fid catalogo 2010
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Em 2010, o FID convida a todos para continuar a pensar e agir por uma museologia do corpo que dança, proposta que se iniciou no FID 2007. Uma museologia do corpo que dança deve levar em conta que seu museu está no corpo, no ambiente, e na memória que a relação entre corpo e ambiente constantemente produz e reformula. Pode-se dizer, então, que esta é uma museologia das transformações, possível a partir das distintas manifesta- ções da memória. A memória se organiza a partir da permanência-conservação/ construção-invenção/transmissão-replicação. Quando o cor- po dança, realiza materialmente a dança para quem dança e para quem vê dança. A atividade de dançar, portanto, pode ser lida como a da pre- servação da memória através da sua construção permanente, fazendo com que a museologia do corpo que dança seja uma museologia sempre viva.TRANSCRIPT
apresenta
ORGANIZAÇÃO ADRIANA BANANA
PROJETO GRÁFICO RAFAEL MAIA
EDITORAÇÃO E FINALIZAÇÃO LUCAS COSTA
TEXTOS ADRIANA BANANA, ADRIANO MATTOS, ANA
CRISTINA TEIxEIRA, ANDRéIA NhUR, BRUNO FREIRE,
GABRIELA ChRISTóFARO, GILSAMARA MOURA, LENIRA
RENGEL, MAíRA SpANGhERO, MIChELE BORGES, ROSA
hERCOLES, ThEMBI ROSA
REVISÃO PORTUGUÊS FÁTIMA CAMpOS
2010, BELO HORIZONTE, MINAS GERAIS, BRASIL
Nº PÁGINAS 80
IMPRESSÃO GRÁFICA REDE
CAPA CARTãO SUpREMO DUO DESIGN 250G
MIOLO ChAMOIS BULk DUNAS 90G
LIVRETO COUChE FOSCO 115G
FID 2010 POR UMA
MUSEOLOGIA DO CORPO
QUE DANÇA
FID EDITORIAL íNDICE
pOR UMA MUSEOLOGIA DO CORpO QUE DANÇA
TERRITóRIO MINAS
TERCEIRA DANÇA
CREUZA
COMPANHIA SUSPENSA
ZAT 7 _ LABORATÓRIO DE DRAMATURGIA
FIDINhO
MEIA PONTA CIA DE DANÇA
COMPANHIA SUSPENSA
CONExãO InterNacional
LIA RODRIGUES CIA DE DANÇAS
ANGEL VIANNA
LOUISE LECAVALIER/ FOU GLORIEUX
EDUARDO FUKUSHIMA
CONTENIDO BRUTO
TRISHA BROWN DANCE COMPANY
CIE RAIMUND HOGHE
CIRCULANDO GRANDE Bh
TUCA PINHEIRO
OFICINAS
MOSTRA DE VÍDEOS
FIDOTECA
CIRCUITO BRASILEIRO DE FESTIVAIS
INTERNACIONAIS DE DANÇA
NÚMEROS
FIChA TéCNICA
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Em 2010, o FID convida a todos para continuar a pensar e agir
por uma museologia do corpo que dança, proposta que se
iniciou no FID 2007.
Uma museologia do corpo que dança deve levar em conta
que seu museu está no corpo, no ambiente, e na memória que
a relação entre corpo e ambiente constantemente produz e
reformula. Pode-se dizer, então, que esta é uma museologia
das transformações, possível a partir das distintas manifesta-
ções da memória.
A memória se organiza a partir da permanência-conservação/
construção-invenção/transmissão-replicação. Quando o cor-
po dança, realiza materialmente a dança para quem dança e
para quem vê dança.
A atividade de dançar, portanto, pode ser lida como a da pre-
servação da memória através da sua construção permanente,
fazendo com que a museologia do corpo que dança seja uma
museologia sempre viva.
INSTABILIzANDO NOSSOS hÁBITOS pERCEpTIVOS
Cie Raimund hoghe Um corpo não autorizado que não faz
disso seu assunto. É ele mesmo quem desautoriza o discurso
que o autorizou.
L’Après-midi instabiliza a noção de remontagem como ré-
plica e verossimilhança, desconstrói o vocabulário do balé
romântico, pré-entendimento de quem chega para assistir.
Nijiinski, autor do original, já havia desestabilizado o es-
paço em perspectiva herdado do renascimento e Raimund
compartilha disso ao instabilizarem formas dominantes e
hegemônicas.
Lia Rodrigues Companhia de Danças recusa-se a cumprir a
agenda do social, desautoriza assim as práticas de exclusão,
as estratégias de regimes ditatoriais que compartimentam
para melhor dominar e controlar, instabiliza os gradeamen-
tos do mundo, desfronteiriza as geografias vigentes, causa
uma pororoca epistemológica. Resistência à ditadura das
formas. Vida, social, político, cotidiano, saúde, educação for-
mam um amálgama que é o seu discurso artístico.
Eduardo Fukushima as séries de repetições exaustivamente
cumpridas em seu trabalho desautorizam a noção de que é
possível repetir. Se no corpo de Eduardo vemos isso aconte-
cendo num período curto, o de sua dança, no de Louise Le-
cavalier essa evidência se amplia. Após décadas, dançando
no Lalala Human Steps, ela dançará no FID, uma remonta-
gem desse período. Em Louise e em Eduardo é o corpo que
evidencia não ser possível existir repetições, já que o corpo
se modifica a cada “repetição”.
Louise Lecavalier ainda desautorizou a figura clichê das dan-
çarinas como seres frágeis sempre carregadas por homens.
Quando é ela quem aparece carregando um colega, devolve a
reflexão de que o carregar ou suspender é um esforço conjun-
to entre dois. É dela a pirueta no ar com o corpo na horizontal
e um seu jeito de dançar como se estivesse em um show de
punk rock. Mas é com o boxe, uma de suas especialidades, que
ela golpeia com doçura e suavidade o mundo que transita.4 5
tica de tratar as crianças a partir de uma pré-imagem ideali-
zada do que uma criança deveria ser.
Creuza a instabilidade é condição de Danças Impuras. Prati-
cando a improvisação, não como qualquer coisa, mas como
ambiente de permanência e transformação, o projeto sempre
conta com um convidado a cada apresentação. Quando a ten-
dência é a estabilização das formas, essa variável estranha já
modifica o estado que ali já está instaurado.
Trisha Brown instabilizou o entendimento de espaço e de cor-
po, praticado até então, de forma hegemônica. Espaço e cor-
po deixam de ser lugares a serem habitados, absolutos, com
frente, lados, trás fixos, com centro e periferia. Com Trisha, o
movimento pode surgir das pontas, das margens, das extre-
midades dos corpos ou sua dança pode acontecer às mar-
gens do palco, além de prédios, paredes, árvores, lagos e ou-
tros tantos espaços não convencionais. E, se Trisha contribuiu
para instabilizarmos as convenções das formas, dos movi-
mentos, dos corpos e espaço, Angel instabilizou a noção de
dançarino máquina/soldado, sempre nos lembrando de que
somos humanidade.
Angel Vianna uma história de afetos na qual a dança e a vida
não são instâncias estanques e isoladas. Durante décadas, ela
vem instabilizando a prática de que dança é algo privado no
sentido de que todo e qualquer corpo, com ou sem o objetivo
de se profissionalizar, pode ter acesso aos conhecimentos
que a dança acumulou. Ou seja, conhecimento de dança não
é reservado ao mercado da dança, ela faz disso compartilha-
mento público.
O FID 2010 é dedicado a Angel Vianna que, com sua história
de afetos, contribuiu para a nossa própria existência.
Trisha Brown (e a geração de artistas de sua época com os
quais estava sintonizada) e Angel Vianna/klaus Vianna de-
sautorizaram a existência de um único corpo tipo universal
como passaporte de entrada na dança. O grupo Terceira Dança
demonstra essa conquista e ainda, como a proposta de parti-
ciparem do FID foi inteiramente deles, sua autonomia nos en-
sina que são os nossos próprios desejos e nossos próprios
discursos que têm o poder de desmantelar estruturas enrije-
cidas e conservadoras. O Terceira Dança é o resultado do que
o FID vem se dedicando ha 14 anos: exercício de autonomia
em forma de dança.
Fabian Ganidini/Contenido Bruto em Piezas para peque-
no efecto tem a potência de instabilizar nossas percep-
ções quanto ao que é grande e ao que é pequeno como se
fossem formas estanques e absolutas. Propõe pensarmos
que tudo o que é se faz por hábitos e constantes negocia-
ções perceptivas, como o que deve ser uma peça de dan-
ça. Sem hierarquia.
Tuca pinheiro sua resistência a cristalizar formas prévias tor-
nou seu corpo uma bibliografia da dança, que se inicia com
Carlos Leite, passando por Dudude Hermann, Joseph Nadj,
Bettina Bellomo, Sônia Mota, Clube Ur=H0r, Eva Schul, Isabel
Santa Rosa, Zélia Monteiro, Tica Lemos, Peter Gross, Denise
Stutz, Margô Assis e Osman Khellili. A exposição, experimen-
tação de formas muitas vezes “incompatíveis” ou opostas
mostra que o corpo negocia e renegocia indistintamente to-
das as informações que ali chegam. É no corpo de Tuca que
está a prova de que não há grades estéticas exclusivas, pois o
corpo é antropofagia total.
Cia Suspensa o uso de um platô suspenso fora do chão ecoa
as primeiras peças de Trisha Brown quando se colocava em
contextos não habituais de instabilidade. No caso da Suspen-
sa, é o agir coletivo que é responsável pela estabilização, e
isso desautoriza a noção de uma pessoa sozinha capaz de
dominar qualquer situação. Alpendre também será apresen-
tado especialmente para o público infantil, mas nem por isso
eles irão “infantilizar” seu trabalho, é tácito que crianças e
adultos são diferentes e que cada um deles percebe o mundo
de acordo com suas possibilidades. Assim, instabilizam a prá-6 7
Geografia é mais do que demarcação métrica de espaços.
Os geógrafos Josué de Castro, autor de Geografia da Fome,
e Milton Santos, autor de A Natureza do Espaço, já se de-
dicaram a descrever espaço como relações econômicas,
humanas, sociais, culturais, políticas. Ou seja, geografia é
ampla e um campo de reflexão profícuo e necessário.
A geografia do Território Minas vem se alterando por todo
o tempo. Desde seu lançamento em 1998, o TM vem sendo
construído coletivamente. Isso se percebe nas ações e rela-
ções que sempre ocorrem. De lá para cá, o respeito mútuo
é a nossa maior conquista. A cada ano, os grupos, artistas
e participantes demonstram o quanto é possível tratar sua
profissão como construção compartilhada. Através de refle-
xões críticas sobre seus próprios trabalhos artísticos e seu
entorno, a noção de corresponsabilidade vem desenhando
uma geografia, podemos dizer, da cumplicidade.
TERRITÓRIO MINAS 1998_2010
Limite ou possibilidade?
A presença do Grupo Terceira Dança no Território Minas res-
salta um movimento que desloca as fronteiras de centro e pe-
riferia da cidade, chama a atenção para o papel das políticas
públicas na cultura e efetiva a negação de padrões corporais
para o bailarino.
O Terceira Dança estruturou-se a partir de oficinas oferecidas
pelo Programa Arena da Cultura, criado pela Fundação Muni-
cipal de Cultura da Prefeitura de Belo Horizonte. Tais oficinas
eram realizadas no Bairro das Indústrias, onde os alunos, hoje
bailarinos do Grupo, residem. São pessoas entre 45 e 77 anos
de idade que iniciaram as atividades de dança, de forma siste-
matizada, em uma fase da vida onde não se imagina começar
tal estudo com interesses profissionais. Atualmente o Terceira
Dança trabalha em um formato de autogestão e com a co-
laboração de outros profissionais – professores, coreógrafos,
músicos e fotógrafo –, tendo alguns deles sido professores e
alunos do Arena da Cultura.
O surgimento do Terceira Dança explicita a pertinência e a ne-
cessidade do investimento em políticas públicas para a cultu-
ra. É indispensável lembrar que programas como o Arena da
Cultura, de importância vital na dinâmica artística da cidade,
BH/MG
DANÇA, CRIAÇÃO E CONTEMPORANEIDADES: PESQUISA EM DANÇA PARA A TERCEIRA IDADE
TERCEIRA DANÇA
TERRITÓRIO MINAS | BOLSA PARA PESQUISA COpRODUÇãO FID 2010
2010
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ainda sofrem com a irregularidade de sua programação, devi-
do à fragilidade da estrutura governamental que os criaram.
O Grupo confirma também a existência de um fluxo de infor-
mações que não distingue centro de periferia da cidade. Os
bailarinos do Terceira Dança assumem a poética de um corpo
sem formatação prévia e, finalmente, fortalecem a noção do
limite considerado como uma possibilidade.
Gabriela Christófaro
Bailarina, pesquisadora e professora de dança.
Coordenação Marcelle Louzada Direção/Preparação corporal Fábio
Dornas, karina Colaço, Marcelle Louzada Direção musical philippe
Lobo e Wilson Souza Iluminação philippe Lobo Elenco Conceição
Maria da Silva, José Vaz Souza, Geralda Magela de Oliveira, Lucy
de Almeida e Lima, Madalena Cristina de Souza, Maria de Lourdes,
Nadir Rosa de Oliveira Santos, Noé Cotta Barcelos, Rosadir Ventura
da Silva, Rosália Cristina do Nascimento, Rosalina Teixeira Souza
da Silva, Sandra Mirian Fraga, Teresa Dias da Silva e zilma Lúcia de
Almeida e Lima
Teatro Espaço Cultural Ambiente 23/10
24/10
(a)parição (c)Creuza
Na vida nunca estamos completamente a par da situação. Em-
bora possamos chegar a um acordo sobre como funcionam as
coisas da realidade, através de representações, cartografias,
teorias, leis, sabemos que o nosso conhecimento está entre a
incompletude e a completude, sempre sujeitas a mudanças e
alterações. Nisso parece se equilibrar o jogo de improvisação
da Companhia Creuza: uma combinação de situações a par
(p) e outras ímpar (i), ao acaso, em acordo com os processos
gerais da realidade (g) próximos do equilíbrio.
g(t) = p(t) + i(t)*
Nessa improvisação, almeja-se que a componente imprevisí-
vel, i(t), seja mais frequente no tempo (t), e a componente
de determinação, p(t), exista o mínimo possível, o suficiente
para que as regras permitam a fruição do jogo. Como num
xadrez, em que existem regras préestabelecidas, mas cada
jogo é único. Na obra dessa Cia Creuza, cada dia é também
uma (a)parição, um outro roteiro e um convidado diferente.
Um espectador pode optar em manter sua visão pífia e parcial
assistindo a apenas uma apresentação. Outro, mais obsessivo,
organizará seus dias para assistir a todas, a fim de estar a par
do todo, tentando deixar sua incompletude um pouco mais
rarefeita. Se em alguns casos, para a dança existir, exigem
dela estreias, Creuza lhes oferece uma infinidade.
* Vieira, Jorge A. Teoria do Conhecimento da Complexidade. ED. Fortaleza, 2006, p.114.
BH/MG
DANÇAS IMPURAS: DISSECAÇÃO E RECONSTRUÇÃO DE DANÇAS DO PASSADO
CREUZA
2010
10 11
De partida, Creuza nos deixa a par de que essa obra é uma
investigação daqueles que gestaram a dança. Uma dança que
busca quem(s) lhe pariu. A parição. Para isso é/foi/será neces-
sário investigar-se, buscando fissuras e rachaduras na (sua)
história. Assim, os indivíduos (c)Creuza - Carlos Arão, Marise
Dinis e Marcelo Kraiser – questionam-se: Dissecação de quais
danças? De qual passado? ClássicoDiaglevNinjinskyJazzIsa-
doraModernoHumphreyCunninghamBananaSambaSoaresSa-
pateadoRodriguesGrahamPinaPopularViannaODestaManhã e
outras danças vão sendo trituradas e misturadas no ampliqui-
dificador, mais um dos infrainstrumentos que compõem esse
espaço cênico (além de tábua de passagem, electro-telecote-
co, circuit bendings, kardiopat e pandora).
O roteiro para essa improvisação em dança tem como base a
memória. Seus criadores entram em cena atravessados pelos
próprios (bons e maus) hábitos. É a partir do hábito que de-
senvolvem-se as técnicas, habilidades que permitem ao corpo
sentar, andar, comer, escolher, dançar, etc. Se o intuito aqui é
reconstruir danças do passado, será/foi/é necessário revisitar
tais hábitos e dissecá-los.
Pensando em desconstruir-(se) ainda mais, Creuza criou um
outro problema, o convite. Em toda apresentação convidam
alguém com quem não estão acostumados a trabalhar. Um al-
guém vindo de fora, com outros hábitos perceptivos, resulta-
do dos diferentes modos desse corpo agir no(s) ambiente(s)
que costuma frequentar. Um estrangeiro, que desestabiliza
certos acordos prévios que surgem do simples conviver com
as mesmas pessoas. Essa dança surge desse atrito entre as
memórias e hábitos de cada corpo.
No jogo que se anuncia, passadopresentefuturo serão revira-
dos no corpo, que está sempre meio cru, meio assado, meio
mal passado, meio errado, jogado ao acaso. São essas coisas
do tipo qualquer coisa, Creuza, que nos fazem (imaginar) o
impossível do qualquer coisa.
Bruno Freire
Formado em Performance e Dança pela PUC-SP, com experiência
na área de interpretação e criação em performance e teatro.
Atualmente desenvolve projeto de mestrado em Comunicação e
Semiótica na PUC-SP, assimilando discussões do Centro de Estudos da
Dança, trabalhando como um artista agregado na Plataforma Desaba
e dividindo residência no Centro Cultural Casa das Caldeiras com o
projeto Valparaíso.
Concepção/Direção/Atuação/Figurino/Produção Creuza (Carlos Arão,
Marise Dinis e Marcelo kraiser) Paisagens sonoras e design sonoro
Marcelo kraiser Iluminação Geraldo Octaviano Vídeos Marcelo krai-
ser Fotos Ed Félix e Marcelo kraiser Artistas convidados Eduardo
Fukushima (26/10) e Ricardo Aleixo (27/10).
Teatro Marília 26/10
27/10
12 13
Alpendre, - para ícaros crescidos
E lá vai a Companhia Suspensa em mais uma aventura ‘sem
os pés no chão’.
Desta vez: ___ alpendre (!).
Mais uma das suas invenções de lugares-acontecimentos que
nos deslocam e nos despregam da segurança aparente de
nossas terras firmes.
Desta feita, o ‘despregamento’ aponta para ações um tanto
mais duvidadas de si mesmas. O território parece um tanto
mais inseguro e incerto para os não mais tão meninos da Sus-
pensa, - e aí já se vão onze anos de investigação acerca da
vertigem e do estado de ter os pés fora do chão.
Mais longe da segurança dos números circenses e mais críticos
e reflexivos sobre o próprio sentido de se suspenderem diante
dos outros, - eles duvidam! E então somos todos juntos convi-
dados, perante o particular de tal dúvida própria que nos é ofer-
tada, a inventar, na incerteza, a palavra que se faz como convite
ao encontro e ao compartilhamento: ___ A-L-p-E-N-D-R-E.
E o fazem não de forma alegórica ou metafórica, mas propõem
a (re)inauguração de um nome, de uma espécie de fragmento
que se escorrega como parte esquecida da memória distante
de um lugar que, nem eles nem nós, não sabemos bem se
existe ou existiu. Algo de um outro tempo, e que nos parece
lugar impossível diante da falta de espaço que a cidade-con-
temporânea-qualquer impõe aos seus habitantes.
Os agora crescidos meninos da Suspensa são então tomados
pela sedução da construção de um projeto de fuga, - assim
como Dédalo e o seu engenho, arquitetado para a fuga do seu
filho Ícaro do labirinto, ao qual os dois estavam condenados.
O risco é o mesmo perigo de, como Ícaro, deixarmo-nos en-
cantar com o brilho e a proximidade do sol, e cegados pelo
deslumbramento pormos nossas asas a perder:
“... e porque o belo ardeu comigo perdi a glória e o benefício de dar meu nome
ao precipício que há de servir-me de jazigo”
(As queixas de um Ícaro em Flores do Mal de Charles Baudelaire, tradução de Ivan Junqueira)
Será que é possível este outro lugar que não está aqui nem
ali? Será que eu posso habitá-lo e ver o mundo de lá? Será
que assim me desprego do meu canto e pilar? E então eu me
esqueço de mim e posso brincar-jogar com outros outros a
um palmo do peso do mundo?, - assim descolado e descom-
promissado com a gravidade do meu chão?
Para Fredric Jameson, autor de Pós-Modernismo, a Lógica
Cultural do Capitalismo Tardio, este entre-lugar é por excelên-
cia a inauguração do espaço pós-moderno. Tal deslocamento
impede a formação de um retrato mental que aponta para
uma certa continuidade do mundo. Propõe-se então um outro
modo de pensar-relacionar o tempo e o espaço: produz-se o
esvaziamento do sujeito-habitante, que adota este lugar de
intermediação como um estado próprio para tentar escapar
de sua residência primeira, já que aqui sofremos da insupor-
tável condenação de gravitar sempre sobre o mesmo chão de
nossa mesma morada.
Fica para aqueles com coragem, que juntos se dispõem a
compartilhar do risco da Companhia Suspensa, a honestida-
de e a legitimidade de um projeto que, desde 1999, não teme
se lançar duvidoso acima do labirinto e assim se expor e
também expor as contradições próprias à cena contempo-
rânea da dança.
ALPENDRE
COMPANHIA SUSPENSA
BH/MGESTREIA
14 15
Adriano Mattos Corrêa
Arquiteto, professor de Projetos da Escola de Arquitetura da UFMG,
mestre em Poéticas da Modernidade pela Faculdade de Letras – UFMG,
editor da revista ExTRA-crítica e ódio à metáfora - edições menor;
concepção do espaço para os projetos de dança contemporânea ‘,e -
10 episódios sobre a prosa topovisual de gertrude stein’ – Salvador/
2008, e ‘[5] sobre o mesmo’ – Salvador/2010.
Concepção Cia Suspensa Coreografia/Criação Lourenço Marques,
patrícia Manata e Tana Guimarães Música/Trilha sonora Bruno San-
tos Concepção visual Tana Guimarães Criação do platô Lourenço
Marques e Fernando Ancil Iluminação Cristiano Medeiros Colabora-
ção Rosa hercoles, Clube Ur=h0r e Anderson Guerra Produção
Claudia Couto
Teatro Marília 30/10
31/10
ZAT (Zonas Autônomas Temporárias) são ações pontuais, sem o
intuito de se institucionalizarem - uma proposta de Hakim Bey.
Laboratório de dramaturgia
Em dança, dramaturgia diz respeito à relação forma-sentido,
trata-se da observação e do estudo do modo como essas duas
instâncias coexistem em nossas ações. O laboratório visou a
colocar à prova as especificidades e propriedades de nossas
escolhas formais, observando-se os entendimentos de movi-
mento, de dança e de cena que as definem.
Rosa hercoles (São paulo/Sp)
Atua como dramaturgista desde 1997, seu doutorado em Comunica-
ção e Semiótica desenvolve um estudo sobre a Dramaturgia da Dan-
ça. Sua formação como eutonista (1990-94) contribui para olhar o
corpo como meio de comunicação. Atualmente é professora e coor-
denadora do curso de Comunicação das Artes do Corpo, PUC-SP.
ZATLABORATÓRIO DE DRAMATURgIA
25/09
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05/10
Participantes Território Minas / FIDinho 2010 _ Companhia Sus-
pensa, Terceira Dança, Creuza e Meia Ponta Cia de Dança
Essa pesquisa coreográfica foi desenvolvida com subsídio do Programa
Rumos Itaú Cultural Dança 2009/10.
apoio:
16 17
É o espaço das crianças.
O olhar demanda tanto aprendizado quanto o andar, o ler,
o escrever e o falar. É só por frequência de exposição que é
possível se adquirir o hábito de ver e entender dança.
Mas não é segredo que é o FID quem quer aprender com
as crianças.
É possível que você não se lembre, mas tem um tempo na
vida em que todos os dias a gente visita lugares onde nunca
foi. É quando o mundo, as pessoas, as coisas são feitos de
possibilidades, e tudo ainda está por ser descoberto. Pois é
só atravessar uma porta no meio do palco da Meia Ponta Cia.
de Dança para voltar para esse tempo e lugar.
O novo espetáculo do grupo - batizado “Um lugar que ainda
não fui” e inspirado no livro “Um Mundo de Coisas”, de Mar-
celo Xavier -, na verdade, quer falar com as crianças. Com
direção de Tuca Pinheiro e música especialmente composta
por Kiko Klauss, abre mão das palavras, mas recorre a uma lin-
guagem muito íntima desse público tão particular: a fantasia.
E aproveita das alegorias e objetos para contar sua história,
que pode muito bem ser lida como um diário de navegação e
tudo que ele tem de novidade, incerteza e desafio.
O mundo que a companhia leva para a cena se constrói (e
desconstrói) a cada brincadeira. Uma caixa enorme e quadri-
culada pode tanto virar um barco pronto para explorar o des-
conhecido quanto um grande e agitado boi-bumbá. Cartolas,
barbantes, papel de jornal ganham funções surpreendentes
e com toques de improviso. O elenco também se comporta
como se participasse de um jogo, em que o importante mes-
mo é o processo, pois é quando ainda é possível ter iniciativa,
correr riscos, criar situações e poder reagir a elas. Bailarinos
promovidos a crianças aprendem que podem dominar o am-
biente e têm o poder de decidir as regras.
BH/MG
UM LUgAR QUE AINDA NÃO FUI
MEIA PONTA CIA DE DANÇA
ESTREIA
18 19
Em “Um lugar que ainda não fui”, a dança que se apresenta
ousa ser alegre, ter o espírito leve, a coragem matinal, os ins-
tantes satisfeitos. E lembra que, nas brincadeiras, o corpo ex-
perimenta e coloca em prática o sentido de movimento físico,
mas de uma maneira descomplicada, simples, que não exige
treinamento para se comunicar. Para a criançada, vai ser mais
uma deliciosa visita ao quarto de brinquedos.
Michele Borges da Costa
Jornalista
Direção geral Marisa Monadjemi Direção coreográfica e roteiro Tuca pi-
nheiro Concepção Meia ponta Cia de Dança Intérpretes criadores Inês
Amaral, karina Collaço, Violeta Vaz penna, Tuca pinheiro Colaboração
artística Rosa hercoles e Marcelo xavier Preparação corporal Marise
Dinis e Tuca pinheiro Iluminação Wladimir Medeiros e Alexandre Gal-
vão Assistente de iluminação/Operação de luz João da Mata Jr. e Ricar-
do da Mata Música/Trilha sonora original kiko klaus Sonoplastia/Opera-
ção de som Lívia Rangel e Marisa Monadjemi Cenário/Figurino Marcelo
xavier Assistente de cenário e figurino Artur Assis Confecção de cená-
rio Nilson Santos Confecção de figurino Dudu Guimarães Auxiliar de
adereço Janaína Starling Fotografias do espetáculo Adriana Moura Edi-
ção de fotos da projeção kalu Brum Produção Mercado Moderno –
keyla Monadjemi, Cristina Gandra e kika Bruno.
Teatro Marília 23/10
24/10
Espetáculo viabilizado com patrocínio da Usiminas, através da Lei
Estadual de Incentivo à Cultura.
Cia Suspensa – inventa alpendre…, para crianças:
____ meninos e meninas..., - quem quer brincar de alpendre
tira o pé do chão!
- quem quer brincar de alpendre
tira o pé do chão!, um dois e já!
_______________________ mas...., ei!, o que é alpendre?
Ahhhn alpendre..., é um lugar pra gente inventar, juntos,
o que é...,
____ é um lugar entre aqui e ali, entre o dentro e o fora, entre
o chão e o telhado, entre eu e o outro, entre o malabarista e
o bailarino, entre o circo e a dança, entre a casa e a rua, - um
outro lugar, um lugar entre, um entre-lugar que a Companhia
Suspensa suspeitou e nos convida para experimentar.
Um jeito de ficar a um palmo do chão e fazer todo o mundo
balançar..., ou será esquecer eu e deixar o mundo me balan-
çar...?, de deixar o corpo ao léu e a cabeça boba para que o
outro possa me assustar...?, ou para que eu possa me assustar
com o outro que faz o mundo balançar...? annnh...
E assim: um jogo de Alice, - uma “corrida gabinete”, onde
todo mundo brinca e não tem vencedor nem vencidos, só o
prazer de brincar. De encontrar mesmo o outro, que só de
BH/MGCOMPANHIA SUSPENSA
ALPENDRE
ESTREIA
20 21
encontrar me faz sair do meu lugar de equilíbrio, que me faz
frio na barriga e me faz arrepiar.
Uma brincadeira..., um pouco meio séria pra começar, mas de-
pois é brinquedo que faz o corpo duvidar e imaginar coisas
que a cabeça não podia saber antes do corpo experimentar.
Primeiro ver..., sentir e imaginar olhando o outro fazer, - e de-
pois escutar a vontade de fazer e aí querer fazer também.
E então..., assim a Cia Suspensa provoca, com provocações-
invenções do corpo, ideias-palavras para eu sentir e me fazer
pensar coisas que moram neste outro-entre-lugar:
d-e-s-l-o-c-a-r ..., r-e-a-g-i-r ..., e-s-p-e-r-a-r...., d-e-s-e-q-u-i-l-
i-b-r-a-r...., e-n-c-o-n-t-r-a-r....,
s-u-s-p-e-n-d-e-r...., a-r-r-i-s-c-a-r...., t-r-a-n-s-p-o-r-t-a-r...., b-
a-l-a-n-ç-a-r...., s-o-l-t-a-r..., d-e-p-e-n-d-u-r-a-r..., d-e-s-g-a-r-
r-a-r..., até tudo embolar, eu ficar tonto e mandar parar!
Um convite ao jogo: VAMOS JUNTOS JOGAR? Aprender,
sentir e inventar juntos, o que é alpendre e o que pode-
mos fazer lá nesta coisa-ideia-alpendre, - que não fazemos
nem sentimos aqui em casa, nem fazemos e nem sentimos
ali na rua. Sem toda aquela imensa força de gravidade que
me atrai para o meu mundo particular. Entre eu e o outro:
___um MEIO, um lugar nem meu nem dele. Mas um lugar que
me chama para experimentar. Deixar aqui as minhas coisas,
a minha gravidade, o meu lugar mais meu, para lá poder en-
contrar o outro também sem as coisas mais dele, fora do seu
lugar, - e aí então inventarmos juntos uma nova brincadeira,
um outro lugar, que é tão meu quanto dele, e nem é meu
nem é dele:
___ posso eu desgrudar da sua saia mamãe? Soltar as mãos e
me arriscar..., sem os pés no chão!
Adriano Mattos Corrêa
Arquiteto, professor de Projetos da Escola de Arquitetura da UFMG,
mestre em Poéticas da Modernidade pela Faculdade de Letras –
UFMG, editor da revista ExTRA-crítica e ódio à metáfora - edições
menor; concepção do espaço para os projetos de dança contempo-
rânea ‘,e - 10 episódios sobre a prosa topovisual de gertrude stein’
– Salvador/ 2008, e ‘[5] sobre o mesmo’ – Salvador/2010.
Concepção Cia Suspensa Coreografia/Criação Lourenço Marques,
patrícia Manata e Tana Guimarães Música/Trilha sonora Bruno San-
tos Concepção visual Tana Guimarães Criação do platô Lourenço
Marques e Fernando Ancil Iluminação Cristiano Medeiros Colabora-
ção Rosa hercoles, Clube Ur=h0r e Anderson Guerra Produção
Claudia Couto
Teatro Marília 30/10
31/10
Essa pesquisa coreográfica foi desenvolvida com subsídio do Programa
Rumos Itaú Cultural Dança 2009/10.
apoio:
22 23
Essa é a linha de ações do FID dedicadas ao fomento e pro-
moção da dança brasileira e às relações entre o Brasil e os
outros países.
O FID se posiciona como SULREAL – Por epistemologias do
Sul, isto é, a favor da produção de conhecimentos e por uma
ecologia de saberes múltiplos pautados pela autonomia do
pensar e ser independente.
Na dança também acontecem relações de domínio, colo-
nização, imperialismos que vemos e vivemos no mundo. E,
por isso, o FID defende o desmantelamento de estruturas há
muitos séculos estabelecidas e que ainda insistem em mo-
delos impostos de cima para baixo. São formas excludentes
e autoritárias de ser no mundo que aparecem como uma voz
que dita e julga o que é ou não dança, o que é ou não téc-
nica, o que é ou não é bom, bem feito, o que é ou não um
corpo que dança, o que pode, o que é, como fazer e pensar.
São imposições que aos poucos, depois de anos de exercí-
cios desses hábitos, estão se dissolvendo. A proposta de
epistemologias do Sul, de Boaventura Souza dos Santos,
passa a ser minha, sua, nossa quando assumimos que há um
abismo entre NORTE e SUL: o pensamento “norte” já carre-
ga dispositivos que neutralizam os do Sul. Basta lembrar do
grande pensador alemão, Hegel, defendendo suas proposi-
ções de que os colonizados não tinham história já que se
tratavam de povos primitivos e não civilizados. Basta lem-
brarmos da origem e modo como foram demarcados terre-
nos, geografias e possessões de terra por aqui, na África,
na Ásia e em outros lugares: as leis que regiam os países do
norte epistemológico não valiam aqui já que se esses eram
tidos como de mundos acivilizados, aculturais, pessoas sem
alma e, assim, sem pensamento... Pressuposições impostas
como muita, muita violência...
Em 2010, convidamos o público a reconhecer e a pensar a
violência nos corpos, nas formas cênicas, na forma como per-
cebemos as danças e trabalhos que serão apresentados.
CONEXÃO INTERNACIONAL
24 25
política do desnudamento
A Lia Rodrigues Companhia de Danças completa 20 anos
em 2010. Neste momento de comemoração, a coreógrafa
selecionou quatro repertórios do seu conjunto de obras
para apresentar ao público. O programa é composto por
Aquilo de que somos feitos (2000), Formas Breves (2002),
Encarnado (2005) e Pororoca, a produção mais recente,
que estreou em 2009. São trabalhos que marcam o percur-
so da companhia e se manifestam como referências cada
vez mais importantes no cenário artístico brasileiro e inter-
nacional. Criada em 1990 na cidade do Rio de Janeiro, a
companhia está hoje sediada no Centro de Artes da Maré,
na comunidade Nova Holanda, e atua em parceria com a
organização não governamental REDES de Desenvolvimen-
to da Maré.
Com um elenco renovado, fruto da audição de 2008 que
misturou os bailarinos antigos com os estreantes, o pro-
cesso de remontagem envolveu um redescobrir de cada
obra. Como assinala a coreógrafa, “não é só transmitir um
jeito de dançar ou o passo de dança, mas sim entender o
que está em jogo naquele trabalho e como vê-lo nos dias
de hoje”. Isso implica um processo de transcriação, termo
criado pelo poeta e tradutor Haroldo de Campos, que em
sentido amplo consiste em praticar o processo da tradução
como uma recriação. Não se trata apenas de transportar o
texto (o movimento) de um idioma (corpo) para o outro, é
preciso revivêlo no novo ambiente, seja ele um outro corpo
ou uma outra língua. Isso corresponde exatamente à ideia
de remontagem que Lia nos traz. Ela não busca a recupe-
ração literal, mas sim uma espécie de inscrição da diferen-
ça no mesmo.
Além das obras que integram o programa, a produção core-
ográfica da companhia engloba também: Chantier poetique
(2008), Buscou-se falar, portanto, a partir dele e não dele
(2002), Dois e um dois (2001), Resta um (1997), Folia II
(1997), Folia I (1996), Ma (1993), Catar (1992), Gineceu
(1990). Entre outros importantes traços e características
que alinhavam essa trajetória, como o interesse pela litera-
tura, história, filosofia, sociologia e artes visuais, o corpo nu
se destaca. É um corpo franco, direto e sem enfeites ou fe-
tiches. Quando os bailarinos aparecem não há virilidade ou
erotismo. Não é, também, objeto de voyerismo, embora
olhos atentos percorram seus desenhos. O corpo está des-
pido para dar visibilidade a outras questões, que não sua
própria nudez ou beleza.
Em Aquilo de que somos feitos, por exemplo, os bailarinos
despem-se das convenções impregnadas nos moldes de
produção da dança. Para além de um espetáculo, o trabalho
está mais para manifesto político artístico, nu e cru. Estamos
todos, espectadores e intérpretes, no mesmo plano (ou seria
zona de atuação?).
Sob a orientação dos bailarinos, somos convidados a partici-
par - e não tão somente a nos movimentar - para garantir uma
boa visão. Ao contrário, estamos silenciosamente engajados
naquela organização para compartilhar a mesma experiência:
o processo de transformação de cada um daqueles corpos
(não excluindo os nossos). Não são humanos simplesmente,
são matérias em mudança. Cada músculo, cada vértebra e cada
respiração se veem comprometidos com a ação. Com isso, o
que se desnuda também é a nossa percepção.
AQUILO DE QUE SOMOS FEITOS
FORMAS BREVES
ENCARNADO
POROROCA
LIA RODRIgUES CIA DE DANÇAS
RJ/RJ
2000
2002
2005
2009
26 27
Já em Formas Breves, Lia Rodrigues, a dramaturga da com-
panhia Silvia Soter e o elenco constroem ações curtas que
desenham distintos percursos possíveis. São cenas que se
apresentam como fios de uma rede cujo tecido é tramado,
também, pelo espectador. Embaralham-se o corpo nu e o
corpo coberto por uma peça de roupa qualquer. Estar nu ou
vestido parece não ser um problema, dada a tranquilidade
com que eles dão visibilidade ao corpo, pois o entendem
como um lugar de tomar uma questão. Funciona como uma
contranarrativa que dá autonomia ao espectador de criar a
sua própria leitura, dando pistas que permitem uma leitura
de espetáculo que foge da habitual.
No Encarnado, são as questões políticas, artísticas, sociais,
filosóficas amalgamadas e em estado de nudez que se mate-
rializam e se intensificam no corpo. O livro Diante da dor dos
outros, de Susan Sontag, serviu como estímulo inicial com
perguntas que se desenvolveram em torno da dor, seus limi-
tes e o que a causa. É na exposição dessa dor de Encarnado
que o público se defronta com cenas impactantes, sensíveis,
poéticas e contestadoras. O sangue que tinge a pele, o osso,
as vísceras cheiram a ketchup. Um cheiro cotidiano para o
público, como é o cheiro da dor.
A criação de Pororoca, a obra mais recente, exemplifica o
entendimento de dança que a companhia de Lia Rodrigues
vem tendo nos últimos anos. O espetáculo coincide com a
reforma do Centro de Artes da Maré, cujo galpão de 1.200
m2 e 15 metros de altura estava abandonado há duas déca-
das, sem teto e com centenas de pombos. Foram dois anos
de trabalho diário. No início, o desafio para os bailarinos
era inventar um jeito de se mexer juntos. Isso implicou em
disputa e negociação. Um lugar com pouco espaço, ao
mesmo tempo em que descobrem o que está em jogo nes-
sa disputa. Foram, portanto, duas construções, tijolo por
tijolo, com a diferença de que na criação da dança os des-
manches eram constantes, o que exigia grande disponibili-
dade e entrega dos bailarinos. Curiosamente e não à toa,
um dos livros que acompanhou a coreógrafa nessa emprei-
tada foi Grande Sertão Veredas, de Guimarães Rosa. Poro-
roca é um retrato dos encontros que potencializaram a
criação da obra.
Onze pessoas juntas fazendo quase a mesma coisa por mais
de uma hora. Foi o Théâtre de la Ville, em Paris, que rece-
beu Pororoca em primeira mão. O nome, do tupi “poro’roka”,
está relacionado ao fenômeno natural que forma uma gran-
de onda que arrasta o que encontra pela frente, causando
um grande estrondo. É mesmo impossível passar imune.
Com maestria, a companhia de Lia Rodrigues traz em Poro-
roca a nudez do seu entendimento de construção poética;
no sentido de que há o comprometimento com o princípio
de construção aliada ao caos. Para eles, a construção da
vida é permeada pelo caos que, por ter na sua ação direta
o mecanismo da transformação, configura e reconfigura o
tempo todo o nosso existir, gerando outras possibilidades
de estar no mundo.
É nessa transparência, em desapego das convenções sociais,
que a trupe de Lia Rodrigues apresenta seus trabalhos. Os
corpos são lugares políticos, feitos de acordos tácitos, de
contratos que se estabelecem entre os intérpretes e de dis-
cussões públicas. Nesses acordos, artistas e público lidam
com suas responsabilidades e gerenciam suas percepções.
Não há imposição, não há força dos músculos masculinos
corporificados nas estátuas enfatizando seu poder na socie-
dade - como se entendia nas artes quando o nu passou a ser
inspiração dos artistas no século V a.C.
Há, sim, força como o desejo de construção de um pensa-
mento político-artístico sobre a dança contemporânea bra-
sileira. Força para encontrar seu lugar na produção merca-
dológica. Força para destacar da dança sua função: um
dispositivo de transformação e resistência.
O palco, por sua vez, transforma-se ora em ágora ora em
polis. Se a praça é um espaço público por excelência
onde se dão os debates, a cidade nos remete à ideia de
que somos animais políticos e cidadãos. O palco é lugar,
portanto, para expor e debater – e não somente para
exibir e mostrar.
Não se expõe a nudez de um bailarino, é na nudez dele
que somos despidos, um a um, na condição de plateia, de
nós mesmos. 28 29
Ana Teixeira
Artista e pesquisadora. É doutoranda em Comunicação e Semiótica
(PUC/SP), consultora para o programa Dança Contemporânea da
SESCTV-SP, pesquisadora para a Enciclopédia Itaú Cultural de Dança
e membro da APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte).
Maíra Spanghero
Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Ca-
tólica de São Paulo (2005) e pós-doutora em dança pela Brunel West
London University (2010). Pesquisa as relações entre corpo, dança e
tecnologia desde 1996. Atua como crítica e curadora. É autora do livro
“A Dança dos Encéfalos Acesos” (Itaú Cultural, 2003) e organizadora
da coletânea “Corpo Versão Beta: ensaios sobre corpo, dança e com-
putação” (no prelo).
AQUILO DE QUE SOMOS FEITOS
Direção/Criação Lia Rodrigues Interpretação/Criação Amália Lima,
Allyson Amaral, Ana paula kamozaki, Leonardo Nunes, Thais
Galliac, Calixto Neto, Carolina Campos, Volmir Cordeiro, Lidia La-
rangeira, priscila Maia, Clarissa Rego Colaboração na criação Mar-
cela Levi, Micheline Torres, Denise Stutz, Marcele Sampaio, Amália
Lima, Gustavo Barros, Rodrigo Maia, Claudia Muller Música zeca
Assumpção Luz Milton Giglio Projeto gráfico Mônica Soffiatti Fotos
e montagem de fotos Tatiana Altberg Produção/Assessoria de im-
prensa Claudia Oliveira
Coprodução Compagnie Maguy Marin e Centre Chorégraphique Na-
tional de Rillieux-la-pape
FORMAS BREVES
Direção/Criação Lia Rodrigues Dramaturgia Silvia Soter Codire-
ção Marcela Levi Interpretação Amália Lima, Allyson Amaral, Ana
paula kamozaki, Leonardo Nunes, Thais Galliac, Calixto Neto, Ca-
rolina Campos, Volmir Cordeiro, priscila Maia, Lidia Laranjeira,
Clarissa Rego Colaboração na criação Marcela Levi, Micheline Tor-
res, Jamil Cardoso, Marcele Sampaio, Amália Lima, Ana Carolina
Rodrigues Luz Milton Giglio Música “Fahrenheit 303” – Orbital
Fotos Lucia helena zaremba Produção/Assessoria de imprensa
Claudia Oliveira. Co-Produção Culturgest/Caixa Geral de Depósi-
tos, Lisboa, 2002.
Esse trabalho é dedicado a Klaus Veter.
ENCARNADO
Direção/Criação Lia Rodrigues Dramaturgia Silvia Soter Interpreta-
ção Amália Lima, Allyson Amaral, Ana paula kamozaki, Leonardo
Nunes, Thais Galliac, Calixto Neto, Lidia Laranjeira, Carolina Cam-
pos, Volmir Cordeiro, priscila Maia, Clarissa Rego Colaboração na
criação Micheline Torres, Jamil Cardoso, Amália Lima, Ana paula ka-
mozaki, Allyson Amaral, Gustavo Barros, Celina portella, Leo Nabu-
co, Giovana Targino, Leonardo Nunes Luz Milton Giglio Produção/
Assessoria de imprensa Claudia Oliveira
Coprodução Centre National de la Danse - paris, Festival d’Automne
- paris, La Ferme du Buisson - Noisiel Scène Nationale de Marne-la-
Vallée, Maison de la Danse - Lyon/França; Tanzquartier e IDEE - pro-
grama Culture 2000 da União Europeia - Viena/Áustria. Participa-
ção da Région Rhône-Alpes no programa do Réseau des Villes - França
e Casa das Culturas - Berlin/Alemanha Apoio cultural Espaço SESC
- Rio de Janeiro.
pOROROCA
Criação/Direção Lia Rodrigues Dramaturgia Silvia Soter (em parceria
com o Théâtre Jean Vilar de Vitry-sur–Seine/França) Dançado e
criado em estreita colaboração com Amália Lima, Allyson Amaral,
Ana paula kamozaki, Leonardo Nunes, Clarissa Rego, Carolina Cam-
Teatro Sesiminas
Teatro Sesiminas
Espaço Cultural Ambiente
21/10
22/10
20/10
30 31
pos, Thais Galliac, Volmir Cordeiro, priscilla Maia, Calixto Neto, Lidia
Laranjeira Participação de Gabriele Nascimento, Jeane de Lima e Lu-
ana Bezerra Assistente de coreografia para a criação Jamil Cardoso
Luz Nicolas Boudier Figurino João Saldanha e Marcelo Braga Projeto
Gráfico Mônica Soffiatti Fotos Sammi Landweer Assessoria de im-
prensa Claudia Oliveira Produção Diana Nassif e Claudia Oliveira
Coprodução Théâtre Jean Vilar - Vitry-sur-Seine/França, Théâtre de
la Ville - paris/França, Festival d’Automne de paris/França, Centre
National de Danse Contemporaine d’Angers/França e kunstenfesti-
valdesarts - Bruxelas/Bélgica Apoio ONDA/França e Espaço SESC -
Rio de Janeiro (local de ensaio)
Essa criação faz parte do projeto de compagnonnage (acompanhamen-
to) com o Théâtre Jean-Vilar de Vitry-sur-Seine, com o apoio do Conseil
Regional d’Ile-de-France, com o título de permanência artística.
A Lia Rodrigues Companhia de Danças recebeu financiamento da Pe-
trobras, através da Lei Rouanet - Lei Federal de Incentivo à Cultura, do
Ministério da Cultura, dinheiro público, originário de renúncia fiscal,
dentro do programa Petrobras Cultural 2007 de “Manutenção - por 2
anos 2008/2009 - de Grupos e Companhias de Teatro e Dança”.
A Fundação Prince Claus/Holanda é parceira da Companhia no projeto
“Nova Holanda/Novos Horizontes” de aulas para a comunidade desen-
volvido no Centro de Artes da Maré.
Uma parceria com a REDES de Desenvolvimento da Maré.
A COMpANhIA
Assistente de coreografia Amália Lima Preparação corporal Amália
Lima, João Saldanha , Marcela Levi, Felipe koury, paulo Marques, Syl-
via Alcântara Secretária Glória Laureano Produção e difusão interna-
cional Thérèse Barbanel - Les Artscéniques Assistente Colette de Tur-
ville Realização Rodrigues & Assumpção produções Artísticas
Teatro Sesiminas 23/10
Retrato-falado de Angel Vianna
Traçar a fotografia de uma personalidade da dança, através
dos fatos inscritos por documentações e registros, pode se
aproximar de uma tarefa arqueológica, quando se resgatam
índices deixados no tempo. No entanto, escavar e resgatar são
verbos próprios de um passado remoto, que não se postam
em continuidade.
Retratar Angel Vianna – atuante, contínua, infinita em ações
para a dança brasileira – exige outro tipo de comprometimento,
que não o da recuperação para restauração. Seu retrato é móvel,
assim como os instantes de sua trajetória e é esse o olhar a ser
lançado a seu conjunto de obras e feitos.
Angel Vianna nasceu em 1928, em Belo Horizonte. Na capital mi-
neira, foi aluna de Carlos Leite e, em 1959, criou, ao lado de Klauss
Vianna (1928-1992), o Balé Klauss Vianna. Os dois, juntos, desen-
volveram um pensamento sobre a prática de dança, que visava
à valorização da criação de movimentos e à individualidade do
sujeito. O corpo pleiteado por Klauss e Angel propunha um en-
tendimento menos rígido e behaviorista a respeito da técnica de
dança. Após a morte de Klauss, em 1992, Angel seguiu sua pes-
quisa na área de conscientização do movimento, até fundar, em
2001, a Faculdade de Dança Angel Vianna, no Rio de Janeiro.
RJ/RJ
...QUALQUER COISA A gENTE MUDA
ENCONTRO COM ANgEL VIANNA
CONVIDADOS: JOÃO SALDANHA, MARCELO BRAgA E MARIA ALICE POPPE
ESTREIA
32 33
Quando falamos em Angel, a historiografia monta um mosaico
de feitos que nos remetem a uma empreendedora no campo
da criação e formação em dança, uma vez que ela nunca pa-
rou de atuar como criadora, intérprete, docente e formadora.
A mídia nos revela adjetivos interessantes para o desenho que
queremos esboçar: difusora, ousada, pioneira, “mestra-farol
da dança contemporânea brasileira”, entre outros.
No entanto, o desenho ainda é um conjunto rabiscado de tra-
ços que se cruzam por todos os lados, porque a memória não
está congelada no tempo, numa gaveta solitária, mas, sim,
regulando as temporalidades que insistem. Falar em Angel é
levantar a complexa rede que a conecta a uma geração de
agentes que compartilharam um modo de pensar a dança,
como ela fazia.
Por isso, a dose do contato e da experiência é condição
mister para que as temporalidades escorreguem e recons-
truam outras possibilidades de memória. E essas outras
possibilidades são emergências das narrativas que decor-
rem no tempo, isto é, da própria dança, quando acontece,
ao vivo, presencialmente.
O sociólogo Boaventura de Souza Santos (2006), ao falar de
uma sociologia das emergências, discorre sobre a relação en-
tre experiência e expectativa, propondo que haja equilíbrio
entre essas duas instâncias, para que o presente se dilate, em
detrimento da contração do futuro (SANTOS, 119: 2006).
Logo, o que a memória cartografada pela história da dança
nos apronta não pode aprisionar as expectativas e tendências
de um fenômeno que, apesar de vivo e atuante na cultura, já
foi mapeado, datado e classificado. Os registros apenas apon-
tam possibilidades, mas não podem antecipar o futuro a par-
tir do que conseguiram capturar do passado.
A obra Qualquer coisa a gente muda, que Angel apresenta em
2010, aos 82 anos, refaz na carne a história que os registros
não podem contar. Sim, ela fez parte e transformou os rumos
da história da dança do Brasil, mas o seu corpo, ao atualizar-
se em dança, reconta o que se tornou fato e desestabiliza
qualquer assentamento histórico.
É nesse momento que me lembro da obra “Retrato de James
Lord”, do artista italiano Giacometti. Sua obra nunca se fina-
lizou, pois retratar alguém era como fotografar o pedaço de
um rio em fluxo e tentar descrevê-lo em sua totalidade, isto é,
uma tarefa impossível.
Andréia Nhur
Artista da dança, atriz e pesquisadora, graduada em dança pela UNI-
CAMP, mestre e doutoranda em Comunicação e Semiótica pela PUC-
SP. Em 2005, fundou o Coletivo KD e, desde 2000, trabalha como atriz
e preparadora corporal do Grupo Katharsis, sob direção de Roberto
Gill Camargo, em Sorocaba-SP. Atualmente, desenvolve parceria com
sua mãe, a coreógrafa Janice Vieira, no projeto de relançamento do
Grupo Pró-Posição (1973-1983; 2008).
Encenação João Saldanha Intérpretes Angel Vianna e Maria Alice
poppe Iluminação Adelmo Lapa Figurinos Marcelo Braga Produção
executiva Andrea Chiesorin.
Teatro do Oi Futuro Klauss Vianna 22/10
23/10
34 35
Tornar conscientes os usos e percepções do corpo, no seu
dia a dia, no trabalho, na vida afetiva e doméstica - em sua
totalidade, enfim. Esse poderia ser um resumo do que é o
processo da Consciência do Movimento e Jogos Corporais,
técnica que Angel Vianna desenvolve há mais de cinquenta
anos. Perceber os apoios do corpo no chão e no espaço pode
ser o primeiro passo, e ajuda o indivíduo a equilibrar seu tônus
muscular. Trabalhar com as articulações é outro recurso, por-
que é pela mobilização de nossas dobradiças que aguçamos a
percepção de nós mesmos. A conscientização da importância
da pele, da projeção dos ossos, do estado de tonicidade ade-
quada ajudam a nos tornar indivíduos mais integrados não só
com nosso corpo, mas com o mundo à nossa volta.
Aliados aos princípios da Consciência do Movimento e Jogos
Corporais, pretende-se trabalhar com exercícios de improvisa-
ção, nascida dos próprios movimentos conscientes de cada um.
Assim, a criatividade pode ser exercitada, na busca por formas
mais livres e subjetivas de expressão, de utilização do corpo.
Juntas, decorrentes uma da outra, naturalmente integradas,
Consciência e Improvisação se tornam instrumentos de au-
toexpressão e de prazer.
A programação do Oi Cabeça FID contará com a presença
da bailarina, professora e coreógrafa Angel Vianna e do bai-
larino, professor e pesquisador de dança Arnaldo Alvarenga,
da Escola de Belas Artes da UFMG, para uma conversa abor-
dando as expressões da dança moderna em Belo Horizonte,
a herança plantada na cidade e os desdobramentos daí re-
sultantes para panorama geral da dança no Brasil. Ao final,
será aberta a palavra para uma discussão com os presentes.
ANgEL VIANNA AULA ABERTA
ANgEL VIANNA +ARNALDO ALVARENgA
CONSCIENTIZAÇÃO DO MOVIMENTO EJOgOS CORPORAIS
Parque Municipal Américo Renê Giannetti - Praça do Sol Multiespaço Oi Futuro 24/10 21/10
ANgEL VIANNA E OS CAMINHOS DA MODERNIDADE NA DANÇA BRASILEIRA
OI CABEÇA FID
36 37
ChILDREN
Então... se faz um jogo – o nome? crianças/children? Um jogo mito e
não rito, pois é jogo profanador (como nos diz AGAMBEN 2009) ao
se apropriar das regras, por não delegar ao outro o poder, ambos
questionam, ambos “discutem a relação”. Não há deriva, há angústia,
questão, prazer e enfrentamento (no sentido de se pôr diante de, em
cima, embaixo, perto, junto) de um ao outro, e enfrentamento con-
sigo mesmo. Formas espaciais complexas: diagonais no corpo e no
espaço, afecções, músicas, letras, desenho de luz, figurino, processos
de significação ancorando momento a momento uma questão epis-
temológica problema da arte e da cultura: a imensa relutância que
temos para lidar e para coexistir com tudo aquilo que é denominado
de “subjetivo”. Em Children se fazem ato objetividadesubjetividade,
como complementação e não como oposições inconciliáveis. E nessa
complexidade, a radicalidade de um círculo básico, rodas, abraços:
um jogo, além de profanador, também evolutivo -espacialidades em
roda na nossa história vêm de um ritual de acasalamento.
A few minutes of Lock
De como uma dança nos afeta para que nos percebamos como
parte do mundo: somos sempre observadores e observados nessa
dança que olha para o que está fazendo, que analisa a sua ação em
tempo real, que explica o que está explicando. Esse modo de expli-
car a explicação, como diz Humberto Maturana (2006), não trata de
uma definição, de uma univocidade. Trata de linguagem, de modos
de elaborar mundo e si próprio, de comunicação.
Importa, também, menos a noção instituída de quem conduz em
uma dança (qualquer que seja a dança em par, ou em trio, ou) e sim
saber que ambos e/ou todos conduzem. Demolir as hierarquias nas
relações. Até mesmo ser “passivo” é uma escolha.
Releitura de Salt, coreografia de Édouard Lock? Não. É uma leitura.
O tempo é irreversível. A memória em Louise Lecavalier se faz em
cada agora dos atos de dança.
Lenira Rengel
Professora da Escola de Dança da UFBA, pesquisadora.
UM ESTADO SúBITO DE AFETOS, TRAÇADO NA EXPERIêNCIA DE PARTICIPAR ASSISTINDO DE CHILDREN + A FEw MINUTES OF LOCk
LOUISE LECAVALIER / FOU gLORIEUX
CANADÁ
2009
apoio:
Black
CMYK
Pantone
Teatro do Oi Futuro Klauss Vianna 27/10
28/10
ChILDREN
Coreografia Nigel Charnock Dançarinos Louise Lecavalier e patrick Lamothe
Música puccini (Maria Callas), Yasar Akpence, Leonard Cohen, Miles Davis,
Billie holiday, Terry Snyder, Sonny Terry & Brownie McGhee, Merja Soria, Ri-
chard Desjardins, Janis Joplin e Michael Nyman Projeto de Luz Alain Lortie
Confecção de figurino Carré Vert Edição de som Nigel Charnock Ensaiadora
France Bruyère
A FEW MINUTES OF LOCk
Coreografia édouard Lock, extratos de Salt e 2 Re-criação da dança France
Bruyère e Louise Lecavalier Dançarinos Louise Lecavalier, Elijah Brown com
a participação de patrick Lamothe Projeto de luz Alain Lortie Música Iggy
pop (usada com autorização de Iggy Pop) Produtor de remixagem Normand-
pierre Bilodeau Guitarras elétricas adicionais Sylvain provost Figurinos Van-
dal Ensaiadora France Bruyère
Produção Fou glorieux, em co-produção com o Festival Oriente Occidente
(Rovereto); tanzhaus nrw (Düsseldorf); Festival TransAmériques (Montreal);
Usine C (Montreal); Atmo Productions (North Hatley); assim como o Fundo da
Rede de Criação CanDance, Centro Nacional de Artes (Otawa), Centro Har-
bourfront (Toronto), Brian Webb Dance Company (Edmonton), Dance Victo-
ria (Victoria) e apoio da Seção de Dança do Conselho de Artes do Canadá.
FOU GLORIEUx Administração Dumont-St-pierre Coordenação e comunicação
Anne Viau Diretor Técnico/Chefe de Palco no Brasil Lee Anholt Agente de turnê Men-
no plukker Agente de turnê na Europa Anne-Lise Gobin, Latitudes contemporaines
Fou glorieux tem o apoio de Conselho de Artes e Letras do Quebec, Conselho de Artes
de Montreal e o Conselho de Artes do Canadá.
38 39
Em, Como vencer o grande cansaço?, Fukushima se coloca
uma proposição bem delineada – manter-se no nível baixo,
mover-se bem próximo ao chão. E, de tal modo, que suas arti-
culações possam agir como molas propulsoras, jogando com
seu peso e a gravidade. Assim, ele instaura um ritmo peculiar,
hipnótico, no qual as pausas funcionam como suspensões, ca-
pazes de lubrificar nosso olhar e refinar todos os sentidos.
Quando esse movimento, que pode até parecer o mesmo, re-
começa, é como se acordássemos para as infinidades de va-
riações que somos capazes de reconhecer em um padrão.
Sua dança não se organiza por uma sequência de passos de
dança estabelecidos previamente, mas sim pela emergência de
um estado corporal. É uma dança amplificada pela sua própria
recursividade em que, a cada vez que se repete um gesto, ele
já se modifica. Em uma estrutura de improvisação, esse traço
tende a ser ressaltado, pois, nesses processos de criação, inte-
ressa estabelecer continuamente novas conexões. Isso implica
em lidar com uma maior taxa de imprevisibilidade, o que de-
manda por um fortalecimento da presença no instante.
Mas o único instrumento necessário para se relacionar com a
questão de Fukushima, e com a sua pergunta título - que nos
soa tão familiar nestes dias atuais - é simplesmente a nossa
disposição em nos deixarmos afetar. Um compromisso com
o tempo de compartilhamento dessa experiência – estar na
dança. Sem expectativas. Com os ouvidos e os poros aber-
tos para a música grave, cardíaca, que se alia ao som da sua
respiração, e, pouco a pouco, torna-se ofegante pela intensi-
dade e continuidade do seu movimento.
Permitir que a efetividade, a realidade da dança possa invadir
a lassidão do nosso cotidiano, e agir como uma força de vonta-
de. Miraculosamente, tornando as coisas um pouco diferentes.
Thembi Rosa
Dançarina e coreógrafa. Mestre em Dança pelo PPG-Dança da UFBA
e graduada em Letras pela UFMG. Desde 2000, desenvolve projetos
solos de dança em parceria com o duo musical O Grivo e com core-
ógrafos e criadores convidados.
Concepção/Direção/Coreografia/Iluminação/Figurino/Produção
Eduardo Fukushima Música/Trilha sonora Felipe Ribeiro e Eduar-
do Fukushima Orientação Coreográfica key Sawao Fotografia Inês
Correa
COMO SUPERAR O gRANDE CANSAÇO?
A EFETIVIDADE DE UMA DANÇA: FUkUSHIMA_COMO VENCER O
gRANDE CANSAÇO?
EDUARDO FUkUSHIMA
SP/SP
2010
“Todo acontecer mecânico, na medida em que nele age uma força, é justamente
força de vontade, efeito da vontade.”
Nietzsche
Espaço Cultural Ambiente 28/10
29/10
apoio:
Essa pesquisa coreográfica foi desenvolvida com subsídio do Programa
Rumos Itaú Cultural Dança 2009/10.
40 41
TExTO pARA pEQUENO EFEITO
Quando uma obra começa?
Pieza para pequeño efecto, do argentino Fabián Gandini, é
uma peça de quandos.
Quando você acha que acabou, recomeça.
Quando você acredita que é simples, surpreende e sofistica.
Trata-se de um lugar onde uma ação é simplesmente uma ação,
todavia carrega tudo o que nela implica e o que dela replica.
Essa obra de dança tem a potência de conectar-se a muitos
campos do saber, de dialogar com várias áreas e estabelecer
pontes interessantes. Por ser uma obra que produz tais efei-
tos, é que torna seu título tão curiosamente apropriado.
O lugar da precariedade, da trivialidade, da insignificância e
do irrisório ganha tamanho destaque no nosso olhar que se
torna difícil acreditar que não irá surtir efeitos desestabiliza-
dores. É nessa rede, justamente, que vai sendo tecida a obra,
recheada de pequenos detalhes que se repetem e se repetem,
até ficarem diferentes, parafraseando Manoel de Barros.
Pequenos efeitos, apresentados pelo criador, atuam como
efeito borboleta, exatamente porque alterações mínimas
nos dados iniciais revelam um dinamismo que tende a ser
simples, mas que gera transformações inesperadas num fu-
turo incerto.
Analisado, pela primeira vez em 1963, pelo meteorologista, fi-
lósofo e matemático norte-americano Edward Lorenz, o efei-
to borboleta refere-se às condições iniciais da teoria do caos
e encontra espaço em sistemas que sejam dinâmicos, comple-
xos e adaptativos. No caso do trabalho de Gandini, dentre os
pequenos efeitos gerados (uma analogia ao bater das asas de
uma borboleta ...), o que mais surpreende é o da prova da
empatia (... que provoca um tufão).
Descobertos pela equipe de Rizzollatti, Gallese e Fogassi,
na Itália, os neurônios-espelho vêm sendo estudados des-
de a década de 80. Tal pesquisa colabora para a compreen-
são de como avaliamos a imagem do outro, a imagem que
observamos de outra pessoa, e revelou que a observação
de ações alheias, ativa as mesmas regiões do cérebro de
quem as executa, ou seja, ocorre uma duplicação interna
dos atos alheios.
Quando ouvimos Gandini descrever as ações já executadas
por ele e apreciadas por nós, podemos simular internamente
nossas próprias ações naquele ato descrito por ele. Os mes-
mos sistemas neurais são acionados e é como se estivésse-
mos no lugar dele (do outro). Relações de alteridade, proces-
sos empáticos...
Um movimento direcionado a um objetivo depende do co-
nhecimento de onde o corpo está no espaço, para onde pre-
tende ir e a escolha de um plano para lá chegar. Do espaço
proposto pelo criador, replicam espaços compartilhados por
aqueles que o observam. Tais espaços, não separados dos
tempos que os (des)organizam, são, propriamente ditos, es-
paços de ação. Assim, são os neurônios-espelho os respon-
sáveis por essas experiências de empatia, tão tacitamente
veladas e reveladas em Pieza para pequeño efecto.
Espelhamento que produz conhecimento.
Quando a obra (re)começa, os pequenos efeitos tornam-se
geradores espelhados.
PIEZA PARA PEQUEÑO EFECTO
CONTENIDO BRUTO
ARGENTINA
2010
42 43
Gilsamara Moura
Doutora em Comunicação e Semiótica, pesquisadora, bailarina, core-
ógrafa, diretora do Grupo Gestus e da Cia. Shuffle Trips, professora da
Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia/UFBA (Graduação
e Pós), membro da equipe curatorial da PID, coordenadora do GDC
(Grupo de Dança Contemporânea) da UFBA, idealizadora do Projeto
Político Pedagógico da Escola Municipal de Dança Iracema Nogueira
(Araraquara/SP).
Direção Fabian Gandini Coreografia/Intérpretes Fabian Gandini –
German Cunese Iluminação Fabian Gandini – Mariana Tirantte Figu-
rinos Mariana Tirantte
Espaço Cultural Ambiente 30/10
31/10
Atravessando esses 40 anos de Trisha Brown e sua companhia,
podemos pensar que uma das singularidades e contribuições
de sua obra está em suas formulações de espaço e a instabili-
dade das formas pelas quais suas proposições artísticas vie-
ram se configurando. É um tipo de pensamento gestado duran-
te os anos 1960 e 1970 em Nova York. Sintonizada com a arte
de sua época que ajuntou, dentre outros minimalistas, Judson
Dance Theatre, Yvonne Rainer, Steve Paxton, Lucinda Childs,
David Gordon, Simone Rainer, Robert Morris, Grand Union, ne-
odadas, Fluxus, performance art, body art, assemblage, Yoko
Ohno, John Cage, Mercê Cunningham, Marcel Duchamp, Joseph
Beuys, environment art e Gordon Matta-Clark. É nesse ambiente
prolífico e em meio a uma zona onde as artes se borram, onde
o que importa mesmo é o pensamento produzido, que surgi-
ram as primeiras inquietações de Trisha. As peças que com-
põem os programas early works formam uma modesta amos-
tra desse período, e repertory works são parte do período
posterior, quando suas obras vão para o teatro.
Espaço como previsão meteorológica
Seu corpo não se preparou antes para ocupar um espaço pron-
to, mas espaço e corpo se fizeram juntos. Em sua dança, uma
forma de pensar o mundo contribuiu para pensar Espaço como
EUA
REPERTORY wORkS gLACIAL DECOY (1979), IF YOU COULDN’T SEE
ME (1994), TwELVE TON ROSE (1996) E FORAY FORêT (1980)
EARLY wORkS FIgURE 8 (1974), gROUP PRIMARY ACCUMULATION
(1973), ACCUMULATION (1971), LEANINg DUETS I (1970), FALLINg DUET I
(1968), SPANISH DANCE (1973), FLOOR OF THE FOREST (1970)
TRISHA BROwN DANCE COMPANY
44 45
dinâmico, nunca pronto, vivo, sempre se refazendo por relações
(nunca em si mesmo), estado de possibilidades, não rígido, não
fixo, não absoluto e irreversível (ou seja, não é apenas o tempo
que seria irreversível). Espaço como meteorologia, uma vez
que pode ser apenas indicado como previsão. Previsão porque
traçado pela incerteza que o desfaz nas singularidades do acon-
tecido para o refazer novamente, através de um jogo entre ins-
tabilidade e estabilidade.
Fluxos de alinhamentos generalizando-se em forma de espaço.
Um espaço que continua a se desenvolver, a crescer, não em
quantidade, mas em complexidade. Assim é o espaçopensa-
mento em contínuo, aberto, dinâmico, fluído e incompleto;
dele, apenas pode-se inferir um hipotético estado futuro.
Sem certezas, o espaço proposto por Trisha se conforma
como uma realidade possível. Sem determinar uma forma fi-
nal e enquadrada, pode ser proposto, então, “espaço como
previsão meteorológica”.
os early works
Roupas amarradas em rede e dependuradas a 1,40m do chão
formando um plano horizontal: esse é o ambiente de Floor of
the Forest (1970). Nesse, dois corpos têm como instrução co-
reográfica a tarefa de vestirem roupas com seus corpos, tam-
bém dependurados. Esse é bom exemplo para descrever as
peças criadas entre os anos 1960 e 1970, período denominado
por early works e podendo ser considerado o período de ges-
tação daquilo que viria a ser sua assinatura: a da instabilidade
de formas.
Tratar coreografia como um conjunto de instruções como vestir
as roupas, descer uma escada em Woman walking down a
ladder (1973) ou descer a lateral de um prédio com o corpo pa-
ralelo ao chão em Man walking down the side of a building
(1971), ou pessoas caminhando juntas, em pares, com a lateral
de seus pés encostadas, em Leaning Duets I (1970). São instru-
ções simples que envolviam dançarinos e não dançarinos, mas
que requerem diferentes esforços de adaptação. O cair, por
exemplo, fica eminente nos casos em que os corpos renegociam
o andar. As novas corporalidades e o novo espaço emergem por
codeterminação. Corpos experimentando e adquirindo novos
hábitos que não se acumulam quantitativamente, mas, sim, qua-
litativamente, transformando sua configuração inicial. É isso que
se especializou nas danças de Trisha Brown: eis a lógica de-
monstrada em suas peças de acumulação como em Group pri-
mary Accumulation (1973) e Accumulation (1971).
os repertory works
“Você me vê fazendo trabalhos nos quais estou constantemente atraída a pare-
des, margens e quinas. […] Estou sempre definindo meu palco*.”
(BROWN, 1976, p. 26).
É a partir de Glacial Decoy (1979) que Trisha volta-se para o
teatro emoldurado por procênio, e leva esse outro entendi-
mento de espaço/espacialidade. É o pensamento de espaço
forjado no Renascimento, hegemônico e dominante, que as
peças de Trisha passarão a instabilizar. Um espaço fixo, tridi-
mensional, apriorístico, estático, estável, caixa a ser ocupada,
ordenada hierarquicamente pela perspectiva renascentista,
com centro e periferias determinados a partir de um ponto de
vista privilegiado. Esse jeito de entender espaço trata a caixa
cênica como um dado fixo e pré-existente às experiências que
nele se dão. Em Glacial Decoy, os dançarinos estão nas mar-
gens do palco e usam as coxias em jogos de entradas e saídas
em que corpos e espaço vão emergindo em fluxos de descon-
tínuos e contínuos, eis uma proposição diferente acerca do
espaço: como algo não contíguo e o palco como espaço de
passagem e, portanto, não de ocupação.
Em If you couldn’t see me (1994), dançada originalmente por
Trisha, o público nunca vê a frente do corpo. Esse estar de “cos-
tas” para o público abre a parede do fundo do palco, demons-
trando o quanto frente e costas, tanto do corpo quanto do espa-
ço, são referências espaciais construídas a partir de como as
aprendemos e experenciamos.
As referências convencionais de espaço com centro, frente e
lados fixos que organizam nossas práticas e saberes são de-
* Do original: You see me doing works where I’m constantly attracted to walls, edges
and corners. […] I’m always defining my stage.46 47
senquadradas, assim como os corpos em Trisha. O corpo
(como o palco em Glacial Decoy) passa a ser passagem de
movimentos que se iniciam de outros lugares que não o “cen-
tro” do corpo como dedos, mãos, pés, cabeça. Os movimen-
tos passam a ser vetores, indicações de espaços possíveis, e,
aqui, a dança se volta a pensar os “entres” uma posição e ou-
tra quando é possível reconhecer uma figura com formas de-
lineadas. Normalmente tratadas como ponto de partida e
chegada, as posições em que se pode ver o corpo como que
“parado”, em Trisha, torna-se mais um dentre tantos vetores.
Muitas das peças feitas no período do early works tinham
como instrução o andar. No entanto, essa tarefa era executada
em contextos diferentes como descer a lateral de um prédio
com o corpo paralelo ao chão, exigindo outra renegociação
entre corpo e gravidade, diferente da que negociamos quando
aprendemos a andar. A gravidade, uma condição de nosso am-
biente, faz com que, mesmo estáticos, estejamos, ao mesmo
tempo, caindo. O modo de lidar com a gravidade produziu di-
versas morfologias, podendo ser vistas nas diferentes espécies
animais/biológicas. Na dança, também. No balé, o corpo pro-
duzido descreve uma certa relação com a gravidade, e, na dan-
ça moderna, outra. Em Trisha, o eminente cair e o consequente
esforço para permanecer com o corpo vertical determinou
uma corporalidade própria de suas danças.
Em Foray Forêt (1990) e Twelve Ton Rose (1996), o estar
caindo e se organizando todo o tempo transformou-se num
estado de instabilidade/ estabilidade/ instabilidade. Não é à
toa que as danças dela adquiriram um status de fluidez con-
tínua e de soltura. Isso se dá por conta de um jogo em que o
corpo se coloca em uma postura de instabilidade, como
quando estamos caindo, e, nesse momento de queda, é que
diversos vetores de movimento são disparados. Há um mo-
mento em que o corpo não controla cada movimento, mas
se torna apto a desencadear essa situação, crucial para que
a dança aconteça.
Em Trisha, o espaço que é feito junto com o corpo tem a lógi-
ca das previsões.
O movimento e o espaço se fazem por redes de relações. A
percepção e as significações de suas danças também. Olhar
para cima para ver uma dança feita em um prédio ou acompa-
nhar um corpo dançando sempre de costas modifica a postura
de quem observa. Trisha é sinônimo de constantes alinhamen-
tos de percepção entre público, dança, corpo e espaço.
Adriana Banana
Mestre em Dança pela UFBA e bacharel em Filosofia pela UFMG. É
dançarina e coreógrafa e também diretora artística do FID.
repertory works
GLACIAL DECOY (1979)
Cenário/Figurino/Direção visual Robert Rauschenberg Iluminação
Beverly Emmons Dançarinos Elena Demyanenko, Leah Morrison, Ta-
mara Riewe e Laurel Tentindo
TWELVE TON ROSE (FRAGMENTOS) (1996)
Música Anton Webern’s Opus 7, Nos. 1, 3, 9 (extratos) Figurino Burt
Barr Iluminação Spencer Brown Dançarinos Nicholas Strafaccia e
Samuel von Wentz
IF YOU COULDN’T SEE ME (1994)
Música/Figurino/Direção visual Robert Rauschenberg Iluminação
Spencer Brown e Robert Rauschenberg Dançarina Leah Morrison
FORAY FORÊT (1990)
Música tradicional, tocada por uma banda de marchas do local de
apresentação Figurino Robert Rauschenberg Iluminação Spencer
Brown e Robert Rauschenberg Dançarinos Dai Jian, Elena Demya-
nenko, Leah Morrison, Tamara Riewe, Nicholas Strafaccia, Laurel
Jenkins Tentindo e Samuel von Wentz
early works
ACCUMULATION (1971)
Música Grateful Dead, “Uncle John’s Band” Dançarina Leah Morrison
e/ou Tamara Riewe
FIGURE 8 (1974), LEANING DUETS I (1970) E FALLING DUET I (1968)
Dançarinos Companhia48 49
FLOOR OF ThE FOREST (1970)
Cenário Trisha Brown Dançarinos Companhia
LEANING DUETS (1970)
Dançarinos Companhia
FALLING DUET (1968)
Dançarinos Companhia
GROUp pRIMARY ACCUMULATION (1973)
Dançarinos Elena Demyanenko, Leah Morrison, Tamara Riewe,
Laurel Tentindo
SpANISh DANCE (1973)
Música Gordon Lightfoot’s “Early Mornin’ Rain” performed by Bob
Dylan Dançarinos Elena Demyanenko, Leah Morrison, Tamara Riewe,
Laurel Tentindo e Margô Assis (dançarina convidada)
Repertory Works - Teatro Sesiminas
Early Works - Praça da Liberdade
30/10
31/10
01/11
apoio:
Esse compromisso é apoiado por Mid Atlantic Arts Foundation através
do USArtists International em parceira com o National Endowment for
the Arts e a Andrew W. Mellon Foundation
O que, de início, poderia ser visto apenas como uma remontagem
do “original” L’après-midi d’un Faune (1912), de Vaslav Nijinski,
rapidamente se desfaz, permanecendo apenas uma vaga lem-
brança que se dilui e se atualiza em relações que somente são
possíveis em corpos-mentes que habitam o século XXI, confir-
mando a inevitável diferença e a sempre bem-vinda diversidade.
O comprometimento do corpo de Emmanuel Eggermont com
as ações que realiza é escandalosamente simples e belo. Em
nós, um exercício poético que desperta uma qualidade de es-
cuta, um tipo de quietude engajada onde o distanciamento
não está em negociação, somos docemente conduzidos à
presentidade e à retidão dessa dança.
Imagino que essa obra surpreenderia Noverre e Fokine por
realizar seus declarados anseios de equiparar a dança à pintu-
ra e à poesia, admitidas como formas máximas da expressão
artística, em seus tempos. Mas, penso que Hoghe, também,
realiza seu próprio anseio ao despertar um sentimento pro-
fundo e ambíguo que traz para a autoconsciência esse peda-
ço íntimo de nós mesmos, onde convivem a fragilidade e a
força de sermos o que somos. Algo que discretamente toca
nossa humanidade e inexoravelmente afeta nossos afetos,
remetendo-nos à perene realidade de substancialmente ser-
mos feitos de água e açúcar, uma solução onde se encontram
os calados desejos que nos definem.
ALEMANHA
L’APRÈS-MIDI
UM SOLO PARA EMMANUEL EggERMONT
CIE RAIMUND HOgHE
2008
50 51
Mas, apesar de impregnada por qualidades de sentimentos, a
materialidade do que se apresenta promove outro tipo de re-
flexão, de natureza mais técnica. O pedaço pesquisadora não
pode evitar olhar para essa dança como evidência de que co-
reografia e dramaturgia estão irremediavelmente implicadas,
onde a precisão do – “O Que se Faz...” E, a lógica do - “Como
se Faz...”. São instâncias constitutivas de uma ocorrência úni-
ca, inseparável e simultânea, inscritas no ato de dançar.
Rosa hercoles
Eutonista e dramaturgista (coordenadora do curso de Comunicação
das Artes do Corpo, PUC-SP).
Concepção/Coreografia Raimund hoghe Intérprete Emmanuel Eg-
germont Colaboração artística Luca Giacomo Schulte Iluminação
Raimund hoghe e Dimitar Evtimov Som Silas Bieri Música Claude
Debussy e Lieder de Gustav Mahler Interpretada por Leonard Berns-
tein, Janet Baker, Sir John Barbirolli, Arturo Beneddetti Michelange-
li, Walter Gieseking e David Oistrakh Produção Cie Raimund hoghe
Coprodução Festival Montpellier Danse 2008; Théâtre Garonne
(Toulouse); Theater im pumpenhaus Münster Temporada France-
Nordrhein-Westfalen 2008/2009 com o apoio da Land of Nordrhein-
Westfalen. Com o apoio do Centre Chorégraphique National de
Franche-Comté em Belfort como “l’accueil-studio”/ Ministério da
Cultura na França / DRAC Franche-Comté.
Teatro do Oi Futuro Klauss Vianna 02/11
03/11
apoio:
Uma meditação, em gestos e palavras, na interação da lingua-
gem e do corpo. Incorporando segmentos de vídeo a partir
do cerne do seu trabalho, Hoghe explorará a intrigante zona
cinzenta onde o corpo humano e o de um texto estão inter-
relacionados; onde a palavra, quase que literalmente, ganha
corpo.
Raimund Hoghe começou sua carreira escrevendo para o jor-
nal alemão Die Zeit. Entre 1980 e 1990, ele trabalhou como
dramaturgo para o Pina Bausch’s Tanztheater Wuppertal.
Desde 1989, ele tem trabalhado nas suas próprias peças te-
atrais para vários bailarinos e atores. Os seus livros já foram
traduzidos para vários idiomas e ele já apresentou suas pro-
duções por toda a Europa, Japão e Austrália.
Convidamos você a compartilhar junto com esse extraordi-
nário artista um olhar mais detalhado da sua obra.
RAIMUND HOgHE
PALESTRA APRESENTAÇÃO: BODY, SPACE, MUSIC
Teatro do Corpo31/10
“por muitos anos escrevi com palavras. O corpo por trás das palavras estava in-
visível. Agora escrevo com corpos – com meu corpo e com os corpos dos bailari-
nos. Finalmente, não há distinção para mim entre escrever com palavras e escre-
ver com corpos.”
HOGHE
2009
52 53
Interligando pontos e promovendo encontros, a Grande BH tem
a oportunidade de conhecer sua própria produção em dança.
Buscando transpor vazios e carências culturais da própria
cidade, o FID colabora com a democratização e acesso às
artes, direito do cidadão.
DE 13/09 a 13/10
Centro Cultural São Geraldo
Centro Cultural São Bernardo
Centro Cultural Urucuia
ATIVIDADES
Espetáculo
He, She or It (Vou ficar até a festa acabar...) Tuca pinheiro
Mostra de Vídeos
Itinerância FIDoteca
Uma cachaça que se chama dança (vídeodocumentário)
Direção Cris Oliveira
Coprodução FID 2008 – Fórum Internacional de Dança
Oficinas
Corpo em investigação karina Collaço
Técnica iluminação e sonorização Leonardo pavanello
Corpo, movimento e dança Gabriela Christófaro
Introdução à produção cultural Carla Lobo
FID CIRCULANDO gRANDE BH
TUCA GIVE US A pOEM.
BH/MG
HE, SHE OR IT (VOU FICAR ATé A FESTA ACABAR...)
TUCA PINHEIRO
2008
“After a speech by Muhammad Ali at harvard University in 1975, a student asked
Ali to give the audience a poem. Ali replied, ‘Me, We’ ”
(Glenn Ligon, 2007)*.
Este texto pretende discutir nossa noção de pertencimento a par-
tir do espetáculo de Tuca Pinheiro, He, She or It?.
A “Canção do Exílio” é um primeiro convite para o exercício da
dúvida. Se a informação de que sabiás não cantam em palmeiras
proceder, a ideia de Brasil exaltado no poema de Gonçalves Dias
pode, simplesmente, não existir. Assim, Tuca e sua empatia vão
conduzindo nossas certezas, de povo colonizado, à beira de no-
vos abismos. Entre fluir e questionar. Go/ Stop.
Se desejamos existir para o colonizador, ele e todos nós devemos
apresentar habilidade em línguas - “thinks the lonely man”. Surge
Descartes, marco da filosofia moderna. “Penso, logo existo.” Pode
não parecer, mas o corpo de Tuca se torna uma possível metáfora
para a situação da dança/arte contemporânea que, o tempo todo,
tem de provar uma produção de pensamento/conhecimento para
existir perante as outras instâncias da sociedade e assim ser res-
peitada como trabalho.
* LIGON, Glenn. Give us a Poem. 2007 . In The Studio Museum in Harlem
(b.1960, Bronx, NY) 54 55
Por outro lado, se abrirmos bem os olhos, é interessante notar
que o espetáculo exige um interlocutor. Afinal, e se ninguém lesse
o envelope nº 3? Ou mesmo quando Tuca nos convida a experi-
mentar seus passos de dança. A coreografia começa a existir no
corpo do espectador, porque, literalmente, dançamos juntos. O
intérprete parece, portanto, escapar de uma noção de pertenci-
mento, exclusivamente, solitária e cartesiana. Comunicando-se
com aquele poema do boxeador e político Mohammad Ali. “Me,
We”. Essas duas únicas palavras sintetizam a filosofia de algumas
comunidades na África. O indivíduo africano existe porque per-
tence ao coletivo e vice-versa. Diferente de um “Eu” solitário que
precisa provar ser capaz de pensar para depois existir.
O entendimento de dança, nesse trabalho, tende a flutuar por
pólos de pertencimento, ora no sujeito, ora no coletivo. Talvez,
porque tenha sido pensada num local de miscigenação de filoso-
fias, da europeia com a africana com a asiática… Embora nada
disso seja, realmente, novo. Não importa, pois a novidade aqui
parece estar na oportunidade de se pensar a (re)existência da
dança no coletivo a partir deste que dança solo.
Bruno Freire
Formado em Performance e Dança pela PUC-SP com experiência na
área de interpretação e criação em performance e teatro. Atualmente
desenvolve projeto de mestrado em Comunicação e Semiótica na PUC-
SP, assimilando discussões do Centro de Estudos da Dança, trabalhando
como um artista agregado na Plataforma Desaba e dividindo residência
no Centro Cultural Casa das Caldeiras com o projeto Valparaíso.
Concepção/Direção/Coreografia Tuca pinheiro Iluminação Junior
da Mata Música/Trilha sonora/Colagem musical/Figurino Juliana
Macedo Assistência filosófica Adriana Banana Preparação corporal
Margô Assis
Coprodução - FID 2006 – Fórum Internacional de Dança
Iniciada em 2007, a FIDoteca disponibiliza o acervo dos 14
anos do FID para consulta pública. Atualmente contém 133
títulos, os quais correspondem à documentação videográfica
das apresentações já realizadas. No período de 20 de outubro
a 1º de novembro, o público tem a oportunidade para rever ou
conhecer algum grupo ou obra já apresentada pelo FID.
FIDOTECA
OI Futuro20/10
-------
31/10
Centro Cultural São Geraldo
Centro Cultural São Bernardo
Centro Cultural Urucuia
21/09
24/09
25/09
56 57
Os quatro festivais de dança contemporânea de maior re-
percussão nacional, que acontecem entre outubro e no-
vembro, uniram-se desde 2005 para incentivar a circulação
de companhias nacionais e estrangeiras, compartilhando
programas, ideias e recursos.
O circuito abrange duas regiões, Nordeste e Sudeste, quatro
estados e capitais – Minas Gerais-Belo Horizonte, Rio de Ja-
neiro-Rio de Janeiro, Pernambuco-Recife e Ceará-Fortaleza.
Suas atividades as vezes incluem outras cidades também.
Uma reunião de estruturas que fortifique as cenas de novos
artistas locais, facilite a troca de informação, otimize a circu-
lação de artistas estrangeiros e se comprometa a fomentar a
cooperação e circulação de artistas brasileiros entre nossos
festivais. Dessa parceria, outras otimizações de custos e pro-
jetos já surgiram e continuarão a surgir.
Juntos, esses festivais têm potencial de alcance de mais de
60 mil pessoas, com enorme retorno de mídia espontânea.
Em cada festival, um recorte curatorial diferente. Em comum,
a qualidade das produções e a aposta na democratização de
informações na cultura.
Numa área artística que se torna cada vez mais ampla e cheia
de nuances e novas tecnologias, o Circuito se firma como uma
iniciativa que fala diretamente aos formadores de opinião, aos
jovens e a todos os interessados na vanguarda da arte.
Os quatro festivais têm uma política de ingressos populares
e enorme interação com espaços públicos e não convencio-
nais. O resultado é um público crescente e uma mídia cada
vez mais interessada e presente.
O Circuito, além de mostrar o melhor da produção interna-
cional no Brasil, é também a maior vitrine para a circulação
da produção nacional. E os festivais que o formam dividem
também a tarefa de fomentar a produção dos jovens artistas
brasileiros com estreias e projetos de cooperação interna-
cional e formação.
Quatro iniciativas muito diferentes em curadoria e realida-
des locais, mas que têm em comum o interesse pela experi-
mentação de linguagem, o investimento em novos talentos,
na formação de plateias e na cooperação igualitária entre
brasileiros e estrangeiros em processos de criação artística.
Uma das ações em conjunto do Circuito de Festivais é au-
mentar o intercâmbio com a América Latina e a África. Tra-
ta-se de uma decisão política e estratégica, de estreitar os
laços culturais e de economia da cultura com esses países.
Está claro para nós o papel estratégico do Brasil como fo-
mentador desse diálogo no nosso continente e com o conti-
nente africano.
O Circuito Brasileiro de Festivais Internacionais de Dança
convida o público para as edições de 2010 do Festival do
Recife, Bienal de Par em Par do Ceará, FID e Panorama.
CIRCUITO BRASILEIRO DE FESTIVAIS INTERNACIONAIS DE DANÇA
58 59
Praticando sua responsabilidade social e civil, o FID vem apre-
sentar publicamente sua prestação de contas.
A edição de 2010 teve o orçamento total de: R$ 1.000.000,00.
_ Lei Federal de Incentivo à Cultura: R$ 300.000,00
_ Lei Estadual de Incentivo à Cultura: R$ 250.000,00 sendo
R$ 200.000,00 benefício fiscal + R$ 50.000,00 contraparti-
da do patrocinador
_ Lei Municipal de Incentivo à Cultura: R$ 70.000,00
_ Edital Caixa Econômica Federal: R$ 80.000,00
_ Funarte (convênio): R$ 187.500,00 sendo R$ 150.000,00
apoio + R$ 37.500,00 contrapartida com recursos próprios
do empreendedor
_ Apoiadores e parceiros complementaram o valor total
NÚMEROS GERAIS DA EDIÇãO 2010
Quatro meses de atividades: agosto a novembro
_ 12 grupos participantes
_ Um projeto-bolsista / coprodução
_ 30 apresentações
_ 11 oficinas
_ Uma Mostra de Vídeos FIDoteca em três Centros Culturais de BH
_ Um ZAT – Laboratório de Dramaturgia
_ Estimativa de 340 empregos diretos gerados
_ Estimativa de público total: 8.000 pessoas
_ Ingressos das apresentações: R$ 2,00 (inteira), R$ 1,00
(meia) e entrada franca
_ Todas as demais atividades com entrada franca
NúMEROS
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Realização Atômica Artes e Joaquina Cultura
Correalização Clube Ur = h0r
Direção Artística e Curadoria Adriana Banana
Direção Executiva e de Produção Carla Lobo
Direção de Comunicação e Planejamento Mônica Simões
Produção Claudia Guimarães
Assistente de Comunicação e Produção Bruna Viana
Coordenação Técnica Leonardo pavanello
Assistentes Técnicos Alexander Ribamar, Cristiano Medeiros
e João Bosco
Receptivos Gustavo Schettino e Julianete Azevedo
Correspondente FID em Paris Gustavo Schettino
Coordenação zAT 7 Rosa hercoles
Gerenciamento Financeiro In plano Gestão de projetos
Assessoria Jurídica Frederico Costa Abijaodi/Junqueira
Sampaio Advogados
Assessoria de Imprensa pessoa Comunicação e
Relacionamento
Assessoria Contábil Empresarial Assessoria Contábil
Publicidade Sofia Comunicação
Design Gráfico Rafael Maia
Site Taxi Comunicação Digital
VT Institucional e Registro em Vídeo Tanto Design
Áudio VT e Spot Oitava
Fotógrafas Adriana Moura e Cuia Guimarães
Transporte Banana Veloz Disk Van
Serviço de Expedição henrique Jorge de Castro
FICHA TéCNICA FID 2010
pROGRAMA CIRCULANDO GRANDE Bh (SET E OUT)
Três Centros Culturais: São Geraldo, Urucuia e São Bernardo
Três apresentações
Dez oficinas
Uma Mostra de Vídeos FIDoteca nos três Centros Culturais de BH
60 empregos diretos gerados
Estimativa de público total: 500 pessoas
Todas as atividades gratuitas
pROGRAMAS FIDINhO, TERRITóRIO MINAS E CONExãO
INTERNACIONAL (AGO A NOV)
Cidade contemplada: Belo Horizonte
Estados: Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo
Países: Alemanha, Argentina, Brasil, Canadá, Estados Unidos
11 grupos participantes
27 apresentações
Uma oficina / aula aberta
Uma palestra apresentação
Um projeto-bolsista Território Minas/coprodução
ZAT 7 – Laboratório de Dramaturgia: 15 dias, 4 grupos do Ter-
ritório Minas e uma convidada, Rosa Hercoles (SP)
FIDOTECA: acervo de 13 anos para pesquisa
Oi Cabeça FID
8w espaços/ teatros
280 empregos diretos gerados
Estimativa de público total de 7.500 pessoas
Ingressos a R$ 2,00 (inteira), R$ 1,00 (meia) e entrada gratuita
FID 2010 NúMEROS POR PROgRAMA
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