ffp / uerj ( universidade estadual do rio de …‰ria almeida dos santos.pdf · em língua...

74
FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO) DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA 1º SEMESTRE 2004 A INFLUÊNCIA DA ORALIDADE NA ESCRITA DO ENSINO FUNDAMENTAL 2º SEGMENTO VALÉRIA ALMEIDA DOS SANTOS Trabalho referente ao final do curso de Pós-graduação Em Língua Portuguesa, apresentado ao Professor Antônio Sérgio SÃO GONÇALO JULHO / 2004

Upload: lekhanh

Post on 14-Dec-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO) DEPARTAMENTO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA 1º SEMESTRE – 2004

A INFLUÊNCIA DA ORALIDADE NA ESCRITA DO ENSINO FUNDAMENTAL – 2º SEGMENTO

VALÉRIA ALMEIDA DOS SANTOS

Trabalho referente ao final do curso de Pós-graduação Em Língua Portuguesa, apresentado ao Professor Antônio Sérgio

SÃO GONÇALO

JULHO / 2004

Page 2: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

2

2

SUMÁRIO

FOLHA DE ROSTO DEDICATÓRIA AGRADECIMENTOS EPÍGRAFE SUMÁRIO RESUMO INTRODUÇÃO CAPÍTULO 1 – A IMPORTÂNCIA DE UMA COMUNICAÇÃO EFICAZ E A LINGUAGEM

1.1 – REFLEXÕES SOBRE O DIZER E O PENSAR 1.1.1 – FALAR E DIZER

1.2 – A LINGUAGEM E OS HEMISFÉRIOS CEREBRAIS 1.3 – VYGOTSKY – A IMPORTÂNCIA DA FALA MATERNA COMO

ESTÍMULO AO PENSAMENTO E O SEU SÓCIO-INTERACIONISMO

1.3.1 – O SÓCIO-INTERACIONISMO DE VYGOTSKY 1.4-A LINGUAGEM DOS PAIS E O DESENVOLVIMENTO PRÉ-NATAL 1.5 – O “MOTOR” DA LINGUAGEM: A IMPORTÂNCIA DA FALA INTERIOR 1.6 – A LINGUAGEM, O PENSAMENTO E AS INTELIGÊNCIAS 1.7 – A CONQUISTA E O TREINO DA LINGUAGEM CAPÍTULO 2 – A ESCRITA 2.1- CARACTERÍSTICAS DA ESCRITA 2.2- ESCRITA E LÍNGUA NACIONAL 2.3- A LÍNGUA ESCRITA EM FUNCIONAMENTO 2.4- A ESCRITA COMO BEM CULTURAL CAPÍTULO 3 –A LÍNGUA ORAL E A LÍNGUA ESCRITA 3.1 – AS DIFERENÇAS ENTRE A FALA E A ESCRITA 3.2 – DA FALA PARA A ESCRITA 3.3 – TRAÇOS CARACTERÍSTICOS DA EXPOSIÇÃO ORAL E DA EXPOSIÇÃO ESCRITA 3.3.1 – PRESENÇA DA ORALIDADE E DA ESCRITA NA SOCIEDADE 3.3.2 – AS RELAÇÕES DE PODER NA SALA DE AULA – INFLUÊNCIA DA LINGUAGEM ORAL E ESCRITA NO COTIDIANO ESCOLAR 3.3.3 – A REDAÇÃO 3.4 – A CORREÇÃO DA LINGUAGEM CAPÍTULO 4 – ENSINO-APRENDIZAGEM EM LÍNGUA PORTUGUESA CONCLUSÃO BIBLIOGRAFIA ANEXOS

Page 3: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

3

3

RESUMO

Este trabalho tem por objetivo enfocar o estudo da oralidade na tentativa de acabar

com o preconceito que a atinge, descrevendo o quanto a língua oral é rica, mostrando como

o povo conhece sua língua e a usa de forma adequada; muitas estruturas usadas pela

linguagem oral são consideradas erradas, mas são consideradas normais e aceitas em várias

línguas com tradição na escrita, entre elas a chinesa.

Sendo assim, o professor da Língua Portuguesa ao tomar conhecimento das

estruturas orais, irá refletir sobre a estrutura produzida pelo aluno e junto com este, chegar

às normas gramaticais, estabelecendo sempre um parâmetro e dando a opção da escolha,

mas nunca desprezando o texto produzido pelo aluno ou só valorizando a parte gramatical.

Logo, o educando terá na língua oral um bem cultural a ser valorizado, aprendido e

aperfeiçoado,já que uma boa comunicação não é feita só por não ter erros gramaticais , mas

sim por conter palavras apropriadas para passar o que se é pretendido.

Page 4: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

4

4

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem o objetivo de refletir sobre a influência da oralidade na escrita dos

alunos do ensino fundamental do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos

educandos em suas ações.

Pode-se partir do princípio geral de que a língua é uma atividade sociointerativa,

histórica e cognitiva, e não um sistema de regras ou simples instrumento de informação.

Com isto, a análise das relações existentes entre oralidade e escrita é fundamental, já que

falar ou escrever bem não é ser capaz de utilizar com perfeição as regras da língua, mas é

usar adequadamente a língua para produzir um efeito de sentido pretendido numa dada

situação. Daí, convém citar as diferentes funções de linguagem, onde cada uma tem a sua

finalidade própria e, se bem usada, é a chave para um trabalho bem feito e com sucesso.

Observa-se, também, que a oralidade e a escrita são duas modalidades de uso da

mesma língua. Apesar de ambas serem sistemáticas, regradas, valiosas e capazes de

expressar tudo o que o ser humano pensa, sente, faz ... enfim, suas ações, elas têm

diferentes modos de utilização e até, mesmo, usos bem particulares. Isto não quer dizer que

uma modalidade tem supremacia sobre a outra, desfazendo desta forma o preconceito sobre

a língua falada, tida com o lugar do caos e da falta de planejamento, o que não é verdade,

pois a língua falada tem suas próprias regras de utilização e sofre influências das diferentes

classes sociais que a utiliza.

A reflexão destes dois tipos de modalidades – a fala e a escrita – da Língua

Portuguesa é de fundamental importância para a erradicação dos preconceitos a respeito da

fala, tão comuns em épocas passadas.

Este estudo da oralidade é uma necessidade atual , visto que até os Parâmetros

Curriculares Nacionais, propostos pelo MEC, para o ensino do Português nos níveis

Fundamental e Médio, abordam este problema e sugerem uma especial atenção à oralidade.

Portanto este trabalho busca na teoria os conhecimentos que fundamentam a

influência da linguagem oral e escrita no cotidiano escolar do ensino fundamental.

Page 5: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

5

5

Encontrar caminhos significativos no trabalho com o ensino fundamental, levantar

hipóteses da atuação do educador nessa área e de como a linguagem está inserida nas

relações de poder que ultrapassam o ambiente escolar é um dos objetivos desta monografia.

O uso que o educando faz da linguagem fornece indícios quanto ao processo de

diferenciação entre o “eu” e o “outro”. Um exemplo disto é quando uma criança pequena

usa o seu próprio nome em substituição ao pronome “eu” para referir-se a si mesma,

conjugando o verbo na 3ª pessoa: “Fulano quer isso.” É um modo particular e único das

crianças se expressarem. Logo, a própria linguagem favorece o processo de diferenciação,

ao possibilitar formas mais objetivas de compreender o real. Além de enriquecer as

possibilidades de comunicação e expressão com o outro, a linguagem representa um

poderoso veículo de socialização.

É pela linguagem que qualquer ser humano é inserido em uma sociedade, atribuindo

significados e sendo compreendido pelo outro. Cada língua / fala carrega, em sua

organização marcas históricas e culturais de ver e compreender o mundo, já que a este se

relacionam as características de culturas e grupos sociais singulares. Ao aprender a língua

materna, a criança se apropria desses conhecimentos, construindo um sentido de inserção a

um determinado grupo social.

É por meio da linguagem que o ser humano pode ter acesso a outras realidades sem

passar, necessariamente, pela experiência concreta. Pode-se ter acesso a realidades

diferentes através da fala, dos escritos e, até mesmo, das linguagens não-verbais, o desenho,

os sons, os gestos ... Porém, neste caso, a fala e a escrita – linguagem verbal- têm

supremacia sobre a outra não-verbal, pois os relatos orais ou escritos são de mais fácil

acesso e entendimento. Com os recursos da fala e da escrita, o ser humano tem acesso a

mundos distantes e imaginários. As histórias de cada povo são inesgotáveis fontes de

informações culturais, porque demonstram a vivência concreta de cada um deles.

Por isso, há várias razões para se crer que a interação mediada pela fala e escrita tem

papel importante, não apenas na construção do conhecimento escolar, mas também no

desenvolvimento completo do ser humano.

Aprender uma língua não é somente aprender as palavras, mas também os seus

significados culturais, e, com eles, os modos pelos quais as pessoas do seu meio

sociocultural entendem, interpretam e representam a realidade.

Page 6: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

6

6

Ser letrado é muito mais que saber ler ou reconhecer as letras, é entender o

significado das palavras e poder através delas, mudar a si mesmo, o outro e o mundo.

A abordagem da fala, da escrita, o modo como as pessoas utilizam cada uma delas,

as regras próprias de cada uma, enfim tudo que a este tema se relacione será mencionado e

esclarecido no decorrer deste trabalho.

Page 7: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

7

7

CAPÍTULO 1

A IMPORTÂNCIA DE UMA COMUNICAÇÃO EFICAZ E A

LINGUAGEM

No mundo moderno, a palavra comunicação tornou-se lugar-comum e transformou-

se em força de vitalidade na observação das relações humanas e no comportamento

individual.

A necessidade de comunicar-se é intrínseca ao homem, que vive em permanente

interação com a realidade que o cerca e com os outros seres humanos, Sendo assim, a

comunicação é um processo social e, sem ela, a sociedade não existiria. Mas, o que é

comunicação? É a troca de mensagens ou informações; a transmissão de sentimentos e

idéias, buscando o entendimento, a compreensão, ou seja, o contato.

Para comunicar-se com os outros seres humanos, o homem utiliza sistemas

organizados de sinais, chamados de linguagem.

Essa forma de comunicar-se, isto é, a linguagem, pode ser de várias formas: com a

utilização de palavras escritas ou faladas (linguagem verbal); com gestos, expressões

fisionômicas, desenhos, cores, sinais visuais (linguagem não- verbal).

Porém, apesar de seu desejo de comunicação, nem sempre o ser humano consegue

fazer com que sua mensagem atinja outro ser humano. Logo, para que haja comunicação

eficaz, são necessários alguns elementos: o emissor (que envia a mensagem), o receptor

(que recebe a mensagem), a mensagem (que é a informação que o emissor deseja enviar ao

receptor), o código (que é um conjunto de sinais organizados e escolhidos pelo emissor

para transmitir a mensagem), o canal (que é o contato entre o emissor e o receptor, ou seja,

o elemento através do qual a mensagem propaga-se) e o referente ( que é aquilo de que o

emissor está falando). Com isso, nota-se que para a eficácia da comunicação é necessário

que o emissor e o receptor tenham o mesmo código, caso contrário não ocorrerá

comunicação. Além disso, caso haja uma interrupção no canal (um ruído, um borrão na

mensagem escrita, por exemplo) a mensagem não chegará a seu destinatário ou chegará

com interferência que poderá, até mesmo, distorcer o referente e a mensagem.

Page 8: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

8

8

Portanto, a boa comunicação pode ser desenvolvida e ampliada através da busca por

um maior conhecimento do código e de suas propriedades (linguagem regional, gírias,

linguagem coloquial e formal, jargão, etc.) e também através de experiências reais de

comunicação.

1.1- Reflexões sobre o pensar e o dizer

A linguagem, em conceito amplo, é o modo pelo qual se faz uma comunicação. Pode

ser verbal (fala e escrita) e não-verbal (desenhos, gestos, sons, figuras, mímicas,etc.).

Apesar de ambas serem importantes e transmitirem uma comunicação, a primeira – a verbal

– é de fundamental importância para o homem, já que pode com facilidade, substituir as

outras não – verbais.

Apenas o homem é capaz de expressar-se através da linguagem verbal- a fala e a

escrita. Talvez seja esta a principal diferença entre o ser humano e os outros seres – o uso

da palavra.

Ao observar um cachorro faminto, ao lado de um homem se alimentando, verá que

ele, a seu modo, sabe solicitar o que deseja; portanto “pensa”; sendo assim, concluirá que o

homem não é o único ser inteligente no universo. O que difere ou falta ao cão é a palavra,

ferramenta essencial para exprimir sua vontade de comer. Ele pensa, mas não diz, isto é,

não usa a palavra para se expressar.

A palavra é muito mais do que um instrumento a serviço do pensar, instrumento que

à sua falta impede ao cão pensamento similar ao do ser humano. Em todos os seres

humanos a linguagem é um importante recurso de comunicação mas, muito mais do que

isso, é também veículo de uma linguagem interior, que faz do ser humano dono dessas

reflexões, dessa consciência que mesmo que venha a ter palavras, um cão jamais será capaz

de imaginar. O cão e os outros animais, com imensas diferenças de escala, pensam, mas seu

pensar é estruturalmente diferente do nosso porque eles não podem jamais refletir suas

emoções e o estado de sua consciência. Um homem sem palavras, por força de algum tipo

Page 9: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

9

9

de lesão cerebral adquirida, ainda pode falar consigo mesmo e, por meio de mímica e de

outros sinais, expressar o que sente e pensa; um animal, nunca.

Na origem da humanidade, será que o homem primitivo ao balbuciar sons que depois

viriam a ser palavras, seria capaz de pensar o que o homem pensa agora? Será que o

pensamento humano atual não se apóia no extraordinário aprimoramento do circuito

biológico inerente ao ser humano, que o faz dizer, fazendo-o progredir coletivamente,

assim desenvolvendo sua linguagem?

A resposta mais provável à primeira questão é não. A evolução biológica da

humanidade permitiu ao cérebro humano desenvolver-se de tal forma que atualmente ele

integra algo muito maior e muito mais complexo do que aquele que o ancestral da caverna

possuía. Os fósseis revelam que os primeiros Homo Sapiens apareceram em 100 e 200 mil

anos, mas a linguagem simbólica que hoje é utilizada demorou muito a ser conquistada,

entrando em uso corrente contínuo, há não mais que 50 mil anos.

Por isso, a segunda resposta é sim. Ao evoluir, o homem aperfeiçoou a linguagem e a

linguagem acelerou seu processo de evolução, ao dar novos formatos a seus pensamentos.

Entretanto, muito pouco mudou no corpo humano desde as cavernas, mas as mudanças

essenciais ocorridas na mente, graças à linguagem, fez com que o homem desenvolvesse

esquemas mais sofisticados de pensar e graças ao pensar passou a fazer muito mais. Para

confirmar a declaração anterior, basta observar a linha das conquistas da humanidade e

constatar que ela foi lenta nos primeiros 150 mil anos, mas acelerou-se rapidamente quando

a linguagem passou a ser atributo de toda uma comunidade.

Assim, é possível afirmar que uma criança, ainda que independa de outros para falar,

somente se socializa por volta dos dois anos, quando seu cérebro já a amadurece para dizer

palavras. Antes disso, é um “bichinho” dependente, quase igual a um cachorrinho. A partir

dessa idade seus pensamentos disparam. A criança precisa da fala e da interação com outros

seres humanos para a sua socialização e desenvolvimento, pois é por meio da linguagem

que a criança é iniciada na esfera simbólica que envolve os conceitos de passado e futuro,

de lugares que jamais se viu, de relações que nunca se exercitou, de eventos hipotéticos, de

sonhos imaginativos. Sem a linguagem, a criança jamais alcançará o pensamento mais

amplo e, com ele, o fascínio irresistível de seus “amigos secretos”; jamais esperará em

sonhos pelo Papai Noel ou transformará em evento a brincadeira com bonecos. A

Page 10: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

10

10

linguagem é que nos permite lidar com coisas distantes e sobre elas agir sem manuseá- las

fisicamente.

Com a aquisição de nomes, com o aperfeiçoamento da gramática universal que dá

nomes aos objetos, ocorre uma mudança crucial na relação da criança com o mundo. Dessa

forma, os nomes das coisas alteram suas relações com as coisas anteriormente sem nomes.

Para um cão, outro cão é apenas um rival ou um amigo; para uma criança, a foto de um cão

retrata um cão específico, mas a palavra “cão” se expande para todos os tipos de cães,

transformando a singularidade específica na pluralidade criativa.

Para um planeta de pelo menos 4,5 bilhões de anos, o Homo Sapiens é recente.

Surgiu há menos de 200 mil anos, mas mudou tudo, pois criou ferramentas, inventou

vários objetos, subjugou o mundo animal, descobriu a tinta, esculpiu e entalhou sua

caverna, transformando-a em casa / abrigo, encantou-se pela vida e conquistou a

consciência do passado e o medo do futuro, criando superstições e religiões. Entretanto,

toda essa revolução não teria sido possível sem a linguagem e sem a criação da fala e da

gramática social, que representaram um aperfeiçoamento da gramática universal. Ao ser

capaz de dizer para o outro ou para si mesmo suas necessidades, o homem do passado

forçou-se a pensar em uma solução , a tomar uma decisão imaginando que se a tornasse

prática não mais estaria com aquela necessidade. Como uma palavra leva a outra, a mente

humana inventou o passado e o futuro e desprendeu-se do “agora”. A fala permitiu que o

homem elaborasse o pensamento simbólico.

Com a modernidade, novas linguagens surgem e a preocupação é que o

desenvolvimento humano não seja ameaçado. Com as novas tecnologias e meios de

comunicação será que os jovens que argumentam pouco, pensam muito? Será que o bem

pensar não depende do bom uso que se possa fazer da linguagem?

Estas e outras questões precisam ser refletidas e as respostas só o futuro poderá

“dizer”.

1.1.1 – Falar e Dizer

Page 11: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

11

11

Falar e dizer podem, em algumas situações, ser sinônimos; em outras, não. Em

alguns dicionários “falar”significa dizer, porém o vocábulo “dizer” não significa

falar. Com esta diferença constatada , buscou-se na mesma fonte a origem dos dois

verbos e o que se descobriu foram diferenças essenciais, pois a palavra “falar” vem

do latim “fabulare” e a palavra “dizer” vem do verbo latino “dicere”. Com isto foi

possível chegar à diferença essencial que “dizer” é o mesmo que exprimir, expor,

recitar, proferir, declamar, afirmar, murmurar etc.; mas “falar” é bem mais que

dizer, pois significa isso tudo e ainda abrange a fábula e, dessa forma, o pensamento

diverso, o romantismo infinito de, pelo caminho das palavras, propiciar o mundo

inimaginável e indizível dos sonhos. Dizer é passar uma informação, transmitir um

recado, expressar o banal e falar é dar forma ao recado, desafiar o conteúdo,

interrogar e investigar. Falar exige pensamento, sonhos, metáforas, magia ... e dizer

é só preciso a palavra, é um discurso vazio, uma oratória inútil que não leva a nada.

Os professores e os pais deviam ensinar à criança a falar, pois assim, irá

construir idéias, pensamentos e mudar o mundo.

É essencial que a exploração da oralidade não surja como desafio ao aluno,

como tarefa eventual, mas que incorpore aos objetivos do planejamento pedagógico

e que cresça na seqüência com que deve crescer toda aprendizagem. No início, por

meio de uma discussão grupal, elaboram-se as perguntas da entrevista, tempos

depois, os alunos aprenderão a desenvolvê- las espontaneamente, sempre refletindo e

debatendo sobre tudo o que foi possível colher. Mostrar aos alunos a diferença entre

“dizer” e “falar” não é passo, é jornada. Por isso, mais tarde eles irão perceber os

diferentes modos de falar e, com certeza, saberão transformar o dizer em falar.

1.2 - A Linguagem e os Hemisférios Cerebrais

No passado, falar besteira ou contar uma piada em hora imprópria não eram

considerados decorrentes de alguma disfunção da parte direita do cérebro, porque

não havia instrumentos capazes de projetar a imagem viva de um cérebro em ação,

como hoje. Sem falar que havia um consenso neurobiológico de que era do

hemisfério esquerdo do córtex humano as funções lingüísticas; o tempo evoluiu e as

Page 12: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

12

12

percepções também. Agora são atribuídas importantes funções da linguagem ao

lado direito do cérebro.

Pessoas com lesões no hemisfério direito, vítimas de AVC ( o popular

derrame), podem falar com fluência e buscar memórias antigas, mas costumam

apresentar dificuldades para narrativas longas, criar associações por meio de

metáforas, perceber sentido nas piadas, descobrir a esperteza dos trocadilhos,

identificar a moral de uma história e outros aspectos sutis da linguagem. Antes o

hemisfério direito era exaltado por sua capacidade musical, sua sensibilidade

estética, sua criatividade e a sua ação moral conveniente; atualmente a essas funções

acrescentam-se ainda outras específicas do dizer e do ensinar.

Essas descobertas não devem ficar longe das salas de aulas e nem da

educação dos pais aos filhos, treinando-os para o bem dizer. Quando um professor

ou um pai coloca a criança sentada para proferir verdadeiras “conferências” ou

“conselhos”, conseguirão, se captarem a atenção do ouvinte, fazer trabalhar seu

hemisfério cerebral esquerdo; mas o que fazer para ativar e estimular o lado direito?

Considerando que o hemisfério direito focaliza aspectos da linguagem dando-

lhe coerência e plausabilidade, é essencial que toda aula e que toda conversa

familiar sejam enriquecidos de desafios, propostas, enigmas, e sobretudo que sejam

estimuladas a busca da lógica em uma história e a associação entre outras

aparentemente distintas. Existe uma enorme diferença entre o professor que narra

um fato, o que fala uma piada para associá- la a esse fato e um terceiro que narra,

conta a piada e propõe o desafio de levar o aluno à busca de associações, pelos

caminhos da informação e da plausabilidade. O primeiro estimulou o lado esquerdo,

o segundo, conseguiu envolver o lado direito, mas foi o terceiro, com o desafio,

quem melhor trabalhou e mais facilmente encaminhou a informação à memória. O

que se propõe ao professor, cabe perfeitamente aos pais

É evidente que narrar é bem mais fácil do que inventar metáforas, pesquisar

piadas, garimpar contextualizações, mas também é sempre mais fácil oferecer o

peixe que ensinar a pescar. Todavia, o “mais fácil”, no caso da linguagem, não é de

forma alguma “o melhor”.

Page 13: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

13

13

1.3 – Vygotsky - A Importância da Fala Materna como Estímulo ao

Pensamento e o seu Sócio - Interacionismo

Vygotsky destaca em sua obra que o desenvolvimento da fala e das

capacidades mentais de uma criança não é aprendido de forma convencional e nem

amadurece ao longo do desenvolvimento embrionário (epigênese), possuindo, em

vez disso, uma natureza social, que ocorre com a interação da criança com os

adultos que a cercam. Os pais não ensinam uma criança a falar com a ensinam a

usar a escova de dentes ou o talher.

Com a convivência a criança internaliza os instrumentos culturais da língua

para organizar sua maneira de pensar. A capacidade de pensar de forma cada vez

mais abstrata não é algo que ocorra espontaneamente, de maneira automática como,

por exemplo, o aparecimento de dentição; trata-se de um processo que jamais pode

dispensar a mediação concretizada por representantes da cultura que cercam essa

criança. Para Vygotsky, a diferença entre um adulto reflexivo e um outro alienado,

que reproduz apenas o pensamento do outro como sendo seu, não constitui

fenômeno biológico, mas sim resultado da forte presença cultural de adultos –

principalmente da mãe – mediando o crescimento da criança. Quando adultos, nossa

maneira de pensar é bem menos como a biologia nos fez e muito mais como, em

nossa infância, atuaram com sua fala estimuladora os adultos que nos cercaram.

Assim sendo, a criança nasce com seus sentidos e, portanto, pode aprimorá-

los sozinha – ainda que a ajuda externa traga benefícios indiscutíveis -, mas não

pode, sozinha, adquirir uma língua, pois sua epigênese assim determina, ou seja, ela

necessita da ajuda de uma outra pessoa que domine a capacidade e a competência

lingüística para atingir essa capacidade. Quanto mais competência essa pessoa tiver,

melhor uso fará dela, e, evidentemente, melhor ajuda prestará à criança. Isto pode

ser observado na fala e na escrita das crianças de diferentes classes sociais.

É importante ressaltar que “falar” com a criança é bem menos importante que

“conversar” com ela, pois é a sua participação que permite que ocorra o

Page 14: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

14

14

desenvolvimento – o jogo - em seu sentido etimológico. Quem joga, joga com

alguém e não há jogo se um apenas ouve o que o outro tem a dizer.

É importante que os adultos conversem com a criança passo a passo, a níveis

de linguagem progressivamente mais elevados, ajudando-a a construir a imagem do

mundo que a língua personifica, vinculada à cultura à qual essa criança pertence. Os

adultos precisam se colocar um passo adiante do nível de linguagem em que a

criança se encontra, portanto em sua zona de desenvolvimento proximal, isto é,

posicionarem-se no nível ao qual a criança pode chegar e não repetir apenas a

situação na qual ela se encontra. Por esse motivo é condenável querer falar com a

criança como que a imitando.

Conversar ajuda muito ,mas se a conversa tiver respaldo no que a criança vê e

percebe, na sua experiência de mundo,independentemente da que lhe é dada por

seus sentidos, a ajuda ainda é maior. Além disso, nesse intercâmbio intelectual entre

adulto e criança é imprescindível uma troca emocional, pois tão forte como a

relação entre linguagem e pensamento é a relação entre linguagem, pensamento e

afeto. Se essa conversa não puder ser fortemente marcada pelo afeto, não é muito

importante que seja concretizada.

Em suma, se a comunicação que a criança recebe em seus primeiros

momentos de vida, incluindo o pré-natal, for imprópria, tanto no plano intelectual

quanto afetivo, haverá indiscutíveis conseqüências para o crescimento intelectual e

emocional da criança.

O adulto, e principalmente a mãe, tem um imenso poder em suas mãos na

comunicação que vierem a ter com as crianças e, precisam, por isso, ter uma

conversa enriquecida e enternecida de “porquês”, de “como”, com o objetivo de

estimular a mente e fortalecer o pensamento com perguntas e desafios, propostas e

curiosidades, valendo-se do entorno da criança e do que ela vê, percebe e descobre.

O sentido da palavra “jogo” aqui empregada está próxima da significação

etimológica dessa palavra, onde jogo é desafio, é estímulo e não competição com

vitoriosos e derrotados. O jogo é visto como um instrumento de cooperação e de

relação interpessoal entre duas ou mais pessoas, estruturado por regras claramente

estabelecidas.

Page 15: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

15

15

Logo, se a criança viver num mundo desafiador e estimulador a sua

curiosidade e saber para ela será bem melhor; cabe ao adulto fornecer isto a ela.

1.3.1 - O Sócio-Interacionismo deVygotsky

Uma das primeiras referências da existência humana na Terra aparece nas

imagens desenhadas nas cavernas, hoje denominadas de “arte rupestre”. Pode-se,

então, dizer que a comunicação, através da linguagem (desenhos) está presente no

mundo desde que o homem é homem.

Para Vygotsky, a importância da linguagem na existência humana é o grande

papel da interação social no desenvolvimento dos processos psicológicos superiores.

Ele aponta para a importância da linguagem como pensamento, afirmando

que a função planejadora da fala introduz mudanças qualitativas na forma de

cognição da criança, reestruturando várias funções psicológicas, como a memória, a

atenção voluntária, a formação de conceitos, etc. Como diz Freitas (1994,p.24):

“O pensamento não é simplesmente expresso em palavras, é por meio delas

que ele passa a existir.”

Para ele, a linguagem age decisivamente na estrutura do pensamento, e é

ferramenta básica para a construção de conhecimentos. A linguagem em seu sentido

amplo é considerada como um instrumento por este autor, pois ela atuaria para

modificar o desenvolvimento e a estrutura das funções psicológicas superiores,

tanto quanto os instrumentos criados pelos homens modificam as formas humanas

de vida.

Embora o pensamento e a linguagem tenham origens diferentes, acabam por

sintetizar-se dialeticamente no desenvolvimento. Nas crianças pequenas, o

pensamento evolui sem linguagem. E, com o tempo, começam a perceber a função

social da linguagem, que evolui do balbucio para as primeiras palavras. Neste

ponto, a fala passa a servir ao intelecto e o pensamento a ser verbalizado.

Page 16: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

16

16

Ele afirma que num 1º momento, o conhecimento se constrói de forma inter-

subjetiva (entre pessoas) e num 2º momento, de forma intra-subjetiva (no interior do

sujeito).

Ao cuidar de uma criança, o adulto não só lhe proporcionam cuidados físicos,

mas também oferece a ela representações sociais (imagens, idéias e expectativas)

que a introduz no mundo da cultura.

O bebê nasce num mundo simbólico, onde significados vão sendo usados

pelos indivíduos para controlar seu ambiente e a si próprios. É na interação que

estabelece os outros membros de sua cultura (mãe, pai, irmãos, colegas,

professores) e, é com os meios de comunicação, em geral, que as crianças vão

construindo seu próprio sistema de significados.

Embora dependa de sua constituição orgânica e ao mesmo tempo, das

possibilidades de ação e interação que lhe é oferecida pelo ambiente, a criança pode

optar entre diferentes modos de comportamento, construindo novos modos de ação.

As diferentes interações a que é submetida é fundamental para que isto ocorra.

Lentamente, a criança constrói significados, conhecimentos, valores,

dialogando com si mesma,com o outro e com o mundo; levantando hipóteses,

opiniões, concepções e perspectivas sobre algum assunto.

A linguagem, então, vem especificar o movimento de internalização. Quando

fala evolui para o plano interior, entra em ação o significado. Este é o fenômeno do

pensamento que ganha corpo por meio da fala ,e só é fenômeno da fala caso a

palavra esteja ligada ao pensamento; é um fenômeno do pensamento verbal e da fala

significativa.

A palavra ganha sentido e este se modifica de acordo com a situação e a

mente que a utiliza. Logo, o contexto social tem forte influência sobre o sentido das

palavras.

Portanto a linguagem para ele é uma função social e comunicativa, com papel

primordial na interação social e na constituição de subjetividade, pois a criança ao

entrar em contato social com o outro, ela entre em contato consigo mesma.

Nas salas de aulas do ensino fundamental, o uso das palavras, sua combinação

em frases e seus significados, muitas vezes revelam o poder dos professores. É

Page 17: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

17

17

necessário que os professores saibam dar “voz e vez” aos educandos, pois é desta

relação (democrática e hierarquizada), deste diálogo interessado de ambas as partes,

que nascem conhecimentos e valores significativos e por isso ,duradouros e úteis.

Ainda hoje, discutem-se as idéias elaboradas por Vygotsky sobre a

constituição do pensamento e a construção do conhecimento, incorporando-se o

papel do outro, discute-se como ele vê, ouve, assume significados e que operação

mental utiliza para a compreensão de palavras ditas e das não ditas (gestos,

expressões, imagens, silêncios).

A transição entre pensamento e palavra passa pelo significado. A palavra

possui um significado dicionarizado e ligado a um sentido específico. Este sentido é

construído de acordo com o momento vivido e as operações feitas a todo instante.

Há troca entre os significados emitidos e os sentidos de cada um, intermediando

afetos, desejos,memórias e emoções.

A ênfase na importância da linguagem não equivale, no entanto, a valorização

da transmissão de conteúdos de forma verbal, numa volta ao ensino tradicional,

onde o professor ensina e o aluno aprende. Este método didático já mostrou a sua

ineficácia e o engano de seu uso.

Em síntese, para Vygotsky, a linguagem é o sistema simbólico de todos os

grupos humanos, sendo a principal mediadora entre o sujeito e o objeto do

conhecimento. Em cada situação de interação, o sujeito está em um momento de sua

trajetória, levando consigo determinadas possibilidades de interpretação do material

obtido no mundo externo.

1.4 – A Linguagem dos Pais e o Desenvolvimento Pré-Natal

A maior parte dos neurocientistas que estudam o desenvolvimento cerebral

diz que o período mais sensível às influências é o que ocorre da concepção à

gestação, com ênfase especial nos últimos três meses de gravidez.

Nessa fase, a base do cérebro e do sistema nervoso cresce rapidamente e

pode sofrer danos irreversíveis não só pelas coisas que a gestante come, bebe,

Page 18: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

18

18

cheira, traga ou que involuntariamente leva em suas roupas ou cabelos, decorrentes

dos ambientes que freqüenta, como pelos intensos estados emocionais que

atravessa. Por outro lado, estímulos positivos são fornecidos pela mãe ao falar com

o feto, acariciar o ventre e propor músicas suaves.

Desde a 24ª semana de gravidez o aparelho auditivo do futuro bebê já se

apresenta formado, o que lhe permite ouvir os sons desse mundo aquático que o

envolve. As batidas do coração da mãe, os ruídos provocados pela digestão e todos

os barulhos que envolvem o bebê e seu entorno são, ainda que de forma atenuada,

captados pela futura criança.

Ao nascer a criança perde a maior parte dessas referências. Essa perda é

proporcional ao ouvir a voz da mãe, do pai, as músicas ouvidas antes do parto ... e

isto pode reter nos mecanismos de sua memória em pleno desenvolvimento. O

contraste entre os sons ouvidos no ventre e o silêncio do quarto do bebê é imenso e

isto pode provocar uma sensação de perda e insegurança, que pode ser minimizado

com a fala dos pais, ativando a memória dessa fala ainda no ventre.

Um dia o período de gravidez será compreendido não apenas como o de

cuidados alimentares, emocionais, de precaução ao uso de remédios, de estados de

estresse reduzidos, de históricos genéticos específicos em cada família, das medidas

preventivas perante eles e de programas de estimulação cerebral, mas também o de

um cuidado total com o bebê que irá nascer, o que provavelmente se dará com o

nascimento de bebês menos viciados, hiperativos, agressivos ou com problemas de

atenção, deficiências sensoriais, motoras ou cognitivas. O saber ainda é limitado,

mas um programa que envolva carícia, embalo, afago, sempre seguidos de palavras

doces, dirigidas diretamente ao ventre ou acompanhadas de músicas suaves – que se

repetirão após o nascimento -, não apenas estimula positivamente o feto como

aproxima o casal, na medida que o envolve em um importante projeto.

A estimulação fetal produz mudanças na consciência e na capacidade de

percepção do bebê, resultando em uma criança mais calma e atenta e, sobretudo

muito mais segura da ternura de seus pais e da felicidade que aguarda sua acolhida.

É importante realçar que essa linha de estímulos jamais exclui a fala e não necessita

ser de longa duração ou com maior intensidade, apenas alguns minutos por dia (5 a

Page 19: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

19

19

10) pela manhã e pela tarde, podem ocasionar extraordinárias diferenças entre

crianças que foram estimuladas na vida pré-natal e as que não o foram.

1.5- O “Motor” da Linguagem: A Importância da Fala Interior

A palavra humana é um fenômeno provocado pela vibração do ar ao se usar

com harmonia a contração de músculos que fazem parte de nossas vias respiratórias

superiores. Essa vibração produz sons diferentes que nossos pensamentos tornam

voluntários e, depois, os automatiza graças a um condicionamento auditivo e

sonoro. A ação desses músculos entra em atividade por impulsos encaminhados

pelos nervos motores especiais situados em duas áreas, não maiores que uma moeda

de dez centavos, situadas no córtex cerebral.

A produção e a compreensão da linguagem mão se acomodam em

alojamentos claramente distintos de uma geografia cerebral. Estudos recentes

obtidos por meio de Imagens de Ressonância Magnética, Ressonância Magnética

Funcional, Magneto-encefalografia e Tomografia por Emissão de Pósitrons,

associados a testes clínicos altamente específicos, mostram que a capacidade

necessária de movimentar a língua para produzir sons da fala e a capacidade de

ouvir e decodificar os mesmos sons não são sistemas independentes e nem tão

restritos, existindo até mesmo centros específicos para verbos regulares ou

irregulares, para nomes dados a cores vivas ou pedras preciosas. Sabe-se que a

neurobiologia encontra-se relativamente distante de identificar seções ou centros de

fonologia na mente humana, ainda que se saiba que é o hemisfério esquerdo que,

atingido por uma lesão, mais afeta o processamento da fala. Em termos puramente

lingüísticos, o hemisfério esquerdo, de maneira geral, parece controlar a linguagem

de praticamente todos os destros (97%), mas o hemisfério direito controla a

linguagem em cerca de 19% dos canhotos. O restante possui os centros de

linguagem no hemisfério esquerdo ou em ambos.

A linguagem articulada é uma função cerebral de localização não claramente

definida. Além disso, por se tratar de um comando motor, submete-se à dependência

dos estados dos músculos e de todos os influxos de outras origens que desembocam

Page 20: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

20

20

nos neurônios motores. Assim, falar não representa uso de órgão específico, mas

ação que ativa pontos diferentes desde o córtex pré-frontal até as estruturas baixas e

primitivas do cerebelo, o que significa, assim, que a capacidade humana de

construir a gramática é resultado de lenta evolução, embutida na genética e não no

desenvolvimento de ponto único e específico, algo como um “grão de feijão”,

localizado no hemisfério esquerdo.

O motor da fala depende de outras áreas cerebrais. Assim, a articulação da

palavra depende do centro de linguagem e das inúmeras relações deste com outras

redes neuronais e destas com núcleos diversos do sentido auditivo. Portanto, a

palavra adquire, no cérebro, uma personalidade específica, processo representado

por um amplo quadro de manobras neurônicas que envolve toda a região central do

hemisfério, entre as zonas parietal, frontal e temporal.

Um dos pontos essenciais e diferenciados deste motor é a zona da linguagem

interior, onde nascem as palavras do pensamento não expresso, imprescindível para

o desenvolvimento mais amplo das idéias. Para Vygotsky (1977), “enquanto na fala

externa o pensamento corporifica-se em palavras, na fala interior as palavras

morrem quando dão à luz o pensamento”. É como se fosse um pensamento puro,

razão pela qual necessita ser estimulada sempre.

A prática do monólogo interior é essencial, pois é por meio da fala interior

que a criança constrói sua própria identidade e a identidade de seu mundo. Nunca

interrompa ou ironize uma criança ao vê- la falando consigo mesmo, fazendo seus

bonecos conversarem , já que é aí que está acontecendo o seu processo de formação.

A mediação dos adultos na fala infantil é necessária tanto na fala externa

quanto na interior.A criança que é interrogada com doçura e curiosidade e levada a

expor o seu pensar por meio da fala interior, não pensa menos, mas de forma

diferente. A criança que, encaminhada pelo adulto, constrói seus amigos secretos,

percorre o admirável mundo do faz-de-conta. Ao interrogar uma criança de 3 ou 4

anos, solicite- lhe que pense e imagine-se em um cavalo que voa e por onde voa e,

assim, faça-a mergulhar em sua fala interior, depois, sugira que conte-lhe, com

cores e detalhes, sobre esse cavalo e sua viagem e você estará estimulando-a a

Page 21: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

21

21

expressar-se, com a fala externa, os dois níveis de pensamento que encantaram

Vygotsky.

1.6 – A Linguagem, O Pensamento e as Inteligências

De acordo com os livros, a inteligência é um potencial biopsicológico, uma

capacidade cerebral que o homem usa para resolver problemas e para criar produtos

que a sociedade considera valiosos ou que precisa. Pode ser também a capacidade

de compreender, adaptar-se aos desafios e estabelecer hierarquias entre os valores

que fazem uma pessoa viver e se relacionar. Inteligência é portanto a capacidade de

atingir objetivos diante de obstáculos por meio de decisões baseadas em regras

racionais. Desse ponto de vista, consiste em especificar objetivos, avaliar as

situações e colocar em prática diferentes operações para alcançá- los. Uma vez que a

linguagem é um instrumento do pensar, é também importante instrumento da

inteligência; quem mais a desenvolve, até mesmo conversando consigo mesmo,

mais claramente assume a consciência de suas inteligências.

Assim, a capacidade de pensar de maneira congruente se manifesta de forma

diferenciada, havendo “diversas inteligências” e não apenas uma inteligência geral,

como um dia se pensou. Ser inteligente é dar respostas a problemas que requerem

habilidades lingüísticas e lógicas, mas pode também apresentar respostas

inteligentes sem o uso das palavras ou da lógica. Uma pessoa que apresente lesões

cerebrais que a impedem de falar ou raciocinar por meio de símbolos numéricos,

pode exibir suas outras inteligências na forma como ama, pinta, encanta-se com a

natureza, como percebe o espaça que ocupa seu entorno. Com essas revelações, os

estudos sobre a mente humana desmontaram uma visão singular da inteligência

humana, exaltando uma percepção pluralista e reconhecendo, em nossas ações,

redes neurais diferentes e forças cognitivas diferenciadas.

Considerando que os seres humanos possuem competências diferentes para

resolver diferentes problemas, Howard Gardner, desde 1979, vem empreendendo

estudos e pesquisas para reiterar que o homem não é dono de uma única inteligência

Page 22: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

22

22

geral, mas de múltiplas inteligências, que variam desde sua capacidade para compor

e compreender a música até as relativas ao entendimento de si mesmo. Seus

estudos culminaram em 1983 com a publicação da obra “Estruturas da Mente”, que

consolidava a teoria de que mente humana abriga, atuando de forma integrada, sete

tipos de inteligência, número posteriormente elevado para oito, e que atualmente, de

acordo com novas pesquisas, chega a nove. Desde que essa teoria desenvolveu

corpo e popularidade, ganhou força a questão: uma inteligência é mais importante

que outra?

Se a resposta é positiva, qual delas seria a mais importante?

As inteligências podem ser divididas em:

1- Lingüística ou Verbal – Está relacionada às palavras e à linguagem –

escrita e falada – domina a maior parte do universo educacional ocidental.

Responsável pela produção da linguagem e de todas as complexas

possibilidades que a seguem, incluindo poesia, humor, o contar histerias,

gramática, metáforas, similaridades, raciocínio abstrato, pensamento

simbólico, padronização conceitual, leitura e escrita.Pode ser encontrada

nos poetas, teatrólogos, escritores, novelistas, oradores e comediantes.

2- Lógico-Matemática – Está associada ao raciocínio científico ou indutivo.

Envolve a capacidade de reconhecer padrões, de trabalhar com símbolos

abstratos (números e formas geométricas), bem como discernir

relacionamentos e/ou ver conexões entre peças separadas ou distintas.

Presente nos cientistas, programadores de computadores, contadores,

advogados, banqueiros e matemáticos.

3- Visual-Espacial – Está associada ao senso de visão e na capacidade de

visualização espacial de um objeto, inclui a habilidade de criar imagens

mentais. Lida com atividades como as artes visuais (pintura, desenho e

escultura), navegação, criação de mapas e arquitetura ( que envolve o uso

do espaço e conhecimento de como se locomover), e jogos como xadrez (

que requer a habilidade de visualizar objetos a partir de diferentes

perspectivas). É o sentido de visão mas também a habilidade de formar

Page 23: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

23

23

imagens mentais. Presente nos arquitetos, artistas gráficos, cartógrafos,

desenhistas de produtos industriais e artistas pintores e escultores.

4- Musical – Rítmica – Baseia-se no reconhecimento de padrões tonais

(incluindo sons ambientais) e numa sensibilidade para ritmos e batidas.

Inclui capacidades para o manuseio avançado de instrumentos musicais.

Pode ser encontrada nos compositores musicais , nos músicos

profissionais e professores de dança.

5- Corporal – Relaciona-se com o movimento físico e com a sabedoria do

corpo, incluindo o córtex cerebral que controla o movimento corporal. É a

habilidade de usar o corpo para expressar uma emoção (dança e

linguagem corporal), jogar um jogo (esporte) e criar um novo produto

(invenções). O corpo é que sabe andar de bicicleta, estacionar o carro,

datilografar e dançar. Encontra-se nos atores, atletas, mímicos,

dançarinos, cirurgiões e inventores.

6- Pessoais : Interpessoais e Intrapessoais – A 1ª envolve a habilidade de

trabalhar em conjunto, de se expressar verbal e não- verbalmente. Possui a

capacidade de perceber, no outro, alterações de humor, temperamento,

motivações e intenções, ler desejos , entre outras coisas. É desenvolvida

por aconselhadores, professores, terapeutas, políticos e líderes religiosos.

A 2ª envolve o relacionamento consigo mesmo, a auto-reflexão, a

metacognição e sensibilidade frente às realidades espirituais. É o

conhecimento dos aspectos internos do ser. É encontrada nos filósofos,

psiquiatras, pesquisadores de padrões de cognição e aconselhadores

espirituais.

7- Naturalista – É a habilidade para reconhecer a flora e fauna, para fazer

distinção no mundo natural e sensibilidade em relação a ele. É encontrada

em naturalistas, botânicos, geógrafos, paisagistas e biólogos.

Após a análise destas inteligências é complicado dizer se uma é realmente mais

importante que a outra, pois todas são usadas no dia-a-dia e o que é importante para um,

Page 24: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

24

24

não é para o outro. Para Gardner, todas as inteligências têm igual valor e direito à

prioridade e, assim, confirma que tanto o escultor, o escritor, o músico e o matemático

possuem genialidade . Porém, pode-se dizer que a Lingüística pode servir as outras, já que

o homem depende da palavra para se expressar, independente do que seja ou faça; um

mundo sem palavras seria um mundo desprovido de informações, empobrecido de

manifestações de outras inteligências, e ,se isto não serve para hierarquizar a inteligência

lingüística sobre as demais, ele comprova que é por meio dela que se chega as outras.

O homem é a sua palavra agora e na Antigüidade e esta é a forma de expressão maior

de todas as suas inteligências. A linguagem é a própria expressão de uma de nossas

inteligências e ferramenta essencial a todas as demais. A teoria de inteligências múltiplas

ressalta que a palavra, colocando-se a serviço do pensamento, coloca-se a serviço de todas

as demais inteligências, uma vez que permite o desenvolvimento de idéias matemáticas,

espaciais, sonoras, corporais, naturalistas e intra e interpessoais.

1.7 – A Conquista e o Treino da Linguagem

Os progressos nos primeiros anos de vida de uma criança, principalmente no

primeiro, que é o mais importante de todos, dependem de dois fatores: de um lado, do

dinamismo do próprio corpo e de seus instintos, aperfeiçoados pela evolução que promove

a maturação, e, de outro, da influência do meio e da intensidade com que este puder propor

estímulos e desafios. As diferenças hereditárias também contam, mas em escala bem

menor, e influenciam apenas mudanças menores.

Se, de um lado, a educação nada pode fazer para acelerar o ritmo biológico que leva

o cérebro à maturação, as aquisições conquistadas na 1ª infância e a maneira como o

pensamento e a fala são aperfeiçoados e exercitados constituem forma irreversível no

delineamento das reflexões que mais tarde poderão ou não ser feitas. O estímulo pré-natal é

importante, mas é pelo emocional que se desenvolve.

As etapas para os estímulos da linguagem obedecem ou seguem a ordem de sua faixa

etária. O quadro abaixo apresenta uma generalização sobre as características da fala social.

Page 25: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

25

25

QUADRO – A FALA SOCIAL DA CRIANÇA

A forma e a função da fala apresentam-se muito ligadas. À medida que dominam as

palavras, as sentenças e a gramática, passam a se comunicar melhor. A fala social

diferencia-se da fala interior e destina-se a ser entendida pelo interlocutor. Leva em conta

as necessidades do outro e é usada para estabelecer e manter a comunicação. Pode ser

expressivamente estimulada por meio de questões intrigantes, envolvendo análises,

descrições, comparações, sínteses e críticas.

É possível ensinar e treinar a criança a dizer e a falar, através de jogos, exercícios e

atividades onde a linguagem verbal, principalmente a falada, seja pedida à criança. Cabe

aos adultos esta missão.

Page 26: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

26

26

CAPÍTULO 2

A ESCRITA

Como já foi falado, a comunicação e a expressão entre os seres humanos na

pré-história principiaram por um parco sistema de sinais. É interessante lembrar

que os animais também trocam certos sinais / códigos entre si. Uma forma peculiar

de comunicação por assim dizer. Pelo gesto, o homem expressava-se, mas a

comunicação era de fato ineficaz. Carecia do que chamamos de linguagem.

Outras centenas de anos sucederam-se e o homem percebeu o poder que tinha

sobre a natureza e o seu potencial de transformá-la em benefício da sua

sobrevivência. O homem percebeu que havia uma desvantagem muito grande entre

ele e a natureza, pois só possuía as mãos e as habilidades que lhe eram inerentes.

Assim sendo, segundo Ernest Fischer “foi a mão que libertou a razão humana e

produziu a consciência própria do homem”, o homem criou a ferramenta e foi

diversificando sua forma para alcançar outros usos. Daí, deparou com um problema:

identificá- las e diferenciá- las no momento de sua escolha. Surgiu, então, a

comunicação oral. O homem foi “nomeando” seus instrumentos de acordo com o

som que eles produziam quando em funcionamento. Um sistema de gestos e sons

foi a base da comunicação oral.

Entretanto, a palavra pronunciada era facilmente esquecida. Anos se passaram

para a chegada da palavra escrita. O aprimoramento da comunicação entre os povos

deu- lhes e ainda dá maior garantia de sobrevivência

Aos 3100 a.C., na Mesopotâmia, onde é hoje o Iraque, a humanidade

conhecia seu mais antigo sistema de escrita, o cuneiforme. Primeiramente, somente

o escriba, uma espécie de escrivão oficial, dominava a técnica de escrever. Com a

Page 27: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

27

27

evolução da história, passaram a técnica aos rapazes, como num preparo para

alcançar o posto. A mulher experimentava aí um preconceito, pois os homens

entendiam ser uma tarefa unicamente masculina.

Os rituais religiosos do antigo Egito também atribuíam importância à escrita.

Por volta de 3000 a.C., o Livro dos mortos, considerado o 1º livro da humanidade,

era composto de cânticos, preces e poemas em uma espécie de homenagem a seus

mortos, já que um exemplar era depositado na tumba para orientá- lo “do outro

lado”.

Aos 1000 a.C., os chineses usavam fragmentos de galhos como instrumentos

de escrita e, no ano 100 d.C., esse povo inventou o papel e a tinta.Pelos idos de 700

d.C., as penas das aves foram usadas para escrever. Somente em 1450, Johann

Gutenberg idealizou um rudimentar e inovador equipamento que permitia a

reprodução de textos escritos, a tipografia. Seu trabalho mais importante foi a

impressão de Bíblia em latim. Sua invenção foi o marco inicial da escrita no avanço

da humanidade.

Do galho ao Word da Microsoft, escrever sempre foi, e é, uma grande

realização humana e um meio de circulação de nossos conhecimentos e de nossas

idéias. Pode-se representar por meio da palavra escrita ou falada qualquer coisa,

animada ou inanimada. Não importando o idioma, mas respeitando as diferenças

semânticas, gramaticais ou fonéticas, as palavras são o código e a linguagem que

permite ao homem seguir em sua existência. Porém, há na palavra escrita uma

peculiaridade.

Quando se fala é possível utilizar recursos que ajudam a esclarecer nossa

mensagem, como gestos, expressões faciais, o olhar, a ênfase em determinadas

palavras, o tom da voz etc. Até mesmo o Rei Roberto Carlos coloca em sua música

“tem tanto para falar, mas com palavras não sei dizer”. Na comunicação escrita, por

sua vez, os recursos acima somem e não resta outra coisa a não ser escrever bem. E

escrever bem não quer dizer tão somente fugir das incorreções gramaticais, mas na

eficiência da comunicação.

O que se escreve torna-se sua imagem e semelhança. A leitura está ligada à

escrita e, até mesmo, ao dormir está se lendo em sonhos. Ler é um ato reflexivo que

Page 28: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

28

28

nos é inerente e, não há como fugir disto, já que na rua, no trabalho, no carro, na

condução, em casa,etc., depara-se com cartazes, “outdoors”, avisos,entre outros. É

impossível não lê- los, pois 1º, lê, depois vê se era bom ou não. E tudo que se lê, é

porque alguém ali escreveu. Daí, a importância da palavra escrita. Ela carrega

consigo a faculdade de circular o mundo. Como diz o provérbio latino “As palavras

voam, os escritos ficam.” Por isso Salman Rushdie, escritor iraniano e escritor de

“Versos Satânicos”, foi condenado à morte e despertou a fúria do Aiatolá Khomeini

e vive em fuga até hoje. Se as palavras tivessem sido ditas, talvez tivessem sido

esquecidas.

Logo, pode-se notar que o texto não é apenas o produto de uma simples

técnica de registro, um meio através do qual é preservada a memória da

humanidade. Vai muito além disso. Ele é um poderoso instrumento no processo

construtivo da própria história da humanidade. Portanto, qualquer indivíduo que

deseje colaborar de forma marcante com sua geração e com as seguintes deve,

inevitavelmente, extrair o máximo dos recursos que a escrita oferece.

2.1 – Características da Escrita

A evolução da escrita sempre busca simplificação, economia e agilidade na

representação. É sempre marcado por necessidades determinadas pela história. A

possibilidade de divisão das palavras em sílabas componentes significa avanço na

compreensão de um idioma. A influência externa leva aos povos esta aprendizagem.

A escrita constitui-se num sistema de intercomunicação humana por meio de

signos convencionais visíveis, visuais. Os antigos não tinham essa visão.

A evolução da escrita é movida pela História. A escrita passa pela logografia,

silabografia e alfabetografia – sempre nesta ordem. Morton (1989) suger que o

processo de alfabetização ocorre na seguinte ordem:

Leitura Logográfia: as crianças tratam as palavras como se fossem desenhos e

usam pistas contextuais em vez de decodificação alfabética;

Page 29: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

29

29

Escrita Logográfica: as crianças adquirem um vocabulário visual de palavras.

Incluindo seus próprios nomes, mas não são influenciadas pela ordem em que as

letras aparecem nas palavras, exceto pela letra inicial;

Escrita Alfabética: as crianças tornam-se capazes de fazer acesso à

apresentação fonológica das palavras, bem como de isolar fonemas individuais e de

mapeá- los nas letras correspondentes. Contudo, de modo a poder fazê- lo, elas

precisam conhecer as correspondências entre os grafemas e os fonemas;

Leitura Alfabética sem compreensão: as crianças tornam-se capazes de

converter uma seqüência de letras em fonemas: contudo elas ainda são capazes de

perceber o significado que subjaz à forma fonológica que resulta da decodificação;

Leitura Alfabética com compreensão: as crianças tornam-se capazes de

decodificar tanto a fonologia quanto o significado da palavra. Elas fazem acesso ao

significado ouvindo a retroalimentação ( i.e., feedback) acústica que resulta do

processo de decodificação fonológica;

Leitura Ortográfica: as crianças tornam-se capazes de ler por reconhecimento

das unidades morfêmicas, ou seja, passando a fazer acesso direto ao sistema

semântico;

Escrita Ortográfica: as crianças tornam-se capazes de escrever usando um

sistema léxico-grafêmico que dá conta da estrutura morfológica de cada palavra.

Portanto, há três diferentes estratégias para a leitura e a escrita: as estratégias

logográfica, fonológica e lexical que se desenvolvem nos estágios logográfico,

alfabético e ortográfico, respectivamente. Quando uma nova estratégia se

desenvolve, a anterior não desaparece, mas sua aplicação e importância relativas

diminuem. Assim, as estratégias não são mutuamente excludentes e podem coexistir

simultaneamente no leitor e no escritor competentes. Neste caso, a estratégia a ser

usada em qualquer dado momento depende do tipo de item a ser lido ou escrito. A

estratégia logográfica continua útil para ler sinais de trânsito, marcas e logotipos; a

fonológica, para ler pseudopalavras e palavras novas, como as de bulas de

medicamentos; e a lexical, para ler palavras grafo-fonemicamente irregulares, mas

de alta freqüência na língua.

Page 30: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

30

30

Além disso a escrita é mais conservadora que a língua falada e tem um poder

restrito sobre o desenvolvimento natural de um idioma. A forma como o idioma é

utilizado na escrita é mais antiga, rígida e convencional do que a forma utilizada na

fala cotidiana. Emprega-se na escrita uma forma distinta da fala. A escrita resiste a

toda mudança lingüística, que é considerada freqüentemente uma “corrupção” da

língua.

Para dimensionar as restrições impostas pela escrita, basta analisar o

desenvolvimento fonético e morfológico de qualquer idioma. Tanto que sociedades

mais simples, porém contemporâneas, e que vivem um estágio anterior à escrita

modificam sua língua com extrema rapidez. As constantes mudanças lingüísticas

têm por conseqüência a fragmentação da língua em novos dialetos e novos idiomas,

trazendo dificuldade de comunicação entre os falantes daquele idioma.

2.2 – Escrita e Língua Nacional

O domínio da escrita está associado ao desenvolvimento político-cultural e

econômico de um povo. Logo, nos países mais desenvolvidos o número de

analfabetos é ínfimo. A população tem acesso à escrita e aos bens que a sociedade

produz. Em contrapartida, nos países subdesenvolvidos, o número de analfabetos é

grande, principalmente, entre a população mais carente.

A língua e a escrita constituem símbolos externos de uma nação e esta é a

razão pela qual os tesouros escritos são o principal alvo de destruição dos

conquistadores.

2.3 – A Língua Escrita em Funcionamento

Pode-se analisar a escrita, procurando entender o funcionamento do sistema

alfabético e tendo em vista descobrir o princípio fundamental que rege esse

sistema: diferenças gráficas que indicam diferenças sonoras.

Page 31: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

31

31

Nesse sentido, a tentativa humana nos seus primórdios foi reproduzir um

sistema gráfico que espelhasse a fala. Com base nesse aspecto específico dos

sistemas alfabéticos, originaram-se todas as metodologias de alfabetização em uso

até os dias atuais, já que a escrita é utilizada pela maioria da população, usufruindo

essa característica desses sistemas.

O alfabetizado é aquele que foi ensinado e convencido pelo processo escolar

de alfabetização que.para ler, basta seguir com os olhos, linha por linha, o texto

escrito, tentando transformar cada letra, sílaba e palavra numa oralidade que, muitas

vezes, lhe soa estranho.

Com este precário dispositivo que lhe foi ensinado, quando o alfabetizado

passa em frente a uma grande banca ou livraria, ele deve se perguntar como? Por

quê? Para quê? Com o século XX, a explosão de informação redimensionou o papel

da escrita.

Imobilizada pela concepção de leitura propagada pelas metodologias

tradicionais, a escola não se deu conta da importância da leitura na vida cotidiana do

trabalho e do lazer, da variedade de situações de uso da escrita instituída pelo

mundo moderno, do que fazemos quando lemos e do papel da intencionalidade do

leitor nos usos que faz do impresso.

Assim sendo, é diferente entender com funciona o sistema alfabético na

dinâmica do seu uso (a leitura). Um traço distinto, visto como pertinente na análise

da língua escrita enquanto sistema elaborado de acordo com certo princípio, pode

não ser o traço distintivo utilizado por leitores competentes no ato de ler. Embora o

leitor use os sinais gráficos como ideogramas no ato da escrita, isto não é uma

estratégia eficaz para a leitura eficiente.

2.4 – A Escrita como um Bem Cultural

O ambiente cultural do aluno influi de forma significativa em seu modo de

encarar a escrita. É no ambiente familiar que o aluno tem as suas primeiras

influências quanto ao uso da língua falada e da escrita e a importância atribuída a

Page 32: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

32

32

cada uma delas por parte de seus familiares. Num ambiente onde circule jornais,

revistas e outros informes escritos e onde os adultos usem a escrita e a leitura como

uma prática cotidiana em suas vidas, a criança irá ter um ambiente propício a

utilizar as mesmas, sem contar com o apoio fundamental dos pais para isto. Pois não

só o dever, mas também o lazer vai estar relacionado a isto, já que o acesso à revista

em quadrinhos, palavras cruzadas, livros de literatura , filmes e desenhos é livre e

garantido. Mas num ambiente onde há falta disso tudo, a prática da leitura é

comprometida, já que além de não ter recurso para ter esses bens dentro de casa

,muitas vezes o hábito não é incentivado, pois nem os pais fazem uso dele por não

saber ler e escrever. A realidade é totalmente diferente. Logo as criança,cujos pais

têm uma qualificação maior, tendem também a ter uma escrita que reproduza o seu

meio e com isto uma escrita quase sem erros e capaz de passar uma informação sem

maiores problemas e a linguagem utilizada pelo ambiente escolar será bastante

próxima de sua realidade. Isto não acontece com as crianças menos abastadas, pois

a escola não acata o seu linguajar e a linguagem utilizada por ela não lhe faz

nenhum sentido, tornando-a distante e por assim não dizer excludente.

O letramento, enquanto prática social ligada ao uso da escrita, tem uma

história rica e multi- facetada. Numa sociedade como a nossa, a escrita, enquanto

manifestação formal dos diversão tipos de letramento, é mais do que uma

tecnologia. Ela se tornou um bem social indispensável para enfrentar o dia-a-dia,

seja nos centros urbanos ou na zona rural, já que há em todos os lugares acesso à

modernidade e aos meios de comunicação pelo advento da luz. Neste sentido, pode

ser considerada como essencial à própria sobrevivência no mundo moderno, em

virtude de como ela se impôs e a sua penetração nas sociedades modernas, ou seja,

na cultura destas. A sua prática simboliza educação, desenvolvimento e poder.

Entretanto, muitos não percebem que a fala não é primária e nem a escrita é

secundária, pois a escrita não pode ser tida como uma representação da fala, já que

não consegue reproduzir muitos fenômenos da oralidade, tais como a prosódia, a

gestualidade, os movimentos do corpo e dos olhos... e, por outro lado, a escrita

apresenta elementos significativos próprios, ausentes na fala, como o tamanho e tipo

de letras, cores e formatos, elementos pictóricos que substituem aos gestos, mímica

Page 33: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

33

33

e prosódia quando representados graficamente. Portanto oralidade e escrita são

práticas e usos da língua com características próprias. Ambas permitem a

construção de textos coesos e coerentes, a elaboração de raciocínios abstratos e

exposições formais e informais, variações estilísticas, sociais, dialetais e assim por

diante.

No entanto, o uso da escrita quando arraigado numa sociedade, ele impõe-se

de maneira violenta e adquire um valor social superior ao da oralidade. Daí a sua

importância em ser bem realizada.

Um outro fator contribui para o prestígio da língua escrita, é o modo como ele

é adquirida - ensinada em contextos formais: na escola; enquanto que a fala é

aprendida de modo natural e insere e socializa culturalmente uma pessoa em uma

sociedade. Por ser ensinada em um ambiente formal, a escrita é considerada como

um bem cultural mais desejável

Page 34: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

34

34

CAPÍTULO 3

A LÍNGUA ORAL E A LÍNGUA ESCRITA

A oralidade e a escrita são práticas sociais, portanto a língua reflete, pela fala ou pela

escrita, a organização da sociedade, pois se relaciona com as representações e formações

sociais. A língua integra a cultura por ser uma criação humana.

Embora a língua seja um elemento importante para a cultura, o conhecimento de

uma não equivale ao conhecimento da outra.

A importância atribuída à escrita e à oralidade, como práticas sociais, está ligada ao

papel que exercem nas civilizações modernas.

As formas de comunicação e de expressão do pensamento se transformam, pois a

oralidade ganha um novo perfil com as mudanças sociais, cognitivas e comunicativas e isto

influencia na escrita, basta observar a linguagem usada na era do computador, via Internet.

A linguagem é um fenômeno oral, mas não único, pois há comunicações não-orais,

tais como os gestos. Porém, a linguagem duplamente articulada é de importância

fundamental na vida humana, pois apesar de ricas as outras formas de linguagens podem

substituir a linguagem falada.

A escrita é de extrema importância e está sempre associada à oralidade, que lhe é o

sistema primário e do qual é dependente. A língua oral pode existir sem a língua escrita,

porém esta não existe sem aquela. Todos os textos escritos se relacionam com a oralidade,

de forma direta ou não.

Apesar disso, os estudos sobre a linguagem até bem pouco tempo não aceitavam a

oralidade e tratavam somente das produções escritas. Atualmente, isto está mudando, pois

vários estudos feitos em relação à oralidade estão em voga e são de grande importância

para o entendimento do homem moderno que precisa da palavra escrita, porém não está à

Page 35: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

35

35

vontade para utilizá- la, seja por meio da fala ou da escrita, sendo esta última a pior maneira

de se expressar. E a situação se agrava quando o assunto não é de seu conhecimento e nem

faz parte do seu dia-a-dia.

Observa-se que a prática escolar prioriza a escrita e a tem como elemento

fundamental para a produção de textos, fora de contextos e abstratos para os educandos. A

escola considera a língua escrita e a língua oral como formas diferentes de comunicação,

como se fossem línguas distintas. Valoriza uma em detrimento da outra, conseguindo criar

nos alunos um preconceito em relação às produções orais e uma negação às produções

escritas.

A oralidade e a escrita não são encaradas como duas variedades discursivas da

mesma língua, cada uma tendo a sua importância e a sua formação dentro da sociedade.

Não são vistas como saberes tradicionalmente fixados numa determinada comunidade; caso

isso acontecesse, a visão tradicional do certo e do errado deixaria de existir, pois na língua

há normas, mas não necessariamente normas cultas ou incultas.

A oralidade e a escrita têm suas características particulares, pois apresentam

particularidades de ordens diversas: lexical, morfológica, sintática e de registro, em especial

(coloquialismo e formalismo), mas ambas pertencem a um sistema de possibilidades

discursivas único, além de apresentarem elementos comuns.

As diferenças e semelhanças entre oralidade e escrita passam pela sua multiplicidade

de usos no dia-a-dia.

A mudança de perspectiva no estudo da relação oralidade / escrita representa o

estabelecimento de um novo objeto de estudo acerca da nova concepção de linguagem e

produção textual.

Muitos já consideram a oralidade e a escrita duas práticas discursivas que interagem

e se completam no contexto das práticas sócio-culturais.

Por isso, a fala continua sendo o elemento caracterizador do ser humano, não só

porque continua a ser utilizada, mas porque ela subsiste sem a escrita. A escrita também

não consegue representar a fala em sua plenitude, já que várias características da fala lhe

são exclusivas, portanto, a escrita não poderia substiuí- la.

Page 36: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

36

36

A escrita completa a fala e é usada em situações específicas do cotidiano. Oralidade e

escrita ocorrem juntas nas práticas discursivas do homem em seu dia-a-dia, mas apresentam

objetivos diferentes em cada contexto, além de objetos variados de uso.

A influência da linguagem oral sobre a prática da escrita apresenta diferentes níveis,

pois a fala pode ter total influência na escrita de um aprendiz ou de um falante analfabeto

como representação simples da língua oral, como

constata-se na questão de referência, repetição, marcadores discursivos, justaposição de

enunciados, discurso citado, segmentação gráfica, grafia correspondente à palavra ou

seqüência de palavras e autocorreção.

A língua escrita também influencia a prática da oralidade, pois a escrita

convencionada (lhe é imposta), socializada, e difere da utilizada até então. A partir daí, a

escrita influencia a fala, que procura reproduzir a escrita nas pessoas pós-alfabetizadas.

As características do texto escrito, como o uso dos conectivos subordinativos e

coordenativos na elaboração de frases mais complexas, limitados por estruturas do

pensamento lógico, estruturas com verbo na voz passiva, nominalizações e elipse do

sujeito.

Quando a fala procura simular a escrita, o grau de instrução do seu usuário é mais

alto, dificultando o encontro da influência da escrita sobre a oralidade ou vice-versa, ou se

não fruto de influências mútuas que se processam inconscientemente no indivíduo letrado.

Com isso, pode-se citar a topicalização sendo uma característica comum às duas

modalidades discursivas, já que pode ser observada tanto na produção oral quanto na

escrita.

Logo, o fenômeno de influências se dá nas duas direções e é um processo contínuo: a

evolução de uma se relaciona com a prática efetiva da outra, pois ambas são desenvolvidas

em sociedades modernas e que a cada estágio do uso da língua, a linguagem oral e a escrita

influenciam uma à outra.

Mesmo com todo este estudo, um dos problemas encontrados na aprendizagem da

escrita é a influência da língua oral. Os alunos tendem a transpor as estruturas orais

diretamente para a língua escrita. Só que a língua escrita é mais conservadora do que a oral

e as inovações presentes na oralidade não são aceitas nas redações. O professor tende a

considerar erro tudo o que é novo, por haver tão poucos estudos de português oral, por isso

Page 37: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

37

37

a importância da descrição das estruturas da língua oral para o conhecimento dos mestres,

que não compreendem as dificuldades dos alunos na aprendizagem da escrita.

É preciso saber o porquê do uso de uma determinada estrutura, o que se faz por

observação e descrição da mesma. Partindo daí, pode-se começar a constratar a língua oral

com a escrita, a fim de ajudar o professor a programar uma maneira para ensinar redação.

Este estudo da estrutura oral e a sua difusão não irão levar a achar que tal aluno não

domina os padrões corretos de pensamento e vai ajudar a solucionar o mesmo, já que todos

(professores e alunos) ficam confusos, pois “o que se ouve, não se pode escrever”.

Exemplos dados por Eunice Pontes exemplificam situações reais, espontâneas da

fala:

1- “Essa casa bate muito sol”.

2- “A Belina cabe muita gente”.

3- “Essa janela não venta muito”.

As estruturas exemplificadas acima são típicas de tópico-comentário, são mais

subjetivas, chamam a atenção para um “ser” em especial e aparecem no início da oração e

despreposicionados, mas para as pessoas cultas estas estruturas dariam lugar as

gramaticalmente corretas, então, mais aceitas, porém mais neutras. Exemplo:

1- Nessa casa bate muito sol.

2- Na Belina cabe muita gente.

3- Nessa janela não venta muito.

Com a ajuda da gramática tradicional, pode-se constatar que, os verbos “caber” e

“bater” não admitem sujeitos como “casa” e “carro”, respectivamente e “ventar” é verbo

impessoal, não tendo sujeito, daí não serem aceitas estas estruturas, mas, no entanto, Eunice

Pontes cita outras que são aceitas, tais como: “João é difícil de entender”, quando o certo

seria “É difícil entender João”.

É importante para o professor entender estas e outras estruturas semelhantes para que

possa ajudar o aluno a dominar as estruturas da língua escrita.

A importância dada à oralidade e a abordagem que está sendo feita é fundamental

para o entendimento do que se passa na escrita do alunado; só com este conhecimento é que

Page 38: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

38

38

se terá possibilidade de ajudar o educando a diferenciar a língua escrita e a língua oral – as

estruturas predominantes em cada uma delas e como não as confundir, formulando,

produzindo um texto, não longe da oralidade, mas dentro dos padrões aceitos pelos

gramáticos. Pode-se dar dicas das estruturas, quem vem na frente, o que completa tal termo,

a noção que este termo tem e, assim distinguir o que se fala do que se escreve. A estrutura

predicado e sujeito está fixada na nossa língua e não se possibilita considerar outras que

não sejam essas.

Há na língua portuguesa um desrespeito quanto à essa estrutura por alguns literatas

famosos, mas os professores seguem as normas das gramáticos e evitam a refletir sobre o

uso destas estruturas por autores consagrados, simplesmente com a desculpa que estes

sabem usar a língua e o aluno, não. Esquecem, aí, que os bons escritores tiveram a língua

oral como base para os seus escritos.

Ao aluno cabe apenas uma opção para o seu escrito: a estrutura sujeito / predicado,

ou a tópico-comentário e a preocupação com o contexto, com a seqüência, com o sentido

não são tão importantes quanto não haver nada errado gramaticalmente. Pode até mesmo

ser um texto vazio de conteúdo, mas certo em termos gramaticais.

Isto é um erro, pois faz o aluno a ter aversão a este tipo de tarefa que é a produção de

texto escrito, já que o que ele fala, pensa, quando passado para o papel fica sem o menor

sentido, importância se contiver apenas um erro gramatical. Isto afasta o aluno da sua

língua e de querer aprofundar o seu conhecimento, já que todo o seu conhecimento oral da

língua é descartado. Pois a fala ainda é vista, por muitos profissionais e estudiosos, como a

lugar do “caos” por conter pausas, hesitações, alongamentos de vogais e consoantes,

repetições, ênfases, truncamentos, entre outros.

Deste modo, se ele não sabe escrever dentro das normas gramaticais da língua, ele

vai se acanhar e não mais escreverá, pois achará que não domina a língua o suficiente para

escrevê- la, fazendo com que a vontade de estudar passe ou seja descartada diante do

preconceito e decepção consigo mesmo.

Observa-se, então, que se continua a menosprezar os conhecimentos dos alunos

oriundos das classes mais baixas e a considerar somente uns poucos privilegiados que

continuam tendo a chance de estudar, já que cada um reproduz a fala de seu meio social que

influencia a escrita.

Page 39: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

39

39

Pode-se dizer que um evento comunicativo constitui-se dos seguintes aspectos

significativos:

a) situação discursiva: formal, informal;

b) evento da fala: casual, espontâneo, profissional, institucional;

c) tema do evento: casual, prévio;

d) objetivo do evento: nenhum, prévio;

e) participantes; idade, sexo, posição social, formação, profissão, crenças

etc.;

f) grau de preparo necessário para efetivação do evento: nenhum, pouco,

muito;

g) relação entre os participantes: amigos, conhecidos, inimigos,

desconhecidos, parentes;

h) canal utilizado para a realização do evento: face a face, telefone, rádio,

Internet.

A seleção de um ou outro item dentre os elencados interfere nas condições de

produção do texto falado, determinando a especificidade do evento discursivo.

O desenvolvimento do texto falado está diretamente ligado ao modo como a

atividade interacional se organiza entre os participantes. Essa organização resulta de

decisões interpretativas, inferidas a partir de pressupostos cognitivos e culturais, tomadas

durante o curso da conversação.

Outros exemplos da influência da oralidade na produção de textos são: questões

tópico-comentário, grafia correspondente à palavra, falta de pontuação, discurso falado, a

falta de marcação da fala dos personagens, na segmentação gráfica, na repetição ou falta de

conectivos, entre outros. Exemplos estes que podem ser vistos na produção de texto de

alunos do ensino fundamental do 2º segmento da rede pública estadual de Niterói:

Estrutura Tópico-Comentário: “Meu pai, alto, moreno, ele tem cabelo grande ...”

“Minha mãe o nome dela é Nilza.”

Falta de pontuação e de marcadores de fala: “O que você está fazendo aqui”

“...assustou e correu gritando pai socorro.”

Page 40: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

40

40

Falta de concordância: “Os olhos dele são castanho.”

Grafia correspondente à palavra: “...mais a filha do jardineiro...”

“...a família chorou e pediu demição...”

“ ...foi um lobizomem...”

“ ...se abriu derrepente...”

Repetição ou falta de conectivos: “Ai eu fui para cozinha acendi a luz e cosigui ver ele,

peguei a faca enfiei o peito dele ai ele cai e foi

virando um homem ai vi aquilo que eu matei

foi um lobizomem.”

Tema-rema ( divide o enunciado em duas partes e se dá especialmente na fala, porém

a sua presença na escrita é encontrada): “Por falar em Bianca, cadê a Bianca?”

“ a comida da escola eu gostei muito.”

Os exemplos acima só ilustram o quanto a oralidade está presente na escrita dos

alunos, principalmente, os de origem mais humilde e serve de base para uma reflexão séria

da prática didática oferecida a eles nas escolas, pois se nada for feito, em breve estes alunos

estarão no mercado de trabalho, ocupando vagas de subemprego, já que a escola não foi

capaz de ensinar- lhes de forma competente os diferentes usos da língua e a importância de

usá- la corretamente em algumas situações.

Logo, a escrita é vista como de estrutura complexa, formal e abstrata, enquanto a

fala, de estrutura simples ou desestruturada, informal, concreta e dependente do contexto.

Historicamente a escrita, sobretudo a literária, sempre foi considerada a verdadeira

forma, e a fala, instável, não podendo constituir objeto de estudo. Postura essa mudada por

Grimm na Alemanha e com Sweet e Jones na Inglaterra.

Os estudos não as compararam, mas colocou a fala sendo primária e a escrita,

derivada dela. Veja os depoimentos de alguns autores:

“A escrita é o simbolismo visual da fala.” (Sapir,1921:19)

“A escrita não é a linguagem, mas uma forma de gravar a linguagem por marcas

visíveis.” (Bloomfield, 1933:21)

Page 41: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

41

41

“A comunicação escrita é derivada da norma conversacional face a face.” (Fillmore,

1981:153)

“A escrita decorre da fala e é secundária em referência a esta.” (Mattoso Câmara,

1969:11)

Todos tratam as relações entre fala e escrita tendo como modelo a escrita. Fato esse

que tem gerado uma postura preconceituosa. Segundo Marcuschi (1993:63), “ os

gramáticos imaginam a fala como o lugar do erro, incorrendo no equívoco de confundir a

língua com a gramática codificada.”

Há um consenso de se creditar à fala a importância merecida por esta, já que o aluno

chega à escola sabendo falar, portanto domina a gramática da língua. A fala, também,

influencia a escrita nos primeiros anos escolares, na representação gráfica dos sons.

Como diz Biber (1988:08):

“Certamente em termos de desenvolvimento humano, a fala é o status primário.

Culturalmente, os homens aprendem a falar antes de escrever e, individualmente, as

crianças aprendem a falar antes de ler e escrever. Todas as crianças aprendem a falar

(excluindo-se as patologias); muitas crianças não aprendem a ler e a escrever. Todas as

culturas fazem uso da comunicação oral; muitas línguas são ágrafas. De uma perspectiva

histórica e da teoria do desenvolvimento, a fala é claramente primária.”

A língua falada para Marcuschi:

“representa uma dupla proposta de trabalho: por um lado trata-se de uma missão para

a ciência lingüística que deveria dedicar-se à descrição da fala e, por outro lado, é um

convite a que a escola amplie seu leque de atenção.”

Numa citação de Bechara (1985), tem-se o papel da escola quanto à fala:

“Quanto à escola, não se trata obviamente de “ensinar a fala”, mas de mostrar aos

alunos a grande variedade de usos da fala, dando-lhes a consciência de que a língua não é

homogênea, monolítica, trabalhando com eles os diferentes níveis (do mais coloquial ao

mais formal) das duas modalidades – escrita e fala -, isto é, procurando torná- los

“poliglotas dentro de sua própria língua”.

Page 42: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

42

42

E reafirmando a citação de Bechara, tem-se com Castilho (1998:13):

“(...) não se acredita mais que a função da escola deve concentrar-se apenas no ensino de

língua escrita, a pretexto de que o aluno já aprendeu a língua falada em casa. Ora, se essa

disciplina se concentrasse mais na reflexão sobre a língua que falamos, deixando de lado a

reprodução de esquemas classificatórios, logo se descobriria a importância da língua falada,

mesmo para a aquisição da língua escrita.”

Percebe-se que no momento vem-se criando a consciência de que a oralidade tem um

papel no ensino da língua e, nesse sentido, os Parâmetros Curriculares Nacionais afirmam

que:

“A questão não é falar certo ou errado e sim saber que forma de fala utilizar,

considerando as características do contexto de comunicação, ou seja, saber adequar o

registro às diferentes situações comunicativas. É saber coordenar satisfatoriamente o que

falar e como fazê-lo, considerando a quem e por que se diz determinada coisa.”

Marcuschi coloca a oralidade como um problema de adequação às diferentes

situações comunicativas.

Assim sendo, o ensino da oralidade não deve ser visto de forma isolada e sem a

relação com a escrita, pois ambas têm entre si uma cumplicidade.

A elaboração do texto escrito, como do oral, envolve um objetivo ou intenção do

escritor. Porém, para o entendimento deste tipo de texto não basta só o seu valor semântico,

mas também as marcas de seu processo de produção, que irão orientar o leitor para a busca

do efeito de sentido pretendido pelo produtor. Um texto escrito tem no parágrafo uma de

suas unidades de construção e este pode conter um ou mais períodos reunidos em torno de

idéias co-relacionadas.

Para cada idéia, um parágrafo. Não há normas rígidas de paragrafação; ele só marca a

intencionalidade do produtor e é bom que não seja muito longo. Ele é marcado por um

recurso visual que é o seu recuo, ou espaço inicial. A diversidade do texto implica a

diversidade de construção de parágrafos. Podem ser narrativos, descritivos ou dissertativos,

Page 43: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

43

43

bastando o núcleo ser um incidente (episódio curto ou parte deste), um quadro (parte de

uma paisagem, ambiente, um instante...) ou de uma idéia (idéia principal), respectivamente.

É necessário que o texto escrito tenha unidade, coerência, concisão, clareza e fuja da

repetição para não se tornar cansativo.

Enquanto isso, os problemas o texto oral são a hesitação, a paráfrase, a repetição e a

correção. Estes problemas, que na verdade são atividades de formulação, desempenham

papel importante entre os processos de construção do texto falado, já que o locutor recorre a

essas atividades para formular etapas do desenvolvimento de sua própria construção de sue

interlocutor.

Atividades estas ocorridas na construção do texto falado e do escrito, porém se

efetiva de forma diferente em cada uma delas. Para o texto escrito é preciso uma edição

final do trabalho, apagando ou substituindo as incorreções; elas, aí, não são vistas.

Por isso a língua falada e a escrita possuem diferenças nos seus modos de aquisição;

nas suas condições de produção, transmissão e recepção; nos meios através dos quais os

elementos estruturais são organizados.

O pensamento de Akinnaso (1982:113), não difere ao afirmar que:

“A escrita é essencialmente um processo mecânico, sendo necessárias a manipulação

de um instrumento físico e a coordenação consciente de habilidades específicas motoras e

cognitivas. Assim, a escrita é completa e irremediavelmente artificial, enquanto a fala é um

processo natural, fazendo uso dos meios assim chamados órgãos da fala.”

Verifica-se que a língua falada não possui uma gramática própria; suas regras de

efetivação é que são distintas em relação à escrita. O que existe é maior liberdade de

iniciativa por parte dos falantes.

Além disso, segundo Marcuschi (1993:4-5), “as diferenças entre fala e a escrita não

se esgotam nem têm seu aspecto mais relevante no problema da representação física (grafia

x som), já que entre a fala e a escrita medeiam processos de construção de versos”.

3.1 – As Diferenças entre a Fala e a Escrita

Page 44: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

44

44

Na escrita usam-se palavras mais longas (polissilábicas), mais adjetivos atributivos,

um vocabulário mais variado e um texto mais curto.

Na fala usam-se poucas palavras, palavras de poucas sílabas, frases curtas, mais

palavras de referência, palavras de uso pessoal e os traços de oralidade, que são uso de

formas populares, citações de fala, emprego de termos estrangeiros, frases de efeito etc..

Para o estabelecimento das relações entre fala e escrita, sem que haja distorção do

que de fato ocorre, é preciso considerar, portanto, as condições de produção. Estas

possibilitam a efetivação de um evento comunicativo e são distintas em cada modalidade,

como se pode constatar no esquema abaixo:

FALA

ESCRITA

Interação faca a face

Interação à distância (espaço-temporal)

Planejamento simultâneo ou quase à produção

Planejamento anterior à produção

Criação coletiva: administrada passo a passo

Criação individual

Impossibilidade de apagamento

Possibilidade de revisão

Sem condições de consulta a outros textos

Livre consulta

A reformulação pode ser promovida tanto pelo

falante como pelo interlocutor

A reformulação é promovida apenas pelo

escritor

Page 45: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

45

45

Acesso imediato às reações do interlocutor Sem possibilidade de acesso imediato

O falante pode processar o texto,

redirecionando-o a partir das reações do

interlocutor

O escritor pode processar o texto a partir

das possíveis reações do leitor

O texto mostra todo o seu processo de criação

O texto tende a esconder o seu processo

de criação, mostrando apenas o resultado

contextualizada

descontextualizada

implícita

explícita

redundante

condensada

Não-planejada

planejada

Predominância pragmática

Predominância sintática

fragmentada

Não-fragmentada

incompleta

completa

Pouco elaborada

elaborada

Pouca densidade informacional

Densidade informacional

Frases curtas, simples ou coordenadas

Frases complexas, subordinadas

Page 46: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

46

46

Pequena freqüência de passivas

Emprego freqüente de passivas

Poucas nominalizações

Muitas nominalizações

Menor densidade lexical

Maior densidade lexical

Nem todas essas características são exclusivas de uma ou outra das duas

modalidades.

Logo, a informalidade consiste em apenas um das possibilidades de realização não

só da fala, como também da escrita, já que ambas podem ir do nível mais informal ao mais

formal, passando por graus intermediários. Há textos escritos que se situam mais próximos

à fala – bilhetes, cartas familiares, textos de humor e textos falados que se aproximam da

língua escrita – conferências, entrevistas profissionais para cargos administrativos e outros

intermediários.

Quanto ao planejamento textual, pode-se apontar 4 tipos:

- Falado não planejado – conversa informal

- Falado planejado – conferência

- Escrito não planejado – bilhete

- Escrito planejado – obras literárias

Com isto, pode-se dizer que há na língua falada uma tendência para o não planejado e

para um planejamento local. Usa-se pronome de 1ª pessoa, estratégias de monitoração

(pausas, entonação), partículas enfáticas (realmente, certamente), do discurso direto e

outras. O envolvimento é o mais próximo.

3.2- Da Fala para a Escrita

Como diz Paulo Freire:

Page 47: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

47

47

“ Toda leitura da palavra escrita é sempre precedida por uma certa leitura do mundo.

Se antes você lia o mundo e agora , ao ler a palavra escrita, volta a ler o mundo, a volta é

uma releitura e possivelmente a releitura abre caminhos que antes não estavam sendo

vistos.”

Para Freire, a alfabetização e a conscientização são processos inseparáveis, pois ao

tomar a história nas mãos o homem toma também a palavra.

Logo, a educação é uma afirmação da liberdade humana. Desta forma concebida, a

educação forma a consciência crítica e criativa do educando.

Como a língua é um instrumento de compreensão e de domínio da realidade, seja ela

histórica, geográfica, política ou cultural, é preciso que o educando domine a língua para

utilizá- la como seu instrumento de conhecimento, interpretação e compreensão do mundo.

É necessário que as turmas sejam heterogêneas para possibilitar a troca e a interação

entre os educandos, favorecendo a todos.

É preciso para que se tenha um domínio maior da produção escrita, que o problema

da oralidade se evidencie entre os jovens.

A clareza é a qualidade central de quem fala ou escreve.Sua importância está

relacionada a sua função que é possibilitar o pensamento e permitir a comunicação ampla

de pensamento assim elaborado.

É preciso que se apliquem e trabalhem atividades de observação que envolvam a

organização de textos falados e escritos, permitindo que os alunos percebam como ambos

se realizam, se constroem e se formulam. Normalmente as operações de produção do texto

escrito a partir do texto falado leva a estas operações:

1- eliminação de marcas estritamente interacionais e inclusão da pontuação;

2- apagamento de repetições, redundâncias, autocorreções e introdução de

substituições;

3- substituição do turno por parágrafos;

4- diferenciação no encadeamento sintático dos tópicos;

5- tratamento estilístico com seleção do léxico e da estrutura sintática, num percurso

do menos para o mais formal.

Page 48: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

48

48

3.3 – Traços Característicos da Exposição Oral e da Exposição

Escrita

A língua oral se comunica pelo ouvido, a escrita pela visão, ou seja, os sons da

linguagem humana passam a ser evocados mentalmente por meio de símbolos

gráficos.

A civilização dá muita importância à escrita, porém é preciso lembrar que a

expressão oral é mais antiga e básica. Por isso é importante distinguir os traços da

exposição oral e os da escrita.

O grande número de traços característicos da exposição oral, ausentes na

escrita, cria o dever de bem usá- los, para que a linguagem seja boa: quem fala em

público tem de atentar para o timbre de voz, a altura da emissão vocal, para a

entoação das palavras e para a expressão corporal que está presente quando se fala

como os gestos , as mãos, os braços, a fisionomia, a simpatia conquistada no contato

direto com as pessoas, a maestria em lidar com os ouvintes etc.. Estes quando bem

empregados fazem o sucesso da comunicação.

Embora, num primeiro momento, a exposição escrita possa parecer mais

simples pela falta dos elementos acima citados, isto não é verdadeiro, pois os

elementos que a caracterizam exigem estudo e experiência para lidar com eles. O

grande número de regras e orientações gramaticais decorre das exigências da língua

escrita para a comunicação ser eficiente na ausência forçada de muitos recursos, que

complementam a oral. Escrever bem é resultado de uma técnica elaborada e

cuidadosamente adquirida, através de muito treino. O estilo do autor tem uma

importância maior na escrita do que na exposição oral. O lingüista francês Vendryes

cita “Ninguém escreve como fala”,mas “Cada um escreve, ou pelo menos procura

escrever; como os outros escrevem” ( Le Language, 1921, p. 389).

Vale ressaltar: - a apresentação visual agrava certos defeitos de formulação, e

muitas incorreções, que seriam nulas no correr da fala, mas que ganham relevo e

saltam aos olhos no papel;

- a frase, sem a ajuda do ambiente, da entonação e da mímica,

precisa ser melhor construída e concatenada;

Page 49: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

49

49

- as palavras devem ser escolhidas com maior cuidado;

- A pontuação que difere das interpretações gráficas das pausas;

- a repetição e a redundância de palavras é uma afronta no

processo de leitura, estragando o texto;

- termos e expressões familiares, porém de pouco uso literário,

não são tolerados na escrita.

- a preocupação com a ortografia ( problema marginal da língua

escrita), acatada pelo consenso social, revela a cultura de quem escreve.

3.3.1 – Presença da Oralidade e da Escrita na Sociedade

Mesmo tendo sida criada pela mente humana bem depois da fala, a escrita

permeia hoje quase todas as práticas sociais dos povos em que penetrou. Até os

analfabetos, em sociedades com escrita, estão sob a influência do texto escrito. O

letramento não equivale à aquisição da escrita, já que existem os letramentos

denominados “sociais” que surgem e desenvolvem à margem da escola, não

precisando por isso serem depreciados.

A escrita é usada em contextos sociais básicos da vida cotidiana, em paralelo

direto com a oralidade. Estes contextos são, entre outros: o trabalho, a escola, o dia-a-

dia, a família, a vida burocrática, a atividade intelectual.

Em cada um desses contextos, as ênfases e os objetivos do uso da escrita são

variados e diversos. Inevitáveis relações entre escrita e contexto devem existir,

fazendo surgir gêneros textuais e formas comunicativas, bem como terminologias e

expressões típicas. Seria fundamental a escola saber mais sobre isso, para fazer sua

tarefa com um preparo e maleabilidade maior.

O letramento é um processo de aprendizagem social e histórica da leitura e da

escrita em contextos informais e para usos utilitários, por isso é um conjunto de

práticas, ou seja, letramentos. Seu domínio pode ser alto ou baixo. Já a alfabetização

pode acontecer fora da instituição escolar, mas sempre é um aprendizado mediante

ensino, e compreende o domínio ativo e sistemático das habilidades de ler e escrever.

A escolarização é uma prática formal e institucional de ensino que visa a uma

formação integral do indivíduo, sendo que a alfabetização é apenas umas das

Page 50: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

50

50

atribuições e ou atividades da escola. A escola conta com projetos educacionais

amplos e a alfabetização é uma habilidade restrita.

Homens e mulheres têm diferentes formas de usar a escrita. E esta tem uma

perspectiva no ambiente escolar e outra fora dele. O acesso à escrita também é

diferenciado. A escrita e a oralidade são imprescindíveis na nossa sociedade e não se

deve confundir seus papéis e seus contextos de usos e nem discriminar seus usuários.

A alfabetização (domínio ativo da escrita e da leitura) está vinculada ao

progresso de tal forma que já se pode dizer como sendo um valor intrínseco

desejável ao indivíduo. Eis a força da escrita.

3.3.2 – As Relações de Poder na Sala de Aula – Influência na Linguagem

Oral e Escrita no Cotidiano Escolar

A concepção de “bom aluno” é apresentada como sendo um aluno bem

comportado, obediente, cumpridor de seus deveres, ... características como crítico e

reflexivo raramente aparecem.

Tais posicionamentos levam à reflexões e à procura de mais compreensão

sobre a questão das relações de poder na escola ( sala de aula e disciplina).

Foucault conceitua a disciplina como uma forma de dominação e de exercício

de poder nos espaços sociais menores, cuja organização não é garantida, no seu

cotidiano, pelas leis maiores.

O poder está presente em todo âmbito social. É uma forma ingênua de pensar

que o poder coloca em lados diferentes os que têm poder e os que não têm. O poder é

algo político e ideológico que se encontra presente em todos os lugares ao mesmo

tempo.

“ ... o poder está presente nos mais finos mecanismos do intercâmbio social:

não somente no Estado, nas classes, nos grupos, ... mais ainda nas modas, nas

opiniões, nas informações familiares e privadas e, até mesmo, nos impulsos

libertadores que tentem contestá-lo.” ( Barthes, 1980, p. 11)

Page 51: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

51

51

Portanto fica evidente que a questão do poder não é limitada, no entanto, torna-

se necessário delimitar os aspectos que serão tratados aqui.

O instrumento ideal para dar a onipresença ao poder é a linguagem. Logo que

proferida entra a serviço de algum poder. Não apenas fonemas, palavras, articulações

sintáticas ... que serão proferidas. Na verdade, não se tem nem a liberdade de usar a

língua de qualquer maneira. Barthes reforça que todo discurso está preso a regras, a

opressão, ao constrangimento da gramática pois discurso e língua são indivíduos e

estão presos a um único eixo de poder.

Verifica-se, então, o contexto onde a língua, a fala e o poder se refletem: a sala

de aula. Esta consegue reunir o poder da língua, o poder do professor (autoridade) e o

poder da fala, o discurso que faz do professor a autoridade, com o poder da fala,

detentora do saber ( língua culta).

O poder dentro da escola é exercido pelos profissionais de educação (

professores e especialistas), cujo papéis são diferentes; já que estes exercem poder

sobre aqueles e, através do currículo e práticas pedagógicas, sobre os alunos. Por sua

vez, os professores exercem o poder através de sua atuação em sala de aula sobre os

alunos. De maneira consciente ou não, acabam por reproduzir o sistema de normas e

controle onde estão inseridos.

A escola, como instituição social, determina aos seus próprios integrantes o

comportamento que deles se espera. Neste caso, especificamente, ao professor é

delegada uma determinada autoridade, um certo poder que é social e histórico. O

poder de sua atuação se reflete na relação com seu aluno, ou seja, esta pode passar

por processos como a internalização de valores e aceitar a influência do professor, ou

se deixar conformar com a tentativa devido a expectativa de ser punido pelo

professor; ou se identificar com o professor, ou se deixar influenciar através de

recompensas; e ainda, perceber que o professor detém um conhecimento específico e

especializado.

Parece, então, que a postura do professor influencia na construção do

conhecimento e, no caso de crianças pequenas, na constituição da subjetividade e de

sua identidade como aluno.

Page 52: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

52

52

Sendo assim, há três posturas pedagógicas onde a relação educador – educando

vai variar de acordo com a postura adotada pelo educador.

A primeira é a do professor-autoridade, isto é, aquele que detém o

conhecimento e deve passar ao aluno que nada sabe. O aluno deve incorporar o

conhecimento sem refletir sobre o mesmo. Disciplina é silêncio e ordem. A relação

professor / aluno é vertical e autoritária. A participação do aluno na construção do

conhecimento é excluída, pois o aluno recebe o conhecimento pronto. Esta postura

leva o aluno a adquirir uma postura de obediência, de conformismo e de passividade.

Não se deve sair do autoritarismo e cair num liberalismo radical, pois este pode

levar ao desrespeito e a confusão entre os conceitos de autoridade e autoritarismo

Com relação à autoridade José Carlos Libâneo afirma que: “ Ao professor cabe a

função de conselheiro e não utilizando qualquer forma de poder ou autoridade.”

Sem excessos, é possível chegar a um ponto comum onde o aluno é levado a

refletir e a construir o seu conhecimento, respeitando a figura do professor e as

normas do colégio, porém com uma atitude ativa perante os acontecimentos. Com o

equilíbrio entre autoridade e liberdade, todos ganham e a sociedade, no futuro,

receberá cidadãos prontos para nela atuarem.

“ Precisamos, meus caros educadores, compreender que, muito mais do que

ensinar conteúdos através de métodos adequados, a atividade educacional visa formar

o cidadão para o exercício da cidadania. A escola tem que ser um exemplo vivo

disso. O processo educacional determina a formação do caráter do indivíduo.”

(Rodrigues, 1984, p. 88 – 89)

A citação acima confirma o parágrafo anterior e sugere que a prática de

liberdade, mantendo o respeito a função do aluno e a do professor, e com diálogo é

possível fazer com que o conhecimento se dê por meio de troca e da interação entre o

meio, o sujeito e os outros; o professor será apenas o mediador.

Assim, compreender a ação do professor articulada ao poder da fala levará a

perceber como essa articulação se reflete no aluno.

Page 53: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

53

53

A autoridade deve ser usada para dirigir a classe, pois, quanto mais confiança

os alunos tiverem no professor, mais confiança terão nas intervenções do mesmo;

este deve utilizar a autoridade dentro dos limites da democracia. A citação de

Rodrigues reforça tal idéia:

“ A escola não pode copiar o espírito de competitividade individualista e

egoísta da sociedade capitalista. Uma nova metodologia de trabalho deve ser seguida

se quisermos transformar a educação no Brasil.” ( Rodrigues, 1984, p. 84)

Portanto, a afetividade é um aspecto essencial para a aprendizagem; e, assim

sendo, o professor deve ter um bom relacionamento com os seus alunos, o que irá lhe

facilitar o trabalho. Não esquecendo que o professor é o exemplo do aluno, não só

pela sua postura, mas também pela sua fala e escrita.

3.3.3 – A Redação

Há uma arte de escrever que á a redação. É uma atividade social indispensável

nos dias atuais, porém a falta de uma preparação adequada para ela, a dificulta.

A arte de falar, necessária à exposição oral é mais fácil, pois se beneficia da

prática da fala cotidiana.

A semelhança entre as duas é a necessidade de uma boa comunicação.

Para a redação, é preciso ter um objetivo definido, pois ninguém é capaz de

escrever bem, se não sabe o que vai escrever. A redação dentro das atividades

sociais e profissionais diferem muito das redações escolares. A convicção do que se

vai dizer, a importância em dizê- lo, o domínio do assunto, tudo isto nem faz lembrar

o exercício formal da escola.

Todos que conhecem algum assunto são capazes de escrever sobre o mesmo.

Mesmo que esta pessoa não tenha o hábito de escrever, o esforço e a prática

Page 54: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

54

54

conseguem vencer o medo e faz da pessoa não um escritor renomado, mas uma

pessoa fluente na escrita.

Uma redação completa surge da revisão, muitas vezes feita, no rascunho.

Feitas as correções necessárias: problemas de gramática, de escolha vocabular, de

harmonia , de estética etc. o texto final surge, sem as nuances anteriores reveladas.

Para fazer uma redação é necessário o uso de palavras, pois são elas que dão

significado à existência humana e o que nela está inserido. A palavra não é um dom

e sim uma habilidade que pode ser aperfeiçoada. Diante do desafio de produzir um

texto, as palavras podem “fugir” e “faltar inspiração”, mas isto pode ser encarado

como uma carência de argumentos ou de conhecimentos do sujeito para se expressar

sobre determinado assunto; fato este que pode ser corrigido a qualquer momento.

Por isso o hábito da leitura é muito importante, pois pode sanar o despreparo e o

vocabulário necessário para a produção de um texto. É com a leitura que a pessoa

interage com tudo e todos e, é através dela que se aumenta o vocabulário, o

conhecimento geral, a capacidade de expressão, pode ajudar a desenvolver o senso

crítico e a capacidade de pensar e julgar, amplia a alma e a compreensão do mundo.

Fora isso, é preciso querer e o empenho de cada um vai ser fator decisivo para como

esta pessoa vai intervir na realidade, expor uma consciência crítica diante dos fatos,

construir e transformar o mundo pela palavra.

Logo a redação é um texto produzido por um sujeito pensante e criador, que

tem um mensagem e comunicar. Esta mensagem é produto do pensar humano que

se materializa na folha de papel. Escrito, este pensar é um texto, que produz sentidos

e significados, pois dialoga com o leitor. Por isso, o conteúdo é mais importante que

a forma – embora este deve ser observada, pois é conveniente que esteja adequada

ao que se propõe.

O objetivo de redação, em muitos casos, é o de avaliar as habilidades do

candidato, como: o domínio da escrita, a maturidade do pensamento, a capacidade

de desenvolver com clareza e objetividade um determinado assunto, crítico a visão

dos fatos, dentro da língua-padrão.

O critério de avaliação na maioria das vezes levam em conta a estrutura e o

estilo do tipo de composição escrita.

Page 55: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

55

55

Os cuidados necessários neste caso são: não fugir ao tema proposto (

conteúdo com relação direta com o tema), organizar os argumentos que

fundamentarão as conclusões do texto ( com seqüência e coerência), usar a língua

escrita corretamente ( não é preciso rebuscá-la, nem torná-la difícil), utilizar de

modo certo os recursos da língua ( ortografia, acentuação, pontuação,

concordância,...)

Talvez seja um obstáculo intransponível para os que não têm o exercício da

escrita como prática habitual, mas pensar bem e fazer com que as gerações novas se

habituem a pensar não podem ser medidas por questões de múltipla escolha

Como diz Bonald: “ O homem não pode pensar o seu pensamento sem pensar

sua palavra.” Por isso, é preciso atentar à qual linguagem usar para cada texto. Há a

linguagem formal ( obediência à norma culta), a linguagem coloquial ( linguagem

do dia-a-dia, sem a preocupação com a norma culta) e a linguagem

poética (linguagem subjetiva, não-convencional, figurada). Quanto aos textos, há

basicamente três formas: descrição, narração e dissertação (cada qual com a sua

característica própria).

É preciso que se evite, nos textos escritos, e principalmente nas dissertações :

- vocabulário inadequado;

- uso de gerúndios;

- repetições;

- escrever muito sem necessidade;

- gírias, estrangeirismos, palavrões;

- falácias;

- generalização;

- simplificação exagerada;

- círculo vicioso;

- sofismas;

- palavras de ordem;

- provérbios e frases feitas;

- confusão causa/efeito;

- textos religiosos;

Page 56: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

56

56

- histórias pessoais;

- mudança de ponto de vista.

3.4 – A Correção da Linguagem

A finalidade da linguagem é a comunicação ampla e eficiente entre os

homens. Como cada língua é um sistema de comunicação e em todas há uma

uniformidade presente para a melhor compreensão de todos, é preciso que todos

usem essa linguagem normal para a comunicação se efetivar.

A correção é a obediência a esse padrão lingüístico. A unidade e a

estabilidade é um ideal, exigido por todos, porém nada é regido por leis radicais e

em nenhuma sociedade humana se realiza espontaneamente.

Há três fatores que podem comprometer esse padrão normal da língua:

O padrão individual – onde cada um faz um trabalho mental espontâneo no

material lingüístico, depositado na memória e dele tira conclusões, às vezes,

aberrantes.

O fator coletivo – onde há uma diferença no uso, de acordo com as camadas

sociais que a usam. Temos, aí, uma língua popular, própria das massas e das pessoas

iletradas e a língua culta, usada de modo espontâneo pelas pessoas instruídas e

utilizada nas obras literárias.

O fator geográfico – onde é apresentado diferenças regionais na utilização da

língua; fato este que também gera preconceito.

A correção da linguagem de acordo com a norma culta tem que lidar com três

problemas: - mudanças executadas espontanemante por um trabalho mental do

indivíduo;

- a intromissão da língua popular;

- as diferenças regionais.

Com os fatores acima, três tipos de erros fundamentais são criados:

- erros individuais;

- vulgarismos;

Page 57: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

57

57

- regionalismos.

Há certos erros individuais que são apresentados por várias pessoas,

vulgarismos que se firmam na língua culta e certos regionalismos que se propagam

amplamente.

A correção fica difícil, porém é preciso seguir a norma padrão, mesmo que

obsoleta e assumir uma atitude liberal e compreensiva diante do novo. É de

fundamental importância que se ache um meio termo nesta questão, para que não

sejam feitos absurdos, mas que também não se excluam possíveis usos da língua.

Portanto é necessário não cometer erros que pertubem a compreensão, os que

revelem insuficiência do domínio da língua culta e do seu ideal normativo e nem ser

original na maneira de falar e escrever. Pois uma coisa é falar com eficácia

comunicativa; a outra é falar de acordo com as normas da escrita. Nada impede que

alguém fale sem a observância estrita das regras gramaticais propostas para a escrita

e que seja entendido, bem como é possível que alguém fale de acordo com as regras

gramaticais da escrita e não seja entendido pela inadequação situacional e social.

Logo os critérios são dados pelo contexto da interação.

Com isto, o papel do professor, em relação ao ensino da língua na escola,

seria outro, como descreve Miriam Lemle:

“ A sua missão não é a de fazer com que os educandos abandonem o uso de

sua gramática “errada” para a substituírem pela gramática “certa”, e sim a de

auxiliá- los a adquirirem, como se fora uma segunda língua, competência no uso das

formas lingüísticas da norma socialmente prestigiada , à guisa de um acréscimo aos

usos lingüísticos regionais e coloquiais que já dominam. A noção essencial aí é a

adequação: existem usos adequados a um dado ato de comunicação verbal, e usos

que são socialmente estigmatizados quando usados fora do contexto apropriado. A

comparação com as regras de uso de vestimenta é esclarecedora: assim como difere

o tipo de roupa a ser usada segundo o tipo de ocasião social, também diferem

segundo a ocasião social as características da linguagem apropriada. Ficam

socialmente estigmatizados os falantes inadimplentes às regras tácitas do jogo, tal

como as pessoas que não cumprem as convenções sociais do bem-vestir”.

Page 58: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

58

58

O pensamento acima fecha muito bem esta parte do trabalho de como deveria

ser o ensino da língua em nossas escolas: que a escola deveria levar o aluno a

conhecer essa maneira de falar e de escrever para saber produzi- la e consumi- la e

não apenas levar a reconhecer que existe uma maneira de falar e de escrever

considerada “legítima” ( diferente da que dominam).

Page 59: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

59

59

CAPÍTULO 4

ENSINO – APRENDIZAGEM EM LÍNGUA

PORTUGUESA

Houve um aumento das exigências sociais quanto a participação ativa do

indivíduo na sociedade comunicando-se, informando-se e posicionando-se com

clareza, com criticidade e de maneira construtiva mas mais variadas situações do

cotidiano.

Eis, aí, o maior desafio dos professores de Ensino Fundamental : levar a

criança a desenvolver a capacidade de compreender, interpretar e produzir textos

orais e escritos. Esse é o ponto de partida para a apropriação dos instrumentos que a

ajudará a exercer plenamente seus deveres e a usufruir de seus direitos como cidadã.

As práticas pedagógicas que visam o debate e a pesquisa levam o aluno à

reflexão e estimulam a sua capacidade criadora. Observa-se, aí, que a imaginação

criadora antecede a razão e predomina em toda ação infantil.

Os primeiros pontos de apoio que a criança encontra para sua futura criação

advém do que ela vê e ouve, acumulando materiais que usará para construir sua

fantasia.

A vida e a individualidade se constroem a partir de determinadas relações

sociais vivenciadas por cada um.

A criança terá o poder presente em toda a sua vida, pois em qualquer lugar há

relações de poder , já que este provém de todos os lugares.

Com condições favoráveis de interação, a criança terá uma aprendizagem

mais satisfatória e esta se dará tanto na escola,como na vida. Para isso, basta ela ser

instigada a aprender com o outro; se a criança vê sentido no que faz, nele se

concentra, busca informações, experimenta, tenta outra vez, compara suas hipóteses

com as demais ... enfim, consegue construir seu aprendizado por meios reais e

duradouros.

Page 60: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

60

60

Um dos objetivos da escola é fazer com que os alunos utilizem, de forma

adequada, as diferentes linguagens que a sociedade exige e oferece. Nesse contexto,

o trabalho com a Língua Portuguesa é essencial, pois por meio dele o educando:

- reconstrói sua linguagem oral, diferenciando os registros e aprendendo

gêneros e estruturas mais complexas do discurso, passando a utilizá- los

adequadamente no dia-a-dia;

- constrói conhecimentos sobre a linguagem escrita, o que lhe abre as portas

do complexo mundo das práticas letradas;

- começa a entender a língua como sistema que oferece os instrumentos para

essas práticas: orais e escritas.

Portanto, deve-se buscar o desenvolvimento da linguagem oral e escrita, ou

seja, da capacidade de comunicar, produzir, receber, interpretar e dar novo

significado a informações e emoções num mundo onde elas transitam rapidamente.

Utilizar a linguagem oral ou escrita em diferentes práticas sociais supões a

construção e o domínio de gêneros de discurso diversificados. Alguns mais simples,

inserem-se em situações concretas de troca social, em esferas familiares (conversa,

relato de experiência vivida); outros, complexos, historicamente posteriores e mais

ligados ao surgimento da escrita, encontram-se em esferas públicas e institucionais

de interação ( debate, editorial, romance, exposição científica ).

Em todos os casos, para utilizar-se da linguagem nas trocas sociais, o

interlocutor terá de recorrer à língua e suas formas de funcionamento. Como a

língua é o resultado de uma produção social, nela estão presentes e refletidas

diferenças e desigualdades da sociedade. Daí a existência de variedades lingüísticas

que, com maior ou menor prestígio social, transitam em diversos gêneros do

discurso. Cabe à escola ajudar a criança a apropriar-se de língua padrão, que circula

em textos escritos e em seus registros da fala. Mas, para que isso aconteça, é

necessário que não se despreze e nem se desvalorize o vocabulário que a criança

utiliza, além de não obrigá-la a expressar-se, de imediato e sempre, na variedade da

língua padrão.

Page 61: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

61

61

Quando chega à escola, ela conhece e usa diversas linguagens, presentes em

seu dia-a-dia. Já construiu, de maneira ampla ou não, certos gêneros de discurso

oral, além de, no âmbito da leitura, reconhecer rótulos e logomarcas.

Esse conhecimento deve ser ampliado e ao educando ser mostrado os

diferentes usos que a linguagem oral e a escrita podem ter.

A concretização da linguagem propiciada pela escrita leva a criança a refletir

sobre a língua e seus mecanismos, tornando-a consciente de seu uso e, da maneira

como antes, inconsciente ou não, a utilizava.

A gramática torna-se a grande aliada, pois contribui para o controle e para a

autonomia dos discursos.

É fundamental que o educando faça a sua leitura, como também ouça as

leituras dos colegas e do professor. Ao escutar, terá oportunidade de observar como

é variada a gama de tipos de textos à disposição dele e como varia a sua leitura, já

que cada tipo de texto requer uma específica. Com esta tarefa, o professor trabalhará

atitudes importantes, tais como: saber ouvir o outro, respeitar a variedade de

registros lingüísticos e dialetos presentes em nossa cultura e observar a sua própria

desenvoltura em trabalhos orais.

O interesse do aluno é despertado, antes propriamente da atividade, através de

perguntas que propiciem externar o que o texto comunica, relacionar o conteúdo do

texto com o mundo ... ver o significado do título e provocar uma reflexão sobre o

texto antes mesmo de lê- lo.

Com o interesse despertado, o aluno poderá fazer uma leitura mais realista do

conteúdo do texto, fazendo uma checagem deste com o trabalho anteriormente feito,

notará com mais facilidade a intencionalidade do autor, a relação dos conteúdos

propostos pelo texto com o universo cognitivo do leitor ,enfim, construirá uma

imagem sobre o texto ( o autor, suas intenções, a meta da leitura, os prováveis

conteúdos).

A capacidade de antecipar ou predizer o texto não é utilizada somente no

início da leitura, a partir do título. Quando lemos ou escutamos uma notícia de

jornal, antecipamos seu desfecho e o discurso do autor. Isso é compreensão ativa

envolvida na leitura, o que a torna inclusive, mais fluente e rápida. Portanto, as

Page 62: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

62

62

atividades de predição, antecipação e checagem devem ser constantemente

retomadas ao longo da leitura, levando o aluno a prever novos significados e a

checar suas previsões. Chamamos isto de predição medial, composta da predição

global de conteúdo, feita a partir de ilustração ou título.

Há outras estratégias de leitura que devem ser trabalhadas pelo professor, pois

estão em processo de construção pela criança: a capacidade de inferir “não-ditos”

ou implícitos necessários à compreensão do texto,capacidade relacionada à de

antecipação / checagem e baseada no conhecimento de mundo do leitor (inferência

lexical), a capacidade relacionada ( inferência local ou global); as habilidades de

localizar e selecionar a informação central do texto, de apropriá- la, reestruturando-a,

para uma reconstrução; de sintetizá- la num texto-resumo (síntese); de assumir um

posicionamento crítico sobre os conteúdos e as intenções do autor.

Ao final da leitura, deve-se discutir por que algumas antecipações e

inferências tiveram ampla margem de acertos, enquanto que outras não; e quais são

as pistas do texto que levam a essas conclusões. Embora seja uma prática oral, é ao

mesmo tempo leitora, uma vez que é vivenciada internamente o tempo todo.

À medida que a criança for construindo o código escrito, deverá ser

incentivada à leitura silenciosa, porque é um momento de autonomia, onde ela

mesma irá confrontar, comparar conhecimentos, emoções, leituras anteriores

(intertextualidade) e estabelecer um diálogo com o texto, elaborando seu próprio

texto interno.

O tempo gasto na leitura é individual e deve ser respeitado. A impossibilidade

de efetuar uma leitura silenciosa adequada pode ter conseqüências prejudiciais para

a formação do bom leitor, segundo Cagliari. Esse seria um dos motivos que levam,

por exemplo, adultos a lerem de forma silabada.

A leitura silenciosa precede a leitura oral, para que a criança possa imprimir-

lhe ritmo e entonação mais adequados e tornar o texto mais seu, num processo de

co-autoria.

É reconhecido o papel essencial da leitura - o afastamento da criança do

contexto imediato e particular.

Page 63: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

63

63

Assim sendo, a interpretação de texto deverá privilegiar questões que

desenvolvam a competência da criança no lugar de torná- la repetidora de trechos

extraídos do texto. Devem ser considerados temas referentes ao contexto de

produção do texto, suas funções sociais, sua estrutura e sua forma de gênero. Tais

questões devem levar a refletir sobre o texto lido e possibilitar o inter-

relacionamento com outros, que já fazem parte do repertório lingüístico-cultural da

criança.

É preciso distinguir o assunto do texto e como ele fala sobre este assunto, pois

optando por esses dois modos, a interpretação será melhor. É preciso ler nas

entrelinhas.

Segundo Geraldeli, “na leitura, o diálogo do aluno é com o texto. O professor,

mera testemunha desse diálogo, é também leitor, e a sua leitura é uma das leituras

possíveis.” Como dito anteriormente, estratégias como antecipação / checagem,

inferência e reconstrução do significado do texto são altamente dependentes e

relacionadas ao conhecimento de mundo do leitor. A leitura da criança é ,portanto,

determinada não só pelo texto, mas também por seu conhecimento prévio dos temas

abordados. O professor mediador deve respeitar e ampliar, na medida do possível,

esse conhecimento.

Por isso, a busca da capacidade de articulação de textos, de intertextos, deve

ser uma preocupação constante no trabalho com Língua Portuguesa. A interpretação

se efetiva na relação entre o texto novo e outros já conhecidos do leitor, entre suas

experiências e vivências. Não se dá sobre o próprio texto.

Ler um texto é inscrevê- lo nos conhecimentos do leitor, e a atividade do leitor

é relacionar diversos conhecimentos, gerando um novo conhecimento.

Atividades que fazem pensar são ótimas para o desenvolvimento cognitivo do

aluno, como, por exemplo:

- Resumir um texto;

- Reconstruí- lo quando está desordenado;

- Imaginar o que virá a seguir;

- Deduzir o que aconteceu antes;

- Deduzir o significado de uma palavra;

Page 64: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

64

64

- Escrever um texto completo;

- Buscar um dado.

As atividades citadas a seguir não têm nenhum sentido significativo para o

aluno e, portanto, são mal aproveitadas pelo mesmo, já que são atividades de puro

reflexo e não de reflexão:

- Lembrar dados irrelevantes;

- Escrever “a” palavra que falta na frase;

- Escrever “a” letra que falta;

- Escrever frases repetitivas;

- Rodear com um círculo a palavra correta;

- Copiar um texto alheio.

As duas modalidades de linguagem devem ser trabalhadas na escola: a oral e

a escrita. A seqüência a ser trabalhada e as atividades a serem feitas ficam a cargo

do professor e na observação feita da turma, bem como as necessidades a serem

sanadas. Organizando um conteúdo com uma seqüência lógica e um grau de

dificuldade crescente, tanto nas atividades orais, quanto nas atividades escritas, os

alunos irão, aos poucos, construindo o conhecimento sobre a língua que, de forma

inconsciente, utilizam no dia-a-dia.

Estas práticas devem ser iniciadas o mais cedo possível. Na escola, as

atividades escritas e a leitura devem ser logo apresentadas às crianças, pois estas já

chegam à escola com a capacidade de produzir textos, mesmo que sejam rabiscos e

histórias orais, que para eles fazem todo sentido. Todas as pessoas têm um modelo

mental – que se denomina competência básica para relatar as ações humanas – mas

o modelo não fornece todos os recursos para encarar a riqueza e a diversidade que a

narração pode vir a adquirir em suas formas escritas. É com a escolaridade que o

aluno vai desenvolver o seu conhecimento da língua, compondo textos mais

complexos e de melhor qualidade, e que se aproximem mais do padrão pedido e

aceito pela sociedade em si, fazendo com que o ato narrativo se transforme no

gênero narrativo. O fato de colocar aí a narração não quer dizer que isto não

aconteça com outros gêneros do discurso.

Page 65: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

65

65

Escrever o texto ditado pelo aluno, sem alterar nada e, depois sugerir algumas

correções ,mas respeitando o texto original sem descaracterizá- lo pode ser uma

atividade de construção do conhecimento, com a interação do maior interessado: o

aluno.

As atividades de reescrita são, na verdade, parte do processo corrente de

produção de texto. Todos fazem uma revisão em seu texto escrito (seja que tipo

for), antes de mandá- lo a seu destino final. Portanto, as atividades de reescrita nada

mais são do que oportunidades de aprendizagem da atividade comum de revisão dos

textos produzidos. Porém, para estas não desestimularem os alunos, elas devem ser

feitas de forma regular no trabalho de textos, sem o peso da desvalorização do texto-

base do aluno.

Todos os aspectos do texto podem ser discutidos: sua clareza, coesão e

coerência; sua eficácia, seu conteúdo, suas formas textuais e frasais; seu

vocabulário, sua grafia e ortografia; etc..

Com o domínio do código escrito, as questões que levam à reflexão sobre o

seu trabalho escrito entram nas atividades do aluno, sem que os “erros” sejam

frisados, mas mostrando opções mais aceitas e para os erros observados pelo

professor atividades devem ser criadas para que o aluno possa oportunizar melhor o

uso de tal palavra ou a ortografia da mesma, levando-o a uma autocorreção. O texto

não deve ser usado para atividades ortográficas ou gramaticais.

O objetivo da produção de texto é formar escritores competentes, ou seja,

indivíduos capazes de elaborar textos coerentes, coesos e eficazes. Um objetivo com

esta amplitude não é alcançado rapidamente. É preciso trabalho e empenho do

professor e do aluno.

Como diz Cagliari:

“A produção de um texto escrito envolve problemas específicos de

estruturação do discurso, de coesão, de argumentação, de organização de idéias e

escolha de palavras, do objetivo e do destinatário do texto etc.. Por exemplo,

escrever um bilhete é diferente de escrever uma carta, uma notícia, uma propaganda,

o relato de uma viagem, uma confissão de amor, uma declaração perante um

Page 66: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

66

66

tribunal, uma piada. Cada texto tem sua função, e todas estas formas precisam ser

trabalhadas na escola.”

Logo, é importante que o aluno tenha contato com todos os tipos de textos

escritos e perceba as condições de produção e os usos dos diversos gêneros

presentes, e consiga através da observação e análise, construir cada um deles,

segundo a sua própria característica, imprimindo, aí, o seu estilo. Ao interagir com

textos diversificados, o aluno constrói seu conhecimento sobre os mecanismos da

língua escrita, além dos conhecimentos gramaticais que irão sendo analisados,

articulados e relacionados.

Ser capaz de ler e escrever significa ser capaz de usar socialmente textos, em

práticas de leitura e produção. Mas também significa para fazê- lo, adequar-se aos

mecanismos da língua (gramática) e da grafia-padrão (ortografia), para que os textos

produzidos possam ser eficazes socialmente. Por isso, o ensino da gramática

(inclusive ortografia) deve ocorrer em situações que envolvam a reflexão

compartilhada sobre textos reais.

Nas situações de produção real escrevem-se textos contextualizados, isto é,

para interlocutores com os quais temos tipos de relação (mais ou menos íntimas),

em condições concretas, com intenções e metas concretas, sobre determinados

temas. Cada gênero difere em suas condições de produção: escrever uma carta de

amor é diferente de escrever uma acusação para ser apresentada a um tribunal, pois

a relação estabelecida com o destinatário é difere de uma para outra. O autor tem

que levar em conta estas condições.

O uso da Língua Portuguesa vai melhorando de acordo com o interesse do

aluno e de sua percepção do quanto esta é importante em sua vida. O sentido

atribuído ao seu uso e as várias maneiras de utilização da língua oral e a escrita e as

atividades pedidas e oferecidas pela escola são fundamentais para a evolução desse

conhecimento.

A avaliação do conhecimento do aluno deveria ser individual e ter como

ponto de referência o seu saber anterior, ou seja, a avaliação seria feita em cima da

Page 67: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

67

67

evolução que cada aluno teve naquele período no uso da língua. A observação diária

dessa evolução deve ser em um ambiente sem pressão e tensão, para ajudar a aluno

a reformular suas hipóteses e seus saberes lingüísticos.

Como há diferentes tipos de textos para serem produzidos, lidos e

trabalhados, vale a pena citar os diferentes tipos de leitura que podem ser feitas: a

leitura de informação (jornal, normas, revistas), a leitura de consulta (jornais,

revistas, livros), a leitura para a ação (placas de sinalização, avisos, instruções), a

leitura de reflexão (teses, obras filosóficas e literárias), a leitura de distração (gibis,

livros considerados “Best-seller”) e a leitura da linguagem poética (poemas,

músicas).A leitura é sempre uma elaboração da informação, variando somente a

intenção que o leitor deposita numa situação e noutra. É em função do que o leitor

deseja fazer que ele seleciona as informações mais adequadas para a concretização

do seu projeto. Por isso, a leitura é, por natureza, flexível, múltipla, diversa, sem

uma hierarquia preestabelecida que defina uma leitura melhor do que as outras.

Aprender a ler é aprender a explorar um texto, lenta ou rapidamente, dependendo da

intenção do leitor.

Ler e escrever servem, então, para:

- lembrar, identificar, localizar, registrar, armazenar, averiguar, etc. dados;

- comunicar ou nos inteirar-se do que aconteceu, de como é um país, do que

existe, etc.;

- desfrutar, compartilhar sentimentos e emoções, desenvolver a sensibilidade

artística, participar de fantasias e de sonhos;

- estudar, aprender, conhecer, aprofundar conhecimentos;

- aprender como se fazem as coisas, etc.

Portanto, o ensino de escrita deveria ser com texto, mas para fazer algo útil,

tal como os adultos o fazem.

Page 68: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

68

68

CONCLUSÃO

Ao término deste trabalho, chega-se a conclusão de que uma boa linguagem

não se resume ma mera correção gramatical, e que esta está inserida em um

contexto relativo dentro da amplitude que é a comunicação lingüística. Com a

observação das diferenças existentes entre a língua falada e a língua escrita, pode-se

afirmar que a escrita não é uma representação da fala e nem a fala é o lugar do caos.

Ambas as modalidades têm o mesmo processo de compreensão, variando de

implementação em virtude das condições de produção, de acordo com o objetivo

que se quer alcançar.

É fato que a oralidade está presente na fala e na escrita dos educandos do

ensino fundamental, variando a sua intensidade, de acordo com a influência do

ambiente social do educando e o fator atribuído por este ao uso da fala e da escrita

de forma adequada.

Os pais e os professores têm influência direta no desenvolvimento oral e

escrito do aluno, já que este depende das inferências feitas por parte dos adultos que

têm o objetivo de ensinar- lhes a cultura e o modo de manifestá- la.

O incentivo em usar a língua oral e/ou a escrita, de maneira adequada ao

ambiente no qual se está, tem sido fator primordial no desenvolvimento do “ser

humano”, pois não só o educando utiliza a língua e suas modalidades; ela é utilizada

por todos independentemente da idade e a todo momento, desde que seja

necessário.Logo, se faz necessário o saber em usá-la adequadamente.

Em um ambiente, onde adultos usem a língua no seu dia-a-dia para os seus

afazeres domésticos, profissionais e de lazer, enfim, com um instrumento essencial

para as suas funções sociais, a criança ,aí, inserida incorporará este modelo e tentará

segui- lo para a sua vida, pois a importância na utilização da língua está implícita nas

ações cotidianas.

Por isso, o papel do profissional da educação, enquanto profissional,

responsável por uma clientela posta a seu serviço e influência, é de mediador entre o

Page 69: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

69

69

mundo e a aluno, inserido no espaço escolar e, conseqüentemente, no mundo. Essa

mediação, dentro da escola, faz-se pela veiculação dos conteúdos, tendo, aí, o

princípio da educação.

Princípio este alicerçado no conteúdo veiculado pelas escolas através do

estudo da língua materna e outras disciplinas dependentes da primeira, pois sem a

utilização da língua materna não é possível passar nenhum outro ensinamento para a

criança, na medida em que a apreensão desse saber propicia ao aluno condições de

superar certas limitações e concepções irreais do mundo e, inserido nele,

compreendê- lo, conhecê- lo e, através desse conhecimento adquirido e incorporado

ao seu meio sociocultural, vencer as contradições com as quais se defronta e vive

em constante interação.

A escola pode optar por dois tipos de metodologia no ensino da língua

materna:

A opressiva – que o professor é um mero transmissor do conhecimento e o

aluno é um mero receptor. Esta postura educacional é antiga e rígida, e já provou o

seu fracasso.

A transformadora – onde o estudante é ativo e responsável pela produção do

seu conhecimento, tendo o professor, não mais como “o todo poderoso”, mas como

um facilitador da aprendizagem.

A última opção tende a transformar o aluno em um sujeito de maior

autonomia, liberdade e senso crítico. Enquanto que a primeira fará do aluno um

mero reprodutor de pensamentos e atitudes,sem nenhum pensamento próprio e

iniciativa diante da vida, ou seja, um ser passivo.

É na interação com os alunos, que o professor poderá observar, que o seu

saber é limitado, diante dos saberes marcantes que os alunos trazem em sua

experiência de vida para a escola.

É com a troca desses saberes - aluno e professor – que o aluno irá entender

que o saber é a via que lhe proporcionará os conhecimentos para usá- la

adequadamente na luta por uma sociedade mais justa e igualitária.

Atividades estimuladoras das estruturas mentais, cognitivas e afetivas e que

permitem a construção de conceitos técnicos, científicos e éticos, devem nortear o

Page 70: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

70

70

trabalho de qualquer professor e, mais ainda o dos professores de Língua

Portuguesa, pois o aprendizado de todas as outras matérias e todos os outros

conhecimentos depende do uso irrestrito da língua. O crescimento do aluno

depende disto.

De posse desses conceitos e de sua plena internalização, o aluno terá a

possibilidade de compreender a realidade social maior em que vive, participando da

transformação dessa realidade de maneira consciente, criativa e responsável.

Assim, partindo dos conhecimentos já acumulados pela vivência do aluno,

tornando-o agente de seu próprio conhecimento, entrelaçando a realidade com o

cotidiano escolar, busca-se a interação das diferentes áreas do conhecimento

Com o professor assumindo o papel de orientador do processo pedagógico,

com atividades estimuladoras e fazendo da escola um espaço aberto para a vida e

não desvinculado dela, é possível que o êxito seja alcançado.

Com isto, o aluno irá perceber que é de fundamental importância para a sua

vida que ele adquira os conhecimentos necessários para a utilização adequada da

língua materna, em seus variados graus de dificuldade e de modalidade escrita e

falada, pois independente do que venha a ser, a língua sempre se fará presente e

dela, ele sempre precisará para se comunicar, em todos os ambientes sociais que lhe

seja possível estar.

Portanto, o objetivo deste trabalho foi identificar aspectos dos textos orais e

escritos, mas em particular, esclarecer que a língua não é um simples sistema de

regras, mas uma atividade sociointerativa que apresenta o próprio código como tal.

O seu uso, por isso, assume um lugar de destaque e deve ser o principal objeto de

observação dos estudiosos e interessados nesta área, com a finalidade de não

transformá-la em um mero instrumento de transmissão de informação; já que a

língua é um fenômeno sociocultural determinada pela relação decisiva para a

criação de novos mundos e pensares.

Ela , a linguagem escrita ou falada, deve ser vista pela sua importância como

parte integrante da pessoa humana e saber respeitar as modalidades deve ser meta

número um para todos e como diz o pensamento presente na página 220 de o

“Ensaios de Emerson” :

Page 71: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

71

71

“ O homem é apenas metade de si; a outra metade é a sua expressão”

Com este pensamento final, espera-se que todos venham a mudar a concepção

sobre o uso e a importância dessas duas modalidades da língua e que a oralidade

ganhe a importância que merece e o respeito de seus variados usos.

Page 72: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

72

72

BIBLIOGRAFIA

1- ANTUNES,Celso. Jogos para bem falar: Homo sapiens, homo loquens. Campinas,

SP: Papirus, 2003.

2- BARBOSA,José Juvêncio. Alfabetização e Leitura. São Paulo, Cortez, 1990.

3- BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo, Ed. Martins Fontes, 1992.

4- CAGLIARI, L.C. Alfabetização e Lingüística. 8ª ed. , São Paulo, Ed. Scipione,

1995.

5- CAMARA JÚNIOR,Joaquim Mattoso. Manual de expressão oral e escrita.

Petrópolis, Vozes, 1986.

6- CAPOVILLA, Alessandra Gotuzo Seabra. Problemas de leitura e escrita: como

identificar, prevenir e remediar numa abordagem fônica. São Paulo: Memnon,

2003.

7- FÁVERO, Leonor Lopes et al. Oralidade e escrita: perspectivas para o ensino de

língua materna. 4ª ed. São Paulo: Cortez Editora, 2003.

8- FERREIRO, E. (Trad: Horácio Gonzáles et alii). Reflexões sobre alfabetização. 24ª

ed., São Paulo, Cortez, 1995.

9- FREITAS, Mª Tereza A. O pensamento de Vygotsky e Bakhtin no Brasil. 2ª ed.,

Campinas, SP: Papirus, 1994. ( Coleção Magistério, Formação e Trabalho

Pedagógico)

10- GADOTTI, Moacir. Convite à leitura de Paulo Freire. São Paulo, Scipione, 1989.

11- KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. O texto e a construção dos sentidos. 6ª ed., São

Paulo: Contexto, 2002.

12- LEME,Maria Fernanda S. Tópicos de Linguagem – Gramática e Ortografia. São

Paulo:Atual, 1989.

13- MARCUSCHI, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização.

4ª ed., São Paulo: Cortez, 2003.

Page 73: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

73

73

14- MIRANDA,Simão de. Escrever é divertido: Atividades lúdicas de criação literária.

3ª ed.,Campinas,SP: Papirus, 1999.

15- PONTES, Eunice. O tópico no português do Brasil. Campinas, Pontes, 1987.

16- RODRIGUES, Neidson. Lições do Príncipe e outras lições. São Paulo, Cortez,

1984.

17- SOARES,Magda. Linguagem e Escola: uma perspectiva social. 17ª ed., Editora

Ática, São Paulo, 2002.

18- SORDI,Rose. Magistrando a língua portuguesa: literatura brasileira, redação,

gramática, metodologia de ensino e literatura infantil. São Paulo, Moderna, 1991.

19- TEBEROSKY, A. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre, Artes Médicas,

1985.

20- VYGOTSKY,L.S. A formação social da mente. São Paulo; Martins Fontes, 1984.

21- ______________. Pensamento e Linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1989.

22- WEIL, Pierre. A criança, o lar e a escola. Petrópolis, R.J.,Vozes, 1997.

Page 74: FFP / UERJ ( UNIVERSIDADE ESTADUAL DO RIO DE …‰RIA ALMEIDA DOS SANTOS.pdf · Em Língua Portuguesa, ... do 2º segmento e o modo com esta influencia o dia-a-dia dos educandos

74

74

ANEXOS