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FATORES ENVOLVIDOS NO PROCESSO DE INSERÇÃO DA PESSOA COM
DEFICIÊNCIA NO TRABALHO: A ÓTICA DAS INSTITUIÇÕES E ASSOCIAÇÕES
DE ATENDIMENTO A ESSA POPULAÇÃO1. Márcia Cristina Zago2
Celisse Yurika Otsuka3
Eliza Dieko Oshiro Tanaka4
Universidade Estadual de Londrina – UEL
RESUMO
O presente estudo faz parte de um diagnóstico proposto no Estágio Supervisionado em
Psicologia Escolar, com o intuito de implementar e propor ações que visam atender as
necessidades da comunidade na área do trabalho para a pessoa com deficiência. O seu
objetivo consistiu em investigar os fatores que interferem na colocação dessa população, no
mercado de trabalho e analisar as possíveis variáveis envolvidas nesse processo. Para a
realização do estudo foram entrevistadas 12 pessoas do sexo feminino, com idade entre 25 e
69 anos, que trabalham em associações e instituições de atendimento às pessoas com
deficiência. As informações obtidas foram analisadas segundo a metodologia preconizada
pela análise de conteúdo. Este estudo encontra-se em andamento e os resultados aqui
apresentados referem-se ao recorte de um estudo que envolve outros segmentos, tais como, as
empresas, as pessoas com deficiência e a família de pessoas com deficiência.
Palavras-chave: trabalho, inclusão, pessoa com deficiência, Lei de Cotas.
A CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA
O mundo muda com rapidez e intensidades incríveis e essas transformações acentuaram-se
enormemente nas últimas décadas, principalmente após o advento da globalização da
economia, da informatização e da agilização nas comunicações, causando amplas e
significativas alterações, tanto nas relações existentes entre os países, as empresas, estas
últimas e seus empregados, o homem e o seu trabalho, quanto no próprio modo de viver das
pessoas e, conseqüentemente, na construção da sua subjetividade (KILIMNIK, 1998;
GRISCI, 1999).
Nas empresas, em especial, verifica-se que as mudanças demandadas em suas estruturas
implicaram em mudanças na sua forma de atuação e, inevitavelmente, em seus resultados.
Pois, para serem bem sucedidas em um país de economia instável, elas necessitam serem
flexíveis, ágeis, dinâmicas, competitivas e estarem constantemente inovando e modificando a
sua estrutura, produção e forma de gerenciamento, para acompanhar as metamorfoses
ocorridas (CHIAVENATO, 1999; TRACTENBERG, 1999).
1 Trabalho desenvolvido no Estágio Supervisionado em Psicologia Escolar. 2 Estagiária do 5º ano do Curso de Psicologia da UEL. 3 Idem. 4 Docente do Departamento de Psicologia Social e Institucional da UEL.
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Porém, a reestruturação nas empresas acabou implicando em altos níveis de desemprego,
flexibilização das demissões, existência de subemprego, ampliação do trabalho informal,
elevação da jornada de trabalho, enfraquecimento dos sindicatos e, dentre outras coisas, na
precarização da qualidade de vida do trabalhador que vive inseguro e com medo de perder o
seu emprego (BARBARA, 1999; MORAES, 1999).
Assim, para entrar no novo ritmo ditado pelas constantes mudanças, além de traçar carreiras
pautadas na qualificação e re-qualificação contínuas, as pessoas necessitam ser flexíveis,
altamente qualificadas, polivalentes e proativas (DITTRICH, 1999; TRACTENBERG, 1999).
Entretanto, apenas uma minoria da população ativa tem a possibilidade de se qualificar e
compor o quadro permanente da organização. A grande maioria dos trabalhadores acaba
fazendo parte do contingente de empregados instáveis que são alojados em subempregos e
vivem na periferia da organização onde realizam trabalhos que exigem pouca qualificação.
Essa é uma questão preocupante, pois se sabe que o trabalho exerce um papel central na vida
das pessoas, já que faz parte da sua construção subjetiva (MORAES, 1999). É justamente em
meio a esse contexto que se situa uma outra questão importante: a inserção da pessoa com
deficiência no mercado de trabalho.
O trabalho é um elemento imprescindível na vida de todos. Assim sendo, como qualquer
outra, a pessoa com deficiência tem não só o direito como também a necessidade de participar
da sociedade pela via do trabalho (TANAKA, RODRIGUES, 2001). Com o surgimento da
Lei 8213/91 de 24/07/91, que obriga empresas com mais de cem funcionários a destinar uma
cota de vagas, que varia de 2 a 5%, para contratação de pessoas com deficiência, a
oportunidade de acesso desta população ao mercado de trabalho passou a ser cada vez maior.
Apesar de essa lei ter sido criada há quase 16 anos, o número de pessoas com deficiência que
efetivamente participa do mercado de trabalho ainda está muito aquém do que ela prevê. Essa
afirmação é reforçada pela matéria publicada no Jornal de Londrina, em 26 de fevereiro de
2007, na qual o Sistema Nacional de Empregos – SINE mostra que apesar de as empresas
estarem disponibilizando vagas para as pessoas com deficiência, estas não estão sendo
preenchidas por ausência de candidatos e falta de qualificação profissional dos mesmos.
De acordo com Tanaka e Manzini (2005), segundo a ótica dos empregadores, as dificuldades
de acesso de pessoas com deficiência ao mercado de trabalho ocorrem em função de fatores
relacionados ao próprio indivíduo com deficiência, aos órgãos que fazem a sua formação
profissional, as empresas e, também, ao próprio governo que não propicia incentivo para
quem contrata essa população. Entretanto, a simples existência de uma lei não será uma
medida suficiente e eficiente para possibilitar o acesso dessa população ao trabalho. Há a
necessidade de investigar as variáveis presentes nesse caminho e que interferem na sua
chegada ao mercado competitivo.
O presente estudo faz parte de um diagnóstico proposto no Estágio Supervisionado em
Psicologia Escolar, com o intuito de implementar e propor ações que visam atender as
necessidades da comunidade na área do trabalho para a pessoa com deficiência. Destarte, o
seu objetivo consistiu em investigar os fatores que interferem na ocupação de vagas
disponíveis no mercado de trabalho, por essa população, e analisar as possíveis variáveis
envolvidas nesse processo. Em virtude de a problemática identificada envolver fenômenos
bastante complexos, para compreendê-los optou-se por buscar respostas junto a diferentes
fontes tais como: as associações e instituições que atendem pessoas com deficiência, as
empresas, as próprias pessoas com deficiência e a família de pessoas com deficiência. O
estudo encontra-se em andamento e os resultados aqui apresentados referem-se ao recorte
realizado junto às instituições e associações de atendimento à pessoa com deficiência.
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O DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO
Participaram do estudo 12 pessoas do sexo feminino, com idade entre 25 e 69 anos, que
trabalham em associações e instituições de atendimento às pessoas com deficiência, situadas
numa cidade do interior do estado do Paraná. Utilizou-se como instrumento de coleta de
dados um roteiro de entrevista semi-estruturada, com questões que abrangiam a concepção de
deficiência e trabalho para a pessoa com deficiência, papel da instituições/associações na
formação profissional dessa população, inserção no mercado de trabalho e visão sobre a lei de
cotas. O roteiro foi submetido à apreciação de cinco profissionais da área de Educação
Especial para verificar a sua adequação quanto à linguagem, forma de realização das
perguntas, seqüência das perguntas e abrangência do fenômeno estudado.
As entrevistas foram gravadas em áudio digital e, posteriormente, transcritas na íntegra. As
informações obtidas foram lidas, relidas, organizadas e analisadas segundo a metodologia
preconizada pela análise de conteúdo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A problemática pesquisada foi abordada pelas entrevistadas tendo em vista os temas:
concepção e a inserção no mercado de trabalho.
Tema 1 – Concepção:
Neste tema, as participantes abordaram sobre as concepções de: deficiência e trabalho para a
pessoa com deficiência.
No tocante à concepção de deficiência, pode-se dizer que as opiniões oscilaram entre o
modelo orgânico e social, como mostram os trechos das falas a seguir: [...] a SO-CI-E-DA-DE, sabe, fica tratando de coitadinho e eles vão se sentindo
coitadinho (P7).
A patologia dele condiz [...] com o tipo de patologia que nós atendemos (P7).
Como se pode depreender desses dois exemplos, apesar de a entrevistada P7 considerar a
influência da sociedade na construção do papel social da pessoa com deficiência, ela tende,
antagonicamente, a situar a deficiência como uma patologia/ doença.
Para as entrevistadas, de uma forma geral, as pessoas com deficiência possuem limitações
físicas, orgânicas, cognitivas ou sensoriais. Mesmo que tenha ocorrido um avanço na sua
forma de pensar e conceber a deficiência o modelo orgânico ainda prevalece. Porém, há que
se considerar que as entrevistadas atendem uma clientela cuja limitação é aparente; o que leva
a uma ênfase maior no corpo. Essa ênfase pode ser observada, em primeiro lugar, nas
participantes que trabalhavam com os deficientes físicos, seguidos dos visuais e mentais,
neste último, preponderantemente com Síndrome de Down. Aquelas que trabalhavam com
pessoas, cuja limitação era menos aparente, como a auditiva, por exemplo, emitiram uma
opinião mais social sobre a questão.
Apesar de a concepção orgânica predominar, alguns entrevistadas argumentaram que todas as
pessoas podem possuir limitações e serem deficientes à medida que não conseguem viver
autonomamente. Neste modo de pensar, a deficiência não se restringe a uma limitação física,
auditiva, visual ou mental, mas possui relação com os papéis, comportamentos e condutas que
são "criadas" socialmente. A fala a seguir ilustra essa questão: [...] ser deficiente não é ter uma limitação visual ou física ou auditiva. É você não
conseguir, de repente, andar com as próprias pernas (P9).
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No que se refere à concepção de trabalho todas as entrevistadas alegaram que este é de
extrema importância para a pessoa com deficiência. É por essa via que ela poderá ser inserida
na sociedade e, também, exercer a sua cidadania (TANAKA, RODRIGUES, 2001). Além
disso, é por meio do trabalho que se pode construir o mundo a nossa volta e a nós mesmos em
uma continua dialética que confere sentido a nossa vida (KILIMNIK, 1998).
Para alguns participantes, do mesmo modo que a educação, a saúde e o lazer, o trabalho é um
direito inalienável inerente ao próprio homem, indistintamente, como mostra a fala a seguir: [...] não é favor, não é caridade (P5).
É uma atividade por meio da qual a pessoa exerce sua cidadania, obtém satisfação, se sente
útil e se realiza pessoal e profissionalmente. Portanto, é uma fonte de auto-estima e de
motivação para o indivíduo. A seguinte frase ilustra essa colocação: [...] depois que ela foi pra loja, a auto-estima dela melhorou mil por cento [...] (P7).
Também, algumas entrevistadas citaram o trabalho como uma espécie de instrumento que
propicia a "normalização" ao deficiente. (...) vai fazer eles se sentirem iguais aos outros (P10).
Embora as entrevistadas argumentaram que as pessoas com deficiência têm condições de
executar vários tipos de atividades, consideram que isso será possível desde que se leve em
consideração suas capacidades, potencialidades e limitações. Portanto, para que as mesmas
possam exercer um trabalho, há necessidade de analisar e adequar os cargos ofertados pelas
empresas. [...] alguns trabalhos ficam mais limitados pra eles (P9).
O que se pode observar é que a concepção que as entrevistadas possuem sobre trabalho para a
pessoa com deficiência, encontra-se estreitamente relacionada à sua concepção de deficiência.
Elas acreditam que as atividades que a sua clientela tem condições de executar dependem do
tipo de deficiência que ela possui. As atividades de cunho operacional foram as mais citadas.
Entretanto, as entrevistadas que trabalham com pessoas que possuem deficiência física e
visual mencionaram, também, atividades que requerem o aspecto cognitivo.
Tema 2 – Inserção da pessoa com deficiência no trabalho
Em relação à inserção no trabalho, as entrevistadas abordaram sobre os fatores facilitadores,
dificultadores e sobre a lei de cotas.
As opiniões a respeito da lei de cotas foram diversificadas. Para algumas entrevistadas, essa
medida poderá solucionar totalmente os problemas de inserção no mercado de trabalho,
porém, para outros, apenas em parte.
Segundo as entrevistadas, antes da existência da lei as instituições especiais precisavam
procurar as empresas para inserir seus alunos no trabalho. A partir da fiscalização mais
intensiva realizada pelo Ministério Público do Trabalho, o caminho inverteu o seu sentido.
Agora, são as empresas que procuram as instituições para preencherem as vagas estabelecidas
pela cota.
O que se observa é que grande parte das entrevistadas, mesmo aquelas que não concordam
com a lei, acham que ela é um mal necessário, pois contribuiu para a inserção das pessoas
com deficiência no trabalho. [...] se não tivesse a cota eles não pegavam. Sem a cota acho que não conseguiria
colocar ninguém no mercado de trabalho. A cota ajuda muito (P7).
Enfim, para algumas entrevistadas a contratação de pessoas com deficiência possibilitou o
convívio desta população com o empregador e seus funcionários, propiciando-lhes um maior
conhecimento sobre a questão.
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Apesar de a lei de cotas ter facilitado a entrada de pessoas com deficiência no mercado de
trabalho, esta é apenas uma medida paliativa, pois a solução dessa problemática deveria
ocorrer pela educação, como ilustra a fala a seguir: [...]está se pensando em muita cota. É cota, cota pra isso, cota pra aquilo, cota
para aquilo monte [...] daqui a pouco vai ter que criar cota para todo mundo
porque todo mundo vai começar a brigar. [...] vamos ver se a gente consegue dar
uma educação de qualidade para todo mundo (P8).
A política de cotas acaba acentuando e mantendo a segregação da pessoa com deficiência,
pois as vagas ofertadas pelas empresas são, em sua maioria, para atividades de cunho
operacional e que normalmente exigem movimentos repetitivos. Em virtude disso, algumas
pessoas com deficiência acabam não permanecendo em seus empregos. O estilo de trabalho que é dado é muuuuiito repetitivo (P7).
Eles é [...] que nem se fosse você. Se todo dia você fizesse aquilo, você se cansaria.
E eles querem [empresários/contratantes] que a gente faça só aquele tipo de
trabalho e eles enjoam (P7).
Tal tipo de atividade talvez seja adequado para pessoas com deficiência mental, já que as
mesmas possuem dificuldades de ordem cognitiva. Porém, para aquelas que não têm
comprometimento nessa área, não se pode desconsiderar o seu potencial para o exercício
atividades mais complexas.
De forma geral, na visão das entrevistadas, a lei de cotas não é uma medida que vai solucionar
totalmente a problemática de inserção da pessoa com deficiência no trabalho. Em realidade,
segundo Tanaka e Manzini (2005), “(...) a lei acabou funcionando como uma válvula
impulsionadora para a abertura de novas vagas dentro das empresas e serviu como ponte de
acesso mais rápido para que as pessoas com deficiência pudessem alcançar o caminho do
mercado de trabalho" (p. 281).
Como qualquer outra lei, a lei de cotas também dá brechas para as pessoas burlá-la em
benefício próprio. Segundo as entrevistadas, algumas empresas utilizam subterfúgios para não
cumpri-la ou mesmo para protelar a contratação de funcionários com deficiência, como
mostra a fala: Tem empresários que [...] dividem a sua empresa em quatro empresas... é... de 99
funcionários pra não contratar ninguém (P1).
Esse tipo de conduta parece estar intimamente relacionado à concepção dos empresários e
responsáveis pelo setor de Recursos Humanos - RH, sobre a deficiência e o seu conhecimento
sobre a questão. Vão tentar fazer qualquer manobra (as empresas). Se a pessoa que estiver por trás
dessa contratação não tiver cons-ci-ên-ci-a...cons-ci-ên-ci-a... ela vai tentar burlar
a lei de alguma maneira (P1).
Tendo em vista que esta é uma das inúmeras dificuldades que as pessoas com deficiência
enfrentam na ocasião em que necessitam adentrar no mundo do trabalho, para que a sua
inserção seja efetivada de fato, é necessário que se realize um trabalho de conscientização nas
empresas. Apesar dos avanços ocorridos, ainda há falta de informação e crenças errôneas a
respeito dessa população.
Outros fatores que dificultam a inserção da pessoa com deficiência no trabalho também foram
apontados pelas entrevistadas. Um deles é a transferência de renda efetuada pelo governo - o
benefício de prestação continuada. Muitas pessoas que a recebem não têm interesse em ir para
o mercado de trabalho, seja por acomodação ou para ter esse ganho garantido, já que podem
perdê-lo, caso sejam inseridas no mercado de trabalho. Assim sendo, por não ser um benefício
retroativo, a prestação continuada acaba acentuando essa problemática. A fala a seguir ilustra
esse aspecto.
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[...] é melhor ficar com o que tem garantido [...] (P5).
Na opinião das entrevistadas, para que essa situação possa ser revertida, caso o trabalhador
com deficiência saia do mercado de trabalho, faz-se necessária a readequação dessa lei, como
mostra a fala a seguir: [...] se ele é mandado embora, [...]volta a receber esse benefício (P3).
A falta de escolarização também é um dos maiores entraves para a inserção da pessoa com
deficiência no mercado de trabalho, pois este é um dos pré-requisitos exigidos pelas
empresas, como ilustra a fala: [...] eles não foram selecionados porque não tinham a escolaridade mínima exigida
pela empresa (P8).
Frente a esse aspecto, a família exerce um papel importante, pois é ela quem deve dar suporte
ao filho com deficiência, desde a mais tenra idade até a sua escolarização.
Um outro fator dificultador apontado pelas entrevistadas foi a característica externa
apresentada pela pessoa com deficiência, como ilustra a seguinte fala: [...] não tem nada físico que fala: Oh! Ele é um portador de deficiência (no caso do
deficiente mental) (P4).
Na opinião das entrevistadas, o empregador prefere contratar pessoas cuja deficiência seja
aparente, como no caso da Síndrome de Down, do que ter que explicar aos clientes as
limitações de cada deficiência. Nesse sentido, as pessoas com deficiência mental leve acabam
sendo prejudicadas, pois numa entrevista de seleção nem sempre o profissional da área de
Recursos Humanos conhece as suas reais limitações. Disso depreende-se que tal atitude é
cômoda e mostra-se envolta de preconceito, estigma, segregação e falta de informação.
Os entrevistados apontam, também, alguns fatores relacionados ao próprio indivíduo com
deficiência, tais como a falta de comprometimento, de motivação e interesse com o trabalho,
como dificultadores da sua inserção no trabalho.
Ainda, em relação às dificuldades, a escassez na oferta de cursos de qualificação profissional
para as pessoas com deficiência também foi apontada. Os poucos cursos ofertados, nem
sempre atendem as necessidades e interesses dessa população e do mercado de trabalho. Além
disso, os que existem acabam sendo inacessíveis pelo seu alto custo.
A falta de conhecimento do empregador acerca da deficiência e das reais capacidades e
limitações do seu portador para o exercício do trabalho, também foi uma outra dificuldade
apontada. O desconhecimento gera preconceitos, discriminação e crença de que a pessoa com
deficiência é incapaz. Tal atitude pode ocasionar resistências na sua admissão. Porém,
segundo as entrevistadas, tais dificuldades parecem estar sendo amenizadas por meio das
experiências de estágio, ofertadas por algumas empresas às pessoas com deficiência, pois
nesse contexto ambas têm a oportunidade de se conhecerem e se relacionarem; facilitando
uma contratação futura.
Em relação ao papel da instituição especial, observou-se que o contexto é paradoxal. Uma das
entrevistadas reconhece a falha da instituição na formação profissional da sua clientela.
Porém, outras consideram que ela facilita a inserção das pessoas com deficiência no mercado
de trabalho, por servirem de elo entre estas e as empresas. Em virtude disso, as pessoas com
deficiência acabam buscando trabalho por intermédio das instituições especiais, mesmo que já
tenham sido desligadas delas, conforme ilustra a fala: [...] pessoas têm procurado a escol..., vem procurar a escola justamente pra.. porque
a escola é uma porta aberta pro mercado de trabalho... porque é muito mais fácil
uma... um indivíduo sair daqui empregado, se ele tiver uma deficiência, do que se ele
estiver desligado de uma instituição (P5).
Como elo entre um candidato e a vaga, as instituições especiais oferecem suporte temporário
para as empresas que contratam o funcionário com deficiência; para facilitar a sua adaptação
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no emprego. Esse suporte é oferecido, desde a fase de recrutamento, entrevista de seleção,
sondagem do ambiente de trabalho até o acompanhamento quando a pessoa já está inserida no
trabalho.
Para as entrevistadas, um outro fator que tem contribuído para a inserção da pessoa com
deficiência no mercado de trabalho é que o SINE, o Ministério do Trabalho e outros órgãos
estão ajudando na qualificação das pessoas com deficiência, oferecendo cursos.
CONCLUSÃO
Como indicam os resultados parciais do presente estudo, a maioria das entrevistadas parece
possuir uma concepção de deficiência pautada mais no modelo social. Todavia, frente a uma
análise mais pormenorizada, nota-se que elas acabam por encobrir uma concepção de
deficiência estreitamente vinculada ao modelo orgânico.
Tal concepção acaba determinando a sua concepção de trabalho para a pessoa com
deficiência. Assim, elas acreditam que as atividades que a sua clientela tem condições de
executar dependem do tipo de deficiência que ela possui e as de cunho operacional foram as
mais citadas.
Outro momento em que se observa nitidamente a influência das concepções desses indivíduos
em suas visões a respeito da problemática estudada, diz respeito à sinalização e reflexão
tecidas em relação aos fatores envolvidos na inserção da pessoa com deficiência no mercado
de trabalho, tais como a falta de conhecimento, a questão da lei de cotas, as questões
governamentais, dentre outras mais.
A partir disso, depreende-se o quanto as concepções que as pessoas têm permeiam o modo
como vêem, vivem o mundo e se relacionam umas com as outras. Daí a necessidade de se
trabalhar tais concepções, eliminando-se vieses e distorções, pois caso isso não ocorra muito
dificilmente ter-se-á condições de incluir efetivamente as pessoas com deficiência no mercado
de trabalho.
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