felipe castilho de souza desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e...

85
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS Faculdade de Engenharia Mecânica FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de micropartículas de alumina para ser aplicada sobre superfícies de cerâmicas sílico- aluminosas. CAMPINAS 2017

Upload: phamanh

Post on 29-Nov-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Engenharia Mecânica

FELIPE CASTILHO DE SOUZA

Desenvolvimento de uma cobertura de micropartículas de

alumina para ser aplicada sobre superfícies de cerâmicas sílico-

aluminosas.

CAMPINAS

2017

Page 2: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

FELIPE CASTILHO DE SOUZA

Desenvolvimento de uma cobertura de

micropartículas de alumina para ser aplicada sobre

superfícies de cerâmicas sílico-aluminosas.

Orientador: Profa. Dra. Cecilia Amelia de Carvalho Zavaglia

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO

FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO

ALUNO FELIPE CASTIHLO DE SOUZA E ORIENTADO PELO

PROFA. DRA. CECILIA AMELIA DE CARVALHO ZAVAGLIA

CAMPINAS

2017

Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de

Engenharia Mecânica da Universidade Estadual de

Campinas como parte dos requisitos exigidos para

obtenção do título de Mestre em Engenharia Mecânica,

na Área de Materiais e Processos de Fabricação.

Page 3: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de
Page 4: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA MECÂNICA

COMISSÃO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA

MECÂNICA

DEPARTAMENTO DE MATERIAIS E PROCESSO DE

FABRICAÇÃO

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO ACADEMICO

Desenvolvimento de uma cobertura de

micropartículas de alumina para ser aplicada sobre

superfícies de cerâmicas sílico-aluminosas.

Autor: Felipe Castilhode Souza

Orientadora: Profa. Dra. Cecilia Amelia de Carvalho Zavaglia

A Banca Examinadora composta pelos membros abaixo aprovou esta Dissertação:

Profa. Dra. Cecilia Amelia de Carvalho Zavaglia, presidente

DEMA-FEM-UNICAMP

Profa. Dra. Paula Fernanda da Silva Farina

DEMA-FEM-UNICAMP

Prof. Dra. Eliana Cristina da Silva Rigo

FZEA-USP

A Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de

vida acadêmica do aluno.

Campinas, 15 de Agosto de 2017.

Page 5: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

Agradecimentos

Agradeço primeiro à Deus pelo dom da vida e pela fé que nos guia neste mundo, sem

Ele nada seríamos.

À minha esposa, minha mãe e meu pequeno Leonardo, que nunca me deixaram

desistir. Certamente não teria conseguido sem a ajuda de vocês, muito obrigado.

Às minhas orientadoras, profas. Cecilia Amelia de Carvalho Zavaglia e Maria Clara

Fillipin Ierardi por me abrirem as portas desta excepcional Universidade e acreditarem nesse

projeto desde o início.

Às professoras que participaram da Banca Examinadora, Paula Fernanda da Silva

Farina e Eliana Cristina da Silva Rigo pelos diálogos, explicações, sugestões e “puxões de

orelha”.

À empresa Magnesita, na figura do diretor técnico Dr. Erwan Guegen, por ter

permitido ser objeto de estudo nesta dissertação, tão importante para a minha formação.

Ao pesquisador Roberto de Paula Rettore, pelas preciosas dicas e o apoio no

desenvolvimento do trabalho.

Page 6: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

Resumo

A erosão e a corrosão são importantes mecanismos de desgaste das cerâmicas

refratárias, principalmente quando esses produtos trabalham em contato com metais líquidos

e/ou ambientes agressivos. A infiltração de materiais por meio da porosidade superficial

potencializa os mecanismos de desgaste na matriz refratária, reduzindo, consequentemente, a

qualidade e vida útil da cerâmica. Uma alternativa para evitar essa infiltração tem sido a

redução na porosidade superficial das cerâmicas, seja pela melhoria nos processos de mistura

e/ou conformação, pela utilização de matérias primas de qualidade superior, ou pela aplicação

de revestimentos de proteção. O objetivo deste trabalho foi desenvolver uma barbotina de

micropartículas de alumina para ser aplicada e queimada, formando um revestimento

compatível com cerâmicas refratárias sílico-aluminosas. A barbotina foi aplicada sobre três

diferentes classes de cerâmicas (43, 63 e 80% de alumina) e queimada em diferentes

patamares de temperatura (1460 e 1600 °C). Após serem revestidas as amostras foram

caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade,

por ensaios de granulometria a laser e corrosão. Os resultados indicaram que as amostras

revestidas possuem melhor resistência a corrosão em relação as amostras sem revestimento.

Os resultados ainda indicaram densificação das cerâmicas e redução em cerca de 5% na

porosidade superficial, porém estes valores não foram alcançados em consequência da

cobertura de alumina, mas pelo patamar de queima da cerâmica antes e durante a queima da

barbotina.

Palavras-chave: revestimentos cerâmicos, refratários, barbotina e mulita.

Page 7: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

Abstract

Erosion and corrosion are important mechanisms of wear of refractory ceramics,

especially when these products work in contact with liquid metals and / or aggressive

environments. The infiltration of materials through surface pores enhances the wear

mechanisms in the refractory matrix, consequently reducing the quality and useful life of the

ceramic. An alternative to avoid this infiltration has been the reduction in the surface porosity

of the ceramics, either by the improvement in the processes of mixing and / or conformation,

using raw materials of superior quality, or by the application of protective coatings. The

objective of this work was to develop a slurry of alumina microparticles to be applied and

burned, forming a coating that could be compatible with silica-alumina refractory ceramics.

The slurry was applied on three different classes of ceramics (43, 63 and 80% alumina) and

burned at different temperature ranges (1460 and 1600 ° C). The coated the samples were

characterized by X-ray diffraction and fluorescence, density and porosity tests, laser

granulometry and corrosion tests. The results indicated that the coated samples have better

corrosion resistance in comparison with uncoated samples. The results still indicated

densification of the ceramics and reduction in surface porosity by about 5%, but these values

were not reached because of alumina coating, but due to the burning level of the ceramic

before and during the firing of the slurry.

Keywords: Ceramic coatings, refractory, slurrys and mullite.

Page 8: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

Lista de Figuras

Figura 1: Distribuição global dos escritórios, fabricas e minas da empresa Magnesita

Refratários S.A..........................................................................................................................17

Figura 2: O diagrama de fase SiO2 x Al2O3 ilustra as concentrações estequiométricas para

formação de mulita e patamares térmicos para formação de fases líquidas. ...........................23

Figura 3: Representação esquemática dos patamares térmicos, valores teóricos de densidade e

as inversões / conversões sofridas pelo quartzo durante o aquecimento da

argila..........................................................................................................................................29

Figura 4: Fluxograma do desenvolvimento experimental do trabalho divido em 5 etapas: 1) a

preparação e análise das amostras, 2) o tratamento térmico das amostras, 3) a produção e

caracterização da barbotina, 4) a aplicação da barbotina e 5) a queima e caracterização da

cobertura ...................................................................................................................................37

Figura 5: Moinho – agitador da linha LabStar utilizado na produção da barbotina e seus

respectivos componentes. .........................................................................................................38

Figura 6: A barbotina apresentou viscosidade semelhante à viscosidade inicial do óleo de

parafina. Após algumas horas, parte da alumina decantou no fundo do recipiente, quando foi

necessária uma segunda agitação..............................................................................................40

Figura 7: Diagrama de fase SiO2 x Al2O3 com a localização estequiométrica de cada cerâmica.

A cerâmica A está localizada na região rica em sílica, a cerâmica B está na região

estequiométrica da mulita e a cerâmica C está localizada na região rica em alumina..............41

Figura 8: Dispositivos utilizados para encharcar a amostra. As amostras são deixadas 30

minutos sob baixa pressão (5 kPa) depois a água é adicionada. Após imersa, pressuriza-se a

câmara até 200 kPa por 30 minutos..........................................................................................44

Figura 9: Balança adaptada para pesagem da amostra imersa (um). Para evitar erros nos

resultados todas as amostras são pesadas como mesmo nível de líquido em cestos metálicos

de massas semelhantes .............................................................................................................44

Figura 10: Após 30 dias em repouso, a alumina decantou no fundo do recipiente. Entretanto,

após ser agitado por 30 minutos, a barbotina voltou a apresentar a homogeneidade

original......................................................................................................................................45

Figura 11: Figura 11: Aplicação da barbotina com auxílio de pincel. A porosidade do

substrato e viscosidade da barbotina facilitaram a aplicação do material.................................46

Figura 12: Difratograma de raios X da Cerâmica A sem o tratamento térmico. Na

identificação do difratograma as letras M, representam mulita, Q o quartzo e C o

corundum..................................................................................................................................53

Page 9: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

Figura 13: Difratograma de raios X da Cerâmica A tratada termicamente a 1250 °C. Na

identificação do difratograma as letras M, representam mulita, Q o quartzo e Cr a

cristobalita.................................................................................................................................54

Figura 14: Difratograma de raios X da Cerâmica A tratada termicamente a 1460 °C. Na

identificação do difratograma as letras M, representam mulita e Cr a cristobalita...................54

Figura 15: Difratograma de raios X da Cerâmica B sem o tratamento térmico. Na

identificação do difratograma as letras M, representam mulita, Q o quartzo e C o

corundum..................................................................................................................................55

Figura 16: Difratograma de raios X da Cerâmica B tratada termicamente a 1250 °C. Na

identificação do difratograma as letras M, representam mulita, Q o quartzo, Cr a cristobalita e

C o corundum. ..........................................................................................................................56

Figura 17: Difratograma de raios X da Cerâmica B tratada termicamente a 1460 °C. Na

identificação do difratograma as letras M, representam mulita e C o corundum. ...................56

Figura 18: Difratogramas de raios X da Cerâmica B tratada termicamente a 1460 e 1600 °C.

Na identificação do difratograma as letras M, representam mulita e C o corundum. ..............57

Figura 19: Difratograma de raios X da Cerâmica C sem tratamento o térmico. Na

identificação do difratograma as letras M, representam mulita, Na a nacrita e C o

corundum..................................................................................................................................58

Figura 20: Difratogramas de raios X da Cerâmica C tratada termicamente a 1460 e 1600 °C,

esquerda e direita, respectivamente. Na identificação do difratograma as letras M,

representam mulita, Na a nacrita e C o corundum. As elipses tracejadas indicam picos de

sillimanite próximas e/ou sobrepostas aos picos de mulita ......................................................58

Figura 21: O vazamento do metal fundido durante o ensaio de corrosão favoreceu que regiões

do revestimento ficassem menos tempo expostas a Liga P900. ..............................................61

Figura 22: Amostra da cerâmica A revestida após ensaio de corrosão. A região A indica o

local onde o revestimento não resistiu ao metal líquido. A região B indica o local onde o

revestimento permaneceu menos tempo em contato com a liga P900. ....................................62

Figura 23: Amostra da cerâmica B com e sem revestimento após ensaio de corrosão. Na

cerâmica revestida (imagem superior esquerda) foi possível observar trincas de

aproximadamente 3 mm e um aspecto visual mais danificado em comparação com a cerâmica

B sem revestimento (imagem inferior esquerda). ....................................................................63

Figura 24: Amostra da cerâmica C com e sem revestimento após ensaio de corrosão. Na

cerâmica revestida (imagem superior esquerda) foi possível observar trincas de

aproximadamente 3 mm e um aspecto visual menos danificado em comparação com a

cerâmica B sem revestimento (imagem inferior esquerda). .....................................................64

Figura 25: Seção polida do revestimento da cerâmica A. É possível observar a presença de

poros não interligados e um revestimento com espessura média de 240 µm. Não é possível

porosidade entre o revestimento e o substrato. ........................................................................65

Page 10: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

Figura 26: Seção polida do revestimento da cerâmica B. É possível observar uma variação na

espessura do revestimento, uma trinca (A) perpendicular à superfície do substrato e uma fase

distinta entre revestimento x substrato (B). .............................................................................65

Figura 27: Seção polida do revestimento da cerâmica C. É possível observar a presença de

poros não interligados e trincas perpendiculares a superfície do substrato. ............................66

Figura 28: Seção polida do revestimento da cerâmica C. É possível observar imperfeições

superficiais da cerâmica que foram preenchidas pelo revestimento. .......................................66

Figura 29: Fragmentos da barbotina queimados a 1460 °C sem a presença de substrato

cerâmico. Os fragmentos acima apresentam espessura próxima de 8 mm, poros e ausência de

trincas........................................................................................................................................67

Figura 30: Foto por microscopia eletrônica de varredura (MEV) da cerâmica A com os pontos

analisados pela microssonda de energia dispersiva (EDS). .....................................................68

Figura 31: Espectro de EDS dos pontos 1,3,4,5,6 e 7 da cerâmica A com revestimento.........69

Figura 32: Espectro de EDS dos pontos 9,10,11,12 e 13 da cerâmica A com revestimento ...70

Figura 33: Mapeamento dos elementos indicando uma alta concentração de Al na região do

revestimento e uma alta concentração de Si na região do substrato cerâmico .........................72

Figura 34: Foto por microscopia eletrônica de varredura (MEV) da cerâmica A com

revestimento. É possível observar na interface substrato x revestimento a presença de uma

fase distinta, a qual os resultados das análises química pontuais indicam que seja

mulita........................................................................................................................................73

Figura 35: Foto por microscopia eletrônica de varredura (MEV) da cerâmica B com os pontos

analisados pela microssonda de energia dispersiva (EDS) ......................................................73

Figura 36 - Espectro de EDS dos pontos 1, 2, 3, 5, 6 e 7 da cerâmica B com revestimento....74

Figura 37: Mapeamento dos elementos indicando uma alta concentração de Al na região do

revestimento e uma alta concentração de Si no substrato cerâmico ........................................76

Figura 38: Foto por microscopia eletrônica de varredura (MEV) da cerâmica C com os pontos

analisados pela microssonda de energia dispersiva (EDS) ......................................................76

Figura 39 - Espectro de EDS dos pontos 1, 2, 3, 4, 5 e 6 da cerâmica C com revestimento....77

Figura 40: Mapeamento dos elementos indicando uma semelhante concentração de alumina

entre revestimento substrato cerâmicos. As regiões tracejadas em vermelho indicam micro

grãos de alumina calcinada.......................................................................................................79

Figura 41: Foto por microscopia eletrônica de varredura (MEV) da cerâmica C revestida. As

regiões A, B, C e D são exemplos de sinterizações que auxiliam na aderência do revestimento

sobre o substrato cerâmico........................................................................................................79

Page 11: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

Lista de Tabelas

Tabela 1: Valores granulométricos típicos utilizados na indústria refratária. Os grãos finos

(GF) constituem a matriz cerâmica. Os grãos maiores são denominados grãos agregados

(GG). ........................................................................................................................................22

Tabela 2: Temperaturas comumente utilizadas na região de queima de fornos tuneis. O tempo

em que as cerâmicas permanecem na região de queima está também relacionada a velocidade

dos carros de transporte e comprimento do forno túnel............................................................33

Tabela 3: Fornecedores e matérias primas utilizadas na produção da barbotina. ....................38

Tabela 4: Percentagem das matérias primas utilizadas na fabricação das cerâmicas A, B e

C................................................................................................................................................42

Tabela 5: Composição química das cerâmicas A, B e C. ........................................................47

Tabela 6: Composição química da liga aço-cromo-manganês usada no ensaio de corrosão..

...................................................................................................................................................47

Tabela 7: Granulometria inicial e final das partículas de alumina. Os resultados indicam que a

alumina presente na barbotina possui diâmetro 42% menor que a alumina original e uma

distribuição mais uniforme. ......................................................................................................49

Tabela 8: Composição química da alumina antes e após a produção da barbotina. Os

resultados indicam uma contaminação por zircônia proveniente das paredes do

moinho......................................................................................................................................50

Tabela 9: Resultados de densidade, porosidade e absorção de líquidos das cerâmicas A, B e C,

antes e após a segunda queima sob diferentes temperaturas. ...................................................51

Tabela 10: Variações de densidade, porosidade, volume e absorção de líquidos após a segunda

queima. .....................................................................................................................................51

Tabela 11: Resultados de densidade, porosidade e absorção de líquido da amostra com o

revestimento..............................................................................................................................59

Tabela 12: Variações nos resultados de densidade, porosidade, absorção de líquidos e volume

após as cerâmicas receberem o revestimento............................................................................60

Tabela 13: Resultados pontuais (por elementos) da cerâmica A com revestimento.................71

Tabela 14: Resultados pontuais (por composição) da cerâmica A com revestimento..............71

Tabela 15: Resultados pontuais (por elementos) da cerâmica B com revestimento.................75

Tabela 16: Resultados pontuais (por composição) da cerâmica B com revestimento..............75

Page 12: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

Tabela 17: Resultados pontuais (por elementos) da cerâmica C com revestimento.................78

Tabela 18: Resultados pontuais (por composição) da cerâmica C com revestimento..............78

Page 13: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

Sumário

1. INTRODUÇÃO ...................................................................................................................15

2. MAGNESITA REFRATÁRIOS S.A....................................................................................17

3. REVISÃO DA LITERAURA...............................................................................................19

3.1 Materiais Refratários...............................................................................................19

3.1.1 Classificação dos refratários.................................................................... 19

3.1.1.1 Magnesianas (básicas) ..............................................................20

3.1.1.2 Alta Alumina (neutras) .............................................................22

3.1.1.3 Sílico-aluminosas (ácidas) ........................................................23

3.1.1.4 Cerâmicas especiais...................................................................25

3.1.2 Propriedades dos refratários.....................................................................26

3.2 Matérias primas.......................................................................................................27

3.2.1 Argila........................................................................................................28

3.2.2 Chamote ...................................................................................................29

3.2.3 Bauxita calcinada......................................................................................30

3.2.4 Alumina calcinada....................................................................................31

3.3 Processo de produção das cerâmicas refratárias.....................................................32

3.4 Cobertura de superfícies .........................................................................................34

3.4.1 Constituintes e processo de construção do revestimento.........................35

4. DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL.......................................................................37

5. MATERIAIS E MÉTODOS.................................................................................................38

5.1 Preparação e caracterização da barbotina................................................................38

5.2 Amostras cerâmicas.................................................................................................41

5.2.1 Seleção e caracterização das amostras cerâmicas....................................41

5.2.2 Normalização das amostras cerâmicas.....................................................42

5.3 Aplicação e queima da barbotina............................................................................45

5.4 Caracterização das cerâmicas revestidas.................................................................47

Page 14: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

6. RESULTADOS E DISCUSSÕES........................................................................................49

6.1 Barbotina.................................................................................................................49

6.2 Cerâmicas sem revestimento...................................................................................50

6.2.1. Análises físicas das cerâmicas.................................................................50

6.2.2. Analises das estruturas cristalográficas das matrizes cerâmicas. ...........52

6.3 Cerâmicas com revestimento..................................................................................59

6.3.1. Análises físicas .......................................................................................59

6.3.2. Ensaio de Corrosão .................................................................................61

6.3.2.1 Aspecto Visual ..........................................................................61

6.3.2.2 Microscopia Ótica .....................................................................64

6.3.2.3 Microscopia eletrônica de varredura (MEV/EDS) ...................68

7. CONCLUSÃO .....................................................................................................................80

SUGESTÃO PARA TRABALHOS FUTUROS......................................................................81

REFERÊNCIAS........................................................................................................................82

Page 15: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

15

1. INTRODUÇÃO

Processos industriais que ocorrem sob alta temperatura são na maioria das vezes,

dependentes de materiais e/ou tecnologias refratárias. Seja no revestimento de proteção

térmica ou como componentes que necessitam resistir à altas temperaturas, os produtos

refratários têm mostrado ao longo do tempo grande importância econômica, principalmente

no setor metalúrgico.

O mercado atual tem exigido constante desenvolvimento na tecnologia refratária, seja

pela descoberta de novos produtos ou no aprimoramento de produtos consolidados. Esse

desenvolvimento tecnológico além de aumentar a produtividade, tem possibilitado que a

indústria metalúrgica trabalhe com patamares de temperatura cada vez mais elevados,

fomentando o surgimento de novos produtos e padrões de qualidade superiores. O meio

ambiente também é favorecido com a redução do consumo energético, uma vez que cerâmicas

refratárias “superiores” tendem a aumentar a eficiência energética de fornos e equipamentos.

A erosão e a corrosão são importantes mecanismos de desgaste das cerâmicas

refratárias, principalmente quando esses produtos trabalham em contato com metais fundidos

e/ou ambientes agressivos. A infiltração de metal por meio da porosidade superficial

potencializa os mecanismos de desgaste na matriz refratária e, consequentemente, a redução

na vida útil do produto. Uma alternativa para aumentar a vida útil e/ou qualidade das

cerâmicas refratárias é a redução de sua porosidade superficial.

Atualmente algumas cerâmicas refratários são impregnadas com piche ou alcatrão, que

atuam na redução da porosidade superficial e molhabilidade. Entretanto, essas fontes de

carbono, além de proporcionar ambientes de trabalho insalubres, têm encontrado um

estreitamento cada vez maior nas exigências legais de proteção ambiental. (OSHA -

EUROPEAN AGENCY FOR SAFETY AND HEALTH AT WORK, 2004)

Outra alternativa para introduzir carbono nas cerâmicas refratárias é a utilização de

grafite como ligante ou combinado com argila. Entretanto, essa adição não é viável para

refratários utilizados como por exemplo, no lingotamento convencional de aços especiais,

onde o carbono da cerâmica refratária pode ser removido, contaminando e alterando as

propriedades do metal que está sendo lingotado.

Em parceria com a empresa Magnesita Refractories GmbH, decidiu-se estudar o

comportamento e aprimorar algumas propriedades de uma linha específica de refratários

Page 16: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

16

sílico-aluminosos, utilizados no processo de lingotamento convencional. O objetivo principal

desse trabalho foi desenvolver, aplicar e caracterizar um revestimento cerâmico com

micropartículas de alumina para ser utilizado sobre cerâmicas refratárias sílico-aluminosas. A

finalidade principal do revestimento seria reduzir a porosidade superficial e melhorar a

resistência a corrosão. O revestimento precisaria ainda ser compatível com a linha de produtos

da empresa e apresentar uma aderência superficial satisfatória.

Page 17: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

17

2. MAGNESITA REFRATÁRIOS S.A.

A Magnesita Refratários S.A. é uma empresa brasileira dedicada a mineração,

produção e comercialização de produtos refratários. A empresa fornece uma ampla variedade

de produtos que atendem principalmente a indústria de aço e cimento. No seguimento de

minérios industriais a empresa processa e comercializa talco e magnésia cáustica, que

atendem principalmente as indústrias de plásticos, fertilizantes, cosméticos e automobilística.

(MAGNESITA REFRATÁRIOS S.A., 2013)

Os produtos refratários são oferecidos na forma de tijolos, monólitos e produtos

especiais. As principais matérias primas utilizadas são magnésia, dolomita, alumina e argila.

Em menor quantidade são utilizados espinélio de alumínio, mulita sinterizada, zircônia,

cromita, chamote e grafita. A empresa possui plantas especializadas na fabricação de

refratários por todo o mundo e reservas minerais que conseguem suprir aproximadamente

80% das suas necessidades produtivas. A infraestrutura reunida em um único supply chain faz

a Magnesita S.A. se posicionar como produtor global e capacidade aproximada de 1,4 milhão

de toneladas de refratários/ano em suas unidades, atendendo a mais de 1500 clientes em 70

países. A figura 1 ilustra a distribuição global dos escritórios, fábricas e minas da Magnesita

S.A. (MAGNESITA REFRATÁRIOS S.A., 2016)

Figura 1: Distribuição global dos escritórios, fabricas e minas da empresa Magnesita Refratários S.A.

Fonte: (MAGNESITA REFRATÁRIOS S.A., 2013)

Page 18: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

18

A empresa possui três Centros de Pesquisa e Desenvolvimento (Contagem/Brasil,

York/USA e Hagen/Alemanha). O objetivo é desenvolver tecnologia própria e capacitar a

empresa em assimilar tecnologias externas na forma de "know-how" e assistência técnica. A

infraestrutura dos centros é dotada de equipamentos destinados à P&D de produtos refratários

e minerais. Um aspecto importante da política da empresa é o continuo aprimoramento do

pessoal técnico, além do intercâmbio regular com clientes, fabricantes e universidades.

(MAGNESITA REFRATÁRIOS S.A., 2013)

Page 19: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

19

3. REVISÃO DA LITERAURA

3.1 Materiais Refratários

Refratários são materiais naturais ou manufaturados, não metálicos, capazes de manter

suas propriedades físicas e químicas em ambientes hostis sob solicitações diversas, tais como:

oscilações de temperaturas, cargas mecânicas, erosão, abrasão entre outros. Os refratários são

materiais multicomponentes, poli cristalinos e multifásicos. (COTTA; RODRIGUES, 2014)

De acordo com a norma ASTM C71 “Standard Terminology Relating to Refractories”,

refratários são materiais não-metálicos e inorgânicos com propriedades físico-químicas

aplicáveis à fabricação de componentes que necessitam ser expostos a temperaturas superiores

à 538 °C. (AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS, 2002)

Segundo Lee (1961), o principal objetivo das cerâmicas refratárias na indústria

metalúrgica é apresentar resistência à erosão (por gases ou líquidos a altas velocidade e/ou

temperatura), à abrasão, ao ataque por escória e por carga mecânica, durante um determinado

intervalo de tempo.

As cerâmicas refratárias apresentam duas propriedades características: a capacidade de

resistir a temperaturas elevadas sem fundir ou decompor-se e a capacidade de permanecer

não-reativa quando exposta a ambientes severos. Além da indústria metalúrgica, as cerâmicas

refratárias atendem também: a indústria de energia (fornos de termoelétricas), indústria do

petróleo (refinamento de combustíveis), produção de gás, incineradores industriais, indústria

do cimento, a própria indústria de refratários e a indústrias cerâmicas em geral (CALLISTER,

2002).

3.1.1 Classificação dos refratários

Segundo a norma ABNT 10237 “Materiais refratários – classificação”, as cerâmicas

refratárias podem ser classificadas de acordo com: a natureza química dos seus constituintes,

Page 20: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

20

formato, processo de fabricação ou processo de conformação. (ASSOCIAÇÃO

BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2001)

Nesta dissertação optamos por utilizar uma classificação baseada na natureza química

dos constituintes, onde as cerâmicas são subdivididas em quatro grupos: magnesianas

(básicas), de alta alumina (neutras), sílico-aluminosas (ácidas) e “cerâmicas especiais”. Essa

classificação é baseada na resistência do material ao ataque por escória na indústria

metalúrgica, de produção de vidro, cimento e cal.

Segundo Deshmukh (2005), as cerâmicas refratárias ácidas são resistentes ao ataque

por escória rica em sílica (SiO2), enquanto que as cerâmicas refratárias básicas são resistentes

ao ataque por escória rica em magnésia (MgO) e/ou cal (CaO). Por último, as cerâmicas

denominadas neutras, que teoricamente não seriam afetadas quimicamente por nenhuma das

escórias citadas acima.

3.1.1.1 Magnesianas (básicas)

Essas cerâmicas refratárias apresentam excelente resistência à corrosão quando

expostos a escória e gases básicos. As cerâmicas básicas podem ainda ser subdivididas em

outras cinco classes: magnesianas, magnésia-cromita, magnésia-espinélio, magnésia-carbono

e dolomíticas.

Magnesianas: são produzidas a partir de magnésia fundida ou sinterizada, apresentam

boa resistência ao ataque por escória básica e baixa vulnerabilidade ao ataque por óxido de

ferro e álcalis. São empregadas em fornos elétricos a arco, em linhas de proteção em fornos de

conversão de oxigênio, no controle de fluxo em lingotamentos (válvula gaveta) e bocais. A

refratariedade dessa cerâmica, que apresenta valores de MgO entre 90 e 96%, depende

principalmente da concentração de impurezas presentes nas matérias primas como: CaO,

Mn3O4, Fe2O3, Al2O3 e SiO2, que somados apresentam concentrações próximas de 5%. A

relação entre CaO/ SiO2 é de grande importância, pois prevê o surgimento de fases cristalinas

indesejadas em temperatura próximas de 1600 °C.

Magnésia-cromita: são cerâmicas que apresentam cromita (FeCr2O4) em variadas

proporções. Quando as concentrações de magnésia predominam (55% - 80%) recebem o

Page 21: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

21

nome de magnésia-cromita. Quando a proporção de cromita predomina (25% < MgO < 55%)

a cerâmica é denominada cromo-magnesiana. As cerâmicas a base de magnésia e cromita são

produtos densos e queimados em temperaturas superiores a 1550 °C. Devido a boa resistência

mecânica, essas cerâmicas são empregadas em fornos de cimento, indústria de chumbo e

cobre. (HARBISON-WALKER REFRACTORIES COMPANY, 2005)

Magnésia-espinélio: o espinélio de alumínio (MgAl2O4) pode ocorrer de duas

maneiras em cerâmicas refratárias: formado in situ através da adição extra de alumina na

matriz de magnésia, ou ser adicionado na forma granular (espinélio sinterizado). Quando

comparada às cerâmicas magnesianas tradicionais, apresentam melhor resistência à fadiga

térmica, redução do lascamento em serviço (spalling) e redução no coeficiente de expansão

térmica. São empregadas principalmente no revestimento de fornos rotativos na indústria do

cimento. (SCHACHTC, 2004)

Magnésia-carbono: são cerâmicas refratárias que apresentam cerca de 8% de carbono

em sua composição São produzidas a partir de MgO de alta pureza, grafite e ligados por

resinas fenólicas. Possuem também aditivos especiais para aumentar a resistência à oxidação.

A principal função do carbono é reduzir a molhabilidade (redução do ângulo de contato da

escória com a superfície cerâmica) prevenindo a entrada de metal líquido na matriz refratária.

As cerâmicas magnésia-carbono também apresentam excelente resistência ao choque térmico

e à corrosão em altas temperaturas. São empregadas no revestimento de panelas de aço e

fornos de conversão de oxigênio. (ROUTSCHKA; WUTHNOW, 2012)

Dolomíticas: são cerâmicas produzidas a partir do carbonato de cálcio e magnésio

CaMg(CO3)2, também conhecido como dolomita. Essa classe é produzida a partir de dolomita

sinterizada ou fundida, apresentando porcentagem final de MgO entre 45 e 80%. O caráter

altamente higroscópico das cerâmicas dolomíticas tornam seu armazenamento difícil e sua

aplicação restrita. Entretanto, a resistência ao choque térmico e ao ataque por escórias básicas

tornam essa classe cerâmica, uma boa alternativa no revestimento de fornos à arco elétrico,

panelas para tratamento de aços e fornos rotativos para processamento da própria dolomita.

(ROUTSCHKA; WUTHNOW, 2012)

Page 22: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

22

3.1.1.2 Alta Alumina (neutras)

Essas cerâmicas refratárias apresentam concentrações de alumina (Al2O3) variando

entre 48 e 99%. Uma variedade de matérias primas pode ser utilizada na sua produção, como

por exemplo: alumina fundida ou calcinada, mulita, bauxita e silicatos de alumina (sillimanite,

andaluzita e cianita).

As cerâmicas com concentração de alumina entre 48 e 52% apresentam baixa

porosidade superficial, baixa expansão térmica, boa resistência ao lascamento e ponto de

fusão próximo à 1600 °C. Devido a boa resistência mecânica, essas cerâmicas são

empregadas no revestimento de torres de aquecimento e zonas de calcinação em fornos

rotativos.

As cerâmicas com concentrações de alumina próximas a 60% são empregadas em

fornos rotativos na produção de aço. A presença de mulita (um alumino silicato de excelente

refratariedade) como fase majoritária e a sílica em pequenas concentrações, confere a essa

classe de cerâmica boa resistência à compressão e estabilidade volumétrica. (LEE, 1961)

As cerâmicas com concentração de alumina próxima de 70% apresentam mulita como

fase principal dispersa em matriz de corundum (alumina de arranjo cristalino hexagonal).

Essa classe de cerâmica é empregada em fornos rotativos para cimento e cal que podem

atingir temperaturas próximas de 1750 °C.

As cerâmicas com concentrações de alumina próximas à 85%, apresentam o corundum

como fase predominante e resquícios de mulita. Essa classe cerâmica apresenta porosidade

superficial próxima de 20% e boa resistência ao choque mecânico. São empregados em

processos de contato direto com alumínio fundido e panelas de aço. (LEE, 1961)

Em concentrações de alumina superiores a 90%, as cerâmicas apresentam alta

densidade, boa resistência elétrica e mecânica. São comumente empregadas no revestimento

de incineradores, fornos para fusão de aço e produção de cimento. O valor da cerâmica

aumenta conforme a concentração de alumina cresce, uma vez que são produzidos a partir de

matérias primas de alto valor comercial, como por exemplo a alumina tubular e/ou reativa.

Existem ainda outras variedades de cerâmicas a base de alumina disponíveis no mercado,

como por exemplo: cromo – alumina e alumina – carbono que são materiais frequentemente

empregados em fornos de fusão de alumínio e ambientes extremamente corrosivos.

(ROUTSCHKA; WUTHNOW, 2012)

Page 23: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

23

3.1.1.3 Sílico-aluminosas (ácidas)

Essa classe cerâmica é produzida a partir de argila refratária (Al2O3.2SiO2.2H20),

chamote (argila queimada), quartzo, entre outras fontes naturais de alumina como bauxita e

silicatos de alumina.

Assim como nas cerâmicas de alta alumina, as características das cerâmicas sílico-

aluminosas estão relacionadas principalmente com: a concentração de sílica e alumina, o

patamar térmico de produção da cerâmica, a formação e/ou presença de mulita, a

concentração de impurezas e outras mudanças cristalinas que possam vir a ocorrer em seus

constituintes.

O comportamento das cerâmicas sílico-aluminosas pode ser explicado pelo diagrama

de fase SiO2 x Al2O3 apresentado na figura 2, que relaciona a concentração dos constituintes e

a temperatura do sistema com diferentes “fases” ou componentes de composição similar

presentes no equilíbrio. (SCHACHT; BROSNAN, 2004)

Figura 2: O diagrama de fase SiO2 x Al2O3 ilustra as concentrações estequiométricas para formação de mulita e

patamares térmicos para formação de fases líquidas.

Fonte: (SCHACHT; BROSNAN, 2004)

Page 24: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

24

Segundo Schacht e Brosnan (2004), existem alguns fatores essenciais no entendimento

diagrama:

• A mulita é formada pela reação e/ou aquecimento da sílica e alumina. A composição

estequiométrica em peso teórica da mulita é 71,6% Al2O3 e 28,4% SiO2 entretanto

valores intermediários podem ser obtidos. Próximo a essa composição a mulita

apresenta-se no estado sólido (ss) com ponto de fusão próximo de 1850 °C.

• O diagrama apresenta uma linha solidus em 1595 °C, que começa em 0% de alumina e

vai até o início da composição estequiométrica da mulita. Caso a temperatura de

1595 °C não seja atingida, a mulita e a sílica (na forma vítrea ou cristobalítica)

permanecem no estado sólido. Acima da linha solidus e inicia-se a formação de fase

liquida da sílica (concentrações de alumina acima de 5%).

• Em concentrações de alumina superiores a 72%, a linha solidus e deslocada para

1840 °C e todo sistema permanecerá no estado solido até que essa temperatura seja

atingida. Acima da linha solidus, inicia-se a formação de fase liquida da mulita.

A mulita é um importante composto sílico-aluminoso de elevada resistência mecânica,

baixo coeficiente de expansão e condutividade térmica, alta refratariedade, estabilidade

química e ponto de fusão próximo a 1850 °C.

Segundo Schneider et.al. (2008), a mulita pode ser representada por Al4+2x.Si2-2x.O10-x,

com x variando entre 0,2 e 0,9. As mulitas sinterizadas apresentam x = 0,25 (3Al2O3.2SiO2),

são formadas pelo aquecimento de sílica e alumina em correta concentração estequiométrica

mediante reações no estado sólido. As mulitas fundidas apresentam x = 0,4 (2Al2O3.SiO2) e

são produzidas pela cristalização de alumino silicato em sistemas com alta concentração de

alumina. Por último, as mulitas produzidas a partir de precursores inorgânicos que apresentam

x = 0,8 e podem ser sinterizadas em temperaturas inferiores a 1000 °C.

Segundo Chakravorty et al. (2008), na formação de mulita sinterizada os componentes

inicialmente se cristalizam em suas formas estáveis sob alta temperatura (cristobalita e α-

alumina), para depois reagir entre si formando a mulita.

A mulita pode ser obtida em cerâmicas refratarias através de dois mecanismos: adição

da mulita pré-formada ou pode ser obtida in situ pela reação de sílica com alumina. Segundo

Magliano e Pandolfelli (2010), a adição de pó pré-formado de mulita pode levar a

Page 25: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

25

deterioração de algumas propriedades do refratário devido à alta estabilidade química desta

fase, que acaba por dificultar a sinterização do sistema. Dessa forma, a obtenção de mulita in

situ tem se mostrado excelente alternativa uma vez que a mulitização (nucleação e

crescimento de cristais de mulita) e sinterização ocorrem ao mesmo tempo no sistema.

3.1.1.4 Cerâmicas especiais

Dentro dessa classe estão algumas cerâmicas desenvolvidas para aplicações

específicas. Os materiais mais citados na literatura são: grafite, carbeto de silício, cromita,

zircônia entre outros isolantes térmicos.

Grafita: essas cerâmicas apresentam concentração de carbono acima de 98%. São

ligadas com piche, resina ou outros derivados de petróleo. Devido à oxidação do carbono, são

recomendas para ambientes inertes ou sob vácuo, podendo ser utilizadas em temperaturas

acima de 2000 °C. As cerâmicas com alto teor de carbono apresentam ainda boa resistência ao

ataque por escória e gases. (DESHMUKH, 2005)

Cromita: são cerâmicas produzidas principalmente a partir de espinélio de cromo

(FeCr2O4), onde a concentração de Cr2O3 pode variar entre 30 e 50%. Apresentam caráter

neutro, alta refratariedade, boa resistência ao choque térmico e baixa variação volumétrica.

(LEE, 1961)

Carbeto de Silício: essas cerâmicas apresentam concentrações de carbeto de silício

entre 50 e 85% e uma excelente combinação de propriedades, tais como: resistência à

oxidação, resistência ao desgaste, alta condutividade térmica e boa resistência ao choque

térmico. São empregadas no revestimento de incineradores, galvanizadores para fornos túnel,

anéis de queima, suportes, queimadores e tubos radiantes. (IZHEVSKY, 2000)

Zircônia: as cerâmicas produzidas a partir de silicato de zircônia apresentam boa

resistência ao ataque por escória ácida e resistência ao choque térmico. Entretanto são

cerâmicas difíceis de conformar e tendem a apresentar variações dimensionais em altas

temperaturas.

Page 26: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

26

3.1.2 Propriedades dos refratários

O comportamento de uma propriedade, analisada isoladamente não é suficiente para

previsões confiáveis de desempenho de uma cerâmica refratária. O ideal é analisar a relação

existente entre suas propriedades, levando em consideração ainda os parâmetros de trabalho

(patamar térmico, tipo de escória, número de ciclos de produção, etc.) sob os quais essas

cerâmicas serão expostas. Esse know-how é fundamental no desenvolvimento de novos

produtos e/ou manutenção da qualidade de produtos comercialmente consolidados. As

principais propriedades dos refratários podem ser classificadas em 3 grupos: propriedades

físicas (densidade, porosidade, resistência à compressão, resistência à abrasão, etc.),

propriedades químicas (resistência à corrosão) e propriedades térmicas (condutividade

térmica, expansão térmica, modulo de ruptura a quente, etc.). Algumas propriedades são

descritas abaixo:

Densidade: a densidade de uma cerâmica refratário é definido como uma razão de

massa e volume, considerando-se situações reais, nas quais o material é composto por poros

superficiais, poros internos, trincas, defeitos cristalinos, fases amorfas, etc. Geralmente

refratários mais densos apresentam melhor estabilidade volumétrica, capacidade térmica e

resistência abrasão. (HARBISON-WALKER REFRACTORIES COMPANY, 2005)

Porosidade: são espaços vazios presentes no interior (fechados) ou na superfície das

cerâmicas (abertos). Poros internos podem ser causados pelo fechamento de poros abertos

durante a sinterização ou causados pela evolução de gases que não conseguem sair da

estrutura durante a solidificação do sistema. A resistência mecânica e a resistência a corrosão

aumentam com a redução da porosidade. Entretanto, as propriedades de isolamento térmico e

resistência ao choque térmico tendem a diminuir com essa redução. (CALLISTER, 2002)

Resistência à compressão: essa propriedade pode ser calculada a temperatura ambiente

ou sob alta temperaturas (à quente). Os ensaios realizados em temperatura ambiente fornecem

dados sobre a uniformidade estrutural (grau de sinterização) da cerâmica, resistência ao

impacto e abrasão. Os resultados fornecem ainda evidencias sobre a resistência da cerâmica

ao manuseio e armazenamento, que são indicativos importantes no estudo logístico destes

produtos. Os ensaios realizados à quente fornecem dados sobre o comportamento

Page 27: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

27

termodinâmico da cerâmica, a habilidade de resistir a tensão causada pela expansão e choques

térmicos, resistência à erosão e à corrosão. (HARBISON-WALKER REFRACTORIES

COMPANY, 2005)

Resistência à abrasão e erosão: são propriedades importantes, principalmente em

refratários utilizados em zonas de fluxo de materiais particulados (abrasão) ou em contato

com fluídos em movimento (erosão). Os refratários que apresentam alto módulo de ruptura,

boa resistência à compressão a frio e baixa porosidade tendem a apresentar alta resistência à

abrasão e à erosão.

Resistência à corrosão: como a corrosão é uma das principais causas de parada para

manutenção em reatores metalúrgicos, a capacidade de resistir ao ataque por escória é uma

importante propriedade das cerâmicas refratárias. Uma maneira de analisar a resistência de

uma cerâmica é a realização de ensaios estáticos de corrosão, onde amostras dessas cerâmicas

são preenchidas com metais no estado líquido e deixadas sob um determinado intervalo de

tempo, forçando reações químicas entre a cerâmica e o metal líquido. Após resfriadas as

amostras são cortadas e analisadas.

3.2 Matérias primas

O comportamento e as características dos refratários sílico-aluminosos e de alta

alumina estão relacionados principalmente com a formação e/ou transformação de fases

cristalinas específicas. Além dos parâmetros de produção da cerâmica como por exemplo:

dosagem, mistura, conformação e queima; a qualidade da matéria prima empregada é

extremamente importante na performance do produto final.

Como a variedade comercial de matérias primas é ampla, revisaremos somente os

materiais que foram utilizados no decorrer deste trabalho.

Page 28: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

28

3.2.1 Argila

As argilas utilizadas para a confecção de refratários pertencem a classe dos

argilominerais. São produtos sílico-aluminosos hidratados (Al2Si2O5(OH)4) que podem

apresentar-se na forma de quatro minerais polimorfos: caulinita, dickita, nacrita e halloysita.

A caulinita, que é o mineral mais comum nas argilas comerciais, quando aquecida a

temperaturas próximas de 600˚C tem toda sua água removida na forma de vapor e um novo

mineral é formado, a metacaulinita. (Equação1)

Al2Si2O5(OH)4 → Al2Si2O7 + 2 H2O (1)

Segundo Brindley e Nakahira (1959), entre 925 e 950˚C a metacaulinita é convertida

em um espinélio sílico-aluminoso e quartzo. (Equação 2)

Em patamares próximos à 1050˚C, a mulita começa a ser formada e a sílica restante é

convertida em cristobalita. (Equação 3)

2 Al2Si2O7 → Si3Al4O12 + SiO2 (2)

3 Si3Al4O12 → 2 (3 Al2O3 · 2 SiO2) + 5 SiO2 (3)

A forma mais comum de dióxido de sílica na natureza é o α-quartzo, que quando

aquecido a 573˚C sofre uma inversão (reversível) em β-quartzo. Durante essa inversão a

densidade passa de 2,65 g/cm3 (α-quartzo) para 2,60 g/cm3 (β-quartzo), ou seja, uma expansão

volumétrica de aproximadamente 2%.

As próximas mudanças ocorrem à 870 ou 1260 ˚C quando o quartzo é convertido em

tridimita ou cristobalita, respectivamente. A conversão de quartzo em tridimita e/ou

cristobalita é irreversível pois envolve mudanças na estrutura cristalina. A tridimita pode

formar cristobalita em temperaturas próximas a 1470 ˚C.

Assim como o quartzo, a tridimita (2,28 g/cm3) e a cristobalita (2,32 g/cm3)

apresentam inversões de fase α para β. A inversão da tridimita resulta na redução da

densidade em 0,01 g/cm3 enquanto que, a inversão da cristobalita apresenta redução na

densidade em 0,10 g/cm3. (SCHACHT; BROSNAN, 2004).

Page 29: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

29

Na figura 3 apresentamos esquematicamente as reações de inversão e conversão do

quartzo.

Figura 3: Representação esquemática dos patamares térmicos, valores teóricos de densidade e as inversões /

conversões sofridas pelo quartzo durante o aquecimento da argila.

Adaptado de: (SCHACHT; BROSNAN, 2004)

De maneira geral, a argila é a fonte precursora de sílica na saturação de soluções

sílico-aluminosas e formação da mulita. A qualidade dessa matéria prima, bem como as fases

cristalinas presentes e as reações de conversão e inversão podem explicar algumas variações

nas propriedades físicas desta classe cerâmica.

3.2.2 Chamote

O chamote é produzido pela calcinação da argila refratária sob temperaturas próximas

de 1300˚C. Devido ao prévio aquecimento, o chamote apresenta mulita, cristobalita e sílica

vítrea como principias fases cristalinas. O chamote tende a apresentar melhor concentração

estequiométrica e precursores para formação de mulita, quando comparada a uma argila

Page 30: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

30

convencional. A presença de cristobalita e alguns óxidos (Fe2O3, TiO2, MgO, CaO) ajudam na

redução da temperatura de formação de líquido, favorecendo o processo de mulitização. Em

algumas ocasiões é possível observar pequenas concentrações de corundum na argila. De

maneira geral o chamote é considerado uma fonte precursora de sílica de “melhor qualidade”

quando comparado a argila.

3.2.3 Bauxita calcinada

A bauxita é uma rocha formada por diferentes constituintes aluminosos hidratados

como: a gibbsita (Al2O3.3H2O), a boehmita (γAl2O3.3H2O) e/o diásporo (αAl2O3.H2O). São

encontrados ainda na bauxita outros minerais em menor quantidade como por exemplo:

compostos contendo sílica, óxido de ferro, titânia e silicatos de alumina, etc.

As principais reservas mundiais de bauxita se encontram na China (hidróxido de

alumínio predominantemente: diásporo) e América Sul (hidróxido de alumínio

predominantemente: gibbsita) que tendem a apresentar características diferentes após o

processo de calcinação. A bauxita utilizada neste trabalho é chinesa, predominante diaspórica

e com pequenas quantidades de anatásio (TiO2), caulinita (Al2Si2O5(OH)4) e mica.

No processo de calcinação da bauxita chinesa, o diásporo desidrata à 565ºC formando

a α-alumina, cujo grãos se apresentaram bastante desenvolvidos em temperaturas próximas de

1100ºC. (Equação 4)

αAl2O3.H2O → αAl2O3 + H2O (4)

O dióxido de titânio (TiO2) apresenta três polimorfos: o anatásio, o rutilo e a brookita.

Em pequenas quantidades o anatásio presente na bauxita, transforma-se lentamente em rutilo

em temperaturas acima de 400ºC. Segundo Pascoal e Pandolfelli (2000), devido a presença de

impurezas, em temperaturas próximas de 1300ºC o rutilo reage com α-alumina formando

tialita (Al2TiO5). (Equação 5).

αAl2O3 + TiO2 (rutilo) → Al2TiO5 (tialita) (5)

Page 31: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

31

A presença de inibidores óxidos alcalinos e silicoaluminosos provenientes da mica

desfavorecem a formação de mulita, que é observada somente em pequenas quantidades. De

maneira geral, a bauxita calcinada é uma importante fonte de alumina para saturação de

soluções sílico-aluminosas na formação da mulita.

3.2.4 Alumina calcinada

A alumina calcinada é produto da calcinação da bauxita na presença de soda cáustica

(NaOH). Na primeira etapa desse processo, também conhecido como processo Bayer, a soda

cáustica sob alta pressão dissolve a bauxita formando o aluminato de sódio (NaO.Al2O3) e

outras impurezas.

Na próxima etapa, impurezas são removidas e ocorre a separação do hidróxido de

alumínio (fase sólida) do hidróxido de sódio (fase líquida). O processo é finalizado com a

calcinação à aproximadamente 1000 °C, que desidrata os cristais de Al(OH)3 formando um

produto de aspecto arenoso e branco (Silva et al., 2007).

As equações 6 e 7 indicam respectivamente, as reações químicas de precipitação e

calcinação do hidróxido de alumina.

NaO.Al2O3 → Al (OH)3 (sólido) + NaOH (líquido) (6)

2Al (OH)3 → Al2O3 + 3H2O (7)

A alumina calcinada pode ser produzida em fornos rotativos, calcinadores de leito

fluidizado ou calcinadores suspensos. Devido às características de seu processo de produção,

a alumina calcinada apresenta elevada refratariedade e estabilidade química, apresentando-se

como uma excelente matéria prima na produção de mulita, espinélio e alumina sinterizada.

Na indústria refratária é uma excelente fonte de alumina em produtos sílico-aluminosos e

produtos monolíticos de alta alumina. (TAR, 1998)

Page 32: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

32

3.3 Processo de produção das cerâmicas refratárias

O processo de produção de cerâmicas refratárias pode ser dividido em sete etapas:

moagem e mistura das matérias primas, conformação, secagem e queima da massa,

acabamento final e armazenamento.

Na primeira etapa, as matérias primas são trituradas até atingirem granulometrias

específicas. Os grãos maiores que 0,1 mm, comumente chamados por grãos agregados (GG),

representam entre 60 e 85% dos constituintes da cerâmica e os grãos menores que 0,1 mm,

comumente chamados por grãos finos (GF), representam entre 15 e 40% dos constituintes. A

tabela 1 fornece os valores granulométricos comumente utilizados na indústria refratária.

A correta distribuição granulométrica dos constituintes nos misturadores e,

consequentemente, nas cavidades de prensagem é essencial para se atingir valores

satisfatórios de densidade e porosidade, bem como garantir a plasticidade necessária para

manusear o produto durante as etapas de secagem e queima.

Tabela 1: Valores granulométricos típicos utilizados na indústria refratária. Os grãos finos (GF) constituem a

matriz cerâmica. Os grãos maiores são denominados grãos agregados (GG).

Produto Distribuição de tamanho de grãos (%)

< 0,1 mm 0,1 – 1 mm 1 – 5 mm

Sílico-aluminosos 30 40 30

Magnesianos resinados 15 30 55

Magnesianos queimados 35 20 45

Cimento refratário 40 25 35

Fonte: (ROUTSCHKA; WUTHNOW, 2012)

A segunda etapa é o processo de mistura, quando as matérias primas são dosadas e

adicionadas a misturadores responsáveis pela homogeneização dos constituintes. Nesse

momento, ligantes e água (quando necessários) são adicionados para formação da massa.

Após a etapa de mistura, finaliza-se a manufatura dos produtos monolíticos (cimentos

refratários), os quais serão embalados e armazenados.

A terceira etapa é a conformação, quando a massa é compactada no formato final da

cerâmica. A conformação pode ocorrer em prensas: isostáticas, hidráulicas ou de fricção;

manualmente e/ou com auxílio de martelos pneumáticos; ou pelo processo de extrusão,

Page 33: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

33

quando a massa apresenta plasticidade suficiente para modelar formatos complexos. Após

serem conformados, os produtos passam pela secagem (quarta etapa) em temperaturas

próximas de 150 ˚C, quando a umidade e algumas substâncias orgânicas são removidas.

A quinta etapa é o processo de queima, que ocorre em fornos túneis subdivididos em

três regiões distintas. Na primeira região ocorre o pré-aquecimento do produto, quando a

umidade restante é removida. Na segunda região do forno ocorre a queima, quando reações no

estado sólido, recristalizações e mudanças estruturais irão definir as características finais da

cerâmica refratária. Aumentar o patamar de temperatura e/ou tempo no processo de queima

reduz a porosidade do produto e, consequentemente, aumenta a resistência à compressão e

refratariedade sob carga. Entretanto, altas temperaturas de queima são limitadas pela

capacidade energética do forno, podem causar trincas e deformações na cerâmica e consumir

elevadas quantidades de energia. Na terceira região ocorre o resfriamento da cerâmica até a

temperatura ambiente.

A tabela 2 apresenta típicos patamares da região de queima e consumo energético na

produção de classes cerâmicas específicas.

Tabela 2: Temperaturas comumente utilizadas na região de queima de fornos túneis. O tempo em que as

cerâmicas permanecem na região de queima está relacionada com a velocidade dos carros de transporte e com

o comprimento do forno túnel.

Tipo de refratário Temperatura de queima

(˚C)

Consumo energético

aproximado (KJ / Kg)

Sílico-aluminosos 1250 – 1500 3000

Alta alumina 1500 – 1800 5000

Magnesianos 1500 – 1800 6300

Fonte: (ROUTSCHKA; WUTHNOW, 2012)

A sexta etapa é o acabamento final da cerâmica. Dependendo do formato e

especificações geométricas, algumas cerâmicas recebem um acabamento final após o processo

de queima. Os processos mais comuns são: a retífica de faces da cerâmica para retirada de

inclusões ou correções dimensionais e o corte de entalhes e secções. A sétima e última etapa é

o armazenamento, seja com embalagens a vácuo (cerâmicas dolomíticas) ou em caixas de

madeira e/ou papelão, os produtos finais precisam ser armazenados sob proteção de umidade

e impactos.

Page 34: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

34

3.4 Cobertura de superfícies

Tribologia é o campo da ciência que estuda o comportamento e/ou interação de

superfícies em movimento relativo com ênfase aos fenômenos de desgaste e atrito que

venham a ocorrer. O controle ou a redução dos fenômenos citados acima podem melhorar a

performance, economizar energia e aumentar a vida útil de componentes mecânicos e

equipamentos. Nos últimos tempos, os parâmetros de atrito e desgaste foram alcançados

devido ao desenvolvimento de novos projetos e geometrias dos equipamentos, empregos de

matérias lubrificantes, tratamentos superficiais e aplicação de revestimentos. (HOLMBERG;

MATTHEWS, 1998)

Recentemente, o interesse da indústria refratária pelos revestimentos aumentou

significativamente por dois motivos: ganhar market share com desenvolvimento de novos

revestimentos que apresentassem propriedades superiores à superfície original (substrato) e o

reconhecimento pelo meio acadêmico/industrial de que em algumas situações, a superfície é a

região mais importante de um componente mecânico, porque é nessa região que se originam a

maioria das falhas, sejam estas potencializadas pelo desgaste, fadiga ou corrosão.

(HOLMBERG; MATTHEWS, 1998)

O desenvolvimento das técnicas de revestimento permitiu a utilização de materiais

especiais com propriedades específicas em regiões onde seriam realmente necessários. Em

alguns casos por exemplo, o substrato pode ser desenvolvido com uma característica tenaz,

enquanto o revestimento pode apresentar propriedades de resistência ao desgaste e corrosão.

Do ponto de vista econômico, pode-se utilizar materiais de baixo custo na produção do

substrato e materiais especiais (e em menor quantidade) na construção do revestimento.

No estudo e desenvolvimento de revestimentos cerâmicos algumas características e

propriedades são importantes, como por exemplo: adesão revestimento/substrato, variações

volumétricas do revestimento e/ou substrato, acabamento superficial, aplicabilidade e

porosidade final do revestimento. (NWAOGU; TIEDJE, 2011)

Page 35: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

35

3.4.1 Constituintes e processo de construção do revestimento

O revestimento foi construído a partir da aplicação e queima de um precursor chamado

barbotina. A barbotina é um material de consistência líquida constituído por três

componentes: um material particulado, um líquido de transporte e agentes de suspensão.

(NWAOGU; TIEDJE, 2011)

Material particulado: são micropartículas de um material refratário que serão dispersas

na superfície do substrato (cerâmica). Após ser seco ou queimado, esse material constituirá o

esqueleto do revestimento. Os principais materiais particulados descritos na literatura são: a

sílica, a zircônia, a magnésia, a grafite, a alumina e o talco.

Líquido de transporte: é o agente responsável por transportar o material particulado e

dispersá-lo sobre o substrato. Normalmente o líquido de transporte constitui de 20 a 40 % da

barbotina. Durante a queima o líquido é removido por evaporação ou combustão, dependendo

da sua natureza. Os produtos mais utilizados industrialmente são: água e solventes orgânicos.

Agente de suspensão: é o material responsável por regular a tensão superficial da

barbotina. Ele controla a homogeneidade da mistura e evita a formação de aglomerados

durante a fabricação e aplicação da barbotina. Os agentes de suspensão mais utilizados

industrialmente são: o ácido esteárico, a bentonita e alguns polissacarídeos.

Os métodos de aplicação da barbotina e/ou construção de revestimentos podem

ocorrer no estado gasoso (deposição física em fase vapor, deposição química em fase vapor,

etc.), no estado fundido/semifundido (laser, aspersão térmica, etc.), na forma de soluções

(Sol-Gel, deposição eletroquímica, etc.) ou aplicações mecânicas (pincéis, espátulas ou

sprays). Durante a aplicação mecânica, que foi o método utilizado nesse trabalho, existem

ainda três propriedades que influenciam a aplicação da barbotina e, consequentemente, o

acabamento final do revestimento: a tensão superficial, a viscosidade e a molhabilidade.

(TRACTON, 2006)

A tensão superficial é o desbalanço de forças que podem ser observados entre a região

superficial e o interior de um líquido. Quando a barbotina é preparada com materiais de

Page 36: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

36

tensão superficial diferentes, um gradiente de tensão é formado durante a secagem,

ocasionado um acabamento final pouco uniforme. A tensão superficial pode ser controlada

pela adição de agentes de suspensão.

A viscosidade é a resistência de um fluido ao escoamento em uma determinada

temperatura. Uma barbotina com alta viscosidade é mais eficiente em carregar e dispersar o

material particulado sobre uma superfície, entretanto, será necessária mais energia para sua

produção e aplicação.

A molhabilidade é a facilidade de um líquido se espalhar (molhar) e aderir sobre uma

superfície. Uma barbotina com alta molhabilidade é mais fácil de ser aplicada e apresenta um

acabamento melhor depois de queimada. A adição de substâncias surfactantes diminui a

tensão superficial da barbotina aumentando sua molhabilidade. (TRACTON, 2006)

Após ser aplicada, a barbotina é aquecida para que todo o líquido de transporte seja

removido. Quando se utiliza água na sua formulação, a barbotina é aquecida em temperaturas

próximas de 150 °C para que ocorra a evaporação do líquido. Quando se utiliza solventes

orgânicos, estes podem ser removidos por combustão ou deixar que evaporem lentamente à

temperatura ambiente. Em alguns casos, temperaturas acima de 250 °C são utilizadas para

acelerar o processo de secagem, favorecer a sinterização do material particulado e/ou

tratamentos na superfície do próprio revestimento. (NWAOGU; TIEDJE, 2011)

Page 37: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

37

4. DESENVOLVIMENTO EXPERIMENTAL

O desenvolvimento experimental foi divido em 5 partes: a preparação e análise das

amostras, o tratamento térmico das amostras, a produção e caracterização da barbotina, a

aplicação da barbotina e a queima e caracterização da cobertura. O fluxograma da figura 4

ilustras essas etapas.

Figura 4: Fluxograma do desenvolvimento experimental do trabalho divido em 5 etapas: 1) a preparação e

análise das amostras, 2) o tratamento térmico das amostras, 3) a produção e caracterização da barbotina, 4) a

aplicação da barbotina e 5) a queima e caracterização da cobertura.

A primeira etapa foi escolher e caracterizar as diferentes classes de cerâmicas que

iriam receber o revestimento. A segunda etapa foi a realização de um segundo processo de

queima para normalizar as amostras, visto que ambas as cerâmicas haviam sido produzidas

sob temperatura diferentes. A terceira etapa foi a produção e caracterização da barbotina. A

quarta etapa foi a aplicação mecânica da barbotina. A quinta etapa foi a queima da barbotina

para construção do revestimento e posteriormente sua caracterização.

1 2

3

5 4

e MEV

Page 38: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

38

5. MATERIAIS E MÉTODOS

5.1 Preparação e caracterização da barbotina

A barbotina utilizada no trabalho foi produzida em um moinho-agitador (Netzsch

GmbH, LabStar, Alemanha). Os principais componentes do equipamento são: um

reservatório, um agitador, uma bomba pneumática, um moinho de esferas e uma estação

central de controle. Um moinho-agitador similar ao utilizado no trabalho pode ser visualizado

na figura 5.

Figura 5: Moinho – agitador da linha LabStar utilizado na produção da barbotina e seus respectivos

componentes. Fonte: (NETZCSCH, 2016)

Na tabela 3 apresentamos os constituintes utilizados na produção da barbotina, suas

funções e seus respectivos fornecedores.

Tabela 3: Fornecedores e matérias primas utilizados na produção da barbotina.

Constituintes Quantidade Função Fornecedor

Alumina Calcinada 55 - 75 % Material Particulado Nabaltec GmbH

Óleo de parafina 20 - 40% Líquido de transporte H&R ChemPharm GmbH

Ácido esteárico 3 - 5% Agente de suspensão Croda International Plc

Page 39: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

39

O funcionamento do moinho agitador é relativamente simples. O óleo de parafina e o

ácido esteárico são adicionados no reservatório, em seguida o agitador é ligado. Após ser

agitada no reservatório, a mistura é pressionada por uma bomba pneumática e percorre o

circuito reservatório-bomba-reservatório durante alguns minutos.

A alumina calcinada é adicionada em pequenas quantidades ao reservatório para ser

agitada junto ao óleo e ácidos, formando a barbotina. O próximo passo é ligar o moinho e

deixar que a barbotina percorra o circuito completo, reservatório-bomba-moinho-reservatório,

durante aproximadamente 2 horas.

O moinho previamente preenchido por microesferas de zircônia é responsável pela

redução granulométrica do material particulado (alumina calcinada) e homogeneização dos

constituintes da barbotina. O tamanho das esferas usadas na moagem depende da

granulometria inicial e da granulometria final desejada. Na produção da barbotina utilizou-se

microesferas com diâmetros entre 0,4 e 0,7 mm.

Uma batelada de 3 kg de barbotina foi agitada por aproximadamente 3 horas. Durante

a agitação a viscosidade da barbotina tende a aumentar devido à redução granulométrica da

alumina. A viscosidade pode ser controlada variando a pressão da bomba pneumática,

velocidade do agitador ou quantidade de alumina adicionada ao reservatório. Os aglomerados

de alumina são evitados pela adição de quantidades corretas do ácido esteárico na mistura.

Uma barbotina viscosa e com aglomerado de alumina pode causar entupimentos nos canais do

equipamento interrompendo a produção.

A barbotina produzida apresentou uma viscosidade final aparentemente semelhante a

viscosidade inicial do óleo de parafina e sem a presença de aglomerados de micropartículas de

alumina. Após 24 horas foi observado que parte do material particulado se depositou no fundo

do recipiente. Uma segunda agitação mecânica foi suficiente para que a barbotina retornasse

as características iniciais de homogeneidade. Na figura 6 é possível observar a

homogeneidade da barbotina durante sua produção.

Page 40: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

40

Figura 6: A barbotina apresentou viscosidade semelhante à viscosidade inicial do óleo de parafina. Após

algumas horas, parte da alumina decantou no fundo do recipiente, quando foi necessária uma segunda

agitação.

A granulometria inicial e final da alumina foi analisada em um equipamento de

granulometria por difração a laser Symantec, Helos & Cuvette H1861. Nesse método as

partículas são detectadas por um feixe de laser incidente. Os sinais detectados são convertidos

em uma distribuição de tamanho de partículas através de softwares matemáticos.

A composição química inicial da alumina e da barbotina foram analisados em

equipamento de fluorescência de raios X Brucker do modelo S8 Tiger com amostrador

automático e Tubo de Rh a 3kW. Nessa técnica, a amostra a ser analisada recebe uma

radiação com energia suficiente para excitar seus elétrons. Os elétrons de orbitais internos são

ejetados e os átomos passam à um estado atômico instável. Devido à essa instabilidade

energética, elétrons de orbitais mais externos tendem a preencher as vacâncias deixadas pelos

elétrons que foram ejetados inicialmente. Essa movimentação eletrônica libera energia (na

forma de raios X) correspondente à diferença de energia entre dois orbitais. A diferença

energética é característica de cada elemento e possibilita identificar e quantificar os elementos

presentes na amostra. (PINTO, 2013)

Page 41: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

41

5.2 Amostras cerâmicas

5.2.1 Seleção e caracterização das amostras cerâmicas

A barbotina foi aplicada sobre três classes de cerâmicas sílico-aluminosas. As

cerâmicas escolhidas apresentam aproximadamente 43, 63 e 81% de alumina e serão

chamadas ao longo dessa dissertação por cerâmicas A, B e C, respectivamente.

Essas três diferentes cerâmicas refratarias, que fazem parte do portfólio da empresa

Magnesita, foram assim escolhidas, com objetivo de apresentarem substratos cerâmicos em

diferentes regiões (fases) do diagrama SiO2 x Al2O3. Teoricamente, a cerâmica A deveria

apresentar mulita dispersa em uma matriz rica em sílica, a cerâmica B deveria apresentar

mulita como fase predominante e a cerâmica C deveria apresentar mulita dispersa em uma

matriz rica em alumina.

Na figura 7 apresentamos novamente o diagrama SiO2 x Al2O3 com um panorama da

localização de cada cerâmica utilizada no trabalho.

Figura 7: Diagrama de fase SiO2 x Al2O3 com a localização estequiométrica de cada cerâmica. A cerâmica A

está localizada na região rica em sílica, a cerâmica B está na região estequiométrica da mulita e a cerâmica C

está localizada na região rica em alumina

Page 42: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

42

A tabela 4 indica o percentual das matérias primas utilizadas na produção das

cerâmicas e a tabela 5 indica os resultados da análise química das cerâmicas A, B e C.

A concentração de chamote e argila favoreceu a presença de grande quantidade de

sílica (51,11%) na cerâmica A. A concentração balanceada de argila e bauxita na cerâmica B

favoreceu uma concentração de sílica e alumina próxima ao valor estequiométrico de

formação da mulita. A alta concentração de bauxita e alumina calcinada favoreceu elevada

concentração de alumina na cerâmica C (80,85%).

Tabela 4: Percentagem das matérias primas utilizadas na fabricação das cerâmicas A, B e C.

Matéria Prima Cerâmica A Cerâmica B Cerâmica C

Chamote (%) 60 10 -

Bauxita calcinada (%) - 40 60

Alumina calcinada (%) - 10 20

Argila (%) 40 40 -

Argila especial (%) - - 20

Total (%) 100 100 100

Tabela 5: Composição química das cerâmicas A, B e C.

Cerâmica SiO2 (%) Fe2O3 (%) Al2O3 (%) TiO2 (%) K2O (%) CaO + MgO (%)

A 51,11 1,55 43,30 2,10 0,55 < 1,2

B 28,05 1,61 63,20 2,67 0,46 < 1,0

C 14,23 1,04 80,85 2,43 0,25 < 0,9

5.2.2 Normalização das amostras cerâmicas

As cerâmicas refratarias são produzidas normalmente entre 1200 a 1300 °C. Como

essas temperaturas se encontram abaixo da temperatura proposta para a queima da barbotina

(1460 ou 1600 °C), todas as amostras foram tratadas termicamente antes de receberem a

aplicação da barbotina. Este processo de normalização será chamado ao longo da dissertação

por segunda queima, uma vez que as cerâmicas já haviam sido queimadas previamente

durante seu processo normal de produção. O objetivo da segunda queima foi favorecer

Page 43: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

43

reações no estado sólido ou mudanças de fases que viessem a acorrer durante a queima da

barbotina, e que acabassem por “mascarar” os verdadeiros resultados finais de densidade e

porosidade do revestimento.

Antes de passarem pela segunda queima e receberem a barbotina, as três cerâmicas

passaram por ensaios físicos de densidade, porosidade e absorção de líquidos. Para essa

análise, foram cortados prismas retangulares de aproximadamente 100x80x20 mm segundo a

norma ASTM C830 – 00 "Standard Test Methods for Apparent Porosity, Liquid Absorption,

Apparent Specific Gravity, and Bulk Density of Refractory Shapes by Vacuum Pressure.

Neste método, também conhecido como método hidrostático, a massa da amostra é

mensurada em 3 diferentes situações. Na primeira, a amostra é pesada ainda seca (ms). Na

segunda situação, a amostra é colocada em uma câmara sob vácuo (processo de desaeração),

encharcada em um líquido de densidade conhecida e novamente pesada, porém imersa neste

mesmo líquido (mi). Por último, após o excesso de líquido ser removido manualmente, a

amostra úmida é novamente pesada (mu). A densidade e a porosidade foram calculadas

respectivamente pelas equações 8 e 9. (AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND

MATERIAL, 2000)

Com objetivo de comparar diferentes classes de refratários, mediante os valores obtido

pelo ensaio de densidade e porosidade (ms, mi, mu), calculamos a absorção de líquido

saturante na amostra. Os resultados de absorção são calculdos segundo a equação 10 e

fornecem uma relação de densidade e porosidade, independente da classe da ceramica

refratária. (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2011)

Densidade (g/cm3) = ms . ρ / (mu – mi) (8)

Porosidade aparente (%) = (mu – ms) x 100 / (mu – mi) (9)

Absorção (%) = (mu – ms) x 100 / (ms) (10)

Nas quais:

ms: massa seca (g);

mu: massa umida (g);

mi: massa imersa (g);

ρ: massa específica do líquido na temperatura de avaliação (g/cm3);

Page 44: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

44

A figura 8 ilustra os dispositivos utilizados no processo de encharque da amostra. A

figura 9 ilustra a balança adaptada para pesagem da amostra imersa. Neste trabalho, optou-se

por encharcar as amostras em água, porém para análise de cerâmicas de caráter higroscópico

utiliza-se líquidos orgânicos como por exemplo: a querosene ou o isopropanol.

Figura 8: Dispositivos utilizados para encharcar a amostra. As amostras são deixadas 30 minutos sob baixa

pressão (5 kPa) depois a água é adicionada. Após imersa, pressuriza-se a câmara até 200 kPa por 30 minutos.

Figura 9: Balança adaptada para pesagem da amostra imersa (um). Para evitar erros nos resultados todas as

amostras são pesadas como mesmo nível de líquido em cestos metálicos de massas semelhantes.

As estruturas cristalinas das matrizes cerâmicas foram examinadas em equipamento de

difração de raios X Brucker do modelo D4 Endeavor, usando radiação CuKα de λ=1,5406 Å.

Para esse ensaio foram preparadas aproximadamente 1kg da massa de cada cerâmica, as quais

Page 45: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

45

foram divididas em frações de 200g e foram queimadas a 1250, 1460 e 1600 °C. Após um

intervalo de 24 horas as amostras foram analisadas por difração de raios X.

Na técnica de difração, um feixe de raios X interage com um material cristalino

(amostra) obtendo-se um padrão de difração. Como cada fase cristalina produz um padrão

característico, independentemente da presença de outras fases, o método de difração mostra-se

atualmente ideal para identificação e caracterização de substâncias mono ou policristalinas.

Dentre as vantagens da técnica de difração de raios X para a caracterização de fases,

destacam-se a simplicidade e rapidez do método, a confiabilidade dos resultados, a

possibilidade de análise de materiais compostos por uma mistura de fases e uma análise

quantitativa destas fases. (ALBERS, et.al, 2002)

5.3 Aplicação e queima da barbotina

A barbotina permaneceu em repouso por aproximadamente 30 dias. O material

particulado decantou e foi necessário uma nova agitação do produto. A barbotina foi agitada

com uma batedeira industrial por 30 minutos e voltou a apresentar homogeneidade similar a

observada durante sua produção. O equipamento e a barbotina sendo agitada podem ser

visualizados na figura 10.

Figura 10: Após 30 dias em repouso, a alumina decantou no fundo do recipiente. Entretanto, após ser agitado

por 30 minutos, a barbotina voltou a apresentar a homogeneidade original.

Page 46: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

46

Embora algumas empresas (NGK Insulator, Anderman Ceramics, Schunk

Ingenieurkeramik GmbH, etc.) ofereçam comercialmente barbotinas que podem ser aplicadas

por: pinceis, espátulas, spray, plasma-spray, deposição física de vapor, etc., projetos

preliminares realizados na Magnesita estudaram a viabilidade de quatros métodos mecânicos

de aplicação de barbotinas. Foram analisadas as aplicações de barbotina em câmara de vácuo,

por derramamento, com auxílio de pincel e submersão total de amostras na barbotina. Todas

as técnicas, exceto a aplicação por pincel, apresentaram rugosidade final insatisfatória,

consumo excessivo da barbotina e/ou futuras incompatibilidades técnicas com o processo

produtivo da empresa. Pelo fato da barbotina apresentar características próprias (parafina com

micropartículas de alumina) e considerando-se os estudos preliminares realizados na

Magnesita decidimos aplicar a barbotina somente com auxílio de pincel.

A barbotina foi aplicada e deixada secar por 24 horas em temperatura ambiente. A

viscosidade da barbotina e a porosidade característica do substrato favoreceram um

acabamento superficial com baixa rugosidade e poucas imperfeições. A figura 11 ilustra a

aplicação da barbotina com auxílio de pincel.

Figura 11: Aplicação da barbotina com auxílio de pincel. A porosidade do substrato e viscosidade da barbotina

facilitaram a aplicação do material

Após receberem a aplicação da barbotina, as amostras foram queimadas a 1460 ou

1600 °C durante 5 horas. Esses patamares foram estabelecidos de acordo com os parâmetros

de trabalho sob os quais os revestimentos seriam expostos. Durante o desenvolvimento da

barbotina foi observado que patamares inferiores a 1250 °C, não eram suficientes para

sinterização do revestimento.

Page 47: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

47

5.4 Caracterização das cerâmicas revestidas

A cerâmicas revestidas foram caracterizadas por ensaios de densidade, porosidade,

absorção de líquidos, corrosão, microscopia óptica e microscopia eletrônica de varredura.

Os ensaios de densidade, porosidade, absorção de líquidos foram realizados segundo a

norma ASTM C830 – 00.O ensaio de corrosão foi realizado segundo norma DIN 51096

“Testing of ceramic materials; comparing test of the resistance of refractory bricks to the

attack of solid and liquid materials at high temperature, crucible method”. As amostras foram

cortadas no formato de pequenos recipientes com 50 mm de diâmetro por 50 mm de

profundidade e preenchidas com uma liga aço-cromo-manganês, que atuaria como agente

corrosivo. Os recipientes com a liga foram levados ao forno e deixados sob 1400 °C durante 4

horas. Esse patamar se mostrou ideal pois estava acima do ponto de fusão da liga

(aproximadamente 1380 °C) e abaixo da temperatura de queima da barbotina (1460 –

1600 °C). (DEUTSCHES INSTITUT FÜR NORMUNG, 2000).

A tabela 6 fornece a composição química da liga aço-cromo-manganês utilizada no

ensaio de corrosão.

Tabela 6: Composição química da liga aço-cromo-manganês usada no ensaio de corrosão.

C (%) Si (%) Mn (%) Cr (%) N (%) Fe (%)

P900 0,1 0,4 19,0 17,4 0,6 62,5

Após o ensaio de corrosão, algumas regiões do revestimento foram seccionadas com

uma serra de fita vertical e embutidas em resina quente. As amostras embutidas foram lixadas

com lixas d’água na sequencia granulométrica de 320, 400, 600, 1000, 1200 e 1500 mesh.

O polimento final foi realizado com suspensão de sílica coloidal de 0,05 µm, sobre

pano especial para polimento. As amostras foram polidas até que todas superfícies se

apresentassem totalmente espelhadas e sem riscos do processo anterior de lixamento. Após o

polimento as amostras foram limpas com álcool etílico e analisadas em microscópio de luz

refletida (Zeiss, Alemanha), com câmera acoplada para captura de vídeo e imagem.

As interações entre o substrato cerâmico e o revestimento também foram analisadas

por microscopia eletrônica de varredura (MEV) acoplada a um espectrômetro de dispersão de

energia (EDS) Jeol do modelo JSM 7500F, com tensões entre 12 e 15 kV e vácuo de análise

de 10-4 Pa. O tempo de contagem do EDS foi 100s por analise e os mapeamentos foram

Page 48: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

48

obtidos pela contagem de raios X característicos durante 1 hora e 20 minutos. O

funcionamento do MEV é baseado na interação de um feixe de elétrons finamente colimado

com a amostra. Os feixes de pequeno diâmetro são emitidos por um filamento capilar de

tungstênio mediante a aplicação de uma diferença de potencial que pode variar de 0,5 a 30

KV. O ânodo atrai fortemente os elétrons gerados, resultando numa aceleração em direção ao

eletrodo positivo. O sinal detectado é enviado a uma tela catódica cuja varredura está

perfeitamente sincronizada com aquela do feixe incidente. O sinal de imagem resulta da

interação do feixe incidente com a superfície da amostra. (DEDAVID et.al., 2007)

Para aplicações gerais, as imagens mais comuns são as de elétrons secundários,

produzidos pela interação do feixe com os átomos presentes na amostra. Estas imagens são

excelentes para topografia, e provavelmente a sua maior aplicação seja verificar a morfologia

de minerais. Nas imagens produzidas por elétrons retroespalhados (elétrons do feixe que se

chocam com as eletrosferas dos átomos e são arremessadas de volta), a tonalidade das cores é

proporcional ao número de elétrons e, consequentemente, ao peso atômico em cada pixel da

imagem, o que a torna de maneira indireta, uma imagem composicional. Com o EDS, a

identificação dos minerais é imediata pela sua composição química, eventualmente

complementa pelo conhecimento prévio da amostra (dados de microscopia óptica e/ou

difração de raios X, por exemplo), facilitando o trabalho de identificar a mineralogia da

amostra. (LUZ et.al., 2010)

Page 49: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

49

6. RESULTADOS E DISCUSSÕES

6.1 Barbotina

Na tabela 7 são apresentados os resultados granulométricos da alumina utilizada na

barbotina. Os resultados iniciais indicam a granulometria original da alumina e os resultados

finais indicam a granulometria da alumina presente na barbotina. A unidade (d10) indica o

diâmetro médio das partículas correspondentes a 10% das menores partículas analisadas. A

unidade (d50) corresponde a 50% e (d99) corresponde a faixa de 99% das menores partículas

analisadas.

Tabela 7: Granulometria inicial e final das partículas de alumina. Os resultados indicam que a alumina

presente na barbotina possui diâmetro 42% menor que a alumina original e uma distribuição mais uniforme.

Granulometria Inicial (µm) Final (µm)

d10 0,99 0,78

d15 1,34 0,95

d50 3,21 1,85

d90 6,85 3,50

d99 11,51 4,81

d90-d10 5,86 2,72

Os resultados do diâmetro efetivo (d10) indicaram 0,99 µm e 0,79 µm como valores

iniciais e finais, respectivamente. Isso significa que 10% das menores partículas de alumina

apresentaram uma redução de 21% em seu diâmetro. Os resultados inicias e finais de (d50)

foram 3,21 e 1,85 µm, respectivamente, indicando uma redução média de 42% no diâmetro de

50% das partículas de alumina. Os resultados de (d99) indicaram 11,51 e 4,81 µm como

valores iniciais e finais, respectivamente, isso significa que houve uma redução de 58% no

diâmetro de 99% das partículas de alumina.

A diferença entre (d10) e (d90) indica a uniformidade granulométrica de uma amostra,

quanto menor a diferença entre esses índices mais uniforme essa distribuição. Os resultados

dessa relação foram 5,86 e 2,72 µm, para os valores iniciais e finais, respetivamente,

Page 50: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

50

indicando que a alumina presente na barbotina apresenta uma granulometria mais uniforme do

que a alumina original.

Na tabela 8 são apresentados os resultados da análise química da alumina. A

concentração de alumina diminui de 99,90 para 97,83% após a barbotina ser preparada. Essa

redução percentual de alumina está relacionada com a contaminação da barbotina por zircônia

(ZrO2). A alta pressão e viscosidade da barbotina e o caráter abrasivo da alumina

potencializaram o desprendimento de fragmentos do revestimento interno do moinho

revestido por zircônia na mistura.

Durante o desenvolvimento da barbotina outros materiais particulados foram

analisados, como por exemplo: MgO eletrofundido, MgO sinterizado e um espinélio

sinterizado de alumínio e magnésio. As barbotinas a partir desses materiais foram produzidas

sob os mesmos parâmetros de tempo, pressão, líquido de transporte e concentração utilizados

na fabricação da barbotina de alumina, e nenhuma contaminação por zircônia foi observada.

Tabela 8: Composição química da alumina antes e após a produção da barbotina. Os resultados indicam uma

contaminação por zircônia proveniente das paredes do moinho.

6.2 Cerâmicas sem revestimento

6.2.1. Análises físicas das cerâmicas

Nas tabelas 9 e 10 são apresentados os resultados de densidade, porosidade e absorção

de líquidos das cerâmicas antes e depois de segunda queima (normalização). Devido a

precisão intrínseca do método hidrostático de análise, consideramos como variação de

Composição química Barbotina (%) Alumina (%)

CaO 0,04 0,02

MgO 0,06 0,04

SiO2 0,06 0,04

Al2O3 97,83 99,90

ZrO2 1,99 -

Page 51: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

51

densidade somente valores superiores a 0,015 g/cm3 e variação de porosidade somente valores

superiores a 1%.

Tabela 9: Resultados de densidade, porosidade e absorção de líquidos das cerâmicas A, B e C, antes e após a

segunda queima sob diferentes temperaturas.

Cerâmica /

Temp. (°C)

Densidade

inicial

(g/cm3)

Densidade

final

(g/cm3)

Porosidade

inicial (%)

Porosidade

final (%)

Absorção

inicial

(%)

Absorção

final (%)

A – 1460 2,413 2,387 15,2 14,7 6,3 6,2

A – 1460 2,406 2,384 15,3 14,8 6,4 6,2

B – 1460 2,649 2,510 16,8 20,6 6,3 8,2

B – 1460 2,654 2,519 16,7 20,5 6,3 8,1

B – 1600 2,660 2,448 16,8 20,6 6,3 8,4

C – 1460 2,833 2,819 18,3 19,7 6,5 7,0

C – 1460 2,828 2,816 18,5 19,8 6,5 7,0

C – 1600 2,841 2,986 17,2 12,2 6,1 4,1

Tabela 10 - Variações de densidade, porosidade, volume e absorção de líquidos após a segunda queima.

Cerâmica / Temp.

(°C)

Δ Densidade

(g/cm3)

Δ Porosidade

(%)

Δ Volume

(%)

Δ Absorção

(%)

A – 1460 -0,024 -0,5 2,1 -0,1

A – 1460 -0,022 -0,5 1,5 -0,2

B – 1460 -0,139 3,8 6,7 1,9

B – 1460 -0,135 3,8 5,7 1,8

B – 1600 -0,212 3,8 11,7 2,1

C – 1460 -0,014 1,4 0,8 0,5

C – 1460 -0,012 1,3 0,3 0,5

C – 1600 0,145 -5,0 -4,6 -2,0

As amostras da cerâmica A tratadas termicamente a 1460 °C, considerando-se a

precisão da análise, apresentaram uma pequena redução na densidade (-0,02 g/cm3),

porosidade constante e uma expansão volumétrica próxima de 2%. Amostras da cerâmica A

não foram tratadas termicamente a 1600 °C, pois esse patamar não é empregado nessa classe

de refratários.

Page 52: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

52

As amostras da cerâmica B tratadas termicamente a 1460 °C apresentaram redução de

densidade de -0,14 g/cm3, aumento da porosidade em 3,8% e expansão volumétrica de

aproximadamente 6%. A variação nos valores de absorção de líquidos (1,9 e 1,8%) na

cerâmica B, indicam um aumento significativo da porosidade em relação a densidade. A

amostra da cerâmica B tratada termicamente a 1600 °C apresentou uma redução na densidade

ainda maior em relação a mesma cerâmica tratada à 1460 °C (-0,21 g/cm3), aumento na

porosidade similar (3,8%) e uma expansão volumétrica de 11,7%.

As amostras da cerâmica C tratadas termicamente a 1460 °C apresentaram densidade e

volume constante e pequeno aumento de porosidade (1,3%). A amostra da cerâmica C tratada

termicamente a 1600 °C apresentou aumento de densidade (0,14 g/cm3), redução da

porosidade (5%) e volume (4,6%). Na cerâmica C tratada termicamente a 1600 °C, a redução

da porosidade em relação a densidade ficou evidente pelo resultado da absorção de líquidos

em -2%.

Os resultados de densidade, porosidade, volume e absorção de líquidos indicaram que:

a cerâmica A apresenta boa estabilidade física sob 1460 °C, a cerâmica C apresenta pequeno

aumento na porosidade sob 1460 °C, porem apresenta densificação e fechamento de poros

superficiais quando tratada a 1600 °C, a cerâmica B apresentou a menor estabilidade física em

ambos patamares térmicos, chegando a apresentar uma variação geométrica de 11,7%.

6.2.2. Analises das estruturas cristalográficas das matrizes cerâmicas.

As matrizes (frações granulométricas abaixo de 0,1 mm) de cada cerâmica foram

examinadas pela técnica de difração de raios X. O estudo cristalográfico das matrizes

cerâmicas foi realizado em amostras não tratadas termicamente e amostras queimadas sob três

diferentes temperaturas: 1250, 1460 e 1600 °C. Essas três temperaturas foram selecionadas

pois teoricamente representariam os patamares de: conversão irreversível do quartzo em

cristobalita (1260°C), mulitização em larga escala que ocorre próximo a 1450°C e formação

de fase liquida da sílica. Os difratogramas das matrizes são apresentados nas figuras 12 a 20.

Page 53: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

53

Cerâmica A

As fases cristalinas da cerâmica A, fabricadas com 60% de chamote e 40% de argila

refratária, são apresentadas nos difratogramas das figuras 12, 13 e 14.

Na figura 12, o difratograma da amostra sem tratamento térmico indicou a presença de

mulita, corundum e quartzo. A mulita e o corundum são produtos do processo de calcinação

da argila na produção do chamote, enquanto que o quartzo é proveniente da argila refratária.

Figura 12: Difratograma de raios X da Cerâmica A sem o tratamento térmico. Na identificação do

difratograma as letras M, representam mulita, Q o quartzo e C o corundum.

Na figura 13, o difratograma da cerâmica A tratada termicamente a 1250 °C apresenta

uma redução na intensidade dos picos de quartzo, surgimento de picos de cristobalita,

ausência do corundum e pequeno aumento nos picos de mulita.

A cristobalita é um produto da conversão do quartzo em temperaturas próximas de

1260 °C, nesse mesmo patamar o corundum em presença de cristobalita provavelmente foi

consumido na formação de mulita.

Page 54: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

54

Figura 13: Difratograma de raios X da Cerâmica A tratada termicamente a 1250 °C. Na identificação do

difratograma as letras M, representam mulita, Q o quartzo e Cr a cristobalita.

Na figura 14, o difratograma da amostra tratada termicamente a 1460 °C (figura14)

indica que todo quartzo restante e observado na figura 13 foi convertido em cristobalita.

Devido à ausência corundum não era esperada a formação de mulita (picos de mulita

permanecem constantes em relação a figura 13).

De maneira geral, mediante o aumento da temperatura foi possível observar o quartzo

(2,65 g/cm3) sendo convertido em cristobalita (2,32 g/cm3) e a formação de mulita na matriz

cerâmica. Isso pode explicar a pequena redução de densidade e expansão volumétrica próxima

de 2% da cerâmica A após a segunda queima.

Figura 14: Difratograma de raios X da Cerâmica A tratada termicamente a 1460 °C. Na identificação do

difratograma as letras M, representam mulita e Cr a cristobalita

Page 55: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

55

Cerâmica B

As fases cristalinas da cerâmica B, fabricadas com 10% de chamote, 40% de bauxita

calcinada, 10% de alumina calcinada e 40% de argila refratária, são apresentadas nos

difratogramas das figuras 15,16, 17 e 18.

Na figura 15, o difratograma da amostra sem tratamento térmico indica a presença de

mulita, corundum e quartzo. O corundum é proveniente da bauxita e alumina calcinada, a

mulita é produto do processo de calcinação de argila na produção do chamote, enquanto que o

quartzo é proveniente da argila refratária.

Figura 15: Difratograma de raios X da Cerâmica B sem o tratamento térmico. Na identificação do difratograma

as letras M, representam mulita, Q o quartzo e C o corundum.

Na figura 16, o difratograma da amostra tratada termicamente a 1250 °C indicou, de

maneira análoga ao que ocorreu na cerâmica A, uma redução na intensidade dos picos de

quartzo e corundum, o surgimento de picos de cristobalita e o aumento nos picos de mulita.

Page 56: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

56

Figura 16: Difratograma de raios X da Cerâmica B tratada termicamente a 1250 °C. Na identificação do

difratograma as letras M, representam mulita, Q o quartzo, Cr a cristobalita e C o corundum.

Na figura 17, o difratograma da cerâmica B tratada termicamente a 1460 °C indicou

que todo quartzo e cristobalita restante foram consumidos na formação da mulita (o número

e/ou intensidade dos picos de mulita aumentaram em relação ao patamar térmico anterior).

Com temperaturas próximas a 1460 °C uma quantidade maior de íons de alumina é liberada

no sistema favorecendo a redissolução de íons sílica que estavam precipitados na forma de

cristobalita e, consequentemente, atinjam a proporção estequiométrica ideal para nucleação da

mulita. De maneira geral, assim como ocorreu na Cerâmica A, a precipitação da mulita

ocorreu simultaneamente a dissolução da cristobalita.

Figura 17: Difratograma de raios X da Cerâmica B tratada termicamente a 1460 °C. Na identificação do

difratograma as letras M, representam mulita e C o corundum.

Page 57: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

57

Na figura 18 são apresentados os difratogramas da cerâmica B tratada termicamente a

1460 °C (esquerda) e 1600 °C (direita), os resultados indicam uma redução na intensidade de

picos de corundum e aumento nos picos de mulita. Provavelmente durante esse último

patamar térmico, o corundum em excesso continuou reagindo com sílica vítrea formando a

mulita.

Figura 18: Difratogramas de raios X da Cerâmica B tratada termicamente a 1460 e 1600°C. Na identificação

do difratograma as letras M, representam mulita e C o corundum.

De maneira geral, conforme a temperatura de queima aumenta (em um mesmo

intervalo de tempo) é possível observar uma relevante quantidade de corundum sendo

consumida na formação da mulita, o que pode explicar a expansão volumétrica, redução da

densidade e aumento da porosidade à 1600 °C.

Cerâmica C

As fases cristalinas da cerâmica C, fabricadas com 60% de bauxita calcinada, 20% de

alumina calcinada e 20% de argila especial, são apresentadas nos difratogramas das figuras 19

e 20. Não apresentamos os resultados da Cerâmica C queimados a 1260 °C pois estes são

similares aos obtidos sob 1460 °C.

Na figura 19, o difratograma da amostra sem tratamento térmico indicou a presença de

mulita, corundum e nacrita. O corundum e a mulita são provenientes da bauxita e alumina

calcinada e a nacrita é proveniente da argila especial.

Page 58: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

58

Figura 19: Difratograma de raios X da Cerâmica C sem o tratamento térmico. Na identificação do

difratograma as letras M, representam mulita, Na a nacrita e C o corundum.

Na figura 20, o difratograma (a esquerda) da amostra tratada termicamente a 1460 °C

indicou uma redução na intensidade dos picos de corundum, ausência da nacrita e aumento na

intensidade de picos de mulita. A nacrita tende a apresentar comportamento similar à caolinita

nesse patamar térmico, desidratando e formando mulita e cristobalita (Equações 1, 2 e 3).

Como a precipitação da mulita ocorre simultaneamente a dissolução da cristobalita,

acreditamos que nesse patamar toda a cristobalita já havia sido redissolvida e consumida na

formação de mulita. Ainda na figura 20, o difratograma (a direita) da amostra queimada a

1600 °C indica picos de sillimanite (3,23 g/cm3), cuja presença não era esperada uma vez que,

essa estrutura sílico-aluminosa forma-se somente sob altas pressões.

Figura 20: Difratogramas de raios X da Cerâmica C tratada termicamente a 1460 e 1600 °C, esquerda e

direita, respectivamente. Na identificação do difratograma as letras M, representam mulita, Na a nacrita e C o

corundum. As elipses tracejadas indicam picos de sillimanite próximas e/ou sobrepostas aos picos de mulita.

Page 59: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

59

Segundo Schneider et.al. (2005), como a sillimanite apresenta estrutura similar a

mulita, ressonâncias geradas durante a análise podem causar resultados ambíguos em

determinadas faixas de leitura. Nesse patamar de 1600 °C não foi observada variação na

concentração de corundum, o que descartada a possiblidade de formação de mais mulita.

Como os picos de sillimanite são de baixa intensidade e, normalmente, aparecem sobrepostos

e/ou próximos aos picos de mulita (elipses tracejadas), a creditamos que os sinais de

sillimanite são produto de ressonância e podem ser desconsiderados.

6.3 Cerâmicas com revestimento

6.3.1. Análises físicas

Na tabela 11 são apresentados os resultados do ensaio de densidade, porosidade e

absorção de líquidos das cerâmicas com e sem o revestimento. Na tabela 12 são apresentadas

as variações dos mesmos resultados apresentados na tabela 11. Assim como na análise dos

resultados após a segunda queima, consideraremos como variação de densidade somente

valores superiores a 0,015 g/cm3 e variação de porosidade somente valores acima de a 1%.

Tabela 11: Resultados de densidade, porosidade e absorção de líquido da amostra com o revestimento

Cerâmica / Temp. (°C) Densidade (g/cm3) Porosidade (%) Absorção (%)

A – 1460 2,408 14,6 6,1

A – 1460 2,402 14,8 6,2

B – 1460 2,483 21,7 8,7

B – 1460 2,488 21,7 8,7

B – 1600 2,462 20,8 8,4

C – 1460 2,861 18,5 6,5

C – 1460 2,856 18,7 6,5

C - 1600 2,995 12,3 4,1

Page 60: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

60

Tabela 12: Variações nos resultados de densidade, porosidade, absorção de líquidos e volume após as

cerâmicas receberem o revestimento.

Cerâmica / Temp.

(°C)

Δ Densidade

(g/cm3)

Δ porosidade

(%)

Δ volume

(%)

Δ absorção

(%)

A – 1460 0,020 -0,1 1,4 -0,1

A – 1460 0,018 0 1,7 0,0

B – 1460 -0,027 1,3 4,0 0,6

B – 1460 -0,031 1,2 3,5 0,6

B – 1600 0,014 0,2 1,1 0,0

C – 1460 0,042 -1,2 1,3 -0,5

C – 1460 0,040 -1,1 1,7 -0,5

C - 1600 0,009 0,10 1,8 0,0

As amostras da cerâmica A tratadas termicamente a 1460 °C apresentaram um

aumento da densidade, entretanto a porosidade e o volume permaneceram constantes após

receberem o revestimento. De maneira geral foi possível observar que o revestimento não

alterou significativamente as características físicas da cerâmica A.

As amostras da cerâmica B tratadas termicamente a 1460 °C apresentaram pequena

redução de densidade (aproximadamente 0,03 g/cm3), aumento da porosidade

(aproximadamente 1,2%) e uma expansão volumétrica de aproximadamente 4%. Embora as

amostras tenham recebido o tratamento térmico (segunda queima) antes da aplicação do

revestimento, os resultados indicam que a cerâmica B continuou expandindo durante a queima

da barbotina. A amostra tratada a 1600 °C não apresentou variações significativas de

densidade, porosidade e volume após ser revestida, porém a estabilidade observada a 1600 °C

não mostra qualquer relação com a presença do revestimento cerâmico.

As amostras da cerâmica C tratada termicamente a 1460 °C apresentaram aumento na

densidade (aproximadamente 0,03 g/cm3), redução na porosidade em 1,1% e volume

aparentemente constante. A amostra cerâmica C tratada termicamente a 1600 °C não

apresentou variações significativas de densidade, porosidade e volume após receber o

revestimento.

Page 61: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

61

6.3.2. Ensaio de Corrosão

Amostras de cada uma das três cerâmicas foram cortadas no formato de pequenos

recipientes, receberam a aplicação da barbotina e depois foram queimadas a 1460 °C para

formação do revestimento. Posteriormente, as amostras (recipientes) foram preenchidas com

fragmentos sólidos da liga P900 e aquecidas até 1400 °C, permanecendo nesta temperatura

por 4 horas.

Devido à alta agressividade da liga e o tempo de contato metal líquido x revestimento

e/ou metal líquido x substrato refratário, algumas amostras não foram capazes de conter o

metal líquido durante todo o ensaio. Como o metal vazou em direção ao centro da amostra

(Figura 21), algumas regiões do revestimento ficaram menos tempo expostas ao metal fundido

e permaneceram íntegras. Estas regiões remanescentes foram cortadas, embutidas em resina,

lixadas, polidas e analisadas em microscópio ótico e de varredura. O efeito protetivo do

revestimento cerâmico foi analisado qualitativamente, pelo aspecto visual das cerâmicas com

e sem revestimento.

Figura 21: O vazamento do metal fundido durante o ensaio de corrosão favoreceu que regiões do revestimento

ficassem menos tempo expostas a Liga P900.

6.3.2.1 Aspecto Visual

A figura 22 ilustra uma amostra da cerâmica A revestida. É possível observar um

revestimento homogêneo sem presença de trincas e/ou imperfeições. Na região inferior da

amostra (A) é possível observar que o revestimento não resistiu ao metal líquido, que infiltrou

Page 62: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

62

na matriz cerâmica. A região (B), que teoricamente ficou menos tempo em contato com o

metal líquido, foi cortada e embutida para análise de microscopia. Em virtude do vazamento,

não é possível afirmar quanto tempo o revestimento ficou em contato com o metal líquido.

Como não foram realizados ensaios de corrosão na cerâmica A sem revestimento, não foi

possível comparar os aspectos visuais dessa classe refratária.

Figura 22: Amostra da cerâmica A revestida após ensaio de corrosão. A região A indica o local onde o

revestimento não resistiu ao metal líquido. A região B indica o local onde o revestimento permaneceu menos

tempo em contato com a liga P900.

A figura 23 ilustra duas amostras da cerâmica B, uma revestida (imagem superior

esquerda) e outra sem o revestimento (imagem inferior esquerda). É possível observar a

presença de trincas de aproximadamente 3 mm na superfície do revestimento. Essas trincas se

formaram provavelmente pela expansão volumétrica do substrato durante queima da

barbotina. Como indicado na tabela 11, a cerâmica B apresentou a menor estabilidade

volumétrica dentre as três cerâmicas analisadas.

A amostra sem revestimento apresentou um aspecto visual melhor do que a amostra

revestida. Nesse caso, o aspecto negativo da variação volumétrica do substrato (as amostras

que receberam o revestimento cerâmico foram tratadas termicamente duas vezes) foi

majoritário em relação ao possível efeito protetivo do revestimento

A

B

Page 63: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

63

Figura 23: Amostra da cerâmica B com e sem revestimento após ensaio de corrosão. Na cerâmica revestida

(imagem superior esquerda) foi possível observar trincas de aproximadamente 3 mm e um aspecto visual mais

danificado em comparação com a cerâmica B sem revestimento (imagem inferior esquerda).

A figura 24 ilustra duas amostras da Cerâmica C, uma revestida (imagem superior

esquerda) e outra sem o revestimento (imagem inferior esquerda). É possível observar

novamente a presença de trincas de tamanho semelhante ao observado na cerâmica B,

contudo a amostra revestida apresentou um melhor aspecto visual em relação a amostra sem o

revestimento.

Devido à estabilidade volumétrica da cerâmica C, não era esperada a presença de

trincas na superfície do revestimento. Como a cerâmica C recebeu duas aplicações de

barbotina uma vez que, o caráter superficial pouco poroso da cerâmica C não contribuiu para

molhabilidade no processo de aplicação do líquido, provavelmente o excesso de material, em

comparação as cerâmicas A e B pode ter contribuído para o surgimento das trincas.

Trincas

Page 64: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

64

Figura 24: Amostra da cerâmica C com e sem revestimento após ensaio de corrosão. Na cerâmica revestida

(imagem superior esquerda) foi possível observar trincas de aproximadamente 3 mm e um aspecto visual menos

danificado em comparação com a cerâmica B sem revestimento (imagem inferior esquerda).

6.3.2.2 Microscopia Ótica

A figura 25 ilustra a seção polida do revestimento da cerâmica A. O revestimento

apresenta 239 µm de espessura, alguns poros dispersos e não interligados. Não é possível

observar trincas ou porosidade na região de contato revestimento x substrato cerâmico.

Devido ao patamar de queima da barbotina (1400 °C por 5 horas), a fina granulometria da

alumina e o substrato rico em sílica, era esperada a formação de mulita na interface substrato

x revestimento.

Page 65: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

65

Figura 25: Seção polida do revestimento da cerâmica A. É possível observar a presença de poros não

interligados e um revestimento com espessura média de 240 µm. Não é possível observar poros entre o

revestimento e o substrato.

A figura 26 ilustra seção polida do revestimento da cerâmica B. O revestimento

apresenta poros e espessura variando entre 90 a 400 µm. E possível observar uma trinca (A) e

uma fase distinta entre revestimento e substrato (B).

Figura 26: Seção polida do revestimento da cerâmica B. É possível observar uma variação na espessura do

revestimento, uma trinca (A) perpendicular à superfície do substrato e uma fase distinta entre revestimento x

substrato (B).

Revestimento

Page 66: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

66

As figuras 27, 28 ilustram seções polidas do revestimento da cerâmica C. Na figura 27

é possível observar um revestimento com espessura constante (aproximadamente 100 µm) em

toda seção e trincas perpendiculares a superfície do substrato. Não acreditamos que as trincas

estejam relacionadas com uma expansão volumétrica do substrato pois a cerâmica apresentou

variação volumétrica semelhante (1,2% após segunda queima) a cerâmica A, a qual não

apresentou trincas superficiais. Na figura 28 é possível observar a presença de porosidades na

interface substrato cerâmico x revestimento e algumas regiões onde imperfeições superficiais

foram preenchidas pela barbotina favorecendo sua ancoragem mecânica do revestimento (A).

Figura 27: Seção polida do revestimento da cerâmica C. É possível observar a presença de poros não

interligados e trincas perpendiculares a superfície do substrato.

Figura 28: Seção polida do revestimento da cerâmica C. É possível observar imperfeições superficiais da

cerâmica que foram preenchidas pelo revestimento.

Substrato

Revestimento

Trincas

A

Page 67: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

67

Durante o desenvolvimento do trabalho, amostras da barbotina foram queimadas à

1460 °C sem presença de um substrato cerâmico. Após o resfriamento, foi observado um

material poroso sem a presença de trincas, conforme apresentado na figura 29. Logo,

acreditamos que as trincas observadas no revestimento (aplicados sobre as cerâmicas) estão

relacionadas com a expansão volumétrica do substrato ou excessiva quantidade de barbotina

para construção do revestimento. O mesmo resultado foi observado quando a barbotina foi

queimada a 1600 °C, um material poroso sem a presença de trincas.

Figura 29: Fragmentos da barbotina queimados a 1460 °C sem a presença de substrato cerâmico. Os

fragmentos acima apresentam espessura próxima de 8 mm, poros e ausência de trincas.

Embora o ensaio tenha fornecido importantes informações em relação ao

comportamento químicos e adesão do revestimento ao substrato, acreditamos que o mesmo

ensaio poderia ser repetido com patamares similares ao aplicado em serviço. Enquanto que

neste trabalho foi utilizada uma liga com alto teor de cromo e manganês, na temperatura de

1400 °C com patamar de aquecimento de 300 °C/h durante 4 horas; em condições normais de

operação, a cerâmica ficaria exposto a ligas metálicas menos agressivas, sob temperaturas

próximas de 1300°C por no máximo 30 minutos.

Page 68: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

68

6.3.2.3 Microscopia eletrônica de varredura (MEV/EDS)

Cerâmica A

Os elementos químicos do revestimento e da região de interface com o revestimento

foram analisados pontualmente. Um software conectado ao bando de dados do MEV, baseado

nos elementos encontrados, indica semi quantitativamente a composição química dos

constituintes da amostra. As regiões foram analisadas conforme a figura 30 com os

respectivos espectros de EDS indicados nas figuras de 31 e 32. Os resultados dos elementos

são apresentados na tabela 13 e das composições químicas na tabela 14.

Figura 30: Foto por microscopia eletrônica de varredura (MEV) da cerâmica A com os pontos analisados pela

microssonda de energia dispersiva (EDS)

Substrato

Revestimento

Page 69: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

69

Figura 31 - Espectro de EDS dos pontos 1,3,4,5,6 e 7 da cerâmica A com revestimento.

Page 70: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

70

Figura 32 - Espectro de EDS dos pontos 9,10,11,12 e 13 da cerâmica A com revestimento.

Page 71: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

71

Tabela 13: Resultados pontuais (por elementos) da cerâmica A com revestimento.

Pontos O Al Si Ti Cr Mn Fe Zr

1 46,87 49,82 1,84 0,00 1,15 0,14 0,19

3 46,85 51,91 0,23 0,44 0,17 0,22 0,19

4 48,17 39,82 10,81 0,00 0,52 0,67 0,00

5 45,07 35,01 9,36 0,00 9,03 1,19 0,34

6 47,96 40,11 10,25 0,00 0,69 0,69 0,29

7 44,65 28,80 12,99 0,00 10,65 1,50 1,42

9 43,97 21,57 17,12 0,00 15,29 1,31 0,74

10 46,84 52,38 0,00 0,00 0,41 0,00 0,37

11 48,57 39,08 12,02 0,00 0,00 0,00 0,34

12 45,54 25,79 15,85 1,33 0,07 8,62 1,71 1,10

13 46,10 29,22 14,93

0,43 6,81 1,92 0,50

Tabela 14: Resultados pontuais (por composição) da cerâmica A com revestimento.

Pontos Al2O3 (%) SiO2 (%) TiO2 Cr2O3 MnO Fe2O3 ZrO2

1 94,13 3,93 0,00 1,48 0,20 0,26

3 98,08 0,49 0,64 0,22 0,32 0,25

4 75,24 23,12 0,00 0,68 0,96 0,00

5 66,16 20,02 0,00 11,66 1,70 0,47

6 75,79 21,94 0,00 0,90 0,99 0,40

7 73,84 25,70 0,00 13,75 2,14 1,91

9 40,76 36,63 0,00 19,74 1,87 1,00

10 98,97 0,00 0,00 0,53 0,00 0,50

11 54,42 27,78 0,00 0,00 0,00 0,46

12 48,72 33,90 2,21 0,11 11,13 2,44 1,49

13 55,22 31,93 0,63 8,80 2,75 0,68

Os pontos 1 e 3 indicam regiões do revestimento com alta porcentagem de alumina

(entre 94,13 e 98,8%). Os pontos 4, 5, 6, e 7 (ainda na região do revestimento) apresentam um

aumento da concentração de sílica. Devido ao patamar térmico empregado e à concentração

da alumina nessa região, era esperado que a sílica do substrato cerâmico migrasse por difusão

em direção ao revestimento. O formato de agulha e a composição estequiométrica dos pontos

Page 72: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

72

indica que a sílica reagiu com a alumina formando mulita. Essa formação mulítica foi

observada em outras regiões de interface substrato cerâmico x revestimento. Os pontos 10 e

11, situados no interior do substrato cerâmico, provavelmente indicam micro grãos de

corundum e mulita, respectivamente. Os pontos 9, 12 e 13 indicam micro grãos de chamote.

Nos pontos 5, 7, 9 e 12 é possível observar a presença de óxido de manganês (entre 11,1 e

19,7%) e aproximadamente 2% de oxido de ferro indicando que componentes da liga P900

utilizada no ensaio de corrosão penetraram na cobertura.

A figura 33 ilustra o mapeamento dos elementos silício e alumínio na cerâmica A com

revestimento. No mapeamento à esquerda (cinza) é possível observar uma região mais intensa

(formato de agulha) na interface cerâmica x revestimento. No mapeamento central (amarelo) é

possível observar uma concentração maior de Al na parte inferior onde está presente o

revestimento, o Al observado em menor concentração na parte superior é proveniente do

chamote. No mapeamento à direita (verde), a maior concentração de Si está situada na região

da cerâmica. As intensidades semelhantes de sílica e alumina nas partes superiores das

imagens, coincidem com a o resultado de análise química da cerâmica A (tabela 5) quando

esses óxidos apresentaram concentrações de 51,11 e 43,30%, respectivamente.

A região circulada em vermelho no mapeamento à esquerda da figura 33 foi ampliada

700 vezes e apresentada na figura 34.

Figura 33: Mapeamento dos elementos indicando uma alta concentração de Al na região do revestimento e uma

alta concentração de Si na região do substrato cerâmico.

Substrato

Revestimento

Page 73: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

73

Figura 34: Foto por microscopia eletrônica de varredura (MEV) da cerâmica A com revestimento. É possível

observar na interface substrato x revestimento a presença de uma fase distinta, a qual os resultados das análises

química pontuais indicam que seja mulita.

Cerâmica B

De maneira similar ao apresentado acima, os pontos analisados na cerâmica B são

apresentados na figura 35 com os respectivos espectros de EDS na figura 36. Os resultados

dos elementos são apresentados na tabela 15 e das composições químicas na tabela 16.

Figura 35: Foto por microscopia eletrônica de varredura (MEV) da cerâmica B com os pontos analisados pela

microssonda de energia dispersiva (EDS)

Substrato

Revestimento

Substrato

Revestimento

Page 74: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

74

Figura 36 - Espectro de EDS dos pontos 1, 2, 3, 5, 6 e 7 da cerâmica B com revestimento.

Page 75: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

75

Tabela 15: Resultados pontuais (por elementos) da cerâmica B com revestimento.

Ponto O Al Si Ti Cr Mn Fe Zr

1 46,18 48,59 1,38 0,00 0,71 1,04 2,10

2 46,97 47,12 3,33 0,96 0,40 0,00 0,20 1,02

3 46,83 45,79 4,27 0,11 0,00 1,69 1,31

5 47,83 41,70 8,42 1,15 0,14 0,13 0,63 0,00

6 47,54 48,59 3,74 0,04 0,00 0,05 0,03

7 47,69 39,33 9,39 1,98 0,00 0,08 1,53 0,00

Tabela 16: Resultados pontuais (por composição) da cerâmica B com revestimento.

Ponto Al2O3 SiO2 TiO2 Cr2O3 MnO Fe2O3 ZrO2

1 91,81 2,94 0,00 0,92 1,49 2,84

2 89,04 7,12 1,61 0,58 0,00 0,28 1,38

3 86,52 9,14 0,16 0,00 2,42 1,77

5 78,79 18,01 3,86 0,00 0,08 0,86 0,00

6 91,81 8,01 1,92 0,21 0,17 0,90 0,04

7 74,32 20,09 0,07 0,00 0,07 0,00

Os pontos 1, 2, 3 representam diferentes regiões do revestimento. Conforme o

revestimento se aproxima da cerâmica a porcentagem de alumina diminui de 91,81% para

86,52% ao mesmo tempo em que a porcentagem de sílica aumenta de 2,94% para 9,14%. A

presença de zircônia foi observada somente no revestimento, indicando que esse óxido não

apresentou cinética suficiente para difundir no substrato cerâmico. Os pontos 5, 6 e 7

representam diferentes regiões do substrato cerâmico e indicam micro grãos de mulita,

corundum e mulita, respectivamente.

A figura 37 ilustra o mapeamento dos elementos silício e alumínio na cerâmica B

revestida. No mapeamento à esquerda (cinza) é possível observar poros grandes e interligados

na cerâmica e poros pequeno e uniformemente distribuídos no revestimento. No mapeamento

central (amarelo) é possível observar uma concentração maior de Al na parte inferir onde está

situado o revestimento. No mapeamento à direita (verde) é possível observar uma

concentração maior de Si na parte superior da imagem que coincide com a região onde está

presente a cerâmica B.

Page 76: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

76

Figura 37: Mapeamento dos elementos indicando uma alta concentração de Al na região do revestimento e uma

alta concentração de Si no substrato cerâmico.

Cerâmica C

De maneira similar ao apresentado nas cerâmicas A e B, os pontos analisados na

cerâmica C são apresentados na figura 38 com os respectivos espectros de EDS na figura 39.

Os resultados dos elementos são apresentados na tabela 17 e das composições químicas na

tabela 18.

Figura 38: Foto por microscopia eletrônica de varredura (MEV) da cerâmica C com os pontos analisados pela

microssonda de energia dispersiva (EDS).

Substrato

Revestimento

Substrato

Revestimento

Page 77: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

77

Figura 39 - Espectro de EDS dos pontos 1, 2, 3, 4, 5 e 6 da cerâmica C com revestimento.

Page 78: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

78

Tabela 17: Resultados pontuais (por elementos) da cerâmica C com revestimento.

Pontos O Al Si Fe Zr

1 46,08 30,35 13.63 0,90 9,05

2 47,17 49,87 2,24 0,06 0,66

3 44,08 42,77 1,80 0,00 11,35

4 47,30 50,66 1,93 0,10 0,00

5 46,83 49,24 2,01 0,83 1,09

6 48,86 35,42 15,01 0,00 0,71

Tabela 18: Resultados pontuais (por composição) da cerâmica C com revestimento.

Pontos Al2O3 SiO2 Fe2O3 ZrO2

1 57,34 29,16 1,28 12,22

2 94,22 4,80 0,08 0,90

3 80,81 3,85 0,00 15,33

4 95,73 4,12 0,15 0,00

5 93,04 4,30 1,19 1,47

6 66,93 32,11 0,00 0,96

Os pontos 2, 4 e 5 da figura 38 indicam regiões do revestimento com concentração de

alumina acima de 94%. O ponto 3 apresentou elevado valor de zircônia (15,33%)

provavelmente esse ponto coincidiu com partículas de zircônia, resultantes da contaminação

da barbotina durante sua fabricação. O ponto 1 situado no interior da cerâmica C apresentou

concentração de zircônia similar ao ponto 3 fornecendo indícios que constituintes do

revestimento infiltraram na direção do substrato cerâmico. O ponto 6, também situado no

substrato, indica um micro grãos de argila.

A figura 40 ilustra o mapeamento dos elementos silício e alumínio na cerâmica C

revestida. No mapeamento à esquerda (cinza) é possível observar poros grandes e interligados

na cerâmica. No mapeamento central (amarelo) é possível observar uma distribuição mais

homogênea da alumina entre as regiões do revestimento e do substrato cerâmico, em

comparação com as outras cerâmicas analisadas. Isso ocorreu porque a cerâmica C apresenta

uma concentração de alumina (81%) próxima a concentração do revestimento (98%). No

mapeamento à direita (verde) é possível observar uma concentração maior de Si na parte

Page 79: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

79

superior da imagem que coincide com a região onde está presente a cerâmica. As regiões

circuladas em vermelho coincidem com micro grãos de alumina calcinada (alta tonalidade na

figura central e ausência de cor na figura da direita). Esses grãos podem ser melhores

visualizados na figura 41.

Figura 40: Mapeamento dos elementos indicando uma semelhante concentração de alumina entre revestimento

substrato cerâmicos. As regiões tracejadas em vermelho indicam micro grãos de alumina calcinada.

Na figura 41 é possível observar um substrato cerâmico muito poroso em relação ao

revestimento e regiões (A, B, C e D) onde a sinterização da alumina aparentemente auxiliou

na aderência do revestimento sobre o substrato cerâmico.

Figura 41: Foto por microscopia eletrônica de varredura (MEV) da cerâmica C revestida. As regiões A, B, C e

D são exemplos de sinterizações que auxiliam na aderência do revestimento sobre o substrato cerâmico.

Substrato cerâmico

Revestimento B

D

C A

Substrato

Revestimento

Page 80: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

80

7. CONCLUSÃO

O revestimento obtido pela queima da barbotina apresentou compatibilidade química

com a linha de produtos sílico-aluminosos da empresa.

O objetivo de produzir um revestimento de micropartículas de alumina foi atingido,

visto que aproximadamente 50% da alumina presente na barbotina apresentava granulometria

menor que 2 µm. O moinho de esferas foi capaz de produzir uma barbotina de boa qualidade

com velocidade satisfatória ao processo produtivo da empresa (0,5L/h).

O revestimento apresentou aderência superficial satisfatória, seja pela presença de

ligações químicas e/ou formação de novas fases entre o revestimento e o substrato cerâmico

ou pela ancoragem mecânica. O revestimento apresentou um acabamento final liso

preenchendo todas imperfeições superficiais do substrato.

Embora a cerâmica C (revestida e queimada a 1460 °C) tenha apresentado 1,2% de

redução na porosidade superficial após o revestimento ser aplicado, a redução observada

durante a segunda queima (5%) nesta mesma cerâmica, mostrou-se como uma solução de

melhor viabilidade econômica na redução da porosidade superficial. Como essa redução foi

acompanhada de uma redução no volume da amostra (aproximadamente 4,6%) acredita-se

que o processo da segunda queima poderia prejudicar a produção de cerâmicas com geometria

complexa mais complexa, como por exemplo plugs e válvulas.

Mesmo o ensaio de corrosão tendo sido realizado sob parâmetros extremos em relação

aos parâmetros normais de trabalho da cerâmica, ficou evidente que as amostras revestidas

apresentaram comportamento superior as amostras originais, com exceção da Cerâmica B que

não apresentou estabilidade física durante a queima da barbotina.

Os resultados do MEV indicaram que houve difusão entre elementos do revestimento

e o substrato cerâmico. No caso da cerâmica A essa difusão levou a uma concentração

estequiométrica ideal (sílica x alumina) para precipitação de mulita, que cobriu algumas

regiões de interface. Embora as análises de densidade e porosidade não tenham apontado,

imagens feitas com MEV indicam uma aparente redução da porosidade superficial das

cerâmicas revestidas.

Page 81: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

81

SUGESTÃO PARA TRABALHOS FUTUROS

Embora o revestimento tenha apresentado aderência superficial e reduzido a

porosidade superficial do substrato, algumas etapas do processo de aplicação e queima da

barbotina podem ser aperfeiçoadas e/ou aprimoradas. A partir dos estudos realizados e dos

problemas enfrentados principalmente pela presença das trincas no revestimento, sugerimos

como investigações futuras:

• Analisar outros métodos de aplicação da barbotina;

• Utilizar diferentes patamares de queima da barbotina que evitem mudanças estruturais

no substrato;

• Utilizar diferentes formulações químicas da barbotina;

• Ensaios de erosão à quente e corrosão dinâmica com ligas menos agressivas;

• Ensaios de porosidade por imersão em mercúrio.

Page 82: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

82

Referências

ALBERS, Ana Paula F. et al.; Um método simples de caracterização de argilominerais

por difração de raios X. Cerâmica, São Paulo, v. 48, n. 305, p. 34-37, 2002. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0366

69132002000100008&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 25 out. 2016.

AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM C71 “Standard

Terminology Relating to Refractories”. West Conshohocken, PA, USA. 2002.

AMERICAN SOCIETY FOR TESTING AND MATERIALS. ASTM C830 – 00 "Standard

Test Methods for Apparent Porosity, Liquid Absorption, Apparent Specific Gravity,

and Bulk Density of Refractory Shapes by Vacuum Pressure”. West Conshohocken, PA,

USA. 2000.

ASSOCIACAO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10237: Materiais

refratários – classificação. Rio de Janeiro, 2001

ASSOCIACAO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6220: Materiais

refratários densos conformados – Determinação do volume aparente, densidade,

absorção e densidade aparente da parte sólida. Rio de Janeiro, 2011

BRINDLEY G.W., HUNTER K; The thermal reactions of nacrite and the formation of

metakaolin, y-alumina, and mullite. Leeds, England. 1965. Disponível em: <

http://www.minersoc.org/pages/Archive-MM/Volume_30/30-228-574.pdf>. Acesso

em: 25 out. 2016.

BRINDLEY G.W., NAKAHIRA M.; The Kaolinite-Mullite Reactions Series: III, The High-

Temperature Phases. Journal of the American Ceramic Society, Pennsylvania, USA, v.42, n.7,

1959, p319-324.

CALLITER JR., WILLIAM D.; Ciência e Engenharia de Materiais: Uma Introdução, 5ª

ed., Rio de Janeiro: LTC, 2002.

CHAKRAVORTY A.K., GHOSH D. K.; Kaolinite-mullite reaction series: The development

and significance of a binary aluminosilicate phase. Journal of the American Ceramic Society,

Pennsylvania, USA, v.74, n.6, 1991 p1401-1406.

Page 83: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

83

COTTA, Luiza Santos; RODRIGUES, Christianne Garcia; Avaliação de Revestimento

Refratário no Processo Siderúrgico. Belo Horizonte: Editora UniBH, 2014, p. 185-203.

Disponível em: <www.unibh.br/revistas/exacta/>. Acesso em: 15 mar. 2016

DEDAVID B.A., GOMES C.I, MACHADO G.; Microscopia Eletronica de Varredura:

Aplicações e preparação de amostras. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2007

DESHMUKH Yeshvant Vishwanath; Industrial Heating: Principles, Techniques,

Materials, Applications, and Design. United States of America: CRC, 2005. 767p.

DEUTSCHES INSTITUT FÜR NORMUNG: DIN 51069 “Testing of ceramic materials;

comparing test of the resistance of refractory bricks to the attack of solid and liquid

materials at high temperature, crucible method”. Berlin, Germany, 2000.

FEITOSA G, et al.; Obtenção de mulita a partir de matérias-primas naturais utilizando a

ativação mecânica. Ponta Grossa. Disponível em:

<http://www.iaea.org/inis/collection/NCLCollectionStore/_Public/42/105/42105308.pdf>.

Acesso em: 25 out. 2016.

FLORENCIO Raquel Valério de Souza, SELMO Silvia Maria de Souza; Estudo

comparativo de granulometria a laser para fins de reciclagem de resíduos de demolição.

17° CBECI Mat. – Congresso Brasileiro de Engenharia e Ciências dos Materiais, 2006 Brasil.

HARBISON-WALKER REFRACTORIES COMPANY. Handbook of Refractory

Practices, Pittsburgh, USA, 2005. 331p.

HOLMBERG Kenneth, MATTHEWS Allan; Coatings Tribology: Properties, Techniques

and Applications in Surface Engineering. Elsevier Tribology series, 28. Amsterdam,

Holanda: Elsiever Science B.V., 1998. 386p.

IZHEVSKYI, V. A. et al.; Review article: silicon carbide. Structure, properties and

processing. Cerâmica, São Paulo, v. 46, n. 297, 2000 p. 4-13. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0366-

69132000000100002&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 15 mar. 2016

LEE P. William; Ceramics. New York, USA: Reinhold Publishing Corporation, 1961. 210p.

LUZ A.B., SAMPAIO J.A., FRANÇA .C.; Tratamento de Minérios. Rio de Janeiro. v.5, pg

85-139.

Page 84: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

84

MAGLIANO M.V.M., PANDOLFELLI V.C; Mulitização em refratários utilizando

diferentes fontes precursoras - revisão. Cerâmica, São Paulo, v. 56, 2010, p. 368-375.

MAGNESITA REFRATÁRIOS S.A. Relação com investidores, Contagem, 2013.

Disponível em: < http://magnesita.riweb.com.br/ >. Acesso em: 31 jul. 2016

MAGNESITA REFRATÁRIOS S.A., Contagem, 2016. Disponível em: <

http://www.magnesita.com >. Acesso em: 31 jul. 2016

NETZSCH. Disponível em: <https://www.netzsch-grinding.com/en/products-solutions/wet-

grinding/labstar-laboratory-mill/#>. Acesso em: 15 mar. 2016.

NWAOGU Ugochukwu Chibuzoh, TIEDJE Niels Skat; Foundry Coating Technology: A

Review. Lyngby, Denmark, v.2, n.8 pp. 1143-1160, 2011.

OSHA - EUROPEAN AGENCY FOR SAFETY AND HEALTH AT WORK: Directive

2004/37/EC - carcinogens or mutagens at work. Santiago de Compostela, Espanha, 2004.

Disponível em: <https://osha.europa.eu/en/legislation/directives/directive-2004-37-ec-

carcinogens-or-mutagens-at-work> Acesso em: 25 out. 2016

PASCOAL, C.; PANDOLFELLI, V. C.; Bauxitas refratárias: composição química, fases e

propriedades - Parte I. Cerâmica, São Paulo, v. 46, n. 298, p. 76-82, 2000. Disponível

em:<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0366-

69132000000200005&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 01 nov. 2016.

PINTO Herbert Prince Favero; Três estratégias para análise quantitativa ou qualitativa

por Espectroscopia de Fluorescência de Raios-X por Energia Dispersiva. Dissertação de

Mestrado. Departamento de Engenharia Química - Escola Politécnica da Universidade de São

Paulo. São Paulo, Brasil 2013.

ROUTSCHKA Gerald, WUTHNOW Hartmut; Handbook of Refractory Materials: Vulkan-

Verlag GMBH, 2012. pp. 320.

SCHACHTC Charles A.; Refractory Handbook: CRC, 2004. 516p.

SCHNEIDER H., SCHREUER J., HILDMANN B., Structure and properties of mullite – A

review. Journal of the European Ceramic Society, Alemanha, v.28, 2008, p.329-344

Page 85: FELIPE CASTILHO DE SOUZA Desenvolvimento de uma cobertura de ... · caracterizadas por difração e fluorescência de raios X, por ensaios de densidade e porosidade, por ensaios de

85

SCHNEIDER H., SCHMUKER M., MACKENZIE K. J. D., Basic Properties of Mullite.

Wiley-VCH Verlag GmbH & Co. KGaA, Weinheim Alemanha, 2005. pp. 189 – 205.

SILVA, E.B.F.; ALVES, M.C.; Da MOTTA, M.; Lama vermelha da indústria de

beneficiamento de alumina: produção, características, disposição e aplicações

alternativas. Revista Matéria, Recife-PE, v.12, n.2, pp. 322 – 338. 2007

TAR - THE TECHNICAL ASSOCIATION OF REFRACTORIES (TAR). Refractories

Handbook, Tóquio, Japan, 1998.579p.

TRACTON Arthur A.; Coatings Technology: Fundamentals, testing and Processing

Techniques. CRC Press, USA, 2006. 408p.

WAHL F.M., GRIM R.E., GRAF R.B.; Phase transformation in Silica-Alumina mixtures

as examined by continuous X-ray diffraction. Illinois, USA, 1961. Disponível em: <

http://www.minsocam.org/ammin/AM46/AM46_1064.pdf>. Acesso em: 25 out. 2016.