fatores discordancia fisco contribuintes

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  • 7/25/2019 Fatores Discordancia Fisco Contribuintes

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    DOI: http://dx.doi.org.br/10.5007/2175-8069.2013v10n21p25

    25 ISSN 2175-8069, UFSC, Florianpolis, v. 10, n. 21, p. 25-50, set./dez. 2013

    Fatores que promovem discordncias entre fisco e contribuinte a respeitoda comprovao de hedge

    Factors to promote disagreement between tax authorities and taxpayers in regard to hedge

    validation

    Factores que promueven desacuerdos entre autoridades tributarias y contribuyentes sobre

    la prueba de hedge

    Ralph Melles SticcaMestre em Controladoria e Contabilidade pela Faculdade de Economia, Administrao eContabilidade de Ribeiro Preto - Universidade de So Paulo (FEA-RP/USP)Professor dos cursos de MBA da Fundace Business School e Fundao Getlio Vargas(FGV).Endereo: Avenida Braz Olaia Acosta, n. 727, CJ. 607, Jardim CalifrniaCEP: 14.026-040 Ribeiro Preto/SP BrasilE-mail: [email protected]: (16) 3911-1419

    Slvio Hiroshi NakaoDoutor e Livre-Docente em Contabilidade pela Universidade de So PauloProfessor Associado do Departamento de Contabilidade da FEA-RP/USPEndereo: Av. Bandeirantes, 3900, Monte Alegre

    CEP: 14.040-905 - Ribeiro Preto/SP - BrasilE-mail: [email protected]: (16) 3602-3919

    Artigo recebido em 08/03/2013. Revisado por pares em 22/04/2013. Reformulado em26/05/2013. Recomendado para publicao em 25/10/2013 por Sandra Rolim Ensslin (EditoraCientfica). Publicado em 15/12/2013.

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    Resumo

    O trabalho investiga fatores que promovem discordncias entre Fisco e contribuinte nacomprovao de hedge em operaes financeiras, requisito legal para a dedutibilidade das

    perdas no clculo do imposto sobre a renda. Estudo de caso em empresa exportadora autuadapela RFB em 2008 demonstrou que a comprovada exposio ao riscoex-ante de variao depreos decommodities e cmbio no foi suficiente para evitar o agravamento das perdas porsua indedutibilidade, graas ausncia de critrios gerenciais e contbeis padronizados,constatao corroborada por pesquisa documental e anlise de contedo de decises da RFBsobre o tema, de 1999 a 2010.

    Palavras-chave: Tributao de hedge. Hedge em operaes financeiras. Contabilidade dehedge.

    AbstractThis paper investigates factors that cause disagreement between tax authorities and taxpayersin regard to hedge validation in financial operations, which is a legal requeriment for thededucibility of losses over the income tax. A case-study, which was carried out in anexporting company that had been fined byReceita Federal do Brasilin 2008, showed that theattested measure of exposure to the ex-ante risk of variation in commodity prices and inexchange was not enough to avoid the aggravation of losses given the non-deducibility ofsuch measure. This is due to the lack of management criteria as well as the lack of accountingcriteria standarts, which was corroborated in documentary research and content analysis overdecisions made by theReceita Federal do Brasilon this issue from 1999 to 2010.

    Keywords:Hedge funds.Hedge in financial operations.Hedge accounting.

    Resumen

    El trabajo investiga factores que promueven el desacuerdo entre las autoridades fiscales y loscontribuyentes sobre la comprobacin dehedge en las operaciones financieras, requisito legal

    para la deducibilidad de las prdidas en el clculo del impuesto sobre la renta. Caso deestudio en empresa exportadora actuada por la RFB en 2008 demostr que la exposicincomprobada al riesgo ex-ante de variacin de precios decommodities y de cambio no fuesuficiente para evitar el aumento en las prdidas por su carcter no deducible gracias a la

    ausencia de criterios contables y de gestin estandarizados, constatacin corroborada porinvestigacin documental y por anlisis de contenido de las decisiones de la RFB sobre eltema desde 1999 hasta 2010.

    Palabras clave: Tributacin dehedge.Hedge en operaciones financieras. Contabilidad dehedge.

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    1 Introduo

    Shackelford e Shevlin (2001) destacam que a pesquisa acadmica focada em tributos eteoria da agncia pouco desenvolvida, sugerindo a importncia de estudos cientficos que se

    propem a debater a relao Fisco-contribuinte sob a abordagem dessa teoria, por exemplo, nacomprovao da finalidade de hedge1 de operaes financeiras com derivativos praticadaspelas companhias.

    Milevsky e Prisman (1999) e Lien e Metz (2001), em trabalhos motivados pelasdecises da Corte Suprema (Supreme Court) dos Estados Unidos da Amrica (EUA), noscasos Corn Products e Arkansas Best, destacaram que os contratos futuros proveem umaferramenta til na gesto de riscos, pois, para reduzir seu risco, um hedger assume uma

    posio futura oposta posio vista (spot), esperando que os ganhos de uma posiocompensem as perdas da outra, ressaltando, contudo, que a extenso desta compensao influenciada diretamente por normas tributrias.

    Por outro lado, assim como agilizam e propiciam maior segurana ao processo de

    negociao, instrumentos derivativos tambm permitem aos participantes do mercadoespecular, operar fora dos limites operacionais, manipular normas contbeis e realizaroperaes ilimitadamente alavancadas, ocasionando exposies excessivas no registradas nasdemonstraes contbeis; o incentivo para que isso ocorra est diretamente relacionado com a

    possibilidade de obteno de ganhos vultosos e em curto espao de tempo, aproveitando-se delacunas ou eventual m qualidade de regulamentao existente (CAPELLETTO; OLIVEIRA;CARVALHO, 2007).

    Em relao ao Brasil, Lopes, Galdi e Lima (2011) destacam que como diversosnormativos estabeleceram que perdas com operaes com derivativos somente poderiam terseus montantes deduzidos na apurao do lucro real quando estes fossem referentes aoperaes dehedge, torna-se essencial para a matria tributria e o estudo acadmico na reacontbil definir o que uma operao dehedge e como reconhec-la, mensur-la e evidenci-la.

    De fato, a legislao tributria brasileira (Lei n. 8.981/95) autoriza a dedutibilidadeintegral das despesas (perdas incorridas e prmios pagos) com esse tipo de operao (hedge)na apurao do Imposto de Renda da Pessoa Jurdica (IRPJ) e da Contribuio Social sobre oLucro Lquido (CSLL), afastando nesses casos a limitao imposta pela mesma legislao soperaes financeiras em geral - para as quais as perdas somente so dedutveis at o limitedos ganhos auferidos com as mesmas operaes e no mesmo perodo.

    Para tanto, a legislao tributria brasileira exige que a pessoa jurdica comprove queas operaes financeiras se destinam exclusivamente proteo contra riscos inerentes s

    oscilaes de preo ou de taxas, sempre que o objeto do contrato negociado: (i) estiverrelacionado com as atividades operacionais da pessoa jurdica; ou (ii) destinar-se proteode direitos ou obrigaes da pessoa jurdica2, sem definir, contudo, quais controles internosdevem ser elaborados, quais documentos devem ser apresentados pelo contribuinte ou quaisdeclaraes adicionais devem ser preenchidas e entregues Secretaria da Receita Federal doBrasil (RFB).

    1 Ressalte-se quehedge outro tema de destaque em trabalhos cientficos nacionais e internacionais, s que comvis principalmente econmico ou contbil.2 Art. 77, 1, a e b da Lei n. 8.981/95.

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    Assim, a comprovao da natureza dehedge de operaes financeiras no somente doponto de vista fiscal, como tambm gerencial, financeiro e contbil, torna-se fundamental paraassegurar o benefcio da dedutibilidade das perdas em operaes financeiras no clculo doIRPJ (e da CSLL), pois, caso contrrio, estas sero deduzidas como despesas na apurao

    contbil do resultado do exerccio, porm sero adicionadas ao clculo do Lucro Real (base declculo do IRPJ) e base de clculo da CSLL, sendo tributadas pela alquota consolidada de34%3, sem prejuzo da aplicao de multas de ofcio de 75% a 150% do tributo devido, nocaso de autuao fiscal4.

    Nesse contexto, por ser exigida pela legislao tributria a comprovao dohedgeparafins do benefcio da dedutibilidade, compete ao Fisco (no caso a RFB) promover a auditoriados demonstrativos e documentos apresentados pelo contribuinte que suportem acomprovao da natureza e hedge, sendo provvel sua eventual discordncia ou noaceitao, resultando em autuaes fiscais que cobram o IRPJ e a CSLL sobre mencionadasdespesas.

    Com isso, este artigo se apia na seguinte questo de pesquisa: quais so os fatores

    que promovem discordncias entre Fisco e contribuinte a respeito da comprovao dehedge,especificamente em operaes financeiras carreadas no mbito do mercado financeiro e decapitais?

    Para buscar responder a essa questo, a realizao do estudo emprico foi compostapor estudo de caso em empresa comercial exportadora autuada em 2008 em decorrncia demencionada dissonncia de tratamento e por pesquisa documental e anlise de contedo dedecises administrativas publicadas pela prpria RFB sobre o assunto, de 1999 a 2010.

    Tal estudo se torna relevante na medida em que tambm os contribuintes de pasesdesenvolvidos como Canad, Reino Unido e EUA enfrentam problemas em relao comprovao dehedge e dedutibilidade de perdas de operaes financeiras que praticam nosmercados vista, futuros e de opo, em funo de legislaes ambguas - conforme sugeremos estudos de Lien e Metz (2001) e Milevsky e Prisman (1999) -, tema este cada vez mais emdiscusso no Brasil, seja em funo da convergncia das normas contbeis locais com os

    guidelines internacionais (International Accounting Standards Board- IASB, conforme Lei n.11.638/07), seja pelo desenvolvimento do comrcio exterior brasileiro, ou ainda em razo doaumento no nmero de autuaes fiscais sofridas pelas empresas em decorrncia dessasoperaes financeiras.

    Dessa forma, o trabalho est estruturado em: (i) reviso bibliogrfica, em que sodescritos os principais artigos e papers internacionais acerca dos temas comprovao dehedge, hedge accounting e tratamento das perdas de acordo com a legislao tributriavigente; (ii) metodologia de pesquisa, em que so descritos o tipo e as fases do estudo

    emprico realizado como base para fundamentao das anlises e concluses; (iii) estudo decaso, em que so discutidos os resultados encontrados a partir da execuo do protocolo deestudo de caso e anlise dos dados retornados; (iv) decises administrativas sobre o tema, emque so apresentados os resultados da pesquisa documental/anlise de contedo realizada emdecises administrativas da RFB sobre o tema comprovao dehedge; (v) concluses; e (vi)referncias.

    3 Alquota de 15% e alquota adicional de 10% sobre o que ultrapassar os R$ 20.000,00 mensais, a ttulo deIRPJ, e 9% de CSLL.4 Art. 44, I e 1 da Lei n. 9.430/96.

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    2 Reviso Bibliogrfica

    2.1 Contabilidade de hedge e Tributao

    O Pronunciamento Tcnico do Comit de Pronunciamentos Contbeis (CPC) 38disps acerca das condies necessrias para a utilizao da contabilidade dehedge a partir dacaracterizao de uma relao dehedge, com destaque para que a companhia detenha, desde oincio dohedge, a designao e documentao formais da relao de hedge e do objetivo eestratgia da gesto de risco da entidade, incluindo a identificao do instrumento, a posioou transao coberta e a natureza do risco a ser coberto, fatores de suma importncia tambm

    para a abordagem tributria.Nessa linha, Lopes, Galdi e Lima (2011) ressaltam que cabe empresa interessada

    cumprir todos os requisitos necessrios (incluindo a adequada documentao) parademonstrar que as operaes realizadas com instrumentos financeiros derivativos so

    efetivamente de hedge e consequentemente merecem tratamento de hedge accounting, aocontrrio do que diz a norma norte-americana5, que, segundo Graham e Rogers (2002), requerapenas que as companhias informem, ao publicar suas demonstraes financeiras, seespeculam com derivativos ou no6.

    Guerra e Galdi (2009) ressaltam que as firmas utilizam derivativos com o principalintuito de gerenciar riscos por meio da diminuio da volatilidade do resultado; contudo,existe maior preocupao com aspectos institucionais e legais (tributao e tratamentocontbil) do que com econmicos, o que demonstra a importncia da questo tributria.

    O artigo 249 do Decreto n. 3.000, de 26 de maro de 1999 (Regulamento do Impostode Renda - RIR/99) dispe que, na determinao do lucro real, sero adicionadas ao lucrolquido do perodo de apurao, entre outros, as perdas incorridas em operaes iniciadas eencerradas no mesmo dia (day-trade), realizadas em mercado de renda fixa ou varivel, e as

    perdas apuradas nas operaes realizadas nos mercados de renda varivel e de swap, queexcederem os ganhos auferidos nas mesmas operaes.

    Por tal, o conceito dehedge ganhou relevncia significativa na legislao tributriabrasileira a partir de 1995, na medida em que o artigo 77, inciso V e 1 ao 3 da Lei n.8.981, de 20 de janeiro, estabeleceu que as perdas com operaes com derivativos somente

    poderiam ter seus montantes deduzidos com vistas apurao do lucro real quando estesfossem referentes a operaes dehedge (LOPES; GALDI; LIMA, 2011).

    Assim, de acordo com a legislao tributria brasileira, as operaes financeiras com ointuito de hedge esto sujeitas a tratamento tributrio diferenciado, inclusive quando

    praticadas no exterior e em mercados futuros fora de bolsa (art. 396 do RIR/99), prevendocomo pr-requisitos para sua caracterizao, basicamente, que o objeto do contrato negociado:(i) esteja relacionado com as atividades operacionais da pessoa jurdica; e (ii) destine-se

    proteo de direito ou obrigaes da pessoa jurdica.Lameira, Figueiredo e Ness Jr. (2005), em artigo que tratou da reduo de volatilidade

    dos lucros e o efeito na apurao do imposto de renda das companhias abertas brasileiras,

    5 Statement of Financial Accounting Standards SFAS 133, publicado peloFinancial Accounting StatementsBoard FASB.6 Como era de se esperar, na amostra utilizada no estudo de Graham e Rogers (2002), nenhuma empresa sujeita exposio ao riscoex-ante declarou praticar qualquer atividade especulativa.

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    buscaram verificar se aquelas que fizeramhedgepara se protegerem do risco de aumento detaxa de cmbio e dos juros, nos anos de 2002 e 2003, conseguiram alguma vantagemtributria, diminuindo o valor do IRPJ a pagar em relao a caso no tivessem feito hedge,concluindo que de fato as empresas que eliminam a volatilidade de seus resultados a partir da

    prtica de operaes dehedge que ora so negativos, ora positivos agregam valor ao seupatrimnio, em decorrncia da queda do valor do imposto sobre seus lucros.A Figura 1 ilustra a diferena de tratamento dado pela legislao tributria brasileira s

    operaes financeiras com e sem o intuito dehedge:

    Figura 1 - Sistemtica de tributao das operaes financeiras de renda varivel pelo IRPJ(lucro real)

    Fonte: Elaborada pelos autores, com base nas Leis n. 8.981/95 e n. 9.430/96.

    A sistemtica descrita na Figura 1, adotada pela legislao tributria brasileira, no exclusiva: da mesma forma, tomando-se por base a legislao norte-americana, Lien e Metz(2002) e Milevsky e Prisman (1999) destacam a jurisprudncia da Suprema Corte norte-americana nos casos emblemticos de 1955 (Corn Products) e 1988 (Arkansas Best), tendoneste ltimo proibida a compensao entre mesmos ganhos e perdas em operao financeiradehedge, por esta no se enquadrar em classes restritas de transao previstas na seo 1221do regulamento do imposto de renda norte-americano7.

    Contudo, Lopes, Galdi e Lima (2011) ressaltam que a legislao tributria brasileirano promoveu um aprofundamento da definio e nos critrios de eficcia das operaes dehedge, ou ainda na definio dos tipos de hedge, como fez o CPC 38; dessa forma, concluemos autores pela importncia das definies econmicas e contbeis para a adequadacaracterizao das operaes dehedge, pois o legislador tributrio no adentrou em maioresdetalhes a respeito da conceituao e comprovao dessas operaes, remetendo a anlise noque se refere comprovao dohedge literatura tcnica do assunto.

    7 IRC -Internal Revenue Code.

    Operao Financeira

    Especulao Hedge

    Ganho Perda Ganho Perda

    Nesse caso, se houver: Nesse caso, se houver:

    Tributado TributadoDedutvel,sem limitao

    - Quando exceder os ganhosauferidos nas operaes demesma natureza: indedutvel

    - Day-trade: indedutvel

    EVENTO

    TRATAMENTO

    BASE LEGAL

    Arts. 76, 2, Lei

    n. 8.981/95 e 17,Lei n. 9.430/96

    Art. 76, 3 e 4,

    Lei n. 8.981/95

    Art. 76, 2, Lei

    n. 8.981/95

    Art. 77, V, Lei n.

    8.981/95

    Pode ter a finalidade de:

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    Assim, a comprovao dehedge por parte do contribuinte uma forma de reduzir aassimetria de informao em sua relao com o Fisco, pois, como este no possui informaocompleta a respeito das transaes econmicas realizadas pela empresa, o contribuintenecessita de mecanismos para reduzir o risco de informao enganosa; essa relao pode ser

    observada do ponto de vista da Teoria Econmica, que procura explicar as relaescontratuais entre duas partes.

    2.2 Comprovao de hedge e assimetria de informao

    Pentland e Carlile (1996) destacam a existncia de informao imperfeita e incompletana relao Fisco-contribuinte, devido ao fato de o auditor fiscal, em particular, ser ignorantequanto ao que o contribuinte tem realmente feito, caracterizando a motivao fundamental daauditoria: assimetria informacional.

    Pohlmann e Iudcibus (2006) destacam que na relao entre Estado e contribuinte, o

    primeiro (principal), visando maximizar sua utilidade, opta por delegar ao contribuinte(agente) a tarefa de apurar e recolher o imposto, independentemente de qualquer notificao,reduzindo seus custos de administrao tributria e ganhando agilidade na arrecadao.Assim, a preocupao maior do Estado passa a ser a de criar meios de compelir o contribuintea obedecer rigorosamente s normas fiscais, enquanto este passa a buscar meios de minimizara carga tributria, uma vez que o montante do tributo no recolhido ao Estado ir lhe propiciaruma renda adicional.

    Pentland e Carlile (1996, p. 270) examinaram a prtica de auditoria do IRS (InternalRevenue Service) norte-americano e por isso afirmam que o processo de monitoramento doFisco estende-se por meio de um elaborado conjunto de interaes com os contribuintes. Noaspecto prtico, difcil para o Fisco capturar e apurar tudo o que devido, pois empresas tmregistros elaborados que so volumosos e complexos e a meta do agente da Receita procuraralm da aparncia superficial apresentada nos formulrios fiscais e suportada nos documentos

    registros podem ser forjados e livros falsificados, de modo que o agente deve adotar umapostura ctica e auditar o contribuinte, no a declarao.

    Milevsky e Prisman (1999, p. 149) ressaltam, nesse contexto, que as discussestravadas pelo IRS tm sido resolvidas favoravelmente aos contribuintes em primeira instnciaadministrativa (lower tax courts)8, por exemplo, tratando os instrumentos financeiros com afinalidade dehedge como sendo recebveis relativos aos negcios da empresa.

    Portanto, a adequada comprovao de hedge por parte do contribuinte deve ocorrercomo instrumento de reduo da assimetria informacional em relao ao Fisco, tambm por

    meio de legislao que promova delineamento claro a respeito de o que o Fisco entende comosendo uma operao financeira com o intuito exclusivo dehedge.

    8 Da mesma forma, Pedwell (2000), em sua pesquisa para examinar a aplicabilidade dos princpios decontabilidade geralmente aceitos na determinao da renda para fins de tributao, destacou que sua observncia

    pelas empresas autuadas no demonstrou a mesma eficcia quando analisadas as decises das cortes de apelao(segunda instncia) em relao s cortes fiscais (primeira instncia), cujo julgamento se restringe corretaavaliao da renda para fins de incidncia do imposto, denotando a importncia da anlise contbil e documentalnesta fase da discusso administrativa contra o Fisco.

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    3 Metodologia da Pesquisa

    As seguintes metodologias identificadas com a pesquisa em matria tributria foramaplicadas neste estudo (MARTINS, 2002): (i) emprico-arquival; (ii) estudo de caso; e, (iii)

    pesquisa de campo. No que se refere linha de pesquisa utilizada, remete-se classificaodas trs principais reas ou campos de pesquisa de Shackelford e Shevlin (2001): (i) acoordenao de fatores tributrios e no tributrios; (ii) os efeitos dos tributos sobre o preodos ativos; e, (iii) a tributao do comrcio internacional e interestadual, de forma que, nestetrabalho, utiliza-se a pesquisa emprica como coordenao de fatores tributrios e notributrios.

    Assim, os fatores que podem promover discordncia entre Fisco e contribuinte nacomprovao de hedge so examinados neste trabalho em duas fases de estudo, conformeFigura 2. Na primeira fase, foi realizado um estudo de caso envolvendo uma autuao fiscal

    pela no comprovao, ao menos do ponto de vista do Fisco, de hedge. Na segunda fase doestudo, a partir das observaes do estudo de caso, foi realizada uma anlise documental de

    decises administrativas com o objetivo de verificar se os fatores identificados no estudo decaso so observados tambm em outras situaes, envolvendo outros contribuintes brasileiros.

    Figura 2 - Fases da pesquisa

    Fonte: Elaborada pelos autores.

    O estudo de caso fora realizado a partir de autuao fiscal ocorrida em 2008 contracompanhia brasileira (Companhia A) atuante no comrcio internacional de commoditiesagrcolas (acar e etanol), na qual foram glosadas integralmente as perdas e despesas

    financeiras em operaes com derivativos em bolsas de mercadorias e futuros internacionais(R$ 11.008.506,39) e em contratos de swap com instituies financeiras brasileiras (R$9.101.626,96) no clculo do IRPJ e da CSLL dos anos-calendrios de 2003 e 2004, gerandocusto adicional companhia, alm das prprias perdas financeiras auferidas, no valor de R$16.438.314,10, considerando principal, juros de mora e multas de ofcio.

    Nesta pesquisa, foram acessados os demonstrativos fiscais e contbeis relativos aosanos-calendrios de 2003 e 2004, bem como os controles internos das operaes financeirasem bolsas de valores, mercadorias e futuros e no mercado de balco organizado, incluindo oscontratos de venda de acar e etanol para entrega futura, contratos de pr-pagamento

    Segunda fase da pesquisa: anlise documental

    (i) acesso s bases de dados da RFB no stioda autarquia na internet para busca deconsultas e decises administrativas;

    (ii) termos utilizados na pesquisa: hedge,cobertura e proteo, combinados comos tributos pertinentes glosa de despesas IRPJ, CSLL e IRRF -, pelo perodomximo de dez anos;

    (iii) os dados foram analisados utilizando-secomo mtodo a anlise de contedo,conforme proposto por Bardin (2006).

    Primeira fase da pesquisa: estudo de caso(conforme Yin, 2010)

    Aplicao de entrevistas e anlisedocumental dos processos administrativosrelativos cobrana do IRPJ e CSLL nosanos-calendrios de 2003 e 2004, derivadosde Auto de Infrao lavrado pela RFB em2008, no que se refere glosa de despesasfinanceiras que superaram os ganhos nasmesmas operaes e nos mesmos perodos,por ter a fiscalizao considerado taisoperaes como sendo meramenteespeculativas.

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    exportao e contratos de financiamento externo, alm dos extratos das corretoras de valoresresponsveis pelo registro das operaes financeiras da companhia no Brasil e no exterior.

    Ademais, no estudo de caso, foram realizadas entrevistas estruturadas comrepresentantes da companhia, responsveis pela poltica de risco, estratgia, controle,

    contabilizao e definio da tributao dessas operaes, conforme protocolo de estudo decaso elaborado com base nas normas internacionais do Committee of SponsoringOrganizations of the Treadway Commission (COSO) e nos termos preconizados por Yin(2010).

    Nesta primeira fase da pesquisa, foram ainda objetos de anlise os processosadministrativos relativos autuao fiscal do IRPJ e da CSLL, desde o incio da fiscalizaofederal at a lavratura do Auto de Infrao, analisando ainda fatores ex-ante relacionados gesto do risco e controles gerenciais das operaes financeiras praticadas pela companhia, o

    papel dos auditores independentes, bem como os argumentos de defesa, documentos,planilhas e grficos elaborados e juntados por ocasio da apresentao de defesaadministrativa (impugnao) e da diligncia fiscal realizada por auditor fiscal especializado da

    RFB.Com base nos elementos coletados no estudo de caso, foram definidos os termos e

    argumentos de pesquisa para a realizao da segunda fase, que envolveu pesquisa documentale anlise abrangente de solues de consultas RFB e decises administrativas relativas aotema comprovao dehedge - assim, a segunda fase da pesquisa consistiu no acesso s

    bases de dados da RFB no stio da autarquia na internet9para busca de solues de consultasde contribuintes, de decises de primeira instncia das Delegacias Regionais de Julgamento(DRJ) de todo o pas e dos acrdos do Conselho de Recursos Administrativos Fiscais(CARF), utilizando trs termos, conforme legislao tributria analisada e literatura acerca dotema:hedge, cobertura e proteo, combinados com os tributos pertinentes glosa dedespesas (IRPJ, CSLL e Imposto de Renda Retido na Fonte - IRRF), referentes aos anos-calendrios de 1999 a 2010.

    Os dados selecionados na pesquisa foram analisados utilizando-se como mtodo aanlise de contedo, conforme proposto por Bardin (2006), sendo gerado como resultado umatabela contendo trechos relevantes das decises e a contagem dos fatores, para uma novaanlise qualitativa e quantitativa dos dados e confrontao com a teoria pesquisada.

    4 Estudo de Caso

    A Companhia A, objeto do estudo de caso, uma empresa comercial exportadora cujo

    objeto social principal a originao decommodities agrcolas acar e etanol - no mercadointerno para posterior revenda nos mercados interno e externo, colocando disposio de seusquotistas - unidades produtoras (usinas) de acar e lcool - sua estrutura administrativa efoco na gesto de contratos, logstica e estruturao financeira com instituies do Brasil e doexterior.

    Assim, conforme informaes colhidas durante o estudo de caso, a Companhia Apraticava com frequncia operaes financeiras em bolsas de mercadorias e futuros, dispondo

    9 Disponvel nolink: < http://www.receita.fazenda.gov.br/DefesaContribuinte/ementarios.htm>.

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    de mesa de operaes para negociar ascommodities que comercializava, exclusivamente embolsas no exterior, por intermdio de corretoras internacionais.

    A companhia praticava com frequncia ainda operaes financeiras no mercado debalco organizado, pela utilizao de contratos deswap com bancos nacionais (troca de fluxo

    de dlar pela taxa de negociao de CDI10

    ) ou operaes no mercado de balco (over thecounter) com futuros e opes de contratos de acar e gasolina no exterior. De acordo cominformaes da companhia, as mencionadas operaes financeiras tinham por finalidadeespecfica a proteo dos riscos de variao de dlar (ativos e passivos) e de variao doacar (sujeita cotao em Nova Iorque) e etanol na venda.

    Por outro lado, a Companhia A apurava o IRPJ e a CSLL, nos anos-calendrios de2003 e 2004, pelo mtodo do Lucro Real anual, de modo que as perdas em operaesfinanceiras com derivativos praticadas eram deduzidas em sua integralidade. No haviaqualquer tipo de controle apartado das posies protegidas e das operaes com derivativoscom objetivo dehedge, pois eram todas consideradas como tal.

    Nesse cenrio, a companhia foi intimada em 28/11/2008 da lavratura de Auto de

    Infrao pela RFB, em decorrncia de suposta falta/insuficincia de recolhimento de IRPJ eCSLL nos perodos de apurao compreendidos entre janeiro de 2003 e dezembro de 2004,nos montantes descritos na Tabela 1 principal, multa de ofcio de 75% do valor do dbito, e

    juros de mora calculados pela Taxa de Sistema Especial de Liquidao e Custdia (SELIC).

    Tabela 1 - Composio do crdito tributrio apurado IRPJ e CSLL

    DescrioValor (R$)

    IRPJ CSLL Total

    Imposto 5.027.533,34 1.846.737,45 6.874.270,79

    Juros de mora (calculados at 31/10/2008) 3.223.427,07 1.184.913,17 4.408.340,24

    Multa proporcional 3.770.649,99 1.385.053,08 5.155.703,07

    Valor do crdito tributrio apurado 12.021.610,40 4.416.703,70 16.438.314,10Fonte: Processo administrativo objeto de anlise no estudo de caso.

    De acordo com o Auto de Infrao, em procedimento de verificao do cumprimentodas obrigaes tributrias pelo sujeito passivo (companhia), fora identificada a ausncia deadio ao lucro lquido do perodo (2003 e 2004) dos valores referentes a perdas indedutveisem aplicaes financeiras, excedentes aos ganhos auferidos nas mesmas operaes, conformeTabelas 2 e 3, extradas e adaptadas do Termo de Constatao e Intimao Fiscal, anexo aoAuto de Infrao.

    Tabela 2 - Perdas em Aplicaes Financeiras (renda varivel) no adicionadas ao Lucro Real -Ano-calendrio de 2003 - Operaes com swapA B C D

    ANO Perdas GanhosValor tributvel

    (B-C)2003 712.301,80 - 712.301,80

    TOTAL 9.101.626,86 - 9.101.626,86Fonte: Processo administrativo objeto de anlise no estudo de caso.

    10 Certificado de Depsito Interbancrio.

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    Fatores que promovem discordncias entre fisco e contribuinte a respeito da comprovao dehedge

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    Tabela 3 - Perdas x Ganhos/Prmios em Operaes de Bolsa exceto day-trade e swap Anos-calendrios de 2003 e 2004.

    A B C D E

    MS/ANODespesa/perda epgto. de prmio

    GanhosPrmios

    recebidosValor tributvel

    (B-C-D)2003 16.079.164,18 2.264.382,78 5.937.549,35 7.877.232,052004 16.398.848,22 4.739.884,39 8.527.689,49 3.131.274,34

    TOTAL 32.478.012,40 7.004.267,17 14.465.238,84 11.008.506,39Fonte: Processo administrativo objeto de anlise no estudo de caso.

    Diante da autuao fiscal em questo, a companhia, por intermdio de seusprocuradores, dentro do prazo legal de 30 dias, apresentou impugnao perante a DRJ da RFBlocal, no intuito de afastar a cobrana do IRPJ e da CSLL incidentes sobre as perdas edespesas financeiras deduzidas no clculo do lucro real sem a limitao dos ganhos, tendo emvista a natureza dehedge das mencionadas operaes financeiras.

    Por ocasio da impugnao, a Companhia A requereu nova diligncia fiscal aos

    documentos e demonstrativos da empresa, com vistas a provar suas alegaes, sendo que osprincipais argumentos levantados foram:(i) os saldos mensais em US$ (passivo em aberto) dos financiamentos mantidos

    no perodo eram superiores aos montantes mensais por esta operados em contratos deswap nomesmo perodo;

    (ii) as perdas totais em operaes de swap no perodo, decorrentes da queda nacotao da moeda norte-americana ao longo do ano de 2003, foram integralmente suplantadas

    pelos ganhos (receitas) mensais contabilizados pela empresa com variaes cambiaisvinculadas aos contratos de financiamento em aberto;

    (iii) se os saldos mensais de operaes financeiras com futuros e opes soinferiores aos saldos mensais de ativos e passivos vinculados atividade operacional da

    companhia e expostos ao risco de variao de preos, pode-se afirmar com segurana que setrata de operao de cobertura (hedge). Os mencionados saldos mensais se referem aosvalores nocionais das opes em aberto e podem ser mensurados pelo somatrio de todos os

    preos de exerccio (strikes) multiplicado pelo volume de mercadoria (commodity) negociadoem cada contrato;

    (iv) se o resultado econmico gerado pela variao do preo das commoditiesnegociadas pela empresa for positivo, ainda que aps cotejado com o resultado financeironegativo (perdas auferidas/prmios pagos) gerado pelas operaes financeiras com derivativosde mesma espcie, verifica-se que o intuito de proteger-se (hedge) foi atingido.

    Diante dos argumentos acima, o pedido de diligncia fiscal foi acatado pelosjulgadores administrativos de primeira instncia, oportunidade em que a Companhia Aapresentou contratos de financiamento e razes contbeis auxiliares (contas de emprstimose financiamentos, no passivo circulante e no circulante) como evidncias de que mantinha,durante o perodo fiscalizado, linhas de financiamento em dlares norte-americanos perantediversas instituies financeiras, passveis de variao cambial em funo da cotao damoeda norte-americana, tendo demonstrado que especificamente no ano-calendrio de 2003, acotao da moeda norte-americana no Brasil sofreu variaes bruscas, conforme cotaesoficiais divulgadas pelo Banco Central do Brasil (Bacen) Grfico 1.

    Dessa forma, em decorrncia da volatilidade cambial verificada, a Companhia Aauferiu ganhos decorrentes de variao cambial, devidamente contabilizados (os razes

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    auxiliares das contas contbeis de receita e despesa foram juntadas ao processoadministrativo), haja vista que possua contratos de financiamentos em dlar (Tabela 4).

    Grfico 1 - Variao da cotao do dlar norte-americano (2003)

    Fonte: Processo administrativo objeto de anlise no estudo de caso.

    Tabela 4 - Variaes cambiais decorrentes dos Contratos de Financiamentos (passivo)Ms de

    apropriaoReceita variao

    cambialDespesa variao

    cambialGanho/Perda

    lquidoMar/2003 2.414.348,07 109.148,16 2.305.199,91Abr/2003 26.471.368,10 26.471.368,10Mai/2003 3.307.132,37 (3.307.132,37)Jun/2003 3.984.790,30 3.984.790,30Jul/2003 3.173.591,49 (3.173.591,49)

    Ago/2003 3.105,71 430.318,79 (427.213,08)Fonte: Processo administrativo objeto de anlise no estudo de caso.

    Assim, com fundamento na volatilidade da cotao da moeda norte-americana, aCompanhia A apresentou os contratos deswap firmados com diversas instituies financeiras

    brasileiras, com os respectivos registros no sistema CETIP (servio de registro eletrnicoautorizado pelo Bacen) e conforme valores contabilizados nas contas de ativo (circulante eno circulante).

    Ademais, a Companhia A afirmou que foram essas mesmas operaes que geraram asperdas com swap objetos de glosa por parte da RFB, as quais foram comprovadamentecontabilizadas como despesas do perodo de competncia, conforme extratos de liquidaodas operaes apresentados, resumidas no Grfico 2.

    Grfico 2 - Composio das perdas com operaes de swap (2003)

    Fonte: Processo administrativo objeto de anlise no estudo de caso.

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    Como forma de comprovar o resultado econmico da operao deswap, a CompanhiaA demonstrou que as perdas (despesas) mensais decorrentes desses contratos foram inferioresaos ganhos (receitas) mensais contabilizados com variaes cambiais, vinculadas aos contatos

    de financiamento em aberto com as instituies financeiras, conforme Tabela 5.

    Tabela 5 - Variaes cambiais decorrentes dos Contratos de Financiamentos (passivo) x perdasdecorrentes de operaes com swap

    Ms Ganho/Perda lquidoPerda decorrente

    operaes com swapMar/03 2.035.199,91 (712.301,80)Abr/03 26.471.368,10 (7.045.735,34)Mai/03 (3.307.132,37) (63.038,55)Jun/03 3.984.790,30 (472.375,12)Jul/03 (3.173.591,49) (724.231,45)

    Ago/03 (427.213,08) (83.914,70)

    Fonte: Processo administrativo objeto de anlise no estudo de caso.

    A Companhia A demonstrou ainda que os saldos mensais em US$ (passivo em aberto)dos financiamentos mantidos de abril a agosto de 2003 (meses em que as perdas excederam osganhos) eram superiores aos valores nocionais mensais por esta operados em contratos de

    swap no mesmo perodo, conforme Grfico 3.

    Grfico 3 - Comparativo de operaes de swap e saldo de contratos financeiros (2003)

    Fonte: Processo administrativo objeto de anlise no estudo de caso.

    Por outro lado, a Companhia A demonstrou ainda que as perdas totais em operaesdeswap no perodo de abril a agosto de 2003 (R$ 9.101.626,96), decorrentes da queda nacotao da moeda norte-americana ao longo do ano de 2003, foram integralmente suplantadas

    pelos ganhos (receitas) mensais contabilizados pela empresa com variaes cambiaisvinculadas aos contratos de financiamento em aberto, os quais, lquidos das despesascontabilizadas da mesma natureza, montaram R$ 25.853.421,37 no perodo, gerando resultadoeconmico tributvel de R$ 16.751.794,41 nas operaes financeiras questionadas pelo fiscofederal.

    No que se refere s operaes com futuros e opes em bolsas de mercadorias efuturos no exterior, a Companhia A informou fiscalizao ter celebrado, nos anos-calendrio

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    de 2002, 2003 e 2004, inmeros contratos com importadores de acar no exterior, os quais jhaviam sido juntados ao processo administrativo, na apresentao da defesa, contendo osvolumes mensais que eram devidos pela empresa desde a data da contratao e que deviamser entregues de acordo com a cadncia11 estipulada pelos compradores no ato da negociao.

    Assim, cada contrato de exportao apresentado pela Companhia A continha todas asinformaes pertinentes qualidade do acar ou etanol, quantidade a ser exportada, datas deembarque, multas por atraso de embarque ou prmios por adiantamento, terminal porturio e

    preo referencial para os produtos entregues, fixado de acordo com o contrato padronizado n.11 da ICE12 (no caso do acar), gerando uma expectativa de receita para a empresa emdecorrncia desses contratos.

    Dessa forma, a cada contrato celebrado, considerando-se o risco de variao de preosdo acar (e do etanol) negociado, a Companhia A praticava operaes com derivativos como intuito de hedge proteo contra variaes na cotao dos preos desde a data docompromisso de venda at a data da efetiva entrega, quando eram calculados os preos finaisde venda (receita de exportao), de acordo com a cotao do preo do produto naquela data

    (preo vista spot).Logo, a Companhia A demonstrou, por meio do Grfico 4, que no perodo de agosto

    de 2002 a dezembro de 2004, a cotao do preo do acar (VHP) teria sofrido altasexpressivas no mercado mundial (ICE Contrato n. 11).

    Por tal, a Companhia A elaborou e apresentou fiscalizao demonstrativo contendo adata do fechamento de cada contrato, perodo de vencimento, perodo de exposio decontratos de venda, data da liquidao, preo (strikes), quantidade de contratos, volume porcontrato e, finalmente, por volume negociado em US$. Em seguida, a empresa apresentou fiscalizao cada contrato operado em bolsa de acordo com o perodo mensal de exposio

    para os anos-calendrio 2003 e 2004.

    Grfico 4 - Variao da cotao mensal do acar na bolsa de Nova York (2002/2003/2004)

    Fonte: Processo administrativo objeto de anlise no estudo de caso.

    11 Cronograma de entrega de mercadoria adquirida em lotes ou grandes quantidades.12IntercontinentalExchange Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de Nova York, antiga New York Boardof Trade (NYBOT).

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    A Companhia A, ademais, afirmou operar de diversas maneiras no mercado dederivativos, tendo realizado compras e vendas de opes relativas ao contrato de acar naICE (denominado de SUGAR#11), tanto de compra (calls) como de venda (puts), a dependerdas tendncias do mercado decommodities agrcolas e da estratgia financeira definida pela

    empresa, ressaltando que a posio tomada na bolsa anulou perfeitamente a variao de preoobservado no mercado real13, tendo sido aqum dos saldos de obrigaes futuras relacionadas entrega dos volumes contratados de acar, conforme os Grficos 5 e 6.

    Grfico 5 - Comparativo entre contratos de exportao com operaes em bolsa de valores,mercadorias e futuros (2003)

    Fonte:Processo administrativo objeto de anlise no estudo de caso.

    Grfico 6 - Comparativo entre contratos de exportao com operaes em bolsa de valores,mercadorias e futuros (2004)

    Fonte: Processo administrativo objeto de anlise no estudo de caso.

    Ao cotejar os ganhos percebidos pela Companhia A com a alta dos preos do acarcom as perdas auferidas no perodo de abril de 2003 a dezembro de 2004, verifica-se que a

    13 Tambm denominado de fsico, ou seja, refere-se aos acrscimos ou decrscimos de receita bruta de vendade mercadorias auferidos por conta da variao de preos da prpriacommodity negociada.

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    empresa apurou resultado econmico positivo de R$ 17.070.709,83 nas operaes emdiscusso, relativo ao ano-calendrio de 2003. J no ano-calendrio de 2004, o resultadoeconmico apurado fora de R$ 11.881.722,37.

    Por fim, a Companhia A elaborou e apresentou fiscalizao demonstrativos

    comprovando a correlao dos contratos de exportao firmados com o volume de contratosnegociados em bolsa de valores, mercadorias e futuros (valores em dlares), resumidos nasTabelas 6 e 7.

    Tabela 6 - Exposio: contratos de exportao x exposio em Bolsa ano-calendrio 2003

    MsContratos de

    exportao em abertoOperaes em bolsa (contrato

    futuro SUGAR#11)Jan/03 59.176,109 48.321,843Fev/03 59.176,09 73.405,767Mar/03 52.082,021 63.215,079Abr/03 49.715,718 69.471,959Mai/03 106.877,677 58.443,330

    Jun/03 106.152,584 67.875,181Jul/03 105.696,535 83.674,886

    Ago/03 91.900,332 70.455,930Set/03 118.188,798 60.866,008Out/03 118.188,798 85.001,526

    Nov/03 106.854,112 68.203,397Dez/03 122.035,263 63.157,573

    Fonte: Processo administrativo objeto de anlise no estudo de caso.

    Assim, aps a anlise dos novos elementos trazidos pela Companhia A durante adiligncia fiscal, foi emitido o Termo de Concluso de Diligncia Fiscal, que, por sua vez,

    representou a resposta do auditor fiscal responsvel aos quesitos tcnicos impostos pelosJulgadores da DRJ (primeira instncia), para formao de sua convico durante seujulgamento.

    Tabela 7 - Exposio: contratos de exportao x exposio em Bolsa ano-calendrio 2004

    MsContratos de

    exportao em abertoOperaes em bolsa (contrato

    futuro SUGAR#11)Fev/04 109.535,916 68.130,541Mar/04 103.899,252 47.410,675Abr/04 115.227,458 30.934,926Mai/04 95.486,116 6.931,814Jun/04 141.991,908 22.938,810

    Jul/04 140.656,691 25.963,537Ago/04 132.283,397 27.657,515Set/04 163.327,196 77.943,555Out/04 156.018,343 34.463,501

    Nov/04 154.649,280 40.196,527Dez/04 150.977,433 59.653,097

    Fonte: Processo administrativo objeto de anlise no estudo de caso.

    No que se referiu s operaes comswap, a fiscalizao constatou que o contribuintede fato mantinha linhas de financiamento atreladas variao do dlar em sua maioria,operaes de pr-pagamento exportao -, afirmando que, como houve a desvalorizao do

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    dlar norte-americano no perodo, tais contratos sofreram variao cambial ativa,configurando-se receita contabilizada e oferecida tributao pelo IRPJ. Por outro lado, afiscalizao reconheceu que, para se proteger de eventuais valorizaes cambiais, aCompanhia A realizava aplicaes por meio de operaes deswap, tendo constatado que as

    perdas (despesas) mensais decorrentes dos contratos deswap foram bem inferiores aos ganhos(receitas) mensais contabilizados com variaes cambiais vinculadas aos contatos definanciamento em aberto.

    No que se referiu s operaes com futuros e opes, a fiscalizao tambm concluiuque os valores efetivos de receita de exportao auferidos pela Companhia A em decorrnciada entrega do acar e etanol, sujeitos a variaes em funo da cotao em bolsas demercadorias e futuros no exterior, foram maiores do que em relao expectativa inicial, noato da contratao, concluindo que justamente esse tipo de variao que a contribuinte,operando os contratos futuros, deseja evitar.

    Dessa forma, a fiscalizao concluiu que a Companhia A de fato realizou operaes dehedge para se proteger contra variaes bruscas de cotao de preos do acar e etanol,

    evitando, assim, perdas expressivas nas receitas de exportao por meio da contratao deoperaes com derivativos, podendo, portanto, considerar as perdas decorrentes comodedutveis no clculo do IRPJ, conforme determina a legislao tributria vigente.

    O estudo de caso realizado demonstra a existncia de divergncias de interpretao eanlise em funo de assimetria de informao entre contribuinte e Fisco federal, relativa comprovao da natureza dehedge das operaes financeiras praticadas, na medida em que,diante da documentao colhida e apresentada pela Companhia A, bem como pelas entrevistasrealizadas com os responsveis pela empresa, verificou-se a existncia de risco ex-ante devariao de preos decommodities e de cotao de moedas a ser protegido.

    Nesse contexto, o estudo de caso aponta para que, mesmo na ausncia de normastributrias claras relativas ao hedge accountingpara fins de comprovao da natureza dehedge de suas operaes financeiras, a Companhia A conseguiu demonstrar com sucesso aoFisco federal que estas visavam, nos anos-calendrios de 2003 e 2004, proteger ativos e

    passivos devidamente registrados em seu balano patrimonial e intrinsecamente relacionadosa sua atividade operacional.

    Alm da questo documental, outro fator que pode ser observado no caso a questoda atividade operacional realizada: a empresa fezhedge de operaes com dlar, necessrias

    para se proteger de oscilaes cambiais, inerentes operao com exportaes. Do mesmomodo, a empresa fezhedge de preo dos produtos comercializados, de modo a proteger-se deoscilaes nos valores de mercado de seus produtos, que so commodities. Esse fatorcontribuiu para que fosse comprovada a existncia dehedge, uma vez que a operao com

    derivativos que no estejam ligados atividade operacional da empresa, nos termos dalegislao tributria brasileira, no so de fato dedutveis na apurao do lucro real.Outro fator que tambm pode ser apontado a partir da observao do caso a questo

    das estratgias dehedge adotadas.Swaps, futuros e opes foram os derivativos usados para aproteo de posies em dlar e posies de mercadorias sujeitas a oscilaes de preo,derivativos compatveis com a estratgia de proteo, j que os seus valores nocionais oscilamem sentido contrrio oscilao dos valores das posies protegidas. Se os instrumentosutilizados no fossem compatveis com as posies protegidas, a comprovao de hedgeparafins de deduo fiscal das perdas seria de difcil realizao.

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    Dessa forma, com base na anlise acima, o estudo do caso oferece evidncia de trspossveis fatores que podem contribuir para a ocorrncia de divergncias entre Fisco econtribuinte na comprovao do hedge: (i) comprovao documental; (ii) relao com aatividade operacional; e (iii) estratgias dehedge adotadas.

    5 Decises administrativas sobre o tema

    Com base nos elementos colhidos no estudo de caso, conforme mtodo descrito naSeo 3, foi realizada a segunda fase da pesquisa com o intuito de verificao em outrasdecises da existncia ou no dos mesmos fatores identificados nas anlises relativas Companhia A, cujos resultados gerais encontrados so demonstrados na Tabela 8.

    Tabela 8 - Resultados encontrados na pesquisa na base de dados da RFB

    ARGUMENTOS DE PESQUISA RESULTADOSrgo Tipo Termo Perodo Tributo Totais Relacionados

    RFBSoluo deConsulta

    Hedge

    n/a

    IRPJ 5 5CSLL 5 5IRRF 2 2

    CoberturaIRPJ 5 0

    CSLL 0 0IRRF 16 1

    ProteoIRPJ 3 0

    CSLL 0 0IRRF 1 0

    Delegacia deJulgamento da RFB

    Deciso deprimeira instncia

    Hedge

    n/a

    IRPJ 24 23

    CSLL 2 2IRRF 9 9

    CoberturaIRPJ 35 5

    CSLL 2 1IRRF 13 1

    ProteoIRPJ 18 9

    CSLL 5 1IRRF 4 2

    CARF AcrdoHedge

    05/2001 a 05/2010 n/a13 10

    Cobertura 74 4Proteo 176 1

    Fonte: Dados da pesquisa.

    Da anlise da Tabela 8 possvel depreender que a utilizao do termo hedge napesquisa indica a correlao direta ao tema comprovao dehedge, em todas as instncias,da mesma forma em que quando utilizados os termos cobertura e proteo, a maioria dosresultados retornados no tem correlao com o tema estudado.

    Nota-se que no mbito da RFB, poucas (7) so as Solues de Consulta decontribuintes que tratam diretamente da questo da comprovao da natureza dehedge parafins de aproveitamento do benefcio da dedutibilidade. Esse resultado pode ser explicado pelofato de que a legislao aplicvel s despesas financeiras e perdas auferidas nas operaes dehedge incontroversa, restando dvidas to somente na anlise dos documentos que

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    Fatores que promovem discordncias entre fisco e contribuinte a respeito da comprovao dehedge

    43 ISSN 2175-8069, UFSC, Florianpolis, v. 10, n. 21, p. 25-50, set./dez. 2013

    comprovam a efetividade das operaes financeiras, anlise esta que somente pode ocorrermediante fiscalizao da RFB.

    No mbito das DRJ da RFB espalhadas pelo pas, diversos so os resultadosretornados na pesquisa relativa ao tema comprovao de hedge e selecionados aps a

    anlise de contedo, fato esperado na medida em que nesta instncia de julgamento que soanalisados os documentos juntados pelos contribuintes por ocasio da Impugnao aos Autosde Infrao da RFB, conforme discutido por Pedwell (2000).

    Nesse contexto, elaborou-se a Tabela 9 com base nos resultados retornados napesquisa de julgados em primeira instncia administrativa, contendo dados relativos aonmero do acrdo, data, se favorvel ou no ao contribuinte no que se refere comprovaoda natureza dehedge das operaes financeiras e os argumentos utilizados pelos julgadores

    para fundamentar sua deciso.Para elaborao da Tabela 9, com base nos elementos identificados no estudo de caso

    realizado, foram analisados trs fatores nas decises administrativas, a seguir descritos:(i) atividade da empresa: questes relacionadas correlao das operaes

    financeiras praticadas com as atividades da companhia, seu objeto social e a existncia ou node outras operaes consideradas especulativas;

    (ii) comprovao documental: argumentos relacionados necessidade decomprovao documental das operaes financeiras praticadas, a comprovao da existnciade ativos ou passivos a ser protegidos, a contabilizao adequada de acordo com o regime decompetncia e a existncia de registro no Bacen, sobretudo no que se refere s operaes de

    swap;(iii) estratgia de hedge: argumentos relativos escolha do mecanismo e dos

    instrumentos financeiros especficos adotados pela companhia com a finalidade dehedge.J no mbito do CARF rgo colegiado responsvel pelo julgamento de recursos dos

    contribuintes contra decises desfavorveis perante as DRJ, bem como de recursos de ofcioda Fazenda Nacional em casos de derrota em primeira instncia administrativa -, poucos soos acrdos hbeis a delimitar um posicionamento claro, o que implica afirmar que ainda noh jurisprudncia pacificada sobre o tema comprovao dehedge.

    Verifica-se que, depois de realizadas as buscas iniciais nas diferentes instncias daRFB (consultas, decises das DRJ e acrdos do CARF), a anlise mais profunda dos fatoresque afetam o sucesso ou no da comprovao da natureza dehedge das operaes financeiras

    praticadas pelas empresas somente foi possvel no mbito da primeira instnciaadministrativa, confirmando a j citada hiptese de Pedwell (2000).

    Nesse cenrio, do total de 22 decises de DRJ da RFB localizadas em todo o Pas, setetiveram como argumento decisivo a discusso acerca da estratgia de hedge adotada pelo

    contribuinte autuado e oito tiveram como anlise determinante pelos julgadores a correlaoe/ou correta vinculao das operaes financeiras praticadas pelo contribuinte autuado comsua atividade operacional, bem como com seu objeto social, conforme requer a legislaotributria que rege a matria (art. 77, Lei n. 8.981/95).

    Entretanto, chama a ateno o fato de que 68% das decises de primeira instnciaanalisadas (15) tenham deixado as questes acima de lado e tratado principalmente da questodocumental relativa aohedge. Esse resultado sugere a importncia do tema comprovao dehedge para o sucesso das companhias brasileiras na defesa de autuaes fiscais relativas dedutibilidade de suas perdas financeiras na apurao do lucro real (IRPJ).

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    Ralph Melles Sticca e Slvio Hiroshi Nakao

    ISSN 2175-8069, UFSC, Florianpolis, v. 10, n. 21, p. 25-50, set./dez. 2013 44

    Ademais, das 22 decises selecionadas, apenas quatro foram favorveis existncia dehedge e, portanto, aos contribuintes, o que implica afirmar que 82% dos textos analisadosdemonstraram que, na ausncia de formulrios ou controles internos obrigatrios, a posiodo Fisco federal de sustentar a glosa das despesas com operaes financeiras, como se, de

    forma geral, o contribuinte no tivesse sido capaz de afastar de forma contundente e suficienteo carter especulativo de suas operaes financeiras com derivativos, em razo dos fatoresdescritos no Quadro 1.

    Quadro 1 Fatores relevantes identificados na Anlise Documental de decises da RFB emprimeira instncia administrativa

    Fator DescrioGerencial Comprovao de que as operaes financeiras praticadas pelo contribuinte eram necessrias, usuais

    e normais atividade da companhia, inclusive quanto aos seus valores e volumes; comprovao deque as operaes com opes flexveis de dlar correspondem cobertura ( hedge) destinada

    proteo contra oscilaes da taxa de cmbio; comprovao de que as operaes financeiras erampertinentes proteo dos direitos e obrigaes do contribuinte; apresentao das operaes de

    forma clara e inequvoca; e compatibilidade das operaes financeiras praticadas pelo contribuintecom a proteo cambial necessria.Contratual Comprovao da existncia de ativos e passivos a serem protegidos, j registrados; suporte

    documental adequado, idneo, hbil a comprovar a normalidade e necessidade das operaesfinanceiras praticadas pelo contribuinte; e apresentao dos extratos de corretoras e demaisdocumentos que deram origens s aplicaes.

    Contbil Existncia de registro contbil como condio para que a operao financeira faa jus ao benefciofiscal (dedutibilidade das perdas); contabilizao adequada, em contas especficas cujas funes soas de que se nelas registrem operaes com propsito de hedge; e necessidade de contabilizaodos resultados (perdas e prmios pagos) de acordo com o regime de competncia, sob pena deindedutibilidade.

    Fonte: Dados da pesquisa.

    Dessa forma, a pesquisa documental realizada, cujos resultados foram potencializadoscom a realizao de anlise de contedo embasada no que discutem a teoria e a legislaotributria brasileira, mostra-nos que o problema de pesquisa real, relevante e est presenteno dia a dia das companhias brasileiras, na medida em que 82% das empresas autuadas peloFisco federal no perodo estudado no tiveram sucesso no afastamento das glosas de suasdespesas financeiras dehedge na primeira instncia administrativa, sem qualqueraveriguao,

    por bvio, se estas de fato realizavam ou no as operaes financeiras com derivativos comeste intuito.

    Desse modo, pode-se concluir que os resultados obtidos nesta anlise documentalreforam a identificao dos fatores apontados na anlise do estudo de caso, uma vez que a

    presena ou ausncia de um desses elementos mostrou-se preponderantemente determinantepara o sucesso ou insucesso da comprovao dehedge nas operaes examinadas, relativas acontribuintes em todo o Brasil e de variados setores da economia.

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    Fatores que promovem discordncias entre fisco e contribuinte a respeito da comprovao de hedge

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    Tabela 9 - Resultados da pesquisa de julgados em primeira instncia administrativa

    Ordem Acrdo Data Argumento

    Fator 1:atividade

    daempresa

    Fator 2:comprovaodocumental

    Fator 3:estratgiadehedge

    Favorvel

    existnciadehedge?

    1N 16-

    48124/02/1999

    No logrando o contribuinte comprovar a existncia de ativos a serem protegidos, correta a glosa dosprejuzos comhedge.

    - Ausente - No

    2N 16-

    97007/04/1999

    Descaracterizadas como operaes de hedging, por falta de amparo legal, h que se manter a glosa deprejuzos assumidos com terceiros e incompatveis com os objetivos sociais do contribuinte.

    Ausente - - No

    3N 16-

    21331/12/2001

    As operaes com SWAP e EXPORT NOTES, se no estiverem relacionadas com as atividades daempresa ou no se destinarem proteo de direitos e obrigaes da mesma, aplicvel a glosa das

    perdas que excederem aos ganhos da mesma natureza.Ausente Ausente - No

    4N 16-

    111004/07/2002

    Perdas com operaes dehedge suportadas por documentos inidneos e perdas no caracterizadas comodespesas necessrias atividade da empresa, possibilita o lanamento do IRPJ com retificaes dos

    prejuzos fiscais.Ausente Ausente - No

    5N 12-

    148423/07/2002

    No caso especfico de instituies financeiras, os ganhos e perdas com operaes de hedge constituem,respectivamente, acrscimo e deduo base de clculo do IRPJ por estimativa.

    Presente - - Sim

    6N 16-

    153217/09/2002

    O gozo do benefcio da alquota zero do imposto de renda incidente nas remessas para beneficirios residentesou domiciliados no exterior, nas operaes internacionais de cobertura de variaes de paridade entre moedas

    (hedge), impe a comprovao de que tais operaes sejam necessrias, usuais e normais, inclusivequanto ao seu valor, para a realizao da cobertura de riscos delas decorrentes, obedecida a regulamentao

    pertinente.

    - Ausente - No

    7N 16-

    159701/10/2002

    Quando a operao de swap no se revelar pertinente s atividades da empresa ou proteo de seusdireitos e obrigaes, fica descaracterizado o propsito de cobertura de risco (hedge) da operao. Nesse

    caso, para fins de dedutibilidade na determinao do lucro real, impe-se o reconhecimento das perdasapuradas em operaes de swap somente at o limite dos ganhos auferidos nas operaes de mesma natureza.

    Ausente - - No

    8N 16-

    279820/02/2003

    Mantido o lanamento haja vista a falta de a presentao de documentao hbil que comprove anormalidade e necessidade dessas operaes; existncia de extratos que comprovam que a empresa fazia

    operaesday-trade, cujas perdas no podem ser consideradas para efeito de apurao do lucro real; nocomprovao de que tais operaes eram de hedge; e pelo fato de que a empresa nunca teve como objeto

    social a prtica de operaes em bolsa de valores ou de mercadorias.

    Ausente Ausente - No

    9N 12-

    379429/04/2003

    Se existirem operaes contabilizadas em contas cujas funes so as de que se nelas registrem operaescom propsito dehedge, deve-se supor que elas de fato tenham esse objetivo e no de especulao como

    alega o contribuinte, mas no o comprova devidamente.- Presente - Sim

    10N 06-

    360508/05/2003

    O repasse de obrigaes contradas em moeda estrangeira, para recebimento em moeda nacional, implicariscos suscetveis de serem neutralizados ou minimizados por meio dehedge, regulamentado pela Circular n.

    2.348, de 1993, do Banco Central do Brasil. Nessa categoria, entretanto, no se classificam operaes de NonDelivery Currency Forward pelas quais o repassador, em vez de contratar a compra futura de dlares,contrata a venda f utura dessa moeda, posto que o efeito dessas operaes inverso, ou seja, de ampliar, em

    vez de minimizar ou neutralizar o risco cambial.

    - - Ausente No

    11N 12-

    446031/10/2003

    admissvel, para fins de apurao do Imposto de Renda Pessoa Jurdica, a deduo das perdas decorrentes deoperaes de cobertura (hedge) realizadas em mercados de liquidao futura, diretamente pela empresa

    brasileira, em bolsas no exterior (...). Podem ser objeto de proteo (hedge) contra o risco de variaes detaxas de juros, de paridades entre moedas e de preos de mercadorias, no mercado internacional, ospagamentos e recebimentos em moedas estrangeiras programados ou previstos para ocorrerem em

    - - Presente Sim

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    Ralph Melles Sticca e Slvio Hiroshi Nakao

    ISSN 2175-8069, UFSC, Florianpolis, v. 10, n. 21, p. 25-50, set./dez. 2013 46

    momento futuro, relacionados com obrigaes e direitos de n atureza comercial ou financeira.

    12N 16-

    459716/12/2003

    Porno lograr comprovar que as operaes com opes flexveis de dlar correspondem cobertura(hedge) destinada proteo contra oscilaes da taxa de cmbio, tais operaes no esto excepcionadas

    da limitao para a deduo das perdas havidas.- Ausente Ausente No

    13N 16-

    471922/01/2004

    As perdas apuradas em operaes de swap somente so dedutveisat o limite dos ganhos nas operaes demesma natureza se estiverem devidamente registradas. Somente no se deve observar o limite dos ganhos s e oswap teve finalidade dehedge ou a operao d a atividade operacional da empresa. Correta a glosa dasperdas quando no ficou demonstrado que as operaes foram registradas e tampouco que tiveram

    finalidade dehedge.

    - Ausente - No

    14N 15-

    508608/04/2004

    Inexistente o ativo a ser protegido objeto das operaes de swap com cobertura (hedge) destinadas proteo de ativo em ouro contra oscilaes da taxa de cmbio, deve ser mantida a glosa.

    - Ausente - No

    15N 15-

    578208/09/2004

    Mantida a glosa de despesa contabilizada a ttulo de variaes monetrias passivas, referente operao dehedge, com o objetivo de desbloquear valores em cruzados, por ser desnecessria atividade da empresa.

    Ausente - - No

    16N 16-

    704509/05/2005

    Porno lograr comprovar que as operaes com opes flexveis de dlar correspondem cobertura(hedge) destinada proteo contra oscilaes da taxa de cmbio, tais operaes no esto excepcionadas

    da limitao para a deduo das perdas havidas.- Ausente Ausente No

    17N 12-14174

    18/05/2007

    Quando a operao deswap no se revelar pertinente proteo dos direitos e obrigaes docontribuinte, fica descaracterizado o propsito de cobertura de risco (hedge) da operao. Nesse caso, parafins de dedutibilidade na determinao do lucro real, impe-se o reconhecimento das perdas apuradas em

    operaes deswap somente at o limite dos ganhos auferidos nas operaes de mesma natureza.

    - Ausente - No

    18N 16-15966

    21/12/2007Cabe defesa a prova dos fatos modificativos ou extintivos da pretenso fazendria, no caso a comprovaode que a aquisio das opes flexveis de venda de dlar foi efetuada com o objetivo de proteo contra

    queda na taxa de cmbio.

    - Ausente Ausente No

    19N 07-14191

    03/10/2008So dedutveis na apurao do lucro real as perdas apuradas em contratos de swap hedge, segundo o regime decompetncia. Excluses de resultados nestas operaes referentes a outros anos-calendrio, que no o de

    apurao, so indedutveis.

    - Presente - Sim

    20N 07-17268

    21/08/2009A dedutibilidade das perdas em operaes de hedge, prevista em lei e limitado aos ganhos nas mesmas, no se

    aplica as operaes de hedge que visam proteo dos elementos patrimoniais (art. 77, inciso V da Lei8.981/95).

    - - Ausente No

    21N 16-23890

    17/12/2009

    Os valores resultantes de operaes deswap considerados dedutveis pelo contribuinte devem serdemonstrados de forma clara e inequvoca, acompanhados da respectiva documentao suporte, da

    prova de seu registro, da comprovao da finalidade e utilidade para a empresa, alm dacompatibilidade com a proteo cambial necessria.

    Ausente Ausente Ausente No

    22N 16-27743

    11/11/2010Para que sejam consideradas dedutveis as perdas com as operaes de hedge, so indispensveis as

    apresentaes dos documentos que deram origem s aplicaes e que sejam demonstradas as devidascontabilizaes nos livros contbeis.

    - Ausente - No

    TOTAIS 8 15 7

    Fonte: Elaborada pelos autores, com base na anlise de contedo das decises da DRJ selecionadas na anlise documental.

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    DOI: http://dx.doi.org.br/10.5007/2175-8069.2013v10n21p25

    47 ISSN 2175-8069, UFSC, Florianpolis, v. 10, n. 21, p. 25-50, set./dez. 2013

    6 Concluses

    Este trabalho investigou os fatores que levam a dissonncias entre fisco e contribuinte

    a respeito da comprovao de ocorrncia dehedge em operaes financeiras, por meio deestudo de caso de autuao fiscal e anlise documental de decises administrativas.O estudo de caso realizado corroborou a literatura nacional e internacional revisada

    acerca do tema no sentido da existncia de discordncias entre contribuintes e fisco federal,decorrentes da assimetria de informao especificamente no que se refere comprovao dasoperaes financeiras com o intuito dehedge, na medida em que no obstante a Companhia Aestivesse sujeita a variaes cambiais de seus passivos (contratos de financiamentointernacional e pr-pagamento exportao) e mesmo ativos (clientes a receber no exterior),

    bem como a variaes de preo das principaiscommodities que comercializavam (acar eetanol), o fisco federal acabou por glosar as perdas financeiras apuradas pela empresa,tratando-as como se especulativas fossem.

    Por outro lado, em decorrncia da apresentao de documentos, planilhas e grficoselaborados e juntados pela empresa em resposta autuao fiscal, bem como em decorrnciado resultado positivo da diligncia fiscal efetuada, conclui-se que a assimetria informacionalexistente fora reduzida, considerando o sucesso da empresa em primeira instnciaadministrativa, corroborando os estudos revisados no sentido de esta tender a ser maistcnica em seus julgamentos.

    Da mesma forma, a pesquisa documental realizada nas decises de primeira instnciadas DRJ em todo o Brasil demonstram que a comprovao da natureza dehedge passa porquestes gerenciais, tais como comprovao de que as operaes financeiras praticadas pelocontribuinte eram necessrias, usuais e normais atividade da companhia; contratuais, taiscomo a comprovao da existncia de ativos e passivos a serem protegidos; e contbeis, taiscomo contabilizao adequada e de acordo com o regime de competncia.

    Com base no estudo, portanto, verificou-se que so fatores de dissonncia entrecontribuinte e fisco federal, principalmente, a ausncia:

    (i) de normas legais e/ou administrativas claras relativas ao tema comprovaode hedge a serem seguidas pelos contribuintes e observadas pelas autoridades fiscais, asquais, a julgar pela anlise individualizada do estudo de caso, no detm de conhecimentotcnico uniforme, do ponto de vista contbil e econmico, para lidar com operaesfinanceiras com derivativos, na maioria dos casos de grande complexidade;

    (ii) nas normas tributrias e contbeis de controles internos obrigatrios eespecficos a serem utilizados pelas companhias com o intuito de demonstrar a eficcia do

    hedge das operaes financeiras que praticam, na medida em que a contabilidade de hedgeprevista no Pronunciamento Tcnico CPC 38 somente ser aplicada caso a prpria companhiadetenha indcios claros da existncia de operaes dehedge e objetos dehedge;

    (iii) de demonstrativos padronizados a serem preenchidos e entregues ao Fisco,como o caso das Fichas da Declarao de Informaes Econmico-Fiscais da PessoaJurdica (DIPJ), entregue anualmente pelas pessoas jurdicas, na medida em que soapresentadas informaes financeiras relativas a ativos, passivos, resultados, preos detransferncia e outras informaes de interesse do Fisco federal, dentre as quais atualmenteno se incluem instrumentos financeiros derivativos e operaes dehedge.

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    Ralph Melles Sticca e Slvio Hiroshi Nakao

    ISSN 2175-8069, UFSC, Florianpolis, v. 10, n. 21, p. 25-50, set./dez. 2013 48

    No que se refere ao item 3, tomando-se por base a DIPJ do exerccio de 2012,referente ao ano-calendrio de 2011, para fins da correta classificao da natureza dasoperaes financeiras de determinada pessoa jurdica se com a finalidade dehedge ou no -,uma nova ficha na Pasta Informaes da DIPJ poderia ser criada, com informaes a serem

    preenchidas pela empresa ou mesmo transportadas automaticamente das fichas relativas sDemonstraes Financeiras, no intuito de apresentar RFB todas as informaes relevantes eindispensveis para a fiscalizao da dedutibilidade das perdas e despesas financeiras dessanatureza.

    Assim, as anlises realizadas e os resultados encontrados apontam para a necessidadepremente de alterao legislativa ou de evoluo da legislao existente com vistas a disporclaramente das anlises que podero ser feitas pelo Fisco federal em caso de fiscalizao dasoperaes financeiras de hedge das companhias; forma de apresentao de informaes edocumentos por parte do contribuinte com vistas a comprovar a natureza de proteo de suasoperaes financeiras, afastando o risco da indedutibilidade das perdas; e, metodologiasadicionais quelas exigidas pela norma contbil (notadamente, CPC 38, CPC 39 e CPC 40)

    com vistas a reconhecer, mensurar e evidenciar contabilmente as operaes financeiras com ointuito dehedge.

    Por fim, este trabalho estabeleceu nova abordagem para a anlise da assimetria deinformao entre companhias brasileiras e Fisco federal, qual seja, o ponto de vista docontribuinte, denominado agente nessa relao, que tem interesses em evitar ou ao mesmoreduzir osbonding costs, levantando a necessidade de inovao normativa em busca de maiortransparncia e segurana jurdica das relaes entre Fisco-contribuinte, na linha discutida porLien e Metz (2001) e Mischler (1999).

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    Fatores que promovem discordncias entre fisco e contribuinte a respeito da comprovao dehedge

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