filipe soares franco de que é feito um leão · 2013-02-11 · sportinguista a conhecer o...

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Filipe Soares Franco é o presidente do Sporting Clube de Portugal no momento em que o clube se prepara para celebrar o primeiro centenário de vida. Recebe-nos entre uma e outra reunião, no Estádio José Alvalade, o local apropriado para falar do seu tempo e da sua visão de futuro. SOCIEDADE Vanda Jorge - O campeonato ainda não arrancou mas percebe-se que tem a agenda completamente preenchida. Para um presidente de um clube de fute- bol não há épocas, é isso? Esta é uma vida a tempo inteiro? Filipe Soares Franco - Eu não sou um presidente a tempo inteiro mas, de facto, a vida de um presi- dente não tem épocas, porque no interregno é preciso trabalhar para a temporada seguinte e durante o próprio Campeonato. Há pouco tempo para relaxar e descansar; é preciso disci- plinar a vida e impor a nós próprios o descanso, caso contrário, é de facto muito absorvente. VJ - Há um perfil próprio para se ser presidente do Sporting Clube de Portugal? FSF - Não, acho que o Sporting se pauta por um conjunto de princípios e de valores e o que é preciso é que um presidente se enquadre neles. Agora, a partir do momento que abrange esses princípios e esses valores, cada presidente tem o seu estilo, tem o seu perfil, a sua maneira de ser, o seu carácter e a sua maneira de estar na vida, e é interessante ver ao longo dos anos do clube a heterogeneidade de estilos dos pre- sidentes. VJ - Talvez ser sportinguista seja um dos requisitos... É sportinguista desde sempre? FSF - Desde que acordei! Costumo dizer que na vida não escolhemos o nosso nome porque são os nossos pais; não temos influência na nossa religião porque são os pais que nos levam à Pia baptismal; também são os pais a escolher o primeiro colégio para onde vamos. A primeira grande decisão racional que tomamos quando somos crianças é o clube que escolhemos. É uma escolha também com paixão, sobretudo no meu caso que venho de uma família com o pai e o irmão benfiquistas. A minha escolha foi racio- nal, emocional e com toda a paixão. VJ - Faz parte do digníssimo grupo de personalidades nacionais eleitas pelo contra-informação... FSF - Risos... VJ - Estava preparado para a exposição pública, para o mediatismo que se gera à volta de quem se move no mundo do futebol, o desporto de multidões, de emoções... FSF - Acho que nunca ninguém está preparado mesmo que saiba o que isto é. Estou no futebol há muitos anos e já passei pela vida do dirigis- mo, mas nada se compara com o impacto de ser a figura número um de um clube tão grande como o Sporting. Retira muita privacidade à vida das pessoas, não é só pelo mediatismo a que se é constantemente exposto, é também por se passar a ser uma pessoa conhecida. A qualquer sítio que se vá somos sempre confrontados com um comentário, um cumprimento ou uma ma- nifestação qualquer que nos faz sentir que nunca estamos efectivamente a desfrutar da nossa pró- pria privacidade. VJ - Costuma dizer que sempre quis ser empresário. A construção civil surgiu por acaso, ou já estava incluí- da nesse desejo? FSF - Completamente por acaso! Caiu do céu em finais de 1995, fruto do meu contacto com o sector da construção, da minha relação, na altu- ra, com os accionistas do Banco Espírito Santo e também fruto de uma relação profissional que tinha com uma empresa francesa. Juntaram-se estes ingredientes e ‘aterrei’ numa empresa, na altura chamava-se Tecnovia, da qual abandonei os cargos executivos em 2000. VJ - Desdobra-se entre duas presidências distintas como é a da OPCA (Obras Públicas e Cimento Armado, S.A) e a do Sporting...como é que se faz esta gestão? FSF - Primeiro, e por graça, digo-lhe que se gerem no mesmo edifício o que é uma grande van- tagem em termos de tempo, e o tempo nestas alturas é um bem escasso. Segundo gerem-se, texto Vanda Jorge > fotos Ana Baião De que é feito um leão Filipe Soares Franco «A primeira grande decisão racional que tomamos quando somos crianças é o clube que escolhemos. É uma escolha também com paixão, sobretudo no meu caso que venho de uma família com o pai e o irmão benfiquistas.» Filipe Soares Franco 28 < ESPIRAL DO TEMPO

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Page 1: Filipe Soares Franco De que é feito um leão · 2013-02-11 · sportinguista a conhecer o protótipo da edição que será limitada a 366 peças, o total de dias de festi-vidades

Filipe Soares Franco é o presidente do Sporting Clube de Portugal no momento em que

o clube se prepara para celebrar o primeiro centenário de vida. Recebe-nos entre uma

e outra reunião, no Estádio José Alvalade, o local apropriado para falar do seu tempo e

da sua visão de futuro.

SOCIEDADE

Vanda Jorge - O campeonato ainda não arrancou mas

percebe-se que tem a agenda completamente

preenchida. Para um presidente de um clube de fute-

bol não há épocas, é isso? Esta é uma vida a tempo

inteiro?

Filipe Soares Franco - Eu não sou um presidente atempo inteiro mas, de facto, a vida de um presi-dente não tem épocas, porque no interregno é preciso trabalhar para a temporada seguinte edurante o próprio Campeonato. Há poucotempo para relaxar e descansar; é preciso disci-plinar a vida e impor a nós próprios o descanso,caso contrário, é de facto muito absorvente.

VJ - Há um perfil próprio para se ser presidente do

Sporting Clube de Portugal?

FSF - Não, acho que o Sporting se pauta por um conjunto de princípios e de valores e o queé preciso é que um presidente se enquadre neles.Agora, a partir do momento que abrange essesprincípios e esses valores, cada presidente tem o seu estilo, tem o seu perfil, a sua maneira deser, o seu carácter e a sua maneira de estar na vida, e é interessante ver ao longo dos anos do clube a heterogeneidade de estilos dos pre-sidentes.VJ - Talvez ser sportinguista seja um dos requisitos...

É sportinguista desde sempre?

FSF - Desde que acordei! Costumo dizer que navida não escolhemos o nosso nome porque sãoos nossos pais; não temos influência na nossareligião porque são os pais que nos levam à Piabaptismal; também são os pais a escolher oprimeiro colégio para onde vamos. A primeiragrande decisão racional que tomamos quandosomos crianças é o clube que escolhemos. É umaescolha também com paixão, sobretudo no meucaso que venho de uma família com o pai e oirmão benfiquistas. A minha escolha foi racio-nal, emocional e com toda a paixão.

VJ - Faz parte do digníssimo grupo de personalidades

nacionais eleitas pelo contra-informação...

FSF - Risos...

VJ - Estava preparado para a exposição pública, para

o mediatismo que se gera à volta de quem se move

no mundo do futebol, o desporto de multidões, de

emoções...

FSF - Acho que nunca ninguém está preparadomesmo que saiba o que isto é. Estou no futebolhá muitos anos e já passei pela vida do dirigis-mo, mas nada se compara com o impacto de sera figura número um de um clube tão grandecomo o Sporting. Retira muita privacidade àvida das pessoas, não é só pelo mediatismo a que

se é constantemente exposto, é também por sepassar a ser uma pessoa conhecida. A qualquersítio que se vá somos sempre confrontados comum comentário, um cumprimento ou uma ma-nifestação qualquer que nos faz sentir que nuncaestamos efectivamente a desfrutar da nossa pró-pria privacidade.

VJ - Costuma dizer que sempre quis ser empresário. A

construção civil surgiu por acaso, ou já estava incluí-

da nesse desejo?

FSF - Completamente por acaso! Caiu do céu emfinais de 1995, fruto do meu contacto com osector da construção, da minha relação, na altu-ra, com os accionistas do Banco Espírito Santo etambém fruto de uma relação profissional quetinha com uma empresa francesa. Juntaram-seestes ingredientes e ‘aterrei’ numa empresa, naaltura chamava-se Tecnovia, da qual abandoneios cargos executivos em 2000.

VJ - Desdobra-se entre duas presidências distintas

como é a da OPCA (Obras Públicas e Cimento Armado,

S.A) e a do Sporting...como é que se faz esta gestão?

FSF - Primeiro, e por graça, digo-lhe que se geremno mesmo edifício o que é uma grande van-tagem em termos de tempo, e o tempo nestasalturas é um bem escasso. Segundo gerem-se,

t e x t o Vand a Jo rg e > f o t o s An a Ba i ã o

De que é feito um leãoFilipe Soares Franco «A primeira grande decisão

racional que tomamos quando

somos crianças é o clube que

escolhemos. É uma escolha

também com paixão, sobretudo

no meu caso que venho de

uma família com o pai e o

irmão benfiquistas.»

Filipe Soares Franco

28 < ESPIRAL DO TEMPO

Page 2: Filipe Soares Franco De que é feito um leão · 2013-02-11 · sportinguista a conhecer o protótipo da edição que será limitada a 366 peças, o total de dias de festi-vidades

porque a gestão pauta-se por normas e princí-pios universais, e portanto é querer implementare incutir no Sporting um conjunto de princípiose valores que têm que se aplicar na gestão empre-sarial, sabendo de antemão que há duas ou trêsimportantes diferenças entre uma e outra.

VJ - Que diferenças são essas a que se refere?

FSF - A primeira é que o Sporting é uma agremia-ção desportiva e, portanto, isto é um projectodesportivo que tem que se gerir com algumasemoções. Não interessam só resultados financei-

ros são precisos também resultados desportivos.Depois, perceber que quando se está a gerir umclube como o Sporting, o presidente não é odono do clube limitando-se a ser o presidentenuma determinada época. O clube pertence aossócios e tem que se ter isso sempre presente.Estamos a gerir um património que é dos outrose, ainda por cima, com a responsabilidade de serum património com 100 anos de existência.A terceira diferença é que, combinando as duas

anteriores, há que saber profissionalizar a estru-tura, gerir o quotidiano com alguma rotina e

naturalidade mas tendo sempre em atenção quetem que haver emoção e paixão, para que o pro-jecto possa ser verdadeiramente um projectodesportivo.

VJ - Qual é a sua visão para os próximos 100 anos,

afasta-se muitos dos princípios do fundador?

FSF - Obviamente que o mundo mudou, e hojeem dia, à velocidade a que evoluiu, sobretudo aciência, ninguém sabe dizer como o mundo vaievoluir nem daqui a dez anos quanto mais nospróximos cem. Tenho a certeza que o Sporting,

que Deus queira que continue a existir, con-seguirá subsistir a todas as vicissitudes que, na-turalmente, existirão ao longo dos próximos cemanos. Vai ser um clube totalmente diferente dosprincípios do fundador. Até porque, não sei sedaqui a cem anos o conceito de Europa seráainda aplicável e uma das palavras que o fun-dador disse era que gostava que o Sporting fossetão grande como os maiores clubes europeus.Ninguém sabe dizer como o mundo vai evoluir,nem que não seja para saber se esse sonho dofundador ainda se poderá cumprir ou não.

VJ - Mas quando diz que será muito diferente refere-

-se a quê?

FSF - Não sei como será o desporto, o que acon-tecerá à profissionalização do desporto, não seicomo o futebol estará daqui a cem anos e se seráuma modalidade de vanguarda que arrasta mul-tidões, não sei qual é o conceito de estádio e seainda haverá espectadores nos estádios ou se esta-rão todos em casa a ver a televisão por uma es-pécie de telemóvel. Não tenho a imaginação,nem a criatividade, nem o conhecimento parapoder estimar como será o mundo nos próximoscem anos.

VJ - Nunca escondeu que é um consumista.

FSF - Em algumas coisas sim.

VJ - Entre essas ‘coisas’ que o fazem perder a cabeça,

estão os relógios?

FSF - Um relógio já não é uma compra de impul-so, mais não seja, pelo respeito que as pessoastêm na vida por uma coisa muito importanteque é o dinheiro. E um relógio, que não seja umgadjet, não é uma compra de impulso, é racio-nal. Durante doze anos da minha vida trabalheina Vista Alegre, e das coisas mais racionais quehavia, à época, era a compra de um serviço de

mesa, lembro-me que ninguém escolhia um ser-viço de mesa à primeira. Um relógio que com-pramos para usar, é uma peça nossa, tem que sesaber conviver com ele para o usarmos todos osdias. Acho que há mais racionalidade nas deci-sões daquilo que usamos todos os dias.

VJ - Visitou a Franck Muller durante a concepção do

relógio comemorativo do centenário do Sporting.

Como foi esse primeiro contacto com a alta-relo-

joaria?

FSF - Foi o primeiro contacto em termos de fábri-ca, em que vi como um relógio é fabricado, etoda a cadência no processo de fabrico é extre-mamente interessante. Foi uma visita que mexeucomigo porque me fez reviver o tempo em queestive na Vista Alegre e lidei com este mercadotopo de gama. Na Franck Muller lembrei-medos tempos em que convivia permanentementecom esse segmento de mercado e com o enqua-dramento que estas marcas têm que ter para ven-der a sua imagem, os seus valores e a sua cultura.O enquadramento da fábrica da FM, definidopor um conjunto de residências junto ao lago deGenebra, só isso, marca a visita.

VJ - Ainda tem tempo para si?

FSF - Hoje em dia tenho pouco tempo. Gosto deestar em casa, tenho uma casa junto à Malveirada Serra, que é um sitio paradisíaco em Cascais,e outra no Algarve, e sempre que posso fico emcasa porque aprecio o sossego. E gosto de pra-ticar desporto, jogo ténis, faço ginástica e nadopelo menos todos os fins-de-semana no mar, nãosou grande fã de praia mas gosto de nadar nomar. O meu tempo é também para estar com osmeus amigos com quem gosto de conviver. Ecozinho, mas sobretudo, gosto muito de comere faço da refeição um grande ponto de convívioaos fins de semana. ET

TAG Heuer veste-se de verde

Para assinalar este momento único na história do

clube, a TAG Heuer concebeu uma edição especial

de um dos modelos mais emblemáticos – o Aqua-

racer – um relógio com movimento mecânico de

corda automática; com função de hora, minutos,

segundos e data; com caixa e bracelete em aço;

duplo fecho de segurança e o verde do clube apli-

cado na luneta. Filipe Soares Franco foi o primeiro

sportinguista a conhecer o protótipo da edição que

será limitada a 366 peças, o total de dias de festi-

vidades que arrancaram a 1 de Julho de 2005, e

um número que será gravado no verso de cada

relógio, junto do logótipo do centenário. «É um

relógio casual, ideal para a vida ao ar livre, para o

desporto e que pode ser usado todos os dias. É

uma peça de grande sobriedade com uma ligação

ao verde e ao clube, que espero seja um sucesso

tão grande como foi o Franck Muller (FM).» A apre-

sentação oficial do TAG Heuer Sporting, é dia 30

de Junho na gala que junta no relvado do Estádio

José Alvalade cerca de 3500 pessoas. Nessa noite,

são sopradas as velas dos 100 anos do clube

e apresentado o relógio que resulta da parceria

entre a marca, associada desde sempre aos prin-

cipais eventos desportivos mundiais, e o clube que

tem feito história no desporto nacional. «É uma

oportunidade única dos sportinguistas ficarem

com uma peça ligada aos 100 anos do Sporting.

Acho que é mais uma louvável iniciativa da Torres

Distribuição que teve o arrojo, depois do êxito do

relógio FM, de lançar um segundo relógio».

Preço: € 1.500

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Filipe Soares Franco

«Há que saber profissionalizar a estrutura, gerir o quotidiano

com alguma rotina e naturalidade mas tendo sempre em atenção

que tem que haver emoção e paixão, para que o projecto possa

ser verdadeiramente um projecto desportivo.»

Filipe Soares Franco

O modelo TAG Heuer Aquaracer, pesonalizado com a luneta em

verde Sporting Centenário. Na página anterior o fundo da caixa

do relógio com o logótipo do Centenário gravado.

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