticos radicais. O Mtodo (inspirado na matemtica- as proposies matemticas tm origem exclusivamente racional e a priori)Existem quatro regras do mtodo (permitem guiar a razo ou bom senso, orientando devidamente as operaes fundamentais do esprito a intuio ato de apreenso direta e imediata de noes simples, evidentes e indubitveis e a deduo encadeamento de intuies, envolvendo um movimento do pensamento, desde os princpios evidentes at s consequncias necessrias): Regra da evidncia: No aceitar nada como verdadeiro se no se apresentar conscincia como claro e distinto, sem qualquer margem para dvidas. Regra da anlise: Dividir cada uma das dificuldades em partes, para melhor as resolver. Regra da sntese: Comear pelo mais simples e fcil de compreender e subir gradualmente para o mais complexo. Regra da reviso/enumerao: Fazer enumeraes to completas e revises to gerais, que tivesse a certeza de nada omitir.

A existncia de uma ordem entre os vrios pensamentos radica no facto de a sabedoria humana permanecer una e idntica. A ela se reduzem todas as cincias, cujos fundamentos importa estabelecer. A filosofia comparada a uma rvore: as razes equivalem metafsica ( por ela que se deve comear a fim de encontrar os princpios fundamentais do conhecimento humano), o tronco a fsica e os ramos so todas as outras cincias, que se reduzem a trs principais: a medicina, a mecnica e a moral, a mais elevada e perfeita moral que, pressupondo um inteiro conhecimento das outras cincias, o ltimo grau da sabedoria. A principal utilidade da filosofia depende, assim, das partes que s se podem aprender em ltimo lugar. A dvidaA dvida traduz um momento importante do mtodo. Por meio dela, recusaremos todas as crenas em que se note a mnima suspeita de incerteza embora as verdades da Revelao, por pertencerem ao mbito da f e do sobrenatural, no sejam sujeitas dvida. Instrumento da luz natural ou razo, a dvida posta ao servio da verdade. Descartes adota inicialmente a postura do ctico, sujeitando dvida todas as crenas. necessrio colocar tudo em causa, no processo de busca dos princpios fundamentais e indubitveis. Se alguma crena resistir dvida, ento ela poder ser a base ou o fundamento para as restantes.A dvida justifica-se pelas seguintes razes: Por causa dos preconceitos e dos juzos precipitados que formulmos na infncia. Porque os sentidos muitas vezes nos enganam e seria imprudncia depositar confiana excessiva naqueles que nos enganam, mesmo que s uma vez. Convm, portanto, fazer de conta que os sentidos nos enganam sempre. Porque no dispomos de um critrio que nos permita discernir o sonho da viglia. Podemos estar a sonhar e no o sabemos: no temos justificao para acreditar que estamos despertos. Isso far com que tudo o que julgamos saber seja ilusrio. Porque alguns seres humanos se enganaram nas demonstraes matemticas. Porque possvel que exista um deus enganador, ou um gnio maligno, que nos ilude a respeito da verdade, fazendo com que estejamos sempre enganados, seja o tocante s verdades e s demonstraes das matemticas, seja no que se refere prpria existncia das coisas (da o carter metafsico da dvida). Esta hiptese equivale a admitir que o entendimento humano de tal natureza que se engana sempre, mesmo quando pensa captar a verdade, parecendo condenar-nos a uma situao sem sada.

Caratersticas da dvida: Metdica e provisria - um meio para atingir a certeza e a verdade, no constituindo um fim em si mesma. Esta ltima atitude seria tpica dos filsofos cticos. Hiperblica - Rejeita como se fosse falso tudo aquilo em que se note a mnima suspeita de incerteza Universal e radical - Incide no s sobre o conhecimento em geral, como tambm sobre os seus fundamentos e as suas razes.A dvida um exerccio voluntrio e uma suspenso do juzo. Tem uma funo catrtica, j que liberta o espirito dos erros que o podem perturbar ao longo do processo de indagao da verdade. necessrio que a razo, num processo marcado pela autonomia, alcance princpios evidentes, universais. Ao permitir que nos libertemos de preconceitos e opinies errneas, a dvida abre caminho possibilidade de reconstruir, com fundamentos slidos, o edifcio do saber. O cogitoSendo um ato livre da vontade, a dvida acabar por conduzir a uma verdade incontestvel: a afirmao da minha existncia enquanto ser que pensa e que duvida. Ainda que o gnio maligno me engane, ele no conseguir nunca que eu seja nada enquanto eu pensar que sou alguma coisa. Daqui decorre a natureza absolutamente verdadeira da afirmao Penso, logo existo. (Cogito, ergo sum).

O filsofo observa que no h nada nesta afirmao que lhe garanta que ele est a dizer a verdade, exceto o facto de ele ver claramente que, para pensar, preciso existir. Assim, pode adotar-se a ideia de que verdadeiro tudo o que concebemos muito claramente e muito distintamente. O cogito fornece, deste modo, o critrio de verdade, que consiste na clareza e distino das ideias. Um conhecimento assim evidente. A clareza diz respeito presena da ideia no esprito e a distino equivale separao de uma ideia relativamente a outras, de tal modo que a ela no estejam associados elementos que no lhe pertenam. Caratersticas do cogito um princpio evidente e indubitvel, uma certeza inabalvel obtida por intuio do modo inteiramente racional e a priori. Serve de modelo do conhecimento: fornece o critrio da verdade. Surge como primeira verdade, ou crena fundacional, servindo de alicerce a todo o sistema do saber. Apresenta a condio da dvida hiperblica (uma vez que existir a condio para se poder duvidar) e impe uma exceo sua universalidade (h pelo menos uma realidade da qual eu no posso duvidar: a minha prpria existncia). Revela a natureza ou a essncia do sujeito (o pensamento ou alma), na medida que a apreenso intuitiva da existncia mostra-nos como esta indissocivel do prprio pensamento (que se refere a toda a actividade consciente. Ex: duvidar, negar, afirmar, conhecer, ignorar, sentir e imaginar). A alma distinta do corpo e conhecida antes dele e de tudo o resto, de forma bastante mais fcil, ao contrrio daquilo que os preconceitos nos costumam indicar. Quer o corpo exista ou no, a alma independente deste. Mas ainda no afastmos a hiptese do deus enganador. Necessitamos de demonstrar a existncia de um deus que no nos engane mas que nos traga segurana e seja garantia das verdades, afastando de vez qualquer ameaa de ceticismo. A existncia de DeusApesar de evidente, o cogito uma certeza subjetiva. Torna-se, pois, necessrio averiguar o que se encontra na base do pensamento e na origem da existncia do sujeito pensante. Este descobre-se como um ser imperfeito. Possuir o saber ser uma perfeio maior do que duvidar. O sujeito, enquanto ser pensante, dispe de ideias que podem ser: Adventcias tm origem na experiencia sensvel. (Ex: ideias de barco, copo e co) Factcias so fabricadas pela imaginao. (Ex: ideias de centauro, drago e sereia) Inatas so ideias constitutivas da prpria razo, sendo, por isso, claras e distintas. (Ex: ideias de pensamento, existncia e ideias matemticas). Estas ideias so chamadas de sementes das cincias; verdades eternas; verdadeiras e imutveis naturezas, sendo essncias puramente inteligveis e inteiramente independentes da contribuio da perceo sensvel, noes que a ascese rigorosa da dvida metdica, voluntria, radical, revelar na nossa alma. Entre as ideias inatas encontra-se a noo de ser perfeito, um ser omnisciente, omnipotente e sumamente bom. A ideia de ser perfeito servir de ponto de partida para a investigao relativa existncia de um ser divino. Descartes demonstra a existncia de Deus mediante trs provas: Primeira prova parte da constatao de que na ideia de ser perfeito esto compreendidas todas as perfeies. A existncia uma dessas perfeies. Por conseguinte, Deus existe necessariamente. O facto de existir inerente essncia de Deus, de tal modo que este ser no pode ser pensado como no existente. A sua existncia apresenta um carter necessrio e eterno. Esta prova designada argumento ontolgico, sendo desenvolvida a priori, sem recurso causalidade ou experincia. Segunda prova toma igualmente como ponto de partida a ideia de ser perfeito. Podemos procurar a causa que faz com que essa ideia se encontre em ns. Tal causa no pode ser o sujeito pensante, ser imperfeito. De facto, essa causa representa uma substancia infinita. Nesse sentido, o sujeito pensante, sendo finito, no a causa da realidade objectiva de tal ideia. O nada tambm no pode ser a sua causa, assim como qualquer ser imperfeito. A causa da ideia de Deus no outro ser seno Deus. Com efeito, Deus uma realidade que possui todas as perfeies representadas na ideia de ser perfeito. ele o prprio ser perfeito e a causa originria da ideia de perfeio. A este argumento tambm se chama argumento da marca impressa. Terceira prova baseia-se igualmente no princpio da causalidade. A causa da existncia do ser pensante (contingente) e imperfeito no ele prprio. De contrrio, daria a si prprio as perfeies de que tem ideia. Alm disso, como o sujeito finito no possui o poder de se conservar no seu prprio ser, o seu criador e conservador Deus, sendo perfeito, no necessita de ser criado nem conservado por outro ser (causa sui). Deus , portanto, o criador do ser pensante e de toda a realidade. Caratersticas de Deus e a sua importncia no sistema Cartesiano: Ser perfeito, no enganador. a garantia da verdade objetiva das ideias claras e distintas. o criador das verdades eternas, a origem do ser e o fundamento da certeza. Garante a adequao entre o pensamento evidente e a realidade, legitimando o valor da cincia e conferindo objectividade ao conhecimento. infinito, a fonte do bem e da verdade. omnipotente, eterno e omnisciente. Embora criador do Universo, no autor do mal nem responsvel pelos nossos erros. o princpio do ser e do conhecimento. Permite superar os argumentos dos cticos radicais e provar a existncia do mundo exterior. A teoria do erro e as trs substnciasNa formulao de juzos, o entendimento tem um papel fundamental, sendo a vontade necessria para darmos o consentimento aos juzos que o entendimento formula. Sendo livre, ela quem decide dar (ou no) o assentimento aos juzos. Erramos, por isso, quando se verifica uma precipitao da vontade, quando usamos mal a nossa liberdade e damos consentimento a juzos que no so evidentes.No que se refere aos corpos, s o conceito de extenso (em comprimento, largura e altura) nos fornece um conhecimento claro e distinto. s qualidades objectivas (grandeza, durao, figura) contrapem-se as qualidades subjectivas (sabor, cor, cheiro, som) que no esto presentes enquanto tais nos corpos. Para Descartes, podemos, deste modo, ter ideias claras e distintas dos atributos essenciais de trs tipos de substncias: Substncia pensante (res cogitans) Pensamento (alma) 1 convico Substncia extensa (res extensa/materialis) Extenso (corpo e qualidades objetivas) Substncia divina (res divina) - Vrios atributos, todos eles numa perfeio infinita. 2 convicoEm virtude da simplicidade divina, todos os atributos de Deus so essenciais. Por sua vez, o ser humano constitui uma unidade de duas substncias: a unidade da alma (substncia pensante) e do corpo (substncia extensa). O conceito de substancia no unvoco quando aplicado a Deus e s criaturas. Segundo Descartes, a substancia uma coisa que existe de tal maneira que apenas tem necessidade de si mesma para existir, o que s aplicvel a Deus. Apesar disso, quando se estabelece uma relao entre as substncias e os atributos, j se pode afirmar que aquelas no dependem destes, ao passo que estes dependem daquelas. O fundacionalismo de Descartes Descartes usou um mtodo que lhe permitiu fundamentar o conhecimento humano. As ideias fundamentais so inatas, impondo-se diversidade emprica. O sujeito impe-se ao objecto atravs de noes que traz em si. A razo, desde que devidamente orientada, capaz de alcanar verdades universais, traduzidas no conhecimento claro e distinto. As principais verdades, das quais se deduziro as restantes, so: A existncia do pensamento (alma), traduzida no cogito; A existncia de Deus, ser perfeito, com os atributos respetivos; A existncia de corpos extensos em comprimento, largura e altura.Para Descartes, o fundamento do conhecimento o cogito, enquanto crena bsica ou fundacional e primeira verdade, e outras ideias claras e distintas da razo. Todavia, este fundamento do conhecimento depende daquele que o princpio de toda a realidade: Deus. Deus no s no responsvel pelos nossos erros (estes decorrem de um maus uso da liberdade), como confere objectividade a todo o conhecimento.

A perspectiva cartesiana est sujeita a uma objeo: o crculo cartesiano. Por um lado, o facto de ser clara e distinta a ideia que temos de Deus que nos garante que Deus existe. Mas, por outro lado, Deus (que existe e no enganador) que garante a verdade e a objectividade das ideias claras e distintas incluindo a prpria ideia de Deus como ser perfeito.

Sobre uma crena fundamental como o cogito assenta o edifcio do saber. Mas, por outro lado, Descartes necessita de Deus para garantir a verdade e a objectividade do conhecimento. Ao servir-se da dvida metdica, Descartes procurou combater o dogmatismo do realismo ingnuo, assim como a submisso, sem exame, a qualquer tipo de autoridade. Mas naturalmente que, ao depositar grande confiana na razo e ao considerar ser possvel alcanar a certeza e a verdade, a sua filosofia acaba por se enquadrar no mbito do dogmatismo s que agora num sentido que nada tem a ver com o dogmatismo ingnuo ou com a falta de exame critico - , opondo-se ao ceticismo de David Hume. O Empirismo de David HumeDavid Hume privilegia o conhecimento a posteriori, admitindo que a capacidade do entendimento humano limitada. Segundo Hume, o conhecimento deriva fundamentalmente da experincia, tendo todas as crenas e ideias tm uma base emprica, at as mais complexas. na experincia que deve ser procurado o fundamento do conhecimento.Elementos do conhecimento

As vrias percepes humanas so classificadas por Hume segundo o critrio da vivacidade e da fora com que so susceptveis de impressionar o espirito. Assim, distinguem-se: - Impresses: so as percees com maior grau de fora e vivacidade. Nelas incluem-se as sensaes (auditivas, visuais), as emoes e as paixes (amor, dio, desejo, ira), enquanto vivenciadas e presentes ao espirito. A perceo de algo presente aos sentidos sempre mais viva que a sua representao. (Ex: a cor de uma flor)- Ideias/pensamentos: So as representaes das impresses, ou as suas imagens enfraquecidas, nunca alcanando a mesma vivacidade, intensidade e fora das anteriores. (Ex: a memria da cor de uma flor) Relativamente s diferentes ideias, Hume considera que as ideias da memria so mais fortes e vvidas que as da imaginao.Relao entre impresses e ideias: as ideias derivam das impresses. No s cada ideia deriva de determinada impresso, como no podem existir ideias das quais no tenha havido uma impresso prvia. Sendo as ideias cpias das impresses, no h ideias inatas. As impresses e ideias podem ser divididas em simples e complexas:- Simples: No admitem qualquer separao ou diviso (sensao visual de um tom de verde/memria de um tom de verde)- Complexas: Podem ser divididas em partes, resultando da combinao das impresses ou das ideias simples (ver uma certa ma/pensar numa certa ma.Ideias simples derivam de impresses simples, mas muitas ideias complexas no resultam de impresses complexas. O critrio usado para distinguir uma ideia verdadeira de uma fico passa a ser a existncia, ou no, de uma impresso que lhes corresponda embora tambm as fices tenham por base, em ltima instncia, as impresses, uma vez que so ideias construdas a partir destas. A ideia de Deus, por exemplo, referindo-se a um Ser infinitamente inteligente, sbio e bom, uma ideia complexa que tem por base ideias simples que a mente e a vontade compem, elevando sem limite as qualidades de bondade e sabedoria. Nenhum objeto da experincia sensvel lhe corresponde.As ideias e as impresses so os elementos do conhecimento. Por isso, na experiencia que se encontra o fundamento para o conhecimento. Tudo acaba por se reduzir multiplicidade das impresses e das ideias, bem como das relaes entre elas. No h conhecimento fora dos limites impostos pelas impresses.

Tipos ou modos de conhecimentoHume distingue dois tipos de conhecimento: o conhecimento das relaes que existem entre as ideias (relaes de ideias) e o conhecimento de factos (questes de facto). Tendo todas as ideias uma origem emprica, no dispomos de conhecimentos a priori sobre o mundo propriamente dito que , afinal, o mundo da experiencia. Tal no significa que no haja conhecimentos a priori. Eles existem, mas nada nos dizem de substancial acerca do mundo.

Relaes de Ideias Conhecimento a priori, traduzido em proposies necessrias (baseando-se no principio fundamental da lgica: principio da no contradio) cuja verdade no est dependente do confronto com a experincia. So sempre verdadeiras, em quaisquer circunstncias (universais). Neg-las implica contradio (necessrias). So os conhecimentos da lgica e da matemtica. Estes conhecimentos apresentam, assim, um carter evidente. Ex: 2+2=4 / Uma casa amarela coloridaQuestes de Facto - Conhecimento a posteriori, traduzido em proposies contingentes (e no necessrias) cuja justificao se encontra na experincia sensvel. So proposies verdadeiras mas poderiam ter sido falsas. Neg-las no implica contradio. Ex: O calor dilata os corpos / Scrates foi um filsofo grego.

A distino entre relaes de ideias e questes de facto , de certa maneira, equivalente distino entre juzos analticos e juzos sintticos (a posteriori).

Causalidade e conexo necessria

A ordem e regularidade das nossas ideias assentam em princpios que permitem uni-las e associ-las. Os princpios de associao de ideias so:Semelhana Um rosto desenhado remete-nos para o original / Uma ave desenhada num papel faz lembrar uma ave que vemos voar.Contiguidade no tempo e no espao A lembrana de um comboio leva a pensar na estao, nos passageiros / A recordao de uma festa de aniversrio leva recordao dos amigos que estavam presentes.Causalidade (causa e efeito) A gua posta ao lume (causa) faz pensar na fervura (efeito) que se lhe seguir / O vinho que se bebeu em excesso (causa) faz pensar nas desagradveis consequncias que da adviro (efeito).

Os nossos raciocnios acerca dos factos baseiam-se nas relaes de causa e efeito. O nosso conhecimento dos factos restringe-se s impresses atuais e s recordaes de impresses passadas. S com base nessas impresses e recordaes que podemos justificar as nossas crenas. Uma vez que no dispomos de impresses relativas ao que acontecer no futuro, no possumos o conhecimento desses factos. Apesar disso, h factos que esperamos que se verifiquem no futuro (Ex: o papel queimar quando posto em contacto com o fogo). Trata-se de verdades contingentes, relativas s questes de facto e que tm por base uma inferncia causal (processo mental que tenta descrever relaes atravs de comparaes). Constata-se assim que a ideia de cause aquela que preside s nossas inferncias acerca dos factos futuros. Essas inferncias tm um carter indutivo (baseia-se em casos passados e antev casos ainda no observados). Mas a relao de causa e efeito geralmente entendida como sendo uma conexo necessria, isto , acredita-se que determinado efeito se produzir necessariamente a partir do momento em que existe uma determinada causa (Ex: o fogo queima sempre e necessariamente, no havendo queima sem fogo). Acontece, no entanto, que no dispomos de qualquer impresso relativa ideia de conexo necessria entre fenmenos. Ningum v ou percepciona uma conexo necessria. Sabemos que s a partir da experincia que se pode conhecer a relao entre a causa e o efeito (conhecimento a posteriori). Mas a nica coisa que percepcionamos que entre dois fenmenos, eventos ou objectos, se verifica uma conjuno constante: um deles ocorreu sempre a seguir ao outro. Isso leva-nos a concluir que entre eles h uma conexo necessria, o que um erro, segundo Hume.

Hume apresenta uma srie de argumentos que visam provar que a ideia de conexo necessria no decorre de nenhuma impresso externa ou interna, o que o leva a concluir que no surge, em toda a natureza, um nico exemplo de conexo que possamos conceber. Por isso, o nosso conhecimento acerca dos factos futuros no rigoroso. Trata-se apenas de uma suposio ou probabilidade, um conhecimento que assenta unicamente numa expectativa. Tal no significa que no estejamos certos de que o fogo queimar. Contudo, esta certeza tem apenas um fundamento psicolgico: o hbito ou costume. o hbito de ver um facto suceder a outro que nos leva crena de que sempre assim suceder. Ora, o hbito um guia imprescindvel da vida prtica, mas no constitui um princpio racional.

O eu, o mundo e DeusA inferncia causal apenas se pode aceitar quando estabelecida entre impresses, no sendo legitimo passar das impresses para algo de que nunca tenhamos tido qualquer impresso, j que nos devemos limitar experiencia. As trs substancias que Descartes concebera clara e distintamente (eu, mundo realidade exterior e Deus) deixam de fazer parte do horizonte no nosso conhecimento. O Eu: Descartes achara indubitvel a existncia do eu pensante, objecto de uma intuio imediata. Por outro lado, Hume considera que no se deve recorrer a nenhum tipo de intuio para justificar a existncia do eu como substancia dotada de realidade permanente, como sujeito imutvel dos vrios atos psquicos. Com efeito, s dispomos de intuio de ideias e impresses, e entre elas verifica-se a sucesso e a mutabilidade; nenhuma delas apresenta um carter de permanncia. Assim, a crena na identidade, na unidade e na permanncia do eu apenas um produto da imaginao, no sendo possvel afirmar que existe o eu como substncia distinta em relao s impresses e s ideias.

Mundo (realidade exterior): As impresses constituem a nica realidade acerca da qual dispomos de alguma certeza. A esse nvel, as nicas inferncias vlidas que podemos produzir devem ser baseadas na relao causa e efeito estabelecida apenas entre as impresses. Assim, s podemos considerar real um hipottico mundo exterior se as coisas forem independentes das nossas impresses (Ex: se uma flor existir independentemente das impresses que temos dela). Ora, o problema reside justamente no facto de naos termos experincia de tal realidade exterior. S temos acesso s nossas percepes (impresses e ideias). Logo, afirmar a existncia de uma realidade que seja a causa das nossas impresses e que seja distinta delas e exterior a elas algo desprovido de sentido. Trata-se de uma crena injustificvel. De onde procedem as nossas impresses? No sabemos. So a coerncia e a constncia de certas percepes que nos levam a acreditar que h coisas externas, dotadas de uma existncia continua e independente.

Deus: No que se refere existncia de Deus, reconhecendo que o concebermos com existente tambm o podemos considerar como no existente, Hume conclui que no existe um ser cuja existncia esteja partida demonstrada. Como tal, o argumento ontolgico desde logo excludo. Tambm as provas da existncia de Deus baseadas no princpio da causalidade so criticadas por Hume, uma vez que partem das impresses para chegar a Deus; mas Deus no objecto de qualquer impresso. A ideia de Deus resulta de uma construo mental em que se elevam sem limite as qualidades da bondade e sabedoria. Nesse caso, parece pouco sensato recorrer a Deus (como fez Descartes) para explicar a existncia do mundo exterior e para garantir a objectividade do conhecimento. O fundacionalismo de HumeO empirismo de Hume, traduz-se nas seguintes consequncias: Fenomenismo: S conhecemos as percees, pelo que a realidade (pelo menos aquela a que acedemos) acaba por se reduzir aos fenmenos, ou seja, quilo que se mostra ou aparece. No encontramos qualquer princpio, ou fundamento, susceptvel de conferir unidade e conexo s percees e que delas se diferencie (nem uma realidade exterior nem uma substancia pensante). Ceticismo: Como a realidade a que temos acesso se reduz s percees, a crena na existncia de algo para l dos fenmenos carece de fundamento. Alm disso, a capacidade cognitiva do entendimento humano limita-se ao mbito do provvel. O ceticismo de Hume revela um duplo aspeto: - um ceticismo relativamente s teorias metafsicas, que procuram ultrapassar o mbito da experiencia e da observao, o que este considera inaceitvel;- um ceticismo mitigado ou moderado, uma vez que o filsofo reconhece as limitaes das nossas capacidades cognitivas e a nossa propenso para o erro.

Hume afasta-se do ceticismo radical. Se duvidssemos de tudo, se abandonssemos a crena na realidade do mundo exterior e no princpio da causalidade (mesmo que este no tenha um valor objectivo), cairamos numa hesitao constante e a vida prtica tornava-se insuportvel. Tambm as cincias no se poderiam desenvolver, j que elas assentam nas relaes causais que estabelecemos entre os fenmenos. Hume fundacionalista porque encontra na razo o fundamento da experincia. As crenas bsicas para um empirista so pois, as crenas de que se est a ter estas ou aquelas experincias. A tais crenas subjazem as impresses dos sentidos. A crena de que se est a ter determinada experincia permite evitar a regresso infinita da justificao. No caso de Hume, ser difcil encontrar outras crenas bsicas para l desta.

Comparao das teorias de Descartes e HumeAmbas as teorias procuram evitar a regresso infinita da justificao, assentando em crenas bsicas distintas.

A razo a fonte principal do conhecimento racionalismo. Devidamente guiada pelo mtodo, a razo poder alcanar princpios evidentes, claros e distintos, independentes da experincia. DESCARTESHUMEOrigem do conhecimentoOperaes da mente e ideiasPossibilidade do conhecimentoPerspetivas metafsicasFundamentao do conhecimentoH ideias factcias, adventcias e inatas. A partir das ltimas, obtm-se o conhecimento mediante as operaes fundamentais da mente: intuio e deduo.Usando a dvida, Descartes adotou um ceticismo metdico. Mas, porque depositava inteira confiana na razo, poder ser enquadrado, no que se refere possibilidade do conhecimento, no mbito do dogmatismo.Podemos ter ideias claras e distintas dos atributos essenciais de trs tipos de substncias: pensante, extensa e divina.O fundamento do conhecimento encontra-se na razo: o cogito, enquanto crena bsica e primeira verdade, e outras ideias claras e distintas da razo. Todavia, este fundamento do conhecimento depende do princpio de toda a realidade: Deus.A experincia a fonte principal do conhecimento e todas as ideias tm uma origem emprica empirismo. Deste modo, tambm as ideias que conduzem a proposies evidentes e necessrias (relaes de ideias) derivam, em ltima anlise, da experincia. No h ideias inatas. As ideias associam-se por semelhana, contiguidade no tempo e no espao e causalidade. Sublinha-se o papel do raciocnio indutivo. A realidade a que temos acesso reduz-se esfera das percees. A capacidade cognitiva do entendimento humano limita-se ao mbito do provvel (ceticismo mitigado). Nada podemos conhecer para l do mbito da experincia (ceticismo metafsico).No encontramos qualquer princpio que confira unidade e conexo s percees. No temos impresses do eu pensante, de uma realidade exterior e de Deus.O fundamento do conhecimento encontra-se na experincia, mais propriamente nas impresses dos sentidos. a crena bsica de que se est a ter determinada experincia que justifica as crenas obtidas atravs dela.