farmacobotânica - caules

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1 1 MORFOLOGIA DO CAULE Órgãos são estruturas que realizam funções diferentes para a sobrevivência dos seres vivos. Dentre os principais órgãos vegetais temos o Caule, que por sua vez, faz a ligação da raiz com as outras partes da planta: folhas, flores e frutos. O caule também sustenta todas estas outras partes da planta. Pelo caule ocorre ainda a circulação da seiva bruta (água e sais minerais) e da seiva elaborada (glicose). Em alguns casos, o caule também pode ter clorofila e realizar fotossíntese. Segundo Raul Maia (2003) o caule desenvolve-se em sentido oposto à aceleração da gravidade, portanto para cima; pode ser axial (um eixo apenas) ou ramificado (vários eixos de desenvolvimento). Apresenta uma zona meristemática apical, denominada gema apical, e zonas meristemáticas secundárias, denominadas gemas laterais. Geralmente uma gema apical inibe o desenvolvimento das gemas laterais. 2 ESTRUTURAS DO CAULE Sua estrutura externa é composta por nó, entrenó, gemas terminais e laterais. Assim como as raízes, os caules se formam acima do solo (aéreos), embaixo da terra (subterrâneos) e na água. A seguir as estruturas externas do caule: 2.1 GEMAS

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Page 1: Farmacobotânica - Caules

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1 MORFOLOGIA DO CAULE

Órgãos são estruturas que realizam funções diferentes para a sobrevivência

dos seres vivos. Dentre os principais órgãos vegetais temos o Caule, que por sua

vez, faz a ligação da raiz com as outras partes da planta: folhas, flores e frutos. O

caule também sustenta todas estas outras partes da planta. Pelo caule ocorre ainda

a circulação da seiva bruta (água e sais minerais) e da seiva elaborada (glicose). Em

alguns casos, o caule também pode ter clorofila e realizar fotossíntese.

Segundo Raul Maia (2003) o caule desenvolve-se em sentido oposto à

aceleração da gravidade, portanto para cima; pode ser axial (um eixo apenas) ou

ramificado (vários eixos de desenvolvimento). Apresenta uma zona meristemática

apical, denominada gema apical, e zonas meristemáticas secundárias, denominadas

gemas laterais. Geralmente uma gema apical inibe o desenvolvimento das gemas

laterais.

2 ESTRUTURAS DO CAULE

Sua estrutura externa é composta por nó, entrenó, gemas terminais e laterais.

Assim como as raízes, os caules se formam acima do solo (aéreos), embaixo da

terra (subterrâneos) e na água. A seguir as estruturas externas do caule:

2.1 GEMAS

São regiões meristemáticas protegidas por primórdios foliares ou por

escamas localizadas em diversos pontos do caule. As gemas costumam ser

denominadas gemas terminais, quando ocorrem no ápice caulinar ou gemas laterais,

quando ocorrem e, axilas de folhas. Outra maneira de se classificar as gemas é

quanto à sua atividade meristemática. Denominamos gemas ativas aquelas que

estão em atividade e inativas aquelas que não estão. Durante o crescimento da

planta, as gemas localizadas abaixo do ápice, quase sempre, são gemas inativas,

mas mantêm potencialidade de desenvolvimento, podendo entrar em atividade, de

acordo com a necessidade do vegetal.

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2.2 NÓS

São regiões do caule onde ocorre a inserção das folhas. Nestas regiões

ocorrem também gemas axilares.

2.3 ENTRENÓS

São regiões localizadas entre dois nós consecutivos.

2.4 FOLHAS

São expansões laterais do caule. Correspondem à principal característica

deste órgão, já que não ocorrem raízes.

3 CLASSIFICAÇÃO DOS CAULES

Existem diversos critérios nos quais se pode basear a classificação dos

caules. Assim, eles podem ser classificados quanto à forma, quanto ao ambiente

onde se desenvolvem e quanto à função principal que desempenham.

3.1 QUANTO À FORMA

De acordo com a forma que apresentam, os caules podem ser classificados

em dois grandes grupos, cilíndricos e prismáticos.

3.1.1 CAULES CINLÍNDRICOS

Constituem o tipo mais comum de caule. Sua secção transversal é

aproximadamente circular. Apresentam caule cilíndrico o “cipó-cabeludo”, Mikania

hirsutissima DC, o “guaco”, Mikania glomerata Sprengel e a “jurubeba”, Solanum

paniculatum L.

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3.1.2 CAULES PRISMÁTICOS

A seção transversal de muitas plantas assume contorno obtuso-poligonal.

Assim, espécies vegetais pertencentes à família Cyperaceae apresentam seção

caulinar obtuso-triangular, como tão bem serve de exemplo a “tiririca de jardim”,

Cyperus rotundus L. As partes subterrâneas deste vegetal são brancas, friáveis,

resinosas aromáticas e de sabor amargo. São considerados como possuidoras de

atividades diuréticas, diaforéticas, adstringentes e vermífugas. Outro bom exemplo é

Cyperus sesquiflorus (Torrey) Mattf ET Kunk. O rizoma e as folhas deste vegetal são

aromáticos, carminativos, antiespasmódicos e excitantes. Possuem óleo essencial

que lembra o da erva-cidreira.

As plantas pertencentes à família Labiatae apresentam caules obtuso-

quandrangulares. Como exemplo importante temos: a “erva de macaé”, Leonorus

sibicures L.; a “hortelã-pimenta”, Mentha piperita L., empregada como colagoga,

colerética, carminativa; a “erva-tostão”, Glecoma hederacea L., utilizada como

expectorante nas afecções das vias respiratórias. A “aruca”, Calea pinnatifida Banks

ET Steudel, planta pertencente à família Compositae Gaertner, apresenta caule

obtuso-hexagonal. É vegetal amargo, eupéptico, tônico e amebicida.

3.2 QUANTO AO PORTE E A QUANTIDADE DE TECIDOS LIGNIFICADOS

Uma das primeiras classificações dos vegetais tinha como base este caráter.

Mais precisamente Teofrastus, na antiguidade, dividiu os vegetais em ervas,

arbustos e árvores. Hoje ainda é válido classificar os caules de acordo com o porte

em herbáceo, arbustivo e arbóreo.

3.2.1 HERBÁCEO

Caule contendo pouco material lignificado, geralmente de coloração

esverdeada e dotado de flexibilidade. Exemplo: “cordão de frade” Leonotis

nepaetifolium (L.) R Br, utilizado como tônico, béquico, expectorante, antiasmático e

febrífugo.

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3.2.2 ARBUSTIVO

Caules lenhosos ramificados frequentemente divididos desde a base, não

ultrapassando muito três metros de altura. O “anil”, Indigofora suffruticosa Mill, usado

como antiespasmódico, sedativo e estomáquico, e o “café” Coffea arábica L., cujas

folhas e as sementes são empregadas como tônicas, diuréticas, são exemplos deste

tipo de caule.

3.2.3 ARBÓREO

Caules geralmente bastante lignificados, alcançando dimensões

consideráveis entre três e muitos metros de altura. A parte basal destes caules

geralmente é indivisa, formando o tronco, ocorrendo em sua parte superior divisões

que vão originar a copa. Como exemplo temos o “ipê roxo”, Tabebuia avellanedae

Lorente ex Grisebash.

O limite entre caule arbustivo e arbóreo nem sempre é bem nítido, no que diz

respeito ao porte destes vegetais.

3.3 QUANTO AO AMBIENTE ONDE SE DESENVOLVEM

Quanto ao ambiente onde se desenvolvem os caules podem ser classificados

em: aéreos, terrestres e aquáticos.

3.3.1 CAULES AÉREOS

Os caules aéreos podem ser agrupados nas seguintes categorias: caules

erectos, caules trepadores e caules rastejantes.

Caules Aéreos Erectos: Dentro desta categoria são incluídos: o tronco, o

estipe, o colmo e a haste.

Tronco: É o caule característico das árvores e dos arbustos. Apresenta-se

ramificado e sua partes são bastantes lignificadas. Ocorres especialmente entre as

dicotiledôneas e as gimnospermas.

O tipo de ramificação caulinar decorrente do desenvolvimento de brotos

auxiliares pode ser dividido em dois grupos, a saber: monopodial e simpodial. Esta

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divisão é feita segundo a relação que existe entre o eixo principal e os eixos

secundários, geralmente laterais.

A ramificação monopodial caracteriza-se pela predominância do eixo primário,

isto é, o eixo principal. É resultado do desenvolvimento de uma única gema apical. É

resultado do desenvolvimento de uma única gema apical. Os pinheiros e as

araucárias pertencentes às gimnospermas são exemplo deste tipo de ramificação.

A ramificação simpodial apresenta o eixo principal formado pelo

desenvolvimento de diversas gemas. O eixo primário para logo de crescer, sendo

substituído por eixo secundário e este por eixo terciário e assim por diante. Nas

dicotiledôneas este tipo de ramificação é responsável pela formação da copa das

árvores.

Estipe: Tipo de caule cilíndrico, geralmente sem ramificações, que apresenta

uma roseta de folhas terminais. É o caule característico da família Palmae. A

ramificação lateral limita-se ao eixo da inflorescência.

Colmo: Caule cilíndrico de diâmetro aproximadamente constante,

apresentando região de nós e entrenós bem visíveis. Este tipo de caule não se

ramifica. De acordo com a presença de medula na região do entrenó, os colmos

podem ser divididos em colmos cheios e colmos ocos. O caule da cana de açúcar

corresponde a colmo cheio, ao passo que o caule dos bambus é colmo oco.

Haste: Caule frágil, geralmente de cor verde, ramificado, característico de

plantas de porte herbáceo. Possui certa flexibilidade devida, geralmente, à presença

de tecido colenquimático bem desenvolvido.

Caules Aéreos Trepadores: São caules que pela sua fragilidade, ou melhor,

pela sua deficiência em tecidos de sustentação, não conseguem manter-se eretos,

necessitando de suporte para seu desenvolvimento.

Os caules trepadores podem ser de dois tipos, a saber: caules volúveis e

caules escandentes.

Os caules volúveis não apresentam órgão de fixação. Eles simplesmente se

enrolam no suporte. Conforme o enrolamento se procede da direita para a esquerda,

ou da esquerda para a direita, eles recebem o nome, respectivamente, de dextroso e

sinistrorso.

Os caules escandentes caracterizam-se pela presença de órgãos de fixação,

os quais podem ser gavinhas ou raízes adventícias. As gavinhas podem ser de

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origem caulinar e foliar. Em ambos, quando este órgão entra em contato com o

suporte, enrolam-se nele.

Caules Rastejantes: Os caules rastejantes podem ser de dois tipos: estolho

e sarmento.

Estolho: São caules que crescem paralelamente à superfície da terra, e que

emitem raízes adventícias e ramos em nós consecutivos, em nós alternados ou em

nós esporádicos. A partir de cada um desses nós especiais que emitem raízes, pode

se desenvolver uma nova planta. O “morangueiro” Fragaria vesca L., representa um

exemplo deste tipo de caule.

Sarmento: São caules rastejantes que apresentam apenas um ponto de

fixação no solo. Como exemplo deste tipo de caule, podemos citar o caule da

“aboboreira”, Cucurbita pepo L.

3.3.2 CAULES SUBTERRÂNEOS

Os caules subterrâneos constituem uma forma pouco comum de caule,

adaptados quase sempre à função de armazenas reservas. Eles se diferenciam das

raízes pela presença de folhas modificadas, denominadas escamas ou catafilos. A

presença de gemas também é característica neste tipo de órgão.

Os caules subterrâneos podem ser de três tipos, a saber: rizomas, tubérculos

e bulbos.

Rizomas: Correspondem ao tipo de caule, geralmente subterrâneo, cujo

aspecto se assemelha ao das raízes. Possuem forma geralmente cilíndrica e

crescimento horizontal, localizando-se próximos da superfície da terra. São

estruturas características dos rizomas os nós, entrenós, gemas e folhas modificadas.

Os rizomas desenvolvem raízes adventícias. Muitos rizomas apresentam

importância farmacêutica.

Os rizomas podem ser classificados em definidos ou indefinidos, de

conformidade com os ramos aéreos que originam. Os rizomas definidos são mais

frequentes. Os ramos aéreos, neste caso, originam-se de gemas terminais, o que

caracteriza, nestes tipos de órgãos subterrâneos, ramificação simpodial. Nos

rizomas indefinidos, os ramos aéreos se originam de gemas laterais, sendo o tipo de

ramificação pertencente ao grupo das monopodiais: os rizomas crescem geralmente

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na posição horizontal, podendo, entretanto, com menos frequência, crescer

verticalmente e em posição inclinada.

Tubérculos: são formados, geralmente, na extremidade de caules

subterrâneos, extremidades estas que passam a acumular reservas e se dilatam

adquirindo aspecto arredondado. Este tipo de órgão subterrâneo se diferencia dos

rizomas por apresentar crescimento limitado, assumindo, frequentemente, forma

globosa e pela ausência de raízes.

Diferem das raízes tuberosas pela presença de gemas bem evidentes.

Algumas vezes os tubérculos caulinares são derivados do hipocótilo

adjacente a esta região, por acúmulo de substâncias de reserva.

Bulbos: são órgãos subterrâneos de natureza complexa. Habitualmente são

incluídos para estudo junto com o caule subterrâneo, embora apresentam apenas

uma pequena porção de tecido caulinar, denominado prato, leco ou disco. Presas ao

prato, ou disco, encontram-se folhas modificadas, conhecidas por catafilas ou

escamas. Estas folhas envolvem a região do prato, podendo ou não, acumular

substâncias de reserva. Na maioria dos casos, fazendo parte do conjunto, uma única

gema terminal é visível, podendo se ver, ocasionalmente, gemas laterais. Na região

basal do prato, observa-se com frequência o desenvolvimento de raízes adventícias.

Os bulbos podem ser classificados em três categorias, tais são: tunicados,

escamosos e sólidos ou cheios.

Bulbos tunicados apresentam catafilos suculentos, dispostos de maneira

concêntrica. Estes catafilos são formados por bainhas de folhas que não se

desenvolveram. Neste tipo de bulbos as substâncias de reserva se acumulam de

preferência nos catafilos, os quais se dispõem de tal maneira que os localizados

mais externamente recobrem aqueles que se dispõem mais internamente. A região

do prato é pouco desenvolvida e apresenta em sua região basal, raízes adventícias.

Os bulbos escamosos apresentam catafilos dispostos de maneira imbricada.

Estes catafilos são constituídos de folhas inteiras que acumulam reservas. Os

catafilos com localização mais externa recobrem parcialmente os de localização

mais interna, lembrando o conjunto de escamas de peixe; daí o nome de bulbo

escamoso.

Os bulbos sólidos caracterizam-se pela região do prato, ou disco, bem

desenvolvida, local onde as reservas são acumuladas. Os catafilos são, neste caso,

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membranosos e poucos numerosos, e se dispõem de maneira a envolver o prato

onde são observadas raízes adventícias.

Os bulbos sólidos, algumas vezes, são denominados cormo.

3.3.3 CAULES AQUÁTICOS

Os caules aquáticos são bem menos frequentes. Neles, o tecido epidérmico

não é revestido por cutícula, o que possibilita a estes caules absorver substâncias

solúveis na água ambiental. Estes caules são pobres em tecidos mecânicos de

sustentação, e apresentam aerênquima bem desenvolvido, o que lhes garante

reserva de ar indispensável ao seu desenvolvimento.

4 DROGAS VEGETAIS E CAULES COM IMPORTÂNCIA FARMACÊUTICA

O caule está presente em uma série de drogas constituídas pelo vegetal

inteiro, pelas sumidades floridas e pelas partes aéreas do vegetal. Constituem

exemplos desse tipo de drogas: absinto, acariçoba, adônis, agrião, agrião do pará,

grama, alecrim, alecrim-bravo, cipó-azougue, cipó-cabeludo, cordão de frade miúdo,

cordão de frade, fumaria e gervão-roxo.

Como exemplos de caules com importância farmacêuticas temos:

GALANGA

Alpínia officinarum Hance

Família: Zingiberaceae

Componentes principais: óleo essencial cotendo cineol, eugenol e pineno, e

flavonoides contendo galangina e caempferina.

Usos terapêuticos: estimulante das funções digestivas, carminativo, aromático

e antiodontálgico.

GENGIBRE

Zingiber officinale Roscoe

Família: Zingiberaceae

Componentes principais: óleo essencial constituído principalmente por d-

canfeno, felandreno, zingibereno, cineol, citral, borneol, gingerol e resina.

Usos terapêuticos: estimulante digestivo e carminativo.

VERATRO

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Veratrum viride Aiton

Família: Liliaceae

Componentes principais: alcaloides contendo cevadina, veratridina, jervina,

pseudojervina, ácido jérvico e resina.

Usos terapêuticos: depressor cardiorrespiratório, vasomotor, hipotensor,

sedante. Inseticida.

FETO-MACHO

Dryopteris filix-mas (L.) Schott

Família: Polypodiaceae

Componentes principais: substâncias derivadas do floroglucinol, tais como:

ácido filícico, aspidinol, ácido flavaspídico, albaspidina, filicinil-butanona, ácido

filicínico, filmarona e aspidina.

Usos terapêuticos: anti-helmíntico.

FIGURAS

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Figura 1. Estruturas de Caules. Fonte: professoraedilenesoraia.blogspot.com

Figura 2: Caule Cilíndrico. Fonte: amorpeloverde.atspace.com

Figura 3: Exemplos de caules aéreos. Fonte: www.mundoeducacao.com.br

Figura 6: Exemplo de Caule subterrâneo rizomas. Fonte:

Figura 7: Caule Subterrâneo- tubérculos. Batatinha. Fonte: amorpeloverde.atspace.com.

Figura 8: Alho. Exemplo de Caule Bulbo. Fonte: amorpeloverde.atspace.com.

Figura 9: Caules aquáticos. Fonte: amorpeloverde.atspace.com.