fichamento bibliográfico - droysen, j. g. manual de teoria da história

18
Curso: Teoria da História I Aluno: Anderson Ap. Candido (3º História/Diurno) Fichamento Bibliográfico (31/05/2014) Tema: Teoria da História Texto: DROYSEN, J. G. Manual de Teoria da História. Rio de Janeiro, Petrópolis: Vozes, 2009. O Autor: Foi filólogo, tradutor, historiador e teórico da história. Nasceu em Teptow em 6 de julho de 1808 e morreu nos arredores de Berlim na manhã de 19 de julho de 1884. Se formou na Universidade de Berlim em meados de 1830 (filologia e filosofia), sendo inclusive aluno de Hegel, cujo pensamento acabou-o marcando para sempre. Em 1833 lança sua pesquisa sobre Alexandre o Grande. A obra intitulada História Geral do helenismo (em três volumes) cunha o conceito de helenismo e analisa de forma inovadora a transição da Grécia Clássica para o cristianismo primitivo, onde este acaba sendo retratado como um momento de renovação. Traduziu diversas obras, dentre elas: as obras de Ésquilo (dois volumes publicados em 1832); Aristófanes (três volumes publicados de 1835 à 1838). Durante a década de 1830, Droysen lecionou em Berlim como professor extraordinário e não remunerado. Em 1840 foi nomeado para a cadeira de História de Kiel, onde progressivamente acabou abandonando seus estudos clássicos e filológicos e pela história contemporânea para se dedicar aos assuntos políticos. Droysen se colocou à frente de um movimento pró unificação alemã sob o Estado Prussiano. Alguns escritos dessa época (Preleções sobre as guerras de liberdade) tratavam de exaltar as grandes revoluções da modernidade política ocidental, destacando a Independência dos Estados Unidos, a Revolução Francesa e o movimento prussiano-germânico de resistência à dominação napoleônica. Em Iena escreveu sua História da política prussiana (obra incompleta devido a sua morte), onde ele editou os primeiros volumes em 1855, 1857 e 1859. Nesse período, lecionou as aulas de Enciclopédia e Metodologia cujos apontamentos estão na obra trabalhada neste fichamento.

Upload: anderson-candido

Post on 28-Dec-2015

322 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Fichamento Bibliográfico - DROYSEN, J. G. Manual de Teoria Da História

Curso: Teoria da História I Aluno: Anderson Ap. Candido (3º História/Diurno)Fichamento Bibliográfico (31/05/2014)Tema: Teoria da História

Texto: DROYSEN, J. G. Manual de Teoria da História. Rio de Janeiro, Petrópolis: Vozes, 2009.

O Autor:Foi filólogo, tradutor, historiador e teórico da história. Nasceu em Teptow em 6 de julho de 1808 e morreu nos arredores de Berlim na manhã de 19 de julho de 1884. Se formou na Universidade de Berlim em meados de 1830 (filologia e filosofia), sendo inclusive aluno de Hegel, cujo pensamento acabou-o marcando para sempre. Em 1833 lança sua pesquisa sobre Alexandre o Grande. A obra intitulada História Geral do helenismo (em três volumes) cunha o conceito de helenismo e analisa de forma inovadora a transição da Grécia Clássica para o cristianismo primitivo, onde este acaba sendo retratado como um momento de renovação. Traduziu diversas obras, dentre elas: as obras de Ésquilo (dois volumes publicados em 1832); Aristófanes (três volumes publicados de 1835 à 1838).Durante a década de 1830, Droysen lecionou em Berlim como professor extraordinário e não remunerado. Em 1840 foi nomeado para a cadeira de História de Kiel, onde progressivamente acabou abandonando seus estudos clássicos e filológicos e pela história contemporânea para se dedicar aos assuntos políticos. Droysen se colocou à frente de um movimento pró unificação alemã sob o Estado Prussiano. Alguns escritos dessa época (Preleções sobre as guerras de liberdade) tratavam de exaltar as grandes revoluções da modernidade política ocidental, destacando a Independência dos Estados Unidos, a Revolução Francesa e o movimento prussiano-germânico de resistência à dominação napoleônica. Em Iena escreveu sua História da política prussiana (obra incompleta devido a sua morte), onde ele editou os primeiros volumes em 1855, 1857 e 1859. Nesse período, lecionou as aulas de Enciclopédia e Metodologia cujos apontamentos estão na obra trabalhada neste fichamento.Publicou três volumes da biografia Conde Yorck von Wartenburg (entre 1851-52), que havia sido um importante comandante militar prussiano da época das guerras contra as investidas napoleônicas. Obteve a cadeira de história da Universidade de Berlim em 1859. Com o tempo, Droysen acabou ingressando em destacadas academias de ciências como a de Saxe e de Leipzig (1857), Baviera (1858), Berlim (1867), alem de se tornar o historiógrafo da Casa Real de Brandemburg (1877), onde passou a ter acesso ilimitado aos arquivos prussianos, dedicando-se à pesquisa até sua morte em 1884.Reconhecido como um dos maiores historiadores alemães do seculo XIX, embora tenha acabado no ostracismo, sobretudo pela produção da Escola dos Annales, bem como pelo mundo anglo-saxão. Droysen, com sua obra inovadora, contesta a concepção positivista da história e a história narrativa (como mero passatempo).

A Obra:O livro Grundriss der Historik (título original em alemão) é fruto de anotações publicadas pelo autor em 1858 das aulas de Enciclopédia e Metodologia da História que ministrou na Universidade de Berlim. Representa um marco no que diz respeito a introdução ao conhecimento histórico.

Page 2: Fichamento Bibliográfico - DROYSEN, J. G. Manual de Teoria Da História

Seu livro foi o primeiro tratado de formalização das diferentes fases e procedimentos metodológicos da história, cujos parâmetros metódicos seguiam um padrão científico. Sua obra antecipa muitas questões que ainda hoje são colocadas pelos historiadores, sendo um dos primeiros a se recusar a reduzir a história a uma simples ciência de textos ou uma narrativa objetiva a partir dos documentos. Para Droysen, a finalidade da história é sempre incompleta, pois se compreende ao pesquisar. Nessa Historik, onde não existe um sentido fixo e pré-determinado a priori, o passado não se reduz a simplesmente explicar o presente, ela discute a responsabilidade e legitimidade do indivíduo. Para ele, esta ciência seria um cânone, chamando-a de uma ciência ética, pois acreditava que a ética tinha relação com a teoria da história, e que o mundo ético seria o mundo da história. Portanto, a ética seria a legítima filosofia da história.Em seus escritos, procurou elaborar uma reflexão de uma teoria sistemática e uma metodologia para a história, procurando resumir o particular e o universal, o empírico e o especulativo, as relações entre sujeito e objeto do conhecimento histórico, bem como, indicando vários tipos de escrita para a apresentação das pesquisas. Dentro da obra de Droysen, é possível identificar traços de nacionalismo e religiosidade, pois seu pai era pastor na Pormerânia e acabou se integrando ao exército da Prússia contra o avanço napoleônico em 1807.

Introdução (p. 35-43)

I. A história (Die Geschichte) p. 35-38

O autor nos fala sobre o movimento incessante do mundo, onde os acontecimentos parecem ser frutos de um constante devir. Nesses acontecimentos, têm-se a ideia de avanço, onde o tempo seria decisivo. Segundo Droysen, essa seria a nossa concepção de história.

Segundo Droysen, a soma desses movimentos seriam o mundo ético, e somente nele a história pode ser aplicada integralmente.

“A ciência da História é o resultado de percepções empíricas, de experiências e da pesquisa […]” (p. 36).

Droysen define o empirismo como “energia específica”, ou seja, através de estímulos sensoriais, o espírito recebe “[…] signos dos objetos do mundo exterior, que produziram essa estimulação” (p. 36). Através dessa correspondência externa, onde o espírito humano cria sistemas de signos, os objetos são apresentados constituindo assim o mundo das ideias. As representações passam por novas percepções e acabam tomando posse do mundo exterior, para “[…] concebê-lo e dominá-lo em função de seu saber, de sua vontade e de seu poder de transformação” (p. 37).

“Toda pesquisa empírica se rege sob coordenadas por nós orientadas” (p. 37). Os dados da pesquisa histórica estão no presente, em forma de lembranças ou vestígios do que foi e de como chegou até nós.

“Cada ponto do presente é fruto de um vir-a-ser. O que ele era e como se formou, é passado, mas é um passado que ainda se encontra de forma ideal nele” (p. 37).

Segundo Droysen, o pesquisador joga luz sobre esse passado, trazendo-o à tona.

Page 3: Fichamento Bibliográfico - DROYSEN, J. G. Manual de Teoria Da História

O que se ilumina é o passado no presente. “Esses brilhos despertados estão para nós no lugar dos passados, eles são sua presença espiritual” (p. 37).

Através da visão e conhecimento do passado (sem existência nem durabilidade, somente nele e através dele) o presente se ilumina e enriquece.

Somente os atos que o espírito humano produziu se iluminam para nós. Através desses atos “o ser humano mostra a expressão de seu ser individual, de

seu eu” (p. 38).

II. O método histórico (Die historische Methode)p. 38-42

“O método da pesquisa histórica é determinado pelo caráter morfológico de seus materiais […], […] A essência do método histórico é de compreender ao pesquisar” (p. 38).

“A possibilidade de compreensão reside na afinidade congênita das manifestações disponíveis como material histórico. […] A manifestação ao ser percebida, projetando-se para o interior de quem a percebe, estimula o mesmo processo interior. Percebendo o grito da angústia, pressentimos a angústia daquele que grita, etc.” (p. 39).

A manifestação particular (manifestação do interior ou expressão da natureza interior) seria uma força central em si, “[…] declarando sua natureza, como sendo um todo sem diferença, como também o é cada um de seus efeitos e manifestações periféricas” (p. 39).

“O particular é compreendido no todo e o todo é compreendido no particular” (p. 39).

O ser humano só é compreendido em sua totalidade quando compreende aos outros, ou seja, “[…] ao ser compreendido por outros, vivendo em comunidades éticas com outros (família, povo, Estado, religião, etc.) ” (p. 40).

O indivíduo é uma expressão do seu mundo e do seu tempo onde vive. “A combinação das épocas, povos, estados, religiões, etc., nada mais é que uma

expressão da totalidade absoluta […]” (p. 40). Droysen aponta ter métodos científicos: especulativo (filosófico ou teológico), o

físico e o histórico. Sua essência seria reconhecer, esclarecer e compreender. “O mundo ético, movido por muitos fins e objetivos […], […] tem por fim

último o desenvolvimento perpétuo, em intensificação permanente […]” (p. 41). Segundo Droysen, esse mundo ético é para nós a história. “A cada passo dado

adiante nesse tornar-se e crescer, amplia-se e aprofunda-se a compreensão da história, isto é, o seu ser compreendido e o seu compreender; […] a história precisa aprofundar, sem descanso, as suas pesquisas, ampliar seus horizontes” (p. 42).

Os acontecimentos históricos têm a sua verdade nos poderes éticos […], […] estes são a sua respectiva concretização. Pensar historicamente significa ver, nessas realidades, a sua verdade” (p. 42).

Page 4: Fichamento Bibliográfico - DROYSEN, J. G. Manual de Teoria Da História

III. A tarefa da teoriap. 42-43

“A teoria da história abrange a Metódica da pesquisa histórica, a Sistemática do que é historicamente pesquisável e a Tópica dos modos de exposição do historicamente pesquisado” (p. 43).

A Metódica (Die Methodik)p. 45-59

Droysen começa o capítulo afirmando que nosso saber é herdado, resultado de um processo histórico transmitido através da memória.

“A partir da totalidade do que possuímos dessa maneira, a partir da sensação desse nosso conteúdo e da intuição própria desse saber, gera-se para nós uma representação do todo, de uma parte, de um momento singular” (p. 45).

O autor se questiona sobre a totalidade. Será que as coisas são como elas se apresentam? Para ele, precisamos entender como elas surgiram para nós; é necessário entender como essa totalidade foi apropriada, ou seja, “[…] precisamos examiná-la, esclarecê-la, comprová-la” (p. 45).

I. A heurística (Die Heuristik)p. 46-49

Segundo Droysen, a questão histórica é o ponto de partida de toda pesquisa. Droysen define o que são materiais históricos. Segundo ele, “Material histórico

é, em parte, aquilo que ainda está diretamente disponível (vestígios) daqueles presentes, cuja compreensão estamos buscando, em parte o que dos mesmos refugiou-se no imaginário dos seres humanos e nos foi transmitido pela memória (nas fontes) e, em parte, são coisas nas quais as duas formas se encontram e estão combinadas (monumentos) ” (p. 46).

Droysen destaca uma série de vestígios que podemos utilizar, dentre eles estão: obras de caráter artístico, técnico, estradas, etc. ou seja, produzidas pelas mãos dos homens; costumes, leis, regulamentos civis, ou seja, estados da vida em comunidade; escritos filosóficos, literários, mitológicos, ou seja, manifestações do espírito e intelecto humano; correspondências, faturas, arquivos, ou seja, documentos oficiais.

Vestígios trazidos para outras finalidades (como decoração), documentos que apontem um fechamento de negócios, obras de arte, inscrições, moedas, medalhas, etc., “[…] atuam na intenção de fixar uma memória são também monumentos” (p. 47).

Segundo Droysen, “Nas fontes, as coisas do passado são conservadas para fins de memória” (p. 47).

“Cada lembrança, desde que não tendo sido fixada externamente (em versos, fórmulas sacras, textos escritos, etc.) continua a viver e a se transformar juntamente com o imaginário daqueles que as guardam (como a “tradição” na Igreja Romana) ” (p. 47).

Page 5: Fichamento Bibliográfico - DROYSEN, J. G. Manual de Teoria Da História

As fontes são predominantemente subjetivas, ou podem ser objetivas (pragmáticas).

Segundo o autor, as fontes podem pertencer à duas séries: Série Subjetiva: “[…] a percepção é turvada pela imaginação, ou pelo

sentimento dominante (lendas, canções históricas, etc.), em parte, aquelas cujo material serve somente para contemplações ou argumentações (discursos judiciais, parlamentares, etc., escritos publicistas, etc., livros de profetas, Dante, Aristófanes, etc.) ” (p. 47).

Série Pragmática: segundo Droysen, é necessário distinguir “[…]o domínio e as maneiras de combinar e relacionar, de preferência àquelas que transmitem apenas fatos isolados” (p. 48). O significado das fontes passa a residir nos fatos apreendidos. Essa apreensão será diferente de autor para autor e dependendo dela ser para si própria “[…] (ou para outros, para um, para poucos ou para todos, para o mundo contemporâneo, ou para a posteridade, para instrução, para o divertimento, ou finalidades comerciais) ” (p. 48).

Finaliza apenas mencionando as fontes derivadas que seriam interpretações de interpretações.

Os valores de cada série dependem de qual finalidade deve servir ao pesquisador.

Segundo Droysen, as fontes por mais seguras que sejam, apenas nos mostram fragmentos de um passado.

“Pela natureza de seus objetos, os dados empíricos históricos carecem de segurança que os dados empíricos físicos possuem nas observações e experimentos” (p. 48).

É através da questão histórica que resultam as fontes que serão utilizadas na busca da sua resposta.

Segundo Droysen, a heurística amplia o material histórico: “a) pela busca e descoberta divinatória; b) pela combinação, que, através de classificação correta, faz com que um material que parece não ser histórico passe a ser classificado pelo estatuto do documento […], […] c) por analogia, que aplica para o esclarecimento a sucessão de eventos sob condições semelhantes; d) por hipótese, cuja comprovação é a evidência do resultado […]” (p. 49).

A heurística mantém um diálogo permanente com outras disciplinas, chamadas pelo autor como “ciência auxiliar”.

II. A crítica (Die Kritik)p. 49-53

“A crítica não busca o “fato histórico propriamente dito, pois cada chamado fato histórico […], […] são um complexo de ato de vontade […]” (p. 49).

“A tarefa da crítica é determinar em qual relação se entrelaça o material ainda disponível em relação aos atos de vontade, dos quais ele oferece testemunho” (p. 50).

“As formas de crítica são determinadas pela relação entre o material a ser explorado e os atos de vontade, dos quais receberam sua configuração” (p. 50).

A) Na heurística dos documentos, segue o autor, pergunta-se ao documento se ele é realmente o documento que diz ser. Chama-se crítica de autenticidade, e

Page 6: Fichamento Bibliográfico - DROYSEN, J. G. Manual de Teoria Da História

mesmo que seja comprovada a falsificação, ainda sim, seria um documento histórico importante.

A diplomática é “Uma forma de aplicação da crítica de autenticidade […]” (p. 50).

B) No método diacrítico, a pergunta é se o material foi alterado e/ou quais foram as mudanças feitas no documento.

C) Na crítica da exatidão, “A pergunta é se o material, que já foi produzido, realmente indicou e podia indicar a comprovação, pela qual é ou pretende ser considerado […]” (p. 51).

Segundo Droysen, nesse tipo de crítica da exatidão é necessário fazer algumas perguntas: 1) É possível o que nos é relatado; 2) “Se é possível sob as condições e nas circunstâncias dadas” (p. 51); 3) Se pode ter havido uma deformação intencional por parte do autor do documento; 4) Se for “[…] inevitável uma inexatidão” (p. 51).

Segundo Droysen, a crítica às fontes distingue: 1) O que significou na época que foi elaborada; 2) O que ela representou para o imaginário da época; 3) O que significou as inclinações e caráter do autor do documento na sua elaboração.

D) É feito uma classificação crítica do material para saber se o documento está completo ou incompleto para aquela pesquisa a ser desenvolvida pelo pesquisador;

É necessário rigor na identificação das lacunas dadas pelos documentos, pois só assim, a pesquisa teria mais crédito, já que as lacunas sempre vão existir.

III. A interpretação (Die Interpretation)p. 53-59

“A essência da interpretação é ver realidades nos acontecimentos passados, com toda a abundância das condições que exigiram sua concretização e existência” (p. 54).

Droysen aponta quatro pontos de vista na interpretação: a) Método Demonstrativo/comparativo: somente com abundância de materiais se aplica esse método demonstrativo. No caso de insuficiência de materiais, se aplica o método comparativo; b) Método do meio geográfico: “As condições do espaço físico […], […] explicam-se pela geografia […]” (p. 55); c) Interpretação psicológica: “[…] procura no fato os atos de vontade que a produziram” (p. 56).

“Nos poderes éticos encontram-se a continuidade da história, o seu trabalho e seu prosseguimento, neles todos fazem parte, cada um em seu lugar; através deles, indiretamente também o mais inferior, o mais pobre, vive junto com a história” (p. 57).

D) “A interpretação das ideias entra na lacuna deixada pela interpretação psicológica”

Droysen chama à atenção para uma série de perguntas para se aproximar do material disponível: Pra isso é necessário fazê-lo por duas formas de interpretação: A perspectiva estática e a perspectiva dinâmica.

A Sistemática (Die Systematik)

Page 7: Fichamento Bibliográfico - DROYSEN, J. G. Manual de Teoria Da História

p. 61-76

“O campo do método histórico é o universo do mundo ético” (p. 61). Droysen define o que seria esse mundo ético. Segundo ele “O mundo ético é, em

seu momento presente de constante mudança, uma confusão caótica interminável de negócios, estados de coisas, interesses, conflitos, paixões, etc.” (p. 61).

Segundo Droysen, é necessário apreender os sentidos do mundo ético, pois isso é apreender historicamente.

“O mistério de todo o movimento é sua finalidade […]. Quando a interpretação histórica observa […], […] vê o objetivo das finalidades a se realizar e a se desnudar, ela tira conclusões sobre a finalidade última, na qual o movimento se completa […]” (p. 61).

Droysen afirma que o homem somente se torna um ser humano vivendo nas potências éticas, ambos estão ligados.

“Sem a consciência de seus fins e do fim maior, sem a teodicéia da história, sua continuidade seria somente um movimento circular repetitivo” (p. 62).

I. O trabalho histórico segundo suas matérias (Die geschichtliche Arbeit nach ihren Stoffen)

“O material do trabalho histórico é a matéria dada pela natureza e a matéria que passou a existir, fruto do devir histórico; ambas são simultaneamente condição e meio […]” (p. 63).

A) “Pesquisando e compreendendo a natureza, dominando-a e configurando-a visando fins humanos, o trabalho da história a eleva para a esfera ética e coloca a esfera terrestre o aerugo nobilis (ferrugem nobre) do querer o do poder humano” (p. 63).

B) “O trabalho da história permite ao homem reconhecer […], […] aquilo que ele é por suas aptidões naturais e […], […] ao passar a se reconhecer; ele faz do genus homo (espécie humana) o ser humano histórico, ou seja, ético” (p. 64).

C) “As formações éticas humanas, resultado do trabalho histórico […], […] tornam-se novamente norma, impulso e meio para novo trabalho” (p. 64).

D) “[…] a história constitui suas forças impulsionadoras, seus atrativos, seus efeitos sobre as massas” (p. 64).

II. O trabalho histórico segundo suas formas (Die geschichtliche Arbeit nach ihren Formen)

“Cada um desses poderes éticos cria sua esfera, seu mundo próprio, fechado em si mesmo, exigindo de cada um o dever de ir ao seu auxílio e de trabalhar por ele, ao mesmo tempo elaborar e ativar o seu valor ético-moral nele” (p. 65).

A) Comunidades naturais: “[…] o natural deve se tornar ético mediante um processo primeiro de desejo, por amor, fidelidade, dever, etc.” (p. 66).

Segundo Droysen, na família “[…] fundam-se os laços ético mais intensos, as mais profundas formações sociais […]” (p. 66).

Page 8: Fichamento Bibliográfico - DROYSEN, J. G. Manual de Teoria Da História

“A vizinhança. Aqui surgem os primeiros atritos no espaço em conjunto” (p. 66).

“O povo. Estado natural, religião natural, etc. A era étnica universal. A rigidez e a mobilidade dos tipos de povos. A chamada psicologia dos povos” (p. 67)

B) Comunidades ideais: “[…] o espiritual […], […] deve penetrar-se nas realidades a fim de tornar-se […], […] um elo entre almas, um tesouro em comum” (p. 67).

“A fala e as linguagens. Todo o pensar é falar, movendo-se nas formas que a linguagem envolve e conduz adiante” (p. 67)

“A verdade e as ciências. A verdade científica. A amplitude de alcance dos métodos. A natureza do ceticismo, da doutrina, da hipótese, etc. Nominalismo e realismo, etc.” (p. 68).

“O sagrado e as religiões. Cada religião é uma expressão da carência e do desamparo na existência finita e da necessidade de saber que se está dentro de uma existência infinita” (p. 68).

C) Comunidades práticas: “[…]movimentam-se os interesses em luta e os interesses conflitantes, sempre ligados pelas necessidades e impulsos naturais, sempre denominados para pressionar com suas metas ou finalidades ideais, embora essa pressão se realize apenas para atingir um estado perfeito finalmente acabado, um descanso finalmente satisfeito” (p. 68).

D) ”A esfera da sociedade. A sociedade tem a pretensão de oferecer a cada um o seu posto, no qual as comunidades éticas são atendidas e no qual as preenche” (p. 68).

E) ”A esfera da economia. O domínio dos bens e das mercadorias e as posses materiais faz a exigência do abranger e determinar todas as condições e meios necessários às comunidades éticas” (p. 69).

F) ”A esfera do Direito. O direito pretende dar a regulamentação e a fundamentação de todas as formas, nas quais as comunidades éticas se movimentam” (p. 69).

G) ”A esfera do poder. O Estado faz a exigência de ser a soma, a totalidade orgânica de todas as comunidades éticas, ser o abrigo e o amparo destas e, tanto quanto possível, sua utilidade” (p. 69).

III. O trabalho histórico segundo seus trabalhadores (Die geschichtliche Arbeit nach ihren Arbeiten)

“Todos os eventos e as mudanças no mundo ético-moral se realizam através de atos de vontade, assim como no mundo orgânico tudo se forma a partir da célula” (p. 71).

“Cada pessoa é um sujeito ético; somente através disso ele é ser humano. Ele precisa construir para si seu próprio mundo ético” (p. 71).

Droysen aponta que cada indivíduo é (para nós historiadores) de infinito interesse. Também as relações entre esses indivíduos são de nosso interesse.

“Mas acima das histórias está a História” (p. 71). Droysen aponta que esse “eu” da história é o sujeito dela e que a história seria o

“conhece-te a ti mesmo” da humanidade. “O pulso vital do movimento histórico é a liberdade” (p. 72).

Page 9: Fichamento Bibliográfico - DROYSEN, J. G. Manual de Teoria Da História

Droysen defini essa liberdade como sendo “[…] não ser impedido de participar e viver junto em cada uma das esferas, não ser perturbado ou reduzido por alguma delas, não ser excluído de nenhuma” (p. 72).

“Os pensamentos são a crítica daquilo que é e que não é como deveria ser. No momento em que os pensamentos concretizados se aperfeiçoam criando novas situações, e depois se condensam, tornando-se hábito, inércia, rigidez, a crítica é renovadamente desafiada, e assim por diante” (p. 73).

Segundo Droysen, a dialética da história seria a continuidade desses pensamentos.

Para Droysen, das situações se formam novas ideias e vice-versa, isso seria o trabalho do ser humano.

“A maioria, atendendo somente os seus interesses e negócios, vivendo somente no presente, voltados às necessidades do cotidiano, dos hábitos, da corrente da massa, seguindo somente os acontecimentos mais próximos, trabalha para a história sem escolha e vontade, sem liberdade, como massa” (p. 73).

IV. O trabalho histórico segundo seus fins (Die geschichtliche Arbeit nach ihren zwecken)

“Toda evolução e crescimento é movimento em direção a uma finalidade, que, realizando-se no movimento, quer chegar à consciência de si mesma” (p. 74).

“No mundo ético, as finalidades enfileiram-se uma à outra numa cadeia infindável de anéis” (p. 74).

Segundo Droysen, cada finalidade condiciona o outro que é condicionado por este.

O fim maior, que move a todos, “[…] não pode ser descoberto empiricamente” (p. 74).

“A ética é a doutrina dos poderes éticos, não apenas dos modos de comportamento em relação a eles e em torno deles” (p. 75).

“A ética e a teoria da história são simultaneamente coordenadas” (p. 75). “A história é a humanidade tornando-se um ser consciente de si mesmo” (p. 75). “As épocas da história não constituem a idade desse “eu” da humanidade […],

[…] mas são estágios de seu auto reconhecimento, do conhecimento de mundo, de seu conhecimento de Deus” (p. 75)

“Ao olho finito, o começo e o fim estão encobertos. Mas mediante pesquisa ele poderá reconhecer a direção do movimento corrente. Afastada a estreita barreira entre o aqui-e-agora, ele visualiza o de onde, e o para onde” (p. 76).

“A história é o saber da humanidade de si mesma, a certeza de si mesma” (p. 76).

“Ela não é a “luz e a verdade”, mas um procurar por ela, um sermão sobre ela, uma consagração sobre ela […]” (p. 76).

A Tópica (Die Topik)

Aqui nesse tópico, o autor pretende demonstrar as diversas formas de apresentação dos resultados da pesquisa.

Page 10: Fichamento Bibliográfico - DROYSEN, J. G. Manual de Teoria Da História

“As formas de apresentação não são determinadas por analogia ou dedução[…], […] mas pela natureza dupla dos objetos da pesquisa histórica” (p. 77).

“Pois a pesquisa […], […] são as duas coisas ao mesmo tempo: enriquecimento e aprofundamento do presente, mediante esclarecimento sobre seu passado, e esclarecimento sobre o passado mediante exploração e desdobramento daquilo que disso, muitas vezes, ainda está disponível no tempo presente em estado latente” (p. 78).

“[…] a apresentação sempre só poderá corresponder e querer corresponder apenas parcialmente, de certa forma, de acordo com determinados pontos de vista […], […] ao estado das coisas assim como eram em sua respectiva época e às pessoas que naquela época viveram e atuaram” (p. 78).

Droysen lembra que por muito tempo, a exposição dos fatos históricos se baseava numa narrativa com base em documentos ou fontes orais somente. Mas à partir da introdução de monumentos e vestígios como fontes históricas “[…] a pesquisa sobre o passado penetrou mais profundamente fundamentando-se com mais segurança […], […] abrem-se sempre perspectivas mais amplas dos domínios com os quais com os quais ela precisa lidar, assim igualmente se abre mais o seu conteúdo antigamente cheio de vida” (p. 79).

A) “A exposição interrogativa requer a forma da pesquisa, a fim de apresentar os resultados […], […] ela procede como se o que finalmente foi encontrado na investigação deve ser ainda encontrado ou melhor pesquisado” (p. 79).

B) “A exposição narrativa apresenta o assunto pesquisado como sendo uma sequência de fatos segundo a mímese de seu devir; ela configura, partindo da investigação, um quadro da gênese do assunto tratado pela pesquisa” (p. 80).

“Aqui é somente de modo aparente que os “fatos” falam por si, sozinhos, exclusivamente, “objetivamente”. Eles seriam mudos sem o narrador que os deixa falar” (p. 80). Aqui é possível ver a crítica feita à Ranke que defendia que os historiadores deveriam narrar os fatos como eles acorreram, com objetividade.

Para Droysen o historiador não deve ser objetivo, ele precisa compreender; Droysen aponta quatro maneiras de exposição narrativa: 1) A pragmática: “[…] mostra como um resultado premeditado […], […] pôde

se concretizar e teve que se concretizar dessa maneira, devido ao movimento das coisas convergindo em sua direção” (p. 80).

2) A monográfica: “[…] mostra como em seu desenvolvimento e crescimento uma formação histórica se fundamentou e aprofundou em si mesma e produziu, por assim dizer, o seu gênio” (p. 80).

3) A biográfica: “[…] mostra como o gênio de uma personalidade histórica determinou o seu agir e seu sofrer desde o começo, como se manifestou e se testemunhou a si mesma simultaneamente” (p. 81).

4) A catastrófica: “[…] mostra poderes, tendências, direções, interesses, partidos, etc. […], […] engajados em uma batalha, de cujos momentos ou lados os opostos se apresentam lutando, vencendo ou se reconciliando” (p. 81).

C) “A exposição didática abrange o pesquisado na ideia da grande continuidade histórica, de acordo com sua importância instrutiva para o presente” (p. 81).

“A forma adequada da exposição didática é o ensino histórico da juventude, e isso por um professor que se movimente o mais livremente possível e que realize

Page 11: Fichamento Bibliográfico - DROYSEN, J. G. Manual de Teoria Da História

pesquisas autônomas nos campos da história, dominando-os, dando testemunho do espírito mediante constantes renovações, espírito esse que anima e realiza a vida histórica” (p.82).

“O estudo histórico é o fundamento para a instrução e formação política. O homem de Estado é o historiador prático […]” (p. 84).

“O Estado é somente a mais complexa dentre as instituições dos poderes éticos […]” (p. 84).

“[…] as pesquisas e resultados das ciências naturais […], […] é somente a totalidade de repetições e expansões de vivências, evidenciadas na continuidade da história, que fornecem às mentes investigadoras de seu campo a abrangência e o nível de olhares e saberes hábeis para observar e colocar em questão as coisas, e, dessa maneira, para combinar e concluir” (p. 85).

Segundo Droysen, o mesmo procedimento vale para as ciências especulativas. “Pois toda atividade de pensamento ou de ordem poética, todo ato de criação, de

vontade e poder do ser humano se desenvolve de acordo com as formas de modo exclusivo, e de acordo com os materiais em sua maior parte, a partir dessas vivências e elaborações, e o estudo dessas gradações é tarefa da história” (p. 85).

“Nossa ciência […], […] tem a humildade de reconhecer que, em suas exposições de resultados, não tem condições de oferecer mais do que faz parte de seu domínio de pesquisa, nem além do que seus métodos possibilitam” (p. 85).

“E no momento em que ela tem consciência de não poder mais responder, ou não oferecer respostas de forma satisfatória às muitas perguntas de seu campo, então ela redobrará seus cuidados, a fim de que o que ela forneça não pareça ter mais valor do que realmente tem ou pode ter, a saber: uma representação mais próxima o possível de coisas distantes ou muito remotas que foram um presente, que agora são parte integrante de nossa realidade e ainda vivem e convivem no conhecimento dos homens” (p. 85)