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Page 1: Fichamento Negritude

FACULDADE UNIÃO DAS AMÉRICAS – UNIAMÉRICA

Curso: História - Período: 5ºProfessora: Márcia FabianiDisciplina: Brasil ImpérioAcadêmica: Rosalene Silvano da Silva Morais

BERND, Zilá. O que é negritude. São Paulo: Brasiliense, 1987. p. 7-52. n. 1

Assunto: Citação e Apreciação (comentário) da obra O que é negritude.

p. 7 – “No ano do Centenário da Abolição da escravatura no Brasil – 1888-1988 – torna se oportuna uma reflexão sobre a polêmica questão da NEGRITUDE...” O Brasil foi o último país da América Latina a possuir escravos; e no dia 13 de maio, através da Lei Áurea foi promulgada a abolição da escravatura. Essa “liberdade” não correspondeu para o negro brasileiros o momento de verdadeira libertação. O negro se torna livre, mas a classe dominante tirar proveito da situação devido à escassez de mão de obra, não criando condições mínimas para que os negros das senzalas ingressassem no mercado de trabalho urbano na nova sociedade. Percebe-se que até os dias de hoje a situação do negro liberto, muito pouco se alterou em relação ao período escravagista da sociedade brasileira.

p. 11 – “A construção do estereótipo...” Esse tem como objetivo tirar proveito de uma determinada situação seja ela por ignorância ou quando há um objetivo específico de se tornar verdadeiro algo que é falso.

p. 12 – “O maior perigo da ideologia...” Não esta apenas em permitir a dominação de um grupo ou de outro, essa tem como finalidade atribui as causas falsas de preferência apresentadas através do discurso pretensamente cientifico e verdadeiro a dominação real. Vejamos o que diz alguns dos mais importantes filósofos; no século XVIII o filósofo Montesquieu em sua obra mais importante, Do Espírito das Leis, procurou justificar a escravidão negra na América, afirmando que: “é impossível supormos que tais gentes (os negros) sejam homens, pois, se os considerarmos homens, começaríamos a acreditar que nós próprios não somos cristãos”. Já no século XIX o filósofo Hegel, em suas Lições de Filosofia da História Universal (1822-1831), sustentou que nem os povos da África nem os da América estavam aptos a realizar a Idéia da Razão, estando esses condenados a vagar no espaço natural, a menos que, mantivessem contato com os europeus poderiam vir a ser tocadas pelos Espíritos essas hordas primitivas poderiam tomar consciência de si mesmo.

p. 13 – “Somente em nosso século que ciências como a etnologia, a antropologia e a própria biologia desconstruirão – espere-se, definitivamente – a falácia que constitui em considerar as culturas como produtos de raças, isto é, do patrimônio biologicamente hereditário de uma população.” Que segundo o antropólogo Claude Lévi-Strauss, em uma obra intitulada Race et Histoire (1961), ressalta o fato de que a diversidade cultural não tem relação direta com a raça. E que, portanto, se existir originalidade cultural, esta se deve a circunstâncias geográficas e sociológicas e não à constituição anatômica ou psicológica dos negros, dos amarelos ou dos brancos. Sendo assim, em 1964, os cientistas reunidos na UNESCO, concluíram por unanimidade, que “os povos da terra parecem dispor hoje de potencialidades biológicas iguais de acender a qualquer nível de civilização. As diferenças entre as realizações dos diversos povos parecem explicar-se exclusivamente por sua história cultural”. Diante desses fatos, percebe-se que ao longo dos tempos, essas ideologias racistas, construídas através dos estereótipos negativos, deixou marcas que estão embutidas nas mentes e nos corações das pessoas em relação ao preconceito e a descriminação do negro na nossa sociedade. Além disso, essas ideologias racistas que dão fundamento ao preconceito, são introjetadas até mesmo pelo próprio negro, levando a desencadear uma crise de identidade. È a partir dessa crise de identidade que surge o movimento da Negritude.

p. 15 – “Negritude...” Vem a ser uma palavra polissêmica, que tem vários significados, e devemos ter

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muito cuidado quando a lemos ou ouvirmos, ou quando a empregamos, para não errar ou induzir os outros aos erro. A autora Lylian Kesteloot em seu artigo lista as múltiplas significações desse vocabulário que é um neologismo, pois surgiu na língua francesa há aproximadamente 50 anos. Além disso, Negritude pode remeter: ao fato de se pertencer à raça negra; à própria raça enquanto coletividade; a consciência e à reivindicação do homem negro civilizado; a característica de um estilo artístico ou literário; e ao conjunto de valores da civilização africana. Já o Novo Aurélio do século XXI, define Negritude como: 1) Estado ou condição de pessoas negras. 2) Ideologia característica da fase de conscientização, pelos povos negros africanos, da opressão colonialista, a qual busca reencontrar a subjetividade negra, observada objetivamente na fase pré-colonial e perdida pela dominação da cultura branca ocidental. E, portanto, a definição de negritude deve ser vista como etapa que, portanto deverá ser substituída por outra. E assim sendo o conceito encerra a definição de negritude como algo transitório, algo que pode vir a ser superado, após a faze de conscientização.

p. 17 – “...o movimento surgido por volta de 1934, em Paris, e que foi definido pelo poeta antilhano Aimé Césaire como “uma revolução na linguagem e na literatura que permitiria reverter o sentido pejorativo da palavra negro para dele extrair um sentido positivo”, só foi batizado com o nome de negritude em 1939, quando ele é batizado pela primeira vez em um trecho do Cahier d’um retour au pays natal (“Caderno de um regresso ao país natural), poema de Césaire que se tornou a obra fundamental da negritude.

p. 18 – “Cinqüenta anos após seu surgimento, um de seus criadores, Aimé Césaire, redefine a negritude em entrevista ao escritor haitiano René Depestre, publicada no livro Bonjour et adieu à la negritude: “Tenho a impressão de que (a negritude) foi, de algum modo, uma criação coletiva. Eu empreguei a palavra pela primeira vez, é verdade. Mas em nosso meio nós todos a empregamos. Era verdadeiramente a resistência à política de assimilação”. Césarie redefine a negritude em uma entrevista ao escritor haitiano René Depestre, em que tem se a impressão de que a negritude foi de algum modo uma criação coletiva.E que fora o primeiro a empregar a palavra pela primeira vez. Sendo que de uma forma ou de outra ela era empregada por todos nos. E que, portanto era verdadeiramente a resistência à política de assimilação.” Essa política de assimilação esta se referindo à tendência dos povos americanos, principalmente as dos negros, de assimilar a cultura européia, tendo como conseqüência a perda da memória das culturas de origens, indígena e africana; ocasionando o processo de desculturação dos povos

p. 19 – “O conceito do poeta senegalês Léopold Sedar Senghor se alicerça sobre a existência de uma alma negra...” Senghor procura definir essa alma negra, isto é, a psicologia do negro africano. Que segundo ele, essa alma negra é essencialmente emotiva, em contraposição à racionalidade do branco. A civilização materialista, Senghor contrapõe os valores originais dos negros fundados na vida, na emoção e no amor, que para eles são privilégio do negro.

p. 20 – “...,basicamente, podemos falar de “negritude” em dois sentidos:” A primeiro em um sentido lato, e vem sendo utilizada para referir a tomada de consciência de uma situação de dominação e de descriminação, e a conseqüente reação pela busca de uma identidade negra. Já a segunda em um sentido restrito, procura referir os momento dessa trajetória na construção de uma identidade negra, dando-se a conhecer ao mundo como um movimento que pretendia reverter o sentido da palavra negro, dando lhe um sentido positivo. Sendo assim, a negritude passou a ser considerada como o primeiro momento de tomada de consciência de uma situação dominante e/ou descriminação na sociedade.

p. 21 –“...a ação do herói da libertação haitiana – Toussaint Louverture – e a do herói do Quilombo dos Palmares – pode ser tomadas como o marco zero da negritude, na medida em que esta, em suas origens, associa-se ao marronnage...” que vem a ser o comportamento revolucionário que acabou levando muitos escravos a fugirem de seus senhores em busca de liberdade, preferindo esses o espaço agreste das matas à condição de submissão impostas no espaço da fazenda. Além disso, a negritude ergueu-se pela primeira vez no Haiti, as rebeliões de escravos e suas tentativas de organização políticas e sociais representavam o início de uma luta por uma vida autônima, longe da vigilância dos senhores. p. 22 –“...Zumbi – o grande líder do maior e mais conhecido dos quilombos, o do Palmares...” Lutou também contra esse regime de

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escravidão, e se torna o mais importante herói do movimento negro no Brasil. Sendo comemorado no dia 20 de novembro o Dia Nacional da Consciência Negra.

p. 26 –“...1927, La Revue Indigene, em torno da qual se reunirão intelectuais defensores do movimento indigenistas, que pode sem dúvida ser considerado como uma das primeiras manifestações da negritude.” O indigenismo pregava o retorno à cultura autóctone e popular, valorizando os falares crioulos e o vodu, religião como os candomblé brasileiro foi proscrita durante muitos anos.

p. 24 –“Que acontecimentos históricos marcaram os anos 1920-1930, período da gestação da negritude? No Estados Unidos, grave crise econômica provocada pelo crack da bolsa de Nova Yourk; na Rússia, início dos expurgo de Stalin, após a revolução de 1917; na Alemanha, Itália e Espanha, ascensão do nazi-fascismo (ideário que, infelizmente, encontrou adeptos nos demais países da Europa e ate na América); na África, grande parte dos países sob dominação do colonialismo europeu; no Haiti, recolonização econômica pelos Estados Unidos, em 1915. Completando o panorama da situação geral dos negros nas Américas: descendentes de escravos, eles foram o proletariado (quando não o lumpemproletariado, constituído pela camada marginal da população), sofrendo com o racismo e a segregação.” Além disso, no ano de 1915, o Haiti se tornou o primeiro país da América a conquista sua independência, através de uma revolta de escravos.

p. 28 –“...da reunião desses estudantes negros surge, em 1932, o Manifesto da Legítima Defesa, denunciado com agressividade a exploração do proletariado negro no mundo.” Tendo como núcleo principal dessa acusação a dominação intelectual que levava à assimilação do colonizado, fazendo-o a acreditar que era inferior aos demais. Dentre esses estudantes encontravam-se os que hoje são considerados os grandes nomes da Negritude: Aimé Césaire (Antilha), Léopold Sédar Senghor (África) e Léon Damas (Guiana Francesa), que em nome da crítica do sistema colonial e da defesa da personalidade negra, fundam no ano de 1935 o jornal L”Etudiant Noir, que tem um importante papel em difundir as idéias novas do movimento.

p. 29 –“O marxismo, por ser a força política mais apta a sustentar os colonizadores em sua revolta; o surrealismo, por privilegiar o “primitivo”, solapando os valores racionalistas do Ocidente, adapta-se como uma luva a um movimento que pretende contrapor a EMOÇÃO à RAZÃO, o MÁGICO ao CIENTÍFICO; o existencialismo, por ser a filosofia segundo a qual o homem se define pela ação.” O primeiro momento do marxismo foi despertar na sociedade a consciência da raça negra. Com o passar dos tempos surgem duas novas tendências; uma que opera o transito para uma consciência de classe e a conseqüente identificação com todos os oprimidos, independente da cor da pele, e a outra que permanece presa unicamente a uma consciência de raça, fato que suscitará as primeiras críticas. p. 31 –“...,o fator determinante da fragmentação foi a recuperação do movimento pelas elites dominantes, que espertamente se aperceberam de que alguns grupos radicalizam-se na reivindicação de uma especialidade da raça e dos valores negros, pondo de lado a necessidade solidariedade entre os oprimidos, independente da cor da pele”. Os brancos acabam se aproveitando dessa situação, devido aos isolamentos impostos pelo próprio negro, e passam a descriminar os negros, sob a alegação de que são eles mesmos que se querem diferentes.

p. 33 –“Para Aimé Césaire, a Negritude representava antes de tudo, um ato de subversão, a qual se realizava no nível da linguagem. A palavra de ordem era subverter os discursos rituais que se impunham aos negros colonizados, fazendo-os escrever poemas sobre neve e outros elementos da flora e da fauna européias que os poetas do Caribe jamais haviam visto.” Redescobrir e principalmente renomear o seu país e as coisas, e redefinir sua identidade de negro na América era a proposta do movimento que tem como objetivo acabar com os princípios de imitação e de submissão aos moldes da cultura Europa.

p. 38 – “a palavra sartreana causou profundo abalo no movimento e desencadeio outras tantas críticas que fragmentaram cada vez mais a negritude...agrupadas em dois pontos. O primeiro ponto 1) especificidade de raça; torna cientificamente falsa e ideologicamente perigosa a vinculação automática entre raça e cultura, ou seja, estabelecer correspondência imediata entre as características psicofísicas dos indivíduos de um determinado grupo étnico e sua produção cultural..”39 –“...segundo os críticos, a

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Negritude, ao encerrar na consciência epidérmica, num mero”reconhecer-se pela cor da pele”, teria determinado o nascimento de um racismo às avessas, condenando-se a si própria ao museu da História. Longe de ser unicamente uma questão de comunidade de raça, o grande problema dos negros espalhados pelo mundo está atrelado à sua condição de oprimido devido a uma ordem social injusta.” Já o segundo ponto. 2) supremacia dada ao conceito de raça em detrimento do de classe. Este se constitui no alvo central da crítica marxista, constrói-se sobre a afirmação de que o conceito de raça é particular e concreto, enquanto o de classe é universal e abstrato, e que, portanto a Negritude, ao privilegiar a afirmação da raça, estaria mascarando o real problema do negro – sua situação de proletariado ou menos do que isto – e dificultando a solidariedade entre os oprimidos.

p. 38 –“...Luiz Gama, assume pela primeira vez o termo BODE com que pejorativamente eram chamados os negros...” Poeta acaba dando ao poema (sátira) uma força desmistificadora, negando o discurso do branco, por associar o negro ao bode, e amplifica o valor pejorativo da palavra, estendendo-a também aos brancos. As suas obras foram o marco no processo de conscientização do negro brasileiro e também da literatura negra brasileira porque, pela primeira vez, põe a nu as tensões e contradições às vésperas da Abolição, redimensionando o papel do negro nessa sociedade.

p. 46 –“Ao contrario de Castro Alves, em cuja poesia o negro continua sendo o outro, ou seja, aquele de quem se fala, Luiz Gama se assume como outro, como aquele que é mantido pela “maioria” branca em uma situação de estranheza dentro do corpo social. Nesta medida, sua poesia configura-se como um divisor de águas na literatura brasileira, pois traz à tona a fala do negro que assume a primeira pessoa do discurso.”

p. 47 –“O TEN foi uma espécie de modelo brasileiro da negritude, onde o negro”afiou os instrumento de sua recusa, engendrada na espoliação e no sofrimento: recusa da assimilação cultural, recusa da miscigenação compulsória.” O TEN (Teatro Experimental do Negro, montava peças para o negro) 1944, suas peças eram escritas por autores negros e também interpretadas por negros, buscavam resgatar os complexos de inferioridade do negro criados por toda uma literatura onde ele nunca ocupara o papel de herói, mas o de vilão ou de inferioridade. O teatro desenvolveu um importante papel de conscientização negra inclusive de consciência de nacionalidade. No ano de 1915, surge a imprensa negra, que acaba atingindo um maior número de pessoas em relação aos teatros e se dedicava quase que exclusivamente aos problemas relacionados a questão racial, era portanto a regeneração da raça pelo aprimoramento cultural.

p. 48 –“A grande importância desses jornais , que se publicaram de 1915 a 1963, com exceção do Estado Novo – 1937 – 1945 (a ditadura de Getulio Vargas), foi terem sido o veiculo privilegiados das novas idéias que visavam à unificação dos negros”. O Alvorada no ano de 1945 se torna órgão de difusão da Associação dos Negros Brasileiros, com o intuito dos negros não se dispersarem.

p. 50 –“Da Frente Negra Brasileira (1937), Associação de Negros Brasileiros (1945), muitos grupos se formaram e se desfizeram até o surgimento, em 1878 do Movimento Negro Unificado contra a descriminação Racial (MNU), visando basicamente a desfazer o mito de que o Brasil é uma democracia racial e a conduzir formas sistemáticas de luta contra todos os tipos de discriminação racial”.

p. 52 –“A Negritude foi basicamente um movimento que pretendeu provocar uma ruptura com um padrão cultural imposto pelo colonizador como único e universal. Essa revolução, operando um deslocamento de perspectiva, oportunizou a revalorização de outras culturas, como as de origem africana e indígena, que haviam resistido à voragem assimilacionista”. E que, portanto a Negritude como tomada de consciência propicia a emergência de um discurso literário negro que acaba se transformando no lugar por excelência da manifestação do eu-que-se-quer-negro”. A crise de identidade é que originou a Negritude, esse movimento acaba evoluindo para um processo continuo de afirmação identitária que se caracteriza pela ruptura permanente dos equilíbrios estabelecidos.

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