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trabalho que aborda sobre o feminicídio no BrasilTRANSCRIPT
Pesquisa do Ipea sobre assassinatos de mulheres destaca necessidade de tipificação penal para o feminicídio
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Estudo revela que a cada 1h30 ocorre um feminicídio no Brasil e recomenda a
criação de qualificadora para o crime no Código Penal, além do reforço de
ações para efetivação da Lei Maria da Penha.
No Brasil, entre 2001 a 2011, estima-se que ocorreram mais de 50 mil
feminicídios: ou seja, em média, 5.664 mortes de mulheres por causas
violentas a cada ano, 472 a cada mês, 15,52 a cada dia, ou uma morte a cada
1h30. Os dados foram divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) em uma pesquisa inédita, que reforçou as recomendações
realizadas em julho pela CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) que
avaliou a situação da violência contra mulheres no Brasil.
Apresentada hoje a parlamentares na Comissão de Seguridade Social da
Câmara dos Deputados, a pesquisa Violência contra a mulher: feminicídios no
Brasil – dados corrigidos sobre taxas de feminicídios e perfil das mortes de
mulheres por violência no Brasil e nos estados conclui:“Os achados deste estudo são coerentes com os resultados do Relatório da CPMI e apoiam a aprovação dos Projetos de Lei apresentados no Relatório, em especial aquele que propõe alteração do Código Penal, para inserir o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, como uma forma extrema de violência de gênero contras as mulheres”.
Segundo o estudo, as mulheres jovens foram as principais vítimas: mais da
metade dos óbitos (54%) foram de mulheres de 20 a 39 anos. Do total de
mortes, 61% foram de mulheres negras, as principais vítimas em todas as
regiões do País, com exceção da Sul; 36% dos assassinatos ocorreram aos
finais de semana, quando grande parte das Delegacias Especializadas de
Atendimento à Mulher estão fechadas. Somente os domingos concentraram
19% das mortes.
Os Estados com maiores taxas de homicídios a cada 100 mil mulheres foram:
Espírito Santo (11,24), Bahia (9,08), Alagoas (8,84), Roraima (8,51) e
Pernambuco (7,81). Por sua vez, taxas mais baixas foram observadas no Piauí
(2,71), Santa Catarina (3,28) e São Paulo (3,74).
Diante do quadro preocupante, o Ipea recomenda “o reforço às ações previstas
na Lei Maria da Penha, bem como a adoção de outras medidas voltadas ao
enfrentamento à violência contra a mulher, à efetiva proteção das vítimas e à
redução das desigualdades de gênero no Brasil” – incluindo aí os projetos de
lei formulados pela CPMI.
Isto porque além do elevado número de assassinatos por causas violentas –
critério adotado no levantamento para indicar o feminicídio – o estudo
constatou que o perfil dos óbitos é, em grande parte, compatível com situações
relacionadas à violência doméstica e familiar contra a mulher e poderiam ter
sido evitadas. Um indicativo nesse sentido é que quase um terço dos óbitos
teve o domicílio como local de ocorrência.
Por outro lado, a pesquisa apontou que não houve redução das taxas anuais
de mortalidade, comparando-se os períodos antes e depois da entrada em
vigor da Lei Maria da Penha: as taxas de mortalidade por 100 mil mulheres
foram 5,28 no período anterior à legislação (2001-2006) e 5,22 depois dela
(2007-2011).
“Essa situação é preocupante, uma vez que os feminicídios são eventos
completamente evitáveis, que abreviam as vidas de muitas mulheres jovens,
causando perdas inestimáveis”, aponta a pesquisa, realizada com base na
avaliação e correção de dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade
(SIM), do Ministério da Saúde.
Lei Maria da Penha
Segundo a pesquisadora responsável pelo documento, Leila Posenato Garcia,
a Lei Maria da Penha trouxe avanços incontestáveis na responsabilização e
prevenção à violência contra as mulheres, mas sua plena efetivação requer
uma mudança de mentalidade na sociedade brasileira: “A Lei Maria da Penha
trouxe avanços muito importantes e os projetos de lei formulados pela CPMI
representam novos avanços. Mas, nenhuma legislação por si só resolve o
problema, uma vez que a desigualdade de gênero existente na sociedade
alimenta a violência contra a mulher”, considera.
Para a secretária de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres da SPM-PR
(Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República),
Aparecida Gonçalves, os números reforçam a necessidade de um pacto entre o
Estado e a sociedade para implementar a Lei Maria da Penha e coibir
efetivamente a violência de gênero.
“O Estado deve atuar fortalecendo os serviços especializados, garantindo
acesso a informação e proteção às mulheres, conforme a lei determina. Mas é
preciso lembrar que durante décadas e décadas foi dito que em ‘briga de
marido e mulher não se mete a colher’ ou que ‘o homem não sabia porque
estava batendo, mas a mulher sabia porque estava apanhando’. Ou seja, a
culpa era colocada sempre na mulher e nós precisamos alterar isto, fazendo
com que a sociedade se mobilize contra a violência”, avalia.
Assim, segundo a secretária, é preciso estabelecer uma rede de proteção que
inclua a rede institucional e também a rede pessoal de uma mulher em situação
de violência.
Uma redução mais expressiva no índice de homicídios, para a especialista do
Ipea, passa pelo compromisso do Estado em acolher e proteger a mulher em
situação de violência, e também por medidas para coibir a desigualdade de
gênero no Brasil. “A tipificação penal é um passo nesse sentido, uma vez
que se busca reduzir a impunidade para este tipo de crime e se passa a
mensagem que o feminicídio é um problema gravíssimo e inaceitável”, destaca.
Tipificação penal
Entre as 68 recomendações da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito
(CPMI) que investigou a violência contra a mulher no País está o projeto de lei
(PLS 292/2013) que torna o assassinato em função do gênero um agravante
para o crime de homicídio no Código Penal.
Segundo o PLS, o feminicídio é definido como crime de homicídio resultante de
violência contra a mulher e é caracterizado em quatro circunstâncias: violência
doméstica e familiar; violência sexual; mutilação ou desfiguração da vítima;
emprego de tortura ou qualquer meio cruel ou degradante. Com pena prevista
de 12 a 30 anos de reclusão, a intenção com a qualificadora é dar visibilidade
para a dimensão da ocorrência deste crime no Brasil e levantar informações
para reforçar ações de prevenção.
O texto está na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado e
conta com parecer favorável, na forma de substitutivo, da relatora, a senadora
Ana Rita (PT-ES). A votação do projeto, entretanto, foi adiada no último dia 19
após pedido de vista coletivo.
Confira a íntegra da pesquisa Violência contra a mulher: feminicídios no Brasil
– dados corrigidos sobre taxas de feminicídios e perfil das mortes de mulheres
por violência no Brasil e nos estados (Ipea, 2013)
Débora Prado
Portal Compromisso e Atitude pela Lei Maria da Penhahttp://www.compromissoeatitude.org.br/pesquisa-do-ipea-sobre-o-assassinato-de-mulheres-destaca-necessidade-de-tipificacao-penal-para-o-feminicidio/