negrÃo et alii_sintaxe-explorando a estrutura da sentença(1)

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Sintaxe: explorando a estrutura d a sentenaEsmerala Vailati Negro Ana Paula Scher Evani de CarvalhoViotti

I. IntroduoSaber como os itens lexicais de uma lngua se estruturam em uma scnlcneH ii pai le central da competncia lingstica dos seres humanos, tal como c cnlcn illdii pcla (iramticaGerativaecomo foi abordada no volume 1 desla Introdtivflo (> lalante dc qualquer lngua natural tem um conhecimento inato sobrc conio ON iiius lexieais de sua lngua se organizam para formar expresses mais c IUIIIM I uinplcxas, alc chegar ao nvel da sentena. Iinaginemos o lxico de nossa lngua como uma espcie de dicionrio incnlal < ninposto pcloconjuntodc itens lexicais(palavras)queutilizamos paraconstniir nossus uiiU-ncas. Nossa compelncia nos pennite ler intuies a respeito de como podenio. ilivulii cssc dicionrio, agrupando ilens lexicais de acordo com algumas propricdadeii l'iamaiK iiisi|ucclcscompai'lilham. Hssas propriedades nos levamadistingtiirumgriipo poi oposicAo a oulro. Assim, por cxcmplo, no proccsso dc aquisicio de nossa lingtin iiiiitciiiii.sahcmos, dcsdc muiloccdo,c|iic iim ilcin lcxical como nic.svidiferenlcdc uiii llcm lcxical como cnit. I Imu erianca logo diz cniii, inas iiiinca diz tncsou, Isso indcil t|iie clu sabcqiie aiii \\\/ pitilcdc iim p.rupode palavras coino ilionii, ifuctX-V, ptqvu quepodocombiiwn seeoin uin lipopiiilu ulai de NIIIXOS.COIIIO on, cu, 111 AoiuesiiioIrmpo, clii M l 9 qiio ttWNB la/ piulc dc um oiltlo p.nipo de piiliivniN (onio iiulciui, HH JjtfHKi. Jixiiiuuiti/xj * iia. oui MU VM. Uudu ftii CUillUUU VUIU UUtJo Opu tk' Millfto.

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Inlmilin,

linuuMii 1 1 11

ilntfixM .i|i|.iiiin.lutii!iuliii.i ( i .OMIIMK.I i

M i

NOSSJI coinpelcncia linglHslicn liiinbcm nos njiitlsi ;i pciiclu-i (|iic ns .. n tOnBldO nossn llngiiii naosiloo rcsullado (la niera ordenacao tlc ilcns lcxicniM i m iiina seqncia linear. Sem nunca tcr passado por um aprcndi/ado lonnal n n-i peito dcssc iissunto, sabcmos quc uma scqcncia tle palavras como nicnino blol clcUi o dn aiiu nfio uma sentena do portugus. Ao mesmo tempo, sabcmos quft, pnni lcrmos uma sentena do porlugus formada poresses mesmos itens lexicais, precisamos, antes, fazercombinaes intermedirias: compor oconi menino; coffl por (/.'/ com blciclet; compor caiu com da biciclcta; e, finalmcntc, coinpor 0 incnino com caiu da biciclcta. Sabemos, portanto, que a estrutura da senlenca nao c linear, mas sim hierrquiea.

illi lniinilo dii Hi|Miii, iniis qne cxibcni o coinporlainciilo gramalical prprio dc uma i|i l niiiiimlii cntcgoriii dc palavras, scin dvida lal falante rcconhecer a palavra < 11 iitiuin < o intcgrante tln calegoria condizenle. Vejamos o conjunto de dados ( iii i I i, rin (|iic sentcnas so construdas com o item lexical plongar, palavra no . ii. nnlrndi em nenhum dicionrio da lngua portuguesa: 11) ;i < )s meninos plongam sempre aos domingos.I) Na ininha inlncia, eu plongava todas as tardes. e. Uinn vcz, im jornalista do Estado plongou vrios artistas aposentados. d. Quundo ele chegou, ns estvamos plongando os convidados todos.

Bssa nossa competncia tambm nos indica que uma sentena se conslilui dc dois tipos de itens lexicais: de um lado, esto aqueles que fazem um tipo parli cular de exigncia e determinam os elementos que podem satisfaz-la; e, de outro, estSo os ilens lexicais que satisfazem as exigncias impostas pelos primeiros. Tomemos, como exemplo, uma sentena como 'O Joo construiu uma casa'. Inluilivamente, sabemos que o verbo constmir um item lexical do tipo que faz cxigncias. Construirprecisaseracompanhado de duas outras expresses lings licas: uma que corresponda ao objeto construdo e outra, ao agente construtor. Na Hcntena em exame, as expresses uma casa e o Joo so as expresses que, respeelivamente, satisfazem essas exigncias impostas por construir. sso to nalural para ns que s nos damos conta de que as coisas so como so, se formos cxpostos a uma sentenca fora de contexto, em que uma das exigncias impostas por construir no esteja satisfeita. Imaginemos que algum se aproxime de ns e nos diga, como incio de conversa, 'construiu uma casa'. Nossareao imediala! Perguntamos logo (quem construiu uma casa?'. Com isso, estamos pedindo a nosso interlocutor que acerte sua sentena, de modo a que as imposies feitas pclo verbo construir sejam satisfeitas. Nosso objetivo, neste texto, mostrar como esse nosso conhecimento lingstico pode ser usado como um guia a nos orientar no trabalho de anlise da estrutui a das sentenas de nossa lngua.

2. Categorias gramaticaisQualquer falante da lngua portuguesa dir que a palavra menino do mesmo l ipo que garota ou cachorros e de um tipo diferente das palavras comprar, comprou, compraria que, por sua vez, so do mesmo tipo que cantar, cantvamos, cantaro. ()u seja, os falantes de uma lngua sabem que um certo item lexical pertence a uma dctcrminada categoria gramatical. Alguns poderiam dizer que esse saber conseqncia do conhecimento do significado do item lexical em questo. No entanto, se cxpusermos os falantes a sentenas com palavras inventadas, que no existem no

Ao tomar conhecimento dos dados em (1), qualquer falante do portugus i lnsHIica a palavra plongar como pertencente mesma categoria de cantar ou I. i MMntiiii

TS)

i H I i | \ ini nlna] o Pi dro1

ffl

oI

ulo

b i ol [i tni nlnn] qui o Padro \ lu i om o blni ulo i )iKiiiiii-iiu-nii\ rifls Bontonas em (I2),oconstituintede8lociulo Ibi nmt < mi com o binculo. Considcnindo sc quc, ao mover constituinlcs diferenti ." iibiimos pordcsla/ciii ainbgidadcda sentena, cstanios ilianlc dc iim.i loilr cvideucia dc qtie cssa ambigidade c causada pcla possibilidadc dc a scnlciicii apicscntar duas cslruUiras sinlticas difcrcnlcs. Vejamos, agora, os resullados da passivi/.ao:(1-1) ii. |A iiienina] Ibi visla pelo Pedro (com o bnculo]. b. |A menina com o binculo] foi vista pelo Pedro.

I )c novo, com a aplicao dapassiva, a ambigidadc da sentena original sc dc.la/ lim (34)a tem-se apenas a possibilidade da primeira leitura, e em (34)b li iii apcnas a possibilidade da segunda interpretao. Ainda, da tnesma forma ' qUl " n textos, tambm podem ser considerados predicados. Mas que contextos so esses? Ser que nomes s podem serpredieados om sentenas construdas com verbos que no tm valor predicativo, como seri Nno. Para entendermos melhor como isso pode ocorrer, passemos anlise da scnlencii (46)h. Nessa sentena, temos uma situao expressa pelo verbo irritar, nn qunl esto envolvidos dois participantes - a destruio dos novelospelo gato c a nu)c ambos satisfazendo as imposies do verbo. Portanto, nessa sentenva, h um predicado de dois lugares, que o verbo irritar, e seus dois argumentos sno n destruio dos novelos pelo gato e a me. Mas notem que essa no a nicfl relao de predicao que existe nessa sentena. Dentro do argumento a dcsrui o dos novelos pelo gato tambm existe uma relao de predicavo, dessa vc/ estabelecida pelo nome destruio. Vejam que destruio expressa uma siliinvno esttica, que envolve dois participantes: o gato e os novelos. Cada um delcN desempenha um papel especfco, respectivamente, o de destruidor e o de dcslrul do. Mais uma vez, portanto, estamos diante de um predicado de dois lugares, quc toma dois argumentos. Dessa forma, vemos que nomes, tanto quanto verbos e preposives, Utmbm podem se comportar como predicados. As representaves dos nomes quc funcionam como predicados nas sentenas (46)g e (46)h esto a seguir:

(50) a. amigo b. destruio

(essc galo, a erianea) (o galo, os novelos)

Finalmente,passemos s sentenas (46)i e (46)j, com espccial alenao parn os adjetivos vermelha, em (46)i, e agradvel em (46)j. Novamente, estamos diante de sentenas construdas com o verbo ser que, corao j vimos, um verbo quc no tem valor predicativo. Nessas sentenas, a predicao est sendo feita pelos adjetivos, que expressam propriedades que precisam ser atribudas a entidadcs. Na sentena (46)i, a propriedade vermelha atribuda entidade expressa pclo constituinte apoltrona. Da mesma forma, em (46)j, a propriedade agradvel sc aplica entidade expressa pelo constituinte o quadro naparede e atinge a entidade denotada pelo constituinte os olhos. O predicado de um lugar vermelho toma o constituinte apoltrona como seu nico argumento. O predicado de dois lugares agradvel, por sua vez, toma os constituintes o quadro na parede e aos olhos como seus argumentos. Sua representao pode ser feita da seguinte forma:(51) a. vermelho b. agradvel (apoltrona) (o quadro na parede, aos olhos)

O quefzemosat aqui, ento, foi observar a relao entre predicados e argumentos em funcionamento em uma lngua natural, o portugus brasileiro. Conclumos que verbos, nomes, preposies, adjetivos e advrbios podem ser predicados e que, nesse caso, determinam o nmero de participantes da situao que expressam, as caractersticas que esses participantes devem ter e o papel que cada um deles desempenha na situao. importante enfatizar que a noo de predicado que estamos usando no corresponde exatamente noo de predicado de que faz uso a gramtica tradicional. Para ns, todas as categorias lexicais - nomes, verbos, adjetivos, advrbios e tambm as preposies - podem ser consideradas predicados. Predicados so itens capazes de impor condies sobre os elementos que com eles compem o constituinte do qual so ncleos. Argumentos, por outro lado, so os itens que satisfazem as exigncias de combinao dos predicados. Retomemos, em mais detalhe, a idia de que os predicados impem exigncias a seus argumentos. Essas exigncias so de dois tipos: semnticas e sintticas. No que diz respeito s exigncias semnticas, elas esto relacionadas aos papis dos participantes na situao descrita. Tecnicamente, chamamos esses papis de PAPIS TEMTICOS. Um predicado atribui tantos papis temticos quantos Ibiem os argumentos associados a ele. Papis temticos so, portanto, os papis dcscmpenhados por todo argumento de um predicado e atribudos a esses arguincntos pelo prprio predicado que os seleciona. Intuitivamente, podemos dizer, dc um predicado como adorar, na sentena (46)a, que ele atribui os papis temticos de H P RE CA O (aquele que adora, o adorador), e o de TEMA (O objeto adoraXE i N i D R do). De um predicado como correr, na sentena (46)b, podemos dizer que ele, tendo apenas um argumento, atribui apenas um papel temtico, que o de AGENTE (nquele que corre, o corredor).

VejtimoH, ngorn, n qut< nennltvo eom iim prediendo como nirebentnr, prc i iiii nis sontenas (46)( sl I6)d Nasentena(46)c,overbosecomportaoorno iini pietlicndotlctlois IIIJMH ., iilribuindodois papislcmalicosasciisarguincnloN: 0 ds AiiitNTE (o arrebenlatlor), c o de PACIENTI; (O objeto arrebentado). Dilereulr iii' mte, cm (46)d, o verbo se comporta como um predicado de um lugar, alribuiiulo iipcniis iiiii papel temtico a seu argumento: o de paciente, ou seja, o dc ODJetO irrebentado. Scr que podemos dizer que a alternncia entre, de um lado, um prcdicatlo ds doifi lugares com atribuio de dois papis temticos e, de outro, um predOttdo de uin lugar com atribuio de apenas um papel temtico, observadaparao vcil> nircbcntar, uma idiossincrasia e indica que estamos diante de dois verbos dlfs icnles e no de um nico verbo? A discusso dessa questo teve seu incio no captulo sobre Competncia Lingstica do volume 1 deste livro. Tratandt) tlc vcrbos como quebrar, terminar, abrire xerocar, sugerimos que fenmenos conio csses apontam para a sistematicidade nas relaes entre lxico e sintaxe, obscrvatla em vrios conjuntos de fatos lingsticos do portugus e de outras lnguas. 1 Jma possvel anlise para essas alternncias admitir que, no lxico, podem acon lccer operaes que afetam as propriedades dos predicados relativamente ao nmcro tle argumentos que eles podem tomar, e, conseqentemente, ao tipo de papis lcmticos que eles podem atribuir. Isso d conta da possibilidade das seguinlcs sentenas com o predicado abrr.(52) a. b. c. d. O Joo abriu a porta do carro com o arame. O Joo abriu a porta do carro. O arame abriu a porta do carro A porta do carro abriu.

O que acontece corn um predicado como abrir algo parecido com t) que acontece com arrebentar, visto acima. Na sentena (52)a, o verbo abrir se comporta como um predicado de trs lugares, atribuindo trs papis temticos a seufl argumentos: o de AGENTE (O que abre), o de PACIENTE (O objeto que aberto) e o dc INSTRUMENTO (O objeto com que se abre um outro objeto). Por outro lado, em (52)b e em (52)c, o verbo se comporta como um predicado de dois lugares, atrbuindo u seus argumentos, em (52)b, os papis temticos de AGENTE e de PACIENTB e, cin (52)c, os papis temticos de INSTRUMENTO e de PACIENTE. Finalmente, em (52)tl, o verbo abrir um predicado de um lugar, atribuindo a seu nico argumenlo, Q papel temtico de PACIENTE. O mapeamento das informaes semnticas contidas no lxico precisa 81 manifestar nas sentenas de modo explcito. A sintaxe fornece um esqueleto es~ trutural sobre o qual so projetados os itens lexicais que trazem para a sintaxc UHIU a informao semntica a eles associada. Vejamos como essa projeo se rcali/u, tomando, como exemplo, a seguinte sentena:(53) O Joo comprou batatas.

()'.'

II.IHMIU..,

ll.iunMh

svSV SA ^-"^\. ontem SN v'O Joo ^ ^ \

V comprar

SN batatas

Finalmente, (54)c tem apreposio sobre como um predicado de dois argumentos: um que expressa um objeto - o cesto depalha - e outro que expressa o lugar sobre o qual esse objeto se encontra - a poltrona. Na sintaxe, sobre ocupa a posio de ncleo da representao, nesse caso a posio P (de preposio), qual se junta, primeiramente, o argumento interno, que ocupa a posio de complemento. Disso resultaum sub-constituinte rotulado P'. O argumento externo sejunta a esse conjunto e o resultadofinal um constituinte rotulado SP, como no diagrama arbreo a seguir: Figura 5 SP SN O cesto de palha P so bre P' SN a poltrona

Reparem que ao incluirmos o adjunto na estrutura, criamos uma projeo que repete o rtulo do sintagma verbal. Isso acontece porquc ftdJuntOI no formam um novo nvel hierrquico. Essa a grande dierenca Nintfllicn que existe entre argumentos e adjuntos. Quando argumentos so inapcndoN im sintaxe, o ncleo projeta um novo nvei hierrquico. Quando uni adjimlo cn tra na estrutura, isso no acontece. Ele somente um outro segmcnlo dn im ma categoria. Assim, na estruturao da sentena (55), ilustrada nu FlgUTl