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Educao Infantil: Concepes que os pais de alunos tm sobre esse nvel de escolarizao

Gracilene Ramos de Oliveira Marcella de Paula Silva Prof Ms. Ftima L. S. Ribeiro

RESUMO Este trabalho teve como objetivo refletir sobre as concepes que os pais de alunos da Educao Infantil tm sobre esse nvel de escolarizao. Fundamentamo-nos em Aris (1978), na discusso da histria da educao infantil; e em Kramer (1995), Paniagua e Palcios (2007), no que se refere relao famlia escola. A pesquisa deu-se em duas escolas da rede privada de ensino. Utilizamos como instrumento de coleta de dados entrevista semi estruturada. Foram entrevistados 14 pais cujas idades dos filhos variavam entre 3 e 4 anos. Como resultado foi observado que grande parte dos pais tm concepes sobre a educao infantil que se aproximam daquelas que os autores discutem. Como tambm reconhecem a importncia de sua participao para o desenvolvimento dos pequenos. E, por ltimo, vimos que na opinio dos pais a escola nem sempre abre espao para ouvi-los e incluir suas ideias no processo educativo. Palavras Chave: Educao Infantil; Famlia; Escola. 1. INTRODUO Escola e famlia constituem dois contextos de socializao fundamentais para a trajetria de vida das pessoas. A escola e a famlia compartilham funes sociais, polticas e educacionais, na medida em que contribuem e influenciam a formao do cidado. A entrada para escola marca para criana uma importante ampliao dos laos afetivos. nesse momento que ela ultrapassa os muros de casa para se relacionar com outras pessoas. E quanto menor a criana, mais importante a parceria entre a famlia e a escola, pois nessa etapa a educao escolar agrega os cuidados orientados e as situaes de aprendizagem. Neste sentido a famlia deve estar sempre conectada escola para auxili-la no desenvolvimento da criana, reforando os conhecimentos em construo e valorizando suas aprendizagens nessa trajetria. _____________________________Concluinte do curso de Pedagogia Centro de Educao UFPE. [email protected] Concluinte do curso de Pedagogia Centro de Educao UFPE. [email protected] Professora do Departamento de Mtodos e Tcnicas de Ensino Centro de Educao UFPE. [email protected]

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Tendo em vista a necessidade dessa parceria percebemos quo importante que os pais tenham a conscincia de fazer seu papel nessa ponte para o desenvolvimento afetivo, intelectual e social de seus filhos. Assim como tambm de suma importncia que a escola esteja aberta colaborao dos pais e crie estratgias para que eles participem cada vez mais daquilo que acontece dentro dela, criando uma via de mo dupla. Nosso interesse pela temtica surgiu em experincias de trabalho e estgio na educao infantil. Nela, pudemos observar diversas posturas relacionadas a interesse e comprometimento de pais quanto ao trabalho pedaggico realizado com as crianas. Surgiu ento a curiosidade de saber quais as concepes que norteavam as aes daqueles pais. Compreendendo a importncia da educao infantil, justifica-se a relevncia dessa pesquisa para que contribua para reflexo dos pais sobre seu papel na vida escolar de seus filhos nos primeiros anos de escolarizao. Como tambm nos possibilitou levantar questes problematizadoras como: Qual a funo ou finalidade da educao infantil na concepo dos pais? Que papel os pais acreditam desempenhar na vida escolar das crianas? Em que momentos os pais dos alunos da Educao Infantil so chamados a participar, pensar e/ou refletir sobre esse nvel de aprendizagem? E qual o seu papel na educao de seus filhos? Assim, a partir do referencial terico obtido pelas pesquisas bibliogrficas, o presente trabalho apresenta-se estruturado nos seguintes tpicos: o primeiro faz uma breve retrospectiva histrica da educao infantil, principalmente no Brasil, abordando os vrios conceitos de infncia, para que nos possibilite uma anlise de como se deu sua evoluo at a atualidade; o segundo enfoca a relao famlia-escola e os benefcios que essa interao pode trazer ao desenvolvimento dos pequeninos. Nosso objetivo nesta pesquisa foi Identificar as concepes trazidas pelos pais da educao infantil sobre este nvel de escolarizao. Neste sentido, bucou-se conhecer a viso dos pais sobre a funo/finalidade da Educao Infantil e qual concepo de participao na escola de seu filho. Tambm procuramos identificar de que forma os pais podem contribuir com a instituio escolar de seus filhos e Mapear quais as estratgias utilizadas por eles para participar de forma presencial ou no da vida escolar dos filhos;

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2. MARCO TERICO 2.1. Educao Infantil Nesta fundamentao terica buscamos fazer um breve resgate histrico, no que diz respeito aos pensamentos ou conceitos de infncia no decorrer da nossa sociedade. O conceito de infncia fruto de uma construo social. Percebe-se que sempre houve a criana, mas nem sempre infncia. Neste sentido, so vrios os tempos da infncia; estes apresentam realidades e representaes diversas, porque nossa sociedade foi constituindo-se de uma forma em que ser criana comea a ganhar importncia e suas necessidades vo sendo valorizadas para que seu desenvolvimento seja da melhor forma possvel e que tudo acontea no seu verdadeiro tempo. A infncia precisa ser entendida como categoria social de efetiva importncia para a sociedade. Segundo Kramer (1995), no decorrer dos sculos, como mostra a histria, surgiu diferentes concepes de infncia. importante salientar que a viso que se tem da criana algo historicamente construdo, por isso que se pode perceber os grandes contrastes em relao ao sentimento de infncia no decorrer dos tempos. O que hoje pode parecer uma aberrao, como a indiferena destinada criana pequena, h sculos atrs era algo absolutamente normal. Por maior estranheza que cause a humanidade nem sempre viu a criana como um ser em particular e por muito tempo a tratou como um adulto em miniatura. De um ser sem importncia, quase imperceptvel, a criana, num processo secular, ocupa um maior destaque na sociedade e a humanidade lhe lana um novo olhar. Para entender melhor essa questo preciso fazer um levantamento histrico sobre o sentimento de infncia, procurar defini-lo, registrar o seu surgimento e a sua evoluo. Segundo Aris: (...) o sentimento de infncia no significa o mesmo que afeio pelas crianas, corresponde conscincia da particularidade infantil, essa particularidade que distingue essencialmente a criana do adulto, mesmo jovem (Aris, 1978. Pg. 99). Nessa perspectiva o sentimento de infncia algo que caracteriza a criana, a sua essncia enquanto ser, o seu modo de agir e pensar, que se diferencia do modo de agir e pensar do adulto, e, portanto merece um olhar mais especfico. At o sculo XVII, como citado por Kramer (1995), a sociedade no dava muita ateno s crianas. Devido s ms condies sanitrias, a mortalidade infantil alcanava nveis alarmantes, por isso a criana era vista como um ser ao qual no se podia apegar, pois a qualquer momento ela poderia deixar de existir. Muitas no conseguiam ultrapassar a primeira3

infncia. O ndice de natalidade tambm era alto, o que ocasionava uma espcie de substituio das crianas mortas. A perda era vista como algo natural e que no merecia ser lamentada por muito tempo, como pode ser constatado no comentrio de Aris (...) as pessoas no podiam se apegar muito a algo que era considerado uma perda eventual (...). (1978, pg. 22). As grandes transformaes sociais ocorridas no sculo XVII contriburam decisivamente para a construo de um sentimento de infncia. As mais importantes foram as reformas religiosas catlicas e protestantes, que trouxeram um novo olhar sobre a criana e sua aprendizagem. Outro aspecto importante a afetividade, que ganhou mais importncia no seio familiar. Essa afetividade era demonstrada, principalmente, por meio da valorizao que a educao passou a ter. A aprendizagem das crianas, que antes se dava na convivncia das crianas com os adultos em suas tarefas cotidianas, passou a dar-se na escola. O trabalho com fins educativos foi substitudo pela escola, que passou a ser responsvel pelo processo de formao. As crianas foram ento separadas dos adultos e mantidas em escolas at estarem prontas para a vida em sociedade. (Aris, 1978). Surge uma preocupao com a formao moral da criana e a igreja se encarrega em direcionar a aprendizagem, visando corrigir os desvios da criana. Acreditava-se que ela era fruto do pecado e deveria ser guiada para o caminho do bem. Entre os moralistas e os educadores do sculo XVII, formou-se o sentimento de infncia que viria inspirar toda a educao do sculo XX (Aris, 1989). Da vem explicao dos tipos de atendimento destinados s crianas, de carter repressor e compensatrio. De um lado a criana vista como um ser inocente que precisa de cuidados, do outro como um ser fruto do pecado, essa ideia bem abordada por Kramer quando diz que:Nesse momento, o sentimento de infncia corresponde a duas atitudes contraditrias: uma considera a criana ingnua, inocente e graciosa e traduzida pela paparicao dos adultos, e a outra surge simultaneamente primeira, mas se contrape a ela, tornando a criana um ser imperfeito e incompleto, que necessita da moralizao e da educao feita pelo adulto (1995 - p18).

Esses dois sentimentos so originados por uma nova postura da famlia em relao criana, que passa a assumir mais efetivamente a sua funo. A famlia comea a perceber a criana como um investimento futuro, que precisa ser preservado, e, portanto, deve ser afastada de maus fsicos e morais. Para Kramer (2003: 18) no a famlia que nova, mas, sim o sentimento de famlia que surge nos sculos XVI e XVII, inseparvel do sentimento de4

infncia. A vida familiar ganha um carter mais privado e aos poucos a famlia assume o papel que antes era destinado comunidade. importante salientar que esse sentimento de infncia e de famlia representa um padro burgus, que se transformou em universal. Segundo Kramer (op.cit.):...a ideia de infncia (...) aparece com a sociedade capitalista, urbano-industrial, na medida em que mudam a sua insero e o papel social da criana na comunidade. Se, na sociedade feudal, a criana exercia um papel produtivo direto (de adulto) assim que ultrapassava o perodo de alta mortalidade, na sociedade burguesa ela passa a ser algum que precisa ser cuidada, escolarizada e preparada para uma funo futura. Este conceito de infncia , pois, determinado historicamente pela modificao das formas de organizao da sociedade ( p19).

A partir do sculo XIX e XX, a infncia comea a ocupar um lugar de fundamental importncia para a famlia e para a sociedade. Comea a se pensar neste ser de pouca idade como algum que necessita de lugar, tempo, espao e cuidados diferenciados, comeando a delinear-se o que mais tarde evoluiu para o que hoje reconhecemos como infncia. Como conseqncia surge, tambm, as primeiras instituies destinadas ao atendimento especfico para crianas pequenas, destinados, inicialmente, para o cuidado e assistncia s crianas rfs, filhas da guerra ou do abandono produzido pela pobreza, misria e movimentos migratrios. Datam estas primeiras instituies de Educao Infantil a primeira metade do sculo XIX em vrios pases da Europa, e no Brasil, a partir da dcada de 1870. Como abordado por Kramer (1995), os primeiros jardins de infncia foram inspirados na proposta de Froebel, os quais foram introduzidos no sistema educacional de carter privado visando atender s crianas, filhas da emergente classe mdia industrial. Como j foi citado anteriormente, no capitalismo, com as mudanas cientficas e tecnolgicas, a criana precisava ser cuidada para uma atuao futura. A sociedade capitalista, atravs da ideologia burguesa, caracteriza e concebe a criana como um ser a-histrico, acrtico, fraco e incompetente, economicamente no produtivo, que o adulto deve cuidar. Isso justifica a subordinao da criana perante o adulto. Na educao, cria-se o primrio para as classes populares, de pequena durao, com ensino prtico para formao de mo-de-obra; e o ensino secundrio para a burguesia e para a aristocracia, de longa durao, com o objetivo de formar eruditos, pensantes e mandantes. No final do sculo XIX, difunde o ensino superior na classe burguesa.

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As aspiraes educacionais aumentam proporo em que ele acredita que a escolaridade poder representar maiores ganhos, o que provoca frequentemente a insero da criana no trabalho simultneo vida escolar. (...) A educao tem um valor de investimento a mdio ou longo prazo e o desenvolvimento da criana contribura futuramente para aumentar o capital familiar. (Kramer, 1995 - p23).

E por causa da fragmentao social, a escola popular se tornou deficiente em muitos aspectos. O padro de criana era a criana burguesa, mas nem todas eram burguesas, nem todas possuam uma bagagem familiar aproveitada pelo sistema educacional. E para resolver esse problema, criaram-se os programas de cunho compensatrio para suprir as deficincias de sade, nutrio, educao. Essa educao compensatria comeou no sculo XIX e a pr-escola era encarada como uma forma de superar a misria, a pobreza, a negligncia das famlias. Mas sua aplicao ocorreu efetivamente no sculo XX, depois muitos movimentos que indicavam o precrio trabalho desenvolvido nesse nvel de ensino, prejudicando a escola elementar.A educao pr-escolar comeou a ser reconhecida como necessria tanto na Europa quanto nos Estados Unidos durante a depresso de 30. Seu principal objetivo era o de garantir emprego a professores, enfermeiros e outros profissionais e, simultaneamente, fornecer nutrio, proteo e um ambiente saudvel e emocionalmente estvel para crianas carentes de dois a cinco anos de idade. (Kramer, 1995 p26)

E somente depois da Segunda Guerra Mundial que o atendimento pr-escolar tomou novo impulso, pois a demanda das mes que comearam a trabalhar nas indstrias blicas ou naquelas que substituam o trabalho masculino aumentou. Houve uma preocupao assistencialista-social, onde se tinha a preocupao com as necessidades emocionais e sociais da criana. Crescia o interesse de estudiosos pelo desenvolvimento da criana, a evoluo da linguagem e a interferncia dos primeiros anos em atuaes futuras. A preocupao com o mtodo de ensino reaparecia. A conjuno de alguns fatores ensejou um movimento da sociedade civil e de rgos governamentais para que o atendimento s crianas de zero a seis anos fosse amplamente reconhecido na Constituio de 1988, culminando no reconhecimento da Educao Infantil como um direito da criana, e no mais da me ou do pai trabalhadores. A partir da, a Educao Infantil em creches e pr-escolas passou a ser legal, um dever do estado e direito da criana (artigo 208, inciso lV). Com a promulgao da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educao, lei nmero 9394/96, a Educao Infantil passa a ser, legalmente, concebida e6

reconhecida como etapa inicial da educao bsica. Devido a este quesito, das creches foi retirado seu carter de assistencialismo em contraponto ao carter educacional das prescolas, transformando-as em escolas infantis, ou instituies de atendimento criana de zero a seis anos; a diferena fundamental de outrora est na subdiviso por faixas etrias, ou seja: a creche para crianas entre zero e trs anos, enquanto a pr-escola atende s crianas entre quatro e cinco anos de idade. Subentende-se, a partir da, que tanto a creche quanto a pr-escola, devem cuidar e educar as crianas, dispensando a este atendimento institucional caractersticas especficas quanto s necessidades de cada grupo etrio, mas no entre atendimento educacional versus atendimento assistencial. Tais mudanas atribudas a esta lei permitiram a flexibilidade no funcionamento da creche e da pr-escola, permitindo, assim, a adoo de diferentes formas de organizao e prticas pedaggicas ao atender a uma ampla gama de necessidades da criana.A educao infantil, primeira etapa da educao bsica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criana at os seis anos de idade, em seus aspectos fsico, psicolgico, intelectual e social, complementando a ao da famlia e da comunidade. (LDB 9394/96, art. 29)

Como se v a partir da lei, cabe a escola complementar a ao da famlia no desenvolvimento da criana na sua globalidade, potencializando o desenvolvimento integral da criana. Desta forma Educao Infantil cabe um entendimento acerca de propostas pedaggicas consistentes no sentido de fomentar a transformao dos conhecimentos intuitivos em cientficos, capazes de promover um trabalho para que as crianas desenvolvam atividades de carter interativo; capazes tambm de produzir discusses acerca de seu desenvolvimento intelectual no sentido de ampliar sua experincia sensorial e reflexiva sobre o mundo fsico e social, considerando as marcas de suas origens culturais bem como seus conhecimentos prvios, estabelecendo-se a processos de subjetivao, de constituio ativa de sujeitos desde a mais tenra idade. Na busca da identidade da educao infantil, o desafio afirmar a necessidade de se integrar educao e cuidados, que a especificidade desse nvel de escolarizao: cuidar e educar a criana pequena. Nas instituies de educao infantil, o cuidado e a educao so vistos como funes complementares e indissociveis aos cuidados e educao dada no mbito da famlia. Encontramos no Recnei que as funes de educar e cuidar devem estar integradas, sem nenhuma diferenciao e nem hierarquizao por parte dos profissionais e das instituies que atuam7

com as crianas pequenas. E que estas novas funes devem estar associadas a padres de qualidade. Essa qualidade advm de concepes de desenvolvimento que consideram as crianas nos seus contextos sociais, ambientais, culturais e, mais concretamente, nas interaes e prticas sociais que lhes fornecem elementos relacionados s mais diversas linguagens e ao contato com os mais variados conhecimentos para a construo de uma identidade autnoma. Pag. citao? Se for Separar do corpo do texto e diminuir o tamanho da fonteEducar significa, portanto, propiciar situaes de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relao interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude bsica de aceitao, respeito e confiana, e o acesso, pelas crianas, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. (RCNEI, 1998 V. 1, p23) Cuidar significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O cuidado um ato em relao ao outro e a si prprio que possui uma dimenso expressiva e implica em procedimentos especficos. (RCNEI, 1998 V. 1, pg.24)

Hoje, a criana vista como um sujeito de direitos, situado historicamente e que precisa ter as suas necessidades fsicas, cognitivas, psicolgicas, emocionais e sociais supridas, caracterizando um atendimento integral criana, e conseqentemente, a ideia de uma infncia universal foi desvinculada. Assim, a concepo da criana como um ser particular, com caractersticas bem diferentes das dos adultos, e contemporaneamente como portador de direitos enquanto cidado, que vai gerar as maiores mudanas na Educao Infantil, tornando o atendimento s crianas de 0 a 5 anos ainda mais especfico, exigindo do educador uma postura consciente de como deve ser realizado o trabalho com as crianas pequenas, quais as suas necessidades enquanto criana e enquanto cidado. 2.2 Relaes Famlia e Escola Famlia e escola so sem dvida dois contextos de desenvolvimento humano fundamentais. Ao longo das ltimas dcadas, as relaes de cooperao entre elas tm assumido formato a partir de ideias diferentes.

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Na dcada de 80 do sculo passado, estudos como os de Don Davies (1989) afirmavam que na relao famlia-escola todos se beneficiavam. Os alunos tinham melhor desempenho, os professores mais apoio e reconhecimento social e as famlias um conhecimento melhor do processo educativo. Esses argumentos foram questionados na dcada de 90 quando surgiram outros estudos que mostravam que as relaes entre famlia e escola no eram to benficas assim na medida podiam beneficiar uns em detrimento de outros.A partir da dcada de 90, alguns estudos vieram mostrar que nem todas as famlias e nem todos os alunos eram igualmente beneficiados pelo envolvimento parental nas escolas (Silva, 1993). Alguns estudos mostraram mesmo que as classes, mdia e alta controlavam uma parte significativa das associaes de pais e usavam, em alguns casos, o poder de participao na tomada de decises a favor dos seus prprios filhos, ajudando a moldar a estrutura e as prticas escolares, no sentido de manter as desigualdades escolares (Silva, 2003).

Dessas ideias divergentes podemos questionar ento: Em que aspectos essa parceria pode ser produtiva? At que ponto a prtica do professor no deve ser questionada visto seu conhecimento tcnico? Ao analisar estudos sobre a participao dos pais, Silva (2003, pg.28) menciona que uma maior co-responsabilizao no processo educativo dos seus educandos () [tem] resultados positivos para estes (), para alm de uma valorizao social das famlias, sobretudo as de meios populares, a partir da imagem que lhes devolvida pela instituio escolar. Sobre a relao famlia escola Paniagua e Palcios (2007), fazem uma reflexo muito interessante ao afirmar que nessa relao no se pode falar de algo uniforme ou homogneo dada a diversidade de contextos e situaes familiares que caracterizam a nossa sociedade (pg.211). preciso conhecer as expectativas dos pais e ter uma viso clara de que cada famlia tem caractersticas diferentes, no s quanto sua estrutura, mas tambm em relao cultura e estilos educativos. Dessa forma a escola precisa estar atenta a essas particularidades e respeit-las, inserindo e valorizando essas variadas culturas na sua prtica pedaggica em sala de aula. De acordo com Palcios e Paniagua (2007, pg. 220) Levando em conta todos esses fatores e outros que no examinados, est claro que vamos encontrar tanta diversidade familiar na sala de aula quanto o nmero de famlias. Embora seja fundamental para o processo de ensino e aprendizagem, a relao famlia escola no uma coisa simples ou fcil de estabelecer e manter, seja ela na educao infantil9

ou em qualquer outro nvel escolar. Se por um lado esto os pais com suas crenas, conhecimentos sobre a criana e expectativas para o trabalho da escola e para o desenvolvimento dos filhos; do outro lado, est a escola com suas normas, metodologia e conhecimentos tcnicos. Os autores acima tambm afirmam que: As expectativas dos pais costumam variar de acordo com a idade da criana. Nas crianas de 3 a 6 anos, segundo os autores, os pais acreditam que sero trabalhados contedos como leitura, escrita e clculo(pg.220).. E como nem todos os pais tm a mesma clareza sobre o que deve ou no ser do currculo dessas crianas, cabe aos professores e educadores orientar os pais sobre as situaes mais diversas mediante o seu conhecimento tcnico disponibilizando aos pais muitos conselhos valiosos para a educao dos filhos. muito importante lembrar que por causa da crescente participao das mulheres no mercado de trabalho, crescente a tendncia das famlias para delegarem s escolas muitas das atribuies que eram as suas funes tradicionais: como a transmisso de valores bsicos, a resolues de problemas, cuidados com a infncia. Assim a escola se v na necessidade de encontrar parceiros para efetuar essas novas tarefas. E a famlia o parceiro mais prximo para essa parceria. De acordo com Nunes (2004, pg. 79) A Famlia o seu interlocutor mais prximo e privilegiado. A Escola deve ajud-la a conscientizar-se para assumir as suas responsabilidades e deve revestir-se de meios de formao que tornem a Famlia mais apta para esse exerccio. Grande a necessidade de esclarecer aos pais e encarregados da educao o dever de cidadania, conscientizando-os e responsabilizando-os para a necessidade de participarem ativamente na vida escolar, no podendo continuar a delegar a escola o papel de ensinar, ocupar e educar os seus filhos. Como mencionamos anteriormente, compete aos pais o papel de primeiramente educar os seus filhos, tarefa que ser complementada pela escola. Neste sentido Szymanski (2001, pg.105) afirma: A ao educativa da escola e da famlia apresenta nuances distintos quanto aos objetivos, contedos, mtodos e questes interligadas afetividade, bem como quanto s interaes e contextos diversificados. No podemos esquecer que a participao dos pais na vida escolar depende em muito dos projetos desenvolvidos, das relaes sociais e das capacidades de dilogo que, em cada escola, os responsveis e os docentes forem capazes de estabelecer. A escola pode e deve tomar a iniciativa para est parceria. O trecho abaixo menciona a orientao do Referencial Curricular Nacional de Educao Infantil nesse sentido:

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No que diz respeito ao perodo da infncia, considera a incluso escolar como alternativa necessria, a ser implementada desde os primeiros anos de vida. Para a efetivao desse modelo, requer a positiva participao da instituio, da famlia e tambm da prpria criana, em um esforo conjunto de aprendizagem compartilhada. (grifo nosso) Nessa nova perspectiva, a educao assume as funes: social, cultural e poltica, garantindo dessa forma, alm das necessidades bsicas (afetivas, fsicas e cognitivas) essenciais ao processo de desenvolvimento e aprendizagem, a construo do conhecimento de forma significativa, atravs das interaes que estabelece com o meio. Essa escola promove a oportunidade de convvio com a diversidade e singularidade, a participao de alunos e pais na comunidade de forma aberta, flexvel e acolhedora. (BRASIL, 1998, p. 73)

Os pais tm uma influncia enorme sobre as crianas e podem utiliz-la para facilitar o processo de ensino aprendizagem de seus filhos. Desde os primeiros anos de vida os pais devem proporcionar s crianas contato com as mais diversas leituras, pois isso abrir portas para que mais cedo estas crianas se tornem leitores e escritores efetivos. As situaes corriqueiras no lar com uso da leitura ou escrita podem levar as crianas a um entendimento da linguagem muito cedo e podem auxili-los em aprendizagem diversas ao longo de toda a vida. De acordo com Kleiman:Assim, nesse contexto, o letramento desenvolvido mediante a participao da criana em eventos que pressupem o conhecimento da escrita e o valor do livro como fonte fidedigna de informao e transmisso de valores, aspectos estes que subjazem ao processo de escolarizao com vistas ao letramento acadmico. Note-se que para a criana cujo letramento se inicia no lar, no processo de socializao primria, no procede preocupao sobre se ela aprender ou no, muito presente, entretanto, nos pais de grupos marginalizados. (1998, p. 183).

A afetividade tambm um ponto fundamental na aprendizagem humana. Durante os primeiro anos de escolarizao a criana estar ampliando seu meio de convivncia e necessitar do apoio dos pais para estabelecer novos laos afetivos com o professor e os colegas. Esse apoio facilitar a aquisio das relaes de confiana necessrias na sala de aula. Estudos, principalmente os feitos nas ltimas duas dcadas, mostram diferentes maneiras de como os pais podem participar do processo de ensino-aprendizagem escolar das crianas.11

Epstein (Apud BHERING & SIRAJ-BLATCHFORD, 1999) elaborou um quadro que mostra cinco maneiras de como essa participao pode acontecer e mais tarde ela, juntamente com Dauber, acrescenta mais uma. CINCO TIPOS DE ENVOLVIMENTO DE PAIS Tipo n 1 As obrigaes bsicas dos pais se referem s responsabilidades da famlia pela sade, segurana e bem-estar da criana; ateno s necessidades das crianas no seu processo de desenvolvimento e para o seu ingresso na escola; criao de condies propcias para a aprendizagem escolar em casa; superviso, disciplina e orientao. Tipo n 2 As obrigaes bsicas da escola se referem s responsabilidades da escola em enviar informaes para os pais (ou responsvel) sobre a s regras e normas da escola, o seu funcionamento, os programas e mtodos de ensino, o progresso das crianas e outras informaes que sejam relevantes. As informaes, mensagens, convites, boletins, e regras variam de escola para escola e em forma e freqncia. Tipo n 3 Envolvimento dos pais na escola se refere ao voluntarismo dos pais em ajudar os professores, orientadores e supervisores pedaggicos como tambm os administradores da escola, quer seja na escola em geral, quer seja na sala de aula, reunies, eventos sociais, excurses ou outros como matrias extra-curriculares (arte e msica) etc. Tipo n 4 Envolvimento dos pais em atividades feitas em casa que auxiliam a aprendizagem e rendimento escolar se refere ajuda que os pais do s crianas em casa, seja ela iniciativa dos pais ou dos professores (ou at mesmo das crianas) em atividades relacionadas com as atividades escolares, como deveres de casa, pesquisa, visitas a lugares culturais, etc. Tipo n 5 Envolvimento dos pais no governo da escola refere-se incluso dos pais no que diz respeito tomada de decises em geral, Associao de Pais, Colegiado, Conselho Administrativo; e ainda na interveno junto s Secretarias e Ministrios. Este tipo tambm inclui movimentos da comunidade que afetam o trabalho da escola e das crianas.

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Tipo n 6 Colaborao e trocas entre as escolas e organizaes das comunidades _ que se refere queles programas escolares que permitem aos pais e s crianas (e aos seus profissionais) o acesso aos servios prestados por aquelas instituies que esto direta ou indiretamente relacionados com o bem-estar das crianas, sua segurana, sade e oportunidades futuras (servio social e da sade, instituies culturais e religiosas, como museus, bibliotecas, zoolgicos, e igrejas, que colaboram e enriquecem a educao das crianas (e das famlias). As escolas tambm variam muito no quanto eles sabem a respeito dessas facilidades e no tanto que fazem uso das mesmas. (Epstein e Dauber. Apud BHERING & SIRAJ-BLATCHFORD, 1999) Esta tipologia pode nos ajudar na busca por uma cooperao eficaz entre pais e escola. Mas, preciso lembrar que a relao famlia- escola no se d de forma esttica, com apenas um dos tipos acima citados de envolvimento acontecendo por vez; mas sim vrios ao mesmo tempo em que essas relaes variam muito de acordo com a cultura e estrutura familiar. Assim poderemos encontrar diversas variaes em nossa prtica educacional no dia a dia. Vale ressaltar que a parceria s ser realidade quando a escola se transformar num espao onde os seus participantes possam encontrar condies favorveis interao, negociao, partilha de esforos e a uma progressiva conscientizao acerca da importncia do ato educativo. 3. PROCEDIMENTOS METODOLGICOS Este trabalho teve como objetivo refletir sobre as ideias que os pais de alunos da Educao Infantil tm sobre esse nvel de escolarizao. Foi realizada uma investigao qualitativa (Minayo, 1994), com entrevistas semi estruturadas contendo questes referentes a: conhecer a viso dos pais sobre a funo/finalidade da educao infantil; qual a ideia de participao na escola de seu filho; identificar de que forma os pais podem contribuir com a instituio escolar de seus filhos e mapear as estratgias utilizadas pelos pais para participar de forma presencial ou no da vida escolar dos filhos. A princpio escolhemos duas escolas privadas de portes diferentes, uma de grande porte situada em bairro de classe mdia alta e a outra situada em bairro da classe mdia baixa, com a hiptese de que encontraramos dados diferentes quanto participao dos pais na vida escolar de seus filhos e suas concepes sobre a educao infantil. Depois da coleta e anlise inicial dos dados abandonamos essa idia, visto as semelhanas das respostas dadas pelos pais entrevistados nas duas escolas.13

Foram entrevistados quatorze pais, sete em cada escola. Escolhemos pais de alunos da educao infantil com a mesma faixa etria entre trs e quatro anos, pois a denominao dos grupos diferente de uma instituio para outra (Jardim 2 e infantil 2). Tal escolha se deu para que as expectativas dos pais pudessem ser comparadas. Segue o perfil dos pais entrevistados: ME/PAI ME 1 ME 2 ME 3 PAI 4 ME 5 ME 6 ME 7 PAI 8 ME 9 ME 11 ME 12 PAI 13 ME 14 PROFISSO Secretaria Tec. em radiologia Pedagoga Caminhoneiro Ass. de marketing Professora Vendedora Fisioterapeuta Professora de ballet Tcnica em analises clnica Artes Professor de geografia Gerente de vendas NVEL DE ESCOLARIZAO Ensino superior incompleto Tcnico Ensino superior completo Ensino fundamental 2 Ensino fundamental 2 Cursando ensino superor Ensino fundamental 2 Superior completo em fisioterapia Superior completo em educ. fsica Patologia clnica Ensino mdio Superior completo em geografia superior incompleto em marketing

Caberia falar um pouco sobre os pais....De uma maneira gearl a formao, a ocupao e que a maioria do sexo feminino.....por a vai Dos sujeitos entrevistados a maioria foram mulheres, em uma escola foram seis mulheres e apenas um homem, na outra escola foram cinco mulheres e dois homens, a formao acadmica foi bem diversificada, todos os pais independentes que sejam homens ou mulheres trabalham em perodo integral, apenas uma me que trabalha com artesanato e passa a maior parte do tempo confeccionado em trabalho em casa as suas peas. As entrevistas foram gravadas e posteriormente transcritas.4. ANLISE E DISCUSSO

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4.1 Conhecendo a viso dos pais sobre a funo/finalidade da educao infantil Com a promulgao da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educao, lei nmero 9394/96, a Educao Infantil passa a ser, legalmente, concebida e reconhecida como etapa inicial da educao bsica. Com um carter educativo, mas no se esquecendo de ofertar um atendimento institucional com caractersticas especificas para cada faixa etria. Etapa inicial, mas nem sempre fundamental na concepo dos pais: De acordo com as entrevistas feitas em nosso trabalho podemos observar que a idia de irrelevncia da educao infantil ainda existe. Dois entre os quatorze pais com quem conversamos matricularam seus filhos na educao infantil sem grandes expectativas de crescimento ou desenvolvimento dos pequenos. Observe esse fragmento da fala de um pai:Eu achava que a educao infantil era uma besteira que no ia influenciar muito na vida de uma criana, pensava que poderia colocar em qualquer escola. Assim, eu no entendia que essa fase da vida da criana a fase mais importante. (me 11) S brincadeira, coisas que pudessem levar distrao da criana, somente. (me 12)

Os dois pais acima citados mudaram de opinio aps seu contato com educao infantil, como podemos observar na fala dos mesmos pais que confessaram em suas entrevistas. Estes passaram a creditar muita importncia educao infantil ao ver como seus filhos estavam sendo estimulados e se desenvolvendo bem nessa fase escolar. Veja o que os mesmos pais falam sobre seus filhos aps eles comearem a estudar: uma base. A educao infantil uma parte fundamenta, e a escola ajuda muito no desenvolvimento da formao da criana, transformando ela em uma pessoa melhor, um cidado melhor. (me 11) A forma de ela entender as letrinhas, as cores, desenvolver mais a inteligncia, desenvolve a criana, a forma dela se expressar melhor com as pessoas, aprender a dividir, brincar sem arengar, sem o egosmo. (me 12)

Embora vises como as que foram mostradas acima ainda existam, nossos dados apontaram que os outros doze pais compreendem a educao infantil como perodo muito importante para o desenvolvimento das crianas. Os pais que reconhecem essa importncia da educao infantil esto em consonncia com a LDB que diz:

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A educao infantil, primeira etapa da educao bsica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criana at os seis anos de idade, em seus aspectos fsico, psicolgico, intelectual e social, complementando a ao da famlia e da comunidade. (LDB 9394/96, art. 29)

As funes da educao que foram mencionadas pelos pais entrevistados esto na tabela abaixo:

FUNO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO E SOCIAL PREPARAO PARA O FUTURO SOCIALIZAR CUIDAR E EDUCAR

N DE RESPOSTAS 5 4 4 1

Dos entrevistados a maioria, isto , cinco pais acreditam que a funo principal da educao infantil o desenvolvimento cognitivo e social da criana, constituindo assim, um nvel de escolarizao onde as crianas devem desenvolver habilidades como: a oralidade, escrita, coordenao motora e esto em consonncia com o que diz o RCNEI:Esse programa tem por objetivo promover o desenvolvimento das potencialidades da criao no que se refere aos seus aspectos fsicos, psico-afetivos, cognitivos, sociais e culturais, priorizando o processo de interao e comunicao mediante atividades significativas e ldicas. (BRASIL, 1998, p. 29)

Quatro mencionaram a funo socializadora da educao infantil, pois acreditam que a socializao da criana estimulada devido a sua interao com um novo grupo social aumentando sua rede de relacionamento, como diz a me 6: Aprender a se socializar em grupo, porque fora da famlia este o primeiro grupo que ela se relaciona e deve ser to importante quanto famlia. Quatro pais afirmam que educao infantil constitui uma base para o futuro da criana, na medida em que a prepara para outros nveis escolares e para vida adulta, como diz a Me 2 que, a base, prepara a criana para as outras sries que vem depois. Segundo Paniagua e Palcios (2007) (...) sobretudo entre os 3 e os 6 anos. Com base em sua experincia e em suas

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lembranas, as famlias costumam imaginar que sero trabalhados fundamentalmente contedos de tipo escolar, como a leitura, a escrita e o clculo. (pg. 220) Apenas uma me disse que a educao infantil tem a funo de cuidar e educar, essa viso pode ser devido a sua formao na rea da educao e tambm por trabalhar como professora do ensino fundamental I, o seu conhecimento terico aliado a prtica de trabalho com crianas pequenas, justifica a sua resposta. 4.2 Como os pais contribuem com a escola Nossas entrevistas apontam para um grande nvel de participao dos pais na escola. De acordo com os dados muitos pais tm procurado criar estratgias para obter, informaes escolares e principalmente acompanhar o desenvolvimento da criana de modo geral. Pudemos verificar tambm em nossas entrevistas que a maioria dos pais se diz presente na escola: nove responderam que costumam freqentar as reunies, encerramentos de projetos e outros eventos do tipo. Quatro, confessam que tentam ser participativos e at frequentam algumas atividades quando convidados pela escola, mas confessam que a rotina de trabalho nem sempre os permite atuar da forma que gostariam. Somente um pai relata que no participativo, embora gostaria muito de ser. Esse pai justifica sua ausncia pela sua intensa jornada de trabalho e relata que sua me (a av) assume essa responsabilidade por seu filho, de forma que a criana no fica sem acompanhamento familiar. Os recortes de falas dos pais abaixo mostram um pouco como eles compreendem essas atividades:Eu estou acompanhando, percebendo e est acontecendo ali no dia-a-dia, o que foi que aconteceu ali na sala de aula. (Me 9) A feira de conhecimentos que a gente assiste e v o que o filho est aprendendo isso valoriza o trabalho dele. (Me 2) A escola faz o papel dela, mas o pai tambm tem que fazer como ensinar as tarefas em casa... (Me 14)

Em nossas entrevistas tambm perguntamos aos pais quais os benefcios que seus filhos teriam por essa sua participao e as respostas esto na tabela abaixo:

BENEFCIOS DESENVOLVIMENTO DA

N DE RESPOSTAS 6

FALA DOS PAIS Me 12 - Acho que o desenvolvimento da criana,

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CRIANA APRENDER MAIS SEGURANA E AUTOCONFIANA 4 4

estimula o aprendizado Pai 4 - E acho que toda a ajuda vlida e se o pai ajuda, a criana aprende mais. Me 1 - Maior desenvolvimento, autoconfiana.

Pelas respostas apresentadas acima podemos perceber que o desenvolvimento da criana foi o principal benefcio apontado pelos pais em seus depoimentos. Os mesmos mostraram estar sempre atentos para que em casa fosse dada certa continuidade ao trabalho da escola. O que de acordo com Epstein (Apud BHERING, 1999) um dos cinco tipos de envolvimento dos pais com a escola:Envolvimento dos pais em atividades feitas em casa que auxiliam a aprendizagem e rendimento escolar se refere ajuda que os pais do s crianas em casa, seja ela iniciativa dos pais ou dos professores (ou at mesmo das crianas) em atividades relacionadas com as atividades escolares, como deveres de casa, pesquisa, visitas a lugares culturais, etc.

interessante observar que a segunda categoria de benefcios descrita na tabela no se afasta muito da primeira na medida em que a ideia dos pais parece ser interferir para que o filho se desenvolva e aprenda mais e com maior facilidade. Em seguida surge uma categoria realmente nova: segurana e autoconfiana, pois de fato a segurana da criana pode ajud-la em vrios aspectos em sua vida escolar. Nesse sentido de segurana e autoconfiana podemos afirmar que o educador tambm se constitui fator principal, de forma que seu estilo de trabalho e atuao na classe ir interferir diretamente na segurana e autoconfiana das crianas. Paniagua e Palcios (2007. pag.132) descrevem o professor nesse aspecto como o Adulto Referencia, este adulto devera orientar e apoiar os alunos em seu desenvolvimento:As crianas pequenas so orientadas e apoiadas em seu crescimento pelos adultos de referencia, e na escola infantil esse papel e assumido pelos seus educadores e professores. Por um lado, deve-se proporcionar a segurana afetiva necessria para que os pequenos possam explorar brincar relacionar-se com outras crianas. Por outro lado e preciso colocar exigncias, desafios normas que orientem a aprendizagem e a socializao.

4.3 Como os pais participam da vida escolar dos filhos18

Procurando mapear as estratgias utilizadas pelos pais para participar de forma presencial ou no da vida escolar dos filhos, encontramos os dados abaixo:

CANAIS DIRETOS CONVERSA COM PROFESSOR LIGAO CONVERSA CRIANA COM A O

QUANTIDADE DE PAIS 9 4 1

CANAIS INDIRETOS AGENDA E-MAIL ANALISAR O TRABALHADO (TAREFAS) CONTEDO

QUANTIDADEDE PAIS 11 2 2

Percebemos que a maioria dos pais diz que atravs da conversa com o professor e da agenda que costumam se comunicar com a escola primordialmente, como mencionado pela Me 12 em sua fala que: Pessoalmente, s pessoalmente, qualquer recado elas mandam pela agenda, mas eu gosto de ser presente, no fico s de recado, bilhete, mas uma coisa mais presente mesmo, fsica, assim se conversa melhor. A conversa com os professores uma forma tradicional de dilogo na educao infantil, onde os pais sempre procuram saber sobre fatos como: comportamento, interao da criana com os outros colegas de sala de aula e com a prpria professora e como vai o seu empenho nas atividades curriculares, ou se est se saindo bem na execuo das atividades propostas pela professora. Precisamos frisar que apenas um pai mencionou a conversa com a criana como meio de acompanhar o processo de ensino e aprendizagem do filho. Sobre este caso isolado podemos nos perguntar a qu se deve est aparente ausncia de dilogo com as crianas: Ser que isso se deve a rotina dura de trabalho dos pais? Ou ser que os pais praticam esse canal, porm, no o consideram formal e por isso foi mencionado apenas uma vez. Qualquer que seja o motivo devemos lembrar que as crianas so o centro de todo esse processo por isso suas impresses sobre a escola e sua participao nesse meio devem ser levadas em considerao sempre. Quatro pais disseram que ligam para escola para obter informaes. Dois utilizam o email para se comunicar com a professora e mencionam que a tecnologia ajuda bastante, pois eles podem acompanhar a criana pela internet, como comentado pelo Pai 8 que diz,19

internet hoje em dia, importantssimo. Tambm dois informaram que analisam os contedos trabalhados atravs das tarefas que os alunos executam, porm essa forma no a nica. Essas duas mes utilizam outras maneiras de obter informaes sobre o cotidiano de seus filhos na escola. Um exemplo a Me 5 que diz analisar as tarefas, mas que tambm quando precisa conversa com a professora pessoalmente e tambm por telefone. Como a Me 2, que tambm obtm a comunicao com escola utilizando vrias maneiras diferentes, diz: Eu falo com a professora e vejo tambm as tarefinhas e a agenda. Conclumos que os pais de crianas da educao infantil procuram manter comunicao com a escola de vrias maneiras, no ficam esperando apenas pela escola. Esses pais de alguma forma procuram estar presente no cotidiano escolar de seus filhos, nem que seja por telefone, e-mail, agenda ou a prpria conversa rapidinha na entrada ou sada com a professora. Procuramos tambm saber se a escola promovia alguma integrao dos pais no cotidiano escolar de seus filhos, e como se dava essa integrao. Tivemos as seguintes respostas: treze pais responderam que a escola promove integrao pais e escola. Eles mencionaram que tais atividades como: conversas, reunies, feira de conhecimentos, passeios, festas e apresentao de projetos fazem a mediao pais-escola-alunos. Porm, observamos que os pais so apenas convidados a participar como meros espectadores dessas atividades. Os prprios pais dizem que essa forma de participao ainda deixa muito a desejar, pois como foi visto em relatos que eles so convidados para assistir os resultados, como o caso da Me 9 (...) sempre no final de cada projeto tem uma apresentao para os pais, eles mostram qual foi o resultado e como as crianas trabalharam. E Pai 8 (...) teve a semana, eles esto trabalhando agora a questo do trnsito, ento os pais so convidados (...). Alguns mencionam em suas falas sentem a necessidade de haver um envolvimento maior, que levasse os pais a participarem do planejamento dos projetos ou outras atividades de classe, que no fossem apenas convidados para ver o resultado como meros expectadores do processo de desenvolvimento dos seus filhos:Poucas e mesmos nestas os pais so mais espectadores. Eu no me sinto integrante, no. Mas eu acho que isso acontece em muitas escolas. No s aqui, no. (Me 3) Eu acho que poderia ser melhor, promove mas pouco. Eles chamam os pais para que a criana possa sociabilizar os projetos dos quais ela participou no colgio, mas eu acho que poderia ser mais momentos, acredito que durante um ano teve uns dois ou trs. (Me 10)

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Eles pretendem de fato trabalhar em conjunto com a professora e a escola, na viso de alguns pais isso estimularia ainda mais o aprendizado de seus filhos, como veremos na fala da me 10 ressaltando esse interesse por uma participao maior e melhor na vida escolar de seus filhos:Os pais deveriam participar mais, por exemplo, a escola deveria promover o dia dos avs. Aqui isso falta ter um caf da manh da criana com av, um momento em que os pais uma vez por no ms pudessem contar histrias, pudessem fazer um teatrinho para a criana, eu sinto falta disso.

Outro pai bem crtico quando diz que reunies e festas no integram os pais no cotidiano escolar. Esse pai deixa claro que no se sente participante e mostra a fragilidade da relao pais\escola como descreve Paniagua e Palcios:...as relaes famlia-escola em geral so escassas e frgeis. O fato de que, durante a educao infantil, tais relaes sejam mais intensas do que em outras etapas educativas no deve servir como argumento para ignorar essas seria deficincia do sistema e da pratica educativa. (2007, pg. 211)

5. CONSIDERAES FINAIS

Atravs desta pesquisa pudemos compreender um pouco das concepes que norteiam os pais da educao infantil. Vimos que a grande maioria deles reconhece a importncia desse nvel de escolarizao como etapa fundamental para o desenvolvimento integral da criana. Reconhecem tambm que sua participao fundamental para que esse desenvolvimento seja pleno, embora alguns achem que deixam a desejar nesse aspecto, em geral pela rotina profissional. Um dado importante foi grande quantidade de meios de comunicao utilizados pelos pais para manter um canal de comunicao direto com a escola e como pouco usado o dilogo com os filhos, o que tambm pode se caracterizar como um meio de comunicao prtico e eficiente. Tambm constatamos a necessidade das instituies escolares se tornarem mais abertas s expectativas dos pais quanto a sua integrao nas atividades escolares, tendo em vista que os pais so os maiores conhecedores das crianas e podem contribuir com informaes importantes que podem ajudar no trabalho do professor. Assim como, os pais21

tambm podem contribuir com seus conhecimentos especficos, como por exemplo, no incio e no desenvolvimento de projetos. Em suma, nosso trabalho pretende contribuir para a melhoria do dilogo pais e escolas, principalmente no que se refere s instituies escolares para discutir o papel da integrao da sociedade em suas prticas. Um prximo trabalho nesta mesma temtica poderia buscar ouvir os profissionais que compem as escolas como: professores, coordenadores e gestores, de modo a termos um olhar mais amplo sobre a relao pais/escolas. Para finalizar gostaramos de citar Paniagua e Palcios (2007), que nos mostrou que no existe apenas um tipo de relao famlia-escola, visto diversidade cultural e de estruturas familiares. Entendo assim, a que escola precisa inserir e valorizar essas diferenas nos diversos espaos escolares. O envolvimento com este trabalho ampliou a nossa viso no que diz respeito importncia da relao famliaescola, nos possibilitando perceber como importante a participao da famlia no processo escolar de seus filhos, o que pode acarretar num maior desenvolvimento da criana nas diferentes esferas, tais como: psicolgica, cognitiva, motora, afetiva, cultural e social. Nos gratificou tambm, em ter feito est pesquisa foi aprender que no existe um conceito de infncia padro como se imaginava, mas sim vrias infncias. Essa viso nos foi possvel atravs do estudo histrico que fizemos para fundamentar nosso trabalho, onde constatamos que o conceito de infncia repercute fortemente no papel da Educao Infantil, pois direciona todo o atendimento prestado criana pequena. Dessa maneira, a Educao Infantil est intrinsecamente ligada ao conceito de infncia, tendo a sua evoluo marcada pelas transformaes sociais que originaram um novo olhar sobre a criana. Ademais, gostaramos de concluir sem a inteno de encerrar as inmeras possibilidades de estudos e investigao, posteriores esse trabalho, mas com a expectativa de que a realizao dessa pesquisa possibilite enriquecer e fazer avanar os debates oriundos da rea da educao infantil, principalmente no que se refere relao famlia-escola, e uma integrao efetiva desses dois grupos sociais que a criana pequena participa e tanto necessita para o seu desenvolvimento enquanto cidado em processo de formao. No est muito bom Pelo que eu lembro a sugesto era de complementar com outro estudo que trabalhasse com pais da escola pblica para observar quais so as expectivas deles...... A possibilidade de tambm incluir na amostrar a fala da escola para fazer o contraponto......Vcs lembram.

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6. REFERNCIAS ARIS, Philippe. Histria Social da Criana e da Famlia. Rio de Janeiro: LTC, 1978. BRANDO, Carlos da Fonseca. LDB: passo a passo: Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (lei 9394/96), So Paulo: Avercamp, 2003. BHERING, Eliana & SIRAJ-BLATCHFORD, Iram. A relao escola-pais: um modelo detrocas e colaborao. Caderno de Pesquisa. N 106, pg. 191-216, maro\1999. Disponvel

em:

http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-15741999000100010&script=sci_arttext.

Acesso em: 2 de julho de 2011. KLEIMAN, ngela B. Os significados do letramento. Campinas: Mercado de letras, 1995. KRAMER, Snia. A Poltica do pr-escolar no Brasil: A arte do disfarce. 5 edio. So Paulo: Cortez, 1995. MINAYO, M.C.S. et all. Pesquisa Social: teoria, mtodo e criatividade. Rio de Janeiro: Vozes, 1994. NUNES, 2004. PANIAGUA, Gema & PALCIOS, Jesus. Educao Infantil: Resposta educativa diversidade. Porto Alegre: Artmed, 2007. SILVA, Pedro. Interface Escola-Famlia. Um olhar sociolgico Um estudo Etnogrfico no 1 Ciclo do Ensino Bsico. Tese de Doutoramento na Faculdade de Psicologia e Cincias de Educao da Universidade do Porto, 2001.23

Tomaz.

Colaborao

escola-famlia.

Para

uma

escola

culturalmente

heterognea. Lisboa: ACIME (Alto Comissariado para a Imigrao e Minorias tnicas),

SZYMANSKI, H.. A relao famlia-escola: Desafios e perspectivas. Braslia: Plano, 2001.

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