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FICHA TÉCNICA

TÍTULO

A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIA DO PROVEDOR DE JUSTIÇA

Reservados todos os direitos.Esta edição não pode ser reproduzida nem transmitida, no todo ou em parte, sem prévia autorização do Autor.

© EDIÇÃO Lexdata - Sistemas e EdiçõesJurídicas, Lda.

Rua Assalto de Moncada, n.º 33, 1.º AndarMaianga - Luanda - [email protected]

PROPRIEDADE

Provedoria de Justiça

APROVAÇÃO

Conselho da Provedoria presidido pelo Dr. Carlos Alberto Ferreira Pinto - Provedor de Justiça

SUPERVISÃO

Drª Florbela Rocha AraújoProvedora de Justiça-Adjunta

COORDENAÇÃO

Esmael Diogo da Silva

EDITORA

© Lexdata - Sistemas e Edições Jurídicas, Lda.

DESIGN EDITORIAL

Lexdata - Sistemas e Edições Jurídicas, Lda.

EXECUÇÃO GRÁFICA

Imprensa Nacional, E.P.

DEPÓSITO LEGAL

8888/2019

ISBN

978-989-8880-16-1

TIRAGEM

2000 exemplares

1ª EDIÇÃO

Abril de 2019

Page 3: FICHA TÉCNICA - Provedor de Justiça de Angola

A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIA DO PROVEDOR DE

JUSTIÇA

CICLO DE PALESTRAS REALIZADO NO DIA 19 DE ABRIL DE 2018 ALUSIVO AO DIA DO PROVEDOR DE JUSTIÇA

PROVEDOR DE JUSTIÇA

LUANDA - 2018

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ÍNDICE

PREÂMBULO ....................................................................................................................... 9

A HISTÓRIA PRECEDENTE DO OMBUDSMAN OU PROVEDOR DE

JUSTIÇA ......................................................................................................................... 11

Ombudsman ou Provedor de Justiça - Do Surgimento à Expansão pelo Mundo ..................................................................................... 11

ASPECTOS HISTÓRICOS DO PROVEDOR DE JUSTIÇA EM

ANGOLA ..........................................................................................................................15

O Provedor de Justiça na República de Angola .............................. 17

As Principais Linhas de Força da Natureza e Actuação ou o ADN do Provedor de Justiça ...................................................................... 19

LINHA DO TEMPO: Provedor de Justiça - 13 Anos ao Serviço da Cidadania ............................................................................................................ 23

CICLO DE PALESTRAS ................................................................................................... 27

Discurso de Boas-Vindas proferido por Sua Excelência o Provedor de Justiça, Dr. Carlos Alberto Ferreira Pinto .............. 29

Discurso de Abertura proferido por Sua Excelência o Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República, Dr. Frederico Manuel dos Santos e Silva Cardoso, em representação do Presidente da República.... 35

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PALESTRAS (Palestrantes e Moderadores)....................................................... 39

PAINEL 1 A Institucionalização do Provedor de Justiça no Ordenamen- to Jurídico Angolano e a sua Importância - Palestra proferi- da pelo Dr. Paulo Tjipilica, Primeiro Provedor de Justiça da República de Angola.......................................................................................... 41

PAINEL 2

Direitos Fundamentais na vertente dos Direitos, das Liberda- des e das Garantias Fundamentais do Cidadão - Palestra proferida pelo Venerando Juiz Conselheiro do Tribunal Constitucional Dr. Raul Vasquez Araújo .............................................. 55

Discurso de Encerramento proferido por Sua Excelência Presidente da Assembleia Nacional, Dr. Fernando da Piedade Dias dos Santos ............................................................................... 69

Comunicado Final ................................................................................................... 75

Anexos ............................................................................................................................. 81

Portal da Provedoria de Justiça Endereço da Provedoria de Justiça

Edifício-Sede da Provedoria de Justiça

Revista da Provedoria de Justiça

Legislação Relevante

Lei n.º 4/06 de 28 de Abri Lei n.º 5/06 de 28 de Abril Despacho n.º 92/18 de 9 de Abril

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ENTIDADES E FUNCIONÁRIOS DA PROVEDORIA DE JUSTIÇA

Em primeiro plano:

1. Dr. Fernando da Piedade Dias dos Santos, Presidente da Assembleia Nacional

2. Dr. Carlos Alberto Ferreira Pinto, Provedor de Justiça

3. Dr. Adriano Mendes de Carvalho, Governador Provincial de Luanda

4. Dr. Paulo Tjipilica, Primeiro Provedor de Justiça da República de Angola

5. Dr.ª Antónia Florbela de Jesus Rocha Araújo, Provedora de Justiça-Adjunta

6. Dr. Raúl Vasquez Araújo, Venerando Juiz Conselheiro do Tribunal Constitucional

7. Dr.ª Margarida Gonçalves, Procuradora Geral-Adjunta da República

8. Dr.ª Josefa António dos Santos Weba, Veneranda Juíza Conselheira do Tribunal

Constitucional

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PREÂMBULO

“As datas comemorativas revestem-se de importância por representarem o esforço de se manter vivo na memória colectiva algum acontecimento ou homenagem com certa relevância social.

Nesse contexto, considerando a relevância da entidade na defesa dos direitos, das liberdades e das garantias do cidadão e que a concretização da instituição Provedor de Justiça e a criação da Instituição Provedoria de Justiça ocorreram pela eleição do primeiro Provedor de Justiça da República de Angola, aos 19 de Abril de 2005 e pela aprovação das Leis n.os 4/06 e 5/06, ambas de 28 de Abril, que aprovam, respectivamente, o Estatuto do Provedor de Justiça e a Orgânica da Provedoria de Justiça, foi instituída a Semana do Provedor de Justiça.

Na sequência de pronunciamento favorável do Conselho da Provedoria, órgão de programação, de acompanhamento e de controlo das actividades da Provedoria de Justiça, consagrado no artigo 7.º da Lei n.º 5/06, de 28 de Abril (Lei Orgânica da Provedoria de Justiça), presidido pelo Provedor de Justiça, foram instituídos, através do Despacho n.º 92/18, de 09 de Abril, do Provedor de Justiça, publicado no Diário da República I Série - n.º 45, o Dia do Provedor de Justiça, a ser comemorado a 19 de Abril (data da eleição e da investidura do primeiro Provedor de Justiça da República de Angola) e o Dia da Provedoria de Justiça, a ser comemorado a 28 de Abril (data da entrada em vigor da Lei do Estatuto do Provedor de Justiça e da Lei Orgânica da Provedoria

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de Justiça), bem como a Semana do Provedor de Justiça, a ser comemorada de 19 a 28 de Abril de cada ano.

Trata-se de uma oportunidade soberana para celebrar a institucio-nalização da entidade Provedor de Justiça e para, uma vez mais, efectuarmos as abordagens necessárias a fim de aprimorarmos os mecanismos de defesa dos direitos, das liberdades e das garantias do cidadão. Essa instituição só fará sentido se trabalhar para garantir que o cidadão tenha um espaço onde, de modo informal, possa apresentar as suas queixas e reclamações.

Este momento constitui, para cada um de nós, motivo de reflexão à volta da missão, incluindo as dificuldades que enfrentamos no quotidiano, por estarmos inseridos e a lidar com uma matéria muito sensível, ou seja, a de defender os direitos, as liberdades e as garantias dos cidadãos. Deste modo, o Provedor de Justiça não pode deixar de atender os cidadãos e as pessoas colecti-vas que se queixam contra os actos praticados por órgãos da Administração Pública, central ou local, de institutos públicos, de empresas públicas ou de capitais maioritariamente públicos, concessionárias de serviços públicos ou de exploração de bens de domínio público, sem prejuízo de visitar os estabelecimentos prisionais e apreciar as condições humanas de internamento dos reclusos e dos detidos.

Para o Provedor de Justiça, para os funcionários e agentes da Provedoria de Justiça, “O cidadão é a nossa ocupação, o cidadão é a nossa preocupação, mais direito mais cidadania, mais cidadania mais direito”.

Excerto do discurso de Sua Excelência o Provedor de Justiça, Dr. Carlos Alberto Ferreira Pinto,

proferido na sessão solene de abertura da Semana do Provedor de Justiça, a 19/04/2018

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A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

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A HISTÓRIA PRECEDENTE DO OMBUDSMAN OU PROVEDOR DE JUSTIÇA

Somos compelidos a fazer uma curta viagem ao passado anterior ao emergir do Ombudsman, que, um pouco por todo o mundo, se vai afirmando como um dos meios graciosos mais importantes em termos de garantias, de protecção dos direitos e liberdades dos cidadãos, e não só.

A figura do Ombudsman encontra antecedentes históricos:

▷ Na Idade Média, quando as tribos germânicas começaram a indicar um grupo de pessoas, cuja função era a de reco-lher multas das famílias de réus arrependidos e distribuir o dinheiro obtido pelas famílias das respectivas vítimas;

▷ No Egipto antigo, em que os reis tinham nas suas cortes altos funcionários que recebiam as queixas do povo;

▷ Na República de Roma, em que havia dois censores que examinavam quer os actos administrativos quer as queixas de alegada má administração;

▷ Na China, em que, durante a Dinastia Han, um alto funcio-nário, denominado Control Yuan, exercia funções similares.

Ombudsman ou Provedor de Justiça

Do Surgimento à Expansão pelo Mundo

Foi na Suécia, em sede do consulado do Rei Carlos II, que a figura do Ombudsman (sinónimo de Procurador, Prove-dor, Mandatário, Representante, Delegado) assumiu os contornos com que o reconhecemos actualmente.

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O referido soberano tinha dificuldade de controlar o seu reino e impor a sua autoridade. Sofrera, entretanto uma derrota militar significativa, pelo que teve de se exilar na Turquia em 1709. Foi ali que ele tomou conhecimento da existência de um Gabinete de Justiça Suprema, encarregue de supervisionar e garantir que a Lei Islâmica (Charia) fosse respeitada e seguida por todos os funcionários públicos turcos. Estava, naquele gabinete, o elemento inspirador para que o Parlamento sueco concedesse assento constitucional, em 06 de Junho de 1809, à figura do Ombudsman.

Rapidamente a iniciativa dos suecos foi tomada em toda a Península Escandinava e daí se repercutiu pela Europa adentro.

A partir dos anos 90, os países da Europa de Leste, da América, da Ásia e de África começaram a institucionalizar o Ombud-sman - para os anglófonos, o Provedor de Justiça - para os lusófonos, em geral, o Ouvidor Público - para os brasileiros, Defensor del Pueblo - para os hispânicos, Difensore Civico - para os italianos, Médiateur de la Republique - para os fran-cófonos, Public Protector - para os sul-africanos e namibianos. Tanto assim que, nos dias de hoje, se defende que não há Estado, que se quer de Direito e Democrático, que desconheça nas suas leis supremas (constituições) a consagração dessa figura, fiscalizadora da actividade, activa ou passiva, dos órgãos, serviços e agentes da Administração Pública e outros entes públicos objectos da sua actuação.

Ilustrando melhor o processo de expansão da figura do Ombud-sman, a partir do seu berço, Suécia, temos, desde logo, os restantes países escandinavos: Finlândia 1919, Noruega 1952 e Dinamarca 1953.

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Além dos países escandinavos, temos:

▷ Europa Ocidental e Central: Reino Unido 1967, França 1973, Áustria 1977, Irlanda 1980, Países Baixos/Holanda 1981 Hungria 1990, República Checa 1999 e Luxemburgo 2003.

▷ Europa do Sul ou Mediterrânica: Chipre e Eslovénia 1991, Malta 1995 e Grécia 1997.

▷ Europa de Leste: Polónia 1987, Estónia e Lituânia 1992, Letónia 1996 e Eslováquia 2001.

▷ América Latina: Argentina 1993, Bolívia 1994, Colômbia 1991, Equador 1996, Panamá 1997, Paraguai 1992, Perú 1993, Venezuela 1999 (nestes países com a designação de Defensor del Pueblo), Guatemala (Procurador de los Derechos Humanos) 1985, El Salvador 1991 e Nicarágua 1995 (Procurador para la Defensa de los Derechos Humanos), Costa Rica (Defensor de los Habitantes) 1992, Honduras (Comissionado Nacional de los Derechos Humanos) 1992, México (Comission Nacional de los Derechos Humanos) 1992, Porto Rico (Procurador del Ciudadano) 1977.

▷ América do Norte: Canadá 1967

▷ África: Nova Zelândia 1962, Tanzânia 1966, o 1.º de África1 (Permanent Comission of Enquiry) e Guiana 1966 e Maurícias 1968.

1 Actualmente, mais da metade dos países africanos já institucionalizaram a figura do

Ombudsman ou Provedor de Justiça. A Associação Africana de Ombudsman e Media-

dores (AOMA) regista 40 membros inscritos: Angola, África do Sul, Benin, Botswana,

Burkina Fasso, Burundi, Cabo Verde, Congo Brazaville, Costa do Marfim, Djibuti, Etiópia,

Gabão, Gâmbia, Ghana, Guiné Conacri, Kénia, Lesoto, Líbia, Madagáscar, Malawi, Mali,

Mauritânia, Maurícia, Moçambique, Namibia, Níger, Nigéria, República Centro-Africana,

Ruanda, Senegal, Seychelles, Serra Leoa, Sudão, Tchede, Togo, Tunísia, Uganda, Zâmbia

e Zimbabwé. (disponível em: http://aoma.ukzn.ac.za/about-us/Members.aspx)

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ASPECTOS HISTÓRICOS DO PROVEDOR DE JUSTIÇA EM ANGOLA

Enquadramento prévio

O Provedor de Justiça é um órgão que visa auxiliar os poderes públicos instituídos na execução das incumbências legalmente impostas e daquelas decorrentes da quotidianidade social.

Trata-se de uma instituição com dignidade constitucional, enquadrada entre as instituições essenciais à justiça e definida como “entidade pública independente que tem por objecto a defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, assegurando, através de meios informais, a justiça e a legalidade da actividade da Administração Pública”2.

Questão de fundo

À partida, importa situar as duas perspectivas a atender na análise do papel do Provedor de Justiça:

1. A perspectiva constitucional do artigo 192.º da Constituição da República de Angola, enquanto “Instituição Essencial à Justiça”;

2. A perspectiva de garantia do n.º 5 do artigo 192.º da Cons-tituição da República de Angola.

Com essas premissas, podemos frisar que o Provedor de Justiça efectiva a defesa dos cidadãos através dos órgãos da Administração Pública com recurso às próprias estruturas administrativas existentes, bem como através do controlo do mérito e da legalidade a elas inerentes.

2 Constituição da República de Angola, n.º 1 do artigo 192.º

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Sabemos que as garantias se desdobram, segundo o critério do órgão que o efectiva, em garantias políticas ou constitucionais, garantias graciosas ou administrativas e garantias contenciosas ou constitucionais. Sendo certo que as que merecem realce aqui são as garantias graciosas ou administrativas, podendo estas ser agrupadas em garantias petitórias, garantias impugnatórias e queixas ao Provedor de Justiça.

As Garantias Petitórias traduzem-se num pedido dirigido à Administração Pública, normalmente antes da verificação do acto lesivo. Desmultiplicam-se no seguinte:

• O Direito de petição - faculdade de solicitar aos órgãos da Administração Pública as providências que se consideram necessárias;

• O Direito de representação - faculdade de alertar um órgão da administração responsável por determinada decisão administrativa para as possíveis consequências desta;

• O Direito de denúncia - faculdade de chamar à atenção de um órgão da Administração Pública para o facto que esta tenha a obrigação de averiguar, quando haja denún-cia de comportamento de um agente ou funcionário da Administração Pública, para que proceda ao apuramento da responsabilidade;

• O Direito de queixa - faculdade que o particular tem de desencadear iniciativa procedimental visando a obtenção de uma sanção para um concreto órgão ou agente da Administração Pública, por ter adoptado algum compor-tamento impróprio;

• O Direito de oposição administrativa - faculdade de contestar decisões que um órgão da Administração Pública projecta

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quer seja por sua iniciativa, quer seja dando satisfação a pedidos que lhe tenham sido dirigidos por particulares.

As garantias impugnatórias representam uma reacção ou um ataque ao acto lesivo efectivado pela Administração Pública.

Daí, constar no seu seio o seguinte:

1. A reclamação – consiste no pedido de reapreciação do acto administrativo dirigido ao seu autor. A reclamação pode ter como base a ilegalidade e o mérito do comportamento administrativo;

2. O recurso hierárquico – consiste no pedido de reapreciação do acto administrativo dirigido ao imediato superior hierár-quico do autor do acto (próprio) ou dirigido a um órgão da mesma pessoa colectiva, que exerce poder de supervisão/superintendência sobre o autor do acto;

3. O recurso tutelar – o pedido de reapreciação é dirigido a um órgão de pessoa colectiva diferente e que exerce poder de tutela sobre a pessoa colectiva de emanação do acto.

É, pois, no quadro das garantias graciosas ou administrativas, ao lado das garantias petitórias e as impugnatórias, que encon-tramos a queixa ao Provedor de Justiça, em que o Provedor de Justiça (Ombudsman) mais não é do que uma instituição pública independente e imparcial, que, sendo instituída, via de regra, pelo Parlamento, funciona como mecanismo de controlo da Administração Pública, de forma a velar pela legalidade e justiça dos comportamentos activos e passivos dos entes administrativos.

O Provedor de Justiça na República de Angola

Falando de nós, situar que a eleição do primeiro Provedor de Justiça da República de Angola, o Dr. Paulo Tjipilica, se deu a 19 de Abril de 2005 e o empossamento a 09 de Junho 2005, para um mandato de 4 anos, que foi renovado por igual período em Junho de 2009,

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vindo a imprimir dimensão material a uma injunção constitucional. Visto que a figura do Provedor de Justiça beneficiou, entre nós, de dimensão formal, por força da Lei Constitucional de 1992, basta revisitarmos os artigos 142.º, 143.º e 144.º, sendo certo que os referidos dispositivos foram retomados, in melius, no artigo 192.º, pela Constituição de 2010.

Note-se que, antes da consumação existencial do Provedor de Justiça entre nós, em 2005, havia uma disposição formal transitória constante no artigo 9.º da lei preambular da Lei Constitucional da República de Angola de 1992, Lei n.º 23/92, de 16 de Setembro, nos seguintes termos “Enquanto não for designado o Provedor de Justiça, as funções que lhe são cometidas pela Lei Constitucional, serão exercidas pelo Procurador Geral da República”.

Em termos de legislação específica, presentemente existe a Lei n.º 4/06, de 28 de Abril (Do Estatuto do Provedor de Justiça), e a Lei n.º 5/06, de 28 de Abril (Orgânica da Provedoria de Justiça), leis que, por sinal, estão em processo de revisão pela Assem-bleia Nacional com vista à adequação constitucional e a outras reformas pontuais.

E a actividade laboral do Provedor de Justiça viu-se reforçada com a eleição, a 13 de Dezembro de 2006, e tomada de posse, a 17 de Fevereiro de 2007, de um Provedor de Justiça-Adjunto, no caso a Drª Maria da Conceição de Almeida Sango, reeleita em Dezembro de 2010. Presentemente, terminados os mandatos dos anteriores titulares, a Provedoria de Justiça está sob nova liderança:

▷ Dr. Carlos Alberto Ferreira Pinto e Dra. Florbela Rocha Araújo foram eleitos, respectivamente, Provedor de Justiça e Provedora de Justiça-Adjunta, respectivamente, a 18 de Dezembro de 2017 e tendo tomado posse a 19 de Janeiro de 2018.

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Vai daí que, em acção concertada das duas entidades, foi e vai sendo tratado e encaminhado um número cada vez maior de queixas, cujos resultados podem ser consultados no edifício sito à Cidade Alta, na Rua 17 de Setembro e Pinheiro Furtado, que alberga a Provedoria de Justiça.

As principais Linhas de Força da Natureza e

Actuação ou o ADN do Provedor de Justiça

As principais linhas de força da natureza e actuação do Provedor de Justiça reconduzem-se, no essencial, ao ADN do Ombudsman, tal como os suecos burilaram, pelo que, citamos:

• Natureza e Finalidade

O Provedor de Justiça é uma instituição pública independente, que tem por objectivo a defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, assegurando, através de meios informais, a justiça e a legalidade. Trata-se de uma figura jurídica com assento constitucional.

• Livre Acesso

Decorrente de duas notas, a da informalidade, por dispensar os formalismos apertados próprios do acesso às instituições públicas e a da gratuitidade, já que é totalmente desonerado o recurso ao Provedor de Justiça.

• Âmbito Orgânico da sua Actuação

O Provedor de Justiça actua nos órgãos da administração pública, central e local, dos institutos públicos, empresas públicas ou de capitais maioritariamente públicos, concessionárias de serviço público ou de exploração de bens de domínio público.

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• O que Desencadeia a sua Actividade?

O Provedor de Justiça exerce as suas funções por meio de queixas, apresentadas pelos particulares, individual ou colectivamente, por acções ou omissões dos órgãos e agentes da Administra-ção Pública, não dependendo tais queixas de qualquer prazo. Excepcionalmente, o Provedor de Justiça pode intervir, de modo próprio, nos casos de flagrante violação dos direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos.

• Formas de Actuação

Compete ao Provedor de Justiça emitir recomendações (suges-tões, pareceres, solicitações de esclarecimentos ou expedientes quejandos) aos órgãos ou serviços que estejam no âmbito da sua actividade.

• Modo de Designação e Duração de Mandato

O Provedor de Justiça é designado pela Assembleia Nacional por maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções e toma posse perante o Presidente da Assembleia Nacional. É eleito para um mandato de cinco (5) anos, reelegível, apenas uma vez, por igual período;

• Órgão de Emanação Parlamentar

É uma característica comum dos Ombudsman, que lhe confere legitimidade popular derivada por serem eleitos pelos eleitos do povo. Constituem excepção os países francófonos em que os Médiateurs de la République são nomeados pelos Chefes de Estado, havendo também o caso muito particular da Namíbia, em que o Public Protector (Dr. John Walters) é vitalício.

• Causas de Cessação de Funções

Antes do termo do seu mandato, as funções de Provedor de Justiça só podem cessar: por morte ou incapacidade física ou psíquica permanente; por perda dos requisitos de elegibilidade;

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por renúncia; por incompatibilidade superveniente; por motivo de condenação judicial por crime doloso punível com pena de prisão maior superior a dois anos; e por acções ou omissões praticadas com negligência grave no cumprimento das suas funções.

• Seu Carácter Independente e Inamovível

O Provedor de Justiça é independente e inamovível, não podendo as suas funções cessar antes do termo do mandato para que foi eleito, salvo nos casos previstos no n.º 1 do artigo 7.º da Lei do Estatuto do Provedor de Justiça3.

• Recondução do seu Estatuto ao de Ministro

O Provedor de Justiça goza do estatuto, direitos, remunerações e regalias idênticas às concedidas aos Ministros, de acordo com o artigo 11.º da Lei do Estatuto do Provedor de Justiça.

• Atribuições e Competências

Dentre outros aspectos, incumbe ao Provedor de Justiça: emitir recomendações aos órgãos visados; emitir relatórios da sua actividade à Assembleia Nacional; disseminar e intervir na defesa dos direitos e liberdades fundamentais; visitar e apreciar as condições humanas de internamento dos reclusos; exigir a necessária colaboração dos órgãos e serviços competentes; e acompanhar o cumprimento das recomendações emitidas.

• Limitação na sua Intervenção

O Provedor de Justiça não tem competência para anular, revogar ou modificar os actos dos poderes públicos e a sua intervenção não suspende os prazos dos recursos, quer hierárquico, quer contencioso. Por outro lado, o Provedor de Justiça tem a sua avaliação e actuação limitada à utilização de meios graciosos.

3 Vide Anexos (Legislação Relevante).

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• Ausência de Poder Decisório

É dos traços identitários do Ombudsman que mais indagações suscitam, levando mesmo a pensar-se na diminuição de peso específico da instituição. Na verdade, julgamos ser bastante o facto de o Provedor de Justiça possuir a “magistratura da persuasão” e o “magistério da influência”, que, muitas vezes, se manifesta na emissão de pareceres, recomendações e sugestões dirigidos aos Entes Públicos Administrativos, bem como se manifesta nos relatórios que elabora, cujos destinatários são o Presidente da Assembleia Nacional e demais órgãos de soberania.

Por Frederico Batalha

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LINHA DO TEMPO PROVEDOR DE JUSTIÇA

13 anos ao Serviço da Cidadania

197511 de Novembro

Proclamação da Independência de Angola

1992 Advento do Provedor de Justiça no ordenamento jurídico

angolano, através do artigo 142.º da Lei Constitucional. Foi determinado que o Procurador-Geral da República passa a exercer as funções do Provedor de Justiça, em obediência ao disposto no artigo 9.º da Lei n.º 23/92, de 16 de Setembro: “Enquanto não for designado o Provedor de Justiça as funções gerais que lhe são cometidas pela Lei Constitucional serão exercidas pelo Procurador Geral da República”.

200519 de Abril

Deputados à Assembleia Nacional elegem o Dr. Paulo Tjipilica como o primeiro Provedor de Justiça da República de Angola.

9 de Junho

O Dr. Paulo Tjipilica toma posse, em sessão plenária da Assembleia Nacional, presidida por Sua Excelência Dr. Roberto António Victor Francisco de Almeida.

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A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

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200628 de Abril

São publicados os diplomas que regem o Provedor de Justiça e a orgânica da Provedoria de Justiça.

Assim, entram em vigor a Lei n.º 4/06 (Lei do Estatuto do Provedor de Justiça) e a Lei n.º 5/06 (Lei Orgânica da Provedoria de Justiça).

13 de Dezembro

A Assembleia Nacional elege a Drª Maria da Conceição de Almeida Sango para exercer o cargo de Provedora de Justiça-Adjunta.

200717 de Janeiro

Sua Excelência o Presidente da Assembleia Nacional, Dr. Roberto António Victor Francisco de Almeida, confere posse à Provedora de Justiça-Adjunta, eleita no plenário da Assembleia Nacional

20105 de Fevereiro

Promulgação e Publicação da Constituição da República de Angola.

14 de Abril

Angola é eleita, por unanimidade, Presidente da AOMA - Associação dos Ombudsman, Mediadores e Provedores de Justiça Africanos.

201228 de Agosto

Inauguração do Edifício-Sede da Provedoria de Justiça na Cidade Alta.

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201718 de Dezembro

O Dr. Carlos Alberto Ferreira Pinto e a Dr.ª Antónia Florbela de Jesus Rocha Araújo são eleitos, pela Assembleia Nacio-nal, respectivamente, Provedor de Justiça e Provedora de Justiça-Adjunta

201819 de Janeiro

O Provedor de Justiça e a Provedora de Justiça-Adjunta tomam posse perante o Presidente da Assembleia Nacional, Dr. Fernando da Piedade Dias dos Santos.

22 de Janeiro

Passagem de pastas, apresentação do Provedor de Justiça e da Provedora de Justiça-Adjunta aos funcionários e agentes da Provedoria de Justiça e início de funções.

9 de Abril

Instituído o Dia do Provedor de Justiça (19 de Abril), o Dia da Provedoria de Justiça (28 de Abril) e a Semana do Provedor de Justiça (de 19 a 28 de Abril), através do Despacho n.º 92/18, de 09 de Abril, do Provedor de Justiça, publicado na Iª Série do Diário da República n.º 45.

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CICLO DE PALESTRAS

TEMA CENTRAL

“O CIDADÃO, A NOSSA OCUPAÇÃO O CIDADÃO, A NOSSA PREOCUPAÇÃO

MAIS DIREITO, MAIS CIDADANIA MAIS CIDADANIA, MAIS DIREITO”

CONSTITUIÇÃO DA MESA DO PRESIDIUM DA SESSÃO SOLENE DE ABERTURA DO CICLO DE PALESTRAS

Da esquerda para a direita:

Dr.ª Antónia Florbela de Jesus Rocha Araújo, Provedora de Justiça-Adjunta

Dr. Manuel Miguel da Costa Aragão, Juiz Conselheiro Presidente do Tribunal Constitucional

Dr. Frederico Manuel dos Santos e Silva Cardoso, Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República (em Representação do Presidente da República)

Dr. Carlos Alberto Ferreira Pinto, Provedor de Justiça

Dr. Adriano Mendes de Carvalho, Governador Provincial de Luanda

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A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

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DISCURSO DE BOAS-VINDAS PROFERIDO POR SUA EXCELÊNCIA

O PROVEDOR DE JUSTIÇA, DR. CARLOS ALBERTO FERREIRA PINTO

Excelências,

Ilustres Convidados,

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Quero, em primeiro lugar, reiterar, a todos os presentes, os cum-primentos de boas-vindas à Provedoria de Justiça da República de Angola e reiterar, também, os melhores agradecimentos por terem aceite o convite para connosco partilharem os vossos conhecimentos e ensinamento, em torno dos direitos dos cida-dãos e da cidadania.

O Provedor de Justiça na República de Angola comemora hoje, 19 de Abril de 2018, mais um ano de existência, ou seja, decorrem treze anos desde a sua institucionalização, ao serviço do cidadão angolano e em nome da justiça e da legalidade administrativas.

Quis o destino que fizessem, hoje, exactos noventa dias desde que tomámos posse para exercer a nobre missão de prover a defesa dos direitos, das liberdades e das garantias do cidadão. Isto ocorre na mesma data em que, há treze anos, os Deputados à Assembleia Nacional marcavam a história do País com a eleição do primeiro Provedor de Justiça da República de Angola.

Trata-se de uma feliz convergência de factos que justificam a nossa reunião nesse auditório, com o propósito de comemorar a Semana do Provedor de Justiça e proceder a abordagens sobre o mandato e a função do Provedor de Justiça.

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As datas comemorativas revestem-se de certa e determinada importância por representarem o esforço de se manter vivo, na memória colectiva, algum acontecimento ou homenagem com certa relevância social.

Nesse contexto, considerando a relevância da entidade na defesa dos direitos, das liberdades e das garantias do cidadão e que a concretização da instituição Provedor de Justiça e a criação da Provedoria de Justiça ocorreram pela eleição do primeiro Provedor de Justiça da República de Angola, aos 19 de Abril de 2005, e pela aprovação, aos 28 de Abril de 2006, da Lei n.º 4/06 (Lei do Estatuto do Provedor de Justiça) e da Lei n.º 5/06 (Lei Orgânica da Provedoria de Justiça), foi instituida a Semana do Provedor de Justiça.

Recordando, a figura do Provedor de Justiça, em Angola, foi constitucionalmente consagrada através da Lei n.º 23/92, de 16 de Setembro (Lei de Revisão Constitucional), no seu artigo 142.º, nos termos do qual “O Provedor de Justiça (era) um órgão público independente que (tinha) por objecto a defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, assegurando, através de meios informais, a justiça e a legalidade da Administração Pública” e determinando, antes, no seu artigo 9º, que: “enquanto não for designado o Provedor de Justiça, as funções que lhe são acometidas pela Lei Constitucional serão exercidas pelo Procurador-Geral da República”.

Só a 19 de Abril de 2005 vinha a ser eleito o Provedor de Justiça da República de Angola e investido no cargo o Dr. Paulo Tjipilica.

A 13 de Dezembro de 2006 foi eleita a primeira Provedora de Justiça-Adjunta, a Dra. Maria da Conceição de Ameida Sango, tendo tomado posse a 17 de Fevereiro de 2007.

Tendo ambos terminado os respectivos mandatos muito recen-temente e estando presentes nesta singela cerimónia, não posso

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deixar de estender aqui, agora e sempre, em meu nome, em nome da Senhora Provedora de Justiça-Adjunta, Drª. Antónia Florbela de Jesus Rocha Araújo e de todos os agentes e funcionários da Provedoria de Justiça, os nossos mais profundos e sinceros agradecimentos, para quem peço uma salva de palmas.

Execelência Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República, Dr. Frederico Manuel dos Santos e Silva Cardoso, em representação de Sua Excelência o Presidente da República,

Excelências,

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Na sequência de pronunciamento favorável do Conselho da Provedoria, órgão de programação, de acompanhamento e de controlo das actividades da Provedoria de Justiça, consagrado no artigo 7.º da Lei n.º 5/06, de 28 de Abril (Lei Orgânica da Pro-vedoria de Justiça), foram instituídos, pelo Despacho n.º 92/18, de 09 de Abril, (do Provedor de Justiça), publicado no Diário da República I Série - n.º 45, o Dia do Provedor de Justiça, a ser comemorado a 19 de Abril (data da eleição e da investidura do primeiro Provedor de Justiça da República de Angola) e o Dia da Provedoria de Justiça, a ser comemorado a 28 de Abril (data da entrada em vigor da Lei do Estatuto do Provedor de Justiça e da Lei Orgânica da Provedoria de Justiça), bem como a Semana do Provedor de Justiça, a ser comemorada de 19 a 28 de Abril de cada ano.

Trata-se de uma oportunidade soberana para celebrar a insti-tucionalização da entidade Provedor de Justiça e para, uma vez mais, efectuarmos as abordagens necessárias para aprimorar-mos os mecanismos de defesa dos direitos, das liberdades e das garantias dos cidadãos. Essa instituição só fará sentido se trabalhar para garantir que o cidadão tenha um espaço onde, de modo informal, possa apresentar as suas queixas e reclamações.

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Este dia constitui, para cada um de nós, motivo de reflexão à volta da missão, incluindo as dificuldades que enfrentamos no quotidiano, por estarmos inseridos e a lidar com uma matéria muito sensível, ou seja, a de defender os direitos, as liberdades e as garantias dos cidadãos. Por isso, o Provedor de Justiça não pode deixar de atender os cidadãos e as pessoas colectivas que se queixam contra os actos praticados por órgãos da Administração Pública, central e local, de institutos públicos, empresas públicas ou de capitais maioritariamente públicos, concessionárias de serviços públicos ou de exploração de bens de domínio público, sem prejuízo de visitar os estabelecimentos prisionais e apreciar as condições humanas de internamento dos reclusos e dos detidos.

A instituição do Ombudsman versus Provedor, na concepção clássica da denominação, significa prover algo, no caso a defesa dos direitos, das liberdades e das garantias dos cidadãos, pre-venindo e reparando as injustiças dos órgãos da Administração Pública contra os cidadãos.

Em Angola, a institucionalização desta entidade pública e inde-pendente foi criada para receber as queixas dos cidadãos, as quais são tratadas através de meios informais, assegurando a justiça e a legalidade da Administração Pública. O Provedor de Justiça defende os cidadãos das injustiças e dos abusos dos órgãos e agentes da Administração Pública.

É neste capítulo das recomendações que aproveito a oportunidade para, ao abrigo da lei, e em homenagem à dignidade do cidadão, apelar, no âmbito do dever de cooperação, a todas entidades visadas ou que venham a ser visadas, que devem prestar todos os esclarecimentos e informações que lhes sejam solicitadas pelo Provedor de Justiça.

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Apesar de o dever de cooperação emanar da lei, temos cons-tatado constrangimentos vários no cumprimento desse dever, por parte de entidades visadas, mormente no que diz respeito à resposta às solicitações de esclarecimentos. Esse comportamento compromete uma melhor prestação ao cidadão, pelo que apelo, uma vez mais, à cooperação de todos.

O Provedor de Justiça e a Provedora de Justiça-Adjunta realizam sessões de esclarecimentos, a fim de conferir uma maior divul-gação da instituição Provedor de Justiça, recebem as queixas e as reclamações dos cidadãos, por meios diversos, incluindo audiências.

Contudo, o Provedor de Justiça não decide; apenas recomenda.

As recomendações do Provedor de Justiça são dirigidas ao órgão competente para corrigir o acto ou a situação irregular.

As actividades do Provedor de Justiça, mormente as visitas às províncias, aos estabelecimentos prisionais, a formação de qua-dros, a instalação dos serviços locais, para além das já referidas e das missões de cooperação no plano internacional, ficaram bastante limitadas e prejudicadas, devido à limitação orçamental decorrente da conjuntura que o País vive.

Para atender à missão, mesmo com essas dificuldades, foi aprovado o Plano Estratégico de Accção Institucional 2018-2022 e o Plano de Comunicação, Promoção e Expansão da Instituição Provedor de Justiça, como instrumentos determinantes para o reforço da relação de proximidade com o cidadão, relação que se encontra inscrita na matriz da entidade, contribuindo, deste modo, para a afirmação de uma verdadeira cultura de cidadania e de respeito pelos direitos humanos.

De entre os desafios imediatos, inscreve-se a revisão da Lei n.º 4/06 (Lei do Estatuto do Provedor de Justiça) e da Lei n.º 5/06 (Lei Orgânica da Provedoria de Justiça), ambas de 28 de Abril,

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com vista a conformá-las à Constituição da Repúbica de Angola, criando, no presente, enormes constrangimentos ao pleno funcionamento da instituição, pela falta de pessoal técnico que responda e corresponda ao volume de queixas e reclamações.

Vivemos, actualmente, a terceira fase da história do Provedor de Justiça em Angola, considerando que, nos termos da Lei de Revisão Constitucional de 1992, as funções do Provedor de Justiça eram exercidas pelo Procurador-Geral da República, considerando que a segunda fase foi marcada pela institucio-nalização da entidade Provedor de Justiça - e da estrutura de apoio denominada Provedoria de Justiça - e de arranque da sua actividade, e considerando que a terceira fase deve ser marcada pela consolidação da instituição na defesa dos direitos, das liber-dades e das garantias dos cidadãos, baseada na experiência da fase de institucionalização e de arranque da actividade naquelas condições difíceis.

Execelência Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República, Dr. Frederico Manuel dos Santos e Silva Cardoso, em representação de Sua Excelência o Presidente da República;

Excelências;

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Entendo que os temas escolhidos para abordarmos neste ciclo de palestras contribuirão para melhor atender o cidadão, salva-guardando os seus direitos, porque para o Provedor de Justiça em Angola e para os funcionários e agentes da Provedoria de Justiça “o cidadão é a nossa ocupação, o cidadão é a nossa preocupação; mais direito, mais cidadania, mais cidadania mais direito.”

Muito obrigado

Luanda, 19 de Abril de 2018

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DISCURSO DE ABERTURA DE SUA EXCELÊNCIA O MINISTRO DE ESTADO E CHEFE DA CASA CIVIL

DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA, DR. FREDERICO MANUEL DOS SANTOS E SILVA

CARDOSO, EM REPRESENTAÇÃO DE SUA EXCELÊNCIA O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Cidadãos!

Neste momento, parece-nos difícil encontrar melhor palavra do que esta, para sintetizar a categoria e a qualidade que a todos nós aproxima e hoje nos convoca a esta solene sessão de abertura da Semana do Provedor de Justiça. É dos cidadãos, dos seus lídimos interesses, que a Provedoria de Justiça cuida.

Permitam-me, em nome de Sua Excelência o Presidente da República, João Manuel Gonçalves Lourenço, agradecer pelo convite formulado e sublinhar o sentido de oportunidade de que se reveste a recente instituição, pela Provedoria de Justiça, do Dia do Provedor de Justiça, que Hoje, pela primeira vez, se comemora.

Saudamos, igualmente, o início desta jornada, que, ao longo de uma semana, nos permitirá avaliar as realizações da Provedoria, reflectir sobre como superar as insuficiências constatadas e o que fazer para continuarmos a salvaguardar sem titubeios os direitos, as liberdades e as garantias fundamentais dos cida-dãos, plasmadas na Constituição da República de Angola e na legislação ordinária.

Um pouco mais de três séculos, exactamente 305 anos, com-pletam-se, desde que o Rei Carlos XII, da Suécia, nomeou o primeiro Ombudsman, figura na qual se inspiram, nos dias de

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hoje, a maior parte dos ordenamentos jurídicos que instituíram Provedorias de Justiça. Desde a sua origem os Ombudsmen eram as entidades que, como verdadeiros “Olhos do Rei”, controlavam os funcionários do Governo, detectavam as irregularidades, os excessos e as anomalias da Administração pública.

Instituído em Angola pela Lei n.º 4/06, de 28 de Abril, o Provedor de Justiça é uma entidade estatal especializada, que vela pelo cumprimento das obrigações do Sector Público com os cidadãos. É um dos canais de auscultação da voz do povo, um “Assessor” jurídico de confiança para os cidadãos na reclamação dos seus direitos fundamentais, um canal de denúncia de acções ilegais e um dos mecanismos constitucionais de protecção dos referidos direitos.

Os seus relatórios sobre as situações chegadas ao seu conheci-mento podem constituir uma ferramenta fundamental de apoio na interrelação entre as entidades públicas e os cidadãos. O seu papel de observador de processos acaba por exercer pressão sobre os funcionários (incluindo o poder judicial) para a resolu-ção dos problemas apresentados pelos cidadãos nas diversas instâncias. A relativa informalidade dos seus canais de acesso deverá ajudar, igualmente, a contornar a excessiva burocracia de alguns dos tradicionais mecanismos do Estado.

Doze anos de vigência e de exercício de uma instituição a quem está reservado um papel transversal na defesa dos interesses dos cidadãos, constitui apenas parte do tempo incontornável para o lançamento das bases de um edifício que se quer sólido, actuante e eficaz. A multiplicidade de tarefas constantes do programa da Semana do Provedor de Justiça, como as Visitas aos diversos Estabelecimentos Penitenciários e as Sessões de Esclarecimento sobre o conteúdo do seu trabalho, bem como, as outras actividades relativas à prestação de um atendimento

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permanente aos cidadão, enunciam, claramente, o cerne das preocupações da Instituição na presente conjuntura.

É esperado da Provedoria de Justiça o exercício, a todo o momento, do seu papel de “Magistratura de Persuasão”, assegurando o equilíbrio entre as partes em conflitos, devido à credibilidade que deve conquistar e preservar, fazendo juz da sua possibilidade de intervenção ex-ofício, permitindo, assim, que seja ultrapassado o medo de se denunciar o que for mal feito, e exercendo com plenitude a sua capacidade de convocação e de divulgação, num ambiente em que o respeito e a tolerância prevaleçam sempre como estandartes.

Por outro lado, algumas das características da Provedoria, como o facto de não ter de observar muitos formalismos nem exigências jurídicas para atender os casos que lhe sejam submetidos: a gratuitidade da assistência que presta e a autonomia institucional, apesar de ser uma Instituição estatal, permitem-lhe, também, contribuir de modo singular para uma efectiva protecção dos direitos fundamentais dos cidadãos.

Torna-se pois necessário, em nome do interesse público, manter um clima de boa colaboração entre as autoridades sujeitas à fiscalização do Provedor de Justiça, exercendo cada uma as suas atribuições constitucionais e assegurando-se, deste modo, o funcionamento das diversas entidades públicas de maneira articulada, com relações de complementaridade, e com pesos e contra-pesos que mantenham o equilíbrio imprescindível ao estado democrático e de direito que estamos a construir.

Fazemos votos de que a Provedoria de Justiça continue a consolidar também o seu papel de auditoria social, ética e deontológica da sociedade, num momento em que se impõe ouvir muito, fazer mais e dialogar melhor.

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A peculiaridade da Provedoria de Justiça ser um órgão público que não integra a clássica trilogia do poder (os poderes Execu-tivo, Legislativo e Judicial) coloca-a na privilegiada posição de poder recomendar correcções administrativas, sem, contudo, as executar; poder ajudar a compor litígios judiciais, sem, contudo, sentenciar; poder sugerir a feitura de leis boas para a república, mesmo sem legislar. É preciso capitalizar esta valia, continuando a dotar este órgão de quadros qualificados e versáteis, que percebam e ajam a todo o momento à altura do que a pátria deles espera enquanto profissionais.

Excelências,

A sociedade exige de nós acções que representem transformações importantes nas suas condições de vida. O progresso de Angola exige que reinventemos o nosso modo de o ver, de o viver e de agir, de maneira a que com atitudes diferentes obtenhamos resultados também diferentes. O presente e o futuro do nosso país reclamam de nós uma acção permanentemente concertada, de maneira a que se optimize o uso dos recursos escassos à disposição da economia, se alcancem melhores resultados na resolução dos problemas do povo e se assegure sustentabilidade no desenvolvimento, equidade nas oportunidades dos cidadãos e justiça na aplicação do direito.

Estamos convencidos de que a este elevado sentido de Estado que norteia a acção dos nossos digníssimos representantes dos órgãos do poder, através dos quais são corporizados a vontade e os mais profundos anseios do povo angolano.

Com estas palavras, declaro aberta esta jornada da Semana do Provedor de Justiça.

Muito obrigado.

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PALESTRAS (Palestrantes e Moderadores)

ASPECTO DA CONSTITUIÇÃO DO PAINEL DO CICLO DE PALESTRA

Da esquerda para a direita:

Dr. Cremildo Paca, Jurista e Professor Universitário (Moderador)

Dr. Paulo Tjipilica, Primeiro Provedor de Justiça da República de Angola (Prelector)

Dr. Raúl Vasquez Araújo, Venerando Juiz Conselheiro do Tribunal Constitucional (Prelector)

Dr.ª Margarida Gonçalves, Procuradora Geral Adjunta da República (Moderadora)

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PAINEL 1

TEMA A Institucionalização do Provedor de

Justiça no Ordenamento Jurídico Angolano e a sua Importância

PRELECTOR: Dr. Paulo Tjipilica

Primeiro Provedor de Justiça da República de Angola

MODERADOR: Dr. Cremildo Paca

Jurista e Professor Universitário

Excelentíssimo Senhor Provedor de Justiça da República de

Angola, Dr. Carlos Alberto Ferreira Pinto,

Excelentíssima Senhora Provedora de Justiça-Adjunta da República de Angola, Drª Antónia Florbela Rocha Araújo,

Venerandos Juízes Conselheiros dos Tribunais Superiores,

Membros do Executivo,

Senhor Procurador Geral-Adjunto,

Membros de Mesa,

Membros do Conselho da Provedoria de Justiça,

Estudantes,

Senhoras e Senhores,

Permitam-me, Senhor Provedor de Justiça e Senhora Provedora de Justiça-Adjunta, que lhes dirija as primeiras palavras de felicitações a Vossas Excelências pela iniciativa e diria, até, pela

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coragem de terem conseguido lograr êxito na consagração do estabelecimento do Dia do Provedor e da Semana da Provedoria de Justiça, questão várias vezes debatida no consulado anterior, mas por razões, ou sem razões vislumbráveis, nunca reuniu consenso, provavelmente imputáveis, na oportunidade, ao exercício das tarefas sobre o signo e o sinete do contradotório e quiça da contrariedade.

Em segundo lugar, agradecer o gentil convite que me foi endereçado, tendo aceite apenas pelo facto de ser dimanente das entidades que no presente, de iure e de facto, titula a responsabilidade da defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, e para abordar o tema “Institucionalização da Figura do Provedor de Justiça, órgão, e da Provedoria de Justiça, instituição ou serviço, no ordenamento jurídico angolano e sua importância”.

Sobre o tema e preliminarmente, fica para história o registo de que foi a 17 de Novembro de 2004, cerca das 13 horas e 45 minutos, quando após uma curta sessão do Conselho de Ministros, o Supremo Magistrado da Nação, ao tempo, Sua Excelência Eng.º José Eduardo dos Santos, pelo emissário e director do Protocolo, Senhor José Filipe, me transmitiu que o Chefe de Estado pretendia falar comigo na sala de apoio. E, com uma voz calma e serena, mas plena de autoridade, foi-me informando de que era chegado o momento de dar por finda a minha comissão de serviço como Ministro da Justiça.

Na ocasião, mencionou alguns factos relevantes do meu consu-lado, como a institucionalização do Tribunal de Contas, o Guiché Único da Empresa, os Estatutos dos Magistrados do Ministério Público, o Palácio da Justiça, o Palácio Dona Ana Joaquina, o INEJ (Instituto Nacional de Estudos Judiciários), o Bilhete de Identidade Informatizado, o Registo Gratuito das Crianças, etc. Rapidamente, agradeci a confiança e a oportunidade que me foi dada para servir ao país em tão altas funções e que era tempo,

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após 12 anos, de regressar à minha função de eleição, a actividade forense ou advocacia.

De imediato, o meu interlocutor atalhou explicitando que me iriam ser acometidas outras funções e tarefas, isto é, assumir o cargo de Provedor de Justiça, constante na Lei Fundamental, mas ainda não provido e contava comigo para este efeito. Mas, que a investidura passava por um processo complexo de eleição dos deputados da Assembleia Nacional, cabendo ao Candidato convencer todas as bancadas parlamentares. Outrossim, que não havia instalações, mas que iria ser erigida e construída de raiz um edifício nas imediações da Cidade Alta.

Seguidamente perguntou o que me oferecia dizer sobre o assunto. Assim, e salvaguardada toda a reverência devida ao meu interlocutor, referi que me honrava bastante, mas carecia de um mês para analisar o assunto com a minha família. O pedido foi aceite. Contudo, no mesmo dia 17, pelas 18 horas, recebo um telefonema do Secretário Geral do MPLA, ao tempo Dr. Julião Mateus Paulo “Dino Matrosse”, a informar que estavam presentes na Direcção do Partido, membros da direcção e que tinha urgência em falar comigo.

À hora acordada, estavam presentes o Secretário-Geral, Dr. Dino Matrosse, o actual Vice-Presidente da República, Dr. Bornito Baltazar Diogo de Sousa, o actual Provedor de Justiça, Dr. Carlos Alberto Ferreira Pinto, o Dr. João Martins e Fernando Faustino Muteca.

No uso da palavra, o Secretário-Geral perguntou se o Chefe de Estado e Presidente do MPLA já teria falado comigo sobre o provimento do cargo de Provedor de Justiça? Respondi positi-vamente com apenas uma observação: de ter pedido um mês de reflexão. Em coro, os interlocutores afirmaram que o assunto era para anteontem e que a partir do dia seguinte começariam

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as audições com as bancadas parlamentares do MPLA, primeiro, que foi um interrogatório de cerca de 3 horas; no dia seguinte, a oposição durante 7 horas, na sala número 3 da antiga Assembleia Nacional; por fim, no anfiteatro número 2, com todas as bancadas parlamentares, culminando com a eleição no dia 19 de Abril de 2005, data que se comemora hoje.

Por maioria absoluta fui eleito, com apenas uma abstenção da Nova Democracia do Dr. Quintino Moreira, na sessão plenária. Quando me encontrei, depois, com o Dr. Quintino Moreira, inda-guei-o da razão ou sem razão de se ter abstido, mas ele ficou a tartamudiar e às tantas nada me disse. Eu disse-lhe: fez muito bem, fazendo a diferença e valorizando a eleição.

Nessa data, e pelo Presidente da Assembleia Nacional, ao tempo, Dr. Roberto Victor de Almeida, foi me dado o prazo de 90 dias para elaborar e remeter à Assembleia Nacional as minutas do Estatuto do Provedor de Justiça e da Lei Orgânica da Provedoria de Justiça. Hoje, trago um exemplar de uma das minutas. Nelas estavam inseridas, realmente, alguns normativos que muito iriam, na verdade, valorizar algumas das dificuldades que realmente passamos ou que ainda passa o serviço do Provedor de Justiça.

A tomada de posse ocorreu na sessão plenária de 9 de Junho de 2005, tendo sido reiterado o cometimento de elaborar e apresentar à Assembleia Nacional as já citadas minutas no prazo de 90 dias, o que foi cumprido na integralidade.

A Senhora Provedora de Justiça-Adjunta foi eleita no dia 13 de Dezembro de 2006 e empossada em 17 de Janeiro de 2007. Veio imprimir dinamismo e tecnicidade a todo um serviço do Provedor de Justiça. Bem-haja.

Pelo então Chefe da Bancada Parlamentar do MPLA, ainda historiando um pouco o que era a génese da institucionalização do Provedor de Justiça, o actual Vice-Presidente da República

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foi-me sugerindo que deveria visitar alguns países recolhendo experiências no âmbito do direito comparado, começando pelos países africanos. Assim, tendo como meu assessor o jovem Agnaldo Baptista, hoje Consultor do Secretário-Geral das Nações Unidas, e pelos Meritíssimos Juízes Augusto Escrivão e José de Morais, visitámos primeiro a Namíbia, onde encontrámos a Ombusdman, uma senhora, e depois a África do Sul, onde encontrámos um homem elegante, Dr. Laurence F. Mussuana. Visitámos o Zimba-bwe. No Zimbabwe tivemos, realmente, algumas dificuldades. Primeiro, porque quando contactámos o Provedor de Justiça ou Ombusdman, ele disse que tinha primeiro de pedir autorização do Ministro da Justiça; eu disse que este já não reune o código genético do Provedor de Justiça. Contactámos o Provedor de Justiça e, nessa altura, disse-me que também tinha de contactar e, sobretudo, pedir autorização ao Chefe de Estado. Eu disse à minha comitiva que o melhor era regressar à procedência. Voámos até Moçambique.

Em Moçambique, foi mais para sensibilizar os nossos irmãos do Índico a seguirem o caminho de Angola, como o fizeram pouco tempo depois, elegendo o que foi meu colega como Ministro da Justiça, Dr. José Ibraim Mobudo, e pediram algumas minutas que nós lhes deixámos para servir de alguma indicação e paradigma.

Visitámos países da Europa, começando por Portugal onde temos semelhante matriz jurídica, Espanha, Polónia, Suécia e Noruega. Recolhemos ensinamentos, sugestões, conselhos e literatura para enfrentar a tarefa árdua, mas bastante digna da defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.

Feita essa introdução, vou-me referir à importancia do Ombusdman ou Provedor de Justiça. A Lei Fundamental de 1992, que teve como ocasio leigis a abertura e/ou a adução do pluripartidarimso, visando a pacificação, a reconciliação nacional e a economia de

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mercado, estabelecia e consagrava já nos artigos 142.º a 144.º o seguinte:

O Provedor de Justiça é um órgão público e independente que tem por objecto a defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, assegurando, através de meios informais, a justiça e a leglidade da administração pública. Pela sua importância, o legislador consagrou três artigos, o que afigura ter sido mais generoso do que o actual legislador de 2010, que dedicou apenas um artigo com sete normativos, embora tenha sido mais pormenorizado, exaustivo e detalhado nas funções do Provedor de Justiça. Curiosamente, quanto ao exercício da actividade forense, liberal, na sua essência de carácter privado, mas erigida pelo legislador a dignidade constitucional, dedica-lhe três artigos, parecendo ter sido apocarda a figura do Ombusdman. Mas é uma situação meramente aparente; se não vejamos.

A importância do Provedor de Justiça ou Ombusdman

A Constituição da República de Angola de 2010 dedica 66 artigos em que se enquadram e se integram as actividades do Provedor de Justiça; isto é desde o artigo 22.º ao 88.º, falando sempre sobre os direitos, deveres e liberdades fundamentais. Depois fala também dos direitos, liberdades garantias fundamentais do artigo 30.º ao 55.º, e, novamente, na Secção Segunda, faz alusão à garantia dos direitos e liberdades fundamentais. Por último, no capítulo III, do artigo 76.º ao 88.º, aborda os direitos e deveres economicos e sociais. Tudo, enfim, matéria em que se enquadra a função do Provedor de Justiça. É, pois, vasta e de primordial importância a actividade e a figura do Provedor de Justiça.

Volvendo o olhar analítico sobre os países que assumiram o pionerismo da institucionalização da figura do Ombudsman ressalta a convicção clara e inequívoca de que são estes países

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que, desde 1809, onde existe equilíbrio e a correcção das assi-metrias sociais, onde foram ultrapassadas questões inerentes à defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, e são países que são sempre referenciados como tendo o alto desenvolvimento humano e qualidade de vida: Suécia, Noruega, Dinamarca, Finlândia e outros países como Áustria e Canadá.

Como é do conhecimento de todos, Portugal só aderiu a este Ombusdman em 1975, depois do regresso de todos aqueles que estavam nas ex-colónias, porque se impunha defender os seus direitos, sobretudo acomodá-los com alguma dignidade. O primeiro Provedor de Justiça foi um militar, porque nessa altura quem titulava a responsabilidade governativa era o MFA - Movimento das Forças Armadas, sendo que o primeiro Provedor de Justiça de Portugal foi o Major Costa Brás.

Ainda sobre a importância do Provedor de Justiça, vou citar um exemplo ou uma constatação. Nessa visita à Suécia, que há pouco me referi, depois de termos acedido às instalações do Ombudsman, percebemos que há o Ombudsman eleito e depois há outros que são nomeados pelo Provedor principal, o eleito, quer seja contra a discriminação, quer seja para as crianças, para as minorias etc., vários Ombudsmen, mas são nomeados pelo principal Ombudsman, que é eleito pelo Parlamento. Seguidamente visitámos a Universidade de Opsala e lá estivemos a dialogar e a confraternizar com os estudantes e sublinharam a importância sobretudo do Ombudsman. Eu perguntei, sendo aqui uma realeza (Monarquia), quem é mais importante: o Rei ou o Ombudsman? E os estudantes logo responderam: o Ombud-sman. Mas porquê o Ombudsman? Insisti. E eles responderam: porque só ele é quem nos defende. Por isso, Senhor Provedor de Justiça e Senhora Provedora de Justiça-Adjunta, essa tarefa é mesmo importante.

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E perguntei: e o Rei? Os estudantes responderam: o Rei cuida de si mesmo. O Rei só se defende a si mesmo, tanto mais que em 1809 o Rei até fugiu para Istambul e quem teve de assegurar o país foi o Ombudsman, que depois de ter estado em exercício, cerca de 13 a 15 anos, o povo passou a rejeitá-lo e a dizer que este (o Ombudsman) já tem o apetite e o sinete do poder admi-nistrativo e, sobretudo, a política, portanto, agora fica como um mero órgão do gevorno e vamos eleger alguém que seja, de facto, independente. Este primeiro Ombudsman teve, igualmente, a configuração de Procurador-Geral. E foi assim que foram eleitos novos Ombudsmen, que foram sempre ou um professor universitário ou um juiz do Tribunal Supremo.

Senhor Provedor e Senhora Provedora de Justiça-Adjunta, é, pois, muito importante a Vossa actividade, que tem de ser exercida com espírito de missão, com profunda dação em cumprimento, atendendo no quotidiano o cidadão sem rosto e sem voz, sempre preservando e salvaguardando o código genético, que exorna a figura do Ombudsman a nível internacional: Acessibilidade (o cidadão tem de ter acesso directo ao Provedor de Justiça); a Celeridade (na tramitação dos processos para se despir da peia da burocracia); Gratuitidade (que aqui já foi relevada); a Indepen-dência (uma independência verdadeira, sobretudo para servir o cidadão sem vacilações); a Informalidade; e a Sigilosidade, mas sem poder decisório.

Indagavam-me, muitas vezes, sobretudo os jornalistas, sobre a utilidade de Provedor de Justiça se não tem poder decisório? Nessa oportunidade, dizíamos sempre que se o Provedor de Justiça tivesse poder decisório, tomava parte ou decidia, como decidem os magistrados judiciais ou como decidem os membros do executivo, nos actos administrativos; portanto, não manteria vincada e, sobretudo, preservada a sua independência. O que tambem indagavam é se isso não descredibiliza, de algum modo,

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o Provedor de Justiça? Respondia que não, porque o Provedor de Justiça tem ainda outro instrumento muito importante, quando nos seus relatório trimestrais ou anuais apresenta todas as questões que foram apresentadas ao seu gabinete e, sobretudo, aquelas entidades visadas que ou não respondem ou não acolhem as suas recomendações.

Portanto é sempre útil e muito importante a figura do Provedor de Justiça e não é por sem razão que hoje o Ombudsman está implantado em cerca de 150 países. Em África, são 45 países que têm o serviço do Provedor de Justiça, que se chama Médiateur de la Repúblique, na expressão francesa, quer se chame Public Protector, na expressão inglesa, ou simplesmente Ombudsman na designação genérica e internacional.

É importante, tal como já foi dito, quando o Provedor de Justiça visita os estabelecimentos prisionais, encara os despedimentos sem justa causa, a morosidade dos tribunais, e o abandono das crianças. É importante quando ouve os recados da criança, os apelos dos idosos, dos portadores de deficiência.

Por último, vamos falar-vos um pouco sobre os desafios que se colocam à função e ao exercício do serviço do Provedor de Justiça. São vários, imensos os desafios. Assim, vamo-nos socorrendo e valorando pórtico, que já se tornou aquisição popular no que concerne à preservação e salvaguarda dos direitos do autor, isto é “melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”.

Ouso afirmar que são vários os desafios à função do Provedor de Justiça, desde logo o seu relacionamento com as entidades visadas. O Provedor de Justiça tem de ter sensibilidade bastante, sobretudo muita diplomacia, para persuadir e dissuadir os nos-sos ilustres colegas, porque estamos todos dentro da mesma actividade da governação e proteger o cidadão. Mas é preciso realmente muita sensibilidade, muita diplomacia, muita leanesa,

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muita cordura na abordagem, porque cada um traz da sua casa dramas desconhecidos e, às vezes, chegam ao gabinete bastante cansados. E o senhor Provedor de Justiça vem com aquela voz truculante a cobrar qualquer documento e não fala como quem lhe pede um favor e, às vezes, damos uma resposta que logo inviabiliza os objectivos superiores da defesa dos direitos do cidadão.

Há que ter bastante sensibilidade, é preciso ter o coração sensível às desditas, à miséria e à dor alheia, para ser Ombudsman.

No âmbito do direito comparado, mesmo em África e nos países da francofonia, há um aspecto que nós podemos sublinar: é que quando a entidade visada não responde, o Supremo Magis-trado da nação convida o Ministro ou outra entidade perante o Provedor de Justiça para lhe indagar da razão ou sem razão de não cumprimento da recomendação ou de não responder ao Provedor de Justiça. Se calhar, num tempo não muito distante, num estatuto que seja revisto e se isto for da concordância de Vossas Excelências, os homens da actividade legislante, por excelência, se isso puder passar ajudará bastante o serviço do Provedor de Justiça.

Quando, enfim, determinado membro do executivo tiver de estar ainda perante o Presidente da Assembleia Nacional, já ajudará bastante, e se for perante o Presidente do Executivo, então, melhor ainda, para poder lograr êxito, algumas das questões que cortam o coração, que nos são colocadas pelo cidadão no quotidiano.

Na minuta inicial, dizia eu, previa-se a existência de coordena-dores e assessores que aufeririam um salário adstrito ou, pelo menos, equiparado aos da magistratura do Ministério Público da Primeira Instância, porque entendíamos que os funcionários têm de ser preservados na sua remuneração, porque lidam com questões muito delicadas. E quando o estímulo remuneratório

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não for bastante, é desencorajante. Tanto assim é que, ao longo do nosso consulados, fomos perdendo jovens juristas, e mesmo de outras áeras, que depois de bem habilitados foram demandar outros serviços para melhor acomodar as suas famílias.

Ora, esta sangria, esta hégira dos quadros não deve continuar. Há que, realmente, pugnar por todas as razões, Senhor Provedor de Justiça e Senhora Provedora de Justiça-Adjunta, para que aquelas minutas que convalecem na Assembleia Nacional, desde 2010, sejam aprovadas. Nós vimos, com alguma mágoa, que outras do poder e da mesma área, quer seja do Provedor de Justiça, quer seja do Tribunal de Contas, ou até mesmo da Ordem dos Advogados, conseguiram lograr êxito e, sobretudo, adequar e coadunar os seus Estatutos e as leis orgânicas à actual Constituição. Indagamo-nos da razão, ou sem razão, por que convalecem essas minutas, desde 2010, na Assembleia Nacional. Se calhar, amanhã, sua Excelência, o Senhor Presidente da Assembleia Nacional poderá dizer-nos as razões subjacentes a isso, mas eu estou convencido de que com a sua autoridade e, sobretudo, com a sua diplomacia e, fundamentalmente, com tudo quanto o Senhor representa e representou, a nível do país, e pela responsabilidade que assume, e porque o pórtico de conduta do país é “melhorar o que está bem e corrigir os que está mal”, acho que teremos oportunidade, quando lá chegar a luz do dia em que essas minutas saiam dos gabinetes das comissões parlamentares e conheçam a sua aprovação.

Do mesmo modo, as questões inerentes aos serviços locais é outro desafio do Provedor de Justiça. Antes de lhe passarmos o testemunho, Senhor Provedor de Justiça, Cabinda foi assaltada por 3 vezes, levaram os móveis e utensílios e o Provedor de Justiça teve de exercer a sua função no domicílio.

Quando existem os chamados núcleos da Assembleia Nacional e nós visitámos, vezes sem conta, esses núcleos, que tinham

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aposentos bastantes onde podiam, com dignidade, ser abrigados, instalados os serviços locais, até que o país reúna condições para construir de raiz, como aconteceu no Cunene. Uma advocacia dirigida com a sabedoria do Senhor Provedor de Justiça e, sobretudo, o Senhor que conhece os meandros e os caminhos daquela casa, suponho que vai lograr êxitos. Até porque já houve um ofício do Presidente do Conselho de Administração a autorizar essa situação de os nossos serviços locais poderem ser acolhidos nos núcleos da Assembleia Nacional. Espero que esta situação venha conhecer melhor solução.

A terminar, uma recomendação de Sir Winston Churchill que dizia: “o segredo do êxito reside no facto de ir de insucesso em insucesso, mas sem nunca perder o ânimo”.

Minhas Senhoras e meus Senhores,

Muito obrigado por me terem escutado.

Muito obrigado.

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ASPECTO DO AUDITÓRIO DA PROVEDORIA DE JUSTIÇA

DURANTE O CICLO DE PALESTRAS

Em primeiro plano, da esquerda para a direita:

Dr, Paulo Tjipilica, Primeiro Provedor de Justiça da República de Angola

Dr. Luís de Assunção Pedro da Mota Liz, Vice-Procurador Geral da República

Drª. Maria da Conceição de Almeida Sango, Primeira Provedora de Justiça-Adjunta

Dr. Ângelo de Barros Veiga Tavares, Ministro do Interior

Cónego Apolónio Alberto António Graciano

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PAINEL 2

TEMA Direitos Fundamentais na vertente dos Direi-

tos, das Liberdades e das Garantias Fundamentais do Cidadão

PRELECTOR: Dr. Raúl Vasquez Araújo

Venerando Juiz Conselheiro do Tribunal Constitucional

MODERADORA: Drª Margarida Gonçalves

Procuradora-Geral Adjunta da República

Começo por agradecer ao Senhor Provedor de Justiça, Dr. Carlos Alberto Ferreira Pinto e à Senhora Drª Florbela Araújo, Provedora de Justiça-Adjunta pelo convite que me foi feito para aqui estar.

Cumprimento, igualmente, as entidades aqui presentes, nomea-damente os Venerandos Juízes Conselheiros dos Tribunais Superiores, Senhoras e Senhores Ministros, Senhores Secretários do Presidente da República, o Senhor Cónego Apolinário Graciano, a Senhora Directora da Faculdade de Direito da Universidade Católica de Angola, Excelências e Ilustres presentes nesta conferência.

Confesso que acedi ao convite numa altura um bocado complicada da minha agenda, em que se sobrepunham várias actividades, entre elas aquela que continua a ser a minha actividade de paixão, que é o ensino. Tudo o resto que foi aqui dito são activi-dades complementares, o que torna o Curriculum mais bonito, é verdade, mas não me tornam mais feliz, porque o que me faz

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feliz, de facto, é dar aulas, aceitar os desafios do dia-a-dia dos alunos, questões que se colocam. Mas enfim…

Vamos então falar sobre os direitos fundamentais. Devo, desde já, dizer que vou tentar ser o mais sintético possível, não garantindo, desde logo, que seja muito breve. Aqui o sintético não significa ser breve.

Vou começar, para começarmos.

A nossa Constituição, à semelhança das Constituições modernas, inseriu os direitos constitucionais no seu documento. Assim foi em 1992. Recordo-me de, quando nós trabalhámos na Lei de Revisão, a Lei Constitucional de 1991, primeiro, e depois na Lei Constitucional de 1992, tivemos uma discussão muito grande sobre que direitos, liberdades e garantias deveríamos inserir no texto da Lei Fundamental.

Naquela altura nós recebemos propostas de várias partes do mundo, nomeadamente... Recordo-me sempre de uma enorme proposta, enorme em termos de conteúdo e extensão, rece-bemos de várias organizações internacionais, nomeadamente da Amnistia Internacional e de algumas instituições ligadas às Nações Unidas, e fizemos a inserção desses direitos humanos na nossa Constiruição; daí chamarem-se de direitos fundamentais, por estarem na Lei Fundamental.

Naquela altura, me refiro a 1991/92, muita gente que aqui está não se deve recordar desse período, porque alguns não teriam nascido ainda, outros eram muito jovens, mas, naquela altura, tínhamos aqui questões muito interessantes, que hoje, provavel-mente, as pessoas não me vão entender. Por exemplo, uma das questões que mais foi debatida na Assembleia do Povo, ligada aos direitos fundamentais, era um direito que hoje já é corrente, era a liberdado que o cidadão angolano devia ter de entrar e sair do país sempre que quisesse, sem necessidade de permissão,

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porque até àquela altura, para sair-se de Angola era necessário ter um visto passado pela DEFA e era preciso, também, de visto para entrar no país. E os angolanos que sempre gostaram de viajar, apesar das muitas dificuldades financeiras e políticas, mas as pessoas viajavam mesmo, graças às grades de cerveja que eram dadas no sistema de abastecimento das lojas. Nós viajávamos. Quando discutíamos essa norma, por exemplo, na Assembleia do Povo foi difícil as pessoas perceberem que não fazia sentido que um angolano que estivesse no exterior do país, para entrar no seu próprio país tivesse necessidade de um visto. Não fazia sentido. Como não fazia sentido, em 1992, que nós ainda tivéssemos um recolher obrigatório em Luanda, que vinha desde 1977.

Esse recolher obrigatório começou com o processo da tentativa de golpe de Estado de 1977 e, em 1991, ainda estávamos obri-gados a ficar nas festas até às 5 da manhã, com muito sacrifício, a maior parte das pessoas com muito sacrifício (como devem calcular), porque depois da meia-noite quem fosse apanhado na rua era preso e ficava na Esquadra ou sentado na rua à espera que amanhecesse para poder circular.

Estou aqui a falar de questões muito simples, mas que foi necessário inserir na nossa Constituição, porque não estavam no texto constitucional de 1975 até 1991. Em 1992, inseriu-se na nossa Lei Fundamental um princípio essencial, que é a proibição da pena de morte, o direito à vida, porque esse princípio apenas foi inserido na Lei Fundamental de 1992. Até então era possível a existência de pena de morte, as pessoas eram passíveis de ser condenadas à pena de morte por fusilamento (se não me engano), porque a pena de morte por passar fome, isso não precisa estar consagrada na Constituição.

E assim foi. Nós conseguimos inserir um conjunto de direitos no texto constitucional, e quando digo nós me refiro ao país e não

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apenas quem trabalhou nisso. O país ganhou muito com esse processo de início da democratização. Infelizmente, logo após as eleições de 1992, que foram incompletas, iniciámos um longo período de guerra civil, que culminou em 2002. Ficámos todo esse período numa situação de direitos fundamentais plasmados na Constituição, que eram formalmente existentes, mas material-mente inexistentes. Portanto, quando se está em guerra é muito difícil falarmos na defesa dos direitos, liberdades e garantias. Eu digo difícil para não dizer quase impossível, porque como é que nós vamos defender um princípio da livre locomoção, da livre circulação de pessoas e bens que estava consagrado na Constituição, se nós para sairmos daqui para Benguela só de por avião, porque por terra era impossível ou quase impossível). A livre circulação de pessoas era coisa quase inexistente.

Felizmente, ultrapassámos essas fases e posso, de facto, veri-ficar que a Constituição de 2010 ampliou, substancialmente, os direitos fundamentais. Num processo de paz e num processo extremamente importante, que se deve ao seguinte: se é verdade que a Lei Constitucional de 1992 foi, o que se chama de uma Constituição pactuada, resultante de um acordo entre o partido no Governo e os outros partdidos na oposição, particularmente o principal partido da oposição, que era partido armado, quem aprovou a Lei Constitucional na altura foi a Assembleia do Povo que era monopartidária. A Constituição de 2010 é muito mais ambrangente, é muito mais aceite, tirando a parte do exercício do poder político, que é aquela que levantou mais discussões e, ainda hoje, levanta, mas toda a carta de direitos fundamentais da Constituição de 2010 é naturalmente aceite por todos os contendores, por todos os cidadãos.

Isto, porque todos nós estamos de acordo que falarmos em direitos fundamentais, e tal como é proposto no texto, é numa perspectiva de direitos, liberdades e garantias fundamentais. Falar

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de direitos fundamentais só é possível num Estado democrático de Direito. Se não estivermos num Estado democrático de Direito, num Estado onde o princípio essencial é o de que a vontade que prevalece é a vontade do detentor da soberania, que é o povo, e quem exerce o poder político deve fazê-lo por vontade expressa manifestada nas urnas, de forma periódica e livre. É esse povo soberano que escolhe os seus representantes para exercerem o poder político, portanto isso é que é a essência da democracia que se complementa com a participação dos cidadãos em outros actos democráticos da chamada democracia participativa. Dizer que somos democratas só porque fazemos eleições periódicas é muito pouco.

Falamos, também, dos direitos fundamentais no Estado de Direito, porque é aquele que se baseia no respeito pelas leis, no respeito pelo direito e, principalmente, no respeito pela administração pública, no respeito que os órgãos que exercem o poder político devem ter pelos direitos fundamentais, porque não é por acaso que a nossa Constituição, no seu artigo 1.º, estabelece que a essência da construção da nossa sociedade, e por essa razão da organização do nosso Estado e do exercício do poder, deve ter como ideia central o da defesa, da garantia da pessoa humana.

A nossa Constituição, logo no seu artigo 1.º, funda-se na defesa da garantia da pessoa humana. Portanto, toda a acção do Estado, toda a acção de quem exerce o poder, entre o poder político, poder administrativo, o poder legislativo e, naturalmente, o poder judicial, deve ter como preocupação principal, o mais importante de toda a sua acção não é questão abstracta, a defesa do Estado pelo Estado, não é aquilo a que se chama a defesa da vontade do Estado, que se sobrepõe à vontade do cidadão. Não! A nossa Constituição, sempre a sua acção, será na defesa dos cidadãos, na defesa dos angolanos.

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Portanto, todo o funcionamento do Estado, das instituições, as políticas públicas a serem seguidas têm como objectivo funda-mental melhorar as condições de vida, defender os interesses dos cidadãos, de forma que nós consigamos uma melhor participação, dinâmica e activa. Daí o princípio da defesa da dignidade da pessoa humana. Esta é a essência da nossa Constituição; esta é a essência dos direitos fundamentais no nosso Estado e se assim não for, muito mal nós estaremos.

Para além deste princípio, a Constituição estruturou-se no sentido de concretizar um conjunto de direitos fundamentais que vêm divididos, basicamente, em dois grandes grupos: os direitos e as liberdades. Depois temos um outro grupo dos direitos fundamentais que são chamados de direitos sociais. Pensamos que os direitos fundamentais são apenas os direitos políticos, civis, mas temos os direitos sociais, como o direito ao emprego, direito à cultura, ao desporto. Temos, ainda, as liberdades, as garantias que a Constituição estabelece. São aquelas que vão salvaguardar que os direitos sejam respeitados. E temos, também, um conjunto de normas, que as pessoas normalmente não gostam de ler e se esquecem, que são os chamados deveres fundamentais.

Nós aprendemos em direito que em toda a relação jurídica existem direitos e deveres, que não há direitos sem a correspon-dente obrigação do seu dever. Aquele nome muito bonito que nós dizemos aos alunos e que eles ficam encantados, quando ouvem algumas palavras difíceis, aquela chamada relação sinalagmática. Portanto, onde há direitos, há deveres e a nossa Constituição estabelece direitos dos cidadãos, garantias para que esses direitos existam, mas também estabelece deveres. Portanto, nós temos também deveres para com o país, deveres para com o Estado, deveres principalmente para com os outros cidadãos, que são tão cidadãos quanto nós, porque alguns, às vezes, pensam que são mais que os outros, mas não.

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A nossa Constituição, de acordo com o princípio da igualdade, diz que todos nós somos iguais. Os mais bonitos e as mais bonitas têm exactamente os mesmos direitos que os mais feios e as mais feias. Os Misters, que ganham os concursos têm exactamente os mesmos direitos que os mais gordos, que são chamados também de fofinhos, para ninguém ficar ofendido.

Portanto, os direitos e liberdades são aqueles mesmos e nin-guém pode pensar que, por ter sido chamado a exercer uma determinada função pública, de repente fica mais importante ou mais sábio que os outros. Nós vemos essas experiências todos os dias: no serviço, nas escolas. Começamos já na escola. Aquele que é eleito delegado de turma fica já a pensar que é mais que todos os outros: eu sou o delegado sou mais esperto. E vamos subindo. No serviço, passa a Chefe de Departamento, todos os outros têm de o considerar mais inteligente, não pela função que ele tem, poque ele acha que a função está directamente associada a um aporte de inteligência e competência. Bom, não quero subir por aí, porque tem aqui muitos ministros e não quero arranjar problemas, tem aqui o Vice-Procurador Geral da República que detém a acção penal, está ali a minha moderadora, que é Procuradora Geral-Adjunta e eu não quero problemas. Portanto, vou continuar a falar só em delegados de turma, até porque não há aqui muitos estudantes, então ficamos por aqui.

Apenas para dizer que, de facto, o conjunto de direitos, o conjunto de liberdades e o conjunto de garantias são fundamentais e nós estamos num processo onde estamos a assistir a uma das maiores dificuldades jurídicas que nós temos, que é a mudança de todo o pacote legislativo para que se assegurem a defesa dos direitos, liberdades e garantias que estão plasmados na nossa Constituição. Nós temos uma carta de direitos fundamentais das mais bonitas, das mais avançadas que existem. Temos um

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conjunto de leis muito bonitas, mas que estão, na sua maior parte, completamente ultrapassadas.

Vou referir-me, rapidamente, a alguns deles, por exemplo: a nossa Constituição, a nossa vida evolui e ainda agora o Dr. Paulo Tjipilica referiu-se à necessidade, que eu sei que é um processo antigo, de tentar que haja uma actualização da legislação sobre a Provedoria de Justiça, a aguardar desde 2010, que eu, infelizmente, como jurista aguardo a aprovação do código penal há séculos e que cada vez que nós pensamos que vai ser aprovado, esbarra sempre por uma razão qualquer e agora esbarrou por causa do conceito de aborto. Então, se é assim tão difícil, tire-se esse artigo e faz-se uma lei sobre o aborto, mas pelo menos que se aprove um instrumento que é fundamental para a vida deste país.

Quer dizer, estamos reféns de uma discussão que não vou dizer se é importante ou não é. Nós estamos reféns e o país não consegue evoluir do ponto de vista de organização da sua actividade no combate à criminalidade moderna, porque a nossa lei que temos em vigor, o código penal é de 1886; não é 1986, é mesmo 1886, século XIX. Estamos em 2018 a discutir se alteramos ou não um código de 1886, por favor… quem tem de decidir que decida. Mas ficar a arrastar a discussão por tempo indeterminado, isto é crime. Isto é omissão inconstitucional (Comissão por omissão). Isso faz com que não haja possibilidade da preservação de direi-tos e liberdades fundamentais. Eu dou alguns exemplos muito simples: o código penal de 1886 não préve a criminalização de quem viola um jovem, uma criança, homem. Não está previsto, portanto, quem o seja, havendo essa violação, e infelizmente há todos os dias, a pessoa não é sancionada ou a Polícia e os órgãos de justiça têm de fazer uma ginástica de todo o tamanho para tentar fazer o enquadramento juridico para condenar uma pessoa que pratica um crime tão reles quanto este. E podemos continuar a falar de outros crimes que não são sancionados,

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porque a nossa lei está à espera que haja entendimento sobre um ou dois artigos do código penal.

Espero, Dr. Mota Liz, ter conseguido. O Dr. Mota Liz é o nosso colega que, antes mesmo de ser Vice-Procurador Geral da República, juntamente com o Dr. Aninceto Aragão, coordenam a Comissão da Reforma da Justiça para a área penal, então ele sabe o quanto tem sofrido com essa questão e o quanto é frus-trante estarmos esses anos todos a discutir, a discutir e a discutir, quando já estamos a pensar que a Assembleia vai aprovar surge mais uma questão que inviabiliza a aprovação.

Juntamente ao código penal nós temos o código de processo penal, que é uma lei essencial para a organização da nossa justiça, porque é através do código de processo penal que se vai concretizar o conjunto de garantias fundamentais que venham da Constituição. E algumas delas, como não temos o diploma aprovado, porque está a acompanhar o ritmo do código penal, então temos dificuldades da Polícia, do Ministério Público e dos Tribunais em como agir da melhor forma para a defesa das garantias dos cidadãos, nomedamente quem manda no processo penal, quem faz o interrogatório.

Ainda hoje estavamos a discutir se quem dirige o interrogatório é a polícia ou é o MP. A interpretação de uma norma constitucional que diz que o MP dirige a acção penal, então estamos não sei quantas vezes em discussão: mas dirigir a acção penal, quer dizer o quê? Quer dizer que ele é que vai fazer o interrogatório? Ele é que vai fazer as buscas? Então já não é preciso Polícia, já não é necessário o SIC?

Portanto, estimados participantes desta conferência, eu estou a aproveitar esta intervenção para em vez de estar a falar de questões teóricas sobre os direitos, liberdades e garantias, estou a aproveitar para falar das questões concretas que se

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colocam, que são necessárias resolver para nós concretizarmos o que está na nossa Constituição aprovada, atenção em 2010. Estamos em 2018, já se passaram 8 anos. Daqui a dois vamos comemorar os primeiros 10 anos da aprovação da Constituição e ainda estaremos a discutir se vamos aprovar o código penal, se vamos aprovar o código de processo penal, todos felizes porque nessas alturas aproveitamos para realçar os aspectos bonitos, e quando fazemos anos e se comemoram actividades é um bocado como quando as pessoas morrem, esquecemos dos seus defeitos e só há elogios.

Espero que daqui a dois anos, se as coisas não mudarem, haja coragem de dizer as coisas como têm de ser ditas. Assim como todo o conjunto de matérias que devem ser resolvidas.

A terminar a minha intervenção, destacando um aspecto que me parece essencial, também, que é o papel do Provedor de Justiça na defesa dos direitos, liberdades e garantias. Se nós temos de estruturar todo o nosso ordenamento jurídico para a concretização dos direitos, liberdades e garantias, nomeadamente o código penal, código de processo penal e a própria reorganização do aparelho dos tribunais, que estão muito desajustados da reali-dade, o investimento sério na formação dos nossos magistrados, a reorganização da Procuradoria-Geral da República para se adaptar às novas exigências, mas essa reestruturação da PGR depende muito da aprovação e do sentido que for dado ao código penal e ao respectivo código de processo e, naturalmente, que a Provedoria de Justiça tem um papel essencial em todo esse processo, porque, às vezes, nós não nos apercebemos bem e muita gente nos pergunta: mas Provedoria de Justiça para quê? Mas já não tem Polícia, já há Ministério Público, tem Juiz, vem o Provedor fazer o quê? Eu vou me queixar e depois o que vai acontecer?

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Mas efectivamente a Provedoria de Justiça, tal como já foi aqui realçado, tem um papel chave, através dessa pressão que o Provedor de Justiça faz, porque o papel da Provedoria não é para tratar de crimes; o papel da Provedoria é intermediar o Estado e os cidadãos. Esse é o grande papel. Se a constituição no século XVIII surgiu com o objectivo de limitar o poder do Estado e da Administração Pública, o Provedor de Justiça ajuda exactamente a resolver os vários problemas, porque todos nós sabemos os vários e inúmeros problemas que nós temos no dia-a-dia com a administração pública, sabemos que a activi-dades da nossa administração pública está muito aquém dos princípios fundamentais previstos na Constituição, que dizem que a administração deve ser transparente, deve ter uma acção que tem como objectivo servir o cidadão, todos aqueles princípios bonitos que estão na nossa Constituição, que nos esquecemos deles quando entramos numa repartição. As pessoas já estão maldispostas, às vezes para nos atenderem temos de esperar que acabem de ler o “whatsapp” no telefone, ou porque estão a responder a mensagem do “facebook” no computador do serviço. O nosso servidor público acha que esta a fazer um favor ao cidadão.

É a Provedoria de Justiça que tem esse papel de auscultar, pressionar e ajudar a resolver os vários e muitos problemas que existem de defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.

Portanto, eu penso que hoje em dia, quando falamos em direitos, liberdades e garantias dos cidadãos devemos pensar como assegurar, porque todos eles já estão constitucionalmente consagardos, já tivemos muito tempo para os aprender e agora teremos é que agir no sentido de os defender, aprovando as leis que têm de ser aprovadas e exercendo pondo os órgãos a funcionar.

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Senhor Provedor de Justiça, Senhora Provedora de Justiça-Ad-junta essa foi a minha intervenção. Não tão bonita quanto a do Dr Tjipilica, que tem sempre uma forma brilhante de falar, mas sempre tentei umas brincadeiras para tentar igualar.

Muito obrigado.

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DISCURSO DE ENCERRAMENTO, PROFERIDO POR SUA EXCELÊNCIA O

PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA NACIONAL DR. FERNANDO DA PIEDADE DIAS DOS

SANTOS

Dr. Fernando da Piedade Dias dos Santos,

Presidente da Assembleia Nacional,

aquando do encerramento do Ciclo de Palestras

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Estimados Convidados,

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Permitam-me, antes de mais, saudar todos os presentes e afirmar que foi com imenso prazer que aceitei o convite para proceder ao encerramento desta cerimónia, em alusão ao dia do Provedor de Justiça, que abordou questões pertinentes relacionadas com a sua institucionalização e a promoção dos Direitos, das Liberdades e das Garantias fundamentais do cidadão.

Seguidamente, quero felicitar o senhor Provedor de Justiça, que, tendo iniciado o seu mandato recentemente, teve a nobre iniciativa de instaurar o Dia do Provedor de Justiça e a Semana da Provedoria de Justiça, actos que não só dignificam ainda mais esta instituição, como podem contribuir para uma melhor divulgação, junto do cidadão, do papel desempenhado por esta entidade.

Senhor Provedor de Justiça,

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

O Provedor de Justiça, enquanto “Magistrado do Povo”, no nosso país, remonta à década dos anos 90. Na sua génese, se afirmava como um órgão independente e imparcial que concorre para a promoção da defesa dos direitos, liberdades, garantias e interesses legítimos dos cidadãos.

Entrentanto, a Constituição da República de Angola de 2010 consagrou e ampliou o leque de direitos, liberdades, garantias e interesses dos cidadãos, e conferiu ao Provedor de Justiça a responsabilidade principal de promotor e defensor desses direitos e interesses legítimos dos cidadãos.

O Provedor de Justiça é, neste sentido, a voz firme de quem não tem voz. A voz do cidadão e o garante da justiça e da legalidade

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na actividade da administração pública, através de meios infor-mais. A falta do poder decisório não reduz a importância da sua intervenção.

O trabalho do Provedor de Justiça é bastante complexo. Dele se exige perspicácia, imparcialidade e isenção, para prevenir ilegalidades e resolver as queixas e as reclamações dos cidadãos.

Contudo, o seu sucesso depende sobremaneira do desempenho de cada um de nós, enquanto servidores públicos e responsáveis políticos, porque temos o dever de facilitar o trabalho do Provedor de Justiça na busca de justiça para o cidadão.

Enquanto servidores do Estado, no exercício das nossas funções devemos ter sempre em foco a salvaguarda dos superiores interesses do cidadão, garantindo-lhe a segurança, a protecção, a justiça e a dignidade que ele merece e que estão consagrados na lei.

As nossas acções e decisões devem sempre concorrer para o bem-estar do cidadão, de modo a garantir-lhes maior confiança nas instituições da administração do Estado.

Acredito que o trabalho do Provedor de Justiça, em Angola, não tem sido fácil, porque ele confronta-se com enormes desafios na busca de justiça para os cidadãos e na promoção dos direitos fundamentais do homem, pelo défice de mecanismos de que dispõe para uma actuação célere com vista à solução das queixas e reclamações dos cidadãos, muitas vezes resultantes de medidas e acções deliberadas ou por negligência por parte de quem as decide ou as aplica. Condutas essas que devem ser corrigidas.

Encorajo, deste modo, o nosso Provedor de Justiça a continuar a trabalhar com firmeza e sentido patriótico, com o objectivo de fortalecer a sua interacção com os cidadãos e a garantir a justiça e a legitimidade na actividade pública. Para o efeito, recomen-da-se, também, uma maior divulgação do papel do Provedor

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de Justiça, junto dos cidadãos, e uma profunda sensibilização das instituições da administração do Estado, com vista à maior cooperação.

Estou convicto de que o dia que hoje se comemora, e que nos reuniu neste ciclo de palestras, serviu para uma maior reflexão em torno do tema “o cidadão a nossa preocupação, o cidadão a nossa preocupação, mais direito, mais cidadania, mais cidadania, mais direito”. E que as diferentes intervenções aqui apresentadas contribuam para nos ajudar a encontrar os caminhos para o engrandecimento desta instituição.

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Antes de terminar gostaria de renovar o sentimento de gratidão pelo convite e também de fazer justiça, felicitando os palestrantes pelas lições de sapiência que tanto contribuem para a plena afirmação do Provedor de Justiça como autoridade administrativa independente.

Com estas palavras declaro encerrada esta cerimónia.

Muito obrigado pela vossa atenção.

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COMUNICADO FINAL

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COMUNICADO FINAL

No âmbito da celebração da semana do Provedor de Justiça, instituída através do Despacho n.º 92/18 de 06 de Março, do Provedor de Justiça, publicado na Iª Série do Diário da República n.º 45, de 9 de Abril de 2018, comemora-se hoje, 19 de Abril de 2018, o dia do Provedor de Justiça da República de Angola, subordinado ao tema central:

“O cidadão, a nossa ocupação o cidadão, a nossa preocupação

mais direito, mais cidadania mais cidadania, mais direito”.

Neste contexto, teve lugar, neste dia, na sede da Provedoria de Justiça, um ciclo de palestras.

No início do referido certame, a mesa foi presidida por Sua Excelência o Senhor Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República, Dr. Frederico Manuel dos Santos e Silva Cardoso, em representação de Sua Excelência o Presidente da República, que esteve ladeado pelo Venerando Juiz Conse-lheiro Presidente do Tribunal Constitucional, Dr. Manuel Miguel da Costa Aragão, por Sua Excelência o Provedor de Justiça, Dr. Carlos Alberto Ferreira Pinto, pelo Governador da Província de Luanda, Dr. Adriano Mendes de Carvalho e pela Provedora de Justiça-Adjunta, Dra. Florbela Rocha Araújo.

Estiveram, ainda, presentes o primeiro Provedor de Justiça da República de Angola, Dr. Paulo Tjipilica, a primeira Provedora de Justiça-Adjunta Dra. Maria da Conceição Almeida Sango, o Representante das Nações Unidas em Angola, Dr. Pier Paolo Baladelli, Secretários do Presidente da República, Ministros, Secretários de Estado, Magistrados Judiciais e do Ministério Público, Entidades Religiosas, Magníficos Reitores, Decanos de

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Faculdades, Directores, Funcionários e Agentes da Provedoria de Justiça e estudantes do 4.º e 5.º Anos do Curso de Direito.

Durante o seu discurso de boas-vindas, Sua Excelência o Prove-dor de Justiça começou por realçar a importância da instituição Provedor de Justiça na defesa dos direitos, das liberdades e das garantias do cidadão, bem como a relevância da concretização da Provedoria de Justiça, que ocorreram por eleição do primeiro Provedor de Justiça da República de Angola, aos 19 de Abril de 2005 e pela entrada em vigor da Lei n.º 4/06 (Lei do Estatuto do Provedor de Justiça) e da Lei n.º 5/06 (Lei Orgânica do Provedor de Justiça), ambas de 28 de Abril.

Salientou, ainda, que, em Angola, a institucionalização desta instituição pública e independente foi criada para receber as queixas dos cidadãos, as quais são tratadas através de meios informais, assegurando a justiça e a legalidade da Administração Pública.

Aproveitou a oportunidade para manifestar os constrangimentos decorrentes da não revisão, ainda, dos diplomas (a Lei n.º 4/06 e a Lei n.º 5/06, ambas de 28 de Abril) reitores da instituição, de modo a conformá-los à Constituição da República de Angola, o que tem proporcionado o êxodo dos melhores técnicos neces-sários à instituição.

Apelou, também, no âmbito do dever legal de cooperação, a todas as entidades visadas ou que venham a ser visadas, que devem prestar todos os esclarecimentos e as informações que lhes sejam solicitados pelo Provedor de Justiça, pois, apesar do dever de cooperação emanar da lei, o não cumprimento desse dever por parte das entidades visadas tem criado vários constrangimentos.

Em seguida, foi proferido o discurso de abertura por Sua Excelên-cia o Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da

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República, Dr. Frederico Manuel dos Santos e Silva Cardoso, em representação de Sua Excelência o Presidente da República, que enfatizou a importância da instituição Provedor de Justiça como um dos canais de auscultação da voz do povo, um “assessor” jurídico de confiança para os cidadãos na reclamação dos seus direitos fundamentais, um canal de denúncia de acções ilegais e um dos mecanismos constitucionais de protecção dos direitos.

Sublinhou, em continuidade, que é esperado, do Provedor de Justiça, o exercício, a todo o momento, do seu papel de magis-tratura de persuasão.

O evento ficou estruturado em duas grandes palestras. A primeira, subordinada ao tema “A Institucionalização do Provedor de Justiça no Ordenamento Jurídico Angolano e a sua Importância”, que teve como palestrante o Dr. Paulo Tjipilica, primeiro Provedor de Justiça da República de Angola e, actualmente, Consultor do Presidente da República e como moderador o Dr. Cremildo Paca, Professor Universitário.

Na sua explanação fez uma incursão histórica sobre o processo de institucionalização e eleição do primeiro Provedor de Justiça, destacando as diligências junto das instituições congéneres, no âmbito do direito comparado, tendo concluído com o célebre pensamento de Winston Churchill “O segredo do êxito reside no facto de ir de insucesso a insucesso sem nunca perder o ânimo”.

A segunda palestra, subordinada ao tema “Direitos Fundamen-tais na Vertente dos Direitos, das Liberdades e das Garantias Fundamentais do Cidadão” foi apresentada pelo Venerando Juiz Conselheiro do Tribunal Constitucional, Dr. Raúl Araújo e moderada pela Drª Margarida Gonçalves, Procuradora Geral -Adjunta da República.

Na sua intervenção o prelector salientou o desenvolvimento e a sistematização dos direitos fundamentais na Constituição da

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República de Angola, afirmando que só é possível falar sobre os direitos fundamentais num estado democrático e de direito, pois toda a acção do Estado deve ter presente que o mais importante é a defesa do cidadão e o respeito pela defesa da dignidade da pessoa humana, princípio estruturante da Constituição angolana.

Relativamente à necessidade de revisão dos diplomas da Pro-vedoria de Justiça, salientou que a sua não aprovação constitui uma barreira para uma melhor defesa dos direitos, das liberdades e garantias dos cidadãos.

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CONCLUSÕES E SUGESTÕES

Assim, após a apresentação dos temas e discussão dos mesmos, podemos concluir que o Provedor de Justiça é:

1. Um dos canais de auscultação da voz do povo;

2. Um assessor jurídico de confiança para os cidadãos na reclamação dos seus direitos fundamentais;

3. Um canal de denúncia de acções ilegais;

4. Um dos mecanismos constitucionais de protecção dos direitos fundamentais;

5. Um observador de processos, incluindo os judiciais.

O Provedor de Justiça desempenha um importante papel, nomeadamente:

1. De auditoria social, ética e deontologia da sociedade, num momento em que se impõe ouvir muito, fazer mais e dialogar melhor;

2. De magistratura de persuasão, devido à credibilidade que deve conquistar e preservar;

3. De exercer com plenitude a sua capacidade de convocação e de divulgação, num ambiente em que o respeito e a tolerância prevaleçam sempre, como estandarte.

Finalmente, a peculiaridade do Provedor de Justiça consiste no facto de poder recomendar correcções administrativas sem, contudo, as executar;

Poder ajudar a compor litígios judiciais, sem, contudo, sentenciar;

Poder sugerir a feitura de boas leis sem, contudo, legislar.

Há necessidade de revisão dos diplomas reitores da Provedoria de Justiça, porque a sua não aprovação constitui uma barreira

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para uma melhor defesa dos direitos, das liberdades e das garantias dos cidadãos.

O evento foi encerrado por Sua Excelência o Presidente da Assembleia Nacional, Dr. Fernando da Piedade Dias dos Santos, Presidente da Assembleia Nacional, que, no seu discurso, salientou o papel e a importância da instituição Provedor de Justiça, tendo encorajado o actual Provedor a desempenhar com zelo as suas funções na defesa dos direitos, das liberdades e das garantias dos cidadãos, com base na legislação em vigor.

Luanda, aos 19 de Abril de 2018.

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ANEXOS

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Portal do Provedor de Justiça,

WWW.provedordejustica.ao

E-mail: [email protected]

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Endereço da Provedoria de JustiçaRua 17 de Setembro e Pinheiro Furtado, Cidade Alta

Luanda - Angola

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Edifício-Sede da Provedoria de Justiça

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O edifício-sede da Provedoria de Justiça foi inaugurado no dia 12 de Dezembro de 2012.

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A Revista da Provedoria de Justiça

TEM UM COMPROMISSO IRREVOGÁVEL COM OS DIREITOS HUMANOS Pág. 5

Nº 1_ Outubro, Novembro e Dezembro de 2013 Coordenador: Manuel da Costa Propriedade: Provedoria de Justiça >> >> >>

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TEM UM COMPROMISSO IRREVOGÁVEL COM OS DIREITOS HUMANOS

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PÓRTICO PARA 2014

PROVEDOR DE JUSTIÇA REÚNE NAS NAÇÕES UNIDASPág. 26

O cidadão, a nossa preocupação;O cidadão, a nossa ocupação;Mais direito, mais cidadania;Mais cidadania, mais direito.

A Revista de informação geral foi lançada no dia 4 de Setembro de 2013.

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LEGISLAÇÃO RELEVANTE

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Lei n.º 4/06 de 28 de Abril

Assembleia Nacional

A Lei n.º 23/92, de 16 de Setembro - Lei de Revisão Constitu-cional, consagra no seu artigo 9.º o princípio segundo o qual “enquanto não for designado o Provedor de Justiça, as funções que lhe são acometidas pela Lei Constitucional serão exercidas pelo Procurador Geral da República”.

Considerando estarem reunidas as condições para instituciona-lizar e prover o cargo do Provedor de Justiça, órgão importante na consolidação do Estado democrático e de direito, mormente no que respeita à defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos;

Nestes termos, ao abrigo da alínea b) do artigo 88.º e da alínea c) do artigo 89.º ambos da Lei Constitucional, a Assembleia Nacional aprova a seguinte:

LEI DO ESTATUTO DO PROVEDOR DE JUSTIÇA

CAPÍTULO I

DISPOSIÇÕES GERAIS

Artigo 1.º (Definição e Funções)

O Provedor de Justiça é um órgão público independente que tem por objecto a defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, assegurando, através de meios informais, a justiça e a legalidade da administração pública.

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Artigo 2.º

(Âmbito de Actuação)

As acções do Provedor de Justiça exercem-se nomeadamente, no âmbito dos serviços da administração pública, central e local, dos institutos públicos, empresas públicas ou de capitais maio-ritariamente públicos, concessionárias de serviços públicos ou de exploração de bens de domínio público.

Artigo 3.º

(Iniciativa e Direito de Queixa)1. O Provedor de Justiça exerce as suas funções com base em

queixas apresentadas pelos cidadãos, individual ou colecti-vamente, por acções ou omissões dos órgãos e agentes da administração pública, que afectem de algum modo os seus direitos, liberdades, garantias ou interesses legítimos, não dependendo tais queixas de qualquer prazo.

2. Constituem excepção os casos de flagrante violação dos direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos, podendo nestes casos, a acção do Provedor ser exercida por iniciativa própria, independente dos meios graciosos ou contenciosos previstos na constituição e nas leis, recomen-dando no sentido de ser reposta a legalidade e ressarcidos eventuais prejuízos ou danos.

Artigo 4.º

(Natureza da Actividade)

Compete ao Provedor de Justiça emitir recomendações aos órgãos ou serviços que estejam no âmbito da sua actividade, sem poderes decisórios.

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CAPÍTULO II

ESTATUTO

Artigo 5.º(Designação e Posse)

1. O Provedor de Justiça é designado pela Assembleia Nacional por maioria de 2/3 dos Deputados em efectividade de funções e toma posse perante o Presidente da Assembleia Nacional.

2. Deve ser designado cidadão angolano que preencha os requisitos de elegibilidade para a Assembleia Nacional e goze de comprovada reputação, integridade, independência e esteja no pleno gozo dos seus direitos civis e políticos.

3. No acto de posse o Provedor de Justiça presta o seguinte juramento: «Juro por minha honra desempenhar fielmente o cargo de Provedor de Justiça em que fico investido, pro-movendo e defendendo os direitos, liberdades, garantias e interesses legítimos dos cidadãos, no estrito respeito pela Constituição e pelas demais leis da República».

Artigo 6.º

(Duração do Mandato)1. O Provedor de Justiça é eleito por quatro anos, sendo reelegível

apenas uma vez, por igual período.

2. Após o termo do período por que foi designado, o Provedor de Justiça mantém-se em exercício de funções até à posse do seu sucessor.

3. A designação do Provedor deve ocorrer 30 dias antes do termo do mandato do seu antecessor e deve tomar posse na 1.ª sessão plenária realizada após a sua eleição.

4. Verificando-se a dissolução da Assembleia Nacional ou se não estiver em funções, a eleição tem lugar dentro de 30 dias contados da 1.ª reunião da Assembleia Nacional eleita ou a partir do início da nova sessão.

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Artigo 7.º

(Cessação de funções)1. Antes do termo do seu mandato, as funções de Provedor de

Justiça só podem cessar:

a)- por morte ou incapacidade física ou psíquica permanente;

b)- por perda dos requisitos de elegibilidade;

c)- por incompatibilidade superveniente;

d)- por renúncia;

e)- por motivo de condenação judicial por crime doloso punível com pena de prisão maior superior a dois anos;

f)- por acções ou omissões praticadas com negligência grave no cumprimento das suas funções.

2. Os factos determinantes da cessação de funções, previstos nas alíneas a), b), c) e d) do n.º 1, são verificados pela Assembleia Nacional, nos termos do seu regimento.

3. A declaração de renúncia, prevista na alínea d) do n.º 1, é apresentada ao Presidente da Assembleia Nacional e torna-se efectiva a partir da data da publicação no Diário da República, da resolução da Assembleia Nacional.

4. O Provedor de Justiça não está sujeito às disposições legais em vigor sobre a aposentação e reforma por limite de idade.

Artigo 8.º

(Independência e Inamovibilidade)

O Provedor de Justiça é independente e inamovível, não podendo as suas funções cessarem antes do termo do mandato para que foi eleito, salvo nos casos previstos na presente lei.

Artigo 9.º

(Vacatura)

Em caso de vacatura do cargo de Provedor de Justiça antes do termo do seu mandato, por qualquer circunstância prevista no

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n.º 1 dos artigos 7.º e 9.º da presente lei, a Assembleia Nacional designa um Provedor de Justiça interino.

Artigo 10.º

(Imunidades)1. O Provedor de Justiça não pode ser perseguido, investigado,

preso, detido, nem responde civil ou criminalmente pelas recomendações, reparos ou opiniões que emita ou pelos actos que pratique no exercício das suas funções, no âmbito da estrita legalidade.

2. O Provedor de Justiça só pode ser preso depois de culpa formada e após suspensão do exercício do cargo pela Assembleia Nacional, excepto em flagrante delito por crime doloso punível com pena de prisão maior.

3. Movido procedimento criminal contra o Provedor de Justiça e havendo culpa formada, a Assembleia Nacional delibera sobre se o Provedor de Justiça deve ou não ser suspenso para efeitos de prosseguimento do processo, ressalvada a excepção do número que antecede.

Artigo 11.º

(Honras Direitos e Garantias)

O Provedor de Justiça goza do estatuto, direitos, remunerações e regalias idênticas às concedidas aos Ministros.

Artigo 12.º

(Incompatibilidades)1. O Provedor de Justiça está sujeito às incompatibilidades que

decorrem do estatuto que lhe está consignado no artigo anterior.

2. Ao Provedor de Justiça é vedado o exercício de quaisquer funções em órgãos de partidos ou associações políticas e o desenvolvimento de actividades partidárias de carácter público.

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Artigo 13.º

(Dever de Sigilo)1. O Provedor de Justiça é obrigado a guardar sigilo relativamente

aos factos de que tome conhecimento no exercício das suas funções, de acordo com a natureza dos factos.

2. O mero dever de sigilo, que não provenha do reconhecimento ou protecção da constituição ou da lei, de quaisquer cidadãos ou entidades, cede perante o dever de cooperação com o Provedor de Justiça no âmbito da competência deste.

Artigo 14.º

(Garantias de Trabalho e Estabilidade no Emprego)1. O Provedor de Justiça não pode ser prejudicado na estabilidade

do seu emprego, na sua colocação e carreira e no regime de segurança social de que seja beneficiário.

2. O tempo de serviço prestado como Provedor de Justiça conta, para todos os efeitos, como prestado nas funções e no lugar de origem, bem como para efeitos de aposentação.

Artigo 15.º

(Identificação e Livre Trânsito)1. O Provedor de Justiça tem direito a um cartão especial de

identificação emitido pela Secretaria da Assembleia Nacional e assinado pelo Presidente.

2. O cartão é simultaneamente de livre trânsito e de acesso a todos os locais de funcionamento da administração central, local e institucional, serviços civis e militares, polícia, empresas públicas e de capitais maioritariamente públicos.

Artigo 16.º

(Gabinete do Provedor de Justiça)

À organização, funcionamento e composição dos gabinetes do Provedor de Justiça e do Provedor de Justiça-Adjunto aplica-se

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o estipulado nos Decretos n.º 26/96, de 4 de Abril e n.º 68/02, de 29 de Outubro, sobre a composição e o regime jurídico dos gabinetes dos membros do Governo.

Artigo 17.º

(Provedor de Justiça-Adjunto)1. No exercício das suas funções, o Provedor de Justiça é

coadjuvado por um Provedor de Justiça-Adjunto, eleito pela Assembleia Nacional por maioria absoluta dos deputados em efectividade de funções e toma posse perante o Presidente da Assembleia Nacional.

2. O Provedor de Justiça-Adjunto tem os direitos, remunerações e regalias idênticas às de Vice-Ministros.

3. O Provedor de Justiça pode delegar no Provedor de Justi-ça-Adjunto os poderes constantes dos artigos 20.º, 21,º, 26.º, 31.º, 38.º e 46.º.

4. Ao Provedor de Justiça-Adjunto aplica-se o estipulado nos artigos 12.º, 13.º e 14.º da presente.

CAPÍTULO III

ATRIBUIÇÕES

Artigo 18.º

(Competências)

Ao Provedor de Justiça compete:a)- emitir recomendações para os órgãos competentes com

vista à correcção de actos ilegais dos órgãos e agentes da administração pública ou melhoria dos respectivos serviços;

b)- emitir parecer por solicitação da Assembleia Nacional sobre quaisquer matérias relacionadas com a sua actividade;

c)- promover a divulgação do conteúdo de cada um dos direitos e liberdades fundamentais, bem como da finalidade

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da instituição do Provedor de Justiça, dos meios de acção de que dispõe e de como a ele se pode fazer apelo;

d)- intervir, nos termos da lei aplicável, na tutela dos interesses colectivos ou difusos, quando estiverem em causa, órgãos ou agentes da administração pública;

e)- visitar e apreciar as condições humanas de internamento dos reclusos, devendo, sempre que constar situações desumanas que periguem a vida destes, recomendar ao órgão visitado a supressão imediata das referidas condições e informar do facto o órgão superior de tutela;

f)- instruir processos de mera averiguação das queixas de cidadãos por actos praticados pelos agentes da admi-nistração pública;

g)- acompanhar o cumprimento das recomendações emitidas.

Artigo 19.º

(Poderes)

1. No exercício das suas funções, o Provedor de Justiça deve procurar, em colaboração com os órgãos e serviços competentes, as soluções mais adequadas à tutela dos interesses legítimos dos cidadãos e ao aperfeiçoamento da acção administrativa.

2. A avaliação e actuação do Provedor de Justiça é limitada pela utilização de meios graciosos.

Artigo 20.º

(Limites de Intervenção)

O Provedor de Justiça não tem competência para anular, revogar ou modificar os actos dos poderes públicos e a sua intervenção não suspende os prazos dos recursos, quer hierárquico, quer contencioso.

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Artigo 21.º

(Relatório e Colaboração com a Assembleia Nacional)1. O Provedor de Justiça envia semestralmente à Assembleia

Nacional um relatório da sua actividade que deve conter as iniciativas tomadas, as queixas recebidas, as diligências efectuadas e os resultados obtidos, sem prejuízo do relatório anual que deve incluir a prestação de contas.

2. A fim de tratar de assuntos da sua competência, o Provedor de Justiça pode tomar parte nos trabalhos das Comissões de Trabalho Permanentes da Assembleia Nacional sempre que estas solicitem a sua presença.

CAPÍTULO IV

PROCEDIMENTO

Artigo 22.º

(Apresentação de Queixas)1. As queixas podem ser apresentadas oralmente, por escrito, por

via telefónica ou electrónica e devem conter a identidade e morada do queixoso e, sempre que possível, a sua assinatura.

2. Quando apresentadas oralmente, são reduzidas a auto, que o queixoso assina sempre que saiba e possa fazê-lo; carecendo, todavia, de análise, investigação e confirmação, as queixas e denúncias formuladas telefonicamente.

3. As queixas podem ser apresentadas em linguagem própria e adequada e não devem conter termos ofensivos ao bom-nome e honra das pessoas ou instituições em causa. Quando a queixa não for apresentada em termos próprios e adequados, deve ser ordenada a sua correcção no prazo máximo de 30 dias.

4. As queixas apresentadas ao Provedor de Justiça, dispensam a constituição de advogado, estão isentas de custas e selos,

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desde que contenham a identidade e a morada do queixoso e, sempre que possível, a sua assinatura.

Artigo 23.º

(Apreciação Prévia das Queixas)

As queixas são objecto de uma apreciação preliminar tendente a avaliar a sua admissibilidade, oportunidade e razoabilidade.

Artigo 24.º

(Recusa da Queixa)

O Provedor de Justiça recusa as queixas anónimas, apresentadas de má-fé, as desprovidas de fundamento, que não sejam da sua competência, cuja ilegalidade já tenha sido reparada ou de cuja tramitação resultem prejuízos dos legítimos direitos de terceiros.

Artigo 25.º

(Instrução)1. A instrução de processos consiste em pedidos de informação

ou qualquer outro procedimento razoável que não colida com os direitos fundamentais dos cidadãos e é efectuada por meios informais à prossecução das petições às regras que lhes sejam enviadas.

2. As diligências são efectuadas pelo Provedor de Justiça e seus colaboradores, podendo também a sua execução ser solicitada directamente aos agentes do Ministério Público ou quaisquer outras entidades públicas com prioridade e urgência, quando for caso disso.

Artigo 26.º

(Dever de Cooperação)1. Os órgãos e agentes das entidades públicas, civis e militares

têm o dever de prestar todas os esclarecimentos e informações que lhes sejam solicitados pelo Provedor de Justiça.

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2. As entidades públicas, civis e militares prestam ao Provedor de Justiça toda a colaboração que por este lhes for solici-tada, designadamente informações, efectuando inspecções através dos serviços competentes e facultando documentos e processos para exame, remetendo-os ao Provedor, se tal lhes for pedido.

3. O disposto no número anterior não prejudica as restrições legais respeitantes ao segredo de justiça nem a invocação de in cresse superior do Estado, nos casos devidamente justifi-cados pelos órgãos competentes, em questões respeitantes à segurança, à defesa ou às relações internacionais.

4. O Provedor de Justiça pode fixar por escrito um prazo, não inferior a 30 dias na Província de Luanda e 45 dias nas restantes províncias, para satisfação de pedido que formule com nota de urgência.

Artigo 27.º

(Depoimentos)1. O Provedor de Justiça pode solicitar a qualquer cidadão

depoimentos ou informações sempre que os julgar necessários para apuramento de factos.

2. Considera-se justificada a falta ao serviço determinada pelo dever de comparência à Provedoria de Justiça em caso de notificação para depoimento.

3. Em caso de recusa de depoimento ou falta de comparência no dia e hora designados, o Provedor de Justiça pode noti-ficar, por ofício dirigido ao superior hierárquico, tratando-se de funcionário público, as pessoas que devem ser ouvidas, constituindo crime de desobediência a falta injustificada de comparência ou a recusa de depoimento.

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Artigo 28.º

(Arquivamento)1. São mandadas arquivar as queixas:

a)- quando não sejam da competência do Provedor de Justiça;

b)- quando o Provedor de Justiça conclua que a queixa não tem fundamento ou que não existem elementos bastantes para ser adoptado qualquer procedimento;

c)- quando a ilegalidade ou injustiça invocadas já tenham sido reparadas.

2. O interessado deve ser sempre informado da decisão de arquivamento do pedido.

Artigo 29.º

(Encaminhamento)1. Quando o Provedor de Justiça reconheça que o queixoso

tem ao seu alcance um meio gracioso ou contencioso, especialmente previsto na lei, pode limitar-se a encaminhá-lo para a entidade competente e acompanhar o seu desfecho.

2. Independentemente do disposto no número anterior, o Provedor deve informar sempre o queixoso dos meios contenciosos que estejam ao seu alcance.

Artigo 30.º

(Gratuitidade das Comunicações e Correspondência)1. É isenta de selos e demais taxas toda a correspondência

referente à actividade do Provedor de Justiça, por dizer respeito a um serviço de carácter eminentemente público e à defesa e magistratura do cidadão.

2. O Provedor de Justiça deve dispor igualmente de linha telefónica para as reclamações dos cidadãos, os recados da criança, apelos do idoso, dos portadores de deficiência e dos reclusos, nos termos a acordar com os serviços competentes.

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Artigo 31.º

(Sigilo das Comunicações)

1. A correspondência dirigida ao Provedor de Justiça remetida de um estabelecimento prisional, centro de detenção, internamento ou custódia de pessoas, não pode ser objecto de qualquer tipo de censura.

2. Não podem ser objecto de escuta ou interferência as conver-sações referidas no n.º 2 do artigo 30.º da presente lei.

Artigo 32.º

(Casos de Pouca Gravidade)

Nos casos de pouca gravidade, sem carácter continuado, o Pro-vedor de Justiça pode limitar-se a uma chamada de atenção ao órgão ou serviço competente ou dar por encerrado o assunto com os esclarecimentos fornecidos.

Artigo 33.º

(Audição Prévia)

O Provedor de Justiça deve sempre ouvir os órgãos ou agentes postos em causa, permitindo-lhes que prestem todos os escla-recimentos necessários antes de extrair quaisquer conclusões.

Artigo 34.º

(Participação de Infracções e Publicidade)

Ocorrendo na tramitação do processo indícios suficientes da prática de infracções criminais ou disciplinares, o Provedor de Justiça deve dar do facto conhecimento, conforme os casos, ao Ministério Público ou à entidade hierarquicamente competente para instauração do competente processo disciplinar ou criminal.

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Artigo 35.º

(Irrecorribilidade dos actos do Provedor)

Os actos do Provedor de Justiça não são passíveis de recurso hierárquico, mas podem ser passíveis de recurso contencioso, nos termos do artigo 43.º da Lei Constitucional e da Lei n.º 2/94, de 14 de Janeiro - Lei da Impugnação dos Actos Administrativos.

Artigo 36.º

(Recomendações)1. As recomendações do Provedor de Justiça são dirigidas ao

órgão competente para corrigir o acto ou a situação irregular.

2. O órgão destinatário da recomendação deve, no prazo de 45 dias, na Província de Luanda, 60 dias nas restantes províncias, a contar da sua recepção, comunicar ao Provedor de Justiça a posição tomada sobre a recomendação.

3. O não acatamento da recomendação tem sempre de ser fundamentada.

4. Se as recomendações não forem atendidas, e sempre que o Provedor de Justiça não obtiver a colaboração devida, pode dirigir-se ao superior hierárquico competente.

5. As conclusões do Provedor de Justiça são sempre comuni-cadas aos órgãos ou agente visados e, precedendo queixa do cidadão, aos queixosos.

CAPÍTULO V

PROVEDORIA DE JUSTIÇA

Artigo 37.º

(Autonomia, Instalação e Fins)1. A Provedoria de Justiça tem por função prestar apoio técnico

e administrativo necessários ao desempenho do Provedor de Justiça, de acordo com as atribuições, competências e funções a definir na própria lei orgânica.

Page 111: FICHA TÉCNICA - Provedor de Justiça de Angola

2. A Provedoria de Justiça é dotada de autonomia administrativa e financeira.

3. A Provedoria de Justiça funciona em instalações próprias.

Artigo 38.º

(Pessoal)

A Provedoria de Justiça dispõe de um quadro de pessoal próprio, nos termos da respectiva lei orgânica.

Artigo 39.º

(Competência Administrativa e Disciplinar)

Compete ao Provedor de Justiça praticar todos os actos relativos ao provimento e à situação funcional do pessoal da Provedoria de Justiça e exercer sobre ele o poder disciplinar.

Artigo 40.º

(Orçamento do Serviço)

A Provedoria de Justiça tem um orçamento anual, autónomo, elaborado nos termos da respectiva lei orgânica e no âmbito que deve constar de verba a inscrever no Orçamento da Assembleia Nacional, a gerir directamente, por um Conselho Administrativo, sem prejuízo do estipulado legalmente quanto à fiscalização do Tribunal de Contas.

Artigo 41.º

(Disposições Finais e Transitórios)

As dúvidas e omissões que se suscitarem da aplicação e inter-pretação da presente lei são resolvidas pela Assembleia Nacional.

Artigo 42.º

(Entrada em Vigor)

A presente lei entra em vigor na data da sua publicação.

Page 112: FICHA TÉCNICA - Provedor de Justiça de Angola

Vista e aprovada pela Assembleia Nacional, em Luanda, aos 3

de Fevereiro de 2006.

Publique-se.

O Presidente da Assembleia Nacional, Roberto António Victor

Francisco de Almeida.

Promulgada em 10 de Abril de 2006.

O Presidente da República, JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS.

Page 113: FICHA TÉCNICA - Provedor de Justiça de Angola

Lei n.º 5/06 de 28 de Abril

Assembleia Nacional

COM AS ALTERAÇÕES QUE LHE FORAM INTRODUZIDAS PELA RECTIFICAÇÃO DR 61/07 DE 21 DE MAIO

A Lei n.º 23/92, de 16 de Setembro - Lei de Revisão Constitucional, consagra no seu artigo 9.º o princípio segundo o qual “enquanto não for designado o Provedor de Justiça, as funções que lhe são acometidas pela Lei Constitucional serão exercidas pelo Procurador-Geral da República”.

Considerando estarem reunidas as condições para institucionalizar e prover o cargo do Provedor de Justiça, órgão importante na consolidação do Estado democrático e de direito, mormente no que respeita à defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.

Nestes termos, ao abrigo da alínea b) do artigo 88.º e da alínea c) do artigo 89.º ambos da Lei Constitucional, a Assembleia Nacional aprova a seguinte:

LEI ORGÂNICA DA PROVEDORIA DE JUSTIÇA

CAPÍTULO I

NATUREZA E ATRIBUIÇÕES

Artigo 1.º

(Noções e Finalidade)A Provedoria de Justiça é uma instituição de direito público, que tem por objectivo prestar apoio técnico e administrativo necessários à realização das atribuições e tarefas do Provedor de Justiça, constantes do respectivo estatuto.

Page 114: FICHA TÉCNICA - Provedor de Justiça de Angola

Artigo 2.º

(Natureza da Instituição)1. A Provedoria de Justiça é dotada de autonomia administrativa

e financeira.

2. A gestão financeira da Provedoria de Justiça é assegurada pelos serviços da Secretaria-Geral.

Artigo 3.º

(Provedor de Justiça-Adjunto)1. O Provedor de Justiça-Adjunto é eleito pela Assembleia

Nacional por maioria absoluta dos seus membros em efec-tividade de funções e toma posse perante o Presidente da Assembleia Nacional.

2. Compete ao Provedor de Justiça-Adjunto:

a)- coadjuvar o Provedor de Justiça nas suas tarefas;

b)- substituir o Provedor de Justiça nas suas ausências e impedimentos;

c)- desenvolver as demais tarefas que lhe são incumbidas pelo Provedor de Justiça.

CAPÍTULO II

ESTRUTURA ORGÂNICA

Artigo 4.º

(Órgãos)A Provedoria de Justiça compreende os seguintes órgãos:

a) Provedor de Justiça;

b) Conselho da Provedoria.

Artigo 5.º

(Serviços)1. A Provedoria de Justiça compreende os seguintes serviços:

a)- Secretaria-Geral;

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b)- Direcção dos Serviços Técnicos.

Artigo 6.º

(Provedor de Justiça)1. As competências do Provedor de Justiça são as que constam

da lei que aprova o seu estatuto.

2. A organização, funcionamento e composição dos gabinetes do Provedor de Justiça e do Provedor de Justiça-Adjunto regem-se nos termos do estabelecido nos Decretos n.º 26/97, de 4 de Abril e n.º 68/02, de 29 de Outubro, sobre a composição e o regime jurídico do pessoal dos gabinetes dos membros do Governo.

Artigo 7.º

(Conselho da Provedoria)O Conselho da Provedoria é o órgão de programação, acom-panhamento e controlo das actividades da Provedoria, a quem compete:

a)- dar parecer sobre o plano de trabalho anual da Provedoria, bem como da proposta de orçamento;

b)- analisar o relatório anual e as contas de exercício;

c)- aprovar os regulamentos necessários ao bom funciona-mento da Provedoria;

d)- pronunciar-se sobre os demais assuntos que lhe são submetidos pelo Provedor de Justiça ou qualquer dos seus integrantes.

Artigo 8.º

(Composição do Conselho da Provedoria)1. O Conselho da Provedoria é presidido pelo Provedor de

Justiça e integra os seguintes membros:

a)- Provedor de Justiça;

b)- Provedor de Justiça-Adjunto;

Page 116: FICHA TÉCNICA - Provedor de Justiça de Angola

c)- Secretário-Geral;

d)- Director dos Serviços Técnicos.

1. O Provedor de Justiça pode convidar outras entidades a participar nas reuniões do Conselho da Provedoria.

2. O Conselho da Provedoria reúne trimestralmente, podendo realizar reuniões extraordinárias.

Artigo 9.º

(Secretaria-Geral)A Secretaria-Geral é o serviço que se ocupa da generalidade das questões comuns da Provedoria de Justiça nos domínios da gestão do pessoal, orçamento, património e relações públicas, a quem compete:

a)- programar e aplicar as medidas tendentes a promover o aperfeiçoamento das actividades administrativas e a melhoria da eficiência dos serviços da Provedoria de Justiça;

b)- elaborar e executar o orçamento da Provedoria de Justiça, apresentando ao Provedor de Justiça o respectivo relatório anual de execução;

c)- assegurar a gestão integrada do pessoal afecto aos diversos serviços da Provedoria de Justiça, nomeadamente no que se refere ao provimento, promoção, progressão, transferência, exoneração, aposentação e outros;

d)- garantir a manutenção e expediente de todos os processos, bem como manter organizado e actualizado o arquivo dos processos;

e)- assegurar a aquisição e manutenção dos bens necessários ao funcionamento da Provedoria de Justiça;

f)- organizar as folhas de salários dos funcionários, agentes administrativos assalariados para posterior liquidação;

Page 117: FICHA TÉCNICA - Provedor de Justiça de Angola

g)- elaborar o plano de formação e aperfeiçoamento profis-sional dos funcionários incluindo as acções de capacitação, superação e actualização que se reconheçam necessárias;

h)- administrar o património da Provedoria.

Artigo 10.º

(Estrutura da Secretaria-Geral)1. A Secretaria-Geral estrutura-se em:

a)- Departamento de Gestão do Orçamento e Administração do Património;

b)- Departamento de Recursos Humanos;

c)- Departamento de Protocolo e Relações Públicas.

2. O Departamento de Gestão do Orçamento e Administração do Património compreende a Secção de Gestão do Orçamento e a Secção de Administração do Património.

3. O Departamento de Recursos Humanos compreende, a Secção de Recrutamento, Selecção e a Secção de Administração de Pessoal.

4. O Departamento de Protocolo e Relações Públicas com-preende a Secção de Protocolo, a Secção de Expediente e Relações Públicas.

5. A Secretaria-Geral é dirigida por um secretário-geral equi-parado a director nacional e os departamentos e as secções são dirigidos por chefes de departamentos e de secção, respectivamente.

Artigo 11.º

(Direcção dos Serviços Técnicos)A Direcção dos Serviços Técnicos é o serviço encarregue da análise e tratamento técnico das queixas e reclamações dos cidadãos a quem compete:

Page 118: FICHA TÉCNICA - Provedor de Justiça de Angola

a)- instruir processos de averiguação abertos e baseados nas queixas dos cidadãos ou por iniciativa do Provedor de Justiça;

b)- analisar as provas e demais elementos processuais;

c)- elaborar os projectos e recomendações, reparos e suges-tões das matérias que lhe são submetidas;

d)- emitir pareceres, por solicitação do Provedor de Justiça, sobre questões de carácter geral e do funcionamento da Provedoria de Justiça;

e)- desenvolver as demais tarefas que lhe forem incumbidas.

Artigo 12.º

(Estrutura da Direcção dos Serviços Técnicos)1. A Direcção dos Serviços Técnicos estrutura-se em:

a)- Departamento de Análise, Queixas e Reclamações;

b)- Departamento de Recolha e Tratamento de Informação.

2. O Departamento de Análise, Queixas e Reclamações com-preende a Secção de Análise e Instrução de Processos e a Secção de Estudos Jurídicos Legais.

3. O Departamento de Recolha e Tratamento de Informação compreende a Secção de Comunicação e Imagem e a Biblioteca.

4. A Direcção dos Serviços Técnicos é dirigida por um director nacional e os departamentos e secções são dirigidos por chefes de departamentos e de secção, respectivamente.

5. O chefe da Biblioteca é equiparado a chefe de secção.

Artigo 13.º

(Serviços Locais)1. Com vista a garantir a aproximação da Provedoria de Justiça

aos cidadãos e a celeridade processual, deve ser assegurado a nível das localidades um serviço para proceder à recepção

Page 119: FICHA TÉCNICA - Provedor de Justiça de Angola

e encaminhamento das queixas e reclamações, pela via mais expedita, bem como prestar as devidas informações e esclarecimentos necessários.

2. Enquanto não tiver instalações próprias, os Serviços Locais da Provedoria de Justiça podem funcionar nas instalações das Delegações Provinciais da Justiça, da Procuradoria-Geral da República ou de outros serviços locais que tenham espaço físico para o efeito, devendo ser salvaguardada a sua plena autonomia.

3. O serviço referido no número anterior é equiparado a secção.

CAPÍTULO III

GESTÃO FINANCEIRA E PATRIMONIAL

A gestão financeira da Provedoria de Justiça é assegurada através dos seguintes instrumentos:

a)- plano anual e plurianual de actividades;

b)- orçamento anual;

c)- relatório anual de actividades e de contas.

Artigo 15.º

(Receitas)As receitas da Provedoria de Justiça provêm das dotações do Orçamento Geral do Estado a ser aprovado pela Assembleia Nacional.

Artigo 16.º

(Despesas)Constituem despesas da Provedoria de Justiça:

a)- os encargos decorrentes do seu funcionamento;

b)- as despesas com o pessoal;

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c)- as despesas realizadas para aquisição de bens, manu-tenção e conservação do património, equipamentos e serviços a utilizar.

Artigo 17.º

(Património)Constitui património da Provedoria de Justiça a universalidade dos bens, direitos e obrigações que receba ou adquira no exercício das suas atribuições e competências.

CAPÍTULO IV

DISPOSIÇÕES FILIAIS

Artigo 18.º

(Regime do Pessoal)1. O pessoal da Provedoria de Justiça, para todos os efeitos

legais, está sujeito ao regime jurídico da função pública.

2. A Provedoria de Justiça assegura o aperfeiçoamento perma-nente dos seus funcionários através de cursos de formação e actualização profissionais.

Artigo 19.º

(Cartões de Identificação)O Provedor de Justiça aprova por despacho o modelo de cartão de identificação dos funcionários da Provedoria de Justiça res-salvada certa discricionariedade quanto ao que dispõe o artigo 15.º da Lei do Estatuto do Provedor de Justiça.

Artigo 20.º

(Quadro de Pessoal e Organigrama)O quadro de pessoal e o organigrama da Provedoria de Justiça é o constante dos anexos I e II da presente lei do qual são parte integrante.

Page 121: FICHA TÉCNICA - Provedor de Justiça de Angola

Artigo 21.º

(Regulamento)A Provedoria de Justiça deve aprovar os regulamentos necessários ao seu funcionamento.

Artigo 22.º

(Dúvidas e Omissões)As dúvidas e omissões que se suscitarem da aplicação e inter-pretação da presente lei são resolvidas pela Assembleia Nacional.

Artigo 23.º

(Entra em Vigor)A presente lei entra em vigor na data da sua publicação.

Vista e aprovada pela Assembleia Nacional, em Luanda, aos 3 de Fevereiro de 2006.

Publique-se.

O Presidente da Assembleia Nacional, Roberto António Víctor

Francisco de Almeida.

Promulgada em 10 de Abril de 2006.

O Presidente da República, JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS.

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ANEXO IQuadro de pessoal a que se refere o artigo 20.º que antecede1

O Presidente da Assembleia Nacional, Roberto António Victor Francisco de Almeida.

O Presidente da República, JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS.

1 Alterado pela Rectificação DR 61/07 de 21 de Maio, publicada na Iª série do Diário da

República n.º 61 de 21 de Maio de 2007.

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ANEXO II

Organigrama

O Presidente da Assembleia Nacional, Roberto António Victor Francisco de Almeida. O Presidente da República, JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS.

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Despacho n.º 92/18 de 9 de Abril

Provedoria de Justiça

O Provedor de Justiça é uma entidade pública independente que tem por objecto a defesa dos direitos, das liberdades e das garantias dos cidadãos, assegurando, através de meios informais, a justiça e a legalidade da actividade da Administração Pública, cujo acolhimento constitucional inicial foi dado pela Lei Consti-tucional de 1992, constando, actualmente, consta no artigo 192.º da Constituição da República de Angola;

Considerando que concretização da instituição Provedor de jus-tiça e a criação da Provedoria de Justiça ocorrem pela eleição do primeiro Provedor de Justiça da República de Angola, aos 19 de Abril de 2005 e pela aprovação das Leis n.os 4/06 e 5/06, ambas de 28 de Abril que aprovam, respectivamente, o Estatuto do Provedor de Justiça e a Orgânica da Provedoria de Justiça;

Havendo a necessidade de se instituir um marco de celebração da instituição Provedor de Justiça e da Provedoria de Justiça, nos termos do artigo 137.º da Constituição da República de Angola, conjugado com a alínea s) do artigo 5.º da Lei n.º 7/14, de 26 de Maio, (Lei Sobre Publicações Oficiais e Formulários Legais), determino:

1.º O Dia do Provedor de Justiça é comemorado a 19 de Abril de cada ano.

2.º O Dia da Provedoria de Justiça é comemorado a 28 de Abril de cada ano.

3.º De modo a haver um período integrado de celebração dos dois eventos, institui-se a Semana do Provedor de Justiça, a ser celebrada de 19 a 28 de Abril de cada ano.

4.º O presente despacho entra em vigor na data da sua publicação.

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Publique-se.

Luanda, aos 6 de Março de 2018.

O Provedor de Justiça, Carlos Alberto Ferreira Pinto.