feteg-execução sentença - petição

21
Goiânia, GO - Avenida 85, 186, Sala 16, Setor Sul - 74.080-010, Tel/Fax: 62 3092-7119 Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 2ª Vara da Fazenda Pública Municipal da Comarca de Goiânia, Estado de Goiás. Processo 200502368564 – Mandado de Segurança Impetrante Feteg – Federação de Teatro do Estado de Goiás Impetrado Secretário Municipal de Cultura – Município de Goiânia FETEG – FEDERAÇÃO DE TEATRO DO ESTADO DE GOIÁS, devidamente qualificada nos autos supra citados, por intermédio do advogado subscritor da presente, vêm, diante o retorno dos autos, apresentar suas considerações e requerer a execução da sentença de mérito proferida por este Juízo e mantida pelo Tribunal ad quem, conforme acórdão de fls. 1. Breve Histórico O Impetrante propôs o presente mandado de segurança requerendo a suspensão da realização da III Conferencia Municipal de Cultura e a invalidação dos critérios de determinação de número de delegados, demonstrando que o ato convocatório (Edital 04/2005) feria os princípios da publicidade e da isonomia. A segurança foi concedida liminarmente, determinando a suspensão da Conferência e ordenando a realização de nova convocação com a devida divulgação em jornais de maior circulação da Capital e Diário Oficial Municipal, concedendo às entidades prazo razoável para promoverem suas inscrições no maior número possível (fls. 40/42).

Upload: marcus-fidelis

Post on 14-Jun-2015

712 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: FETEG-Execução Sentença - Petição

Goiânia, GO - Avenida 85, 186, Sala 16, Setor Sul - 74.080-010, Tel/Fax: 62 3092-7119

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da 2ª Vara da Fazenda Pública Municipal da Comarca de

Goiânia, Estado de Goiás.

Processo 200502368564 – Mandado de Segurança Impetrante Feteg – Federação de Teatro do Estado de Goiás Impetrado Secretário Municipal de Cultura – Município de Goiânia

FETEG – FEDERAÇÃO DE TEATRO DO ESTADO

DE GOIÁS, devidamente qualificada nos autos supra citados, por intermédio do advogado subscritor da

presente, vêm, diante o retorno dos autos, apresentar suas considerações e requerer a execução da

sentença de mérito proferida por este Juízo e mantida pelo Tribunal ad quem, conforme acórdão de fls.

1. Breve Histórico

O Impetrante propôs o presente mandado de segurança

requerendo a suspensão da realização da III Conferencia Municipal de Cultura e a invalidação dos

critérios de determinação de número de delegados, demonstrando que o ato convocatório (Edital 04/2005)

feria os princípios da publicidade e da isonomia.

A segurança foi concedida liminarmente, determinando a

suspensão da Conferência e ordenando a realização de nova convocação com a devida divulgação em

jornais de maior circulação da Capital e Diário Oficial Municipal, concedendo às entidades prazo

razoável para promoverem suas inscrições no maior número possível (fls. 40/42).

Page 2: FETEG-Execução Sentença - Petição

2

A tentativa de intimação da decisão liminar restou frustrada

por evidente ocultação da Autoridade Coatora conforme certidão de fls. 641. Com isso a conferência foi

realizada sem que pudesse ser cumprida a liminar concedida. Comunicado este fato a este Juízo (fls.

47/59) nova liminar foi concedida declarando suspensos os resultados e efeitos da Conferência

realizada (fls. 60/61).

O Impetrado foi notificado no dia 21/10/2005, conforme

certidão de fls. 79. Em 18/10/2005 a Autoridade Coatora já havia recorrido, via Suspensão de

Segurança, ao Presidente do Tribunal de Justiça de Goiás, que decidiu pela suspensão dos efeitos da

liminar concedida por este Juízo (fls. 76). Importante ressaltar que apenas a primeira liminar foi

objeto do pedido de suspensão, portanto, a decisão do Presidente do Tribunal de Justiça não atingiu

os efeitos da segunda liminar deferida, que DECLAROU SUSPENSOS OS RESULTADOS E

EFEITOS da Conferência realizada.

Em 03/11/2005 a Autoridade Coatora apresentou suas

informações, justificando “que foi afixada uma cópia do edital no placar da sede da Prefeitura

Municipal de Goiânia, sito no Paço Municipal”, e que “diversas entidades culturais declararam ter

recebido e o edital de convocação no dia 05 de outubro de 2005” (fls. 80/124).

Tais declarações demonstram indubitavelmente que

entidades “selecionadas” tomaram conhecimento do edital antes da sua afixação na sede do placar da

Prefeitura e do envio à publicação, ocorridos somente no dia 7/10/2005. Isso comprova a ofensa aos

princípios constitucionais da isonomia e da publicidade aduzidos na peça exordial. Ficou claro que a

Autoridade Coatora privilegiou algumas entidades em lastimável detrimento de outras, ferindo

princípios basilares da Administração Pública (fls.92 e ss).

Instado a se manifestar, o Ministério Público pugnou pela

concessão da segurança e pela invalidação dos efeitos da conferencia e do edital (fls. 126/134).

1 Fls. 64, Certidão do Senhor Oficial de Justiça José Carlos Teixeira de Brito, em 13/10/2005: “... deixei de

proceder a notificação do secretário de cultura do município de Goiânia, Dr. Kleber Adorno, devido na diligência ali realizada dia 11/10/2005 as 14:30hs onde fiquei até as 16:40hs onde o secretário não apareceu. Por informação do chefe de gabinete Sr. Jorge leal o mesmo viajou para Brasília. Ai sendo, no dia 12/10/2005 as 09:00 no Instituto Histórico e Geográfico de Goiás seria marcada a conferência para eleições e o comparecimento do secretário o qual não compareceu também ao ato. Portanto houve ocultação do secretário para não ser notificado. Portanto devolvo ao cartório para o devido fins” (sic)

Page 3: FETEG-Execução Sentença - Petição

3

Em 8 de junho de 2006, foi proferida a sentença de mérito

que manteve a liminar, concedendo no mérito a segurança pleiteada, invalidando os efeitos da

conferência e anulando o edital que a convocou (fls. 176/180).

Com a sentença os efeitos da suspensão de segurança

cessaram, conforme a melhor jurisprudência de nosso Tribunal Superior:

“Se a sentença que julga procedente ação de mandado de segurança constitui-se em

ordem para o cumprimento imediato pela autoridade coatora – por isso que contra ela

recurso não pode ter efeito suspensivo – é inconcebível ampliar-se a eficácia de decisão

suspensiva de liminar para momento após a solução final do litigo, ainda que,

porventura, não tenha ocorrido o trânsito em julgado”2.

Devidamente intimada da sentença a autoridade coatora

apelou da decisão (fls. 183/191), e não a cumpriu apesar de sua apelação ter sido recebida apenas no

efeito devolutivo (fls. 193) continuando a ignorar a ordem judicial exarada por este Juízo.

Apresentadas as Contra-Razões do Apelado/Impetrante, fls.

195/206, a 49ª Promotoria de Justiça de Goiânia manifestou-se pelo improvimento da apelação e pela

confirmação da sentença monocrática, posição reiterada pela 29ª Procuradoria de Justiça de Goiás,

depois da subida dos autos ao Egrégio Tribunal de Justiça, fls. 227/232.

Em 20/11/2007 o Tribunal de Justiça negou provimento à

apelação (fls. 271/286) mantendo a sentença monocrática, contra o qual se insurgiu a Autoridade

Coatora via recurso extraordinário (fls. 291/297).

Em suas razões de recurso o Impetrado diz que “não foi

afrontado nenhum direito líquido e certo da parte recorrida”, relatando que o edital para realização da

III Conferência Municipal de Cultura foi “amplamente” divulgado a todas as entidades culturais

interessadas afirmando que diversas declararam ter recebido o edital de convocação no dia

05/10/2005.

Apresentadas as contra-razões do Impetrante (fls. 303/316) o

Ministério Público se manifestou através do Parecer 913/2007 (fls. 319/321) pugnando, preliminarmente,

2 STJ-2ª T, Resp 184144-CE, rel. Min. Franciulli Netto, j. 19.03.02, não conheceram, v.u. DJU 28/10/03 p. 238

Page 4: FETEG-Execução Sentença - Petição

4

pela intempestividade do recurso e, no mérito, pelo seu não conhecimento, pois era “evidente a pretensão

de reexame de prova, com o objetivo de alterar a moldura fática estabelecida no referido acórdão”.

Às fls. 323, foi negado seguimento ao recurso, “porque o

recorrente não aponta a hipótese constitucional de seu cabimento”. Tal decisão foi combatida por

Agravo de Instrumento ao Superior Tribunal Federal, não sendo conhecido por absoluta falta de

repercussão geral. Tal decisão transitou em julgado em 28/10/2008.3

Volvidos os autos a este Juízo de origem, cumpre à

Impetrante manifestar-se acerca da execução da sentença, até então não cumprida pela Autoridade

Coatora.

3. Da suspensão de segurança.

Diante a liminar concedida a Autoridade Coatora utilizou o

recurso previsto no artigo 4º da Lei 4.348/2008, dizendo que a medida se justificava para evitar pela grave

lesão a ordem pública, pois a III Conferência Municipal de Cultura – que no mérito foi declarada inválida

– era necessária para “cumprir o protocolo existente com o Ministério da Cultura, que obriga a indicação

dos conselheiros até o final de outubro, para que a municipalidade seja representada na Conferencia

Nacional de Política Cultural”.

A primeira Conferência Nacional de Cultura havia sido

convocada pela Portaria 180 de 31 de agosto de 2005 e seria realizada nos dias 13 a 16 de dezembro

daquele ano. Sua função precípua era a elaboração do Plano Nacional de Cultura através de conselheiros

escolhidos nas Conferências municipais.

A Autoridade Coatora argumentou que caso a liminar

substisse não seria possível a participação do Município no evento nacional, “estando prejudicado o

desenvolvimento cultural da nossa municipalidade”. Ao decidir, o Presidente do Tribunal de Justiça,

disse que a suspensão dos efeitos da III Conferência Municipal importaria na impossibilidade do

Município se constituir regularmente perante o Ministério da Cultura o que geraria “barreiras sérias à

obtenção de verbas federais”.

3 Agravo ao STF no. 117091/2008

Page 5: FETEG-Execução Sentença - Petição

5

Ocorre, Excelência, que esse argumento encobriu a

verdadeira intenção da Autoridade Coatora de compor fraudulentamente um Conselho e uma Comissão

de Projetos Culturais, colocando sob sua batuta tanto o desenvolvimento da política cultural do município

quanto as verbas municipais à ela destinadas (1.5% do Iptu e Iss). Conforme se verá adiante, o real

prejuízo sofrido pelo Município adveio da irregularidades cometidas pelo Conselho e pela Comissão de

Projetos constituídas ilegalmente.

Além disso, a Autoridade Coatora não foi competente o

suficiente para indicar tais membros, pois não respeitou o espírito da Conferência Nacional de Cultura.

Diante das ilegalidades cometidas na convocação da III Conferência Municipal de Cultura, preparatória

para a Conferência Nacional, a Coordenação Geral da Comissão Organizadora Nacional da Conferência

Nacional de Cultura considerou-a inválida como etapa integrante da 1ª Conferência Nacional de

Cultura, conforme decisão 01/2005 proferida em 9/12/2005, conforme documento anexo 4.

Além dos prejuízos causados pelo ato convocatório

declarado inválido, a Autoridade Coatora não conseguiu colocar o Município na Conferência Nacional de

Cultura. Como é sabido o município de Goiânia não depende de verbas federais para fomento da cultura.

Para isso conta com receita vinculada de impostos municipais (iss e iptu), que atualmente encontram-se

sob a batuta do Conselho Municipal de Cultura e da Comissão de Projetos Culturais, privilegiando até o

próprio Secretário de Cultura e Ex-presidente da Comissão.

Portanto, a execução da sentença não trará nenhum prejuízo

aos munícipes como quis dar a entender a Autoridade Coatora na Suspensão de Segurança ajuizada. Pelo

contrário, a imediata eleição do novo Conselho Municipal de Cultura e da Comissão de Projetos

Culturais, respeitando a representação paritária defendida pela Constituição Federal, Lei Orgânica,

Plano Diretor, leis e decretos municipais fará com que a população possa realmente definir a

política cultural do município e decidir sobre a aplicação dos benefícios fiscais, participando do

julgamento dos projetos culturais inscritos.

3. Do descumprimento das decisões judiciais pela Autoridade Coatora.

Desde a intimação da sentença de mérito, em 23.06.2006, a

Autoridade Coatora vem se esquivando do cumprimento da sentença que declarou inválido o edital

4 Documento 1 - Decisão 001/2005, transmitida via fax para a Prefeitura Municipal de Goiânia

Page 6: FETEG-Execução Sentença - Petição

6

convocatório da 3ª Conferência Municipal de Cultura e todos os atos daí advindos, principalmente a

eleição do Conselho Municipal de Cultura e da Comissão de Projetos Culturais.

A Autoridade Coatora deveria ter interrompido

imediatamente a cadeia de atos inválidos sucessivos, convocando nova Conferência para a correta escolha

do Conselho Municipal de Cultura, com representação efetivamente paritária entre administração e

sociedade. A liminar que suspendeu a segurança concedida não teve mais efeito após a sentença de mérito

e o Apelo foi recebido apenas em seu efeito devolutivo.

No entender de Hely Lopes Meireles 5:

“A execução da sentença concessiva da segurança é imediata, específica ou in natura,

isto é, mediante o cumprimento da providência determinada pelo juiz, sem a

possibilidade de ser substituído pela reparação pecuniária”.

E prossegue:

“A decisão – liminar ou definitiva – é expressa no mandado para que o coator cesse a

ilegalidade. Esse mandado judicial é transmitido por ofício ao impetrado, valendo como

ordem legal para o imediato cumprimento do que nele se determina, e, ao mesmo tempo,

marca o momento a partir do qual o impetrante, beneficiário da segurança, passa a

auferir todas as vantagens decorrentes do writ. Se o ato ordenado judicialmente depende

de tramitação e formalidades administrativas para sua perfeição, deverá iniciar-se

imediatamente seu processamento regular, sobre pena de considerar-se desatendida a

ordem. (...)

O não atendimento do mandado judicial caracteriza o crime de desobediência a ordem

legal (CP, art. 330), e por ele responde o impetrado renitente, sujeitando-se até mesmo

a prisão em flagrante, dada a natureza permanente do delito.”

Atendendo o preceito do art. 11, caput, da Lei 1.533/51, o

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, através de ofício assinado pelo Desembargador Relator Dr.

Wilson Safatle Faiad, encaminhou à Autoridade Coatora cópia reprográfica da sentença proferida em

primeiro grau.

5 Mandado de Segurança, Malheiros Editores.

Page 7: FETEG-Execução Sentença - Petição

7

Reforçando a opinião doutrinária acima reproduzida, o STJ

assim se manifestou acerca do assunto: “A decisão, em mandado de segurança, é executada logo que

seja transmitido, em ofício, o seu integral teor à autoridade coatora (art. 11 da lei 1.533/51)”.6

Em resposta ao Ofício do Tribunal de Justiça de Goiás, a

Autoridade Coatora, demonstrando a sua intenção em descumprir a decisão judicial, afirmou que a 3ª

conferência “também” não serviu para definir os membros do Conselho Municipal de Cultura para o

biênio 2005/2007 e que posteriormente ela, Autoridade Coatora, “teve que realizar uma nova consulta

entre as entidades culturais para formação da lista tríplice”, concluindo que a conferência “não

produziu os efeitos esperados, não existindo o que invalidar” (fls. 250).

Afirma ainda que “o Conselho Municipal de Cultura” está

em pleno funcionamento, “não com os membros escolhidos na ‘III Conferência Municipal de Cultura

de Goiânia’ e, sim, posteriormente a sua realização”.

Ora, Excelência, tal argumento demonstra flagrante

ilegalidade e desrespeito da Autoridade Coatora aos princípios da administração pública e à própria

decisão judicial. A um, pois a Impetrada afirma expressamente que realizou uma nova consulta entre as

entidades culturais para formação da listra tríplice sem explicar como essa “consulta” ocorreu, e

principalmente se foi precedida de convocação válida como é exigido pela lei. A dois, pois a

Impetrada pretende desviar o foco da questão, colocando como efeito da sentença apenas a escolha do

Conselho Municipal de Cultura, sendo que ela reside na invalidação do ato que convocou a

Conferência onde foi realizada a eleição da lista tríplice apresentada ao Chefe do Poder Executivo.

O que sempre se perseguiu com o presente mandamus foi a

invalidação do ato convocatório da conferência, que impossibilitou a organização das entidades e fraudou

flagrantemente a questão da participação democrática da sociedade na elaboração e implementação de

políticas públicas, ao criar critérios de número de delegados inexistentes na legislação municipal (Lei

8.154).

Desrespeitando os princípios da publicidade e da isonomia a

Autoridade Coatora colocou sob seu controle o Conselho Municipal de Cultura e a Comissão de Projetos

Culturais responsáveis pela “distribuição” das verbas da Lei de Incentivo à Cultura provenientes de 1.5%

6 STJ-Bol AASP 1835/57.

Page 8: FETEG-Execução Sentença - Petição

8

da receita arrecadada com o ISS e IPTU, aviltando o Patrimônio Público e Cultural do cidadão

goianiense.

Portanto, é imprescindível que a Autoridade Coatora cumpra

a determinação judicial, sob pena de multa e sanções penais.

Demais disso, a conduta da Autoridade Coatora é

desrespeitosa a este honrado Juízo e a todo o Judiciário, vez que faz ouvidos moucos às determinações

emanadas da Justiça com o que desafia a Ordem Jurídica vigente, incursando, em tese, nas sanções do

artigo 330 do repressivo penal pátrio.

4. Dos Conselhos Municipais, da Democracia Participativa e da Representação Paritária.

A Constituição Federal, em seu artigo 1º, diz que todo poder

emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente. Além de ser

representado pelos políticos eleitos, a Constituição prevê a participação direta do cidadão na

Administração Pública, através dos Conselhos - órgãos colegiados responsáveis por setores fundamentais

como juventude, educação, sistema penitenciário, saúde e cultura.

A Lei Orgânica do Município de Goiânia, seguindo a

Constituição Federal, estabeleceu em seu artigo 23:

Capítulo IV - DA ORGANIZAÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL

Seção I - Dos Órgãos Auxiliares

Art.23- A lei assegurará a criação de Conselhos Municipais, com

objetivos específicos e determinados, integrados paritariamente por

representantes dos Poderes Executivo e Legislativo, representantes da

sociedade civil, usuários e contribuintes.

Os Conselhos são responsáveis pela definição das políticas

públicas e pela aplicação de recursos oriundos do erário público, geralmente algum fundo especial com

receitas vinculadas. No presente caso o Conselho Municipal de Cultura é responsável pela aplicação

de 1,5% de toda a receita de ISS e IPTU, através da Lei de Incentivo a Cultura (art. 14, Lei 7957/2002)

e do Fundo de Apoio a Cultura (art. 25, idem).

Page 9: FETEG-Execução Sentença - Petição

9

A Comissão de Projetos Culturais, órgão integrante do

Conselho Municipal de Cultura, é a responsável pela análise, averiguação e aprovação dos projetos

candidatos aos incentivos culturais do município.

5. Da ilegalidade na composição da Comissão de Projetos Culturais

O Regimento Interno estabelece que a Comissão de Projetos

Culturais seja composta por cinco membros convidados dentre a administração pública e 5 membros

convidados dentre os segmentos culturais, além de um membro indicado pelo Presidente do Conselho

Municipal de Cultura. Conforme estabelece o artigo 3º do Decreto 2.596/2003 “a Comissão de Projetos

Culturais – CPC, fará parte da estrutura do Conselho Municipal de Cultura [CMC]”, portanto o

Conselho é o órgão responsável pela indicação dos nomes a serem convidados para composição da CPC.

Em 08/06/2006 foi publicada no Diário Oficial do Município

a Portaria 005/2006 que constituiu a Comissão de Projetos Culturais 7. Em 16/08/2007 nova Comissão é

constituída, desta vez através da publicação do Decreto 1.620/2007 no Diário Oficial do Município 8. Em

08/08/2008 é publicado o Decreto 2.112, que alterou o Decreto 1620/2007, substituindo 2 (dois)

conselheiros, reconduzindo os demais 9.

Nenhuma dessas nomeações respeitou a representação

paritária prevista no artigo 1º da Lei 8.154/2003 (que criou o Conselho Municipal de Cultura), no artigo

2º do Regimento Interno da CPC e no artigo 23 da Lei Orgânica do Município, tanto é verdade que a

Autoridade Coatora não prestou as informações solicitadas pelo Ministério Público acerca desta

composição, conforme poderá ser observado no próximo tópico.

A composição da Comissão de Projetos Culturais nos

moldes atuais é totalmente inválida, pois advém de um conselho escolhido através de um ato

convocatório declarado judicialmente inválido. Além disso, diversos membros foram reconduzidos

indevidamente e permanecem ad eterno no cargo de Conselheiro, conforme se depreende da leitura dos

7 Documento 2 – Portaria 0005/2006 da Sec. Cultura (D.O.M. 3898 de 08/06/2006) 8 Documento 3 – Decreto 1.620, de 07/08/2007 9 Documento 4 – Decreto 2.112, de 04/08/2008

Page 10: FETEG-Execução Sentença - Petição

10

documentos 2, 3 e 4. São eles: Edival Lourenço de Oliveira, Carlos Antônio Brandão, Wilson Ribeiro da

Costa, Doracino Naves dos Santos, Jorge Veiga de Souza Leal e Oséias Pacheco de Souza.

Todos foram nomeados pela Portaria 5/2006 de 08 de junho

de 2006, nomeados novamente pelo Decreto 1.620 de 07 de agosto de 2007 e reconduzidos pelo Decreto

2.112 de 04 de agosto de 2008, afrontando o que está definido no artigo 1º, §1º da Lei 8.154/2003, que

estabelece: “Os membros do Conselho Municipal de Cultura terão mandato de 2 (dois) anos, podendo

ser reconduzidos, automaticamente, apenas uma vez”. O Regimento Interno da CPC diz que o prazo de

vigência da Comissão observará o disposto no Decreto 1.619/2007 que diz:

“O prazo de vigência da CPC segue o disposto no §1º do artigo 1º da Lei 8.154, de 16 de

janeiro de 2003”.

Para se ter uma idéia, mais de R$ 10.000.000,00 (dez

milhões de reais) foram distribuídos aos projetos aprovados pela CPC entre 2005 e 2008, isso sem contar

com o Fundo de Apoio a Cultura, que, por manobra de Decretos, está inteiramente destinado aos projetos

da própria Secretaria de Cultura (art. 41, 45, inciso I revogado do artigo 46, art. 52 §2º, todos do Decreto

973/2003).

Isto tudo, repisa-se, através de uma Comissão de Projetos

Culturais ilegalmente composta.

6. Do procedimento administrativo instaurado no Ministério Público

Diante das noticias de irregularidades na constituição da

Comissão de Projetos Culturais e de não atendimento das disposições expressas na Lei de Licitações e Lei

7957/2000, alterada pela lei 8,146/2002 e regulada pelo Decreto 973/2003, que teriam ferido o princípio

da legalidade, nos termos do artigo 37 da Constituição Federal, o Ministério Público instaurou, através

da Portaria 022, de 22/11/2007, procedimento administrativo para averiguar eventuais prejuízos

causados ao Patrimônio Público Municipal.

Neste procedimento foi expedido em 26/11/2007 o Ofício

82/2007 requisitando à Secretaria de Cultura de Goiânia os seguintes documentos e informações relativas

ao Edital 03/2006: a) Regimento Interno da CPC; b) comprovação do envio das justificativas por via

registrada dos projetos aprovados e rejeitados; c) informar o segmento que se enquadra “demais

projetos”; d) atas das reuniões da CPC; e) comprovação da publicação no D.O.M e dois jornais de grande

Page 11: FETEG-Execução Sentença - Petição

11

circulação do edital de cadastramento das entidades interessadas em cadastrar-se no processo seletivo da

CPC; f) comprovação da publicação no D.O.M. do nome dos titulares e suplentes da CPC; e g)

comprovação da publicação dos pareceres e justificativas dos projetos aprovados e rejeitados. Este ofício

foi recebido em 13/12/2007 pelo Secretário Municipal de Cultura que não atendeu o requerimento.

O Ministério Público reiterou o pedido através do Ofício 20,

de 8 de fevereiro de 2008, que foi recebido pelo Secretário de Cultura em 11/2/2008, sendo atendido

parcialmente em 19/2/2008. Em 22/08/2008 foi expedido novo Oficio 149/08 reiterando a requisição: a)

do Regimento Interno da CPC; b) da comprovação de envio, por via registrada, das justificativas dos

projetos aprovados e rejeitados pela CPC; c) se negativo o item anterior, as informações para o

desatendimento da lei bem como comprovação do recebimento, pelos proponentes, das justificativas de

rejeição dos projetos no concurso levado a efeito pelo Edital 03/06; d) cópia das justificativas dos projetos

rejeitados no concurso levado a efeito pelo edital 03/06; e e) comprovação da publicação, no Diário

Oficial do Município e em dois jornais de grande circulação do edital de cadastramento das

entidades interessadas em cadastrar-se no processo seletivo da Comissão de Projetos Culturais.

Neste último Ofício a ilustre Promotora fez a seguinte

ressalva:

“Ressalto que o presente ofício se trata de terceira reiteração de requisição de

informações e que o não atendimento ou o retardamento no fornecimento dos dados

solicitados caracteriza crime, conforme preceito do artigo 10, da Lei no. 7347, de 24 de

julho de 1985, bem como ato de improbidade administrativa previsto no artigo 11 da

Lei 8.429 de 02 de junho de 1992”.

Porém, desafiando as imposições legais a que está submetida

a Autoridade Coatora não atendeu as requisições da Promotoria. Constatada a recusa, retardamento e

omissão dos dados técnicos pela Autoridade Coatora uma cópia do procedimento da 90ª Promotoria

foi enviada à Central de Inquéritos o Ministério Público para apurar crime previsto no artigo 10, da Lei

7.347, de 24 de julho de 1985, demonstrando claramente a necessidade de cumprimento da sentença

definitiva.

7. Do Termo Circunstanciado de Ocorrência – TCO 1/2008.

Page 12: FETEG-Execução Sentença - Petição

12

Na esteira dos atos eivados de ilegalidade e invalidade, a

Impetrada tomou conhecimento de que o presidente da Comissão de Projetos Culturais, Senhor Doracino

Naves dos Santos, na condição de funcionário público, havia praticado atos contra expressa disposição de

lei, no intuito de satisfazer interesse pessoal, ao aprovar projetos culturais para captação de incentivos

fiscais municipais em seu próprio benefício.

Tais atos foram noticiados pelo Jornal “O Popular” nas

edições dos dias 10 e 13/05/2008, trazendo a lume irregularidades praticadas pelo Presidente da Comissão

de Projetos Culturais, cuja escolha foi maculada de invalidade pela sentença proferida neste processo.

Intitulada “Novo auxiliar se beneficiou de incentivo”, a

primeira reportagem informa que “O novo secretário de Cultura, Doracino Naves dos Santos, participou

de um projeto documentário bancado pela Lei Municipal de Incentivo a Cultura, cuja comissão

avaliadora ele presidia na época. Na lista de captação de patrocínio, outros dois projetos tinham o novo

secretário como um dos beneficiários”.

Consultado pela reportagem o Presidente da CPC assim se

manifestou: “Não levei vantagem nenhuma. No trabalho da UCG fui um dos participantes da

produção, mas não fui o autor da inscrição do projeto. E os projetos da igreja foram aprovados mas

não conseguiram captar."

O primeiro projeto refere-se à produção de um documentário

intitulado “A história da imprensa em Goiás”, um trabalho de conclusão do curso de Jornalismo da UCG

produzido por grupo de alunos do qual fez parte o então Presidente da CPC. O projeto foi inscrito por

outra integrante, Sra. Andréia Gomes Monteiro, sob o número 31826748 e recebeu da prefeitura

autorização para captação de R$ 21.000,00 (vinte e um mil reais), conforme resultado divulgado em

18/09/2007 pelo sitio da Prefeitura na internet. O patrocínio foi captado e o projeto foi realizado, sendo

que nos créditos do documentário há menção ao apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura.

Os outros projetos (31832209 e 31832195) foram inscritos

pela igreja Ministério Comunidade Cristã e tinham como objetivo a realização do programa de TV Raízes

Jornalismo Cultural, cujo apresentador é próprio Presidente da CPC. Foram aprovados a receberam o

Certificado de Incentivo Fiscal para captação de R$ 33.000,00 (trinta e três mil reais).

Todos esses projetos foram inscritos, analisados e aprovados

sob a batuta do presidente da Comissão de Projetos Culturais, órgão responsável pela implantação da Lei

Page 13: FETEG-Execução Sentença - Petição

13

de Incentivo Cultural do município, ao lado da Secretaria de Cultura e de Finanças. Os atos praticados

foram contrários à disposição da legislação municipal e atentaram contra o princípio constitucional da

moralidade administrativa, além de terem sido feitos ao arrepio da decisão judicial exarada neste

processo.

Ciente disso a Impetrante protocolou na Delegacia Estadual

de Repressão a Crimes Contra a Administração Pública – DERCAP uma representação solicitando que

fosse lavrado um T.C.O. para apuração dos fatos acima narrados. Quanto à versão do investigado (Ex-

presidente da CPC) o documento informa que: “quanto ao ‘Documentário a História da Imprensa de

Goiás’, informa que é apenas roteirista do projeto”, confirmado o seu interesse na aprovação, o que

configura crime de prevaricação.

Em Audiência Preliminar no 1º Juizado Especial Criminal de

Goiânia o Ex-presidente da CPC aceitou a proposta de transação penal formulada pelo Parquet,

obrigando-se a realizar prestação pecuniária de R$ 900,00 (novecentos reais) em favor da instituição

CEVAM – Centro de Valorização da Mulher.

Tais fatos chegaram ao conhecimento da 90ª Promotoria de

Justiça de Goiânia e foram juntados ao procedimento citado no tópico anterior. A Promotoria expediu

ofício à Secretaria Municipal de Cultura requisitando cópia dos processos que aprovaram os projetos sob

suspeita, no que também não foi atendida.

Da análise das Atas do Conselho Municipal de Cultura,

juntadas pelo Impetrado no procedimento em trâmite no Ministério Público, observa-se a total falta de

regulação no tocante à tramitação dos projetos pela Comissão de Projetos Culturais e consequentemente

na aplicação dos benefícios por ela concedidos (milhões de reais provenientes dos impostos pagos pelos

contribuintes goianienses).

A relatoria do primeiro projeto (31826748) foi atribuída ao

Conselheiro Lindoberto Pereira da Silva (Ata no. 63/2007), porém foi Relatado pelo Conselheiro Carlos

Brandão restando habilitado no valor de R$ 21.000 (Ata 77/2007). Os outros dois projetos (31832195 e

31832233) foram distribuídos ao próprio indiciado e ex-presidente da Comissão, Senhor Doracino Naves

(Ata 62/2007). Como se isso não bastasse, tais processos vieram a ser relatados pelo Conselheiro Alex

Page 14: FETEG-Execução Sentença - Petição

14

Gontijo, sendo habilitados nos valores de R$ 15.000,00 e R$ 18.000,00, respectivamente (Ata 79/2007) 10.

É patente, para não dizer patético, o desvio de finalidade

cometido na distribuição e aprovação desses projetos, ditos culturais, que nada acrescentaram à

cultura do cidadão goianiense. É um ato de improbidade administrativa evidente, onde servidores

públicos se beneficiam dos cargos públicos que ocupam. Isto tudo em flagrante desrespeito à

decisão judicial proferida neste processo.

8. Da Sentença.

A sentença de mérito transitado em julgado concedeu a

segurança pleiteada e anulou o Edital no. 04/2005, invalidando todos efeitos da conferência realizada em

11 e 12 de outubro de 2005.

Em voto acolhido por unanimidade, a eminente Relatora da

Apelação e Duplo Grau de Jurisdição, conclui com maestria que: “Diante disso, tendo como certo que o

ATO DE CONVOCAÇÃO para a mencionada conferência não se deu de forma satisfatoriamente

ampla, IMPOSSÍVEL QUE ELE E OS DEMAIS ATOS QUE O SUCEDERAM IRRADIEM

EFEITOS VÁLIDOS NO MUNDO JURÍDICO” (fls. 280, grifos nossos).

E repisa: “Portanto, tendo agido a Administração Pública

sem as cautelas necessárias para a convocação da III Conferência Municipal de Cultura, e ainda

violado o princípio da isonomia, consoante bem decidiu o Magistrado a quo, É DE SER INVALIDADO

O SUPRACITADO EDITAL, BEM COMO TODOS OS EFEITOS DELE DECORRENTES”. Ao final

nega provimento à remessa obrigatória e ao recurso voluntário, mantendo incólume a sentença

monocrática.

9. Dos efeitos advindos do Edital 04/2005

O referido edital estabeleceu em seu artigo 5º que:

10 Documento 7 – Atas do Conselho Municipal de Cultura

Page 15: FETEG-Execução Sentença - Petição

15

“Durante a III Conferência Municipal de Cultura da Cidade de Goiânia SERÁ REALIZADA

A ELEIÇÃO DOS MEMBROS, INDICADOS PELA SOCIEDADE, DO CONSELHO

MUNICIPAL DE CULTURA PARA O BIÊNIO 2005-2007”.

Portanto, a eleição do Conselho Municipal de Cultura é o

primeiro de uma série de efeitos declarados inválidos pela sentença transitada em julgado que

declarou inválido o ato que convocou aludida Conferência.

Por sua vez, o Conselho Municipal de Cultura é composto

por Câmaras dos diversos segmentos culturais e por duas Comissões, sendo uma delas a Comissão de

Projetos Culturais 11 cuja competência principal é a averiguar, avaliar e analisar os projetos

candidatos aos benefícios da Lei Municipal de Incentivo à Cultura 12, fomentada por 1.5% de toda receita

arrecadada pelo município com a cobrança do ISS e IPTU 13.

Após a sentença de mérito o Conselho Municipal de Cultura,

eleito através de conferência declarada judicialmente inválida, constituiu ilegalmente uma nova Comissão

de Projetos Culturais, através do Decreto 1.620 14, de 07/08/2007, alterado pelo Decreto 21.112 15, de

08/08/2008, que reconduziram indevidamente, no mínimo, 5 conselheiros. Dentre os atos que

praticou, a Comissão selecionou e aprovou todos os projetos inscritos desde então na Lei de Incentivo

Cultural do município, distribuindo alguns milhões de reais provenientes da receita advinda do ISS e

IPTU.

Este percentual está definido no art. 14 da Lei 7.957/2000

(alterado pela lei 8.146/2002) e todo ano é distribuído aos projetos aprovados. A implementação desta lei

de incentivo está sob a responsabilidade da Secretaria de Cultura, da Secretaria de Finanças e do

Conselho Municipal de Cultura.

Os valores distribuídos pela Lei de Incentivo Cultural de

Goiânia, através de projetos aprovados pela Comissão de Projetos Culturais eleita ilegalmente, foram os

seguintes: 2005-R$ 1.665.173,14 ; 2006-R$ 2.552.449,87; 2007-R$ 3.018.765,03 e; 2008-R$

2.946.589,39

11 Lei 8.154/03, artigo 4º, inciso IX 12 art. 3º, §2º, Decreto 2.596/07 (alterado pelo Dec. 1307/07) e art. 7º, Regimento Interno da CPC (DOM no. 4.228,

de 19/10/2007, pág. 05) 13 art. 14, Lei 7957/00, com alterações da Lei 8.146/02 14 Documento 3 15 Documento 4

Page 16: FETEG-Execução Sentença - Petição

16

Todos os processos de aprovação dos projetos

beneficiados foram conduzidos por uma Comissão de Projetos Culturais constituída ilegalmente

por um Conselho Municipal de Cultura eleito numa Conferência declarada inválida. Esses e outros

atos foram maculados de invalidade e deverão ser imediatamente reparados pelo Impetrado, sob

pena de aplicação das sanções administrativas, cíveis e penais previstas legalmente.

10. Das conferências convocadas após à decisão judicial.

A Autoridade Coatora convocou outras Conferências

Municipais de Cultura sem cumprir o que foi determinado judicialmente, continuando a ferir os princípios

basilares da administração pública.

Recentemente convocou a VI Conferência Municipal de

Cultura, através do Edital 007/2008 que será realizada no dia 21 e 22 de dezembro de 2008. Tal

conferência, assim como as demais, são absolutamente inválidas, conforme determinou a sentença

proferida neste processo, e seus efeitos também não poderão subsistir.

Sendo assim é necessário que se impeça a realização da

VI Conferência Municipal de Cultura, por absoluto descumprimento da decisão judicial transitada

em julgado, que invalidou a III Conferência e demais atos dali decorrentes.

O artigo 461 do Código Processual Civil estabelece que o

Juiz, se procedente o pedido, “determinará providências que assegurem o resultado prático equivalente

ao do adimplemento”. E complementa em seu §5º: “Para efetivação da tutela específica ou a obtenção

do resultado prático equivalente, poderá o juiz, de ofício ou a requerimento, determinar as medidas

necessárias, tais como a imposição de multa por tempo de atraso, busca e apreensão, remoção de

pessoas e coisas, desfazimento de obras e impedimento de atividade nociva, se necessário com

requisição de força policial.”

Isto posto, requer-se, com base no artigo 461 do CPC,

seja determinado o cancelamento da VI Conferência Municipal de Cultura para que se possa

Page 17: FETEG-Execução Sentença - Petição

17

assegurar o efetivo cumprimento da decisão judicial transitada em julgado, sob pena de aplicação

de multa por tempo de atraso à Autoridade Coatora.

10. Do cumprimento da sentença.

10.1. Suspensão das atividades e destituição do Conselho Municipal de Cultura e da Comissão de

Projetos Culturais.

Conforme a melhor doutrina de Hely Lopes Meireles, “se o

ato ordenado judicialmente depende de tramitação e formalidades administrativas para sua perfeição,

deverá iniciar-se imediatamente seu processamento regular, sobre pena de considerar-se desatendida a

ordem”.

Seguindo este raciocínio, é mister que se imponha à

Autoridade Coatora a imediata dissolução do Conselho Municipal de Cultura e da Comissão de

Projetos Culturais e exoneração dos Conselheiros, suspendendo as atividades, inclusive recebimento

de novos projetos e aprovação de prestações de contas, até que seja cumprida a decisão judicial proferida

nestes autos, conforme se segue.

Sendo inválidos todos os atos decorrentes da III

Conferência, inválido também foi a nomeação dos Conselheiros, como já explicitado.

10.2 Convocação de nova Conferência Municipal de Cultura.

Posteriormente, a Autoridade Coatora deverá convocar nova

Conferência Municipal de Cultura para eleição do novo Conselho Municipal de Cultura, sem imposição

de critérios não previstos em lei e com prazo hábil para as entidades se inscreverem e se organizarem.

Este Conselho é constituído por quinze membros, sendo sete

indicados pela administração municipal, sete indicados pelos representantes das entidades de classe e um

membro permanente representado pelo Secretário Municipal de Cultura. A representação paritária da

sociedade e da administração pública deverá ser respeitada na escolha do novo Conselho Municipal de

Cultura, dada sua importância na democratização da administração pública. Através dos Conselhos a

Page 18: FETEG-Execução Sentença - Petição

18

sociedade interfere nas decisões tomadas pelo Executivo, contribuindo para a implantação do verdadeiro

Estado Democrático de Direito.

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 1º, diz

que: “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou

diretamente, nos termos destas Constituição”. Este princípio democrático deve ser exercido

através da democracia representativa, através das eleições periódicas, do pluralismo partidário,

da separação de poderes e dos órgãos representativos, e da democrática participativa, que no

entendimento de J. J. Canotilho e Vital Moreira representa:

“O alargamento do princípio democrático à diferentes aspectos da vida

econômica, social e cultural, incorporação de participação popular directa,

reconhecimento de partidos e associações como relevantes agentes de

dinamização democrática, etc” 16.

Respeitando este preceito a Constituição Federal

estabeleceu ainda que:

Art. 29. A Lei Orgânica regerá o Município atendido os princípios estabelecidos pela

Constituição Federal, Constituição Estadual e os seguintes preceitos:

XII – cooperação das associações representativas no planejamento municipal.

Art. 37 – A administração direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios da legalidade,

impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:

§ 3º - A lei disciplinará as formas de participação do usuário na administração

pública direta e indireta, regulando especialmente:

II – o acesso dos usuários a registros administrativos e a informações sobre atos

de governo, observado o disposto no art. 5º, X e XXXIII;

16 Alexandre de Morais (Direito Constitucional, Ed. Atlas, 21ª Edição);

Page 19: FETEG-Execução Sentença - Petição

19

III – a disciplina da representação contra o exercício negligente ou abusivo de

cargo, emprego ou função na administração pública.

A Lei Orgânica de Goiânia seguindo o mesmo

raciocínio, dispõe que:

Art. 1º. Parágrafo Único. Todo o poder emana dos munícipes que o exercem por meio de

representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Lei Orgânica.

Art.23. A lei assegurará a criação de conselhos municipais, com objetivos específicos e

determinados, integrados paritariamente por representantes dos Poderes Executivo e

Legislativo, representantes da sociedade civil, usuários e contribuintes.

Art.262 - É dever do Município, com a participação da comunidade, promover, garantir e

proteger toda manifestação cultural, assegurando plena liberdade de criação e expressão e

criação, valorizando a produção e a difusão cultural por meio de:

§ 1º - O Conselho Municipal de Cultura e o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio

Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de Goiânia, constituído na forma da lei, são órgãos

consultivos, normativos e fiscalizadores, paritariamente por representantes da sociedade civil,

entidades classistas, e instituições governamentais e não governamentais, ligadas à história, à

cultura, às artes e ao meio ambiente.

O Plano Diretor de Goiânia de 2007 definiu a democracia

participativa como forma de inclusão social em sua Estratégia de Desenvolvimento Sócio-Cultural,

quando diz:

“III – reconhecer os Conselhos Municipais constituídos dentre outras formas de participação e

de controle da sociedade civil“

Portanto, é urgente a necessidade de execução da sentença

proferida, restabelecendo-se imediatamente a democracia participativa no âmbito da política cultural

em nosso município, a iniciar pela nova eleição dos Conselheiros a serem indicados em lista tríplice para

Page 20: FETEG-Execução Sentença - Petição

20

escolha do Chefe do Poder Executivo, respeitada a participação das entidades culturais e a representação

paritária entre Administração Pública e sociedade.

10.3 Escolha da nova Comissão de Projetos Culturais.

O novo Conselho deverá selecionar os novos membros da

Comissão de Projetos Culturais a serem nomeados pelo Chefe do Executivo. Esta Comissão é “parte

da estrutura do Conselho Municipal de Cultura” 17, e por esse motivo a representação paritária entre

membros da administração pública e da sociedade deverá ser respeitada, conforme estabelece o

Regimento da CPC em seu artigo 2º: “05 (cinco) convidados dentre os segmentos culturais, 05 (cinco)

convidados dentre a Secretaria Municipal de Cultura e Secretaria Municipal de Finanças”, além de

um décimo primeiro membro indicado pelo presidente do Conselho Municipal de Cultura.

Portanto, a Autoridade Coatora, no cumprimento da decisão

transitada em julgado, deverá também constituir nova Comissão de Projetos Culturais, restabelecendo os

princípios da democracia participativa a que está submetido.

11. Conclusão

Isto posto, para que se concretize a prestação jurisdicional do

Estado, requerer-se a imposição à autoridade a Autoridade Coatora das seguintes obrigações de fazer

decorrentes sentença:

a) A imediata suspensão de todas as atividades do Conselho Municipal de Cultura e da

Comissão de Projetos Culturais até cumprimento integral da sentença;

b) A exoneração dos conselheiros do Conselho Municipal de Cultura e dos membros da

Comissão de Projetos Culturais;

c) A convocação da III Conferência Municipal de Cultura para escolha do novo

Conselho Municipal de Cultura, respeitando a representação paritária prevista

legalmente;

17 Art. 3º do Decreto no. 2596, de 22 de setembro de 2003

Page 21: FETEG-Execução Sentença - Petição

21

d) A escolha pelo novo Conselho Municipal de Cultura dos novos membros da

Comissão de Projetos Culturais, conforme determina o seu Regimento Interno;

Em caráter de urgência requer-se:

e) O cancelamento da VI Conferência Municipal de Cultura convocado pela

Autoridade Coatora por flagrante desrespeito à sentença transitada em julgado;

Requer-se ainda:

f) A imposição de multa diária por descumprimento da sentença;

g) Seja oficiado à digna autoridade policial requisitando-se a instauração de inquérito

para apuração do suposto crime de desobediência, capitulado no artigo 330 do

Código Penal, bem como sua respectiva autoria.

Por ser a mais pura JUSTIÇA!

Pede e espera deferimento.

Goiânia, 17 de dezembro de 2008

Lúcio Bernardes Roquette

OAB-GO 16.016