fazenda kirei - ao gosto do freguês

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Page 1: Fazenda Kirei - Ao gosto do Freguês

Criação | Qualidade

82 DBO novembro 2013

Combinação de técnicas leva fazenda

a aproveitamento ótimo na oferta de

novilhas em programa do Carrefour

n Ariosto MesquitA

de Campo Grande, MS

O pecuarista Carlos Alberto Loeff, dono da Fazenda Kirei, de Paraíso

das Águas, região norte do Mato Grosso do Sul, conseguiu um feito extraordiná-rio. Por dois anos consecutivos, ele foi classificado como o melhor fornecedor de novilhas, na categoria acima de 500 cabeças, para o Programa Garantia de Origem (GO) da rede de hipermercados francesa Carrefour. Simplesmente 99% dos animais entregues para abate (624 em 2011 e 504 em 2012) obtiveram classifi-cação dentro do programa.

Qual seria a receita para tal desempe-nho? Afinal de contas, o Garantia de Ori-gem é um selo de expressão no mercado brasileiro, criado pela rede há mais de 10 anos e que certifica a qualidade e a se-gurança dos alimentos ofertados em suas lojas. Para a classificação são avaliados itens como acabamento, idade, sanidade, alimentação e manejo.

Ao contrário do que se possa ima-ginar num primeiro momento, Peco, como Loeff é conhecido, não é um se-lecionador, um estudioso de cruzamen-tos, um criador meticuloso. Com um rebanho que gira em torno de 1.800 ca-beças, ele faz recria e engorda de gado Nelore e cruzados e seu critério de aquisição é a oportunidade. “Se o ani-mal me parece em ordem e com preço bom, levo de bezerra a vaca parida. O que estiver em conta eu compro”, afir-ma ele, que manda para abate entre 800 e 1.100 cabeças/ano.

Sua vantagem é estar a pouco mais de 100 km de Camapuã, desde 2008 considerada a “capital do bezerro de qualidade” do Mato Grosso do Sul. Mas também compra animais jovens de pro-priedades próximas à sua, no município de Costa Rica. Condição também des-frutada por boa parte dos mais de 100 pecuaristas que integram a Associação de Novilho Precoce do MS, escolhida pelo Carrefour para ser parceira no pro-jeto Garantia de Origem.

Além do olho do dono e da qualidade adquirida, o segredo está na alimentação caprichada.

Pasto mais Produtivo – Depois de um primeiro ano (2010) com resultado pífio – não conseguiu boa terminação nem co-bertura de gordura adequadas –, Peco fo-cou seu trabalho na alimentação e atacou em duas frentes: conseguir pastos de me-lhor qualidade e dar uma suplementação reforçada para o gado.

Para a primeira tarefa, buscou aju-da dos técnicos da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Chapadão (Fundação Chapadão). O objetivo: in-crementar a produção de capim de qua-lidade a partir da integração lavoura-pe-cuária, técnica que a Kirei adotou em 2009 (desde 2005 já cultivava soja). De-pois, investiu em suplementação, tan-to nas águas quanto na seca, tomando o cuidado para que o animal não reduzisse o consumo de capim.

Com 2.000 ha de área total, a Fazen-da Kirei reserva 1.060 ha para lavoura,

Milheto e capim sudão dão conta de novilhas e vacas

Novilhas da Fazenda Kirei, em Paraíso das Águas, MS:boa conformação e bom acabamento.

Carlos Alberto Loeff, o “Peco”: olho bom para comprar e apoio técnico para

entregar produto adequado.

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Page 2: Fazenda Kirei - Ao gosto do Freguês

380 ha para pastagem, 160 ha para reflo-restamento e 400 ha para reserva legal. O sistema funciona em rotação. O ciclo da soja acontece no período das águas (outu-bro a abril), por um período de três a qua-tro anos; nos dois anos seguintes, uma área equivalente à da pastagem é ocupa-da pelo gado, retornando depois com a soja, de forma a se ter pasto novo todos os anos.

“Além de adubação da área de soja com fósforo e potássio, aplicamos tam-bém calcário e gesso, para permitir o aprofundamento radicular, uma vez que temos de trabalhar com a previsão de ve-

ranicos que podem durar entre 10 e 20 dias”, in-forma o engenheiro agrô-nomo Marcelo Arf, pes-quisador da Fundação Chapadão.

Peco constata o fôle-go que a integração dá à pecuária, atra-vés da elevação da fertilidade do solo, via adubação residual da soja: “No pri-meiro ano de pasto a lotação fica entre 8 e 9 cabeças por hectare; no segundo, cai para em torno de 5 cabeças/ha”. Quan-do o gado se instala na área, o sistema de pastejo é o rotacionado, com subdivi-são, com cerca elétrica, de cada 100 ha em oito piquetes.

Periodicamente, 600 ha da área re-servada para a soja recebem o consórcio de capim sudão com braquiária ruzizien-sis e, eventualmente, milheto, enquanto os 400 hectares restantes ainda recebem um “reforço” com o plantio, durante um ciclo, em alguns talhões, de crota-

lária consorciada com nabo forra-geiro. “A primei-

ra é utilizada para controle de nematoi-

des e para dar suporte de nitrogênio à terra. O

nabo, com sua raiz tuberosa, auxilia na descompactação do

solo”, explica Marcelo Arf.

suPlemento é comPlemento – Com uma pastagem revigorada pela aduba-ção residual da soja, restou para a Fazen-da Kirei cuidar do acabamento das no-vilhas, tarefa que exigiu um trato extra através da suplementação mineral. Com um detalhe: sem redução no consumo de capim. Para tanto, Peco contou com a assessoria da empresa Cerrado Alimenta-ção Animal, de Chapadão do Sul, que es-tabeleceu o fornecimento de suplemento proteinado de baixo consumo para as fê-meas na fase de recria-engorda, durante um período de sete a nove meses (águas e seca), e outro de proteinado-energético de alto consumo para animais em acaba-mento, durante um período de 60 a 90 dias, também envolvendo águas e seca, mas com variação no teor de proteína bruta, de acordo com o período (veja ta-bela da pág. 84).

Os suplementos são ofertados aos ani-mais na pastagem, em cochos plásticos

DBO novembro 2013 83

Rentabilidade competitiva Custos/cabeça/ano (em R$)

Aquisição de bezerros 715,00Suplementação 111,50Pastagem 153,00Manejo (1) 133,20Custo Total 397,70(1) considera custos com mão de obra, medica-mentos e outros.

ReceitaGanho de peso (1) 201,6 kg/cabeçalotação 5 cabeças/haProdução 34,94@/haReceita do ganho R$ 3.144,50Custo total por hectare (2) R$ 1.988,50Lucro do sistema R$ 1.156,00/ha(1) média de 560 gramas/dia em 360 dias; (2) com lotação de 5 cabeças/ha. Fonte: Cerrado Alimentação Animal

O que a Fazenda Kirei conseguiu nos últimos

dois anos:

99% de classificação na categoria acima de 500 novilhas no Programa Garantia de Origem do Carrefour;Premissas: idade entre 20 a 30 meses; acabamento de gordura entre 3 e 10 mm; peso acima de 12@.

Bonificação: novilha de 12 a 13@ = preço vaca (cotação Cepea Campo Grande) mais 2%;novilha 13 a 15@ = média de preços boi e vaca ou preço vaca mais 6%;novilha acima de 15@ acima = preço boi

Campo Grande

Paraísodas ÁguasMS

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Criação | Qualidade

Milheto com braquiária ruziziensis também entra no cardápio reforçado

Proteinado de alto consumo na seca: trunfo para o acabamento

de gordura desejado.

84 DBO novembro 2013

tipo bombona. Segundo Airton Felini de Aguiar, diretor da Cerrado e responsável pelo acompanhamento do manejo nutri-cional da Kirei, o suplemento de alto con-sumo é o trunfo para o acabamento ade-quado das fêmeas, uma vez que aumenta

a ingestão de energia mas mantém o mesmo volume de consumo de volumo-so da pastagem. “O suple-mento não permite que o animal se sacie e deixe o

pasto. Isso é o que diferencia este sistema do semiconfinamento, onde o gado acaba comendo menos capim, pela maior prefe-rência pela ração”, explica.

Pelos cálculos da Cerrado, as fêmeas entram no sistema de suplementação com 220 kg de peso vivo, ganhando em mé-dia 560 gramas/dia, o que permite que se-jam terminadas um ano depois com peso médio de 421 kg (14,6@, rendimento de carcaça de 52%). O custo compensa lar-gamente o investimento. Incluindo custos operacionais com a pastagem e com mão de obra, a nutrição demanda R$ 398,00 por animal/ano, ante uma receita de R$ 621,00 (6,9@ produzidas no mesmo pe-ríodo, cotadas a R$ 90,00/@).

Como consegue colocar até cinco no-vilhas por hectare, a Kirei projeta para 2013 um lucro excepcional na casa dos R$ 1.000,00/hectare, bem próximo do da soja, que, cotada a R$ 55,00 a saca lhe rende R$ 1.400/ha.

Por essas razões é que a Fazenda Ki-rei tornou-se referência na região. Segun-do Marcelo Arf, da Fundação Chapadão, ela é hoje uma vitrine para as demais pro-priedades do leste e nordeste do Mato

Custos da suplementação mineralFase Época Produto Consumo (1) Custo (2)

Recria/engorda 240-270 dias

Águas Proteinado baixo consumo (3) 25 a 30 g 4,00 Seca Proteinado baixo consumo (4) 25 a 30 g 4,21

Acabamento 60-90 dias

Águas Proteinado alto consumo (5) 250 a 300 g 25,65 Seca Proteinado alto consumo (6) 250 a 300 g 28,05

Por cabeça = R$ 111,50 (7)(1 )Por 100 kg peso vivo; (2) em R$/cabeça/mês; (3) com 25% de proteína bruta; (4) com 45% de proteína bruta; (5) suplemento proteico-energético com 20% de proteína bruta; (6) suplemento proteico-energético com 25% de proteína bruta; (7) média ponderada por cabeça/ano, que considera o equivalente a 11 meses de consumo (8,5 na recria-engorda e 2,5 no acabamento).

Custos da pastagem (em R$/ha/ano)Operacional (1) Semente (2) Outros (3) Terra (4) Total (5)

15,00 42,80 92,00 660,00 729,80Por cabeça = R$ 153,00 (6)

(1) tratos culturais para o plantio; (2) custo de aquisição; (3) manutenção de cerca elétrica, aguadas e cochos de sal; (4) custo-oportunidade de um arrendamento na região, tendo como base o equivalente a 12 sacas de soja (R$ 55,00/sc) por hectare; (5) considera uso da pastagem por dois anos, sendo o custo operacional e o de semente apenas no primeiro ano; (6) considera lotação de 5 cabeças/ha. Fonte: Cerrado Alimentação Animal

Grosso do Sul. Confirmação disso foi a presença de mais de 100 pessoas no últi-mo dia de campo realizado na proprieda-de, em 26 de fevereiro deste ano.

Além de pastos recuperados com a integração lavoura-pecuária, os visitan-tes também puderam ver projeto de sil-vicultura e conceitos de agricultura de precisão ali utilizados no manejo da soja. “Instalamos esse conceito em 28.000 ha da região nesta última safra”, informa Arf, explicando que, por ele, cada setor de plantio da fazenda recebe a quantidade de fertilizante adequada ao perfil do solo, evitando-se, assim, desperdícios. Para Alexandre Scaff Raffi, presidente da No-vilho MS, o fato de Peco adquirir animais baseado fundamentalmente em oportuni-dade reflete uma tendência natural de in-vernistas que hoje tentam ganhar tanto na compra como na venda. “O mais impor-tante, no caso dele, é o sistema de produ-ção baseado na ILP, uma vez que conse-gue colocar à disposição do animal um capim de excelente qualidade, a um custo muito baixo, uma vez que a soja paga a conta”, comenta.

Satisfeito com os resultados obtidos, Peco garante, porém, que não trabalha para ganhar prêmios e sim para fechar negócios. Além fornecer mais de 500 ani-mais/ano para o programa do Carrefour, também entrega novilhas e vacas pesadas para o JBS, na mesma proporção. n