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Ficha para identificação da Produção Didático- Pedagógica

Professor PDE/2012

Título

Uma reflexão sobre as religiões

afrobrasileira e sua abordagem nos livros

didáticos de História.

Autor Maria de Fátima Possa

Escola de Atuação Colégio Estadual Rio Branco EFMNP

Município da escola Santo Antônio da Platina

Núcleo Regional de Educação Jacarezinho

Professor Orientador Prof. Me. Alfredo Moreira da Silva Júnior

Instituição de Ensino Superior Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP/CCHE/CJ.

Área do Conhecimento História

Formato do Material Didático:

Produção Didático - Pedágógica

Público Alvo (indicar o grupo com o qual o professor PDE desenvolveu o trabalho: professores, alunos, comunidade...)

Curso Formação de Docentes.

Localização (identificar nome e endereço da escola de implementação)

Colégio Estadual Rio Branco – EFMNP –

Rua: Dezenove de dezembro, 1001 – Centro.

Resumo: (descrever a justificativa, objetivos e metodologia utilizada. A informação deverá conter no máximo 1300 caracteres, ou 200 palavras, fonte Arial ou Times New Roman, tamanho 12 e espaçamento simples)

Justificativa:. Na disciplina de História, os livros didáticos eram produzidos sob um prisma marxista. Com base nessa teoria, o projeto a ser desenvolvido aborda sobre as religiões afrobrasileiras considerando que a Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008 estabelece mudanças no ensino resgatando suas contribuições pertinentes à história do Brasil. Onde quase não havia questionamentos metodológicos por parte dos governantes sobre a importância religiosa e cultural que os africanos trouxeram para os brasileiros. Objetivos: Desenvolver possibilidades que permitam identificar práticas expressivas de religiosidade dos africanos no Brasil ao longo do tempo através dos textos, interpretação, questionamentos feito pelos alunos. Metodologia: Trabalhar com pesquisa sobre a Lei da implementação da Cultura afrobrasileira. Selecionar livros para pesquisar, se há conteúdos sobre religiões e, suas abordagens dentro da temática, no Laboratório de Informática e Biblioteca, selecionando palavras desconhecidas buscando seus significados em dicionários comuns quanto nos específicos da religião produzindo um Glossário. Organizando Seminário para Apresentação dos trabalhos confeccionando mural com a produção das pesquisas para o conhecimento da comunidade escolar.

Palavras-chave (3 a 5 palavras) Afrobrasileira – Lei – Contribuições - Religião

1. APRESENTAÇÃO

Analisando os livros didáticos de História disponíveis para educação nas

escolas públicas, observa-se quase que totalmente a ausência de conteúdos

referentes à cultura afrobrasileira e em especial àqueles referentes as religiões. Esta

ausência pode estar atrelada tanto ao fato de não se ter efetivamente uma história

escrita sobre as religiões afrobrasileiras quanto a uma resistência de se abordar o

assunto.

Questiona-se então, o papel desses livros ante a obrigatoriedade da lei

11.645 /2008 e como abordar as religiões afrobrasileiras diante das dificuldades

encontradas pelos professores e a receptividade dos alunos.

Logo, a produção didática foi pensada nesse questionamento considerando

que a maioria dos livros didáticos eram produzidos sob um prisma marxista, o que

ocasionava uma percepção socialista dos professores em sala de aula,

principalmente nos cursos superiores, e não raro como os próprios autores desses

livros que eram adotados na educação básica.

Dessa forma, quase não havia questionamento metodológicos por parte dos

docentes da educação básica e em especial da pública justamente por não haver

uma outra visão que não fosse marxista. Entretanto, isso não foi suficiente para

tornar o socialismo uma realidade, considerando que não havia espaço para

embates: de um lado professores reproduzindo o pensamento dos seus “mestres” e

de outro, alunos despolitizados, acríticos no sentido de que, no conceito marxista, a

única maneira de se chegar ao poder via revolução seria pela organização da massa

trabalhadora, logo, pode-se dizer que em se tratando da nossa sociedade, esse

pensamento colaborou com a formação de trabalhadores para o capitalismo.

O que caracteriza atual momento histórico é uma altíssima e crescente

velocidade de transformações, que faz com as pessoas estejam abertas e flexíveis

para questionar e modificar seus paradigmas, para sobreviver num mundo em

transformação, e a escola não pode ficar indiferente, é preciso reconhecer que não é

mais a única detentora do saber, e o livro didático não dá mais conta de acompanhar

todos os acontecimentos que podem ser acessados via Internet, independente de

tempo e espaço.

Assim, essa verdade é aplicável tanto em nível de indivíduo, como em nível

coletivo, quer seja um grupo, uma empresa, uma comunidade ou um país. Vencer as

resistências internas a essa mudança é o desafio a ser superado na escola. Antes

dos outros, é fundamental mudar a si mesmo.

Nesse sentido, o presente trabalho é dedicado às religiões afrobrasileiras

considerando que a Lei nº 11.645, de 10 de março de 2008 com a seguinte redação:

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. § 1

o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos

aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. § 2

o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos

povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e histórias brasileiras.

E por outro lado, as religiões comumente não fazem parte dos livros didáticos.

Dessa forma na religião abordada na disciplina de História, “vê-se a valorização de

grupos particulares, em locais e períodos específicos. Assim, surgindo trabalhos

sobre gênero, minorias étnicas e religiosas, hábitos e costumes, incorporando

metodologias e conceitos de outras disciplinas”, uma vez que se trata de área que

sempre foi relegada em segundo plano em face o poder das religiões dominantes

em determinado tempo e espaço, e se constituí em conhecimento e compreensão

da cultura de um povo.

Dessa forma, têm-se como objetivos: desenvolver possibilidades

metodológicas para o ensino da cultura afro-brasileira que permitam identificar

práticas expressivas de religiosidade dos escravos africanos no Brasil e seus

reflexos na sociedade ao longo do tempo; compreender o funcionamento e a

dinâmica de duas vertentes religiosas derivadas da cultura africana: a umbanda e o

candomblé; avaliar os livros didáticos de História observando-se resquícios do hábito

de perpetuar padrões impostos pela elite desprezando-se às religiões nascidas e

praticadas no Brasil; desenvolver métodos de ensino capazes de levar os

educandos à compreensão das manifestações e das práticas religiosas

afrobrasileiras como contribuição cultural desses povos à nossa sociedade.

E o material didático se configura como uma possibilidade de reflexão junto

aos alunos e como a religião africana influenciou a cultura brasileira..

2. DESENVOLVIMENTO

A Ciência da Religião estabeleceu-se sobre duas bases, a história da religião

e a história comparada da religião (chamada de Fenomenologia da Religião ou

Ciência Sistemática da Religião). A História estuda religiões de maneira longitudinal

ou seja, dentro de uma religião particular, se constrói ou desenvolvimento de um

objeto religioso entre dois pontos de seu contínuo histórico, já a Ciência Sistemática

da Religião as estuda de maneira transversal, percorrendo várias religiões com a

função de investigar um traço universal.

A história das religiões não deve ser confundida com uma espécie de

arqueologia, embora possa ser praticada de maneira semelhante e, como aconteceu

durante muito tempo, atualmente, porém, a História das religiões ocupa-se mais

frequentemente com o presente e com religiões vivas do que com o passado e com

religiões extintas. Historiadores da religião nem sempre questiona como algo surgiu

e evoluiu, também examina a tensão entre aquilo que um objeto religioso pretende

apresentar e o que realmente é.

Desta forma, a partir do referencial teórico proposto, poder-se-á focar a

pesquisa no estudo das seguintes fontes:

Não é possível se pensar numa ciência sem textos, especificamente no caso

da Ciência da Religião, os textos desempenham um papel fundamental dada sua

valorização não só nas religiões ocidentais mas, também nas religiões do oriente.

A Filologia

Max Muller, o pai da ciência da religião, percebeu a importância dos textos já

em sua época, dedicando-se durante grande parte de sua vida à tradução e

compreensão destes. Desde os estudos de Muller, textos são a matéria-prima por

excelência da Ciência da Religião distinguindo-se em: Textos sagrados, tradições

orais, testemunhos pessoais, documentos históricos da religião, textos traduzidos,

textos superestimados.

Textos Sagrados

Durante o neo-colonialismo do séc. XIX, estudiosos europeus preocuparam-

se em compreender as escritas antigas dos povos que dominavam muitas vezes por

questões de ordens práticas, como por exemplo, resolver disputas territoriais.

Retornando a Europa, trouxeram para os museus muitos troféus arqueológicos e

também manuscritos antigos que foram transformados em obras de referências

pelos filólogos, esta época “de ouro” das descobertas, porém, já acabou. Hoje os

filólogos sobre textos já pesquisados tentando encontrar neles, ao menos, novos

significados.

Tradições Orais

Para administrar suas colônias os europeus precisavam compreender a

língua dos povos indígenas, para exercitá-las precisam de textos, os lingüistas

captaram, além de frases padrão, fábulas, provérbios e enigmas, os textos religiosos

eram bem mais difíceis de conseguir, porém, alguns chefes dos sacerdotes

indígenas concordaram com a transcrição dos seus saberes contrariando inclusive,

suas tradições religiosas, devido a falta de discípulos, para evitar que este

conhecimento se extinguisse.

Testemunhos Pessoais

Testemunhos pessoais atestam o específico de determinada religiosidade,

oferecendo ao cientista da religião uma perspectiva singular da fé alheia. Exemplo

de pesquisa baseada no testemunho pessoal citada por Greschat é o livro, Lame

Deer: seeker of visions (Veado Coxo: buscador de visões).

Documentos Históricos da Religião

Enquanto textos sagrados apontam o ideal de uma religião, documentos

históricos da religião mostram como ela realmente é. Algumas pessoas preferem

esconder o retrato real de sua religião atrás de uma imagem ideal.

Além dos “cuidados” por parte dos membros de uma determinada religião em

ocultar maiores detalhes sobre sua doutrina, também existem casos de ocultação de

tudo o que se refere a determinada religião por parte das autoridades constituídas

ou por membros de religiões predominantes que enxerga em outros credos um

“subversão”.

Neste sentido, Greschat chama a atenção para o caso da religião Kitawala na

África, seus adeptos acreditavam que o Reino de Deus na Terra se iniciaria com o

fim do domínio colonial europeu.

1. Para começar a falar de religião vamos procurar conhecer como você

concebe a religião no seu dia-a-dia, como ela se apresentou na sua formação

pessoal e formação escolar.

a) A que religião você pertence? Desde quando?

b) O que significa a religião em sua família?

c) Para você, a sua religião encontra semelhanças com outras? Justifique sua

resposta.

d) O que você aprendeu sobre religiões nas aulas de Ensino Religioso ou em outras

disciplinas foi importante para o seu conhecimento? Por que?

Mas afinal o que é religião?

[...] que a definição perfeita de religião não existe [...]. Pensamos que a definição

deve expressar a verdade sobre um fenômeno, com a autoridade de, p. ex., um

dicionário, uma enciclopédia, ou um entendimento no assunto. Mas ela é apenas

ferramentas, instrumento de trabalho, maneira de combinar uma regra para facilitar

o trabalho, maneira de combinar uma regra para facilitar o trabalho. Se queremos

falar sobre um assunto, p. ex., as religiões existentes no Brasil, é prático dizer de

antemão o que entendemos por religião, para delimitar a área e para evitar mal-

entendidos. Então, a definição deve ser mais útil do que uma verdade em si. Ela é

o início da pesquisa e não o seu resultado. (DROOGERS, 1987, p.9-10).

2. UM POUCO DE CANDOMBLÉ, UMBANDA, E QUIMBANDA

1º TEXTO

De acordo com Andrade e Oliveira (2007), entende-se como cultos

afrobrasileiros duas correntes principais, o Candomblé e a Umbanda.

O Candomblé é a religião africana trazida pelos negros escravos para o

Brasil, e aqui cultuada em seu habitat natural – onde não era apenas um, mas uma

série de diferentes manifestações especificas de cada região, diferenças essas

acentuadas pela várias regiões do seu país de origem.

O significado da palavra Candomblé sofreu mudanças no transcorrer do

tempo. A principio, Candomblé era o nome dado às grandes festas públicas do culto

Iorubá, fosse qual fosse a sua causa. Estas festas aconteciam anualmente e eram

bastante conhecidas dos habitantes das cidades onde os Candomblés surgiram.

Mais tarde, o termo passou a designar não apenas as festas, mas também os

lugares onde elas se realizavam: Os terreiros. Mais tarde ainda, passou a designar a

própria religião.

Pode-se definir o termo Candomblé, atualmente como religião de culto aos

Orixás, entidades africanas associadas aos elementos naturais. É uma religião

mágica e iniciática, o que significa que alguém que a ela se converta deve

obrigatoriamente aprender, passo a passo, os mistérios religiosos e submeter-se a

uma rígida hierarquia. Também deve manter, por toda sua vida a uma série de

preceitos e tabus advindos do fato de partilhar seu Orí (cabeça ) com um Orixá, pois

é também nela que o Orixá vive depois da iniciação. (CANDOMBLÉ FON, p.1)

2º TEXTO

Quando contingentes de população branca pobre, conhecedora da doutrina

do Espiritismo kardecista começou a ser atraída para os terreiros de Macumba dos

subúrbios e morros em busca de soluções para seus problemas financeiros,

amorosos e terapêuticos, levaram consigo para dentro da Macumba as teorias e

procedimentos do Espiritismo kadercista, bem aceito pela população branca.

A entrada de brancos nos terreiros de Macumba os levou à chefia desses

terreiros, e como consequência, às transformações que julgavam necessárias no

ritual e doutrina, amoldando–se à própria sensibilidade branca, à qual repugnavam

os rituais sangrentos das matanças de animais, o uso de punhais, pólvora, pontos–

de–fogo dentre outros.

Essa modificação introduzida lentamente no corpo doutrinário e ritual da

Macumba acabou dividindo–se em duas, dando origem à Umbanda e à Quimbanda,

ou seja, uma Macumba depurada dos rituais primitivos africanos e recheada de

doutrina e crescente práxis ritual de inspiração kardecista: a Umbanda. Os

praticantes e terreiros de Macumba que permaneceram fiéis à tradição, resistindo às

modificações, hoje são chamados pelos umbandistas de “quimbandeiros”, ou seja,

praticantes da Quimbanda, difamada pelos umbandistas, como voltada à prática do

mal, à magia negra.

A Umbanda surgiu do sincretismo (mistura) dos ritos africanos, crenças católicas,

espíritas e pajelança indígena, entre outros. A Umbanda é uma religião

tipicamente brasileira. A palavra Umbanda possui várias significações, sendo uma

dela „Um‟ (Deus), „ banda‟ (lado), ou seja, “ do lado de Deus”, “ do lado do bem”.

E, vale destacar, houve sempre entre seus seguidores a busca por manter a

pureza do culto religioso ancestral. ( CADERNO PEDAGÓGICO DE ENSINO

RELIGIOSO)

3º TEXTO

É significativo o fato de que o nome Quimbanda provém do Ki – nbanda,

nome dos “feiticeiros” em banto. O grupo branco kardecista assumiu para si o nome

do antigo “sacerdote” do culto banto, o embanda ou umbanda, e por causa dessa

característica espírita, já foi chamada de “baixo espiritismo”, e justamente por

representar o encontro cultural de tradições religiosas e crenças distintas dos

africanos com as formas populares do catolicismo e mais o sincretismo hindu,

trazido pelo espiritismo, é que ela de “religião brasileira”.

Tamanha diversidade religiosa contribui para atrair pessoas de todas as

classes sociais, extrapolando em muito, o número de adeptos umbandistas

propriamente ditos.

Com a turma dividida em grupos, distribua atividades distintas para cada um deles.

1º Grupo

Faça uma dissertação a partir do 1º texto, colocando o que vocês entenderam sobre

o candomblé e que pontos não abordados que vocês gostariam que fossem

discutidos.

2º Grupo

Após a leitura do texto, produza um texto sobre o que vocês entenderam sobre

Macumba ? Pesquisem sobre o termo “sincretismo”.

3º Grupo

Tendo o referencial sobre Quimbanda, façam uma pesquisa sobre essa vertente

africana.

Todos os trabalhos realizados deverão ser apresentados em sala.

1.Selecionar números de livros didáticos de História para os alunos

pesquisarem, se há conteúdos sobre religiões e quais, e como são abordadas.

Importante nessa atividade ver as referências bibliográficas, se são comuns

nos diversos livros e depois fazerem uma pesquisa bibliográfica dos mesmos

(os autores).

Essa atividade permite conhecer as linhas de pesquisa não só dos autores dos livros

didáticos como os referenciados (se são historiadores, sociólogos, filósofos,

jornalistas...).

Após, promover um debate sobre as conclusões que chegaram em relação a

abordagem das religiões nos livros.

2 Organizar um Seminário para a apresentação dos trabalhos.

3. Nesta etapa será trabalhada Lei da implementação da Cultura afro-brasileira

e sua implicação em sala de aula: os alunos farão a pesquisa e depois faremos

um debate na sala, o objetivo é que os mesmos tomem conhecimentos sobre o

que já está sendo feito a respeito.

No encerramento das atividades os alunos organizarão um mural com a

produção das pesquisas para o conhecimento da comunidade escolar.

3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1.1 HISTÓRICO

Considerando que as religiões africanas tradicionais não apresentam textos

escritos, boa parte do conhecimento que temos sobre essas religiões, reunido

durante os últimos séculos, apóia-se nos relatos de observadores europeus, sejam

eles mercadores, colonizadores ou missionários. Tais descrições são muito

influenciadas pelas constantes comparações entre a vida religiosa e cultural do local

e o cristianismo e a cultura ocidental. Mais recentemente, etnólogos e antropólogos

sociais vêm se utilizando de métodos científicos modernos para estudar as religiões

africanas, porém mesmo eles as vêem de uma perspectiva externa.

Uma fonte de conhecimento sobre as religiões africanas são os mitos que

sobreviveram por meio da tradição oral, mas deve-se considerar que o conteúdo das

histórias contadas pode ter se alterado ao longo das gerações. As religiões primais,

assim como todas as outras, são influenciadas por fatores externos, e muitas

adotaram elementos do islã ou do cristianismo. (GAARDER;

HELLEN;NOTAKER,2000,p. 89).

Logo, ao agrupar as religiões africanas sob um só rótulo, deve-se ter em

mente que seu número equivale ao de povos existentes na África. Cada uma tem

seu próprio nome para Deus, seus próprios rituais de cultos, suas idiossincrasias.[...]

(GAARDER;HELLEN;NOTAKER,2000,p. 89-90)

O continente africano, na época das grandes levas de escravos, era ainda

mais fragmentado politicamente do que é hoje. O conceito de nação ou Estado, em

seu significado mais restrito, não encontra correspondente na realidade geopolítica

africana desse período. Diversas nações de tribos fragmentavam qualquer idéia de

unidade cultural, ainda que, cercadas pela selva, muitas dessas comunidades nunca

tivessem entrado em contato nem tido notícia da existência de outras. Isto resulta

numa grande diferença de culto de região para região, onde os nomes de um

mesmo orixá são absolutamente diferentes.

No Brasil, porém, pode-se notar um culto predominante do ritual e das

concepções iorubá - um povo sudanês da região correspondente à atual Nigéria,

que dominou e influenciou politicamente e culturalmente um grande número de

tribos. Esse culto se estendeu por toda a América, com exceção (se bem que há

notícias do estabelecimento cada vez maior destes cultos) da América do Norte,

com maior destaque para Cuba e Brasil.

1.2 RELIGIÃO

Definir religião ou conceituá-la envolve conceitos subjetivos, individuais a

partir de certa realidade. Pode-se defini-la como sendo “a fé em Deus”, mas, assim,

está partindo de uma experiência religiosa de uma determinada sociedade que

acredita em Deus, excluindo aquelas religiões em que Deus não ocupa um lugar

importante ou não é cultuado, da mesma maneira quando define-se como sendo “o

ópio do povo”, também está selecionando-se subjetivamente certo aspecto da

religião com a função de legitimar a miséria, a injustiça. Portanto existem muitas

outras definições já que o fenômeno da religião tem muitíssimos aspectos a ser

considerados.

Droogers ( 1987, p. 9-10), observa com razão:

[...] que a definição perfeita de religião não existe [...]. Pensamos que a definição deve expressar a verdade sobre um fenômeno, com a autoridade de, p. ex., um dicionário, uma enciclopédia, ou um entendimento no assunto. Mas ela é apenas ferramentas, instrumento de trabalho, maneira de combinar uma regra para facilitar o trabalho, maneira de combinar uma regra para facilitar o trabalho. Se queremos falar sobre um assunto, p. ex., as religiões existentes no Brasil, é prático dizer de antemão o que entendemos por religião, para delimitar a área e para evitar mal-entendidos. Então, a definição deve ser mais útil do que uma verdade em si. Ela é o início da pesquisa e não o seu resultado.

A partir dessas conclusões, estudiosos da religião, consideram três atitudes

frente a esta questão:

1ª - a recusa em definir religião antes de ter estudado profundamente as

diversas religiões que existem no mundo. Só então ela diz algo como resultado de

todas estas pesquisas. Neste caso, a definição é tida como verdade e última palavra

sobre dado assunto e não como instrumento de trabalho. Obviamente estes estudos

só podem ser feitos sendo, pelo menos, uma base, uma ideia vaga do que é religião.

Ainda que, na realidade se usa uma definição implícita, inconsciente, por

outro lado, há quem alegue que religião teria que ser sentida, e não definida, mas

neste caso, há também definição implícita, e além disso, bastante subjetiva, pois

religião é o que o pesquisador “sente” como tal;

2ª - procura-se dizer o que a religião é na sua essência. Isto significa que

quase sempre a definição dada contém uma referência a outra realidade, ao

sobrenatural, ao divino, sagrado, ao não-observável. Exemplo famoso é a definição

de Tylor (apud DROOGERS, p.11), religião é crença em seres sobrenaturais. Menos

conhecida é a definição de Spiro (apud DROOGERS, p.12): religião é “uma

instituição de interações, modeladas pela cultura, com seres sobre-humanos,

postulados pela cultura”. Esta definição trata a religião como sendo um fenômeno

cultural e social, de uma sociedade ou grupo humano. Mulder (apud DROOGERS,

p.12 ) diz simplesmente que, “religião é comprometimento com outra realidade”;

3ª - enfatiza o que a religião faz: a sua função social, econômica, e

psicológica. Seria possível destacar que a religião ajuda as pessoas a resolverem

problemas básicos da existência humana; problema do sentido da vida ou da morte,

ou na questão de estar sozinho no mundo, querendo relacionar-se com outras

pessoas e com seres sobrenaturais. Há também aqueles que apontam para a

função da religião de criar ordem: na interpretação do mundo, na vida com outras

pessoas e na própria personalidade.

Observa-se, entre a segunda e a terceira atitude, uma diferença muito

importante. A definição a partir da função parece incluir mais fenômenos do que a se

refere à dimensão sobrenatural. Inclui, por exemplo, o marxismo, pois ele pode ter a

função de resolver as questões básicas da existência humana. Se a definição não

fala do sobrenatural como características de religião, é possível encarar o marxismo

como religião, apesar de ele ser ateu. A vantagem é que há fenômenos parecidos,

quase na margem da religião.

1.2.1 SINCRETISMO RELIGIOSO

Segundo Sousa, durante o processo de colonização do Brasil, nota-se que a

utilização dos africanos como mão de obra escrava estabeleceu um amplo leque de

novidades em nosso cenário religioso. Ao chegarem aqui, os escravos de várias

regiões da África traziam consigo várias crenças que se modificaram no espaço

colonial. De forma geral, o contato entre nações africanas diferentes empreendeu a

troca e a difusão de um grande número de divindades.

Mediante essa situação, a Igreja Católica se colocava em um delicado dilema

ao representar a religião oficial do espaço colonial. Em algumas situações, os

clérigos tentavam reprimir as manifestações religiosas dos escravos e lhes impor o

paradigma cristão. Em outras situações, preferiam fazer vista grossa aos cantos,

batuques, danças e rezas ocorridas nas senzalas. Diversas vezes, os negros

organizavam propositalmente suas manifestações em dias-santos ou durante outras

festividades católicas.

Do ponto de vista dos representantes da elite colonial, a liberação das

crenças religiosas africanas era interpretada positivamente. Ao manterem suas

tradições religiosas, muitas nações africanas alimentavam as antigas rivalidades

contra outros grupos de negros atingidos pela escravidão. Com a preservação desta

hostilidade, a organização de fugas e levantes nas fazendas poderia diminuir

sensivelmente.

No tempo das senzalas os negros para poderem cultuar seus orixás, nksis e

voduns usaram como camuflagem um altar com imagens de santos católicos e por

baixo os assentamentos escondidos. Há pesquisadores que consideram que este

sincretismo já haveria começado na própria África, induzida pelos próprios

missionários para facilitar a conversão.

O Censo oferece dados subestimados a respeito das pessoas pertencentes

às religiões afrobrasileiros em função das condições históricas em que essas

religiões se constituíram e do seu caráter sincrético, o qual faz com que seguidores

dessas religiões se declarem católicos, espíritas ou até espiritualistas (PRANDI,

2005, p.215).

Sangó (2010), afirma que, aparentemente, a participação dos negros nas

manifestações de origem católica poderia representar a conversão religiosa dessas

populações e a perda de sua identidade. Contudo, muitos escravos, mesmo se

reconhecendo como cristãos, não abandonaram a fé nos orixás, voduns e nksis

oriundos de sua terra natal. Ao longo do tempo, a coexistência das crendices abriu

campo para que novas experiências religiosas – dotadas de elementos africanos,

cristãos e indígenas – fossem estruturadas no Brasil.

É a partir dessa situação que se pode compreender porque vários santos

católicos equivalem a determinadas divindades de origem africana. Além disso,

pode-se compreender como vários dos deuses africanos percorrem religiões

distintas. Na atualidade, não é muito difícil conhecer alguém que professe uma

determinada religião, mas que se simpatize ou também frequente outras.

Dessa forma, observa-se que o desenvolvimento da cultura religiosa brasileira

foi evidentemente marcado por uma série de negociações, trocas e incorporações.

Nesse sentido, ao mesmo tempo em que se pode ver a presença de equivalências e

proximidades entre os cultos africanos e as outras religiões estabelecidas no Brasil,

também têm-se uma série de particularidades que definem várias diferenças. Por

fim, o sincretismo religioso acabou articulando uma experiência cultural própria.

Não cabe dizer que o contato entre elas acabou designando um processo de

aviltamento de religiões que aqui apareceram. Tanto do ponto de vista religioso,

quanto em outros aspectos da vida cotidiana, é possível observar que o diálogo

entre os saberes abre espaço para diversas inovações. Por esta razão, é impossível

acreditar que qualquer religião teria sido injustamente aviltada ou corrompida.

1.2.2 CANDOMBLÉ

De acordo com Andrade e Oliveira (2007), entende-se como cultos

afrobrasileiros duas correntes principais, o Candomblé e a Umbanda.

O Candomblé é a religião africana trazida pelos negros escravos para o

Brasil, e aqui cultuada em seu habitat natural – onde não era apenas um, mas uma

série de diferentes manifestações especificas de cada região, diferenças essas

acentuadas pela várias regiões do seu país de origem.

O significado da palavra Candomblé sofreu mudanças no transcorrer do

tempo. A princípio, Candomblé era o nome dado às grandes festas públicas do culto

Iorubá, fosse qual fosse a sua causa. Estas festas aconteciam anualmente e eram

bastante conhecidas dos habitantes das cidades onde os Candomblés surgiram.

Mais tarde, o termo passou a designar não apenas as festas, mas também os

lugares onde elas se realizavam: Os terreiros. Mais tarde ainda, passou a designar a

própria religião.

Pode-se definir o termo Candomblé, atualmente como religião de culto aos

Orixás, entidades africanas associadas aos elementos naturais. É uma religião

mágica e iniciática, o que significa que alguém que a ela se converta deve

obrigatoriamente aprender, passo a passo, os mistérios religiosos e submeter-se a

uma rígida hierarquia. Também deve manter, por toda sua vida a uma série de

preceitos e tabus advindos do fato de partilhar seu Orí ( cabeça ) com um Orixá, pois

é também nela que o Orixá vive depois da iniciação. (CANDOMBLÉ FON, p.1)

1.2.3 IFÁ OU BÚZIOS

Principal sistema Ioruba de adivinhação, e provavelmente, o mais complexo

da África. Originário da cidade de Ife, seu uso espalhou–se por outras sociedades

do oeste africano ( Benin, Fon ( religião Fon), e o Ewe de Togo e de Gana oriental,

e também por Cuba e pelo Brasil.

Suas características são as precisões do sistema, seu vasto corpo de versos

correlatos e seu fundamento religioso no culto do orixá, Ifá ou Orunmila. Orunmila é

a divina padroeira da adivinhação, que comunica ao gênero humano o seu destino,

tal como foi decretado por Olodumaré. Através de Ifá se revela o destino da pessoa.

1.2.4 XANGÔ

Designação popular da religião afro–brasileira praticada do Rio Grande do

Norte a Alagoas, advinda do nome do orixá do raio, Xangô, muito popular na região.

assemelha–se ao Candomblé no ritual, mas é mais despojado.

1.2.5 BATUQUE

Culto afro–brasileiro assemelhado ao Candomblé, mais pobre, praticado no

Rio Grande do Sul e na Amazônia, especialmente em Belém.

1.2.6 CASA OU TAMBOR DE MINA

Único culto afro–brasileiro dedicado aos voduns daomeneanos. Praticado no

Maranhão, com danças, cânticos e “incorporações” dos voduns nas iniciadas, as

vodunsi.

1.2.7 MACUMBA

Em 1932, Arthur Ramos (apud COSTA, 1987, p.79) dá–nos em O negro

brasileiro, a primeira descrição de um terreiro de Macumba, o do velho Honorato.

Nela mostra que o ritual centrava–se no culto às almas, ou seja, no culto africano

aos ancestrais, como é característica da religião banto na África. Segundo essa

prática, os ancestrais se comunicam com seus descendentes através do processo

psíquico do estado de transe, através de “incorporações” ou “possessões” do

descendente pelo “espírito” do ancestral. O descendente, assim “possuído” serve de

veículo de comunicação, através do qual o ancestral “fala” e “orienta” a vida

comunitária tribal, merecendo, por isto, homenagem e culto. No Brasil essa forma de

culto continuou, adaptando–se à situação de negros descendentes de ex–escravos.

Assim a individualidade dos ancestrais tribais dilui–se na memória coletiva.

Em seu lugar se elaborou a imagem vaga, idealizada, de antepassados recentes,

mortos no Brasil como escravos, na figura estereotipada dos pretos–velhos. A partir

da “invocação” das almas dos pretos–velhos, se organizou a Macumba. O culto, com

o decorrer do tempo, integrou também o culto às almas dos índios, invocados no

ritual como caboclos.

Quando a Macumba se organizou, o Candomblé já estava estruturado e

funcionando com prestígio entre os negros. A reputação do Candomblé conduziu os

chefes dos terreiros de Macumba, os embandas ou umbandas a introduzirem os

orixás no ritual para serem homenageados, não para “incorporarem”, como acontece

no Candomblé. As “incorporações” de orixás poderiam acontecer, caso houvesse

filhas de Candomblé na comunidade, mas não era esse o objetivo de sua introdução

no culto.

1.2.8 UMBANDA E QUIMBANDA

Esta não foi a única transformação ocorrida na Macumba. Quando

contingentes de população branca pobre, conhecedora da doutrina do Espiritismo

kardecista começou a ser atraída para os terreiros de Macumba dos subúrbios e

morros em busca de soluções para seus problemas financeiros, amorosos e

terapêuticos, levaram consigo para dentro da Macumba as teorias e procedimentos

do Espiritismo kadercista, bem aceito pela população branca.

A entrada de brancos nos terreiros de Macumba os levou à chefia desses

terreiros, e como consequência, às transformações que julgavam necessárias no

ritual e doutrina, amoldando–se à própria sensibilidade branca, à qual repugnavam

os rituais sangrentos das matanças de animais, o uso de punhais, pólvora, pontos–

de–fogo dentre outros.

Essa modificação introduzida lentamente no corpo doutrinário e ritual da

Macumba acabou dividindo–se em duas, dando origem à Umbanda e à Quimbanda,

ou seja, uma Macumba depurada dos ritual primitivos africanos e recheada de

doutrina e crescente práxis ritual de inspiração kardecista: a Umbanda. Os

praticantes e terreiros de Macumba que permaneceram fiéis à tradição, resistindo às

modificações, hoje são chamados pelos umbandistas de “quimbandeiros”, ou seja,

praticantes da Quimbanda, difamada pelos umbandistas, como voltada à prática do

mal, à magia negra.

É significativo o fato de que o nome Quimbanda provém do Ki – nbanda,

nome dos “feiticeiros” em banto. O grupo branco kardecista assumiu para si o nome

do antigo “sacerdote” do culto banto, o embanda ou umbanda, e por causa dessa

característica espírita, já foi chamada de “baixo espiritismo”, e justamente por

representar o encontro cultural de tradições religiosas e crenças distintas dos

africanos com as formas populares do catolicismo e mais o sincretismo hindu,

trazido pelo espiritismo, é que ela de “religião brasileira”.

Tamanha diversidade religiosa contribui para atrair pessoas de todas as

classes sociais, extrapolando em muito, o número de adeptos umbandistas

propriamente ditos.

1.2.9 AFRO–CATÓLICO–AMERÍNDIOS

Por último, pode-se citar ainda a Pajelança e o Catimbó. Estruturalmente não

são africanos, mas de inspiração ameríndia com elementos mesclados de

catolicismo popular e fragmentos religiosos africanos.

• Pajelança: centrado na figura do pajé indígena e prática rituais envolvendo

ervas e fumo com recitação de orações. Praticado na Amazônia.

• Catimbó: nome derivado de cachimbo devido ao seu uso no ritual. Sincretiza

doutrinas medievais européias de natureza mágica, com elementos do catolicismo

popular e africanos sobre a base ameríndia arcaica, incluindo os ritos de

“possessão”.

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