fcc - mulherio · 2 jane junqueh‘.ite faria bittar, siio simão, go. ... em o que é poesia não...

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Trocas

Estou feliz pelo Mulherio! Agora, ao inv6s de procurar nas bancas tão distantes, podemos conversar em casa, através da as- sinatura.

O movimento feminista me despertou há três anos, quando me uni ao Coletivo de Mulheres do Rio de Janeiro, mas esse interesse vem do meu campo de trabalho também. Sou enfermeira (95% da nossa força de trabalho é femini- na) ligada 51 área de atendimento Materno-Infantil. Vejo de perto toda a desinformaçáo da mulher, no que diz respeito ao seu auto- exame, e até 8. sua opção de repro- dução ou mesmo sexualidade.

Gostaria imensamente de re- ceber o Mulherio periodicamente. Sem mais, parabéns, muita força pra continuarmos nossa luta. Teresa Ferreira, Sáo Paulo.

Interesso-me por entrar em contato com as colegas advoga- das a fim de trocarmos informa- çaes sobre a situação jurídica da mulher, principalmente no que diz respeito ao projeto de reforma do Estatuto da Mulher Casada. Aqui no Recife, faço parte da Ca- sa da Mulher do Nordeste, insti- tuição que tem por finalidade pro- mover o desenvolvimento da mulher. Eliomar Medeiros Ribeiro, Rua do Bom Jesus, 226, P andar, 50.000, Recife, PE.

Escreva, goiana. Nós queremos

Sendo eu moradora de um re- moto município goiano, só hoje, através da T V Mulher, eu soube da existência do jornal Mulherio, o qual me interessou bastante. Ficarei imensamente agradecida se me enviarem os papéis corres- pondentes B assinatura anual. Não sei se há colaboração dos leitores nos artigos impressos, mas, caso haja, gostaria de poder enviar alguns escritos (que mu- lher n&o os têm?), pois penso que a participação de mulheres anóni- mas, que realmente têm algo a

c? dizer em prol de todas as repre- 2 sentantes do sexo feminino, deve

ser a tónica de um jornal criativo 3 e interessante. Jane Junqueh‘.ite Faria Bittar, 2 siio Simão, GO.

Mulherio abala novas estruturas!!! Achei mesmo sintomático o poema de um anônimo esquimó

tom “revoltante” com que Mar- (Pág. 19), ou dos camponeses do lene Bilenky fez a crítica ao Japão (pág. 72) ou a composi- meu livro O Que é Poesia, da ção irlandesa (pág. 85) não te- coleçáo Primeiros Passos. Num nham sido escritos e vividos por tempo em que as relações se mulheres? Conclusão: creio que circunscrevem dentro das leis a falta de poesia feminina em estritas da divisão do trabalho, meu livro apontada por Marle- nada mais coerente do que - ne, é diretamente proporcional fazendo uma leitura desatenta sua falta de sensibilidade e Bs avessas, como ela fez do poética. meu livro - classificar a produ- ção poética, segundo a genitali- dade: mulheres e homens apri- sionados em seus poemas espe- cfficos. Há uma triste cperência nisso, é certo, mas falsa neste caso.

Tanto é que a conclusão a que posso chegar pela sua rese- nha 6 que Marlene, intencional- mente ou não, s6 leu algumas páginas e a bibliografia. Senão, como explicar suas incorreções na própria exposição do con- teúdo do livro? Para começar, eu digo literalmente que não pretendia fazer uma “reflexão histórica a respeito da poesia, desde os tempos mais remotos até os atuais”, como afirma a resenha. Muito menos f iz um “percurso geográfico” da poe- sia, do Oriente ao Brasil, o que seria impossfvel num livrinho destes. Será isso desatenção da resenhadora? Ou manipulação oara buscar cumolicidade fácil

A estória continuou no Mu- lherio no 11, quando se deu voz ao Caio Qraco, da Brasiliense, fazendo a sua penitência mas- culinista e anunciado em gran- de destaque gr8fico “Mulherio abala estruturas editoriais pau- listas”. Caramba, que abalo (en- tre aspas) de arromba!!! E a pergunta fica no ar: por que, ao invés de lançar bardos ocos, o Mulherio (do qual, aliás, gosto muito) n8o promove de verdade um debate amplo e aberto - democrático, sob todos os sen- tidos -, sobre a produção poé- tica das mulheres e suas contin- gências? O tema, além de inte- ressar a todos, certamente des- cortinará crfticos muito mais avançados do que a mera de- marcação genital em que Mar. lene se baseia. Quanto a O Que é Poesia, os leitores e leitoras que percorram suas páginas e tirem as próprias conclusões.

dos leitores? Um abraço e sucesso com o O pior 6‘quando afirma que novo tama.0- tablóide.

em O Que é Poesia não consta a Fernando Paixao, Sáo Paulo, SP figura da mulher como musa poética. Será uma questão de P.S. - Solicito ao Conselho miopia? Ou, então, ela nem leu Editorial de Mulherio a pubiica- a segunda página do livro que ÇHO desta carta, na íntegra. logo traz um trecho do Cântico Saudaçdes poéticas! d& Canticos. sobre a oaixão: “Põe-me C O ~ um seio êm teu coraçãoicomo um selo em teu Fernando: braco ...” E daí Dor diante. sem

Resposta da Marlene 80

ler ás úitimas páginas; do con- O meu eu genital pede per- trário depararia na pág. 100 dão e agradece tua clarividên- com uma clara referência B cia de me ensinar que a poesia combustão do fazer amor. E dos esquimós, camponeses e ir- quanto aos poemas transcritos, landeses poderia ser de mulher ja que Marlene reivindica a Pre- (ué, não é percurso geogrtifi- sença da mulher, pergunto: de co?). Farei um curso de leitura e onde vem a sua cerka.de que o de sensibilizaçáo poética, tá? . . . 1 - -.-

Que mineirinho simpático!

Não sou feminista. Apesar de eu ser do sexo masculino, não vou contra o trabalho de vocês porque sou a favor de uma liberaçao de direitos e deveres para todas as pessoas. Tenho 18 anos, tenho uma namorada, e nosso relaciona- mento é divino, devido a um gran- de entendimento e respeito ao in- dividualismo próprio de cada um. Se voc& acharem que seria possf- vel, peço para mandarem uma fo- lha de preenchimento para que eu Possa fazer uma assinatura.

Eu estou numa prisão aqui nos Estados Unidos e gostaria de ne corresponder com alguém dai. 3e vocês tiverem algum tipo de ista, eu estou bem interessada. Pnna Schuler, P.O. Box 17, Gig Harbor WA. 98335, USA

Quem somos

Conselho Editorial - Carmen Bar- roso, Carmen da Silva, Cristina Bms- chini, Eiizabeth Souza Lobo, Eva Alter- man Blay, Fiilvia Rosemberg, Heleieth Saffioti, Lélia OonzaleZ, Maria Carneiro da Cunha, Maria Malta Campos, Maria Moraes Maria Rita Kehl Maria Valéria Junho Pena, Mariza Córrea e Ruth Cardoso.

Equipe - Ad8ia Borges e Fúlvia Rosemberg (editoras), Marlene Rodrl- gues (edição de artes), Wanda Nestleh- ner (repórter), Miriam Tanus (secret.8- ria), Roberta Masciarelli íiiustradora) e Linda Meio (administradora).

Assessoria - Florisa Verucci (juri- dica) e Fátima JordBo (publicitMa).

Jornalista responsável - AdeUa Borges. registro no MTb no 10.880, SJESP 4540.

Mulherio 6 uma publicaçao bimes- tral. Aceita colaboraçdes. Pede-se per- m u t a com out ras publicaçdes do genero.

Redaçáo. Fundaçâo Carlos Chagas Av. Pmf. Francisco Morato i565 CEP 05513, São Paulo, fone 211.i511, ;ama1 241.

\ . L ,

A discriminação a mulheres casadas nas empresas é um fato corriqueiro. Mas, em São Paulo, o Sindicato dos Químicos conseguiu dar ampla publi- cidade a um caso comprovado de dis- criminação, nos Laboratórios Ayerst.

o dia 20 de dezembro do ano passado. Wilma Ito, uma nissei de 35 anos de N idade, saiu de casa de manhã, como

fazia desde abril de 1969, para cumprir mais uma jornada de trabalho nos Laboratórios Ayerst Ltda.,Sáo Paulo. onde era encmega- daaa-se¢ão de embalagens. Naquele dia, ia

-’até mais satisfeita: levava na bolsa um punha- do de impressos azuis com pombinhos bran- cos e asas douradas, os convites para seu casamento com José.

Wilma distribuiu convites para as amigas, afixou um na parede do refeitório e com toda cerimõnia foi entregar um ao seu chefe ime- diato. Sem constragimento, ele logo anunciou qual seria o presente de casamento a uma dedicada funcionária com mais de 13 anos de serviço: “Sabe como sáo as coisas aqui. Se você casar não poderá continuar trabalhando, a empresa náo aceita mulher casada”.

Tímida, e mais ainda surpresa, não teve resposta. Viou-se e foi para a linha de emba- lagens. No dia 8 de janeiro, Wilma e José casaram-se na Igreja Santo Antônio de Lis- boa. O casamento no civil estava marcado para 30 de janeiro, mas no dia 10 Wilma foi mandada embora.

U m primor

O que Wilma não sabia, nem sequer ima- ginava, é que exatamente uma semana antes

I de seu convite de casamento começar a circu- lar entre os colegas de trabalho, o presidente dos Laboratórios Ayerst Ltda.. empresa mul- tinacional com 350 funcionários no bairro paulistano de Tatuapé, assinara e mandara aos chefes e gerentes uma correspondência interna cujo assunto era “Permanência de funcionárias grávidas”.

A correspondência, que acabou chegando aS mãos de um diretor do Sindicato dos Tra- balhadores nas Indústrias Químicas e Farma- cêuticas de São Paulo que trabalha naquela empresa, é um primor de retrato da discrimi- nação a mulher. Releve os erros de português e veja:

“Fica determinado, o que aliás, já 6 práti- ca, que não se admitirá casadas para Secretá- rias ou outras funções. Admitir-se-á casadas, excepcionalmente, para o cargo de Secretári?, quando já realizadas em filhos e quando sao um risco menor que recém-casadas, ainda sem filhos, além de mais experientes. .

“A permanência de uma s e c r e t ~ a , ou não, depois de casada, cabe ao respectivo superior decidir, tendo em conta seu mérito versus as muitas incertezas as quais uma gravidez expõe o reguiar comparecimento e O desempenho no trabalho.

“Funcionárias outras que Secretárias, que houverem casado deverão ser substituí- das por solteiras, exceto se o atestado médico atestar a sua esterilização ou infertilidade, OU, já existentes no quadro, houverem atingido a menopausa”.

Wilma não foi a primeira vítima da medi- da adotada por Virgílio Weiller, o presidente dos Laboratórios Ayerst, que certamente se imagina gerado em proveta. No dia 3 de janeiro, Rosana Aliende Pelt foi demitida pelo mesmo motivo. Casada há dois anos, ela tra- balhava na Inspeção de Qualidade desde 1980. Mas duas semanas depois de a corres- pondência interna chegar a sua seção, o chefe comunicou que estava despedida porque a empresa não queria mais mulher casada.

Barulho na imprensa

Com a corresuondência nas mãos, o Sindi-

qualquer natureza, convenções coletivas ou contratos individuais de trabalho, restrições ao direito da mulher ao seu emprego, por motivo de casamento ou gravidez.”

Na prática, a discriminação continua a existir na Ayerst e em muitas outras empre- sas. Wilma e Rosana não são seguramente as únicas mulheres que nos últimos meses passa- ram a engrossar o contingente de desempre- gadas no país pelo simples fato de serem casadas.

Por isso mesmo, apesar da revogação for- mal da correspondência interna, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas de São Paulo está levando o caso em frente, movendo um processo crimi- nal contra o presidente da Ayerst, Virgilio Weiiler.

Para o advogado Manoel Ariano, do De- partamento Jurídico do Sindicato, “o que interessa é que o presidente da empresa come- teu um delito previsto no decreto-lei 5.473, que prevê pena de prisão de três meses a um anopara quem pratica este tipo de discrimi- naçao”.

O Dr6UriO advopado reconhece oue a 9UF’- - . .~~ .~ ~ ~

cato dos QU~&& (que tem seis mulheres na diretoria atual, inclusive a secretária-geral, Nilza Port, contra apenas duas na diretoria anterior) tratou de agir. Deu ampla publicida- de ao caso, provando que a discriminação &

Xa-Crime =impetradã é uma causa ‘polêmica, mas lembra que, além do documento assina- do, O Sindicato conta com duas peças funda- mentais, que são exatamente Wilma e Rosa- na. as próprias vítimas da discriminaçáo.

Além disso, Virgílio Weiller, ao ser entre- mulher no trabalho realmente existe. -.. _. -

~~~~i~ de muito bammo pela imprensa, a vistado pela repórter Isabela Assumpção, no Ayerst anunciou que aquela correspondência Nacional levado ao ar Pela Tv Globo interna fora revogada. Tal revogação, no en- no dia 22 de janeiro, não se fez de rogado. tanto, foi apenas formal, pois a empresa esta- Explicou que as instmções contidas na cor- va frontalmente contra o &igo 391 da como- respondência visavam a um melhor aprovei-

tamento dos recursos humanos da empresa, pois ‘‘mulher grávida traz muito problema”. T lidação das Leis do Trabalho (CLT).

2 Diz o artigo: “Não constitui justo motivo para a do contrato da mulher o fato E ~ o m ar de auto-suficiéncia, sem ficar de haver contraido matrim~nio ou encontrar- vermemo, disse que a assinatura do documen- .se em estado de gravidez,,. parno único: . .to,fora “um,rnoment~liiosófi.coi’.;.-:. . . . . - . .. . ,. 3

B <.<.,, .-.I 3 .“Não serão permitidos em regulamentos de . Vaideci Verdelho B :

busca dos pontos de liga- ção entre a chamada “luta A geral” e a luta específica

dos vários movimentos sociaii que se desenvolveram com muitc lmpeto no Brasil, nos último; anos, como vefculos de reivindica ções de setores da população rotu lados como minoritilrios (mesmc quando não se referem, como nc caso das mulheres, a minorias nu

I Você gosta do prbprio corpo?

Gosto e acho que a estética do corpo é algo maravilhoso, essencial. (.. .)No Brasil, ser bo- nita é importante e as que en- tendem isso demonstram ter muito bom senso. (Mulher da burguesia, Rio de Janeiro.)

méricas) tem sido preocupaçãc constante não s6 daqueles que de les participam, como dos que pro curam balizar seus possfveis cami nhos no campo prático e teórico Em meio a muitos escritos e posi ções bastante dogmáticos e pouci esclarecedores, surge agora a pes quisa coordenada por Rose Maric Muraro, Sexualidade da Mulhe Brasileira - Corpo e Classe Socia no Brasil, editada pela Vozes, nun caminho exatamente oposto I bastante original, que faz surgi muitos pontos para a reflexão.

A preocupação básica do livrc ;e mesmo de toda a pesquisa -

embora seus objetivos se tenhan u ampliado na medida em que ela ir 3 ayeGpando ’-, foi a. de verifica

como se da a.articiliaç&o entre.< sexual e o social e, por extensão .. s-

- O novo livro de Rose Marie Muraro - Sexuali-

dade da Mulher Brasileira - Corpo e Classe Social no Brasil - mostra como se dá a articulação entre o sexual e o social e, por extensão, entre a esfera privada e a pública. Maria Carneiro da Cunha entrevistou Rose e, aqui, fala sobre o livro.

entre a esfera privada e a pública, e que tipo de diferenciações po- diam ser atribuidas às duas gran- des variantes que são o sexo e a classe social entre os grupos de pessoas entrevistadas,

As entrevistas com homens e mulheres permitiram demonstrar urna importante clivagem por se- xo em relação a maioria dos itens propostos. “Acho que uma das coisas que ficaram mais claras nas respostas aos questionários - afirma Rose Marie Muraro - foi o fato de que boa parte das atitudes e aspirações que se atribuem as mulheres correspondem, na reali- dade, a imagem que o homem tem da mulher e não ao próprio desejo desta. Isso é bem nítido, por exem- plo, nas respostas a respeito do casamento entre representantes de classe operária em São Paulo (Osascoi, na qual os homens se dizem em maioria contentes com o casamento e as mulheres decep- cionadas.”

As respostas correspondem a um fato real: a de que o casamen- to é bem mais vantajoso para o homem desta classe do que para a operária, que, em geral, acumula mais uma jornada de trabalho. Entre camponeses, essa dupla e, as vezes, até tripta jornada é bem evidente, pois, mesmo em condi- ções de sobre-exploração, os ho- mens sempre mencionam algum momento de lazer na descrição de

. , . . . I .

sua vida diária e isso praticamen- ;e não ocorre com as mulheres. Entre homens camponeses e ope- rários, transpareceu também um grande temor em relação as mu- danças do papel tradicional da mulher.

Rose Marie Muraro dá espe- cial importância aos depoimentos colhidos entre os camponeses de Pernambuco, porque nunca foi feita uma pesquisa sobre a sexua- lidade nesse grupo social. “Creio

Como anrendeu a cuidar d< . - corpo?

Na minha casa com minha mãe e babá. Desde cedo f i z ba- lé, depois parei. Minha máe era muito pTeOCUpada com beleza, maneiras, eleganeia; era muito rtgida nisso. (Mulher da bur- guesia, Rio.)

Minha av6 praticamente me criou. Eu ia pro Rio com ela, Um dia, eu ainda me lem- bro, ela disse: “Chiquim’: vá pra longe que comadre vai to- mar banho. (Camponês, Zona ,da Mata, Pernambuco).

que pela primeira vez obteve-se a fala direta da camponesa sobre esse tema, ficando claro que resi- de a1 a maior resistência a qual- quer tipo de controle da natalida- de. Há um medo efetivo em rela- çáo a certos métodos como a pílu- la, que se detecta até a nível da fabulação que entre elas é muito rica. Outro ponto que ressalta é que quanto maior é a dominação do homem sobre o homem, maior

5 a dominação do homem sobre a mulher, mostrando que as duas Zoisas estão ligadas A mesma I6gi- ca de exploração.” A classe média moderna foi aquela em que houve a proximidade maior entre as respostas de homens e mulhe- res, indicando que uma profunda modificaçáo dos padrões está ocorrendo nesta classe. “Esta foi uma das surpresas desta pesquisa, pelo menos para mim”, comenta Rose. “Ao entrevistar pessoas des- ta faixa, que em muitos casos se aproximam da burguesia em ter- mos de renda, achávamos que as respostas seguiriam padróes bas- tante semelhantes, mas o que ocorreu foi exatamente o contrá- rio. Basta ver itens como o refe- rente h superioridade er6tica do homem, com a qual 87% de mulhe- res da classe burguesa concordam e 87% de mulheres da classe mé- dia alta discordam. Os resultados são quase que opostos, o que nos levou h. conclusão que, mais que a renda, o que importa é a posiçáo em relação 21 produção. A classe média alta não controla efetiva- mente os meios de produção, o que a diferencia da burguesia”.

Se na classe média as modifi- cações comportamentais podem estar realmente ligadas a uma mu- dança mais profunda, na burgue- sia, entretanto, elas ocorrem mui- to mais a nível de discurso e s6 atinge o comportamento na medi- i a em que a base familiar-patri- monial não é afetada. “O discurso ias burguesas - esclarece Rose Marie - apresentou duas verten- :es principais: uma mais conseb vadora e puritana e outra mais

moderna e avançada, sobretudc entre as mulheres mais jovens Nessa faixa, existe a reivindicaçãc do prazer, hB uma grande preocu pação com o corpo (mas de um& forma objetivada através da este tica) e usa-se até um vocabuláric (ou um receituário) colocado en pauta a partir das correntes di protesto da década de 60. S6 que c que era sintoma de rebeldia fo totalmente incorporado, recupe rado e absorvido”.

Outro ponto a destacar é qui foi esta classe - em que os ho mens detêm , através do dinheiro as maiores doses de poder econõ mico, político e er6tico - a únics em-que eles acharam que a vide da mulher é melhor que a do ho

I Como era a mulher antigame

e como é hoje Mudou. A mulher antiga-

mente não trabalhava como hoje. Agora está e m f i m de era. A vida e muito di f fc t l . J? o f i m do mundo. (Camponesa d a Zo- na d a Mata, Pernambuco)

mem, a indica que a mulher bur. guesa realmente é que desfruta - mais concretamente da mais-va. lia, sem praticamente ter de dai nada em troca. Os homens ainda enfrentam as tensões da competi, ção e das decisões e são aqui ex. cepcionalmente mais sacrificados que suas mulheres. Isso transpare ce na frase de um deles: “É muitc melhor dar de mamar do que tei que enfrentar reunião de dire- toria”.

Mas, em todas as classes, diz ela, “a idéia que o homem tem sobre o seu próprio corpo e mesmo o seu erotismo é muito mais geni- taiizado e masculino”. Em alguns casos, a descrição do corpo ligada h de desempenho e, especialmen- te, de mecanismo, é bastante sen- sível, sendo mais nítida na classe operária. Essa imagem é bastante clara no depoimento de um operá- rio, que descreveu seu próprio cor- po assim: “Pesa normal, altura boa, pratica esporte e funciona normal. O corpo é uma máquina, aliás, melhor porque move tudo o que você quer, obedece a mente, traz a principal ‘coisa’, a riqueza, que é a relação sexual”. Há, por- tanto, uma assimilação do corpo com a máquina que o operário manipula e que também produz “riqueza”.

Essa concepção mecanicista

do corpo é bem mais rara ou prati- camente inexistente entre as mu- iheres, embora seja forte em algu- mas camadas uma concepção uti- litarista do corpo que é apto para D trabalho ou para a maternidade. ‘sso ocorre com mais freqüência ,ntre as componesas da Zona da data (Pernambuco).

Rose Marie atribui isso a cir- :unstãncias históricas: “O homem empre esteve mais ligado lógica Ia produção e teve por isso seu ‘orpo mais normalizado”. A mu- her sempre esteve, até há pouco empo, mais ligada a lógica da rida. pois o seu campo se restringe I reprodução. A normalização cor- )oral voltada para a produção foi )or isso menor em relação a ela.

Mas um outro ponto que Rose lestaca é que nenhum sistema é nonolítico ou impermeável a ransformação. “Existem sempre jrechas ou fissuras sobre as quais e pode agir e creio que uma delas s t á precisamente no campo da exualidade, quando se percebe :omo ela está interligada com o esto. Essa pesquisa buscou, de :erta forma, algum tipo de respos- a válida para o problema do espe- :ifico e do geral, que algumas cor-

rentes colocam como duas verten. tes opostas, mas que, na verdade estão embutidas uma na outra como certas caixinhas chinesas Isso pode ajudar a entender poi que certas camadas oprimidas tèm tanta dificuldade para se or- ganizarem (e a opressão transpa- rece claramente nos questioná- rios), pois seu desejo foi condicio- nado a agir no sentido contrário ao seu interesse.”

Dificilmente se pode acreditar que indivíduos estritamente nor- mamados num campo se transfor- marão em revolucionários em ou- tro. Dessa forma, nenhuma trans- formação real se concretiza, mas há apenas uma repetição dos ve- lhos modelos sob outros r6tulos.

Em suas reflexões finais, a au- tora redefine o que consideraria um corpo realmente liberto, colo- cando essa libertação em estreita ligação com uma libertação muito mais geral no âmbito social e não num contexto meramente indivi- dualista. que excluiria imediata- mente a maior parte da humani- dade. Está implícita a idéia de que não é possível a liberação de uma parte sem a liberação do todo e de que ninguém pode se proclamar

livre numa sociedade de explora- ção e de dominação.

Essas teses se opõem diame- traimente ti chamada “revolução sexual” que os meios de comuni- cação refletem - a mera manipu- lação da sexualidade e do desejo em benefício de uma lógica que pouco tem a ver com a libertação

I

Qual o tipo ideal de mulher? Tamanho médio, tipo U f O -

láo, morena. (Homem do Agres- te, Pernambuco)

J? aquela que é gorda,forte, limpa, ftei ao martdo e que não d fofoqueira. (Camponesa d a Zona d a Mata)

Casada, que cuida bem do marido, que tem dinheiro, pas- se ta muito, t r a t a bem d a s crianças. (Mulher d a classe operária, Osasco)

Gosta de ter relações? Goza Bonztnho, sempre presta.

(Mulher do Agreste)

gráv ida e não s i n t o n a d a . (Camponesa d a Zona d a Mata, Pernambuco)

Por mim, tinha todo dia, pois sinto muita coisa. (Campo- nesa d a zona d a Mata, Pernam- buco)

Com meu marido não. Te-

Não gosto, pois fico logo

dos indivíduos. Rose Marie Mura- ro indica, entretanto, os compor- tamentos que já aqui e agora po- dem constituir um indício de uma mudança nesse sentido mais am- plo e promete que essa pesquisa, já muito rica no presente estágio, será complementada por outras que abordarão especificamente a classe média moderna e o subpro- u-, letariado lumpen das favelas, o s 0 dois setores que indicaram menor Z índice de normalização, embora por motivos I I

1 Mana Carneiro da CUnIIas

"Além ... muito além do Martinelli ... Filha da lua ... filha d o Sol. ... Pagu nasceu."

i

atrfcia Galvão (1910-1962) foi normalista P na Sáo Paulo provinciana do começo do século, levada da breca ... pulando janelas e muros da Escola, cabelos cortados e eriçados, blusas transparentes de decotes arrojados, cigarros fumados em plena rua. Escândalo, para a época.

Em 1929 ligou-se ao movimento da Antro- pologia, com Oswald de Andrade, Raul Bopp, Geraldo Ferraz e outros. Era a ala esquerda e anticatólica. Sempre levada da breca, simu- lou um casamento com Belisário Amaral, saiu para a lua-de-mel e numa curva da estrada de Santos fugiu com Oswald de An- drade. Novo escândalo. Juntos, Oswald e Pa- gu tiveram um filho, entraram no Partido Comunista Brasileiro e montaram um jornal panfletário, O Homem do Povo (onde Pagu escrevia a seção A Mulher do Povo).

Em 1931, em Santos, ela foi presa num comício que relembrava a execução de Sacco e Vanzetti. Em seguida, obedecendo i% linha do Partido, proletarizou-se, trabalhou de bi- lheteira num cinema e, sob o pseudônimo de Mara Lobo, escreveu o romance proletário Parque Industrial.

Viajou. Em Paris, ingressou no Partido Comunista Francês. Ligou-se aos surrealis- tas. freqüentou a Université Populaire, organi- zada pelo PCF para trabalhadores. Logo jun- tou-se a grupo crítico ti política do PCF. Em 1935, foi presa como militante comunista estrangeira e deportada para o Brasil.

Presa pelo Estado Novo, s6 foi libertada cinco anos depois. Crítica ao PC, em 1945 ligou-se ao grupo que editava a revista Van- guarda Socialista, ao lado de Mário Pedrosa, Geraldo Ferraz, Hilcar Leite, Edmundo Monis.

Nos anos que se seguiram, Pagu voltou i% literatura, escreveu um romance em colabo- ração com Geraldo Ferraz, com quem se casara e tivera um filho. Estudou Arte Dra- mática, colaborou em vários jornais e em 1950 voltou a poiítica, candidatando-se a deputa- da estadual pelo Partido Socialista Brasi- leiro.

Doente, com câncer, foi a Paris para uma operaçáo. Mas, desenganada, tentou suicídio e voltou ao Brasil. "Morreu aqui meses de- pois", diz Alfredo Mesquita. "Via-a ainda duas vezes em casa de parentes, sentada na cama, o tronco ereto, fumando, fumando

quem resgatará pagu? Patrícia Galvão ('1910-1962) que quase não consta das histórias literárias e das pomposas enciclopédias provincianas, uma sombra cai sobre a vida dessa grande mulher, talvez a primeira mulher nova do Brasil da safra deste século na linhagem de artistas revolucionárias como Anita Mafaltti e Tarsila, mas mais revolucionária como mulher.

. . . . . , Augusto de Campos

sempre. Os olhos muito pretos, ainda vivos, fixos em mim com aquela expressão de an- gústia e interrogaçáo dos que vão morrer.”

Ela que dissera: “Quando eu morrer não quero que cho-

rem minha morte. Deixarei meu corpo pra vocês”.

”Quero ir bem alto” A “vida-obra, obra-vida’’ de Pagu, até

bem pouco esquecida não fora o belíssimo trabalho de Augusto de Campos, provoca reflexões muitas e inquietações profundas.

Um dia, referindo-se & pintora e sua pro- tetora Tarsila do Amaral, Pagu disse: “Ela me parece ser o nosso primeiro caso de emanci- pação mental entre as mulheres paulistas.” Mas essa frase se aplica a ela própria. Pagu se autodefinia rebelde. “Soltava papagaios e voltava pra casa sem batom.’’

Em 1929, estavam ela e sua irmá Sidéria no hall da Escola Normal do Brás quando chegou Reis Júnior para visitar Guilherme de Almeida, secretário da escola. Sidéria conta: “O Reis Júnior era um rapaz belissimo ... Ele subiu a escada, era tão lindo, a Pat fez fiu fiu pra ele e ele olhou. A gente ficou esperando o Reis Júnior voltar e ainda a Pat perguntou: onde vai você?”.

Recusava a hipocrisia da falsa moral. Na cluna A Mulher de Povo, criticou as garotas tradicionais de São Paulo - ”as normalinhas que deturpam os fatos escandalosos de uma g u i a mais sincera, em luta corporal contra o controle cristão.” E diz: “EU que sempre tive a reprovação delas todas; eu que não mentia, com as minhas atitudes, com as minhas pala- vras e com a minha convicção ...”

Não foi menos mordaz contra “o batalhão do feminismo ideológico” e “estas feministas de elite” que “se esqueceram que a limitação da natalitadade já existe mesmo nas classes mais pobres e que os problemas todos da vida econõmica e social ainda estão para ser resol- vidos ...” (referia-se as idéias de Maria Lacerda de Moura sobre o controle da natalidade)

”Uma rocha de golpes e amarguras” O antifeminismo de Pagu. o realismo

proletário, esquemático e maniqueista do ro- mance Parque Industrial se inscrevem no qua- dro de seu radicalismo. Em 1952. escrevendo um comentário sobre o artista plástico Cícero Dias, ela diz que o conheceu “quando ainda éramos antropófagos, antes da minha passa- gem pelos dez anos que abalaram meus ner- vos e minhas inquietações, transformando- me nesta rocha vincada de golpes e de amar- guras, destroçada e machucada. mas irredu- tível.”

Irredutível e dramStica foi sua crítica aos anos de miiitãncia no PC, no panfleto Verda- de & Liberdade. Definiu-se então Contra a esquerda totalitária que “distribui palavras de ordem arruinando a democracia” e “COn- tra a Direita Reacionária...”. Sua proposta: “Trata-se de procurar compreender antes de resolver qualquer passo. Para isto é preciso pensar na verdade dentro da liberdade irres- trita. Não perecerá a Liberdade para que o Socialismo triunfe”.

Lúcida e penetrante Pagu. em busca da verdade. “Descrente de tudo”, mas contra todos os conformismos. O conformismo na política, o conformismo nos costumes (“estas mães que querem que as filhas façam do casamento um caixão até que apodreça e arrebente”).

A verdade na política, na arte e na vida. (“Eu quero o cinema sexual - onde o amor compõe a trama quotidiana em que se enros- cam homem e mulher”).

Corroída nesta busca solitária (“Não há que temer se somos poucos)”.

Elizabeth Souza Lobo

”Nada mais sou que um canal Seria verde se fosse O caso Mas estão mortas todas as esperanças Sou um canal Sabem vocês o que é ser um canal Apenas um canal?“

As cilaçbes de Pagu e sobre ela foram feltas a partlr do Hcro Pagu Vida-Obra. de Augusto de Campos. Edlto- ra Brasillense. 1982

Consulrei também opanfIeloVerdade&Llberdade na arquivo Edgar kuenroltwUniwscdade de Campinas.

e

Mireille Nathanmurath, psicóloga trabalhando na rede de creches públicas parisienses, questiona essa instituição, na perspectiva da família, d o profissional e da criança. Seu texto, Duas manhãs na creche, foi publicado originalmente em 1977no livro de Jacques Hassoun, Crèche: entre la mort et la famille, Editora Payot. Com certeza a reflexão sobre a instituição creche em países desenvolvidos é diferente da nossa, conseqüência de umá história mais antiga de peculiaridades culturais, de o equipamento servir a uma clientela menos pobre, e de poder contar com verbas maiores.

7 Por que então Mulherio publica a a tradução de um texto sobre creche de país UJ rico, que j á não precisa mais se empenhar -I para eliminar a desnutrição de suas 2 crianças? Coisas de feministas burguesas

e

x

que vivem a caraminholar teorias exóticas. O que precisamos é só de mais verba! O resto vem depois, ora essa! Precisamos sim de mais dinheiro para termos mais creches, com comida boa, material de estimulação e assistência de saúde; a creche precisa, sim, de verbas suficientes para poder contratar mais gente, pagar um salário equivalente u responsabilidade que se lhe pede. Mas isso não é tudo. É preciso que se pense também, e com muito cuidado, na proposta educativa da creche; que se atente para a articulação que propõe entre o trabalho da mulher, a família patriarcal e a socialização do filho. For isso Mulherio traduziu esse texto de Meirelle. (Tradução e condensação de Fulvia RosemUet-g-gl.

de mãe

B três anos eu levava meu filho s6 ate a porta dos vestiários da creche.

Um dia a diretora me ofereceu a oportunidade de passar um perfo- do com ele, em sua pr6pria seção. Era a “operaçHo portas abertas aos pais”, uma experiência tida na época como piloto e que con- sistia na possibilidade excepcio- nal, autorizada pela administra- ção a pedido da diretoria e da psicbloga, de transpor os limites da legislação.

A experiência foi analisada positivamente, mas nem por isso a legislaçao foi modificada poste- riormente e as diretoras de cre- ches não tentariam generalizá-la em seus estabelecimentos. I? pre- ciso salientar que cada creche constitui uma imagem muito pr6- xima da personalidade mais ou menos ansiosa e obsessiva de ca- da diretora. A inércia relativa de um pessoal pouco preparado a questionar seus hábitos -e tanto menos disposto a fazê-lo na me- dida em que estes hábitos são antigos e por ser essa antiguidade muito mal remunerada, em condi- ç6es de trabalhos difíceis, esta inércia fez o resto.‘

Quanto aos pais, eles se vêem como um punhado de privilegia-

dos que tiveram a rara oportuni- dade de ver a inscrição de seus filhos emergir de uma lista de espera antes da idade de entrar no maternal.

Fui então convidada uma ma- nhã de inverno a transpor os limi- tes dos vestiários, a atravessar o banheiro e me sentar num canto da sala. Ainda de pé, emocionada e acanhada, as crianças que já me conheciam do vestiário, inclusive meu filho, ficaram impressiona- das pelo caráter insólito de minha aparição neste universo fechado. fi verdade que, de tempos em tem- pos, aparecem novos rostos gra- ças ao movimento do pessoal e dos estagiários em formação, mas são rostos que emergem sempre do eterno avental cor pastel. Eu não estava de avental. E todos esses olhares infantis se voltam para mim.

Alguns se atrevem e se aproxi- mam: um me estende um brinque- do, outro toca meu vestido, o ter- ceiro se encosta nas minhas per- nas, outro quer pegar meu colar. Me sinto como que subjugada. Quase em pânico, revejo a cena do filme Barbarela, eu sou Barbarela amarrada na gruta, prestes a su- cumbir sob as mordidas dos denti- nhos das crianças - bonecos me- cânicos. O coelho bem nutrido pe- las crianças da seção (intrusão de animais, a creche é decididamen- te “piloto”!) vem roer meus sapa- tos. Mas agora, as crianças já es- tão dominadas por uma “tia” competente e dinâmica que as conduz a uma série de brincadei- ras de roda e de exercfcios de ginástica. Eu observo, sentada no meu canto.

Mais tarde, poderei me juntar as brincadeiras das crianças du- rante a meia hora de “jogos li- vres”, quando uma a uma, elas

são chamadas pelo nome e convi, dadas a escolher um jogo educati, 10, ou um dos quatro cantinhos: b o n e c a , p i n t u r a , á g u a 01; garagem.

Encontrei estes mesmos fan tasmas, esta organização do espa. ço e do tem o em todas as creche? que percorrt)mais tarde, como psi, róloga estagiária, e depois em ple. na atividade profissional. Este rit mo de atividade entre cada umz ias pausas - 9,30 h suco de frutas vitaminado; 11,30 h almoço; 15,4f h lanche, seguidas quase sempre de seçdes coletivas de ida ao b a nheiro - me parece paradoxal. mente ser o modo de defesa mair :omumente adotado para conju. rar a angústia da devoração qur não encontra nenhum lugar para se verbalizar.

Depois da aprendizagem dos rituais do saber-se-comportar-à. mesa, da limpadela nas mesas e no chão, do xixi, vem a hora dc sono. Venezianas cerradas dei- Kando filtrar o dia. As caminhar são alinhadas, as crianças descal. ;as deitam mais ou menos ruido gamente.

A voz da tia faz com que cada um se silencie; as crianças caem no torpor do sono ao som desta voz de mulher vibrante murmu. :ante, cada vez mais longe, estra nhamente familiar. Eu ainda ali ievo partir, é preciso partir. 13 o tempo das conversas e do trict sntre colegas.

Sinto uma palpitação gosto sa, sempre tão esperada desde que me lembro de mim. As crian. ças também estariam atentas? E as tias teriam alguma vez imagi, nado a emoção que suscitam err todas essas crianças, em suas co legas, na mãe ou na psicóloga aquelas deitadas, estas sentada8 na penumbra? Os odores de ali. mento, de xixi e de COCO de antes do sono pairam no ar, fntimos quentes, ruídos de roçar dos aven tais e dos lençbis pela passagem das tias.

Ah! Vocês que se amedrontam tanto, vocês que reprimem escru pulosamente as melhores emo ções, vocês já imaginaram algumr vez que a sexualidade - do fan tasma mais arcaico B genitalidadc pressentida no quarto dos pais passando pelo onanismo que ten como pano de fundo o fantasmr do corpo da mãe, passando pelr promiscuidade homossexual dc gineceu -encontra um lugar par1 viver a1 também, enquanto ester a n j i n h o s e s t ã o d e i t a d o s bem-comportados, cada um ni sua cama, uma mão sobre o len çol, um polegar na boca, os olha semicerrados?

Manhã de

asso toda uma manhã na seção dos “grandes” com a professora* e a auxiliar.

Têm a mesma idade, mas a auxi- liar de puericultura trabalha há mais tempo que a professora, pois seguiu um ciclo de estudos secun- dários e profissionais mais curto. Visivelmente elas vêm de meios sócio-econômicos diferentes, fato que envaidece a professora. Aliás, é ela quem possui postos e títulos, o que lhe faz supor que de alguma forma deveria poder compensar sua insuficiência frente prática e ao maior tempo de serviço da au- xiliar.

Enquanto lida com u m a criança, a professora me fala, mas de modo que a auxiliar escute: “NHo dá pé entre Cafarina e eu, nós somos muito diferentes: ela sabe se fazer obedecer, ela tem prática com as crianças, mas não tem teoria, e eu não estou de acor- do com seus métodos. Gostaria de tentar aplicar métodos novos, mas não ouso, pois ela não estaria de acordo e não me auxiliaria”. Catarina levanta a cabeça, paran- do toda atividade; me olha, espe- rando uma reação.

Desempenhando o papel da psicóloga, eu lhe pergunto: “O que você pensa disso, Catarina?” A auxiliar replica: “Bem, é verda- de que a gente não vê as coisas do mesmo modo, pra mim, as crian- ças, é preciso que andem direito, e depois vai tudo bem, então ...” Eu, prudente:“Mas vocês jCt tiveram a ocasião de falar dessas coisas que vocês não vêem da mesma for-

ma?” A auxiliar: “A gente sente, pra que falar? A gente só iria discutir, nada,,mais, o que não mudaria nada.

Eu não vou lhes recitar a ora- ção sobre “a magia do verbo”, enfim você é ou não é psicóloga, minha filha! Então eu: “Talvez se a gente prestasse mais atenção, Maitê, suas teorias não inovariam a ta1 ponto que fossem incompatf- veis com a prática de Catarina e até poderia acontecer que a gente encontrasse entre vocês alguns pontos comuns, nem que fosse este sentimento de impotência de se constituir verdadeiramente nu- ma equipe nas condições atuais de trabalho.”

Silêncio das duas ... Encadeio, assim mesmo, minha fala enquan- to as duas lançam olhares inquie- tos ao escritório da diretora, esgri- mindo de novo com as crianças que se aproveitam deste momen- to de desatenção para fazer ba- gunça e começam a misturar vá- rios jogos educativos. Uma bele- za! “A gente poderia talvez arran- jar um tempinho para discutir tu- do isso tranqüilamente, se vocês quiserem ...”

O restante da manhã passo brincando com as crianças, estou encarregada de observar Patrício mais de perto, Patrício escolheu a cestinha de contas, a professora lhe mostra como se deve enfiá-las no cordão. Assim que ela vira as costas para cuidar de outra crian- ça, Patrício entorna a cestinha e se diverte ao vê-las rolarem pelo chão. Cai na risada. A professora fica furiosa e grita: “Patrício, po- nha todas essas contas na cesti- nha!” “Você vê, ele é muito jovem para esta seção, ele ainda não compreende como se deve brincar com um jogo novo.” Patrfcio sai procurando as contas, mas ape- nas Dara faz0-las rolar mais longe.,

As outras crianças se distraem com a cena, olham Patrlcio fasci- nadas. Falo: “Parece até que ele reinventou o jogo de bolinhas de gude, não? Ele não devia fazê-lo”.

A professora, hesitante: “Mas as contas não foram feitas para isso e, além disso, é perigoso, uma criança poderia escorregar ...” Eis o argumento decisivo. Nada mais resta tentar!

Os brinquedos são arrumados no armário. Chega então o instan- te preciso em que as crianças de- vem se sentar em volta das mesi- nhas para esperar o almoço.

A professora me fala, ao amar- rar Patrlcio na sua cadeirinha: “Você vai dizer que não se deveria amarrar Patrlcio desse jeito.” Es- tá certo, recebo o troco, agora ela está me provocando. Eu: “Ah! Vo- cê sabe, pouco impo:ta meu senti- mento pessoal, se voc8 não encon- tra outro meio de coexistência ... Mas, sabe, o fuzil é ainda o meio mais eficiente para conseguir que alguém fique tranqüilo”. Digo isso num tom de brincadeira, e a pro- fessora também pode se sair bem rindo comigo e com a auxiliar. Muito prático o humor negro:

Na semana seguinte, surge, na hora do lanche, uma oportunida- de para tentar outra coisa. As crianças se encontram novamente sentadas A mesa, Patricio ainda não foi amarrado h sua cadeirinha na ponta da mesa, local que lhe é reservado e que prevê um bom espaço vazio entre ele e seus vizi- nhos.

A professora foi buscar não sei o que no banheiro. Para lhe ajudar, ponho suco de fruta nos copos. Chamo Patrlcio para distri- buir os copos entre as crianças. Ele fica exultante: pelo menos uma vez, pedem-lhe que “faça coi- sas” aos outros. As crianças riem,

falam todas ao mesmo tempo, es. tendendo a mão para serem servi das em primeiro lugar. Patrlcio SL demora, escolhe, todo contentt por ser assim, de repente, tão po. pular! A professora, alertada pe 10s gritos, volta carrancuda do b a nheiro: “Decididamente estas psi cólogas! Não se pode deixá-las so zinhas um só instante com aí crianças sem que elas se achelr obrigadas a bagunçar tudo ...” E certamente, foi nesse instante que Patrlcio resolveu se virar deixan, do cair o copo de suco que servira para uma das Últimas das 12 crianças!

A professora reaparece logc com um pano, enxugando febril mente o chão. Digo a Patrlcio “Traga o copo, vamos pôr outrc SUCO de frutas, ainda tem criancs pra ser servida.” Serviço acabado a professora amarra novamente Patrlcio em sua cadeirinha e evita me olhar - e ela não ri nem UIT pouco! Apesar disso, ainda lhe di go que Patrlcio teria ficado mditc contente de ter 3odiòo conserta] ele mesmo seu desastre enxugam do o chão. Mas para quê? No con. texto de nossas relações hierfir. quicas - quer eu queira ou não - de psic6loga h professora, minha iniciativa só pode ser compreendi. da com uma destas liçóes de peda” gogia pelo exemplo, pela demonq. tração, uma das piores formas de lição a receber. Foi então um erro um erro “psicoiógico” e cometido por uma psic6loga.

Mas o que estou fazendo aqui, afinal? O que é que todas essas pessoas esperam de mim, cada uma delas, Maitê, Catarina, as crianças, a diretora, as outras tias e a instituição? O que é que eu tenho vontade de fazer, de viver com eles?

* JardtntBre no original.

Um gineceu para crianças pequenas

oda a organização da cre 1 che é concebida para lem brar ao pessoal que elas

devem se defender de um investi mento llbidioso muito grande em suas relações com a criança, E qual nada mais é que o objetc suporte de seu trabalho assalaria. do. Oficialmente, a argumentaçãc para esta interdição refere-se aos pretensos traumatismos aos quai: B criança estaria automaticamen te exposta pela separação cotidia, na e precoce do convívio com sua mãe, corolário da vida em coletivi. iade.

O encadeamento do discursc 3ficial é o seguinte. “Para que a ireche não traurnatize a criança, 6 necessário que ela lhe forneça ao mesmo tempo uma afeição e uma segurança de tipo materno e res. 3eite a ligação privilegiada mãe. :riançs. Pois não se trata, acima ie tudo, de tomar o lugar da màe irata-se de oferecer o melhor dos 3rodutos posslvtis de substi. ;uição”.

A partir da eventualidade de ima posslvel angústia de separa- ;ão, prognostica-se um traumatis- no, sem mesmo refletir e imagi- iar condiçdes para que os pais rivam a separação com um mlni- no de angústia.

O reconhecimento da necessi- iade de uma criança estabelecer -elações afetivas com aqueles que :uidam de seu corpo passa a signi- icar relação materna, concluin- io-se necessariamente pelo subs- ,ituto da mãe, pessoal exclusiva- nente feminino, como a legisla- :&o continua a exigir. Finalmente, iantifica-se a interdependência iocialmente privilegiada mulher- nãe-criança, emitindo-se o dis- :LUSO familiarista: “sobretudo iBo tomar o lugar de ...”

Assim espera-se que estas mu- heres, estas tias, amem no gine- :eu, como outras no bordel, e que :vitem desejar as crianças de o u r a mãe.

Conseqüentemente, o encon- ‘ro com a criança se inscreve num rocesso duplamente pedagógico ! portanto ideológico, aquele do ‘técnico da 1‘ idade”: 1) instru-

pr lmeh, educação so- w a ; Z1.c

vendo transmitir o saber-fazer & mãe que se supõe não detê-lo, confirmando assim o direito e o dever da mulher posse de seu filho no interior da cédula fami- liar.

Assim a vida da criança no grupo de outras crianças fica reta- lhada, & imagem de sua vida as- sim fechada entre essa instituição creche e a instituição familiar, A imagem do que será sua vida so- cial de adulto,

A partir da constatação que a máquina emperra, conclui-se pela necessidade de intervenção dos supertécnicos da pequena infãn- cia: os psicólogos encerrados com seus diplomas neste mesmo dis- curso ideolbgico.

Do lado do pessoal da creche é, então, necessário amar sem pra- zer as crianças. Aumenta, dai, a tentação de se inventarelr. preten- sas satisfações éticas por ver os bons resultados destes esforços no campo da higiene e da pedago- gia, resultados obtidos mais rapi- damente ainda que em casa gra- ças emulação, fator oh! quanto bem-vindo de reabilitação da vida coletiva. O dever do trabalho bem feito, a ordem, a limpeza, o resui- tado rapidamente obtido e bem visível sobre esta matéria viva que é a criança, eis o modelo cui- turai que se propóe oferecer as gerações de crianças, vagas sem- pre idênticas que entram por uma porta da seção em tal mês e saem por outra com uma bagagem de alguns meses e algumas aquisi- ções a mais (sabiamente dosadas, cuidado com a estafa!.

As geraçdes de crianças atra- vessam, assim, toda a construção da creche, entre 2 e 36 meses, como qualquer produto acaba sendo construido na fábrica pelas diferentes etapas da linha de montagem.

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~.

. elhice é um m d o de sentir frio que me assaira e uma certa acidez. O modc de um cachorro enrodilhar-se quandoa casa se apaga e as pessoas se deitam. Divido D dia em três partes: a primtira pra olhar retratos, a seguída pra olhar espelhos, a últimx e maior delas, pra chorar. Eu, que fu i loura e lírica, não estm pictural. Peço a Deus, em SOCQTTO da minha fraqueza, abrevieesses dias e me conceda um rosto de v e l h mãe cansada, de av6 boa, não me importo. Aspiro mesmo com impaciência e dor. Porque sempre há quem diga no meia da minha alegria: ‘‘pcie o agasalho” “tens coragem3” “por qae não vais de bculos?” Mesmo rosa sequíssima e seu perfume de p6, quero L que desse modo é doce, o que oe mim diga: assim e. Pra euparar de temer e posar pra um retrato, ganhar uma poesia em pergaminho.

Adélia Prado

esaprendi ?-i-- Uma senhora muito doce, sem-

pre composta. uma dessas pes- soas incapazes de dar um grito ou uma gargalhada mais alta.

I Prestatilia, educada, a qual- ~ .,:’; quer hora do dia vestida de

maneira conveniente - muito elegante. em tons pastéis. Uma mulher boni- ta, bem casada, com um engenheiro bem-su- cedido, com três filhos - dois homens, uma mulher - também j á casados. Uma vida certinha, dessas que não comportam nenhum imprevisto.

Essa é a imagem que eu sempre tive de dona Mariana, 57 anos. mãe de uma conheci- da minha. Um dia a encontro casualmente e ela me conta: ‘,Eu também estou separada, você sabia?“ Uma história dolorosa: um belo dia, o marido chega em casa e diz que nunca a amou. que esses 34 anos de casamento não valeram de nada, que está apaixonado por outra e vai sair de casa.

Dona Mariana diz mais. Conta da dor, da dor profunda, da humilhação da rejeiçóo, mas conta também que está fazendo agora coisas que nunca fez antes. e com as quais tem um enorme prazer. Uma delas: sozinha em casa. a noite, quando as empregadas já foram embora, põr um disco na vitrola, bem alto, e dançar, dançar, ir tirando a roupa enquanto dança, ir sentindo a música em seu corpo e em seu movimento. Sentir-se em movi- mento.

Masquei com ela uma entrevista para o Mulherio. E é isto que estb aqui: uma estória de uma mulher doce, cheia de energia e de vitalidade sufocadas. A conversa foi muito emocionada, mas s6 em um momento ela deixou essa emoção escapar em choro. Foi quando disse:

“Eu sempre fu i muito expansiva, alegre, barulhenta, gostava de cantar, de dançar, de brincar, de gritar de alegria e ele sempre reprimia, dizia, ‘psiu. cuidado com o vizinho: Se eu risse mais alto, ele j á me chamava a atenção, era uma pessoa completamente to- lhida. feEhada. Eu tocava um pouco de vio- lão, cantava. Deixei tudo. i2 que nem a perda

E de identidade. Imagina se você está cantando 0 e alguém faz ‘psiu’, perde a graça. Eu ficava

tão aborrecida! Eu achava melhor brigar e Lu não brigava, simplesmente desaprendia &e z’&mtar. Essas coisas dáo uma tristeza ... Eu 3 achava que, pela minha família. pelo meu X lar, tudo valia a pena, entende?”

Q2 ‘i

Sua história: “O Flávio não foi o meu primeiro namora-

10, não. Tive muitos rapazes que queriam me iamorar. Eu sentia mais atração pelos rapa- :es mais soltos, extrovertidos, aventureiros, nas a aventura era uma coisa que me assusta- ia. Então todos os rapazes que gostavam de nim. e que eram muito sensatos, eu não ientia atração. Chegou um ponto em que Jensei: Vou me aventurar? Aí acabei aceitan- lo o Flávio porque achei que era uma pessoa jensata, equilibrada, e gostei dele realmente. ;e bem que no começo eu não tinha atração ior ele.

Nós namoramos quatro anos e quando ‘icamos noivos ele pediu que eu parasse de rabalhar. Eu era secretária-executiva e já rabalhava há seis anos num escrit6rio. Eu era nuito bem-sucedida, considerada, respeitada, Zanhava muito bem e nunca tive nenhum aborrecimento no setor de trabalho. Mes ele 3ediu para eu parar, acho que ele se sentia iiminuído, porque inclusive eu ganhava mais lo que ele. Ele disse que se eu fosse uma xofessora tudo bem, mas uma secretária exe- :utiva ... Então eu aceitei, achei que ele tinha :mão, eii cGncotcM que blugai-da mulher era ientro de casa, n0 lar, criando-os filhos. Se ,em que eu não gostaria de ter largado mes- no naquela época, porque eu tinha muita

energia para gastar. Eu daria conta perfeita- mente da casa e do serviço.

Depois vieram os filhos e toda aquela minha energia eu dedicava pra eles, inclusive acho que até prejudiquei, porque eu fui super- protetora. Eu fazia tudo, até pôr o leite na xícara. Se iam viajar eu arrumava a mala, fazia tudo, até os imprevistos eu queria prever tudo. Tive muito problema com os filhos por causa disso, mas felizmente eu me libertei. e hoje o nosso relacionamento é excelente.

Todos esses problemas, ele sempre esteve alheio, totalmente dedicado ao trabaiho dele. Ele sempre foi uma pessoa muito correta, muito sensata, mas fechada. Ele trabalhava muito, pegava o ordenado inteiro e punha na -, gaveta, eu é que administrava. Então eu gos- tava demais dele e achava que ele era uma pessoa honestíssima. Nunca foi mesquinho, nem quis saber o que eu gastava ou deixava de gastar. Por causa dele ser fechado, eu cheguei a propor separação no começo da nossa vida. Mas ele dizia: “Não, 12 a minha maneira de ser, eu gosto muito de você, eu traduzo o meu amor no meu trabalho”.

* ’ Então eu via que ele era assim quieto efui ‘m’e moldafido .ii@ssa’tnaneira. Deixei de-set o que eu era para ser mãe, esposa, dona-dezcasa. E também ajudava ele. Tudo que ele escrevia para apresentar nos simp6sios, congressos, eu

tinha de redirrir de novo. po!’quc 3 reCh:&C dele era muit6 confusa, não era só um traba- lho de datilógrafa.

Em casa sempre teve máquina de escrever e eu trabalhava lá mesmo, a tarde, enquanto as crianças estavam na escola, e muitas vezes b noite até muito tarde, porque de manhã não dava tempo. Eu gostava de me sentir útil na carreira dele, de ajudar.

Quando eu estava angustiada porque os meninos estavam crescendo e eu não era mais tão necessária, um dia eu estava na missa e o padre falou que feliz é aquele que diz: “Eis aqui. senhor, um servo totalmente inútil”. quer dizer, já cumpriu sua missão. Então, o fato de eu estar me sentindo inútil queria dker que eu já tinha cumprido minha missão com os meninos e poderia partir para outra, porque a gente tem de fazer com que ninguem precise de gente. Neste sentido de que você pode fazer tudo pra todos, mas que ninguém seja imprescindível. porque as pessoas têm de ir pra frencc e encontrar seu caminho.

Nesta época, eu procurei muito palestras de atualização, espiritualização. Procurei aju- dar também na paróquia. Mas não tenho habilidade manual, esse tipo de serviço que

, , . tem muito nas paróquias. de costura, essas .coisas eu não sei. Fiz tanibém um trabalho de tesouraria pra entidade social, até que sai.

-

para ajuciar unia pessoa doente na faimllia EU comecei a perceber que a casmurric

do Flávio estava pior e vi que tinha algum coisa estranha no meio. Isso foi durante ur seis meses. Ele fechado. Até que no fim e perguntei: acho que está na hora de encarar que está acontecendo, Ai ele me contou chi rando que estava apaixonado por outra mi lher que eu podia expulsá-lo de casa, que e era um covarde e não me amava. Não tendo que dizer de mim, um motivo, ele disse q l nunca me amou. E eu falei: “Escuta, vo( esperou 33 anos pra dizer isso?” “E, eu sou UI covarde mesmo.”

Eu cheguei conclusáo de que ele s casou comigo pra se promover socialmenti porque ele é descendente de italianos. eu so de f a m a tradicional. Durante o namori uma vez ele falou que só ia passar aque: complexo de imigrante no dia que ele casas? com uma pessoa de famíiia tradicional. Iss ele me contou, mas disse que já t i a super: do. Na nossa separação, cheguei a conclusá de que não t i a . Ele disse que no dia qL casou comigo estava triste. Que a máe de perguntou: “Meu fiiho. o que e que você tem: e . , que.. .ele..,ngo teve. corag81n.de.dizer pi

,‘.mãe,, e. respondeu:. :‘Não, estou preocupac ..com a viagem.” Isso eIe me contou chorandc

, I ,

, .

Durante o casamento ele não falava “eu te amo”, essas coisas. Mas se eu quisesse ter uma conversa em profundidade ele recuava, dizia que era a sua maneira de ser. De qualquer forma nós fomos fellzes dentro desse, como se diz? desse modo de vida, das alegrias com os filhos, da convivência. de ver os meninos crescerem.

Quando ele me contou que estava apaixo- nado por essa moça, 20 ano mais jovem que ele, ele conversou comigo como se eu fosse mãe dele, contou coisas ate intimas dos en- contros com ela. tudo que ele nunca conver- sou comigo. a nosso respeito. Agora vocg v+ Ele me disse tamhém que se fosse o contrário, se fosse eu que tivesse me apaixonado por outro homem. ele me mataria. não porque me amasse, mas porque era machista. tinha ciú- me, não gostava de perder nada. Ele me repetiu várias vezes que me mataria.

Eu confiava inteiranienle nele. nunca imaginei que pudesse acontecer uma coisa dessas. mesmo porque ele era um moralista ferrenho. Ele sempre foi 50 moralista a ponto de proibir a filha. quando tinha 18 anos, de ir no casamento de uma moça que ia casar com um homem desquitado.

Eu sempre levei minha !.ida pautada pe- los princípios cristãos. eu não faria isso que ele fez. porque eu não seria feliz se tivesse partido pra uma aventura. Eu não me a r e - pendo da manwa c o . ~ o eu fui. porque e a maneira que está de acordo com o que eu penso”.

Dona Mariana agora esta tocando a vida para a frente. Eu ainda lhe pergunto como C; que foi a parte de sexualidade no casamento. ela responde que não foi boa. náo. “No namo- ro ele tinha loucura por mim. não sei o que aconteceu. quando casou comigo e viu que eu era inteiramente dele, perdeu o interesse. E desse jeito a parte sexual não podia ser uma coisa que compensasse. Eu suportei isso.”

No momento, suas forças estão concentra- das em responder a um processo movido por ele, em que dona Mariana vê ruir o principal ponto que segurou essa vida em comum: a honestidade do dr. Flávio. sua correção em relação ao dinheiro. Ele tenta de todas as formas ficar com a maior parte do bolo - um bolo que não é muito grande. se resume a uma bela casa em São Paulo, o salário mensal, algumas aposentadorias. O homem metódico t económico desapareceu quando foi viver com sua nova mulher, “em [rês meses ele :astou uma fortuna com ela. deu jóias, carro, terreno”.

Ela se lamenta: “Eu tinha muita vontade l e estar trabalhando numa coisa que me lesse uma independhcia. Se eu não precisas- je do dinheiro que não é dele, é meu. se eu :ivesse um meio de sobrevivência, mesmo rendo meu esse dinheiro, eu abria mão. Mas :omo pra mim é uma questão de sobrevivên- :ia, então eu vou lutar por isso até o fim. EU 2 ião vou me omitir, cruzar os braços. Já que ole me jogou na arena eu vou lutar. estou x utando, de foice, de espada, de tudo”

Adélia Borges : - - -

. - . , I . . I <

aquela pessoa amiga que sempre me faltou e deDOiS aue casamos ‘Namorar

-- EIza Lenate Rodrigues,

58 anos, dois casamentos, dois filhos, tem um

pouco de medo da velhice, mas considera que tanto

ela quanto o marido, hoie com 70 anos,são jovens ainda. Aqui, um pouco

de sua história.

-i- A mãe de dona Elsa morreu de um abor- to, o pai se suicidou mais tarde e, depois

y de enfrentar os mo- ral ismos d e s u a época, casando-se

com um homem separado e com uma filha, ficou viúva e passou 18 anos de sua vida com um único objetivo: cuidar dos filhos. Aos 44 anos se apaixona novamente e se casa. feliz? Ela não sabe dizer, mas é com muita tranqüilidade que conta sua história e chega ?i conclusão de que seria melhor não ter casado, que namorar ”é a coisa mais linda que existe”, que ela queria mesmo era um amigo.

”EU tinha 22 anos, quando co- nheci o meu primeiro marido. Ele era muito mais experiente, já es- tava com 36 e já tinha sido casa- do. A mulher foi embora com ou- tro e deixou a filha, mas isso não quer dizer que ela era uma prosti- tuta, como as pessoas ficaram achando, é que naquela época as coisas eram muito dificeis para a mulher. E foram difíceis também pra mim, pois meu pai não queria aceitar que a gente ficasse junto. Foi uma audácia, mas eu me en- chi de coragem e nós casamos, ou melhor, fomos abençoados por um padre e tivemos dois filhos. Três anos e 8 meses depois ele

2 morreu de um colapso. Foi a des- graça, eu naufraguei e nem sei $ como consegui s a i desse naufrá-

UI gio, porque ele era pai, marido e I amigo pra mim.” 3 “Ai eu comi o pão que o diabo 8 amassou, voltei pra casa do meu 4

pai e fui muito maltratada por minha madrasta. Eu Mnha perdi- do tudo e a única coisa que me fez reagir foi o amor por meus filhos. Hoje não tenho nem 10% da cora- gem que tive. Em um mês aprendi a fazer calças e comecei a traba- lhar em casa. Depois de dois anos, quando meus filhos já estavam mais grandinhos, eu tentei colocá- 10s numa escola, cheguei até a implorar, mas não deixaram eles ficar porque eram muito peque- nos. Nesse perfodo eu estava num estado de depressão muito gran- de, precisava sair, trabalhar fora. Tive que pedir pra minha madras- ta e ela aceitou cuidar deles, mas não dava comida nem banho. Mesmo assim foi bom porque eu comecei a trabalhar numa tecela- gem na mesma rua em que mora- va. Trabalhei lá sete anos e en- quanto isso os meninos foram crescendo, eu comecei a sair mais com eles e com uma turma de amigos e, apesar de sentir que faltava alguma coisa, eu tinha muita vontade de viver, sempre pensando nos filhos”.

“Nessa época eu gostei de um rapaz e até namoramos um pouco, mas ele foi muito honesto em di- zer que não queria assumir as crianças. Eu não sonhava mais, mesmo porque quando eu fui pra casa do meu pai ele falou que se eu arranjasse um homem ele me punha na rua a pontapés junto com as crianças. Hoje eu aconse- lho Bs moças que não se fechem como eu. Acho uma loucura ,ter, vivido 18 anos sd por meus Nhos. Eu senti a falta de um relaciona-

mento afetivo e sexual também, mas, é claro, como sou uma pes- soa normal, Bs vezes me mastur- bava, afinal de contas era jovem, mas até estava acostumada com a solidão”.

”Com 44 anos eu conheci o João. Ele já tinha 58 e a gente se encontrou pela primeira vez no velõrio da minha tia. Logo nos identificamos porque estávamos os dois com problemas com os filhos. O meu mais novo tinha resolvido ir morar em Ubatuba com um grupo de hippies e eu sofri bastante com isso, mas res- peitei. e a filha dele também tinha entrado na faculdade e estava descobrindo o mundo, desbun- dou, como se diz. Um pouco de- pois a gente estava namorando, ele ia toda noite me buscar no trabaiho e eu fiquei perdidamente apaixonada. Foi maravilhoso. Meus filhos acharam ótimo por- que eu estava feliz e até me incen- tivaram a casar. A filha dele, quando percebeu que a coisa esta- va ficando séria, ficou meio enciu- mada, mesmo depois que casa- mos o relacionamento com ela foi dificfl, mas hoje nós somos amigas”.

“Então o relacionamento da gente foi muito bonito, maraviiho- so, mas depois que n6s casamos houve muito problema porque ele tem um gênio que pra tomar uma decisão é uma dificuldade. A coisa foi esfriando, por duas ou três vezes eu quis deixá-lo, não por nrtda,,poisele é uma pesspa exce- lente, mas eu é que era muito carente, eu queria encontrar

parece que ele-se alistou. Antes era lindo, a gente ia pra São Se- bastião e lá era aauele namoro. tomávamos banho -junto, depois acabou isso e começou a ter muita discussão e até a parte sexual esfriou, não sei se é mágoa ou a prbpria idade, nosso relaciona- 1

mento sexual hoje é muito espa- çado. Na questão de carinho, afe- to, eu me sinto muito frustrada com ele. Não sei também se é a criação que ele teve, muito linha dura, muito machista, pela mãe dele todos os filhos teriam sido padres e eu tenho a impressão de que quando ele me conheçeu ficou apaixonado, se entusiasmou, mas depois que n6s casamos ele per- deu o interesse. fi muito complica- do porque n6s não falamos sobre isso, n6s nunca sentamos pra con- versar, ele foge, n6s não temos diálogo, nós brigamos. Hoje, dez anos juntos, eu aceitei esse jeito dele, e aparentemente tudo bem, mas sinto ainda muito vazio, Bs vezes parece que melhora, tis ve- zes piora. Mas eu já aceitei, me sufoquei um pouco, porque ele fica na indiferença então eu não sei me apaixonar também. Foi por tudo isso que a gente resolveu procurar o Sesc, onde participa- mos do grupo de terceira idade. Nós estávamos muito sozinhos e achamos que lá poderia haver uma abertura maior, mas eu tam- bém @o pensando que as pessoas da nossa idade já estão com as cabeças feitas e não têm mais jeito, existe uma certa ciumeira”.

“Quanto a nbs dois, eu assumi completamente ele, não penso mais em separação daqui pra frente, a não ser que parta dele, que ele arranje uma outra. Mas ele está com 70 anos e eu já não teria coragem de me separar. E depois ele também não é uma pessoa má, ele é uma pessoa boa, eu apenas acho que como marido não preen- cheu, falta, eu queria um amigo, que era o que eu mais precisava, porque o resto era fácil de resol- ver. E é lógico que se ele chegar e me disser que está lá curtindo uma fulana, também não sei como é que eu vou reagir. Não sei se ele está feliz também, eu tenho a im- pressão que ele vive numa redo- ma. E eu também estou mudando, antes eu tinha iniciativa, hoje eu penso muito pra fazer qualquer coisa. Eu acho que fiz uma loucu- ra casando, eu deveria estar na- morando até hoje, namorar é a coisa &ais linda que existe, não tem o peso do cotidiano. Hoje a gente nem toma mais banho jun- to. Eu me:.arrependi~.de ter me: casado”. .

’ ’ ’ Wanda Nestlehner ,.

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Menopa wsa, X

O que ocorre no corpo da mulher quando ela entra no climatério e na menopausa? Como combater sintomas

tais como “ondas de calor” e dores na vagina?

ao mesmo tempo em que condena o preconceito

que cerca o tema da sexualidade das pessoas mais velhas. Este artigo foi condensado de um

capítulo de seu novo livro, Conversando sobre Sexo.

k sobre isso que Marta Suplicy fala nesta matéria,

As mulheres idosas, quando solteiTas, desquitadas 01: viú- vas, enfrentam um

i. preconceito ainda .i; maior do que o ho-

V I mem. Nada se espe- ra delas além de que tratem bem os sobrinhos, cuidem dos netos e fiquem “no seu lugar”. Coitada da senhora de 50 anos que se embo- necar, quiser sair, e não aceitar somente o papel de av6. Mas, se pensarmos que esta mulher pode ainda viver 30 anos ou mais, dá para ver o ridfculo desta proposta de enterrar viva para a vida e o sexo uma mulher desta idade. Principalmente numa idade onde não existe mais o problema da gravidez, onde a mulher já tem a cabeca feita: ela sabe do aue EOS- ta e Ó que quer, e teria a chance de ser mais independente do que ja- mais o foi.

Existe na nossa cultura uma falsa Idéia de que o(a) velho(a) não tem desejo ou vida sexual. Esta premissa é semelhante B teoria do começo do século, de que a crian- ça não tem sexualidade. Freud sofreu violentas críticas quando ousou questionar esta crença. Da mesma forma a sociedade hoje tenta tenta negar a sexualidade do idoso.

O potencial para o prazer er6- tlco parece começar antes do nas- cimento e não se extinguir até a morte. Obviamente existem mu- danças biol6gicas assocladas t~ idade. Como também não se ocor- re em volta do quarteiráo com 60 anos como fazia aos 18; mas che- ga-se lá da mesma forma.

Os 20 anos são a idade de maior atividade sexual da mulher, e os 40 anos a Idade de maior responsividade. Conjectura-#e que este.dado seja devldo 9 ru1t.u-

ra e educação, na medida em que a mulher é ainda criada de forma repressiva e talvez s6 se liberte ou avance nestes preconceitos bem mais tarde na vida. Ap6s o pico da resposta sexual da mulher, que ocorre entre 3 5 4 2 anos de idade, segue-se um declfnlo. porém bem mais lento do que o do homem.

As principais mudanças físi- cas na sexualidade feminlna, fora a puberdade, ocorrem no ciimaté- rio, que é a fase de transição entre o período fértil e a velhice da mulher. Nesta fase aparece a per- da progressiva da função ovaria- na. O climatério começa com a Lrregularidade nos cicios mens- truais. !? a pré-menopausa e pode durar de meses a anos, dependen- do do organismo. A menopausa significa a parada da menstrua- ção ao redor dos 45-55 anos.

A cessação abrupta do funcio- namento ovariano produz uma queda drástica na produção de estrogeno. Como conseqüência ocorre uma atrofia da mucosa va- ginal, o que pode tomar a relação sexual um pouco dalorosa ou pro- vocar sangramento nas paredes da vagina, uma diminuição na iu- briflcação vaginal, tornando a pe- netração mals diífcil. Podem ocor- rer também mudanças na estabili- dade emocional, que diminui, a

de fibromas u’terinos, displasia mamária, crescimento imprõprio do endométrio e pode também aumentar a velocidade do cresci- mento de tumores cancerigenos das mamas, e, em especial, do endométrio, os médicos têm de tomar muitos cuidados na reco- mendação do seu uso. Mulheres com familiares que apresentaram câncer de mama devem evitar o uso do estrogênio, assim como as que sofrem de insuficiência car- dfaca, hepática e de diabetes, e as que têm propensão a tromboses vasculares.

Uma alternativa para a dimi- nuição da dor na vagina durante o ato sexual é o uso de cremes que contêm estrogênio. As alterações do tipo “ondas de calor” podem ser controladas com drogas não hormonais. Jl possivel, apresen- tando resultados positivos, o tra- tamento com outros hormónios que não o estrogênio.

Na0 e cimo se a extensa0 aes- fiem de instabilidade vasomoto- tes sintomas são produzidos pelas ra, que são as chamadas ‘’Ondas mudanças do equilfbrio hormonal de calor” ou “fogacho”, dor de ou são sintomas programados psi- cabeça, dor quando urinam ap6s cologicamente, levados pelas ex- a relação, tontura, palpitação pectativas da sociedade quanto B ou dor nas costas. menopausa. Desde mocinha,

Estes sintomas podem ser ali- aquela mulher ouve o que vai viados com orientação médica, acontecer na menopausa. Geral- através do uso de estrogênios. En- mente muita bobagem, exagero, tretanto, como este tratamentcv , criando medos que a predispõe apresenta também desvantagens’ psicologicamerite a s‘entir uma como estimulacfio do crescimento porção de coisas concomitante-

.

mente a esperar o fim da sexuaiI- dade com o fim da capacidade de reproduçao. E isto não tem nada a ver, como bem colocam os pesqui- sadores Masters e Johnson: “Não há razho pela qual se deva esperar que o marco da menopausa embo- te a capacidade, o desempenho ou o impulso sexual da mulher”. “Não há limite de tempo traçado pelo avançar dos anos B sexuali- dade feminina.”

Mas nem tudo é tão simples. Com lembra Simone I% Y~suvoir no livro O Segundo Sexo, o drama feminino na terceira idade é justa- mente o interesse da mulher pelo sexo, enquanto os seus compa- nheiros começam a perder esse interesse. Nesta idade, a mastur- bação retoma a importância que teve na adolescência, não por es- colha, mas por ser o ue resta.

O que me parece7mportante deixar claro é que, a esar de ocor- rerem mudanças fisgas neste pe- rfodo para a mulher, a menopausa não é doença. Algumas vão sentir mais estas modificações, outras menos. Apenas 20125% sofrerão conseqtiências’que justifiquem a ~

indicação de medicamentos. O que determinará como a mulher viverá esta idade está na sua ca- beça. Como ela se sente: ainda atraente, valorizada, útil ... e esta percepção será também infiuen- UJ ciada pela sua famíiia e, principal- 3 mente, pelo seu companheiro.

Marta Suplicy 2

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R

Mulher, Mulheres. Organizadoras: Carmen Barroso c Albsriina Oliveira Costa. Editora CorfedFundaçáo Carlor Chagas, 1983, 135 paginar.

Foi preciso que um movimen- to social impusesse a categoria sexo como variável sociolõgica para que as mulheres fossem en- fim estudadas pela ciência, dei- xassem de ser apenas “bicho es- quisito”. Abertas as primeiras portas, trata-se agora de repensar as propostas te6ricas e metodoló- picas que foram suporte de uma ciência assexuada. Muitas per- guntas permanecem: por que as mulheres estão quase sempre au- sentes das lutas sindicais? Para que serve o trabalho feminino? Quem fez a Nstória das mul;ieres?

Os seis artigos da coletânea Mulher, Mulheres, resultado de pesquisas financiadas pela Fun- dação Ford, com apoio da Funda- ção Carlos Chagas, falam das ope- r l i a s de ontem e de hoje, da< amas de leite que cuidaram de nossos avós. de uma rebelde es- quecida e das musas musicais que alimentam nossos sonhos ...

As pesquisas de Cheywa Spin- dei sobre o trabalho feminino na indústria do vestuário e a de Amé- lia Teixeira e seu grupo sobre a trabalhadora a domicflio, t am- bém na indústria do vestuário, são exemplares na elucidaçâo da relação mulier/trabalho produti- voitrabalho reprodutivo, mostran- do como o s i s tema capitalista “usa” e rentahiliza as caracteris- ticas d a mulher trabalhadora.

Os estudos mostram ainda co- mo este trabalho “produtivo” se articula com o trabalho “reprodu- tivo”, doméstico, sem modificar a situação das mulheres. São todas, como diz Cheiwa, “costureiras, máes e mulheres”.

Hoje, como na 1’ Repúbiica, acrescentam Valéria Pena e Elça Lima, em sua pesquisa sobre as operárias têxteis naquela época. As autoras reconstituíram a parti- cipação das mulheres na força de trabalho empregada na indústria têxtil e a participação destas mu- lheres nas lutas operárias, no iní- cio do século. Para elas, esta parti- cipação é iius6ria: as mulheres estavam afastadas da liderança das lutas e a figura feminina que emergia ainda era a da “frágil companheira” que precisava ser protegida. Porque antes de ser operária ela era mãe - mãe operá- ria, mulher operária.

Voltamos assim fi esfera da 2 reprodução. E nela encontramos

as amas de leite que Eiizabeth 2 Magalhães e Sôda Qiacomini es- LU tudam. A escrava e a ama de leite I, “existem para substituir a senho- 3 ra”, como hoje “a empregada do- s méstica substitui a patroa” (ver

! .’1u Li! E R

Suely Aimelda em Colcha de Retr lhos). Asslm. na esfera da reprodt ção se repetem as relações d opressão, características da socit dade escravocrata. As relações s( ciais entre grupos, classes e sexa se dão todas no quadro da opre: são e d a desigualdade vfgentr Até a maternidade, relação “nati ral”, pode-se transformar em rel: ção de dominação para umas d ser dominada para outras

V!ro a pAgina e drt;cubro er cantada a personagem de Mari Lacerda de Moura revisitada pc Miriam Moreira Leite. Maria, um mulher “iluminada” em busca d autonomia intelectual. afetiva economica. que falou da matem dade. da contracepção, de amor de liberdade nos anos 30 e tev sua voz abafada. foi esquecidí censurada.

Quem tem medo de Maria L: cerda Moural Minam sugere qu não foram s6 as TFPs de todos c tempos. Out ro obscurantismc sob a forma de sectarismo de e! querda, condenou a figura libert! n a de Maria (como também cor denou Pagu). Porque Maria prc tendeu sonhar livre de escola: livre de iLTejas. livre de dogma: livre de academias, livre de mulc tas, livre de prejuízos govern; mentais, religiosos e sociais. Tã anti-social quanto possível. Aí e! ta o problema: uma “iluminada que pretende pensar amor e belc za também pode ser subversivz

E da oposição entre rebeldes conformistas, nem as musas escr pam. diz Eliane Robert Morae: Nestas cantadas musicais as rc beldes viram pecadoras e as resil nadas viram santas. Parece qu no imaginário somos pecadora e ou santas, amantes e o u tra çoeiras. Somos musas ilusórias - diria a Valéria Pena. Até que supermulher venha nos restituir glória. mudando o curso d a histc ria. E para isto as mulheres. autc ras e atrizes desta antologia. terá certamente contribuído.

Elirabcth Souza Lobt

keche. Suplemento dor Cadernos de Pes- iuisa. Fundagão Carlor Chagas, 43, No”. 982. 47 pgs.

Sintese dos depoimentos e deba- 2 s ocorridos durante o Encontro Na- :ional de Creches, realizado em se- ;embro de 1982 pelo Departamento de Pesquisas Educacionais da Fiindação 2arlos Chagas, esta publicação cons- ;itui um passo a mais no delineamen- :o de uma tendência que já vinha se Psboçando em simpósios e congressos interiores sobre o tema: a abertura de ?spaço para a voz submetida e rebel- ie da mulher operária, da trabalhado- .a rural, da empregada doméstica, .ado a lado com o relato da aeroviária. ia jornalista, da fiscal do Ministério io Rabalho, da administradora e do %cnico, unidas em torno da necessi- iade de educar e proteger a criança 5 e q u e n a.

Vários ângulos fundamentais são abordados: o da urecária leeislacão Lrabalhista que. p& omissão Õu &bi-

de, acaba sempre favorecendo Datronal: o da inadeauacão

lagrante-dos terÍnos dos conh ios , gerados no isolamento dos gabinetes;’ I da iniciativa sindical, na cidade e no :ampo; o da organização de associa- ;óes de bairro, em sua surpreendente :apacidade de mobilização e de criti- :a na busca de programas pedagógi- :os alternativos. Painel de uma gama .muspeitada de iniciativas oficiais e sobretudo populares no enfrentamen- to da questão da creche, não pode- riam estar ausentes temas polémicos :omo a localização da creche, a atri- buição e a cobrança de responsabili- iades. a política de atendimento, a natureza da programação educativa.

Um saber acumulado pela expe- riência vivida nos mais variadoi pon- tos do pais vem demistificar a simpli- ficação indevida e retificar o irrealis- no da visão oficial: não basta que se

abram creches. Mães que teoricamen- te poderiam beneficiar-se das creches não as utilizam. Por que? Desinteres- se pelos filhos, ignorância. dirão os ideólogos. A distância, a despesa im- possível com mais uma conduçao, os horários inviáveis. os dias de chuva e lama, os õnibus superlotados. a des- confiança, dizem as sofridas mães, numa lição inesquecível.

Impossível fazer esta leitura obri- eatória sem um misto de indimacão. surpresa. esperanca e apreensão. $ preriso estar atento para que a creche não se transforme num instrumento a mais de extração da mais-valia. A luta é ampla e contínua, num embate desi- gual. Neste contexto, torna-se vital a discussão. que fecha o Suplemento. sobre o papel do técnico; afinal, a dominação também se escora na ação daqueles que se consideram detento- res de um conhecimento superior, porque cientíiico. Os participantes do Encontro sabem disso e se preocu- pam. Por isso mesmo. seria um retro- cesso se a Fundação, através de seus técnicos, tal como sugerido por um dos participantes, chamasse a si a responsabilidade pela organização e simplificação das iniormaçóes para um movimento que vem sendo tão bem conduzido com a participação essencial das classes populares.

Maria Helena S. Patto

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Colette Dowling. jornalista e es- critora, mke-sozinha de 3 filhos, inde- pendente e responsável, descobre ao casar-se pela segunda vez que no fun- do deia mesma dormia a Cinderela,

.esperando o príncipe. Durante toda uma vida ela lutara,

enfrentara o cotidiano, o trabalho, a casa, os fiihos, a solidHo. Paradoxai- mente com a paixao e o casamento com um companheiro, veio a apatia. A muiher consciente, liberada. bata- lhadora. Interessada no mundo e na vida, transforma-se numa muiher apenas preocupada em conservar sua felicidade doméstica. Da constataçko dessa perda da independência, da am- biçko e do respeito prliprio. da desco- berta dessa Cinderela, nasceu este livro.

Decidida a enfrentar a verdade sobre si mesma, Colette mergulha nos condicionamentos que envolvem as mulheres Analisa, pesquisa, estuda. E descobre o medo, a fuga, o acomo- damento no fim do túnel

“ ... LB estava ele, o Complexo de Cinderela. Antigamente ele atacava meninas de 16 ou 17 anos, impedindo- as muitas vezes de cursarem uma faculdade e empurrando-as para o ca- samento. Agora ele tende a atacar as mulheres já com curso superior, após terem experimentado o gosta do mun- do, Quando as primeiras sensações inebriantes de liberdade se dissolvem e a ansiedade toma-lhes o lugar, as mulheres começam a ser Incomoda- das pelo velho anseio de segurança. o

mais inesperados. Como se fosse im- possível romper definitivamente o cerco do sonho e do mito. Sua tese é de que devemos lutar com todas as forças contra este “inimigo interior” que subsiste, apesar do avanço do feminismo. Devemos estar atentas e saber identificar a armadilha do medo

quando ela se apresenta. O grande medo de ousar, de se destacar. de ter de ser sempre eficienteÇ,W ousamos sê-lo uma única vez. O medo de com- petir, o medo de existir independente- mente de um homem.

As feministas americanas ataca- ram quase unanimente o livro. Viram nele um desvio psicologista. entre ou- tras coisas. Colettefoi também acusa- da de mais uma vez culpar a s próprias mulheres pela sua opressáo e de não oferecer soluções para o problema da dependência do sexo feminino. desèjo de serem salvas.”

Segundo Colette esta “sindrome” Ela por sua vez retrucou que se ataca a grande maioria das mulheres náo somos responsáveis pelos nossos de todas as idades, nos momentos condicionamentos, devemos ser res-

ponsáveis por lutar contra eles. Um livro polêmico. pois. Mas que

aponta para questóes cruciais Que muitas vezes omitimos até mesmo no nosso íntimo. Náo basta sonhar com uma vida livre, igual. indepen- dente. ?2 preciso vivê-la plenamente.

Elisabeth Vargas

Minha Müe. Meu Modelo, do Nancy Fridsy. traduçio de Gitelie Torós. Editora Record. 1982, 386 páginas, Rio de Janeiro.

Com mais de três milhões de exemplares j á vendidos nos Esta- dos Unidos, chega agora ao Brasil Minha Mae. Meu Modelo, de Nan- cy Friday - um importante livro

,sobre o relacionamento entre mãe e filha. escrito a partir da expe- riência pessoal da própria autora e de entrevistas com mães, filhas, psicanalistas, sociólogos. gineco- logistas.

Ao mostrar a mãe vista pelos olhos dos filhos, Nancy Friday po- de surpreender aqueles que acre- ditam que o “martírio” da mater- nidade é o papel correto: os filhos Nancy FfidaJr lembra que amam a mulher realizada. feliz. no diferentes papéis que nossos pais lar ou fora dele, e encontram nela desempenham no inicio de nossas uma visão otimista para seu pró- vidas nos ajudam a explicar por

que ate as mulheres voltadas para prio futuro. “Sinto o r r d h o de minha mãe suas carreiras e uara o sucesso se

quando a vejõ crescendo e fazen- encaixam em pápéis domésticoe do aquelas coisas que devia ter quando se casam: nossa mãe c o feito há anos”, diz Nancy. “ISSO dá meçou a nos ensinar como sei muito significado a todos aqueles mulher e esposa muito antes de anos que ela passou me criando. nosso pai entrar em nossa vida Sinto mais orgulho disso do que para nos ensinar como ser uma

,de outra coisa qualquer: que mi- pessoa bem-sucedida n o t r a . nha vida deu a minha mãe uma balho”. segunda chance“. Ao ajudar outras mulheres a

A mulher que procura ser uma terem compreensão dos proble boa mãe. mas não abdica de uma mas da “simbiose” entre mãe E vida própria. alivia os filhos da filha,a autora finaliza advertindc idéia de ter se sacrificado por eles. que “nossa tarefa como adultos 6 Ao expor os filhos a um número compreender o passado, aprende] maior de “modelos”, além de si suas lições e então deixá-lo para mesma, abre suas perspectivas. ., p s . Cu lP .nossa mãe 2 ?Pena: expandèseu,mnndo r pemijte’que;:.um-mo,do :xgatiro,’ de continuar receSAm &di$,ambr de oiitias,pes- . m o 9 agWa8as a ek”. soas difere:;irs. . , , FI‘., >ienna’.Barret?

i As Mulheres de Tijucopapo, de Marli..

no Fellnto. Editora Par. e Terra, 1982, 133 páainas, Rio de Janeiro.

Com apenas 24 anos, sainab d a Faculdade de Letras d a USP, Marilene Felinto ganhou o prêmio JabutiBZ de revelação com seu primeiro livro, As Mulheres de Ti- jucopapo. Como bem disse Marile- na Chaui, este é u m “livro bfbli- co”, porque busca as origens da memória feminina, na sua infân- cia, nos seus choros, desejos e anseios.

Escrito numa linguagem ex- cessivamente metafórica, sob o pique da r eva . da fúria, da falta, da denúncia, o livro encobre e descobre o monólogo furioso da solidão e do abandono. O mon6lo- go é uma escolha feliz do narra- dor-personagem, pois parece ca- racterizar o discurso da mulher frente h contemplação de seu mundo.

A busca do monólogo e da evasão se direciona ora para o passado mftico da vida uterina, ora para o presente em que apare- ce a figura de “uma menina senta- d a no trono” e nas perspectivas da estrada de “avistar as flores ver- melhas”. A narrativa é o tempo todo sustentada pelo desejo de “chegar lá”: “Quando eu chegar lá, com certeza, já terei visto flo- res, quero ver flores vermelhas, quando eu chegar lá depois de ter passado por canteiros de flores”. . A.rqáo..p+desespero é a per- d a do-amor de J o m s , ~ , O ; m m m amado, uma. perda .insuportávei,. . descrita numa voracidaae de bciio

tamanha q u e s6 o amor com- preende, tal como acontece no conto “O Búfalo”, de Clarice Lis- pector.

A razão d a esperança é o en- contro de um novo homem a ser amado: “Foi no capim que e u amei um homem, eu deitada com todos os atos que deitara antes com outros homens ... eu era intei- rinha do homem, eu era toda toca- da, eu estava dividida em milhões de células elétricas, eu estava sen- do varrida e invadida como s6 a água do mar pode me varrer.”

Neste instante, a agressivida- de do discurso e sua amargura cedem lugar ao lirismo extremo e erõtico. Ela deixa para trás a fú- ria, a autopiedade, a podridão d a C, sua hist6ria e da “menina sentada no trono”, e vai ao encontro d a g terra e do corpo, naseendo a nova f mulher capaz de avistar as flores. =I

Marlene Bilenkv. S

R Administrando a crise

“A dona-de-casa 6 hoje a administradora mais competente deste pafs, costuma dizer o jornalista econômico Joelmir Betting. Para fazer jus a esse título nestes tempos de crise, ela está precisando fazer uma ginástica incrível, conforme constatou uma pesquisa da agência de publicidade Salles Interamericana. Essas são as mudanças de comportamento das donas-de-casa detectadas pela pesquisa: 1) Aumento das horas dedicadas ao lar, 38% das entrevistadas declarou que vêm dedicando ultimamente mais tempo do que antes para administrar o orçamento doméstico. 2) Imposição de certos sacriflcios em detrimento de algumas comodidades. Alegando

/ \

que a empregada desperdiça muito, 82,5% voltou h cozinha para preparar as refeições. Boa parte substituiu a empregada rnensalista por outra, diarista; e mais da metade dispensou o serviço de empregadas. 3) Contenção de gastos na área de serviços. 96,5% está controlando mais o tempo gasto com as chamadas telefônicas; 70% cortou os gastos com tinturaria, 81,5% tenta fazer pequenos consertos em casa, dispensando as visitas de encanadores e eletricistas. 4) Mudança de pontos de compra. 36% está gastando mais tempo para as compras domésticas, como resultado da procura de preços mais vantajosos. 5) Redução do volume de produtos adquiridos em cada compra. Com ò dinheiro curto, as compras são mais freqüentes. 6) Substituição por marcas de menor preço. Ninguém mais é fiel &s marcas tradicionais, quando o que conta é um bom preço. (Extraído do Suplemento Mulher)

Belas formas (redon- das) femininas rendem preços melhores no mer- cado. Belas formas femi- ninas devem ser redon- das. Dizem. Todo femi- nino é redondo? Que a Xuxa aceite se travestir-se (como já escrevi em outro número do Mulherio) para corresponder ao conjunto das fantasias masculi- nas sobre a mulher, é problema s6 dela. Que os travestis de São Pau- lo se matem com aplicações letais de silicone, tentando obter corpo de Xuxa, virou caso de polícia. PrisBo para os vendedores da dro- a ga (silicone industrial), para os inescrupulosos aplicadores que $ ganham a vida prometendo a f6r-

UI mula mágica da beleza feminina a Jj homens e mulheres que querem se

livrar de tudo o que neles é angu- loso, reto, magro. E adquirir os

signos da feminilidade: seios re- dondos, rosto redondo, quadris re- dondos.

Um caso de policia: a solução imediata (se a polícia pauiistana for solução para alguma coisa) para estancar a série de mortes horrorosas provocadas pela infil- tração de silicone nos tecidos. Um caso de ideologia, de combate il praga emocional que gera a venda dos corpos sexuados, a bolsa de valores eróticos, o consumo dos signos do macho e da fêmea, a apropriação do corpo alheio que ostenta estes signos. Os travestis são apenas a bandeira trágica da humilhação por que passamos to- do(as) 116s. EU, você, leitor e leito- ra: quantas vezes já nos mutila- mos de corpo e alma na tentativa de corresponder aos padrões de beleza idealizados para o nosso sexo? Maria Rita Kehl

Socos e chutes Um grupo de mulheres que fazia em fevereiro uma manifestação antinuclear em Newbury, perto de uma base aérea inglesa, agredia a socos e chutes o secretário da Defesa da Grã Bretanha, Michael Heseltine, que chegava ao local com sua mulher para participar de uma reuniáo do Partido Conservador. Com as calças rasgadas, Heseltine disse, depois: “Foi um caso muito sério. Eu fui arrastado para o chão”.

Rue beleza de lei! A Itáiia corre na frente: em ianeiro, o Parlamento italiano aprovou uma belfssfma lei dterando todas as normas luridicas sobre a violência sexual exercida contra a mulher. São esses os pontos básicos: 1) Qualquer ato de violência sexual é considerado um delito contra a pessoa, automaticamente perseguível e condenável. Isto significa que já não se tratará de um “acontecimento privado” e, sobretudo, que não será interpretado como um delito contra a moral pública, mas contra a vitima. 2) Entende-se por violência sexual qualquer ato relacionado _ _ com a libido cometido sem o consentimento da vítima. Esse artigo eliminará dos interrogatbrios tudo que se refere h “dinâmica” do fato. Normalmente, os interrogat6rios dos processos de violação tendiam a demonstrar que a vítima também desfrutara O ato. 3) A esposa ou a companheira poderá denunciar o marido ou companheiro que exigir uma relação sexual sem o seu consentimento. A advogada Laura Remiddi, uma das redatoras do projeto de lei apresentado pelo Partido Socialista, afirmou que o aspecto mais importante da nova lei é que se poderá proceder a u t o m a t i c a m e n t e contra os delitos sexuais. Segundo ela, se esseprojeto chegou a ser votado no P a r l a m e n t o é porque “algo mudou,não só no planeta mulhermas em toda a sociedade italiana”. Serviço OIM-IPS)

N i o espere miir eníoniru-se com alguém do Mulherio pari f izer ou renovu s i m arriniiuri. Preencha este cupom e mande pelo Correia: é ripido, i securo. N í o esqueça de cruz= o cheque, nominal i Findiçío Cirios Chagas

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I MULHERIO, dos no - o - I Para isso ortou enviodo um Choque Nominal I no Valor do Cd 1 I I Em nome da FUNDAÇAO CARLOS CHAGAS I Rodaçõo do MULHERIO - Av, Prof. Francisco Moroto, 1565 - I 05513 SP, fono 211-4511.

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anular o casamento se conitatar que a mulher com quem se casou não era virgem? Pois é, a gente ignora um monte de leis que dizem respeito h nossa vida, ao nosso corpo. Daí a utilidade do segundo caderno da série “A participação política da mulher”, editado sob a responsabilidade do Centro de Ciências Jurídicas, Econômicas e Administrativas da PUC-SP. O caderno, chamado “As lels e a nossa vida”, é escrito em linguagem bem acessível e tem muitas ilustrações.

Mais negócios da China As agências noticiosas ocidentais

-afirmaram em janeiro que um membro do Partido Comunista Chinês foi expulso da organização por ter um terceiro filho, desafian- do a orientação do governo para o controle da natalidade, que prevê apenas um filho para cada casal na cidade e dois no campo. Zhao Wenru mora na cidade de Shen Yang, na região Norte do pals, e já havia sido advertido em 1980, quando sua mulher teve o segun- do filho.

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Enciclopédia de sexo T m a espécie de enciclopédia de sexo, numa linguaguem que qualquer pessoa entende”, assim Marta Suplicy define seu livro Conversando sobre Sexo, edição

autora, distribuido pela Vozes. (A Vozes não quis editar porque o livro tem um capítulo a favor da legalizaçao do aborto). Conversando sobre Sexo será lançado dia 7 de abril em São Paulo, hs 19 horas, na Livraria T.A. Queiroz; e dia 8 de abril no Rio, hs 20,30 horas, na Livraria Argumento. O livro tem 22 capítulos, 300 páginas e reúne a experiência da autora em três anos de TV Mulher. Só para solteiras Em seu primeiro número. de dezembro de 82. o jornal A Voz da Periferia, de Embu, SP. traz uma extensa matéria sobre a discriminação da mulher casada pelas empresas da cidade. E denuncia diretamente

Cantando por gestos Muito bonito o espetáculo de mímica de Denise Stoklos

D A Universidade de Wisconsin EUA) abriu inscrições para o pro- !rama Summer Institute on Wo- nen and Development (13 de ju- lho a l0 de julho de 1983) destina- io a estudantes universit&ios dos iaíses do 30 Mundo.

O programa prevê bolsa. A lata limite para inscrição encer- ‘a-se dia 10 de abril. Contato: QEUMA AGUIAR, WOMEN’S S T U D I E S PROCIRAM, 209 IORTH BROOKS STREET, MA-

tendo como tema as músicas do Último show de Elis Regina, “Trem Azul”. Denise faz uma leitura muito particular e muito emocionada das músicas, especialmente daquelas que tratam da muiher. Sua interpretação de “Maria Maria” (Milton Nascimento e Fernando Brant). por exemplo, foge completamente da leitura habitual que fazemos da música. Mostra uma Maria com gestos limitados, sufocada, com muito pouco espaço para soltar sua força e sua garra, mas mesmo assim uma Maria que resiste. O espetáculo passou em São Paulo, no Sesc Pompéia. Se você tiver alguma oportunidade de ver Denise, não perca. fi uma artista sensível, sintonizada com seu tempo e com o “ser mulher” neste tempo. (Adelia Borges)

Gays oficializados I Depois de viver uma odisséia, passando por oficial de cartório, juiz, tabelião e corregedor. finalmente o Grupo Gay da Bahia (GGBi conseguiu seu registro como sociedade civil, no início deste ano. O GGB foi fundado em 79, edita um boletim (Caixa Postal 2552, Salvador, BA) e atualmente está empenhado em eliminar o parágrafo 302 da classificação de doenças do INAMPS que considera o homossexualismo uma doença mental.

Testemunho coletivo A literatura de testemunho escrita por mulheres sob a forma de depoimentos ou histõrias de vida é um gênero que ficou em alta por influência do movimento feminista. A busca ou a cons- trução de uma nova identidade feminina estão por trás do gênero, que ainda não se popularizou no Brasil, salvo algumas exceções. Da Argentina chega-nos agora o livro Diario Colectivo (Ediciones La Campaiia), resultado da experiência de quatro mulheres que se encontraram por mais de dois anos, formando um gurpo de conscientizacão. e aue resolveram

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A lei, ora a lei

Várias

colocar suas imprgssões, lembranças e reflexões por escrito. O livro mostra que, se o caminho para a consciência não é nenhum mar de rosas.

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Você encontra o Mulherio

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ta Zapata Jr., 285 - Rua Dr. CesCuio Mo-

RIO DE JANEIRO Dazibao - Rua Visc. de Pirajá, 571 ”.- Eu e Você - Rua Constante Ramos, 238 Simões - Av. Alberto Braune, 55 - Nova Fnburgo PORTO ALEGRE Espaço -Rua Annes Dias, 166 - Edifício do IAB Palmarinca - Rua Gel. Vitori- no, 140 - ln andar GOIÂNIA Cevam - Rua 90, no 999 - Setor Sul SALVADOR Literate - Av. 7 de setembro, 750 loja 11

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R De gráo em gráo ... Ainda é muito pouco, mas já é alguma coisa. Em fevereiro, o governo espanhol aprovou uma lei de despenalização do aborto. Incluída numa ampla reforma do Cbdigo Penal, a despenalização s6 alcança os casos em que haja risco de vida da mãe, em que o feto esteja mal formado ou em que a gravidez tenha sido causada por violação. O perigo de vida da mãe deve ser comprovado por dois médicos e no máximo até 20 semanas d t gravidez. O aborto em casos de violaçáo pode ser feito até três meses. Organizações de direita, a Igreja e entidades de médicos fizeram uma ampla campanha contra a aprovação da lei. As feministas também fizeram várias manifestaçdes criticando as limitações do projeto. (Serviço OIM-IPS)

Aborto e instrução

Recorrer ou não ao aborto tem a ver com a instrução da mulher, pelo menos na Itália. Uma pesquisa realizada em 82 pelo instituto privado de investigações mais famoso do país, o Doxa, revelou que 33% das mulheres com instrução primária j á abortaram, e apenas 16% das mulheres com instrução universitária. Outros dados interessantes da pesquisa: 15% das mulheres casadas legalmente conceberam seu primeiro filho antes do casamento; somente 18% das mulheres controlam sua fecundidade recorrendo A pílula; 75% continuam recorrendo a métodos naturais anticoncepcio- nais. (Serviço OIM-IPS)

Las Locas incansáveis

As mães da Praça de Maio não param. Em fevereiro, elas foram B Espanha pedir a intervenção do primeiro-ministro Felipe Gonzales, para conseguir esclarecimentos q sobre o caso dos desaparecidos na Argentina. Reuniram-se com 2 exilados argentinos, fizeram

IU manifestação em frente 8 3 embaixada de seu país e seguiram =) em visita a outros países 5 europeus.

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na Ortopedia

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Dados novos sobre trabalho O “Perfil estattstico de

crianças e mães no Brasil’’, pu- blicado recentemente p e l a UNICEF e pelo IBGE, aponta tendências importantes e traz alguns dados novos em relaçáo às mães de crianças pequenas. Analisando o pertodo de 1970a 1977, o diagndstico mostra que as mulheres aumentaram con- sideravelmente sua participa- ção na força de trabalho.

Em São Paulo, para as mu- lheres de i5 a 49 anos, ela pas- sou de 26% para 36%. Esse in- cremento deveu-se, em grande parte, b entrada de mulheres casadas no mercado de traba- lho: as cônjuges quase triplica- ram sua taxa de atividade, e sua participação aumentou mais nas faixas de renda mais baixas.

O fato mais surpreendente, porém, é que essa participaçáo mais do que dobrou no caso das mães com pelo menos um fi lho de até 6 anos de idade, fenbme- no também mais acentuado nas faixas mais pobres. Exemplifi- cando com o Estado de Sáo Paulo, em 1977, tinhamos, de cada 100 mulheres economica- mente ativas, 50,5 chefes de f a - mília ou cônjuges, 41,l com f i - lhos e 23,6 com pelo menos um filho de até 6 anos de idade.

Aumentou também a por- centagem de famflias chefia- das por mulheres, especial- mente em Sáo Paulo (de 10.8%

para 13,4%). São essas justa- mente as famílias que apresen- tam rendimentos mais baixos. De fato, os dados de 1977 con- f irmam que a mulher que tra- balha fora obtém, em média, metade da renda auferida pe- los homens.

Esses resultados sugerem que, num espaço de tempo rela- tivamente curto, a mulher so- freu grandes mudanças em sua vida familiar. O ingresso na força de trabalho de um grande contingente de mulheres casa- das, com filhos pequenos, prin- cipalmente nas faixas mais po- bres, revela que a pressão para aumentar a renda familiar de- ve estar sendo mais forte do que as dificuldades ligadas b dupla jornada de trabalho. Es- se fenômeno ajuda a explicar, também, a força que vem ga- nhando os movimentos de rei- vindicação por creches, espe- cialmente na região metropoll- tana de São Paulo.

12 justamente em relação a esse aspecto que o estudo apre- senta uma lacuna importante: nos dados sobre escolarizaçbo, não se considera a freqüência a pré-escolas e creches por par- te das crianças abaixo de 7 anos. Essa falha, em trabalho que se propõe a realizar um diagnbstico sobre máes e crian- ças no país, deveria ter, ao me- nos, merecido alguns comentb- rios dos autores.

Maria Malta Campos

Igualdade para os filhos A Organização Nacional da Mulher (NOW) de Granada, pais do Caribe, está em campanha ara fazer com que todos os fi8os sejam iguais perante a lei, abolindo o conceito de ilegitimidade. A NOW quer que o governo popular revolucionário reforme toda a legislação relativa 8s crianças. (Serviso OIM-IPS)

Centro de estudos Progressos na área acadêmica: agora também em Nova Friburgo, RJ, foi fundado um Centro de E s t u d o , D o c u m e n t a ç ã o e Pesquisa sobre a Mulher. O Centro esta instalado na Faculdade de Filosofia Santa Dorotéia (rua Monsenhor Miranda, 86, OEP 28.600). e tem o apoio cultural do Centro de Extensão Universitária. A coordenação é de Marta do Socorro Diniz.

Maria Antonieta Micheletti, 27 anos, estudante de medicina, conseguiu um feito. Ela foi aprovada para fazer Residência no Hospital Matarazzo, em São - Paulo, na área de ortopedia, Uma coisa rara, pois essa é uma especialidade da medicina considerada exclusivamente dominada por homens, Para o dr. Edgar Fiori, um dos examinadores que aprovaram o ingresso de Antonieta, a n8o participação das mulheres na área tem uma explicação “muito mais emocional do que lógica”. Segundo ele, até algum tempo atrás, pela falta de instrumentos modernos, a ortopedia chegava a ser comparável h marcenaria, sendo igualmente mtscula e viril. Antonieta, a nova residente, diz: “Alega-se que as mulheres não têm força física suficiente para resolver algumas situações que o ortopedista precisa enfrentar”. E, realmente, algumas situações exigem muita força, - mas, segundo Antonie ta , “poucas coisas que uma mulher não consegue sozinha em ortopedia um homem consegue, então sempre é necessário ter o assistente para ajudar médico homem - 9 ou mulher”. Antonieta teve que enfrentar um problema no Hospital Matarazzo: a falta de acomodação para mulheres no Departamento de Ortopedia. A soluçgo foi ficar em outro Departamento. O dr Fiori, um dos responsáveis pela área, acredita que a entrada de mulheres por si s6 começa a mudar a situação. Vamos ver. Wanda Nestlehner

Uma brasileira foi premiada em Cuba: Ligia Chiappini de Moraes, professora da USP, recebeu o prêmio na categoria de literatura em língua portuquesa, do Concurso Casa das Américas, promovido pelo governo cubano. Ligia escreveu o ensaio “Quandq a Pátria Viaja - Uma Leitura dts ramame& de Ant&)iilci:Callado”.

Agora nós vamos apelar!

Recorrer Justiça pode dar certo! No Rio, duas advo- gadas feministas, Leonor Nu- nes Paiva e Comba Marques Porto, conseguiram recente- mente uma sentença histórica, que abre novos caminhos na luta por creches. A decisão ju- dicial diz, em slntese, o seguin- te: o empregador que não cum- prir a determinaçáo da CLT de instalar uma creche na empre- sa deve indenizar a empregada pelos gastos que ela tiver com creches para seus fühos.

A ação foi impetrada por Nádia Volia Xavier, ex-empre- gada da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), órgão cio governo federal. Para que pudesse trabalhar, ela matricu- lou seus dois filhos em idade de amamentação em uma creche particular, pois a FINEP não possula creche prbpria ou con- vênio com alguma instituição

,do gênero, conforme estabele- ce o art. 389 § I m e 2 da CLT.

No caso do descumprimen- to deste artigo, a lei prevê uma multa administrativa a ser aplicada pelas delegacias re- gionais de trabalho, mas siien- cia quanto aos efeitos, para a empregada, do descumprimen- to, desta norma.

como norma de ordem públicí todos OS preceitos referentes ao trabalho da mulher. Em OU tras palavras, por ser de ordem pública, a obrigatoriedade d6 creche se insere no contrata individual de trabalho da mu. Iher, e o seu descumprimento por parte do empregador é pas. sivel de indenização”, diz Leo- nor Paiva. Foi isso o que reco- nheceu o juiz Paulo Freitas Ba- rata, da 8’ Vara da Justiça Fe- deral, seção do Rio de Janeiro, que condenou a FINEP a indp- ....... nizar a empregada novaior do que ela havia pago pela creche de seus filhos.

A sentença a inda será apreciada pelos tribunais su- periores, que vão confirmá-la ou não. Qualquer que seja o resultado, ela abre um cami- nho importante, e mostra que além da organizaçfio nos bair- ros e nos sindicatos, da pressão junto aos órgãos públicos e as empresas, a via legal não deve ser esquecida - principaimen- te quando já contamos, pelos menos no Rio e em São Paulo, com advogadas feministas em- penhadas, dentro de seu ramo profissional, na questão d a mulher. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . ,.

Na prática, a teoria é outra “Falamos muito que o feminismc propõe novas formas de organização. Por que nBo conseguimos botá-las em prática? Vimos que se elas realmente existem (ou existiram h8 três anos) não funcionaram em nosso último encontro. Não seria o caso de pensarmos um pouco nisso? De discutirmos a distância que existe entre nossas proposições tebricas e nossas atuagdes práticas?’’ Esse convite h reflexáo é feito pelo Coletivo Feminista de Campinas em recente documento enviado a várlos grupos de mulheres. O texto faz uma avaliação do I1 Encontro Nacional de Feministas, realizado em Camainas durante a última reuniáo da SBPC. O pr6ximo encontro será realizado em julho, em Brasflia, e sua pauta provis6ria consiste em: “a) eixos comuns de luta; b) inserção do movimento feminista nos movimentos mais gerais; c) avaliação dos trabalhos”.

Associação no Grajaú A AssociaçBo das Mulheres do GrajaÚ nasceu da vontade de algumas mulheres de discutir os seus problemas especfficos como saúde, contracepção, sexualidade, discriminaçao no trabalho, etc. Depois de três anos de discussBo e lutas - por creches, posto de saúde, semáforos, etc -, vai ser inaugurada no final do mês de fevereiro a Casa da Mulher do Grajaú, que será um espaço onde as mulheres do bairro poderão se reunir para conversar, falar da sua sexuaiidade, ter um atendimento médico ginecol6gic0, alternativo, de mulher para mulher. A casa ter8 ainda uma cooperativa de corte e costura, cuja renda será revertida para melhoramento prçiprio. O Drajaú é um bairro opersrlo da Zona Sul de São Paulo e a grande maioria das mulheres que participam da Associação são jperárias e donas-de-casa. Maria José Araújo

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8 de marçoJ983 Alegria, alegria. Desta vez a comemoraçáo do Dia Inter-

nacional da Mulher consegue incorporar essa palavra táo esquecida e táo boa. A alegria e o bom humor foram a tônica da passeata que as cariocas fizeram no centro do Rio, conseguindo arrebanhar mais de duas mil pessoas. Elas cantavam Maria, Maria, Carinhoso, mas o tom mesmo era o de A Banda: os homens sérios, as moças das janelas pararam para ver as mulheres fantasiadas de mãe extremosa, moça liberada, bruxa, santa, prostituta, virgem recatada e até de ... feminista mili- tante.

Essas mesmas mulheres que desfilavam tinham saído, no f im de semana anterior, de um encontro nacional sobre saúde, sexualidade, contracepção e aborto. Durante três dias, cerca de 500 representantes de grupos de todo o pais, além de parlamen- tares de vários níveis, tiraram do tabu a discussão pelo direito ao aborto. E marcaram para 22 de setembro o dia nacional de luta pela legalização do aborto (ver cobertura sobre o encontro no prdximo n* de Mulherio).

A alegria também esteve presente em São Paulo, na ‘Testa política” realizada no MASP. No dia 9, debateu-se no auditbrio da Folha as funçóes do Conselho da Condição Feminina, criado pelo governo Montoro. As comernoraç6e.s incluíram ainda uma série de encontros em bairros da periferia e em municípios da Grande São Paulo, que deverão continuar até o f i m do mês, além de uma manifestação na Praça da Sé.

A festa, a discussão, o encontro se estenderam também a várias capitais brasileiras e chegaram a cidades em que até 1983 o 8 de março era um dia igual aos outros, como Campo Grande (MS). onde houve uma semana de debates, projeçóes de filmes e manifestações.

É, o mulherio ganhou muitos presentes neste 8de março. E n6s, d o Mulherio, comemoramos o segundo aniversário de um jornal que j á chegou as bancas (por enquanto, só em SBo Paulo), aumentou a tiragem, tem assinantes em todos os Estados do Pafs. Vi‘iaa!

Adélia Rorges

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