FICHA TÉCNICA

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© 2019Direitos reservados para Letras & Diálogos, uma empresa Editorial Presença, Estrada das Palmeiras, 59Queluz de Baixo2730-132 Barcarena

Título original: Respostas Simples às Perguntas Difíceis dos Nossos FilhosAutora: Bárbara Ramos DiasCopyright © Bárbara Ramos Dias, 2019Copyright © Letras & Diálogos, 2019Capa: Vera Espinha/ Editorial PresençaRevisão: Maria do Carmo Bobone/Editorial PresençaPaginação: Susana Rainho MonteiroIlustrações: Cláudia GraçaImpressão e acabamento: Multitipo – Artes Gráficas, Lda.

ISBN: 978-989-8871-79-4Depósito legal n.º 450 741/19

1.ª edição, Lisboa, fevereiro, 2019

Os nomes que vai encontrar ao longo das questões são fictícios, de modo a não comprometer as crianças e as suas famílias.

Prefácio ............................................................................................................ 13

Introdução .................................................................................................... 21

Parte IConhecer para comunicar, educar e responder a tudo! ............................... 27

Capítulo 1 - Porque é que eles não me ouvem? ................... 291.1. Pais e filhos podem comunicar melhor e colaborar mais? .................... 30

1.1.1. Falamos habitualmente com os nossos filhos de forma simpática? ....321.1.2. Porque se portam mal? .................................................................. 361.1.3. Razão ou emoção? .......................................................................... 381.1.4. Educar a mente sem educar o coração. É possível? ................... 421.1.5. Ouvir mais do que falar? ................................................................ 491.1.6. Mães chatas criam filhos bem-sucedidos? .................................. 50

1.2. O castigo funciona? ................................................................................... 551.2.1. Mas, afinal, há ou não alternativas ao castigo? ........................... 561.2.2. A recompensa em alternativa ao castigo? ................................... 62

1.3. Porque fazem birras? ................................................................................ 641.4. Porque existem conflitos? ........................................................................ 69

1.4.1. Negociar é a chave? ........................................................................ 721.4.2. Técnicas de Negociação e Mediação de Conflitos. Existem? ....... 73

Capítulo 2 - Porque não fazem aquilo que eu mando? .... 872.1. Regras, regras, amor à parte .................................................................... 89

ÍNDICE

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2.2. Educar com ou sem tarefas? ................................................................... 902.3. O segredo é agradecer e pedir desculpa? ............................................... 932.4. Frustrar. É preciso? .................................................................................. 96

Perguntas sobre as regras lá de casaPorque tenho de dizer as palavras mágicas (se faz favor, obrigado...), se eles não dizem? ............................................................. 100Porque é que tenho de ficar à mesa, se já acabei? .............................. 101Porque é que tenho de ter tarefas? Sou uma criança! ........................ 101Porque tenho de fazer a cama? ............................................................. 102Porque estás sempre a dizer «não»? ................................................... 103Porque não posso sair à noite? Já tenho 14 anos. .............................. 104Porque não posso ir sozinho para a escola? Sou grande. .................. 105Porque não me deixas ter Facebook, se já tenho 10 anos? ............... 106Porque não posso brincar com o tablet sempre que me apetece? .... 107Porque tenho de convidar essas pessoas para a minha festa de aniversário? ............................................................................................. 109Porque não posso ficar acordado até tarde como vocês? .................. 109Porque não posso levar o telemóvel para a mesa e para a cama? .... 110Posso ficar hoje em casa? Não me apetece ir à escola. ...................... 112Porque tenho de estudar? ...................................................................... 112Posso aprender as letras e os números dos manos? Já tenho 4 anos. ... 114Já não sou uma criança, não percebem? ............................................. 114Porque é que eles acham que eu não percebo as coisas? ................... 116Porque é que nunca me contam nada? ................................................ 117Porque é que nunca me ouvem? ........................................................... 118Porque é que toda a gente manda em mim? ....................................... 118Porque é que nunca posso fazer nada do que eu quero? ................... 120

Capítulo 3 - Socorro, como posso adivinhar o que eles sentem para os conseguir ajudar? ............ 123

3.1. Devemos incentivar os filhos a falar sobre o que sentem? ................. 1243.2. Chapéu dos medos, fantasmas e angústias, existem? ....................... 125

3.2.1. Como responder à Ansiedade, Stress e Ataques de Pânico? .. 1263.2.2. Estratégias que reduzem eficazmente o stress. Escolha uma! Quantos quer? ............................................................................. 1283.2.3. As crianças grandes precisam de colo? .................................... 1303.2.4. Porque não vêm com livro de instruções para lidar com a autoestima? ................................................................................. 133

3.3. De pequenino se elogia o menino… ..................................................... 1393.3.1. Quais são os aspetos a ter em consideração quando elogiamos ..141

3.4. Voar é preciso? ....................................................................................... 146

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3.4.1. Onde os leva a autonomia? Dicas para desenvolver a autonomia das crianças ........................................................... 149

Perguntas sobre as emoçõesTenho medo do escuro, porque é que insistem em apagar a luz? 153Também tenho direito a ficar chateado, irritado, chorar. Não? 154Porque é que o João já não é meu amigo? ............................... 155Sinto um aperto estranho no peito, o que será? O que faço quando tenho esta coisa no peito que não me deixa respirar? ....156O que é a saudade? ...................................................................... 156Porque é que antigamente era alegre e agora estou sempre triste? ................................................................. 157Porque choramos? Porque é que os adultos choram, se estão felizes? ............................................................................. 158O que é a depressão? ................................................................... 159Porque é que o João diz que sou feio e baixo? ......................... 160Porque é que o meu cabelo é assim e não liso? ........................ 160Será que alguma vez serei capaz? .............................................. 161Porque é que me sinto bem quando me magoo? .................... 162Será que nasci no corpo errado? ................................................ 162Como gosto de mim? Às vezes não me reconheço, não sei quem sou. Onde me perdi? ................................................................... 163Porque coro sempre quando não quero? .................................. 164Porque fico contente quando faço asneiras? Eu sei que não devo, mas não consigo controlar-me, como posso lembrar-me? .... 165

Parte IIAgora sabe responder a tudo! ...................................................................... 173

Capítulo 4 - O que fazer com perguntas cliché? .......... 175Perguntas sobre o dia a diaQuando é que o Chico (animal de estimação) começa a falar como nós? Já tem 4 meses. ................................................................................................ 177Como posso tirar da garganta os homenzinhos pequenos que me estão a fazer cócegas com uma pena, aqueles do anúncio? .......... 177O Pai Natal existe? Porque existem tantos? ................................................ 178Porque é que estás a estudar? Já não tens idade. ........................................ 179O que é o racismo? .......................................................................................... 180Porque temos de ir à missa? .......................................................................... 181Quem inventou o mundo? ............................................................................. 181Porque é que as pessoas põem fogo nas casas? Porque é que matam? .... 182Porque levamos vacinas? ............................................................................... 183

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Porque vou ao médico? .................................................................................. 183Porque é que os médicos têm bata? .............................................................. 184

Capítulo 5 - A história da estrelinha no céu resulta? ..1875.1. Há consciência sobre a morte? .............................................................. 188

Perguntas sobre a morteO que é morrer? ....................................................................................... 191O que acontece depois de morrermos? ................................................. 192O que é o céu? As pessoas que morrem ficam nas nuvens? ............... 193Tu também vais morrer? E eu? ............................................................. 194Porque é que as pessoas de quem eu gosto se vão embora? .............. 195Para onde foi a avó? ................................................................................ 196Com quem fico se morrer toda a gente? ............................................... 197Para onde vão os animais quando morrem? ........................................ 198

Capítulo 6 - Alguém tem de falar com ele sobre as drogas, falas tu ou eu? ....................................... 203

Perguntas sobre os víciosSe tu fumas e bebes porque é que eu não posso? ........................................ 205Os meus amigos também fumam erva, qual é o problema? Não faz mal nenhum. ..................................................................................... 206Não percebem que assim deixo de fazer parte do meu grupo? Os meus amigos vão pôr-me de parte. ......................................................... 207Porque consomem drogas se faz mal? ......................................................... 208Posso beber uma cerveja? .............................................................................. 209

Capítulo 7 - O que é o sexo? Pergunta à mãe. .................... 215Perguntas sobre a sexualidadeO que é o sexo? ................................................................................................ 217De onde é que eu vim? ................................................................................... 219Como é que a semente entra na barriga? ..................................................... 219Como é que o bebé sai da barriga? ................................................................ 220O bebé ouve dentro da barriga? .................................................................... 221Posso espreitar o bebé pelo umbigo? ............................................................ 222Mãe, o pai está grávido? Tem a barriga tão grande. ................................... 223Porque é que a pilinha às vezes fica grande e dura? ................................... 223O que é a masturbação? ................................................................................. 224Porque é que a pilinha do pai é maior do que a minha? ............................ 225O que é a menstruação ou «história»? ......................................................... 225Há pensos higiénicos específicos para cada idade? .................................... 227 Quanto tempo temos a menstruação? .......................................................... 228

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É verdade que temos dores durante a menstruação? ................................. 228Quantas vezes por ano vou ter a menstruação? .......................................... 229O que é ser gay? Os homens podem beijar homens? Nunca me interessei por nenhuma menina, serei gay? ................................................................. 230O que é «alho», «erva»...? ............................................................................. 233Será que estou apaixonada? ........................................................................... 234Qual é o problema de dormir em casa dele? ................................................ 236O que é um preservativo? .............................................................................. 239O que está aquela senhora a fazer ali sentada à beira da estrada? ............ 240O que é a sida? E doenças sexualmente transmissíveis? ........................... 240

Capítulo 8 - Como responder às questões do divórcio, se até eu tenho dúvidas? .................................... 251

Perguntas sobre o divórcioPorque é que se vão separar? ......................................................................... 253Porque é que não me dizem a verdade? Já percebi que vocês não estão bem. 254Porque é que estão sempre a discutir por minha causa? A culpa é minha? ...255Já não gostam de mim! Se calhar é porque me porto mal. ........................ 256Como é que eu sei que tu não vais deixar de gostar de mim como deixaste de gostar da mãe/do pai? ..................................................... 257Porque é que o pai não mora com a mãe? ................................................... 258Porque é que eu não posso estar com um ou com outro quando quero? .......259Em casa da mãe faço mais coisas e posso andar à vontade. Porque não posso viver com quem quero? ................................................... 260E agora? Qual dos dois? ................................................................................. 262Estou triste, eles não percebem? ................................................................... 263

Capítulo 9 - Vamos falar sobre o dinheiro ........................ 265Perguntas sobre o desemprego e a falta de dinheiro Porque não posso ter? O meu amigo tem… ................................................. 268Porque é que não tens dinheiro? Nunca tens… ........................................... 269Antes davas-me o que eu queria e agora não. ............................................. 270Porque é que estás sempre em casa e eu não posso ficar? ......................... 272Porque há pessoas que vivem na rua? .......................................................... 273Porque é que o Pai Natal não trouxe o que pedi? ........................................ 273Porque é que o pai nunca vai à praia/cinema/festa comigo? .................... 275

Conclusão .................................................................................................... 279

Agradecimentos ...................................................................................... 285

Bibliografia ................................................................................................. 287

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Capítulo 1Porque é que eles

não me ouvem?

Um pai sábio deixa que os filhos cometam erros. Mahatma Gandhi

Promover o diálogo entre pais e filhos é fundamental para o bem- -estar geral da família. A comunicação, verbal ou não verbal, deverá ser sempre assertiva de modo a termos os resultados esperados.

Assim, proponho uma reflexão sobre a forma como comuni-camos no nosso dia a dia, e também como podemos melhorá-la, promovendo o diálogo positivo e eficaz. Claro, sempre perfilhando a filosofia do ouvir e ser ouvido. Comunique com coração.

Poderá estar a pensar neste momento «eu tento falar calma-mente, mas ele não me ouve», ou «o problema é que ele não faz o que eu mando!».

Troque ordens em voz alta por afetos, partilha de sentimentos, emoções, dúvidas, debates. Muitas vezes no stress do dia a dia sei que é difícil, mas treina-se, quando queremos conseguimos tudo! Temos é de querer!

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Antes de mais é importante compreender que as crianças gos-tam e precisam de limites, gostam de saber quando e até onde podem ir, necessitam das chamadas «balizas».

Oiça o que o seu filho tem para dizer, mostre que o compreende e que está sempre a seu lado, mas dê-lhe liberdade para poder cair. Lembre-se: se estiver sempre a agarrar a camisola atrás do seu filho, enquanto ele aprende a andar, então nunca aprenderá a cair e levantar-se novamente.

O facto de dizer «não» vai ajudá-los no crescimento, acredite. Se tudo for para eles «sim», então como irão fazer em adultos, quando ouvirem os «não» da vida?

Ao longo da nossa existência, vamos assumindo diferentes pa-péis. Somos filhos, irmãos, pais, tios, entre outros. Discussões to-dos temos, antes na condição de filhos e agora no papel de pais. Lembra-se quando dizia «que raiva, nunca me deixa fazer nada. Vou na mesma»? E agora o que diz é «vais porque eu quero», «fa-zes porque eu te estou a dizer» e «eu é que mando».

Na altura iríamos gostar com certeza que falassem connosco de forma diferente, mais assertiva, empática e compreensiva. Ninguém adora ouvir um «não» direto. Eles também não. Assim, surge este capítulo sobre a forma de aperfeiçoar o modo como fa-lamos com as nossas crianças, fazendo com que elas nos ouçam com maior vontade.

1.1. Pais e filhos Podem comunicar melhor e colaborar mais?

Em todas as casas existem discussões, em algumas quase to-dos os dias, e na minha não é exceção. Frases como «o comando é meu», «hoje é o meu dia de ficar ao lado da mãe», «isso é meu, não te empresto, não brincas», ou «foi ele, não fui eu», fazem par-te do dia a dia familiar.

Lidamos com mágoa, fúria, frustração, serenamos a situação da melhor forma que sabemos, mas por vezes sem qualquer resultado.

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Eles não ficam mais calmos e nós ficamos cada vez mais cansados e irritados por repetir o mesmo.

Quer ter um filho bem-educado e respeitador? Então observe o tom de voz que usa com ele. Quanto mais gritar, mais natural será ele gritar de volta. Se queremos respeito por parte dos nossos filhos, teremos de mostrar através de ações o que é.

Lembro-me de, ao longo da vida, diversas pessoas me dizerem em tom de crítica, «não precisas de agradecer tantas vezes. Dizes obrigada por tudo e por nada». Mas o que me provoca satisfação e orgulho é que os meus filhos também o fazem, até quando fa-lamos de situações aparentemente sem relevância, como trazer o seu champô favorito do supermercado.

Tudo é possível, mas para isso, temos de ser nós a ensinar-lhes todas essas regras e condutas morais de vida em sociedade.

«Não faças isso!»«Não batas no mano!»«Não comas com as mãos!»«Vai tomar banho!»«Fizeste os TPC?»

«Já te avisei para vires jantar!»«Não volto a dizer para lavares os dentes!»«Não grites, ninguém é surdo!»«Fizeram a cama?»«Outra vez a toalha em cima da cama, achas que sou tua criada?»

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1.1.1. falamos habitualmente com os nossos filhos de forma simpática?

Normalmente temos estas atitudes:- Culpamos e acusamos: «Não sabes fazer nada!»- Chamamos nomes: «Olha para isso, estás todo porco. Pareces

um animal em fúria!»- Ameaçamos: «Se tornas a fazer isso, apanhas!»- Damos ordens: «Quero que arrumes o quarto imediatamente.

Despacha-te!»- Sermões e moralismos: «Achas bem? Gostavas que te fizesse

o mesmo?»- Avisos: «Veste a camisola se não constipas-te e não vais à fes-

ta; Cuidado vais queimar-te!»- Afirmações de mártir: «Parem os três de gritar, querem que

fique outra vez com enxaquecas?»- Comparações: «Porque não és como a tua irmã? Estuda sem-

pre, não preciso de lhe dizer nada!»- Sarcasmo: «Não, a mochila está no frigorífico, claro, não é o

lugar dela?»- Profecias: «És egoísta, assim não vais ter amigos!»

Ponha-se no lugar do seu filho. Se ouvisse este tipo de frases, como se iria sentir?

Então, e teremos alternativas melhores? Sim! Vamos encontrar formas de lidar com eles, sem ferir a sua autoestima e sem pessi-mismo, mas sim com reforço positivo pelo bom comportamento.

Adele Faber, especialista em relações parentais, enuncia quatro métodos para uma boa comunicação entre pais e filhos:

1. Descreva o que vê e qual o desafio;2. Informe;3. Comente com uma única palavra;4. Escreva recados.

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Assim, ao invés de:

Pai: Já te disse para apagares a luz da casa de banho. Vai apagar antes que me passe.

Descreva: A luz da casa de banho está acesa! Está uma toalha molhada em cima da minha cama!

OU

Pai: Quem deixou a garrafa vazia no frigorífico? É sempre a mesma coisa.

Informe: A garrafa é no lixo; O skate é no armário; A toalha está a molhar o meu edredão.

OU

Mãe: Estou farta de dizer que as meias não são no chão, que palhaçada. Acham bem se alguém cá vier a casa e vir isto?

Comente com uma única palavra: A toalha! Vasco, meias! (Eu utilizo muito esta, funciona sempre. Habitualmente, quando refilamos muito eles fingem não ouvir. Com uma frase curta e direta, até podem «resmungar», mas fazem o que mandamos. É a pequena diferença. E resulta, acredite!)

OU

Pai: Que chato, para quieto! És um mal-educado.

Diga o que sente: Não gosto que me puxem os braços; Sinto- -me frustrada quando tento falar e tu me interrompes, sem me deixares falar; Não quero dormir numa cama molhada toda a noite.(Nota importante: Não faça comentários sobre o caráter ou personalidade da criança, apenas sobre o seu comportamento.)

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Querida Maria, sei que

estás muito atrapalhada

com estudo e desporto,

mas preciso do teu quarto

arrumado. BeijinhoMãe

OU

Mãe: Que chatice, estou farta desta treta, tenho sempre os teus cabelos aqui na banheira, que nojo.Escreva um recado (Post-it): «Socorro, tenho cabelos na banheira!»; ponha um recado na porta da rua «Lavaram os dentes?»; ou um papel na porta do quarto «Chiu, o mano está a dormir»; ou papel em cima da roupa desarrumada «Eu não sou aqui, sou no cesto da roupa suja»; ou ainda «Pendura-me aqui para eu secar, por favor. Obrigada! A toalha». (Para educar os meus filhos a fazer a cama todos os dias, apenas comecei a deixar um Post-it em cima da cama quando estava desfeita: «A cama é para fazer!» Até hoje eles cumprem. Se, por algum motivo, um dia se esquecem, lá aparece o Post-it novamente.)

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Situação O que disse Como pode passar a agir?

A luz da casa de banho acesa.

Quem é que foi à casa de banho e não apagou a luz? Devem achar que sou sócia da EDP.

Mãe: Rafael, a luz da casa de banho!Filho: Mas... mas... eu não... foi o…Mãe: Quero a luz da casa de banho apagada!

Brinquedos espalhados

Estou cansada de andar a arrumar as tuas coisas. Já te disse que não sou tua criada. És mesmo desarrumado, eu e o teu pai não somos nada assim, não sei a quem tu sais!

Mãe: João, arruma os teus brinquedos.Filho: Mas eu ainda vou brincar com eles.Mãe: Arruma os teus brinquedos!Filho: Oh mãe, mas eu ainda estou a fazer coisas.Mãe: Arruma os brinquedos!

As crianças não gostam de ouvir grandes sermões e longas explicações, desligam. A realidade é que, quanto mais curto for o lembrete, melhor eles apreendem e decoram.

Siga os exemplos acima e perceba que embora resmunguem na mesma, fazem aquilo que lhes é pedido, e nós poupamos imensa energia. Acredite!

Incentive o seu filho a falar sobre o que sente!

EXERCÍCIOAceite o desafio e, à luz dos exemplos abaixo, pense numa situa-

ção específica do seu dia a dia e construa uma forma alternativa de pedir colaboração.

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1.1.2. Porque se portam mal?

Existe uma relação direta entre aquilo que as crianças sentem e a forma como se comportam. As crianças mordem, batem, par-tem coisas porque se sentem assustadas, magoadas ou com medo. Têm a perceção de que ninguém quer saber de si.

Não ignore nem julgue, perceba que aquela criança pode estar com uma dor emocional, e esta é a única forma que conhece para chamar a atenção dos pais.

As crianças não nasceram para ficar quietas, necessitam de explorar. Têm de se mexer, perguntar, chorar, fazer diabruras, descobrir o corpo e o mundo.

Quantas vezes já ouvimos estas frases?

«O mano tem o iogurte que eu quero.»

«Não quero estes sapatos.»

«Oh mãe, ele bateu-me!» ou «Ele bateu-me primeiro.»

«Pai, olha o que ele está a fazer à manteiga? Para quê os buracos?»

«Não gosto disso (alimento).»

«Não vou dormir.»

Ou teve conversas deste género?

Filho: Tenho calor.

Mãe: Não tens nada.

Filho: Tenho sim, até estou a transpirar.

Mãe: Já disse, vais vestir o casaco.

Filho: Porquê?

Mãe: Vais ficar doente, e eu vou-me chatear.

Filho: Está calor, não visto, já disse.

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OU

Pai: Vai dormir.

Filho: Não tenho sono.

Pai: Já te disse para ires dormir.

Filho: Que seca... que chato...

Pai: Já disse para não me falares assim, vais apanhar.

OU ainda:

Filho: Mãe, deixa-me ver o canal 42.

Mãe: Não, é horrível, vai mas é tomar banho.

Filho: Mas eu gosto e já tomei banho ontem...

Mãe: Não gostas nada, é impossível!!! Além disso, já te mandei tomar banho. Já sabes, temos de tomar banho todos os dias. Queres ficar a cheirar mal?

Filho: Mas eu não cheiro mal, tu é que cheiras.

Mãe: Ai ai, pensas que estás a falar com quem? Vais ficar de castigo!

Estes exemplos mostram-nos como muitas vezes impomos a nossa realidade, não os deixando pensar por eles: «Pensa o que eu sinto, e não como tu sentes». E se trocássemos de papéis? Isso transporta-nos para a altura em que tínhamos a idade deles. Agora pense, gostava da forma como falavam consigo?

Recordo quando o meu pai arregalava os olhos, isso deixava--nos imediatamente em sentido. Aposto que, se pensar bem, irá identificar algumas coisas que, embora não concordasse na altura, hoje até aplica. Sempre que dou por mim a abrir os olhos, sorrio para dentro. Aquilo que criticámos na nossa infância é o mesmo que fazemos hoje em dia, e fazemo-lo por ser um processo incons-ciente, como espelho do que vivenciámos.

Quando as coisas parecerem mais desafiantes pergunte-se «como é que eu gostava que reagissem comigo?» Recorde situações como

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quando queria sair e não deixavam, por exemplo. Era irritante? Não é fácil, mas é possível, com algum treino.

Quando estávamos irritados gostávamos que alguém nos cor-rigisse? E hoje? Gostamos? Ninguém gosta, pelo contrário, ainda nos irrita mais, até assumimos aquilo como um ataque pessoal.

Claro que não podemos permitir comportamentos desade-quados, mas se a criança estiver a fazer uma birra ou a gritar, não é por gritarmos que ela vai perceber onde está o erro. Isso apenas fará com que ela grite mais alto.

Se aquele momento já por si só é um momento de stress e de frustração, cabe-nos a nós, adultos, ser assertivos. Como? Sem discutir.

Nota: Pais tranquilos, filhos que executam!

1.1.3. razão ou emoção?

Se alguém for agressivo consigo, como reage? Com agres-sividade? E se formos agressivos com outra pessoa e ela nos responder com empatia? Faz-nos repensar e controlar a nossa forma de agir.

Então, deixe acalmar a situação e, mais tarde, pode conversar com a criança. Juntos percebem o que correu menos bem e o que podem fazer de diferente, numa próxima situação de exaltação. Há uma frase que me acompanha ao longo dos anos e que cada vez faz mais sentido: «Queres ter razão ou paz no coração?»

Nota: Não se pode educar a mente sem educar o coração!É através da comunicação que criamos relação. Assim, pode

verbalizar: «Ah percebo... estás triste… gostavas mesmo dele» ou «Estás mesmo magoada ou frustrada».

Imagine se ao invés disso, quando eles vierem falar connosco, estivermos ocupados a cozinhar, a ver televisão ou com uma atitude pouco disponível e despreocupada. Por muito que digamos que os estamos a ouvir, eles sentem que não.

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Resultado: Não partilham mais nada!

Não basta dizer «sim, estou a ouvir». Olhe para a criança, para que ela se sinta realmente ouvida. Outro aspeto muito im-portante a ter em conta é não acusar. Por vezes nem nos aperce-bemos de que o estamos a fazer. Por exemplo, quando a criança perde alguma coisa na escola ou no balneário do futebol. Qual é a reação? Talvez «não tens cuidado com nada» ou «tu é que os deixaste lá, deixas sempre tudo espalhado». Está a acusar, tente fazer diferente e perguntar-lhe o que aconteceu, o que a levou a esquecer-se e o que pode fazer para que isso não volte a aconte-cer. Oiça e perceba o que sentiu!

Para além de acusar ou criticar, temos ainda tendência para desvalorizar as emoções da criança dizendo frases como «não fi-ques assim» ou «deixa lá isso». Já pensou que ela pode não estar feliz por ter perdido o objeto?

Se disser: «Pois, percebo... estás triste porque gostavas muito dos ténis» ou «compreendo que estejas mal com isso», fará com que a criança se sinta compreendida, que o sinta como um espaço seguro, onde pode demonstrar as suas emoções e falar sobre os seus supostos erros.

Quanto mais tentar dar explicações lógicas, mais eles protestam e menos aceitam o que se diz. O mais certo é um «Não» redondo.

Observe este exemplo bastante comum:

Filho: Mãe, quero um iogurte.

Mãe: Não ouvi.

Filho: Se faz favor, mãe, quero um iogurte.

Mãe: Não, porque vamos jantar agora.

Filho: Mas eu queroooooo...

Mãe: Já te disse que não, depois ficas sem fome para o jantar, é sempre a mesma coisa...

Filho: Vou tirar, não interessa, eu vou comer.

Mãe: Atreve-te!!!

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Segue outro exemplo de que se compreendermos o que os nos-sos filhos querem e sentem facilitamos, e muito, o processo de comunicação:

Filho: Quero morangos.

Mãe: Adorava dar-te, mas não há.

Filho: Querooooooo...

Mãe: Sim, já percebi. Deixa estar querido, vou buscar uma varinha mágica e já te trago os morangos!

Filho: Lol mãe, ok. Quero uma maçã então.

(Encontre uma alternativa.)

Quando os seus filhos desabafarem consigo, ainda que para si seja uma coisa de «miúdos», associe a emoção ao que lhe é conta-do, e não dê conselhos nem menospreze o que eles estão a partilhar consigo. Ou seja, quando o seu filho lhe contar algo, em vez de lhe dar uma solução de forma automática, ajude-o a pensar com «O que pensas sobre isso?», «O que achas que deves fazer?» ou «Qual pen-sas ser a melhor forma?» Deste modo, a criança terá o à-vontade de ir falar consigo e partilhar os seus dilemas. Crie um espaço de partilha e confiança, sem juízos de valor e críticas constantes.

Acompanhe os exemplos que se seguem:

Exemplo 1:

Criança: Quero a luz do quarto acesa.

(Associe a esta frase o medo do escuro e insegurança. Então podemos dizer-lhe isso mesmo.)

Pai: Parece que tens medo do escuro, é isso?

Exemplo 2:

Criança: Qualquer dia parto os dentes ao João.

(Associemos a esta frase o sentimento de raiva. Então demonstre.)

Mãe: Já vi que estás mesmo irritado com o João.

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EXERCÍCIO

Associe uma emoção ao que a criança lhe diz. Isso fará com que consiga responder de forma mais empática. Vamos tentar? Vamos conseguir!

Frase: «Não percebo porque a professora não avisou que íamos ter teste.»

Sentimento:Frase empática:

Frase: «Não vou lavar os dentes.»

Sentimento:Frase empática:

Frase: «Queria ir ao aniversário da Ana, mas ela não me convidou.»

Sentimento:Frase empática:

Frase: «A Bia vai viver para Londres com os pais.»

Sentimento:Frase empática:

Frase: «Quando o Diogo me diz que não posso brincar, só me apetece

bater-lhe.»Sentimento:Frase empática:Frase: «Mãe, o pai não deixa ver o 42.»

Sentimento:Frase empática:

Frase: «Hoje no jogo de hóquei fiquei no banco.»

Sentimento:Frase empática:

Frase: «Acertei, a Joana escolheu-me.»

Sentimento:Frase empática:

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