feijão - cultivo

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CULTIVO DO FEIJOEIRO Características da Cultura Cultivado por pequenos e grandes produtores, em diversificados sistemas de produção e em todas as regiões brasileiras, o feijoeiro comum reveste-se de grande importância econômica e social. Dependendo da cultivar e da temperatura ambiente, pode apresentar ciclos variando de 65 a 100 dias, o que o torna uma cultura apropriada para compor, desde sistemas agrícolas intensivos irrigados, altamente tecnificados, até aqueles com baixo uso tecnológico, principalmente de subsistência. As variações observadas na preferência dos consumidores, orientam a pesquisa tecnológica e direcionam a produção e comercialização do produto, pois as regiões brasileiras são bem definidas quanto à preferência do grão de feijoeiro comum consumido. Algumas características como a cor, o tamanho e o brilho do grão, podem determinar o seu consumo, enquanto a cor do halo pode também influenciar na comercialização. Os grãos menores e opacos são mais aceitos que os maiores e que apresentam brilho. A preferência do consumidor norteia a seleção e obtenção de novas cultivares, exigindo destas não apenas boas características agronômicas, mas também valor comercial no varejo. O feijão preto é mais popular no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, sul e leste do Paraná, Rio de Janeiro, sudeste de Minas Gerais e sul do Espírito Santo. No restante do país este tipo de grão tem pouco ou quase nenhum valor comercial ou aceitação. O feijões de grão tipo carioca são aceitos em praticamente todo o Brasil, daí que 53% da área cultivada é semeada com este tipo grão. O feijão mulatinho é mais aceito na Região Nordeste e os tipos roxo e rosinha são mais populares nos Estados de Minas Gerais e Goiás. Centenas de cultivares de feijoeiro comum são cultivados no Brasil e normalmente possuem sementes pequenas, embora possam também

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CULTIVO DO FEIJOEIRO

Características da Cultura

Cultivado por pequenos e grandes produtores, em diversificados sistemas de produção e em todas as regiões brasileiras, o feijoeiro comum reveste-se de grande importância econômica e social. Dependendo da cultivar e da temperatura ambiente, pode apresentar ciclos variando de 65 a 100 dias, o que o torna uma cultura apropriada para compor, desde sistemas agrícolas intensivos irrigados, altamente tecnificados, até aqueles com baixo uso tecnológico, principalmente de subsistência. As variações observadas na preferência dos consumidores, orientam a pesquisa tecnológica e direcionam a produção e comercialização do produto, pois as regiões brasileiras são bem definidas quanto à preferência do grão de feijoeiro comum consumido. Algumas características como a cor, o tamanho e o brilho do grão, podem determinar o seu consumo, enquanto a cor do halo pode também influenciar na comercialização. Os grãos menores e opacos são mais aceitos que os maiores e que apresentam brilho. A preferência do consumidor norteia a seleção e obtenção de novas cultivares, exigindo destas não apenas boas características agronômicas, mas também valor comercial no varejo.

O feijão preto é mais popular no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, sul e leste do Paraná, Rio de Janeiro, sudeste de Minas Gerais e sul do Espírito Santo. No restante do país este tipo de grão tem pouco ou quase nenhum valor comercial ou aceitação. O feijões de grão tipo carioca são aceitos em praticamente todo o Brasil, daí que 53% da área cultivada é semeada com este tipo grão. O feijão mulatinho é mais aceito na Região Nordeste e os tipos roxo e rosinha são mais populares nos Estados de Minas Gerais e Goiás. Centenas de cultivares de feijoeiro comum são cultivados no Brasil e normalmente possuem sementes pequenas, embora possam também ser encontradas, em algumas regiões, tipos de tamanho médio e grande, como os feijões enxofre e jalo e mulatinho com estrias vermelhas (Chita Fina e Bagajó), e branco importado encontrado nos supermercados.

Graças às suas comprovadas propriedades nutritivas e terapêuticas, o feijão é altamente desejável como componentes em dietas de combate à fome e à desnutrição. Ademais, ocorre uma interessante complementação protéica quando o feijão é combinado com cereais, especialmente o arroz, proporcionando, em conjunto, os oito aminoácidos essenciais ao nosso organismo. Além do seu conteúdo protéico, o elevado teor de fibra alimentar, com seus reconhecidos efeitos hipocolesterolêmico e hipoglicêmico, aliado às vitaminas (especialmente do complexo B) e aos carboidratos, tornam o seu consumo altamente vantajoso como alimento funcional, representando importante fonte de nutrientes, de energia e atuando na prevenção de distúrbios cardiovasculares e vários tipos de câncer. '

Cultivado por pequenos e grandes produtores, em diversificados sistemas de produção e em todas as regiões brasileiras, o feijoeiro comum reveste-se de grande importância econômica e social. Dependendo da cultivar e da temperatura ambiente, pode apresentar ciclos

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variando de 65 a 100 dias, o que o torna uma cultura apropriada para compor, desde sistemas agrícolas intensivos irrigados, altamente tecnificados, até aqueles com baixo uso tecnológico, principalmente de subsistência. As variações observadas na preferência dos consumidores, orientam a pesquisa tecnológica e direcionam a produção e comercialização do produto, pois as regiões brasileiras são bem definidas quanto à preferência do grão de feijoeiro comum consumido. Algumas características como a cor, o tamanho e o brilho do grão, podem determinar o seu consumo, enquanto a cor do halo pode também influenciar na comercialização. Os grãos menores e opacos são mais aceitos que os maiores e que apresentam brilho. A preferência do consumidor norteia a seleção e obtenção de novas cultivares, exigindo destas não apenas boas características agronômicas, mas também valor comercial no varejo.

O feijão preto é mais popular no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, sul e leste do Paraná, Rio de Janeiro, sudeste de Minas Gerais e sul do Espírito Santo. No restante do país este tipo de grão tem pouco ou quase nenhum valor comercial ou aceitação. O feijões de grão tipo carioca são aceitos em praticamente todo o Brasil, daí que 53% da área cultivada é semeada com este tipo grão. O feijão mulatinho é mais aceito na Região Nordeste e os tipos roxo e rosinha são mais populares nos Estados de Minas Gerais e Goiás. Centenas de cultivares de feijoeiro comum são cultivados no Brasil e normalmente possuem sementes pequenas, embora possam também ser encontradas, em algumas regiões, tipos de tamanho médio e grande, como os feijões enxofre e jalo e mulatinho com estrias vermelhas (Chita Fina e Bagajó), e branco importado encontrado nos supermercados.

Graças às suas comprovadas propriedades nutritivas e terapêuticas, o feijão é altamente desejável como componentes em dietas de combate à fome e à desnutrição. Ademais, ocorre uma interessante complementação protéica quando o feijão é combinado com cereais, especialmente o arroz, proporcionando, em conjunto, os oito aminoácidos essenciais ao nosso organismo. Além do seu conteúdo protéico, o elevado teor de fibra alimentar, com seus reconhecidos efeitos hipocolesterolêmico e hipoglicêmico, aliado às vitaminas (especialmente do complexo B) e aos carboidratos, tornam o seu consumo altamente vantajoso como alimento funcional, representando importante fonte de nutrientes, de energia e atuando na prevenção de distúrbios cardiovasculares e vários tipos de câncer. '

Os grãos de feijão representam uma importante fonte protéica na dieta humana dos países em desenvolvimento das regiões tropicais e subtropicais, particularmente nas Américas (47% da produção mundial) e no leste e sul da África (10% da produção mundial). Seu consumo per capita no Brasil situou-se, em 2001, em 14,9 kg/hab/ano, e, na década de 70, chegou a alcançar patamares de 23-24 kg/hab/ano, sendo esta redução atribuída, ao longo do tempo, a vários fatores. Há grandes variações regionais quanto ao gosto e preferência por tipos de grãos consumidos.

Importância econômica

O feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris L.) é a espécie mais cultivada entre as demais do gênero Phaseolus. Considerando todos os gêneros e espécies englobados como feijão nas estatísticas da FAO, este envolve cerca de 107 países produtores em todo o mundo.

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Considerando somente o gênero Phaseolus, o Brasil é o maior produtor, seguido do México. Entretanto, a produção brasileira de feijão tem sido insuficiente para abastecer o mercado interno, devido à redução na área plantada, da ordem de 35%, nos últimos 17 anos. Mesmo o aumento de 48% na produtividade, verificado neste período, ainda resultou numa diminuição de 4% na produção, portanto, não sendo suficiente para atender a demanda.

O cultivo dessa leguminosa é bastante difundido em todo o território nacional, no sistema solteiro ou consorciado com outras culturas. É reconhecida como cultura de subsistência em pequenas propriedades, muito embora tenha havido, nos últimos 20 anos, crescente interesse de produtores de outras classes, adotando tecnologias avançadas, incluindo a irrigação e a colheita mecanizada. O sistema de comercialização é o mais variado possível, com predomínio de um pequeno grupo de atacadistas que concentra a distribuição da produção, gerando, muitas vezes, especulações quando ocorrem problemas na produção. Com a informatização, os produtores terão maior facilidade de acesso às informações de mercado, criando melhores possibilidades de comercialização do produto, e, conseqüentemente, gerando maior renda. A falta de informação para a comercialização do produto é um dos pontos de estrangulamento da cadeia produtiva desta cultura.

Dependendo da região, o plantio de feijão no Brasil é feito ao longo do ano, em três épocas, de tal forma que, em qualquer mês, sempre haverá produção de feijão em algum ponto do país, o que contribui para o abastecimento interno.

Em todas as safras de feijão cultivadas no Brasil, a condição predominante de posse da terra dos produtores é de proprietários (1a Safra = 69,9%; 2a Safra = 81,3%; e 3a Safra = 75,4%), vindo a seguir a condição de ocupante.

Considerando todos os gêneros e espécies de feijão englobados nas estatísticas da FAO (2001), a produção mundial de feijão, situou-se em torno de 16,8 milhões de toneladas, ocupando uma área de 23,2 milhões de hectares. Cerca de 65,1% da produção foram oriundos de apenas sete países, sendo a Índia responsável por 15,3% e o Brasil 14,6%. Apesar do pequeno volume de produção mundial de feijão, cerca de 14% são produzidos para exportação. Em 2000, cinco países foram responsáveis por 80,2% dessa exportação: Myanmar, 26,9%; China, 18,5%; Estados Unidos, 14,5%; Argentina, 11,0%; e Canadá, 9,3%, movimentando-se cerca de 1 bilhão de dólares com a transação deste produto.

Clima

Dentre os elementos climáticos que mais influenciam na produção de feijão salientam-se a temperatura, a precipitação pluvial e a radiação solar. Em relação ao fotoperíodo, a planta de feijão pode ser considerada fotoneutra.

A temperatura é o elemento climático que mais exerce influência sobre a porcentagem de vingamento de vagens e, de maneira geral, faz referência sobre o efeito prejudicial das altas temperaturas sobre o florescimento e a frutificação do feijoeiro. Temperaturas baixas reduzem os rendimentos de feijão, por provocar abortamento de flores, que por sua vez

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pode, também, resultar em falhas nos órgãos reprodutores masculino e feminino. Alta temperatura acompanhada de baixa umidade relativa do ar e ventos fortes têm maior influência no pegamento e retenção de vagens.

A diversidade climática, presente em todo território brasileiro, faz com que ocorram temperaturas abaixo de 0°C no Sul durante o inverno, contrastando com altas temperaturas e umidade relativa do ar elevada (>80%) nos estados localizados na região Norte. Estas condições inviabilizam o cultivo de feijão na Região Sul na época de inverno, da mesma forma que o limitam também no Norte, devido ao maior risco de ocorrência de doenças.

O feijão é mais suscetível à deficiência hídrica durante a floração e o estádio inicial de formação das vagens. O período crítico se situa 15 dias antes da floração. Ocorrendo déficit hídrico, haverá queda no rendimento devido à redução do número de vagens por planta e, em menor escala, à diminuição do número de sementes por vagem.

Devido à irregularidade na distribuição pluvial, o risco climático, que é caracterizado pela quantidade de água no solo disponível para as culturas, é acentuado em função da diminuição freqüente na quantidade de água para as culturas. Muitas vezes, esta irregularidade pluvial é traduzida por períodos sem chuva que duram de 5 a 35 dias, principalmente no cerrados brasileiro, podendo provocar redução na produção de grãos. Entretanto, acredita-se que o efeito negativo causado pela diminuição de água pode ser minimizado conhecendo-se as características pluviais de cada região e o comportamento das culturas em suas distintas fases fenológicas, ou seja, semeando naqueles períodos em que a probabilidade de diminuição da precipitação pluvial é menor durante, principalmente, a fase de florescimento-enchimento de grãos.

As simulações do balanço hídrico associadas a técnicas de geoprocessamento, permitiram identificar no tempo e no espaço, as melhores datas de semeadura do feijoeiro nas diferentes regiões do Brasil. Com chance de perda de dois anos em dez, ou seja, 80% de chances de sucesso, evitando-se o veranico na fase de enchimento de grãos. As variáveis a serem consideradas por ordem de importância são: retenção de água no solo e duração do ciclo. Quanto maior a capacidade de armazenamento de água no solo, associado ao ciclo mais curto, menores serão as perdas. O risco de perda se acentua quanto mais tarde for à semeadura, independente do solo e do ciclo da cultura. De forma geral, é possível concluir que, para semeaduras realizadas após 15 de fevereiro, o risco climático é bastante acentuado para a cultura do feijoeiro, exceto em algumas localidades do Estado de Mato Grosso, o qual apresenta uma distribuição pluvial bastante regular.

Solos

O solo é um mineral não consolidado na superfície da terra, influenciado por fatores genéticos e ambientais, como material de origem, topografia, clima (temperatura e umidade) e microrganismos, que se encarregaram de formar o solo, no decorrer de um certo tempo, e é sempre diferente, nas suas propriedades e características físicas, químicas, biológicas e morfológicas do material de origem. O manejo apropriado está relacionado com sua classificação, que destaca suas características gerais ou específicas. Os grupos amplos são feitos com base em características gerais e as subdivisões com base em

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diferenças em propriedades específicas. As propriedades morfológicas, físicas, químicas e mineralógicas são critérios distintivos. A maioria dos solos de cerrado onde o feijoeiro é cultivado são Oxissolos e possuem baixa fertilidade. Os valores médios das propriedades químicas dos solos de cerrado em estado natural são: pH 5,2; P 2 mg kg -1, K < 50 mg kg-1; Ca < 1,5 cmolc kg-1; Mg < 1 cmolc kg-1, Zn e Cu em torno de 1 mg kg-1, matéria orgânica na faixa de 15 a 25 g kg-1 e saturação por bases < 25%.

Baseado nestes dados, pode-se concluir que os solos de cerrado são ácidos e de baixa fertilidade. Portanto, o manejo da fertilidade é um dos aspectos mais importante na produção das culturas neste solos.

Fixação Biológica de Nitrogênio

A cultura do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) no Brasil está presente na maioria dos sistemas de produção, principalmente naqueles vinculados à agricultura familiar. A inoculação de bactérias do grupo dos rizóbios, capazes de fixar o nitrogênio atmosférico e fornecê-lo à planta, é uma alternativa que pode substituir, ainda que parcialmente, a adubação nitrogenada, resultando em benefícios ao pequeno produtor. Resultados indicam que a cultura do feijoeiro, em condições de campo, pode se beneficiar do processo da fixação biológica de nitrogênio (FBN) alcançando níveis de produtividade de até 2.500 kg/ha. O inoculante brasileiro, durante muito tempo, foi produzido utilizando-se bactérias que eram obtidas no exterior e testadas pelas instituições de pesquisa no Brasil. Com a evolução destes estudos, revelou-se a inequação destas estirpes aos solos tropicais, uma vez que estão sujeitas a um elevado grau de instabilidade genética, comprometendo sua capacidade de fixar nitrogênio. Este fato pode explicar, pelo menos parcialmente, a decepção de muitos agricultores com o uso do inoculante nesta cultura até bem recentemente. Atualmente, o inoculante comercial para o feijoeiro no Brasil é produzido com uma espécie de rizóbio adaptada aos solos tropicais, o Rhizobium tropici, resistente a altas temperaturas, acidez do solo e altamente competitiva, ou seja, em condições de cultivo favoráveis é capaz de formar a maioria dos nódulos da planta, predominando sobre a população de rizóbio presente no solo. A eficiência da FBN, entretanto, depende das condições fisiológicas da planta hospedeira que fornece a energia necessária para que a bactéria possa realizar eficientemente este processo. Além da calagem, é importante proceder a correção do solo com os demais nutrientes. Ressalta-se a importância do fornecimento de fósforo, deficiente na maioria dos solos tropicais, o qual tem efeito marcante sobre a atividade da nitrogenase, devido ao alto dispêndio energético promovido pela atividade de FBN. O molibdênio é um micronutriente que tem efeito marcante sobre a eficiência da simbiose, sendo um constituinte estrutural da enzima nitrogenase, que, dentro do nódulo, executa a atividade de FBN. A aplicação foliar de molibdênio promove aumentos de produtividade em feijoeiro inoculado, sendo que há vários produtos disponíveis no mercado para esta finalidade. Apesar de o feijoeiro ser uma planta com grande capacidade de aproveitamento do nitrogênio disponível no solo, a aplicação de adubos nitrogenados tende a afetar negativamente este processo. Solos com maiores teores de matéria orgânica, que liberam nitrogênio lentamente, podem beneficiar a planta do feijoeiro sem, contudo, reduzir a sua capacidade de fixação. Dentre os fatores ambientais mais importantes para o processo de fixação biológica de nitrogênio, a ocorrência de deficiências hídricas, ou seja, seca durante o ciclo de cultivo tem efeito negativo em

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diferentes etapas do processo de nodulação e na atividade nodular, além de afetar a sobrevivência do rizóbio no solo. A ocorrência de altas temperaturas afeta, também, a sobrevivência do rizóbio no solo, o processo de infecção, a formação dos nódulos e ainda a atividade de FBN. O procedimento de inoculação das sementes com rizóbio é simples, bastando misturar as sementes com o inoculante de rizóbio para o feijão. Este inoculante é, geralmente, vendido em embalagens contendo a bactéria em veículo turfoso, o mais recomendado atualmente pela pesquisa. Alguns cuidados devem ser tomados por se tratar de organismos vivos e sensíveis ao calor. Deste modo, recomenda-se que a inoculação seja feita à sombra, preferencialmente nas horas mais frescas do dia, utilizando uma solução açucarada a 10% como adesivo, ou outros produtos como goma arábica a 20%. Mistura-se 200 a 300 ml desta solução ao inoculante (500 g) até formar uma pasta homogênea. Em seguida, mistura-se esta pasta a 50 kg de sementes de feijão até que fiquem totalmente recobertas com uma camada uniforme de inoculante. Deixar as sementes inoculadas secando à sombra, em local fresco e arejado, realizando o plantio até, no máximo, dois dias após. Caso seja inevitável o uso de agrotóxicos e micronutrientes, deve-se tratar primeiro as sementes com estes produtos, deixar secar e só então proceder a inoculação. Verificar a compatibilidade do produto com o inoculante antes da sua utilização. Alguns produtos são extremamente tóxicos ao rizóbio, especialmente fungicidas, devendo-se escolher os de menor toxidez e mantendo-se o inoculante em contato com estes produtos o menor tempo possível.

Calagem e Adubação

A correção da acidez do solo e a adubação das culturas, são tidas como práticas comprovadamente indispensáveis ao manejo dos solos. Entre as tecnologias indicadas na produção de feijão, a calagem e a adubação nitrogenada são as que têm gerado maior número de questionamentos. Quanto à calagem, as dúvidas mais freqüentes são em relação à eficiência de sua aplicação em superfície.

Em relação ao nitrogênio, as dúvidas vão desde reações e mecanismos controladores da disponibilidade do N no solo, características e reações no solo das diferentes fontes de nitrogênio, até à prática da adubação, quanto a fontes, doses, métodos de aplicação, época mais adequada de aplicação durante o ciclo da cultura e a necessidade de seu parcelamento e, sobretudo, quanto aos seus aspectos econômicos. Estas técnicas de manejo de adubação, ainda são a melhor estratégia utilizada para maximizar a eficiência de uso do nitrogênio e permitir aos produtores obterem máximo retorno econômico do uso de fertilizantes.

Da mesma forma que existem muitas dúvidas sobre adubação das culturas e da correção da acidez do solo, existem, também, muitos problemas práticos relacionados com transformação no solo dos resíduos orgânicos vegetais e com a aplicação de micronutrientes.

A prática da adubação depende, de vários fatores, os quais devem ser previamente analisados no sentido de aconselhar aos agricultores a praticarem uma adubação mais

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adequada, quanto aos aspectos agronômico (que obtenha maior eficiência dos fertilizantes) e econômico (que resulte em maior renda líquida ao produtor).

Uma recomendação de adubação que atenda a estes princípios deve ser fundamentada nos seguintes aspectos:

1. em resultados de análises de solo complementada pela análise de planta; 2. numa análise do histórico da área; 3. no conhecimento agronômico da cultura; 4. no comportamento ou tipo da cultivar; 5. no comportamento dos fertilizantes no solo; 6. na disponibilidade de capital do agricultor para aquisição de fertilizantes; e 7. na expectativa de produtividade. Portanto, a recomendação de adubação para o

feijoeiro, bem como para qualquer outra cultura, depende da análise cuidadosa de todos esses fatores, ressaltando que não existe uma regra geral a seguir nas recomendações de adubação.

Quanto à cultura do feijoeiro, a quantidade de fertilizantes varia de acordo com a época de plantio, quantidade e tipo de resíduo deixado na superfície do solo pela cultura anterior, e com a expectativa de rendimento. Geralmente, varia de 60 a 150 kg ha-1 de nitrogênio, sendo recomendado a aplicação em duas vezes; de 60 a 120 kg ha-1 de P2O5 , dependendo, evidentemente, do teor disponível de fósforo no solo, das condições de risco e da expectativa de rendimento de grãos e de 30 a 90 kg ha-1 de K2O, e a fonte de potássio, na maioria da vezes, é o cloreto de potássio (60% de K2O).

Pesquisas realizadas com feijão irrigado na Embrapa Arroz e Feijão, quanto à calagem e à adubação de plantio, evidenciaram aumentos de até 54% na produtividade do feijoeiro (cultivar Aporé), decorrentes da calagem e de uma dose econômica de adubação N-P2O5-K2O, no plantio, de aproximadamente 400 kg ha-1 do formulado 4-30-16.

A adubação fosfatada corretiva é indicada para solos argilosos com teores de fósforo abaixo de 1,0 a 2,0 mg dm-3 e arenosos com teores abaixo de 6 a 10 mg dm-3. Esta recomendação serve tanto para áreas de cultivo convencional (com revolvimento do solo), como para as áreas onde se pretende iniciar com o sistema plantio direto, devendo ressaltar que o fertilizante deverá ser incorporado ao solo. A necessidade para aplicação a lanço, varia de 120 a 240 kg ha-1 de P2O5, com base no teor total, no primeiro ano de cultivo, dependendo do teor inicial de fósforo e da textura do solo. Neste caso, as fontes de fósforo mais indicadas são, entre outras, o termofosfato yoorin (cerca de 17 a 18% de P2O5 total), os hiperfosfatos Arad (33% de P2O5 total) e Gafsa (29% de P2O5 total) e alguns fosfatos parcialmente solubilizados.

Cultivares

O feijoeiro comum é cultivado em todas as regiões do país apresentando grande importância econômica e social. As regiões brasileiras são bem definidas quanto à preferência do tipo de grão de feijão comum consumido. Algumas características como a cor, o tamanho e o brilho podem determinar o consumo ou não do grão, enquanto a cor do

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halo pode também influenciar na comercialização. O feijão apresenta componentes e características que tornam seu consumo vantajoso do ponto de vista nutricional. Entre eles citam-se o conteúdo protéico, o teor elevado de lisina, a fibra alimentar, alto conteúdo de carboidratos complexos e a presença de vitaminas do complexo B.

As doenças encontram-se entre os fatores mais importantes associados à baixa produtividade do feijoeiro comum no Brasil, podendo reduzir consideravelmente a produção desta cultura. Dentre as estratégias do manejo integrado de doenças, a resistência genética é considerada uma importante alternativa, de fácil adoção pelos agricultores, por ser ecologicamente segura, diminuindo, ou até mesmo evitando, o uso indiscriminado de defensivos agrícolas e por contribuir para a manutenção da qualidade de vida.

Além do tipo comercial de grão e da resistência a doenças, os programas de melhoramento do feijoeiro têm sido caracterizados por esforços na obtenção de planta mais eretas, resistentes ao acamamento, associadas à eficiência em produzir grande quantidade de grãos por unidade de área, durante o seu ciclo.

De 1981 a 1997, durante a vigência do Sistema Brasileiro de Avaliação e Recomendação de Cultivares, instituído pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, a rede de avaliação de linhagens de feijão foi conduzida pelas instituições do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária - SNPA, universidades, setor cooperativo e iniciativa privada. Estas instituições empreendiam um programa integrado e dinâmico de avaliação de linhagens e cultivares, dentro das Comissões Técnicas Regionais de Feijão - CTs Feijão, para as regiões: Sul, Sudeste/Centro-Oeste e Norte/Nordeste. Nestes 16 anos, as CTs Feijão, por meio de reuniões anuais, discutiram os resultados da rede de avaliação de linhagens e lançaram 34 novas cultivares de feijão, homologadas pelas Comissões Regionais de Avaliação e Recomendação de Cultivares CRCs/MA. Destas, 20 foram desenvolvidas pelo programa melhoramento genético do feijoeiro comum da Embrapa. O mercado geográfico de recomendação destas cultivares é diversificado por estados da federação, e levando-se em consideração as vantagens comparativas que apresentam e que as levaram a serem recomendadas, podem ser citadas : Macanudo, Minuano, Macotaço, Ouro Negro, Diamante Negro, Xamego e Guapo Brilhante, do grupo preto; Aporé, Pérola, Rudá e Princesa, do grupo comercial carioca; Safira do grupo roxo; Corrrente e Bambuí do grupo mulatinho.

Com a lei no 9.456 de 25/4/97, que trata da Proteção de Cultivares e o Decreto no 2.366 de 5/11/97 que a regulamentou, o cenário acima descrito sofreu algumas mudanças, onde as relações institucionais, que tinham caráter cooperativo, se deslocaram para um ambiente de "competição", agora embasadas com contratos e convênios de cooperação técnica acompanhados de Planos Anuais de Trabalho. Foram extintas as CRCs e instituído o Registro Nacional de Cultivares onde a indicação de uma nova cultivar é de exclusiva responsabilidade do obtentor. Neste novo cenário, já há 11 cultivares protegidas sendo uma, a BRS Valente, de grão preto, desenvolvida pelo programa melhoramento genético do feijoeiro comum da Embrapa. A Portaria no 527 também determinou que as cultivares até então recomendadas e disponíveis no mercado ficassem, automaticamente, inscritas no Registro Nacional de Cultivares.

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Mesmo com a Lei de Proteção de Cultivares e com o Registro Nacional de Cultivares e sua publicação pelo MAPA, a rede oficial pública de avaliação de cultivares de feijão continua com o objetivo de informar, de forma transparente, a performance das novas cultivares nas diversas regiões brasileiras, esperando, com isso, contribuir para que a assistência técnica e o agricultor possam escolher a melhor cultivar para as suas condições.

Sementes

Produção de sementes

Uma semente de qualidade deve ter:

1) pureza genética, que irá expressar-se no potencial produtivo, nas suas características agronômicas, na reação a doenças e pragas, nas características da semente, entre outras;

2) pureza física, determinada pelo grau e tipo de contaminantes presentes no lote;

3) qualidade fisiológica, evidenciada pelo seu potencial em gerar uma nova planta, perfeita e vigorosa, sob condições favoráveis; e

4) bom estado fitossanitário, pois a boa semente não deve veicular patógenos, capazes de afeta negativamente, a emergência e o vigor das plântulas e constituir o inóculo primário para o desenvolvimento de epidemias conseqüente redução no rendimento.

Outro fator importante para o processo produtivo da semente é a descrição da cultivar, que fundamenta sua identidade, resguarda os direitos de seus criadores e, ainda, serve de suporte ao registro da cultivar, às inspeções dos campos de produção, ao processamento, à análise laboratorial e à comercialização.

A escolha da região de produção é de fundamental importância. O Brasil Central, norte de São Paulo, Minas Gerais e zonas do Nordeste brasileiro apresentam clima apropriado para a produção de sementes de feijão de alta qualidade. Já as condições climáticas da Região Sul, com temperaturas mais baixas e alta umidade, exigem dos produtores de sementes a adoção de uma estratégias especiais de manejo e tratamento fitossanitário, para a obtenção de um produto sadio.

Recentemente, nas várzeas tropicais do Estado do Tocantins, durante a entressafra do arroz, o feijoeiro tem sido cultivado utilizando o método de subirrigação. Pela elevação do nível de água nos canais, a água na gleba eleva-se por capilaridade, tornando-se disponível à semente e, mais tarde, às raízes das plantas. Este método, por não apresentar limitações com relação à disseminação de doenças, tem proporcionado excelentes resultados. A irrigação por aspersão favorece a disseminação e o desenvolvimento de doenças da parte aérea e a irrigação por sulco, pode causar o transporte de estruturas de resistência de patógenos (clamidosporas, esclerócios, etc.) de um local para outro. Assim, uma nova alternativa para a obtenção de sementes de alta qualidade sanitária, fisiológica e genética

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pode ser viabilizada pela produção, em várzeas tropicais, com subirrigação durante o inverno.

A semente genética, cuja produção é de responsabilidade da equipe de melhoramento, deve reproduzir fielmente as características hereditárias da cultivar e estar livre de misturas varietais e de doenças transmissíveis por semente. Dependendo da quantidade inicial de semente genética e da demanda por semente básica pode ser produzida uma classe intermediária, denominada de semente "pré-básica". Esta classe, embora não oficialmente reconhecida na legislação, tem sido utilizada com certa freqüência, visando à obtenção de maior volume de semente básica na multiplicação subseqüente. A necessidade de maior quantidade de semente básica decorre da maior demanda de semente certificada, resultante da recomendação de determinada cultivar ou do aumento da utilização de sementes de outras categorias. Para a obtenção da semente genética, nos lotes de produção de sementes para o segundo ano dos ensaios de valor de cultivo e uso (VCU), que é a última fase de avaliação das linhagens do programa de melhoramento, 100 plantas são selecionadas e colhidas individualmente. A semente proveniente destas plantas é semeada manualmente em linhas de 5m de comprimento, distanciadas de 1m, constituindo um bloco de 100 linhas. Para a obtenção de aproximadamente 2000 kg de semente "pré-básica", é semeado 1 ha, com uma distância entre linhas de 0,7m e uma densidade de plantio de cinco sementes por metro linear. Os blocos devem ser separados com corredores de, no mínimo, 5m de largura. Para a produção da semente básica e demais categorias de semente, regiões com temperaturas mínimas superiores a 17ºC, nos meses de abril a setembro (por exemplo: noroeste de Goiás e Estado do Tocantins), são as mais apropriadas para a obtenção de semente com alta qualidade sanitária.

PlantioPara se obter sucesso em uma lavoura é importante reunir todas as condições que favoreçam a planta a expressar todo o seu potencial produtivo.

A escolha da área, a qualidade das sementes e a operação de semeadura, especialmente no que se refere à época, à profundidade em que as sementes são colocadas, o espaçamento entre fileiras e o número de sementes por metro, são fatores bastante importantes e devem ser levados em consideração.

O feijoeiro é uma planta com sistema radicular delicado, com sua maior parte concentrada na camada de até 20 cm de profundidade do solo, por isso, deve-se ter um cuidado especial na escolha da área. Solos pesados, compactados, sujeitos a formar crosta na superfície ou ao encharcamento não são adequados para a cultura do feijoeiro, recomendam-se solos friáveis, com boa aeração, de textura areno-argilosa, relativamente profundos e ricos em matéria orgânica e elementos nutritivos.

A semente de boa qualidade permite a formação de lavoura uniforme, maximiza o aproveitamento dos demais insumos utilizados, evita a propagação e diminui as fontes de contaminação de doenças na lavoura, reduz a disseminação de plantas nocivas e a agressividade daquelas já presentes no solo. O seu custo corresponde normalmente de 10 a 20% do custo total da lavoura.

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Quanto à semeadura, as épocas recomendadas concentram-se, basicamente, em três períodos, o chamado das "águas", nos meses de setembro a novembro, o da "seca" ou safrinha, de janeiro a março, e o de outono-inverno ou terceira época, nos meses de maio a julho. No plantio de outono-inverno ou terceira época, que só pode ser conduzido em regiões onde o inverno é ameno, sem ocorrência de geadas, como em algumas áreas de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Espírito Santo, o agricultor, via de regra, necessita irrigar a lavoura. Na época da "seca" nem sempre as chuvas são suficientes durante todo o ciclo da cultura, sendo conveniente, neste caso, complementar com irrigação.

A profundidade de semeadura pode variar conforme o tipo de solo. Em geral recomendam-se de 3-4 cm para solos argilosos ou úmidos e de 5-6 cm para solos arenosos.

A densidade, ou o número de plantas por unidade de área, é resultado da combinação de espaçamento entre fileiras de plantas e número de plantas por metro de fileira. Espaçamentos de 0,40 a 0,60 m entre fileiras e com 10 a 15 plantas por metro, em geral proporcionam os melhores rendimentos.

O gasto de sementes varia em função de diferentes fatores: a) espaçamento entre fileiras, b) número de plantas por metro de fileira, c) massa das sementes, e d) poder germinativo. Portanto, considerando esses fatores, verifica-se que ele normalmente varia numa faixa de 45 a 120 kg por hectare.

Irrigação

O rendimento do feijoeiro é bastante afetado pela condição hídrica do solo. Deficiências ou excessos de água, nas diferentes fases do ciclo da cultura, causam redução na produtividade em diferentes proporções. As fases de floração e de desenvolvimento da vagem são as mais sensíveis à deficiência hídrica. A redução na produção sob estresse hídrico deve-se à baixa porcentagem de vingamento das flores, quando o estresse ocorre na fase da sua abertura e ao abortamento de óvulos, produzindo vagens chochas, se ocorrer estresse na fase de sua formação. Em condições de excesso de água no solo, o desenvolvimento vegetativo e o rendimento são bastante prejudicados. A fase de início da frutificação é a mais sensível à má aeração do solo.

A irrigação por aspersão, nos sistemas convencional, auto propelido e pivô central, tem sido o método mais utilizado na cultura do feijoeiro. Em menor escala também têm sido utilizadas a irrigação por sulcos e a subirrigação em solos de várzeas. Considerando-se o método de irrigação por aspersão, o sistema pivô central é o mais apropriado para irrigar áreas individuais maiores e, por isto mesmo, é o mais usado na cultura do feijoeiro em terras altas na região dos Cerrados, visto que a lucratividade final obtida com esta cultura depende, entre muitos fatores, do tamanho da área plantada.

A irrigação por sulcos tem sido usada na cultura do feijoeiro, tanto em terras altas como em várzeas sistematizadas e drenadas. Os sulcos normalmente apresentam a forma de V, com 0,15 a 0,20 m de profundidade e 0,25 a 0,30 m de largura. O espaçamento entre sulcos

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depende da textura do solo e do perfil de umedecimento. Geralmente é utilizado o espaçamento de 0,9 a 1,2 m, com duas linhas de plantas entre os sulcos. Utiliza-se também o espaçamento de 1,8 m, com quatro linhas de plantas entre os sulcos.

A subirrigação é mais apropriada para terras baixas ou solos de várzeas e, por isso mesmo, funciona como uma drenagem controlada. Na subirrigação, a umidade atinge as raízes das plantas por meio da ascensão capilar. Em várzeas, o lençol freático deve ser mantido a uma profundidade tal que permite obter a melhor combinação entre água e ar na zona radicular.

O manejo da irrigação do feijoeiro pode ser feito pelos métodos do tensiômetro, do turno de rega e do tanque Classe A. Pela simplicidade e praticidade é dada maior ênfase ao método do tensiômetro.

Os tensiômetros são aparelhos que medem a tensão da água do solo. Para seu uso, é necessária também a determinação da curva de retenção de água, que é uma propriedade físico-hídrica do solo, determinada em laboratório. Ela relaciona o conteúdo de água do solo com a força com que ela está retida por ele. O tensiômetro deve ser instalado entre as fileiras de plantas de feijão e em duas profundidades, uma a 15 cm e outra a 30 cm, lado a lado, cujo conjunto forma uma bateria. A leitura do tensiômetro de 15 cm representa a tensão média de um perfil de solo de 0-30 cm de espessura, o qual engloba a quase totalidade das raízes do feijoeiro. Este tensiômetro é chamado tensiômetro de decisão, porque indica o momento da irrigação (quando irrigar). Já o tensiômetro instalado a 30 cm é chamado tensiômetro de controle, porque verifica se a irrigação está sendo bem feita, para que não haja excesso ou falta de água. Nos sistemas convencional e autopropelido, o tensiômetro se presta, principalmente, no acompanhamento da tensão da água do solo e como instrumento de validação do turno de rega implantado. Já no sistema pivô central, constitui o instrumento mais prático para indicar o momento da irrigação. Neste sistema, as baterias devem ser instaladas a 4/10, 7/10 e 9/10 do raio do pivô, em linha reta a partir da base.

A irrigação deve ser feita toda vez que a média das três baterias dos tensiômetros de decisão, instalados a 15 cm de profundidade, alcançar a faixa de 30-40 kPa (0,3-0,4 bar). As irrigações baseadas nas leituras dos tensiômetros devem iniciar 15 a 20 dias após a emergência das plantas. Logo após a semeadura, devem-se fazer irrigações mais freqüentes, para manter a camada superficial do solo sempre úmida, favorecendo a germinação e o desenvolvimento inicial das plantas e recarregando de água o perfil do solo abrangido pelo tensiômetro de decisão. A irrigação deve ser suspensa quando as folhas da planta de feijão vão se tornando amareladas pelo amadurecimento.

O procedimento para determinação da quantidade de água a ser aplicada é o seguinte: de posse da curva de retenção de água, verifica-se quanto 30-40 kPa correspondem em conteúdo de água no solo, dado em cm3 de água/cm3 de solo. Em seguida, calcula-se a diferença entre o conteúdo de umidade a 10 kPa (capacidade de campo) e a 30-40 kPa. Esta diferença, multiplicada pela profundidade de 30 cm, indicará a lâmina líquida de irrigação.Na subirrigação, pelas leituras dos tensiômetros, sabe-se a necessidade ou não de se movimentar o lençol freático. Se as leituras indicarem baixa tensão de água, ou seja, alta umidade do solo, a profundidade do lençol freático deve ser rebaixada e vice-versa.

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O método do turno de rega (TR) é o mais utilizado pelos irrigantes. São levados em consideração fatores do solo, como: "capacidade de campo", ponto de murcha permanente, densidade do solo; e fatores da planta, como: profundidade efetiva das raízes, fator de disponibilidade de água e evapotranspiração máxima, para calcular o intervalo entre duas irrigações sucessivas. O TR é determinado segundo a equação:

em que:

TR = turno de rega, em dia;LL = lâmina líquida de irrigação, em mm;ETc = evapotranspiração da cultura, em mm/dia; AD = água disponível do solo, em mm;f = fator de disponibilidade de água, adimensional; CC = "capacidade de campo" do solo, % em peso; PM = ponto de murcha permanente, % em peso;Ds = densidade do solo, em g/cm3; Pe = profundidade efetiva das raízes da planta, em cm.

Tanto o valor de Pe como o de Etc variam ao longo do ciclo do feijoeiro, podendo ser determinados dois ou mais turnos de rega. O método do TR, como critério de quando irrigar, é mais apropriado para ser empregado quando se utilizam os sistemas de aspersão convencional ou autopropelido e/ou por sulcos.

O método do tanque Classe A consiste no uso de um tanque de aço inoxidável ou galvanizado, com 121,9 cm de diâmetro interno e 25,4 cm de profundidade, e que deve ser cheio d'água até 5 cm da borda superior. Não se deve permitir variação do nível da água maior do que 2,5 cm. Como os processos de evaporação da água livre no tanque (Ev) e a evapotranspiração da cultura (Etc) são semelhantes apenas nos seus aspectos físicos, devem ser considerados dois coeficientes, Kp (coeficiente do tanque Classe A) e Kc (coeficiente da cultura), para converter Ev em Etc, segundo a equação:

Etc = Ev x Kp x Kc

Assim, o quando irrigar corresponde ao momento em que a soma dos valores de evaporação de tanque, multiplicados pelos coeficientes, alcançar o valor da lâmina líquida de irrigação, previamente determinada, a ser aplicada a cultura.

Manejo de plantas daninhas

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O manejo de plantas daninhas envolve atividades dirigidas às plantas daninhas (manejo direto) e ao sistema formado pelo solo e pela cultura (manejo indireto). O manejo direto refere-se à eliminação das plantas daninhas com uso de herbicidas, ação mecânica ou manual e ação biológica. Para o uso de herbicidas é necessário identificar as plantas daninhas e o estádio de crescimento para a recomendação de doses e tipos de herbicidas. No manejo do solo (manejo indireto) trabalha-se com a relação sementes ativas e inativas. Neste caso, a recomendação é diminuir o banco de sementes das plantas daninhas, promovendo a germinação destas espécies antes do plantio e depois controlá-las com o uso de técnicas como, por exemplo, a aplicação seqüencial de dessecantes. O manejo cultural se baseia na construção de plantas de feijoeiro com capacidade de manifestar seu potencial produtivo máximo e competir com as plantas daninhas, pela utilização de práticas como o equilíbrio na fertilidade do solo, o estande de plantas uniforme, o manejo de adubação, o arranjo espacial das plantas e a época adequada de plantio. Outro tipo de manejo cultural é o uso de cobertura morta, com capacidade de diminuição da emergência das plantas daninhas por efeitos alelopáticos e físicos. O plantio consorciado de culturas com forrageiras antes do plantio do feijão está sendo uma prática usada para a produção da cobertura morta, sem afetar o cronograma de plantio do produtor. Todas estas práticas do manejo de plantas daninhas têm a finalidade de aumentar a eficiência e a economicidade da lavoura; a preservação ambiental, evita o adensamento do solo, o acúmulo de resíduos de herbicidas e a seleção de plantas daninhas resistentes.

Doenças e métodos de controle

O feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris L.) é cultivado durante todo o ano, numa grande diversidade de ecossistemas, o que faz com que inúmeros fatores tornem-se limitantes para a sua produção. Entre estes fatores, um dos principais são as doenças as quais, além de diminuírem a produtividade da cultura, depreciam a qualidade do produto.

O feijoeiro é hospedeiro de inúmeras doenças de origem fúngica, bacteriana e virótica. As doenças fúngicas estão divididas em dois grupos com base na sua origem. Assim, temos as doenças denominadas da parte aérea e cujos agentes causais não sobrevivem no solo e, as doenças de solo, cujos agentes causais encontram-se adaptados para sobreviverem neste ambiente. Entre as principais doenças fúngicas, da parte aérea do feijoeiro comum encontram-se a antracnose, a mancha-angular, a ferrugem, o oídio e a mancha-de-alternária além de duas outras recentemente identificadas nesta cultura e denominadas de sarna e carvão. Entre as principais doenças cujos agentes causais apresentam capacidade de sobreviver no solo encontram-se o mofo-branco, a mela, a podridão-radicular-de-Rhizoctonia, podridão-radicular-seca, a murcha-de-fusário e a podridão-cinzenta-do-caule. As doenças de origem bacteriana mais importantes são o crestamento-bacteriano-comum e a murcha-de-Curtobacterium. Os vírus do mosaico-comum e do mosaico-dourado são as doenças viróticas de maior importância que podem ocorrer na cultura do feijoeiro comum.

Com exceção da ferrugem, do oídio e do mosaico dourado todas as doenças, com maior ou menor intensidade, são transmitidas pelas sementes. De um modo geral, as doenças de origem fúngica e bacteriana podem ser disseminadas, à longa distância através das sementes infectadas e as doenças fúngicas, também através das correntes aéreas. Á curta

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distância, estas doenças são disseminadas pelas sementes infectadas, vento, chuvas, insetos, animais, partículas de solo aderidas aos implementos agrícolas, água de irrigação e pelo movimento do homem. O vírus do mosaico-comum é transmitido pelas sementes e por afídeos enquanto que o vírus do mosaico-dourado é transmitido pela mosca-branca.

As condições de ambiente que favorecem as principais enfermidades variam desde temperaturas moderadas (antracnose, oídio, mofo-branco, podridão-radicular-de-Rhizoctonia) a altas (ferrugem, mancha-angular, mela, podridão-cinzenta-do-caule, podridão-radicular-seca, crestamento-bacteriano-comum e murcha-de-Curtobacterium), alta umidade relativa ou água livre (maioria das doenças) ou baixa umidade tanto do ar como do solo para o oídio e a podridão- cinzenta-do-caule.

Para o controle da maioria destas doenças deve-se utilizar, sempre que possível, uma combinação adequada de métodos. Entre os mais empregados, encontram-se as práticas culturais, o controle químico e a resistência da cultivar a um ou mais patógenos desde que disponível. Como sugestão, pode-se citar uma série de práticas que os produtores devem empregar com a finalidade de diminuir as perdas ocasionadas pelas doenças: isolamento da cultura, eliminação do hospedeiro do patógeno ou do vetor, evitar introdução na área de resíduos de cultura ou de solo infectado, utilização de semente de qualidade, tratamento químico da semente, época de semeadura, rotação de culturas, preparo do solo, aração profunda, aumento do espaçamento, cobertura morta do solo, controle da água de irrigação, uso de herbicidas, cultivares resistentes, pulverizações foliares com fungicidas/inseticidas, destruição dos resíduos de culturas infectadas, entre outras.

Pragas e métodos de controle

Pragas do Feijoeiro

Ao cultivo do feijoeiro pode estar associada uma série de espécies de artrópodes e moluscos, que podem causar reduções no rendimento do feijoeiro que varia de 11 a 100%, dependendo da espécie da praga, da cultivar plantada e da época de plantio.

Dentre as principais pragas com ocorrência generalizada nas regiões produtoras incluem a mosca-branca, as vaquinhas, a cigarrinha-verde e os carunchos.

Pragas principais com ocorrência regional incluem o ácaro-branco, a larva-minadora, a lagarta das folhas, os tripes, a lagarta-elasmo, a lagarta rosca, as lesmas, as lagartas-das-vagens e os percevejos.

Como pragas ocasionais e de ocorrência localizada tem-se o ácaro rajado, a bicheira-do-feijoeiro, a broca-das-axilas, a broca-da-vagem, o gorgulho-do-solo e o tamanduá-da-soja.

Tecnologias de manejo integrado de pragas do feijoeiro (MIP-Feijão), se bem implementadas, podem reduzir, em média, 50% a aplicação de químicos, sem aumentar o risco de perdas de produção devido ao ataque de pragas. O MIP-Feijão leva em

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consideração o reconhecimento das pragas que realmente causam danos à cultura, a capacidade de recuperação das plantas aos danos causados pelas pragas, o número máximo de indivíduos dessas pragas que podem ser tolerados antes que ocorra dano econômico (nível de controle), e o uso de inseticidas seletivos de forma criteriosa. Desta forma, espera-se produzir feijão mais eficientemente, minimizando os custos, diminuindo o impacto ambiental dos produtos químicos e garantindo a sobrevivência dos inimigos naturais das pragas (insetos benéficos).

Uso de agrotóxicos

Normas para uso correto e seguro de produtos fitossanitários

Existem vários produtos fitossanitários que estão sendo comercializados para o uso na cultura do feijoeiro. Muitos destes produtos têm venda livre nas formulações classificadas nas classes toxicológicas III e IV (pouco tóxicos e praticamente não-tóxicos) e obrigatoriedade de venda controlada aquelas das classes I e II (altamente tóxicos e medianamente tóxicas) deixar formulações com características altamente poluentes que não tivessem sido classificadas nas classes I e II (Portaria nº 007 de 13/01/1981, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA). De acordo com esta Portaria, os produtos de venda controlada e venda restrita somente poderão ser comercializados mediante receita agronômica.

Estes produtos fitossanitários registrados para o uso na cultura do feijoeiro são importantes na proteção das plantas quanto ao ataque de pragas, doenças e plantas daninhas, mas podem ser perigosos se forem usados de forma incorreta. No Brasil, estima-se que entre 150 mil a 200 mil trabalhadores se contaminam com agrotóxicos todos os anos.

Com a utilização segura dos produtos químicos, por meio da participação e orientação dos produtores rurais, técnicos da extensão rural, pesquisadores e consultores podem evitar contaminações dos operadores, produtores e outros residentes rurais, podendo viver em um ambiente natural saudável, com água limpa nos córregos, lagos, rios e aqüíferos, e em ecossistemas naturais estáveis e diversos.

Colheita e pós-colheita

A mecanização do feijoeiro, independente do sistema de cultivo empregado, não apresenta maiores problemas nas operações agrícolas realizadas antes da colheita e no beneficiamento dos grãos. São utilizados equipamentos convencionais a outras culturas, como a do arroz, do milho e da soja, para preparo do solo, semeadura, tratos culturais e limpeza e classificação dos grãos. Entretanto, para mecanizar a colheita do feijoeiro diversos fatores relacionados ao sistema de cultivo, à área de plantio e à planta (ocorrência de planta acamada, maturação desuniforme, baixa altura de inserção e fácil deiscência de vagens) têm dificultado o emprego de colhedoras convencionais.

Diversos métodos são usados na colheita do feijoeiro, os quais variam em função do sistema de cultivo, do tipo de planta e do tamanho da lavoura.

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O arranquio mecanizado das plantas de feijão é pouco utilizado no Brasil, devido ao elevado percentual de perda de grãos provocado por essa operação. Os equipamentos, até então disponibilizados no mercado nacional, eram providos de facão ou de barra giratória que arrancavam as plantas ao trabalharem abaixo da superfície do solo. Recentemente, foi disponibilizado no mercado um equipamento mais eficiente para ceifar as plantas sobre o solo, acionado pelo trator ou pela colhedora convencional.

Com o surgimento de grandes lavouras em monocultivo, a colheita tem sido feita por processos semi-mecanizados (arranquio manual das plantas e trilhamento com recolhedora trilhadora); mecanizado indireto em duas operações (ceifamento das plantas com ceifadora e trilhamento com recolhedora trilhadora) e mecanizado direto em uma operação com colhedora automotriz apropriada.

As colhedoras automotrizes convencionais apresentam desempenho insatisfatório no feijoeiro em relação à perda e à danificação de grãos. Porém, uma melhoria no desempenho dessas máquinas tem sido obtida ao equipá-las com plataformas de corte flexíveis e com mecanismos para diminuir a danificação e a mistura de terra nos grãos.

Para que a ceifadora de plantas ou a recolhedora trilhadora ou a colhedora automotriz tenha desempenho satisfatório, proporcionando baixo percentual de perdas de grãos e boa capacidade de trabalho, é necessária a adoção de diversos procedimentos nas fases de instalação, condução e colheita do feijoeiro. O terreno para a instalação da lavoura deve estar adequadamente preparado para receber as sementes e os adubos. Após o preparo, o solo deve ficar sem valetas, buracos, raízes e plantas daninhas para facilitar o trabalho da colhedora. A semeadura deve ser feita para se obter espaçamentos uniformes entre plantas. Velocidade de operação da semeadora inferior a 6 km/h e o uso de mecanismos apropriados e bem regulados para dosar sementes e adubos e para movimentar o solo contribuem para a melhoria da qualidade do plantio. A lavoura deve ser conduzida para controlar plantas daninhas, doenças ou pragas e ser adubada na época recomendada, de forma a favorecer a colheita. A colheita feita fora de época afeta a produção da lavoura por aumentar a percentagem de perda de grãos. Quando o feijoeiro é deixado por um longo período no campo após a maturação, ocorrem perdas de grãos pela deiscência das vagens, seja natural ou provocada pela operação de arranquio das plantas, principalmente em regiões de clima quente e seco. Retardamento na colheita também deprecia os grãos, que ficam expostas por mais tempo ao ataque de pragas. A uniformidade de maturação das plantas e das vagens é um fator de extrema importância para que a colheita seja processada em ótimas condições. Fatores relacionados ao solo, à topografia do terreno, ao ambiente, às práticas culturais, às doenças, à disponibilidade de água para as plantas e ao hábito de crescimento das cultivares causam desuniformidade na maturação do feijoeiro.

Conforme a colheita, o beneficiamento do feijão também constitui-se numa operação de grande importância, pois os métodos de colheita não proporcionam um produto final limpo e padronizado em condições de ser comercializado. É necessário que o produto colhido passe por um processo de limpeza para melhorar a pureza, germinação e vigor. O beneficiamento é feito, geralmente, por dois equipamentos principais: a máquina de ar e peneira e a máquina densimétrica que possui mais recursos para separar impurezas de tamanho e densidade próximos da semente. Após o beneficiamento, o feijão armazenado,

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destinado ao plantio ou ao consumo, deve receber tratamentos especiais para evitar sua depreciação.

Mercado e comercialização

A oferta de feijão ocorre na primeira safra principalmente nas regiões Sul e Sudeste e na Região de Irecê, na Bahia, cuja colheita está concentrada nos meses de dezembro a março. A colheita da segunda safra acontece entre os meses de abril e julho e a terceira safra, em que predomina o cultivo de feijão irrigado, está concentrada nos Estados de Minas Gerais, São Paulo, Goiás/Distrito Federal e oeste da Bahia, sendo ofertada, no mercado, entre julho e outubro. Embora estes períodos possam apresentar variações de ano para ano, pode-se identificar que há colheita praticamente o ano todo, e que existe sobreposição de épocas em algumas regiões.

Existem vários fluxos de abastecimento, pois as regiões produtoras variam durante o ano. Observa-se, inclusive, casos que numa determinada época do ano um estado é exportador e, em outra época, recebe feijão de outra região. Para facilitar o estudo foi considerado somente o mercado atacadista da cidade de São Paulo. Verificou-se que, nos meses de janeiro e fevereiro esse mercado é abastecido com o produto remanescente da colheita de dezembro, do próprio Estado, alguma produção colhida no mês e complementada com produto dos estados do sul e da produção de Minas Gerais, Goiás, Bahia e Mato Grosso do Sul. Em março, nos Estados de São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul já se encerra a colheita. Em abril, inicia-se a colheita da segunda safra, que vai até junho. Neste período, volta a entrar produto do próprio Estado, de Goiás, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. O Estado de Rondônia desempenha um papel importante no abastecimento, neste período. No início de junho, o Rio Grande do Sul e Santa Catarina encerram suas colheitas e iniciam-se as do oeste da Bahia. Entre julho e agosto, às vezes, o mercado recebe produto importado. Em setembro, encerram-se as colheitas do Paraná e das lavouras irrigadas de São Paulo, Goiás, Bahia, Mato Grosso e de Minas Gerais. Novembro é considerado período de entressafra, a oferta é baixa e se restringe às safras precoces de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. Em dezembro, intensificam-se as colheitas nestes Estados.

Calculou-se um índice médio mensal de distribuição de colheita de feijão comum no Brasil, onde se observou que nos meses de dezembro, janeiro e junho ocorrem picos de colheita das safras das águas e seca, respectivamente. No período de fevereiro a maio, ocorrem colheitas com índices próximos à média de 8%. Resultados semelhantes são observados em julho e agosto. No período de setembro a novembro os índices são os mais baixos. No período de dezembro a agosto colhe-se cerca de 92% do total produzido no ano e no período de entressafra (setembro a novembro) colhe-se cerca de 8%.

No segmento do agronegócio há uma concorrência entre as cadeias produtivas e a competitividade de uma determinada cadeia é definida por vários fatores como eficiência agronômica, qualidade do produto e informação, entre outros. No caso de haver assimetria de informação sobre a quantidade e qualidade do produto que será ofertado pelas regiões produtoras, podem surgir oportunidades ou ações que beneficiem certos segmentos mais

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bem informados da cadeia produtiva. No caso do feijão esse fato torna-se mais relevante, devido à dinâmica de produção e comercialização ser complexa e praticamente desconhecida. Para Ferreira (2001) esse é um dos pontos de estrangulamento do agronegócio do feijão, exacerbado por freqüentes ocorrências de falhas nas previsões de mercado desse produto.

Ocorreram profundas transformações nos canais de comercialização e partir dos anos 90 com os supermercados apresentando uma nítida tendência à concentração. Entre 1995 e 1998, as cinco maiores organizações tiveram sua participação no mercado ampliada, de 27%, para 47,9%. Para Silva (1996), esta mudança contribuiu para reduzir o número de agentes intermediários no processo de distribuição dos produtos agrícolas. Outra conseqüência foi que, em busca de maior competitividade, os varejistas modernizaram seus pontos de vendas, induziram os fornecedores a criarem alternativas de apresentação do produto e, sobretudo, passaram a oferecer produtos com melhor qualidade. Em outras palavras, foram demandados mais e melhores serviços na intermediação. A conseqüência direta dessa mudança sobre a cadeia produtiva do feijão é a exigência por matéria-prima de melhor qualidade.

Os trabalhos comprovam, por unanimidade, que há queda do consumo per capita de feijão no Brasil, entretanto, sua magnitude não está bem dimensionada, não havendo consenso sobre as causas. O consumo per capita de feijão ao longo dos últimos 40 anos apresenta uma tendência decrescente da ordem de 1,3% ao ano, enquanto a população cresceu 2,2%. Porém, o decréscimo não ocorre de forma contínua, existindo oscilações entre os anos.

Observando as margens de comercialização absoluta e relativa, comparando o desempenho antes e após o Plano Real, ou seja, entre os períodos de 1990-94 e 1995-99. Nota-se que a margem absoluta entre o atacado e o produtor sofreu uma redução de R$15,30, entre o atacado e o varejo aumentou R$4,18 e entre o varejo e o produtor diminuiu R$11,66. Em termos relativos, a margem entre o varejo e o produtor aumentou 5,2%, entre o atacado e o produtor diminuiu 2,4%, entre o atacado e o varejo aumentou 12,3%. Os resultados mostram que consumidor pagou praticamente a mesma quantidade pelos serviços de intermediação entre os níveis atacado e produtor e mais entre o atacado e o varejo.

O teste de correlação contemporânea entre os preços mensais do varejo da cidade de São Paulo e o preço do varejo das demais metrópoles foi de 99,9%, ou seja, os preços no varejo se modificam simultaneamente, independente da região consumidora. No estudo de causalidade, considerando-se todos os estados da Federação, só foram encontradas relações significativas entre os sete principais estados produtores.

O feijão sofreu um grande impacto frente às mudanças sócio econômicas ocorridas nos últimos anos, caracterizadas pela estabilidade econômica, abertura de mercados, menor intervenção do governo na produção e comercialização e maior participação na venda a varejo de grandes supermercados. Os principais reflexos estão relacionados com a redução relativa na renda total dos produtos agrícolas, uma maior participação de feijão importado na abastecimento interno, maior exigência de qualidade do feijão ofertado, apesar de ter ocorrido redução dos preços médios nos três níveis de mercado, sendo que a maior defasagem foi no setor produtivo.

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Neste contexto derivam muitas dúvidas e inseguranças para todos os segmentos envolvidos na cadeia produtiva do feijão. Os produtores são prejudicados porque têm dificuldades para obter informações e acabam tendo prejuízos na venda de suas produções. Desta forma, não arriscam fazer investimentos que poderiam tornar a cultura mais eficiente e segura.