fgv - rae revista de administração de empresas, 2015. volume 55, número 2

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ISSN 0034-7590 9 7 7 0 0 3 4 7 5 9 0 0 7 0 0 5 5 2 FÓRUM Challenging Anglo-Saxon dominance in management and organizational knowledge Ernesto R. Gantman, Hèla Yousfi e Rafael Alcadipani An anti-management statement in dialogue with critical Brazilian authors Maria Ceci Misoczky, Rafael Kruter Flores e Sueli Goulart Resgatando o nexo governança-gestão internacional: por uma nova ordem em gestão Alexandre Faria, Ana Lucia Guedes e Sergio Wanderley O cotidiano e a história: construindo novos olhares na Administração Amon Barros e Alexandre de Pádua Carrieri L’apport de la sociologie pragmatique française aux études critiques en management Benjamin Taupin ARTIGOS Elementos para discussão da escravidão contemporânea como prática de gestão André Ofenhejm Mascarenhas, Sylmara Lopes Gonçalves Dias e Rodrigo Martins Baptista Fatores que afetam a transferência da aprendizagem para o local de trabalho Ana Luisa de Oliveira Marques Veloso, Maria João Silva, Isabel Silva e Antonio Caetano Crimes corporativos e estudos organizacionais: uma aproximação possível e necessária Cintia Rodrigues de Oliveira “E se colocar pimenta?”: a construção empreendedora da Chilli Beans André Luiz Maranhão de Souza Leão, Suélen Matozo Franco, Flávia Zimmerle da Nóbrega Costa e Henrique Cassiano Nascimento de Oliveira PENSATA Picnic on a frozen river: challenges for genuine management studies in Spain Carlos J. Fernández Rodríguez Le champ des études organisationnelles : le regard critique d’un chercheur plurilingue Jean-François Chanlat RESENHA Historical turn: em busca de um marco teórico crítico para estudos organizacionais Alessandra de Sá Mello da Costa INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS Estudos pós-coloniais e diálogos interculturais Marina Dantas de Figueiredo Os estudos organizacionais no Sul Global: perspectivas latino-americanas Guilherme Dornelas Camara R$ 50,00 PESQUISA E CONHECIMENTO V. 55, N. 2, Março–Abril 2015 www.fgv.br/rae

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2

FÓRUM

Challenging Anglo-Saxon dominance in management and organizational knowledgeErnesto R. Gantman, Hèla Yousfi e Rafael Alcadipani

An anti-management statement in dialogue with critical Brazilian authorsMaria Ceci Misoczky, Rafael Kruter Flores e Sueli Goulart

Resgatando o nexo governança-gestão internacional: por uma nova ordem em gestãoAlexandre Faria, Ana Lucia Guedes e Sergio Wanderley

O cotidiano e a história: construindo novos olhares na AdministraçãoAmon Barros e Alexandre de Pádua Carrieri

L’apport de la sociologie pragmatique française aux études critiques en managementBenjamin Taupin

ARTIGOS

Elementos para discussão da escravidão contemporânea como prática de gestãoAndré Ofenhejm Mascarenhas, Sylmara Lopes Gonçalves Dias e Rodrigo Martins Baptista

Fatores que afetam a transferência da aprendizagem para o local de trabalhoAna Luisa de Oliveira Marques Veloso, Maria João Silva, Isabel Silva e Antonio Caetano

Crimes corporativos e estudos organizacionais: uma aproximação possível e necessáriaCintia Rodrigues de Oliveira

“E se colocar pimenta?”: a construção empreendedora da Chilli BeansAndré Luiz Maranhão de Souza Leão, Suélen Matozo Franco, Flávia Zimmerle da Nóbrega Costae Henrique Cassiano Nascimento de Oliveira

PENSATA

Picnic on a frozen river: challenges for genuine management studies in Spain Carlos J. Fernández Rodríguez

Le champ des études organisationnelles : le regard critique d’un chercheur plurilingueJean-François Chanlat

RESENHA

Historical turn: em busca de um marco teórico crítico para estudos organizacionaisAlessandra de Sá Mello da Costa

INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Estudos pós-coloniais e diálogos interculturaisMarina Dantas de Figueiredo

Os estudos organizacionais no Sul Global: perspectivas latino-americanasGuilherme Dornelas Camara

R$ 5

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PESQUISA ECONHECIMENTOV. 55, N. 2,Março–Abril 2015

www.fgv.br/rae

ISSN 0034-7590www.fgv.br/rae

REDAÇÃOAnalista de Produção Editorial: Denise Francisco Cândido Assistente Administrativa: Eduarda Pereira Copidesque e revisão (Português): Paula Thompson Tradução e revisão (Espanhol e Inglês): Arabera Traduções | Lersch Traduções

ADMINISTRAÇÃOResponsável: Ilda FontesAssistente Administrativa: Eldi Francisca SoaresAssistente de Marketing: Andréa Cerqueira Souza

RELACIONAMENTO / ASSINATURASResponsável: Vania C. Torres dos SantosDISTRIBUIÇÃOComunidade acadêmico-científica: 700 exemplaresNúmero de visitas ao site no período janeiro/fevereiro 2015: 33.980 visitantesASSINATURA ANUAL: R$ 300,00EXEMPLAR AVULSO: R$ 50,00PONTOS DE VENDA: Livrarias da FGV e Livraria CulturaARTE/EDITORAÇÃO ELETRÔNICATypecomm | Comunicação + DesignIlustração Pensata: Alex Lutkus

PRODUÇÃO INDUSTRIALImpressão e Acabamento: Eskenazi Indústria GráficaData de Impressão: 24.02.2015Tiragem: 700 exemplares

PERIODICIDADE: Bimestral

INDEXADORESDOAJ - Directory of Open Access Journalswww.doaj.orgEbsco Publishing: Business Source Complete, Economia y Negocios, Fonte Acadêmicawww.ebscohost.come-RevistasPlataforma Open Access de Revistas Científicas Electrónicas Españolas y Latinoamericanashttp://www.erevistas.csic.esGale Cengage Learningwww.gale.cengage.comGoogle Scholarscholar.google.com.brPortal de Periódicos CAPESwww.periodicos.capes.gov.brProQuest Information and Learningwww.proquest.com.brSistema de Información Científica Redalyc - Red de Revistas Científicas de América Latina y el Caribe, España y Portugalredalyc.uaemex.mxSciELO - Scientific Electronic Library Onlinewww.scielo.orgScopus | Elsevierwww.info.sciverse.com/scopusSHERPA/RoMEOhttp://www.sherpa.ac.uk/romeoSPELL – Scientific Periodicals Electronic Librarywww.spell.org.brSumários Brasileiros de Revistas Científicaswww.sumarios.funpeerp.com.brThomson ReutersSSCI, JCRwww.thomsonreuters.comDIRETÓRIOS10th Edition of Cabell’s Directory of PublishingOpportunities in Managementwww.cabells.comCLASE – Citas Latinoamericans en Sciencias Sociales y Humanidadeswww.dgbiblio.unam.mx/index.php/catalogosDiadorimdiadorim.ibict.brIBSS - International Bibliography of the Social Sciencewww.lse.ac.ukHAPI-Hispanic American Periodicals Índexhapi.ucla.eduLatindex - Sistema Regional de Información en Líneapara Revistas Científicas de América Latina, el Caribe,España y Portugalwww.latindex.orgUlrichs Periodical Directorywww.ulrichsweb.com

CENTRAL DE RELACIONAMENTOAssinaJáHorário de atendimento: segunda à sexta das 9 às 18h, exceto feriados.Telefones: São Paulo + 55 (11) 3512-9442 | Rio de Janeiro: + 55 (21) 4063-6989www.fgv.br/rae

A RAE - Revista de Administração de Empresas foi impressa com papel proveniente de madeira certificada FSC e de outras fontes controladas. A certificação FSC é uma garantia ao meio ambiente e aos trabalhadores florestais.

CORPO EDITORIAL CIENTÍFICOAlexandre de Pádua Carrieri (UFMG – Belo Horizonte – MG, Brasil), Allan Claudius Queiroz Barbosa (UFMG – Belo Horizonte – MG, Brasil), Ana Maria de Albuquerque Vasconcellos (UNAMA – Belém – PA, Brasil), Ana Paula Paes de Paula (UFMG – Belo Horizonte – MG, Brasil), Anatália Saraiva Martins Ramos (UFRN – Natal – RN, Brasil), André Lucirton Costa (FEA-RP – Ribeirão Preto – SP, Brasil), Andre Ofenhejm Mascarenhas (Centro Universitário da FEI – São Paulo – SP, Brasil), Anielson Barbosa da Silva (UFPB – João Pessoa – PB, Brasil), Antonio Díaz Andrade (AUT University – Auckland, Nova Zelândia), Antonio Domingos Padula (UFRGS – Porto Alegre - RS, Brasil), Antonio Lopo Martinez (FUCAPE – Vitória – ES, Brasil), Antonio Moreira de Carvalho (PUC-Minas – Belo Horizonte – MG, Brasil), Antonio Navarro-García (Universidad de Sevilla – Sevilha, Espanha), Bento Alves da Costa Filho (Ibmec-DF – Brasília – DF, Brasil), Bill Cooke (Lancaster University – Lancaster, Reino Unido), Carlos Jesús Fernández Rodríguez (Universidad Autónoma de Madrid – Madrid, Espanha), Carlos L. Rodriguez (UNCW – Wilimigton – NC, Estados Unidos), Cesar Alexandre de Souza (FEA-USP – São Paulo SP, Brasil), Claudio R. Lucinda (FEARP-USP – Ribeirão Preto – SP, Brasil), Dario de Oliveira Lima Filho (UFMS – Campo Grande – MS, Brasil), Delane Botelho (FGV-EAESP – São Paulo - SP, Brasil), Denise del Prá Netto Machado (FURB - Blumenau - SC, Brasil), Diego René Gonzales Miranda (Universidad EAFIT – Medelín, Colômbia), Diogo Henrique Helal (UFPB – João Pessoa – PB, Brasil), Domingo Garcia-Pérez-de-Lema (UPCT - Cartagena, Espanha), Edgard Barki (FGV-EAESP – São Paulo - SP, Brasil), Edmilson de Oliveira Lima (UNINOVE – São Paulo – SP, Brasil), Eduardo Andre Teixeira Ayrosa (FGV-EBAPE – Rio de Janeiro – RJ, Brasil), Ely Laureano de Paiva (FGV-EAESP – São Paulo - SP, Brasil), Eric David Cohen (Ibmec-Rio – Rio de Janeiro – RJ, Brasil), Eric van Heck (Erasmus University - Rotterdam, Holanda), Fábio Frezatti (FEA-USP – São Paulo SP, Brasil), Fernanda Finotti Perobelli (UFJF – Juiz de Fora – MG, Brasil), Francisco Javier Rondán Cataluña (Universidad de Sevilla – Sevilla, Espanha), Gláucia Maria Vasconcellos Vale (PUC-Minas – Belo Horizonte – MG, Brasil), Glicia Vieria (UFES – Vitória – ES, Brasil), Graziela Dias Alperstedt (UDESC – Florianopolis – SC, Brasil), Heitor Almeida (College of Business at Illinois – Champaign, Estados Unidos), Henrique Luiz Côrrea (CRUMMER – Flórida – FL, Estados Unidos), Janete Lara de Oliveira (UFMG – Belo Horizonte – MG, Brasil), João Luiz Becker (UFRGS – Porto Alegre - RS, Brasil), José Antônio Gomes Pinho (UFBA – Salvador – BA, Brasil), Jose Henrique de Faria (UFPR – Curitiba – PR,Brasil), José Mauro C. Hernandez (EACH-USP – São Paulo – SP, Brasil), Luciano Barin Cruz (HEC-Montréal – Quebec, Canadá), Luiz Artur Ledur Brito (FGV-EAESP – São Paulo - SP, Brasil), Maria Alexandra Cunha (FGV-EAESP – São Paulo - SP, Brasil), Maria Ceci Araújo Misoczky (UFRGS – Porto Alegre - RS, Brasil), Mário Aquino Alves (FGV-EAESP – São Paulo - SP, Brasil), Mario Sacomano Neto (UNIMEP – São Paulo – SP, Brasil), Marlei Pozzebon (HEC-Montréal – Quebec, Canadá e FGV-EAESP – São Paulo – SP, Brasil), Mateus Canniatti Ponchio (ESPM – São Paulo – SP, Brasil), Mauricio Reinert (UEM – Maringá – PR, Brasil), Paulo Bastos Tigre (UFRJ – Rio de Janeiro – RJ, Brasil), Paulo Roberto Barbosa Lustosa (UnB – Brasília – DF, Brasil), Rafael Alcadipani (FGV-EAESP – São Paulo - SP, Brasil), Rafael Goldszmidt (FGV-EBAPE – Rio de Janeiro – RJ, Brasil), Ramón Valle Cabrera (Universidad Pablo de Olavide – Sevilha, Espanha), Rebecca Arkader (UFRJ – Rio de Janeiro – RJ, Brasil), Ricardo Ratner Rochman (FGV-EAESP – São Paulo - SP, Brasil), Roberto Patrus Mundim Pena (PUC-Minas – Belo Horizonte – MG, Brasil), Rodrigo Bandeira-de-Mello (FGV-EAESP – São Paulo – SP, Brasil), Rodrigo Ladeira (UNIFACS – Salvador – BA, Brasil), Salomão Alencar de Farias (UFPE – Recife – PE, Brasil), Sérgio Bulgacov (FGV-EAESP – São Paulo - SP, Brasil), Sérgio Giovanetti Lazzarini (INSPER – São Paulo – SP, Brasil), Silvana Anita Walter (FURB – Blumenau – SC, Brasil), Sônia Maria Fleury (FGV-EBAPE – Rio de Janeiro – RJ, Brasil), Tales Andreassi (FGV-EAESP – São Paulo - SP, Brasil), Teresia D. L. van Ad. de Macedo-Soares (PUC-Rio – Rio de Janeiro – RJ, Brasil), Thomas Brashear Alejandro (University of Massachusetts Amherst – Amherst – MA, Estados Unidos), Vinicius Brei (UFRGS – Porto Alegre - RS, Brasil), Wilson Toshiro Nakamura (MACKENZIE – São Paulo – SP, Brasil).

COMITÊ DE POLÍTICA EDITORIALCarlos Osmar Bertero, Eduardo Diniz, Flávio Carvalho de Vasconcelos, Francisco Aranha, Luiz Artur Ledur Brito, Maria José Tonelli, Maria Tereza Leme Fleury, Thomaz Wood Jr.

EDITOR CHEFEEduardo Diniz

EDITOR ADJUNTOFelipe Zambaldi

EDITORA DE LIVROSRoseli Morena Porto

Publicação bimestral da Fundação Getulio VargasEscola de Administração de Empresas de São Paulo

Apoio:

PESQUISA E CONHECIMENTO | V. 55, N. 2, MARÇO-ABRIL 2015

RAE – Revista de Administração de Empresas / Fundação Getulio Vargas.Vol. 1, n. 1 (maio/ago. 1961) - . - Rio de Janeiro: Fundação Getulio Vargas, 1961 - v.; 27,5cm.

Quadrimestral: 1961–1962. Trimestral: 1963–1973. Bimestral: 1974–1977.Trimestral: 1978–1992. Bimestral: 1992–1995. Trimestral: 1996–2010.Bimestral: 2011–.

Publicada: São Paulo: FGV-EAESP, 1988–

ISSN 0034-7590

1. Administração de empresas – Periódicos. I. Fundação Getulio Vargas. II. Escola de Administração de Empresas de São Paulo.

A RAE – Revista de Administração de Empresas adota a Licença de Atribuição (BY-NC) do Creative Commons (http://creativecommons.org/licenses/by-nc/2.0) em todos os trabalhos publicados, exceto, quando houver indicação específica de detentores de direitos autorais.

CDD 658CDU 658

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ISSN 0034-7590

RAE-Revista de Administração de Empresas | FGV-EAESP

© RAE | São Paulo | V. 55 | n. 2 | mar-abr 2015

EDITORIAL

TRADUÇÃO AUTOMÁTICA, TERCEIRO ESTÁGIO DA REVOLUÇÃO DIGITAL DOS PERIÓDICOS

A RAE publica em francês, pela primeira vez em sua histó-ria, nesta edição. Já vínhamos desde 2009 promoven-do o espanhol como uma das nossas línguas de publica-ção, junto com o português e o inglês, mas temos ainda

restrição de custos para incluir novas línguas, como o francês. En-tretanto, abrimos uma exceção e consideramos o argumento dos organizadores do Fórum “Challenging Anglo-Saxon Dominance in Management and Organizational Knowledge”, publicado nesta edi-ção especial, cientes da contribuição do debate em língua france-sa sobre esse tema.

Soma-se, portanto, mais um ponto ao esforço que a RAE tem feito para a valorização do multiculturalismo na publicação científi-ca. Aceitamos o risco de incluir o francês nesta edição, ainda que ex-cepcionalmente, por estarmos antecipando o que entendemos ser o terceiro estágio da revolução digital dos periódicos científicos.

No seu primeiro estágio, essa revolução digital já promoveu grandes mudanças no mundo da publicação científica ao elevar o impacto dos periódicos considerados “não elite” (sobre esse tema, ver o artigo “Rise of the rest: the growing impact of non-elite jour-nals”, publicado em 9 de outubro de 2014, na arXiv, por Acharya et al.) e colocar no centro do debate acadêmico a questão do acesso aberto (vale ler o editorial da tradicional Science, de 19 de setembro de 2014, sobre a motivação para criar a sua versão aberta).

Um segundo estágio da revolução digital nos periódicos científicos está ainda em seu início. A facilidade de se reproduzi-rem cópias digitais mudou as práticas dos pesquisadores e tam-bém dos periódicos, incentivando um aprofundamento na dis-cussão sobre plágio (e autoplágio) e a integridade da produção científica (interessante artigo sobre o tema “Not all plagiarism re-quires a retraction”, de Praveen Chaddah, publicado na Nature em 9 de julho de 2014). A RAE, sintonizada com o estado da arte no se-tor, recém implantou um sistema antiplágio, assunto que comenta-remos com mais detalhes futuramente.

As ferramentas de tradução podem representar o início de um terceiro estágio da revolução digital no universo dos periódicos acadêmicos. Esse terceiro estágio ainda é embrionário e pouco per-ceptível. De fato, há muitas dúvidas sobre a eficácia das traduções automáticas, mas é notável a evolução dessas ferramentas nos últi-mos anos. Se não estamos no ponto em que as traduções feitas por ferramentas automáticas possam ser consideradas confiáveis, não é difícil antecipar um tempo em que teremos acesso ao que pensam os que não falam a mesma língua que nós, sem necessariamente termos de usar o atalho comum do inglês.

Àqueles que acreditam que corremos o risco de ficar “invisí-veis” ao aderirmos – ainda que eventualmente – a uma língua que não o inglês, com a velocidade de evolução dessas ferramentas, não seria absurdo pensar que, em mais alguns anos, teremos tra-dução de alta qualidade disponível a custo baixo. E, quando isso acontecer, a incorporação de ferramentas de tradução automática tornar-se-á essencial ao ambiente digital dos periódicos científicos.

Enquanto não atingimos esse patamar de eficiência na tra-dução automática, temos que considerar as questões de custo, en-tre outras, para lidar com um ambiente multilingual. Por isso, con-tinuaremos limitados às nossas atuais três línguas. Quiçá, num futuro não tão distante, consigamos ampliar o leque de línguas e culturas nas quais temas emergentes de gestão possam ser debati-dos com desenvoltura e propriedade e, muito importante, sem per-da na qualidade da compreensão.

Abre esta edição o artigo de apresentação do Fórum “Challenging Anglo-Saxon Dominance in Management and Orga-nizational Knowledge”, assinado por seus organizadores, seguido pelos quatro artigos aprovados, “Resgatando o nexo governança--gestão internacional: por uma nova ordem em gestão”, “An anti--management statement in dialogue with critical Brazilian authors”, “Cotidiano e história: construindo novos olhares na administração” e “L’apport de la sociologie pragmatique française aux études cri-tiques en management”. Completam o Fórum dois ensaios con-vidados, publicados na seção Pensata: “Picnic on a frozen river: challenges for genuine management studies in Spain” e “Le champ des études organisationnelles : le regard critique d’un chercheur plurilingue”, respectivamente de autoria dos professores Carlos J. Fernández Rodríguez, da Universidad Autónoma de Madrid, e Jean--François Chanlat, da Université Paris-Dauphine.

Publicamos, ainda, os artigos “Elementos para discussão da escravidão contemporânea como prática de gestão”, que analisa o trabalho escravo no Brasil, “Fatores que afetam a transferência da aprendizagem para o local de trabalho”, que apresenta um estudo em uma organização portuguesa, “Crimes corporativos e estudos organizacionais: uma aproximação possível e necessária”, que faz uma síntese de pesquisas sobre um tema pouco explorado na área, e “‘E se colocar pimenta?’: a construção empreendedora da Chilli Beans”, com a construção de uma narrativa sobre o marketing em-preendedor de uma famosa marca do mercado.

Completam esta edição, também dialogando com o tema do Fórum, uma resenha sobre o livro Organizations in time: history, theory, methods e as indicações bibliográficas sobre estudos pós-co-loniais e diálogos interculturais e sobre estudos organizacionais no Sul Global e as perspectivas latino-americanas.

Tenham uma boa leitura!

EDUARDO DINIZ | EDITOR CHEFE

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-759020150201

ISSN 0034-7590© RAE | São Paulo | V. 55 | n. 2 | mar-abr 2015

Março/Abril 2015

FÓRUM126 DESAFIANDO A HEGEMONIA ANGLO-SAXÃ NO CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL E DE GESTÃO Apresentação do fórum sobre desafios relativos à hegemonia anglo-saxã no conhecimento sobre as organizações. Ernesto R. Gantman, Hèla Yousfi e Rafael Alcadipani

130 UMA DECLARAÇÃO ANTI-MANAGEMENT EM DIÁLOGO COM AUTORES DE ESTUDOS CRÍTICOS BRASILEIROS Disseminação do conhecimento original brasileiro nos estudos organizacionais e introdução de uma agenda

para a área, liberada do management. Maria Ceci Misoczky, Rafael Kruter Flores e Sueli Goulart

139 RESGATANDO O NEXO GOVERNANÇA-GESTÃO INTERNACIONAL: POR UMA NOVA ORDEM EM GESTÃO Artigo que mostra como e por que organizações estatais e privadas mobilizam e constituem o nexo governança-

gestão para (re)construir uma ordem luso-brasileira e ajudar a superar restrições históricas impostas pelo eurocentrismo.

Alexandre Faria, Ana Lucia Guedes e Sergio Wanderley

151 O COTIDIANO E A HISTÓRIA: CONSTRUINDO NOVOS OLHARES NA ADMINISTRAÇÃO Discussão sobre as possíveis contribuições de estudos que fazem confluir história e cotidiano para a construção

de novos olhares sobre a Administração. Amon Barros e Alexandre de Pádua Carrieri

162 CONTRIBUIÇÃO DA SOCIOLOGIA PRAGMÁTICA FRANCESA PARA OS ESTUDOS CRÍTICOS EM ADMINISTRAÇÃO Esclarecimento sobre a contribuição que a sociologia pragmática francesa pode apresentar para os estudos

críticos em Administração. Benjamin Taupin

ARTIGOS175 ELEMENTOS PARA DISCUSSÃO DA ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA COMO PRÁTICA DE GESTÃO Sugestão de que o campo da Administração não detém compreensão dos fundamentos da pobreza e de como

práticas de gestão estariam implicadas na sua reprodução e no seu alívio, com ênfase na questão do trabalho escravo contemporâneo.

André Ofenhejm Mascarenhas, Sylmara Lopes Gonçalves Dias e Rodrigo Martins Baptista

188 FATORES QUE AFETAM A TRANSFERÊNCIA DA APRENDIZAGEM PARA O LOCAL DE TRABALHO Estudo que identifica e busca compreender fatores envolvidos no processo de transferência de aprendizagem

no trabalho de ações de treinamento distintas quanto ao design e às competências. Ana Luisa de Oliveira Marques Veloso, Maria João Silva, Isabel Silva e Antonio Caetano

202 CRIMES CORPORATIVOS E ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: UMA APROXIMAÇÃO POSSÍVEL E NECESSÁRIA Síntese de pesquisas sobre crimes corporativos com o objetivo de buscar uma aproximação do tema com o

campo dos estudos organizacionais. Cintia Rodrigues de Oliveira

209 “E SE COLOCAR PIMENTA?”: A CONSTRUÇÃO EMPREENDEDORA DA CHILLI BEANS Identificação de práticas adotadas pelo empreendedor da marca Chilli Beans para torná-la exitosa por meio da

narratologia. André Luiz Maranhão de Souza Leão, Suélen Matozo Franco, Flávia Zimmerle da Nóbrega Costa e Henrique

Cassiano Nascimento de Oliveira

PENSATA221 PIQUENIQUE EM UM RIO CONGELADO: DESAFIOS PARA ESTUDOS GENUÍNOS EM MANAGEMENT NA ESPANHA Ensaio sobre as possibilidades de desenvolvimento de conhecimento genuíno em management tendo como

contexto a Espanha, dada a vocação ambivalente do país na área. Carlos J. Fernández Rodríguez

226 O CAMPO DE ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: A VISÃO CRÍTICA DE UM PESQUISADOR MULTILÍNGUE Reflexão sobre os desafios enfrentados por países não hegemônicos na produção de conhecimento em

Administração e organizações. Jean-François Chanlat

RESENHA232 HISTORICAL TURN: EM BUSCA DE UM MARCO TEÓRICO CRÍTICO PARA ESTUDOS ORGANIZACIONAIS Alessandra de Sá Mello da Costa

INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS234 ESTUDOS PÓS-COLONIAIS E DIÁLOGOS INTERCULTURAIS Marina Dantas de Figueiredo

235 OS ESTUDOS ORGANIZACIONAIS NO SUL GLOBAL: PERSPECTIVAS LATINO-AMERICANAS Guilherme Dornelas Camara

SUMÁRIO

ISSN 0034-7590© RAE | São Paulo | V. 55 | n. 2 | mar-abr 2015

March/April 2015

CONTENTSRAE-REVISTA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS

(JOURNAL OF BUSINESS ADMINISTRATION)ISSN 0034-7590, printed issue; ISSN 2178-938X online issue

CALL FOR PAPERS

ICT for Development in Ibero-AmericaDeadline: November 30 2014

Guest editors: Antonio Díaz Andrade (Auckland University of Technology/ New Zealand) andNicolau Reinhard (FEA-USP/Brazil)

PURPOSE OF ThE SPECIAL ISSUEIbero America is a vast region that spans two continents and is home of close to 10% of the world population. Established in the 16th

century, Latin America has a long history of cultural connections with Portugal and Spain. The Latin American region is immensely rich in natural resources, yet it has the world’s most unequal wealth distribution (de Ferranti, Perry, Ferreira & Walton, 2004). A sizable portion of its inhabitants has limited or no access at all to health care and education services. Portugal and Spain, while being part of the countries with very high human development indexes, lag behind most of their European neighbours (UNDP, 2013) and have been severely affected by the euro crisis since early 2009.

It is against this background that governments, international donors and local non-governmental organisations have implemented anumber of information and communication technology (ICT) initiatives aiming at increasing economic development, enhancing socialopportunities and expanding political liberties on both sides of the Atlantic. This special issue calls for theoretical and practical contributionson how access to relevant information and the provision of critical services using ICT tools influence people’s living conditions.

ThEMES AND TOPICS

This special issue welcomes theoretical and empirical submissions with a focus on the Ibero-American region in the following areas (but not limited to):

• Unequal Access to ICT • Local identities

• Conceptual frameworks • Methodological approaches to ICT4D

• Diffusion and adoption of IT • Open business models and ICT4D

• Educational applications • Policy issues and legal frameworks

• Ethical aspects of ICT4D • Political implications of ICT4D

• Health informatics • Social innovations

• ICT and micro-entrepreneurship • Social movements

• ICT for economic development • Stakeholders engagement

• ICT4D and social inclusion • Urban issues and ICT

• ICT4D applications • Telecentres

SUBMISSION OF PAPERSPapers submitted must not have been published, accepted for publication, or presently be under consideration for publication elsewhere. To be eligible for review the paper must be set up according to the RAE’s guidelines (Available at www.fgv.br/rae). The papers must be written in English. The submission must be made through the ScholarOne system at http://mc04.manuscriptcentral.com/rae-scielo. Suitable papers will be subjected to a blind review.Please address questions to Antonio Díaz de Andrade ([email protected]).

FORUM

126 CHALLENGING ANGLO-SAXON DOMINANCE IN MANAGEMENT AND ORGANIZATIONAL KNOWLEDGEPresentation of the forum on challenges relating to Anglo-Saxon hegemony in organizational knowledge.Ernesto R. Gantman, Hèla Yousfi and Rafael Alcadipani

130 AN ANTI-MANAGEMENT STATEMENT IN DIALOGUE WITH CRITICAL BRAZILIAN AUTHORSDissemination of Brazilian original knowledge on organizational studies and introduction of an agenda for the area, free from the perspective of management.Maria Ceci Misoczky, Rafael Kruter Flores and Sueli Goulart

139 RESCUING THE INTERNATIONAL GOVERNANCE-MANAGEMENT NEXUS: FOR A NEW ORDER IN MANAGEMENTArticle showing how and why public and private organizations mobilize and constitute the governance-management nexus in order to (re)build a Portuguese-Brazilian order and help to overcome historical restrictions imposed by Eurocentrism.Alexandre Faria, Ana Lucia Guedes and Sergio Wanderley

151 EVERDAY LIFE AND HISTORY: CONSTRUCTING NEW PERSPECTIVES IN MANAGEMENTDiscussion on the potential contributions of studies that converge history and daily life towards the construction of new approaches on Administration.Amon Barros and Alexandre de Pádua Carrieri

162 THE CONTRIBUTION OF FRENCH PRAGMATIC SOCIOLOGY TO CRITICAL MANAGEMENT STUDIESClarification on the contribution that the pragmatic French sociology may provide to critical studies on Administration.Benjamin Taupin

ARTICLES

175 ELEMENTS FOR DISCUSSION OF MODERN SLAVE LABOR AS A MANAGEMENT PRACTICESuggestion that the Administration field lacks understanding on the fundamentals of poverty and how such management practices would imply in their reproduction and relief, with emphasis on the issue of contemporary slave labor.André Ofenhejm Mascarenhas, Sylmara Lopes Gonçalves Dias and Rodrigo Martins Baptista

188 FACTORS AFFECTING THE TRANSFER OF LEARNING TO THE WORKPLACEStudy that identifies and tries to understand factors involved in the process of transfer of learning in the work of separate training actions relative to design and skills. Ana Luisa de Oliveira Marques Veloso, Maria João Silva, Isabel Silva and Antonio Caetano

202 CORPORATE CRIMES AND ORGANIZATIONAL STUDIES: A POSSIBLE AND NECESSARY APPROACHSummary of researches on corporate crimes in order to find an approximation of the subject with the field of organizational studies.Cintia Rodrigues de Oliveira

209 “WHAT IF IT PUT PEPPER?”: CHILLI BEANS’ ENTREPRENEURIAL CONSTRUCTIONIdentification of practices adopted by the endeavoring brand Chilli Beans to make it successful by using Narratology. André Luiz Maranhão de Souza Leão, Suélen Matozo Franco, Flávia Zimmerle da Nóbrega Costa and Henrique Cassiano Nascimento de Oliveira

ESSAYS

221 PICNIC ON A FROZEN RIVER: CHALLENGES FOR GENUINE MANAGEMENT STUDIES IN SPAIN Essay on the possibilities of genuine knowledge development in management with Spain as a context, given the country’s ambivalent vocation on the field. Carlos J. Fernández Rodríguez

226 THE FIELD OF ORGANIZATIONAL STUDIES: CRITICAL EYE OF A MULTILINGUAL RESEARCHERReflection on the challenges faced by non-hegemonic countries in knowledge production on management and organizations. Jean-François Chanlat

REVIEW

232 HISTORICAL TURN: NEW CRITICAL THEORETICAL FRAMEWORK FOR ORGANIZATIONAL STUDIESAlessandra de Sá Mello da Costa

BOOK RECOMMENDATION

234 POSTCOLONIAL STUDIES AND INTERCULTURAL DIALOGUESMarina Dantas de Figueiredo

235 THE ORGANIZATIONAL STUDIES IN THE GLOBAL SOUTH: LATIN AMERICAN PERSPECTIVESGuilherme Dornelas Camara

RAE-REVISTA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS(JOURNAL OF BUSINESS ADMINISTRATION)

ISSN 0034-7590, printed issue; ISSN 2178-938X online issue

CALL FOR PAPERSTransnational Governance regimes in the Global South:

Multinational, States and NGOs as political actorsDeadline: August 31 2015

Guest editors: Glenn Morgan (Cardiff Business School), Marcus Vinícius P. Gomes (FGV-EAESP) and Paola Perez-Aleman (McGill University)

PURPOSE OF THE SPECIAL ISSUEPolanyi’s ‘double movement’ described how social actors construct institutions that confine and regulate markets. In his view, the history of capitalism in the 19th and early 20th centuries could be understood in terms of when and how certain key aspects of life were taken out of the market sphere and placed predominantly within the state. The state needed to intervene as a counterweight to the power of the market. In recent decades, neo-liberalism and globalization have changed this terrain and undermined the capability of states to perform such a role. Under conditions of free movement of capital, multinationals’ ability to move locations and shop for more favorable regimes has been massively enhanced. States com-pete against each other for multinational investment by offering incentives, tax concessions, etc. and labor movements, where they still exist, are also drawn into these processes. On top of this, states have also tended to be absent from or neglectful of a whole range of issues around environment and sustainability which have increased in saliency and importance for their electorates, leaving multina-tionals operating in these areas with limited monitoring or supervision of their ac-tivity. The result in many countries has been disillusion amongst electorates with the prevailing political parties and the rise, on the one hand, of extremist populism and on the other hand, of transnational social movements and NGOs using new forms of activism as an alternative way to fetter the unrestrained market power exercised by MNCs and local elites.

States are increasingly having to find new ways to shape markets for social purposes and foster development in these contexts. In a number of areas such as human rights, labor rights (concerning trade unions, wages and overtime, health and safety at work, child labor, human slavery), indigenous land rights and environmental issues (in forestry, marine life, biodiversity, climate change, among others), states have increasingly negotiated with large multinationals, social movements, international organizations and NGOs to develop transnatio-

nal governance systems that set transparent standards and codes of conduct for corporations. These multi-stakeholder initiatives are emerging to identify, discipline and reconstitute naked market mechanisms so that a wide range of social and environmental standards of production have to be taken into ac-count and implemented by firms. This form of taming the market depends on corporations’ fear that failure to abide by standards will lead to reputational damage that in turn will impact on markets through activist and aware consu-mers boycotting products. More recently states have been using these systems as the basis for denying entry to their markets to products that do not conform to these standards, e.g. as in the EU’s FLEGT system for forestry products. The result has been the rise of transnational communities of technical experts (in creating certification systems and monitoring and auditing them) connecting states, social movements and NGOs and multinational firms into a sphere of negotiated orders that aims to institutionalize soft law regimes based on cor-porate codes, reputation management and responsible consumption. These developments constitute challenges for state regulation in terms of how the state connects to the issues raised by NGOs and social movements and how far states, particularly in the Global South and in big and powerful economies such as the BRICs are willing to sacrifice areas of sovereignty to transnational governance regimes promoted mainly from the Global North and often driven by the interests of consumers and MNCs from the Global North. Finally these processes also create tensions in social movements and NGOs with more ra-dical agendas that challenge the fundamental principles of global capitalism – how do they reconcile their goals with pragmatic involvement in soft law trans-national governance regimes?

In this Call therefore we are interested in both the limits to transnational governan-ce as well as how it has grown and developed.

THEMES AND TOPICSThe guest editors welcome submissions related, but not limited to, the following issues:

• The impact of transnational governance mechanisms on issues of sustainability, human rights and inequality.

• The partnership between global and local social movements to address issues of inequality and sustainability.

• The interaction of global social movements with local indigenous communities and grassroots’ movements in limiting the power of MNCs and in opening governance to previously excluded groups.

• The role of states in relation to transnational governance and soft law processes.

• The processes whereby transnational communities of experts are formed and maintained.

• The impact of social media networks in the transnational governance arena.

• The different repertoires NGOs use to different audiences in order to legitimate their role, e.g. as ‘guerrilla’ for their radical supporters, as ‘research’ for their policy making community or as ‘consultancy’ when taking on monitoring and auditing tasks for MNCs.

SUBMISSION OF PAPERSPapers submitted must not have been published, accepted for publication, or presently be under consideration for publication elsewhere. To be eligible for review the paper must be set up according to the RAE’s guidelines (available at www.fgv.br/rae). The papers must be wri-tten in English. The submission must be made through the ScholarOne system at http://mc04.manuscriptcentral.com/rae-scielo. Suitable papers will be subjected to a blind review. Please address questions to Marcus Vinícius P. Gomes ([email protected]).

RAE-REVISTA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS(JOURNAL OF BUSINESS ADMINISTRATION)

ISSN 0034-7590, printed issue; ISSN 2178-938X online issue

CALL FOR PAPERS

ICT for Development in Ibero-AmericaDeadline: November 30 2014

Guest editors: Antonio Díaz Andrade (Auckland University of Technology/ New Zealand) andNicolau Reinhard (FEA-USP/Brazil)

PURPOSE OF ThE SPECIAL ISSUEIbero America is a vast region that spans two continents and is home of close to 10% of the world population. Established in the 16th century, Latin America has a long history of cultural connections with Portugal and Spain. The Latin American region is immensely rich in natural resources, yet it has the world’s most unequal wealth distribution (de Ferranti, Perry, Ferreira & Walton, 2004). A sizable portion of its inhabitants has limited or no access at all to health care and education services. Portugal and Spain, while being part of the countries with very high human development indexes, lag behind most of their European neighbours (UNDP, 2013) and have been severely affected by the euro crisis since early 2009.

It is against this background that governments, international donors and local non-governmental organisations have implemented a number of information and communication technology (ICT) initiatives aiming at increasing economic development, enhancing social opportunities and expanding political liberties on both sides of the Atlantic. This special issue calls for theoretical and practical contributions on how access to relevant information and the provision of critical services using ICT tools influence people’s living conditions.

ThEMES AND TOPICS

This special issue welcomes theoretical and empirical submissions with a focus on the Ibero-American region in the following areas (but not limited to):

• Unequal Access to ICT • Local identities

• Conceptual frameworks • Methodological approaches to ICT4D

• Diffusion and adoption of IT • Open business models and ICT4D

• Educational applications • Policy issues and legal frameworks

• Ethical aspects of ICT4D • Political implications of ICT4D

• Health informatics • Social innovations

• ICT and micro-entrepreneurship • Social movements

• ICT for economic development • Stakeholders engagement

• ICT4D and social inclusion • Urban issues and ICT

• ICT4D applications • Telecentres

SUBMISSION OF PAPERSPapers submitted must not have been published, accepted for publication, or presently be under consideration for publication elsewhere. To be eligible for review the paper must be set up according to the RAE’s guidelines (Available at www.fgv.br/rae). The papers must be written in English. The submission must be made through the ScholarOne system at http://mc04.manuscriptcentral.com/rae-scielo. Suitable papers will be subjected to a blind review.Please address questions to Antonio Díaz de Andrade ([email protected]).

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Marzo/Abril 2015

SUMARIOFORO126 DESAFIANDO LA HEGEMONÍA ANGLOSAJONA EN EL CONOCIMIENTO Y LA GESTIÓN ORGANIZACIONAL Presentación del foro sobre desafíos relativos a la hegemonía anglosajona en el conocimiento sobre las

organizaciones. Ernesto R. Gantman, Hèla Yousfi y Rafael Alcadipani

130 UNA DECLARACIÓN ANTI-MANAGEMENT EN DIÁLOGO CON AUTORES DE ESTUDIOS CRÍTICOS BRASILEÑOS Diseminación del conocimiento original brasileño en los estudios organizacionales e introducción de una

agenda para el área, liberada del management. Maria Ceci Misoczky, Rafael Kruter Flores y Sueli Goulart

139 RESCATANDO EL NEXO GOBIERNO-GESTIÓN INTERNACIONAL: POR UN NUEVO ORDEN EN GESTIÓN Artículo que muestra cómo y por qué organizaciones estatales y privadas movilizan y constituyen el nexo

gobernanza-gestión para (re)construir un orden luso-brasileño y ayudar a superar restricciones históricas impuestas por el eurocentrismo.

Alexandre Faria, Ana Lucia Guedes y Sergio Wanderley

151 LO COTIDIANO Y LA HISTORIA: CONSTRUYENDO NUEVOS ENFOQUES EN LA ADMINISTRACIÓN Discusión sobre las posibles contribuciones de estudios que hacen confluir historia y cotidiano para la

construcción de nuevas miradas sobre la Administración. Amon Barros y Alexandre de Pádua Carrieri

162 CONTRIBUCIÓN DE LA SOCIOLOGÍA PRAGMÁTICA FRANCESA PARA ESTUDIOS CRÍTICOS EN ADMINISTRACIÓN Esclarecimiento sobre la contribución que la sociología pragmática francesa puede presentar para los estudios

críticos en Administración. Benjamin Taupin

ARTÍCULOS175 ELEMENTOS PARA LA DISCUSIÓN DE LA ESCLAVITUD CONTEMPORÁNEA COMO PRÁCTICA DE GESTIÓN Sugestión de que el campo da Administración no detiene comprensión de los fundamentos de la pobreza y de

cómo prácticas de gestión estarían implicadas en su reproducción y en su alivio, con énfasis en la cuestión del trabajo esclavo contemporáneo.

André Ofenhejm Mascarenhas, Sylmara Lopes Gonçalves Dias y Rodrigo Martins Baptista

188 FACTORES QUE AFECTAN LA TRANSFERENCIA DEL APRENDIZAJE PARA EL LOCAL DE TRABAJO Estudio que identifica y busca comprender factores envueltos en el proceso de transferencia de aprendizaje en

el trabajo de acciones de entrenamiento distintas cuanto al design y a las competencias. Ana Luisa de Oliveira Marques Veloso, Maria João Silva, Isabel Silva y Antonio Caetano

202 CRÍMENES CORPORATIVOS Y ESTUDIOS ORGANIZACIONALES: UNA APROXIMACIÓN POSIBLE Y NECESARIA Síntesis de pesquisas sobre crímenes corporativos con el objetivo de buscar una aproximación del tema con el

campo de los estudios organizacionales. Cintia Rodrigues de Oliveira

209 “SI SE PONE PIMIENTA?”: LA CONSTRUCCIÓN EMPRENDEDORA DE LA CHILLI BEANS Identificación de prácticas adoptadas por el emprendedor de la marca Chilli Beans para volverla exitosa por

medio de la narratología. André Luiz Maranhão de Souza Leão, Suélen Matozo Franco, Flávia Zimmerle da Nóbrega Costa y Henrique

Cassiano Nascimento de Oliveira

PENSATA221 PICNIC EN UN RÍO CONGELADO: DESAFÍOS PARA LOS ESTUDIOS GENUINOS EN MANAGEMENT EN ESPAÑA Ensayo sobre las posibilidades de desarrollo de conocimiento genuino en management teniendo como contexto

la España, dada la vocación ambivalente del país en el área. Carlos J. Fernández Rodríguez

226 EL CAMPO DE LOS ESTUDIOS DE ORGANIZACIÓN: EL OJO CRÍTICO DE UN INVESTIGADOR MULTILINGÜE Reflexión sobre los desafíos enfrentados por países no hegemónicos en la producción de conocimiento en

Administración y organizaciones. Jean-François Chanlat

RESEÑA232 HISTORICAL TURN: NUEVO MARCO TEÓRICO CRÍTICO PARA ESTUDIOS ORGANIZACIONALES Alessandra de Sá Mello da Costa

INDICACIONES BIBLIOGRÁFICAS234 ESTUDIOS POSCOLONIALES Y DIÁLOGOS INTERCULTURALES Marina Dantas de Figueiredo

235 LOS ESTUDIOS ORGANIZACIONALES EN EL SUR GLOBAL: PERSPECTIVAS LATINOAMERICANAS Guilherme Dornelas Camara

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ERNESTO R. [email protected] at Universidad de Buenos Aires, Facultad de Ciencias Económicas – Buenos Aires, Argentina

HÈLA YOUSFI [email protected] at Université Paris-Dauphine, Departament Management and Organization – Paris, France

RAFAEL [email protected] at Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de São Paulo – São Paulo – SP, Brazil

FORUMInvited Article

CHALLENGING ANGLO-SAXON DOMINANCE IN MANAGEMENT AND ORGANIZATIONAL KNOWLEDGE

The international scene of management and organizational knowledge (MOK) is dominated by concepts, models and theories originated in the Anglo-Saxon World. Such hegemony in the field can be understood as a form of epistemic colonialism, sustained and reproduced by power relations within the academic world (Ibarra-Colado, 2006). It is, then, pertinent to question the desirability of this state of affairs, especially in a scenario of international crisis that is challenging the long established Western global prevalence. The fact of Anglo-Saxon hegemony in MOK is not new, its consequences are clear: the exclusion or subalternization of alternative perspectives originated in other national contexts. It is hard to talk of true “international” context in the discipline if there is a continuing process of hegemony construction that blocks, or at least hinders, the participation of scholars working in non-Anglo-Saxon countries (Alcadipani & Reis Rosa, 2011). The goal of this special forum is to explore whether, and how, this hegemony can be effectively challenged.

To gain attention in “international” academia, it is essential to be heard in the English-speaking world. Paradoxically, even those who opposed Anglo-Saxon hegemony, or more broadly the hegemony of Western thought, such as the postcolonial theorists, publish their works in English to make them known to a wider audience. An interesting example in this regard is that of the Argentine scholar Walter Mignolo, one of the most prominent theorists of postcolonialism in its Latin Americanist version and professor at Duke University. When asked why he wrote his “The idea of Latin America” in English, being an academic trained in Argentina and France, Mignolo (González, 2006) just answered “in the domain in which the book operates, I suspect there are more Spanish speakers who read English than the other way around”. This suggests that the key to success in social sciences is largely the ability to participate in the academic system of the Anglosphere. Would Mignolo have acquired the same theoretical relevance if he had developed his academic career in his native Argentina? It is highly unlikely. Does this mean that scholars from peripheral countries must spend some time working in the Anglosphere, or even their whole academic career there, as did Ernesto Laclau, to effectively spread their ideas? Although there are examples to the contrary — such as Enrique Dussel, an Argentine philosopher currently residing in Mexico and a prominent representative of Latin American social thought; Jacques Rancière, one of the most important French philosophers who offers a radically new conception of emancipation; and, the Mexican organizational theorist Eduardo Ibarra-Colado, the alluring power of the material and symbolic resources (i.e., prestige) provided by English-speaking countries, and mainly the U.S. and U.K., is a decisive factor in the construction of the epistemic hegemony of these countries as engines of knowledge in the social sciences and privileged locales for its diffusion.

Moreover, the evaluation system of individual scholarly productivity, which has promoted the growth of “international” scientific databases, is clearly biased towards English-language

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DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-759020150202

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AUTHORS | Ernesto R. Gantman | Hèla Yousfi | Rafael Alcadipani

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publications with great prestige and impact; and so it becomes another factor that perpetuates Anglo-Saxon dominance in the scientific world. Of course, it could be argued that the linguistic imperialism of English has a positive side, as it facilitates communication within the global community of scientists, thus reducing an inevitable “Babel tower” effect. However, in social sciences, this linguistic aspect, more than an element that assists communication, acts basically as a filter, an exclusion parameter, since what is regarded as scholarly publications require a high level of stylistic proficiency that almost only native speakers possess. The advantages that this brings for them are huge. For social scientists who are not from the Anglosphere, a solid mastery of English is a necessity for survival. In contrast, in the Anglosphere, foreign language learning is only relevant for specialists in area studies and, even for them, high proficiency in writing is not quite essential. Parochialism thus becomes very common in social sciences, which nevertheless should be more open to what is produced in other nations and cultures. Ventriss et al. (2010), for example, claim that the contributions of the Brazilian sociologist Alberto Guerreiro Ramos to the study of organizations did not have the reception that they really deserved among US scholars, and they attribute this problem to the parochialism that prevails in this academic environment.

Moreover, the Anglo Saxon world is home to what can be regarded as the “world class” publishing houses, universities, business schools, accreditation bodies and all sort of parafernalia that allow knowledge to travel among different locations. The periphery in MOS is created and sustained via everyday practices and actions that confer the Anglo-Saxon world a prevalent and dominant position. Besides, scholars outside the Anglosphere, including those in less developed countries, actively take part in the creation of centers and peripheries in MOS, as we also tend to deem our knowledge and academic practices as “inferior” to those of the North.

In this context, in which prestige and financial resources are almost monopolized by the Anglosphere academia, in a process continuously fed by the major academic publishers and «  international  » scientific databases, Anglo-Saxon hegemony appears as monolithic, formidable. Yet the development of the social sciences is not limited to the Anglo-Saxon countries, even despite the parochialism of some English-speaking scholars. In sociological theory, the enterprise of knowledge creation is more plural, although with a heavy Eurocentric bias. For example, in a book of readings on contemporary social theory, Calhoun et al. (2002) devote nearly half of it to theorists outside the Anglosphere (even considering Zygmunt Bauman, a Polish émigré). If this occurs in social theory, could MOK achieve a similar level of plurality? This seems unlikely, especially

given the historical imprinting of the US on the evolution of management education, unless academic parochialism in the Anglosphere diminishes and there is also an increase in research collaboration between Anglo-Saxon scholars, currently the main gatekeepers in the field, and scholars working in other countries. In addition, researchers from other countries should pay more attention to traditions of thought that do not come from the Anglosphere. Otherwise, their works would still be a mere reflection of the dominant paradigms and theories in MOK and, thus, an instrumental form of internal epistemic colonialism (Ibarra Colado, 2006).

However, despite financial and intellectual pressure to standardize itself according to US criteria, this hegemonic process has also been met with varying levels of resistance. One can observe examples in some European countries (Chanlat 1994, Berry 1995; Taskin & de Nanteuil, 2011; Golsorkhi, Huault, & Leca, 2009), Latin America (Ibarra-Colado, 2006; Guedes & Faría, 2010; Misoczky, 2011; Paes de Paula, 2012; Ibarra-Colado) and Africa (Nkomo, 2011). Besides, some scholars in the Anglo-Saxon world such as Prasad (2003, 2012), Cooke (2004), Westwood (2006), Mir and Mir (2013), to name but a few, have been critical to the colonial dimension attached to Anglo-Saxon MOK, and our special forum is another step to add to a growing body of work aimed at offering alternative ways to think about management and organizations. So far, MOK knowledge in the peripheries have been produced emulating the Anglo Saxon world, but it is essential to generate MOK that is related to the problems and circunstances of the non-Anglo-Saxon world.

We hope that the papers selected for this special forum will help opening the game of MOK to new approaches to studying organizational phenomena. If greater plurality in the discipline is considered a worthy goal, and we believe it should, then the contributions that we outline below are a positive step in this direction. Since language and content are dialectically interrelated, we have made the choice of keeping the selected articles in the original language in which they were written.

The article entitled “An anti-management statement in dialogue with critical Brazilian authors in organization studies” by Misoczky, Kruter, and Goulart (2015) present a clear example of indigenous organizational knowledge that, despite its relevance, and pioneering role, to critical management scholarship has not received much attention at the international level. Kruter et al. (2015) present and briefly discuss the works of Alberto Guerreiro Ramos, Maurício Tragtenberg, Fernando Prestes Motta and José Henrique de Faria, and argue that these authors represent a particular stance of an anti-managerialist perspective to organization studies in that they do not subordinate the latter to a managerialist emphasis in practice

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and novelty. In this regard, it demonstrates that some Brazilian scholars have successfully developed organization studies (OS) in Brazil in an autonomous fashion from management (M) theory and praxis. Misoczky et al. (2015) briefly discuss the thesis that OS is subordinated to M, and then present the contributions of the four Brazilian pioneers in CMS. Interestingly enough, some of the works mentioned in the article not only predate CMS, but also the labor process theory originated in Braverman’s Labor and Monopoly Capital. The relevance of the first three authors considered (the work of Faria (2015), a disciple of Tragtenberg, dates from more recent decades) can be easily observed in recent Brazilian critical management scholarship (Davel & Alcadipani, 2003; Paes de Paula et al., 2010) and Guerreiro Ramos even had some influence on public administration theory at an international level, possibly because he spent his last years teaching at the University of Southern California (Ventriss & Candler, 2005). However, they do not suggest that Northern OS should be substituted by Southern OS, but rather their basic claim is that OS should be emancipated from M, a contention that has no “cardinal priority” (West, South or whatever one may prefer). Thus, what is needed is a pluriversal approach to understanding organizational phenomena, and the Brazilian critical tradition in the field is a step forward in this regard, providing a direction that has been consistently followed by contemporary Brazilians theorists (among others Alcadipani & Reis Rosa, 2011; Alcadipani & Faria, 2014; Faria et al., 2010; Misoczky & Kruter, 2012).

We have included two articles in Portuguese. In the first one, entitled “Resgatando o nexo governança-gestão internacional: por uma nova ordem em gestão”, Faria, Guedes, and Wanderley (2015) attempt to overcome the western order underpinning the literature on Internacional Management and International Business, or the international management-governance nexus. The manuscript does so by (re)construction of a Luso-Brazilian or Brasilo-Portuguese order that challenges the hegemony of the neoliberal order attempting to build a new order in management towards a world in which many worlds and knowledges would be able to coexist. The second article, “O cotidiano e a história: construindo novos olhares sobre a Administração” authored by Barros and Carrieri (2015), aims to discuss how studies in history and everyday life can contribute to the development of new perspectives on management. The paper proposes to approximate management, history and studies on everyday life in order to produce alternative approaches within management. Both articles show that Brazil has a long tradition in challenging the epistemic dominance of the Anglo Saxon World. Finally, in his paper “L’apport de la sociologie pragmatique francaise aux etudes critiques en

management”, the French scholar Taupin (2015) argues for the importance of French pragmatic sociology, mainly from Luc Boltanski and Laurent Thévenot, to the critique of domination in organizations. The paper suggests that such an approach can help us make sense of the new forms of domination in contemporary organizations.

We have also included two invited essays. The first was authored by Carlos Jesús Fernández Rodríguez, a Spanish sociologist who has done a pioneering work in introducing CMS to a Spanish-speaking audience (Fernández Rodríguez, 2007a) as well as contributing to a critical understanding of the functions of management discourse in contemporary society (Fernández Rodríguez, 2007b; Alonso & Fernández Rodríguez, 2013). In his essay, Fernández Rodríguez (2015) makes a brief historical sketch of how Anglo-Saxon, and mainly US, perspectives became hegemonic in the field of Spanish business education. He acknowledges that there were some indigenous perspectives in Spanish MOS, mostly as a result of a process of hybridization between the new theories and concepts created in the US Academia and the domestic cultural influences on Spanish scholars, although the current situation is that Spanish management scholars are mostly interested in producing publications that could be accepted in top US management journals, which requires following the theoretical framewoks and methodological approaches dictated by the orthodoxy in the field. Fernández Rodríguez is not too optimistic about a drastic change in this state of affairs, but also stressed that there is some limited space for working in new, critical directions in MOS. In this regard, he suggests that the construction of an alliance with Latin American and European scholars is of paramount importance to generate new scholarly research in the field that goes beyond the reproduction of Anglo-Saxon theories and models.

In the concluding invited essay, the renowned French scholar Jean-Francois Chanlat offers some reflections on the main topic of this forum. According to Chanlat (2015), the production of management and organizational knowledge can be characterized as a field, following Bourdieu’s concept, with a clear North-American hegemony. However, he observes the existence of regional and national loci of resistance, where there is a certain degree of autonomy relative to the hegemonic theoretical and methodological approaches. He also notes that US hegemony forces scholars outside the Anglosphere to adapt their research to the dominant concepts and methods in order to conform with the expectations of the top journals in the field, as they seek international recognition. Chanlat also discusses the emergence of a possible Latin space in MOS. Finally, given the contemporary social problems and the challenge of

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attaining some form of sustainable development, he claims there is a sociopolitical agenda that organizational scholars working outside the Anglosphere are well-equipped to address, especially in the context of a new, multipolar world order.

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MARIA CECI [email protected] Professor at Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Administração – Porto Alegre – RS, Brazil

RAFAEL KRUTER [email protected] at Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Administração – Porto Alegre – RS, Brazil

SUELI [email protected] at Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de Administração – Porto Alegre – RS, Brazil

FORUM Submitted 07.27.2013. Approved 11.28.2013This article is co-authored by a member of RAE’s Scientific Editorial Board and was evaluated by double blind review process with impartiality and indepedence.Scientific Editors: Ernesto R. Gantman, Helà Yousfi and Rafael Alcadipani

AN ANTI-MANAGEMENT STATEMENT IN DIALOGUE WITH CRITICAL BRAZILIAN AUTHORSUma declaração anti-management em diálogo com autores de estudos críticos brasileiros

Una declaración anti-management en diálogo con autores de estudios críticos brasileños

ABSTRACTThe expressions Management and Organization Studies and Management and Organization Knowle-dge are expressions of an Anglo-Saxon construct. The association of Organization Studies (OS) with Management (M) produces the subordination of the former to the latter. In a different direction, a critical approach elaborated in Brazilian OS provides an original body of knowledge that expresses an anti-management (A-M) attitude. As the Brazilian A-M authors point out, the distinction between North/South M is irrelevant; what is relevant is a coherent pluriversal A-M attitude. In this paper, we honor and disseminate the Brazilian original body of knowledge on OS and introduce an OS agenda that is liberated from M.KEYWORDS | Organization studies, anti-management, organization, social struggles, critique.

RESUMOAs expressões Estudos Organizacionais e Management e Conhecimento Organizacional e Management são expressões de um construto anglo-saxão. A associação dos Estudos Organizacionais (EOs) com Management produz a subordinação do primeiro ao último. Em outra direção, os EOs críticos brasileiros oferecem um conhecimento original que expressa uma atitude anti-management (A-M). Os autores A-M brasileiros indicam que a distinção entre M do Norte ou do Sul é irrelevante; o que é relevante é uma atitude A-M coerente. Neste artigo, honramos e disseminamos o conhecimento original brasileiro nos EOs e introduzimos uma agenda de EOs liberados do M.PALAVRAS-CHAVE | Estudos organizacionais, anti-management, organização, lutas sociais, crítica.

RESUMENLas expresiones Estudios Organizacionales y Management y Conocimiento Organizacional y Management son expresiones de un constructo anglosajón. La asociación de los Estudios Organizacionales (EOs) con Management produce la subordinación del primero al último. En otra dirección, los EOs críticos brasileños ofrecen un conocimiento original que expresa una actitud anti-management (A-M). Los autores A-M brasileños indican que la distinción entre M del Norte o del Sur es irrelevante; lo que es relevante es una actitud A-M coherente. En este artículo, honramos y diseminamos el conocimiento original brasileño en los EOs e introducimos una agenda de EOs liberados del M.PALABRAS-CLAVE | Estudios organizacionales, anti-management, organización, luchas sociales, crítica.

RAE-Revista de Administração de Empresas | FGV-EAESP

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-759020150203

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The expressions Management and Organization Studies (MOS) and Management and Organization Knowledge (MOK) are themselves expressions of an Anglo-Saxon construct. More than that, the association of Organization Studies (OS) with Management (M) produces, in fact, the subordination of the former to the latter. This subordination has many practical implications: our PhD courses tend to be oriented by the typical managerialist obsession with practice and novelty. Any research that does not contribute to the practice of management is considered outside the field; the study of the organization of social struggles is considered irrelevant; critical management studies (CMS) ends up being an oxymoron – the critical dimension is jeopardized by the impossibility of negating management and contributing to management; among others.

Instead, if we pay attention to the critical Brazilian field of OS, we recognize that the original knowledge produced by a relevant group of authors – Alberto Guerreiro Ramos, Maurício Tragtenberg, Fernando Prestes Motta and, more recently, José Henrique de Faria – expresses an anti-management (A-M) attitude. Therefore, in the Brazilian context, the autonomy of OS from M has historically been the driving force for a creative, autonomous and politically situated knowledge production.

This paper intends to honor this tradition and to discuss its contribution towards the liberation of OS from M. This liberation is indispensable for the exercise of plural, decentered and democratic relations organized around projects based on solidarity and pluriversal collectives (Dussel, 2002), instead of singular, centered, subordinated relations organized around projects based on the support of the continually expanding process of capital accumulation.

In the next part we briefly discuss the growing subordination of OS to M; following that we review the original contributions of the critical Brazilian authors while focusing on the A-M dimension of their work. Finally, we outline a non-exhaustive agenda for further developments of OS that are liberated from M.

THE DOMINANCE OF MANAGEMENT OVER ORGANIZATION STUDIES: A BRIEF REVIEW

A brief history of M inevitably starts with Taylor and the development of production engineering knowledge (Shenhav, 1999) followed by the Human Relations Movement, in which the aim is to ensure control over workers in search of efficiency (Wahrlich, 1986), and the construction of the ideology of administrative

harmony (Tragtenberg, 1974). Management knowledge (MK) evolved along a path that consisted of incremental changes until the discontinuity introduced by Peter Drucker. According to Ibarra-Colado (2006, p. 464), “[…] chronologically, we first find engineering knowledge, then psychological knowledge and finally MK […]”. This knowledge is constituted of abilities and techniques intended to produce efficacy and efficiency, constant control and performance maximization (Bertero, 2006).

Drucker has been defined as the inventor of M (Byrne, 2005), the father of M (Malik, 2009) or modern M (Starbuck, 2013) or M theory (The Economist, 1994; Ostdick, 2013). For Malik (2009, p. 170), “[…] he laid the foundation for M as a profession of effectiveness […]. By contrast Tragtenberg (1980a, p. 13) defined his propositions as a “[…] neo-capitalist ideology […]” that has the “[…] function of legitimating the status quo as the only one possible and desirable […]”. Medina and Misoczky (1997, p. 261) analyzed Drucker’s (2002a, 2002b, 2002c) discourse and identified “[…] the reinforcement of knowledge, beliefs and values that contribute to the fatalist naturalization of neoliberal globalization”.

For Drucker, M is neither a science nor an art; it is a practice (Byrne, 2005). He created a theory that despises theory: “What are theories? Nothing. The only thing that matters is how you touch people. Have I given anyone insight? […] Insight lasts; theories don’t” (Drucker apud Ostdick, 2013, p. 2).

The institutionalization of M as a discipline included the creation of organizations, such as the Academy of Management (AOM), in 1936, which aims to “[…] inspire and enable a better world through our scholarship and teaching about M and organizations” (AOM, 2013). The noun ‘organizations’ expresses reification; it refers to units of analysis (Cooke, 2004 and 2010; Dar, 2008) that can be separated into “[…] a series of discrete problems that can be solved through the application of technical expertise […]” (Murphy, 2008, p. 154).

In the European context, the counter-part of the AOM was the European Group of Organization Studies (EGOS, 2013), created in 1973. It institutionalized OS as a discipline that intends to be diverse and plural: “EGOS has its identity and intellectual roots in the social sciences. It encourages an analytical and theoretical approach towards organizations”. The aims of EGOS (2013) are: “[…] to further the theoretical and/or empirical advancement of knowledge about organization, organizing and the context in which organizations operate”. The focus and the value attached to theory, the consideration of the verb organize and the attention to the context are wider than those presented by the AOM.

Despite these differences, in recent decades we have witnessed the domination of OS by M. Why is it so? For March

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(2007, p. 10 and 14), EGOS was conceived “[…] as a kind of intellectual social movement within organizations scholarship, defending, developing and extending a particular point of view and producing, augmenting and proclaiming European resistance […]” to the hegemony of North-American scholars. For him, in the USA, the academic institutionalization of M occurred in the context of postwar economic recovery; while in Europe, the academic institutionalization of OS “[…] occurred in the decades following the protests and counterculture movement of the 1960s and 1970s”. Kelley, Mills, and Cooke (2006) offer a distinct explanation that links academic M in the USA to the Cold War period. Nyland and Heenan (2005) provide evidence that McCarthyism was associated with the eradication of the influence of left-liberal and feminist thinkers. (The influence of the Cold War on how M ideas were imported into Brazil has also been analyzed – see: Alcadipani & Bertero, 2012).

However, March argues (2007) the resistance to USA (and to M) hegemony failed, resulting in the creation of the myth of OS as a distinct field. The dominance of OS by M has been exacerbated with the triumph of markets, according to March (2007); or with instruments to restore class dominance within the wider neoliberal project, according to Harvey (2007).

To complete this brief discussion of the dominance of M over OS, which is consolidated in the Anglo-Saxon construct MOS or MOK, we quote Parker (2002, p. 222):

[...] what of M? Is this a word and associated set of concepts that can also be reimagined and expanded in more emancipatory directions? [...] As it is presently constituted, M is premised on the separation of intellectual and practical labor. It is intimately tied up with a particular professionalization project, with certain ideas about expertise and personhood, as well as the huge legitimation industry associated with the business school, training centers, consultancy firms, and magazine and books publishers and so on. Yet, it is presented as if it were a neutral technology of organizing [...]. It is not a question of who manages, of substituting bad M for good M, but a question of the construction of historically particular organizational forms. Organization, in the most general sense of patterning and arranging, is not necessary managerial.

It is also not a question of substituting Northern M for Southern M, as seems to be the argument put forward by

Alcadipani, Khan, Gantman & Nkomo (2012, p. 34): “the studies of MOK portraying the South partly depicted domestic practices as dysfunctional relative to some ideal form of effective and modern M practices from the North”. The following review of the Brazilian original A-M will make this reservation clearer.

However, before that, it is necessary to say that, in recent decades, an A-M perspective has been present in most of the academic institutions involved with public administration and business. More than that, this perspective has become, for some of them, a defining feature. What makes the Brazilian critical tradition (Paula, Maranhão, Barreto & Klechen, 2010) worth mentioning is not any assumption of exclusivity, but its originality and the fact that most of it predates CMS and is contemporary with key foundational works, such as “Labor and Monopoly Capital” (Braverman, 1974).

THE ORIGINAL ANTI-MANAGEMENT BRAZILIAN THOUGHT ON OSThe fact that this critique of M from the OS point of view existed long before CMS gained relevance in the international scenario enables us to say that the original Brazilian OS was critical from the start. However, as Brazilians, we should recognize that the vast majority of our research and teaching reproduces mainstream international approaches, positioning ourselves as consumers and disseminators of theories and fads from the North, mainly from USA and, more recently, the UK (Wahrlich, 1979; Machado-da-Silva, Cunha, & Amboni, 1990; Bertero & Keinert, 1994; Vergara & Carvalho Jr., 1995; Bertero, Caldas, & Wood Jr., 1999; Rodrigues & Carrieri, 2001; Vergara, 2001; Vieira & Carvalho, 2003; Misoczky, 2006), in an academic context that has also been defined by the domination of OS by M.

However, against this background of disciplined subordi-nation, an original, situated and critical tradition emerged and has become central to the configuration of Brazilian OS (Paula et al., 2010). Let us briefly engage with the approaches adopted by these authors, highlighting their A-M position. The purpose is not to provide an extensive review of the many contributions and the inspiration provided by these authors, but to illustrate their critique of M and to establish, in the final part of this pa-per, a critical-propositional dialogue with them.

The intellectual trajectory of Alberto Guerreiro Ramos (1915-1982) was marked by a constant concern with the production of an original and radically humanist body of knowledge (Azevêdo, 2006) that could contribute towards both providing an understanding of and bringing about changes in the Brazilian reality. Guerreiro Ramos was also an activist of

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the black movement and, for a short period of time, an elected member of the National Congress, losing his mandate as a result of a decree by the military dictators and being forced into exile – he went to the USA where he worked and lived for the rest of his life. His intellectual trajectory may be defined as being based on a critical phenomenological perspective (Faria, 2009) and includes two authors who are constantly present in his work: Edmund Husserl and Karl Mannheim. However, as an eclectic erudite author he established dialogues with a wide range of authors, including Max Weber and Erich Fromm.

In the 1950s, Guerreiro Ramos held a number of administrative positions in the Brazilian government and was a founding professor of the Brazilian School of Public Administration. Around that time he produced a major contribution to the conceptualization of the racial problem in Brazil (Guerreiro Ramos, 1954). He also elaborated a key reference for all those interested in breaking with the subaltern reproduction of theories produced in central countries. In the book A Redução Sociológica (Sociological Reduction), first published in 1958, he opposed the “[…] literal and passive assimilation of imported scientific products […]” and proposed a method of critical assimilation: a process of distilling the international social science literature, so as to reduce it to the part that is relevant, and therefore useful, to peripheral countries (Guerreiro Ramos, 1965, p. 80).

About this time, Guerreiro Ramos became increasingly interested in organizations and public administration. In 1966 he published Administração e contexto brasileiro (Administration and Brazilian context), in which he aimed to outline a ‘sociology of administration’. The two paired concepts, instrumental/substantive rationality and ethics of responsibility/conviction, were central to his objectives. He defined administrative action as a “[…] modality of social action, endowed with instrumental rationality, which assumes that its agents are under the influence of an ethics of responsibility […]”. Therefore, the reason for the administrative action is merely “[…] efficacy, the productive operation of combining resources and means for the achievement of pre-determined contingent objectives” (Guerreiro Ramos, 1983, p. 47-8).

His last book, A nova ciência das organizações, was also published in English by the University of Toronto Press, in 1981, under the title “The new science of organizations: a reconceptualization of the wealth of nations”. In this book, Guerreiro Ramos (1989, p. 1) made his A-M argument clearer: “Organization theory as it has prevailed is naïve because it is predicated on the instrumental rationality inherent to the dominant Western social science. In fact, until now, this naïveté has been the fundamental reason for its practical success”.

Today, the market tends to become the shaping force of society at large, and the peculiar type of organization that meets its requirements has assumed the character of a paradigm for organizing human existence at large. In such circumstances, the market pattern of thinking and language tends to become equivalent to patterns of thinking and language at large; this is the environment of cognitive politics. Established organizational scholarship is uncritical or unaware of these circumstances, and thus is itself a manifestation of the success of cognitive politics (Guerreiro Ramos, 1989, p. 92).

The concept of cognitive politics was central to his critique of managerialism, being defined as “the conscious or unconscious use of a distorted language with the objective of inducing the people to interpret reality in terms that are convenient for the interest of the direct or indirect agents of this distortion” (Guerreiro Ramos, 1989, pp. 86-87). Organizations are, for him, cognitive systems. Their members internalize the instrumental values, thus becoming unconscious thinkers. At the core of this critique lie the notion of instrumental rationality and the identification of its prevalence in the market system, although it may be in the guise of a normative dimension.

Maurício Tragtenberg (1929-1998) was the founder of critical Brazilian OS (Faria, 2009), producing a coherent line of thought that included the explanation of the relation between the bureaucratic organization and capitalism, as well as the belief in the possibility of defeating them by the self-organization of the dominated. Beyond his theoretical legacy, Tragtenberg provided lessons in activism, participating in the libertarian movements and in the reorganization of the labor movement in the Metalworkers Union Opposition, among others (Morel, 1999). He defined himself as a Marxist anarchist, an “aberration” (Tragtenberg, 2012).

In his PhD thesis Burocracia e Ideologia (Bureaucracy and Ideology), Tragtenberg’s main argument is that:

The General Theory of Administration is ideologi-cal; it carries in itself the basic ambiguities of the ideological process, which consist in the follow-ing: it is connected to the real social determina-tions as a technique (of industrial, administrative and commercial work) mediated by labor and, at the same time, it moves away from these real so-cial determinations, deforming the real, like an ideology (Tragtenberg, 1974, p. 89).

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For Tragtenberg (1974, p. 209), this ideological dimension “[…] represents the translation of a socio-economic, historically defined praxis in terms of M language”. Therefore, the field of M studies is, itself, alienated. He criticized managerialism at the time it was becoming hegemonic: “the constant use of the term M has the objective of concealing conflict and psychological difficulties under the assumption of technically organized relationships” (Tragtenberg, 1980, p. 43). He also criticized the ideological discourse of worker participation, defining it as a means of ensuring a more effective control over and subordination of the labor force. He went further, discussing the role of education in producing disciplined individuals: “[…] the university reproduces the dominant capitalist mode of production; not only by the ideology it conveys, but by the servants it forms […]” (Tragtenberg, 1990, p. 13).

Tragtenberg (1986, p. 10) dedicated a large part of his work to the theme of self-organization and horizontal social relations. For him, practices such as factory commissions, strike committees and workers councils, provided plenty of possibilities:

What erodes capitalism is the creation of these organizations because they deny the verticality of the existing organizations, be it the state, the party, or the union. As a consequence of direct action by workers, they lose their finality of controlling the working force. With the mediation of institutions created in the socio-political process, the working class self-manages its struggles and, therefore, decision making and execution are in the workers’ hands.

Based on the analysis of the Soviet ‘socialism’, defined as bureaucratic state capitalism, as well as the consideration of historical working struggles, Tragtenberg (1986, 1988) arrived at a definition of socialism as something that cannot be separated from the self-organization of those who struggle for their liberation.

In the words of Faria (2009, p. 514), Tragtenberg’s work can be defined

[…] by the refusal of any form of domination, the critique of violence, the denouncement of bureaucratization, the argument that the so-called general theory of administration is the expression of a managerialist ideology, and the intransigent defense of democracy and the libertarian project.

Another Brazilian A-M author was Fernando Prestes Motta (1945-2003), an original and eclectic intellectual who was

influenced by and established dialogues with many authors, including Weber, Marx, Althusser, Poulantzas, Foucault, Freud, Enriquez, and Dejours, among others.

In his MSc dissertation, Prestes Motta (1969) analyzed capitalist rationalism and the evolution of Brazilian enterprises. In his PhD thesis, he opposed bureaucracy to self-management in his discussion of Proudhon’s proposals (Prestes Motta, 1981). Before that, in 1972, Prestes Motta had published his first book – Teoria Geral da Administração: uma introdução (General Theory of Administration: an introduction), in which he not only reviewed the theory (from Taylor to the Aston Group), but also provided a critical analysis of its function. He further developed this idea in another book – Teoria das Organizações: evolução e crítica (Organizational Theory: evolution and critique), first published in 1986. In his words:

As a field of instrumental knowledge as well as a world vision, OT reflects the growing power of the techno-bureaucratic elite in the countries of monopolist state capitalism. […] The purpose of this book is to give, initially, an overview of organizational and administrative theory, establishing its main steps, followed by its analysis as an ideology of power (Prestes Motta, 2001a, p. v).

Power was the central issue for him, be it in relation to bureaucracy, ideology, M, culture or psychoanalysis. According to Prestes Motta (2001b), he was influenced by Tragtenberg, mainly in Organização e poder: empresa, Estado e escola (Organization and power: enterprise, state and school). The book’s central argument presents the techno-bureaucracy as a social class constitutive of capitalism, a class that lives for the reproduction and extension of its own power and sustains a form of organization that is constantly changing as a consequence of the general conditions of production and M. As a complement, mainstream OT is the ideological expression of the practices of that social class and the school is the space where both the strategy of reproduction and the naturalization of domination are produced (Prestes Motta, 1986).

Convinced that the “[…] fundamental characteristic of bureaucratic administration is hetero-management and that the only radical alternative is self-management […]”, Prestes Motta (1981, p. 10) discussed Proudhon’s propositions. Self-management would be an organizational practice that t respects freedom and pluralism, a possibility of government by the masses that disturbs the powerful, negates bureaucracy and “[…] brings uncertainty to a world where everyone looks for certainties […]”: “[…] while the ideologies of power try to hide the multiple alienations of the modern man, the proposal of self-management can be seen as a denouncement, and as the real and radical possibility of social transformation” (Prestes Motta, 1981, p. 166-7).

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José Henrique de Faria has also critically analyzed power relations in organizations. In 2001, he proposed a specific field of studies: the political economy of power in OS. Adopting references from the Frankfurt School’s first generation in association with Marxist theories about state, class and power and theories from the fields of critical psycho-sociology and Freudian psychoanalysis, Faria (2004a, p. 19) defines his aim as the production of a “[…] genetic epistemology of control in organizations under the command of capital […]”, including objective and subjective dimensions.

In search of the theoretical foundations of these forms of control, he identifies the “[…] ideology of capitalist M, also known as managerialist theory”: “[…] a system of ideas that both reproduces the logic of capital’s domination over labor and offers ‘scientific’ support to legitimate the actions derived from such a logic”. He draws on a set of empirical studies of productive organizations to analyze the construction and enhancement of systems of control in order to make them less visible and more efficient: “[…] capitalist M, by means of its techniques, not only emphasizes the separation between intellectual and manual work, it also looks to increase the capacity of managers to command and demand obedience from workers” (Faria, 2004b, p. 152). M is a theory of power: “[…] a discourse of capital’s control over work and workers […]”; it is not related “[…] to the history of scientific thought […]”, it is related to “[…] the history of capitalism” (Faria, 2004b, pp. 156-157).

In his work, Faria (2004b) provides a consistent critique of M. At the same time, he recognizes the existence of alternatives produced by social movements that promote self-management and oppose the autocratic nature of M. However, these initiatives cannot be considered within the limits of M theory, precisely because they challenge the capitalist productive structure and the political regime of the present capitalist state.

A defining feature of the authors revised above is their A-M attitude. They have produced an original body of knowledge, showing us that it is possible to work in Management and Administration Departments within academic institutions without subordinating our practice to the hegemony of M, and provided endless inspiration for many of us. Their relevance and the growing number of people interested in their work can be seen, for example, in recent events such as the special issue of the journal “Organização & Sociedade” (Revista Organizações & Sociedade, 2010) dedicated to Guerreiro Ramos; the special issue dedicated to Tragtenberg in the journal “Espaço Acadêmico” (Revista Espaço Acadêmico, 2013); and the International Colloquium of OS organized in 2014 by the Fundação Getulio Vargas, that dedicated part of the program to Prestes Motta.

For reasons of space, we have to close this brief and selective review here. We do not think that a coherent pattern of critique can be traced to articulate the works of these authors. Each of them had their own political and epistemological position, each of them chose to address specific topics, and each of them constructed a personal trajectory within their particular contexts. What can be said is that they provide, regardless of each one’s specificity, fertile ground for those interested in making a truly critical assessment of M and, therefore, in the emancipation of OS from M.

In the first part of this essay, we stated that we saw no relevance in substituting Northern M for Southern M. We hope that, by highlighting the ideas provided by these authors, the grounds for maintaining that attitude have become clearer. MK was born within the market and for the market, its mainstream and even some self-portrayed critical positions have at their origin and as their raison d’être the improvement of tools for ensuring control over living labor that are indispensable for the reproduction of a system that aims to control all spheres of life.

With regard to our personal academic lives, we can also learn an important lesson from these authors: it is possible to live a fruitful coherent A-M intellectual life without subordinating oneself or compromising the situated political position. In such a way, we can avoid the practice defined by Tragtenberg (1990) as “academic delinquency”.

THE LIBERATION OF ORGANIZATION STUDIES FROM MANAGEMENT: OPEN POSSIBILITIES

In accordance with the intellectual tradition reviewed above, the reflection that follows is related to the possibilities of producing counter-hegemonic knowledge in an academic space still dominated by MK and, worst, by its current managerialist expression as an “[…] ideology of control, progress and order is produced and reproduced […]” (Dar, 2008, p. 95).

We believe that there is an indispensable need to consolidate a field of OS that is liberated from M, a field that is necessary at least for those intending to adopt a critical approach, as the above-mentioned authors taught. However, while they should be honored for their commitment, authenticity and engagement with the issues and events of their time, their critiques and propositions should not be taken as sacred. Coherently, the best way to honor them is to recognize their limitations and to continue pushing along the paths they opened. In the following paragraphs, we will outline a propositional,

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although not exhaustive agenda for the further develop and consolidation of a Brazilian OS that is liberated from M.

The first aspect to consider is that the last three authors reviewed above provided two moments of critique: the negative denouncement and the positive announcement of the construction of the new. However, when announcing the new, they ended up being caught in the pervasive managerial web. Self-management has been taken for granted as the praxis that would confront and subvert the system. This proposition is understandable if we consider that Tragtenberg and Prestes Motta were writing in the years following the events of May 1968:

The fact is that the effervescence and strength of the events of May 1968 in France transformed the expression self-management from a specific concept that originated in the context of Yugoslavian state capitalism into the status of a magic word that expresses, simultaneously, a utopian image and a means for liberation, despite the intense polysemy that authorizes its use by those who adopt a revolutionary perspective as well as by those who work within a conciliatory reformist perspective such as the so-called solidarity economy (Misoczky & Moraes, 2011, p. 70).

Here, we are not rejecting the concept of self-management. Instead, we are refusing to take it for granted so as to avoid the risk of inadequately transposing concepts, a practice severely criticized by Guerreiro Ramos (1965). Misoczky and Moraes (2011) warn that, from an extreme perspective, the expression self-management is an oxymoron because M can only be hetero-management. For Avron (1980, p. 3), the expression is inappropriate: “the notion of M carries an evident connection with economic instrumental rationality”. It is reasonable to assume that the idea of self-managing society (Bernardo, 2005) represents the success of managerialism in invading unsuspicious territories, such as those of people who decisively oppose the system of capital. Therefore, the need to avoid the fetishism of the organizational format and to include this theme into an agenda of OS liberated from M.

A second central theme is the organization of social struggles. To widen the ways in which we study organization requires the abandonment of restrictive understandings of it as units of analysis. Misoczky (2010), for example, defines organization as the collective inter-subjective act that is a means for the praxis of liberation and a learning space for the experimentation of liberating organizational practices.

To avoid the naturalization of self-management as a ready-to-use tool when we focus on the organization of social struggles, it is necessary to address a wide set of dimensions. One of these refers to the principle of feasibility, included by Dussel (2004) among the principles of his ethics of liberation, which is the necessary organizational praxis which comes from consciousness and the consequent need for critical intervention to produce change. This is the moment that Dussel (2004, p. 353) calls ‘critical-instrumental reason’. For him, the instrumental-strategic reason has a place in the ethical praxis of liberation: “[…] we cannot fall into fetishisms; we cannot ignore the subaltern function of instrumental reason”. The problem arises when the feasibility criterion becomes an absolute principle. Dussel (2004, p. 353) provides a description of the principle of ethical feasibility:

An action, an institutional or systemic norm, is ethically operational and concretely feasible if it complies (a) with the conditions of logic, empirical, technical, economic etc., possibilities which are judged by the following (b) [deontic] requirements: (b.1) ethical-material practical truth, and (b.2) formal-moral validity; within a range that goes from (b.a) actions ethically allowed (which are merely possible because they do not contradict ethical and moral principles), until (b.b) mandatory actions, which are ‘necessary’ for the actualization of basic human needs (materially – the reproduction and development of life; formally – the participation of those affected in decision making).

This principle is ethical because it defines as necessary that all human action that intends to be human and feasible have a dutiful bond with the life of each subject. At the same time, it ensures the recognition of each subject as equal and free. In this process of recognition, however, it is also necessary to organize the praxis of liberation, taking into consideration the natural-physical and technical possibilities available at any historical moment. This is a third theme for an agenda of OS liberated from M: to consider Dussel’s formulation in a critical dialogue with Guerreiro Ramos’ dismissal of instrumental rationality.

The fourth theme in this indicative agenda is in consonance with Jones and Böhm’s (2002) proposition of a general economy of organization, which would be interested in seeing organization as a basic social process. Going further, we propose a political economy of organization that incorporates

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value in the Marxist sense as a key concept: the production of value produces specific forms or organization related to different moments of social life, which can be and are imagined and organized differently by a variety of different groups. Such view of organization is hence deeply political.

To finish we summarize the contributions we have intended to provide: (1) from a critical position, the distinction between Northern/Southern M is irrelevant, what is relevant is a coherent pluriversal A-M attitude; (2) the critical Brazilian OS tradition had already made this previous statement blatantly clear; (3) we have a critical original OS body of knowledge to honor, disseminate and further develop considering the needs of our historical time; (4) the outlined agenda for an OS liberated from M was inspired by Brazilian authors but is intended to be relevant for all those, without distinction between North/South, who conceive their work as critical interventions in conjunction with those engaged in liberating struggles.

REFERENCES

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ALEXANDRE [email protected] da Fundação Getulio Vargas, Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas – Rio de Janeiro – RJ, Brasil

ANA LUCIA [email protected] da Universidade do Grande Rio, Programa de Pós-Graduação em Administração – Rio de Janeiro – RJ, Brasil

SERGIO [email protected] em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas, Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas – Rio de Janeiro – RJ, Brasil

FÓRUMRecebido em 30.06.2013. Aprovado em 06.02.2014Avaliado pelo sistema double blind review. Editores Científicos: Ernesto R. Gantman, Helà Yousfi e Rafael Alcadipani

RESGATANDO O NEXO GOVERNANÇA-GESTÃO INTERNACIONAL: POR UMA NOVA ORDEM EM GESTÃORescuing the international governance-management nexus: for a new order in management

Rescatando el nexo gobierno-gestión internacional: por un nuevo orden en gestión

RESUMOEste artigo vai além da literatura anglo-americana de gestão internacional (GI) e negócios interna-cionais (NI) e da ordem neoliberal ocidental correspondente,por meio de uma abordagem trans/in-terdisciplinar que resgata o nexo governança-gestão internacional. Com base nos fundamentos da transmodernidade pluriversal e no reconhecimento da dimensão de geopolítica que tem sido margi-nalizada por NI/GI, a análise do processo pós-1990 de (re)construção de uma ordem luso-brasileira ou brasilo-portuguesa que desafia a hegemonia da ordem neoliberal é efetuada por meio do resgate da área de relações internacionais (RI) e da dessubalternização de conhecimentos locais baseados no conceito de diplomacia econômica. O artigo mostra como e por que organizações estatais e priva-das mobilizam e constituem o nexo governança-gestão para (re)construir uma ordem luso-brasileira e ajudar a superar restrições históricas impostas pelo eurocentrismo. No final, o artigo defende a liber-tação de NI/GI para ajudar a construir uma nova ordem em gestão para um mundo em que diversos mundos e conhecimentos possam coexistir.PALAVRAS-CHAVE | Governança, gestão internacional, negócios internacionais, geopolítica do conhe-cimento, Brasil-Portugal.

ABSTRACTThis article moves beyond international management (IM) and international business (IB) literatures and the corresponding neoliberal western order through a trans/interdisciplinary approach that rescues the international management-governance nexus. Drawing upon the basic tenets of pluriversaltransmodernity and the recognition of the geopolitical dimension that has been marginalized by IB/IM the analysis of post-1990 process of (re)construction of a Luso-Brazilian or Brasilo-Portuguese order that challenges the hegemony of the neoliberal order is undertaken through the recognition of the international relations (IR) literature and the de-subalternization of local knowledges in GI/NI informed by the concept of economic diplomacy. This paper shows how and why business and government organizations mobilize and constitute the governance-management nexus to (re)build a Luso-Brazilian order and help overcome historical restrictions imposed by eurocentrism. In the end the article stands for the liberation of IB/IM as a way to build a new order in management towards a world in which many worlds and knowledges could coexist.KEYWORDS | Governance, international management, international business, geopolítica do conhe-cimento, Portugal-Brazil.

RESUMENEste artículo va más allá de la literatura anglo-americana de gestión internacional (GI) y negocios interna-cionales (NI) y del orden neoliberal occidental correspondiente, por medio de un abordaje trans/interdisci-plinario que rescata el nexo gobierno-gestión internacional. Con base en los fundamentos da transmoder-nidad pluriversal y en el reconocimiento de la dimensión de geopolítica que ha sido marginada por NI/GI, el análisis del proceso post 1990 de (re)construcción de un orden luso-brasileño o brasilo-portugues que desafía la hegemonía da orden neoliberal es efectuado por medio del rescate del área de relaciones inter-nacionales (RI) y de la desubalternización de conocimientos locales basados en el concepto de diplomacia económica. El artículo muestra cómo y por qué organizaciones estatales y privadas movilizan y constituyen el nexo gobierno-gestión para (re)construir un orden luso-brasileño y ayudar a superar restricciones histó-ricas impuestas por el eurocentrismo. A final, el artículo defiende la liberación de NI/GI para ayudar a cons-truir un nuevo orden en gestión para un mundo en que diversos mundos y conocimientos puedan coexistir.PALABRAS CLAVE | Gobierno, gestión internacional, negocios internacionales, geopolítica del conoci-miento, Brasil-Portugal.

RAE-Revista de Administração de Empresas | FGV-EAESP

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-759020150204

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INTRODUÇÃO

A literatura euro-americana da grande área de NI/GI continua sen-do tida como “universal” e “neutra”, apesar de análises pós-co-lonialistas mostrarem o contrário (e.g. Westwood & Jack, 2008). A literatura ajuda a tornar invisíveis as dimensões de geopolítica do conhecimento e de governança internacional que informam a hegemonia estadunidense e do eurocentrismo, e a restringir o reconhecimento e a construção de outras ordens e conhecimen-tos em um contexto marcado pela ascensão do neoimperialismo neoliberal e pelas seguidas crises da ordem ocidentalista (Mig-nolo, 2011; Steger, 2009). As principais teorias foram desenvol-vidas no contexto da Guerra Fria, quando os EUA mobilizavam o complexo político-comercial-militar e marginalizavam o nexo go-vernança-gestão para promover a ordem da pax americana por meio também do controle de instituições e áreas do conhecimen-to (Alcadipani, 2010; Jack, Calás, Nkomo, & Peltonen, 2008). A grande área de GI/NI foi mobilizada não apenas para deter o avanço do comunismo soviético, mas também para ajudar a construir e difundir instituições em negócios e gestão que servis-sem a essa ordem (Cooke, 2004). O projeto neoliberal de reto-mada da hegemonia estadunidense, iniciado nos anos 1970, vem permitindo que os EUA continuem impondo ao (Terceiro) mundo uma ordem ocidentalista (Mignolo, 2011) que privilegia a dimen-são econômica e mantém invisível dimensões de (geo) política. Esse quadro restringe o reconhecimento e construção de outras ordens também no campo da gestão (Calás & Smircich, 2013).

As assimetrias da globalização neoliberal liderada pe-los EUA, a superpotência solitária no pós-Guerra Fria com in-comparável poderio militar (Hurrell, 2006), foram consolidadas com a ascensão do unilateralismo estadunidense após os even-tos de 11 de setembro de 2001 e a correspondente militariza-ção da ordem neoliberal (Steger, 2009), que resultou na impo-sição de um regime de hegemonia forçada (Ikenberry, 2008), também chamado de neoimperialismo neoliberal (Duménil & Lévy, 2011). A dimensão da geopolítica do conhecimento é um componente central na gestão dessa ordem ocidentalista (Mig-nolo, 2011; Miller, 2007; Nye, 2010). Isso ajuda a explicar por que a dimensão geopolíticade NI/GI continua sendo ignorada pela literatura euro-americana de NI/GI e por que outras ordens e a ascensão de países emergentes ou semiperiféricos são ti-das por instituições da governança ocidentalista como ameaça-doras para a ordem corrente (Hurrell, 2006; United Nations Con-ference on Trade and Development [Unctad], 2011).

Comparada à literatura de RI, a literatura de NI/GI ignora um amplo espectro de atores políticos e instituições do âmbi-to da governança internacional/global que é de central impor-tância para o desempenho das grandes corporações (Strange,

1994), e também para que áreas do conhecimento ocidentalis-tas sejam tidas como “internacionais” (Hurrell, 2011). No con-texto da Guerra Fria, a negação da área de RI pela área de NI/ GI e a manutenção da invisibilidade do complexo militar-indus-trial dos EUA e das dimensões de geopolítica do conhecimento podiam ser justificadas por muitos pelo temor mundial de uma guerra nuclear protagonizada pelo bipolarismo. No contexto atual, é injustificável manter a invisibilidade do nexo ocidenta-lista de governança-gestão; além de ser injusta, essa invisibili-dade ajuda a bloquear a construção de um nexo de governan-ça-gestão e áreas do conhecimento que sejam efetivamente “internacionais”. Esse quadro restringe a construção de uma nova ordem em gestão que ajude a superar a crise da hegemo-nia do ocidentalismo e a construir um mundo em que diversos mundos e conhecimentos possam coexistir.

No pós-Guerra Fria, debates e deliberações sobre a área de GI/NI continuam sendo dominados por instituições estaduniden-ses (e.g. Boddewyn,Toyne, & Martínez, 2004; Martínez & Toy-ne, 2000), de acordo com a universalidade epistêmica imposta há cinco séculos ao resto do mundo pela modernidade eurocên-trica. Ao resto do mundo, continua sendo negada a possibilidade de assumir responsabilidades em NI/GI e substituir a universali-dade eurocêntrica e os processos subjacentes de violência, racis-mo e irracionalidade pela transmodernidade pluriversal (Dussel, 2011; Faria & Guedes, 2010). Segundo a literaturade RI, os fluxos de investimento estrangeiro direto (IEDs)– que são analisados pela área de NI/GI sob uma perspectiva economicista e (neo) co-lonialista – estão relacionados a processos (geo) políticos de ma-nutenção ou revisão da ordem ocidental liderada pelos EUA (e.g. Gilpin, 2001) e protagonizados pelo nexo de governança-gestão internacional e assimetrias correspondentes. Segundo essa lite-ratura, negócios internacionais e gestão internacional são âmbi-tos de prática e de conhecimento informados por dimensões de (geo) política desprezadas pela literatura de GI/NI.

A literatura de NI/GI dissocia os âmbitos de gestão e go-vernança e teoriza governança internacional como obstáculo exógeno quando se refere à gestão de grandes corporações no resto do mundo. Sob uma perspectiva ocidentalista, as dimen-sões de governança são teorizadas como anomalias ou patolo-gias endêmicas de países menos desenvolvidos que obstruem a “boa gestão”. A literatura de NI/GI usa a nomenclatura “busi-ness-government relations” (e.g. Grosse, 2005) para reforçar as ideias de que mercado e Estado são autônomos, de que o pri-meiro prevalece em relação ao segundo, e de que a ordem mun-dial é uma responsabilidade exclusiva do Ocidente. Em outras palavras, essa literatura torna visível e invisível o nexo gover-nança-gestão internacional sob uma perspectiva ocidentalis-ta que reforça as assimetrias entre Ocidente e resto do mundo,

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AUTORES | Alexandre Faria | Ana Lucia Guedes | Sergio Wanderley

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ou seja, a literatura torna visível o nexo governança-gestão para enfatizar o atraso endêmico do resto do mundo e mantém in-visível o nexo governança-gestão suportado por uma superes-trutura de governança global constituída por redes complexas envolvendo organizações privadas, governamentais, não go-vernamentais e instituições internacionais ocidentalistas lide-radas pelos EUA (McCrew, 2008). Em termos mais específicos, a literatura de NI/GI impõe, a pesquisadores e instituições do mundo inteiro, a ideia de que corporações do mundo euro-ame-ricano não fazem parte da gestão da governança global euro-cêntrica (Alcadipani & Caldas, 2012; Dar & Cooke, 2008). Essas teorizações ocidentalistas, que ajudam a “gerenciar” o nexo governança-gestão sob uma perspectiva injusta e injustificá-vel de geopolítica, marginalizam o resto do mundo em GI/NI e reforçam o grande quadro de colonialidade epistêmica que foi inaugurado quando a América foi “descoberta” pelos europeus (Ibarra-Colado, 2006). Esse projeto tornou-se uma das priorida-des da governança ocidentalista no contexto pós-Guerra Fria, devido, principalmente, ao temor eurocêntrico de que outras or-dens e teorizações “bárbaras” destruam a ordem civilizatória.

Este artigo desenvolve uma proposta trans/interdiscipli-nar “outra” a partir do contexto luso-brasileiro ou brasilo-por-tuguês que torna visível o nexo governança-gestão sob uma perspectiva descolonizadora para ajudar a reconhecer e (re)construir outras ordens e conhecimentos em NI/GI. Esta pro-posta pretende ajudar a substituir o universalismo e a moder-nidade eurocêntrica pela pluriversalidade e transmodernidade.

Na próxima seção, desenvolvemos uma proposta trans/interdisciplinar informada por debates na área de RI e pela transmodernidade pluriversal. Em seguida, promovemos a des-subalternização da literatura produzida por pesquisadores por-tugueses para resgatar o nexo gestão-governança por meio do conceito de diplomacia econômica. Apresentamos a metodolo-gia na quarta seção, seguida da descrição e análise dos casos selecionados. Na última seção, abordamos como processos de-descolonização e libertação da área de GI/NI podem ajudar a construir uma nova ordem em gestão.

UMA PERSPECTIVA TRANS/INTERDISCIPLINAR NO (E A PARTIR DO) CONTEXTO LUSO-BRASILEIRO (OU BRASILO-PORTUGUÊS)

Inaugurando um quadro de geopolítica do conhecimento mar-cado por violência, racismo e irracionalismo, o eurocentris-mo representa uma conquista civilizatória baseada na imposi-

ção da modernidade e do universalismo ao resto do mundo (e também à parte da própria Europa) ao longo dos últimos cin-co séculos (Mignolo, 2011). Desde então, diferentes propos-tas de descolonização epistêmica têm sido promovidas e de-fendidas em diversos cantos do (resto do) mundo, em especial na América Latina (Escobar, 2004), para superar esse quadro da geopolítica do conhecimento. A opção descolonial que vem sendo desenvolvida nesta região propõe a substituição da mo-dernidade eurocêntrica e do universalismo epistêmico corres-pondente pela transmodernidade pluriversal (Dussel, 2011). O objetivo central não é superar o eurocentrismo com “outro” eu-rocentrismo; tampouco é ignorar a modernidade em toda a sua extensão. Em termos práticos, a transmodernidade pluriversal defende a dessubalternização de conhecimentos “outros” e a reconstrução correspondente de epistemes que viabilizem a co-construção de um mundo em que diversos mundos (e conheci-mentos) possam coexistir.

Os problemas de colonização epistêmica impostos por esse quadro de geopolítica não vêm sendo enfrentados apenas por pesquisadores e instituições do Brasil –território que foi co-lonizado por Portugal e classificado pelo eurocentrismo como Terceiro Mundo no contexto da Guerra Fria e como economia emergente no pós-Guerra Fria – e de Portugal – o primeiro im-pério colonial global que foi transformado pelo eurocentrismo em país semiperiférico e que protagonizou a mais longa expe-riência europeia de colonialismo. A manutenção desse quadro de geopolítica do conhecimento ao longo de séculos deman-dou que pesquisadores e instituições da Europa e dos EUA tam-bém fossem colonizados epistemicamente. Durante a Guerra Fria, a área de GI/NI tornou-se um recurso colonizador para via-bilizar a ordem da pax americana. Muitos esperavam que a área se tornasse efetivamente “internacional” em décadas recentes, por causa da difusão da ideia de que o neoliberalismo repre-senta uma ordem cosmopolita. Com a ascensão do unilatera-lismo neoliberal dos EUA após os eventos de 11 de setembro e os crescentes temores quanto à ascensão de países emergen-tes ou semiperiféricos, a área tornou-se um recurso estratégi-co para viabilizar a ordem neoimperial-neoliberal liderada pela superpotência e conter alternativas “ameaçadoras” (Hurrell, 2006). Em termos práticos, a proposta de transmodernidade pluriversal desenvolvida neste artigo é defendida como neces-sária para ajudar a fomentar diálogos entre periferias e, a partir daí, possibilitar um amplo diálogo assimétrico com o “centro”, visto que o nexo governança-gestão continua geopoliticamen-te marginalizado em NI/GI, mesmo após a ascensão do unilate-ralismo dos EUA no início da década passada e o acirramento do (neo) ocidentalismo após a crise de 2008 (Ikenberry, 2008; Mignolo, 2011; Steger, 2009).

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Com a imposição da ordem neoliberal ocidental como or-dem única e a institucionalização da tese de fim da história no início dos anos 1990 (Fukuyama, 1992), as ideias de que o pri-vado é superior ao público e de que o Ocidente, liderado pelos EUA, é superior ao resto do mundo tornaram-se um dogma nos EUA (a chamada ilusão neoliberal). Esse dogma, co-construído e difundido por instituições acadêmicas e por um extenso apa-rato de geopolítica do conhecimento, ajudou a promover a sú-bita ascensão da área de NI/GI e a reforçar nos EUA o processo de colonização epistêmica iniciado com a Guerra Fria. Ajudou também a não apenas manter a marginalização geopolítica do nexo governança-gestão, mas também a suprimir conhecimen-tos “outros” produzidos no mundo euro-americano e “teoriza-ções bárbaras” produzidas no resto do mundo. Na prática, esse grande processo (neo)colonial não suprimiu por completo ou-tras ordens e movimentos de descolonização epistêmica. Em parte, o neoliberalismo catalisou o retorno (ou emergência) do resto do mundo - ilustrado pela ascensão da Índia, Rússia e Chi-na e também de outros países, como Brasil e África do Sul. No contexto luso-brasileiro ou brasilo-português, a literatura de RI negada pela grande área de NI/GI foi abraçada por organiza-ções que constituem o nexo governança-gestão em Brasil e Por-tugal e também por pesquisadores locais dedicados a investi-gar o processo pós-1990 de (re)construção de uma ordem que desafia a hegemonia da ordem neoliberal.

Colegas no mundo euro-americano ressaltam as limita-ções da área de NI/GI devidas ao seu caráter “etnocêntrico” ou “paroquial”(Cuervo-Cazurra, 2008; Ramamurti, 2009), para não reconhecerem o lado “colonialista”. Como desconhecedo-res das condições de possibilidade propostas pela transmoder-nidade pluriversal, e também como vítimas e beneficiários da ordem universalidade imposta pela modernidade eurocêntrica, eles não conseguem reconhecer outras ordens e conceber uma área “outra” que ajude a construir um mundo em que diversos mundos (e ordens) possam coexistir. Eles enfrentam um proble-ma adicional: a negação da área de RI garante a invisibilidade do âmbito da geopolítica do conhecimento em NI/GI, apesar de tantas evidências contrárias (e.g. Faria, Ibarra-Colado, & Gue-des, 2010; Westwood & Jack, 2008; Murphy & Zhu, 2012).

Uma parte da literatura euro-americana de RI ressaltava, no início dos anos 1990, que a crescente interdependência ge-rada pelo fim da Guerra Fria exigia que governos desrespeitas-sem os discursos e as reformas que vinham impondo ao resto do mundo desde meados dos anos 1970. Enquanto uma corren-te extrema de RI defendia o liberalismo e era mobilizada para os processos de imposição da ordem neoliberal, essa “outra” litera-tura euro-americana apontava que governos, corporações trans-nacionais e instituições internacionais – incluindo as chamadas

“potências emergentes” – assumiriam papel central no âmbito da governança global (Stopford & Strange, 1991). Diversos au-tores (Dicken, 1998; Gilpin, 2001; Grosse, 2005; Strange, 1994) anunciaram que o nexo governança-gestão internacional ficaria ainda mais importante do que havia sido durante a Guerra Fria. Essa literatura deveria ter provocado mudanças substantivas em NI/GI, especialmente no que diz respeito à teorização das inter-faces entre organizações públicas e privadas (Haley, 2001) e ao âmbito da geopolítica do conhecimento (Miller, 2007).

Entretanto, assim como o neoliberalismo e seus dogmas transformaram-se em um grande pesadelo em escala global, a construção de uma nova perspectiva em NI/GI não foi possí-vel. A esperada libertação de GI/NI em relação às restrições im-postas pela Guerra Fria não poderia ocorrer, porque o neolibe-ralismo e tese de fim da história pressupunham o acirramento do eurocentrismo/ocidentalismo. Desde os primeiros momen-tos do pós-Guerra Fria, a ordem neoliberal ocidental afastou--se do multipolarismo neoliberal e aproximou-se cada vez mais do unilateralismo/unipolarismo – especialmente após os even-tos de 11 de setembro e a substituição da Guerra Fria pela guer-ra global ao terror (Steger, 2009). As seguidas crises da ordem ocidental e a ascensão de países emergentes ou semiperiféri-cos tornaram ainda mais importantes as dimensões de geopo-lítica do sistema interestatal e de geopolítica do conhecimento.Esse quadro ajuda a explicar não somente as críticas pós-colo-nialistas em GI/NI como também a ascensão da opção desco-lonial na América Latina e em outras periferias do mundo. Este artigo entende, então, que reconhecer a existência de outras or-dens no mundo e colocar em prática a proposta de criar uma área de NI/GI engajada com os fundamentos da transmoderni-dade pluriversal e enunciada em/por periferias do mundo pode ajudar a libertar o “centro” da área de GI/NI e, a partir daí, criar condições para uma nova ordem em gestão que ajude a cons-truir um mundo em que diversos mundos e conhecimentos pos-sam coexistir.

RESGATANDO A DIPLOMACIA ECONÔMICA Colocar em prática a proposta de criar uma “outra” área de GI/NI em (a partir) de contextos semi-periféricos ou emergentes é arriscado, mas necessário (Faria et al, 2010). Críticas ao caráter colonizador de GI/NI informadas pela teorização pós-colonialis-ta têm sido enunciadas em países desenvolvidos, geralmente em língua inglesa. Ao privilegiar contextos específicos de colo-nização e desconsiderar as dimensões de geopolítica que a in-forma, essa teorização reproduz o universalismo eurocêntrico e

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marginaliza tanto a América Latina quanto processos intraeuro-peus de colonização. Em termos mais práticos, essas importan-tes críticas desconsideram a possibilidade de que haja conhe-cimentos “outros” e práticas “outras”, por desconhecerem as possibilidades advindas da transmodernidade pluriversal.

Logo após a deflagração da crise da ordem neoliberal ocidental de 2008, autores deste artigo iniciaram, então, um estágio acadêmico em Portugal para, entre outros objetivos, ajudar a tornar Brasil-Portugal (ou Portugal-Brasil) um locus de teorização em NI/GI que se movesse além da hegemonia esta-dunidense e do eurocentrismo. Por causa do quadro de geopolí-tica do conhecimento imposta pela modernidade eurocêntrica, o diálogo acadêmico entre Brasil e Portugal é escasso. Acadê-micos dos dois países estão conectados diretamente com EUA, Inglaterra e França, mas as conexões entre Brasil e Portugal são frágeis e desvalorizadas. O projeto baseava-se, então, no argu-mento de que o boom pós-1990 de negócios envolvendo Brasil e Portugal representava um processo histórico de (re)constru-ção de uma ordem que desafiava a hegemonia da ordem ne-oliberal ocidental liderada pelos EUA e permitia teorizações “outras” em GI/NI. Em vez de impor uma crítica universalista in-formada pela teorização pós-colonialista à literatura eurocêntri-ca de GI/NI produzida em Portugal, em cooperação com pesqui-sadores portugueses, o projeto concentrou-se em descobrir (e dessubalternizar) conhecimentos “outros” enunciados em Por-tugal, com base no reconhecimento da diferença colonial entre Portugal e o “centro” do eurocentrismo.

Abraçar conhecimentos “outros” produzidos por pesqui-sadores portugueses exigia coragem e cautela. Primeiro, devido ao temor de fortalecer cinco séculos de dominação; segundo, porque aquele conhecimento não seria útil para publicar nos principais outlets acadêmicos, nem mesmo no Brasil (ver Al-ves & Aquino, 2011; Bertero, Alcadipani, Cabral, Faria, & Rosso-ni, 2013). Críticas pós-colonialistas teriammais chances de pu-blicação, especialmente se publicadas em inglês. Devido aos processos de ocidentalização mais extremos da área de GI/NI a partir da ascensão do unilateralismo dos EUA, conhecimentos “outros” tendiam não apenas à marginalização, mas também à classificação de “bárbaros” pela ordem dominante.

A literatura focada no boom pós-1990 produzida no Bra-sil (Saraiva, 2000) era escassa, comparada à produção em Por-tugal (Barbosa, 2008; Carvalho, 2009; Costa, 2006; Leal, 2005; Silva, 2002a, 2002b, 2005, 2012). Em comum, a literatura nos dois países enfatizava as interfaces entre público e privado e, mais particularmente, entre governo e empresas. Na literatu-ra portuguesa, foi, então, identificada a importância central do conceito de diplomacia econômica (Barbosa, 2008; Leal, 2005). Esse conhecimento “outro”, baseado em literatura menos co-

nhecida de RI e enunciado em país da Europa, torna visível o nexo gestão-governança sob uma perspectiva que desafia a he-gemonia da ordem neoliberal. O estágio menos avançado de institucionalização de NI/GI em Portugal em relação ao Brasil permitia que pesquisadores portugueses usassem aquela lite-ratura de RI.

O conceito de diplomacia internacional foi construído por monarquias europeias (do Norte) e teorizado por RI. Esse concei-to, que nasceu logo após a inauguração do sistema internacio-nal moderno/eurocêntrico em Westphalia, em 1648, forneceu um novo significado para práticas mercantilistas efetuadas por Es-panha e Portugal nos séculos XV e XVI. A diplomacia tornou-se extremamente importante no século XIX para o imperialismo eu-ropeu, quando as recessões frequentes na região impeliram capi-talistas locais a “usarem seus governos para garantir algum país subdesenvolvido distante por meio de anexação e proteção” (Hobson, 1965). No contexto da Guerra Fria, diferentes modalida-des de diplomacia foram mobilizadas nas intervenções de redes complexas envolvendo negócios e geopolítica no Terceiro Mundo (Parmar, 2002). O mesmo pode ser dito quanto aos processos de colonização portuguesa na África e Ásia.

A despeito do poderio geoepistêmico dos discursos ne-oliberais que prescreveram o desmantelamento do Estado, as grandes potências reorganizaram-se geopoliticamente em torno do conceito de diplomacia econômica. Ministérios de relações exteriores e de comércio foram amalgamados e diferentes “es-tratégias de construção de ligações business-government den-tro das instituições diplomáticas” foram implementadas (Lee & Hudson, 2004, p. 343). Não surpreendentemente, a diplomacia econômica continuou sendo importante em/para Portugal.

Diplomacia econômica é um dos tipos de diplomacia, de-finido pelo eurocentrismo como “condução de relações entre estados e outras entidades com presença em política mundial por agentes oficiais e por meios pacíficos” (Bull, 1977, p. 156). Na prática, quando diplomacia econômica envolve relações en-tre as grandes potências e o resto do mundo, o eventual uso da força costuma ser descrito como recurso legítimo pela própria literatura de RI. Com o advento do neoliberalismo, diplomacia tornou-se um conceito menos vinculado a relações envolvendo apenas estados-nação, devido à crescente interdependência entre governos, corporações e organizações não governamen-tais. Ao supostamente eliminar a geopolítica e fortalecer a di-plomacia econômica – incluindo países emergentes ou semipe-riféricos que desafiavam a hegemonia da ordem neoliberal – o neoliberalismo promoveu a ascensão do nexo governança-ges-tão internacional.

O conceito de diplomacia econômica havia sido primei-ramente negado por NI/GI no contexto da Guerra Fria, por cau-

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sa do papel exercido pelo complexo militar industrial dos EUA na gestão da ordem mundial (Parmar, 2002). A ativa participa-ção de grandes corporações na política externa dos EUA e nas políticas de desenvolvimento e de ajuda internacional (Kunz, 1997), por meio da mobilização do nexo correspondente de go-vernança-gestão, era característica central da diplomacia eco-nômica na época (Bernstein & Wilson, 2011). Naquele contexto, países colonizados também mobilizaram a diplomacia econô-mica, tanto em termos individuais quanto coletivos (vinculados ao terceiro-mundismo que emergiu após a Conferência de Ban-dung); por sua vez, essa diplomacia também viabilizou práticas neocoloniais no contexto do pós-colonialismo na África e Ásia, além de fomentar a construção das teorizações pós-colonialis-tas nos EUA (Dirlik, 2004).

No pós-Guerra Fria, a ascensão do unilateralismo dos EUA e a das economias emergentes marcaram a mobilização crescente da diplomacia econômica não somente por EUA e Eu-ropa mas também por países emergentes ou semiperiféricos (Nye, 2010). O êxito das estratégias de geopolítica da China na África e na América Latina no pós-Guerra Fria (Alves,2007), as-sim como a crescente importância das relações Sul-Sul e as no-vas responsabilidades assumidas pelo Brasil para construir a ordem mundial e “falar pelo Sul Global progressivo” (Hurrell, 2010, p. 6) ilustram a crescente importância da diplomacia eco-nômica para o resto do mundo. Entretanto, com a vinculação da área de NI/GI ao neoliberalismo, o conceito foi renegado, por ser vinculado ao Estado e à (geo)política, em vez de ao merca-do e à economia. Esse quadro ajudou não apenas a tornar invi-sível em NI/GI a ascensão do unilateralismo dos EUA e o avanço do neoimperialismo neoliberal, mas também a elevar seu cará-ter eurocêntrico/ocidentalista.

Engajados com o conceito de diplomacia econômica e em grande medida desengajados da literatura de NI/GI e da he-gemonia da ordem neoliberal subjacente, organizações priva-das e estatais no Brasil perceberam que a adesão de Portugal à Comunidade Europeia em 1986 representava uma janela es-tratégica para garantir acesso ao mercado de Portugal e de ou-tros países da União Europeia (Barbosa, 2008). O nexo de go-vernança-gestão correspondente era importante também para a Comunidade Europeia em termos de gestão de geopolítica, de-vido ao lançamento do programa Guerra nas Estrelas pela ad-ministração Reagan. Organizações privadas e estatais de Portu-gal também perceberam que o Brasil, em particular, e a América Latina como um todo, eram geopoliticamente importantes para o país e para a Comunidade Europeia. Com o fim da Guerra Fria e a emergência de um mundo unipolar que parecia multipolar, a (re)construção de uma ordem luso-brasileira ou brasilo-portu-guesa a partir do início dos anos 1990 tornou-se importante em

termos geopolíticos para desafiar a hegemonia da ordem neoli-beral ocidental liderada pelos EUA.

A literatura de RI focada nas relações Brasil-Portugal, em alusão aos 500 anos do “descobrimento”, deu especial aten-ção ao processo de (re)construção de uma ordem que desafia-va a hegemonia da ordem neoliberal liderada pelos EUA (Al-buquerque & Romão, 2000; Santos, Cohn, & Camargo, 2001; Saraiva, 2000); porém, como a área de RI é negada por NI/GI, pesquisadores dos dois países não tiveram o direito epistêmi-co pleno de reconhecer esses “outros” (com menor intensidade em Portugal que no Brasil).

A literatura de NI/GI continua teorizando o nexo gover-nança-gestão como anomalia típica de países menos desen-volvidos, reforçando a teoria eurocêntrica de que corrupção no resto do mundo é endêmica. Segundo a literatura de NI, as es-tratégias de internacionalização de empresas são mais fáceis e menos arriscadas entre países desenvolvidos por causa da se-melhança entre regimes institucionais e a correspondente su-perioridade (ver Dunning, 2006). Essa teorização ocidentalis-ta mantém invisíveis não apenas a dimensão de geopolítica mas também as instituições de governança global – tais como a União Europeia, o Consenso de Washington, o Banco Mundial, a Organização Mundial do Comércio etc. – que exercem papel crucial para a construção e manutenção da hegemonia euro-a-mericana nos âmbito de IED e comércio global. A proximidade cultural e linguística, traduzida como distância psíquica na lite-ratura europeia (Johanson & Vahlne, 1977), é, por sua vez, des-crita pela área como uma dimensão que mitiga riscos e restri-ções causados por diferenças ou deficiências institucionais.

Curiosamente, pesquisas mostram que a proximidade cultural e linguística entre Brasil e Portugal não teve a espera-da influência nos fluxos de IED (Silva, 2002a). A investigação sistemática do boom de IED pós-1990 mostrou que o fator mais importante continua sendo “o peso das relações diplomáticas no processo de internacionalização das empresas portugue-sas no Brasil” (Silva, 2005, p. 109), ainda que empresas desta-quem a proximidade cultural e linguística em suas estratégias de comunicação (ver Fernandes, Bandeira-de-Mello, & Zanni, 2012). Pesquisadores portugueses argumentam que são ne-cessários “novos quadros teóricos que forneçam uma melhor articulação entre a dimensão econômica e a dimensão cultu-ral” (Costa, 2006, p. 46). Entretanto, pesquisadores e institui-ções portuguesas não têm voz elevada na área de NI/GI, devi-do a questões de geopolítica que são negadas pela literatura. Este artigo argumenta, então, que o resgate do nexo governan-ça-gestão e o engajamento com a teorização marginal mobiliza-da por pesquisadores portugueses são importantes para des-colonizar e libertar NI/GI e ajudar a substituir a universalidade

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epistêmica imposta pela modernidade eurocêntrica pela trans-modernidade pluriversal.

METODOLOGIA

A pesquisa empírica investigou a importância do nexo gover-nança-gestão nos fluxos de IED de empresas portuguesas no Brasil e de empresas brasileiras em Portugal no período de 1996 a 2011. Cabe destacar que, desde a adesão de Portugal à União Europeia, em 1986, o aparato regulatório tem sido estável e não discriminatório para fomento e atração de IED (Simões & Car-taxo, 2011). Portugal criou, ao contrário do Brasil, uma Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (Aicep), res-ponsável por promover tais investimentos.

Foram selecionadas fontes oficiais de dados referentes aos fluxos de IED com destino em Portugal e Brasil, de acordo com procedimentos seguidos pela literatura de economia políti-ca internacional em NI (Grosse, 2005; Grosse & Behrman, 1992; Stopford, 2005; Strange, 1994) e pesquisas conduzidas em Por-tugal (Rosa, 2011; Silva, 2002a, 2005, 2006; Simões & Carta-xo, 2011). Para contornar algumas discrepâncias entre fontes dos dois países, foram coletados e filtrados dados de diversas fontes e origens: Banco Central do Brasil (www.bacen.gov.br), United Nations Conference on Trade and Development (www.unctad. org), Organization for Economic Co-operationand De-velopment (www.oecd.org), Agência para o Investimento e Co-mércio Externo de Portugal (www.aicep.pt), Banco de Portugal (www.bportugal.pt).

A análise dos fluxos de IED de Portugal para o Brasil mos-trou que, partindo de valores incipientes até então, houve, no período 1998-2001, um total de investimentos líquidos de USD 9,63 bilhões (Aicep, 2012). Esse período coincide com o mo-mento principal das privatizações no Brasil do setor de servi-ços, com os primeiros momentos da diplomacia econômica por-tuguesa pós-1990 e com os primeiros sinais da obsolescência neoliberal. No período de 1996 a 2005, o Brasil investiu em Por-tugal um total bruto de USD 1,67 bilhões (Aicep, 2012). Segundo dados fornecidos pelo Dossier Mercado Brasil (Aicep, 2012), os fluxos entre os países intensificaram-se após a crise de 2008: Portugal mantém o Brasil na quarta posição como destino de IED, enquanto o Brasil passa da 14a para a sétima posição de in-vestidor estrangeiro em Portugal.

Adicionalmente, foram coletados dados referentes à composição acionária de todas as empresas identificadas como de origem no Brasil com investimentos em Portugal e vice-ver-sa. Dois estudos de casos foram, então, selecionados–trata-dos como estudo de casos múltiplos (Eisenhardt & Graebner,

2007; Stake, 2005) – protagonizados por empresas que tinham participações acionárias cruzadas. Esses estudos mostram, de modo mais abrangente, a importância do nexo governança-ges-tão internacional sob a perspectiva trans/interdisciplinar de-senvolvida neste artigo.

DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS CASOS

Os casos múltiplos descritos a seguir mostram como e por que o nexo governança-gestão, envolvendo relações governo-em-presa e empresa-empresa, é importante para o boom pós-1990. Destaca-se o surpreendente resultado de participações acioná-rias cruzadas e a presença de agentes “outros”, tais como os fundos de pensão, fundos private equity e fundos soberanos. Após o agrupamento de todas as empresas brasileiras e por-tuguesas com investimentos nos dois países, foram identifica-das aquelas em que a presença do Estado, por via direta ou in-direta, teve ou ainda tem papel mais destacado na governança e gestão dos processos de internacionalização corresponden-tes (ver Quadro 1).

QUADRO 1. Empresas selecionadas – casos múltiplos

CasosEmpresas brasileiras

Empresas portuguesas

Caso 1: Concessão de serviços públicos

OiVivo

Portugal TelecomEDP (b)

Caso 2: Aeronaves, aviação e defesa (a)

EmbraerEMPORDEFOGMATAP Portugal

Notas: (a) Consideramos na análise a EADS, empresa europeia com atividades em Portugal, por meio da Helibras no Brasil. (b) EDP atua no Brasil.

Caso 1 - Setor de concessão de serviços públicos

No âmbito de concessão de serviços públicos, a diplomacia econômica teve papel central no processo correspondente de (re)construção de uma ordem luso-brasileira por meio de incen-tivos diretos a investimentos portugueses no Brasil. Pesquisas em Portugal destacam o papel da diplomacia econômica duran-te a gestão do Primeiro-Ministro Antonio Guterres, de 1996 a 2001 (e.g. Leal, 2005). Antonio Guterres inaugurou uma nova vi-são nas relações entre os países ao propor uma aliança econô-mica no pós-1990 que era mais (geo)política do que econômica propriamente dita. Na primeira visita oficial bilateral ao Brasil,

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em abril de 1996, o primeiro-ministro foi acompanhado de am-pla comitiva de empresários e gestores de vários setores (en-volvendo organizações públicas e privadas). Essa visita oficial teve grande importância, por impactar profundamente não ape-nas as relações bilaterais mas também as políticas internacio-nais de ambos os países em seus espaços regionais respectivos – Mercosul e União Europeia – diante dos excessos e equívocos da ordem neoliberal liderada pelos EUA. Ainda em 1996, foi as-sinado o acordo que criou a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), reforçando o âmbito geoepistêmico daque-la política de diplomacia econômica dos dois países e também de outros países que constituem o mundo lusófono perante o avanço neoliberal do imperialismo da língua inglesa. A cria-ção da CPLP coincidia com a ascensão da diplomacia asiática e os primeiros sinais mais óbvios de fracasso do neoliberalismo. Esse acordo era particularmente interessante sob uma perspec-tiva de geopolítica porque tinha uma ex-colônia (no caso, o Bra-sil) como principal fomentador (Fontoura, 2007).

Com a deflagração da Crise Asiática em 1997 e o acele-rado declínio da ordem neoliberal ocidental e do Consenso de Washington, aquela política de diplomacia econômica iniciada por Guterres foi consolidada naquele mesmo ano pela Resolu-ção 61 do Conselho de Ministros. Esta declarou a opção de Por-tugal ter o Brasil como parceiro preferencial na internacionali-zação de empresas portuguesas. Foram, então, criados outros instrumentos voluntários de diplomacia econômica: realização de encontros anuais, celebração de acordos gerais para impul-sionar o IED e construção de facilitadores para a entrada das organizações portuguesas nas privatizações no Brasil (Barbo-sa, 2008). Além disso, foi iniciada, em Portugal, a Nova Políti-ca para a Internacionalização como o primeiro enquadramento legal dessa política. Várias parcerias empresariais foram esta-belecidas para fortalecer os investimentos portugueses nas pri-vatizações do Brasil, com especial destaque para os setores de telecomunicações, bancário e turismo. Visto que não havia um grande acordo geral formal de integração econômica entre os dois países, esse acabou se tornando o mais importante caso de aplicação da diplomacia econômica portuguesa (Leal, 2005).

Com o programa de privatizações estabelecido pelo Go-verno Fernando Henrique Cardoso (1992-2000), a Portugal Tele-com (PT) e a Energias de Portugal (EDP) efetuaram importantes aquisições no Brasil no âmbito de concessão de serviços públi-cos. Esses investimentos cristalizaram os esforços da política de diplomacia em setores que eram mais sensíveis em termos de geopolítica (Barbosa, 2008). A PT, cuja privatização em Por-tugal foi iniciada em 1995, adquiriu participação minoritária em 1998 no consórcio vencedor da Telesp Celular, que posterior-mente se chamaria Vivo e se tornaria a maior operadora móvel

da América Latina e a quarta em nível mundial. Essa aquisição, de USD 4 bilhões, representou, na época, a segunda maior pri-vatização no mundo e o pico do volume de IED de Portugal no Brasil (Silva, 2005). Num longo episódio que só terminou no iní-cio de 2011 e que teve a intervenção da Comunidade Europeia, a PT desfez-se de sua participação na Vivo para posteriormen-te adquirir uma participação de 22,4% na Oi, em uma troca de participações com a Telefonica (empresa espanhola), que teve a aprovação do governo brasileiro de acordo coma estratégia do governo de Lula da Silva de constituir uma gigante de teleco-municações nacional, que se transformou em lusófona, capaz de desafiar a ordem econômico-político-linguística de um setor que ficou particularmente importante em termos de geopolíti-ca após os eventos de 11 de setembro (Porto-Gonçalves, 2008).

A dimensão de geopolítica e o nexo correspondente de governança-gestão também tiveram destaque no processo de entrada da EDP no Brasil (Fernandes et al, 2012).Tanto a estru-tura acionária da PT (Grupo Espiríto Santo - 10%; RS Holding - 10%; Telemar Norte Leste - 7%; Caixa Geral de Depósitos - 6%; Norges Bank - 5%; Capital Research Management - 5%; UBS AG - 5%; Brandes Investments Partners - 4%; Europacific Growth Fund - 3%; Grupo Visabeira - 3%; Barclays Plc - 3%; Black Rock Inc. - 2% e Controlinvest e International Finance - 2%, PORTU-GAL TELECOM, 2012) quanto a estrutura da EDP (Parpública - 25%; Iberdrola Energia - 7%; Liberbank - 5%; José de Mello S.A. - 5%; Senfora SARL - 4%; Grupo BCP e fundos de pensões do BCP - 3%; Sonatrach - 2%, Banco Espírito Santo - 2%; Qatar Hol-ding - 2%; Caixa Geral de Depósitos e EDP - 1% cada; EDP, 2012) incluem empresas privadas de capital aberto fortemente conec-tadas a organizações governamentais dos dois países.

Além de organizações privadas e públicas dos dois paí-ses, merece destaque a presença de outros atores e instituições na estrutura de governança dessas duas empresas: (a) fundos de pensão na EDP; (b) fundos de private equity na PT; (c) fundos soberanos da Noruega na PT e (d) fundos do Qatar na EDP. A di-mensão geopolítica ampliada do nexo governança-gestão nes-ses dois casos ainda não foi explorada por pesquisadores por-tugueses, devido à ênfase à diplomacia econômica portuguesa sob uma perspectiva nacionalista, em detrimento de uma pers-pectiva descolonizadora de RI que se tornou necessária para a teorização não eurocêntrica da governança global (ver Hurrell, 2011). Em dezembro de 2011, a companhia estatal chinesa Chi-na Three Gorges adquiriu da Parpública 21,35% do capital so-cial da EDP, especialmente devido não somente aos avanços da ordem chinesa na África e na América Latina e aos investimen-tos de Portugal e Brasil na África e na China, que ampliam o pro-cesso de (re)construção de uma ordem luso-brasileira ou bra-silo-portuguesa, mas também aos movimentos ocidentalistas

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liderados pelos EUA para conter ou “gerenciar” os tentativas de fortalecimentos de “outras” ordens (Ikenberry, 2008).

É importante destacar que nesses setores investigados – i.e, telecomunicações e energia – a importância da dimen-são geopolítica e do nexo de governança-gestão internacional ficou mais saliente com a ascensão do unilateralismo dos EUA e a crescente relevância das grandes economias emergentes no âmbito da governança global (Porto-Gonçalves, 2008).

Caso 2 – Indústrias de aeronaves, aviação e defesa

Esse é um setor em que questões de segurança nacional e de geopolítica são tão ou mais importantes do que no caso ante-rior. A participação do Estado no nexo de governança-gestão manifesta-se obrigatoriamente, apesar de a literatura de NI/GI manter invisível a dimensão geopolítica correspondente, mes-mo após os eventos de 11 de setembro e a ascensão do unila-teralismo dos EUA. Análise histórica da composição acionária de empresas nesse setor mostra a importância de uma estru-tura de governança mais estado-cêntrica (governo-empresa-go-verno), uma variedade do nexo governança-gestão que costuma ser associada à corrupção pela literatura de GI/NI.

Merece destaque neste caso a Empresa Brasileira de Aeronáutica [Embraer] (2011), que vem sendo celebrada pela literatura de NI como exemplo de internacionalização de em-presa privada realizada em país menos desenvolvido (Casa-nova, 2009). Essa literatura esquece – ou torna invisível, para manter a invisibilidade dos diferentes arranjos liderados pelo campo da defesa nacional no mundo euro-americano – que a Embraer foi criada em 1969 pelo governo brasileiro em perío-do delicado da Guerra Fria. Por meio de uma política de reser-va de mercado ao longo de duas décadas e de políticas indus-triais baseadas em teorizações “bárbaras” negadas por GI/NI (em especial a teoria da dependência) que desafiavam as po-líticas de desenvolvimento internacional impostas pelos EUA ao Terceiro Mundo no contexto da Guerra Fria, a empresa atin-giu patamares de excelência até ser privatizada em 1994. A li-teratura celebratória de NI ignora o argumento de que a traje-tória da Embraer exige que especialistas em desenvolvimento internacional “reconsiderem a premissa de que o protecio-nismo gera inevitavelmente empresas sem competitividade” (Wells, 2009, p. 12).

A Embraer é uma empresa de capital aberto com ações cotadas na bolsa de São Paulo e ADRs na bolsa de Nova Iorque. Entretanto, a governança da empresa é complexa por causa do nexo governança-gestão e de questões de diplomacia econô-mica que se misturam com geopolítica. Tendo em vista a im-portância estratégica dessa organização para o complexo de

defesa do País, o governo brasileiro manteve uma goldensha-re por meio da qual pode evitar que acionistas privados con-sigam atingir a maioria do capital, seja individualmente ou em grupo (desenho parecido com o da PT em Portugal). Ademais, não há um bloco bem definido de controle acionário; a maioria dos membros do conselho de administração é independente, ou seja, não ligada a nenhum dos acionistas.

Análise cuidadosa de sua composição acionária revela a presença do governo brasileiro, fundos de pensão e fundos de private equity (Previ – 11%; Oppenheimer Funds– 8%; Thornburg Investment Management – 7%; BNDESPar– 5%; Black Rock Inc. – 5% e Cia Bozano – 4%; BMF BOVESPA, 2012). Em dezembro de 2004, associada à European Aeronautic Defence and Space Com-pany (EADS), a empresa venceu o leilão de privatização da OGMA (Indústria Aeronáutica de Portugal S.A.). A OGMA, com sede em Alverca, é uma empresa portuguesa qualificada no setor da avia-ção civil e militar que se dedica à manutenção, reparação e revi-são geral de aeronaves, motores e acessórios (Embraer, 2011). A EADS, por sua vez, é uma empresa do setor aéreo e de defesa que congrega a participação acionária de governos europeus. O governo português, por meio da holding Empordef, manteve uma participação minoritária de 30% na OGMA; os outros 70% estão com Embraer (70%) e EADS (30%). A Empordef consolida a parti-cipação acionária do governo em empresas da área de defesa e é responsável pela definição de estratégias de defesa do Ministé-rio da Defesa Nacional. Após a Embraer vencer o leilão de licita-ção da OGMA, em 2005, em uma potencial demonstração de reci-procidade, a TAP, que pertence 100% ao governo português, por meio da Parpública S.A., venceu a licitação para assumir a área de manutenção de aeronaves da antiga Varig no Brasil, que era controlada pelo governo brasileiro.

Em 2008, a Embraer iniciou investimentos em Évora para a produção de partes para aeronaves. Esses investimentos es-tão alinhados com a estratégia do governo português de forma-ção de clusters de indústrias voltadas para a defesa (Embraer, 2011). Ao se associar à Empordef, por meio do controle da OGMA, a Embraer passou a seguir a estratégia ditada pela última, apesar de a Empordef ter um controle minoritário na OGMA. Essa análi-se desafia a literatura ocidentalista que descreve essa organiza-ção como modelo de empresa moldada pela ordem neoliberal. Este estudo revela uma intrincada teia de organizações com par-ticipações cruzadas de diferentes governos – englobando Brasil, Portugal, outros países da Europa e outros países emergentes ou semiperiféricos – que não foi explorada por pesquisadores portu-gueses. Análise mostra que o resgate do nexo governança-gestão por meio de uma teorização informada pela transmodernidade pluriversal e enunciada em “periferias” demanda a descoloniza-ção do conceito de diplomacia econômica.

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A análise dos casos revela a presença de agentes outros representando capital privado em fundos de private equity (ca-sos 1 e 2), capital público como fundos soberanos (caso 1) e capital híbrido em fundos de pensão (casos 1 e 2). Esse dese-nho de governança, que vem sendo negligenciado pela litera-tura dominante (como exceção, ver Ramamurti, 2011), confirma a importância do resgate do nexo governança-gestão interna-cional por pesquisadores e instituições nas periferias. Diálogos críticos entre periferias também são necessários, assim como o estabelecimento de um diálogo coletivo com o “centro” para ajudar a libertar a área de GI/NI.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo mostrou a importância de resgatar o nexo governan-ça-gestão internacional em GI/NI por meio de uma perspectiva enunciada no (e a partir do) contexto brasilo-português (ou lu-so-brasileiro) que desafia o caráter ocidentalista da área e tor-na visíveis dimensões de geopolítica. Ao desafiar o quadro de marginalização geopolítica produzida pela área de GI/NI, esse nexo não foi teorizado neste artigo como um segredo necessá-rio para a manutenção da ordem ocidentalista ou como pato-logia ou anomalia típica do resto do mundo. A construção de uma “outra” área de NI/GI que vá além da hegemonia euro-a-mericana demanda, então, o resgate de outros loci de teoriza-ção e enunciação.

Os casos investigados confirmam a importância de res-gatar o nexo governança-gestão internacional por meio do re-conhecimento da literatura de RI e do conceito de diplomacia econômica. A proposta desenvolvida neste artigo vai além dos avanços produzidos por pesquisadores portugueses, por mos-trar a necessidade de uma reteorização descolonizadora do conceito de diplomacia econômica. Influenciados pelo caráter eurocêntrico de RI e pelos processos de colonização protago-nizados por Portugal, pesquisadores portugueses têm privile-giado o conceito de diplomacia econômica sob uma perspec-tiva nacionalista que impede o reconhecimento dos múltiplos contextos de diplomacia econômica mobilizados por diferen-tes nexos de governança-gestão nas diversas “periferias” que constituem ordens que desafiam a hegemonia da ordem neo-liberal ocidental.

Ao ir além da perspectiva ocidentalista da área de GI/NI e também da perspectiva nacionalista que informa a pes-quisa portuguesa baseada no conceito de diplomacia econô-mica, o artigo mostrou, então, que o nexo governança-gestão é de central importância para o reconhecimento não apenas do processo de (re)construção de uma ordem luso-brasileira

ou brasilo-portuguesa, a partir do boom pós-1990, mas tam-bém de outras ordens em diversas outras periferias que cons-tituem um mundo em que diversos mundos e ordens coexis-tem. Os autores esperam que este artigo encoraje instituições e pesquisadores de “periferias” em geral, e no contexto luso--brasileiro em particular, a fomentar investigações e teoriza-ções descolonizadoras focadas no nexo governança-gestão e no conceito de diplomacia econômica para a coconstrução de uma “outra” área de GI/NI.

As seguidas crises da ordem neoliberal ocidental e os crescentes temores eurocêntricos de que “outras” ordens ve-nham a destruir a ordem civilizatória que vem sendo imposta há cinco séculos têm acirrado o quadro de colonialidade epis-têmica na área de NI/GI, não apenas nas periferias mas espe-cialmente no “centro”. A efetiva descolonização de GI/NI de-manda a constituição de diálogos críticos entre conhecimentos enunciados na “periferia” e entre estes e o “centro” da área. Por meio da mobilização do nexo governança-gestão que informa a geopolítica do conhecimento da área, a libertação de pesquisa-dores e instituições acadêmicas de GI/NI do “centro” é de vital importância para a construção de uma nova ordem em gestão que leve a um mundo em que diversos mundos e conhecimen-tos possam coexistir.

Este artigo sugere, então, que Brasil e Portugal devem e podem assumir responsabilidades, especialmente por meio do engajamento com a CPLP, para fomentar a substituição do universalismo epistêmico estabelecido pela modernidade eu-rocêntrica em GI/NI pela transmodernidade pluriversal vinda das periferias. Conforme afirma o ex-presidente de Portugal Mario Soares:

Felizmente, não dependemos hoje exclusiva-mente da União Europeia. Digo-o e sou, como sabem, um europeísta convicto, embora mui-to apreensivo quanto ao seu futuro. Perten-cemos à CPLP e à Ibero-América e temos uma posição destacada e verdadeiramente estra-tégica no Atlântico, que não devemos subes-timar. Não o esqueçamos nunca (Diário de Notícias, 2010, p.1).

Argumentamos, então, que pesquisadores, organizações e instituições nesses dois países devem reconhecer que a mo-bilização, na prática, do nexo de governança-gestão sob uma perspectiva descolonizadora de RI (i.e, que vá além de nacio-nalismos ou regionalismos) é condição necessária para viabi-lizar esse desafiante processo de descolonização e libertação da área de GI/NI.

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AUTORES | Alexandre Faria | Ana Lucia Guedes | Sergio Wanderley

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AMON [email protected] da Fundação Getulio Vargas, Escola de Administração de Empresas de São Paulo – São Paulo – SP, Brasil

ALEXANDRE DE PÁDUA [email protected] da Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Ciências Econômicas – Belo Horizonte – MG, Brasil

FÓRUMRecebido em 08.08.2013. Aprovado em 16.12.2014Este artigo tem coautoria de membro do Corpo Editorial Científico da RAE; foi avaliado em double blind review, com isenção e independência.Editores Científicos: Ernesto R. Gantman, Helà Yousfi e Rafael Alcadipani

O COTIDIANO E A HISTÓRIA: CONSTRUINDO NOVOS OLHARES NA ADMINISTRAÇÃOEveryday life and history: constructing new perspectives in Management

Lo cotidiano y la historia: construyendo nuevos enfoques en la Administración

RESUMOO objetivo deste artigo é discutir as possíveis contribuições de estudos que fazem confluir história e cotidiano para a construção de novos olhares sobre a Administração. Para atender a esse objetivo, debatemos a aproximação entre a Administração e a história e os estudos sobre o cotidiano como opção para se produzirem olhares alternativos dentro da Administração. Concluímos reiterando que a construção desses diálogos pode abrir trilhas interessantes para o desenvolvimento de conheci-mentos autorrefletidos e que estejam posicionados política, social e geograficamente.PALAVRAS-CHAVE | Administração, história, cotidiano, gestão ordinária, americanismo.

ABSTRACTThe purpose of this article is to discuss the possible contributions of studies that combine history and everyday life to build new perspectives about Management. To achieve this goal, we discuss the as-sociation of Management, history, and studies about everyday life as an option to produce alternative perspectives within Management. We conclude by reiterating that the construction of these dialogues can open interesting paths to the development of self-reflective knowledge that are politically, socially, and geographically positioned.KEYWORDS | Management, history, everyday life, ordinary management, Americanism.

RESUMENEl objetivo de este artículo es discutir las posibles contribuciones de estudios que hacen confluir his-toria y cotidiano para la construcción de nuevos enfoques sobre la Administración. Para cumplir ese objetivo, debatimos la aproximación entre la Administración y la historia y los estudios sobre lo coti-diano como una opción para producir enfoques alternativos dentro de la Administración. Concluimos reiterando que la construcción de esos diálogos puede abrir caminos interesantes para el desarrollo de conocimientos auto-reflejados y que estén posicionados política, social y geográficamente.PALABRAS-CLAVE | Administración, historia, cotidiano, gestión ordinaria, americanismo.

RAE-Revista de Administração de Empresas | FGV-EAESP

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-759020150205

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FÓRUM | O cotidiano e a história: construindo novos olhares na administração

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O objetivo deste trabalho é discutir como estudos que usem, de maneira dialógica, a história e o cotidiano podem possibilitar o aparecimento de outros olhares sobre os saberes e práticas na Administração, especialmente nos Estudos Organizacionais. Salientamos a importância das singularidades na construção das teorias, ao mesmo tempo que apontamos a elaboração de análises situadas no tempo e no espaço, bem como a ênfase nos “esquecidos” da Administração, como um contraponto às visões dominantes no campo, constituído majoritariamente por teorias que foram elaboradas com base na realidade dos Esta-dos Unidos da América (EUA).

Acreditamos ser possível questionar a hegemonia esta-dunidense, acerca de quais são os saberes considerados legíti-mos. Entendemos por hegemonia a supremacia de um conjunto de ideias sobre outras, numa relação dialógica que estabele-ce transformações nos discursos que se relacionam e estabele-cem o que é considerado centro e, por contraposição, periferia. No caso em tela, essa hegemonia pode ser chamada de “ame-ricanismo”, compreendido como a posição privilegiada de co-nhecimentos de estadunidense ou, de modo mais abrangente, anglo-saxão em relação àqueles produzidos em outras regiões (e.g. Frenkel, 2009), que afeta desde as narrativas sobre a for-mação da Administração – que tendem a colocar os EUA no cen-tro e outros países nas margens e de maneira subordinada – até à compreensão das práticas desenvolvidas em outras partes do mundo (ver Frenkel & Shenhav, 2003, 2006; Jacques, 1996).

Nesse sentido, é importante descolonizar o olhar do pesquisador (Alcadipani & Rosa, 2010), abrindo espaço para que as construções teóricas elaboradas na periferia do campo acadêmico possam ser destacadas (ver Alcadipani, Khan, Gantman, & Nkomo, 2012). Diferentes epistemologias podem ser consideradas para compreender o social, o cultural e o histórico, reconhecendo que há, na relação de hegemonia estabelecida pelos saberes “americanos”, certas construções que se impõem, criando discursos que simplificam o que é considerado “outro” (e.g. Ibarra-Colado, 2006; Said, 1990). Esse “outro”, constantemente relegado ao campo do “exótico”, é reconhecido mais como objeto de pesquisa do que como polo capaz de produzir saberes legitimáveis (Alcadipani & Rosa, 2010). Um exemplo é o trabalho de Murphy e Zhu (2012), que aponta a dificuldade de pesquisadores das periferias em publicar nos periódicos que se dizem “internacionais”, especialmente aqueles que vêm de países que não têm o inglês como primeira língua.

Como alternativa para contornar a hegemonia anglo-sa-xã na produção e distribuição de conhecimentos, apontamos a confluência de duas abordagens. A primeira é a opção por estu-

dos calcados na história. Acrescemos a esses as potencialidades de se partir do cotidiano das pessoas comuns, dos praticantes, como forma de abrir espaço para conhecimentos que são vivifi-cados pelas práticas das pessoas: diversos sujeitos que exercem práticas administrativas e não têm suas ações reconhecidas. Pensamos especialmente nos administradores de médios, pe-quenos e micronegócios, formais ou informais, familiares e não familiares, que praticam uma gestão que poderíamos chamar de “ordinária”, do dia a dia – noção em consonância com a ideia de cultura ordinária delineada por Certeau (1994).

Essa gestão ordinária, embora tenha pontos de contato com a Administração como discurso estruturado, não é direta-mente moldada por ela. Ao mesmo tempo, ela é a gestão que não se adéqua totalmente e que, na verdade, questiona na prá-tica a universalidade da Administração hegemônica e de suas lógicas de maximização de resultados e orientação racional das ações dos sujeitos, ainda que recorrentemente estabeleça tro-cas com esses discursos mais estruturados. É aí que, em geral, se situa o “administrador ordinário”, o pequeno comerciante que faz cálculos de cabeça e desconhece os conceitos da mate-mática financeira. Considere-se, ainda, o conhecimento dos tra-balhadores, que muitas vezes são ignorados nas narrativas da e sobre a Administração, mas que obviamente refletem e têm um ponto de vista sobre o contexto no qual se inserem, como dis-cutido por Holanda (2011).

Visando discutir a temática estabelecida e atender aos objetivos propostos, o texto foi dividido em quatro seções além da introdução. Na primeira, contextualizamos o campo de Es-tudos Organizacionais, enfatizando como a hegemonia dos sa-beres anglo-saxônicos estabelece um quadro de legitimidade no acampo, relegando às margens saberes “alternativos”. Em seguida, discutimos a aproximação entre a Administração e a história, apresentando e tecendo considerações sobre como a confluência entre essas áreas permite a construção de novos olhares na Administração. Em sequência, estabelecemos uma argumentação sobre o cotidiano como campo analítico, mos-trando que o enfoque nos particulares pode contrapor e enri-quecer as narrativas dominantes na Administração, em especial quando aliado às discussões sobre a história. Por fim, tecemos as considerações finais, momento no qual buscamos consoli-dar o debate realizado.

CONTEXTO DA ADMINISTRAÇÃO E DOS ESTUDOS ORGANIZACIONAISAo falar da Administração e dos Estudos Organizacionais, é ne-cessário abordar tanto os desenvolvimentos das discussões

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acadêmicas quanto o contexto no qual se dão. Cada saber cons-titui-se numa complicada relação com o contexto, e é também fruto de possibilidades abertas pela conjuntura de forças num dado momento. Nesse sentido, é importante considerar que as dinâmicas de relações de dominação ao estilo centro-periferia, nos moldes do que discute Said (1990), permeiam a lógica de construção de saberes nesse campo.

Ao clamarmos pela valorização do saber construído às margens do que é elaborado nos EUA, sustentamos a necessi-dade de se abrir espaço para construções não hegemônicas, produzidas nas periferias, como as abordagens pós-colonia-listas ou descolonialistas e a teoria da dependência (Mignolo, 2007), por exemplo. Não se trata de buscar uma improvável Ad-ministração livre de influências do campo hegemônico, mas de construir um espaço para pensar a área e suas práticas a partir de perspectivas alternativas, como propõem, por exemplo, Al-cadipani et al. (2012).

Pensar a Administração que fica à margem do centro – do conhecimento, da economia e da geopolítica mundial – é con-siderar que essa relação de hegemonia não é mecânica e que os saberes relacionam-se e, dessa forma, transformam-se (e.g. Frenkel & Shenhav, 2003). A Administração constrói-se como discurso que toma forma pela subordinação de certas perspec-tivas em relação a outras (Alcadipani & Rosa, 2011; Ibarra-Co-lado, 2006). Assim, concordamos com Candiotto (2010), que, baseando-se em Foucault, entende que os sistemas considera-dos racionais nas Ciências Humanas são a consolidação de sis-temas excludentes de poder que aceitam certas verdades en-quanto excluem diversos saberes concorrentes na formação de certo discurso (Foucault, 2009).

Como discurso, não se assenta apenas nas “coisas como elas são” nem é apenas “ilusão”. Para além de ser “verdadei-ro”, tem “efeito de verdade” e, ao incluir a realidade em sua representação, contribui para moldá-la, reafirmá-la e (re)cons-truí-la, conforme aponta Foucault (2009). Tal apontamento é compartilhado por Barley e Kunda (1992), que consideram que as teorias, por vezes, “criam realidades”, engendrando discur-sivamente os lugares que devem ocupar, entre outros, “o geren-te”, “o funcionário”, “o consultor” e “a empresa”.

Os discursos são estabelecidos em relação às práticas: “a autonomia do discurso e sua especificidade não lhe dão, por isso, um status de pura idealidade e de total independência his-tórica” (Foucault, 2009, p. 185-186). Assim, afirmar um desliga-mento das teorias com as práticas é ignorar que o próprio fazer acadêmico é uma prática que produz seus efeitos sobre outras práticas. Teoria e prática não guardam uma relação especular entre si e, tampouco, uma relação linear de determinação de uma sobre a outra. Haverá sempre mediações entre ambas que

fazem com que os discursos produzidos por uns e outros enun-ciadores tenham efeitos que se inscrevem em uma rede relacio-nal, permeada por disputas de poder. Nesse sentido, a posição (tanto metafórica quanto geográfica) de onde se fala adquire importância, como se discutirá adiante e como apontam, por exemplo, Xavier, Barros, Cruz e Carrieri (2012).

A supremacia do capitalismo liberal coloca que há ma-neiras ótimas de se gerenciarem as organizações, calcadas nas elaborações que são hegemônicas nos EUA, o principal ator geopolítico da contemporaneidade, como apontam Alcadipani e Rosa (2011) e Grey (2010). A Administração à americana cons-tituiu-se especialmente a partir da visão estabelecida no con-texto da Guerra Fria, momento em que a Administração se con-solidava como discurso científico e que Runté e Mills (2006) chamaram de “momento formativo”. Naquele momento, come-çaram a ser estabelecidas as posições em relação aos sindica-tos (Frenkel & Shenhav, 2003, 2006), ao trabalhador (sua cor e sua posição social) e o papel do indivíduo (Grant & Mills, 2006), tendo a mulher numa posição de subordinação (Runté & Mills, 2006). A administração era vista como um produto “america-no”, uma sociedade que não teria conflitos internos, ao mesmo tempo que serve como instrumento contra o comunismo (Jac-ques, 1996; Kelley, Mills, & Cooke, 2009). Concomitantemente, práticas e instituições, como as escolas de negócio, os progra-mas de MBA, as consultorias e o lugar de mando legitimado do gestor reiteram o papel dos EUA na constituição do campo da Administração (Jacques, 1996; Locke, 1996).

Outro elemento para se entender a hegemonia dos EUA é a desproporcionalidade em relação ao número de editores e de autores oriundos daquele país em periódicos que se pretendem de “nível mundial”, marginalizando mesmo pesquisadores eu-ropeus (Grey, 2010; Meyer & Boxenbaum, 2010; Murphy & Zhu, 2012). Epistemologias alternativas são deixadas de lado nessas publicações (Ibarra-Colado, 2006), e, como mostram Murphy e Zhu (2012), o conhecimento produzido por autores de fora dos países anglo-saxões não é representado nos principais perió-dicos da área. Tal estudo reitera a posição Meyer e Boxenbaum (2010), que apontam que a América do Sul e a África são mais sujeitas à sub-representação em periódicos “de nível mundial” do que autores de países da Europa (“ocidental”), mas que to-dos esses sofrem com a barreira da língua. Grey (2010) também nota que atualmente não há espaço para trabalhos que colo-quem em evidência estudos produzidos em outros lugares que não sejam os países centrais: a Europa central e, principalmen-te, os EUA.

Para Alcadipani e Rosa (2010, p. 372), as teorias adminis-trativas e a organização da academia bloqueiam o desenvolvi-mento de histórias locais sobre a gestão e têm como base:

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um tipo de “racismo epistêmico” que segrega e dispensa o conhecimento produzido fora de suas fronteiras sob o argumento de ele ser parti-cularístico, incapaz de alcançar a “universalida-de” dos modelos de gestão.

Ainda, conforme esses autores, deve-se alterar esse pensamento e:

[...] assumir a produção do conhecimento cien-tífico a partir da “pluriversalidade”, em que di-versas epistemologias são consideradas e po-tencialmente válidas para compreender o social. Potencialmente porque a descolonização ainda enfrenta o obstáculo das hierarquias coloniais que olham para o Sul como Outro lugar, Outra história, Outra cultura, habitada por Outros su-jeitos (Alcadipani & Rosa, 2010, p. 372).

Ibarra-Colado (2006) e Jacques (1996), entre outros, apontam a naturalização do saber administrativo, que o retira do contexto sócio-histórico sua origem. Para eles, as teorias ad-ministrativas do século XX fazem um duplo movimento de cons-trução da realidade organizacional e de ornamentação dessa realidade sob o manto da racionalidade, que exclui outros mo-dos de organizar que não aquele fundado no cálculo utilitarista. Para Mattos (2009), as teorias “tradicionais” (estadunidenses) da Administração constroem discursos de um conhecimento tido como puro ou neutro (restrito ao racional), absoluto e que se quer universal (e se torna excludente de outros saberes con-correntes). Esses discursos de matiz estadunidense triunfaram política e economicamente em parte por meio das tecnologias de gestão, que estabelecem modos de fazer supostamente neu-tros (Jacques, 1996), embora caiba ressaltar, como se discutirá adiante, quando tratarmos do cotidiano, que não existe a domi-nação completa.

Como afirma Benjamin (2006, p. 51) “saber é posse”, en-quanto para Foucault (1987) saber é poder. Assim, a Adminis-tração, como disciplina/saber, confere posse de um conheci-mento que se quer universal, pois é capaz de dar respostas aos mais diversos problemas em quaisquer organizações. Ao mes-mo tempo, poucos têm legitimidade para produzir e distribuir esses conhecimentos. A gestão dita “universal” deve ser vista como um espaço de saber-poder e de disputas, conforme mos-tram Clegg e Hardy (1996), de ressignificações.

Na mesma linha, Rowlinson, Jacques e Booth (2009) afirmam que boa parte do conhecimento em Administração é estabelecido numa chave “universalista” e “presentista” (presentist). Universalista, porque a teoria é elaborada como se

fosse aplicável a organizações de qualquer sociedade, a qualquer momento. Presentista, pois caracteriza as pesquisas que são narradas como se acontecessem sempre no presente. Assim, contexto e temporalidade são ignorados, produzindo conceitos genéricos, a ponto de serem utilizados para analisar (e solucionar) problemas de qualquer lugar ou momento histórico, ao mesmo tempo que o que diferiria a teoria hoje da que a precedeu seria seu aprimoramento paulatino decorrente do desenvolvimento da “ciência”. É essa chave de construção de argumentos que permite, por exemplo, que se identifique a “Administração” na construção das pirâmides, desconsiderando todos os processos históricos que inevitavelmente transformaram as relações sociais, as relações de trabalho, as formas de monitoramento e seus objetivos, entre outros aspectos.

Mattos (2009) aponta que, na Administração, como cam-po de saber-fazer, se acredita que as teorias se oferecem em fei-xes, ou totalidades, organizados. Para o autor, historicamente, um conjunto de teorias que são estruturalmente semelhantes surge como uma articulação de uma condição histórica especí-fica. Nesse sentido, quando autores buscam o estabelecimen-to de um paradigma que dê conta de toda a multiplicidade da área, como Pfeffer (1993), ou ignoram esse aspecto conjuntu-ral que permite a emergência de certas teorias que são ligadas ao contexto em que emergem, ou desejam reforçar exatamente essa posição de dominância.

Para superar essas características que legitimam a ciên-cia administrativa, mas enfraquecem seu potencial de explicar as nuances da realidade, defendemos, juntamente com outros autores (e.g. Clark & Rowlinson, 2004; Rowlinson et al., 2009; Vizeu, 2010), a utilização da história como forma de enrique-cer os debates em Administração (discutida na próxima seção) e, especialmente, da história associada ao cotidiano (discutida subsequentemente).

A APROXIMAÇÃO ENTRE HISTÓRIA E ESTUDOS ORGANIZACIONAISA aproximação entre a história e a Administração não é um evento isolado no âmbito das disciplinas acadêmicas. É im-portante frisar as mudanças que afetaram o campo da histó-ria, como lembra Burke (1992), após a influência causada pe-los debates ensejados pela Escola dos Annales (Burke, 2010; Novais & Silva, 2011), que ampliaram as fronteiras da discipli-na. Burke (1992) atesta que as novas formas de fazer história fizeram emergir questionamentos que ampliaram os horizon-tes dos problemas tratados pela disciplina. Ao mesmo tempo, Guarinello (2004) aponta para o desconforto com a história cen-

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tralizada na Europa e em objetos como nações e Estados, que perderam espaço para perspectivas, consideram atores antes ignorados e concentram-se em estudos de caso, na micro-histó-ria e na história do cotidiano.

É o caso, por exemplo, do trabalho de Ginzburg (1989), que, partindo dos documentos produzidos para o julgamento de um moleiro no século XVI, questiona a relação mecânica de determinação da cultura erudita sobre a cultura popular, de-fendendo uma relação dialógica e complexa. Ainda que espe-cíficas, as reflexões elaboradas com base nesse trabalho per-mitem pensar em como os “gestores ordinários” relacionam e relacionaram as suas práticas à Administração acadêmica e es-tadunidense que desembarcou no Brasil de maneira mais inten-sa a partir da década de 1950, como discutem Barros e Carrieri (2013) e Alcadipani e Bertero (2012).

Conforme Burke (1992), essa mudança de foco de análi-se levou à expansão das fontes consultadas, como as atas do julgamento das quais se valeu Ginzburg (1989). Isso contribuiu para a chancela de novos elementos como passíveis de aná-lise histórica, com os pesquisadores voltando-se à memória das pessoas, aos registros audiovisuais e ao uso da estatísti-ca, visando complementar ou substituir pesquisas realizadas com documentos (Burke, 1992). Aliás, a visão crítica ao uso de documentos como fontes foi influenciada pelas ideias de Foucault (2009), que defende que documento é monumento. Também pela valorização de outras fontes, inclusive para que aquilo que não era documentado pudesse ser estudado, já que toda atividade humana pode ser fonte de história (Burke, 1992; Goff, 2003).

Como ressalta Burke (1992, 2010), os questionamen-tos à supremacia da história política sobre outras construções possibilitaram a abertura do diálogo da história com diversas disciplinas, especialmente a sociologia e a economia. Novais e Silva (2011) apontam que a nova história, entendida como a in-flexão na disciplina provocada pela Escola dos Annales, já se institucionalizou como “história”, ainda que haja disputas em relação a qual das três gerações dos Annales dever ser consi-derada a “nova” (cf. Burke, 2010; Novais & Silva, 2011). Novais e Silva (2011, p. 11) entendem que, “como formação discursiva, a Nova História situa-se no interior da historiografia moderna e tem no diálogo com as ciências humanas um de seus compo-nentes essenciais”.

Nesse contexto, no qual Goff (2003) aponta que a histó-ria chega a correr o risco de perder-se como disciplina, diversas Ciências Sociais passaram a apropriar-se de elementos da his-tória para se repensarem e a seus objetos, entre eles a Admi-nistração (Clark & Rowlinson, 2004). Os diálogos mostraram-se um campo fértil para o desenvolvimento de novas perspectivas

na área. Além disso, o questionamento sobre as pontes entre história e Administração, que vinham sendo estabelecidas pela business history, consolidou-se (Weatherbee, 2012).

Os estudos de business history passaram, então, a convi-ver com abordagens que radicalizam o uso da história, a fim de elaborar visões alternativas sobre o presente (Rowlinson et al., 2009). Rowlinson et al. (2009) indicam que perspectivas que centralizam o papel da história e da narrativa como fundamen-tos da construção de análises vêm ganhando espaço e forta-lecendo a “virada histórica” na Administração (Clark & Rowlin-son, 2004; Rowlinson, 2013). A aproximação, já consolidada no exterior (Rowlinson, 2013) e em andamento no Brasil (e.g. Alca-dipani & Bertero, 2012; Vizeu, 2010), abre espaço para uma re-leitura do conhecimento produzido na área (Rowlinson et al., 2009; Üsdikem & Kieser, 2004), valendo-se, por exemplo, da noção de que o campo é um campo de diálogos e interpreta-ções em disputa para propor que se analise como os conceitos evoluíram no campo, utilizando a história conceitual (Matitz & Vizeu, 2012).

Weatherbee (2012), entretanto, aponta que, em sua maioria, os estudos históricos na área permanecem utilizando história como sinônimo do passado, daquilo que efetivamente aconteceu, ou seja, a transição entre a cientificidade e a noção de narrativa identificada por Rowlinson et al. (2009) não é uma aproximação unívoca.

O emprego mais comum da história nos estudos administrativos e organizacionais segue uma ló-gica que assume a existência de um passado exterior que é descobrível, onde a “verdade” é encontrada por meio da correspondência de re-ferenciais comuns entre os “fatos” e o passado – nos quais passado e história são sinônimos (Weatherbee, 2012, p. 205, tradução nossa, gri-fos no original).

Entendemos que as aproximações históricas serão la-cunares, tentativas de se buscarem elementos para compreen-der o presente sem jamais esgotá-lo. As explicações totalizan-tes podem perder de vista matizes importantes nos processos de transformação sofridos pelas teorias ao longo do tempo e, ao concentrar-se nas grandes transformações, não conseguir captar o porquê de elas terem ocorrido ou como se desenrola-ram. Ao mesmo tempo, de pouco adianta trazer elementos his-tóricos para a análise do presente se eles não são tomados em sua complexidade e se é atribuída uma causalidade teleológi-ca à história, como se o presente explicasse o que aconteceu no passado.

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A ideia de uma história unilinear e fonte de uma verda-de acessível e universal pode ser repensada com base na noção de narrativas pontuais reunidas pelo historiador a fim de repre-sentar um ponto de vista sobre um objeto. Seguindo Guarinello (2004), entendemos que a história (europeia no que concerne à história do mundo e estadunidense no caso da Administra-ção), que se quer universal, deve ceder espaço para as cons-truções estabelecidas com base em objetos específicos, locais e do cotidiano de cada pesquisado, que, no seu conjunto, co-laboram para uma história geral que, contudo, nunca será ple-namente escrita.

Ao propor não apenas a história e o cotidiano, mas es-tudos de história do cotidiano como fundamento para a cons-trução de novos olhares sobre a história na Administração, entendemos que tal transição tem potencial de permitir que narrativas que ficam à sombra das construções do centro saiam à luz. Pensar o cotidiano permite a elaboração de co-nhecimentos que sejam dissonantes daqueles que são hege-mônicos, já que, ao contrário do que é geral, busca o que há de específico e abre espaço para o dia a dia das “pessoas co-muns” e suas artes de fazer, que ganham a atenção da nova história (Matos, 2002).

Uma das formas privilegiadas de se articularem sa-beres locais contra a hegemonia da Administração de ma-tiz estadunidense é a recuperação da história de como se desenvolveram as teorias localmente, bem como discutir as adaptações às quais foram sujeitados saberes “importa-dos”. Ao expor os processos específicos que permitiram a consolidação de certos discursos em detrimento de outros, bem como a forma específica de apropriação dos conceitos, seria possível ressaltar as singularidades das dinâmicas que acontecem localmente. Essa operação poderia ser elabora-da, por exemplo, por meio da história dos conceitos (Matitz & Vizeu, 2012) ou do trabalho histórico com atores institu-cionais importantes, como escolas (e.g. Alcadipani & Berte-ro, 2012; Barros & Carrieri, 2013) e associações de empresá-rios (Zanetti & Vargas, 2007), ou mesmo sujeitos praticantes, como os comerciantes que aprenderam intuitivamente a ad-ministrar no próprio fazer do seu ofício (Barros, Xavier, Cruz, Carrieri, & Lima, 2012).

Todo o processo de criação e (re)produção do discurso efetiva-se no âmbito do fazer cotidiano das pessoas, muitas ve-zes no anonimato. Dessa forma, pesquisas que partem do coti-diano para narrar os modos de fazer e as concepções teóricas que vão tomando corpo podem ser de grande valia para o esta-belecimento de um grupo contra-hegemônico de saberes situa-dos localmente. Na próxima seção, nos aprofundaremos nes-sa discussão.

DO UNIVERSAL AOS PARTICULARES: O COTIDIANO

Assim como a história, a vida cotidiana tem sido utilizada como pano de fundo teórico, metodológico e epistemológico em diversas áreas de estudos, como a Filosofia, as Ciências Sociais, a Geografia, a História e as Ciências Sociais Aplicadas, entre elas a Administração. No que se refere ao tema do cotidiano, Chizzotti (2004) ressalta que autores como Agnes Heller, Henri Lefebvre e Michel de Certeau são os mais utilizados para se discutir esse tema no Brasil. Os estudos sobre o cotidiano tomam a experiência comum como ponto de partida para analisar fenômenos mais abrangentes, relacionando as tramas que ligam o dia a dia à transformação e reprodução de estruturas sociais (Guarinello, 2004). Nesse sentido, eles abrem espaço para que múltiplas visões sejam aceitas concomitantemente como parte da história, que pode ser protagonizada por pessoas comuns, em vez de olhar apenas os “grandes homens” (Certeau, 1994).

O cotidiano, contudo, é pouco trabalhado na Administra-ção e também nos estudos organizacionais, embora haja exce-ções, como o trabalho de Oliveira e Cavedon (2013), sobre a mi-cropolítica no cotidiano de um circo, e a investigação de Vargas e Junquilho (2013) sobre o fazer administrativo dos gestores. A partir de Certeau (1994, 1996), é possível não apenas analisar novos objetos de pesquisa na Administração, mas também lan-çar outros olhares sobre o que já é frequentemente estudado. Para Certeau (1994), estudar o cotidiano e enfatizar as ações dos sujeitos, bem como a criatividade e as formas de apropria-ção do real que emergem das múltiplas interações, permite uma reação à história única, representando uma reivindicação de espaço e um apelo à valorização da ação produzida no coti-diano por uma infinidade de sujeitos.

A valorização do cotidiano dá-se num contexto em que as diferenças regionais são, muitas vezes, ressaltadas, ainda que se atribua aos sujeitos uma só lógica de ação (Levigard & Barbosa, 2010). A isso, contrapõe-se o fazer real dos indivíduos que encontram diversas soluções para seus problemas práti-cos, como discutido por Vargas e Junquilho (2013), ainda que tenham por ponto de partida para suas ações as lógicas domi-nantes da contemporaneidade, como observaram Oliveira e Ca-vedon (2013). A dominação absoluta das lógicas hegemônicas sobre todos os fazeres dos indivíduos exigiria aos sujeitos uma coerência que beira o impossível, abrindo-se, assim, possibili-dades de se discutir o significado dessas incoerências, como formas de expressão criativa.

Segundo Guarinello (2004), o cotidiano é o momento em que o passado se liga ao futuro e no qual as estruturas so-ciais vivificam-se, exercem seus efeitos e são transformadas.

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O autor indica que, apesar de aparecer, à primeira vista, como um momento de mera reprodução das estruturas do passado, o cotidiano é o momento da mudança. Guarinello (2004) rei-tera que não há por que pensar história e cotidiano de manei-ra separada, como se a primeira fosse uma instância metafí-sica e ativa, ao passo que o segundo seria algo concreto, mas imutável. Para ele, o acontecimento histórico é sempre fruto do cotidiano.

No mesmo sentido, Duran (2007, p. 118) afirma que o co-tidiano é “portador de uma historicidade que deve ser percebi-da com a preocupação investigativa de dar vozes a diversos su-jeitos históricos elaborando a construção e desconstrução da história, partindo de novas fontes e de novos objetos”. O co-tidiano permite, assim, identificar como as grandes estruturas impactam o dia a dia das pessoas, mas também como elas se valem de pequenas astúcias (Certeau 1994) para resistir à domi-nação e, mesmo, provocar transformações.

No cotidiano “é necessário que atividades, pensamen-tos, e ações dos indivíduos sejam espontâneos [...], pois senão se tornaria inviável a produção e reprodução da sua existência social” (Rossler, 2004, p. 106). Por isso, Rossler (2004, p. 107) entende que, na “vida cotidiana, os pensamentos e as ações são muito mais determinados por sua funcionalidade [...] ime-diata do que por razões de ordem teórica ou filosófica”. Nes-se processo, as ações cotidianas estão constantemente em mu-tação, já que “saber algo significa que o sujeito particular se apropria dos conteúdos de seu meio, incorpora neles sua pró-pria experiência, conseguindo realizar, assim, tipos heterogê-neos de ações cotidianas” (Caldeira, 1995, p. 7).

O estudo do cotidiano é, então, conforme Duran (2007), muitas vezes contraditório à ideia de que a razão e a racionali-dade são o substrato único da ação humana. É no cotidiano que emergem: “‘artes de fazer’, ‘astúcias sutis’, ‘táticas de resistên-cia’ que alterariam os objetos e os códigos, e estabelecendo uma (re)apropriação do espaço e do uso ao jeito de cada um” (Duran, 2007, p. 118). Mesmo quando aparentam ser mera re-produção, as ações do cotidiano podem ser reinventadas e rea-propriadas num sentido transgressor das normas vigentes (Oli-veira & Cavedon, 2013).

Dessa forma, no cotidiano, os sujeitos são chamados a reproduzir o conjunto de sistemas hegemônicos que os subju-ga. Ao mesmo tempo, têm espaço para as pequenas subversões das regras, seja para afrontar os poderes estabelecidos ou para ampliar seu conforto com as ações desempenhadas (Certeau, 1994). Pesquisar sobre o cotidiano não é ignorar os fatores com impactos nos grandes conjuntos, mas tentar percebê-los com base na discussão sobre o detalhe. Cabe ainda ressaltar, em conformidade com Certeau (1994, p. 143):

O saber fazer das práticas cotidianas não seria conhecido senão pelo intérprete que o escla-rece no seu espelho discursivo, mas que não o possui tampouco. Portanto, não pertence a nin-guém. Fica circulando entre a inconsciência dos praticantes e a reflexão dos não praticantes, sem pertencer a nenhum. Trata-se de um saber anôni-mo e referencial, uma condição de possibilida-des das práticas técnicas ou eruditas.

A ação do sujeito é sempre um novo desafio ao poder es-tabelecido, pois colocará em desenvolvimento algo novo, ainda que o indivíduo não tenha intentado estabelecer qualquer tipo de afronta às disciplinas que o regulam (Souza, 2002). Isso por-que o agir sempre é portador do novo, e o cotidiano não permi-te a repetição eterna, já que o sujeito e o contexto da ação estão constantemente em transformação, a partir da interação com as forças que o cercam.

O presente que não é mera repetição do passa-do, mas um campo de restrições e possibilida-des em aberto para projetos alternativos de fu-turo. O presente, entendido como o dia de hoje, é como o vértice de uma tríade temporal que for-ma, com passado e futuro, o curso da história (Guarinello, 2004, p. 26).

Estudar o cotidiano permite, assim, analisar a riqueza das ações dos sujeitos que são, muitas vezes, esquecidos pe-las teorias sociais (Martins, 2008), incluídas as administrati-vas. Cabem, além do pequeno “capitalista”, as ações dos fun-cionários de uma lojinha ou de quaisquer grupos de sujeitos esquecidos, como os mascates, caixeiros e tropeiros (Barros et al., 2012), que têm no cotidiano o seu espaço de fazer e re-flexão, no qual produzem e reproduzem o conjunto da reali-dade social.

Além dos estudos da realidade dos indivíduos isolada-mente, intentamos provocar os pesquisadores da Administra-ção a buscar compreender as estruturas sociais e o contexto es-pecífico no qual as ações se realizam, com base em pesquisas que tomem como objeto o cotidiano. Para isso, contudo, é ne-cessário ir além do anedotário (Guarinello, 2004), ao mesmo tempo que se dá peso à atuação dos sujeitos. Não “um indiví-duo abstrato ou excepcional, mas sim o indivíduo da vida coti-diana, isto é, o indivíduo voltado para as atividades necessárias à sua sobrevivência” (Patto, 2013, p. 124). Conforme Caldeira, “cotidiano e história se interpenetram e, dessa forma, pode-se compreender que o conteúdo social presente nas atividades co-

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tidianas não é arbitrário e que o cotidiano reflete e antecipa a história” (Caldeira, 1995, p. 7).

Para Gomes e Santana (2013), a história oral é a técnica mais adequada para se resgatar o cotidiano das pessoas anôni-mas a fim de reconstruir a rotina de pequenas firmas ou de ra-mos de negócios que se perderam ou são marginais na eco-nomia. A história oral, bem como o uso de arquivos pessoais, charges e jornais, permitiria aos estudos em Administração re-visar a participação dos diversos atores na construção das orga-nizações, sem permanecer privilegiando apenas aqueles que, pela posição de poder que ocupam, têm mais capacidade de fa-zer suas narrativas ficarem registradas.

A História Oral tem condições de recuperar a vi-são das pessoas comuns dentro das empresas – os trabalhadores e operários – trazendo à tona as “memórias subterrâneas” de grupos excluí-dos do processo decisório, que, de outra forma, não seriam consideradas nem fariam parte da História (Gomes & Santana, 2013, p. 14).

Partindo do uso da história oral, mas também de outras fontes, como arquivos pessoais, vídeos ou charges, é possível, assim, recontar as experiências microscópicas dos sujeitos que contribuem para a construção das organizações. Por outro lado, é possível trocar a ênfase dos grandes negócios pelo cotidiano do trabalhador formal ou informal e pelas experiências de pe-quenos negociantes em empresas familiares ou não, formais e informais (Barros et al., 2012; Martins, 2008).

Se, como apontam Gomes e Santana, o “corriqueiro, o cotidiano da administração de empresas ainda é negligencia-do” (Gomes & Santana, 2010, p. 11), é possível afirmar que a construção das narrativas históricas sobre a administração no Brasil ainda é tímida e não reflete as especificidades do estabe-lecimento desses conhecimentos no País – com algumas exce-ções, como o trabalho de Curado (2001), que analisa o estabe-lecimento das práticas administrativas no Brasil, e o trabalho de Zanetti e Vargas (2007) sobre a apropriação dos discursos administrativos pelo empresariado nacional nas primeiras dé-cadas do século XX.

Acreditamos, assim, que, se estudadas as “artes de fa-zer” de pessoas cuja participação para a formação da socie-dade foi (e continua sendo) pouco analisada (Certeau, 1994), seria possível conhecer melhor as especificidades do desenvol-vimento da Administração em âmbito local. Ao mesmo tempo, abrir-se-ia espaço para entender as diferenças em relação às experiências dos países centrais que recorrentemente são usa-das de modelo para guiar a ação dos administradores locais.

Surge, assim, uma alternativa à história (da Administração) tra-dicional, na qual as experiências dessas pessoas são excluídas. É aberto espaço para o foco nos praticantes da “gestão ordiná-ria” e em seus modos de apropriação, produção e reprodução da Administração em âmbito local, ao longo do tempo, como discutido, por exemplo, por Frenkel e Shenhav (2006).

Os estudos de história do cotidiano permitem o foco na especificidade, como verificar o efeito de “grandes trans-formações” – a vinda de indústrias automotivas para o Brasil, por exemplo – na rotina das pessoas implicadas nos proces-sos. Aliás, o efeito desses “grandes eventos” nos indivíduos e como significados e reações são construídos podem ser ele-mentos estruturados de uma nova narrativa do acontecimento e da construção dos conhecimentos.

Para Carvalho (2006), bem como para Holanda (2011), as práticas administrativas são diversas, o que também pode ser mais bem compreendido se analisadas as minúcias que orien-tam a ação das diversas pessoas que exercem a Administração. A autora aponta, por exemplo, que algumas pessoas exercem a gestão de suas organizações pautadas na preservação de mo-dos de fazer e agir, como que mantendo uma tradição.

Não é apenas a teoria da Administração que precisa es-tar permanentemente aberta, mas também o olhar do pesquisa-dor, percebendo que a realidade é sempre mais complexa. Ela se constrói cotidianamente, ao longo do tempo e de modo dife-rente do que foi ou é narrado nos esquemas interpretativos do-minantes, ainda que tenham relação com as múltiplas instân-cias de produção de discursos interpretativos sobre o fazer, que vão desde o meio acadêmico, passando pelas revistas de negó-cio, até as vivências em família de cada sujeito que aciona os conhecimentos que possuí, incluindo os saberes práticos. O ali-jamento daquilo que é específico no pensamento administrati-vo foi ressaltado por Ibarra-Colado (2006), que pede por um es-tranhamento epistemológico em vez da reprodução irrefletida de conhecimentos e práticas produzidos alhures.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como viemos discutindo, as construções elaboradas nos países centrais, especialmente nos Estados Unidos, têm lugar de proe-minência na Administração. Mesmo com a inserção da perspec-tiva histórica, muitas vezes os estudos realizados com objetos ou com base em teorias não hegemônicas permanecem margi-nais, sendo a história da disciplina narrada a partir do ponto de vista dos EUA.

Diversos estudos buscam, contudo, contrapor-se à ideia de que a Administração é um corpo de práticas e saberes uni-

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versalizável. Pesquisadores como Alcadipani et al. (2012), Fa-ria, Ibarra-Colado e Guedes (2010), Cooke (2010), Ibarra-Colado (2006) e Chanlat (2000) têm questionado as “conversações an-glo-saxônicas”. Para esses autores, é preciso discutir a coloniza-ção dos saberes locais e fomentar o pluralismo, inibindo discur-sos homogeneizantes. A realidade da Administração é diversa, podendo ser estudada no cotidiano das pessoas, nas estraté-gias e práticas de sobrevivência utilizadas no dia a dia. Também é possível lançar luzes sobre a gestão ordinária, realizada coti-diana e despretensiosamente por diversos sujeitos anônimos.

A Administração como Ciência Social Aplicada busca es-tabelecer um conhecimento denominado moderno, em acordo com a racionalidade instrumental, voltada para o cálculo entre meios e fins, deixando de lado outras formas de administrar e agir no cotidiano. Na visão de Benjamin (2006), podemos dizer que a razão instrumental é a derrocada das outras razões. A ra-zão instrumental é típica do capitalismo, pois é uma racionali-dade que se volta para o aprimoramento da técnica e para o au-mento da produtividade.

O conhecimento administrativo baseado na razão ins-trumental, na ideia de progresso interminável, do aperfeiçoa-mento técnico das ferramentas e modelos trazidos na/pela mo-dernidade, busca reforçar uma temporalidade que leva a um sentimento de que tudo se torna transitório. Para Gagnebin (2004, p. 50), com base em Benjamin: “esta compreensão da temporalidade é inseparável da produção capitalista, em par-ticular do seccionamento do tempo no trabalho industrial e da transformação dos produtos da atividade humana em mercado-rias, novidades sempre prestes a se transformarem em sucata”.

Os fazeres cotidianos situados historicamente podem constituir-se como uma forma de questionar essa lógica que permeia boa parte das construções sobre Administração, colo-cando em questão a ascendência da racionalidade instrumen-tal sobre as outras formas construídas na sociedade (Benjamin, 2006; Ramos, 1981). Outro ponto importante e já mencionado neste trabalho é pensarmos no que Alcadipani e Rosa (2010) propõem, acerca da importância de descolonizar o olhar do pesquisador e assumir uma postura crítica diante do conheci-mento calcado na suposta segurança epistemológica advinda da mimetização dos padrões das ciências naturais. Nesse sen-tido, é importante reconhecer a alteridade não só do conheci-mento mas também do pesquisador e de cada um dos sujeitos e objetos de pesquisas.

É necessário estar atento aos diversos mecanismos de conformação do saber aos quais os pesquisadores também se submetem. O imperativo por publicações em revistas com as maiores qualificações nos sistemas de qualificação, como o

Qualis/ Capes, deve ser considerado concomitantemente aos padrões impostos por essas revistas, especialmente a confor-midade a um certo tipo de conhecimento. Além disso, no que concerne às revistas estrangeiras que dominam o topo do Qua-lis Capes, não se pode ignorar a demanda, por vezes implícita e insuperável, de se exigir que o autor tenha o inglês como pri-meira língua.

Como Santos (2006), concordamos que há conhecimen-tos heterogêneos que devem ser admitidos, conhecimentos ti-dos como vulgares, práticos. Conhecimentos com base no co-tidiano e historicamente situados, pelos quais os sujeitos de pesquisa orientam suas ações, dão sentido às suas vidas e às de suas famílias. Conhecimentos que podem dialogar com a ciência, criando oportunidades de novos saberes, fazendo, as-sim, com que o saber administrativo hegemônico, de origem estadunidense, reconheça outros saberes e, por consequência, sua falibilidade e seu paroquialismo.

Nesse sentido, a gestão ordinária pode ser entendida como aquela que não está pautada e não internaliza (ou inter-naliza apenas em parte) os princípios de desempenho e dis-ciplina, a racionalidade instrumental, os papeis predefinidos de produtor/empreendedor, útil para a sociedade e a separa-ção do trabalho/negócio/família. A gestão ordinária pode dar oportunidade ao pesquisador/professor de gestão para ob-servar as intencionalidades institucionais e de grupos sociais em conduzir um acordo implícito e objetivo da não incorpo-ração do valor humano nas práticas sociais. Narrar os desen-volvimentos cotidianos dos protagonistas dessa gestão margi-nalizada contribuiria para reposicionar seu status diante dos saberes legitimados.

Evidenciar uma gestão ordinária, outra gestão (Alcadipa-ni & Rosa, 2010; Barros, Cruz, Xavier, Carrieri, & Lima, 2011; Ho-landa, 2011; Ibarra-Colado, 2006), não é negar a Administração como um saber-poder. É questioná-la, buscando abrir o termo a uma reutilização e uma redistribuição que anteriormente não estava autorizada. Desconstruir a noção de que exista uma Ad-ministração unitária é possibilitar múltiplas significações, bus-cando emancipá-la das ontologias às quais está/esteve restrita e transformá-la em um espaço que permita que novos significa-dos possam emergir.

Em certo sentido, propomos que se reveja a postura na-turalizada diante da dominação das formas americanizadas de administrar, em geral tidas como portadoras de conteúdos neu-tros e normatizados. Desconstruir o termo e seus usos, com a inserção de novas perspectivas e abordagens no nosso hori-zonte de reflexão, é deslocá-los dos contextos dominantes nos quais foram dispostos como instrumentos de poder, e, inclusi-

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ve, colocar em análise nossa prática de ensino, de coordenação e participação de grupos de pesquisa, nossos lugares de saber--poder, analisando em que medida não contribuímos para a re-produção de um saber que exclui o “outro”, habitante das mar-gens do capitalismo, nós mesmos.

NOTA DOS AUTORESEste trabalho foi construído tendo por base um diálogo entre as ideias desenvolvidas nas teses de doutorado e de livre docência dos autores.

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BENJAMIN [email protected]ître de conférences au Conservatoire national des arts et métiers – Paris, France

FORUMReçu le 27.08.2013. Approuvé le 09.01.2014Accepté dans le cadre d’une procédure d’évaluation en double aveugle. Éditeurs Scientifiques : Ernesto R. Gantman,Helà Yousfi et Rafael Alcadipani

L’APPORT DE LA SOCIOLOGIE PRAGMATIQUE FRANÇAISE AUX ÉTUDES CRITIQUES EN MANAGEMENTContribuição da sociologia pragmática francesa para os estudos críticos em AdministraçãoThe contribution of French pragmatic sociology to critical Management studies

RÉSUMÉLa sociologie pragmatique française (SP), inspirée des travaux de Luc Boltanski et Laurent Thévenot, est de plus en plus utilisée par les études organisationnelles en management. Pourtant, la dimension critique de cette approche n’a pas encore été intégrée au profit de la connaissance en management et organisations (MOK). Dans cet article, nous explicitons l’apport que cette sociologie peut représen-ter pour les études critiques en management (CMS). En tant que science de la science des acteurs, nous suggérons que la SP est fertile pour développer une approche de performativité critique. En particulier, nous démontrons que l’approche permet de mettre en lumière les nouvelles formes de do-mination plus complexes s’exerçant dans les organisations contemporaines. En utilisant des études empiriques d’organisations mobilisant la SP, nous montrons comment les concepts de compromis et d’épreuve développés par cette approche présentent un outillage permettant de renouveler la cri-tique des organisations au profit de la MOK.MOTS CLÉS | Sociologie pragmatique française, Sociologie de la critique, performativité critique, études organisationnelles en management, études critiques en management.

RESUMOA sociologia pragmática francesa (SP), inspirada nos trabalhos de Luc Boltanski e Laurent Thévenot, é cada vez mais utilizada pelos estudos organizacionais em Administração. No entanto, a dimensão crítica dessa abordagem ainda não foi integrada para o proveito do conhecimento em Administração e organizações (MOK). Nesse artigo, esclarecemos a contribuição que essa sociologia pode apresentar para os estudos críticos em Administração (CMS). Enquanto ciência da ciência dos atores, sugerimos que a “SP” é fecun-da por desenvolver uma abordagem de performatividade crítica. Particularmente, demonstramos que tal abordagem permite trazer à luz as novas formas de dominação mais complexas exercidas nas organiza-ções contemporâneas. Através de estudos empíricos de organizações que mobilizam a “SP”, mostramos como os conceitos de compromisso e de prova desenvolvidos por essa abordagem apresentam ferramen-tas permanentes para se renovar a crítica das organizações em benefício da “MOK”.PALAVRAS-CHAVE | Sociologia pragmática francesa, Sociologia da crítica, performatividade crítica, estudos organizacionais em administração, estudos críticos em Administração.

ABSTRACTFrench pragmatic sociology (PS), inspired by the work of Luc Boltanski and Laurent Thévenot, is being increasingly used by organizational management studies. However, the critical dimension of this approach has not yet been integrated for the benefit of knowledge in management and organizations (MOK). In this article, we elaborate on the contribution that PS can represent for critical management studies (CMS). As a ‘science of the players’ science’ [science de la science des acteurs], we suggest that PS is fertile for the development of the concept of critical performativity. In particular, we de-monstrate that the approach allows shedding light on the new and more complex forms of domination exerted in contemporary organizations. Using empirical studies of organizations employing PS, we demonstrate how the concepts of compromise and test developed by this approach offer tools that allow renewing the critique of organizations for the benefit of MOK.KEYWORDS | French pragmatic sociology, sociology of critique, critical performativity, organizational management studies, critical management studies.

RAE-Revista de Administração de Empresas | FGV-EAESP

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-759020150206

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AUTEUR | Benjamin Taupin

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INTRODUCTION

Prenant son origine dans les Économies de la Grandeur (Boltanski & Thévenot, 1991), le courant de la SP est une approche sociologique qui gagne en reconnaissance dans le domaine des sciences humaines et sociales. Également appelée sociologie de la critique, la SP se donne comme « objet préférentiel la description et l’analyse de la manière dont les acteurs “eux-mêmes” désignent les êtres qui composent leur environnement (…) et, ce faisant, contribuent à performer le monde social  » (Boltanski, 2012, pp. 340-341). La méthode de cette sociologie consiste à étudier les discours des acteurs élaborés dans leur recherche d’un bien commun, c’est-à-dire dans la poursuite de ce qu’ils considèrent comme juste. Elle permet de mettre l’accent sur la créativité et sur l’inventivité des acteurs et de rendre sensible l’intelligence du social dont ils font preuve – quels qu’ils soient (Blokker, 2011).

Dans cet essai, nous explorons le potentiel de la SP en tant que théorie critique des organisations. Nous mettons en exergue la capacité de ce cadre à analyser de nouvelles formes de domination organisationnelle. En effet, l’utilisation de la sociologie de la critique de Boltanski et Thévenot met à disposition des outils concrets pour le chercheur voulant développer une approche critique en sciences de gestion. Dans ce contexte, l’emploi des notions de compromis et d’épreuve dans une démarche générale faisant l’hypothèse de relative liberté des acteurs permet la mise en avant de processus de domination complexe.

Nous recourrons au cadre d’analyse du caractère critique des recherches en MOK de Fournier et Grey (2000) et la notion de performativité critique (Spicer, Alvesson, & Kärreman, 2009 ; Alvesson & Spicer, 2012) avec ses prolongements (Alcadipani & Hassard, 2010) pour circonscrire les caractéristiques des CMS. Une fois les éléments constitutifs du caractère critique des analyses en management définis, nous montrerons que l’approche de la SP dispose de ces éléments et peut par conséquent représenter un axe de développement prometteur au profit des études critiques en management.

ÉPREUVES, COMPROMIS ET QUALIFICATION DANS LES ORGANISATIONS

Les études organisationnelles ont été influencées par la SP. Une revue de la littérature empirique organisationnelle inspirée par les Économies de la Grandeur de Boltanski et Thévenot a été réalisée par Jagd (2011). Ce dernier souligne la référence

de McInerney aux Cités dans son travail ethnographique (McInerney, 2008) ainsi que le lien historique entre Stark et la SP (Stark, 2000 ; Stark, 2009). Jagd mentionne également le recours à ce cadre par le groupe de travail de Joanne Roch (Roch, 2005 ; Boivin & Roch, 2006) sur les relations inter-organisations et les fusions-acquisitions. Enfin il utilise l’approche de Boltanski et Thévenot afin d’expliquer la résistance aux stratégies de changement dans les grandes entreprises françaises (Fronda & Moriceau, 2008). Depuis les premières références du potentiel de cette approche (Biggart & Beamish, 2003 ; Denis, Langley, & Rouleau, 2007 ; Thornton & Ocasio, 2008), l’intérêt de la communauté des études organisationnelles pour celle-ci a entraîné une production croissante de travaux utilisant la SP, pour la compréhension de phénomènes dans des domaines aussi divers que la comptabilité (Annisette & Richardson, 2011), les ressources humaines (Pernkopf-Konhaeuser & Brandl, 2010), la création d’un marché pour les dérivés climatiques (Huault & Rainelli-Weiss, 2011). Cet engouement s’est aussi traduit par l’émergence de travaux utilisant ce cadre de manière centrale pour l’analyse des organisations. Patriotta, Gond, et Schultz (2011) se sont fondés sur les justifications sur lesquelles les acteurs s’appuient pour réaffirmer la légitimité en vigueur dans le domaine de l’énergie nucléaire. Les auteurs ont ainsi pu mettre à profit la théorie de la Justification afin d’instruire la problématique du maintien institutionnel. Le maintien apparaît alors comme un processus soutenu par des controverses et des justifications publiques au cours desquelles les acteurs font appel à leur sens moral. La proximité des approches entre néo institutionnalisme et Économies de la Grandeur a mené à tenter de rapprocher le florissant essor de la notion de logique institutionnelle de cette SP (Cloutier & Langley, 2013). Une édition spéciale sur le néo-institutionnalisme a confirmé l’attrait de l’étude des organisations en articulant néo-institutionnalisme et Économies de la Grandeur (Dansou & Langley, 2012 ; Taupin, 2012). Cependant, si l’on excepte un travail de déconstruction de l’établissement des prix dans le commerce équitable (Reinecke, 2010), les études organisationnelles n’ont pas saisi l’approche issue des Économies de la Grandeur dans leur dimension critique. Plusieurs voix ont ainsi récemment appelé (Dunne, 2012 ; Cloutier & Langley, 2013, p. 17) au développement d’un agenda de recherche visant au rapprochement entre la SP et les l’analyse des mécanismes d’oppression au profit des études organisationnelles.

Pour la SP, le fait pour les acteurs de recourir à des principes moraux pour justifier leurs propos est exprimé par la notion de remontée en généralité. Dans leur ouvrage séminal, Boltanski et Thévenot construisent six mondes  qui rendent compte des registres d’argumentation utilisés par les acteurs

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lorsqu’ils remontent en généralité : le monde de l’inspiration, le monde domestique, le monde de l’opinion (ou du renom), le monde civique, le monde industriel et le monde marchand. L’ouvrage de Boltanski et Chiapello (1999) détermine une cité supplémentaire : le monde par projet. Claudette Lafaye et Laurent Thévenot (1994) ont quant à eux évoqué le monde de la cité verte. Dans leur démarche de justification lors des situations de dispute, les acteurs mobilisent les objets, matériels ou symboliques, en fonction des principes supérieurs auxquels ils font appel. La construction de leur argumentation va ainsi correspondre à des mondes (Boltanski & Thévenot, 1991). Ainsi, en rapport à un principe de généralité spécifique, l’appartenance à un monde détermine ce que l’on nomme

la qualification des objets et des personnes ainsi que leurs relations (voir la figure 1 ci-dessous). Par exemple, ce qui est grand dans le monde industriel, c’est le caractère performant et efficace. À l’inverse, quelqu’un d’inefficace sera petit dans ce monde. Dans le monde inspiré, la grandeur dépendra de la capacité à être créatif et inspiré et le fait d’avoir « les pieds sur terre » correspondra à une forme de dégénérescence. Dans le cadre tracé par Boltanski et Thévenot, la grandeur est «  la façon dont on exprime les autres, dont on les incarne, dont on les comprend ou encore dont on les représente (autant de modalités qui dépendent de la cité considérée) » (Boltanski & Thévenot, 1991, p. 167). La justice apparaît n’exister dès lors que dans une relation située, contextualisée et spécifique.

Figure 1. Les six mondes des Économies de la Grandeur

‘Mondes communs’

Marché Industrie Civique Domestique Inspiré Opinion

Mode d’évaluation (grandeur)

Le prix, le coût.L’efficacité technique

Le bien-être collectif

Le respect, la réputation

La grâce, la singularité, la créativité

Le renom, la gloire,

TestLe marché, la compétitivité

La compétence, la fiabilité

L’égalité, la solidarité

La confiance La passion, l’enthousiasme

La popularité, le public, la reconnaissance

Format d’épreuve pertinent

MonétaireMesurable : critères, statistiques

Formel, officielOral, exemplaire, garanti personnellement

Implication et expression émotionnelles

Sémiotique

Objets qualifiés

Des biens ou des services circulant dans un marché sans entraves

L’infrastructure, le projet, l’objet technique, la méthode, le plan

Les règles et régulations, les droits fondamentaux, les politiques de protection

Le patrimoine, local, l’héritage

Le corps ou l’article investi émotionnellement, le sublime

Le signe, le média

Etres humains qualifiés

Le client, le consommateur, marchant, le vendeur

L’ingénieur, le professionnel, l’expert.

Les citoyens égaux, la solidarité, les syndicats

L’autoritéLes êtres créatifs, les artistes

Les célébrités

Source : Adapté de Thévenot, Moody et Lafaye (2000, p. 241). Traduction de l’auteur.

Un malentendu courant à propos de l’utilisation de la SP consiste à l’utiliser comme un outil de classification des justifications (Breviglieri, Lafaye, & Trom, 2009). Or elle représente davantage qu’un simple outil de classification des discours : elle étudie la dynamique de l’accord, le processus qui engage l’ajustement des acteurs dans la vie sociale et mène à la constitution de mondes communs relativement stables. Au-delà du répertoire des cités, dont disposent les

acteurs et qui semble donné, l’intérêt de cette sociologie provient de la mise en lumière de ce processus à travers les notions fondamentales d’épreuve et de compromis (Nachi, 2006 ; Breviglieri, Lafaye, & Trom, 2009 ; Dansou & Langley, 2012). En mobilisant ces concepts, Taupin (2012) a résumé le processus de qualification que nous venons de décrire en explicitant les différents niveaux organisationnels et les éléments institutionnalisés (voir la figure 2 ci-dessous).

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Figure 2. La circulation de la critique à travers les niveaux organisationnels

Principes supérieurs communs / Cités

Eléments institutionnalisés

Principes supérieurs mobilisés Principes

supérieurs mobilisés

Remontée en généralité

des acteursLimitation

éventuelle de la situation

Acteurs

Qualifications / formats

d’épreuves

Mondes communs / Compromis

Niveau macro sociologique

Niveau micro sociologique

Justifications: dénonciation ou confirmation du compromis

Limitation éventuelle de la

situation

Eléments révélés par les épreuves

Source : Taupin (2012)

La notion de compromis constitue la pierre angulaire des Economies de la Grandeur (Nachi, 2004 ; Nachi, 2006). A travers la figure du compromis, il s’agit pour les individus de réduire les tensions entre des mondes multiples et d’en extraire plusieurs principes d’équivalence. Le compromis permet ainsi la coexistence de différents intérêts et manières de penser en mettant en place un vivre ensemble au-delà des oppositions indépassables. Boltanski et Thévenot (1991, p. 175) écrivent en ce sens : «  La multiplication des objets composites qui se corroborent et leur identification à une forme commune contribuent ainsi à stabiliser, à frayer le compromis. Lorsqu’un compromis est frayé, les êtres qu’ils rapprochent deviennent difficilement détachables  ». Afin que le bonheur des grands puisse profiter au bonheur des petits, le compromis doit permettre de faire coexister différents mondes, accroissant l’état de justice pour les acteurs. Il est par conséquent directement associé au principe du bien commun dans les Économies de la Grandeur. De ce caractère composite, le compromis tire une fragilité qui ne le rend pas pour autant éphémère. Comme l’indique la citation ci-dessus, le compromis peut être renforcé et donc apparaître comme non contesté. Lorsque le bien commun est atteint, la recherche des intérêts individuels est dépassée dans un compromis reconnu publiquement qui permet de sortir des disputes. Néanmoins, comme le rappelle Ricœur (1991, p. 3), «  le compromis est toujours faible et révocable, mais c’est le seul moyen de viser le bien commun ». Le compromis peut donc être ébranlé à tout moment en étant dénoncé. Par conséquent, dans le cadre de la SP, le terme de solidité ne peut que difficilement convenir pour décrire le compromis. Il s’agit d’une apparence de stabilité dans laquelle demeure la forme

dynamique incarnée par l’opposition ontologique entre les grandeurs irréconciliables associées dans un compromis.

L’exemple des établissements de crédit implantés dans des zones rurales permet d’illustrer cette notion. Des dispositifs composites sont mis en place (Wissler, 1989) pour permettre des points de passages entres les logiques relevant du monde domestique (l’ancrage local incarné par les relations amicales, familiales, de voisinage, de services) et celles relevant du monde industriel (volonté d’objectiver la décision d’octroi de crédit). Ainsi la décision de crédit finale dépasse la situation inextricable pour trouver un accord plus général qui réduit les tensions antérieures (Wissler, 1989, p. 113. La lettre en exposant indique la première lettre du monde de référence, I pour monde industriel, D pour monde domestique) :

l’analyste financier construit un planI de consolidation financièreD-I à moyen termeI. Il demande, en faisant valoir l’autoritéD du bailleur de fonds, à la familleD de s’engager davantage dans l’entreprise par une dotation en capital et un apport sur compte bloqué, pour prévenir le risque de détérioration des comptesI (...).

L’étude du processus d’octroi de crédit montre comment l’établissement bancaire a dû faire un compromis entre deux logiques d’action dans son fonctionnement. L’accord permet de dépasser la situation d’opposition entre l’analyse financière, relevant du monde industriel, et les recommandations du conseil d’administration local, engagé jusque-là dans une logique de jugement domestique. La nouvelle équivalence plus générale

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établie ici s’incarne dans de nouveaux objets composites qui renforcent le compromis : on demandera en contrepartie du crédit une cautionI-solidaireD consolidant l’accord réalisé entre monde industriel et monde domestique.

Pour la SP, le concept fondamental d’épreuve permet d’insister sur l’agence des acteurs dans un ordre institué (Breviglieri, Lafaye, & Trom, 2009). En s’intéressant aux situations où les individus sont relativement libres dans leur capacité à exprimer leur point de vue, rappelons que l’approche de Boltanski et Thévenot laisse de côté les épreuves qui ne répondent pas à la possibilité de la justification. En situation de justification, l’épreuve met en scène les individus et leur capacité à qualifier les objets ou les personnes : il s’agit d’une épreuve de légitimité. Par exemple, un individu pourra contester le caractère légitime d’une filière de commerce équitable en regrettant son manque paradoxal d’esprit solidaire (monde civique). Ou, de la même façon, en demandant l’accroissement du caractère concurrentiel de cette même filière, on pourra supporter l’agencement social en place, ici par le recours à la Cité marchande. L’épreuve représente «  le moment de mise en correspondance d’une action et d’une qualification, dans la visée d’une justification prétendant à validité générale » (Boltanski & Thévenot, 1991, p. 410). La contestation d’un ordre se fait par l’intermédiaire des épreuves de légitimité tout comme sa cristallisation sous la forme du compromis : plus un état résiste aux épreuves, plus il apparaît stable. Plus récemment, Boltanski (2009, p. 158) a distingué parmi les épreuves légitimes plusieurs types d’épreuves parmi lesquels doivent être évoquées les épreuves de vérité et les épreuves de réalité. Les premières confirment la réalité en la déployant dans sa complétude. Dans le domaine de la notation du crédit par exemple, elles sont souvent caractérisées par le discours tautologique ou par l’utilisation de formules qui ne privilégient pas l’argumentation en se contentant d’énoncer ce qui est bon ou mauvais. Ainsi au début des années 2000, suite aux différentes crises impliquant les agences de notation, les acteurs de l’industrie répétaient que le système en place permettait la meilleure des régulations : une agence ne publierait jamais une note d’une entreprise si elle n’était pas dans le même temps persuadée de son objectivité (Taupin, 2012). Les épreuves de réalité en revanche confrontent ce qui est avec ce qui est prétendu être, elles supposent une argumentation approfondie. Dès 2008, suite à la crise des subprimes, la majorité des acteurs de l’industrie questionnent la réalité précédemment énoncée en doutant de l’oligopole en charge des notations (l’argumentation se fonde sur la Cité marchande) ou de l’exactitude de ces dernières (l’argumentation se fonde sur la Cité industrielle). Toutefois, les épreuves de réalité ne présument en rien de l’issue pour l’ordre régnant. Elles peuvent aussi bien renforcer qu’ébranler le compromis (Patriotta, Gond et Schultz, 2011 ; Taupin, 2012).

Luc Boltanski a récemment établi un nouvel agenda pour déployer la dimension critique de la SP (Boltanski, 2009 ; Boltanski, 2011). Il s’agit de développer une sociologie pragmatique de la critique en adoptant une position métacritique. La transposition d’un tel agenda au profit des CMS apparaît comme prometteuse (Dunne, 2012). Notre recherche propose ainsi de mobiliser la SP afin d’adopter une démarche critique au profit de la MOK. Il a toutefois été reproché à Boltanski l’aspect exclusivement théorique et général de son ambition (Fabiani, 2011, p. 405). A partir des outils tels que le compromis et l’épreuve, notre travail entend puiser dans les travaux de sciences de gestion existants s’inspirant de la SP pour contourner cette difficulté et fournir aux chercheurs de cette discipline une possibilité de mettre en œuvre la dimension critique de la SP.

LES CMS EN SCIENCES DE GESTION

Quelles sont les caractéristiques des études qui ont développé une perspective critique en sciences de gestion ? Fournier et Grey (2000) ont tenté de dégager des thèmes généraux autour de la notion de recherche « critique » en management. Premièrement les CMS partagent une visée de dénaturalisation. Il s’agit de montrer que le statu quo n’est ni naturel, ni inévitable, et que les choses pourraient être autrement. Deuxièmement, la réflexivité de ces travaux concerne la posture du chercheur et sa relation à son objet d’étude en termes d’épistémologie, d’ontologie et de méthodologie. Les études critiques remettent en cause l’idée qu’une réalité externe au chercheur peut être saisie objectivement par un protocole de recherche ancré dans le positivisme, c’est-à-dire recherchant l’objectivité là où la construction de la MOK semble empreinte d’une subjectivité non avouée par le chercheur. Enfin, la démarche des CMS est non-performative : elle vise à s’extraire de la perspective privilégiant la rationalité instrumentale (d’un point de vue logique, chercher le rapport moyens/fin optimal) comme manière dominante de concevoir et de réaliser le fonctionnement des organisations. Afin de statuer sur le caractère « critique » d’une théorie, la théorie de l’Acteur-Réseau (ANT) de Bruno Latour, Whittle et Spicer (2008) ont repris l’approche de Fournier et Grey pour en examiner les fondements ontologiques, épistémologiques et politiques.

Dans le domaine des sciences de gestion, l’opération critique est généralement réalisée par l’intermédiaire d’opérations de dévoilement (Golsorkhi, Leca, Lounsbury, & Ramirez, 2009). Les CMS ont été inspirées par les axes théoriques des courants de la sociologie critique, de l’Ecole de Francfort, du marxisme et de ses variantes. Selon cette approche critique des MOK, la réalité serait dissimulée aux acteurs et le

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chercheur serait le seul à même de la révéler. On recherche alors la structure objective qui guide les acteurs dans la vie sociale. Dans ce cadre, les agissements des acteurs consistent en des réponses à l’existence de ces structures.

Cette conception des CMS a cependant été contestée comme laissant trop de place aux considérations épistémologiques (Thompson, 2004). Thompson et O’Doherty (2009) ont souligné les conséquences de cet état de fait : les CMS s’éloignent des pratiques et des acteurs organisationnels en ignorant largement les processus concrets de travail. De ce fait, la critique, perdant toute proximité avec la réalité vécue, ne parvient pas à remettre en cause les phénomènes de domination managériale (Thompson, 2004). Ces constatations ont mené à la redéfinition de la notion de performativité (Spicer, Alvesson, & Kärreman, 2009 ; Alvesson & Spicer, 2012) pour adopter la notion de « performativité critique ». Dans une perspective de performativité critique, le MOK doit chercher à s’extraire de l’analyse de l’aliénation dans la forme traditionnelle que nous venons de décrire. Alors que la performativité traditionnelle se contente de mettre en avant la manière par laquelle les discours sont mis en adéquation avec les structures de sens, la performativité critique insiste sur le processus selon lequel les discours sont « utilisés de manière active, parodiés et modifiés » (Spicer, Alvesson, & Kärreman, 2009, p. 544, traduction de l’auteur). La performativité «  implique une intervention active et subversive dans les discours et les pratiques managériaux » (Spicer, Alvesson, & Kärreman 2009, p. 538, traduction de l’auteur). Alcadipani et Hassard (2010) ont retenu cette vision plus affirmative et positive de la critique pour déceler à leur tour le potentiel critique de la théorie de l’Acteur-Réseau en MOK. Spicer et autres (2009, p. 545) identifient cinq éléments constitutifs d’une approche de performativité critique : adopter une posture affirmative, une éthique du care, une orientation pragmatique, prendre en compte les potentialités et adopter une orientation normative. Nous les résumons dans le tableau 1 ci-contre.

Alvesson et Willmott (2012, p. 201, traduction de l’au-teur) notent que la notion de performativité critique combine la théorie critique avec « une reconnaissance des contraintes du monde de l’entreprise et une compréhension plus empathique de la situation des managers et des autres acteurs des organi-sations, de leurs préoccupations et de leurs possibilités d’ac-tion ». Néanmoins, dans leur article séminal, si Spicer et autres exposent quelques pistes pour le développement d’une appro-che performative des CMS, ils insistent sur le caractère partiel et non définitif de leur illustration du concept, notamment lors de leur tentative de présentation des “tactiques” de la perfor-mativité critique (Spicer, Alvesson, & Kärreman, 2009, p. 545).

TABLEAU 1. Les caractéristiques de la performativité critique selon Spicer et autres (2009)

Caractéristique Mise en œuvre

Posture affirmativePositionnement à proximité de l’objet de critique afin d’identifier les points de révision potentiels.

Ethique du carePermettre l’expression des opinions des acteurs mais aussi chercher à les questionner de manière subtile.

PragmatismeTravailler avec de aspects spécifiques d’une organisation.

PotentialitésCréer un sens de ce qui pourrait être en engageant des potentialités latentes dans une organisation.

NormativitéAssertion systématique de critères utilisés pour juger les bonnes formes d’organisation.

Source : Spicer et autres (2009)

Plusieurs tentatives d’opérationnalisation de la notion de performativité critique ont été réalisées par les chercheurs en sciences de gestion. Dans leur approche critique du leadership, Alvesson et Spicer se sont focalisés sur la présentation de la situation réalisée par le manager lui-même et non sur les caractéristiques de ce dernier, telles que ses traits de caractère, ses valeurs ou ses compétences (Alvesson & Spicer, 2012, p. 379). Dans un autre travail, Spicer et autres (2009, p. 549) proposent de mettre en œuvre l’éthique du care au travers d’une mystery-led approach. Pour le chercheur, il s’agit de travailler sur des mystères organisationnels en court-circuitant le traditionnel protocole de recherche fondé sur la théorie, afin de ménager un espace pour les conceptions des acteurs. Les chercheurs en CMS ont en effet tendance à chercher la confirmation de leurs propres théories au détriment de celles pouvant émerger de leur terrain empirique, en particulier lorsqu’elles infirment ces modèles théoriques bien établis. L’opérationnalisation de cette mistery led aproach demeure toutefois malaisée. Dans cet article nous arguons que, pour les études cherchant à s’inscrire dans la performativité critique décrite par Spicer et autres (2009), la démarche de la SP représente une théorie adéquate afin d’améliorer l’opérationnalisation de la compréhension empathique des acteurs. Car la SP développe une approche par laquelle le chercheur rend explicite les catégorisations des acteurs sans y voir a priori le résultat d’une illusion ou d’une contrainte. L’utilisation de la SP en CMS redonne même une place plus conforme que celle que le cadre de la performativité critique accorde à l’acteur. Les travaux étudiant la stupidité organisationnelle (Alvesson & Spicer, 2012, Alvesson, & Willmott,

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2012, p. 207), par exemple, ne nous semblent pas proposer une tactique permettant la mise en œuvre de l’alternative critique promise par l’approche de la performativité critique. Selon la théorie de la firme fondée sur la stupidité (Alvesson & Spicer, 2012), le management met en veille ses capacités de réflexion critique. En comparaison, la SP apporte une forme de performativité critique plus positive puisqu’elle ne dénie pas les facultés critiques des individus dans son intervention subversive dans les discours managériaux. Dans les sections suivantes, nous nous chargerons donc de démontrer que l’étude du sens moral des acteurs de la SP permet de concrétiser la démarche de la performance critique. Nous nous inscrivons ainsi dans la lignée de travaux récents s’inspirant des nouvelles théories à disposition du chercheur critique en sciences de gestion (Huault, Perret, & Spicer, 2014) afin de ménager une voie de sortie dans le dilemme opposant, au sein de toute démarche critique, l’orientation radicale et l’orientation pragmatique.

LA DIMENSION CRITIQUE DE LA SP

Afin de faire ressortir la dimension critique de la SP, nous discutons de l’articulation des concepts de la SP utilisés dans les recherches en gestion avec les caractéristiques de la performativité critique précédemment énoncées.

Avant toute chose, la SP propose de s’intéresser à ce que les acteurs disent en étudiant les mondes constitués, c’est-à-dire l’appréhension des objets et des personnes selon un ou plusieurs principes issus des cités. Pour les MOK, la question posée est la suivante : selon quels termes les acteurs appréhendent-ils leur réalité organisationnelle ? Il s’agit, d’un point de vue méthodologique, de donner la primauté aux catégorisations des acteurs, pour, dans un second temps parvenir aux interprétations du chercheur. La SP fournit ainsi une mise en œuvre des notions de posture affirmative et de l’éthique du care.

La réflexion épistémologique, qui fait de la SP «  une science de la science implicite des acteurs » (Karsenti, 2012, p. 570), mène cette approche au plus près de leurs pratiques afin d’y identifier des potentiels d’émancipation (posture affirmative). Dans ce cadre le chercheur tente de mettre en lumière la manière dont les acteurs interprètent leurs faits et gestes à travers leurs propres catégorisations. La « catégorisation » englobe le processus de mise en relation des actions avec les catégories/structures plus générales (voir la figure 2). La SP permet alors de concevoir des protocoles de recherche visant à se rapprocher de l’objet analysé. En recourant à la SP, Reinecke rend explicite les principes qui ont guidé la fixation des prix dans le domaine

du Commerce Equitable (Reinecke, 2010). Elle donne à voir les catégorisations établies par les acteurs eux-mêmes dans ce processus (éthique du care). La cité industrielle et la cité civique ont été mobilisées afin de définir un principe supérieur justifiant l’établissement de calcul (calculation). Chez Reinecke, l’étude de la recherche d’un compromis autour de l’établissement du prix des produits permet de cibler avec plus de précision les acteurs centraux dans le phénomène de domination. La recherche révise par exemple le rôle traditionnellement associé aux figures dominantes de l’industrie dans la mobilisation des principes supérieurs : « Je m’attendais à ce que les représentants des négociants soient ceux qui combattraient le plus âprement la hausse des prix. Mais ce ne fut pas le cas » (Reinecke, 2010, p. 572, traduction de l’auteur).

Le caractère pragmatique, inclus dans l’énonciation même de la SP, indique que cette approche met l’action au centre de l’analyse en se focalisant sur ce que l’homme fait de lui-même et des autres (Bénatouïl, 1999). Selon le point de vue pragmatique développé par la performativité critique, il faut entreprendre des observations adaptées au contexte et à ses contraintes propres. Dans la SP, la cité idéelle est ignorée au profit de l’agencement composite en place. Du point de vue des CMS, l’agencement en place s’impose aux acteurs : dans une certaine mesure, la cité industrielle (la performance) s’impose aux organisations. Cependant, dans le cas de l’incident nucléaire étudié par Patriotta et autres (2011), la controverse autour de l’évaluation des risques de l’accident s’étend à de nombreux acteurs ayant un intérêt au débat. Elle évolue au-delà d’une référence initiale à la cité industrielle. La controverse se déplace vers les cités domestiques, civiques et marchandes. La SP a permis de décrire le processus où se sont succédé les configurations d’ordre social pour préserver la légitimité des institutions existantes suite à l’accident nucléaire. Ainsi la perpétuation du statu quo dans l’industrie nucléaire s’est faite ici au prix d’un réajustement du compromis en vigueur. En s’intéressant aux sphères d’exercice de la justice, la SP se focalise sur les espaces où les participants ayant un intérêt s’impliquent dans le débat, conformément à l’orientation pragmatique de performativité critique. Dans le cas de Patriotta et autres, le fait de donner voix, dans un deuxième temps, au monde civique, au monde domestique et, enfin, au monde vert, montre un processus de domination plus complexe que la simple présence d’un système tout-puissant favorisant certaines entités.

La SP s’accorde avec la notion de potentialité. Selon la performativité critique, l’idée de potentialité telle qu’exprimée par Chua (1986, p. 619, traduction de l’auteur) reconnait que les « êtres humains ne sont pas réduits à exister dans un état particulier ; leur être et leur environnement matériel ne sont

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pas épuisés par leur circonstance immédiate ». Les épreuves de la SP sont des sources d’émancipation de ce type : elles sont susceptibles de réduire les contraintes qui s’exercent sur les individus dans les organisations. Le sens du social des acteurs organisationnels les mène à faire appel à la dimension civique et industrielle dans un univers marchand (Reinecke, 2010) ou à mobiliser la dimension verte ou civique dans un univers industriel (Patriotta, Gond, & Schultz, 2011). Autrement dit, dans le cadre de la SP, les acteurs sont compétents : ils sont capables de faire valoir leur conception du juste relativement indépendamment des contraintes.

Wissler (1989) mobilise la SP pour l’étude des établissements de crédit implantés dans des zones rurales. Cette analyse donne un exemple de la manière dont la SP extrait les acteurs de leur situation immédiate pour s’engager dans des potentialités. Là où nous pourrions penser la gestion des banques comme relevant de l’unique logique industrielle ou marchande, il apparaît que l’ancrage dans le tissu local s’intègre dans le fonctionnement de ces agences. Dans les zones rurales, des compromis sont mis en place (Wissler, 1989) pour permettre des points de passages entres les logiques relevant du monde domestique (l’ancrage local incarné par les relations amicales, familiales, de voisinage, de services) et celles relevant du monde industriel (volonté d’objectiver la décision d’octroi de crédit). L’étude du processus d’octroi de crédit montre comment l’établissement bancaire a dû faire un compromis entre ces deux logiques d’action dans son fonctionnement (Wissler, 1989, p. 113). A travers ses recommandations, le conseil d’administration local s’engage dans une logique de jugement domestique sans se limiter à la simple réalisation de l’analyse financière, relevant du monde industriel. Dans son interprétation du social, la SP nourrit les potentialités, Juhem (1994, p. 86) note que, même dans les usines qui sont organisées selon les principes de la cité industrielle, « les autres principes de justification ne deviennent pas caducs dans une situation dominée par le mode d’organisation d’une seule cité  ». Les acteurs sont toujours susceptibles de saisir les objets non pertinents dans le monde qui les entoure. Comme l’indiquent Boltanski et Thévenot (1991, p. 268), un employé qui se fait licencier dans le bureau de son patron, un univers industriel, peut se saisir de la photographie de la famille de son supérieur trônant sur le bureau : « elle peut aussi être relevée de façon à faire surgir un autre monde et un principe de justice domestique dont la prise en compte pourrait atténuer la rigueur du verdict : “Moi aussi, comme vous, j’ai des enfants”».

En se focalisant sur les critères de l’action juste, la SP permet de reformuler la discussion autour de l’éthique, en particulier du bien. Sans pour autant proposer des valeurs

qui valent en toute place et en toute époque, la SP reconnait l’existence de conflits dans la vie organisationnelle et rend clair les critères retenus pour déterminer qu’une situation soit juste. Dans l’acception la plus pauvre du terme, la SP n’a pas d’ambition normative : « elle ne prétend pas que les topiques dont elle repère les effets et les origines dans un débat soient ses cadres normaux ou idéaux, et c’est paradoxalement pour cette raison qu’elle peut intervenir dans le débat » (Bénatouïl, 1999, p. 303). La démarche de la SP n’est pas normative dans un sens réduit du terme où elle annoncerait le bien dans un absolu. En revanche, à travers sa démarche systématique d’analyse des répertoires (Silber, 2003), la SP permet la création des conditions de l’émergence du bien : « L’intervention pragmatique aide les participants de droit au débat, en particulier ceux qu’on y entend de fait le moins, à entrer en possession de leur propre position politique, c’est-à-dire à en mobiliser et en exprimer la spécificité » (Bénatouïl, 1999, p. 304). La SP intervient pour cibler puis combler l’écart qui existe lorsque les dispositifs ne permettent pas la réalisation du sens moral des acteurs. Le travail de Taupin (2012) présente une illustration du caractère prometteur de cette posture pour les CMS. En mobilisant le cadre de la SP, le chercheur étudie l’industrie de la notation du crédit lors de la crise des subprimes. Alors que les acteurs qui s’impliquent dans la réforme réglementaire de la notation du crédit cherchent à favoriser la compétition, à atteindre la performance et à améliorer la transparence, Taupin montre le processus qui mène à ce que l’industrie de la notation demeure une industrie oligopolistique où les trois principales agences réalisent 98% du chiffre d’affaire mondial de l’activité, où les notations se révèlent très souvent inexactes et enfin, où l’opacité du véritable fonctionnement de la notation reste profonde.

UNE NOUVELLE ONTOLOGIE CRITIQUE AU PROFIT DE LA MOKNous pouvons à ce stade rapprocher la SP des caractéristiques de la CMS énoncées par Fournier et Grey (2000). Il est aisé de distinguer une ontologie de dénaturalisation dans la SP. Au travers de la description du social qu’elle propose, à partir de la critique de la réalité élaborée par les acteurs, cette sociologie donne à voir que les choses pourraient être autrement. Premièrement, le compromis et le format d’épreuve qui sous-tendent cette réalité sont le résultat d’un accord qui s’est construit d’une manière spécifique et, surtout, dans un rapport à un monde qui est ontologiquement considéré comme insaisissable et instable. Selon Boltanski, le compromis, par nature composite, est intrinsèquement fragile. Comme nous l’avons vu, dans les zones rurales françaises, la manière dont l’établissement de crédit résout

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la contradiction entre les logiques marchande et domestique tient à la réalisation d’un compromis fragile, contestable et spécifique. Dans un second temps, en insistant sur la liberté des acteurs, cette théorie s’intéresse à leur capacité à s’extraire des situations. Les principes de justification ne deviennent pas caducs dans un dispositif donné car les acteurs sont doués de compétence critique. Les dispositifs sont donc variés car ils correspondent au résultat de ce travail créatif de critique. Ainsi, en prenant pour objet ces dispositifs dans leur grande variété, la SP accomplit un véritable travail de dénaturalisation.

Pour autant, la SP ne conçoit pas cette dénaturalisation comme une «  révélation  » du chercheur, conformément aux caractéristiques de son cadre épistémologique. En effet, initialement, la SP s’est précisément développée autour d’une épistémologie augmentant le degré d’exigence habituel des épistémologies critiques. Lorsqu’il aborde les qualifications des acteurs, le chercheur en CMS qui mobilise la SP ne s’interroge pas sur le statut de vérité des affirmations, en cherchant des critères qui lui permettraient de mettre en doute ou de valider les représentations qui lui sont transmises (Boltanski, 2012, p. 341). De cette manière, il s’agit également d’éviter de conférer un rôle trop surplombant au chercheur. Ce dernier est placé au même niveau que celui des acteurs qu’il étudie, il ne dévoile pas un illusio (Golsorkhi & Huault, 2006 ; Golsorkhi, Leca, Lounsbury, & Ramirez, 2009) dont lui-seul peut constater la présence. La SP s’inscrit dans une épistémologie réflexive différente par exemple de celle de la sociologie critique mais qui partage néanmoins avec elle le refus du positivisme méthodologique (Bénatouïl, 1999). Chez Boltanski la réalité n’existe pas de manière extérieure (Boltanski, 2009), les compromis et les formats d’épreuves ne sont qu’un moyen de stabiliser le réel par nature irréductible afin de permettre aux acteurs d’agir. La SP répond donc directement au souci exprimé en management de ne pas placer la morale du chercheur au-dessus de celle des acteurs (Czarniawska, 2005). En ce sens, la SP en CMS accorde selon nous une place plus conforme à la manière dont l’acteur est théorisé dans la notion de performativité critique, notamment en regard de tentatives récentes d’illustration empirique de cette notion. Dans l’article d’Alvesson et Spicer (2012) par exemple, on considère que le management met en veille ses capacités de réflexion critique. Au contraire de cette recherche, la SP apporte une forme de performativité critique plus positive (Alcadipani & Hassard, 2010) puisqu’elle ne dénie pas les facultés critiques propres aux individus dans son intervention subversive dans les discours managériaux.

La SP peut enfin être qualifiée de non performative et non d’anti-performative. Tout en proposant plusieurs sources de justifications alternatives, la SP ne s’oppose pas par principe à

la réflexion instrumentale : elle n’est pas anti-performative. Elle fait une place à la mobilisation, par les acteurs, de la science pour améliorer la performance d’un phénomène. Elle ne nie pas le recours nécessaire à ce type de raisonnement d’optimisation des moyens en fonction des fins par le sens moral des acteurs. L’entreprise est reconnue comme un compromis industriel-marchand (Boltanski & Thévenot, 1991) puisqu’il faut bien un calcul moyen/fins pour permettre aux passagers des compagnies aériennes d’arriver à l’heure (Spicer, Alvesson, & Kärreman, 2009, p. 543).

Dans la section précédente, nous avons indiqué que la SP peut être rapprochée des caractéristiques de la performativité critique. Parmi celles-ci, l’aspect normatif de la démarche de SP interroge le plus. A cet égard, la SP ouvre une nouvelle voie au profit des CMS. Le critère systématique utilisé pour juger une  bonne forme d’organisation réside dans l’analyse de l’adéquation entre, d’une part, ce que la réalité organisationnelle est, et, d’autre part, ce que sont les attentes morales des individus composant ces organisations. Avec la SP de la critique en effet, on prend « appui sur [le sens moral des acteurs] et, particulièrement, sur leur sens ordinaire de la justice, pour rendre manifeste le décalage entre le monde social tel qu’il est et ce qu’il devrait être pour satisfaire aux attentes morales des personnes  » (Boltanski, 2009, p. 56 ; Boltanski, 2011). Il s’agit ici d’une petite rupture par rapport au programme initial de la SP, puisque « le sociologue ne se contente plus de ‘suivre les acteurs’ dans la désingularisation de leurs plaintes et le ‘montage’ de leurs affaires » (Auray, 2012, p. 2). Tout en émettant une critique, les recherches de SP des CMS se placent au niveau des acteurs pour saisir leurs représentations du monde organisationnel. En cela l’on peut rapprocher cette démarche de la performativité critique et de son souci de se placer au plus près de l’objet de la critique. Parvenir à extraire la dimension critique de la SP suppose toutefois la mise en œuvre d’un double mouvement de rapprochement de l’objet puis d’une forme de distanciation critique. Comme pour la performativité critique, il ne suffit pas d’adopter toutes les règles associées avec l’objet de la critique (Spicer, Alvesson, & Kärreman, 2009, p. 546). La réalisation d’un second mouvement, impliquant plus spécifiquement les caractéristiques pragmatique et normative de la performativité critique, est nécessaire ; il rend l’opération rigoureuse.

L’apport de nouvelles théories issues des sciences humaines et sociales pour la communauté des chercheurs en CMS a déjà été démontré, notamment pour ce qui concerne l’ANT (Alcadipani & Hassard, 2010). Dans leur opération critique la SP et l’ANT présentent des points de convergence :

Au plus loin des sociologies critiques, il ne s’agit pas de dévoiler ce que nous ne voyons pas (et

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que seul le sociologue aurait le mérite de ve-nir nous dévoiler), mais de dévoiler ce que nous voyons déjà sans nous le dire, et surtout sans le dire aux autres, à même la façon dont nous agis-sons et pensons. (Karsenti, 2012, p. 570).

Néanmoins les deux approches divergent dans leur démarche de recherche (Latour, 2009, Karsenti, 2012). Une critique faite à l’ANT réside dans la tendance à privilégier une approche critique par laquelle le chercheur réalise une généalogie de l’instanciation de la puissance légiférante. Or comme l’indique Karsenti (pp. 570-571) « la critique peut se conduire en creusant une forme d’écart qui ne soit pas le levier d’une juridiction ou d’une démystification de surplomb (c’est tout l’effort de la [SP] que de l’aménager) ». Selon Karsenti la critique émise par l’ANT est celle d’un serviteur des serviteurs et non celle d’un serviteur du roi : le chercheur se positionne au plus près des acteurs d’une manière qui limite l’ampleur de la critique exercée en privilégiant une critique au sens juridictionnel. L’opération critique de l’ANT a également été stigmatisée pour sa difficile opérationnalisation (Karsenti, 2012, p. 571). En se reposant sur les concepts aujourd’hui stabilisés de compromis et d’épreuve, la SP évite cet écueil en mettant à disposition du chercheur en CMS un outillage validé empiriquement et aisément opérationnalisable.

DOMINATION SIMPLE ET DOMINATION GESTIONNAIRE COMPLEXENous avons constaté qu’il était possible d’adopter une démarche de CMS en mobilisant la SP. Lorsqu’elle est pleinement exploitée, la SP non seulement dénaturalise de manière réflexive, elle opère en outre une rupture avec les formes précédentes de critique en management. Les CMS se sont focalisées sur l’analyse des formes traditionnelles de domination par lesquelles les acteurs, dotés de faibles capacités critiques, sont dominés sans le savoir. Dans ce cadre, la quasi-totalité des conduites des acteurs sont expliquées par l’intériorisation de normes dominantes surtout au cours du processus d’éducation. Ainsi les CMS ont-elles expliqué la domination masculine au travail (Martin, 1990), l’utilisation du langage comme facteur de reproduction du pouvoir (Alvesson & Willmott, 2003), la perpétuation de la domination occidentale à travers l’impérialisme de la diffusion du management (Frenkel & Shenhav, 2003). De ce fait les situations dans lesquelles les acteurs se trouvent plongés sont négligées (Boltanski, 2009, p. 42). Ainsi l’adoption de la responsabilité sociale des entreprises par les managers dépendrait des prédispositions

sociales de ces derniers et des différentes formes de capital dont ils disposent (Aaken, Splitter, & Seidl, 2013). Dans leur opération critique de dévoilement, ces études relevant des CMS accordent une position surplombante au chercheur  et cela entre en conflit avec leur objectif d’émancipation (Huault, Perret, & Spicer, 2013). Les sociologies critiques, dont s’inspirent les CMS, ne parviennent pas à prendre l’homme de la pratique pour ce qu’il est, c’est-à-dire à le considérer comme pensant et agissant à l’état pratique (Karsenti, 2011). Or les mécanismes d’oppression ont évolué et leur analyse nécessite de dépasser les approches qui se focalisaient sur ces phénomènes de domination simples. De ce fait, les CMS ne réussissent pas à saisir les conditions contemporaines de domination complexe fondées sur la pratique, comme, par exemple lorsque la classe dominante est la classe qui se place dans une position, inaccessible à la majorité, de double relation vis-à-vis des règles qui s’imposent  (Dunne, 2012). L’analyse articulant SP et approche performative de la critique accorde une place centrale, et non périphérique aux compétences des acteurs et aux dispositifs dans lesquels leurs actions prennent place, contrairement à l’approche traditionnelle focalisée sur les structures. Le cadre de la SP permet de mettre à jour une forme de domination qui repose sur une augmentation de la complexité des formes de coordination (Fabiani, 2011) par l’étude du processus de catégorisation au cours duquel les équivalences sont opérées par les acteurs. La catégorisation « soutient la nouvelle capacité générale et forme une possible source de pouvoir abusif » (Blokker & Brighenti, 2011, p. 395). Dans ce cadre, ce n’est pas une forme de violence qui impose la fin du débat mais un processus de justification. La résolution d’une controverse dépend des capacités des uns et des autres à imposer un ou plusieurs principes supérieurs ; « les personnes reconnaissent certaines inégalités comme légitimes et en dénoncent d’autres comme injustes dans certaines situations et au nom de certains principes : c’est à travers ces actions de reconnaissance et de dénonciation que l’approche pragmatique peut fournir des modèles au sens commun de la domination » (Bénatouïl, 1999, p. 307).

Le domaine du management et des études organi-sationnelles s’est inspiré des prolongements de la SP développés dans le Nouvel Esprit du Capitalisme (Boltanski & Chapiello, 1999). Cet ouvrage est devenu central pour l’étude des changements contemporains dans la vie économique et organisationnelle (Du Gay & Morgan, 2013) notamment en tant qu’il permettait l’analyse des formes du néo-libéralisme. Cependant l’analyse de Boltanski et Chiapello correspond aux expressions du capitalisme observées entre 1970 et 1990. Il ne donne pas de clés concrètes pour entreprendre une analyse

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de sociologie pragmatique critique des nouvelles formes du capitalisme financier et des nouvelles formes de domination complexe qu’il génère (Willmott, 2013). De plus, en se focalisant sur l’inclusion de la critique dans la domination, l’approche issue du Nouvel Esprit du Capitalisme empêche toute véritable forme de critique (Martin, 2013). L’outillage conceptuel que nous avons présenté permet une problématisation politique plus nette des caractéristiques des dispositifs gestionnaires (Friedlender, 2010, p. 16 ; Dunne, 2012). En effet, les sociétés modernes sont marquées par une domination complexe que Boltanski qualifie de gestionnaire.

Alors que les régimes de domination simples, fonctionnant sur l’oppression, reposent sur le fait que leurs institutions cérémonielles cherchent à écarter la réalité, les sociétés gestionnaires placent au centre les processus de modification de la réalité, et par l’identification de ce nouveau format de réalité à quelque chose de nécessaire. (Auray, 2012, p. 5).

Boltanski (2012) fournit par exemple aux CMS un outil privilégié pour décrire le « triomphe » de la figure de l’expert. Au centre du dispositif de domination complexe, l’expert disqualifie les représentations alternatives et légitime la réalité qu’il édicte (Auray, p. 5). Ainsi, avec les classements, nous assistons à une transformation des contours de la réalité sous forme d’une orthodoxie de la norme : le format d’épreuve établit un mode de gouvernance instrumental gestionnaire qui favorise les experts (Friedlender, 2010, p. 16). L’établissement de formats d’épreuve mouvants complique la tâche de la critique de contester leur validité. Les dispositifs n’ont plus vocation à maintenir une réalité fondée sur des qualifications correspondant à des formats d’épreuves établis. Le déplacement constant d’un format à un autre représente le mode de fonctionnement. L’écart entre la réalité et le monde devient alors difficilement repérable de l’extérieur. Boltanski évoque l’exemple du benchmarking  «  la fabrication et la publication de palmarès permettant de hiérarchiser des organisations  (…) en fonction d’une norme d’efficacité » (2009, p. 199) en tant que processus complexe facteur de domination (un effet de bouclage réflexif). Il expose la manière dont ces dispositifs, qualifications et format d’épreuves reconnus et établis, transforment la réalité en un mode de gouvernance instrumental gestionnaire. Et, dans ce dispositif, certains acteurs organisationnels plus avisés et mieux dotés comme les consultants, les hauts fonctionnaires et certains acteurs de terrain prennent une place centrale. Autrement dit, les conditions établies pour l’exercice du sens de la justice des acteurs font que ce sont toujours les mêmes qui, face aux épreuves, se révèlent médiocre ou au contraire satisfont à la plupart des épreuves (Boltanski, 2009, p. 67 ; Boltanski, 2011).

CONCLUSION

Dans cet article, nous avons cherché à montrer que la SP proposait une ontologie, une épistémologie et un rapport à la performativité permettant une approche critique au profit de la MOK. Il est apparu que les limites des approches développant une théorie critique des organisations pouvaient également être surmontées par le recours à la SP. En mobilisant cette théorie, les difficultés rencontrées par les approches critiques en management (position surplombante du chercheur, éloignement de l’objet étudié, faible intérêt accordé aux représentations des acteurs etc…) sont dépassées au profit de la réalisation d’une critique correspondant à la notion de critique performative (Spicer, Alvesson, & Kärreman, 2009). L’utilisation de la SP met à disposition des outils concrets pour le chercheur critique en sciences de gestion. L’utilisation des notions de compromis et d’épreuve dans une démarche générale en deux temps, faisant d’abord l’hypothèse de relative liberté des acteurs – dans un premier temps – pour ensuite expliciter le processus de domination s’exerçant – dans un deuxième temps – permet la mise en avant de processus de domination complexe. Ainsi parvient-on à analyser la manière dont les acteurs convergent dans leurs actions, établissant des conditions de domination, indépendamment des positions spatiales ou institutionnelles qu’ils occupent ou des inégalités de pouvoir en termes de propriété et de capital.

La SP ouvre la voie à de futures recherches dans le domaine des CMS que nous résumons à deux axes. Cette approche mène premièrement à distinguer les situations de domination simples, dans lesquelles s’applique un pouvoir arbitraire, des situations de domination complexe. Selon Boltanski, le monde du management est caractéristique de cette domination complexe où le changement est la règle, où l’on a foi dans la capacité humaine à avoir une prise sur le monde. La domination complexe met en scène des acteurs à la poursuite constante de nouvelles réalités (Dunne, 2012). Si Boltanski (2009, 2011) développe quelques pistes théoriques, les études détaillées portant sur ces phénomènes de domination sur le lieu de travail restent à écrire. Deuxièmement, la SP fournit un cadre permettant de reconsidérer la manière dont les CMS conçoivent l’émancipation. En reconnaissant la réflexivité des acteurs, leur compétence au jugement, il ne s’agit pas de révéler aux individus les réelles causes de leur domination mais de considérer les acteurs capables de créer comme de rompre les conditions de leur domination. Pour le chercheur, il s’agit d’étudier tous les individus et le groupes qui s’engagent dans un travail de justification pour analyser les critiques du management, positives ou négatives. Les sources peuvent prendre la forme

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de lettres et de courriels envoyés aux entreprises et aux journaux (comme Boltanski l’a lui-même fait), afin d’étudier la constitution de catégories institutionnalisées dans lesquelles les individus se reconnaissent. Cela peut également conduire à prendre en compte les nombreux forums de consultation mis à disposition des acteurs avant l’élaboration d’une régulation. Une telle étude ne se contenterait pas d’étudier le résultat de la consultation en termes d’actions menées  : il s’agirait de considérer si la manière dont les problèmes sont appréhendés est conforme au sens que les acteurs ont eux-mêmes exprimé.

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ANDRÉ OFENHEJM [email protected]ócio-fundador e pesquisador, Zetesis – São Paulo – SP, Brasil

SYLMARA LOPES GONÇALVES [email protected] da Universidade de São Paulo, Escola de Artes, Ciências e Humanidades – São Paulo – SP, Brasil.

RODRIGO MARTINS [email protected] da Universidade Anhembi Morumbi, Política de Comércio Exterior – São Paulo - SP, Brasil

ARTIGOSRecebido em 18.06.2013. Aprovado em 17.03.2014Este artigo tem coautoria de membro do Corpo Editorial Científico da RAE, foi avaliado em double blind review, com isenção e independênciaEditor Científico: Antonio Moreira de Carvalho Neto

ELEMENTOS PARA DISCUSSÃO DA ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA COMO PRÁTICA DE GESTÃOElements for discussion of modern slave labor as a Management practice

Elementos para la discusión de la esclavitud contemporánea como práctica de gestión

RESUMOO trabalho escravo contemporâneo está inserido nas relações de mercado entre organizações globais e seus fornecedores, e envolve práticas de gestão de pessoas que ferem os direitos humanos, como o cerceamento da liberdade, as condições degradantes de trabalho e a jornada exaustiva. O artigo analisa o trabalho escravo no Brasil e provê sustentação empírica para uma teoria da escravidão contemporânea como prática de gestão. Dois aspectos principais justificam esta contribuição. Em primeiro lugar, o debate chama a atenção à dinâmica da responsabilidade social e ao impacto das atividades empresariais nos países emergentes. Em segundo, põe-se em evidência a discussão do contexto da pobreza e suas inter-relações com o sistema de produção-consumo. O artigo sugere que o campo da Administração não detém a compreensão dos fundamentos da pobreza e de como práticas de gestão estariam implicadas na sua reprodução e no seu alívio. A agenda de pesquisa enfatiza a insustentabilidade de aspectos da globalização da produção e do consumo, e prioriza o problema.PALAVRAS-CHAVE | Trabalho escravo, Brasil, escravidão contemporânea, relações de trabalho, sus-tentabilidade.

ABSTRACTContemporary slavery is embedded in market relations between global organizations and their suppliers, and involves people management practices that injure human rights such as curtailing freedom, degrading conditions of work and exhausting journey. The article analyzes the slave labor in Brazil and provides empirical support for a theory of contemporary slavery as a practice management. Two main aspects justify this contribution. First, the debate draws attention to the dynamics of social responsibility and the social impact of business activities in emerging countries. Secondly, it puts in evidence the discussion of poverty and its interrelations with the global system of production and consumption. The paper suggests that the field does not have the understanding of the fundamentals of poverty and how management is implicated in its reproduction and relief. The research agenda emphasizes the unsustainability aspects of the globalized production and consumption, and prioritizes the problem.KEYWORDS | Slave labor, Brazil, contemporary slavery, labor relations, sustainability.

RESUMENEl trabajo esclavo contemporáneo está inserido en las relaciones de mercado entre organizaciones globales y sus proveedores, y envuelve prácticas de gestión de personas que hieren los derechos humanos, como el cercenamiento de la libertad, las condiciones degradantes de trabajo y la jornada exhaustiva. El artículo analiza el trabajo esclavo en Brasil y provee sustentación empírica para una teoría de la esclavitud contemporánea como práctica de gestión. Dos aspectos principales justifican esa contribución. En primer lugar, el debate llama la atención a la dinámica de la responsabilidad social y al impacto de las actividades empresariales en los países emergentes. En segundo, se pone en evidencia la discusión del contexto de la pobreza y sus interrelaciones con el sistema de producción-consumo. El artículo sugiere que el campo de la Administración no detiene la comprensión de los fundamentos de la pobreza y de cómo las prácticas de gestión estarían implicadas en su reproducción y en su alivio. La agenda de pesquisa enfatiza la insostenibilidad de aspectos de la globalización de la producción del consumo, y prioriza el problema.PALABRAS CLAVE | Trabajo esclavo, Brasil, esclavitud contemporánea, relaciones laborales, sostenibilidad.

RAE-Revista de Administração de Empresas | FGV-EAESP

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-759020150207

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INTRODUÇÃO

A escravidão persiste em escala global na forma de relações de-sumanizadoras de trabalho, em exploração sexual e econômi-ca. Quanto à exploração econômica, diversas formas de coer-ção caracterizam relações de trabalho no mercado formado por empresas globais, locais e suas cadeias de fornecedores, ali-jando trabalhadores de sua dignidade, ferindo seus direitos hu-manos. Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2009), a escravidão contemporânea é parte da economia mun-dial e sustenta a produção de uma gama de produtos.

A problemática revela aspectos nefastos da globalização da produção e do consumo, até agora pouco considerados pela prá-tica e pela pesquisa em Administração. Isso porque, por um lado, poucas empresas, governos ou organizações não governamentais (ONGs) se engajam ou reconhecem o problema, entendendo que o trabalho escravo não seria central, mas periférico, sintomático, ou mesmo entendido como metáfora (Bales, 2004; Sakamoto, 2008). Por outro, o debate também é marginal nas ciências sociais (Bales, 2004), sendo praticamente ignorado no campo da Administração de Empresas (Cooke, 2003; Crane, 2013).

Este artigo discute elementos para uma teoria da escravi-dão contemporânea como prática de gestão (Crane, 2013), con-siderando o contexto brasileiro. Apesar de os dados revelarem uma realidade de grave violação aos direitos humanos, o Brasil está entre os poucos países que adotaram uma política de com-bate ao problema, que tem se tornado referência mundial, se-gundo a OIT (Bales, 2011; OIT, 2004). Foram 45.115 trabalhado-res resgatados entre 1995 e 2013 (Procuradoria-Geral da União, 2014; Zocchio, 2013).

A análise do caso brasileiro busca dar sustentação em-pírica às proposições sobre as condições do macrocontexto institucional da escravidão. Para entender a escravidão con-temporânea pelo ângulo da Administração, é essencial compre-ender como as empresas utilizam práticas ilegítimas para dimi-nuir custos, sendo bem-sucedidas (Crane, 2013). Dois aspectos principais justificam esta contribuição.

Em primeiro lugar, o debate sobre o trabalho escravo contemporâneo chama a atenção à dinâmica da responsabili-dade social e ao impacto das atividades empresariais nos paí-ses emergentes e na periferia do capitalismo (Blowfield & Fry-nas 2005; Egri & Ralston 2008; Idemudia 2011), revelando um conjunto de medidas e mecanismos de regulação pública e pri-vada para solução das mazelas sociais (Bartley, 2007; Cashore, 2002; Crane & Matten, 2010; Valente & Crane, 2010).

Em segundo, evidencia o contexto da pobreza nas inter--relações que acontecem no cerne do atual sistema de produção--consumo em massa (Banerjee, Chio, & Mir, 2009; Lindsay, 2010;

Thornley, Jeffreys, & Appay, 2010). O artigo sugere que o campo da Administração não detém a compreensão dos fundamentos da pobreza e de como práticas de gestão estariam implicadas na sua reprodução e no seu alívio. Tais aspectos ficam frequente-mente obscurecidos no debate (Crane, 2013; Lindsay, 2010; Sin-ger, 2006;). A contribuição do artigo ao campo da Administração desdobra-se em uma agenda de pesquisa que enfatiza a insus-tentabilidade desses processos e prioriza o problema, indicando caminhos futuros para desenvolvimento da temática.

TRABALHO ESCRAVO CONTEMPORÂNEO

A escravidão reflete a vulnerabilidade social, a escassez de oportunidades, a pobreza crônica, o analfabetismo, o isola-mento e a corrupção (Bales, 2007; Breton, 2002; Silva, 2004). Formas contemporâneas de escravidão incluem o trabalho for-çado, a escravidão por posse, por dívida e o contrato de es-cravidão (Bales, Trodd, & Williamson, 2009). Bales e Robbins (2001) propõem três elementos centrais ao conceito de traba-lho escravo contemporâneo: o controle de um indivíduo sobre outro, a apropriação de força de trabalho e a imposição des-sas condições pela violência ou ameaça. Apesar da ausência de uma definição universalmente aceita, mesmo no campo le-gal, os entendimentos sobre a escravidão contemporânea en-volvem graus de variabilidade que podem ser entendidos num contínuo multifacetado desses elementos (Quirk, 2006).

A definição de escravidão é em si controversa (Quirk, 2006). Isso diz respeito não apenas aos diferentes entendimen-tos de que tipo de prática se constitui trabalho escravo, mas por que a inclusão de práticas específicas sob a rubrica sensível e politica de “escravidão” deve ser acompanhada de obrigações do estado e dos outros atores para tratar do problema (Crane, 2013). No Brasil, a política pública refere-se claramente ao “tra-balho escravo”, embora a maioria dos documentos mencione o termo “trabalho em condições análogas à escravidão” (Minis-tério do Trabalho e Emprego [MTE], 2011a). Diante dos acordos internacionais, a legislação brasileira é considerada avançada na tipificação do trabalho escravo. A partir de sua edição, em 2003, o artigo 149 do Código Penal Brasileiro definiu o crime de reduzir alguém “à condição análoga à de escravo” identifican-do quatro condutas que, em conjunto ou isoladas, caracterizam o crime: i) submeter o trabalhador a trabalho forçado; ii) a jor-nada exaustiva; iii) a condições degradantes de trabalho; e iv) restringir sua locomoção (MTE, 2011a).

Segundo Viana (2007), o termo condições degradantes enfatiza o poder extremo exercido pelo empregador, que impõe condições desumanizadoras de trabalho. A jornada exaustiva diz

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respeito ao trabalho que beira ou excede aos limites físicos do indivíduo. Para o MTE (2011b), seria considerado análogo à es-cravidão qualquer trabalho que cerceie a liberdade ou avilte a dignidade do trabalhador por meio de condições degradantes, mesmo quando não houver sua consciência dessa condição.

POR UMA TEORIA DA ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA COMO PRÁTICA DE GESTÃO

Crane (2013) delineia uma teoria da escravidão contemporânea como prática de gestão fundamentada na teoria institucional e na literatura sobre capacidades estratégicas. Suas proposições erguem-se a partir de  insights de literaturas diversas, como a economia do crime, a economia informal, o tráfico humano e a análise legal e empírica da escravidão contemporânea. Crane (2013) discute (1) como as empresas exploram cenários compe-titivos e institucionais particulares que permitem a emergência da escravidão; (2) como se protegem de pressões institucio-nais contra a escravidão; e (3) como sustentam e moldam esses cenários que permitem ou previnem o florescimento da escra-vidão. Suas proposições consideram as condições do macro-contexto institucional que permitem à escravidão persistir e as capacidades no microcontexto de gestão necessárias a prospe-rar nessas condições. No Quadro 1, pode-se ver uma síntese da teoria formulada por Crane (2013).

Metodologia de Pesquisa

A problemática que norteou o levantamento empírico foi: Como tem acontecido o processo de construção e implantação da Polí-tica Nacional para Erradicação do Trabalho Escravo no Brasil (PNE-TE)? Por meio de uma estratégia qualitativa, desenvolveu-se um desenho de pesquisa que estabeleceu categorias teóricas para a análise do contexto brasileiro à luz da teoria da escravidão con-temporânea como prática de gestão proposta por Crane (2013).

Quanto ao levantamento dos dados, adotaram-se proce-dimentos de seleção dos entrevistados, documentos e observa-ção do tipo proposital. Participou-se de três seminários sobre o tema, em São Paulo e em Brasília, totalizando 26 palestras re-gistradas, além de 12 entrevistas com acadêmicos, profissionais de ONGs, funcionários públicos e representantes de empresas. Esse percurso beneficiou-se do relacionamento dos pesquisa-dores com a equipe da ONG Repórter Brasil, que acompanhou a pesquisa fazendo leituras críticas de versões dos textos, parti-

cipação em banca de mestrado, indicações e sugestões ao lon-go do levantamento. Foram reunidos dados primários (diário de observações, entrevistas semiestruturadas, registros em foto e vídeo) e secundários (diversos documentos e relatórios). Os da-dos foram analisados por meio de uma técnica de análise de conteúdo. Ao longo do processo analítico, foram utilizadas múl-tiplas fontes de evidências, apoio de especialistas para a leitura crítica das versões e triangulação de técnicas qualitativas com o apoio de software para organizar e categorizar os dados em tor-no das categorias empíricas e teóricas. Com apoio do software NVivo 9, atribuíram-se aos dados primários e secundários cate-gorias gerais que foram, então, relacionadas às categorias teó-ricas propostas por Crane (2013).

Ao longo do levantamento e análise dos dados, op-tou-se por entender com maior profundidade os mecanis-mos regulatórios e instrumentos institucionais da política, os obstáculos técnicos e legais, os conflitos e a cooperação na institucionalização da política. Em termos de procedimentos de pesquisa, isso se traduziu em opções específicas para a definição das unidades de análise pertinentes, em função de como o fenômeno se revelava. Segundo a abordagem multi-cêntrica adotada, uma pluralidade de atores protagoniza o en-frentamento dos problemas públicos, tais como organizações privadas, ONGs, organismos multilaterais, juntamente com atores estatais, no estabelecimento das políticas públicas. Foi necessário, então, distinguir grupos de atores institucionais interligados em torno da problemática: (i) o poder público; (ii) a sociedade civil organizada; (iii) a iniciativa privada. Para au-mentar o rigor dessa estratégia, analisou-se a finalidade de in-corporar cada unidade de análise e identificaram-se os princi-pais propósitos de estudá-las.

ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA COMO PRÁTICA DE GESTÃO – EVIDÊNCIAS DO BRASIL

A análise da problemática no Brasil dá sustentação empírica às cinco proposições de Crane (2013) sobre as condições do ma-crocontexto institucional da escravidão (as duas proposições sobre as capacidades de gestão necessárias a prosperar nes-sas condições não são escopo desta análise). Os fatores exter-nos que moderam a incidência da escravidão podem ser clas-sificados como condições relacionadas ao setor e ao contexto institucional, abrangendo sistemas regulatórios, normativos e culturais, e fatores políticos, socioeconômicos e geográficos (Crane, 2013, p. 13).

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Quadro 1. Definição de categorias e proposições da teoria do trabalho escravo contemporâneo

Contexto Categorias de análise Descrição Proposições geradas Variável

moderadora

Macrocontexto institucional

Contexto industrial

Intensidade do uso de mão de obra, valor distribuído ao longo da cadeia produtiva, elasticidade da demanda, legitimidade e polos regionais.

Proposição 1. A incidência da escravidão contemporânea se concentra em setores com mão de obra intensiva e não especializada, que capturam pouco valor na cadeia produtiva e enfrentam problemas de legitimidade; incentivará a adoção do trabalho escravo pelos empreendimentos.

Proposição 1a. Efeitos podem ser moderados pela intervenção ao longo da cadeia produtiva.

Contexto socioeconômico

Pobreza, nível de desemprego, nível educacional.

Proposição 2. Quanto às condições socioeconômicas e geográficas do empreendimento, a exploração do trabalho escravo acontece em contextos de alto desemprego, pobreza crônica e baixa escolaridade; incentivarão a adoção do trabalho escravo pelos empreendimentos.

Proposição 2a. O acesso ao crédito acessível pode moderar essas condições.

Contexto geográfico

Isolamento e distanciamento geográfico, psicológico, político e físico dos trabalhadores da sua residência de origem.

Proposição 3. A existência de condições de isolamento geográfico do negócio, somada ao isolamento psicológico, político e físico dos trabalhadores, incentivará a adoção do trabalho escravo pelos empreendimentos.

Contexto culturalTradição e crenças religiosas entrelaçadas com desigualdades sociais.

Proposição 4. Um contexto cultural que reforça desigualdades e naturaliza relações de trabalho coercitivas incentivará a adoção do trabalho escravo pelos empreendimentos.

Contexto regulatório

Governo e iniciativa privada demonstram fraca governança e pouca atenção em relação às questões da escravidão.

Proposição 5. A existência e eficiência do contexto regulatório impõe sanções à exploração de mão de obra em condições análogas à escravidão; incentivarão a adoção do trabalho escravo pelos empreendimentos. 

Proposição 5a. Esse efeito pode ser moderado pelo desenvolvimento de regulação privada e pública.

Microcontexto de habilidades de gestão para a escravidão

Capacidade e habilidade para exploração e isolamento

Rotinas de trabalho com emprego de violência física e psicológica.Escravidão por dívida.Distorções na contabilidade.Cadeia de suprimentos compreende diferentes estágios em multiníveis, alguns fora do mercado formal.Construção de rede de intermediários que atua na clandestinidade de maneira coordenada, cooperada e confiável.

Proposição 6. A capacidade e habilidade para exploração e isolamento mediam a relação entre as condições externas e a adoção de práticas de escravidão.

Capacidade para sustentar e compartilhar

Legitimação moral: aceitação mínima do campo institucional em torno da organização, incluindo empregados não escravos, trabalhadores escravizados, clientes e comunidade local, por meio de comunicação persuasiva que legitime, socialize essa cultura organizacionalManutenção do domínio: operadores da escravidão empregam métodos ilegais para legitimar suas atividades e dividir os riscos com atores fora do mercado.

Proposição 7. A capacidade para sustentar e compartilhar a cultura organizacional para a escravidão media a relação entre as condições externas e a adoção de práticas de escravidão.

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Quanto à primeira proposição, o contexto brasileiro corro-bora a afirmação de que a escravidão contemporânea tende a flo-rescer em setores que capturam pouco valor na cadeia produtiva e enfrentam problemas de legitimidade, apesar de o problema não estar restrito a esses setores. No Brasil, o ciclo do trabalho escravo geralmente acontece no início da cadeia de valor, que re-quer força física sem especialização. Sua incidência se concentra em setores com mão de obra intensiva e não especializada, como agricultura (cana-de-açúcar, grãos, algodão, erva-mate, pinus), pecuária, construção, vestuário e têxtil, carvão e corte de árvores (OIT, 2011). Existem muitos casos nos centros urbanos, mas o cri-me concentra-se em regiões rurais, especialmente em áreas de expansão agropecuária da Amazônia e do Cerrado, em fazendas que grilam, desmatam e queimam a floresta para a produção pe-cuária para o mercado doméstico e internacional, compreenden-do quase 50% dos casos autuados em 2013 (ver Tabela 1).

Mesmo considerando o grande número de autuações nas atividades predominantemente rurais, em 2013, chama aten-ção, na Tabela 1, que o número de trabalhadores envolvidos na construção civil foi superior ao da pecuária; certamente houve maior atenção e empenho dos órgãos fiscalizadores para as ati-vidades desse setor. Outro exemplo seria o modelo do setor si-derúrgico (apropriação de terras por um preço simbólico ou gra-tuito, baixa remuneração do trabalhador, isenções tributárias e ausência de investimento nas comunidades locais), que favo-receria condições degradantes de trabalho (Instituto Observa-tório Social [IOS], 2004). No setor de cana-de-açúcar, a possi-bilidade de auferir remuneração por desempenho na colheita superior ao salário mínimo faz com que os trabalhadores se desloquem e tolerem a jornada exaustiva, voltando a se subme-ter ao trabalho escravo, pois a remuneração justifica tudo isso (Phillips & Sakamoto, 2011).

TABELA 1. Casos identificados de trabalho escravo por atividade (Brasil – de 2011 a 2013)

Por atividade

2011 2012 2013

Casos %Trabalhadores

envolvidos% Casos %

Trabalhadores envolvidos

% Casos %Trabalhadores

envolvidos%

Atividades rurais                        

Pecuária 96 33,1 920 18,5 67 32,2 706 16,1 69 35 539 19

Reflorestamento 17 5,9 208 4,2 10 4,8 106 2,4 7 4 68 2

Desmatamento 11 3,8 109 2,2 16 7,7 405 9,2 5 3 26 1

Carvão vegetal 34 11,7 339 6,8 29 13,9 526 12,0 10 5 154 5

Extrativismo vegetal 8 2,8 53 1,1 2 1,0 21 0,5 2 1 54 2

Cana 7 2,4 1599 32,2 3 1,4 166 3,8 1 1 50 2

Outras lavouras 37 12,8 507 10,2 33 15,9 879 20,1 34 17 602 21

Mineração 4 1,4 85 1,7 2 1,0 22 0,5 3 2 30 1

Extração mineral 4 1,4 85 1,7 2 1,0 22 0,5 3 2 30 1

Outros 36 12,4 533 10,7 22 10,6 765 17,5 nc nc nc nc

Subtotal – Atividades rurais

254 87,6 4438 89,3 186 89,4 3618 82,5 134 68 1553 54

Atividades urbanas  

Construção civil 29 10,0 444 8,9 15 7,2 650 14,8 45 23 1.041 36

Confecção 5 1,7 81 1,6 3 1,4 32 0,7 12 6 130 5

Outros 2 0,7 4 0,1 4 1,9 83 1,9 9 5 180 6

Subtotal – atividades urbanas

36 12,4 529 10,7 22 10,6 765 17,5 66 34 1351 47

TOTAL 290 100,0 4967 100,0 208 100,0 4383 100,0 197 100 2.874 100

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Quanto à segunda proposição, o contexto brasileiro corrobora a afirmação de Crane (2013) de que a exploração do trabalho escravo acontece diante da disponibilidade de gru-pos em situação de vulnerabilidade social, com alto desem-prego, pobreza e baixo nível de escolaridade. No Brasil, o Maranhão tem alguns dos piores indicadores de desenvolvi-mento e é o principal estado de origem dos escravos. Apesar da pujança da capital São Paulo, no setor de confecções, há alta incidência de casos de trabalho escravo entre imigrantes da Bolívia, país cujos índices de desenvolvimento estão en-tre os piores da América Latina. Na Amazônia, os processos

de concentração de terras e colonização são a base da ex-pansão da agropecuária e vêm induzindo a formação de um mercado de trabalho pela população local vulnerável, muitas vezes, desalojada, a quem pouca alternativa resta além da sujeição à condição análoga à de escravo junto às empresas, médias e grandes, que atuam na região, abastecendo merca-dos no Brasil e exterior (Phillips & Sakamoto, 2011). A Tabela 2 mostra comparativo de casos identificados nos anos 2012 e 2013 por região. Nota-se que é na região Norte onde pre-valece o maior número de casos e trabalhadores envolvidos.

TABELA 2. Casos de trabalho escravo identificados no Brasil, distribuídos por região

Trabalho escravo Casos identificados Trabalhadores envolvidos Trabalhadores resgatados

Ano 2012 2013 2012 2013 2012 2013

Norte 88 55 1.824 505 1.054 274

Nordeste 31 42 530 603 371 330

Centro-Oeste 31 31 346 430 325 309

Sudeste 21 53 623 1.186 623 1.147

Sul 18 16 357 150 357 148

Total 189 197 3.680 2.874 2.730 2.208

Fonte: Procuradoria-Geral da União (2014)

O acesso a programas de inclusão social moderaria a se-gunda proposição ao alterar, num primeiro momento, a equa-ção risco versus oportunidade daqueles que são alvo dos escra-vagistas. No Brasil, a falta ou ineficácia de políticas e programas sociais poderia ser associada a altos índices de resgatados que são escravizados novamente. Para combater esse problema, em 2005, por acordo entre o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) e o MTE, o trabalhador resgatado teve prioridade para re-ceber o Bolsa-Família (MTE, 2009). Contudo, diferente da pro-posição 2a de Crane (2013), estudos mostram que o crédito ou o benefício financeiro não seriam suficientes para desenvolver o capital humano e o capital social, o que demandaria alterna-tivas de trabalho e renda, acesso a programas de capacitação, cidadania e economia solidária, que impulsionariam as econo-mias em desenvolvimento (Ansari, Munir, & Gregg, 2012; Bra-dley, McMullen, Artz, & Simiyu, 2012; Hall, Matos, Sheehan, & Silvestre, 2012; Khavul & Bruton, 2013; Senna, Burlandy, Mon-nerat, Schottz, & Magalhães, 2007). O Brasil tem articulado po-líticas públicas, por meio do Ministério do Desenvolvimento Agrário, do Incra e do MTE, e da Secretaria Nacional de Econo-mia Solidária (Senaes), incluindo experiências de microcrédito, moeda social e bancos comunitários, em ações voltadas a agri-

cultores familiares, artesãos, trabalhadores autônomos, de-sempregados e catadores de material reciclável (Senaes, 2013).

Referente à terceira proposição, o contexto brasileiro cor-robora a afirmação de Crane (2013) de que a prática da escra-vidão se beneficia da existência de condições de isolamento geográfico do empreendimento e vulnerabilidade social, psico-lógica, política e física dos trabalhadores, o que diminui os cus-tos e riscos da coerção. Na modalidade contrato de escravidão, uma rede de intermediários faz promessas ao trabalhador, que percebe somente no local de trabalho que o acordo não será cumprido. É comum o trabalhador ser cerceado de sua liberda-de por métodos violentos e obrigado a pagar dívida fabricada, impedindo o acesso ao salário acordado (Bales, 2004; Figueira, 2004; Sharma, 2008; Silva, 2004).

Na cadeia de produção pecuária brasileira, por exemplo, o aliciamento de trabalhadores por “gatos” é feito por meio da pro-messa de boa renda, muitas vezes mediante um adiantamento que constitui alívio financeiro à família. Os trabalhadores já es-tão isolados no longínquo local de trabalho quando percebem que o que lhes fora prometido não será necessariamente cum-prido. Impotente diante do empregador e frequentemente imbu-ído da responsabilidade diante da oportunidade, o trabalhador

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é facilmente explorado, não raro sob ameaça armada, moral ou psicológica, e não abandona o local de trabalho (Figueira, 2004; OIT, 2003; Silva, 2004). No caso do Brasil, muitas vezes o traba-lhador encontra-se preso à atividade laboral por esquemas geo-gráficos, vigilância, confinamento, ameaça de morte e de denún-cia à polícia local da situação imigratória irregular.

Quanto à quarta proposição, o contexto brasileiro corro-bora a afirmação de Crane (2013) de que um contexto cultural que reforça desigualdades e naturaliza relações de trabalho co-ercitivas beneficia a prática da escravidão. De fato, a história das relações de trabalho no Brasil revela práticas tradicionais com significados regionais, que comumente guardavam uma ín-dole violenta e opressiva, como o cativeiro, o colonato e o siste-ma de aviamento ou morada (Figueira, 2004; Prado, 1967). No Brasil, uma análise sugere que, nas regiões onde há trabalho escravo, o processo produtivo marcado pelo crime tipificado no artigo 149 é considerado natural ou aceitável. A vinda do au-ditor e do procurador do MTE seria um tipo de endocolonialis-mo, pois eles não convivem com a realidade da pecuária e do extrativismo (Cazetta, 2007). Entende-se que a escravidão ma-nifesta-se como reprodução de estruturas de dominação, cul-turalmente aceitas, já que muitos empresários, fazendeiros, parlamentares, magistrados, políticos, advogados e peões con-sideram normal, ou tradicional, esse padrão de relação de tra-balho, que seria, inclusive, compatível com as ambições agroe-xportadoras do País (Plassat, 2008).

Na quinta proposição, o contexto brasileiro corrobora a afirmação de Crane (2013) de que a regulação pública ou pri-vada tem um efeito moderador sobre a exploração da mão de obra escrava. Quanto à eficiência do contexto regulatório, o caso brasileiro revela a articulação entre atores públicos e pri-vados em torno do reconhecimento do problema e da constru-ção de mecanismos de punição do crime e de uma matriz de políticas públicas, abrangendo transferência de renda, reforma agrária e combate à fome. No Brasil, o ciclo da política pública para erradicação do trabalho escravo coincide com um proces-so de priorização e aumento da atenção e da governança dian-te do problema, em nível societal, quando foram criadas esferas de debate público e instrumentos legais de enquadramento, re-pressão e punição, além de um plano executivo de metas.

Apesar de o Brasil ter adotado as convenções internacio-nais que baniam as práticas do trabalho escravo e do trabalho forçado, foi somente após o fim do regime militar que denún-cias referentes a práticas coercitivas de trabalho passaram a ecoar junto a formuladores de políticas públicas. Esse processo iniciou-se efetivamente em 1970, pelas mãos de padres, freiras, aliados da Igreja Católica, advogados, jornalistas e políticos opositores. A partir dos anos 1980, com o movimento de rede-

mocratização, organismos da sociedade civil articularam-se em um movimento de denúncias que acabaria culminando no reco-nhecimento do problema perante a OIT, em 1995, o que levou à criação do Grupo Especial de Fiscalização Móvel (GEFM), que atuava segundo uma estratégia de autuação mediante denún-cia. Em 2004, o Brasil se comprometeu perante a ONU a implan-tar uma política de erradicação (Villela, 2008).

Ao longo das décadas de 1990 e 2000, foram criadas e aperfeiçoadas as esferas de debate público, instrumentos le-gais e de enquadramento, repressão e punição (Instituto Socio-ambiental [ISA], 2008). Na sociedade civil, fortaleceram-se as redes que vêm lutando pela erradicação da escravidão. Na es-fera jurídica, em 2003, foi dada uma nova redação ao artigo 149 do Código Penal pela Lei n. 10.803, que se tornou o instrumen-to jurídico para o enquadramento das práticas degradantes de trabalho utilizadas por empreendimentos. O texto gera reclama-ções, sob o argumento de que o Brasil se afastou do conceito da OIT, que define somente o trabalho forçado. Por outro lado, considera-se avançada a legislação brasileira, que reconhece o trabalho análogo à escravidão mesmo quando não há consciên-cia dessa condição.

Na esfera legislativa, a Proposta de Emenda Constitucio-nal (PEC) n. 438 propõe a expropriação das terras flagradas na exploração do trabalho em condições análogas à de escravo, destinando-as à reforma agrária (MTE, 2011b). Sua proposição, em 1999, pôs em evidência o debate em torno do conceito de trabalho escravo. Entre as próximas questões de regulação, o Projeto de Lei n. 4.330/2004, que regulamenta a terceirização no Brasil, vem sendo considerado um retrocesso, pois propõe liberá-la na atividade-fim, colocando a responsabilidade pelo crime do trabalho escravo e pela violação das leis trabalhistas sobre o empreiteiro, tirando-a do empregador principal.

No caso brasileiro, estratégia para o combate ao traba-lho escravo tem sido a criação de instrumentos para fortalecer a governança e a institucionalização do problema tanto na esfera pública como na privada. No âmbito da regulação pública, um marco no processo foi a criação do Plano Nacional de Erradica-ção do Trabalho Escravo, em 2003, formulado pela então criada Comissão Especial do Conselho de Defesa dos Direitos da Pes-soa Humana, vinculada à Presidência da República. A Comis-são Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae) é um órgão colegiado criado para monitorar a execução do pla-no, que reunia 76 medidas em uma estratégia em rede, articula-do pelos órgãos dos três poderes (Legislativo, Judiciário e Exe-cutivo) envolvendo governo e sociedade civil, incluindo ONGs, representantes dos trabalhadores e das empresas (MTE, 2011a; Secretaria Especial dos Direitos Humanos [SEDH], 2008). Com o plano, a erradicação do trabalho escravo mantém-se na agenda

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da Presidência da República, trabalhando com a SEDH e com or-ganismos internacionais como a OIT e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Desde 2003, foram res-gatados mais de 44 mil trabalhadores, o que levou a OIT a reco-nhecer os progressos alcançados.

Mecanismo importante tem sido a “lista suja” do MTE, que designa o cadastro dos empregadores flagrados e condena-dos administrativamente pela exploração do trabalho em con-dições análogas à escravidão. A lista torna público o nome das empresas criminosas, identifica-as e informa ministérios e ou-tros órgãos, permitindo bloquear a avaliação e concessão de crédito. A lista suja é a ferramenta mais temida pelos infratores, devido ao monitoramento pela auditoria trabalhista e ao blo-queio de investimentos e financiamentos públicos em setores altamente dependentes do Estado (MTE, 2011b). No início de 2015, o cadastro reunia um número de 575 empregadores em si-tuação ilegal (Repórter Brasil, 2015).

As redes da sociedade civil têm sido determinantes para alcançar a opinião pública, articular soluções e construir co-nhecimento e consciência sobre o problema. No Brasil, ONGs vêm realizando estudos, como mapeamentos de cadeias pro-dutivas, identificando seus elos desde o pequeno produtor aos grandes varejistas, e os custos impostos aos trabalhadores afe-tados (Greenpeace, 2009; Phillips & Sakamoto, 2011). Essas iniciativas resultaram no lançamento de relatórios importantes com conteúdo de denúncia e campanhas de conscientização, com repercussão na mídia nacional e internacional.

Na esfera da regulação privada e colaboração na socie-dade civil, a ONG Repórter Brasil, o Instituto Ethos, a OIT e o IOS propuseram, em 2005, o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo. O pacto é citado pela OIT como referência por integrar empresas signatárias envolvidas em atividades vulne-ráveis ao trabalho escravo em torno da construção de responsa-bilidade pelo monitoramento e garantia do respeito aos direitos humanos ao longo de sua cadeia produtiva (IOS, 2011). As em-presas comprometem-se a não manter relações comerciais com as que constam na lista suja. O pacto reunia, em 2012, 185 sig-natárias, brasileiras e multinacionais, além de associações co-merciais e entidades da sociedade civil que, juntas, contribuem com mais de 20% do PIB nacional.

O processo de construção da agenda da erradicação do trabalho escravo beneficiou-se também da atenção de setores da mídia, que contribuem ao colocar o problema na agenda pú-blica. Entre os casos de maior repercussão, na indústria têxtil, as Lojas Marisa, Lojas Pernambucanas e a espanhola Zara fo-ram implicadas em casos de trabalhadores escravizados na ca-pital e no interior de São Paulo, a maioria imigrantes bolivianos. Na construção civil, houve denúncias em construtoras contra-

tadas pela estatal Companhia de Desenvolvimento Habitacio-nal e Urbano (CDHU), em São Paulo, e por consórcios responsá-veis por grandes obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). O debate público em torno desses casos inclui a respon-sabilização pela violação das leis trabalhistas e crime de traba-lho escravo ao longo da cadeia produtiva.

DISCUSSÃO E AGENDA DE PESQUISAS

A problemática da escravidão contemporânea revela aspectos nefastos da globalização da produção e do consumo até ago-ra pouco considerados pelo campo da prática e da pesquisa em Administração de Empresas. O caso brasileiro fornece insights importantes, corroborando e ampliando as proposições da te-oria da escravidão contemporânea como prática de gestão de Crane (2013).

Em especial, a estratégia de erradicação tem sido carac-terizada pelas intervenções e pressões nas cadeias produtivas por meio do enfrentamento do problema com a implementa-ção de mecanismos públicos e privados de regulação. Na agro-pecuária brasileira, por um lado, os pequenos produtores são inúmeros e estão sujeitos às práticas de compra das empresas processadoras de carne, perseguem a competitividade, mas de-terioram as relações de trabalho. Por outro, os mecanismos de política pública, como a lista suja, e de regulação voluntária dos atores da cadeia, como o Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, alteram a prevalência de racionalidade eco-nômica na exploração do trabalho escravo. Isso porque a cria-ção da lista suja, as ações de prevenção e a intensificação da fiscalização aumentaram o risco e o custo da inação em em-presas dependentes de financiamento do Estado. A ação gover-namental inclui também um plano executivo de metas e a arti-culação matricial entre políticas públicas que buscam garantir direitos básicos à população e prevenir o problema.

Persistem, entretanto, contradições no processo, incluin-do a ação do próprio governo, que incentiva empresas agrope-cuárias na franja Amazônica e no Centro-Oeste, enquanto ou-tras forças políticas, de dentro e de fora do governo, buscam alternativas para reduzir seus impactos socioambientais (Re-pórter Brasil e Papel Social, 2008). As dificuldades para a erra-dicação do trabalho escravo no Brasil incluem, por um lado, a ineficiência e incapacidade administrativa e técnica na gover-nança pública do problema. Por outro, tentativas de deslegiti-mação do problema e manutenção do domínio por parte das empresas, fazendas e políticos que buscam reforçar posições tradicionais, incluindo uso de lobbying informal, suborno, ame-aças e outras formas de influência e cooptação de políticos e

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funcionários públicos. Assim, embates políticos e judiciais en-tre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário brasileiros re-velam conflitos de interesses entre o governo e a sociedade civil, incluindo empresas do agronegócio, representantes rura-listas (nas esferas estadual e federal) e ONGs. Ainda, aumen-tou-se a exposição do problema pela mídia e fortaleceram-se as redes da sociedade civil que vêm lutando pela erradicação da escravidão, entre as quais as ONGs, que têm sido determinan-tes para sensibilizar a opinião pública e construir articulação ci-vil e conhecimento sobre o problema.

A contribuição deste artigo desdobra-se em uma agenda de pesquisa em Administração. Dois aspectos principais justi-ficam essa agenda. Em primeiro lugar, o debate sobre o traba-lho escravo contemporâneo acompanha o crescente interesse em compreender os impactos sociais das atividades empresa-riais para além dos países ricos (Blowfield & Frynas 2005; Egri & Ralston 2008; Idemudia 2011). Aqui se resgatam as reflexões de Newell e Frynas (2007), para quem seria desafio central, no campo da Administração, aprofundar e contextualizar o debate para fundamentar estratégias de ação nos países em desenvol-vimento, nas quais empresas contribuam com o enfrentamento dos problemas contemporâneos (pobreza, desemprego, educa-ção, meio ambiente, entre outros).

Em segundo lugar, evidencia a discussão do contexto da pobreza e suas inter-relações com o sistema de produção-con-sumo. (Banerjee, Chio, & Mir, 2009; Lindsay, 2010; Thornley, Je-ffreys, & Appay, 2010). Apesar do interesse recente na aborda-gem base da pirâmide (Prahalad, 2006; Ansari e outros 2012) e nas noções de capitalismo inclusivo, o campo não detém a compreensão dos fundamentos da pobreza e sobre como as te-orias e práticas da gestão estariam implicadas na sua reprodu-ção e no alívio (Boyle & Boguslaw, 2007; Jenkins, 2005; Kolk & Tulder, 2006; Newell & Frynas 2007; Pehn, 2009; Singer, 2006; Smith, 2009). Na verdade, tais aspectos ficam frequentemente obscurecidos no debate. A prática da responsabilidade social corporativa vem sendo enviesada pelos temas ambientais, em detrimento de visões mais complexas dos problemas a serem enfrentados (Barkemeyer, 2009; Houffman, 2011). Além disso, pobreza vem sendo considerada um tema inconsistente e mui-to distante do mainstream do business (Khavul & Bruton, 2013; Principles for Responsible Management Education, 2012). Este artigo sustenta que a problemática da escravidão contemporâ-nea avança nosso conhecimento de como práticas de gestão estariam ligadas à reprodução ou ao aumento da pobreza no mundo (Crane, 2013; Lindsay, 2010; Singer, 2006).

O artigo sugere também que o objetivo da erradicação do trabalho escravo se beneficiaria da compreensão do contexto e da dinâmica desses processos pelos ângulos da Administra-

ção. Segundo uma abordagem institucionalista, por exemplo, a continuidade das discussões em torno da escravidão contem-porânea traz consigo o potencial de ampliar a compreensão dos efeitos da globalização nas relações de trabalho em cadeias produtivas. Esses entendimentos seriam fundamentais para a construção de inovações na gestão que contribuam para erra-dicação do trabalho escravo. Assim, objetivos de uma agenda de pesquisa ampla em Administração incluiriam, por um lado, compreender o trabalho escravo como fenômeno cujos contor-nos se constroem na microdinâmica de estratégia e gestão das empresas (nível micro), em seus setores e cadeias produtivas (nível meso), nos contextos industriais, socioeconômicos, geo-gráficos e culturais (nível macro).

Por outro lado, essa agenda deve reconhecer a natureza complexa do problema e incorporar os debates das diversas disciplinas que o investigam. Os debates penetram principalmente o campo jurídico (Halley, Kotiswaran, Thomas, & Shamir, 2006; Lorenzetti, 2010; Monteiro, 2010; Rassam, 2005), direitos humanos (Figueira, Prado, & Galvão, 2013; Quirk, 2006; Welch, 2009), antropologia, sociologia e estudos de gênero (Doezema, 1999; Meillasooux, 1995) e políticas públicas (Antero, 2008; Lorenzetti, 2010); em estudos de temas como desenvolvimento (Barkemeyer, 2009), pobreza (Boyle & Boguslaw, 2007; Castilho, 1999; Jenkins, 2005; Khavul & Bruton, 2013; Kolk & Tulder, 2006; Pehn, 2009; Phillips & Sakamoto, 2011; Smith, 2009); segurança e tráfico de pessoas (Clark, 2003; Lobasz, 2009) e crimes corporativos (Oliveira, Valadão, & Miranda, 2013). As oportunidades que se colocam são diversas, tais como análises-explicativas com aporte teórico de várias correntes, diversificando a reflexão sobre as temáticas que contribuam para entendimento do trabalho escravo como prática de gestão. Entre as abordagens de pesquisa, sugere-se investigar:

1. (níveis micro e meso) As capacidades de gestão de pes-soas para a erradicação da escravidão e as estratégias para o alívio da pobreza. Apesar de ser controverso o de-bate sobre a responsabilidade das empresas no alívio da pobreza, o desafio de superá-la é central ao desenvolvi-mento sustentável e aspecto crucial à expansão dos ne-gócios, principalmente nos países em desenvolvimento. As questões que se colocam incluem: Em que condições as empresas se engajam no alívio à pobreza? Como fa-zê-lo? Para além dos aspectos de repressão, o campo de estudos em Administração precisa levar a sério a pesqui-sa e a prática sobre o alívio da pobreza como estratégia de negócios e como compromisso e retribuição à socie-dade (Singer, 2006). Segundo Kolk e Tulder (2006), ape-sar de pouco significativos os esforços de multinacionais

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no alívio à pobreza, um olhar mais aproximado às dinâ-micas setoriais revela aspectos que estariam correlacio-nados ao seu envolvimento nessas questões. Para esses autores, profícuo seria facilitar o diálogo e a ação no ní-vel setorial (meso), e não somente no nível da empre-sa (micro) ou das nações (macro), como tendem a fazer ONGs e organismos internacionais. No nível da gestão, podemos falar em RH sustentável? Quais são as capaci-dades de gestão de pessoas requeridas do RH para er-radicar a escravidão? Como atua, ou deveria atuar, o RH nas cadeias produtivas com exploração de trabalho es-cravo? O debate sobre o “RH verde” (Green HR) revela-se demasiadamente centrado na economia verde, questões ambientais e seus desdobramentos em gestão de pes-soas (Ehnert, 2009; Jackson, Renwick, Jabbour, & Mul-ler-Carmen, 2011). Esse viés não reflete a realidade dos países em desenvolvimento, nos quais os desafios são, mais claramente, socioambientais e frequentemente atu-ando nas margens de cadeias de produção globais (Levy, 2008). A questão da exploração de mão de obra escrava também aponta oportunidades ao debate sobre ética, di-reitos e dignidade humana no contexto da gestão de pes-soas (Greenwood & Freeman, 2011).

2. (nível meso) As dinâmicas interorganizacionais de poder e política nas cadeias produtivas que exploram o trabalho es-cravo. Em cadeias de produção complexas, a competição en-tre as “frações do capital” implica empresas impondo aos elos menos poderosos pressões no que diz respeito a pre-ço, qualidade e logística, acentuando sua rentabilidade, com desdobramentos nas relações de trabalho ao longo da ca-deia. Com a organização das cadeias produtivas, o trabalho escravo não seria resquício de modos arcaicos de produção, mas um instrumento de acumulação do capital (Phillips & Sakamoto, 2011). Sem a exploração dos elos mais fracos da cadeia, empreendimentos rurais em áreas de expansão não teriam a mesma capacidade para concorrer na economia glo-balizada. A competição entre empreendimentos no interior de cadeias produtivas globais põe os pequenos produtores em desvantagem diante dos elos mais poderosos, seja pelo pouco ou nenhum poder de barganha que lhes faz reféns dos grandes players, ou pelo foco da política pública na fiscaliza-ção, que lhes reserva as punições mais severas. Nessa pers-pectiva de pesquisa, podem-se apontar os avanços recentes no entendimento das redes de produção globais (global pro-duction networks) como campos de contestação e colabora-ção envolvendo empresas, estado e atores sociais, conforme abordagens da nova sociologia econômica (Levy, 2008; Levy & Newell, 2005).

3. (nível meso e macro) Os aspectos e as dinâmicas dos mer-cados de trabalho que reforçam a pobreza crônica. A cres-cente insegurança e precarização do trabalho são associa-das à necessidade de flexibilidade e terceirização em nome da competitividade global (Thornley et al, 2010). Em regiões pobres, empresas multinacionais e locais operariam meca-nismos coercitivos da globalização, reproduzindo condi-ções históricas de desigualdade (Banerjee et al, 2009; Li-chtenstein, 2010; Luxemburgo, 1984). Segundo essa visão, a pobreza não seria eliminada com a expansão dos merca-dos, pois, em muitos casos, a projeção global das cadeias produtivas fortaleceria empresas locais, mas não permitiria aos trabalhadores ascender socialmente (Barrientos, Gere-fei, & Rossi, 2010). Em vez disso, revelaria formas extremas de exploração do trabalho que perpetuam a vulnerabilida-de e a pobreza crônica (Phillips & Sakamoto, 2011). Seria desejável que a agenda de pesquisa abarcasse os mecanis-mos pelos quais um amplo espectro de relações de traba-lho reforça a pobreza crônica, buscando a compreensão do que fundamentaria sistemas locais sustentáveis de traba-lho (Docherty, Kira, & Shani, 2009).

4. (nível macro) As implicações do contexto regulatório pú-blico e privado na erradicação do trabalho escravo. Seria necessário aprofundar as contribuições, oportunidades, contradições e desafios do processo de construção e im-plementação da regulação pública e privada na erradicação do trabalho escravo. Esse debate precisa ser ampliado para capturar as consequências das práticas trabalhistas no atu-al modelo globalizado e neoliberal de produção e consu-mo em massa (Boyle & Boguslaw, 2007; Jenkins, 2005; Kolk & Tulder, 2006; Newell & Frynas 2007; Pehn, 2009; Singer, 2006; Smith, 2009). Nesse cenário, enquadra-se o estudo da teoria da implementação de políticas públicas que arti-culam o cumprimento voluntário, o cumprimento forçado e a dissuasão (Lorenzetti, 2010). Essa agenda pode ser mo-tivada por questões prioritárias: Quais são os limites entre o papel do Estado e das empresas para lidar com a temá-tica? Como as ações de responsabilidade social corporati-va podem ajudar a erradicar a pobreza, diminuir a exclusão social e outros desafios do desenvolvimento? Que respon-sabilidades têm empresas, governos e sociedade civil no enfrentamento dessas questões e em torno das Metas do Milênio das Nações Unidas? Que práticas, estratégias e me-todologias podem colaborar para realizar a contribuição potencial das empresas aos desafios do desenvolvimento sustentável (Karam & Jamali, 2013; Houffman & Jennings, 2011; Newell & Frynas, 2007)? Nessa direção, uma agenda de pesquisa mais consistente deve caminhar para incorpo-

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rar os debates de outras áreas do conhecimento, desenvol-vendo suas interfaces com a Administração e contribuindo para encaminhamento de soluções.

5. (nível macro) O comportamento dos mercados consumidores diante do trabalho escravo. Estudos sobre consumo respon-sável revelam um ângulo da problemática ao aprofundar a compreensão do comportamento do consumidor diante das informações do processo de erradicação do trabalho escra-vo. As respostas dos mercados consumidores ao problema do trabalho escravo seriam dimensão importante para en-tender a reprodução ou a transformação dessas práticas. A consolidação da agenda da erradicação tem chamado a atenção para dimensões sociais insustentáveis de cadeias produtivas lideradas por grandes empresas com reputações sensíveis, como no setor de moda (Veludo-de-Oliveira, Mas-carenhas, Trouchin & Baptista, 2014). Mesmo com maior es-clarecimento nos mercados consumidores quanto à realida-de das cadeias produtivas, ficaria por discutir como induzir o consumidor a hábitos de consumo responsáveis, o que re-quer contextualizar o debate sobre o consumo responsável (Creyer, 1997; Carrigan & Attalla, 2001; Kollmuss & Agyeman, 2002; McDonagh, 2002; Protero e outros, 2011).

NOTA DOS AUTORESGostaríamos de agradecer aos professores Rafael Alcadipani, Mário Aquino Alves, Patrícia Mendonça e Andrew Crane, à equipe da Repórter Brasil, em especial, Leonardo Sakamoto e Daniel Santini, aos avaliadores e ao editor científico da RAE, cujos comentários foram valiosos ao aperfeiçoamento do texto. Os autores também gostariam de agradecer ao CNPq pelo financiamento concedido. Convidamos a visitar e participar do debate em nosso Grupo de Estudos sobre Escravidão Contemporânea e a Administração, em zetesis.net/escravidao-contemporanea-administracao.

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AUTORES | André Ofenhejm Mascarenhas | Sylmara Lopes Gonçalves Dias | Rodrigo Martins Baptista

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ISSN 0034-7590© RAE | São Paulo | V. 55 | n. 2 | mar-abr 2015 | 188-201

ANA LUISA DE OLIVEIRA MARQUES [email protected] Professora da Universidade do Minho, Departamento de Psicologia Aplicada – Braga, Portugal

MARIA JOÃO [email protected] Mestre em Psicologia do trabalho e das Organizações, Universidade do Minho, Departamento de Psicologia Aplicada – Braga, Portugal

ISABEL [email protected] Professora da Universidade do Minho, Departamento de Psicologia Aplicada – Braga, Portugal

ANTONIO [email protected] Professor do Instituto Universitário de Lisboa, Business Research Unit – Lisboa, Portugal

ARTIGOSRecebido em 29.05.2013. Aprovado em 27.06.2014Avaliado pelo sistema double blind review. Editor Científico: Felipe Zambaldi

FATORES QUE AFETAM A TRANSFERÊNCIA DA APRENDIZAGEM PARA O LOCAL DE TRABALHOFactors affecting the transfer of learning to the workplace

Factores que afectan la transferencia del aprendizaje para el lugar de trabajo

RESUMO O treinamento visa responder às necessidades de desenvolvimento das pessoas e das organizações (Grohmann & Kauffeld, 2013). Baseado no modelo de Holton, realizou-se um estudo que procura identificar e compreender os fatores envolvidos no processo de transferência de aprendizagem para o posto de trabalho de duas ações de treinamento distintas quanto ao design e às competências. O estudo decorreu numa organização portuguesa e envolveu 98 participantes. Realizaram-se entrevis-tas com ex-formandos com o objetivo de explorar os fatores que facilitaram ou dificultaram a trans-ferência das aprendizagens e aplicou-se o Inventário do Sistema de Transferência da Aprendizagem, versão portuguesa (Holton, Bates, Seyler & Carvalho, 1997; Velada & Caetano, 2009). Os resultados sugerem que o modelo de Holton (2005) mostra o que os treinandos identificaram como importante para a transferência da aprendizagem e que há diferenças em relação aos fatores de transferência de acordo com o tipo de treinamento.PALAVRAS-CHAVE | Aprendizagem, transferência, formação, avaliação, gestão de recursos humanos.

ABSTRACTTraining aims to respond to the needs of development of individuals and organizations (Grohmann & Kauffeld, 2013). Based on Holton model, we carried out a study seeking to identify and understand the factors involved in the process of learning transfer to the workplace from two different training actions on the design and skills. The study took place at a Portuguese organization and involved 98 participants. Former students were interviewed with the purpose to explore the factors that facilitated or hindered the learning transfer, and the Inventory of the Portuguese version of the Learning Transfer System (Holton, Bates, Seyler & Carvalho, 1997; Velada & Caetano, 2009) was applied. The results suggest that the Holton model (2005) shows that the trainees have identified important issues for learning transfer and that there are differences in relation to the transfer factor pursuant to the type of training.KEYWORDS | Learning, transfer, training, assessment, human resources management.

RESUMENEl entrenamiento visa responder a las necesidades de desarrollo de las personas y de las organizacio-nes (Grohmann & Kauffeld, 2013). Basado en el modelo de Holton, se ha realizado estudio que busca identificar y comprender los factores envueltos en el proceso de transferencia de aprendizaje para el puesto de trabajo de dos acciones de entrenamiento distintas cuanto al design y a las competencias. El estudio se ha sucedido en una organización portuguesa y envolvió 98 participantes. Se realiza-ron entrevistas con ex-alumnos con el objetivo de explorar los factores que facilitaron o dificultaron la transferencia de los aprendizajes y se ha aplicado el Inventarió del Sistema de Transferencia del Aprendizaje, versión portuguesa (Holton , Bates, Seler & Carvalho, 1997; Velada & Caetano, 2009). Los resultados sugieren que el modelo de Holton (2005) muestra lo que los entrenados identificaron como importante para la transferencia del aprendizaje y que hay diferencias en relación a los factores de transferencia de acuerdo con el tipo de entrenamiento.PALABRAS-CLAVE | Aprendizaje, transferencia, formación, evaluación, gestión recursos humanos.

RAE-Revista de Administração de Empresas | FGV-EAESP

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-759020150208

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AUTORES | Ana Luisa de Oliveira Marques Veloso | Maria João Silva | Isabel Silva | Antonio Caetano

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INTRODUÇÃO

A importância do treinamento para a manutenção e desenvol-vimento das organizações é consensual entre os investigado-res e práticos (Kennedy, Chyung, Winiecki, & Brinkerhoff, 2014; Úbeda-Garcia, Marco-Lajara, Sabater-Semepere, & Garcia-Lillo, 2013), em especial quando integrado com outras práticas de gestão de recursos humanos (Aguinis & Kraiger, 2009). Contri-bui para a realização dos objetivos organizacionais; responde às necessidades de desenvolvimento das pessoas e das organi-zações, produzindo satisfação profissional e elevados padrões de desempenho (Grohmann & Kauffeld, 2013). Os objetivos do treinamento incluem: redução de deficiências de performan-ce, atualização, aumento do empenho e flexibilidade dos co-laboradores, acolhimento e integração de novos colaboradores (Cunha, 1996).

O principal objetivo desta investigação é a identificação e análise de alguns fatores que afetam a transferência da apren-dizagem, em contexto de treinamento, para o local de trabalho em dois grupos de participantes, independentes, com a frequ-ência de duas ações de treinamento distintas, relativamente às competências a desenvolver, ao design do treinamento e à identificação das necessidades de treinamento: informática, na visão do utilizador, e direção eficiente. Pretende-se analisar se existem diferenças entre os dois grupos para cada um dos fato-res de transferência identificados na literatura (Holton, 2005; Holton, Bates, Bookter, & Yamkovenko, 2007; Velada, Caetano, Bates, & Holton, 2009). Procura-se, ainda, extrair orientações com vista a maximizar a transferência das aprendizagens para o local de trabalho.

A transferência da aprendizagem diz respeito ao grau em que os treinandos aplicam de maneira efetiva e contínua (Bro-ad & Newstrom, 1992; Grohmann & Kauffeld, 2013), no seu con-texto de trabalho, os conhecimentos, competências, compor-tamentos ou atitudes que aprenderam durante o treinamento (Baldwin & Ford, 1988; Yusof, 2012).

Trata-se de um conceito complexo, multidimensional e que requer uma análise multiníveis. É importante analisar em que circunstâncias emergem as necessidades de treinamento, em que contexto ocorre a transferência dos conhecimentos e aptidões adquiridos, bem como os fatores de transferência im-plicados quer como facilitadores, quer como obstáculos.

Entre os modelos que abordam a transferência da apren-dizagem em contexto de treinamento para o local de trabalho, destacam-se o modelo de Kirkpatrick (1996) de 1959, pelo seu pioneirismo e ampla utilização, e o de Baldwin e Ford (1988), a partir do qual foram criadas as bases para o desenvolvimen-to de novas tendências de investigação nesse domínio. Na se-

quência do trabalho desses dois autores, assistiu-se a consi-derável progresso na compreensão dos fatores que afetam a transferência (Kennedy et al, 2014). Salientamos também o mo-delo de Phillips, que acrescentou ao modelo de Kirkpratrick um quinto nível, designado por Return on Investment, que procura evidenciar a importância do treinamento como investimento fi-nanceiro (Phillips & Stone, 2002), e o modelo de Holton (1996, 2005), que resultou na criação de uma ferramenta de avaliação da transferência da aprendizagem, o Learning Transfer System Inventory (LTSI).

O modelo de Holton procura dar resposta a problemas de avaliação de eficácia do treinamento anteriormente iden-tificados pelo próprio, mas também por outros autores (Dion-ne, 1996; Salas & Cannon-Bowers, 2001; Veloso, 2012), e que ainda não obtiveram resposta totalmente satisfatória: (1) ape-sar de os treinandos aprenderem durante o treinamento (suces-so do planejamento do treinamento), não é garantido que utili-zem os novos conhecimentos no trabalho, e (2) multiplicidade de critérios e abordagens à avaliação do treinamento, sem res-ponder satisfatoriamente a exigências de fiabilidade e facilida-de de utilização.

Modelo de transferência da aprendizagem

Para Holton (1996), a avaliação da transferência das aprendi-zagens baseia-se numa avaliação do desempenho individual e explica-se pela associação a quatro grandes categorias de fa-tores: 1) as características dos treinandos (aptidões e/ou habi-lidades e fatores de personalidade); 2) o design do treinamen-to (incorporação de princípios de aprendizagem, a sequência e o conteúdo do treinamento); 3) a motivação e prontidão para aprender, bem como a motivação para transferir; e 4) as carac-terísticas do contexto de trabalho (supervisão, apoio dos cole-gas, clima, constrangimentos e oportunidades para aplicar no desempenho das funções, as aprendizagens efetuadas). Se-gundo o autor, a maioria das ações de treinamento não promo-ve as mudanças pretendidas nos locais de trabalho, devido à incapacidade de transferência dos conhecimentos adquiridos para o contexto real de trabalho.

O modelo de Holton (1996) identifica uma série de in-fluências na transferência (ver Figura 1), dividindo-as em va-riáveis primárias (aptidões, motivação para aprender, reação à aprendizagem, design de transferência, motivação para transfe-rir, condições de transferência, utilidade esperada, ligação aos objetivos organizacionais e eventos externos) e variáveis se-cundárias (prontidão para a atuação, atitudes no trabalho, ca-racterísticas de personalidade e cumprimento da intervenção).

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ARTIGOS | Fatores que afetam a transferência da aprendizagem para o local de trabalho

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Propõe três medidas de resultado primárias: 1) a aprendizagem – traduz-se no alcance dos resultados de aprendizagem de-sejados; 2) o desempenho individual – mudança no desempenho individual como resultado da aplicação da aprendizagem no tra-balho e 3) os resultados organizacionais – são a consequência da mudança no desempenho individual.

Figura 1. Modelo de Holton

Motivaçãopara aprender

ReacçãoAprendizagem

Condições deTransferência

Eventosexternos

Resultadosorganizacionais

Desempenhoindividual

Aprendizagem

Aptidões Design datransferência

Ligação aosobjetivos

organizacionais

Motivaçãopara transferir

Utilidadeesperada/ROI

ElementosMotivacionais

Elementosdo Meio

Resultados

Aptidões/Elementosfacilitadores

Fonte: Holton (1996, p.17)

Numa abordagem mais recente, Holton e Baldwin (2003) sa-lientam o conceito de distância da transferência, ou seja, o gap existente entre o ambiente de treinamento e a sua aplicação no local de trabalho. O modelo conceitual da distância de transfe-rência apresenta um continuum entre duas fases, do “processo de aprendizagem” até à “transferência efetiva para o local de trabalho”. A primeira inclui as subfases de aquisição do conhe-cimento (Know That), aquisição de conhecimento para ser apli-cado (Know How) e melhorar a capacidade de desempenho por meio da prática; a segunda inclui as subfases de aplicação do conhecimento ao contexto de trabalho, repetição e manutenção das transferências, e generalização dos saberes para aplicação aos variados contextos profissionais ao longo da vida (transfe-rência distante). A passagem pelas seis fases com sucesso terá como resultado a transferência real de aprendizagens para o lo-cal de trabalho, com consequentes mudanças no desempenho. O ideal será que o conhecimento adquirido no treinamento dê lugar ao treino em local de trabalho, levando a mudanças no de-sempenho individual e na organização, em longo prazo.

Em resumo, para Holton (2005), um bom modelo neces-sita identificar resultados, efeitos de variáveis moderadoras que os afetam e relações de causalidade. Consequentemente, o seu modelo apresenta três grupos centrais de influências – competência, motivação e influências ambientais – e três ní-veis de resultados – aprendizagem, performance individual e performance organizacional.

Apesar dos objetivos de Holton para o seu próprio modelo, este reconhece algumas fraquezas na sua proposta, nomeadamente: “[…] full test of my model has not been possible because many of the tools to measure the constructs in the model did not exist” (Holton, 2005, p. 38). Kirwan e Birchall (2006) referem a inexistência, no modelo de Holton, de mecanismos de feedback ou mesmo a possibilidade de interação entre fatores. Aguinis e Kraiger (2009, p. 466), numa revisão da literatura entre 2000-2009 sobre avaliação do treinamento, não encontraram evidência consistente de que o clima de transferência fosse um moderador importante na transferência da aprendizagem para o trabalho, por exemplo. Assim, o modelo de Holton apresenta vantagens como modelo para a avaliação da transferência da

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AUTORES | Ana Luisa de Oliveira Marques Veloso | Maria João Silva | Isabel Silva | Antonio Caetano

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aprendizagem, ainda que, diante dos constrangimentos de nível metodológico e de instrumentos, algum cuidado seja necessário na análise dos seus resultados.

METODOLOGIA

Na coleta de dados desta investigação, utilizou-se o Inventário do Sistema de Transferência da Aprendizagem, a seguir desig-nado por LTSI (Holton, Bates, Seyler & carvalho 1997), e realiza-ram-se entrevistas semiestruturadas. Esse questionário consis-te numa medida de autorrelato a aplicar a formandos. Perante 89 afirmações (representativas dos diferentes fatores identifi-cados pelo modelo teórico de referência), os participantes ma-nifestam a sua opinião numa escala de resposta tipo Likert de 5 pontos desde o “discordo completamente” (1) ao “concordo completamente” (5). Foi validado para a população portugue-sa por Velada et al. (2009) com base numa amostra de 484 for-mandos. Visando compreender o processo de transferência das aprendizagens, em particular a manifestação do seu impacto, e completar os dados resultantes da aplicação do LTSI, foram rea-lizadas entrevistas semiestruturadas a treinandos de ambas as ações de treinamento.

O guia da entrevista foi elaborado com base nos objeti-vos e conceitos teóricos deste estudo, salientando-se o contri-buto de Holton (2005) para a definição dos temas de análise e interpretação das entrevistas. Procurou-se ouvir a opinião de uma pequena amostra de treinandos e perceber se houve mu-danças no período pós-treinamento, ou seja, a transferência da aprendizagem para o exercício dos cargos; em caso afirmativo, que formas adotaram e que fatores apoiaram a transferência de conhecimentos, ou, em caso contrário, que fatores representa-ram obstáculos a essa transferência. Com base na revisão da li-teratura, foram criados cinco temas/questões da entrevista: 1) percepção da transferência (“o que mudou no seu trabalho com este treinamento?”); 2) utilização de novas ferramentas (“que ferramentas não utilizava e passou a utilizar?”); 3) metodolo-gias (“que novas formas de trabalhar conheceu?”); 4) facilitado-res da transferência (“o que facilitou a introdução de alterações no local de trabalho?”) e 5) obstáculos à transferência (“o que dificultou a introdução de alterações no local de trabalho?”).

Neste estudo, “novas ferramentas” entende-se como fer-ramentas que já estavam disponíveis no local de trabalho an-tes do treinamento (por exemplo, viaturas e seus acessórios e software dos computadores), mas que foram alvo de uma apre-sentação formal e incentivo à utilização aos treinandos. Quan-to à “utilização das ferramentas”, foram introduzidas as noções “significativa” e “parcial”, implicando a primeira o recurso in-

tencional, global, frequente e vantajoso de novas ferramentas, ao passo que a segunda remete para uso esporádico ou ocasio-nal e sem antecipação de vantagens demarcadas.

Procedimentos

A coleta de dados realizou-se numa organização portuguesa, com cerca de 400 colaboradores, cuja principal atividade con-siste na recolha, transporte rodoviário e venda de matéria-pri-ma. Após autorização da administração da organização para a realização do estudo, comunicaram-se os objetivos e procedi-mentos às chefias dos participantes. Em seguida, realizaram--se entrevistas semiestruturadas. Posteriormente foi solicitada a colaboração dos diferentes departamentos da organização na entrega e recolha do questionário LTSI.

Para efeitos do presente estudo, foram selecionadas, do plano de treinamento da empresa, duas ações de treina-mento, pelas seguintes razões: (1) terem decorrido, relativa-mente a este estudo, num período que permitiria aos par-ticipantes aplicarem os conhecimentos adquiridos nos seus cargos; (2) fazerem apelo ao desenvolvimento de competên-cias distintas; (3) terem sido realizadas por motivos diferen-tes: a ação Direção Eficiente (“Direção”), decorrente do le-vantamento de necessidades, e a ação Informática na visão do Utilizador (“Informática”), de uma oportunidade de negó-cio (oferta da ação de treinamento por uma empresa de ser-viços externa).

No total, participaram na ação de treinamento “Direção” 130 formandos. No entanto, 60 foram excluídos do estudo por estarem ausentes fisicamente da organização (por demissão, baixa médica e férias) no momento da coleta de dados. Dos 31 treinandos que participaram na ação “Informática”, três fo-ram excluídos pelos mesmos motivos. Assim, foram contatados pessoalmente pelos investigadores 98 formandos (70 da ação “Direção” e 28 da ação “Informática”), tendo todos eles concor-dado em participar na investigação.

Desses, 20 foram entrevistados previamente, tendo 10 frequentado a ação “Direção” (identificados de S1 a S10) e 10 a ação Informática (identificados de S11 a S20). Foram entrevis-tados, após o período de trabalho, aqueles que voluntariamen-te se disponibilizaram.

O número de entrevistas foi definido a priori e em fun-ção dos recursos disponíveis para a realização da investigação (tempo e pessoas). As entrevistas foram realizadas individual-mente e num local da organização onde estavam garantidas condições de confidencialidade. As respostas foram registadas por escrito. A duração média das entrevistas foi de 15 minutos. Apenas foram registadas informações que estavam relaciona-

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das com o estudo (exemplo não considerado: “desculpe lá o atraso, mas antes de vir para cá tive de ir buscar os meus filhos à escola e deixá-los em casa”).

Amostra

Dos 98 participantes do estudo, 6 (6,1%) são do sexo femini-no (apenas presentes na ação Informática). A média de idades situa-se nos 43,53 anos (DP=9,41) e a média de tempo de tra-balho na empresa situa-se nos 16,39 anos (DP=10,76). Mais de metade dos participantes (56,1%) tem um nível de escolaridade correspondente ao 3º ano do ensino básico, 5% ao ensino se-cundário e 1% ao ensino superior; quase um quinto (19,4%) tem um nível que não ultrapassa o 1º ciclo do ensino básico, todos eles integrados na ação “Direção”.

Em relação às categorias profissionais dos participantes, 70 colaboradores que frequentaram a ação “Direção” são mo-toristas de veículos pesados; nos 28 que participaram na ação Informática, encontram-se 13 administrativos, 2 vendedores, 8 técnicos de assistência, 2 técnicos de desenho e 3 chefias.

APRESENTAÇÃO DE RESULTADOS

Serão apresentados primeiramente os resultados obtidos nas 20 entrevistas e, em seguida, os resultantes da aplicação do

LTSI. Em ambos os casos, serão também descritos os procedi-mentos de análise de dados adotados.

Entrevistas

Adotou-se a template analysis para a análise dos dados das entrevistas. Essa técnica consiste na organização dos da-dos qualitativos por meio da codificação de temas conside-rados importantes para o investigador (King, 2008). A apli-cação da template analysis considerou as seguintes etapas: a) definição dos temas a priori e elaboração do guia de en-trevista; b) realização das entrevistas; c) codificação dos dados (das primeiras seis entrevistas); d) construção da template inicial; e) aplicação da template às restantes en-trevistas; f) interpretação da template final; g) controle da qualidade por meio da discussão da análise dos dados com outros investigadores.

O Quadro 1 é uma matriz da organização dos temas e sub-temas das entrevistas. Um aspecto estruturante que se pode ve-rificar é que os três primeiros temas focalizam o grau de transfe-rência e os dois últimos incidem sobre fatores de transferência (baseados no modelo de Holton (2005)).

Em seguida, são apresentados os resultados da inter-pretação da template final, apoiados pela reprodução integral e orientada por tema das referências identificadas nas entre-vistas.

Quadro 1. Temas das entrevistas – Template final

1. Percepção da transferência

O que mudou no seu trabalho com esta ação de treinamento?

1.1. Com percepção de mudança

1.1.1. Alteração de comportamentos

1.1.2. Alteração de conhecimentos

1.1.3. Autocontrole e autoconfiança

1.1.4. Indicadores de desempenho

1.1.5. Abertura à mudança

1.2. Sem percepção de mudança

2. Utilização de novas ferramentas

Que ferramentas não utilizava e passou a utilizar?

2.1. Com utilização de novas ferramentas

2.1.1. Identificação das novas ferramentas

2.1.2. Conhecimento do seu impacto

2.2. Sem utilização de novas ferramentas

2.2.1. Manutenção das mesmas ferramentas

2.2.2. Utilização diferente de ferramentas já existentes

3. Metodologias

Que novas formas de trabalhar conheceu?

3.1. Com identificação de novas formas de trabalhar

3.1.1. Identificação de novas formas de trabalhar

3.1.2. Conhecimento do impacto

3.1.2.1. Atenção e controle

3.1.2.2. Rapidez

3.1.2.3. Competência

3.1.2.4. Abertura à mudança

3.2. Sem identificação de novas formas de trabalhar

(Continua)

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4. Facilitadores

O que facilitou a introdução de alterações no local de trabalho?

4.1. Preparação prévia dos treinandos

4.1.1. Expectativas quanto à ação de treinamento específica

4.1.2. Expectativas quanto ao treinamento em geral

4.2. Motivação para transferir 4.2.1. Entusiasmo

4.3. Resultados pessoais 4.3.1. Desempenho pessoal

4.4. Capacidade pessoal para transferir

4.4.1. Tempo

4.4.2. Energia

4.4.3. Disponibilidade psicológica

4.5. Suporte dos colegas 4.5.1. Equipe de trabalho

4.6. Percepção de validade de conteúdo

4.6.1. Alinhamento com as exigências do cargo

4.7. Design de transferência

4.7.1. Natureza teórico-prática do treinamento

4.7.2. Semelhanças do treinamento com o trabalho

4.7.3. Competências pedagógicas do Business Research Unit treinador

4.8. Oportunidade para usar o aprendido

4.8.1. Timing pós-treinamento

4.8.2. Recursos/Condições físicas de trabalho

4.8.3. Autonomia

4.9. Autoeficácia de desempenho 4.9.1. Confiança nas capacidades pessoais

4.10. Feedback de desempenho 4.10.1. Acesso a resultados individuais

5. Obstáculos

O que dificultou a introdução de alterações no local de trabalho?

5.1. Preparação prévia dos treinandos 5.1.1. Expectativas quanto ao treinamento

5.2. Motivação para transferir 5.2.1. Entusiasmo

5.3. Capacidade pessoal para transferir

5.3.1. Tempo

5.3.2. Energia

5.3.3. Espaço mental

5.4. Suporte do supervisor

5.5. Percepção de validade de conteúdo

5.5.1. Alinhamento com as exigências do cargo

5.6. Design de transferência

5.6.1. Nível de treinamento

5.6.2. Objetivos, conteúdos e duração

5.6.3. Componente prática

5.6.4. Condições de avaliação

5.7. Oportunidade para utilizar o aprendido

5.7.1. Recursos/Condições físicas de trabalho

5.7.2. Tarefas

5.8. Resistência à mudança

Percepção da transferência – O que mudou no seu trabalho com este treinamento?

As respostas ao primeiro tema permitiram identificar dois grupos: os que percepcionaram perceberam mudança (1.1 Com percep-ção de mudança) e os que não percepcionaram perceberam mudança, após o treinamento (1.2 Sem percepção de mudança). O pri-meiro grupo indicou percepção de transferência por meio dos seguintes aspectos: a) alteração de comportamentos; b) alteração de conhecimentos; c) melhoria de autocontrole e autoconfiança; d) efeitos em indicadores de desempenho (segurança, economia e rapidez); e e) a abertura à mudança, como amplificador da percepção de transferência. No segundo grupo, os testemunhos apon-tam para a inexistência de mudanças.

Quadro 1. Temas das entrevistas – Template final (Conclusão)

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Quadro 2. Dados das entrevistas referentes ao tema - Percepção da transferência

Subtemas Dados das entrevistas

1.1. Com percepção de mudança

1.1.1. Alteração de comportamentos

“Mudei o meu comportamento na estrada.” S6“Esta ação permitiu-me corrigir certos hábitos de direção.” S8“Mudei o meu comportamento com a marcha, a aceleração e o freio.” S9

1.1.2. Alteração de conhecimentos

“Pouco mudou; alguns esclarecimentos no uso da folha de cálculo e processador de texto.” S13“Ajudou a melhorar/recapitular certos conhecimentos, mas não acrescentou nada de novo.” S14“Descobri alguns atalhos no Excel que ajudam a concluir algumas tarefas com maior rapidez.” S20

1.1.3. Autocontrole e autoconfiança

“[…] agora tenho mais cuidado e reparo mais no painel de controle da viatura (por exemplo, estou mais atento às rotações).” S4 “Noto que estou mais à vontade a desenvolver alguns trabalhos no dia a dia (por exemplo, a localizar opções nas ferramentas) [...]” S12

1.1.4. Indicadores de desempenho

“Houve mudanças em segurança e economia de diesel. Agora dirijo de forma diferente.” S1“Como ganhei mais conhecimento, trabalho de forma mais rápida.” S19

1.1.5. Abertura à mudança

“Na direção, sempre se aprende novas coisas que levam à modificação de hábitos.” S5

1.2. Sem percepção de mudança

“Acho que esta ação não mudou nada.” S11“O treinamento não me ensinou a dirigir.” S4“Já não me recordo do que aprendi.” S17

Utilização de novas ferramentas – Que ferramentas não utilizava e passou a utilizar?

As respostas ao segundo tema da entrevista revelaram dois gru-pos: os que reconheceram a utilização de novas ferramentas (2.1 Com utilização de novas ferramentas) e 2.2) os que não mencio-naram a utilização de quaisquer novas ferramentas (2.2 Sem uti-lização de novas ferramentas), na sequência da formação.

Em geral, os participantes que utilizam novas ferramen-tas reagiram de maneira rápida e objetiva a essa questão, ten-do sido capazes de as identificar (por exemplo, o intarder, limi-tador de velocidade, câmbio, determinadas teclas de atalho no Excel e Word, PowerPoint). Além disso, mostraram-se conhece-dores do impacto dessa utilização na melhoria do seu desem-

penho. Ainda dentro desse primeiro grupo, é possível distinguir os treinandos que utilizam as novas ferramentas de uma for-ma frequente e global, e aqueles que apenas se servem de de-terminadas funções das ferramentas, acusando uma utilização parcial com uso esporádico ou ocasional e sem antecipação de vantagens demarcadas.

Por contraste, os dados que remetem para a não utiliza-ção de novas ferramentas baseiam-se na manutenção de fer-ramentas já existentes e no reconhecimento da sua diferente utilização. Com efeito, enquanto os primeiros limitaram a sua resposta ao fato de não notarem alterações após o treinamen-to, os segundos encontraram novas formas de utilizar as ferra-mentas existentes, embora não especifiquem em que aspectos se manifestou a mudança.

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Quadro 3. Dados das entrevistas referentes ao tema - Utilização de novas ferramentasSubtemas Dados das entrevistas

2.1. Com utilização de novas ferramentas

2.1.1. Identificação das novas ferramentas

“O limitador de velocidade para ligar dentro das localidades e uma maior utilização da marcha.” S3“Agora já sei utilizar o PowerPoint para apresentar dados que me pedem.” S16

2.1.2. Conhecimento do seu impacto

“[…] gasto menos calços de travões, há menor aquecimento e a direção é mais segura.” S1“Comecei a utilizar as ferramentas de uma forma que me facilita mais o trabalho, com maior rapidez.” S16

2.2. Sem utilização de novas ferramentas

2.2.1. Manutenção das mesmas ferramentas

“Já usava as ferramentas de que se falou no treinamento, porque já trabalho com carros automáticos há algum tempo.” S4 “Antes do treinamento já as usava todas, por isso não notei nenhuma diferença significativa.” S11

2.2.2. Utilização diferente de ferramentas já existentes

“Não há propriamente ferramentas novas, porque as que já utilizava fazem naturalmente parte da função, o que há é novas formas de as usar.” S6

Metodologias – Que novas formas de trabalhar conheceu?

As respostas a este ponto levaram à divisão de dois grupos: os que identificaram novas formas de trabalhar (grupo identifica-do como 3.1) e os que não identificaram quaisquer novas for-mas de trabalhar (grupo identificado como 3.2).

Na primeira categoria, os participantes identificaram, de maneira objetiva, as novas formas de trabalhar que conhece-ram no treinamento. Tal aconteceu sobretudo para os partici-pantes da ação “Direção”, com respostas referentes à aplicação de diferentes técnicas na direção: a) antecipação de obstácu-los; b) manutenção de distâncias de segurança; c) imobilização do veículo; d) técnicas para a condução em tempo úmido, piso

molhado e com gelo; e) alerta para consumos de combustível; f) procedimentos de segurança na estrada; g) monitorização de tempos de direção; e h) atenção ao desgaste da viatura. No gru-po dos que frequentaram a ação Informática, a identificação de novas formas de trabalhar foi apoiada por referências a “ques-tões mínimas”, “alguns atalhos” e “pequenas alterações”.

Registaram-se, ainda, novas formas de trabalhar decor-rentes das seguintes condições: a) maior atenção e controle; b) rapidez de execução; c) competência geral; e d) abertura à mu-dança. Finalmente, nos participantes que não mencionaram no-vas formas de trabalhar, os comentários apontam para duas si-tuações distintas: a) ausência de novidade do treinamento; e/ou b) satisfação com as anteriores formas de trabalhar.

Quadro 4. Dados das entrevistas referentes ao tema - MetodologiasSubtemas Dados das entrevistas

3.1. Com identificação de novas formas de trabalhar

3.1.1. Identificação de novas formas de trabalhar

“Aprendi técnicas novas para a direção em gelo e tempo úmido.” S5“Este treinamento alertou para os consumos de combustível e para a segurança na estrada.” S6 “Conheci alguns atalhos (conjugação de teclas) no Excel e no Word.” S11

3.1.

2. C

onhe

cim

ento

do

impa

cto

3.1.2.1. Atenção e controle

“Acho que o GPS talvez tivesse trazido mudanças, pois significa maior controle.” S2“Comecei a prestar mais atenção a aspectos como as RPM, as velocidades.” S4

3.1.2.2. Rapidez“Tive conhecimento de formas de simplificar o serviço, acesso mais rápido aos comandos, menor número de passos envolvidos.” S17“Agora utilizo muito as teclas de atalhos, os ‘F’, porque se torna tudo mais rápido.” S19

3.1.2.3. Competência

“[…] apercebo-me de que aquilo que foi discutido no treinamento acabou por me tornar mais proficiente noutras ferramentas que não necessariamente nas abordadas.” S12

3.1.2.4. Abertura à mudança

“O mais positivo do treinamento é que há coisas que estamos sempre a aprender.” S9

3.2. Sem identificação de novas formas de trabalhar

“Não houve alterações a este nível.” S14 “A um nível global, não mudou nada.” S20 “[…] como já usava alguns métodos e funcionavam, não vi necessidade de alterar a forma como trabalhava.” S11

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Facilitadores – O que facilitou a introdução de altera-ções no local de trabalho?

Este tema permitiu a identificação dos principais fatores envol-vidos positivamente na transferência da aprendizagem para o local de trabalho, tendo surgido vários aspectos que a se-guir se discriminam (ver Quadro 5). No subtema “preparação prévia dos treinandos”, distinguiram-se expectativas dian-te da ação de treinamento específica de expectativas quan-to ao treinamento em geral. A “motivação para transferir” foi outro fator emergente em testemunhos relativos ao entusias-mo. No subtema “resultados pessoais”, foram abordados os pontos: a) desempenho melhorado; b) economia de tempo; e c) atualização de conhecimentos. A “capacidade pessoal para transferir” foi ilustrada com observações relativas ao tempo, energia e disponibilidade psicológica. Relativamente ao “su-

porte dos colegas”, foi mencionado o apoio da equipe de tra-balho. A “percepção de validade de conteúdo” evidenciou-se no reconhecimento de que o conteúdo programático estava de acordo com o que se espera do sujeito como profissional. No subtema “design de transferência”, identificaram-se três ca-racterísticas causadoras: a) natureza teórico-prática do treina-mento; b) semelhanças do treinamento com o trabalho; e c) competências pedagógicas do treinador. Quanto à “oportuni-dade para utilizar o treinamento”, foram encontrados três as-pectos: a) tempo de aplicação pós-treinamento; b) recursos/condições físicas de trabalho; e c) autonomia. Foi, ainda, re-gistrada uma observação relativa à “autoeficácia de desempe-nho”, evidenciando-se confiança nas capacidades pessoais. Finalmente, em relação ao “feedback de desempenho”, foi identificado o acesso a resultados individuais como facilita-dor da transferência.

Quadro 5. Dados das entrevistas referentes ao tema - Facilitadores da transferência

Subtemas Dados das entrevistas

4.1. Preparação prévia dos treinandos

4.1.1. Expectativas quanto ao treinamento específico

“Com este treinamento, ia ter acesso a novos conhecimentos. Sabia que ia ter uma direção mais segura.” S1 “Pensei inicialmente que […] ia ficar com uma noção de mais algumas ferramentas que poderia utilizar.” S13

4.1.2. Expectativas quanto ao treinamento geral

“Estes treinamentos são sempre importantes.” S1“Todo treinamento vale sempre a pena, traz-nos sempre benefícios.” S4

4.2. Motivação para transferir

4.2.1. Entusiasmo “Eu tenho gosto em melhorar sempre, gosto pessoal em aprender.” S3

4.3. Resultados pessoais

4.3.1. Desempenho pessoal “[…] o resultado é uma melhor direção.” S7“O reconhecimento da utilidade das ferramentas e a forma mais rápida de acessar representam uma vantagem em termos de economia de tempo.” S16

4.4. Capacidade pessoal para transferir

4.4.1. Tempo “Tenho tempo para aplicar o que aprendi.” S204.4.2. Energia “Tenho vontade para aplicar o que aprendi.” S20

4.4.3. Espaço mental “Tenho disponibilidade no meu local de trabalho para aplicar o que aprendi.” S3

4.5. Suporte dos colegas

4.5.1. Equipe de trabalho “[…] tenho um bom suporte em termos de equipe de trabalho.” S19

4.6. Percepção de validade de conteúdo

4.6.1. Alinhamento com as exigências do cargo

“Concordo que neste treinamento nos transmitiram […] o que é mais correto a fazer nesta profissão (de motorista).” S6

4.7. Design de transferência

4.7.1. Natureza teórico-prática do treinamento

“O fato de este treinamento ter tido uma parte teórica e uma parte prática é muito bom para a aprendizagem e o resultado é uma melhor direção.” S7“O treinamento prático (a presença do treinador e a situação real de estrada).” S4“Ter o treinador mesmo ao nosso lado durante uma parte do dia de trabalho foi uma grande vantagem.” S8

4.7.2. Semelhanças do treinamento com o trabalho

“Havia a intenção clara de adaptar os assuntos ao contexto de trabalho.” S14“Notei que o treinador se preocupou em simular as nossas necessidades reais.” S16

4.7.3. Competências pedagógicas do(s) treinador(es)

“… a maneira explícita como os treinadores explicaram os assuntos que me ajudou a aplicá-los.” S6“As experiências vividas na sala de treinamento, isto é, os exercícios/simulações que o treinador apresentou.” S12 “O empenho do treinador e capacidade de resposta às nossas questões.” S20

(Continua)

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4.8. Oportunidade para utilizar o aprendido

4.8.1. Timing pós-treinamento

“Tive oportunidade para aplicar os conhecimentos logo após o treinamento.” S19

4.8.2. Recursos/Condições físicas de trabalho

“[...] tive todas as condições […] bons veículos.” S3 “Posso consultar o manual quando necessário.” S19

4.8.3. Autonomia “[…] tenho autonomia para experimentar coisas novas.” S194.9. Autoeficácia de desempenho

4.9.1. Confiança nas capacidades pessoais

“Pensei que ia ser um dos mais fracos em sala, mas acho que estive bem.” S19

4.10. Feedback de desempenho

4.10.1. Acesso a resultados individuais de desempenho

“Sei que o consumo de combustível reduziu, porque a empresa envia-nos essa informação”. S3“A empresa controla a nossa direção e vai nos dando informação para ambas as partes terem benefícios.” S3

Quadro 6. Dados das entrevistas referentes ao tema - Obstáculos à transferênciaSubtemas Dados das entrevistas

5.1. Preparação prévia dos treinandos

5.1.1. Expectativas quanto ao treinamento

“[…] já sabia tudo, o que foi dito não foi novidade para mim e por isso sabia à partida que o treinamento não ia alterar muito o meu trabalho.” S2 “Sabia que se tratava de nível para principiantes.” S19

5.2. Motivação para transferir

5.2.1. Entusiasmo “O treinamento correu bem e o treinador foi bom, mas não me sinto motivado para introduzir alterações no meu trabalho.” S17

5.3. Capacidade pessoal para transferir

5.3.1. Tempo “Não utilizo. Não tenho tempo para consultar os manuais e recordar as matérias.” S17

5.3.2. Energia “Aplicar o que nos foi ensinado exige maior concentração da nossa parte na direção.” S6

5.3.3. Disponibilidade

“É difícil aplicar quando não se percebe alguma coisa […] não é fácil compreender algo sozinho, é complicado acompanhar as matérias quando não se presta atenção na sala de treinamento.” S12“Não tenho paciência para consultar os manuais e recordar as matérias.” S17

Obstáculos – O que dificultou a introdução de altera-ções no local de trabalho?

Esta questão tinha como objetivo conhecer os principais obs-táculos à transferência, ou seja, fatores que dificultaram a aplicação no local de trabalho dos conhecimentos adquiri-dos no treinamento (ver Quadro 6). No subtema “preparação prévia dos treinandos”, os obstáculos relacionaram-se com fracas expectativas quanto ao papel inovador do treinamen-to. No caso da “motivação para transferir”, os dados apon-taram para desmotivação e falta de entusiasmo, apesar do reconhecimento de pontos positivos do treinamento. Em ter-mos da “capacidade pessoal para transferir”, foram encontra-das evidências em três níveis: a) tempo; b) energia; e c) dis-ponibilidade psicológica. Quanto ao “suporte do supervisor”, os dados apontam para ausência de impacto na produtivida-de pessoal baseada numa alegada indiferença organizacional diante da qualidade do trabalho executado. No tema “percep-

ção de validade de conteúdo”, verificou-se um desajuste com as exigências do cargo. O “design de transferência” foi consi-derado desajustado diante das necessidades individuais em termos de: a) nível de treinamento; b) objetivos, conteúdos e duração do treinamento; c) componente prática; e d) condi-ções de avaliação. Em relação à “oportunidade para utilizar o aprendido”, foram identificadas dificuldades relativas a/aos: a) recursos/condições físicos de trabalho; b) tarefas atribuí-das; e c) esquecimento por não aplicação dos novos conhe-cimentos. Finalmente, no nível da “resistência à mudança”, foram evidenciados os seguintes aspectos: a) desvalorização da necessidade de aplicação de novas tecnologias; b) defesa das vantagens das técnicas antigas, suportada na experiência pessoal/atribuição integral das competências à experiência; c) falta de incentivo organizacional para a mudança; d) ausên-cia de penalizações como indicador de bom desempenho pes-soal; e e) exigências do cargo independentes do tema tratado no treinamento.

(Conclusão)

(Continua)

Quadro 5. Dados das entrevistas referentes ao tema - Facilitadores da transferência

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5.4. Suporte do supervisor

“Sinto-me desmotivada e desvalorizada pela minha chefia, fazer bem ou fazer mal é igual. Como as pessoas se esquecem de mim, também eu me esqueço das coisas. Quem ganha muito que utilize esses conhecimentos.” S17

5.5. Percepção de validade de conteúdo

5.5.1. Alinhamento com as exigências do cargo

“Não tenho necessidade de utilizar determinadas ferramentas no trabalho: por exemplo, a utilização da agenda no Outlook só me faria sentido se tivesse de partilhar informação com uma equipe de trabalho.” S16

5.6. Design de transferência

5.6.1. Nível de treinamento

Foi pena que não tivesse sido um nível mais avançado, pois ser-me-ia muito mais útil o tempo em treinamento”. S11

5.6.2. Objetivos, conteúdos e duração do treinamento

“[…] não foi treinamento à medida, foi treinamento do tipo pacote.” S11“A duração foi curta para os objetivos propostos. Eram muitos conteúdos para pouco tempo, logo era difícil tocar ao pormenor os vários temas. Se tivéssemos tido mais horas de treinamento, poderíamos ter ido mais além.” S14“O treinador foi muito explícito e tínhamos as ferramentas necessárias, mas a duração foi curta […] nalguns temas a abordagem foi superficial.” S15

5.6.3. Componente prática

“O dia a dia é a verdadeira prática, quando vou necessitando utilizo o que aprendi.” S5“A parte prática poderia ter sido mais longa.” S7

5.6.4. Condições de avaliação

“O trajeto foi pequeno para a avaliação e bastava haver um pouco mais de trânsito ou algum engano para estragar automaticamente as médias de combustível.” S7

5.7. Oportunidade para utilizar o aprendido

5.7.1. Recursos/Condições físicas de trabalho

“[…] quando regressei à minha função, acabei por ter uma sobrecarga de trabalho.” S11“Não estou a utilizar os conhecimentos porque […] não tenho computador individual, normalmente uso o da colega, acabo por utilizar mais o telefone e o expediente geral. Se eu tivesse um computador atribuído, poderia praticar o que aprendi nos momentos mais livres.” S15

5.7.2. Tarefas “Se eu tivesse tarefas que exigissem os conhecimentos que aprendi no treinamento [...]” S15

5.8. Resistência à mudança

“Nem todas as modernices são passíveis de utilizar no trabalho diário.” S1“Há uma condição que não aplico porque não me parece que é a mais correta para o motor, já experimentei das duas maneiras e continuo a achar que a anterior é a melhor.” S4 “Retirei conhecimentos que posso experimentar, mas não há pressão nem obrigação para alterar a maneira como já utilizava as ferramentas informáticas que tenho ao dispor.” S20

CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE AS ENTREVISTASOs dados das entrevistas visaram à compreensão do processo de transferência da aprendizagem para o local de trabalho, por meio do conhecimento do grau de aplicação dos novos conheci-mentos (percepção de mudança, utilização de novas ferramen-tas e adoção de novas formas de trabalhar) e dos fatores aí im-plicados, quer como facilitadores, quer como obstáculos.

Relativamente aos três temas iniciais 1) percepção da transferência; 2) utilização de novas ferramentas; e 3) meto-dologias, destaca-se a identificação de dois grandes níveis de classificação dos dados. Verificou-se que as respostas se orga-nizaram entre a percepção de mudança/utilização de novas fer-ramentas/adoção de novas formas de trabalhar e a negação da mudança/desvalorização de novas ferramentas/rejeição de no-vas formas de trabalhar, sendo esses dois pontos mediados por

uma situação de introdução de pequenas mudanças/utilização parcial de novas ferramentas/recurso a algumas novas formas de trabalhar. Tal variedade evidenciou o caráter dinâmico do processo de transferência, afastando-o de uma concepção rígi-da do tipo “tudo ou nada”.

Nos fatores de transferência, constata-se a relação es-treita entre facilitadores e obstáculos, pois, na maior parte dos casos, os segundos revelaram-se como a negação abso-luta ou parcial dos primeiros, ou como a sua variação (positi-va ou negativa). Dessa percepção resultou a constituição de uma tabela de classificação similar para facilitadores e obs-táculos. Tal condição é notória nos seguintes casos: 1) pre-paração prévia dos treinandos (facilitador quando as expec-tativas são positivas, mas obstáculo quando negativas); 2) motivação para transferir (a presença de entusiasmo pré-for-mação é um facilitador, por isso a sua inexistência perspec-tiva-se como obstáculo); 3) capacidade pessoal para trans-

Quadro 6. Dados das entrevistas referentes ao tema - Obstáculos à transferência (Conclusão)

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ferir (dispor de tempo, energia e disponibilidade psicológica é um facilitador, e a sua ausência, obstáculo); 4) suporte do supervisor e colegas (facilitador quando o supervisor e cole-gas apoiam e reforçam a utilização dos novos conhecimen-tos, mas obstáculo quando esse suporte é inexistente); 5) percepção de validade de conteúdo (a concordância do trei-namento com os requisitos do cargo estimula a transferên-cia, mas o contrário constitui-se como um obstáculo); 6) de-sign de transferência (a adequação do programa, o equilíbrio entre as componentes prática e teórica e as competências do treinador são facilitadores, pelo que a insatisfação nesses níveis funciona como obstáculo); e 7) oportunidade para uti-lizar o aprendido (dispor de adequados recursos/condições físicas de trabalho é um facilitador, ao passo que dificuldade de acesso constitui obstáculo).

Finalmente, observa-se que as respostas dos participan-tes da ação “Direção” e as respostas dos da ação “Informática” parecem apontar em diferentes sentidos, pois a maior parte das observações do primeiro grupo foi classificada como evidências de facilitadores e a maioria dos testemunhos do segundo grupo ilustra obstáculos à transferência.

Questionário LTSI

Os dados da aplicação do LTSI à amostra de 98 participantes foram analisados por meio do programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS – versão 19). Após criação da base de dados e agregação dos 89 itens do questionário nos fatores de transferência da aprendizagem resultantes do trabalho de valida-ção para a população portuguesa (Velada et al, 2009), procedeu--se à determinação dos valores de alfa de Cronbach para verificar a consistência interna dos fatores no nosso estudo. A análise efe-tuada indicou que dois dos fatores (“preparação prévia dos trei-nandos” e “resistência/abertura à mudança”) apresentavam va-lores de alfa de Cronbach inferiores a 0,60, pelo que se optou por não os considerar nas análises seguintes. Os valores de alfa de Cronbach nos restantes fatores oscilaram entre 0,65 e 0,89.

O passo seguinte consistiu na comparação dos resulta-dos de resposta dos dois grupos de treinamento em estudo – Direção Eficiente e Informática do ponto de vista do Utilizador – tendo para o efeito sido realizados testes t de student para amostras independentes. Os resultados obtidos encontram-se apresentados na Tabela 1.

TABELA 1. Comparação dos grupos de formação “Direção” e “Informática” em função dos fatores do LTSI

Condução (n=70)Informática(n=28)

t(1)

Fatores do LTSI média dp média dp

Motivação para transferir 3,89 0,51 3,36 0,69 3,68**

Resultados pessoais positivos 3,63 0,62 2,81 0,69 5,76***

Resultados pessoais negativos 3,57 0,69 2,42 0,74 7,29***

Capacidade pessoal para transferir 3,59 0,64 3,45 0,72 0,95

Suporte dos colegas 3,24 0,66 3,04 0,68 1,26

Suporte do supervisor 3,53 0,70 2,69 0,70 5,33***

Sanções do supervisor – dimensão comportamental 2,35 0,92 2,15 0,73 1,00

Sanções do supervisor – dimensão cognitiva 2,18 0,73 2,42 0,55 -1,57

Percepção de validade de conteúdo 3,65 0,54 2,98 0,82 4,05***

Design de transferência 3,95 0,44 3,40 0,69 3,91***

Oportunidade para utilizar o aprendido 3,75 0,54 3,36 0,66 3,02**

Transferibilidade 3,96 0,43 3,09 0,94 4,70***

Esforço de transferência – expectativas desempenho 3,89 0,49 3,92 0,43 -1,19

Desempenho – expectativas resultados 3,39 0,70 2,65 0,72 4,68***

Autoeficácia de desempenho 4,09 0,40 3,95 0,57 1,40

Feedback de desempenho 3,50 0,63 3,17 0,61 2,39*

*p<0,05; **p<0,01; ***p<0,001, M= Média; DP= Desvio Padrão; t= t de Student

De acordo com os resultados obtidos, verifica-se que não há diferenças estatisticamente significativas entre os grupos nos fatores capacidade pessoal para transferir, suporte dos colegas, sanções do supervisor (dimensões comportamental e cogniti-va), esforço de transferência (expectativas de desempenho) e autoeficácia de desempenho. Por outro lado, os resultados indica-ram que há diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos para os fatores motivação para transferir, resultados

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ARTIGOS | Fatores que afetam a transferência da aprendizagem para o local de trabalho

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pessoais – positivos e negativos, suporte do supervisor, per-cepção de validade de conteúdo, design de transferência, opor-tunidade para utilizar o aprendido, transferibilidade, desempe-nho (expectativas de resultados) e feedback de desempenho. Em todos os casos, verifica-se que os participantes da ação “Di-reção” exibem valores médios mais elevados em todas as di-mensões anteriormente mencionadas.

DISCUSSÃO DE RESULTADOS E CONCLUSÕESEste estudo visava identificar e analisar alguns dos fatores que afetam a transferência da aprendizagem, em contexto de treina-mento, para o local de trabalho, em dois grupos participantes independentes em função da frequência de uma de duas ações de treinamento de naturezas distintas: Ação Direção Eficiente versus Ação Informática na perspectiva do Utilizador.

Os resultados do LTSI permitiram identificar em que fato-res de transferência os dois grupos de participantes se diferen-ciam e se assemelham. Não foram encontradas diferenças para os seguintes fatores: “capacidade pessoal para transferir” (grau em que os indivíduos têm tempo, energia e disponibilidade psi-cológica no seu trabalho diário para implementar mudanças necessárias à transferência do aprendido), “suporte dos pa-res” (grau em que os pares reforçam e suportam a utilização do aprendido no local de trabalho), “sanções do supervisor” (grau em que os indivíduos percepcionam respostas negativas dos supervisores/gestores quando utilizam o aprendido no local de trabalho), “esforço de transferência – expectativas de desem-penho” (a expectativa de que o esforço canalizado na transfe-rência do treinamento resulte em mudanças no desempenho do cargo) e “autoeficácia de desempenho” (a crença geral de um indivíduo de que é capaz de mudar o seu desempenho quan-do assim o desejar). Foram encontradas diferenças nos seguin-tes fatores: “resultados pessoais negativos” (grau em que os indivíduos acreditam que a não aplicação do aprendido no lo-cal de trabalho tem como consequência a obtenção de resulta-dos que são negativos), “suporte do supervisor” (grau em que os supervisores/gestores suportam e reforçam a utilização do aprendido no local de trabalho), “oportunidade para utilizar o treinamento” (grau em que são fornecidos aos treinandos no lo-cal de trabalho os recursos e as tarefas necessárias para a uti-lização do aprendido), “desempenho – expectativas de resul-tados” (a expectativa de que as mudanças no desempenho do cargo tenham como consequência a obtenção de resultados va-lorizados pelo indivíduo), “motivação para transferir” (direção, intensidade e persistência do esforço na utilização do aprendi-

do no local de trabalho), “resultados pessoais positivos” (grau em que a aplicação do aprendido no local de trabalho tem como consequência a obtenção de resultados positivos para o indi-víduo), “percepção de validade de conteúdo” (grau em que os formandos consideram que o conteúdo do treinamento reflete exatamente os requisitos do cargo), “design de transferência” (grau em que o treinamento foi concebido e implementado de modo a preparar os formandos para a transferência, e as instru-ções do treinamento coincidem com o cargo), “transferibilida-de” (grau em que os treinandos entendem que o design do trei-namento lhes permitirá encontrar oportunidades para transferir o que aprenderam) e “feedback de desempenho” (indicadores formais e informais da organização relativamente ao desempe-nho do cargo do indivíduo).

A análise das entrevistas permitiu explicitar as respostas dos participantes ao LTSI, pois foram apresentadas evidências de semelhanças (por exemplo, no nível da capacidade pessoal para transferir) ou diferenças (por exemplo, em termos de aces-so a feedback de desempenho) entre os grupos para os mesmos fatores acima mencionados. As entrevistas também revelaram que as respostas dos participantes (S1a S10) da ação “Direção” e da ação (S11 a S20) “Informática” parecem apontar em dife-rentes sentidos: muitos dos relatos do primeiro grupo foram se-lecionados como exemplos de facilitadores, a maioria dos tes-temunhos do segundo grupo ilustra obstáculos à transferência.

Além da diferença em termos de conhecimento transmi-tido nas ações de treinamento, aspecto que mereceria análise futura, parecem existir diferenças no nível dos mecanismos de feedback para os dois grupos de participantes. À semelhança do que sucede para os participantes que frequentaram a ação “Direção”, isto é, motoristas, seria importante que essa organi-zação desenvolvesse indicadores de desempenho para outras categorias profissionais como as dos participantes na ação “In-formática”, como forma de contribuir diretamente no proces-so de transferência da aprendizagem. Assim, enquanto o grupo dos motoristas tem acesso a uma evidência imediata da mu-dança pelos indicadores de desempenho, para o grupo dos ad-ministrativos/técnicos/vendedores e chefes isso não é tão evi-dente.

No seu conjunto, os dados provenientes das duas fontes – LTSI e entrevistas – permitem observar que o modelo de Hol-ton (1996, 2005) reflete o que os treinandos identificaram como importante para ocorrer a transferência da aprendizagem para o local de trabalho, mostrando, ainda, que há diferenças em re-lação aos fatores de transferência entre os dois grupos de par-ticipantes em estudo.

Para concluir, apontam-se algumas limitações à reali-zação deste trabalho e sugestões futuras de investigação. Pri-

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meiro, relativamente aos instrumentos para recolhimento de dados, a linguagem utilizada no questionário LTSI, nomeada-mente a utilização de certos termos (por exemplo, “feedback”), bem como o recurso a frases na forma negativa, pode ter criado algumas dificuldades de compreensão aos participantes. De-vem ser ainda considerados o número elevado de itens (89) e a sensação de repetição de itens, que exigem dos participantes concentração e empenho. Segundo, a amostra dos 98 partici-pantes foi obtida por conveniência, dado o interesse em abor-dar duas ações de treinamento de naturezas distintas, o que dificulta a generalização de conclusões. Além disso, seria de considerar o aumento de entrevistados com vista à obtenção de saturação de respostas. Terceiro, num eventual desenvolvimen-to deste estudo, poderia ser verificada a existência de variações dos fatores de transferência em função da idade, nível de esco-laridade e tempo de trabalho na empresa dos participantes e comparados os resultados com os do estudo de validação do LTSI para a população portuguesa (Velada et al, 2009). Final-mente, a análise de indicadores de desempenho individuais (para os motoristas), antes e depois do treinamento, poderia contribuir para a avaliação da transferência da aprendizagem para o local de trabalho.

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CINTIA RODRIGUES DE [email protected] da Universidade Federal de Uberlândia, Faculdade de Gestão e Negócios – Uberlândia– Minas Gerais, Brasil.

ARTIGOSRecebido em 12.08.2013. Aprovado em 02.01.2014Avaliado pelo sistema double blind review. Editora Científica: Janette Brunstein

CRIMES CORPORATIVOS E ESTUDOS ORGANIZACIONAIS: UMA APROXIMAÇÃO POSSÍVEL E NECESSÁRIACorporate crimes and organizational studies: a possible and necessary approach

Crímenes corporativos y estudios organizacionales: una aproximación posible y necesaria

RESUMOEscândalos corporativos têm sido comuns na sociedade contemporânea. Nesse contexto, os crimes cometidos nas e por corporações também tomam vulto e, frequentemente, tomamos conhecimento de um tipo de crime corporativo, um tema não explorado em pesquisas nos estudos organizacio-nais. Neste estudo, realizamos uma síntese de pesquisas sobre crimes corporativos com o objetivo de buscar uma aproximação do tema com o campo dos estudos organizacionais. Desenvolvemos o artigo sinalizando para a predominância da abordagem moderna em estudos sobre o tema e, ao final, propomos perspectivas alternativas para a análise da criminalidade corporativa no âmbito dos estudos organizacionais.PALAVRAS-CHAVE | Crime corporativo, estudos organizacionais, corporações, poder, lado sombrio das organizações.

ABSTRACTCorporate scandals have been common in contemporary society. In this context, the crimes committed in and by corporations also take form, and often we get to know a type of corporate crime, a topic not explored in organizational studies. In this study, we conducted a synthesis of researches on corporate crime with the purpose to seek an approach to the theme on the organizational field. We developed an article signaling to the predominance of modern approach to the studies on the matter, and finally, we proposed alternative perspectives for the analysis of corporate criminality in the context of organi-zational studies.KEYWORDS | Corporate crime, organizational studies, corporations, power, dark side of organizations.

RESUMENEscándalos corporativos han sido comunes en la sociedad contemporánea. En ese contexto, los crí-menes cometidos en las y por las corporaciones también han aumentado y, frecuentemente, tomamos conocimiento de un tipo de crimen corporativo, un tema no explorado en pesquisas sobre los estudios organizacionales. En ese estudio, realizamos una síntesis de pesquisas sobre crímenes corporativos con el objetivo de buscar una aproximación del tema con el campo de los estudios organizacionales. Desarrollamos el artículo señalando a la predominancia del abordaje moderno en estudios sobre el tema y, al final, proponemos perspectivas alternativas para el análisis de la criminalidad corporativa en el ámbito de los estudios organizacionales.PALABRAS-CLAVE | Crimen corporativo, estudios organizacionales, corporaciones, poder, lado som-brío de las organizaciones.

RAE-Revista de Administração de Empresas | FGV-EAESP

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-759020150209

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AUTORA | Cintia Rodrigues de Oliveira

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INTRODUÇÃO

No mesmo compasso em que as corporações assumiram certo protagonismo na sociedade contemporânea, por um lado, gerando expectativas e, de outro, questionamentos quanto à sua atuação, a criminalidade corporativa passou a ser analisada por sociólogos criminologistas como um fenômeno complexo sobre o qual questões conceituais e analíticas ainda permanecem sem respostas (Payne, 2012; Shover & Hochstetler, 2002). A expressão crime corporativo tem sido largamente utilizada, nas últimas décadas, como referência a práticas e condutas que violam as leis criminais envolvendo corporações. Todavia, ainda que tenha despertado o interesse dos estudiosos no campo da sociologia e da criminologia há mais de 50 anos (Braithwaite, 1985; Szwajkowski, 1985), o crime corporativo tem sido pouco explorado na literatura (Payne, 2012; Snider, 2000), sendo ainda um território desconhecido no campo dos estudos organizacionais.

Neste artigo, realizamos uma revisão teórica sobre os cri-mes corporativos com o objetivo de buscar uma aproximação com os estudos organizacionais, visto que esses constituem-se em eventos que ocorrem no âmbito da gestão e das organiza-ções, os quais são objetos de estudo desse campo.

Inicialmente, apresentamos uma síntese das pesquisas realizadas sobre crimes corporativos. Em seguida, buscamos si-tuar o tema no campo dos estudos organizacionais, propondo a adoção de perspectivas alternativas àquelas já existentes. En-cerramos o artigo com as considerações finais, apresentando uma agenda de pesquisa sobre o tema no âmbito dos estudos organizacionais.

CRIMES CORPORATIVOS: PESQUISAS E SUAS ABORDAGENSDesde o discurso presidencial de Sutherland na American Society of Sociology, em 1939, quando introduziu o termo White Collar Crime, os business crimes ou crimes corporativos passaram a fazer parte da agenda de criminologistas e sociólogos, embora timidamente, os quais percorreram caminhos ora distintos, ora convergentes, adotando nomenclaturas e níveis de abordagens diferentes (Payne, 2012). Sutherland definiu o termo como “um crime cometido por uma pessoa de respeitabilidade e de alto status social no curso de sua ocupação” (Sutherland, 1949, p. 9), gerando polêmicas que renderam outras publicações para desenvolver o conceito de white collar crime e torná-lo uma construção mais sólida no campo da sociologia (Braithwaite, 1985).

Em que pesem todas as críticas a Sutherland, Braithwaite (1985) e Geis (1991), entre outros, chamam a atenção para o legado desse autor. Braithwaite (1985, p. 12) entende que “A literatura sobre white collar crime contribuiu significativamente para nosso entendimento do modo como as enormes desigualdades de classe são mantidas [...]”. Geis (1991, p. 17), por sua vez, mostra-se convencido de que Sutherland “focalizou uma questão de singular importância intelectual e prática – o abuso do poder por pessoas que estão situadas em posições relativamente altas onde elas estão providas da oportunidade para tal abuso”. Ainda, o corpo de conhecimento sobre um tipo de crime que ocorre com mais intensidade que os crimes comuns tornou-se uma realidade para a sociologia jurídica.

Sutherland (1940, 1941, 1949) não articulava suas ideias como jurista, mas, sim, como sociólogo. O autor não coaduna-va com a noção dogmática de crime, construindo um conceito que, pelos padrões das definições tradicionais, não se enqua-drava como tal, portanto a sua concepção sobre o crime em ge-ral e, em particular, sobre white collar crime, é de natureza so-ciológica. O olhar lançado por Sutherland para esse fenômeno é orientado pela tentativa de compreender a sociedade e o seu comportamento diante dos problemas que a afligem.

Muitos termos são utilizados como sinômino de crime corporativo. Para Clinard Yeager, Brissette, Petrashek e Harries (1979, p. 17), o crime corporativo é aquele que “ocorre no con-texto do complexo e variado conjunto de relacionamentos e in-ter-relacionamentos estruturados entre o corpo de diretores, executivos, e gerentes de um lado e empresas-mãe, divisões corporativas e subsidiárias de outro”. Kramer (1984, p. 18) es-clarece que o termo compreende “atos criminais (de omissão ou comissão) que são resultado de ações tomadas deliberada-mente (ou negligência culposa) por aqueles que ocupam posi-ções na estrutura da organização como executivos ou gerentes” motivados pelos objetivos corporativos.

Outras denominações são utilizadas para referir-se a cri-me corporativo, como ilegalidade corporativa (Baucus, 1994) e má conduta organizacional (MacLean, 2008), conforme a concordância dos autores quanto à necessidade de condena-ção pela corte para o crime ser denominado como tal e, ainda, quanto a esse ser uma conduta ilegal, e não propriamente um crime prescrito por lei.

Os estudos sobre antecedentes e determinantes do cri-me corporativo são, em grande parte, derivados das teorias or-ganizacionais, visto que são essas que oferecem explicações mais específicas sobre o que ocorre no âmbito das organiza-ções. Esses estudos foram realizados por criminologistas e so-ciólogos que consideraram as micro, meso ou macrofundações sobre as organizações e sobre a criminalidade, muitos deles

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ARTIGOS | Crimes corporativos e estudos organizacionais: uma aproximação possível e necessária

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privilegiando uma abordagem isolada, e outros propondo uma perspectiva integrativa para analisar as causas e o processo da criminalidade corporativa (ver Mon, 2002; Payne, 2012).

Szwajkowski (1985), por exemplo, propõe a análise dos estímulos à ilegalidade organizacional por meio da integração teórica de três variáveis determinantes para a sua ocorrência que, comumente, convergem nos estudos sobre o tema, a sa-ber: (1) ambiente (pressões, necessidade ou recessão econômi-ca); (2) estrutura (corporativa, industrial ou legal); e (3) processo de escolha interna (patologia, intenção ou exploração proativa).

Na busca de uma explicação mais profunda para o assun-to, Coleman (1987) propõe uma perspectiva integradora para a pesquisa das origens do White Collar Crime, partindo da pressu-posição de que o comportamento criminal é resultado da con-fluência entre a motivação adequada e a oportunidade. Quanto à oportunidade, Coleman (1987) observa que, mesmo o indiví-duo tendo uma forte motivação para cometer o crime, esse so-mente ocorrerá se houver a oportunidade para tal. O autor ana-lisa a aplicação da lei, a indústria, a organização e a ocupação profissional como condições objetivas sociais que estruturam a oportunidade.

A exemplo de Coleman (1987), Baucus e Near (1991) de-senvolveram um modelo para análise do processo do compor-tamento corporativo ilegal, o qual considera os antecedentes em três níveis: ambientais, internos e situacionais. Posterior-mente, Baucus (1994) ampliou a compreensão da ilegalidade corporativa ao desenvolver um modelo que considera as pres-sões, as oportunidades e a predisposição como antecedentes do comportamento ilegal e as características individuais como variável moderadora. O modelo do processo de ilegalidade cor-porativa proposto por Baucus (1994) considera, ainda, os tipos de ilegalidade corporativa, os quais são divididos em duas ca-tegorias: o comportamento ilegal intencional e não intencional.

Também adeptos de uma abordagem integrativa, Daboub, Rasheed, Priem, & Gray (1995) propõem que as ca-racterísticas da equipe de executivos da alta gestão têm rela-ção direta com a ocorrência de atividades corporativas ilegais, ao lado de fatores externos e internos. Como fatores externos, Daboub et al. (1995) identificam as características específicas da indústria na qual a corporação atua e as características ge-rais do ambiente. Os fatores organizacionais ou internos consi-derados no modelo de Daboub et al. (1995) incluem o tamanho da empresa, a folga organizacional, a estratégia corporativa, a estrutura e sistemas de controle e a história organizacional.

O modelo de McKendall e Wagner (1997) representa um avanço aos estudos então existentes, ao considerar que a ile-galidade decorre, principalmente, dos efeitos combinados das variáveis que proporcionam motivo, oportunidade e escolha.

Quanto à escolha, constituindo-se esta em um fator moderador que age na interação do motivo e oportunidade para a conduta ilegal, McKendall e Wagner (1997) consideram o clima ético da organização capaz de estimular ou desencorajar a escolha pela conduta ilegal. Nesse sentido, antes das características pes-soais, as normais sociais e características organizacionais são determinantes mais importantes para a escolha da conduta ile-gal, conforme já defendido por Coleman (1987).

O estudo de Mon (2002) sobre os fatores causais da cri-minalidade corporativa em Taiwan considera elementos do mo-delo de Szwajkowski (1985), acrescentando outros, além de separar o fator individual (micro) de fatores organizacionais e institucionais (nível macro) que criam a oportunidade para o cri-me. Para Mon (2002, p. 187), “os crimes corporativos são even-tos que ocorrem como resultado da combinação da oportunida-de apropriada e indivíduos com criminalidade”. Ao assumir o indivíduo como unidade de análise importante na exploração dos crimes corporativos, Mon (2002) defende que a tendência de low self-control dos indivíduos também cria a oportunidade de ocorrência do crime corporativo.

Zahra, Priem e Rasheed (2005) dirigem sua atenção para o corpo gerencial, no caso de fraudes corporativas, identificando as variáveis sociais, industriais, organizacionais e individuais que contribuem para a ocorrência desse comportamento, bem como as suas consequências para acionistas, sociedade, comunidade local, empregados e a reputação dos gestores. As fraudes podem ocorrer em qualquer nível organizacional, porém a análise dos autores recai naquelas cometidas por top managers, por esses entenderem-nas como uma modalidade do White Collar Crime. Essa análise considera que os fatores sociais, industriais e organizacionais podem encorajar e promover a fraude, ou seja, constituem-se em antecedentes à ocorrência dessa conduta. Já as características individuais atuam como moderadores, isto é, funcionam como fatores que afetam o grau das pressões desses antecedentes. O modelo de Zahra et al. (2005) aproxima-se bastante daquele elaborado por Mon (2002), porém avança no sentido de propor a exploração de outras características individuais que atuam como moderadores para enfraquecer ou fortalecer as pressões dos fatores antecedentes em direção à criminalidade corporativa, além da tendência de autocontrole.

MacLean (2008) adota uma perspectiva integrativa dos níveis macro e micro para analisar os crimes corporativos, am-pliando o modelo tradicional de pressões e oportunidades que explicam as ocorrências desses crimes. MacLean (2008) par-te de modelos teóricos (Baucus, 1994; Baucus & Near, 1991; Daboud et al., 1995) baseados nas pressões e oportunidades para incluir um terceiro fator, os significados compartilhados ou

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AUTORA | Cintia Rodrigues de Oliveira

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a cultura organizacional. Entendendo que a má conduta organi-zacional torna-se arraigada nas organizações, MacLean (2008) busca no interacionismo simbólico uma compreensão mais ampla para explicar a natureza do relacionamento entre pres-sões, oportunidades e a má conduta organizacional, já focali-zados nas pesquisas anteriores. Essa compreensão mais am-pla é necessária, como defende MacLean (2008), pelo fato de outras abordagens oferecerem explicações parciais, já que não consideram os esquemas cognitivos ou as manifestações cultu-rais (linguagem, símbolos, imagens, estereótipos, entre outros) construídas e compartilhadas pelos membros da organização.

Em âmbito nacional, a proposta de Costa e Wood (2012) para a análise de fraudes corporativas, a qual completa o qua-dro dos estudos selecionados para compor esta seção, defen-de uma visão integrativa e processual. Embora os autores não caracterizem a fraude como crime corporativo, diversos estudos na literatura pesquisada fazem essa caracterização (e. g. Zahra et al., 2005), justificando, assim, a inclusão desse estudo nes-ta seção. Tomando como ponto de partida os trabalhos de Bau-cus (1994) e Ashforth, Gioia, Robinson e Treviño (2008), Costa e Wood (2012) elaboram sua proposta de análise, integrando cin-co níveis, quais sejam: sociedade; marco regulatório; setor de atividades; organização; e indivíduo. Para Costa e Wood (2012), a compreensão de como a fraude corporativa ocorre deve con-siderar os fatores antecedentes e a ação de agentes que come-tem as fraudes em um processo composto pelas etapas ante-riormente mencionadas.

Os estudos citados abrangeram variáveis internas e ex-ternas à organização, e alguns deles buscaram compreender a criminalidade corporativa pela análise das características ins-titucionais, organizacionais e individuais e, ainda, por etapas que compreendem uma análise processual, caracterizando-se como um corpo de conhecimento predominantemente assenta-do na perspectiva modernista, uma abordagem centrada no dis-curso do progresso e da razão (Cooper & Burrel, 1988).

Desse modo, é possível que o conhecimento construí-do acerca da criminalidade corporativa tenha uma riqueza no que concerne às evidências teóricas ou empíricas dos seus fa-tores causais, porém trata-se de um fenômeno social comple-xo, cuja compreensão não prescinde de um olhar mais aprofun-dado sobre o modo pelo qual as corporações se constituem em atores sociais que intermediam as forças institucionais e a ação dos indivíduos. Além disso, é preciso lembrar que esse conhe-cimento diz respeito, principalmente, ao contexto norte-ameri-cano, cujas leis e contexto corporativo são específicos, assim como o comportamento e as reações da população a respeito dos crimes corporativos, o que impede a generalização para países como o Brasil, por exemplo.

O LADO SOMBRIO DAS ORGANIZAÇÕES: DIFERENTES LENTES PARA COMPREENDER OS CRIMES CORPORATIVOS

Os estudos organizacionais desenvolveram-se como campo de conhecimento, conforme Reed (1996), por meio de conversa-ções e debates entre modelos e teorias explicativas, os quais surgiram em determinados contextos sócio-históricos, desen-volvendo-se de acordo com sua problemática central. Reed (1996) destaca que, nas perspectivas teóricas para interpretar a ordem, o consenso e a liberdade, predominaram o racionalis-mo, a manutenção da ordem e a sobrevivência organizacional, negligenciando discussões sobre as estruturas e lutas de poder dentro das organizações, bem como o poder social e a interven-ção humana. Já as outras problemáticas – a dominação, o con-trole e a participação – privilegiaram uma ontologia realística e uma epistemologia convencionalista (Reed, 1996).

Ao identificar e analisar as problemáticas principais foca-lizadas pelas teorias organizacionais, Reed (1996) aponta para seus pontos de intersecção e pontos de exclusão ou de silêncio, ou seja, as omissões ou marginalização de aspectos relevantes sobre as organizações. O crime corporativo, principalmente, e o erro e acidentes, em menor medida, são exclusões ou marginali-zações das teorias que buscam prescrições ou descrições sobre o que é a organização e sobre seu funcionamento, não se consti-tuindo em uma problemática central para o campo.

A criminalidade corporativa, todavia, constitui-se, de fato, em uma problemática central para o campo dos estudos organizacionais, visto que, desde os anos 1970, a sociedade vem presenciando escândalos corporativos com maior frequência. Em direção a um caminho que leve à construção de um corpo de conhecimento para situar o crime corporativo no âmbito dos estudos organizacionais, buscamos perspectivas que sejam alternativas à abordagem modernista. Essa perspectiva, para o campo das organizações, significa que a ciência pode oferecer respostas para as relações causais entre a ascensão da moderna sociedade industrial e as demandas pela eficiência de métodos de gestão e as novas tecnologias (Burrel & Cooper, 1988).

Descrevendo as organizações como instrumentos de do-minação, Morgan (1996) aborda o lado sombrio das organiza-ções, chamando-o de a face repugnante. Essa metáfora enfati-za, principalmente, o domínio ideológico das corporações que exploram e trabalhadores e nações mais pobres, ameaçam a sociedade e o meio ambiente, causam prejuízos aos consumi-dores e colocam a sociedade em risco. Para ocultar a sua face

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repugnante ou o seu lado sombrio, as corporações utilizam-se de um aparato ideológico para se mostrarem como sistemas ra-cionais que perseguem objetivos dos seus stakeholders, mas-carando, assim, a realidade.

Essas perspectivas, portanto, ao sinalizar para a existên-cia de um lado sombrio das organizações, revelam-se apropria-das para a análise da criminalidade corporativa como uma das suas problemáticas centrais.A compreensão de fenômenos or-ganizacionais não dispensa múltiplos olhares, visto que as or-ganizações são complexas, ambíguas e multifacetadas e, por-tanto, abraçam problemáticas diversas com essas mesmas características. Desse mesmo modo, sendo os crimes corporati-vos um fenômeno organizacional, também esses requerem fon-tes alternativas àquelas privilegiadas em pesquisas nas quais se constituem objeto de estudo, que buscam, predominante-mente, as relações causais entre o crime corporativo e caracte-rísticas organizacionais, ambientais e individuais.

O domínio ideológico das organizações e corporações é tema na obra de diversos autores (Enriquez, 1997; Freitas, 2005; Motta, 1992; Ortega, 1999; Pagés, Bonetti, Gaulejac e Descen-dre, 1993; entre outros), os quais estimulam a reflexão sobre as organizações como instrumentos de reprodução das relações de dominação de uma sociedade de classes. A referência desses autores ao lado sombrio das organizações assenta-se no modo como grandes corporações produzem danos à sociedade (tra-balhadores, consumidores, meio ambiente, comunidades) em nome de seus interesses. Nessa mesma direção, estudos sobre os predadores corporativos (Mokhiber & Weissman, 1999), as or-ganizações criminosas (Alexander & Cohen, 1999) e as organiza-ções assassinas (Stokes & Gabriel, 2010), entre outros, discutem os prejuízos originados nas e pelas organizações.

No centro das reflexões desses autores, inserem-se os crimes corporativos. É nesse espaço sombrio que as interse-ções entre o poder, a dominação e a ideologia potencializam as formas de exploração e dominação, seja no âmbito do traba-lho, do consumo, do meio ambiente, das instituições de modo geral, ou dos governos. Assim, a criminalidade corporativa, ao se situar no lado sombrio das organizações, no âmbito dos es-tudos organizacionais, demanda perspectivas que busquem o afastamento da visão positivista das organizações e se orien-tem por uma visão desafiadora das estruturas de dominação, questionadora de práticas institucionalizadas, desvinculada da performance organizacional, e, portanto, dotada de reflexivida-de (Alvesson & Deetz, 2000).

Entre as perspectivas que se encontram distantes da visão positivista, a abordagem político-econômica ou radical (Michalowski & Kramer, 2007) e a crítica ideológica (Alvesson & Deetz, 2000) apresentam-se como aquelas capazes de subsidiar

o questionamento do conhecimento já existente sobre os crimes corporativos. A primeira abordagem, consoante como conceito de capitalismo tóxico (Pearce & Tombs, 1999), centra-se no questionamento da estrutura político-econômica do sistema capitalista, a partir da qual emergem os crimes corporativos.

A crítica ideológica, conforme Alvesson e Deetz (2000), tem sua origem na análise de Marx sobre os processos de tra-balho, cujo foco são as práticas de exploração econômica e as diferenças estruturais entre empregados e empregadores. Essa perspectiva tem como temas centrais a dominação e explora-ção por parte dos proprietários e gerentes, e inspirou teóricos organizacionais, como Willmott (1990), entre outros, que am-pliaram as análises deslocando-as para cobrir outras preocupa-ções, como o controle cultural-ideológico. A lógica capitalista é, então, o núcleo da crítica ideológica, bem como da abordagem político-econômica. Assim, faz sentido a análise dos crimes cor-porativos orientada pela crítica ideológica, no sentido de desa-fiar o conhecimento construído em torno do que seja crime cor-porativo com vistas a ocultar os interesses da corporação.

Um esforço adicional para compreender a criminalidade corporativa pode ser realizado tendo como âncora a perspecti-va da crítica pós-colonialista, uma abordagem que assume di-ferentes posições (ver Prasad, 2003; Westwood, 2006; Young, 2001). Westwood (2006, p. 93) descreve o “pós-colonialismo como uma análise da linguagem e do discurso do imperialismo, como uma recuperação das vozes silenciadas daqueles margi-nalizados e oprimidos através do colonialismo ou uma crítica da noção imposta de estado nação, que desmantela os mitos do desenvolvimento”. Em síntese, essa teoria analisa não ape-nas as relações entre colonizador e colonizado, mas lança seus olhares para o modo como a construção do primeiro ocorre por meio da fabricação do segundo, em condições de hierarquiza-ção e outremização, o que pode ser utilizado para a análise da atuação das transnacionais em países periféricos, por exemplo.

A noção de discurso na teoria pós-colonial é, pois, ca-paz de iluminar as questões que envolvem o contexto do exercí-cio do poder imperial e as imbricações mútuas do material e do ideológico, como faz Banerjee (2008) para desenvolver o con-ceito de necrocapitalismo: “formas contemporâneas de acumu-lação organizacional que envolvem a desapropriação e a sub-jugação da vida ao poder da morte” (Banerjee, 2008, p. 1541). Esse autor debruça-se nos processos históricos que constituem o imperialismo e o colonialismo e ressalta o modo como esses sustentaram a expansão do capitalismo, visto que ambos re-presentam formas de dominação, acumulação e exploração de territórios, seja de maneira informal ou formal. Ao resgatar tais processos, Banerjee (2008) justifica a importância de se exami-narem as relações entre as nações, instituições internacionais e

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AUTORA | Cintia Rodrigues de Oliveira

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corporações transnacionais para descortinar a presença do im-perialismo nas estruturas e processos institucionais e, assim, sustentar a ideia de que existe um tipo de capitalismo contem-porâneo que subjuga a vida, que é o necrocapitalismo.

Esse autor explica que as fronteiras de territórios e na-ções, a despeito das noções de independência e suprema auto-ridade dos estados-nações, têm sido transgredidas por “forma-ções imperiais” – uma condição para o necrocapitalismo, e um colonialismo que representa, nas palavras de Banerjee (2008, p. 1545), “um estado de exceção permanente, em que a sobe-rania torna-se um exercício de poder fora da lei”, em que as corporações transnacionais parecem operar com impunidade (Pearce & Tombs, 1999).

A transgressão da soberania na Era Pós-Colonial, para utilizar os termos de Banerjee (2008), ocorre na esteira das po-líticas neoliberais e do entrelaçamento de governos, agências e corporações transnacionais que regulam a economia, o mer-cado e o sistema sociocultural de territórios periféricos, fican-do a soberania política subserviente à soberania econômica da corporação. É nesse sentido que a abordagem pós-colonia-lista oferece uma alternativa para a análise dos crime corpo-rativos. Banerjee (2008, p. 1549) entende que a corporação “é um ator poderoso junto com estados nações, organismos su-pranacionais, e agências internacionais para uma privatização necrocapitalista da soberania”. Assim, os crimes corporativos são produzidos, também, como uma ação planejada. Para Ba-nerjee (2008), o necrocapitalismo envolve práticas realizadas por um conjunto de atores que se interlaçam para criar um pro-cesso de produção da morte, sendo assim, faz-se necessá-ria uma compreensão mais profunda sobre essas práticas, a qual se centre em questões como: Quem são os atores envol-vidos? Como se planeja a produção da morte? Quais são as ar-mas empregadas? Como se obtém o consentimento para pro-duzir as mortes?

A utilização de paradigmas diferentes tem recebido apoio (ver Lewis & Grimes, 1999) no que concerne à possibi-lidade de desenvolver pesquisa e, consequentemente, gerar conhecimento a partir de perspectivas divergentes. Ainda se-gundo, lançar mão de uma pesquisa multiparadigmática per-mite reconhecer o foco e as limitações impostas por lentes de paradigmas divergentes, cultivar suas representações con-trastantes e acomodar seus díspares insights. Apoiados nes-sas justificativas, defendemos que abordagens combinadas oferecem explicações quanto à criminalidade corporativa que ocorre pela exploração e dominação das corporações, bem como sinalizam para as possibilidades de desafiar suposições básicas a respeito dos crimes corporativos, indo, assim, rumo à mudança social.

CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE CRIMES CORPORATIVOS E O CAMPO DOS ESTUDOS ORGANIZACIONAISPara alcançar nosso objetivo, exploramos as pesquisas sobre crimes corporativos buscando situar esse tema no campo dos estudos organizacionais, o que fizemos considerando o lado sombrio das organizações, visto que este não faz parte dos con-ceitos e explicações disponíveis nesse campo que compreen-de, predominantemente, o lado que brilha. Apresentamos uma síntese das várias pesquisas sobre crimes corporativos no âm-bito internacional localizadas na sociologia e criminologia e percebemos uma lacuna existente no âmbito dos estudos orga-nizacionais, embora muitas dessas pesquisas tenham se utili-zado de perspectivas da teoria das organizações.

Ao situar o tema no campo dos estudos organizacionais, compreendemos que a perspectiva modernista não é suficiente para a análise dos crimes corporativos, o que nos levou a propor re-ferenciais críticos para a pesquisa do tema. Encontramos, na crítica ideológica e na crítica pós-colonial, um caminho a trilhar na condu-ção de pesquisas que questionem a ocorrência dos crimes corpora-tivos como uma prática planejada nas operações da corporação, e não como um incidente ou algo não intencional, que seja explica-do por uma relação de causa e efeito ou pela busca do progresso.

Nosso artigo traz duas principais contribuições: primei-ro, ao oferecer uma síntese das pesquisas sobre crimes corpo-rativos e situá-las no campo, ampliamos as possibilidades de pesquisas no âmbito dos estudos organizacionais; e, segundo, sinalizamos para a riqueza em se vincularem pesquisas sobre o tema à matriz dos estudos pós-colonialistas, visto que as cor-porações transnacionais escolhem países periféricos para suas operações, que colocam em perigo e risco a segurança e a vida de populações e o meio ambiente.

Considerando as potencialidades dessas contribuições, apresentamos sugestões para pesquisas: (1) pesquisar, com-parativamente, crimes corporativos cometidos por corporações em países periféricos e centrais; (2) focalizar as articulações en-gendradas entre os atores envolvidos na produção dos crimes corporativos; (3) considerar a Filosofia, especificamente, as no-ções de moral, ética e cultura, e suas contribuições para essas reflexões; e (4) pesquisar os movimentos de recusa às imposi-ções das corporações para atuarem de maneira criminosa, bus-cando identificar aspectos centrais da sua criação e desenvolvi-mento, interpretando as relações sociais que tornam possível a transformação de ações conformistas em ações de luta.

Finalizando, ressaltamos que, frequentemente, cidadãos, comunidades, a fauna e a flora, bem como os recursos naturais, correm sérios riscos quando o lucro, o poder e a influência das cor-

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porações são colocados acima da vida em busca de interesses cor-porativos. Lembrando o pensamento de Hannah Arendt, analoga-mente, em uma sociedade onde isso é permitido, tudo é possível.

NOTA DA AUTORAEsta pesquisa contou com o apoio da Fundação de Am-paro à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).

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ANDRÉ LUIZ MARANHÃO DE SOUZA LEÃ[email protected] da Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de Ciências Administrativas – Recife – Pernambuco, Brasil.

SUÉLEN MATOZO [email protected] do Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de Ciências Administrativas – Recife – Pernambuco, Brasil.

FLÁVIA ZIMMERLE DA NÓBREGA [email protected] da Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de Ciências Administrativas – Recife – Pernambuco, Brasil.

HENRIQUE CASSIANO NASCIMENTO DE [email protected] em Administração de Empresas pela Universidade Federal de Pernambuco, Departamento de Ciências Administrativas – Recife – Pernambuco, Brasil.

ARTIGOSRecebido em 16.09.2013. Aprovado em 18.08.2014Avaliado pelo sistema double blind review. Editor Científico: Vinicius Andrade Brei

“E SE COLOCAR PIMENTA?”: A CONSTRUÇÃO EMPREENDEDORA DA CHILLI BEANS“What if it put pepper?”: Chilli Beans’ entrepreneurial construction

“Si se pone pimienta?”: La construcción emprendedora de Chilli Beans

RESUMOCrescentemente, as marcas ocupam maior relevo no desempenho de mercado das empresas. A abor-dagem mais comum na teoria de gestão de marcas é de orientação estratégico-gerencial. No entanto, muitas marcas tornaram-se exitosas adotando uma lógica “não convencional”, indicando uma cons-trução empreendedora de marca, pautada, sobretudo, pela intuição. Identificamos a Chilli Beans como uma marca que ilustra esse fenômeno. O objetivo do estudo foi identificar as práticas adotadas pelo empreendedor da marca para torná-la exitosa. Para investigá-la, adotamos a narratologia como meio de reconstruir a história da marca. Os dados foram coletados por meio de entrevistas narrativas e dados secundários. Os resultados revelam vários aspectos adotados nesse processo, os quais são compreendidos sob a perspectiva do marketing empreendedor. Assim, o estudo contribui para o en-tendimento desse fenômeno por chamar a atenção para aspectos pouco investigados no campo do marketing: uma abordagem empreendedora da gestão de marcas.PALAVRAS-CHAVE | Marcas, empreendedorismo, marketing empreendedor, Chilli Beans, narratologia.

ABSTRACTIncreasingly, brands play greater role in companies’ market performance. The most common approach in the theory of brand management is strategic. However, many brands have become successful by adopting an “unconventional” logic, indicating an entrepreneurial brand building, guided mainly by intuition. We identified Chilli Beans as a brand that illustrates this phenomenon. The aim of the study was to identify the practices adopted by the brand’s entrepreneur to make it successful. To investigate it, we adopted narratology as a way to rebuild the brand’s history. Data were collected through narra-tive interviews and secondary data. The results reveal several aspects adopted in this process, which are comprehended under an entrepreneurial marketing perspective. Thus, the study contributes to the understanding of this phenomenon by drawing attention to some little investigated aspects in the marketing field: an entrepreneurial branding approach.KEYWORDS | Brands, entrepreneurship, entrepreneurial marketing, Chilli Beans, narratology.

RESUMENCrecientemente, las marcas ocupan mayor relieve en el desarrollo de mercado de las empresas. El abordaje más común en la teoría de gestión de marcas es el de orientación estratégico-gerencial. Sin embargo, muchas marcas se vuelven exitosas adoptando una lógica “no convencional”, indicando una construcción emprendedora de marca, pautada, sobretodo, por la intuición. Identificamos a Chilli Beans como una marca que ilustra ese fenómeno. El objetivo del estudio fue identificar a las prácticas adoptadas por el emprendedor de la marca para volverla exitosa. Para investigarla, adoptamos la nar-ratología como medio de reconstruir la historia de la marca. Los datos fueron colectados por medio de entrevistas narrativas y datos secundarios. Los resultados revelan varios aspectos adoptados en ese proceso, los cuales son comprendidos bajo la perspectiva del marketing emprendedor. Así, el estudio contribuye para el entendimiento de ese fenómeno por llamar la atención para aspectos poco investi-gados en el campo del marketing: un abordaje emprendedor de la gestión de marcas. PALABRAS CLAVE | Marcas, espíritu empresarial, marketing emprendedor, Chilli Beans, narratología.

RAE-Revista de Administração de Empresas | FGV-EAESP

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-759020150210

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ARTIGOS | “E se colocar pimenta?”: a construção empreendedora da Chilli Beans

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CONSTRUÇÃO EMPREENDEDORA DE MARCAS FORTES: EM BUSCA DE UMA HISTÓRIA ELUCIDATIVA DESSE FENÔMENO

Cada vez mais, as organizações preocupam-se com o desenvolvimento da identidade de marca, baseadas no que entendem ser os elementos considerados relevantes para o consumidor potencial, cuja percepção de tais elementos gera a imagem de marca. Para tal, há que se realizar um planejamento, com base em análises do macro e do microambiente organizacionais, por meio de pesquisas e atividades de inteligência de marketing, que propiciem aos profissionais da área tomar as melhores decisões (Keller, 2012), o que deve resultar no máximo de congruência possível entre identidade e imagem (Aaker, 2014). Isso resulta numa relação assimétrica, na qual essas formulações estratégicas definem, a priori, os significados a serem atribuídos à marca, cabendo ao consumidor apenas fornecer feedbacks (Leão & Mello, 2009).

É possível identificar-se, no entanto, a construção de mar-cas exitosas de uma forma “não convencional”, orientada pela visão de uma ou de poucas pessoas que não possuíam um pla-nejamento estruturado, baseada sobremaneira na intuição. Tal conceito, apesar da difícil definição e de frequentemente confun-dido com o momento de revelação ou insight criativo, refere-se a um processo de maturação, no qual se encontra uma soma de ex-periências acumuladas da própria vivência (Mello, Leão, Souza--Neto, Souza, Lubi & Vieitez, 2011). Para Jung (2011), a intuição caracteriza-se como uma capacidade subjetiva de perceber pos-sibilidades. O filósofo Henri Bergson, por sua vez, a associa à ob-servação fidedigna que consiste em ver a coisa tal como é, sem distorcê-la, relacionando-a à impressão instantânea, sem que se dê tempo para a intromissão de “barreiras” (Bergson, 1994), e a representa como um fio metódico contínuo, tornando completas as relações necessárias entre seus outros conceitos-chave: dura-ção, memória e élan vital (Deleuze, 1991). Em Administração, tra-ta-se de uma noção relacionada à tomada de decisão, há mui-to discutida (e.g. Motta, 1988; Oliveira & Simonetti, 2010), mas ainda pouco disseminada.

Nessa abordagem “alternativa”, temos a figura do empre-endedor, que, pragmático (Meller, Hernandes, & Atmanczuk, 2013), por escolha ou mesmo desconhecimento, não utiliza os preceitos estabelecidos racionalmente pela abordagem tradicio-nal, abrindo espaço para aspectos comumente negligenciados na gestão de marcas, muito embora Martin (2009) aponte que, nes-ses casos, percebe-se um amplo entendimento desse marketing tradicional por tais empreendedores. Borg e Gratzer (2013) ob-

servam que, até recentemente, a pesquisa no campo do empre-endedorismo concedeu pouca atenção às marcas, cujas teorias podem alinhar-se a diversas perspectivas desse campo.

Em suas investigações sobre a ação de empreendedo-res na construção de marcas fortes, Koehn (2001) utiliza uma abordagem histórica para sugerir que eles utilizam seus conhe-cimentos de oferta e demanda para compreender como os pro-dutos ajustam-se às vidas dos consumidores e, desse modo, projetar suas marcas, utilizando de intuição. Esta represen-ta uma perspectiva nova, que sugere que a visão do empreen-dedor intui o que os consumidores consideram importante em suas vidas e, a partir disso, desenvolve a identidade de marca por meio de uma ação empreendedora.

O presente estudo debruça-se sobre tais aspectos em busca de compreensão do que, posto o problema, pode ser en-tendido como uma construção empreendedora de marcas for-tes. Entre as marcas brasileiras, identificamos a Chilli Beans como uma oportunidade de estudo para o entendimento desse fenômeno. Fundada em 1998, como um pequeno stand numa feira de moda itinerante, em que o seu fundador atendia pes-soalmente seus clientes, e sem um plano claramente traçado, a marca conta hoje com uma malha de mais de 400 lojas espalha-das em todos os estados brasileiros, além de Portugal, Angola e Estados Unidos, tendo-se tornado a maior vendedora de ócu-los de sol da América Latina. Diante disso, o trabalho teve como objetivo analisar a trajetória da Chilli Beans, no intuito de iden-tificar as práticas adotadas pelo seu empreendedor para se tor-nar uma marca exitosa.

Para tal, a pesquisa adota a narratologia, método que se insere no quadro da pesquisa narrativa. A escolha justifica-se pelo fato de o estudo da marca sob investigação debruçar-se sobre sua trajetória, à luz das ações de seu empreendedor. Por outro lado, adotamos um caráter indutivo de pesquisa, não uti-lizando uma teoria a priori para a investigação, uma vez que a concepção do estudo se propõe, ao contrário, a buscar na lite-ratura uma base para a reflexão sobre os achados. Dessa for-ma, as próximas seções apresentam, respectivamente: os pro-cedimentos metodológicos, os resultados, o retorno à teoria e as considerações finais.

APRENDENDO A LER E CONTAR HISTÓRIASEsta seção dedica-se aos procedimentos metodológicos, envol-vendo técnicas de coleta e análise do estudo. A pesquisa ca-racteriza-se como um estudo biográfico ou pesquisa narrati-va: o estudo de um indivíduo e suas experiências, contadas ao

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pesquisador pelo próprio indivíduo por meio de entrevista, en-contradas em documentos ou, ainda, levantadas por meio de observação. Insere-se numa perspectiva interpretativista de ci-ência, entendendo a realidade como uma construção social, sendo o pesquisador coparticipante da construção do conhe-cimento. Trata-se, ainda, de um estudo indutivo, em que a teo-ria não assume um papel apriorístico, mas de fonte de reflexão sobre os resultados.

Adotamos como método a narratologia, uma análise de narrativa de abordagem semiótico-linguística, que emerge do campo da linguística, no próprio conceito de discurso, em que se insere (Alves & Blikstein, 2006). Uma vez que história e dis-curso constituem planos distintos de enunciação, o primeiro pressupondo a ausência de intervenção de um locutor, e o se-gundo pressupondo uma intencionalidade do locutor ao ouvin-te (Todorov, 2003), essa abordagem encontra-se na interface entre os dois planos. Apesar de surgida no campo da linguísti-ca e amplamente utilizada nos estudos literários, Czarniawska (2010) defende o potencial da narratologia nas ciências sociais, propondo um novo olhar à prática social, bem como orientando os pesquisadores a incentivarem a produção de narrativas na realização de entrevistas.

Na literatura, há indicações de diferentes níveis e crité-rios de análise narratológica. Em suas construções, Tzvetan To-dorov e Roland Barthes, dois dos maiores expoentes da nar-ratologia, preocupam-se em colocar as vozes e as visões do narrador em suas análises (Leite, 2002) e, assim, apontam que, na fala do narrador, complementam-se história e discurso (Al-ves & Blikstein, 2006). Todorov (2003) chama a atenção para a subjetividade inerente a todo trabalho analítico, cujo grau será tanto menos elevado quanto mais o analista compreender as propriedades da obra analisada e a significação inerente ao contexto no qual se insere. Barthes (2004), por sua vez, apre-senta a narratologia como um método de descrição de estru-turas narrativas, chamando atenção para o fato de que o leitor dialoga com o autor na medida em que só é possível ao texto se expressar por meio de uma voz própria da leitura. Assim, nos-sa análise fundamentou-se nessas duas ordens (história e dis-curso), organizando os critérios analíticos da narratologia nes-sas dimensões, a partir das quais elaboramos nosso protocolo de análise (Quadro 1).

Na dimensão histórica, temos as unidades distributivas da narrativa. Na primeira fase, temos a função de sucessão, que ocorre por meio da localização de incidentes críticos. Identifica-dos os incidentes críticos, buscamos as demais funções distri-butivas na narrativa. Roland Barthes apresenta aqui duas uni-dades de conteúdo: existentes e ocorrentes. Existentes podem ser classificados em protagonistas ou coadjuvantes, de acordo

com a relevância de seus papéis na narrativa; os ocorrentes, por sua vez, em desejo, comunicação e participação (Alves & Bliks-tein, 2006; Leite, 2002).

Na dimensão discursiva, as unidades das narrativas são duas: funções e indícios. As funções podem ser, num primei-ro nível, cardinais ou catalisadoras. Num segundo nível, essas funções podem ser transformadoras, estratégicas e simbólicas, que, por sua vez, subdividem-se em formadora e evocadora. Os indícios, por sua vez, podem ser índices ou informantes. Os ín-dices são representados por um sentimento, uma atmosfera ou uma filosofia. Os informantes estão situados no tempo e no es-paço. Temporalmente, podem ser de ordem cronológica, psico-lógica ou discursiva; espacialmente, podem ser físicos, sociais ou psicológicos (Alves & Blikstein, 2006; Leite, 2002).

O ponto de chegada da narratologia aponta para uma constituição ideológica, independentemente da ênfase que seja revelada, uma vez que atende a esse princípio na própria estrutura linguística que lhe constitui (Leite, 2002). Todorov (2003) aponta para existência de três tipos de narrativa: mitoló-gica, que se revela por meio da identificação de fatos e perso-nagens de uma sucessão de acontecimentos combinados por funções transformadoras de caráter negativo, sendo sua poten-cialidade maior a evocadora; epistemológica, quando a sequ-ência se torna menos importante do que a percepção que se tem dos acontecimentos, sendo sua potencialidade maior a for-madora; e ideológica, em que as ideias estão ligadas por uma ordem abstrata anterior à existência da narrativa, ilustrando uma moral ideológica preexistente (Alves & Blikstein, 2006).

O corpus de pesquisa foi constituído por diferentes fon-tes de dados, seguindo critérios de representatividade e satu-ração (Bauer & Aarts, 2005). Em consonância ao método ado-tado, a base principal foram as entrevistas narrativas. Elas foram realizadas e gravadas nos meses de maio e outubro de 2011 e transcritas para análise. A referência primária da aná-lise foi uma entrevista realizada com o empreendedor da mar-ca, sendo complementada e triangulada (Paiva, Leão, & Mello, 2011) com outras quatro entrevistas, realizadas com os direto-res de marketing e de expansão da empresa e com os dois pro-prietários da agência de publicidade da marca, que lhe presta serviços de comunicação desde sua fundação. Usamos, ain-da, dados secundários, coletados entre janeiro e abril de 2011, compostos de duas entrevistas concedidas pelo empreendedor a programas televisivos; uma palestra ministrada pelo empre-endedor (assistida e gravada por um dos autores); e um total de 187 documentos coletados junto à própria empresa e por meio de arquivos disponíveis na internet, num conjunto formado por press releases, material promocional, anúncios publicitários e matérias jornalísticas.

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Quadro 1. Protocolo de análise narratológica

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Sucessão

Recuperação da experiência ocorrida no tempo, ainda que não evidentemente apresentada dessa forma, uma vez que, sendo a narrativa um processo que se constrói a posteriori, sua malha de sentidos na sequência de eventos é descontínua. Esse processo emanou da localização dos incidentes críticos, que geraram as categorias-base para as análises temáticas.

Existentes

Enunciador ou personagem que se apresenta como agente da narrativa. Não correspondem apenas a personas humanas, mas a quaisquer elementos que assumam um papel atuante na narrativa.

ProtagonistaPersonagem(ns) que desempenha(m) o(s) papel(is) principal(is) da narrativa.

Coadjuvante Personagem(ns) que ocupam papel(is) secundário(is) na narrativa.

OcorrentesUnidades de ação das personagens, que são registradas em diferentes esferas de conduta humana: desejo, comunicação e participação.

DesejoIntuito de uma vontade; de possuir ou fazer algo.

ComunicaçãoIntuito de atribuir e transmitir significados, o que requer dialogismo.

ParticipaçãoRegistro das lutas, ou seja, o que demanda esforço para sua realização.

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Funções

Ações presentes nos enunciados, consideradas sob o ponto de vista de sua utilidade para a narrativa.

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TransformadorasCapazes de mostrar uma mudança de condição da narrativa.

Estratégicas

Constituintes de sistemas imaginários e simbólicos, bem como reveladora da presença de elementos estruturantes desse imaginário na instância a partir da qual discursos são gerados.

Simbólicas

Ocorrem quando a narrativa representa uma potência para realçar determinado universo simbólico.

Formadoras

Revelam uma aptidão para formar por si só um sentido para a narrativa.

Evocadoras

São incidentes emblemáticos, capazes de particularizar a história.

Indícios

Unidades integrativas do texto, necessárias ao entendimento do conjunto total da narrativa.

ÍndicesAssumem um caráter de agentes da narrativa.

Sentimento Circunstâncias emocionais.

AtmosferaSensações desencadeadas pela forma de se contar a narrativa (contexto do sensível).

FilosofiaPrincípio norteador do como fazer ou agir.

Informantes

Situa a narrativa no tempo e no espaço.

Tempo

Tempo em que a narrativa ocorre.

CronológicoObedece à ordem sequencial de acontecimento dos eventos.

PsicológicoTranscorre conforme a subjetividade da personagem.

DiscursivoNorteado pela ordem estabelecida pela forma discursiva.

Espaço

Espaço em que a narrativa ocorre.

FísicoOcorre em um local determinado.

SocialDá-se em um espaço de interações.

PsicológicoLocaliza-se nas vivências, sentimentos e pensamentos dos personagens.

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Tais dados (secundários) tiveram uma dupla função. A pri-meira foi de propiciar a elaboração do roteiro e a própria realiza-ção das entrevistas. Com base nas informações levantadas, as entrevistas tiveram seus roteiros elaborados de modo a otimizar a obtenção das narrativas dos entrevistados, bem como possibi-litar maior aprofundamento dos incidentes críticos apresentados durante as entrevistas, uma vez que, sendo eles conhecidos, foi possível buscar os detalhes dos acontecimentos. A segunda fun-ção foi servir de base de triangulação das entrevistas, uma vez que diferentes fontes (i.e., entrevistados) referem-se a eventos mesmos com maior ou menor ênfase em certos aspectos, além de existir, evidentemente, a possibilidade de contradições entre as narrativas – o que, no caso presente, não se identificou.

A análise foi realizada conforme o protocolo apresentado no Quadro 1. Nesse sentido, uma vez localizados os incidentes críticos, ordenados segundo a percepção do entrevistado — e não cronologicamente — foram identificados, em cada um des-ses incidentes, os respectivos existentes, ocorrentes, funções e indícios, constituindo, assim, sintagmas. Codificadas essas unidades de análise (sintagmas), identificamos quatro momen-tos na trajetória da marca, que apresentam forte interface com a biografia de seu fundador, razão pela qual optamos por esse procedimento analítico. A partir desses quatro momentos, a história da marca foi resgatada segundo a visão do seu criador.

E SE COLOCAR PIMENTA?

Pela natureza da pesquisa, os resultados a que chegamos são aqui relatados na forma de narrativa, a partir do ponto de vis-ta que entendemos ser o mais apropriado contar a trajetória da marca pesquisada. No decorrer desta descrição, apontamos as categorias analíticas inferidas no processo de análise dos da-dos, conforme apresentadas na seção anterior, as quais são destacadas dentro do próprio texto ou entre parênteses, con-forme a dinâmica do texto.

Big Bang revisitado

Verão de 2010. O País assiste à décima edição do Big Brother Brasil e se depara com uma festa patrocinada pela Chilli Beans, em que os participantes do programa conversam e dançam en-quanto provam e brincam com diversos modelos de óculos da marca. A iniciativa se repetiria um ano depois e inseriria a mar-ca nos trending topics mundiais do Twitter. Entre uma aparição e outra, em novembro de 2010, a campanha “E se colocar pi-menta?” é lançada no intervalo da transmissão, pela Rede Glo-bo, do show de Paul McCartney no estádio do Morumbi, em que uma das cotas de patrocínio foi comprada pela marca, receben-

do o maior investimento em mídia que a empresa já realizara. “Eu, patrocinando Paul McCartney, do lado de Claro, Bradesco e General Motors [demais cotistas da transmissão]?”, estarrece--se Caito Maia, proprietário-fundador da marca.

Essas ações de comunicação (função catalisadora trans-formadora) fazem parte de uma estratégia de marketing da mar-ca para atingir um público mais amplo; uma base de consumi-dores maior, de diferentes segmentos de mercado, que não conhecia a marca, passa a se familiarizar com ela. Por trás dis-so, o intuito era fazer a marca se comunicar, ao mesmo tempo, “com a massa e com formadores de opinião; [...] atingir a pirâ-mide inteira”, afirma-nos sua diretora de marketing.

No início da entrevista que Caito nos cedeu, a primei-ra coisa que menciona é que está construindo o universo da marca; “que a Chilli Beans não vende óculos escuros, ela ven-de Chilli Beans”. Mas que universo é esse? Refere-se a como a marca foi desenvolvida para criar uma atmosfera particular, ul-trapassando a instância funcional de seus produtos e desenvol-vendo algum significado para seus consumidores. É um espa-ço psicológico (informante) povoado por mulheres provocantes, homens poderosos, imagens que vão do grotesco ao idílico e um clima de festa ininterrupta (vide as campanhas da marca).

Com base nas palavras de seu proprietário, a grande protago-nista (existente) desse universo é a própria marca, cujo principal as-pecto é apresentado por ele como a mutação — a coadjuvante (exis-tente) “principal” da marca e também a filosofia (índice) que norteia (tempo psicológico) todas as suas ações. “Eu gosto de falar essa pa-lavra, adoro essa palavra: mutante. Porque tem uma essência api-mentada, divertida, [...] Que tem jogo de cintura. [...] Esse conceito [...] é o grande segredo dela [Chilli Beans]”, afirma Caito.

Essa mutação está presente em vários elementos da mar-ca, mas de maneira mais marcante na lógica fast-fashion (coad-juvante da marca) que adota. A Chilli Beans lança coleções de óculos e relógios semanalmente. Paralelo a essa lógica, está o processo de criação dos produtos (coadjuvante da marca). Se-gundo Caito, trata-se de processo autodidata:

Eu fico dando porrada nessa turma [equipe de designers]. [...] Eles são caretas demais, compor-tados, certinhos, sabe? [...] Eu não fico influen-ciando de fora, sabe? “Fala, aí, brother, o que você gosta?” [...] E aí, pá! Pimball! A gente fez uma coleção de fliperama. [...] Isso vai gerar per-sonalidade na minha equipe de design.

Essa passagem nos é elucidativa de uma dinâmica que valoriza a subjetividade (espaço psicológico e social) e a evoca-ção do mundo cotidiano e de memórias afetivas (espaços social

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e psicológico, respectivamente, além de índices de sentimen-to, sendo esse último também tempos psicológico e discursi-vo). De fato, o empreendedor tem aqui o papel fundamental de provocar (ocorrente de participação) e inspirar (ocorrente de co-municação e função cardinal transformadora) sua equipe (outro coadjuvante de apoio, mas também espaço social).

Para isso, ele persegue referências internas e externas à organização que leva para dentro do seu “universo” — esten-dendo equipe como quaisquer stakeholders que atuem direta-mente nesse processo de criação. Isso fica evidente no esta-belecimento de intercâmbios profissionais com designers de outros países e áreas; nas inúmeras viagens que faz pelo País, percorrendo as lojas da marca para ouvir seus franqueados, ge-rentes, vendedores e clientes; e na consulta a profissionais so-bre os produtos enquanto ainda estão sendo criados.

Esse estilo de liderança (ocorrente de comunicação e parti-cipação) pode ter um veio inato, mas foi, no mínimo, aprimorado.

Eu demorei pra desenvolver essa técnica. No co-meço, eu não conseguia entender a palavra de-les. Não é simplesmente assim: “vamos trazer para fazer”. Você não consegue fazer na hora. Ele [um funcionário] tem medo de você, porque você é o chefe. Aí depois você tira o medo, ele começa a falar. Então você desenvolve o cara. E aí você desenvolve isso pra todas as áreas. [Mas] se você não desenvolve uma técnica de escutar, não funciona nada.

Com isso, o empreendedor estabelece um clima de con-fiança e colaboração (índices de sentimento e filosofia) em sua equipe e transfere sua perseverança (índice de filosofia), criando uma atmosfera (índice) participativa (função catalisa-dora estratégica) que é fundamental para a construção de seu universo.

A ARTE DE PREPARAR PIMENTA

Por trás desse universo mutante, identificamos uma contunden-te busca pelo novo. Esse aspecto demonstra a orientação da marca para a inovação (índice de filosofia e ocorrente de parti-cipação), emblemática nos processo de criação e comunicação que demonstramos. Isso, por sua vez, parece estar calcado no esforço por aprimoramento (índice de filosofia e ocorrentes de desejo e participação), evidenciado na predisposição de apren-der que o empreendedor demonstra. Todavia, só parece se tor-nar possível graças à sua tendência à assunção de riscos (ocor-

rente de participação, índice de filosofia e tempo discursivo), demonstrada por suas escolhas pouco seguras.

Por outro lado, essa busca é também o aspecto identitá-rio fundamental da marca. Além de expressar uma vontade de seu empreendedor (ocorrente de desejo), assume uma função (cardinal) estratégica crucial para seu objetivo, que é o de se di-ferenciar num plano simbólico (informante de tempo discursi-vo). Assim, a busca pela identidade é um processo de contínua recriação (função cardinal simbólica formadora), que permite que a marca se consolide (função cardinal transformadora).

O espaço privilegiado em que a marca estabelece essa identidade é a comunicação (ocorrente de comunicação, mas também espaço físico e social), o segundo aspecto que ressal-tamos de sua forma mutante. Uma nova atmosfera é apresenta-da a cada nova campanha publicitária, sugerindo uma aparen-te falta de contiguidade. Segundo o diretor de criação e um dos proprietários da agência de publicidade que atende à conta da marca desde sua fundação, existe uma grande liberdade criati-va. “A Chilli Beans fala: ‘Ah, sei lá. Vai pra onde você quiser!’. ‘Posso enlouquecer?’. ‘Por favor!’”.

E o elemento fundamental dessa comunicação é a pi-menta, a coprotagonista (existente) desse universo. Quando perguntado “Por que pimenta?”, Caito responde:

Eu adoro pimenta, cara. Tem vez que, no café da manhã, eu tô comendo peito de peru, queijo branco, eu vou lá, pego a pimenta. [...] Eu tenho diferentes tipos de pimenta na minha geladeira. Porque fazer pimenta, bicho... é uma arte. Arran-ca couro da boca inteira, só que tem sabor. Acho pimenta uma coisa simpática, uma coisa bem brasileira, meio paz. De todo lugar que eu vou, eu trago umas pimentinhas... Então, é uma asso-ciação com a história. Eu precisava de um logo, um logo especial, forte. Aí entrou a pimenta.

O depoimento nos revela uma forte conexão do empreen-dedor com sua cultura (espaço social) e a história (tempo dis-cursivo); seu cotidiano (tempo discursivo e espaço social e psi-cológico), sua casa e o mundo (espaços físicos e sociais); mas também um vínculo afetivo (índice de sentimento) com a pró-pria pimenta, objeto que iconizou (função simbólica evocado-ra) em sua criação.

Essa conexão relaciona-se com o que Caito chama de ver-dade, a segunda coadjuvante “principal” do universo da marca. Isso tem a ver com outra filosofia (índice): o princípio da auten-ticidade (também um ocorrente de desejo e índices de senti-mento e atmosfera). Essa autenticidade, já presente no relato

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do diretor de criação das campanhas das marcas, pode ser per-cebida também em relação ao processo criativo dos produtos.

Essa verdade evidencia a confiança e a participação de-senvolvidas junto à sua equipe e assume a função (simbólica for-madora) de credibilidade, que se estende junto ao quarto dos co-adjuvantes secundários identificados no universo da marca: os consumidores. A estes, o empreendedor demonstra a vontade de atender (ocorrente de desejo). Um exemplo disso é quando ele fala sobre sua linha de óculos de grau: “Quando você vai comprar um óculos, cara, não é um momento legal, é um momento sério. É uma parada meio ruim. É como se você tivesse indo ao médico... Você não faz uma pesquisa de moda, uma busca a pé, relaxado”.

Unindo autenticidade e atenção, identificamos uma bus-ca pela criação de uma forte empatia (ocorrente de comunica-ção) entre marca e consumidor, o que, por sua vez, tem a fun-ção (cardinal estratégica e simbólica evocadora) de cativá-los.

Essa atenção, presente sobremaneira na forma de desen-volvimento contínuo de novos produtos, o que, por sua vez, ca-racteriza sua identidade mutante, revela ainda mais dois aspec-tos cruciais no entendimento do que a Chilli Beans se tornou. Em primeiro lugar, está alinhada a um dos mais contundentes princípios da marca: o expansionismo (funções cardinais trans-formadora e estratégica, índice de filosofia e ocorrentes de de-sejo e participação). Identificamos duas esferas em que esse aspecto é mais contundente. Um deles diz respeito à expansão do mix de produtos (coadjuvante da marca). O principal deles são os relógios, que hoje respondem por 35% do faturamen-to. Depois disso, a Chilli Beans passou a oferecer uma linha de acessórios para relógios e óculos escuros. Em 2009, foi a vez da linha Cabeças, composta de bonés, boinas, chapéus e quepes. Finalmente, em 2010, a linha de óculos para receituário Vista. Além disso, desenvolveram linhas de óculos assinadas por es-tilistas de moda renomados e para crianças (espaços sociais).

A outra esfera que se apresenta como evidente do expan-sionismo da marca diz respeito à sua cobertura de pontos de venda (coadjuvante da marca). Uma das evidências mais con-tundentes disso é que a empresa tem uma diretoria específi-ca de expansão, liderada por um amigo de juventude que Cai-to reencontrou, por acaso, em um de seus primeiros displays. Até esse reencontro, o administrador acumulara experiência profissional com o sistema de franquias. Quando foi trabalhar com Caito, pôs sua expertise em prática, dando início ao siste-ma de franquias da marca, que teve início justamente por meio de quiosques, formato comercial que o empreendedor escolhe-ra devido à sua praticidade e menor custo. Mas isso também propiciava maior capitalização, que era reinvestida com fins de crescimento. Mantiveram-se nesse formato até entrarem em to-das as capitais brasileiras. A última foi Rio Branco/AC, em 2008.

Só então investiram em lojas, mas ainda mantendo quiosques, e na entrada em cidades do interior. Segundo o diretor de ex-pansão, são mais de 400 em funcionamento.

Por trás da construção desse universo, o que fica eviden-te é um sentimento (índice e ocorrente de desejo e participa-ção) de realização do fundador da marca: “É natural, sabe? É uma coisa que a gente desenvolveu, essa estética, entendeu? É o que eu sinto. Isso pra mim é supernormal; isso aqui é o meu dia a dia, cara, essa é minha vida”.

TOCANDO POR TROCADOS

Esse sentimento de realização foi, provavelmente, a força mo-triz da marca e existia muito antes de sua concepção. A primeira investida profissional de Caito Maia foi no campo artístico. Ele queria ser um rockstar e quase chegou lá.

Era sonho do sonho, desde moleque [...] Eu ti-nha uma banda chamada Silver James. Eu tinha 20 anos, velho. A gente ia estourar. Três mole-quinhos, com uma carinha bonitinha, tocando techno-pop no final da década de 80, no Gugu Liberato. [...] Aí, o Las Chicas na sequência. O Las Tchicas Tienen Fuego tocou no Brasil inteiro no festival da Sony. Daí a gente tocou com o Jota Quest, com Planet Hemp, com um monte de gen-te. Era um negócio legal, mas não rolou, não era pra rolar...

Fica evidente o sentimento (índice) de frustração. Contu-do, o futuro empreendedor tirou muito dessa experiência com o universo da música (índice de sentimento e atmosfera e espaço social e psicológico), a começar pela inspiração (função catali-sadora simbólica formadora).

Se eu vou num show de U2, você fala: “Eu que-ria tá lá no palco”. Não. Eu tô muito feliz onde eu estou. Me achei. Tá tudo certo. Mas foi [...] uma transição difícil, do mundo artístico, que eu amava, para o mundo do business, né? [...] Mas que me influenciou em tudo. Desde a escolha de agências, a escolha de campanhas, escolha de informação, pra que caminho a gente vai.

Podemos perceber que, na transição do mundo da músi-ca para o dos negócios (protagonistas dessa fase de sua vida), a Chilli Beans propiciou a Caito um caminho para superar uma

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frustração (também uma coadjuvante, aqui de sua empreita-da artística) e recuperar sua veia de realização (já ali índice de sentimento e ocorrente de desejo e participação, mas então um coadjuvante em sua empreitada no mundo dos negócios). Isso ocorreu por meio de um processo de amadurecimento (tempo psicológico) e da descoberta de seu espírito de liderança (aqui coadjuvante nos dois mundos), estabelecendo uma filosofia (índice) de confiança, que, como vimos, o acompanharia. Por fim, podemos inferir que essa experiência teve uma importan-te função (catalisadora estratégica) instrutiva de como geren-ciar seu negócio.

Mas de onde teria vindo a oportunidade (coadjuvante se-cundária) dessa transição? Entra aqui outro coadjuvante “prin-cipal” dessa história: sua inclinação para o comércio. O músico de então descobriu uma maneira de ganhar um dinheiro (ocor-rente de participação) que a música não lhe propiciava. Depois de ter comprado uma bateria importada e chamado atenção de colegas músicos (espaço social), vendeu-a e, com o dinheiro, passou a viajar para Nova Iorque, de onde trazia outras para co-mercializar. Descoberta a vocação (índice de sentimento) e um meio de ganhar a vida (índice de filosofia) — de fato, uma con-tingência (tempo psicológico) — inseriu-se numa economia in-formal (espaço social), estabelecendo uma ponte aérea (espa-ço físico e social) que depois chegaria à Califórnia, onde passou a comprar óculos escuros.

Demandando um menor investimento e ocupando me-nos espaço, os óculos otimizaram (ocorrente de participação) seu trabalho (tempo discursivo) e o mantiveram próximo do uni-verso da música. Em suas próprias palavras: “Eu sempre tive uma relação com óculos escuros: rock’n’roll, música, sempre gostei de usar óculos escuros”. Além disso, propiciou-lhe um grande volume de negócio, dando início à sua veia expansio-nista.

Com isso, identificamos um papel protagonista (existen-te) dos óculos escuros já nesse ponto de sua vida, que veio a desempenhar uma função (catalisadora transformadora) de-sencadeadora do seu futuro negócio e propriamente constitu-tiva (função cardinal estratégica) da marca, sendo parte de sua própria identidade e propiciando um início de consolidação no mercado (espaço social e tempo discursivo).

PANACEIA DESVAIRADA

Não foi de maneira planejada que o então músico virou empre-sário. Ele continuava trazendo para o Brasil malas cheias de óculos para vender em sua rede de convivência, até o dia em que surgiu uma demanda inesperada (coadjuvante). Um conhe-

cido fez um pedido para sua loja. “Tenho que abrir uma empre-sa! Tenho que emitir nota pro cara”, lembra ele. De uma hora para outra, viu-se pressionado (espaço psicológico) diante do desafio (tempo discursivo) de atender (ocorrente de participa-ção) a um volume de peças que jamais imaginara.

Assim surgia a Blue Velvet (a primeira protagonista des-sa fase), uma empresa atacadista (espaços físico e social) que comprava e vendia óculos. No nome, mais uma referência artís-tica. Agora o cinema (espaço social e psicológico): “Eu deliro com David Lynch [diretor do filme Blue Velvet]. Disparado o me-lhor diretor de cinema, o que eu mais gosto”. Assim como ocor-reria no futuro, ao escolher uma pimenta para iconizar a sua marca, já nessa ocasião o empreendedor buscou em sua me-mória afetiva um meio de criar identidade (aqui uma função ca-talisadora simbólica formadora, além dos aspectos já discuti-dos) para seu negócio.

Juntas, a escolha do nome e a demanda inesperada des-pontaram ainda como uma função (cardinal simbólica formado-ra e transformadora, respectivamente) fundamental: a de cons-tituição de um negócio, tirando o comerciante da informalidade e encerrando a carreira do músico.

A partir daí, seu já mencionado caráter expansionista e inclinação para o comércio levaram a um rápido crescimento da empresa, que, em pouco tempo, chegou a ser fornecedora de grandes marcas. “Volume monstro. Em um ano, eu conquistei o mercado de moda no Brasil: Zoomp, Zapping, Fórum, Triton, Opera Rock, Op... Todas compravam de mim”.

Essa aceitação (espaço psicológico e tempo discursivo) no mercado de moda funciona como outro efeito desencadea-dor do negócio, evocando sua autoconfiança (índices de senti-mento e atmosfera) e perseverança, bem como seu sentimen-to de realização.

Mas, com a mesma velocidade com que veio o sucesso, vieram as dificuldades (coadjuvante). Segundo Caito, sua veia comercial comprometeu o lado administrativo (ocorrente de participação), gerando descontrole de fluxo (coadjuvante): “Eu vendia muito mais do que eu podia atender (ocorrente de dese-jo)”. Essa euforia, se assim podemos dizer, revela um aspecto contundente de um jovem empresário: sua imaturidade (tempo psicológico). Todavia, já ali ele conseguiu perceber nessa difi-culdade um momento e uma oportunidade de aprimoramento (aqui também índice de sentimento e tempo discursivo, além dos aspectos já discutidos): “Os tombos que a gente toma... Vai aprendendo tudo, cara. Entender o risco de uma operação, [...] margem de preço, sabe?”.

Essa atitude favorável à aprendizagem, convertida em aprimoramento do trabalho, teve aqui sua origem, assumindo, na ocasião, uma função (cardinal estratégica) instrutiva. Mas

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ela parece ter se consolidado na fase seguinte da bravata de Caito Maia. O recém-empreendedor resolveu investir no vare-jo e começou a participar de uma feira itinerante que percorreu quase todo o Brasil (espaço físico e social), o Mercado Mundo Mix, segundo ele, sua “faculdade”, onde ele aprendeu os ele-mentos básicos de marketing.

Foi também ali que o empresário descobriu a multiplici-dade cultural brasileira (tempo discursivo e índice de atmosfe-ra) e o impacto dessas diferenças na maneira como negociar de modo particular em cada situação (ocorrentes de comunicação e participação). “Nordeste? Uma coisa que eu nunca falo é ‘Nor-deste’. Bahia, Ceará, enorme diferença. [...] Mineiro ficava des-confiado, pedia desconto, mas gostava de comprar à vista; ca-rioca gostava de dividir...”.

A experiência parece ter propiciado a Caito a certeza do que queria fazer. Foi nessa época que surgiu a Chilli Beans. O di-retor de criação de sua agência de publicidade lembra que Cai-to tinha encomendado a criação da logomarca e, de repente, li-gou dizendo que estava viajando e precisava imprimir um banner para seu stand. O publicitário identificou que havia um erro de di-gitação, já que “Chilli” tem apenas um “L”. “Eu falei: ‘Vou corrigir, espera um pouquinho’. ‘Não posso, tenho que ir embora, vai des-se jeito mesmo’. E daí ficou do jeito que tá, com dois Ls”.

Com a mesma impetuosidade (ocorrente de participação) com que manteve sua pimenta escrita de maneira “errada”, Cai-to foi em busca de um ponto para abrir uma loja (ação expansio-nista). “Então, eu fui atrás de um ponto. Imagina, sem dinheiro, atrás de um ponto legal. E aí encontrei. Imagina a Oscar Freire e a Rua Augusta. Um ponto nobre, mas largado. Um negócio todo de-cadente, horroroso, largado. Achei aquilo maravilhoso!”

A abertura da primeira loja ocupa um papel emblemático para a marca. Localizada num lugar à época tido como under-ground (espaço físico e social) da capital paulista, evoca uma atmosfera (índice) pop, bem ao estilo (índice de sentimento) de seu fundador, e já ali contribuindo para sua identidade (aqui com uma função catalisadora formadora).

Como podemos perceber em suas palavras, a loja repre-sentou a segurança — ainda que à custa de uma tendência à assunção de risco — de, pela primeira vez, ele ter um estabe-lecimento (espaço físico e tempo discursivo), o que teve uma função de credibilidade (nos mesmos termos já discutidos).

O começo foi difícil. Caito dividia não apenas seu tempo, mas até seu estoque de produtos, entre a loja e a feira itineran-te. “Tinha uma época em que eu não tinha óculos pra vender no Mercado Mundo Mix. Então, o que eu tinha que fazer? Tira-va todos os óculos da loja... A loja ficava vazia. Pesadelo!”. Ape-sar disso, com o tempo, a marca foi se popularizando — “A coi-sa começou a esquentar, esquentar, esquentar, e aí, bicho, fila,

fila, fila, mauricinho, socialite, numa fila, numa galeria muito tosca, sem ar-condicionado, sabe?” — e não parou mais.

A história da construção da Chilli Beans nos remete ao gênero da fábula (narrativa mitológica). Não nos moldes tra-dicionais, certamente. Nosso empreendedor não é um herói, muito menos um príncipe encantado. Trata-se de um roqueiro errante que vai aonde o caminho o leva. Mas eis que nesse ca-minho ele encontra... Não, claro que não encontra uma princesa adormecida que precisa de seu beijo para retornar à vida. Nos-so prófugo jovem encontra uns óculos de sol e, nesse ponto, pa-rece saber o rumo de sua vida. Mas aqui as histórias se encon-tram. Parafraseando o poeta e assumindo que a eternidade é o tempo que dure, podemos dizer que eles viveram, até o mo-mento, felizes para sempre.

Apesar disso, esse encontro não marcou o fim da traje-tória transviada do nosso anti-herói. Ao contrário, ele parece, a partir dessa epifania, ter aprimorado seu gosto pelo incerto. Tal-vez por sua intuição (narrativa epistemológica) tê-lo guiado até ali, passou a escolher, agora de modo consciente, os caminhos aparentemente mais tortuosos, mas também aqueles que mais lhe gratificavam. Isso nos revela a busca de realização (narrati-va ideológica) como o cerne precípuo dessa história.

MORAL DA HISTÓRIA: COMO O FIASCO DE UMA TENTATIVA DE CARREIRA DE ROCKSTAR DEU ORIGEM À MAIOR MARCA DE ÓCULOS ESCUROS DA AMÉRICA LATINATendo em vista nossa postura metodológica de caráter indutivo, é chegada a hora de voltarmos ao nosso problema de pesquisa para refletir sobre as contribuições que este estudo traz para o entendimento do fenômeno em pauta. Vários são os aspectos que podemos destacar na ação empreendedora que deu origem e desenvolveu a marca. Identificamos uma ausência quase to-tal de aderência dos nossos achados ao que preconiza a litera-tura de branding. É numa área de interseção entre marketing e empreendedorismo que localizamos a base para tecermos con-siderações acerca dos nossos resultados. A abordagem deno-minada marketing empreendedor, segundo Kraus, Harms e Fink (2010), refere-se ao marketing caracterizado por possuir um es-pírito empreendedor, e aparece aqui como área em que nossos achados se localizam.

Entre os temas mais tratados na literatura de marketing empreendedor, destaca-se a inovação, como integrante de todo o processo empreendedor, inclusive propiciando condições

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para o surgimento das startups, que incorporam sobremaneira o marketing empreendedor (Meyers & Harmeling, 2011; Schul-te & Eggers, 2010) e a assunção de riscos, que mesmo sendo, por vezes, calculados, permeiam a literatura sobre o tema e apontam como essa é uma característica visível nos empreen-dedores com posturas proativas em busca de explorar as opor-tunidades que o mercado apresenta (Martin, 2009; Meyers & Harmeling, 2011). A orientação inovadora mostra-se na rotina da marca desde a escolha dos perfis de sua equipe de traba-lho até a proposta de “vender Chilli Beans”, em vez de óculos, na medida em que construiu um “universo Chilli Beans” cujos signos estão em constante processo de reinvenção. Por outro lado, o crescimento rápido e as rápidas respostas às demandas do ambiente revelam a escassez ou ausência de planejamentos consistentes em diversas tomadas de decisão críticas, o que re-vela à propensão ao risco.

Outro aspecto evidente em nossos achados diz respei-to ao reconhecimento de oportunidades. Hills, Hultman e Miles (2008) e Stokes (2000) apontam tal característica como uma das mais contundentes do marketing empreendedor, prece-dendo o processo de inovação. Todavia, os primeiros definem que o reconhecimento de oportunidade decorre de uma pos-tura do empreendedor de proximidade do seu consumidor, as-sim, para Hills et al. (2008), esse marketing de cunho empre-endedor trataria de processos empreendedores e também da cultura, ou seja, a abordagem empreendedora valorizaria es-tar mais próxima e sintonizada com os interesses do consumi-dor, tendo relacionamentos bem mais aprimorados com este, consequentemente podendo captar mais facilmente oportuni-dades do mercado e respondendo a estas com produtos, pro-cessos ou mesmo estratégias inovadoras. Já o último defende que só depois da inovação desenvolvida o empreendedor pre-ocupa-se com qual será o seu mercado-alvo. Com isso, muitas vezes baseia-se num consumidor-base inicial para averiguar se seu produto ou serviço se aplica naquele segmento em questão e, quando o encontra, utiliza-se de uma lógica bottom-up para conquistar mercado. Apesar da postura de Hills et al. (2008) es-tar mais alinhada com a abordagem mais típica de marketing, o comportamento do empreendedor da Chilli Beans está clara-mente mais condizente com o que prega Stokes (2000).

A comunicação com os clientes é outro aspecto contumaz no marketing empreendedor, sendo apontada por Gaddefors e Anderson (2008) como ocorrente numa via de mão dupla, e não apenas na transmissão daquilo que se pretende comunicar. Assim, o networking desses indivíduos junto aos clientes aparece como peça essencial para alcançar o êxito organizacional, permitindo à empresa alcançar soluções inovadoras e satisfatórias para as eventuais barreiras encontradas (Gilmore &

Carson, 2001). No caso da Chilli Beans, a relevância do uso da comunicação é nitidamente confirmada. Todavia, não se pode dizer que seja utilizada de modo bilateral. Trata-se de um recurso de construção da identidade da marca sem que se revele uma intenção de antecipar a imagem junto ao consumidor.

Ainda na perspectiva do marketing empreendedor, encontramos a discussão acerca da informalidade de processos, aspecto evidente no caso da Chilli Beans. Rowley (2011) e Kraus et al. (2010) associam-no às pequenas e médias empresas, decorrente do foco no estabelecimento de metas de curto prazo ou da dificuldade de mensurar a taxa de retorno por cliente que essas empresas demonstram. No caso da Chilli Beans, vemos que, apesar de ter-se tornado uma empresa grande, permanece com traços de informalidade — estes, porém, apenas nas atividades centrais que contribuem para a inovação (criação de produtos, comunicação), não afetando processos gerenciais mais amplos e metas estabelecidas pela organização. Nesse sentido, Chaston (1997) afirma que o grau de influência do marketing empreendedor para o sucesso da organização depende diretamente de esta apresentar uma estrutura orgânica, o que indica uma aderência da abordagem à marca estudada.

Ainda que de modo incipiente, a criatividade é também um aspecto identificado no campo de interface entre marketing e empreendedorismo. Fillis e Rentschler (2005) discutem a im-portância da criatividade no marketing empreendedor a partir de sua análise da indústria de arte. O caráter libertário com que o empreendedor incentiva a criatividade em sua organização, notadamente em relação à criação de modelos de produtos e campanhas de comunicação, evidencia-se como um aspecto contundente do desenvolvimento da marca.

Por fim, outro aspecto que merece nossa atenção espe-cial é a liderança. No caso particular da Chilli Beans, a liderança demonstrada pelo seu empreendedor é de um tipo particular: a liderança criativa. Tal conceito, proposto por Rickards e Moger (2000), engloba os conhecimentos e crenças que o líder trans-mite à equipe de trabalho; o compartilhamento de sua visão; a geração de um clima voltado à criatividade e inovação; a busca por melhores maneiras de realizar o trabalho; o encorajamento às ideias próprias por parte dos integrantes da equipe; a busca de recursos externos ao grupo, por meio de ativação de redes; e a aprendizagem advinda da experiência.

CRÉDITOS FINAIS

É chegada a hora de voltarmos ao nosso problema de pesqui-sa para refletir sobre as contribuições que este estudo traz para

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o entendimento do fenômeno em pauta. O objetivo do traba-lho foi identificar as práticas adotadas pelo empreendedor da Chilli Beans para torná-la uma marca exitosa. Concluímos que tais práticas se encontram consagradas na área de empreende-dorismo ou discutidas na sua infante área de interseção com marketing (vide aspectos discutidos na seção anterior), mas ainda pouco ou nada incorporados ao branding. Por outro lado, tal qual nossa argumentação para elaborar a problemática e pesquisa sugere, concluímos também que tais aspectos encon-tram na intuição seu fio condutor. No caso de Caito Maia, as ex-periências advindas de seu cotidiano e de referências artísticas são o insumo primordial de suas ideias e de como estas são in-troduzidas na marca.

Entendemos que o conhecimento da construção des-sa marca em específico contribua para a compreensão de um fenômeno mais amplo, que se refere à construção de marcas de maneira empreendedora. O estudo abre uma trincheira de oportunidades de pesquisas inseridas nos âmbitos da gestão de marcas, do marketing de modo mais amplo e do empreen-dedorismo. Outrossim, por meio da demonstração de práticas exitosas, aponta rumos para aqueles que se arriscam em no-vos empreendimentos, bem como para os gestores que bus-cam caminhos alternativos às práticas mais consagradas. Por um lado, o estudo corrobora o importante papel da inovação, da assunção de riscos e do reconhecimento de oportunidades – já amplamente discutidos na literatura sobre empreendedo-rismo e ação empreendedora – para a criação e desenvolvi-mento de novos negócios, apresentando como tais aspectos se adequam a uma situação específica de uma nova marca, à guisa da lacuna desse conhecimento na área de branding. Por outro lado, apresenta uma alternativa mais orgânica de abordagem comunicativa com os clientes e de organização de processos, demonstrando que o dialogismo e a informa-lidade – quando usada de maneira intencional e acompanha-da – podem representar uma maior dinamicidade de atuação num cenário em que as mudanças ocorrem de maneira cada vez mais rápida. Por fim, a liderança aparece no caso estuda-do numa vertente diferente: a de promover e inspirar um pro-cesso de criatividade como elemento de diferenciação cons-tante da marca.

Como desdobramento deste estudo, vislumbramos po-tencialidades para novas pesquisas. Numa primeira instância, a investigação de outras marcas dentro do perfil apresentado, que atuem com outros produtos e em outros segmentos de mer-cado, poderia contribuir para diálogos que pudessem culminar com a teorização de tal fenômeno. Por outro lado, esse objetivo poderia ser ampliado pelo estudo dessas marcas a partir de ou-tros ângulos de seus processos de construção, tais como a co-

municação ao longo do tempo e a significação que lhes é atri-buída pelos consumidores.

Do ponto de vista metodológico, a análise narratológi-ca apresenta-se como uma alternativa bastante fecunda não só no campo do marketing como também nos estudos organi-zacionais de uma forma geral. Tal escolha assenta-se na pre-missa de que não há ciência social livre de qualquer grau de subjetividade e que a consciência dessa subjetividade possibi-lita circunscrevê-la em uma teoria (Todorov, 2003). O protocolo ora elaborado permite ao investigador construir o fenômeno à luz das vozes analisadas, a partir de suas unidades constituti-vas, podendo acessar tanto a dimensão histórica dos fenôme-nos quanto a discursiva. Hoje, investigações do plano discursi-vo já se encontram legitimadas no campo da Administração, ao passo que a interface entre essas dimensões é ainda incipien-te. Dessa forma, potencialidades e aprimoramentos surgirão à medida que seu uso ganhar espaço na área.

AGRADECIMENTOSA realização deste trabalho só foi possível graças ao apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien-tífico e Tecnológico (CNPq), que fomentou, por meio de custeio e bolsa, a pesquisa que deu origem a este artigo.

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CARLOS J. FERNÁNDEZ RODRÍ[email protected] at Universidad Autónoma de Madrid, Facultad de Ciencias Económicas y Empresariales – Madrid, Spain

ESSAYInvited article

PICNIC ON A FROZEN RIVER: CHALLENGES FOR GENUINE MANAGEMENT STUDIES IN SPAIN

Since the eighties, programs in business management have become very popular in post-compulsory education, for various reasons. Students feel attracted to them since jobs in management positions have become more socially desirable and generally better paid than their counterparts in the public sector – which are also under a constant threat of restructuring. Successful managers and entrepreneurs have become role models and media tycoons, and outspoken advocates of the advantages of free market and competition. Moreover, the mysticism that pervades current organizational values – empowerment, compromise, high-level performance, accountability, flexibility and so on – has gained an extraordinary influence in economically advanced societies, helping to develop stronger pro-market attitudes and general concern for good management in different fields, from politics to economic or social policies. Therefore, the term management has become ubiquitous and a key issue in modern societies, to the extent that according to Boltanski and Chiapello (2005) it represents the core of the new spirit of capitalism. Institutions such as business schools, consultancies, the financial press and other players have helped to forge and disseminate the concepts of what we understand by management today, helping to frame a specific learning environment and a specific idea of management (Fernández Rodríguez, 2013). However, there have been also concerns about the type of management knowledge available in such institutions, the so-called mainstream management thinking (as opposed to critical approaches, which question capitalism and its context and social order: see Alvesson & Willmott, 1992; Fournier & Grey, 2000; Parker, 2002; Rowlinson & Hassard, 2011), hegemonic but raising increasing criticism from different angles and perspectives. Some scholars have particularly highlighted its strong Anglo-Saxon bias which has been linked to a conservative political project engaged with Americanization and neoliberal capitalism (Djelic, 1998; Tietze, 2004; Schröter 2005).

Nevertheless, management knowledge cannot be reduced only to US-influenced theories and practices. Scholars such as Richard Whitley (2008) have highlighted that there are remarkable differ-

RAE-Revista de Administração de Empresas | FGV-EAESP

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-759020150211

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ences across national contexts. Therefore, it could be argued that such differences could help to outline different outcomes regard-ing management scholarship, helping alter-native accounts and theories to emerge. In this contribution, the focus will be made on the Spanish case, relevant here due to the contradictory position the country seems to hold in the current scenario. On the one hand, Spain is experiencing a deep eco-nomic crisis as a result of the collapse of a housing market bubble and the tough aus-terity policies implemented immediately af-terwards. It has been stereotyped as one of the PIGS, acronym for “Portugal, Ireland, Greece and Spain”, countries with strong budget deficits and a certain economic and managerial backwardness, which according to the international financial press makes them unable to remain competitive in inter-national markets (especially the high val-ue-added market niches). However, despite the crisis Spain can be still considered a developed economy, ranked 13th in size in the world, with strong corporations (Movis-tar, Repsol, Santander) still based in major Spanish cities, and a number of universities and public bodies focused on research at an international level. Interestingly enough, some of the most prestigious business schools in Europe are based in Madrid and Barcelona, with Instituto de Empresa lead-ing the Financial Times European business schools ranking in 2012. Therefore, Spain enjoys an ambivalent position which initial-ly would seem to provide adequate condi-tions in order to set and launch alternative views and theories of management, de-tached from the US hegemonic perspective.

However, such potentiality has nev-er been fulfilled precisely due to contextual reasons. By the beginning of the 20th century Spain was still an underdeveloped country, poorly industrialized and relatively detached from modernity. After a civil war, it suffered a long right-wing dictatorship led by Gener-al Franco, internationally isolated after the end of the Second Wold War. During the fif-

ties, however, the Eisenhower administra-tion recognized and legitimated Franco’s re-gime at an international level to expand his allies in the fight against international com-munism. The USA not only helped Spain to join the UN, but it also provided significant technical advice - including management training: see Guillén, 2004 - coaching the lib-eralization of the Spanish markets, as well as opening-up to foreign capitals. The coun-try then enrolled a process of “Americaniza-tion” of the management and administration processes (Braña, Buesa & Molero, 1984), in a period in which the Spanish economy de-veloped with an unprecedented growth rate, helping to modernize the country. The most important Spanish business schools were launched during that period (1958-1973). However, none of them coined a distinctive management scholarship: for instance IESE relied on Harvard Business School exper-tise in its beginnings. Overall, the combina-tion of fierce Anti-communist politics, polit-ical repression plus the close relation with the US helped to develop strongly US-influ-enced management studies (with the MBA as the core product), excluding any kind of crit-ical approaches.

This was not too different to what was happening in the rest of Western Europe at that time (Kipping, Üsdiken, & Puig, 2004). From the 1950s onwards, American busi-ness schools and consultancies had be-come a channel for the transmission of a certain ‘American way of business’ which spread all over Europe. This process is asso-ciated mainly with the post–Second World War period and post–Marshall Plan Amer-ican politics, and is deeply interconnect-ed with the development of American cap-italism. According to some authors (Kipping & Bjarnar 1998; Schröter 2005), the Mar-shall Plan set the conditions for transferring US management models, exporting Amer-ican practices and attitudes towards busi-ness in European economic life. The impact on European business schools was strong, and American dominance influenced the

way curricula, subjects, teaching methods or management problems were going to be designed, selected and presented (Grey, 2005; Engwall 2009). In the Spanish case, this influence was evident, with radical ap-proaches regarding teaching methods: fo-cus on practical examples, small groups of alumni, and a very strong interaction be-tween students and lecturers, almost the opposite of Spanish university traditions. Moreover, stronger efforts to incorporate ICT in teaching skills were undertaken, and campuses were designed to match the im-age of their Ivy-League peers.

However, US influence did not mean Spanish scholars would not be able to de-velop distinctive features in terms of man-agement scholarship, linked to a peculiar interaction between management and reli-gion. The curious mix between Catholic cor-poratism and human relations, whose fin-est example might be Brugarola’s work (see e.g. Brugarola, 1945) can be considered as an original national contribution, though not very influential and far from the scientific ori-ented outcomes of US management studies. Besides, the most prestigious private busi-ness schools (IESE and ESADE being their most successful examples), which provid-ed expensive education for business elites and top managers, had an unusual com-mon feature: the religious character of their founders, some linked to the Jesuits or ex-tremely conservative groups such as Opus Dei (Fernández Rodríguez & Gantman, 2011). Those schools provided an encounter be-tween entrepreneurial ethics and Christian morality, educating top Spanish executives in an authoritarian scenario. Their contri-bution was aimed at shaping Spanish man-agers’ Catholic values towards an attitude of Protestant work ethics, rationalizing the economy but without any critical approach to the political framework. In a parallel effort, business studies were timidly incorporat-ed to programmes in economics in Spanish public universities, but there were no specif-ic studies designed at the post-graduate lev-

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AUTHOR | Carlos J. Fernández Rodríguez

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el (Cuervo, 2002). Organization studies were subjected to censorship and lack of freedom of expression, with Marxism and other criti-cal schools completely ignored. Quantitative analyses were the norm, and management was seen as a side subject to economics-in-fused business administration programs.

The transition to democracy in Spain did not have a massive influence in the way management was taught and understood in higher education institutions. There was in-deed a new freedom of expression, allowing critical thinkers to be incorporated in the programs of many academic disciplines. The economy improved, particularly after the country joined both the EU and the Eu-rozone. The education sector expanded no-tably, with the creation of new universities and indeed new business schools. Howev-er, such changes did not help to minimize the US influence on management studies. The public sector together with the expan-sion in the number of universities offered more opportunities to enrich the theoret-ical sources of management research but Americanization continued. The empha-sis on economics and quantitative analy-ses was actually reinforced and current ac-ademic programs offer a partial account of the complexities of management and its in-teraction with society. According to some scholars, the lack of synergies of sub-dis-ciplines such as HRM with sociology and political economy are evident, with a se-rious shortage of rigorous qualitative re-search (Rodríguez Ruiz & Martínez Lucio, 2010). Employment relations and sociolo-gy of work are still virtually absent, while or-ganization theory and the psycho-sociology of organizations play a minor role. Some re-searchers have criticized this situation: Cu-ervo (2002) has argued that the study pro-grams remain too theoretical and badly adapted to market needs, highlighting the bureaucratic constraints to deploy reorien-tations in the studies. For instance, that ri-gidity and the lack of interest in developing competitive post-graduate programs (MBA)

in Spanish public universities led to a prom-inence of private institutions in that import-ant space, and only the new EU education policies under the umbrella of the Bologna process have managed to change this trend.

In fact, education reforms not only re-lated to the EU but to the emergence of new bodies in charge of academic evaluation, particularly ANECA which has played a piv-otal role with its accreditations, have been essential to transform the landscape of Spanish universities radically during the 21st century. New realities have emerged such as the spread of rankings, research evalu-ations and increasing connections with for-eign universities. Spanish academia has become more professionalized and compet-itive and there are substantially many more scholars publishing in international man-agement journals. However, and due to con-straints in this model – the preference for ISI journals by reviewing bodies and institu-tions, where US journals are at the top of ci-tation reports and therefore prestige - Amer-icanization in disciplines such as business and management remains a salient feature, with scholars engaging in publications that are likely to be accepted in top US manage-ment journals. This means that most Span-ish management scholars simply struggle to write non-critical quantitative papers that comply with the requisites of those peer-re-viewed publications, leaving critical works aside. However, and despite US influence, in this space there might be pre-conditions for the development of critical and alterna-tive approaches to management:

• The new conditions have helped to in-teract with foreign scholars and have access to new theoretical sources. There are signs of the emergence of a new critical oriented scholarship (see e.g. Fernández Rodríguez, 2007), albe-it very limited.

• Spanish as a widely spoken language offers strong potential for the circu-

lation of new critical theories, once it could establish synergies with oth-er Latin American academic institu-tions (not only Spanish-speaking but also Portuguese-speaking) where criti-cal perspectives could establish roots as well.

• While the accreditation policies stim-ulate Americanization, some of the ISI journals (mostly based in the UK and other parts of Europe) are critically ori-ented and can provide a space for crit-ical scholars.

• Public cuts in education and wages and the decline of the Spanish econ-omy might be flashpoints for the out-break of more critical orientations among scholars.

On the other hand, these pre-condi-tions do not imply that such scenarios might emerge. It is probably more likely that criti-cal approaches to management would flour-ish among scholars in other social sciences, such as sociology or political science.

Meanwhile in the private sector the context is not extremely different. The arriv-al of democracy did little to erode the US in-fluence: on the contrary, the expectations to join the EU and the neoliberal ascent in the eighties were essential to the expansion of private schools in charge of post-gradu-ate studies addressed to new managers. Subjects such as leadership, HRM, strate-gic management, marketing, internation-al trade or business ethics are included in MBA programs, but despite very few excep-tions the approach has been mainstream and non-critical. Case methods prevail over alternative views such as cultural stud-ies, and quantitative studies over qualita-tive ones. Moreover many theoretical sourc-es are linked to mainstream management and even some management gurus (Fernán-dez Rodríguez, 2013). The Spanish contribu-tions are therefore shaped around manage-

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ESSAY | Picnic on a frozen river: challenges for genuine management studies in Spain

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rialism and influenced by US management thinkers, either academics or gurus. Adap-tation and labour market flexibility have been emphasized in lectures and publica-tions, grounded on normative and humanist aspects developed by national gurus with theories such as Management by Values or Trust Management (see García Ruiz, 2003; Aguilar et al., 2002), pure pop manage-ment. Managerial narratives (fiction works that describe common problems of manag-ers with a motivational happy-ending) have also become quite popular (e.g. Rovira & Trías de Bes, 2004), being carbon copies of American pop management. Although their lack in originality, some of those studies present catchy titles: for example – and in a word game impossible to translate into En-glish – the Spanish management guru Juan Carlos Cubeiro titled one of his books “En un lugar del talento”, paraphrasing the first sentence of Miguel de Cervantes “Don Quix-ote” whose first sentence started with “En un lugar de la Mancha” (see Cubeiro, 2000).

The emergence of alternative ap-proaches in Spanish private business schools seems even more constrained than in the public sector. In the first place, the schools’ commitment with the market is very strong. Corporations support schools, inspiring their academic project and values. The education provided is extremely cost-ly and therefore tailored for a basic need: access and promotion in the workplace for the managers and soon-to-be executives. It has be emphasized that Spanish top busi-ness schools are also engaged, through their admission processes and high tuition fees, with contributing to the co-optation of elites, providing mechanisms of social se-lection - as some scholars have highlighted (Schröter 2005).

Business schools and firms, espe-cially big corporations, keep a tight rela-tion. The combination of education and profits has raised some criticism and hampers the possibilities of incorporat-ing new theoretical paradigms. Howev-

er, and in order to strengthen the quali-ty of their MBA programmes and comply with factors highly appreciated in interna-tional rankings (for example, studentships in business schools abroad, visiting pro-fessors, and so on), some changes have been recently implemented. The need to hire staff with ISI-indexed publications to cope with the growing influence of a ‘pub-lish or perish’ mentality in the field has led not only to changes in the profiles and backgrounds of academics (with is a less-er role for management practitioners), but also to new staff policies, such as funding doctoral studies of senior lecturers in pres-tigious international universities. These policies have contradictory effects: on the one hand, they strengthen the quality of re-search and broaden perspectives on man-agement studies, but on the other hand, the technocratic approach is reinforced through the need to publish in top man-agement journals. Hence the Americaniza-tion project remains here as well.

Therefore, Spain has remained his-torically dependant on US-influenced ap-proaches to management, in a classic example of epistemic colonization (Ibar-ra-Colado, 2006). This is a situation not stri-dent in the European field, as most of the academic institutions on European soil support this type of knowledge. The criti-cal scholars are still a minority despite their growth in the UK, Netherlands and the Nor-dic countries, with almost no presence in Germany, France or Italy. In this sense, the Spanish case is far from exceptional: it rath-er complies with the norm. Although there might be certain pre-conditions to launch an alternative and more critical paradigm, the truth is that such a project still stands at an embryonic stage. As a matter of fact, and given the development of manage-ment studies in Spain, it would be unlike-ly for such a project to emerge without fram-ing it inside a wider academic structure, In this sense, alliances either with Latin Ameri-can or European scholars or even both seem

to be a compulsory requirement to launch such a scene in Spain.

In this sense, scholars such as Wedlin (2006) have interestingly discussed the prospects of a possible different ethos for European business schools. The theoretical approach to management in those institu-tions would be embedded in social scienc-es, engaging with critical views and inter-disciplinarity. Qualitative analyses would be enhanced whilst scholars could engage with works ranging from philosophy, sociol-ogy or anthropology. However, such ethos seems to be only firmly rooted in northern European countries and the UK, which is a quite exceptional case in many ways. To un-derstand the complex paradoxes that led to the emergence of Critical Management Studies in the UK, recommended readings would be Fernández Rodríguez (2007) and Rowlinson and Hassard (2011).

Nations with impressive intellectu-al traditions such as France, Germany or It-aly have not been able to develop alterna-tive business schools despite the influence of some of their intellectuals in the critical management scene. These paradoxes sug-gest that extensive research on compara-tive studies regarding the take-off of critical management studies – for instance condi-tions, political ethos, design, role and ex-pectations of higher education – is still a pending task for social sciences scholars.

In conclusion, management studies in Spain have not been able to challenge An-glo-Saxon dominance, finding notable re-strictions to develop an alternative scene. These limits range from the institutional ar-chitecture of the education sector (marred by a strong bureaucratic rigidity, which pre-vents collaborations between scholars from different knowledge disciplines) to stu-dent expectations, many of whom usually adopt an extremely pragmatic approach to their studies, linking them to a future job. The marginal collaborations between public universities and extremely wealthy private business schools has been another fea-

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ture of the Spanish landscape of manage-ment studies, where little exchange takes place between different bodies and play-ers. Moreover, the authoritarian discourse of Spanish employers linked to past heri-tages (Fernández Rodríguez & Martínez Lu-cio, 2013) makes critical research not highly valued among HRM managers and entrepre-neurs, albeit few exceptions. However, the drastic changes experienced during the cri-sis not only in academia but also in the la-bour market might facilitate the emergence of new critical analyses, helping to mini-mize the influence of US management.

AUTHOR’S NOTEThis work was supported by the Spanish Ministry of Science and Education (grant number CSO2011-29941)

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JEAN-FRANÇOIS [email protected] et co-responsable scientifique de la Dauphine Université Paris, Chaire Management et Diversité – Paris, France

ESSAIInvité article

LE CHAMP DES ÉTUDES ORGANISATIONNELLES : LE REGARD CRITIQUE D’UN CHERCHEUR PLURILINGUE

Le numéro spécial dont j’ai l’honneur de faire le mot d’introduction a pour objet de questionner à partir des pays du Sud l’hégémonie qu’exerce la pensée anglo-saxonne largement dominante dans le champ du management et des études organisationnelles. J’utilise ici volontairement d’entrée le concept de champ proposé par Bourdieu (1982, 1987) car il nous permet d’affirmer sans le moindre doute que le champ dont il est question dans ce numéro, est un champ social, c’est-à-dire un espace structuré, hiérarchisé d’acteurs et de positions, qui se définit par des enjeux et des intérêts spécifiques mobilisant des formes de capital variées (économique, culturel, social et symbolique). Ce champ nécessite également un système de dispositions approprié par les acteurs, ce que Bourdieu (1982, 1987) désigne par habitus, un système permettant à ses acteurs de faire face aux règles du jeu en vigueur en son sein, et d’y occuper ainsi une place (Bourdieu, 1982, 1987) ; le champ de la recherche en gestion et des études organisationnelles est bel et bien un champ de ce type.

Fruit d’un appel à communication rédigée par Ernesto Gantman, Hèla Yousfi et Rafael Alcadipani, la lecture des articles sélectionnés, dont je partage très largement les constats et les analyses, m’a inspiré une série de réflexions.

La première vient rappeler que le champ de la recherche en gestion et des études organisation-nelles fait partie du champ des sciences sociales et qu’en tant que champ spécifique, il est en ef-fet marqué par la domination qu’exerce le champ anglo-américain et les normes que celui-ci met en place (Dameron & Durand, 2008). Le poids de la production américaine est, nous le savons tous, his-toriquement considérable, même s’il a existé et s’il existe toujours des pensées riches dans ce do-maine dans d’autres parties du monde dont certains articles de ce numéro témoignent (Alcadipani & Rosa, 2011 ; Ibarra-Colado, 2006 ; Bayley & Clegg, 2007 ; Pesqueux & Tyberghien, 2009 ; Batti-

RAE-Revista de Administração de Empresas | FGV-EAESP

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-759020150212

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lana, Anteby, & Sengul, 2010 ; Courpasson, Arellano-Gault, Brown, & Lounsbury, 2008 ; Chanlat, 1994 ; 2014a).

Par conséquent, comme l’ont remarqué de nombreux observateurs, et les auteurs des articles présentés ici, selon les lieux où le chercheur se trouve, sa production sera plus ou moins prise en compte par le champ dominant nord-américain (Bargiela-Chia-ppini, 2001 ; Tsui, 2007 ; Adler & Harzing, 2009 ; Battilana, Anteby & Sengul, 2010 ; Courpasson et alii., 2008 ; Chanlat, 2014b). C’est ainsi que, pour Üsdiken (2010), le champ de la recherche en gestion se di-vise entre trois espaces : le cœur qu’il as-socie aux États-Unis, ceux-ci étant depuis la fin de la Seconde Guerre mondiale la source la plus influente en matière d’idées, un se-cond centre (le Royaume-Uni), une semi pé-riphérie (l’Europe du Nord et de l’Ouest) et une périphérie (l’Europe du Sud et de l’Est à laquelle nous pourrions ajouter les pays en développement ou émergents – ce qu’Üs-diken ne fait pas puisque son article porte essentiellement sur l’univers euro-améri-cain mais ce que font de manière centrale les différents auteurs de ce numéro.

La seconde réflexion porte sur la no-tion de résistance à cette hégémonie. Cette résistance prend différentes formes. Comme le montrent, là encore, les auteurs de ce numéro spécial, il existe des résis-tances qui mêlent à la fois des éléments po-litiques, socioculturels, linguistiques et in-tellectuels; en effet, de nombreux champs linguistiques se distinguent du champ amé-ricain par leurs choix épistémologiques et sociaux et par la défense d’une production locale, nationale et régionale. Si cette ten-dance est particulièrement observable dans le champ francophone dont l’autonomie est relativement importante par rapport au champ dominant (Chanlat, 2014), on peut également l’observer également dans le champ de langue anglaise d’influence bri-tannique et européenne (Grey, 2010 ; Will-mott, 2011). Mais il reste que le mimétisme demeure important dans certains champs

régionaux, lesquels doivent composer avec la mondialisation croissante de l’enseigne-ment supérieur (Lussier, 2014).

Le rôle joué par les systèmes de clas-sement de revues (et surtout l’importance qui leur est accordée), et plus générale-ment celui joué par les critères d’évalua-tion des productions intellectuelles, ne sont pas sans lien avec cet alignement sys-tématique sur la production anglo-améri-caine (Lussier, 2014). Car si on observe une résistance dans les pays dont la langue n’est pas l’anglais, on peut remarquer ce-pendant que les revues les plus cotées dans de nombreux champs nationaux sont systématiquement des revues de langue anglaise, pour ne pas dire américaine. Dans un tel contexte, il devient donc qua-siment impossible, pour un chercheur non anglophone, de participer au débat, s’il ne maîtrise pas parfaitement la langue an-glaise (Tietze, 2004). L’établissement de ces classements devient donc un enjeu clé pour les acteurs concernés, notamment pour ceux qui ne sont pas de langue an-glaise (Berry, 2004 ; Eraly, 2011 ; Hatchuel, 2004 ; Tsuda, 2013 ; Aquino-Alves & Pozze-bon, 2013 ; Chanlat, 2014a).

La troisième concerne les effets de cette hégémonie anglo-américaine. Si ceux-ci ont été abordés par de nombreux chercheurs déjà cités, et rappelés ici, cha-cun à leur manière, par les auteurs de ce numéro spécial, moins nombreux sont ceux qui se sont intéressés aux effets co-gnitifs et au processus de production in-tellectuel de rédiger en anglais en tant que tels. S’ils l’ont été, c’est surtout par des chercheurs non anglophones. Le Norvé-gien Ljosland (2007) rappelle, par exemple, que dans son pays la langue dans laquelle est rédigée une thèse d’économie est dans 82% des cas, l’anglais, dans 16% des cas le norvégien, et les 2% restants une rédac-tion dans ces deux langues. Cette angli-cisation massive produit, selon lui, une “colonisation mentale” et conduit à une perte de sujets de recherche potentielle-

ment intéressants pour la société norvé-gienne (Ljosland, 2007). Il est intéressant de constater que cette situation est au-jourd’hui observable dans certaines insti-tutions du monde non anglophone, notam-ment latines, particulièrement tournées vers la reconnaissance apportée par le champ anglo-américain. L’article de notre collègue de Madrid est assez exemplaire à cet égard.

D’autres collègues ont également ob-servé ce qu’ils appellent une fermeture sym-bolique. Lors de travaux réalisés conjointe-ment par des Finlandais et des Britanniques, les chercheurs finlandais concernés ont fait le constat que la vision finlandaise et les mots en finlandais étaient subordonnés à la signification anglaise (Meriläinen, Tiena-ri, Thomas, & Davies, 2008), voire rempla-cés par des mots anglais, et ce ne fut que par une résistance et un questionnement de ces processus que les chercheurs finlandais sont parvenus à se faire respecter des chercheurs britanniques (Merilänen et al., 2008).

Comme le soulignent Tietze et Ditz (2012) à propos d’une étude de Curry et Lil-lis (2004), comparant des données recueil-lies au Portugal, en Espagne, en Hongrie et en Slovaquie (2004) :

This normalized and exclusive use of the English language is a further illus-tration of hegemonic practices, through which meanings that « fall outside the do-minant ideology » … become considerably harder (and riskier for individual careers) to express. English is, therefore, not an «innocent» system of syntax through which words and sentences are generated, rather it is a shaping influence on the very mea-ning of the texts produced (Tietze, 2004, pp. 9-10).

C’est ce processus intellectuel hégé-monique qui alimente aussi la contesta-tion et la résistance dont ce numéro spé-cial est un exemple concret. Mais, comme l’exemple finlandais cité plus haut le montre, tout comme d’autres débats ré-cents observés à ce sujet dans le champ

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ESSAi | Le champ des études organisationnelles : le regard critique d’un chercheur plurilingue

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européen de langue anglaise (Czarniaws-ka, 2006 ; Adler & Harzing, 2009 ; Grey, 2010), cette contestation n’est pas unique-ment l’apanage de pays latins.

Le champ francophone continue, quant à lui, à vouloir défendre, malgré certaines tendances à la standardisation, ses singula-rités intellectuelles et sociales ainsi que sa langue (Berry 2004 ; Hatchuel, 2004 ; Chan-lat, 2014a ; Hagège, 2012 ; Bayart, Borzeix & Dumez, 2010).

La quatrième touche l’émergence pos-sible d’un champ latin. En tant qu’acteur dans le champ international des études organisationnelles, depuis plus de trente ans, ce qui me frappe, c’est la complicité très grande qui existe spontanément entre de nombreux chercheurs francophones, lusophones, hispanophones et italiano-phones. On observe ainsi que les travaux importants de langue française sont en gé-néral connus et traduits par les chercheurs lusophones et hispanophones, voire italia-nophones ; ils le sont peut-être moins par les Espagnols qui, comme nous le montre notre collègue, sont plus tournés pour des raisons historiques, notamment ceux et celles qui travaillent dans les écoles pri-vés, vers l’Amérique du Nord.

Ce phénomène qui semble toutefois moins prégnant en Amérique latine a per-mis de maintenir en raison des liens his-toriques, notamment entre le Brésil et la France et le monde francophone, un dia-logue par la traduction (Aquino-Alves & Pozzebon, 2013). Le colloque que nous avons organisé nous-mêmes avec des col-lègues mexicains à Zacatecas au Mexique en 2000 sur ce sujet a clairement témoi-gné non seulement de ce lien mais aussi de cette complicité intellectuelle entre cher-cheurs latino-américains et francophones (Chanlat, Fachin, & Fischer, 2005, 2006).

Pour ma part, c’est lors de mes pre-miers voyages au Brésil au début des an-nées 90 que j’ai découvert les travaux de Alberto Guerreiro Ramos, de Mauricio Trag-tenberg et ceux de Fernando Prestes Motta

avec lequel j’ai entretenu une conversation à la fois intellectuelle et amicale jusqu’à sa disparition, et qui a eu la gentillesse de par-ticiper à l’effort collectif de traduction de mon ouvrage de référence, traduction or-ganisée magnifiquement par Ofelia Torres (Chanlat, 1992, 1994, 1996) ; tout comme j’ai pris connaissance lors de mes séjours au Mexique des travaux du CIDE et de ceux du groupe des études organisationnelles de la UAM-Iztapalapa (Ibarra-Colorado, 2006).

Comme vient de le rappeler tout récem-ment le secrétaire perpétuel de l’Acadé-mie suédoise, Horace Engdahl, dans un en-tretien au journal Le Monde (2014, p. 10) : L’anglais est une langue importante, mais ce n’est pas la langue universelle. La seule langue universelle, c’est la traduction.

C’est ce qui, pour ma part et pour bon nombre d’autres collègues de par le monde, notamment latino-américains, nous a ame-nés à agir de la sorte. La traduction est au cœur de la diffusion des travaux et pas seulement en anglais. Les chercheurs de langue latine ont beaucoup à gagner à se fréquenter et à faire connaître les travaux importants aux uns et aux autres. L’obsta-cle linguistique étant par ailleurs moins dur à franchir. Le colloque de Zacatecas, tout comme ceux organisés régulièrement à Sal-vador par Tânia Fischer, en sont de belles illustrations (Chanlat, Fachin, & Fischer, 2005 ; 2006).

Ces défis sont de deux ordres : le premier est d’ordre socioéconomique et concerne la production de la richesse et sa répartition.

Au cours des dernières décennies, la montée des inégalités (Piketty, 2013) nous montre que beaucoup de choses restent à faire pour y remédier, tant dans les pays du Nord que dans les pays du Sud ; les dé-bats qui ont surgi au Brésil lors de l’organi-sation de la Coupe du monde en sont une vi-vante illustration. L’écart grandissant entre les pays et à l’intérieur des pays est un en-jeu social et politique que les chercheurs en gestion et en études organisationnelles ne peuvent éluder. Car les modes de gestion et

d’organisation ne sont pas sans lien avec ce que nous observons, et avec un autre défi, tout aussi essentiel : le défi du développe-ment durable.

A l’heure où s’accumulent les rapports de scientifiques nous montrant l’état dégra-dée de notre planète, nous ne pouvons plus faire en effet l’impasse sur cette question car il en va de notre survie et de notre bien être à long terme. Le monde de la gestion et les mo-des de production et de consommation que nos sociétés privilégient, sont désormais re-mis en question. Nous, chercheurs en ges-tion, nous nous devons de répondre à ces défis; nos sociétés et nos organisations nous attendent à ce sujet. Pour ce faire, les expé-riences sociales qui cherchent à y répondre dans nos univers respectifs se doivent d’être mieux connues et partagées. En effet, un des principaux résultats de la recherche en ges-tion n’est-il pas d’avoir montré qu’il n’y avait pas justement de One best way ?

Les humains étant des acteurs, pro-ducteurs de leur réalité, les possibles à ce sujet sont multiples. A nous de trouver par l’imagination sociale créatrice un mode de vie plus équilibré à la fois socialement et durablement. Le mode de vie, notam-ment nord-américain n’est plus soutenable à terme, tout comme d’ailleurs dans une moindre mesure celui des Européens. En revanche, les données socioéconomiques venant des pays moins développés nous indiquent qu’il y a encore beaucoup de choses à faire dans ces pays. Cela doit nous conduire à innover, tant dans le monde scientifico-technique que dans le monde social et politique, et à revoir nos cadres de pensée à la lumière de l’histoire et de l’an-thropologie, comme nous y invitent plu-sieurs textes de ce numéro. Les réflexions des pays du Sud sont de ce point de vue, de nouveau, essentielles, pour décentrer le dé-bat, encore trop euro-américain.

Face à un tel agenda sociopolitique, l’univers de la gestion et des études organi-sationnelles qui s’y rattachent doit désor-mais privilégier avant tout des recherches

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pertinentes socialement plutôt que des dé-bats méthodologiques ou théoriques abs-traits, comme on peut malheureusement trop souvent l’observer dans bien des re-vues contemporaines, et des perspectives critiques fondées sur de véritables don-nées empiriques. Cette inflexion se fera d’autant plus si de telles recherches sont enracinées dans leur contexte local, natio-nal et régional, si elles mettent en lumières la manière dont l’expérience est vécue en situation par les acteurs concernés, les mi-cro-situations, dont parle un des auteurs de ce numéro, et si elles font appel à des postures et des méthodes pluralistes et in-novantes.

C’est un peu l’appel auquel nous convient ici, chacun à leur manière, les au-teurs des textes présentés dans ce numé-ro. C’est une réponse sociopolitique au défi de l’hégémonie anglo-saxonne que connaît le champ de la gestion aujourd’hui, notam-ment dans les univers non anglophones. Un tel appel est d’autant plus actuel que les Etats-Unis sont dans un déclin relatif, et que nous assistons à la montée d’un monde multipolaire au sein duquel de nombreux pays en développement ont pris une place de plus en plus importante, voire centrale (Chine, Inde, Brésil, Mexique).

À la suite de cette brève réflexion, il me semble évident en définitive que l’ob-jet de ce numéro concerne la question de la défense et de l’illustration des spécificités de nos champs et de nos langues. Comme le montre ce numéro spécial plurilingue, cette défense n’est pas un signe de ferme-ture; bien au contraire, c’est un témoignage de l’ouverture et de la vitalité collective qui nous anime.

Tout comme les coordonnateurs et les auteurs de ce numéro, je tiens donc à m’as-socier à cette défense d’une vision à la fois vivante, existentielle et ouverte de nos lan-gues et de nos champs, et à réitérer que loin d’être un plaidoyer contre l’anglais et le champ anglo-américain, cette position se veut avant tout une défense de la diver-

sité linguistique, synonyme à la fois de di-versité intellectuelle et culturelle, diversité indispensables à l’ouverture vers d’autres possibles. C’est ainsi que nous pourrons faire face aux défis auxquels sont confron-tés, de nos jours, chacune de nos socié-tés et le monde dans son ensemble, en re-nouant par ailleurs avec une vieille idée de Mary Parker Follett : l’unité n’est pas syno-nyme d’uniformité.

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ESSAi | Le champ des études organisationnelles : le regard critique d’un chercheur plurilingue

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RAE-Revista de Administração de Empresas | FGV-EAESP

RESENHA

HISTORICAL TURN: EM BUSCA DE UM MARCO TEÓRICO CRÍTICO PARA ESTUDOS ORGANIZACIONAIS

ORGANIZATIONS IN TIME: History, Theory, MethodsDe Marcelo Bucheli; R. Daniel Wadhwani (Ed.). Oxford: Oxford University Press, 2014. 338 p.

Nos últimos anos, tem ocorrido uma adesão cada vez maior tanto às propostas de aprofundamento na articulação entre a perspectiva histórica e a área de Administra-ção quanto a um novo posicionamento nessa relação a partir de um marco teórico crí-tico denominado virada histórica (historical turn). A ideia é buscar um maior envolvi-mento de pesquisadores com a perspectiva histórica para além de um engajamento superficial com o passado que apenas contemple estudos longitudinais e fontes his-tóricas para testes e ilustrações de teorias, modelos e hipóteses originadas em con-textos externos hegemônicos, como é o caso de grande parte das pesquisas que do-minam hoje os Estudos Organizacionais.

No entanto, apesar da emergência de um contexto promissor para discussões, ain-da são poucas as publicações que buscam sistematizar essa aproximação. É nesse sentido que o livro em questão adquire importância. Estruturado na forma de uma co-leção de estudos, busca problematizar a temporalidade das organizações, assumindo que a aproximação entre as áreas não é recente, consensual nem óbvia. Assim, o ar-gumento central da obra é propor reflexões acerca: (1) do que se entende por história; (2) de por que a história é importante para a compreensão dos gestores, das organiza-ções e do mercado; e (3) de quais métodos e práticas históricas podem ser utilizados por pesquisadores organizacionais (ver capítulo 1).

A primeira parte do livro, “History and theory”, propõe caminhos alternativos para superar diferenças epistemológicas (e seus pontos de tensão) entre a história e os Estudos Organizacionais. Assim, no capítulo 2, “History and organizations studies: a long-term view”, Usdiken e Kipping buscam identificar e sistematizar o papel desem-penhado pelo raciocínio histórico nos Estudos Organizacionais durante o século XX. A partir do olhar da academia norte-americana e europeia, os cinco momentos des-se percurso permitem identificar movimentos de aproximação e afastamento entre as áreas até os dias de hoje. No capítulo 3, “History and organization theory: potential for a transdisciplinary convergence”, Leblebici problematiza em que medida apresen-ta-se viável e/ou desejável a aproximação entre história e teoria organizacional e em que termos essa relação poderia se configurar. Ao analisar as similaridades e diferen-ças teóricas, epistemológicas e metodológicas entre as áreas, propõe uma abordagem transdisciplinar (legitimando diferentes formas de se estudar o mesmo fenômeno) em vez das recorrentes propostas de interdisciplinaridade. No capítulo 4, “Historical ins-titutionalism”, Suddaby, Foster e Mills discutem o papel da história nos estudos dos processos institucionais, chamando a atenção para uma inerente natureza histórica

PorAlessandra de Sá Mello da Costa

[email protected] em Administração pela Pontifícia

Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Administração – Rio de

Janeiro – RJ, Brasil

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-759020150213

233RESENHA | Historical Turn: em busca de um marco teórico crítico para estudos organizacionais

ISSN 0034-7590 © RAE | São Paulo | V. 55 | n. 2 | mar-abr 2015 | 232-233

das instituições. Como desdobramento, assumem que a epistemologia histórica não só é compatível mas também crucial para um melhor entendimento de certos aspectos do institucionalismo, cunhan-do o termo Institucionalismo Histórico. No capítulo 5, “History and evolutionary theory”, Lippmann e Aldrich sugerem que a teoria evolucionária (por meio de um modelo metateórico) pode ser especial-mente útil para integrar a pesquisa his-tórica com as pesquisas organizacionais dominantes e suas tradicionais práticas, operando por meio de um processo heu-rístico de variação, seleção e retenção. E, no capítulo 6, “History and the cultu-ral turn in organization studies”, Rowlin-son e Hassard defendem que os desafios epistêmicos apresentados por uma vira-da histórica requerem uma história des-construcionista que – de uma perspecti-va culturalista – considere as narrativas presentes nas configurações organiza-cionais como representações do passa-do sempre de maneira crítica e autorre-flexiva.

A segunda parte, “Actors and markets”, concentra os artigos que buscam entender como a lógica e o raciocínio histórico po-dem ajudar nas pesquisas organizacionais a partir dos seguintes pontos: (1) Como o tempo e a temporalidade enquadram e constrangem as ações dos atores organi-zacionais, do mercado e dos Estados?, (2) Como a identidade dos atores e suas moti-vações para agir são construídas pelas per-cepções de seu lugar (como agentes) no tempo histórico? e (3) Como pensar de for-ma mais crítica a partir do questionamento histórico de conceitos e ideias já estabele-cidas? (ver capítulo 1).

Dessa forma, no capítulo 7, “Mining the past: historicizing organizational le-arning and change”, Fear destaca a im-portância do uso da periodização histó-rica como uma ferramenta de pesquisa organizacional para sistematizar e con-textualizar o comportamento organiza-

cional em um percurso temporal. No ca-pítulo 8, “Schumpeter’s plea: historical reasoning in enterpreneurship theory and research”, Wadhwani e Jones ressaltam a importância do uso da periodização do comportamento empreendedor com base no ambiente institucional para a revela-ção de como os processos de alocação de recursos têm sido diferentemente organi-zados ao longo do tempo. No capítulo 9, “Historicism and industry emergence: in-dustry knowledge from pre-emergence to stylized fact”, Kirsch, Moeen e Wadhwani analisam os antecedentes históricos das indústrias com o objetivo de entender em que medida desenvolvimentos ante-riores dão forma a características indus-triais. Para os autores, o estudo desses antecedentes é uma oportunidade para entender as condições sob as quais no-vas tecnologias falham em serem comer-cializadas. E, no capítulo 10, “The state as a historical construct in organization stu-dies”, Bucheli e Kim destacam, de modo bastante original, o papel dos anteceden-tes do Estado em determinar como (e por que) ocorre o processo de conferir legiti-midade às organizações dentro de suas fronteiras.

A terceira e última parte do livro, “Sources and methods”, concentra os ar-tigos que buscam entender o que é uma pesquisa histórica e quais são os seus métodos e práticas usuais no contexto das pesquisas organizacionais.

Assim, no capítulo 11, “Understan-ding historical methods in organization studies”, Yates compara o método histó-rico com métodos qualitativos e quanti-tativos já utilizados na área de Estudos Organizacionais para destacar seme-lhanças e diferenças. A ideia defendi-da é a de que a pesquisa histórica não é apenas um tipo de pesquisa organi-zacional qualitativa, e contribui para explorar fenômenos históricos, clarear processos em um contexto histórico es-pecífico e melhor compreender proces-

sos de mudança em grandes períodos. No capítulo 12, “Historical sources and data”, Lipartito aprofunda-se na discus-são sobre dados e fontes com o objeti-vo de apresentar como os historiadores engajam-se em pesquisas para desco-brir e organizar suas fontes; como usam essas fontes para construir argumentos históricos; e como estabelecem a cre-dibilidade de suas pesquisas. O autor também faz uma breve discussão so-bre arquivos, destacando sua estrutura, formas de acesso e diversidade de fon-tes. E, por fim, no capítulo 13, “Analyzing and interpreting historical sources: a ba-sic methodology”, Kipping, Wadhwani e Bucheli propõem – em um dos capítulos mais interessantes do livro – uma me-todologia básica para Estudos Organi-zacionais usando fontes históricas, em particular para pesquisadores que de-sejam publicar pesquisas históricas em periódicos de gestão. A metodologia proposta contempla os elementos bási-cos da metodologia histórica combinan-do críticas interna e externa das fontes (buscando determinar a sua validade); triangulação de diferentes fontes; e in-terpretação hermenêutica (situando do-cumentos analisados em seus contextos históricos).

Enfim, apesar de serem várias as for-mas possíveis de utilização da perspecti-va histórica para interpretar o significado das ações organizacionais no tempo e no espaço, os 13 capítulos do livro nos mos-tram as potencialidades da pesquisa his-tórica e o valor de se reconhecer: (1) que o seu raciocínio surge de uma diferente tradição epistemológica e de pesquisa; (2) que o exame dessas especificidades contribui para um diálogo mais significa-tivo e profundo sobre a incorporação da história nos estudos das organizações; e (3) que torna possível vincular critica-mente pesquisadores organizacionais aos seus próprios contextos como agen-tes históricos de ação e de mudança.

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ISSN 0034-7590© RAE | São Paulo | V. 55 | n. 2 | mar-abr 2015 | 234

INDICAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS

Estudos pós-coloniais e diálogos interculturaisMarina Dantas de Figueiredo | [email protected]

Nos anos 1990, críticas pós-colonialistas que denunciavam a hegemonia da matriz colonial nas relações conhecimento/poder chegaram aos Estudos Organizacionais (EOs), anunciando o resgate de diferentes formas de pensar o fenômeno organizacional com base em compreensões interculturais e contextualizadas. Desde o surgimento da Administração como disciplina no século XX, práticas e discursos alinhados com epistemologias euro-americanas têm-se reproduzido no mundo todo, por meio do colonialismo e do capitalismo. De maneira sub-reptícia, modelos de gestão e processos organizacionais autóctones ou localmente forjados foram marginalizados e esquecidos. Apesar disso, diálogos interculturais que envolvam Norte-Sul/Oriente-Ocidente, para além das relações de poder verticalizadas que marcam a modernidade, são possíveis. Com base nessa visão, construída por leituras sobre multiculturalismo e estudos pós-coloniais, a professora Marina Dantas de Figueiredo (Unifor) indica as seguintes referências.

CORE-PERIPHERY RELATIONS AND ORGANIZATION STUDIES.Robert Westwood; Garvin Jack; Fazard Khan e Michael Frenkel (Editors). London: Palgrave Macmillan, 2014. 272 p.

Em capítulos que combinam análises teóricas e contribuições empíricas, a coletâ-nea tem por objetivo recuperar o caráter histórico da disciplina e da prática da ges-tão e, com isso, ressaltar a persistência do colonialismo nesse domínio. Uníssona entre os colaboradores é a afirmação de que conhecimentos indígenas sobre ges-tão e organização são fundamentais para desafiar as estruturas centro-periferia, relacionadas a análises do sistema-mundo e à teoria da dependência.

EPISTEMOLOGIAS DO SUL.Boaventura de Souza Santos e Maria Paula Meneses (Orgs.). São Paulo: Cortez, 2010. 637 p.

O título do livro, que parece claro à primeira vista, pode ser reinterpretado quan-do se observa a origem 18 autores que colaboraram com a escrita de capítulos. A ideia de Sul Global ganha novas fronteiras quando pensadores da Europa, da América, da Ásia e da África se reúnem para pensar sobre colonialidade, tradição, geopolítica e lugar, a partir de contextos culturais e políticos específicos de pro-dução de conhecimento.

EVERYDAY GEOGRAPHY OF THE GLOBAL SOUTH.Jonathan Rigg. New York: Routledge, 2007. 264 p.

O livro parte do argumento de que viver na modernidade, sob a égide de gover-nos e organizações, impõe padrões e ritmos à vida cotidiana. Mais do que isso, o mundo moderno condiciona estruturas e formas de agência que se tornam de-terminantes das relações entre as pessoas e com o ambiente. Daí surge o interes-se em repensar a geografia do Sul Global a partir das práticas de indivíduos e co-munidades.

STRANGE ENCOUNTERS: Embodied others in post-coloniality.Sarah Ahmend. New York: Routledge, 2000. 212 p.

O livro analisa a construção do “estranho” em oposição ao sujeito ocidental tí-pico a partir da perspectiva do feminismo pós-colonialista. Seu argumento rota-ciona a questão da relação com o outro – usualmente centrada na ideia de alteri-dade, construída pela antropologia moderna –, e amplia o raio de entendimento para o outro-como-estranho (strangeness). Questões como migrações, multicultu-ralismo e globalização podem, então, ser entendidas a partir das diferenças polí-ticas dos corpos.

UNBECOMING MODERN: Colonialism, modernity, colonial modernities.Saurabh Dube e Ishita Banerjee-Dube (Editors.). New Delhi: Esha Béteille, 2006. 257 p.

Da reunião de textos de au-tores do Sul da América e da Ásia, surge um livro que prob-lematiza concepções unívocas e totalizantes sobre a moderni-dade a partir de seus própri-os pressupostos, contidos na ideia de “modernidades colo-niais”. Ao pluralizar coloniali-dade e modernidade com um neologismo dúbio, que é por-tador tanto de possibilidades quanto de problemas episte-mológicos, busca-se rever a história e indicar horizontes e perspectivas para os estudos pós-coloniais.

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-759020150214

235Indicações Bibliográficas

ISSN 0034-7590 © RAE | São Paulo | V. 55 | n. 2 | mar-abr 2015 | 235

Os estudos organizacionais no sul global: perspectivas latino-americanasGuilherme Dornelas Camara | [email protected]

O conhecimento produzido a respeito das organizações e do organizar no Sul Global tem sido pautado pela colonialidade, reproduzindo teorias, referências e lógicas do pensamento do Norte Global, especialmente anglo-saxônico. No entanto, há tempos, a pertinência e o alcance da importação desses referentes estrangeiros, especialmente na América Latina, têm sido questionados e desafiados por autores e pesquisadores que, longe de reunirem-se em um grupo teoricamente coeso, vêm contribuindo para expandir o conhecimento sobre a complexa realidade organizacional latino-americana. Cientes da colonialidade do saber e da urgência da produção de outras bases para o desenvolvimento do conhecimento organizacional, esses autores voltam suas obras para a compreensão de suas realidades locais e geração de novos conhecimentos, sem sucumbir ao provincianismo. O professor e pesquisador Guilherme Dornelas Camara (Escola de Administração/UFRGS) aponta algumas dessas referências.

ECONOMIA POLÍTICA DO PODER: As práticas do controle nas organizações.José Henrique de Faria. Curitiba: Ed. Juruá, 2004. Vol. 3, 644 p.

O estudo realizado por Faria nessa obra em três volumes inaugura a abordagem da Economia Política nos Estudos Organizacionais brasileiros. Analisando as relações de poder nas organizações desde uma perspectiva crítica, o autor recupera, aprofunda e atualiza diversas abordagens sobre o tema nas organizações contemporâneas. O autor faz, também, uma investigação crítica do que se convencionou chamar Teoria Geral da Administração, relevante para professores, estudantes e curiosos sobre o tema.

PRÁTICAS ORGANIZACIONAIS EM ESCOLAS DE MOVIMENTOS SOCIAIS.Maria Ceci Misoczky e Joysi Moraes. Porto Alegre: Ed. DaCasa., 2013, 260 p.

O livro de Misoczky e Moraes apresenta contribuições para expandir a noção de práticas organizacionais, tomando como campo empírico escolas de movimentos sociais da Argentina e do Brasil, realidade praticamente desconhecida dos Estudos Organizacionais mainstream. Além do objeto diferenciado, a análise está embasada em um método peculiar: a construção de tipos ideais de práticas horizontais e de práticas verticais que possibilitam uma compreensão heurística dos fenômenos estudados.

MOMENTOS DE GRACIA: Organizar lo imposible.Alejandro Saldaña Rosas. Xalapa: Universidade Veracruzana/Universidad Autónoma Metropolitana (Unidad Iztapalapa), 2009. 379 p.

O livro apresenta algumas análises e resultados da pesquisa que Saldaña realizou no Cirque du Soleil. Relacionando arte, estudos organizacionais e sociologia clínica, o autor coloca em evidência as tensões que permeiam a criação, a gestão e o imaginário em torno do circo. As análises de entrevistas, relatos de vida e documentos oferecem um novo olhar sobre as possíveis interações entre arte e estudos organizacionais, ampliando o conceito de organização.

PESQUISA QUALITATIVA EM ADMINISTRAÇÃO.Deborah Moraes Zouain e Marcelo Milano Falcão Vieira (Orgs.). 2a ed. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2007. 224 p.

Nesse livro, Zouain e Vieira renovam a preocupação com a produção de conhecimento no campo latino-americano – marca de sua trajetória acadêmica. A obra é composta por 10 contribuições relevantes para o aperfeiçoamento dos métodos qualitativos de pesquisa na Administração. A primeira parte do livro aborda questões teóricas e epistemológicas específicas dos métodos qualitativos, enquanto a segunda apresenta aplicações para temas diversos e atuais para a Administração latino-americana e especialmente brasileira.

LABIRINTOS Y (EN)JUEGOS: (Re)Encuentros con Eduardo Ibarra Colado.Angélica Buendía Espinosa (Comp.) [y otros]. Biblioteca de la Educación Superior. México, D.F.: Anujies, 2014. 268 p.

Em uma bela homenagem pós-tuma ao professor e pesquisa-dor mexicano, esse livro apre-senta as andanças trilhadas e os diálogos aos quais Ibar-ra Colado se vinculou ao longo de sua trajetória. Os artigos de seus colegas, amigos e discí-pulos oferecem um panorama da agenda de pesquisa, dos embates teóricos e da posição epistêmica que sustentou nos Estudos Organizacionais, des-tacando o tema das universi-dades no contexto contempo-râneo da América Latina.

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S0034-759020150215

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GOVERNANÇA

Entidade de caráter técnico-científico e filantrópico, instituída em 20 de dezembro de 1944 como pessoa jurídica de direito privado, visando ao estudo dos problemas da organização racional do trabalho, especialmente nos seus aspectos administrativos e social, e à conformidade de seus métodos às condições do meio brasileiro.

Primeiro Presidente e Fundador: Luiz Simões Lopes

Presidente: Carlos Ivan Simonsen Leal

Vice-presidentes: Francisco Oswaldo Neves Dornelles, Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque,Sergio Franklin Quintella.

CONSELHO DIRETORPresidente: Carlos Ivan Simonsen Leal

Vice-presidentes: Francisco Oswaldo Neves Dornelles, Marcos Cintra Cavalcanti de Albuquerque,Sergio Franklin Quintella.

Vogais: Armando Klabin, Carlos Alberto Pires de Carvalho e Albuquerque, Cristiano Buarque Franco Neto, Ernane Galvêas, José Luiz Miranda, Lindolpho de Carvalho Dias, Marcílio Marques Moreira, Roberto Paulo Cezar de Andrade.

Suplentes: Aldo Floris, Antonio Monteiro de Castro Filho, Ary Oswaldo Mattos Filho, Eduardo Baptista Vianna, Gilberto Duarte Prado, Jacob Palis Júnior, José Ermírio de Moraes Neto, Marcelo José Basílio de Souza Marinho, Mauricio Matos Peixoto.

CONSELHO CURADORPresidente: Carlos Alberto Lenz César Protásio

Vice-presidente: José Alfredo Dias Lins (Klabin Irmãos & Cia.)

Vogais: Alexandre Koch Torres de Assis, Angélica Moreira da Silva (Federação Brasileira de Bancos), Antonio Alberto Gouveia Vieira, Andrea Martini (Souza Cruz S/A), Eduardo M. Krieger, Estado do Rio Grande do Sul, Heitor Chagas de Oliveira, Jaques Wagner (Estado da Bahia), Luiz Chor, Marcelo Serfaty, Marcio João de Andrade Fortes, Pedro Henrique Mariani Bittencourt (Banco BBM S.A), Orlando dos Santos Marques (Publicis Brasil Comunicação Ltda), Raul Calfat (Votorantim Participações S.A), Leonardo André Paixão (IRB-Brasil Resseguros S.A), Ronaldo Vilela (Sindicato das Empresas de Seguros Privados, de Previdência Complementar e de Capitalização nos Estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo), Sandoval Carneiro Junior Suplentes: Cesar Camacho, José Carlos Schmidt Murta Ribeiro, Luiz Ildefonso Simões Lopes (Brookfield Brasil Ltda), Luiz Roberto Nascimento Silva, Manoel Fernando Thompson Motta Filho, Nilson Teixeira (Banco de Investimentos Crédit Suisse S.A), Olavo Monteiro de Carvalho (Monteiro Aranha Participações S.A), Patrick de Larragoiti Lucas (Sul América Companhia Nacional de Seguros), Clóvis Torres (VALE S.A.), Rui Barreto, Sergio Lins Andrade, Victório Carlos De Marchi

UNIDADES DA FGV-SPEscola de Administração de Empresas de São PauloDiretor: Luiz Artur Ledur Brito

Escola de Economia de São PauloDiretor: Yoshiaki Nakano

Escola de Direito de São PauloDiretor: Oscar Vilhena Vieira

FGV ProjetosDiretor Executivo: Cesar Cunha Campos

Diretor Técnico: Ricardo Simonsen

Diretor de Controle: Antonio Carlos Kfouri Aidar

Vice-Diretor de Projetos: Francisco Eduardo Torres de Sá

Vice-Diretor de Estratégia e Mercado: Sidnei Gonzalez

Diretoria da FGV para assuntos da FGV-SP

Diretor: Francisco S. Mazzucca

Diretoria de Operações da FGV-SP: Mario Rocha Souza

DIRETORIADiretor: Luiz Artur Ledur Brito

Vice-Diretor: Tales Andreassi

CONGREGAÇÃOPresidente: Luiz Artur Ledur Brito

CONSELHO DE GESTÃO ACADÊMICAPresidente: Luiz Artur Ledur Brito

DEPARTAMENTOS DE ENSINO E PESQUISAAdministração da Produção e de Operações:Susana Carla Farias Pereira

Administração Geral e Recursos Humanos:Maria Ester de Freitas

Contabilidade, Finanças e Controle: Jean Jacques Salim

Fundamentos Sociais e Jurídicos da Administração: Isleide Arruda Fontenelle

Informática e Métodos Quantitativos Aplicados à Administração: André Luiz Silva Samartini

Mercadologia: Inês Pereira

Planejamento e Análise Econômica Aplicados à Administração: Arthur Barrionuevo Filho 

Gestão Pública: Henrique Fingermann

CURSOS, PROGRAMAS E SERVIÇOSCurso de Graduação em Administração:Nelson Lerner Barth

Curso de Graduação em Administração Pública: Fernando Luiz Abrucio

Curso de Especialização em Administração (pós-graduação lato sensu): Renato Guimarães Ferreira

Mestrado e Doutorado em Administração de Empresas: Ely Laureano Paiva

Mestrado e Doutorado em Administração Pública e Governo: Marta Ferreira Santos Farah

Mestrado Profissional em Administração de Empresas (MPA): Marina de Camargo Heck

Mestrado Profissional em Gestão e Políticas Públicas: Regina Silvia Viotto Monteiro Pacheco

Mestrado Profissionalem Gestão Internacional: Edgard Elie Roger Barki

OneMBA: Marina de Camargo Heck

GVpec - Programa de Educação Continuada(em parceria com o IDE): Carlos Osmar Bertero

Núcleo de Pesquisas: Thomaz Wood Júnior

RAE-publicações: Eduardo Henrique Diniz

CENTROS DE ESTUDOSCentro de Empreendedorismoe Novos Negócios: Tales Andreassi

Centro de Estudos de AdministraçãoPública e Governo: Fernando Burgos Pimentel dos Santos

Centro de Estudos de Política e Economiado Setor Público: George Avelino Filho

Centro de Estudos em Planejamentoe Gestão de Saúde: Ana Maria Malik

Centro de Estudosem Sustentabilidade: Mário Prestes Monzoni Neto

Centro de Excelência em Logísticae Supply Chain: Manoel de Andrade e Silva Reis

Centro de Excelência em Varejo: Jacob Jacques Gelman

Centro de Tecnologiade Informação Aplicada: Alberto Luiz Albertin

Instituto de Finanças: João Carlos Douat

Centro de Estudos de Microfinanças e Inclusão Financeira: Lauro Emilio Gonzalez Farias

Centro de Estudos em Finanças: William Eid Jr.

Centro de Estudos em Private Equity: Cláudio Vilar Furtado

Centro de Estudos em Competitividade Internacional: Maria Tereza Leme Fleury

Fórum de Inovação: Marcos Augusto de Vasconcellos

International Business Research Forum(IBRF): Rodrigo Bandeira-de-Mello

Núcleo de Comunicação, Marketinge Redes Sociais Digitais: Izidoro Blikstein

Núcleo de Estudos em Organizaçõese Pessoas: Maria José Tonelli

APOIOCentro de Desenvolvimento do Ensino e da Aprendizagem: Francisco Aranha

Coordenadoria de AvaliaçãoInstitucional: Heloisa Mônaco dos Santos

Coordenadoria de Estágiose Colocação Profissional: Beatriz Maria Braga

Coordenadoria de Extensão Cultural: Daniel Pereira Andrade

Coordenadoria de Relações Internacionais: Julia Alice Sophia von Maltzan Pacheco

Serviço de Apoio e Atendimento Psicológico e Psiquiátrico aos Alunos do Curso de Graduação em Administração: Tiago Luis Corbisier Matheus

Divisão de Comunicaçãoe Marketing: Patricia Perim Freitas Santos

Alumni GV: Francisco Ilson Saraiva Junior

ASSOCIAÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS DA FGV-EAESPPresidente: Vagner Neres da Silva

DIRETÓRIO ACADÊMICO GETULIO VARGASPresidente: Gabriela Novaes Brepohl

DIRETORES DA RAEMaio/1961 a jun/65: Raimar Richers; jul/65 a dez/66: Yolanda F. Balcão; jan/67 a jun/68: Carlos Osmar Bertero; jul/68 a jun/69: Ary Bouzan; jul/69 a jun/71: Orlando Figueiredo;jul/71 a dez/72: Manoel Tosta Berlinck; jan/73 a jun/75: Robert N.V.C. Nicol; jul/75 a mar/80: Luiz Antonio de Oliveira Lima, abr/80 a mar/82: Sérgio Micelli Pessoa de Barros;abr/82 a dez/83: Yoshiaki Nakano; jan/84 a set/85: Sérgio Micelli Pessoa de Barros; out/85 a set/89: Maria Cecília Spina Forjaz; out/89 a dez/89: Maria Rita Garcia L. Durand;jan/90 a set/91: Gisela Taschner Goldenstein; out/91 a nov/95: Marilson Alves Gonçalves; dez/95 a dez/00: Roberto Venosa; jan/01 a dez/04: Thomaz Wood Jr.;jan/05 a ago/07: Carlos Osmar Bertero; ago/07 a ago/08: Francisco Aranha; set/08 a jan/09: Flávio Carvalho de Vasconcelos; fev/09: Eduardo Diniz

LINHA EDITORIAL

Foco

A RAE-Revista de Administração de Empresas tem interesse na publicação de artigos de desenvolvi-mento teórico, trabalhos empíricos e ensaios.

Aceitam-se colaborações do Brasil e do exte-rior, nos campos da Administração de Empre-sas. A pluralidade de abordagens e perspecti-vas é incentivada.

Como revista generalista na área, cobre um espec-tro amplo de subdomínios de conhecimento, pers-pectivas e questões.

O público primário da RAE é composto por acadê-micos - professores, pesquisadores e estudantes.

Submissão

Os trabalhos devem ser encaminhados à Redação pela internet por meio do ScholarOne, sistema de submissão e gerenciamento de artigos, disponibi-lizado em parceria com SciELO: http://mc04.ma-nuscriptcentral.com/rae-scielo.

Os artigos podem ser submetidos em português, inglês,  ou espanhol, observando formato e nor-mas de padronização definidos em nosso Manual da Redação. Recomendamos que os autores con-sultem ainda as Orientações para Autores, com considerações sobre posicionamento, estilo e es-trutura antes de enviar seu trabalho para a Reda-ção. O Manual da Redação e as Orientações para Autores também podem ser acessados no Espaço do Autor.

Os autores só poderão submeter um artigo por vez, (a regra será aplicada também as chamadas de trabalhos), ou seja, enquanto existir um arti-go em processo de avaliação, o autor não pode-rá submeter um segundo, como autor principal ou em co-autoria. Caso o trabalho seja rejeitado em uma das etapas do processo, o autor poderá sub-meter o mesmo artigo ou um novo artigo.

Ineditismo e exclusividade

Os artigos submetidos à publicação na RAE devem ser inéditos e não devem estar sendo considera-dos por outro periódico.

Avaliação

O processo de avaliação de artigos submetidos à publicação na RAE consiste em três etapas:1ª) triagem realizada pelo Editor chefe, que exa-

mina a adequação do trabalho à linha edito-rial da revista e seu potencial para publicação;

2ª)  avaliação preliminar por um membro do Corpo Edi-torial Científico que visa identificar a contribuição do artigo para a sua área de especialidade; e

3ª) avaliação double blind review.

A avaliação double blind review é coordenada por um membro do Corpo Editorial Científico da área de especialidade do artigo, e consiste na intera-ção entre os autores e dois pareceristas especia-listas que, ao avaliar os trabalhos, fazem comen-tários e oferecem sugestões de aperfeiçoamento. Essa etapa envolve reavaliações contínuas, reu-nindo esforços para aprimoramento dos artigos.

Para familiarizar-se com os quesitos levados em consideração pelos pareceristas, sugerimos aos autores que consultem os formulários-modelo, disponíveis em Orientações para Pareceristas. Ha-bitualmente, os editores científicos e editor-chefe acrescentam às sugestões dos revisores um acon-selhamento editorial, cujo objetivo é adequar o ar-tigo aos padrões da revista.

Preparação para publicação

Depois de aprovado, o artigo é submetido à edi-ção final e à revisão ortográfica e gramatical.

Direitos autorais

A FGV-EAESP/RAE detém os direitos patrimoniais dos artigos que publica, inclusive os de tradu-ção e adota a Licença de Atribuição Não-Comer-cial (BY-NC) do Creative Commons (http://creati-vecommons.org/licenses/by-nc/2.0) em todos os trabalhos publicados, exceto quando houver indi-cação específica de outros detentores de direitos autorais. Em caso de dúvidas, solicitamos consul-tar a Redação ([email protected]).

Mais informaçõesGrande São Paulo: (11) 3799-3717Outras localidades: 0800 16 [email protected]/gvcasos