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Fátima Regina Negrão1

Cláudio Luiz Garcia2

CONVERSANDO E GRAVANDO A GENTE SE ENTENDE – PRÁTICA EM

GRAVURA

LONDRINA

2013

1Professora da Escola Estadual Nóbrega da Cunha, cursista PDE, pertencente ao Núcleo Regional de

Educação de Cornélio Procópio. 2Professor Doutor, Orientador do PDE, Universidade Estadual de Londrina.

Bom mesmo é ir à luta com determinação, abraçar a vida com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito para ser insignificante.

(Augusto Branco)

RESUMO

Este artigo aborda a gravura (monotipia e xilogravura) no contexto do projeto de

intervenção pedagógica na disciplina de Artes, desenvolvido no Programa de

Desenvolvimento da Educação – PDE, na Escola Estadual Nóbrega da Cunha –

Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos, de Bandeirantes. O objetivo

da proposta foi contribuir para a formação continuada de professores e melhorar a

qualidade do ensino na escola pública, por meio de melhoria das relações intra e

interpessoais. Neste trabalho foram desenvolvidos processos de criação pelos

estudantes participantes do projeto e também, oportunidade para conhecer e aplicar

a técnica da monotipia e xilogravura e ampliar conhecimentos na área da Arte-

Educação.

Palavras-chave: Gravura. Monotipia. Xilogravura. Arte-Educação.

ABSTRACT

This article discusses the engraving (woodcut and monotype) in the context of

pedagogical intervention project in the discipline of Art, developed the Program for

Development of Education - PDE, the State School Nobrega da Cunha - Elementary

Education and Education for Youth and Adults, Bandeirantes. The aim of the

proposal was to contribute to the continuing education of teachers and improve the

quality of education in public schools through improvement of intra and interpersonal

relationships. In this work we developed creative processes by students participating

in the project and also an opportunity to learn and apply the technique of monotype

and woodcut and expand knowledge in the field of Art Education.

Keywords: Engraving. Monotype. Woodcut. Art. Education.

1 INTRODUÇÃO.

Atuando como professora da disciplina de Artes há quase duas décadas,

percebeu-se que ao trabalhar os conteúdos – em especial gravuras, os estudantes

demonstram interesse e se aproximam uns dos outros, melhoram as relações intra e

interpessoais. Nessa perspectiva, executou-se um projeto de intervenção

pedagógica na Escola Estadual Nóbrega da Cunha, de Bandeirantes, com

estudantes da 8ª ano, do Ensino Fundamental, período vespertino.

Foram selecionadas para a Unidade Didática as obras dos seguintes artistas

gravadores: GILVAN SAMICO, OSVALDO GOELDI, RENINA KATZ.

Preliminarmente, trabalhou-se a leitura de imagem. [...] “A imagem na Arte, longe de

facilitar a aceitação passiva, fustiga, exalta a consciência que o homem pode ter dos

seus poderes”. (HUYGHE, [s.d.] p. 11).

O homem sempre se interessou pela Arte, a civilização e a obsessão da

imagem promoveram o triunfo atual, pois ela, a Arte, fala aos olhos. Os museus, as

exposições convidam à admiração, as reproduções a cores, as ilustrações de livros

ou de revistas, as propagandas nos mais diversos veículos de comunicação.

A Arte utiliza o mesmo meio fundamental – a imagem – agindo,

providencialmente, com liberdade. Uma das funções do professor de Arte é a

alfabetização visual, não somente uma leitura formal: ponto, linha, cores, texturas,

volume, luz e sombra, mas no âmbito global, sistematizando o conhecimento e seus

significados.

2 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA.

É possível por meio da arte da gravura auxiliar o estudante a melhorar o que

produz e inclusive a sua imagem pessoal?

3 DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA, MATERIAL E MÉTODO.

A escola onde foi realizada a intervenção pedagógica situa-se no centro da

cidade em que o cenário é composto por situações heterogêneas ligadas a famílias

de diversas naturezas. Algumas crianças vêm de ambientes sem muitos referenciais

positivos, nas quais permeiam o abandono afetivo e material, resultando em

desânimo, apatia, desvalorização do ego entre outras, acarretando, muitas vezes, no

desinteresse escolar.

Quando o indivíduo tem imagem negativa de si mesmo, a escola, com todo o

seu aparato, não consegue dar conta de transformá-lo sem trabalhar as suas

emoções negativas. Para realização desta pesquisa optou-se por uma metodologia

qualitativa de cunho investigativo, por considerar que ela permite uma aproximação

entre o objeto de estudo e a compreensão dos aspectos específicos no contexto em

que eles estão inseridos.

As atividades foram realizadas explorando materiais que podem ser utilizados

como matriz de impressão de formas como papelão, rolhas, objetos com diferentes

formatos e, também, usando tinta guache, giz de cera e outros materiais que

garantam tons realçando beleza. A coleta de dados deu-se por meio de análise de

desenhos e textos produzidos pelos estudantes. O trabalho foi desenvolvido em

oficinas com 4 a 6 estudantes que trabalharam com a técnica da monotipia,

realizando desenhos a partir de seu cotidiano.

Após as atividades, os estudantes produziram textos relacionados com as

gravuras, relatando assim suas percepções. Mediante essas atividades foram

realizadas reuniões com a equipe pedagógica para avaliar o projeto de intervenção e

os resultados alcançados.

4 REFERENCIAL TEÓRICO.

O estudo foi fundamentado especialmente nos autores Carl Rogers (1982),

Paulo Freire (1987), Howard Garden (1997), Natahaniel Branden (1997) e John

Dewey (2010).

4.1 Importância do ensino de arte.

O ser humano é um nó num feixe de relações e nós nos tornamos pessoas construímos nossa identidade através das pessoas com quem nos

relacionamos e, assim, diferenciamos nossa singularidade.

(BOFF, 2012)

A arte é importante na vida da criança, pois colabora para o seu

desenvolvimento expressivo, para a construção de sua poética pessoal e para o

desenvolvimento de sua criatividade, tornando-a um indivíduo mais sensível capaz

de ver o mundo com outros olhos. Os seres humanos são dotados de criatividade e

possuem a capacidade de aprender e de ensinar. A criatividade da criança precisa

ser trabalhada e desenvolvida, e é por meio do trabalho realizado com a arte, nas

escolas, que isso será possível, pois, nas palavras de Buoro (2000, p. 39) “Arte se

ensina, Arte se aprende”.

A arte é vista e sentida de maneiras diferentes por crianças e adultos. Para o

adulto está associada ao belo, às exposições, a museus, à estética. Já para a criança, a

arte é uma forma de se expressar, pois “a natureza da criança é lidar com o mundo de

modo lúdico, fazer o que lhe dá prazer e satisfação. Por isso gosta tanto de brincar e

desenhar” (SANS, 1995, p. 21).

O educador tem o compromisso de oferecer ao educando experiências que lhe

permitam compreender a arte como elemento presente em seu cotidiano, como

elemento em que os desejos e a criatividade se unem em uma representação, pois

como coloca Best (1996, p. 48), “As artes são emocionalmente criativas”.

Para produzir, o aluno precisa conhecer os elementos que compõem as artes

visuais como ponto, linha, volume, textura, cor, luz. Também precisa experimentar

diversos materiais como papéis, tintas, argila, máquinas fotográficas. Além disso, poderá

apreciar e estudar obras de arte, de modo que aprenda a unir todos esses

conhecimentos para se expressar, mas para isso é muito importante a mediação do

professor (PARANÁ, 2008, p. 98).

Assim, a Arte além de estimular o prazer para lidar com o mundo, ajuda a

preparar o estudante visando seu ingresso no futuro mercado profissional e

necessita também, conhecer os campos de trabalho das áreas do conhecimento

humano cabendo ao professor orientá-lo. Mas afinal, quais perspectivas oferece a

área de Arte?

O mercado profissional dessa área é vasto e promissor. Dentre as opções de

carreiras artísticas destacam-se: pintura, gravura, escultura e arquitetura.

Neste estudo é proposto conhecer as artes visuais para aprender a produzir e

refletir estética e artisticamente sobre a gravura e também melhorar a própria

imagem pessoal.

4.2 Autoestima.

A autoestima está relacionada ao julgamento que a pessoa faz de si mesma

e afeta todos os campos de sua vida, desde as relações mais simples estabelecidas

no âmbito familiar, ao trabalho, à convivência com o mundo em geral. Esse

sentimento de autorrespeito reflete na capacidade de enfrentar os desafios da vida e

a busca pela felicidade. Assim, Branden (1997, p. 43) a define:

A autoestima tem dois componentes: o sentimento de competência pessoal e o sentimento de valor pessoal. Em outras palavras, autoestima é a soma da autoconfiança com o autorrespeito. Ninguém é totalmente carente de autoestima positiva, nem incapaz de desenvolvê-la...

Quando se compreende a importância de valorizar a autoimagem, o indivíduo

atrai para si, saúde, tranquilidade, confiança e melhora o seu relacionamento com as

outras pessoas. Nesse contexto é fundamental aprender a estabelecer objetivos e

metas para a vida, aprender a correr riscos, a perdoar a si e aos outros.

4.3 A influência da Arte nas relações educacionais.

Paulo Freire (1987, p.78) escreveu que “ninguém educa ninguém, ninguém

educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”, ou

seja, a educação acontece do contato com os outros. O ensino acontece quando os

adultos e as crianças ou jovens transitam pelo conhecimento e criam teias de

relações entre o que é conhecido e o que há para conhecer.

Salienta Carl Roger (1982, p. 72) que:

[...] a escola é a mais influente de todas as instituições, superando a família, a igreja, a política e o governo no que se refere ao moldar a pessoa em crescimento, de forma que antes promover alunos conformistas que alunos criativos, independentes e responsáveis.

Assim, o processo de crescimento pessoal da criança e do adolescente que

estão na escola, também implica a estruturação da autoestima, ela é um elemento

fundamental para o desenvolvimento e a formação da personalidade. O processo

tem início na família que deve cuidar desse aspecto, antes que seja integrada ao

sistema educacional formal (educação infantil, ensino fundamental, ensino médio,

profissional e tecnológico e superior) bem como nas organizações religiosas e

trabalhistas, que também podem contribuir para desenvolver o nível de autoestima

alto ou baixo durante toda a vida.

Explica Gardner (1997, p.23) ao abordar sobre as inteligências múltiplas,

que significa a possibilidade do aluno se destacar com determinada habilidade e em

outra não. A pedagogia do passado entendia que todos aprendiam de uma mesma

maneira e por isso, um único método bastava para ensinar tudo a todos. Apoiados

nos estudos de Gardner (1997) sabe-se, hoje, que cada indivíduo aprende de um

modo particular e há, portanto, a necessidade de experimentar diferentes

metodologias de ensino e aprendizagem, inclusive buscando apoio nos mecanismos

da autoestima considerada um elemento essencial para o sucesso ou fracasso

escolar.

Recorrendo ao filósofo John Dewey (2010, p.61) espera-se que a experiência

desperte a curiosidade dos alunos, porque “fortalece a iniciativa e dá origem a

propósitos suficientemente intensos, para levar a pessoa, no futuro, a lugares além

dos seus limites”. A experiência é uma força em movimento e compete ao professor

gerenciá-la na sua continuidade dentro da escola.

Na concepção filosófica de John Dewey (2010, p.45) “a arte como experiência

exige do seu autor, um constante moldar e remoldar”. O fazer chega ao fim quando

seu resultado é vivenciado como bom – e essa experiência não vem por um mero

julgamento intelectual e externo - mas na percepção direta. O artista, comparado

aos seus semelhantes, é alguém não apenas simplesmente dotado de poderes de

execução, mas também de uma sensibilidade inusitada às qualidades das coisas e

esta sensibilidade ajuda a orientar os seus atos e criações.

Outra contribuição vem de Ferraz e Fusari (2010, p. 76) quando enfatizam

que “é importante ver e observar”. Segundo as autoras, educar o modo de ver e

observar é importante para transformar e ter consciência da nossa participação no

meio ambiente e na realidade cotidiana. Ver significa conhecer; ver as coisas e as

formas do mundo ao nosso redor. Observar é olhar, pesquisar, estar atento de

diferentes maneiras às particularidades visuais, relacionando-as entre si. Logo, a

educação com Arte, prepara o sujeito para ver e observar as nuances do seu dia a

dia.

Com essa convicção apresenta-se o Projeto de Intervenção Pedagógica na

escola, atuando na área de Arte, com o tema: A gravura como recuperação da

autoestima,

Acredita-se também, que a palavra do professor ainda tem muito peso para o

aluno, às vezes mais significativa do que a da mãe ou do pai e por isso, facilita que o

aluno tenha um autoconceito voltado para o sucesso ou o fracasso escolar.

Como professora, tem-se a crença de que, embora seja difícil, é possível por

meio de uma prática educativa bem planejada e direcionada na Disciplina de Arte,

promover essa mudança naqueles em que a autoestima seja baixa e transformá-la

em conceito positivo para o sucesso escolar.

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO.

A partir das imagens dos artistas Gilvan Samico, Osvaldo Goeldi e Renina

Katz os estudantes fizeram as suas produções que seguiram os passos sugeridos

por Anamélia Bueno Buoro (2002):

Descrição criteriosa da imagem;

Percursos visuais sobre a estrutura da composição;

Observação das relações entre a obra em foco e a produção anterior e

posterior do artista;

Pesquisa, na história da arte, no contexto histórico, respostas para as

questões sugeridas com a leitura;

Diálogo da obra tanto com a produção artística na linha do tempo como nas

produções daquele momento específico;

Construção de um texto verbal com o registro do percurso e sua significação.

O processo de criação deu-se por meio das atividades propostas. As

pesquisas, as observações de cada imagem, o entendimento e a reflexão sobre a

técnica escolhida, a seleção dos materiais, o registro gravado e escrito sobre cada

atividade desenvolvida.

Na sequência, foi elaborado um diário registro de imagens partindo da

vivência de cada um, orientados pelas propostas seguintes:

5.1 Técnicas de gravação e impressão.

a) OBJETIVOS

Conhecer as técnicas de gravação e impressão de gravuras em diversos meios, tais

como: gravuras, monotipias, calco gravura e xilogravura.

b) DEFINIÇÕES

GRAVURA: é a impressão de uma matriz em que se gravam com linhas,

manchas, formas, as imagens desenhadas. Gravar é marcar ou assinalar as

imagens.

MONOTIPIA: é uma técnica de impressão em que se obtém uma única reprodução.

CALCOGRAVURA: é a gravura em metal ou o processo de gravura feito numa

matriz de metal, geralmente o cobre. Pode também ser feita em alumínio, aço, ferro

ou latão amarelo. A gravura em metal pode ser definida como gravura de encavo (do

francês gravureencreux), termo genérico que é aplicado para definir certos

procedimentos da gravura.

XILOGRAVURA : é a técnica de gravura na qual se utiliza madeira como

matriz e possibilita a reprodução da imagem gravada sobre papel ou outro suporte

adequado.

5.2 Monotipia a inversão da imagem.

A monotipia é um processo no qual são usadas as tintas e ferramentas das

artes gráficas. Não é considerada gravura e nem pintura, mas tem características

dessas duas linguagens. O artista estica sobre uma placa de vidro ou metal uma

tinta mais grossa, colocando sobre ela o papel onde ele fará o seu desenho.

Sem dúvida, a monotipia (como qualquer outra técnica) estimula pesquisas em

relação à consistência da tinta; da pressão da prensa (ou impressão manual), os

tipos de papéis, os suportes, etc. O preparo destes elementos torna-se fundamental

para orientar projetos de monotipias, aproveitando as qualidades da mesma,

intercalando em tempos diferentes a impressão de gestos, traços e pinceladas

(LUISE WEISS, 2003).

Poderão ser trabalhadas linhas, manchas, de acordo com o desenho. A cópia

prova única, sairá do outro lado do papel. Outra maneira é desenhar na própria

placa e colocar o papel sobre ela, imprimindo o desenho no verso do papel. A

técnica da monotipia é um ótimo exercício para se entender algumas características

da gravura, nela o desenho sairá invertido.

a) PROCEDIMENTOS:

Para esta proposta, utiliza-se a tinta guache bem espessa e um rolinho de

espuma, trata-se de uma primeira experimentação.

b) OBJETIVOS

Conhecer a vida e obra dos gravuristas descritos abaixo;

Reconhecer as principais características das técnicas estudadas;

Situar obras dentro do contexto do período no qual foram produzidas.

5.3 Gravuristas brasileiros.

De acordo com o site:

(http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0808200016.htm) foram destaque em

Londres, os trabalhos dos mestres da gravura brasileira: Lasar Segall, Livio Abramo

e Oswaldo Goeldi.

a) PROCEDIMENTOS:

Para esta proposta apresenta-se cada obra isoladamente, destacando os

elementos visuais nas respectivas obras.

O que lhe chama mais a atenção nessas obras?

Elas diferem de um desenho e de uma pintura? Por quê?

Procure saber a partir de qual técnica elas foram produzidas.

b) OBJETIVOS:

Conceituar, identificar, reconhecer, empregar e criar elementos a partir da

linha em monotipia.

“A linha libertou-se do contorno das coisas e, feliz, pode sonhar novas possibilidades”.

(Paul Klee) .

5.4 A linha e seus traços a partir da emoção de cada um.

A linha nas Artes Visuais tem energia e natureza própria. Não é estática, é

um elemento da linguagem visual.

a) PROCEDIMENTOS

Depois de entendidas as características da Monotipia, os estudantes

escolheram um tema e aplicaram os diferentes tipos de linha, utilizando a música

para propiciar um relaxamento ou interagir no processo de criação.

b) OBJETIVOS:

Reconhecer, conceituar, aplicar cores na composição.

5.5 As cores e o resultado inesperado- até onde vamos com tanta cor?

Segundo Israel Pedrosa (2003, p.34), “em nenhuma época a cor foi tão

empregada como em nosso século”. Em tudo, o que se come, o que se veste os

cartazes, os luminosos, as imagens tudo está demasiadamente inundado por cores.

Hoje o mundo é cada vez mais bombardeado por imagens e cores.

E você o que acha disso tudo?

Você já se imaginou em um mundo sem cor?

a) PROCEDIMENTOS

Questionar o que seria de uma obra se ela não apresentasse uma variada

gama de cores; conversar sobre a importância do artista que, ao aplicar cores em

uma obra, passa muito mais que um retrato de paisagem, mas sim um sentimento

para quem a observa (utilizar as imagens dos gravuristas acima citados); propor aos

alunos que utilizem cores na placa de vidro para impressão da monotipia.

b) OBJETIVOS

Classificar os grupos de cores complementares; experimentar e descobrir a

relação entre as cores em seus trabalhos.

5.6 O contraste de cada um.

Há uma teoria segundo a qual existem na nossa retina pontos sensíveis às

cores - magenta, azul-ciano e amarela são as cores pigmento primárias. Quando

olhamos para um objeto da cor azul-ciano , as outras cores que estão em nossa

retina se misturam, resultando disso uma segunda cor. No círculo cromático, é fácil

visualizá-las: elas estão em posições opostas e são classificadas como cores

complementares (PEDROSA, 2003).

a) PROCEDIMENTOS

Depois de apresentadas as cores complementares, foi proposto aos alunos

que as utilizassem em suas composições de monotipia, enfatizando que cada

contraste traz consigo sua história.

b) OBJETIVOS

Conceituar textura;

Aplicar textura tátil, gráfica e visual nas produções artísticas (monotipia).

5.7 A textura criada a partir da intensidade dos elementos visuais.

Ao empregar as linhas nas mais variadas formas, dimensões, as cores e seus contrastes,

repetindo-se esses elementos, cria-se a textura visual.

Desenhando e gravando também se pode criar texturas.

a) PROCEDIMENTOS

Solicitar que cada aluno observe em suas criações a repetição de alguns

elementos visuais, e se os mesmos criaram padrões de texturas visuais, desta forma

a superfície torna-se mais expressiva.

b) OBJETIVOS

Construir um conceito pessoal sobre a função da Arte em sua própria vida;

Conhecer as qualidades plásticas de diversos materiais e elementos visuais

aplicado na monotipia.

5.7 A ação da monotipia e a escrita.

Quando o aluno expressa seus sentimentos através de desenhos, pinturas,

colagens, gravuras, muitas vezes, ele está colocando ali suas emoções mais puras,

aliar tais sentimentos à escrita pode ser um ponto de partida para ajudá-lo a

entender seu universo.

a) PROCEDIMENTOS

A junção de todas as composições, aliando a escrita em forma de relatos de

experiências de vida, transformando em um diário: ”A MONOTIPIA DO EU”.

b) AVALIAÇÃO DOS CONCEITOS

a) Entendo a relação entre gravura e monotipia?

b) Percebo os elementos visuais nas composições por mim realizadas?

c) Consegui realizar todos os trabalhos propostos?

d) Através dos trabalhos artísticos que fiz, posso explicar o que aprendi?

Estas atividades foram implementadas na escola com os estudantes e estes,

apresentaram desempenho satisfatório em todas as etapas. Para ilustrar,

destacamos as atividades abaixo:

Estudante A:

Trabalhando as cores e os traços. O estudante expressou a sua criatividade e

demonstrou-se interessado nas aulas.

“Eu às vezes fico triste porque não consigo fazer as “coisas” certas, na escola

meus professores ficam bravos comigo, mas não é minha culpa eu não

consigo fazer. Na minha casa minha mãe diz que eu não sei fazer nada, daí

eu fico triste... Eu não sei desenhar nada, eu não gosto dos meus desenhos,

eu também não sei pintar...”

Estudante B:

Experiência interessante, pois o estudante utilizou-se das próprias mãos para fazer

a matriz do desenho. Combinou as linhas e a cor e obteve um efeito interessante.

Durante a oficina demonstrou-se concentrado no ato de compor a sua expressão

artística.

“Essa é a palma da minha mão, eu quis fazer isso porque acho que as mãos

são muito importantes para nós. É com elas que conseguimos fazer muitas

coisas boas e más também. Eu sempre procuro fazer as coisas boas pra mim

e para as pessoas, mas tem muita gente que não pensa assim.”

Estudante C:

O estudante demonstrou interesse e entusiasmo ao realizar o desenho e a pintura.

Explorou satisfatoriamente o ponto, a linha e as cores.

“A flor para mim simboliza o amor. Nós temos que tentar amar os outros,

principalmente nossa família, a flor também sinaliza a alegria. Quando eu

estou alegre eu desenho flores, mas quando estou triste desenho coisas

tristes e pinto com cores escuras.”

Estudante D:

O estudante reproduziu a paisagem de um local da capital paulista por ele visitada e

que lhe trouxe lembranças felizes. Explorou linhas, ponto e preferiu única cor.

“Hoje eu consegui fazer um desenho legal, eu gostei do que eu fiz, minha

professora me disse: Você está vendo como consegue, ficou lindo, agora

vamos pintar? Eu pintei e gostei mais ainda...”

No segundo momento, foi desenvolvido o Grupo de Trabalho em Rede –

GTR, com a participação efetiva de onze professores. Estes desenvolveram o

projeto de intervenção nas suas respectivas escolas e esse efeito multiplicador foi

altamente significativo para a validação da proposta apresentada. Ressalta-se aqui,

comentários dos professores sobre o projeto.

Professora A – Segundo o relato da professora a proposta foi reapresentada

aos seus alunos e de acordo com o plano de aula, foi organizado com antecedência

os materiais necessários (papel sulfite A4, carvão e pranchetas) e a aula ocorreu ao

ar livre, no pátio da escola. A tarefa consistiu em registrar, em desenho, as imagens

captadas ao seu entorno. O objetivo principal foi a gestualidade no registro de traços

e linhas, com carvão, sem preocupação com detalhes. Terminado o exercício foi

borrifado verniz sobre os desenhos para evitar borrões.

A aplicação da proposta de intervenção noutra escola, por outro professor foi

muito relevante, pois essa multiplicação de ideias e melhoramento delas é

enriquecedor para o processo de ensino e aprendizagem da disciplina de Artes.

Na sequência, a professora B, também relata sua experiência com a

aplicação do projeto de intervenção em sua escola de atuação. Ela narra o seguinte:

“Seguindo o tópico dois, uma experiência de sala de aula, que vem ao encontro do

conteúdo deste GTR é GRAVURA/ FOLCLORE/ LITERATURA DE CORDEL.

Sempre que trabalho com gravura (teoria e prática, leitura de imagens através de

obras de diferentes artistas e vídeos) abordo a xilogravura, a litografia, a monotipia,

as diferentes gravuras obtidas do metal, mas é com a xilografia e monotipia que

aplico a prática final. Utilizo as bandejas de isopor (frios) como material alternativo, e

tintas guache. Após aplicar o conteúdo da gravura contextualizo para os alunos, a

respeito da Literatura de Cordel e como a xilogravura é amplamente utilizada na sua

ilustração e então confeccionamos e expomos os livrinhos para a turma ou no pátio

da escola. O resultado é bom, a prática da gravura prende a atenção do aluno,

apenas alguns não completam de forma esperada a atividade por não levarem o

material. Quanto à monotipia, a aplicação é bem mais simples e é realizada de

forma satisfatória”.

O professor C relata que “sentiu envolvido no GTR por conta de se tratar de

uma modalidade da qual gosta muito e aplicou exercícios sobre gravura, em sala de

aula. As formas de gravação foram totalmente novas para os alunos. Aplicou a

técnica em dois momentos: no primeiro, usou o desenho como base o conceito de

positivo e negativo na gravação. Na gravação usou a técnica de carimbo, com EVA

e uma carimbeira, fazendo várias formas e gravando no caderno. Com o projeto tive

a oportunidade de melhorar meus conhecimentos, aumentando os meus acertos e

reduzindo meus erros”.

A professora D, também aplicou o projeto na escola onde atua e narra os

seguintes fatos: “a professora iniciou o trabalho abordando sobre a indústria cultural

e sua influência na vida das pessoas. Nesse momento, contextualizou a temática

abrindo uma discussão sobre o Ser e o Ter. Após a discussão, introduziu a gravura

e serigrafia como processo de reprodução de imagens e propôs aos alunos a

criação de uma etiqueta pessoal, pois, além de criarem usando seu próprio nome,

colocam ali, os seus símbolos, seus sentimentos. Após o término do exercício, os

alunos socializam os resultados, cada um expressando verbalmente e com plena

liberdade sobre o processo de criação e o resultado final, permitindo desenvolver a

livre oralidade com independência de julgamento e com confiança em si mesmo”.

Além dos desenhos, das pinturas desenvolvidas na escola de implementação,

a proposta foi reavaliada e reapresentada em onze escolas de outras regiões do

Estado do Paraná e analisada sob diferentes olhares. Isto significa um grande ganho

para a disciplina e para o próprio aprendizado. Acredita-se que o projeto atingiu uma

excelente dimensão e contribuiu positiva e significativamente para a melhoria do

ensino e aprendizagem de Artes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS.

O trabalho com Monotipia e Xilogravura é uma forma Interessante e valiosa

de introduzir um processo artístico e que, certamente, será aplicado no decorrer dos

próximos anos letivos despertando a curiosidade do aluno e do professor nesta área.

O trabalho desenvolvido em oficinas foi bem aceito pelos estudantes que

demonstraram interesse nas atividades. Outra contribuição muito importante vem

dos participantes do Grupo de Trabalho em Redes – GTR, que reapresentaram o

projeto em suas escolas de origem e de acordo com o olhar de cada um, o projeto

recebeu novo formato tornando-se assim, mais significativo para a qualificação das

Artes como disciplina propulsora do conhecimento em todas as modalidades de

ensino.

Espera-se que este artigo contribua para novas abordagens que tenham

como objetivo o estudo de temas relacionados com a Arte, pouco exploradas no

Ensino Fundamental e Médio.

REFERÊNCIAS

BUORO, Anamélia Bueno. Olhos que pintam. São Paulo: Editora PUC, 2002, 252 p.

FLEITAS, Orlando. Comunicação pela Arte: Educação Artística. São Paulo: FTD, 1977.

GRAVURISTAS BRASILEIROS. Disponível em:

(http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq0808200016.htm). Acessado em 12/11/2012.

HUIGHE, Renê. O poder da imagem. São Paulo: Difel, [s.d.].

PEDROSA, Israel. O universo da cor. São Paulo: Senac, 2003, 160 p.

WEISS, Luise. Monotipias: algumas considerações. Disponível em: http://www.iar.unicamp.br/cpgravura/cadernosdegravura/downloads/p2_GRAVURA_2_nov_2003.pdf. Acessado em 12/11/2012.