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FESURV – UNIVERSIDADE DE RIO VERDE
FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA
PRINCIPAIS ENFERMIDADES OBSERVADAS NAS CONDENAÇÕES TOTAIS E
PARCIAIS DE CARCAÇAS SUÍNAS
DÉBORA DELFINO DUARTE
Orientador: Prof. Dr. DANIEL CÔRTES BERETTA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à
Faculdade de Medicina Veterinária da Fesurv –
Universidade de Rio Verde - resultante de
Estágio Curricular Supervisionado como parte
das exigências para obtenção de título de
Médica Veterinária.
RIO VERDE – GO
2011
DÉBORA DELFINO DUARTE
PRINCIPAIS ENFERMIDADES OBSERVADAS NAS CONDENAÇÕES TOTAIS E
PARCIAIS DE CARCAÇAS SUÍNAS
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à
Faculdade de Medicina Veterinária da Fesurv –
Universidade de Rio Verde - resultante de Estágio
Curricular Supervisionado como parte das
exigências para obtenção de título de Médica
Veterinária.
Aprovada em: _____/_____/_____
______________________________________________________
Prof. Msc. Cheston César Honorato Pereira
Fesurv. - Universidade de Rio Verde
________________________________________________________
Prof. Dr. Luíz Carlos Rego Oliveira
Fesurv .- Universidade de Rio Verde
________________________________________________________
Prof. Dr. Daniel Cortes Beretta
Orientador
RIO VERDE – GO
2011
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho aos meus pais, Jolivê Delfino Alves e Erly Maria de Fátima
Alves, pelo carinho, dedicação e por estarem sempre ao meu lado, ensinando-me e apoiando-
me em minhas decisões. Dem a presença de vocês em minha vida este sonho não teria se
realizado. Obrigada por acreditarem e confiarem em mim.
Amo vocês!
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, a Deus por me dar sabedoria e ânimo para a realização
deste sonho.
Aos meus pais, Jolivê Delfino Alves e Erly Maria de Fátima Alves, ao meu namorado,
Danilo Campos Rodrigues e a sua família, por confiarem e acreditarem na minha capacidade,
pelas conquistas e pelo apoio, carinho, dedicação, e compreensão durante esta fase.
Ao meu irmão, Arthur Delfino Duarte, que me ensinou diversas coisas e que sempre
me apoiou em minhas decisões.
Aos meus amigos e colegas de sala.
Ao meu orientador, Dr. Daniel Côrtes Beretta, pela dedicação e paciência que
demonstrou propondo-se a me ajudar a realizar este trabalho.
Ao meu supervisor de estágio, Dr. Emílio Amaral.
Ao Dr. Gabriel Rosa de Oliveira, Dr. André Ivo e todo o pessoal do SIF, que me
ajudaram a solucionar as dúvidas com muito carinho e humildade, acrescentando muitas
informações a este trabalho, proporcionando-me crescimento pessoal.
A todos que contribuíram de alguma forma para a realização deste trabalho, um grande
sonho, meus sinceros agradecimentos.
RESUMO
DUARTE. Débora Delfino. Principais enfermidades observadas nas condenações totais e
parciais de carcaças suínas. 2011 38f. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em
Medicina Veterinária) – Fesurv – Universidade de Rio Verde, Rio Verde, 20111
A situação sanitária do rebanho brasileiro é considerada de boa qualidade quando comparada
com a de outros países produtores. Mas, mesmo diante desse quadro positivo, elementos
negativos responsáveis pela condenação de carcaças nos frigoríficos sob Inspeção Federal
ainda podem ser observados. Este trabalho apresenta as atividades desenvolvidas durante o
estágio supervisionado em Medicina Veterinária, realizado no período de 15 de agosto a 15 de
novembro de 2011, quando foram acompanhadas as atividades concernentes ao Serviço de
Inspeção Federal, que compreenderam as etapas de inspeção ante – mortem, inspeção post -
mortem, plantão dos setores abate, miúdos, cortes, embutidos e expedição do produto para o
mercado interno e externo. O presente relatório teve como finalidade descrever as principais
enfermidades observadas nas condenações totais e parciais de carcaças suínas.
PALAVRAS-CHAVE
Suíno, abate, artrite, pleuropneumonia.
1 Banca examinadora: Prof. Dr. Daniel Cortes Beretta; (Orientador); Prof. Dr. Luíz Carlos Rego Oliveira.;Prof.
Ms. Cheston César Honorato Pereira Fesurv. - Universidade de Rio Verde.
LISTA DE FIGURA
FIGURA 1 Complexo industrial da BRF-Brasil Foods, Rio Verde – GO, 2011....... 12
FIGURA 2 Lavagem e desinfecção do caminhão no complexo agroindustrial BRF-
Brasil Foods, Rio Verde – GO, Brasil, 2011.......................................... 14
FIGURA 3 Desembarque dos suínos na área de recepção (A e B) no complexo
agroindustrial BRF-Brasil Foods, Rio Verde – GO, Brasil, 2011........... 15
FIGURA 4 Tatuagem de identificação do lote no complexo agroindustrial BRF-Brasil
Foods, Rio Verde – GO, Brasil, 2011...................................................... 16
FIGURA 5 Encaminhamento dos suínos à pocilga de descanso no complexo
agroindustrial BRF-Brasil Foods, Rio Verde – GO, Brasil, 2011........... 16
FIGURA 6 Pocilga de sequestro. Suínos em observação. Complexo agroindustrial
BRF-Brasil Foods, Rio Verde – GO, Brasil, 2011.................................. 17
FIGURA 7 Inspeção ante-mortem, complexo agroindustrial BRF-Brasil Foods, Rio
Verde-GO, Brasil, 2011................................................................................. 17
FIGURA 8 Suíno encaminhado à necropsia no complexo agroindustrial BRF-
Brasil Foods, Rio Verde – GO, Brasil, 2011........................................... 18
FIGURA 9 Pocilga de descanso pré-abate no complexo agroindustrial BRF-Brasil
Foods, Rio Verde – GO, Brasil, 2011...................................................... 18
FIGURA 10 Abate de emergência no complexo agroindustrial BRF-Brasil Foods,
Rio Verde – GO, Brasil, 2011................................................................. 19
FIGURA 11 Pleurisia decorrente de Pleuropneumonia. Notar lesões nas costelas,
setas.(A e B) Complexo agroindustrial BRF-Brasil Foods, Rio Verde –
GO, Brasil, 2011...................................................................................... 29
FIGURA 12 Pleuropneumonia com foco purulento (seta azul) e aderência (seta
branca). Complexo agroindustrial BRF-Brasil Foods, Rio Verde – GO,
Brasil, 2011.............................................................................................. 30
7
FIGURA 13 Corte da articulação para a detectar artrite e sangue junto ao líquido
sinovial. Complexo agroindustrial BRF-Brasil Foods, Rio Verde – GO,
Brasil, 2011.............................................................................................
31
FIGURA 14 Artrite com erosão na cartilagem articular, seta. Complexo
agroindustrial BRF-Brasil Foods, Rio Verde – GO, Brasil, 2011........... 32
FIGURA 15 Artrite com presença de sangue no líquido sinovial, seta. Complexo
agroindustrial BRF-Brasil Foods, Rio Verde – GO, Brasil, 2011............... 33
FIGURA 16 Artrite traumática com presença de pus, setas (A e B). Complexo
agroindustrial BRF-Brasil Foods, Rio Verde – GO, Brasil, 2011................ 35
LISTA DE ABREVIATURAS, SÍMBOLOS E SIGLAS
Art. - Artigo
APCC – Análise de pontos críticos de controle
BRF – Brasil Foods
CRS – Controle de recebimento de suínos
DIF – Departamento de inspeção federal
FFG – Fábrica de farinha e gordura
GTA- Guia de transporte animal
GO - Goiás
IF – Inspeção federal
m² - Metro quadrado
nº - Número
NE – Não exportável
PCC – Ponto crítico de controle
ppm – Parte por milhão
PPS – Pleuropneumonia suína
SIF – Serviço de Inspeção Federal
S/A – Sociedade anônima
% - Porcentagem
°C – Graus Celsius
t - Tonelada
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 11
2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS........................................................................... 12
2.1 Caracterização da empresa........................................................................................ 12
3 TRABALHOS EXECUTADOS NO SERVIÇO DE INSPEÇÃO FEDERAL........... 14
3.1 Transporte dos animais............................................................................................. 14
3.2 Recepção................................................................................................................... 15
3.3 Desembarque............................................................................................................. 15
3.4 Inspeção ante – mortem............................................................................................ 16
3.5 Repouso e jejum hídrico........................................................................................... 18
3.6 Abate de emergência................................................................................................. 19
3.7 Insensibilização......................................................................................................... 19
3.8 Sangria...................................................................................................................... 20
3.9 Escaldagem............................................................................................................... 21
3.10 Depilagem............................................................................................................... 21
3.11 Evisceração............................................................................................................. 21
3.12 Serragem de carcaças.............................................................................................. 22
3.13 Ponto crítico de controle (PCC) ............................................................................. 23
3.14 Departamento de inspeção final (DIF) ................................................................... 23
3.15 Choque térmico das meias-carcaças....................................................................... 24
3.16 Sala de cabeça......................................................................................................... 24
3.17 Sala de miúdos........................................................................................................ 24
3.18 Preparo de tripas..................................................................................................... 25
3.19 Causas de condenação de carcaças......................................................................... 26
4 PLEUROPNEUMONIA............................................................................................. 27
4.1 Introdução................................................................................................................. 27
4.2 Etiopatogenia............................................................................................................. 27
4.3 Epidemiologia........................................................................................................... 27
10
4.4 Sintomas.................................................................................................................... 28
4.5 Lesões....................................................................................................................... 28
4.6 Controle.................................................................................................................... 28
5 ARTRITES .................................................................................................................. 31
5.1 Introdução................................................................................................................. 31
5.2 Osteocontrose............................................................................................................ 32
5.3 Artrite infecciosa....................................................................................................... 33
5.3.1 Artrite erisipeloide................................................................................................. 33
5.3.2 Atrite poliserosítica................................................................................................ 33
5.3.3 Artrite traumática................................................................................................... 34
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................... 36
REFERÊNCIAS.............................................................................................................. 37
1 INTRODUÇÃO
O relatório de estágio curricular descreve as atividades desenvolvidas no Setor de
Abate de Suínos da BRF-Brasil Foods S/A - Unidade da Regional do Centro-Oeste, localizada
na rodovia Br – 060, km 431, Zona Rural, Município de Rio Verde – GO. O estágio
compreendeu o período de 15 de agosto a 15 de novembro de 2011.
A BRF-Brasil Foods é uma das maiores empresas globais de alimentos em valor de
mercado, atuando nos segmentos de carnes (aves, suínos e bovinos). Responde por 9% das
exportações mundiais de proteína animal e é a única companhia do Brasil com rede de
distribuição de produtos em todo território nacional. A empresa exporta para 149 países;
opera 61 fábricas no Brasil e três no exterior (Argentina, Reino Unido e Holanda) e está entre
as principais empregadoras finais do país (BRF-Brasil Foods, 2011).
Atualmente o Brasil encontra-se como o quarto maior produtor mundial de carne
suína, com uma produção, em 2010, de 3.170 toneladas, perdendo somente para Estados
Unidos (10.052t), União Europeia (22.250t) e China (50.000t) (ABIPECS, 2011).
Nos últimos seis anos o consumo interno de carne suína no Brasil aumentou
significativamente, saindo de 2.110 toneladas, em 2004, para 2.697 toneladas, em 2010. Esse
aumento foi reflexo da queda das exportações devido à forte valorização do real, que tornou o
país menos competitivo perante os Estados Unidos e União Europeia (ABIPECS, 2011).
A situação sanitária do rebanho brasileiro é considerada de boa qualidade quando
comparada com a de outros países produtores (SOBESTIANSKY et al., 1998). Mas, mesmo
diante desse quadro positivo, elementos negativos responsáveis pela condenação de carcaças
nos frigoríficos sob Inspeção Federal ainda podem ser observados. Dentre eles podemos
destacar: pericardite, pneumonia, congestão hepática, nefrite e cisto urinário.
Tendo em vista o observado acima, o relatório de estágio curricular teve como
objetivo relatar as principais enfermidades observadas nas condenações totais e parciais de
carcaças suínas.
2 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
Durante o estágio supervisionado em Medicina Veterinária, realizado no período de 15
de agosto a 15 de novembro de 2011, foram acompanhadas as atividades concernentes ao
Serviço de Inspeção Federal, que compreenderam as etapas de inspeção ante – mortem,
inspeção post - mortem, plantão dos setores de abate, miúdos, cortes, embutidos e expedição
do produto para o mercado interno e externo.
2.1 Caracterização da empresa
O frigorífico, localizado na cidade de Rio Verde–GO, caracteriza-se como
estabelecimento abatedouro-frigorífico de aves e suínos, sala de processamento de miúdos,
sala de desossa, setor de resfriamento e congelamento, apresentando todas as dependências
devidamente habilitadas à exportação (Figura 1).
Fonte: ONA. s.a (2011)
FIGURA 1 – Complexo industrial da BRF-Brasil Foods, Rio Verde – GO, 2011.
Este estabelecimento possui área total de 1.404.034,9m2, com 192.766,87m
2 de área
construída. Atualmente a empresa abate cerca de 6.000 suínos e 400.000 aves por dia e emprega
funcionários devidamente treinados para realização de suas atividades de forma correta e
13
eficiente. A empresa possui implantados os programas de Manual de Boas Práticas de Fabricação,
Procedimento Padrão de Higiene Operacional, Procedimento Padrão de Higiene Pré- Operacional,
Monitoramento de Higiene Operacional, Procedimento Sanitário Operacional, Bem – Estar
Animal, Rastreabilidade e Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle.
3 TRABALHOS EXECUTADOS NO SERVIÇO DE INSPEÇÃO FEDERAL
3.1 Transporte dos animais
Os animais são transportados por empresas terceirizadas em caminhões gaiola. As
condições de transporte são favoráveis para evitar estresse, contusão e até mesmo a morte dos
animais. Após o desembarque dos animais, o caminhão é lavado e desinfetado, utilizando-se
amônia quaternária como desinfetante (Figura 2).
Fonte: Fotos gentilmente cedidas pelo Médico Veterinário Gabriel Rosa de Oliveira-SIF
FIGURA 2 - Lavagem e desinfecção do caminhão no complexo agroindustrial BRF-Brasil
Foods, Rio Verde – GO, Brasil, 2011.
C D
A B
15
3.2 Recepção
Na recepção da BRF-Brasil Foods, o Guia de Transporte Animal (GTA), o certificado
de desinfecção do caminhão, o boletim sanitário e o controle de recebimento de suínos (CRS)
são entregues para que o caminhão possa ser pesado antes de descarregar. A pesagem é
realizada antes e após o desembarque para calcular o peso da carga viva. No GTA constam as
informações sanitárias, informações do produtor e o número de animais do lote. O certificado
de desinfecção é uma segurança para o produtor e para a empresa, pois evita a disseminação
de doenças dentro e entre as granjas. O boletim sanitário é utilizado para averiguar o
percentual de mortalidade da granja de origem e a sanidade do lote. Essa documentação é
exigida pelo Departamento de Inspeção Federal, que visa o controle sanitário.
3.3 Desembarque
O desembarque dos animais é realizado por três funcionários da BRF-Brasil Foods,
com bastão de ar comprimido para levantar e movimentar os suínos, minimizando o stress e
contusões. Estes descem por uma plataforma móvel de piso antiderrapante e lateral fechada,
onde são tatuados no dorso com o número do lote que difere para cada produtor. A tinta
utilizada é à base de poliméricos solúveis em água, álcool etílico e pigmentos de carbono,
sendo atóxica. A diferenciação dos lotes é necessária para o melhor controle sanitário (Figuras
3 e 4).
Fonte: Fotos cedidas generosamente pelo Médico Veterinário Gabriel Rosa de Oliveira - SIF
FIGURA 3 - Desembarque dos suínos na área de recepção (A e B) no complexo agroindustrial
BRF-Brasil Foods, Rio Verde – GO, Brasil, 2011.
A B
16
Fonte: Fotos gentilmente cedidas pelo Médico Veterinário Gabriel Rosa de Oliveira-SIF
FIGURA 4 – Tatuagem de identificação do lote no complexo agroindustrial BRF-Brasil Foods,
Rio Verde – GO, Brasil, 2011.
Após o desembarque, os suínos são encaminhados à pocilga de chegada, que atende os
requisitos da portaria nº 711, de 1º de novembro de 1995 do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 1995). Dentre eles podemos citar inclinação de 2% para
escoamento de dejetos, bebedouros aéreos e do tipo cocho que permitem a hidratação
simultânea de 15% dos animais, sistema de renovação de ar, cobertura e iluminação adequada
(Figura 5).
Fonte: Fotos gentilmente cedidas pelo Médico Veterinário Gabriel Rosa de Oliveira-SIF
FIGURA 5- Encaminhamento dos suínos à pocilga de descanso no complexo agroindustrial
BRF-Brasil Foods, Rio Verde – GO, Brasil, 2011.
3.4 Inspeção ante – mortem
17
A inspeção "ante-mortem" é realizada pelo médico veterinário do SIF no momento do
desembarque dos animais. Duas pocilgas de sequestros são utilizadas para colocar os animais
que apresentarem alterações patológicas ou fisiológicas, tanto no transporte quanto na
inspeção "ante-mortem" (Figura 6 e 7). As pocilgas possuem comunicação própria e
independente com a sala de necropsia. Caso ocorra o óbito de suínos, estes são encaminhados
ao Departamento de Necropsia em carrinho apropriado. Se for confirmada suspeita de doença
infecto-contagiosa o cadáver é incinerado em forno crematório para evitar contaminações.
Caso não seja confirmada a suspeita, os despojos do animal são enviados para a graxaria após
serem triturados no digestor (Figura 8).
Fonte: Fotos gentilmente cedidas pelo Médico Veterinário Gabriel Rosa de Oliveira-SIF
FIGURA 6 – Pocilga de sequestro. Suínos em observação. Complexo agroindustrial BRF-
Brasil Foods, Rio Verde – GO, Brasil, 2011.
Fonte: Fotos gentilmente cedidas pelo Médico Veterinário Gabriel Rosa de Oliveira-SIF
FIGURA 7 - Inspeção ante-mortem, complexo agroindustrial BRF-Brasil Foods, Rio Verde-GO,
Brasil, 2011.
18
Fonte: Fotos gentilmente cedidas pelo Médico Veterinário Gabriel Rosa de Oliveira-SIF
FIGURA 8 – Suíno encaminhado à necropsia no complexo agroindustrial BRF-Brasil Foods,
Rio Verde – GO, Brasil, 2011.
3.5 Repouso e jejum hídrico
Os animais acomodados nas pocilgas recebem água à vontade e banhos de aspersão
para retirar as sujidades e evitar contaminação durante o abate. A hidratação favorece a
sangria pelo aumento da volemia.
O período de permanência para o descanso antes do abate é de no mínimo três horas e
no máximo 24 horas. Após esse tempo os animais são alimentados e um novo jejum deve se
iniciar, respeitando as normas de bem-estar animal. Esse procedimento evita a contaminação
das carcaças durante a evisceração, pois favorece o esvaziamento completo do trato gastro-
intestinal. O período de descanso tem como finalidade conservar o glicogênio muscular e
reduzir o estresse térmico, contribuindo assim para uma carne de melhor qualidade (Figura 9).
Fonte: Fotos gentilmente cedidas pelo Médico Veterinário Gabriel Rosa de Oliveira-SIF
FIGURA 9 – Pocilga de descanso pré-abate no complexo agroindustrial BRF-Brasil Foods,
Rio Verde – GO, Brasil, 2011.
19
3.6 Abate de emergência
Consiste no procedimento realizado para amenizar o sofrimento de animais em
precárias condições sanitárias, agonizantes, com hemorragia, com hipotermia ou hipertermia,
fraturas, lacerações ou perfurações. Caso apresentem alguma doença infecto-contagiosa são
abatidos na sala de necropsia, seguindo os procedimentos de acordo com o RISPOA Art. 130
de 1952.
Os animais que apresentarem alguma das alterações supracitadas são encaminhados às
pocilgas de sequestro. Neste local podem permanecer confinados para pesquisas
semiológicas, observação, aferição da temperatura ou tratamento por tempo determinado pelo
médico veterinário.
Quando destinados ao abate de emergência os animais são marcados com tatuagem
diferenciada nas regiões dorsais anteriores esquerda e direita, com o número do lote, para
identificação ao exame “ante e post-mortem". O método empregado para a insensibilização é
a eletronarcose. Para isso utiliza-se um insensibilizador elétrico regulado com voltagem entre
350 e 750 volts por um tempo de 15 segundos. Após a insensibilização os suínos são
suspensos pelo membro pélvico na nória aérea e encaminhados para a sangria (Figura 10).
Fonte: Fotos gentilmente cedidas pelo Médico Veterinário Gabriel Rosa de Oliveira-SIF
FIGURA 10 – Abate de emergência no complexo agroindustrial BRF-Brasil Foods, Rio
Verde – GO, Brasil, 2011.
3.7 Insensibilização
Seguindo a ordem de chegada, no máximo dez suínos são conduzidos das pocilgas de
descanso para o brete de abate. Durante a condução, quando necessário, utilizam-se bastões
20
de choque com voltagem variando entre de 18 a 24 volts pelo tempo máximo de 2 segundos.
Os choques são administrados somente nos membros pélvicos de forma a não causar
hematomas, estresse ou contusões. No brete de abate os animais passam por chuveiros de
pressão onde são lavados com agua hiperclorada a 1ppm por 3 minutos. Esse procedimento
auxilia na diminuição do estresse e na limpeza dos animais.
A insensibilização é feita em câmara de atmosfera saturada com 95% de gás
carbônico, cujo tempo varia de 40 a 90 segundos. A câmara de gás comporta um animal
adulto ou dois animais tipificados ou quatro do tipo leitão, não excedendo esses números. Os
animais insensibilizados não devem apresentar reflexos palpebrais nem contrações
musculares.
Após insensibilização adequada, os suínos são deslizados em uma rampa de inox, e
encaminhados à sangria através da nória (mecânica). O tempo entre a insensibilização e a
sangria é de no máximo 30 segundos, para evitar que o animal recobre a consciência. Caso o
abate seja interrompido por algum motivo, e no interior da câmara de gás estiverem suínos já
insensibilizados, estes deverão ser encaminhados para a fábrica de farinha e gordura (FFG).
3.8 Sangria
Imediatamente após a confirmação da insensibilização e com um tempo máximo de 30
segundos, a sangria é realizada pela perfuração da artéria carótida e veia jugular. Deve-se
promover a retirada de cerca de 50% de sangue no período mínimo de 3 minutos. As facas do
tipo vampiro (Rotastisck), usadas na sangria, são acopladas a um equipamento responsável
pela sucção do sangue. Este é enviado por sistema fechado a uma centrífuga, onde o plasma é
separado da parte sólida e encaminhado em míni containers para a fabricação de embutidos. A
parte sólida do sangue é direcionada a graxaria onde se fabrica a ração.
Quando a sangria é feita por facas vampiro, as carcaças recebem um carimbo para a
identificação. Se houver algum tipo de não conformidade no exame de sangue do lote, o
descarte do mesmo é realizado e a sangria procedida manualmente. Se a máquina de carimbo
apresentar algum problema, a sangria passa a ser manual e o sangue é descartado para a
graxaria. Enquanto os animais são encaminhados para a escaldagem, o processo de sangria se
completa com o tempo mínimo de três minutos. Um funcionário da BRF-Brasil Foods é
responsável por detectar a má sangria e evitar que o animal entre vivo no tanque de
escaldagem. Nos casos de contrações musculares, o abate é suspenso enquanto uma nova
incisão na caixa torácica é feita para atingir o coração e terminar o processo de sangria.
21
No processo final de sangria, antes de entrarem no tanque de escaldagem, os suínos
passam por um chuveiro com água em forma de jatos e pressão de uma atmosfera, para retirar
o excesso de sangue e sujidades.
3.9 Escaldagem
A escaldagem é um processo que tem por finalidade facilitar a remoção dos pelos e
eventuais sujidades presentes no couro. É realizada em um tanque de aço inox com renovação
constante da água para evitar contaminação cruzada de microrganismos patogênicos e com
termômetro para controle de temperatura. Tem duração de 7 minutos e 30 segundos a 8
minutos e 15 segundos a uma temperatura de 57ºC a 61ºC. Ao saírem da escaldagem os
animais são retirados da nória entrando na depiladeira mecânica.
3.10 Depilagem
O processo de depilagem ocorre dento da máquina depilatória. Esta consiste em um
cilindro giratório mecanizado com pás de borrachas rotativas distribuídas pela sua superfície.
Ao girar as pás de borracha se atritam com o couro dos animais realizando a remoção dos
pelos e cascos.
A máquina tem capacidade de depilar dois suínos por vez. Após a depilagem mecânica
os animais são conduzidos à mesa de rependura por processo gravitacional em canaletas de
inox. Os pelos restantes são queimados pelo chamuscador, destruindo bactérias e evitando a
contaminação cruzada por microrganismos patogênicos. Caso haja regiões pilosas estas são
raspadas ou retiradas junto com o couro.
3.11 Evisceração
O primeiro passo da evisceração é a oclusão do reto com auxílio de uma pistola de
oclusão. A cada animal a pistola é esterilizada em água com a temperatura de 85ºC. O reto é
lacrado com a finalidade de evitar a contaminação fecal. Posteriormente, uma incisão
longitudinal na linha média do abdome até o tórax é realizada para deslocar as vísceras
brancas (diafragma, estômago, pâncreas, baço, intestino, reto). O tórax é aberto para a retirada
das vísceras vermelhas (língua, esôfago, traqueia, pulmão, coração, fígado). As vísceras
brancas são colocadas em bandejas, e as vermelhas penduradas em ganchos suspensos pela
22
nória. Ambas são sincronizadas para que cada víscera seja correspondente à carcaça de
origem. No caso de fêmeas, o útero é retirado junto com as vísceras brancas.
Enquanto a evisceração acontece na parte superior da carcaça, na parte inferior é feita
a desarticulação na região atlanto-ocipital da cabeça.
Os suínos machos vêm imunocastrados da granja. Para que isso ocorra é aplicada uma
vacina comercial, que tem o intuito de substituir o uso da castração dolorosa e contaminante.
A imunocastração diminui a função testicular eliminando o cheiro característico do macho.
Na evisceração, os testículos são analisados quanto ao tamanho, não podendo ultrapassar 110
milímetros de diâmetros. Os testículos retirados são destinados junto com o pênis para a calha
de descarte.
Todas as carcaças na plataforma de inspeção final possuem uma bandeja numerada.
Entre as divisórias das bandejas, é colocada uma amostra cárnea retirada da região peri-renal
de cada carcaça, que será encaminhada ao laboratório para o teste de cocção. Caso haja a
detecção de odor característico do macho o lote abatido é encaminhado a graxaria.
As facas e chairas devem ser trocadas e esterilizadas nos intervalos entre os abates e
nas trocas de turnos. As facas e alicates de desarticulação da cabeça são esterilizados a cada
passagem de cinco suínos. Deve-se evitar o rompimento de vísceras e extravasamento de
conteúdo gastro-intestinal. Caso ocorra algum tipo de contaminação deve-se retirar a parte
contaminada na própria linha de abate, parando a nória se necessário.
3.12 Serragem de carcaças
O corte da carcaça ao meio é feito no sentido longitudinal ao longo da espinha dorsal,
dando origem a duas meias-carcaças. A serra elétrica usada no processo é esterilizada a cada
animal com água a uma temperatura de 85ºC. Para uma rastreabilidade eficiente, a carcaça é
carimbada em ambos os lados.
Na inspeção da carcaça são observados os linfonodos inguinais ou retromamários,
ilíaco, pré-curais, pré-escapulares, pré-peitorais a fim de identificar alguma alteração no
sistema linfático. Observa-se a quebra do carré, contaminação por fezes, bile, anemia,
abcessos e presença de conteúdo estomacal. Após a inspeção minuciosa das carcaças, a
omento maior que se localiza na região abdominal, é retirada manualmente por dois
funcionários e colocada em containers para o aproveitamento em alimentos embutidos.
Nas vísceras, observa-se se há presença de peritonite, pneumonia, pleurisia,
miocardite, pericardite, endocardite, aspiração de sangue, adenite, hidatidose, glossite,
23
metastrongilose, nefrite, isquemia, infarto, uronefrose, estefanurose, quisto urinário, migração
larval, congestão hepática, cirrose, esplenomegalia, hidronefrose, cisticercose e congestão
hepática. Após a inspeção, as vísceras brancas são encaminhadas por via chute2 para a sala de
triparia e após a remoção do coração e fígado as vísceras vermelhas são encaminhadas a
graxaria. As bandejas e ganchos utilizados são esterilizados individualmente, em máquinas
separadas para evitar contaminação cruzada.
A carcaça é inspecionada e retiram-se os rins que serão utilizados em produtos
industrializados após passar pelo “chiller”. Em seguida a papada é incidida expondo os
músculos masséteres e pterigoideos, mas preservando os vasos linfáticos. Para evitar a
contaminação por microrganismos, a medula é removida com equipamento a vácuo, sem
contato com o operador e com a carcaça. Caso não haja a remoção efetiva no processo
anterior, após o chuveiro é feita uma nova inspeção e retirada da medula. No chuveiro final,
usa-se água a uma temperatura de 85ºC, que tem por objetivo retirar o máximo de fragmentos
ósseos e coágulos sanguíneos presente na carcaça.
3.13 Ponto crítico de controle (PCC)
As meias-carcaças são analisadas visualmente quanto à presença de contaminações
fecais, biliares e conteúdo estomacal.
Ao detectar algum tipo de contaminação, a linha de abate é parada e feita a remoção
da parte contaminada.
3.14 Departamento de inspeção final (DIF)
Destina-se à Inspeção Final das carcaças e vísceras marcadas nas diversas linhas de
inspeção. Estas são minuciosamente examinadas pelo Médico Veterinário e recebem, depois
de firmado o seu julgamento, a destinação conveniente. As carcaças podem ser condenadas ou
aproveitadas condicionalmente depois de receberem a respectiva "limpeza” (portaria nº 711,
de 1º de novembro de 1995 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento)
(BRASIL, 1995).
A “limpeza” ou desossa para o aproveitamento condicional da carcaça é realizada na
sala de aproveitamento condicional que fica ao lado do DIF. Os cortes decorrentes de
2 Chute –máquina responsável pelo transporte a vácuo de produtos cárneos de um local a outro do frigorífico.
24
alterações tais como, pleuropneumonia, anemia, peritonite purulenta, poliartrite e
contaminação por contato com o chão, são encaminhados para conserva/salsicharia. Doenças
como neoplasia localizada e dermatite são retiradas e a carcaça é carimbada com NE (não
exportada) permanecendo no mercado interno. Algumas carcaças com odor e neoplasia
generalizada são encaminhadas a graxaria.
Após a remoção das partes lesionadas, a carcaça segue pela nória até a câmara de
sequestro. Somente ao final do abate são retiradas as patas dianteiras e rabo.
3.15 Choque térmico das meias-carcaças
O choque térmico é realizado em câmara com temperatura de -5ºC na 1ª e 2ª fases e -
12ºC na 3ª fase, atingindo a temperatura de 32°C no fim do túnel. O processo dura cerca de
uma hora e meia a duas horas. As carcaças permanecem por 12 horas na câmara de
equalização para atingir a temperatura de 7°C. A temperatura é aferida no pernil e quarto
posterior e somente depois a carcaça é enviada à sala de espostejamento. As carcaças que são
exportadas para a Rússia permanecem na câmara fria por 24 horas a uma temperatura de 4°C.
3.16 Sala de cabeça
Com auxílio de facas, são retiradas as orelhas, pele e a carne de terceira das cabeças.
Após este processo são enviadas a outra sala através de esteira onde serão trituradas e
destinadas para produção de farinha de osso.
3.17 Sala de miúdos
Neste local, os membros torácicos que foram retirados na sala de evisceração, e os
membros pélvicos, que foram retirados na sala de espostejamento, são centrifugados por um
período de 2 a 5 minutos, em água à temperatura de 85°C. Após a centrifugação, são
encaminhados ao túnel de congelamento em caixas brancas para atingir -18°C para
exportação e 5°C para mercado interno. As orelhas são classificadas em grau A (exportadas) e
grau B (mercado interno).
A língua, estômago e reto são ferventados e após este processo são congelados por no
mínimo 12 horas até atingirem -18°C.
25
Os rins e coração são colocados no chiller com água gelada à temperatura de 8°C.
Após 20 minutos, são encaminhados em caixas brancas à câmara de matéria-prima até
atingirem a temperatura de 5°C. O coração e rins resfriados são destinados à sala de
embutidos para a preparação de mortadela e salsicha.
O fígado é coletado e após a retirada da vesícula biliar é encaminhado em caixa branca
para câmara de matéria-prima, onde será congelado e posteriormente utilizado no preparo de
embutidos.
3.18 Preparo de tripas
A mucosa é retirada na strid3 2 e 3 e bombeada para a centrífuga. Nesse local, são
adicionados três litros de água e quatro quilos de metabissulfito de sódio para conservação do
produto. Na strid quatro, a serosa intestinal é retirada e misturada à mucosa.
O processo de cura do intestino é feito em uma salmoura onde são adicionados
200 quilos de sal a 560 litros de água gelada com a temperatura de 0 a 5ºC pelo período de 24
horas. Após este processo, são lavadas e classificadas por tamanhos para a produção de
embutidos. As tripas que fogem ao padrão de tamanho são armazenadas em tambores ou
bombonas, para posterior comercialização.
3.19 Causas de condenação de carcaças
As principais causas de condenação de carcaças observadas durante o estágio
foram diagnosticadas por funcionários capacitados da IF. As carcaças que foram desviadas
para o DIF passaram por uma minuciosa inspeção antes de qualquer decisão quanto ao seu
destino. As principais doenças observadas no período de 15 de agosto a 15 de novembro estão
apresentadas na tabela 01.
3 Strid – Máquina responsável pela retirada da mucosa e serosa presente na tripa.
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TABELA 1 – Incidência das principais doenças observadas em suínos abatidos no complexo
industrial da BRF-Brasil Foods, nos meses de agosto, setembro e outubro de
2011
DOENÇA MÊS/2011
Agosto Setembro Outubro Novembro Total
Coração
Pericardite 2.115 3.555 4.304 602 8.938
Pulmão
Atelectasia 0 01 0 0 01
Efisema 0 0 30 0 02
Pneumonia enzoótica 615 840 937 77 2.251
Fígado
Abcesso 0 0 14 0 14
Cirrose 0 02 8 01 10
Congestão 1.889 1.417 2.240 247 4.986
Esteatose Hepática 0 01 57 0 58
Perihepatite 825 1.190 1.665 209 3.209
Teleangiectasia 05 29 0 0 34
Intestino
Pneumatose 16 27 25 09 57
Enterite 63 149 239 02 416
Rins
Cisto Urinário 5.201 6.556 7.517 1.117 17.623
Nefrite 5.369 5.281 6.998 1.350 15.854
Infarto 108 0 03 0 111
Carcaça
Abcesso 147 154 151 26 443
Artrite 77 109 92 06 284
Pleurisia 3.073 2.036 4.240 647 9.996
4 PLEUROPNEUMONIA
4.1 Introdução
A Pleuropneumonia suína (PPS) é uma doença infecto-contagiosa pulmonar que
provoca perdas econômicas consideráveis tanto com o tratamento dos animais acometidos
quanto com a redução do valor de mercado das carcaças dos animais abatidos (BEM, 2008).
A PPS é causada por um cocobacilo Gram negativo anaeróbio facultativo,
Actinobacillus pleuropneumoniae (SOBESTIANSKY et al., 1998). Durante o
desenvolvimento da doença, duas fases distintas podem ser observadas. A fase aguda
caracterizada por um quadro de pleuropneumonia necrótica, com exsudato fibrino-
hemorrágico não purulento, e a fase crônica, quando se observa aderência pleuro pulmonar
pericardíaca com focos necróticos encapsulados. Suínos de todas as idades são acometidos,
contudo leitões entre 70 a 100 dias são os mais susceptíveis à infecção (VAZ e SILVA, 2004).
4.2 Etiopatogenia
A sintomatologia da doença varia de acordo com as condições ambientais, o nível de
estresse, o tipo de manejo e principalmente a virulência das cepas do agente infeccioso.
Os sorotipos mais agressivos são os do tipo 1, 5, 9 e 11, sendo que o tipo 3 é
considerado mais brando e os tipos 2, 4, 6, 7, 8, 12 e 15 são moderados (RUIZ et al., 2011).
As lesões pulmonares são ocasionadas pela ação de citotoxinas produzidas pelos sorotipos
mais agressivos. Carcaças acometidas por esses sorotipos devem sofrer processo de cocção
para destruir o agente etiológico (SOBESTIANSKY et al., 1998).
4.3 Epidemiologia
Nos últimos tempos, esta infecção vem ocorrendo com maior intensidade devido ao
sistema de produção intensivo de suínos. Neste sistema, os animais permanecem aglomerados
em galpões, favorecendo a disseminação do patógeno. Acredita-se que A. pleuropneumoniae
28
seja inalada, entrando em contato direto com a traquéia, brônquios e alvéolos pulmonares
(BEM, 2008).
A infecção no lote é mantida pelos portadores assintomáticos que apresentam o
patógeno viável nas tonsilas e pulmão (VAZ e SILVA, 2004). A prática incorreta de manejo é
um dos fatores predisponentes que influenciam na severidade da doença. Dentre eles
destacam-se o reagrupamento de suínos em fase de crescimento para a fase de terminação,
superlotação dos lotes e leitões oriundos de granjas vizinhas, sem controle sanitário adequado
(SOBESTIANSKY et al., 1998).
4.4 Sintomas
A sintomatologia varia de acordo com o sorotipo, estado imunológico do rebanho e
fatores ambientais.
Na forma superaguda os animais vêm a óbito sem apresentar sintomas clínicos. Na
maioria das vezes, encontra-se sangue nas narinas e boca.
Na forma aguda pode ser observada a hipertermia (41,5 – 42°C), prostração, anorexia,
tosse e dificuldade respiratória (NUNES, 2008). Os animais acometidos ficam no canto das
baias na posição de “cão sentado” ou em decúbito esternal (SOBESTIANSKY et al., 1998).
Os sintomas observados na forma crônica são o atraso no ganho de peso e tosse
(SOBESTIANSKY et al., 1998).
4.5 Lesões
As lesões decorrentes da pleuropneumonia têm incidência bilateral que acometem os
lobos craniais, médios e caudais do pulmão (VAZ e SILVA, 2004). Em casos hiperagudos
observa-se exsudado sanguinolento. Nos casos crônicos observam-se nódulos encapsulados
no lobo caudal e aderência do pulmão ao tórax (Figura 11 e 12) (COELHO et al, 2004).
4.6 Controle
É importante ressaltar que uma vez introduzido o cocobacilo na granja torna-se difícil
a erradicação do agente nos animais acometidos (SOBESTIANSKY et al., 1998). A utilização
de antibiótico do tipo penicilinas e quimioterápicos como a sulfa nos casos iniciais das
29
doenças se tornam efetivos; em casos mais avançados, o tratamento acarreta perdas
econômicas, tornando-se inviável (COELHO et al., 2004).
A prevenção da PPS é de suma importância na criação intensiva de suínos. O
fornecimento de condições ambientais adequadas como temperatura e ventilação, diminuição
da superlotação, desinfecção das instalações e vazio sanitário são manejos adotados para
reduzir as possibilidades de transmissão do cocobacilo (COELHO et al., 2004).
Para erradicar a doença da granja é necessária a eliminação de todo o plantel; medida
que acarreta grande prejuízo ao produtor. A sorologia de animais recém-comprados é útil na
identificação de portadores, evitando a disseminação entre granjas. (SOBESTIANSKY et al.,
1998).
Nos casos de pleuropneumonia, se não houver lesão na cavidade torácica, a carcaça é
liberada para consumo interno e carimbada com as siglas NE. Na presença de pus e lesão na
cavidade torácica, a parte lesionada é retirada e a carcaça carimbada com NE e CONSERVA,
para aproveitamento condicional e esterilização por calor.
Na linha de inspeção, ao detectar alterações e aderências na carcaça no momento da
evisceração, as vísceras vermelhas não são retiradas. As vísceras brancas são aproveitadas
quando não há peritonite, enterite ou esplenomegalia na mesma carcaça.
Fonte: Fotos gentilmente cedidas pelo Médico Veterinário Gabriel Rosa de Oliveira-SIF
FIGURA 11 – Pleurisia decorrente de Pleuropneumonia. Notar lesões nas costelas, setas.(A e
B) Complexo agroindustrial BRF-Brasil Foods, Rio Verde – GO, Brasil, 2011.
A B
30
Fonte: Fotos gentilmente cedidas pelo Médico Veterinário Gabriel Rosa de Oliveira-SIF
FIGURA 12 – Pleuropneumonia com foco purulento (seta azul) e aderência (seta branca).
Complexo agroindustrial BRF-Brasil Foods, Rio Verde – GO, Brasil, 2011.
5 ARTRITES
5.1 Introdução
A artrite é um processo inflamatório intra–articular de origem traumática ou infecciosa
(SOBESTIANSKY et al., 1998). É uma enfermidade que acomete suínos de todas as idades
retardando o ganho de peso e aumentando o custo de produção (ALBERTON, 2003)2.
As principais artrites observadas no abate de suínos são: osteocondrose, artrite
infecciosa por Mycoplasma hyosynoviae, Erysipelothrix rhusiopathiae, Streptococcus sp e
artrites traumáticas decorrente do transporte. A doença pode acometer mais de uma
articulação e é comprovada pela hipertrofia da membrana sinovial e aumento significativo do
líquido sinovial intra-articular (ALBERTON et al., 2003). É uma das causas de condenação
total ou parcial de carcaças, refletindo em perdas econômicas para o produtor (Figura 13)
(ALTHAUS, 2004).
Fonte: Fotos gentilmente cedidas pelo Médico Veterinário Gabriel Rosa de Oliveira-SIF
FIGURA 13 – Corte da articulação para a detectar artrite e sangue junto ao líquido sinovial.
Complexo agroindustrial BRF-Brasil Foods, Rio Verde – GO, Brasil, 2011.
32
5.2 Osteocontrose
A osteocondrose é uma afecção que causa o espessamento da membrana sinovial e o
aparecimento de úlceras em pontos focais da articulação. Suínos com crescimento rápido são
os mais afetados. As lesões da cartilagem articular na junção condro-óssea levam à formação
de úlceras que expõem o colágeno do tipo II. A antigenicidade do organismo contra o
colágeno favorece a ação de fagócitos que identificam a cartilagem como não própria e
aumentam a sua destruição de forma silenciosa (ALBERTON, 2003).
A etiologia da osteocondrose é multifatorial e entre os principais fatores observam-se
o crescimento rápido dos suínos, hereditariedade, isquemia e traumas. Por causa do
crescimento rápido conciliado ao sobrepeso precoce, as epífises ósseas consolidam-se
prematuramente. Esse processo reduz o fluxo sanguíneo articular, instaurando hipóxia
tecidual e como consequência a ossificação da cartilagem (ALTHAUS, 2004). Associados a
estes fatores o manejo inadequado dos animais favorece o desenvolvimento da claudicação e
ocasiona perda de peso (SOBESTIANSKY et al., 1998).
Decorrente do processo infeccioso e da destruição da cartilagem, a articulação afetada
apresenta-se tumefada, com presença de sangue no líquido sinovial. Por se tratar de uma
artrite asséptica não há condenação total das carcaças acometidas, evitando-se os prejuízos
aos produtores (Figura 14)(ALBERTON, 2003).
Fonte: Fotos gentilmente cedidas pelo Médico Veterinário Gabriel Rosa de Oliveira-SIF
FIGURA 14 - Artrite com erosão na cartilagem articular, seta. Complexo agroindustrial BRF-
Brasil Foods, Rio Verde – GO, Brasil, 2011.
33
5.3 Artrite infecciosa
5.3.1 Artrite erisipeloide
A artrite erisipeloide é causada por uma bactéria gram negativa, Erysipelothrix
rhusiopathiae que gera um quadro de artrite simples ou de poliartrite e é encontrada em
diversas espécies. O agente causador é encontrado nas amígdalas e linfonodos, o que favorece
sua disseminação através da água dos bebedouros (SOBESTIANSKY et al., 1998).
As características macroscópicas da artrite erisipeloide são a hipertrofia da membrana
sinovial, a erosão da cartilagem, presença de sangue no líquido sinovial e pannus, que é um
tecido fibrovascular que se espalha da membrana sinovial à cartilagem adjacente como uma
membrana aveludada. Também são observados congestão e aumento dos linfonodos
regionais. A progressão da doença ocasiona o preenchimento do espaço articular por tecido
fibroso, resultando em anquilose (ALBERTON, 2003).
A principal manifestação clínica é a dificuldade de locomoção. Essa doença é
responsável pela perda econômica em decorrência da condenação ou subaproveitamento da
carcaça no frigorífico (Figura 15) ( ALTHAUS, 2004).
Fonte: Fotos gentilmente cedidas pelo Médico Veterinário Gabriel Rosa de Oliveira-SIF
FIGURA 15 – Artrite com presença de sangue no líquido sinovial, seta. Complexo agroindustrial
BRF-Brasil Foods, Rio Verde – GO, Brasil, 2011.
5.3.2 Atrite poliserosítica
E um tipo de artrite causada por mais de um agente infeccioso. Dentre eles destacam-
se o Haemophylus parasuis, Mycoplasma hyorhinis e o M. hyosynoviae (SOBESTIANSKY et
34
al., 1998). O M. hyosynoviae é um dos agentes causadores de artrite na fase de cria e
terminação, persistindo até o momento do abate (ALBERTON, 2004).
As artrites causadas pelo M. hyosynoviae desencadeiam claudicação, perda de peso e
aumento de volume da articulação afetada (ALBERTON, 2004). São alterações
microscópicas: hipertrofia dos vilos da sinóvia, infiltração de linfóticos e macrófagos
(ALTHAUS, 2004). Durante o abate pode, ser observado o aumento do líquido sinovial com
presença de fibrina e sangue em grande quantidade. A cura pode ocorrer após uma semana, e
nos casos persistentes o problema pode evoluir para anquilose (SOBESTIANSKY et al.,
1998).
No departamento de inspeção final do frigorífico, quando constatados ulcerações e
elevações na cartilagem, o membro afetado é retirado e encaminhado a graxaria, e a carcaça
liberada para cozidos com os carimbos NE e SALSICHARIA.
5.3.3 Artrite traumática
A atrite traumática ocorre com maior frequência em animais lactentes. Este fato se
deve ao piso abrasivo utilizado nas maternidades. Os leitões, ao nascerem, têm a pele frágil e
em contato com o piso se lesionam na região articular. Essa lesão favorece a entrada de
organismos patogênicos desencadeando a artrite traumática. Também pode ser observada nos
casos de cicatrização incompleta do umbigo (SOBESTIANSKY et al., 1998).
Em animais adultos, as lesões ocorrem por cortes na pele em decorrência do desgaste
do piso, ou pelo atrito de instrumentos através da higienização incorreta das baias
(SOBESTIANSKY et al., 1998). Os agentes mais comuns nessa doença são: Staphylococcus
sp, Corynebacterium pyogenes, Escherichia coli e Pasteurella multocida.
Em geral as artrites purulentas mais relatadas em abatedouros são decorrentes da ação
do Staphylococcus sp (ALBERTON et al., 2003). No frigorífico, os animais acometidos
apresentam moderada hipertrofia da membrana sinovial, aumento do líquido sinovial e
dificuldade na locomoção (ALTHAUS, 2004). Na fase crônica, são observadas necrose da
cartilagem articular e presença de líquido purulento (Figura 16) (SOBESTIANSKY et al.,
1998).
O controle deve ser feito com o uso de antibióticos via ração à base de tilosina,
quinolonas e anti-inflamatórios, higienização e desinfecção das instalações e descarte de
qualquer tipo de material que possa gerar algum ferimento nos leitões e suínos adultos
(SOBESTIANSKY et al., 1998).
35
No departamento de inspeção final do frigorífico, se o veterinário constatar a presença
de pus, o membro afetado é desarticulado, retirando-se todo o conteúdo presente na
articulação. Após esse procedimento, o membro é encaminhado para conserva, e a carcaça é
carimbada com NE e CONSERVA.
Fonte: Fotos gentilmente cedidas pelo Médico Veterinário Gabriel Rosa de Oliveira-SIF
FIGURA 16 – Artrite traumática com presença de pus, setas (A e B). Complexo agroindustrial
BRF-Brasil Foods, Rio Verde – GO, Brasil, 2011.
A B
B
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A cadeia produtiva da carne é complexa, englobando desde o campo até a mesa do
consumidor. É responsabilidade do médico veterinário zelar por cada etapa desta cadeia,
garantindo um produto de boa qualidade e sem riscos à saúde.
A ação do SIF é resguardar a saúde do consumidor, através de minuciosa inspeção e
encaminhamento ao destino correto dos tecidos e vísceras examinadas. Este ato é de suma
importância para a saúde pública, pois preserva a qualidade da carne e evita a disseminação
de zoonoses.
Foi observado, durante o estágio obrigatório, que a incidência de doenças como a
artrite e a pleurisia pode causar a condenação total ou parcial de carcaças. Esse fato reflete em
perdas econômicas para indústria devido à queda no valor comercial da carne, e para
produtores, devido aos gastos com mão de obra e medicamentos.
As práticas incorretas de manejo influenciam na disseminação e severidade das
doenças. Cuidados simples como higiene, manutenção de pocilgas, maquinários e instalações,
treinamento de pessoal e menor quantidade de suínos por metro quadrado, favorecem o
controle sanitário adequado, evitando prejuízos e disseminação de doenças.
Todo este processo rigoroso foi observado durante a rotina de estágio. A BRF-Foods
segue as normas presentes no RIISPOA com o intuito de assegurar a qualidade dos alimentos
produzidos.
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