fÁtima capital de fÉ e cultura

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ANO LVIII | MAIO 2012 | ASSINATURA ANUAL | NACIONAL 7,00¤ | ESTRANGEIRO 9,50¤ #05 FÁTIMA VOAR MAIS ALTO CAPITAL DE FÉ E CULTURA GESTOS E RITOS DOS PEREGRINOS Pág. 24 SOLIDÁRIOS RECEBEM CARENCIADOS Pág. 14 Pág. 34 COVA DA IRIA: OBRAS ATÉ AO VERÃO

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Gestos e ritos dos peregrinos

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Page 1: FÁTIMA CAPITAL DE FÉ E CULTURA

ANO LVIII | MAIO 2012 | ASSINATURA ANUAL | NACIONAL 7,00¤ | ESTRANGEIRO 9,50¤ #05

FÁTIMA

VOAR MAIS ALTO

CAPITAL DE FÉ E CULTURAGESTOS E RITOS DOSPEREGRINOS

Pág. 24

SOLIDÁRIOS RECEBEM CARENCIADOS Pág. 14

Pág. 34COVA DA IRIA: OBRAS ATÉ AO VERÃO

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CONSOLATA É CHEIA DE GRAÇA, POR DEUS AGRACIADA PARA LEVAR AO MUNDO A CONSOLAÇÃO DE JESUS.CONSOLADOS SÃO OS EVANGELIZADOS, PORQUE AMADOS DE DEUS. CONSOLAR É LEVAR A TODA A PARTE A CONSOLAÇÃO DE DEUS SALVADOR. COMO MARIA TORNAMO-NOS SOLIDÁRIOS COM TODOS. SOLIDARIEDADE É O OUTRO NOME DA CONSOLAÇÃO.COMO ELA SOMOS PRESENÇA CONSOLADORA EM SITUAÇÕES DE AFLIÇÃO. POR SEU AMOR COLOCAMOS A NOSSA VIDA AO SERVIÇO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS. ALLAMANO DEU-NOS MARIA POR MÃE E MODELO. POR ISSO CHAMAMO-NOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATAwww.fatimamissionaria.pt | www.consolata.ptRua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | tel: 249 539 430 | [email protected] Dª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 AGUAS SANTAS MAI | tel: 229 732 047 | [email protected] do Castelo | 2735-206 CACÉM | tel: 214 260 279 | [email protected] Capitão Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | tel: 218 512 356 | [email protected] da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRG | tel: 253 691 307 | [email protected]

Funde uma bolsa de estudos. A oferta é de 250EUR e pode ser entregue de uma só vez ou em prestações. Pode dar-lhe o seu próprio nome ou outro que desejar.São-lhes concedidos, entre outros, os seguintes benefícios: fica inscrito no livro de benfeitores dos Missionários da Consolata; participa nas orações e nos méritos apostólicos dos missionários; beneficia de uma missa diária que é celebrada por todos os benfeitores.

Apoie a formação de JOVENS MISSIONÁRIOS

NOSSA SENHORA DA CONSOLATA

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Maio 2012 3

editorial

EA

Num encontro recente dos 19 Bancos Alimentares contra a Fome, cuja próxima campanha de recolha de alimentos decorrerá a 26 e 27 de maio próximo, Isabel Jonet lembrou que Portugal é o único Estado europeu cujo programa alimentar depende do programa da União Europeia e que em 2014 deverá deixar de receber essa ajuda alimentar. Tornam-se inadiáveis novas estratégias eficazes de distribuição e gestão de recursos, numa altura em que os apoios estatais e comunitários são cada vez mais escassos. A presidente da federação dos bancos alimentares defendeu a criação de um programa nacional de apoio alimentar e lançou o desafio ao governo.

Embora a solidariedade tenha crescido, as instituições de solidariedade social estão a chegar ao limite. Com grandes listas de espera, já não dispõem de “recursos humanos, nem recursos físicos, nem recursos financeiros” para ajudar mais as famílias que a elas recorrem e cujo

número não cessa de aumentar. Mas o pior ainda está para vir e a situação de rutura poderá chegar já no final do ano. A subida do desemprego, o aumento de impostos sobre produtos alimentares básicos, as taxas moderadoras de saúde e o aumento do gás, água, eletricidade e combustíveis são apontados, segundo Isabel Jonet, como sendo as causas diretas do aumento de pedidos de ajuda alimentar. “São medidas que se refletem com grande intensidade nos que já

têm pouco dinheiro para viver, que vivem no limite do limite”. Os números da fome mostram as contradições da nossa sociedade. Mais de 360 mil pessoas passam fome em Portugal, quando mais de 50 mil refeições produzidas diariamente nos restaurantes vão parar ao lixo.

A crise económica tornou necessária e urgente uma reorganização da assistência social e das instituições que a ela se dedicam. Impõe-se uma reflexão sobre este mundo que não é autossuficiente, mas depende de ajudas e subsídios. Há duas estradas a percorrer obrigatoriamente neste contexto de crise. Por um lado, exige-se a revisão das políticas sociais, valorizando-as com os recursos disponíveis, que não são apenas económicos. É extremamente importante uma nova relação com cada necessitado de apoio, que não é apenas um sujeito com carências. É antes de mais uma pessoa com quem dialogar e planear o seu futuro. Por outro lado, é indispensável rever o sistema assistencial organizado em esquemas centralizados, com um forte carácter administrativo e burocrático, incapaz de aperceber-se das urgências concretas e dar-lhe respostas adequadas. Os apoios deverão ser ajustados aos direitos subjetivos exigíveis e tendo em conta modelos de assistência essencial. As pessoas necessitadas não poderão ficar sujeitas a situações de incerteza.

Os apoios atuais são fixados a partir de uma medida administrativa e não têm conta a necessidade da pessoa. A ajuda deveria ter sempre em conta as necessidades reais da pessoa relacionadas com o seu contexto familiar e social. Acontece com frequência que os apoios são concedidos a famílias com um razoável rendimento, ao passo que há bolsas da população em situação de pobreza agravada e sem qualquer apoio ou medida que as proteja. É uma questão grave de desigualdade social que necessita de ser corrigida. As medidas de apoio social deveriam ter efeitos visíveis na redução da pobreza, melhorando ao mesmo tempo a justiça e a eficácia.

MENOS CUSTOSE MAIS JUSTIÇA

As medidas de apoio social deveriam ter efeitos visíveis na redução da pobreza, melhorando ao mesmo tempo a justiça e a eficácia

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Pagamento da assinaturamultibanco (ver dados na folha de endereço),transferência bancária nacional (Millenniumbcp)NIB 0033 0000 00101759888 05transferência bancária internacionalIBAN PT50 00 33 0000 00101759888 05BIC/SWIFT BCOMPTPLcheque ou vale postal

(inclui o IVA à taxa legal)

Nº 5 Ano LVIII – MAIO 2012Tel. 249 539 430 / 249 539 460Fax 249 539 429 [email protected]@fatimamissionaria.ptwww.fatimamissionaria.pt

03 EDITORIAL 05 PONTO DE VISTA O Santuário, singular pátio dos gentios 06 LEITORES ATENTOS 07 HORIZONTES Colo de Deus 08 MUNDO MISSIONÁRIO Milhões de voluntários cristãos na Europa Bangladesh tem cerca de 700 mil crianças na rua Cinema atrai jovens do México Alarga o espaço da tua tenda 10 A MISSÃO HOJE Partir... 11 FIO DA HISTÓRIA De Marchi entra em cena 12 A MISSÃO HOJE Resposta cristã à crise 13 DESTAQUE Mali: entre a divisão e o radicalismo religioso 14 ATUALIDADE Solidários servem esperança a carenciados 16 ATUALIDADE Um africano à frente da Igreja Anglicana? 22 GENTE NOVA EM MISSÃO Amor de mãe e amor de filha 24 TEMPO JOVEM Voar mais alto 26 SEMENTES DO REINO Escolher unicamente a Deus 28 O QUE SE ESCREVE 29 O QUE SE DIZ 30 GESTOS DE PARTILHA 31 VIDA COM VIDA Bons carpinteiros bons cristãos 32 OUTROS SABERES Deus não faz milagres ao acaso 33 A MISSÃO É SIMPÁTICA Vinte anos a partilhar Missão 34 FÁTIMA INFORMA Obras da avenida concluídas no verão

ATUALIZEA SUA ASSINATURA

Rua Francisco Marto, 52Apartado 52496-908 FÁTIMA

FÁTIMA MISSIONÁRIA Registo N.º 104965Propriedade e Editora Delegação Portuguesa do Instituto Missionário da ConsolataContribuinte Nº 500 985 235Superior Provincial António Jesus FernandesRedação Rua Francisco Marto, 522496-908 FátimaIm pres são Gráfica Almondina,Zona Industrial – Torres NovasDepósito Legal N.º 244/82Tiragem 27.000 exemplaresDiretor Elísio AssunçãoChefe de Redação Francisco PedroRedação Elísio Assun ção, Manuel CarreiraColabora ção Alceu Agarez, Ângela e Rui, Carlos e Magda, Carlos Camponez, Darci Vila ri nho, Leonídio Ferreira, Luís Maurício, Lucília Oliveira, Norberto Louro, Teresa Carvalho; Diaman tino Antunes – Moçambique, Tobias Oliveira; Álvaro Pa che co – Coreia do SulFotografia Lusa, Ana Paula, Elísio As sunção e ArquivoCapa e Contracapa Ana PaulaIlustração H. Mourato e Ri car do NetoDesign e com po sição Happybrands e Ana Pau la RibeiroAd mi nis tração Joaquim Bernardino e Cristina Henriques

Assinatura AnualNacional 7,00€Estrangeiro 9,50€De apoio à revista 10,00€Benemérito 25,00€Avulso 0,90€

2012

sumário

SANTUÁRIO DE FÁTIMATEMPLO DE FÉ E CULTURA

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Maio 2012 5

pontode vista

texto MARCO DANIEL DUARTE *

Se abrirmos as páginas dos documentos que, emanados da Sé Apostólica, refletem sobre a essência e a vocação dos santuários, percebemos que estes continuam hoje a ser lugares habitados por múltiplas formas de olhar a realidade, espelhando diversificadas maneiras de sentir e de viver. Neste contexto, o lugar do santuário não é tanto traduzido pela ideia de “templo”, mas antes pelo conceito de ampla “praça” com pórticos abertos através dos quais passa o ‘homo viator’.

Sem se assumirem como únicos focos de cultura e de arte, os santuários foram sempre lugares artísticos e propulsionadores de cultura, porque a partir da sua específica ritualidade se constituíram cenários únicos e irrepetíveis noutras latitudes. Provam esta afirmação quer as vetustas cantigas de amigo do universo galego-português, quer as inúmeras imagens teledifundidas dos lenços brancos do recinto de Fátima.

Com efeito, o santuário proporciona uma cuidada paisagem estética que é amplamente sensorial, tocando os sentidos da visão, do paladar, do olfato, do tato e da audição. Podemos afirmar que neles acontecem manifestações culturais que atravessam as diversas formas de sentir e que, inclusivamente, fazem irmanar os que acorrem aos seus favores:quer o nobre, quer o camponês tocavam na coluna do Pórtico da Glória quando chegavam ao templo do Apóstolo da Galiza; quer o peregrinomais anónimo, quer o mais conhecido envergam a vela e passa as contasdo rosário no cenário da Cova da Iria.

O que sucede no âmbito das artes performativas, intrinsecamente ligadas à ritualidade, é também correspondido no que respeita às artes do espaço. Normalmente chamadas a construir o santuário, as disciplinas artísticas tornam-se, naquele lugar, arte para todos. Neste aspeto, o Santuário de Fátima revela-se lugar de uma indispensável continuidade artística, porquanto, conforme cada época, se fez laboratório de experimentações e paisagem de novidade que se liga à antiga. Assim se mostra efetivamente lugar da arte para todos, espaço onde acontece uma democratização da arte, proporcionando a quem nele viajar cenários múltiplos que vão desde a arte popular, espelhada na ermida construída em 1919, até à arte mais hermética e eruditamente depurada que se plasma na igreja da Santíssima Trindade.

Entre uma e outra baliza temporal, encontra-se o gosto oitocentista patenteado na basílica iniciada em 1928, a vigorosa colunata que se faz testemunho dos cânones de meados do século XX e as intervenções pós-modernas dos anos 80 desse mesmo século. Mais acessível ou mais hermética, mais apreciada ou mais incompreendida, a arte no Santuário de Fátima foi sempre protagonista de interessantes episódios que merecem reflexão e que têm sido o cenário que atrai as multidões, à maneira de pátio de todos, sejam crentes ou não, sintam-se pertença do povo cristão ou façam parte dos que chamamos gentios.

* Diretor do Museu do Santuário de Fátima

O SANTUÁRIO, SINGULAR PÁTIODOS GENTIOS

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RENOVE A SUAASSINATURAFaça o pagamento da assinatura através dos colaboradores, se os houver, ou nas casas da Consolata, ou através de multibanco, cheque ou vale postal. Ou ainda por transferência bancária: NIB 0033 0000 00101759888 05.Refira sempre o nú me ro ou nome do assinante. Na folha on de vai escrita a sua direção, do lado esquerdo, encontra o ano pago e o seu númerode assinante.

Agradecemos que os nossoses ti mados assinantes renovema assinatura para 2012.Só as assinaturas atualizadas poderão beneficiar do pequeno apoiodo Estado ao porte dos correios.

Os do na tivos para as missões são de dutíveis no IRS. Se desejar recibo, deverá enviar-nos o seu número de contribuinte.

Muitos leitores chamam à FÁTIMA MISSIONÁRIA«a nossa revista». É bom que assim pensem e assim procedam. A revista é feita por muitas mãos e lida por mais de 29 mil assinantes. Ela é mesmo nossa! Somos uma grande família.

leitoresatentos

Diálogo abertoCaros senhores e amigos de FÁTIMA MISSIONÁRIA,Eu também me considero vossa amiga e amiga íntima da nossa revista, ou não fosse eu assinante há tantos anos! Peço desculpa por me atrasar um pouco na renovação da assinatura. Amigos, eu poderia enviar a quantia doutra forma, mas sinto-memuito bem em partilhar convosco estas simples palavras saídas do coração; sinto por todos vós uma grande admiração e

PROJETO MALOCACaros irmãos missionários,Aqui vai uma pequena ajuda para o projeto “Maloca para todos”. Faço votos para que Jesus toque muitos corações para que sejam solidários em ajudar-vos para que os irmãos missionários possam chegar aos que mais precisam. Que a bênção do Senhor nos abençoe a todos e nos dê a paz neste mundo tão perturbado.Leonor

POUCOS OPERÁRIOSOs meus respeitosos cumprimentos,Pago a revista de três assinantes. Envio mais 25,00 € de uma senhora minha vizinha, que me pediu para mandar essa pequena ajuda para os missionários da Consolata, que lutam com muitas dificuldades na ajuda aos que mais precisam. Peço a Deus que abençoe o vosso trabalho, e vos dê muita saúde e forças, porque a messe é grande e os operários são poucos.Virgínia

GOSTO DE LEREx.mo senhor Padre,Desejo de todo o meu coração que as pessoas todas que trabalham na FÁTIMA MISSIONÁRIA se encontrem bem de saúde, e que Deus vos ajude e proteja. Apesar das

minhas poucas posses, gosto muito de ler a revista. Também me ajuda a viver, porque leio tudo o que nela se diz e gosto de tudo quanto leio. Gostava de mandar mais qualquer coisa, mas é-me impossível porque gasto muito na minha saúde. Deus tem-me ajudado a superar tudo quanto me tem acontecido.Maria Lourdes

AJUDA ÀS CRIANÇASSenhores,Este dinheiro é para pagar três anos da assinatura da revista. O restante, que não é muito, gostava que fosse para ajudar as criancinhas mais necessitadas. De momento não me é possível mandar mais, mas Deus é grande e pode ser que me ajude no futuro. Com um muito obrigado pela alegria que a revista me traz.Manuela

carinho. Tudo de bom eu vos desejo; o Senhor vos escolheu e cuida de vós. Eu na minha paróquia também me sinto unida a vós, porque sei que as vossas orações chegam a toda parte do mundo, um mundo cada vez mais carente de Deus. Maria José

Na carta da senhora Maria José há três pontos que gostava de comentar: um deles é o facto de ela não mandar o valor da assinatura por meios eletrónicos, porque se sente bem em partilhar connosco algumas palavras. E nós também gostamos de ler essas palavras

escritas do coração; outroponto é a admiração e ocarinho que ela sente portodos os missionários; e oterceiro é a oferta de orações que faz em união com todos aqueles e aquelas que rezam pelo mundo carecido de apoio espiritual. Nós estamos a receber cada vez menos correspondência escrita, precisamente porque os assinantes pagam por multibanco ou por transferência bancária. Cada um escolhe o meio que prefere e lhe dá jeito.MC

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horizontes

TEXTO TERESA CARVALHOILUSTRAÇÃO MARTA TEIVES

Eram 16.05h quando a Manuela estacionou o carro no Bairro de João Barros. Já a aguardavam. Como por encanto ficou rodeada de uma algazarra de crianças que corriam em atropelo para o carro: “Olá Manuela, eu levo a viola!”, “Hoje sou eu que levo os livros!”, “E eu, posso levar os cartazes?”, “Manuela, a mão!”, diziam as crianças. Manuela nem tinha tempo de responder. Enquanto distribuía beijinhos e afagos, o carro era esvaziado do que sabiam destinar-se à catequese e à Eucaristia. Beatriz e a Rosinha “apoderaram-se” das suas mãos.

Passavam os anos, sucediam-seos grupos, mas a festa do sábado repetia-se. Naquele bairro esquecido e, socialmente excluído, a catequese e a “Eucaristia em família”, o encontro das pessoas…, tudo fazia parte da festa da vida. Hoje, de novo, Manuela percorria o bairro, agora de mão dada à Beatriz

COLO DE DEUS e à Rosinha. O afeto daquelas duas meninas representava a confiança e os afetos que todo o bairro partilhava com a Manuela. Estava-lhes agradecida. Agarradinhas à sua mão, as petizes só a largavam para os cumprimentos. Sentiam-se grandiosas por caminharem ao seu lado e, mesmo sem se aperceberem, aprendiam e projetavam outras

sentidos para os comportamentos, ensinava o tamanho imenso de pequenos gestos, dava valor a esforços esquecidos… Ensinava “outro mundo”.

Chegou à sala polivalente. Com as crianças em redor, a viola a marcar ritmo e com aquele sorriso gigante, Manuela ensina alegrias, ajuda a

Ali, juntos, viajam até um mundo onde não há conflitos nem excluídos, onde cada um é importante e é aceite, onde se encontra paz

formas de ser. Cumprimentavam e paravam em todas as casas onde, à passagem, estivesse alguém sentado no degrau da entrada ou à janela.

Às vezes esperavam a Manuela para pedir algum esclarecimento ou opinião. Ela conhecia as famílias, o nome de cada um e as suas lutas. Gostava de perguntar por eles. Alegrava-se com as boas notícias e entendia os seus problemas. Era como se fosse um deles… Mas todos sabiam que Manuela era especial: nunca a tinham visto irritada e distribuía o som das gargalhadas pelo bairro, mostrava novos

descobrir novas formas de sentir e outras forças em que confiar. Ajuda a crescer! Uma hora depois, todo o bairro vem juntar-se às crianças para a missa. Chegam mais cedo, guiados pelo som da viola da Manuela. Gostam de ensaiar os cânticos com ela. Ali, juntos, viajam até um mundo onde não há conflitos nem excluídos, onde cada um é importante e é aceite, onde se encontra paz. Viajam até ao coração amoroso de Deus e experimentam o aconchego do seu colo.

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mundomissionário

texto E. ASSUNÇÃO fotos LUSA

MILHÕES DE VOLUNTÁRIOS CRISTÃOS NA EUROPAAo serviço dos mais desfavorecidos, são à volta de 140 milhões de pessoas na Europa, em grande parte cristãos, que estão envolvidos, de vários modos, em ações de voluntariado. Operam a favor dos outros, gratuitamente, na educação, na saúde, no tecido social, testemunhas da luz de Cristo. É quanto ressalta do livro «O Santo Padre e os voluntários europeus», que recolhe as intervenções de um encontro no Vaticano, no encerramento do Ano Europeu do Voluntariado. Olhando para fora da Europa, a situação do voluntariado é complexa. Segundo o presidente da Caritas Internacional, Michel Roy, são três as grandes preocupações dos 500 mil voluntários da sua rede mundial: a região do Sahel, onde as populações sofrem a fome; a situação das comunidades cristãs da Síria que causa preocupação. Além da Síria, em todo o Médio Oriente está em risco a sobrevivência das comunidades cristãs. A situação é grave para os jovens cristãos da região que sentem grandes dificuldades para encontrar o seu lugar na sociedade de amanhã.

BANGLADESH TEM CERCA DE 700 MIL CRIANÇAS NA RUANo mundo são mais de 250 milhões e no Bangladesh cerca de 700 mil. Mais pobres entre os mais pobres, vivem completamente marginalizadas, trabalham e dormem na rua. Prevê-se que, em 2014, chegam aos 1,1 milhões. Na capital Dhaka, cerca de 60 por cento destas crianças, meninos e meninas, vegetam pelas ruas e estradas em busca de um pouco de comida e dormem nos passeios. A maioria, à volta de 80 por cento são meninos, mas a situação das meninas é mais grave, sujeitas como estão à pressão e ao estigma da prostituição, além da violência sexual. Muitas destas crianças abandonam as suas famílias porque são maltratadas. Estes dados são fornecidos pela organização não governamental espanhola PAN, que opera no Bangladesh, desde 2002 a favor dos menores.

TOBIAS OLIVEIRA, missionário da Consolataportuguês, em Jerusalém

Entrei na cidade santa de Jerusalém, com a multidão que partiu de Betfagé e atravessou o Monte das Oliveiras, repetindo cantos e aclamações. Como na entrada triunfal de Jesus! Visitei várias igrejas e capelas que assinalam os principais momentos da paixão, morte e ressurreição do Senhor. Templos esses que têm nomes significativos, como Igreja da Agonia, de Pedro ao Cantar do Galo, da Flagelação, do Cireneu, da Verónica e do Sepulcro. Nalgumas dessas igrejas, pude mesmo celebrar a Santa Missa, inclusive

Caminhos de Jerusalém

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Maio 2012 9

CINEMA ATRAI JOVENSDO MÉXICOJunto à fronteira com os Estados Unidos, em Cidade Juárez, os salesianos criaram um projeto denominado «Corredor cultural Dom Bosco», destinado a jovens. O projeto tem como objetivo atrair os jovens e afastá-los de situações perigosas, através de atividades culturais. Recentemente inauguraram o chamado «Cinema Bosco», em três centros salesianos do estado mexicano de Chihuahua, onde trabalham há mais de 20 anos. Com as diversas atividades de promoção juvenil, os salesianos pretendem reforçar a capacidade dos jovens e adolescentes para resistirem à realidade de violência e ao deteriorar-se do tecido social na região. Perante a falta de lugares significativos e de alternativas socioculturais, os missionários respondem com atividades, dirigidas pelos próprios jovens, que são também de apoio educativo para as escolas da vizinhança. O «Bosco Cinema» junta-se a ouras iniciativas já existentes, como espetáculos, festivais cinematográficos, entretenimento, galerias de arte, fóruns abertos a concertos e atividades artísticas.

junto à rocha do Calvário. Lá vos recordei. Na manhã de Páscoa, ao raiar do dia, dei as boas-vindas a Cristo ressuscitado no terraço da Igreja chamada «Ecce Homo». Não me passou despercebida a coincidência de poder proclamar: “Eis o Cordeiro de Deus”, junto ao lugar onde Pilatos desprezou Jesus com palavras semelhantes: “Eis o homem”. Foram dias que jamais vou esquecer! Foi uma bênção poder palmilhar os caminhos da paixão de Jesus e renovar os meus compromissos.Cristo ressuscitou, Aleluia!

ALARGA O ESPAÇODA TUA TENDAFruto de uma parceria entre os Institutos Missionários «ad gentes» e o Santuário de Fátima, a 12 de maio, abrirá a exposição missionária, intitulada «Alarga o espaço da tua tenda». Tomado do livro de Isaías, o tema pretende levar os visitantes a abrir o coração, a ir ao encontro do outro e a acolhê-lo. Ao mesmo tempo, deseja-se dar graças a Deus que nos confia a sua Missão e levar à renovação do entusiasmo pela Missão da Igreja em Portugal.A exposição estará aberta ao público, todos os dias, das 9 às 19, de 12 de maio a 31 de outubro de 2012 na sala Santo Agostinho (cripta da igreja da Santíssima Trindade).Através de quatro núcleos, o visitante poderá sentir, gostar e deixar-se envolver pelo espaço que procura acolhê-lo e acompanhá-lo, como hóspede há muito esperado. Ali encontrar-se-á com a origem da Missão e com aqueles e aquelas que a foram encarnando ao longo dos tempos. É uma obra para ver, deixar-se envolver e sentir-se como operário que vai colocando o seu tijolo nesse grandioso projeto, acompanhado por alguém que conhece bem a exposição.Para a realização do projeto, que foi amadurecendo ao longo de vários anos, contribuiu a carta pastoral dos nossos bispos: “Como Eu vos fiz, fazei vós também”. Para um rosto missionário da Igreja em Portugal.Quando o Santuário de Fátima já se prepara para a celebração do Centenário das Aparições, num contexto em que a Igreja apela e procura encontrar caminhos para a Nova Evangelização, aceite o nosso convite: venha até Fátima, percorra os caminhos que o lugar lhe sugere e dirija-se para as escadas ou a rampa de acesso à cripta da Santíssima Trindade. Visite a exposição missionária e… alargue o espaço da sua tenda.

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a missãohoje

Hora Allamanoem São Marcos

Na missão não existe rotina: “Nenhum dia é igual ao outro”. Não há sábados, nem domingos: “Estávamos sempre ocupadas em diferentes atividades. Não havia a possibilidade de cair na monotonia”. Desde o acordar ao deitar, “Nunca sabíamos que tarefas nos esperavam,

quem iríamos confortar ou auxiliar”. Na missão, “não temos vontade de parar”, mesmo que o cansaço tome conta dos corpos. “É necessário pensar como o beato José Allamano nos aconselha: «Vivamos sempre como se devêssemos morrer hoje, e trabalhemos como se nunca devêssemos morrer»”.

Quais os momentos mais complicados da missão?Ver uma criança a morrer, quando a tentávamos salvar, durante dias e semanas. Não há nada pior do que ver um bebé de meses a gemer, acompanhar o seu sofrimento, até ao último suspiro, e ter que fechar-lhe os olhos… Sem poder fazer nada! Ficámos de rastos. Mas tínhamos de erguer a cabeça e aceitar como se fosse a coisa mais normal do mundo.

Quais os momentos mais bonitos?Sem dúvida, quando conseguíamos que os bebés parassem de chorar e começassem a sorrir; as meninas e mamãs a cantar e dançar. Quando víamos as crianças

“Durante estes meses entreguei-me sem preconceitos e amei verdadeiramente”

PARTIR…Partir em missão era um desejo “de longa data”. Foi crescendo e amadurecendo, pouco a pouco.Tornou-se decisão, inspirada num “grande missionário”, José Allamano, pai da família da Consolata: «Tal como as nossas mãos se ajudam uma à outra, assim devemos ajudar-nos uns aos outros».

texto E. ASSUNÇÃO foto DR

Todos os 16 de cada mês, a Família da Consolata, com os seus amigos e grupos, rezam juntos a (H)ora Allamano. Oram pelas missões e pelas vocações, por intercessão do Beato José Allamano, fundador da família da Consolata, criando laços de amizade e de comunhão entre todos. A ideia de unir todos à volta de Allamano pretende que todos conheçam melhor a sua pessoa, o seu carisma e a sua vida de formador de missionários e missionárias para a missão.A paróquia São Marcos, Cacém, reunirá um grupo de pessoas para a hora Allamano às 21h. Será animada pelo padre João Batista, que lançou o convite aos paroquianos para estarem presentes e rezarem juntos. É louvável saber que as pessoas, pouco a pouco, estão a aderir

a esta iniciativa da (H)ora Allamano. A cadeia de oração está a crescer, de mês para mês, e cada um sente-se unido a muitos outros em diferentes lugares de Portugal. Estão todos em sintonia com a missão e com os missionários da Consolata dos diversos continentes. O entusiasmo e a adesão à iniciativa está a corresponder às expetativas e espera-se que mais grupos ou pessoas individualmente adiram, à medida que vão conhecendo a folhinha que é preparada para cada mês e é distribuída pela revista FÁTIMA MISSIONÁRIA ou pelos missionários da Consolata e que também está disponível na internet, em www.fatimamissionaria.pt

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Maio 2012 11

fio dahistória

texto MANUEL CARREIRA ilustração H. MOURATO

Para resolver o problema da nova fundação em Portugal, os superiores do Instituto da Consolata apostaram no padre João De Marchi, (por favor ler Marqui). Quando nasceu, em 21 de julho de 1914, De Marchi era um bebé «quase» igual a todos os outros. Tinha o cabelo escuro e muito maciinho. Os olhitos pareciam duas azeitonas maduras que logo de pequeno cirandavam de um lado para o outro à procura da luz. Eram os primeiros sinais da sua inteligência superior. Nascido em Belluno numa família menos que remediada, teve de fazer sacrifícios desde pequeno, para ir à missa e à escola. Descalcito ou de botas pouco confortáveis enfiadas nos pés, lá ia ele, manhã cedo, a caminho da igreja para ajudar à missa. Logo a seguir, ia para as aulas. Na igreja aprendeu a rezar e a amar a Deus e ao próximo; na escola aprendeu as letras e os números com os quais havia de jogar toda a vida. O ideal missionário veio a seguir: entrou na Consolata de Turim e ordenou-se em 13 de março de 1937. Estava pronto para a aventura missionária. Tocou-lhe em sorte Portugal, como veremos o mês que vem.

DE MARCHI ENTRAEM CENA

a correr para nos abraçar, assim que chegávamos; quandoas víamos – aquelas que conseguimos tratar e cuidar –a crescer bonitas e saudáveis, embora com as doenças próprias da idade; quando víamos as mamãs, vovós, manas a dar carinho aos bebés e a cuidar deles de uma forma diferente da que faziam antes de nós chegarmos; quando nos faziam perceber que a nossa presença era importante para elas, através de demonstrações de carinho, o que não é muito habitual entre eles. E agora, ao regressar?Trago uma certeza: o projeto de Deus não é só um sonho. É mesmo real! Há pessoas que dedicam a sua vida por amor ao próximo, abdicam das suas famílias, dos seus bens materiais para estarem junto dos que mais precisam. Mesmo sem sermos tão radicais, é possível fazer missão. Estejamos onde estivermos, somos sempre missionários.

Qual o saldo da tua experiência missionária?Sem dúvida alguma que recebi e ganhei muito mais do que ofereci e dei. O que pude ensinar ou deixar não compensa as lições de vida que trago. Mesmo sem alguma obra feita, durante estes meses entreguei-me sem preconceitos e amei verdadeiramente. Não é esta também a mensagem de Jesus? O mais complicado depois do regresso, tem sido encarar novamente a realidade em que vivemos, como por exemplo a fartura de bens, o desperdício, o supérfluo, o trabalhar para nos sustentarmos, ganhar dinheiro e constituir riqueza. Na missão aprendemos a lidar com a falta de bens, a poupar ao máximo, a ter apenas o necessário, a trabalhar para ajudar os outros sem esperar nada em troca. As partilhas do dia a dia são a riqueza que se amealha.

Para terminar?Deixo o meu agradecimento à família «Adgentes» e à família Consolata por esta oportunidade que me deram de servir na terra onde nasci; à Inês, minha companheira, obrigada pelos momentos que vivemose partilhamos: sentimentos, olhares, lágrimas, sorrisos, gargalhadas, silêncio… Estamos unidas. Agradeço às pessoas que se encontram no terreno e que tive o prazer de conhecer: padres, irmãs, irmãos, leigos, voluntários, que são o exemplo vivo da mensagem de Jesus. Agradeço aos bebés, crianças, mamãs, manas, vovós: obrigada por me terem deixado fazer parte das vossas vidas e por fazerem parte da minha vida. Guardarei cada expressão dos vossos olhares. Agradeço à comunidade de Mecanhelas pelo acolhimento, pelo carinho, por me mostrarem como se vive um dia de cada vez e como se ultrapassam as dificuldades e os sofrimentos sempre com um sorriso.

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a missãohoje

Perante a atual crise, os discípulos de Cristo não são meros espectadores, mas sim atores. Tal como os demais homens e mulheres, estão entre os culpados e estão entre as vítimas. O que se nos pede como cristãos é que não nos isolemos, não nos coloquemos de fora da cena, ao abrigo de qualquer incómodo; tão pouco que não nos refugiemos num eventual estatuto de vítima, de impotência,de fatalismo.

A resposta dos cristãos à crise é uma resposta de fé, o que implica um olhar amoroso sobre o mundo e o reconhecimento de que a vida, em todas as suas manifestações é dádiva de Deus. Implica uma atitude de solidariedade e fraternidade, que extravasa as fronteiras dos nossos relacionamentos mais próximos e é, tendencialmente, universal. Implica uma predisposição interior que se converterá em gestos e iniciativas concretas em favor dos mais severamente afetados pela crise.

Implica um empenhamento ativo em transformar a presente crise numa real oportunidade para fazer emergir novos modelos de funcionamento da economia e novas formas de organização social e dos territórios.

A doutrina social da Igreja continua a ser um tesouro a aprofundar e a pôr em prática. O seu maior e mais generalizado conhecimento deveria ao menos servir de travão à tentação de importar modelos de gestão empresarial de cariz capitalista. Ao invés, as instituições da responsabilidade da Igreja deveriam ser, em si mesmas, testemunho evangélico, tanto no acolhimento de quem a elas recorre, bem como nos relacionamentos com os que nelas trabalham e nos demais relacionamentos

Assumida como uma missão prioritária da Igreja do Ocidente, a evangelização passará, por uma presença profética das comunidades eclesiais, que reconhece a crise, a reflete e aprofunda e ousa pôr em causa os seus alicerces geradores, denunciando abusos e formas de exploração, quaisquer que estas sejam, e aponta, sem ambiguidade e sem transigência, a urgência de novos rumos assentes em valores universais de dignidade humana, liberdade e fraternidade.Publicação conjunta da Missãopress

RESPOSTA CRISTÃ À CRISE

Perante a atual crise, que envolve múltiplas facetas, os discípulos de Cristo não são meros espectadores, mas sim atores, e, tal como os demais homens e mulheres, estão entre os culpados e estão entre as vítimas

texto MANUELA SILVA

Homens e mulheres cristãos estão entre os culpados e entre as vítimas da crise

Quando, há 50 anos, o concílio Vaticano II quis resumir o pensamento da Igreja católica acerca da sua relação com o mundo, escreveu: As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo (Gaudium et Spes, nº 1)

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destaque

GOLPE DE ESTADO AGRAVACRISE INTERNA

MALI: ENTRE A DIVISÃO E O RADICALISMO RELIGIOSOEntre um regime à procura de resolver o vazio político, criado por um golpe de Estado, e uma declaração unilateral de independência efetuada pelas forças independentistas do norte, vitoriosas mas desavindas, o Mali atravessa um momento de grande incerteza, mais de cinquenta anos após a sua independência

texto CARLOS CAMPONEZ foto LUSA

independentistas rapidamente se impuseram perante um exército mal organizado, onde grassa a corrupção, e que, antes mesmo do golpe de Estado, estava dado como praticamente derrotado.

Difícil soluçãoSe a situação política no Mali se revela difícil, a saída para o problema não o é menos. Por um lado, as autoridades de Bamaco vão ter de ultrapassar o vazio político gerado com o golpe de Estado de março, uma vez que a Comunidade Internacional rejeitou reconhecer a legitimidade dos golpistas.Por outro lado, os independentistas, após a tomada da cidade de Tombuctu, cindiram-se, defendendo uns a causa da independência nacional e outros um Estado islâmico, cujos objetivos não se limitam ao território Azaouad, mas a todo o país.

Porém, resumir a questão do Mali ao perigo islâmico ou aos interesses de um movimento independentista que se opõe à realização de um Estado unificado e aos desígnios do seu desenvolvimento é esquecer também as profundas divisões étnicas e políticas não resolvidas e que, por vezes, se aprofundaram durante meio século de história.Constatar isto, 52 anos após a independência do país, é dizer que o Estado não se realizou plenamente num dos seus objetivos: o da integração dos povos que o constituem. A perseguição levada a cabo contra “mouros” e tuaregues, durante décadas, reforçou a consciência de que os tuaregues não eram malianos. E um dos preços a pagar por isso é o independentismo e o radicalismo religioso. Independentemente dos desígnios da guerra, a fratura a que agora assistimos com a declaração de independência dificilmente será ultrapassada nos próximos tempos.

O golpe de Estado no Mali, levado a cabo por militares de baixa patente contra o regime liderado por Amadou Toumani Touré, acabou por agravar ainda mais aquela que terá sido a causa principal da rebelião militar: a incapacidade do governo em fazer frente ao avanço das forças independentistas.

Aproveitando o vazio político e a confusão institucional causados

pela rebelião militar em Bamaco, a capital do Mali, o Movimento Nacional de Libertação do Azaouad, correspondente ao Norte do país, de maioria Tuaregue, e o Ansar Dine, um grupo extremista islâmico com ligações à Al-Quaeda, lançaram um ataque que culminou com a tomada das principais cidades da região: Gao, Kidal e Tombuctu. Armadas, financiadas e treinadas peloex-regime líbio de Kadhafi, as forças

Na questão do Mali preocupam as profundas divisões étnicas e políticas não resolvidas

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atualidade CONSOLATAPáscoa em Águas Santas

Tem 14 anos, olhos rasgados cor de amêndoa, sorriso fácil, altura acima da média e alimenta um sonho, igual ao de grande parte das adolescentes da sua idade. Maria, chamemos-lhe assim, “gostava de ser modelo”. A vida trocou-lhe as voltas. Se já não é fácil para qualquer rapariga da classe média entrar no mundo da moda, para uma jovem que precisa de recorrer todos os dias às carrinhas de apoio aos sem-abrigo para ter pelo menos uma refeição, tudo se torna mais complicado. Maria não desanima. “Tenho esperança que isto melhore. Não pode estar sempre mau, não é?”, pergunta a jovem à FÁTIMA MISSIONÁRIA, como que a pedir uma resposta de alento, uma saída para os problemas que teimam em não largar a sua família.

Por quatro dias, Maria pôde esqueceresta face negra da sua ainda curta existência. Acompanhada dos pais, dos dois irmãos mais novos, e de mais 26 pessoas carenciadas da

zona do Porto, passou a Páscoanas instalações dos Missionáriosda Consolata, em Águas Santas,na Maia.A iniciativa partiu do grupo Solidários Missionários da Consolata (SMC) e teve tanto de inédito como de reconfortante. Os organizadores sentiram que “quando a criatividade se põe em prática, o amor pelo próximo acontece”; e os

apresentações, puderam escolher roupa numa banca improvisada pelos voluntários e recolher aos quartos, onde os esperavam pequenos kits com artigos paraa higiene pessoal.Daí até Domingo de Páscoa, quase não tiveram tempo para recordaras dificuldades do dia a dia. Os 44voluntários envolvidos no projeto “Páscoa com os Sem-Abrigo”

SOLIDÁRIOS SERVEMESPERANÇAA CARENCIADOSSem-abrigo da zona do Porto estiveram quatro dias a viver no seminário de Águas Santas. Participaram em visitas guiadas, receberam roupas, e aderiram em massa às celebrações religiosas. Os voluntários e os ‘convidados’ consideraram a iniciativa um sucesso

texto FRANCISCO PEDRO fotos ANA PAULA

“Queremos que saibam que há quem os acolhe, no Amorde Jesus, e portanto basta que queiram entrar, que o portão está aberto para serem parte integrante da família cristã”

‘convidados’ experimentaram “pela primeira vez a presença de Deus e o amor da Igreja”, sintetizou Ramon Cazallas, padre missionário da Consolata.Os 31 carenciados, de diversas faixas etárias, chegaram a Águas Santas na quinta-feira Santa, a meio da tarde. Depois das

tinham tudo programado. Desde visitas guiadas, a oficinas criativas, passando por dramatizações, jogos tradicionais e, claro, as celebrações eucarísticas. Na primeira missa, a do lava-pés, 12 deles foram apanhados de surpresa quando o padre Ramon,tal como Jesus fez aos seus Apóstolos,lhes lavou e beijou o pé direito.

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A Páscoa de Águas Santas foi idealizada e programada em dois meses pelo grupo SMC que assegura o jantar a mais de 100 carenciados do Porto, todos os domingos à noite. Como não era possível acolhê-los todos, por questões logísticas, foi lançado o desafio a quem estivesse disposto a embarcar na aventura. “A princípio pensei que era uma brincadeira”, admitiu João Magalhães, 56 anos, natural da Cova da Piedade.

Quando verificou que a proposta era a sério, foi dos primeiros a aderir. A recuperar de dois acidentes vasculares cerebrais, com diabetes, João arrasta-se com a ajuda de uma muleta, pelas ruas da amargura. A casa ardeu-lhe e ficou sem nada. Precisa de uns óculos e de uma dentadura, mas a magra reforma, de 350 euros, quase não dá para os gastos mensais: 200 euros do quarto, perto de 100 euros para medicamentos.

“Quando tinha dinheiro, tinha montes de amigos. Deixei de ter dinheiro, deixei de ter amigos”, desabafou o ex-taxista. A viver um drama difícil de ultrapassar, João ficou reconhecido pela iniciativa dos Solidários: “Se não fossem eles, passava a Páscoa sozinho, fechado no quarto”.

O sentimento de gratidão podia sentir-se também nas palavras debitadas em catadupa por Júlio Vidal, 56 anos, e “poeta desde os 15”. A revolta tomou conta daquele corpo franzino desde muito cedo, fruto de uma educação que diz ter sido demasiado rígida. Em Angola, experimentou “charros” e deixou-se agarrar pela heroína. Foi pastor de cabras na Galiza, fez vindimas em França, trabalhou como servente de pedreiro e ajudante de pintor. Até a saúde o permitir. Hoje, vive com uma pensão de 212 euros, no quarto de uma hospedaria que partilha com a companheira. As

dificuldades não o impediram de continuar a escrever. Assegura ter mais de 50 livros. Desde poesia, crónicas, contos, prosa e ensaio. As equipas de voluntários “são o único recurso” que tem para se alimentar à noite. “O que me valeu sempre foi ser cristão. Tenho uma fé ilimitada em Cristo”, confessou, em jeito de agradecimento aos Solidários.

É este sentimento que Artur Mendes, porta-voz do SMC, pretende manter vivo nas pessoas que estiveram em Águas Santas e nas restantes, que não puderam ir: “Queremos que saibam que há quem os acolhe, no Amor de Jesus,e portanto basta que queiram entrar, que o portão está aberto para serem parte integrante da família cristã”.

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atualidade JOHN SENTAMUArcebispo anglicano que dá nas vistas

Seja a saltar de paraquedas para angariar dinheiro para as famílias dos soldados mortos no Afeganistão seja a fazer batismos em enormes tanques ao ar livre, John Sentamu é um arcebispo que dá nas vistas. O seu estilo, junto com o seu prestígio intelectual e um passado de combatente pelos direitos humanos, garante-lhe enorme popularidade na diocese de Iorque, que tutela, mas também em toda a Inglaterra. E por isso a imprensa considera-o favorito para suceder a Rowan Williams como arcebispo de Cantuária.

Sentamu fará 63 anos em junho, enquanto Williams até é um ano mais novo, mas os conflitos internos na igreja anglicana levaram este último a pedir

a resignação de modo a abrir alas para outra liderança. É que apesar de os anglicanos serem hoje 90 milhões de crentes espalhados pelo mundo, o arcebispo de Cantuária continua a ser visto como o máximo dirigente, mesmo que não passe de um primeiro entre iguais.

Tem sido a ordenação de mulheres como bispo e a bênção a uniões

homossexuais os focos de divisão dentro da Comunhão Anglicana, que reúne além da original Igreja de Inglaterra mais 37 províncias eclesiásticas e ainda seis igrejas. E apesar de haver anglicanos em mais de uma centena de países, é sobretudo nas antigas colónias britânicas que as principais comunidades se notam. Por isso a importância de um arcebispo

Nasceu no Uganda, mas as perseguições políticas fizeram-no emigrarpara Inglaterra. O advogado John Sentamu transformou-se numteólogo formado por Cambridge e hoje é arcebispo de Iorque. A imprensa britânica dá-o como favorito para ser o futuro arcebispo de Cantuária,com a missão de ultrapassar as fricções na Comunhão Anglicana, sobretudo sobre a ordenação de mulheres e a homossexualidade.Visto como um conservador, está mais próximo das igrejas de Áfricado que dos liberais da América

texto LEONÍDIO PAULO FERREIRA* foto DR

UM AFRICANO À FRENTEDA IGREJA ANGLICANA?

Calcula-se que pelo menos 40 milhões de africanos sigam o anglicanismo, ou seja mais que o número de crentes na própria Inglaterra.E a proporção de africanos na Comunhão Anglicana tende a aumentar, tanto por força da demografia como pela ação missionária

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de Cantuária africano, pois países como a Nigéria, o Quénia ou o Uganda natal de Sentamu destacam-se hoje no anglicanismo. Calcula-se que pelo menos 40 milhões de africanos sigam o anglicanismo, ou seja, mais que o número de crentes na própria Inglaterra.

E a proporção de africanos na Comunhão Anglicana tende a aumentar, tanto por força da demografia como pela ação missionária. Ora esses crentes africanos são, em regra, mais conservadores que os anglicanos europeus, norte-americanos ou da Oceânia. Muitos têm mesmo dificuldade em lidar com o entusiasmo nos Estados Unidos pelas mulheres ordenadas como bispo. Mas o que causa mais fricção é mesmo a atitude em relação à homossexualidade, com defensores de sacerdotes ‘gay’ assumidos.

Não são apenas os crentes africanos que reagem mal aos excessos liberais, pois também nas ilhas britânicas existe descontentamento. Desde 2009, Bento XVI acolhe na Igreja Católica sacerdotes anglicanos em rutura com a sua hierarquia religiosa, o que é facilitado pelo anglicanismo ser talvez o ramo do protestantismo menos distante de Roma.

O arcebispo Sentamu tem uma visão ortodoxa da religião.

Um arcebispoem datas

1949 Nasce em Campala, capital da então colónia britânica do Uganda. É um de 13 irmãos

1971 Licencia-se em Direito pela Universidade de Makerere, num Uganda independente desde 1962

1973 Casa com Margaret (mãe dos seus dois filhos). As suas atividades como advogado valem-lhe três meses de prisão por ordem do ditador Idi Amin Dada

1974 Para escapar a nova prisão, parte para Inglaterra com a família

1976 Forma-se em Teologia pela Universidade de Cambridge

1984 Doutora-se em Teologia também por Cambridge

1996 Nomeado bispo de Stepney 2002 Nomeado bispo de

Birmingham 2005 Nomeado arcebispo de

Iorque 2006 Critica os Estados Unidos

pela prisão de Guantánamo 2007 Numa entrevista da BBC

retira o colarinho de clérigo em protesto contra os abusos do Presidente Robert Mugabe no Zimbawe

2008 Visita o Papa em Roma. Jornais britânicos noticiam que ofereceu a Bento XVI cerveja ‘Holy Grail’, uma famosa marca de Iorque, o que terá agradado ao Papa alemão. Nesse ano faz também um salto de paraquedas para ajudar uma campanha de angariação de fundos

2012 Torna-se colunista no jornal ‘Sun’. Declarações ao ‘Daily Telegraph’ a opor-se ao casamento homossexual geram um pequeno

protesto junto à catedral de Iorque.

Identifica-se mais com os valores das igrejas africanas do que com os das americanas. Mas tal como Williams terá que procurar compromissos para salvar a unidade de uma igreja com cinco séculos.

Alguns problemas de saúde podem fazê-lo desistir de Cantuária, mas na sexta-feira santa o jornal ‘Times’ mostrava na primeira página uma foto sua com Isabel II. É um sinal a ter em conta, afinal foi um monarca britânico (Henrique VIII) que criou o anglicanismo em protesto pelo Papa não o autorizar a divorciar-se de Catarina de Aragão para casar com Ana Bolena. E foi uma das suas filhas, outra rainha de nome Isabel (filha da decapitada Bolena), que estabeleceu os cânones.

*jornalista do Diário de Notícias

Não são apenas os crentes africanos que reagem mal aos excessos liberais, pois também nas ilhas britânicas existe descontentamento. Desde 2009, Bento XVI acolhe na Igreja Católica sacerdotes anglicanos em rutura com a sua hierarquia religiosa, o que é facilitado pelo anglicanismo ser talvez o ramodo protestantismo menos distante de Roma

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dossier

13 DE MAIO

Peregrinação internacional aniversária

SANTUÁRIO DE FÁTIMA TEMPLO DE FÉ E CULTURAA primeira peregrinação internacional aniversária deste ano, a 12 e 13 de Maio, vai dar particular importância à dimensão cultural da mensagem de Fátima. Com esta escolha, o bispo da diocese, António Marto, pretende enaltecer o papel da Cova da Iria enquanto “geradora de cultura”. A FÁTIMA MISSIONÁRIA foi à procura da origem das manifestações culturais que se tornaram imagem de marca do santuário

texto FRANCISCO PEDRO fotos ANA PAULA

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Se pensa que a fé cristã na Cova da Iria se manifesta apenas nas orações, celebrações litúrgicas e penitenciais, é porque ainda não se apercebeu da dimensão da religiosidade cultural e popular gerada em torno da mensagem de Fátima. Ao longo de quase um século, o santuário foi acompanhando as diversas correntes artísticas e estimulandoo aparecimento de novas linguagens, ao nível arquitetónico, literário, musical e das artes plásticas. Mas as imagens de marca, aquelas que ficam na retina dos milhões de peregrinos que visitam a Cova da Iria, continuam a ser as manifestações culturais de caráter popular.

A procissão das velas, a procissão do adeus ou o pagamento de promessas em volta da Capelinha das Aparições são disso um exemplo perfeito. Muito para além das preces, são os ‘efeitos’ estéticos e sensoriais que oferecem aos peregrinos verdadeiros momentos de emotividade. E esses nasceram no próprio santuário. É algo que já faz parte do imaginário popular quando se fala de Fátima e um sinal de que o fenómeno das Aparições é, também ele, “gerador de cultura”.

Jovens e menos jovens, devotos ou agnósticos, são poucos os que conseguem ficar indiferentes ao manto de lenços brancos que se agitam à passagem da imagem da Nossa Senhora de Fátima, no regresso à Capelinha das Aparições, no final das grandes peregrinações. Os rostos comovidos, os olhares marejados de lágrimas, os gritos de fé lançados na procissão do adeus manifestam “aquilo que é mais típico da alma portuguesa em termos religiosos”, assim refere um estudo sobre a religiosidade

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em Portugal, feito pelo frei Bento Domingues.As primeiras referências à utilização dos lenços brancos na procissão de despedida da Virgem Maria remontam a 1925. As pessoas começaram a puxar dos seus lenços de forma espontânea e o gesto tornou-se contagiante.“Aquilo que seriam apenas alguns lenços brancos, em 1925, transformou-se num mar de lenços brancos que acenavam e se despediam de Nossa Senhora, nas descrições feitas da peregrinação de 1927”, conta o reitor do santuário, Carlos Cabecinhas. Em 1934, foi acrescentado o hino do adeus. “O padre Higino Duarte foi numa peregrinação à terra santa com um grupo francês.

Na despedida de Jerusalém interpretaram um cântico que o impressionou de tal forma, que ele fixou a melodia. Quando chegou cá, reproduziu de memória a música e compôs o texto. E é este texto que hoje temos como letra do adeus final. É um cântico com uma história um pouco atribulada, mas que desde essa altura acompanha esta manifestação, que é um exclusivo de Fátima”, adianta o sacerdote.

Procissão das velas. Não é uma invenção dos peregrinos da Cova da Iria, mas a dimensão que atingiu e a beleza cénica que oferece na noite das principais peregrinações internacionais aniversárias é caso único nos santuários marianos a nível mundial. Os relatos históricos dão conta que esta prática já estava solidificada em 1927. Hoje, com centenas de milhares de fiéis no recinto, o que impressiona “é o rio de luz que percorre todo o santuário”. “Os fiéis associam-se àquilo que se realiza, iluminando, ou sendo iluminados pela luz, que é a luz de Cristo transmitida através de Maria” e vivem “uma

experiência sensorial e estética que fortalece a própria fé”, explica Carlos Cabecinhas.

No campo do pagamento de promessas, Fátima também criou uma cultura de rituais próprios. Habituais em várias religiões, as promessas de género doloroso apresentam-se, na verdade, “muito a peito do povo português, com todos os perigos e elementos controversos que encerram”. O santuário sempre manifestou “profundo respeito pelas pessoas que fazem as promessas”, pois ninguém o faz de ânimo leve.

No entanto, tem procurado criar condições para que os sacrifícios se afigurem menos penosos. “É o caso das promessas de joelhos à volta da capelinha, uma das mais comuns, e o descer o recinto de joelhos. Para isso se fez a passadeira de mármore polido, para que as pessoas as possam cumprir com o menor dano possível para a saúde”, refere o reitor.Em tempos, tornou-se prática a descida de rastos, mas após as chamadas de atenção e os apelos lançados pelos sacerdotes, já é muito raro ver-se alguém no

Enviado do VaticanoA peregrinação de maio vai ser presidida pelo responsável máximodo Conselho Pontifício da Cultura, Gianfranco Ravasi. “Convidámos o cardeal Ravasi para dar importância à dimensão cultural do anúncio, da expressão da fé e da espiritualidade cristã que Fátima representa”, justifica o bispo de Leiria-Fátima, António Marto. O representante do Vaticano manifestou-se sensibilizado pelo convite, por considerar o santuário como um local “materno para a cultura contemporânea». Exemplo disso são as diversas exposições temáticas patentes ao longo do ano, como é o caso da que está neste momento no vestíbulo de Santo Agostinho, na Igreja da Santíssima Trindade. Desenvolve-se a partir do tema “No trilho da Luz. As Aparições de Fátima» e pode ser visitada até outubro. Em meados de março, já tinha sido percorrida por mais de 32 mil pessoas.

“Não nos ficamos pela recetividade ou potenciação daquilo que são as práticas de religiosidade popular, mas procuramos ir ao encontro dos peregrinos, levando-os a fazer outras experiências do ponto de vista do enriquecimento cultural”

Padre Carlos Cabecinhas, reitor do santuário desde 11 de junho de 2011

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corredor das promessas com esta postura corporal. Dizem os sociólogos e historiadores que a penitência terá nascido ligada à guerra colonial. “Muitos dos soldados, em momentos de aflição no campo de batalha, faziam a promessa, caso sobrevivessem, de virem a Fátima e descerem o recinto” a rastejar. “Era um costume extremamente violento e graças a Deus que foi desaparecendo”, diz Carlos Cabecinhas.No capítulo do reconhecimento pelas graças recebidas, ou solicitadas, há a destacar ainda a entrega de objetos em cera – velas de vários tamanhos e feitios – que também não é exclusivo de Fátima mas “muito típico da nossa religiosidade popular”.

Imagem resguardada. O toquenuma imagem ou num determinadolocal de devoção é outra das principais características dos fenómenos de religiosidade popular.E Fátima não fugiu à regra nos primeiros tempos de afirmação da mensagem. Há muitos anos, os peregrinos tinham o privilégio de poder tocar na imagem da Virgem Maria.Hoje, isso é praticamente impossível.Gradualmente, a imagem foi-se

afastando dos fiéis, mas ganhando cada vez mais dimensão espiritual. O reitor explica porquê: “Com os milhares de pessoas que se deslocam a Fátima, possibilitar essa experiência sensorial significaria degradar irreparavelmente

“A maior proximidade dos peregrinos em relação à imagem é quando ela passa sobre o andor. E é muito comum ver os peregrinos estenderem a mão, não que tenham a ilusão que lhe possam tocar, mas porque precisam dessa perceção da proximidade”

Peregrinos cumprem promessas na faixa de mármore a caminho da Capelinha

santuário. Precisamente porque permitem a aproximação à Nossa Senhora de Fátima. “A maior proximidade dos peregrinos em relação à imagem é quando ela passa sobre o andor. E é muito comum ver os peregrinos estenderem a mão, não que tenham a ilusão que lhe possam tocar, mas porque precisam dessa perceção da proximidade”, descreve o padre Cabecinhas.Atentos a estas manifestações de fé e devoção, os responsáveis do santuário têm procurado não só “corrigir alguns aspetos considerados mais excessivos”, mas também proporcionar aos peregrinos novas e diferentes experiências estéticas e culturais, mesmo que de forma subtil.

“Não nos ficamos pela recetividade ou potenciação daquilo que são as práticas de religiosidade popular, mas procuramos ir ao encontro dos peregrinos, levando-os a fazer outras experiências do ponto de vista do enriquecimento cultural. Veja-se o caso da música litúrgica, das exposições, das diversas formas artísticas com que o santuário tem

a imagem. Tendo em conta a importância que tem, quer do ponto de vista celebrativo e de fé, quer do ponto de vista histórico e cultural, sentiu-se a necessidade de preservá-la. O que não era possível deixando-a ao toque de todos os peregrinos. Por isso, progressivamente, foi ficando reservada para se poder preservar”.Ao mesmo tempo, as três procissões das grandes peregrinações aniversárias – a procissão das velas, nos dias 12, a procissão de subida da imagem da Capelinha das Aparições e a procissão do adeus, nos dias 13 – foram ganhando importância na projecão nacional e internacional do

procurado enriquecer o próprio espaço. Veja-se o caso da Igreja da Santíssima Trindade, em que não optamos por reproduzir os modelos mais populares mas procurámos experiências novas em relação ao espaço litúrgico e às manifestações artísticas, como uma proposta de enriquecimento cultural dos peregrinos e procura de novas formas de expressão da fé”, conclui Carlos Cabecinhas.

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gente nova em missão

Dia da Mãe 6 DE MAIO

texto ÂNGELA E RUI ilustrações RICARDO NETO

Olá pequenos missionários!Em tempo Pascal – Aleluia, aleluia! – e no primeiro domingo de maio, celebramos o dia da Mãe. De todas as mães que carregaram filhos no seu ventre e daquelas que, sem terem dado à luz, educaram e cuidaram com o mesmo amor. As mães são seres especiais! Mulheres que num momento muito importante passam a ter no topo das suas prioridades a maternidade. As nossas avós diziam: “Quem tem filhos tem cadilhos”. Assim é! Mas tem também um presente muito bonito de Deus, uma experiência de amor única.Na nossa história de hoje vamos falar da Marta e da sua mãe Rosa, para falar das mães e, claro, de Maria, mãe de Jesus

AMOR DE MÃE E AMOR DE FILHAMarta é uma menina de cinco anos, cheios de vida e alegria verdadeiramente contagiantes. Passa as manhãs a brincar na horta da avó, a aprender a plantar legumes e a cuidar de flores. À tarde, quando a mãe regressa do emprego, é uma grande alegria.

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O meu momentode oraçãoO Mãe do Céu,Tu que foste uma boa filha e uma boa mãe ensina-nos o amor, esse amor de mãe e de filhos que não tem maldade, apenas doçura e sentido de criação.Ajuda as mães a cumprirem as suas tarefase ajuda os filhos a compreenderem as mães.Tu és a Mãe de todas as mães e o exemploa seguir.Ave Maria

Na catequesePodem elaborar com os vossos amiguinhos e catequista uma oração para as vossas mães. E também não esquecer da oração do terço, pois no mês de maio também celebramos o aparecimento de Nossa Senhora aos Pastorinhos em Fátima. Rezem pelos que passam mais dificuldades.

As duas divertem-se nas lidas domésticas e a fazer o jantar para elas e para o pai que chega ao final do dia. Aproxima-se o dia da Mãe. Marta quer fazer-lhe uma surpresa. Começa a planear o dia e combina com o pai a compra de um ramo de flores. Mas, no sábado antes da festa, a avó sente-se mal e vai para o hospital, onde ficou internada. Rosa fica com a mãe e Marta não pode fazer a surpresa que tinha preparado. Fica amuada e o seu pai zanga-se com ela por não compreender que a mãe tinha de ficar junto da avó. Quando a mãe chegou a casa à noite, já Marta dormia. Passou todo o domingo sem ver a mãe. As flores bonitas estavam na jarra e, ao lado, um desenho da mãe e filha a brincar num jardim. Quando Marta acorda de manhã, mostra-se zangada com a mãe, que lhe diz que adorou a prenda. Rosa pega na filha ao colo e explica-lhe que, assim como ela cuida de Marta também a avó cuidava dela. Agora é a sua vez de retribuir e acompanhá-la na sua velhice. As mães são assim mesmo! Primeiro, são apenas filhas; mais tarde, passam também a ser mães. É então que compreendem melhor as suas mães e o seu papel de filhas. Marta tem um papel importante a realizar neste jogo de idades tão diferentes. O melhor presente que ela pode oferecer é o seu sorriso, com montes de beijinhos e abraços. Mãe e filha rezaram juntas a Maria. Agradeceram-lhe o seu exemplo de mãe e pediram-lhe pela avó que, naquele momento, estava doente.

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tempojovem

Na minha terra, ouvi muitas vezes um certo ditado popular. Afirma que uma boa decisão tem que ser tomada com a maior lucidez possível e com os pés na terra. No momento em que escrevo estas linhas, encontro-me a bordo de um avião rumo a Roma, tendo de tomar algumas decisões importantes, antes de aterrar. É curioso e paradoxal! Começo a reflectir e, de imediato, sobem à minha cabeça questões que interpelam o meu coração. Porque é que não se tomam decisões com os pés no ar ou nas nuvens? Que sabedoria esconde este dito tão popular da minha terra? Quem viaja muito de avião, sabe que, por maior que seja o tamanho do avião, a estabilidade no ar nunca é total. A situação torna-se mais complicada, quando no alto dos céus, o avião atravessa um poço de

VOAR MAIS ALTO

ar e enfrenta turbulências. Estes imprevistos provocam em nós sensações estranhas a que não estamos habituados, acabando por causar, por vezes, ansiedade e má disposição.Outra descoberta que fiz nas alturas, depois de fixar o meu olhar nos céus, durante algum tempo, através da diminuta janela do avião, é que a paisagem exterior parece estática, sem movimento. Ao escrever este texto, experimento a mesma sensação. Parece-me que toda a adrenalina acumulada no momento da descolagem deste grande pássaro de aço ficou congelada e paralisada nas alturas.

A partir destas breves reflexões, brotam no meu íntimo algumas respostas filtradas pela razão. Uma decisão bem tomada requer uma grande estabilidade psicoespiritual. É muito arriscado decidir, escolher, ou optar quando turbulências interiores atormentam a nossa vida. A instabilidade gera em nós imensas sensações e sentimentos, conhecidos ou desconhecidos, que de um modo ou outro acabam por nos retirar a possibilidade

texto LUÍS MAURÍCIOfoto ANA PAULA

QUERO CONTINUARA EMARANHAR-MENO MUNDO,COM O MEU OLHAR APONTADO PARA O CÉU

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de analisar objetivamente a realidade, condição fundamental para tomar uma decisão acertada. Nesta perspetiva, decidir com os pés na terra reflete, de forma simbólica, a “estabilidade e o equilíbrio” necessários, em detrimento da imagem de instabilidade sugerida pelo deixar a vida pairar com os pés no ar.Tomar uma boa decisão exige de nós a capacidade e a coragem de derrubar as pequenas e reduzidas janelas do nosso olhar sobre a vida, sobre os outros e sobre o mundo. Olhar para as pessoas como seres estáticos incapazes de mudar é uma falsa perceção do dinamismo próprio da vida. É semelhante a olhar a partir do alto de um avião. Tal como o outro é muito mais do que eu vejo, também eu sou muito mais do que aquilo que percebo.

Somos seres vivos, pelo que a nossa natureza nos convida a mexer e a não ficarmos fixos ou ancorados, como se estivéssemos pendurados do alto do céu. É preciso alargar a visão para perceber as luzes e sombras da realidade que nos envolve. Somos seres dotados de espírito, portanto somos desafiados a rasgar os preconceitos que nos paralisam nesta aventura de caminhar e sonhar um mundo novo e diferente.

O facto de estar a milhares de metros de altitude num avião gera em mim – e certamente nos outros passageiros deste voo – alguma insegurança. Mesmo assim, consigo avistar pela janela do avião um ponto, isto é, o horizonte desenhado na imensidão do céu infinito. Este olhar penetra

profundamente em mim e gera algo diferente. Será a origem de uma nova oportunidade a alimentar a minha esperança? “Apertem o cinto de segurança que vamos aterrar” é o convite do comissário de bordo. Finalmente, os meus pés tocarão a terra, oferecendo-me a oportunidade de tomar a minha grande decisão: Quero continuar a emaranhar- -me no mundo, com o meu olhar apontado para o Céu.

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sementesdo reino

texto DARCI VILARINHO foto DR

ESCOLHER UNICAMENTEA DEUS

Durante os anos da minha estadia em Roma, tive a graça e o privilégio de conhecer uma figura exemplar que ainda hoje permanece na minha memória: o cardeal Van Thuân. Um bispo vietnamita que experimentou no seu corpo treze anos de dura prisão. Vim a descobrir a riqueza da sua personalidade a partir do dia em que ele foi escolhido pelo Santo Padre João Paulo II para orientar o retiro da quaresma da cúria romana no ano 2000. Não era ainda cardeal, mas as suas reflexões, mais tarde recolhidas no livro “Testemunhas da esperança”, cativaram a minha atenção: pelo convite à esperança, à confiança em Deus e à fidelidade. O cardeal tinha vivido sua pele o que propunha aos outros.

Lembro-me que, no dia em que foi feito cardeal, o que mais me impressionou foi o facto de, em vez de uma cruz de ouro, ter pendurada ao peito uma pequena cruz de madeira com um cordão de fio eléctrico. Era um cordão que ele mesmo tinha fabricado nos anos

que passou na cadeia. Não o fazia certamente por ostentação, mas como confirmação daquilo que tinha vivido na própria carne.

O fundamento da vida cristãNo seu livro “Testemunhas da esperança”, enriquecido com contínuas recordações pessoais, relativas aos treze anos que foi obrigado a passar na prisão, Van Thuân narra que, precisamente no cárcere, tinha compreendido que o fundamento da vida cristã consiste em “escolher unicamente a Deus”, abandonando-se completamente nas suas mãos de Pai.

Este heroico mensageiro do Evangelho fica para a história da Igreja como um luminoso exemplo de coerência cristã, até ao martírio. Com impressionante simplicidade, pôde escrever a seguinte afirmação: “No abismo dos meus sofrimentos jamais cessei de amar a todos, sem excluir ninguém do meu coração”.O seu segredo foi uma invencível confiança em Deus. Ele próprio

narra que, na prisão, celebrava, em cada dia, a missa com três gotas de vinho e uma gota de água na palma da sua mão. Este era o seu altar, a sua catedral. O Corpo de Cristo era o seu remédio. Por isso, narrava com emoção: “Todas as vezes eu tinha a oportunidade de estender as minhas mãos e de me cravar na Cruz juntamente com Jesus, de beber com Ele o cálice mais amargo. Em cada dia, recitando as palavras da consagração, eu confirmava com todo o meu coração e com toda a minha alma um novo pacto, uma aliança eterna entre mim e Jesus, mediante o seu Sangue que se misturava ao meu”.

Testemunho da esperançaNuma comemoração deste singular profeta do nosso tempo, disse a seu respeito o Papa Bento XVI: “Era um homem de esperança, vivia de esperança e difundia-a entre todos os que encontrava. Graças a esta energia espiritual, resistiu a todas as dificuldades físicas e morais.A esperança sustentou-o como bispo, isolado durante treze anos da sua comunidade diocesana; a esperança ajudou-o a perceber o absurdo dos eventos que viveu”. Foi também a esperança que orientou os últimos anos da sua vida no Pontifício Conselho para a Justiça e a Paz. Foi essa esperança que animou o “seu compromisso na difusão da doutrina social da Igreja entre os pobres do mundo, o anelo pela evangelização do seu continente, a Ásia, a capacidade que tinha de coordenar as atividades de caridade e de promoção humana que promovia e sustentava nos lugares mais longínquos da terra”.

De facto, foi um benfeitor da humanidade. A Igreja vai em breve reconhecer oficialmente a heroicidade das suas virtudes em vista da sua beatificação. Que o seu testemunho nos ajude também a nós a fazer e refazer a escolha de Deus.

Van Thuân, cardeal vietnamita, sofreu no seu próprio corpo 13 anos de dura prisão

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intençãomissionária

A PALAVRA FAZ-SE MISSÃOMAIO

065º Domingo da Páscoa | Act 9, 26-31; 1 Jo 3, 18-24; Jo 15, 1-8“SEM MIM NADA PODEIS FAZER”“Eu sou a cepa, vós os ramos”. Formamos uma só coisa com Cristo. Circula em nós a seiva divina que nos faz viver d’Ele e para Ele. Somos todos irmãos. Todos diferentes, mas todos com o mesmo sangue nas veias. Às vezes crescemos tortos e caminhamos à deriva, por nossa conta. Mas Ele corta, limpa e enfeita para que cresçamos e vivamos à sua imagem. Que a tua graça, Senhor, circule sempre em nossas vidas, para darmos frutos de santidade e de paz.

136º Domingo da Páscoa * Act 10, 25-48; 1Jo 4, 7-10; Jo 15, 9-17“AMAI-VOS COMO EU VOS AMEI”Só acredito na religião que for construída sobre o amor. Foi essa a religião que Cristo nos deixou. Que nos liga para sempre a Ele e nos liga entre nós. Que fez com que Ele desse a vida por nós e faz com que nós demos a vida pelos nossos irmãos. Amar é dar a vida. É preciso morrer como Cristo para que o mundo creia no amor. Nunca sou tão importante como quando me perco pelos outros. Ensina-me, Senhor, a tua arte divina de dar a vida a cada momento na gratuidade do amor.

20Ascensão do Senhor * Act 1, 1-11; Ef 4, 1-13; Mc 16, 15-20“IDE E ENSINAI”A Ascensão está ligada ao envio dos Apóstolos. Também nós somos enviados por Ele com a missão especialíssima de testemunhar a sua ressurreição. “Ide e ensinai”, continua a dizer-nos, tudo quanto vos ensinei. Proclamai com a palavra e com a vida que Deus é amor e outra coisa não quer senão que o amor se difunda e incendeie toda a humanidade. Hoje é dia da comunicação social. Comunicar o quê? As coisas de Deus e dos homens.Dá-nos, Senhor, a consciência de que somos teus enviados para implantar no mundo o teu reino de amor e de paz.

27Festa de Pentecostes * Act 2, 1-11; Gal 5, 16-25; Jo 15 26-27. 16,12-15O ESPÍRITO RENOVADORO Espírito Santo é o presente pascal de Cristo dado ao mundo e à Igreja. O cristão é o homem animado e movido pelo Espírito Santo, princípio de ação sobrenatural. Derramado em nossos corações, vive e age em cada um de nós. É o Espírito da missão. É Ele que dilata o coração da Igreja. É Ele a fonte de comunhão entre os seus membros. É fogo abrasador que incendeia corações. É presença amiga e brisa consoladora.Infunde em nós, Senhor, o Teu Espírito renovador, para que, de coração dilatado, nos abramos a todos os povos da terra.DV

Estrela daevangelizaçãoNão foi preciso grande imaginação para escolher Nossa Senhora como patrona e protetora dos missionários. Ela é de facto a estrela da evangelização e a rainha das missões. E é-o não só porque foi escolhida pelo Papa ou pelos cristãos, mas porque ela foi realmente uma grande missionária. Por certo não terá pensado no alcance que teve o seu gesto: deixar a sua casa, a sua família e a sua aldeia para ir levar à sua prima Isabel a boa nova da salvação, que se estava já a realizar no seu seio. Muitas coisas que nenhuma destas duas mulheres podia imaginar tomaram corpo no momento do encontro, onde elas se puseram a profetizar e a desvendar segredos de uma para a outra: Isabel, apenas viu Maria, sentiu logo o remexer do filho que trazia no seio e, em altos brados, gritou: “De onde me vem esta graça de ter comigo a mãe do meu Senhor?”. Por sua vez, Maria prorrompeu numa exaltação a que a sua humildade não estava habituada: “A minha alma glorifica o Senhor, porque Ele fez em mim grandes coisas!”. Era autenticamente a missão que era levada por Maria e o acolhimento que lhe fez Isabel, como representante de todos os povos.MC

Para que Maria, rainha do mundo e estrela da evangelização, acompanhe os missionários no anúncio do Evangelho

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o que seescreve

A nova evangelizaçãoO autor, pelos altos cargos que desempenha na área do Vaticano e pelo currículo de vida que apresenta é a pessoa mais indicada para escrever um livros destes. Fala da nova evangelização e explica a diferença que existe entre esta e a reevangelização; fala da fé perdida nos países de tradição cristã, onde se exige um renovado impulso missionário. O livro tem 10 capítulos onde sobressaem “Os lugares da nova evangelização” e “Os novos evangelizadores”.Autor: Rino Fisichella176 páginas | preço: 10,00€Paulus Editora

SÃO JOÃO DE BRITOUm livrinho de 50 páginas com boas ilustrações. Lê-se do princípio ao fim com a avidez de quem devora um romance. É a biografia em ponto pequeno de um grande santo português que trabalhou como missionário na região de Maduré, Índia e lá foi martirizado aos 46 anos de idade.Autor: Januário dos Santos50 páginas | preço: 2,50€ | Editorial Missões

ATRAVESSAR A PRÓPRIA SOLIDÃOÉ um apelo à vida espiritual onde Deus fala através do nosso silêncio. Por isso é importante criar um espaço vazio que Deus possa preencher. A única palavra que nos compete dizer é: “Fala, Senhor que o teu servo escuta”. É assim no silêncio das igrejas, no interior das nossas casas e até no barulho das nossas cidades.Autor: Carlos Maria Antunes80 páginas | preço: 6,00€ | Paulinas Editora

NA FORÇA DO ESPÍRITOEm subtítulo: Manual do coordenador e guia do catequista. Trata-se de um curso de preparação para o crisma. Os temas procuram habilitar os candidatos para receberem esse sacramento e para conhecerem o papel do Espírito Santo nas suas vidas. O texto fala de acolhimento, história de Jesus ontem e hoje e missão. Além destes temas, oferece ainda subsídios de oração, formação e outros.Autor: Rui Alberto358 páginas | preço: 15,50€ | Edições Salesianas

PARA LER O CONCÍLIO VATICANO IITodos dizem, e é verdade, que o Vaticano II está a celebrar os seus 50 anos. Mas, se deu muito à Igreja e aos fiéis, ainda lhe falta muito para dar. Quer dizer, abriu um caminho longo que está ainda em curso e se vai realizando aos poucos, à medida que as circunstâncias o vão exigindo. O livro faz uma breve análise de cada um dos 16 documentos do Concílio.Autor: Darlei Zanon, ssp96 páginas | preço: 8,50€ | Paulus Editora

TRAVESSIAHá sempre o dia seguinte para recomeçarA autora escreve bem e tem boa memória. Penso que só uma mulher poderia ter escrito este livro tão minucioso, uma autêntica biografia. Defende os seus direitos de mulher e cidadã. Não deixa de fazer os seus palpites, dar a sua opinião e os seus conselhos. Enredo fácil, acessível a todos.Autora: Aurora Burial184 páginas | preço: 12,50€ | Editora Ómega

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o quese diz

VIA CRUCIS E VIA LUCIS A primeira parte do livro oferece uma via-sacra de 15 estações do tipo clássico.A segunda parte, ou seja a via lucis (caminhode luz), mostra a vida gloriosa

de Jesus depois da sua ressurreição e os contactos que teve com os apóstolos e outros discípulos. Outra novidade é ter em cada página uma tradução noutra língua.Autor: Gaudêncio Félix Yakuleinge144 páginas | preço: 4,00€Paulus Editora

O LUGAR DO AMORLivro de 392 páginas com peso e conteúdo. Bom para quem quiser conhecer tudo o que se passou e vai passando em Medjugorje desde 1981 até ao presente.

Descreve a situação geográfica do local, as seis crianças a quem Nossa Senhora terá aparecido. Transcreve muitas frases que Nossa Senhora terá pronunciado e que constituem o essencial da mensagem. Descreve a posição da Igreja – padres, bispos e até do próprio Papa – sobre o assunto.Autor: Carlos Macedo, scj392 páginas | preço: 10,00€Paulinas Editora

Sacerdote no mundo“O sacerdote não deve permanecer sempre num âmbito puramente sacral, fechado no perímetro do templo. Não poderá servir bem os homens alheando-se da sua vida e do seu ambiente. Ele deve ir ao encontro do mundo. A sua palavra é um testemunho que deve chegar a todas as encruzilhadas da história, às praças da cidade e confrontar-se com a cultura”.António Marto | O Mensageiro | 12 abril 2012

Beleza da fé“Redescobrir a alegria e o entusiasmo de comunicar a força e a beleza da fé é um desafio fundamental da nova evangelização à qual toda a Igreja está chamada. Ponde-vos a caminho sem medo, para levar os homens e as mulheres do vosso país rumo à amizade com Cristo”.Bento XVI | O. R. | 31 março 2012

Partilha de bens“A nova economia não trouxe a partilha justa dos recursos como tanto se desejava. Depois do conflito entre trabalho e capital do início do século passado, acreditámos mais tarde que uma sociedade de partilha fosse possível, em democracia e liberdade. Reconhecemos agora que também fracassámos”.Luís Viera da Silva | A Voz do Domingo | 08 abril 2012

Tudo em ebulição“Estamos a viver tempos que marcam «tudo e todos» decisivamente influenciados por mudanças e inovações, que determinam transformações aos mais diversos níveis e que interferem com os vários setores, mexendo, direta ou indiretamente, com a vida de uma maioria de pessoas”.Mira Ferreira | A Defesa | 11 abril 2012

Igreja em África“É marcante a presença da Igreja em África, em particular, no anúncio da Boa Nova e também na atuação social, nos mais diversos campos da promoção humana. No campo da saúde, as instituições católicas representam mais de 17% do total das estruturas sanitárias do continente. Ao mesmo tempo, os valores da cultura africana muito têm para enriquecer a própria religião cristã”.Bernardo Lourinhal | Boa Nova | abril 2012

Vocação e escuta“A vocação é um enigma. Deus chama continuamente e a pessoa precisa de escutar a voz Dele. Para isso, tem de meditar na Palavra de Deus, na Bíblia, e perceber, os chamamentos aí contidos e o modo como Deus chama. Depois, tem de se conhecer a história dos santos, daqueles que se distinguiram na resposta ao chamamento de Deus”.Carlos Nunes | Audácia | abril 2012

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gestosde partilha

Pode enviar a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA: NIB 0033.0000.45365333548.05IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 – SWIFT/BIC: BCOMPTPL ou para uma das seguintes moradas: Rua Francisco Marto, 52 | Apartado 5 | 2496-908 FÁTIMA | Telefone 249 539 430 | [email protected] D.ª Maria Faria, 138 | Apartado 2009 | 4429-909 Águas Santas MAI | Telefone 229 732 047 | [email protected] do Castelo | 2735-206 CACÉM | Telefone 214 260 279 | [email protected] Rua Cap. Santiago de Carvalho, 9 | 1800-048 LISBOA | Telefone 218 512 356 | [email protected] da Marginal, 138 | 4700-713 PALMEIRA BRG | Telefone 253 691 307 | [email protected]

Solidariedadevários projetos

Contactos

ELE PRECISA DE SI PARA TER UM TECTO

PROJECTO 2012MALOCA PARA TODOS

www.consolata.ptwww.fatimamissionaria.pt

Pode ajudar a erguer uma “Maloca para Todos” e a tornar realidade o sonho desta comunidade fazendo a sua oferta para a conta solidária dos MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA através de transferência bancária:NIB: 0033.0000.45365333548.05IBAN: PT50.0033.0000.45365333548.05 SWIFT/BIC: BCOMPTPL

O seu contributo é uma dádiva e a sua ajuda fundamental!

MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

Bolsas de Estudo Bárbara Silva – 100,00€; António Lopes – 250,00€; Noémia Canavarro – 10,00€; Francisco Rodrigues – 250,00€.Padre Mário Campos, RoraimaMulheres Missionárias da Consolata (Lisboa) – 1.000,00€.Padre Alceu Agarez, Moçambique Mulheres Missionárias da Consolata (Lisboa) – 2.000,00€.Missão de Maturuca, Roraima (Bíblias e livros de canto) Mulheres Missionárias da Consolata (Lisboa) – 2.083,00€.Missão de Guiúa, Moçambique (Pobres e idosos) Mulheres Missionárias da Consolata (Lisboa) – 2.000,00€.Centro de Guiúa, Moçambique (Formação de catequistas) Mulheres Missionárias da Consolata (Lisboa) – 2.000,00€.Crianças de Moçambique Amélia Gomes – 117,00€; Manuela Silva – 21,50€.Paróquia do Gurué, Moçambique Helena Barros – 80,00€.Ofertas várias Isabel Segurado – 20,00€; Francisco Neves – 50,00€; Marcelina Santos – 100,00€; Assunção Reis – 30,00€; Maria Marques – 50,00€; António Silva – 50,00€; Artur Pinto – 20,00€; Carmelo da Imaculada Conceição – 20,00€; Manuel Castelão – 50,00€; Odete Águas – 20,00€; Laura Tavares – 10,00€; José Santana – 40,00€; Luciana Phmé – 200,00€; Anónimo – 150,00€.

Maloca para todos Anónimo – 1,37€; Maria Francisco – 15,00€; Cidália Vieira – 20,00€; Odília Teixeira – 125,00€; Lúcia Marto – 3,00€; Célia Baltazar – 30,00€; Luís Rijo – 13,00€; José Pedrosa – 8,00€; Luís Oliveira – 40,00€; Fernanda Morgado – 25,00€; Anónimo – 13,00€; Fátima Matias – 10,00€; Idalina Rodrigues – 100,00€; Ermelinda Oliveira – 13,00€; Maria Marto – 10,00€; Donzília Covas – 10,00€; Macária Macedo – 5,00€; Luísa Dias– 200,00€; Maria Ramos – 13,00€; António Silva – 13,00€; Deonilde Silva – 5,00€; Cármen Blanco – 10,00€; Generosa Delfino – 20,00€; Isaura Brito – 10,00€; José Brazão – 20,00€; José Barrote – 20,00€; Feliciana Grade – 10,00€; Helena Vilhena – 8,00€; Helena Neves – 10,00€; Isabel Gonçalves – 10,00€; Maria João Quintas – 15,00€; Maria José Santos – 50,00€; Lucília Barros – 10,00€; Susete Casaca – 10,00€; Sérgio Mendes – 10,00€; Antonieta César – 5,00€; Conceição Branquinho – 50,00€; Flávia Martins – 5,00€; Graziela Filipe – 20,00€; Idalete Neves – 10,00€; Julieta Glória – 5,00€; Alice Glória – 5,00€; Maria Anjos Mestre – 5,00€; Graciete Dores – 10,00€; Rita Alves – 20,00€; Rosa Guerreiro – 10,00€; Marília Pereira – 5,00€; Lídia Marto – 20,00€. Total geral = 18.870,93€.

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vida comvida

texto MANUEL CARREIRA ilustração H. MOURATO

Franzino de corpo, algo acanhado, o irmão Serafim realizou na sua vida três virtudes que fizeram dele o tipo ideal de irmão missionário, conforme os queria o fundador Allamano: bom religioso, bom carpinteiro e bom missionário. Era

de poucas palavras; falava mais com o exemplo e o testemunho do que com discursos. Não faltava a nenhuma missa, nem às visitas ao santíssimo sacramento. Quando não podia ir à igreja, rezava em pensamento e, à noite no exame

BONS CARPINTEIROS BONS CRISTÃOSIrmão Serafim Breuza nasceu em Didier, Turim, a 9 de junho de 1906. Entrou na Consolata como irmão missionário em 1933. Fez profissão religiosa em 1935. Em 1939 foi para missões do Quénia. Fundou e dirigiu várias escolas de artes e ofícios, sobretudo na área da carpintaria que era a sua especialidade. Morreu em Turim em 1960

de consciência, verificava se tinha pensado em Deus e em Nossa Senhora pelo menos seis vezes, como tinha prometido num retiro espiritual. Como religioso, não faltava nenhuma vez ao cumprimento integral de normas e regras do Instituto a que pertencia.No aspeto do trabalho, que era onde ocupava mais tempo, era exigente, para que os alunos e aprendizes da escola fossem cumpridores. A respeito disto, seguia à risca os conselhos do Fundador que dizia aos seus missionários: “Primeiro façam-nos homens e mulheres, depois façam-nos cristãos e cristãs”.O horário era para se cumprir e o trabalho era para ser bem feito. Só assim é que poderiam sair da sua escola não só aprendizes, mas bons mestres de carpintaria. A arte de carpinteiro já o irmão Serafim a tinha aprendido em sua casa. Só depois se apresentou no instituto para ser missionário, certamente como irmão, pois com os seus 27 anos já era tarde para recomeçar os estudos. Além disso os missionários em África suspiravam pela chegada dos irmãos leigos, pois as missões careciam destes mestres para construírem casas, igrejas, escolas e outras estruturas das missões.O irmão Serafim era de trato gentil, tanto para os europeus como para os africanos. Para com estes era de uma caridade extrema; caridade feita de estima e dedicação ao ensino, no intuito de ajudar os alunos a profissionalizarem-se no mais curto espaço de tempo. A sua norma era “caridade antes de tudo e acima de tudo”. Da sua escola os alunos deviam sair bons carpinteiros e bons cristãos. Faleceu com apenas 54 anos de idade.

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outrossaberes

DEUS NÃO FAZ MILAGRES AO ACASO

Não deites fora a tua manta velha enquanto não encontrares outra melhorApoio à compreensão Por vezes somos tentados a desfazermo-nosde alguma coisa, que nos é indispensável, só porque vemos outra que nos parece melhor. E nem reparamos que não temos dinheiro para a comprar. Conclusão: perdemos a nossa,

Por pouco que nós possamos fazer, Deus não dispensa esse pouco. Só depois de termos feito o possível e o impossível é que temos direito a pedir um milagre a Deus. Ele não faz milagres ao desbaratotexto MANUEL CARREIRAfoto ANA PAULA

Para um pau muito duro afia-se bem a catanaApoio à compreensão Quando temos qualquer coisa muito difícil de fazer, precisamos de nos preparar bem para a realizar. Precisamos de tomar as devidas cautelas para não sermos apanhados de surpresa e não termos de nos arrepender depois, quando já não houver hipóteses de voltar atrás.Macua – Moçambique

Basta arranhar a pele de um homem para encontrar um animalApoio à compreensão Basta provocar um pequeno sofrimento em certas pessoas para ouvirmos logo, não apenas um queixume, mas uma resposta desagradável. Para que isto não aconteça é preciso que se trate de um santo que navegue nas alturas da perfeição e então aceitará o sofrimento como um ato de virtude e dirá simplesmente: “Seja tudo por amor de Deus!”.Inglaterra

porque a deitámos fora e não adquirimos a outra porque o seu preço é elevado.Tanzânia

Não peças a morte a Deus nem a chuva a São MateusApoio à compreensão Duas coisas muito perigosas; Pedir a morte a Deus pode significar que essa pessoa está farta de viver. Não é bom desprezar a vida, pois ela é o melhor bem que Deus nos pode conceder. A outra coisa perigosa é pedir chuva pelo São Mateus, cuja festa é a 21 de setembro, tempo das colheitas e das vindimas em que se exige tempo seco e bom.Popular

Deus dá a comida ao passarinho, mas não lha leva para o ninhoApoio à compreensão O provérbio está-nos a dizer que Deus não dispensa o nosso trabalho para podermos viver. Deus não favorece o mandrião. Antes, exige que ele vá à procura de trabalho, e se prepare bem para ele. Só depois terá motivo para pedir a Deus um milagre.C. Hubert

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a missãoé simpática

texto NORBERTO LOUROilustração MARTA TEIVES

Maio 2012

Há 20 anos, em janeiro de 2012, FÁTIMA MISSIONÁRIA começou a apresentar mensalmente o cantinho de «A Missão é simpática». Por ele passaram regularmente autênticos artistas ilustradores. O assunto ali desenvolvido é inesgotável, pois a missão é a essência da Igreja. Reduzi-la ao seu aspeto simpático foi um atrevimento. Para isso alertei os leitores que me diziam que começavam a ler a revista por aquela página. Espero bem que não tenham ficado por ali. Todas as outras são importantes e formativas.

Alguém ou alguma coisa está presente onde se fala dela. Está presente na recordação porque nós vivemos de recordações. É

a memória da missão que nos enche os olhos. A missão está presente se a temos dentro. Foi para fazer memória da missão e não deixar de a ter presente, que escrevi mensalmente, durante estes 20 anos, “A missão é simpática”. João Paulo II dizia que “quem partilha a sua fé, cresce na fé”. Parafraseando-o, diria: “Quem partilha o amor pela missão, cresce nesse amor”. Foi para manter esse fogo que o fiz.

A maior parte dos factos narrados aconteceram em Moçambique. Pudera! Foram 26 anos quase seguidos que lá passei. A missão direta entre povos de outras culturas, de outros costumes, de outros valores, de outro sentir, de outro ritmo de vida, de outra lógica de pensar, de outra capacidade de sofrer e criatividade no celebrar a alegria, é fonte inesgotável de inspiração para quem nela se embrenha. Muitos dos meus sonhos ainda se desenrolam lá. Com prazer!

Muitos pensarão que foi fácil para mim escrever e ser pontual, cada mês. Nem uma coisa nem outra. Sobretudo desde que saí do

VINTE ANOS A PARTILHAR MISSÃO

ecossistema que descrevi acima. Quanto à escrita, fez-me muita falta a tal fonte de inspiração. Foi-me mais difícil readaptar-me à Europa do que aculturar-me em África. Quanto à pontualidade, tenho um grande defeito. Só verdadeiramente pressionado é que me ponho a escrever. Mas quando me aponho já tudo – ou quase – está composto. Neste caso, sou um pouco como aquele escritor que dizia: nunca me arrependi de deixar para amanhã o que podia ter feito (escrito) hoje. Os outros é que não vão nessa!

Pelo que ficou dito, isto parece um documento de despedida. De facto, pediram-me para pôr em livro o que foi publicado ao longo destes 20 anos. É o que estou a fazer. Não sei se valerá a pena. Alguém, quando me reconhece ou eu digo o meu nome, comenta: Ah, já sei! É o padre das anedotas da FÁTIMA MISSIONÁRIA! Não foi isso que tentei partilhar ao longo de 20 anos. Foi a beleza da missão!

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fátimainforma

Maio em agenda 01 Peregrinação nacional de

acólitos 02/05 XXIV Encontro nacional

da Pastoral da Saúde 05/06 Peregrinação nacional

Fátima Jovem 2012 06 Encontro nacional da

Comunidade Luz e Vida 17/18 Encontro Inter-Escolas

do 1º Ciclo – Secretariado Nacional de Educação Cristã

19/20 Peregrinação da Família Salesiana

26 Encontro nacional dos Centros Maristas

A Câmara Municipal de Ourém aponta para que “neste verão já se possa circular na avenida”. Mas não há uma data prevista para a conclusão dos trabalhos. O vereador do pelouro de Fátima, Nazareno do Carmo defende que “o importante é terminar a obra o mais cedo possível”. Passeios largos, áreas verdes, uma ciclovia, mobiliário urbano e nova

Dia e noite dos museus O Museu de Arte Sacra e Etnologia de Fátima abre as portas no dia internacional dos museus, a 18 de maio, com atividades específicas. Na noite de 19 de maio, vai ser possível conhecer o museu dos missionários da Consolata numa visita à luz da lanterna, que inclui momentos musicais. O tema deste ano é “Museus no mundo em mudança. Novos desafios, novas inspirações”. Caminhar contra o Alzheimer A Santa Casa da Misericórdia de Fátima-Ourém promove a V Caminhada pela Solidariedade a 1 de maio. Com início às 9h30 horas, os participantes vão

caminhar sete quilómetros num passeio cujo lema é “Porque prevenir é possível”, dedicado a alertar para a doença de Alzheimer.

Peregrinação das crianças “Que é que vossemecê me quer?». A pergunta de Lúcia a Nossa Senhora dá o mote para a peregrinação das crianças de 9 e 10 de junho. “Nesta peregrinação, pretende-se valorizar a atitude crente dos pastorinhos”. Em Maio, será lançada a campanha, convidando as crianças à descoberta do seu próprio caminho a partir da “atitude interior de perscrutar a vontade de Deus”, para “assumir um compromisso e manter-se-lhe fiel até ao fim”.

OBRAS DA AVENIDA CONCLUÍDASNO VERÃO

Metade da obra de requalificação da avenida D. José Alves Correia da Silva está já efetuadatexto LUCÍLIA OLIVEIRAfoto ANA PAULA

iluminação pública fazem parte deste projeto de requalificação da avenida, cujo objetivo é privilegiar a circulação pedonal. Em parte da avenida, a circulação automóvel far-se-á em túnel, permitindo ao peão circular entre o espaço do Santuário de Fátima e do Centro Pastoral Paulo VI. Serão criados 480 estacionamentos (22 na rotunda sul, 28 na rotunda norte e os restantes na avenida), construídas quatro rotundas, plantadas 324 árvores e 18. 832 arbustos e subarbustos nos dois quilómetros que estão a ser intervencionados. O projeto de requalificação da

avenida D. José Alves Correia da Silva é financiado ao abrigo do Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN). A passagem desnivelada, cujo promotor é o Santuário de Fátima, é uma obra com um investimento elegível de 8,7 milhões de euros e uma comparticipação de 6,9 milhões de euros de fundos comunitários. A obra de requalificação da avenida, cujo promotor é a Câmara Municipal de Ourém tem um investimento elegível de 6,1 milhões de euros e uma comparticipação de 4,9 milhões de euros de fundos comunitários.

Obras na avenida D. José Alves Correia da Silva frente ao hotel avenida em 16 de abril

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CONSOLATA É CHEIA DE GRAÇA, POR DEUS AGRACIADA PARA LEVAR AO MUNDO A CONSOLAÇÃO DE JESUS.CONSOLADOS SÃO OS EVANGELIZADOS, PORQUE AMADOS DE DEUS. CONSOLAR É LEVAR A TODA A PARTE A CONSOLAÇÃO DE DEUS SALVADOR. COMO MARIA TORNAMO-NOS SOLIDÁRIOS COM TODOS. SOLIDARIEDADE É O OUTRO NOME DA CONSOLAÇÃO.COMO ELA SOMOS PRESENÇA CONSOLADORA EM SITUAÇÕES DE AFLIÇÃO. POR SEU AMOR COLOCAMOS A NOSSA VIDA AO SERVIÇO DO HOMEM TODO E DE TODOS OS HOMENS. ALLAMANO DEU-NOS MARIA POR MÃE E MODELO. POR ISSO CHAMAMO-NOS MISSIONÁRIOS DA CONSOLATA

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다른 세계관 | un’altra visione del mondo | mwingine mtazamo wa dunis another view of the world | otra visión del mundo | inny pogląd na świat

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APENAS 7 EUROS POR ANO

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AVÉ MARIATreze de maio O sol a pino É meio dia. Na igreja o sinoToca as Trindades.Ave Maria!

Três pastorinhos Tenras idades Pastam seus gados Na cova santa Chamada Iria.Numa azinheira Erguendo os olhosVeem Maria.

Joelham na terra Ouvido atento A Virgem fala De paz e guerra. Pede que rezem Em cada dia O santo terço. Ave Maria!

Padre Manuel Carreira