filho de mil homens
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À noite, sozinho diante da
sua casa, o mar todo
apaixonado por si, o homem
que chegou aos quarenta
anos sentou-se novamente
diante da inteligência toda
da natureza. Estava ainda
de coração partido, porque
falhara nos amores e os
amores podiam ser tão
complicados, mas havia
ficado mais forte, agora. (pp. 25, 26)
- Prémio Almeida Garrett, 1999;
- Prémio Literário José Saramago, Fundação Círculo de Leitores, Lisboa, 2007.
- Vencedor da 10.ª edição do Prémio Portugal Telecom de Literatura em Língua
Portuguesa, 2012 (27 nov.)
https://www.facebook.com/pages/Valter-Hugo-M%C3%A3e-Pag-
Oficial/206081342800809
Valter Hugo Mãe é o nome artístico do escritor Valter Hugo Lemos; nasceu numa cidade angolana
outrora chamada Henrique de Carvalho, atual Saurimo, em Angola, a 25 de Setembro de 1971. Além
de escritor é editor, artista plástico e cantor angolano.
Passou a infância em Paços de Ferreira e em 1980 mudou-se para Vila do Conde.
Licenciou-se em Direito e fez uma pós-graduação em Literatura Portuguesa Moderna e
Contemporânea.
Em 2007 atingiu o reconhecimento público com a atribuição do Prémio Literário José Saramago,
durante a entrega do qual o próprio José Saramago considerou o romance O Remorso de Baltazar
Serapião um verdadeiro "tsunami literário".
Para além da escrita tem-se dedicado ao desenho e à música, tendo-se estreado como voz do
grupo O Governo, em Janeiro de 2008, no Teatro do Campo Alegre, no Porto.
(adaptado de http://pt.wikipedia.org/wiki/Valter_hugo_m%C3%A3e consultado em 22 de dezembro de 2012)
ROMANCE
Literatura Infantil
POESIA
O Filho de Mil Homens
O livro estrutura-se em vinte capítulos que se apresentam
diferentes entre si mas, ao mesmo tempo, estabelecendo uma
ligação intrínseca com a narrativa principal.
Na primeira parte, e em cada episódio, é-nos apresentada uma
personagem específica, isolada de todas as outras, quer pela sua
especificidade quer pelo ambiente em que se insere. Na segunda
parte, verificamos que cada uma delas tem um papel
preponderante no avanço da narrativa. Sem uma delas, todas as
outras deixariam de existir.
Personagem principal CRISÓSTOMO
Crisóstomo, 40 anos, pescador, vive só e solitário.
Procura quem o complete, um filho, uma família.
Pede à Natureza um filho que lhe traz Camilo, um rapaz orfão, de 14 anos que
vai trabalhar no barco de pesca onde trabalha Crisóstomo, após a morte do avô
e que o deixa sozinho no mundo. Encontra-se também ele perdido e sem rumo.
É o filho que Crisóstomo tanto esperara.
Abriu a porta de sua casa e arriscou sorrir. Imaginou assim como num sonho, que uma criança abandonada poderia estar passando e quisesse entrar. (p. 17)
Camilo, orfão de mãe, vive com avô adotado, Alfredo, que lhe fala de
livros e da presença da sua mulher morta que continua a habitar a
casa, atenta à necessidade de ambos.
A sua mãe era anã e morre ao dar à luz Camilo.
“que ridículo soava a ideia de uma triste anã
querer amar, se o amor era um sentimento raro já
para as pessoas normais”
Mulher Anã
Isaura é uma personagem modelada.
Filha única de uma mulher que um dia acorda a falar,
inexplicavelmente, com sotaque francês, está noiva de um vizinho
que a despreza a partir do dia em que, depois de muito
pressionada, se entrega a ele antes de casar.
Destruídos os sonhos de ser feliz, vive ignorada por todos até ao
dia em que a ronda Antonino, um maricas repudiado por toda a
gente e que vê o casamento com Isaura como uma forma de
aceitação/integração na sociedade. Antonino desaparece na noite
de núpcias. Abandonada mais uma vez, Isaura definha, fica
anorética, ignorada por todos. Do encontro com Crisóstomo renasce
o sonho de felicidade.
No dia seguinte, lavando-se, recusou o amor
como quem escolhia a sanidade. Haveria de,
renunciando à sua própria natureza, ser um
herói de si mesmo, um herói da sua mãe. Preferia
ser sempre um herói infeliz. (p. 113)
Mas o sossego de um homem maricas durava
muito pouco, porque na cabeça conduzia para um
lado e o corpo para outro, estraçalhando, no
meio, o coração.
Antonino
CITAÇÕES
Crisóstomo sobre Antonino
Os maricas eram como gente crescida a alegrar
os passeios. O povo podia rir-se mas não queria
fazer grande caso. A Isaura que mudara o
mundo com o seu entusiasmo, disse que não
concordava.
Isaura e Crisóstemo
Ser o que se pode é a felicidade. (P.94)
O que nos muda também nos aumenta . (p. 202)
(Matilde, mãe de Antonino, perante a morte da caseira)
“Deve nutrir-se carinho por um sofrimento sobre o
qual se soube construir a felicidade, repetiu muito
seguro. Apenas isso. Nunca cultivar a dor, mas
lembrá-la com respeito, por ter sido indutora de
uma melhoria, por melhorar quem se é. Se assim
for, não é necessário voltar atrás. A aprendizagem
estará feita e o caminho livre para que a dor não
se repita.”
(p. 213)
Quem tem menos medo de sofrer, tem maiores
possibilidades de ser feliz.
(p. 25)