farinha de feijÃo-caupi (vigna unguiculata) na...

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UNIVERSIDADE NILTON LINS INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA INPA PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AQUICULTURA FARINHA DE FEIJÃO-CAUPI (Vigna unguiculata) NA NUTRIÇÃO DE JUVENIS DE TAMBAQUI (Colossoma macropomum) EDUARDO ALEX CARVALHO RIBEIRO Manaus, Amazonas Agosto, 2012

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UNIVERSIDADE NILTON LINS INSTITUTO NACIONAL DE PESQUISAS DA AMAZÔNIA – INPA

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AQUICULTURA

FARINHA DE FEIJÃO-CAUPI (Vigna unguiculata) NA NUTRIÇÃO DE

JUVENIS DE TAMBAQUI (Colossoma macropomum)

EDUARDO ALEX CARVALHO RIBEIRO

Manaus, Amazonas

Agosto, 2012

ii

EDUARDO ALEX CARVALHO RIBEIRO

FARINHA DE FEIJÃO-CAUPI (Vigna unguiculata) NA NUTRIÇÃO DE

JUVENIS DE TAMBAQUI (Colossoma macropomum)

Orientadora: Drª Marle Angélica Villacorta Correa

Dissertação apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em

Aquicultura da Universidade Nilton

Lins como parte dos requisitos para

obtenção de título de Mestre em

Aquicultura

Manaus, Amazonas

Agosto, 2012

iii

Ficha Catalográfica

Sinopse:

Realizou-se a digestibilidade dos nutrientes e energia do feijão-caupi (Vigna

unguiculata), bem como o estudo do desempenho zootécnico de juvenis de

tambaqui alimentados com dietas contendo níveis crescentes de inclusão de

feijão-caupi.

Palavras-chave: Digestibilidade, desempenho zootécnico, tambaqui.

R367f Ribeiro, Eduardo Alex Carvalho.

FARINHA DE FEIJÃO-CAUPI (Vigna unguiculata) NA NUTRIÇÃO DE JUVENIS

DE TAMBAQUI (Colossoma macropomum). – Manaus: UNL, 2012.

60f. ; 30 cm.

Dissertação (Mestrado em Aquicultura) – Universidade Nilton Lins, Manaus, 2012.

Orientador: Marle Angélica Villacorta Correa.

1. Digestibilidade. 2. Desempenho zootécnico. 3. Ingrediente alternativo. I. Título.

II. Universidade Nilton Lins.

CDU 639.3.043

iv

AGRADECIMENTOS

A Deus por toda a força que me deu!

À minha orientadora, Profa. Dra Marle Angélica Villacorta-Correa pela confiança,

dedicação, apoio e todo o ensinamento de vida e acadêmico!

Ao Dr. Luis Inoue e Dr. Jony Dairiki, pelo apoio, ensinamentos, encorajamento,

disposição!

Ao meu grande amor Livia Rodrigues da Silva, pelo compreenção, apoio, incentivo e

pelo seu amor!

Ao meu Irmão Alyson Fernando Carvalho Ribeiro, meu inseparável e grande amigo!

A Universidade Nilton Lins e Instituto de Pesquisas da Amazônia por proporcionar a

oportunidade de cursar o Mestrado em Aquicultura.

As pessoas da Cordenação de Tecnologia e Inovação do Instituto Nacional de

Pesquisas da Amazônia – COTI/INPA, pela ajuda na realização do trabalho!

Aos amigos, em especial Aline Marculino de Alcântara, Joana Paula de Souza

Cornélio, César Augusto Oishi e Isamilde Carvalho, pela amizade, ajuda,

ensinamento e doação!

Aos colegas do curso de aquicultura que serviram como fonte de inspiração, em

especial Patricia Castro, Gabriela Moraes e Marieta Nascimento!

A CAPES pela concessão da bolsa durante o período de estudo.

v

“O senhor é meu pastor e nada me faltará...

(Salmo 23)”.

vi

RESUMO

No Brasil, o consumo de pescado vem crescendo cada vez mais, sendo estimado como média em 9,03kg peixe/pessoa/ano nos últimos anos. Na Região Norte este consumo é ainda maior, sendo estimado em cerca de 22 kg peixe/pessoa/ano. A piscicultura vem contribuindo muito para a oferta de peixes, porém, a produção ainda enfrenta dificuldades como os custos com alimentação que representam entre 50 a 70% dos custos de uma produção. Trabalhos que visem à substituição de ingredientes tradicionais por alternativos estão sendo realizados, tentando o barateamento de rações para peixes. O objetivo deste trabalho foi estudar a digestibilidade e desempenho zootécnico de juvenis de tambaqui alimentados com diferentes níveis de inclusão de feijão-caupi (Vigna unguiculata). O experimento foi realizado na Coordenação de Tecnologia e Inovação – COTI/INPA no período de setembro de 2011 a fevereiro de 2012. O trabalho realizado está escrito em forma de capítulos: 1) Determinação dos coeficientes de digestibilidade aparente dos nutrientes e energia da farinha de feijão-caupi, com e sem tratamento térmico, para juvenis de tambaqui (Colossoma macropomum), 2) Avaliação do desempenho zootécnico e a composição corporal de juvenis de tambaqui, alimentados com diferentes níveis de farinha de feijão-caupi. Nos capítulos são encontradas as metodologias que foram utilizadas para a avaliação da digestibilidade e desempenho zootécnico dos juvenis de tambaqui alimentados com níveis crescentes de inclusão de feijão-caupi. Os resultados mostram que o feijão-caupi possui digestibilidade média de 82,5% (PB), 80,5% (EE) e 47,5% (MS) pelos juvenis de tambaqui e o desempenho zootécnico desses animais não foi prejudicado. Na falta de ingredientes de origem vegetal como farelo de soja, o caupi pode ser incluído, porém, o acréscimo de fontes de origem animal como a farinha de peixe ou a suplementação é necessário para um melhor balanceamento de aminoácidos essenciais.

Palavras-chave: Digestibilidade, desempenho zootécnico, ingrediente alternativo.

vii

ABSTRACT

In Brazil, fish consumption has been growing increasingly in recent years, it is

estimated an average of 9.03 kg of fish by person per year. In the North Area, this

consumption is greater, being estimated at 22 kg fish by person per year. Pisciculture

has contributed greatly to the supply of fish. However, fish production still faces

difficulties such as feeding costs, which represent between 50-70% of the costs of

production. Several studies have been conduced in order to replace traditional

ingredients by alternative ones, trying to make it cheaper for fish feed. The purpose

of this work was to study the digestibility and zootechnical growth performance of

tambaqui, fed with different levels of inclusion of cowpea (Vigna unguiculata). The

experiment was conducted in the Department of Technology and Innovation - COTI /

INPA from September 2011 until February 2012. The present study is written in the

form of chapters: 1) Determination of apparent digestibility coefficients of nutrients

and energy from the meal of cowpea, with and without thermal treatment for juvenile

tambaqui (Colossoma macropomum), 2) Evaluation growth performance and body

composition of juvenile tambaqui fed with different levels of cowpea flour. Chapters

are found in methodologies that were used to evaluate the digestibility and growth

performance of juvenile tambaqui fed with increasing levels of inclusion of cowpea.

The results show that cowpea has good digestibility of nutrients for juvenile tambaqui

and the zootechnical performance of these animals is not impaired. The absence of

ingredients of vegetable origin such as soybean meal, the cowpea may be included.

However, the additional sources of animal origin such as fish meal or

supplementation is required for a better balance of essential amino acids.

Keywords: digestibility, zootechnical growth performance, alternative ingredient.

viii

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 1

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 6

OBJETIVOS ........................................................................................................................ 11

GERAL ................................................................................................................................ 11

CAPÍTULO 1: Determinação dos coeficientes de digestibilidade aparente dos nutrientes e

energia da farinha de feijão-caupi (Vigna unguiculata), com e sem tratamento térmico, para

juvenis de tambaqui (Colossoma macropomum). ................................................................ 12

RESUMO ............................................................................................................................. 12

ABSTRACT ......................................................................................................................... 13

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 14

2. MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................. 17

2.1 Animais utilizados ....................................................................................................... 17

2.2 Manejo dos peixes ..................................................................................................... 17

2.3 Obtenção do feijão-caupi ............................................................................................ 17

2.4 Processamento e obtenção da farinha do feijão-caupi ............................................... 17

2.5 Preparação da ração .................................................................................................. 18

2.6 Digestibilidade do ingrediente ..................................................................................... 20

2.7 Energia digestível (ED) ............................................................................................... 21

2.8 Delineamento experimental ........................................................................................ 21

2.9 Variáveis físicas e químicas da água .......................................................................... 22

2.10 Análises estatísticas ................................................................................................. 22

3. RESULTADOS ................................................................................................................ 23

3.1 Coeficiente de digestibilidade aparente das dietas experimentais .............................. 23

3.2 Coeficiente de digestibilidade aparente dos nutrientes da farinha de feijão-caupi ...... 23

3.3 Valores digestíveis dos nutrientes e energia da farinha de feijão-caupi ...................... 24

4. DISCUSSÃO .................................................................................................................... 25

ix

5. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 28

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 29

CAPÍTULO 2: Avaliação do desempenho zootécnico e da composição corporal de juvenis de

tambaqui (Colossoma macropomum), alimentados com diferentes níveis de farinha de

feijão-caupi (Vigna unguiculata). .......................................................................................... 36

RESUMO ............................................................................................................................. 36

ABSTRACT ......................................................................................................................... 37

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 38

2. MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................................. 41

2.1 Animais utilizados ....................................................................................................... 41

2.2 Obtenção do feijão-caupi ............................................................................................ 41

2.3 Processamento e obtenção da farinha do feijão-caupi ............................................... 41

2.4 Preparação da ração .................................................................................................. 42

2.5 Delineamento experimental ........................................................................................ 44

2.6 Variáveis de desempenho .......................................................................................... 44

2.7 Composição corporal.................................................................................................. 44

2.8 Custo das rações contendo níveis crescentes de inclusão de farinha de feijão-caupi. 45

2.9 Variáveis físicas e químicas da água .......................................................................... 45

2.10 Análises estatísticas ................................................................................................. 46

3. RESULTADOS ................................................................................................................ 47

3.1 Composição corporal.................................................................................................. 47

3.2 Desempenho zootécnico ............................................................................................ 48

3.3 Custos das rações contendo níveis crescentes de inclusão da farinha de feijão-caupi

......................................................................................................................................... 49

4. DISCUSSÃO .................................................................................................................... 50

5. CONCLUSÃO .................................................................................................................. 54

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 55

1

INTRODUÇÃO

De acordo com o Ministério da Pesca e Aquicultura – MPA (2010) a

aquicultura brasileira vem crescendo a cada ano (FAO, 2010). Em 2008 apresentou

uma produção total de 365.366,4 toneladas, seguido de 415.649,4 e 479.398,6

toneladas em 2009 e 2010 respectivamente. A piscicultura continental foi a que mais

contribuiu para o incremento aquícola, representando 82,3 % da produção total.

A Região Norte contribuiu apenas com 41. 581,1 toneladas da produção

nacional, sendo a última colocada entre as regiões produtoras (MPA, 2010). Porém,

entre os estados do Norte, o Amazonas é o que mais se destacou com uma

produção aquícola continental estimada de 10.234,7 toneladas em 2009 e 11.892,2

toneladas em 2010 (MPA, 2009; FAO, 2010; MPA, 2010). Os fatores que

contribuíram para este crescimento foram entre outros, o desenvolvimento de

tecnologias para a produção de peixes em cativeiro, técnicas adequadas de manejo,

alta demanda por pescado na Região Metropolitana de Manaus, e sobre exploração

pela pesca (Gandra, 2010; Inoue e Boijink, 2011).

Entre as espécies de peixes mais produzidas no Brasil, a tilápia (Oreochromis

niloticus) destaca-se com produção em 2010 de 155.450,8 toneladas seguida da

carpa (Cyprinus carpio) com 94.579 t e o tambaqui (Colossoma macropomum) com

54.313,1 t (MPA, 2010).

No Brasil, o consumo de pescado vem crescendo cada vez mais, sendo

estimado como média em 9,03kg peixe/pessoa/ano nos últimos anos. (MPA, 2009;

FAO, 2010). Na Região Amazônica brasileira, o consumo é cerca de 22 kg

peixe/pessoa/ano, considerado um dos maiores do mundo (Batista et al., 2004;

Santos et al., 2006; SEPROR, 2010).

Entre as espécies mais cultivadas estão o tambaqui (Colossoma

macropomum), a matrinxã (Brycon amazonicus) e o pirarucu (Arapaima gigas). O

tambaqui está sendo produzido em todas as regiões do país devido a sua grande

aceitabilidade no mercado (Roubach et al., 2003; Ono, 2005; Kubitza et al., 2007).

No entanto, a produção local não atende a atual demanda de pescado, pois

2

atualmente o Amazonas importa esta espécie de estados como Roraima e Rondônia

para suprir as demandas do mercado regional (SEPROR, 2010).

O Estado do Amazonas além de contar apenas com 1.700 hectares de

lâmina d’água (SEPROR, 2010; Gandra, 2010) e baixas tecnologias utilizadas em

grande parte das pisciculturas, enfrenta a problemática do manejo inadequado dos

peixes, especialmente a alimentação, que dificultam o desenvolvimento da atividade.

Os preços das rações para os peixes representam de 70 a 80% da produção, devido

ao elevado custo dos insumos como: soja, milho, trigo, entre outros, importados de

outras regiões do Brasil que se reflete, finalmente, no custo do pescado para o

consumidor (Logato, 2002; Ono, 2005; Ono et al., 2008; Santos et al., 2010).

Para atender as exigências nutricionais dos peixes a formulação adequada

das rações a serem ofertadas, devem considerar fatores como: a espécie explorada,

hábito alimentar, estágio de desenvolvimentodo animal e conhecimento químico de

cada nutriente que comporá o alimento. De posse desses conhecimentos, os

nutricionistas poderão formular rações que atendam as necessidades dos peixes

com valores adequados de proteínas (aminoácidos), lipídios, carboidratos e energia.

Assim, poderá ser garantida uma melhor produtividade e menor impacto proveniente

dos metabólitos não digeridos e excretados no meio aquático (NRC, 1993; Furuya et

al., 2010).

De posse de uma ração formulada com níveis adequados de nutrientes,

alguns testes devem ser realizados para verificar o quanto de nutrientes foi

aproveitado pelo peixe proveniente da alimentação ofertada. Para isto, são

realizados experimentos de digestibilidade, que descrevem a quantidade do

nutriente e energia da alimentação absorvida pelo animal e não recuperada nas

fezes (NRC, 1993; Andriguetto et al., 2002; Pezzato et al., 2002).

Cada ingrediente que compõe a ração de peixes possui características

próprias como diferentes níveis de aminoácidos essenciais, energia, fatores anti-

nutricionais, entre outros que podem influenciar a digestibilidade dos nutrientes por

parte dos animais (Gonçalves e Carneiro, 2003; Oliveira Filho e Fracalossi, 2006).

De acordo com Boscolo et al. (2002), o conhecimento da digestibilidade da energia e

nutrientes dos alimentos convencionais e alternativos é fundamental para a

formulação de rações na aquicultura, sendo indicador do seu valor nutricional. Esta

3

determinação é pré-requisito para posteriores estudos quanto aos níveis de inclusão

de ingredientes na elaboração de rações.

Diversos alimentos utilizados na elaboração de rações para peixes já

possuem composição centesimal conhecida como: farelo de soja, canola,

amendoim, arroz; farinha de trigo, milho, farinha de peixe, carne e osso etc.

Entretanto, na Região Norte a produção desses insumos não é expressiva, sendo

importadas de outras regiões, o qual encarece o preço das rações para os

produtores e o peixe para o consumidor (Ono, 2005; Ono et al., 2008; Inoue e

Boijink, 2011).

A Região Amazônica possui inúmeros frutos e sementes com grande

potencial para a alimentação de peixes (Maia, 2001), e vêm sendo constatados que

podem substituir ou serem incluídos na formulação de rações para peixes, como

farinha de pupunha, mandioca ou banana.

Pesquisas que visam substituir, total ou parcialmente, os ingredientes

tradicionais, já foram realizadas para baratear os custos de produção das rações

(Pereira Junior, 2006; Silva et al., 2007; Oishi et al., 2010). Oliveira (2005)

demonstrou que frutos e sementes da Amazônia podem ser utilizados como

alimento para o tambaqui, sem comprometer seu crescimento. Rações

experimentais que possuíam na sua composição camu-camu (Myrciaria dúbia) e o

jauari (Astrocaryum jauari) não tiveram diferenças significativas no desempenho

quando comparados à ração controle.

O feijão caupi (Vigna unguiculata) é uma leguminosa da família Fabacea

originaria da África Tropical (Oliveira et al, 2003). Esta cultura foi introduzida para o

consumo humano na Região Amazônica, a partir da vinda dos imigrantes

nordestinos no século XVIII (EMBRAPA, 1987 apud Marinho et al., 2001), por ser

adaptada a clima quente, muito nutritiva e de fácil plantio (EMBRAPA Amazônia

Ocidental, 2002; EMBRAPA Amazônia Ocidental, 2005).

O cultivo do feijão-caupi é uma das atividades mais importantes na

economia agrícola dos municípios do Norte, Nordeste. No Nordeste do Pará a

produtividade média é cerca de 722 kg/ha (Rebello et al., 2010). Recentemente esta

4

leguminosa tem sido inserido como atividade produtiva no estado do Mato Grosso,

sendo obtido em 2010 uma produção de 910 kg/ha (IBGE, 2010).

Estudos da Embrapa Meio Norte revelaram que o feijão-caupi possui

nutrientes essenciais como: proteínas (23 a 25% em média) e todos os aminoácidos

essenciais, além de carboidratos (50% em média), vitaminas, cálcio, ferro, fibras e

baixo teor de lipídios (2%) (Frota et al., 2008).

No Amazonas, vários cultivares de feijão-caupi como BR 8-Caldeirão, IPEAN

V-69, BRS Guariba entre outros, foram testados para plantios em ecossistemas de

terra firme e de várzea com produtividades médias de 800 kg/ha, 1.200 kg/ha e

1.230 kg/ha, respectivamente (EMBRAPA Amazônia Ocidental, 2004).

Flores et al. (2007) realizaram experimento com farinha das sementes de

feijão-caupi (Vigna unguiculata) em substituição a farinha de peixe em rações de

tilápia (Oreochromis niloticus) e avaliaram à inativação de fatores anti-nutricionais

através de tratamento térmico. Concluíram que os melhores valores em ganho de

peso, crescimento específico e deposição de proteína na carcaça foram obtidos

tratando as sementes com injeção de ar quente. Vega et al. (2006) avaliaram o valor

nutritivo do feijão-caupi utilizado como ingrediente em rações para camarão-branco

(Litopenaeus vannamei). Neste trabalho foi demonstrado que as dietas contendo

feijão cozido e extrusado apresentaram melhores coeficientes de digestibilidade

aparente para matéria seca, proteína bruta e carboidratos, concluindo que esta

leguminosa é um bom ingrediente a ser utilizado em dietas para camarão-branco.

Neste contexto é importante a realização de pesquisas utilizando à

biodiversidade amazônica e/ou a potencialidade das culturas adaptadas aos

ambientes amazônicos para serem utilizadas como ingrediente principal,

substituição parcial ou inclusão na dieta para organismos aquáticos, principalmente

peixes (Mori-Pinedo, 1999; Fonseca, 2004; Pereira Junior, 2006).

Sendo o feijão–caupi uma espécie adaptada à região, e aos sistemas

amazônicos, cuja cultura está sendo adotada pelas comunidades ribeirinhas de

baixa renda e tem sido alvo de pesquisas visando o melhoramento da produtividade

e adoção da cultura em larga escala (EMBRAPA Amazônia Ocidental, 2010; Vaz e

Paiva, 2011). Este trabalho teve por objetivo realizar estudos nutricionais para

5

viabilizar sua inclusão como ingrediente nas rações para peixes, visto que já foi

verificada sua eficiência em rações para peixes exóticos e camarão. Tendo em vista

que pesquisas realizadas com essas leguminosas têm demonstrado sua ineficiência

quando utilizada “in” atura, neste trabalho foi testado o tratamento térmico como

redutor de fatores anti-nutricionais, através de testes de digestibilidade e

desempenho zootécnico. Os resultados obtidos poderão contribuir para o

desenvolvimento de futuras pesquisas utilizando este ingrediente na formulação de

rações para peixes, contribuindo assim, com o melhor aproveitamento desta

leguminosa e com o desenvolvimento da piscicultura na região.

6

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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11

OBJETIVOS

GERAL

Avaliar o valor nutritivo do feijão-caupi quando incluso em rações para juvenis

de tambaqui.

ESPECÍFICOS

1. Determinar os coeficientes de digestibilidade aparente dos nutrientes e

energia da farinha de feijão-caupi (Vigna unguiculata) em juvenis de tambaqui.

2. Avaliar o desempenho zootécnico e a composição corporal de juvenis de

tambaqui, alimentados com diferentes níveis de farinha de feijão-caupi (Vigna

unguiculata).

12

CAPÍTULO 1: Determinação dos coeficientes de digestibilidade aparente dos

nutrientes e energia da farinha de feijão-caupi (Vigna unguiculata), com e sem

tratamento térmico, para juvenis de tambaqui (Colossoma macropomum).

RESUMO

A determinação da digestibilidade dos nutrientes de um ingrediente alternativo é um importante passo para avaliar seu potencial nutritivo de inclusão em rações para peixes. O feijão-caupi (Vigna unguiculata) é uma leguminosa cultivada por várias comunidades ribeirinhas, possuindo bons níveis de proteína e carboidratos, sendo um alimento com potencial a ser testado como ingrediente em rações para juvenis de tambaqui, porém feijões são conhecidos por apresentarem fatores antinutricionais como lectinas e taninos, podendo ocasionar prejuízo para o crescimento animal. O objetivo deste trabalho foi determinar os coeficientes de digestibilidade da farinha de feijão-caupi integral e cozida, incluídas em dietas de juvenis de tambaqui (Colossoma macropomum). O experimento foi realizado na Coordenação de Tecnologia e Inovação – COTI/INPA. O estudo de digestibilidade foi inteiramente casualizado, com três tratamentos em triplicata (controle, feijão-caupi cozido e feijão-caupi cru), onde foram utilizados nove cones como unidades experimentais, sendo alocado em cada unidade 18 peixes de 38,5 ± 4,0g. Os peixes foram alimentados duas vezes ao dia (8:00 e 16:00 hs) até saciedade aparente. A coleta de fezes iniciava após 30 minutos da alimentação, sendo posteriormente depositadas em potes pláticos e armazenadas em freezer. O experimento estendeu-se até obter material fecal suficiente (aproximadamente 100 g) para a realização das análises bromatológicas. Como resultado, foi constatado que não houve diferenças significativas nos coeficientes de digestibilidade (CDAs) do feijão cozido e cru, sendo os valores médios de PB, EE e MS de 82,5%, 80,5% e 47,5% respectivamente. Os CDas da PB, EE e MS das rações com feijão cozido e cru também não diferiram estatisticamente, apresentando médias entre os tratamentos de 87,5%, 90,0% e 71,5%. O feijão-caupi é um ingrediente que possui boa digestibilidade quando incluído em rações para juvenis de tambaqui. O feijão-caupi cozido e cru apresentaram CDAs dos nutrientes semelhantes, indicando que o cozimento é desnecessário. O feijão-caupi pode ser incluído como ingrediente nas rações para juvenis de tambaqui.

Palavras-chave: Coeficiente de Digestibilidade Aparente, processamento térmico, feijão-caupi.

13

Determination of apparent digestibility coefficients of nutrients and energy

from the meal of cowpea (Vigna unguiculata), with and without thermal treatment

for juvenile tambaqui (Colossoma macropomum).

ABSTRACT

The Determination of the digestibility of nutrients of an alternative ingredient is an

important step to assess the nutritional potential inclusion in fish alimentation. The

cowpea (Vigna unguiculata) is a legume grown for several riverside communities,

having good levels of protein and carbohydrates. It is a good food to be tested as an

ingredient in ration for juvenile tambaqui, but beans are known to have anti-nutritional

factors such as lectins and tannins, which may cause detriment to the animal growth.

The objective of this study was to determine the digestibility of cowpea flour integral

and cooked, included in diets of juvenile tambaqui (Colossoma macropomum). The

experiment was conducted in the Department of Technology and Innovation - COTI /

INPA. The digestibility study was randomized with three treatments in triplicate

(control, cooked cowpea and raw cowpea), where nine cones were used as

experimental units, each unit being allocated with 18 fish of 38.5 ± 4, 0g. The fish

were fed twice daily (8:00 and 16:00) to apparent satiation. The fecal collection

began after 30 minutes of feeding, and subsequently deposited in jars and plastic

materials stored in a freezer. The experiment was extended until sufficient fecal

material (approximately 100 g) in order to be analyzed. As a result, it was found that

there were no significant differences in digestibility coefficients (CDAs) of baked and

raw cowpea, and the mean values of PB, EE and MS of 82.5%, 80.5% and 47.5%

respectively. The CDAs of PB, EE, and MS of the ration with raw and cooked cowpea

did not differ statistically, presenting an average of 87.5%, 90.0% and 71.5%. The

cowpea is an ingredient that has good digestibility when included in the food for

tambaqui. The cowpea cooked and raw showed CDAS similar in term of nutrients,

indicating that cooking is unnecessary. Therefore, the cowpea can be included as an

ingredient in foods for juvenile tambaqui.

Keywords: Apparent digestibility coefficient, heat processing, cowpea.

14

1. INTRODUÇÃO

Atualmente, a alimentação e nutrição de peixes no mundo tiveram grandes

avanços com relação ao desempenho zootécnico. De maneira geral, os peixes

utilizam a energia da ração para a manutenção do metabolismo, locomoção,

reprodução e transformação da proteína oferecida na ração, em carne (Kubitza,

2000).

Os peixes exigem proteínas, aminoácidos, gorduras, hidratos de carbono,

fibras, vitaminas e minerais em sua dieta. Os tipos e quantidades de cada um dos

nutrientes variam entre e dentro das espécies, com a idade, funções produtivas e

condições ambientais (Pezzato et al., 2004).

Dietas com alta energia em relação à proteína ocasionam maior acúmulo de

gordura corporal. Já rações com baixa quantidade de energia:proteína, resultam na

diminuição do crescimento do animal, que passará a consumir proteína para garantir

o nível de energia compatível com as necessidade energéticas corporais. (Cho,

1992; NRC, 1993; Sá e Fracalossi, 2002; Gonçalves et al., 2009). Por outro lado, o

balanço de energia:proteína nas rações pode também minimizar a poluição do meio

ambiente aquático (Furuya et al, 2004).

Uma dieta balanceada contendo todos os nutrientes exigidos pelos peixes em

cultivo em quantidades e devidas proporções resulta em boa saúde, elevadas taxas

de crescimento e boa produção (Logato, 2000).

A digestibilidade é um dos parâmetros utilizados para avaliar o valor nutritivo

dos alimentos para peixes, porque não basta que a proteína e outro nutriente se

encontrem em alta porcentagem no alimento, se não que ela seja digerível,

assimilada e aproveitada pelo peixe (Santos et al., 2008). O cálculo da

digestibilidade é uma forma de medir o aproveitamento de um alimento, ou seja, a

facilidade com que é convertido, no aparelho digestório, em substâncias úteis para a

nutrição do peixe que o ingere (NRC,1993).

O conhecimento da digestibilidade dos ingredientes das dietas é necessário,

para que a formulação das rações possam atender as exigências nutricionais do

animal. Com base nos estudos sobre os coeficientes de digestibilidade, qualquer

alimento regional poderá ser incluído na dieta animal (Boscolo et al., 2002; Silva et

al., 2007).

15

Pela escassez de dados sobre coeficientes de digestibilidade fica difícil a

formulação de rações para as espécies nativas, diferente do que acontecem para as

espécies exóticas como a truta (Oncorhynchus mykiss), tilápia (Oreochromis

niloticus) e o catfish (Ictalurus punctatus). Esta dificuldade aumenta quando se trata

de ingredientes alternativos, para os quais os valores de digestibilidade não são

conhecidos principalmente para as espécies nativas (Furuya et al., 2010; Boscolo et

al., 2011).

As proteínas do feijão apresentam baixa digestibilidade quando in natura,

porém essa digestibilidade aumenta após tratamento térmico (Soltelo, 1987).

Entretanto, mesmo com o tratamento térmico, a digestibilidade ainda fica limitada,

em função da alteração da estrutura primária das proteínas e pela permanência dos

inibidores de proteases termoestáveis ou polifenólicos que interagem com as

enzimas digestivas e/ou com as proteínas do feijão, formando complexos e

diminuindo o seu grau de hidrólise (Nielsen, 1991).

A criação do tambaqui em cativeiro é bastante onerosa devido aos altos

custos com a alimentação, 70% dos custos da produção. Na Região Norte, onde a

produção de matéria-prima é insignificante, as fábricas de rações tem seu produto

encarecido pelo fato de comprarem em outras regiões os insumos como soja, milho,

trigo, farinha de peixe e demais ingredientes utilizados na produção de alimento para

peixes (Pereira-Filho, 1995; Logato, 2002; Ono, 2005; Santos et al., 2010).

Neste sentido, foram realizadas pesquisas visando à substituição (Mori-

Pinedo, 1999; Anselmo, 2008; Fonseca, 2004) e inclusão (Oishi, 2007; Pereira

Junior, 2006) de ingredientes regionais como alternativa para a elaboração de

rações para peixes, utilizando produtos regionais como fontes de carboidrato e

proteína. Oliveira (2005) avaliou as respostas fisiológicas e bioquímicas do tambaqui

alimentado com frutos e sementes de áreas alagadas como suplemento alimentar.

Com base nos estudos de digestibilidade, pode-se conhecer melhor o valor

dos nutrientes de um alimento regional, incluído o em quantidades adequadas para

os peixes (Lima et al., 2011).

O feijao caupi é uma leguminosa da família Fabacea que contem 25% de

proteína bruta sendo muito produzida na região amazônica por comunidades

ribeirinhas (Oliveira et al, 2003; Medeiros et al., 2008). Pesquisas químicas afirmam

que possui alguns fatores antinutricionais como inibidores de tripsina,

hemaglutininas e fitase, podendo trazer problemas ao sistema digestório do animal,

16

sendo necessário seu cozimento para a inativação desses inibidores (Carnonaro et

al., 2000; Frota, 2007).

A utilização do feijão-caupi como ingrediente para camarão (Litopenaeus

vannamei Boone) e tilápia (Oreochromis niloticus) já foi estudada, obtendo bons

resultados quanto à digestibilidade e desempenho dos animais alimentados com

este ingrediente (Rangel et al., 2003; Frota 2007).

Neste trabalho foi comparada a digestibilidade dos nutrientes do feijão-caupi

(Vigna unguiculata) in natura e cozido, incluído na ração para a alimentação de

juvenis de tambaqui, tendo como objetivo avaliar o efeito do tratamento térmico

sobre o melhor aproveitamento de seus nutrientes.

Os resultados obtidos neste estudo poderão ser utilizados para a inclusão do

feijão-caupi no balanceamento de rações para peixes, contemplando os valores

digestíveis dos nutrientes do feijão para juvenis de tambaqui e assim contribuir para

aumentar a produtividade e diminuir os custos com alimentação (NRC,1993;

Gonçalves e Carneiro, 2003).

17

2. MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado nas instalações da Coordenação de Tecnologia e

Inovação – COTI, do Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia – INPA, Manaus,

durante o mês de setembro, em um período de 22 dias.

2.1 Animais utilizados

Um lote de 170 juvenis de tambaqui, oriundos do COTI/INPA, com peso

médio de 32,50 ± 3,80 g foi utilizado no experimento.

2.2 Manejo dos peixes

Antes do inicio do experimento os peixes foram alocados no galpão de

experimentos do COTI/INPA, em tanques de alvenaria de 2000 L, abastecido por

poço artesiano, onde permaneceram por 10 dias, em processo de aclimatação.

Durante este período, os animais foram alimentados com ração comercial de 32%

de proteína bruta, duas vezes ao dia (8:00 e 16:00h), até a saciedade aparente.

2.3 Obtenção do feijão-caupi

O feijão-caupi foi adquirido junto ao laboratório de sementes da Embrapa

Amazônia Ocidental, Localizada na rodovia Am – 010, Km 29, na quantidade de 10

kg, os quais foram transportados e acondicionados na sala de ração do COTI/INPA

para o posterior processamento.

2.4 Processamento e obtenção da farinha do feijão-caupi

Para comparar a influência do tratamento térmico na digestibilidade do feijão-

caupi, as sementes foram selecionadas retirando os grãos danificados e eliminados

as impurezas. Uma metade (5 kg) recebeu tratamento térmico e a outra metade não

recebeu este tratamento.

18

Para o tratamento térmico das sementes se procedeu da seguinte maneira: 1)

imersão em água (4 l por quilograma) durante 15 horas. 2) descarte da água e

lavagem dos grãos em água corrente. 3) cozimento durante 30 minutos. 4) lavagem

em água corrente. 5) secagem em estufa por 24 horas à 55º C (Nieuwenhuis e

Nieuwelink, 2003).

Um dia após a secagem, as sementes foram moídas em moinho martelo com

abertura de malha de 2 mm entrenós para a obtenção da farinha. Essa farinha foi

peneirada com malha de 8 mm e ensacada em sacos de 3 kg e armazenada em

freezer para posterior utilização. O material que não passou por processamento

térmico foi moído, peneirado, ensacado e armazenado em freezer.

2.5 Preparação da ração

Antes da elaboração das rações, todos os ingredientes foram submetidos a

análises bromatológicas no laboratório de nutrição da COTI/INPA (Tabela 1), para

conhecimento dos valores de umidade (UM), cinzas (CZ), extrato etéreo, proteína

bruta (PB), fibra bruta (FB) e extrato não-nitrogenado (ENN), conforme metodologia

descrita pela AOAC (2000).

Tabela 1: Composição centesimal dos ingredientes utilizados na formulação das rações experimentais.

Ingredientes UM CZ EE PB FB ENN

Farelo de soja 10,10 7,10 1,40 54,40 2,90 24,10 Milho 11,60 1,00 3,30 7,80 1,20 75,10 Farelo de trigo 11,10 5,70 3,00 16,90 5,50 57,80 Farinha de carne e osso 7,90 26,80 9,80 65,30 - - Óleo de soja - - 100,00 - - - Feijão-caupi 11,70 3,80 1,60 27,20 10,10 45,60

UM = Umidade; CZ = Cinzas; EE = Extrato etéreo; PB = Proteína bruto; FB = Fibra Bruta; ENN = Extrato não-nitrogenado.

A formulação das rações utilizadas no experimento foi realizada através do

Software Super Crac.5 (2006), sendo detalhada na tabela 2.

19

Tabela 2: Formulação das rações e Composição centesimal das dietas experimentais utilizadas no experimento de digestibilidade.

Ingredientes (%) Rações

Referência FC cozido FC cru

Farelo de soja 43,80 30,50 30,60 Milho moído 33,70 23,50 23,50 Farelo de trigo 10,00 7,00 7,00 Farinha de carne e osso 5,80 4,06 4,06 Óleo de soja 2,00 1,40 1,40 Fosfato Bicálcico 2,00 1,40 1,40 Suplemento vitamínico e mineral* 2,00 1,40 1,40 Óxido de cromo 0,50 0,50 0,50 Sal comum 0,20 0,14 0,14 Feijão-caupi 0,00 30,00 30,00

Total 100,00 100,00 100,00

Valores calculados PB ração

32,00

32,00

32,00

EB (kcal/Kg) 3.760,00 3.760,00 3.760,00 EB:PB Composição centesimal UM CZ (%) EE (%) PB (%) FB (%) ENN (%) EB (kcal/100g) EB:PB (kcal/100g)

117,50

8,20 10,40 5,00

31,30 2,70

42,40 411,50 13,10

117,50

7,30 6,60 4,50

30,00 1,20

50,40 454,60 15,90

117,50

8,60 6,70 3,30 31,00 2,10 48,30 415,20 13,40

*Microminerais e vitaminas (mg/kg de mistura): manganês (26); zinco (140); ferro (100); cobre (14); cobalto (0,2); iodo (0,6); selênio (0,6), Vit. A (10.000 UI); Vit D3 (4.000 UI); Vit E (100); Vit K (5); Vit B1 (25); Vit B2 (25); Vit B6 (25); Vit B12 (30); niacina (100); ácido fólico (5); ácido pantotênico (50); biotina (0,8); colina (2000); inositol (50); Vit C (350). FC= farinha de feijjão-caupi. UM= umidade; CZ= Cinzas; EE= extrato etéreo; PB= proteína bruta; FB= fibra bruta; ENN= extrato não-nitrogenado; EB= energia bruta; EB:PB= relação energia bruta:proteína bruta. FC= fejão caupi.

Para o estudo da digestibilidade dos nutrientes da farinha de feijão-caupi,

30% da ração referência foi substituído por farinha de feijão-caupi, sem

balanceamento de nutrientes, segundo metodologia descrita por Bureau et al.

(1999).

Os ingredientes foram pesados em balança digital, com capacidade de 5 kg e

precisão de 1 g. Posteriormente, foram misturados e umedecidos até a formação

uma massa firme o suficiente para a formação dos pellets. A massa foi colocada no

moedor de carne com matriz de 3 mm de diâmetro e após a obtenção dos pellets,

foram submetidos a secagem em estufa a temperatura de 40ºC durante 24 horas

Após um período de aproximadamente 24 horas uma amostra de cada ração

formulada foi recolhida para estudos da composição centesimal, de acordo com

20

metodologia descrita pela AOAC (2000). O restante foi guardado em sacos plásticos

de 5 kg e armazenado em freezer na sala de rações do COTI/INPA.

Para a determinação da digestibilidade aparente por via indireta, foi utilizado

o óxido de cromo (Cr2O3) como marcador inerte incorporado às rações a uma

concentração de 0,5% como descrito por Ng e Wilson (1997). Para a determinação

das concentrações de óxido de cromo III (rações e fezes) foi utilizada a metodologia

proposta por Furukawa e Tsukahara (1966).

Sendo conhecida a concentração de Cr2O3 foi calculada a curva de

calibração a partir da digestão nitro-perclórica das amostras. A leitura foi feita em

espectrofotômetro ajustado para 350nm de comprimento de onda e em seguida,

determinadas as concentrações por meio da equação:

y = a +bx

Onde:

y = concentração ótica e x = concentração de cromo na amostra.

2.6 Digestibilidade do ingrediente

A digestibilidade da farinha do feijão-caupi foi determinada por meio da

equação proposta por Bureau et al. (1999), que utilizaram uma simplificação

matemática da equação apresentada por Forster (1999), onde há a substituição de

30% da ração referência pelo ingrediente a ser testado.

CDAingrediente = [CDAteste x Dteste x (0,7 x MSref + 0,3 x MSingr) – (0,7 x Dref x CDAref)]

(0,3 x Dingr)

Onde:

CDAingrediente = coeficiente de digestibilidade aparente do ingrediente testado

CDAteste = coeficiente de digestibilidade aparente da ração teste

Dteste = % de nutriente ou energia da ração teste com base em matéria seca

MSref = matéria seca da ração referência

21

MSingr = matéria seca do ingrediente testado

Dref = % de nutriente ou energia da ração teste com base em matéria original

CDAref = coeficiente de digestibilidade aparente da ração de referência

Dingr = % de nutriente ou energia do ingrediente testado com base em matéria

original.

2.7 Energia digestível (ED)

A energia digestível foi calculada pela seguinte equação:

ED = Ed – [(Ef X Id)/If]

Onde:

Ed = energia da dieta

Ef = energia das fezes

Id = indicador na ração

If = indicador nas fezes.

2.8 Delineamento experimental

O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado,

realizado numa estrutura de fibra de vidro em forma de cone com volume de 200 L,

os quais possuem, na sua extremidade inferior, um sistema constituído de juntas de

PVC com registro hidráulico, onde há um encaixe de rosca para acoplar pré-formas

de garrafa pet (50 ml). Para essa coleta, foi utilizada a metodologia descrita por Cho

et al. (1985) e Cho (1987), modificada por Cantelmo (1998).

O experimento consistiu de três tratamentos em triplicata, onde foram

utilizados nove cones, abastecidas por água de poço artesiano. Em cada unidade

experimental foram colocados 18 peixes de 38,50 ± 4,00g (selecionados através de

uma biometria prévia). Os animais foram alimentados duas vezes ao dia (8:00 h e às

16:00 h) até a saciedade aparente.

22

A coleta de fezes foi iniciada 30 minutos após a alimentação cuja duração

estendeu-se até obter material fecal suficiente (aproximadamente 100 g) para a

realização das análises bromatológicas. As fezes decantadas nos tubos coletores

foram retiradas, homogeneizadas e armazenadas em potes de plástico de 180 ml,

congelados em freezer para posterior liofilização e análise bromatológica.

2.9 Variáveis físicas e químicas da água

As variáveis físico-químicas oxigênio dissolvido, temperatura, condutividade

elétrica e pH foram monitoradas em dias alternados, por meio do aparelho digital,

entre 8 e 9 horas. Os níveis de amônia total e nitrito foram determinadas

semanalmente pelo método colorimétrico segundo Verdouw et al. (1978) e Boyd e

Tucker (1992) respectivamente.

Não foram encontradas diferenças significativas (p<0,05) entre as médias de

todos os parâmetros analisados. Os valores médios de oxigênio dissolvido,

temperatura, pH, e condutividade aferidos durante os períodos de estudo foi de 5,00

mg/L, 28,50ºC, 4,60 e 23,70 μS/cm respectivamente. Para amônia total, nitrito,

dureza e alcalinidade, mensurados semanalmente os valores médios nos

tratamentos foram respectivamente de 0,20 mg/L, 0,04 mg/L, 3,90 mg/L e 3,70 mg/L.

As médias mantiveram-se dentro dos parâmetros recomendados para criação de

tambaqui (Costa et al., 2004; Aride et al., 2007; Baldisserotto e Gomes, 2010).

2.10 Análises estatísticas

Os valores médios do coeficiente de digestibilidade aparente do feijão cozido

e não cozido foram submetidos ao teste t, com nível de significância de 5%. Os

valores médios das variáveis físico-químicos da água de cada tratamento foram

submetidos à análise de variância (ANOVA) one way, com nível de significância de

5%. Todos os testes estatísticos foram realizados através do programa SAEG

(Sistema para análises estatísticas), versão 9.1 (2007).

23

3. RESULTADOS

3.1 Coeficiente de digestibilidade aparente das dietas experimentais

O CDA da matéria seca e nutrientes das rações não foi objetivo deste

trabalho, porém, foram determinadas através da metodologia descrita por Cho et al.,

(1985) e Cho (1987). Não foram encontradas diferenças significativas entre os

tratamentos controle, FC cozido e FC crú para a MS (81,00%, 71,00% e 72,00%),

PB (92,0%, 86,0% e 89,0%) e EE (97,00%, 88,00% e 92,00%) respectivamente. O

CDA do ENN diferiu estatisticamente entre a dieta com FC cozido e cru (70,00 ±

0,02% e 66,00 ± 0,04%) (Tabela 3).

Tabela 3. Coeficiente de digestibilidade aparente da matéria seca e nutrientes das rações experimentais.

Ingrediente Coeficiente de digestibilidade aparente (%) CDAms CDAee CDAprot CDAenn

Feijão Cozido 71,00 ± 0,00 88,00 ± 0,00 86,00 ± 0,00 70,00 ± 0,00a

Feijão cru 72,00± 0,10 92,00± 0,10 89,00 ± 0,10 66,00 ± 0,10b

Valores são médias ± desvio padrão. CDA= coeficiente de digestibilidade aparente. ms= matéria seca; ee= estrato etéreo; prot= proteína; fb= fibra bruta; enn= estrato não-nitrogenado.

3.2 Coeficiente de digestibilidade aparente dos nutrientes da farinha de feijão-

caupi

Não foram encontradas diferenças significativas entre os valores médios dos

coeficientes de digestibilidade aparente (CDAs) da matéria seca, nutrientes e

energia digestível do tratamento com feijão-caupi cozido e cru. O CDA da proteína,

estrato etéreo, estrato não-nitrogenado, matéria seca e energia digestível

apresentou média entre os tratamentos de 82.50%, 80.50%, 49,00%, 47,50% e

52,50% respectivamente. O CDAs da fibra bruta para ambos os tratamentos

apresentaram médias negativos (Tabela 4).

24

Tabela 4. Coeficiente de digestibilidade aparente da matéria seca, nutrientes e energia do feijão-caupi.

Ingrediente Coeficiente de digestibilidade aparente (%)

CDAms CDAee CDAprot CDAenn CDAed

Feijão Cozido 46,00 ± 0,00 79,00 ± 0,00 84,00 ± 0,00 50,00 ± 0,00 54,00 ± 0,00

Feijão cru 49,00± 0,10 82,00± 0,10 81,00 ± 0,10 39,00 ± 0,10 51,00 ± 0,10

Valores são médias ± desvio padrão. CDA= coeficiente de digestibilidade aparente. ms= matéria seca; ee= estrato etéreo; prot= proteína; fb= fibra bruta; enn= estrato não-nitrogenado; ed= energia digestível.

3.3 Valores digestíveis dos nutrientes e energia da farinha de feijão-caupi

Os valores digestíveis dos nutrientes e energia do feijão-caupi cozido e cru

não apresentaram diferenças significativas entre os tratamentos. Para estrato

etéreo, proteínas, extrato não-nitrogenado e energia digestível as médias variaram

entre 1,31 a 1,26%, 22,03 a 22,85%, 22,35 a 28,65% e 228,68 a 242,14%

respectivamente para feijão-caupi cozido e cru (Tabela 5).

Tabela 5. Valores digestíveis de nutriente e enregia do feijão-caupi cozido e cru.

Ingrediente Valores digestíveis (%) ee prot enn ed

Feijão Cozido 1,31 ± 0,10 22,03 ± 0,00 22,35 ± 0,10

228,68± 0,10 Feijão cru 1,26± 0,00 22,85 ± 0,10 28,65 ± 0,00

242,14±0,10

Valores são médias ± desvio padrão. ee= estrato etéreo; prot= proteína; enn= estrato não-nitrogenado; ed = energia digestível.

25

4. DISCUSSÃO

Os CDAs da matéria seca e nutrientes das dietas com FC cozido e cru foram

satisfatórios, tendo o tambaqui digerido valores médios de 71,50% para MS, 87,50%

para PB e 90,00% para EE. Vega et al. (2006) e Azaza et al. (2009) encontraram

valores semelhante para a digestibilidade desses mesmos nutrientes em rações que

utilizaram feijão-caupi e feijão faba respectivamente como alimento alternativo para

camarão branco (Litopenaus vannamei) e tilápia nilótica Oreochromis niloticus.

O CDA para ENN diferiram entre as dietas experimentais, sendo este

nutriente melhor digerido para o tratamento FC cozido (70,0%). Bonett et al., (2007)

explica que fontes vegetais quando aquecida proporcionam melhor aproveitamento

de carboidratos, pois ocorre a gelatinização do amido, ficando mais disponíveis para

a digestão. Porém, estudos de nutrição de peixes indicam o baixo aproveitamento

dos carboidratos por esses animais, já que são heterotérmicos e excretam

compostos nitrogenados em forma de amônia gastando menos energia do que

animais de sangue quente (Sampaio et al., 2000). A baixa quantidade de

carboidratos em rações para peixes não compromete seu desempenho, já que estes

animais são heterotérmicos e não necessitam de altas taxas de energia para a

mantença (Logato, 2000; Cyrino et al., 2004; Gonçalves et al., 2009).

A digestibilidade das fibras tanto para o tratamento com feijão-caupi cozido

como para o cru apresentou valores negativos, como era esperado, pois peixes não

possuem enzimas que digerem fibras e o teor deste nutriente deve ser empregada

com moderação para não comprometer a digestibilidade do ingrediente, alterações

na velocidade de trânsito gastrointestinal, bem como na deposição de gordura na

carcaça (Meurer et al., 2003; Lanna et al., 2004; Furuya et al., 2010). Estes efeitos

deletérios são confirmados por Luo et al. (2006) e Bergamin et al. (2010), os quais

descrevem prejuízo para o crescimento de peixes quando se tem uma alta inclusão

de fibras em suas dietas.

Ao serem analisados os dados de CDA da matéria seca, nutrientes e energia

do feijão-caupi crú e submetido ao tratamento térmico (cozido) não foram

encontradas diferenças significativas entre as médias dos nutrientes analisados, o

que difere dos resultados encontrados por Vega et al. (2006), onde os testes que

26

foram submetidos a tratamento térmico (cocção e autoclavagem) tiveram os

melhores valores para o Coeficiente de digestibilidade de PB, MS e ENN em relação

ao tratamento que continha apenas feijão-caupi integral. Fernández et al. (1982)

afirmam que a casca de feijões possui uma quantidade considerável de compostos

polifenólicos como os taninos, os quais são termoestáveis e causam a inibição de

enzimas como a tripsina e quimiotripsina.

No presente trabalho, o cozimento dos feijões com a casca pode não ter sido

eficiente, pois muitos inibidores de protease ou polifenóis presentes na casca de

feijões são termoestáveis, além disso, são mencionadas temperaturas acima de

100ºC para que a inibição de taninos em feijões com casca tenha maior eficiência

(Grabner e Hofer, 1985; Lajolo e Genovese, 2002; Shoshima et al., 2005). Azaza et

al., (2009) discorda destas informações mencionadas acima, pois trabalhando com

feijão faba (Vicia faba L.) como ingredientes para tilápia do Nilo, apesar de não ter

feito nenhum tipo de tratamento térmico nos grãos, estes tiveram alta digestibilidade

(88,2%) quando foram incluídos em até 26% em dietas para tilápia nilóticas.

O coeficiente de digestibilidade aparente (CDA) de vários subprodutos e

produtos de origem vegetal têm sido estudados, apresentando altos valores

digestíveis de PB, EE, ED entre outros nutrientes (Santos et al., 2008).

O CDA da PB, EE e ENN do feijão-caupi foram, em média, de 82,50%,

80,50% e 49,00% respectivamente, evidenciando que estes nutrientes são tão

digestíveis quanto outros ingredientes de origem vegetal como Jauari (Astrocaryum

jauari), embaúba (Cecropia sp.), munguba (Pseudobombax munguba), seringa

barriguda (Hevea spruceana), castanha da Amazônia (Bertholletia excelsa),

sementes de araçá-boi (Psidium araçá R.), resíduos de jenipapo (Genipa

americana), camu-camu (Myrcia dúbia) e acerola (Malpighia glabra L.), utilizados na

dieta de juvenis de tambaqui (Silva et al., 2003; Oishi, 2007; Anselmo, 2008).

Os valores digestíveis médios da proteína (22,44%) e energia (235,41%) tanto

do feijão-caupi cozido quanto cru evidenciam que este alimento pode substituir fonte

proteica de origem vegetal como o farelo de soja, pois no trabalho de Gonçalves e

Carneiro (2003) estudando o valor digestível da proteína e energia do farelo de soja

pelo pintado (Pseudoplatystoma coruscans) constataram que a proteína e energia

digestível apresentaram média de 30,86% e 270,84% respectivamente.

27

Com base aos resultados obtidos sobre a digestibilidade do feijão-caupi e das

rações com inclusão deste grão, e comparações com a literatura consultada,

podemos sugerir a inclusão deste ingrediente na dieta de juvenis de tambaqui. Pode

também substituir outros ingredientes tradicionais de origem vegetal na ausência

destes, visto que possui boa digestibilidade de PB, EE e ENN.

28

5. CONCLUSÃO

O tratamento térmico não influenciou na digestibilidade da farinha de feijão-

caupi. Os coeficientes de digestibilidade de seus nutrientes e energia foram bons,

sugerindo que a utilização da farinha de cupi in natura, em rações para juvenis de

tambaqui, pode substituir a soja quando esta estiver em falta no mercado.

29

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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36

CAPÍTULO 2: Avaliação do desempenho zootécnico e da composição corporal

de juvenis de tambaqui (Colossoma macropomum), alimentados com diferentes

níveis de farinha de feijão-caupi (Vigna unguiculata).

RESUMO

A alimentação é o setor da cadeia produtiva que mais onera a produção piscícola, sendo responsável por 70% dos custos. Fontes alternativas de alimento são utilizadas com o objetivo de baratear as rações para peixes, porém o ingrediente incluído deve possuir níveis de nutrientes que atenda as exigências nutricionais dos animais, proporcionando assim um melhor desempenho dos peixes e menor emissão de efluentes para o meio. O objetivo deste trabalho foi avaliar o desempenho zootécnico de juvenis de tambaqui quando alimentados com dietas contendo níveis crescentes (10, 20 e 30%) de inclusão de feijão-caupi (Vigna unguiculata). O experimento foi realizado nas dependências da Coordenação de Tecnologia e Inovação – COTI/INPA, sendo constituído de quatro tratamentos (controle, 10, 20 e 30% de feijão-caupi) em triplicata, com delineamento inteiramente casualizado. 8 exemplares de juvenis de tambaqui (53 ± 0,7g) foram alocados em 12 caixas d’água sendo alimentados duas vezes ao dia (8:00 e 16:00 hs) até a saciedade aparente, num período de 60 dias. Foram amostrados cinco peixes no início do experimento e ao final, três peixes de cada unidade experimental. As variáveis de desempenho zootécnicas analisadas foram: ganho de peso (GP), conversão alimentar aparente (CAA), taxa de crescimento específico (TCE), taxa de crescimento relativo (TCR) e taxa de eficiência proteica (TEP). Para a composição corporal houve aumento de gordura na carcaça dos peixes alimentados com 10, 20 e 30% de feijão-caupi (29,8%), em relação ao controle (27,0%) e os peixes iniciais (19,6%). Houve diferença significativa no teor de PB entre os tratamentos e os peixes iniciais, sendo que o menor valor foi encontrado nas dietas com 30% de inclusão de feijão-caupi. Os índices de desempenho zootécnico não apresentaram diferenças significativas entre os tratamentos, tendo valores médios de GP, CAA, TCE, TCR e TEP de 63,9 g, 2,3:1, 1,0% /dia, 120,5% e 1,3%. A inclusão de feijão-caupi em rações para juvenis de tambaqui não traz prejuízo ao desenvolvimento desses animais, sendo o nível de inclusão de 10% é o mais indicado em dietas para juvenis de tambaqui, porém, quando utilizado o feijão-caupi, outras fontes proteicas se fazem necessárias, visto que este ingrediente possui baixas quantidades de aminoácido sulfurado como metionina e cistina.

Palavras-chave: ingrediente alternativo, feijão-caupi, composição corporal, desempenho zootécnico.

37

Evaluation of growth performance and body composition of juvenile tambaqui

(Colossoma macropomum) fed with different levels of cowpea flour (Vigna

unguiculata).

ABSTRACT

Feeding is a sector in the supply chain that more encumbrance the fish production, accounting for 70% of costs. Alternative food sources are used in fish feed rations in order to make it cheaper, but should have included the ingredient nutrient levels that meets the nutritional requirements of animals, thus providing better performance of the fish and lower emission of effluents to the environment. The objective of this study was to evaluate the growth performance of tambaqui fed on diets containing increasing levels (10, 20 and 30%) cowpea (Vigna unguiculata). The experiment was performed at the Department of Technology and Innovation - COTI / INPA, consisting of four treatments (control, 10, 20 and 30% cowpea) in triplicate with a randomized design. 8 samples of tambaqui (53 ± 0.7 g) were divided into 12 water tanks and fed twice daily (8:00 and 16:00) until apparently filled over a period of 60 days. Five fish were collected at the beginning, and at the end of the experiment, three fish from each experimental unit. The variables zootechnical performance analyzed were concluded: weight gain (WG), feed conversion ratio (FCR), specific growth rate (SGR), relative growth rate (RGR) and protein efficiency rate (PER). For the body composition increased the carcass fat of fish fed with 10, 20 and 30% of cowpea (29.8%), related to the control (27.0%) and the initial fish (19.6%). There were significant differences in PB between treatments and the initial fish, and the lowest value was found in diets with 30% inclusion of cowpea. Performance did not present differences between treatments with mean values of GP, CAA, TCE, TCR and TEP of 63.9 g, 2.3:1, 1.0% / day, 120.5% and 1.3%. The inclusion of cowpea in the food for tambaqui does not bring harm to the development of these animals, and the inclusion level of 10% is most useful in diets for juvenile tambaqui. However, when cowpea is used, other protein sources are necessary because this ingredient has low amounts of sulphide containing amino acid such as methionine and cystine.

Keywords: alternative ingredient, cowpea, body composition, zootechnical performance.

38

1. INTRODUÇÃO

A piscicultura na Região Norte é vista como uma grande oportunidade de

geração de proteína animal para alimentação humana, pois possui clima favorável,

grande volume de água doce e uma rica ictiofauna, além de contar com a tradição

cultural da alimentação a base de peixes. No entanto, a piscicultura nortista enfrenta

problemas como carência em assistência técnica para os piscicultores e

conhecimento básicos sobre boas práticas de manejo e nutrição das espécies

produzidas na região (IBGE, 2003; Roubach et al., 2003; Ono, 2005; IBAMA 2008).

Entre as principais espécies de peixes produzidos em cativeiro na Região

Norte, o tambaqui (Colossoma macropomum) é o mais comercializado e apreciado

pela população local, pois sua carne é saborosa, o pacote tecnológico é o mais

desenvolvido, além de possuir características peculiares para o sucesso de sua

produção em cativeiro como robustez, rápido crescimento e boa aceitação com

relação à alimentação artificial (Melo, 2004; Santos et al., 2006; Martins Jr., 2009).

A alimentação é a parte mais onerosa da cadeia produtiva para os

piscicultores, sendo responsável por 50 a 70% dos custos de uma piscicultura. Este

problema se agrava ainda mais no norte devido à baixa produção de matérias-

primas como soja, milho, trigo, farinha de peixe e demais ingredientes utilizados na

produção de rações, o que resulta em preços mais elevados para o piscicultor e

consecutivamente para o consumidor de peixe (Rotta, 2002; Ono, 2005; Santos et

al., 2010).

Segundo Maia e Chalco (2002) a floresta amazônica desempenha papel

fundamental na alimentação das espécies de peixes amazônicos, pois durante o

período de cheia estes penetram nas áreas alagadas e alimentam-se dos frutos e

sementes como seringa barriguda (Hevea spruceana), mari-mari (Cassia leiandra),

cuia (Crescentia amazonica), arapari (Macrolobium acaciaefolium), jauari

(Astrocaryum jauari), camu-camu (Myrciaria dubia), entre outros produzidos pelas

várzeas, sendo a produção destes alimentos estimado em 16 a 65 milhões de

toneladas anualmente. (Waldhoff et al., 1996; Maia, 2001).

39

Silva et al. (2003) pesquisou com o conteúdo estomacal de tambaqui para

identificação da espécie e tipo de frutos consumidos na dieta deste peixe.

Constatou-se que 133 espécies de frutos e sementes compõem a alimentação do

Colossoma macropomum. Neste estudo ainda foi possível concluir, através de

análises bromatológicas, que esses alimentos são mais energéticos que proteicos.

Várias pesquisas têm sido realizadas com o objetivo de aproveitar o rico

potencial de frutos e sementes regionais para substituição e/ou inclusão nas rações

para alimentação de peixes. Resíduos de produtos regionais, como o araçá-boi

(Psidium araçá R.), acerola (Malpighia glabra L.), jenipapo (Genipa americana),

camu-camu (Myrciaria dúbia), jauari (Astrocaryum jauari), munguba (Pseudobombax

munguba), catoré (Crataeva benthami), embaúba (Cecrobia latiloba), pupunha (Back

gasipae H.B.K.) foram utilizados com o objetivo de verificar seu efeito no

desempenho dos peixes (Mori-Pinedo et al.,1994; Silva et al., 2000; Oliveira, 2005;

Oishi, 2007; Anselmo, 2008).

Em trabalhos de nutrição, o uso de variáveis que mensurem a produtividade

dos animais (conversão alimentar, ganho de peso, taxa de sobrevivência, taxa de

crescimento, entre outras) é muito importante, pois através destas informações o

nutricionista pode aferir o quanto o alimento ofertado está contribuindo para o

desenvolvimento e qualidade do animal produzido. Portanto, os testes das variáveis

de desempenho zootécnicos são muito importantes e devem ser avaliados para

saber qual nível de inclusão o peixe melhor aproveita o alimento, sem causar

prejuízo para seu desenvolvimento e saúde (Santos et al.,2004;Tesser e Sampaio,

2006; Santos et al.,2010).

Moraes et al., (2009) e Souza et al., (2011) acompanharam o

desenvolvimento produtivo de tilápia (Oreochromis niloticus) e robalo-peva

(Centropomus parallelus) respectivamente, alimentados com diferentes rações

comerciais. Para a tilápia a melhor conversão alimentar e menor custo de produção

foram obtidos com a ração contendo 14,6% de PB e 10,8% de EE. Já para o robalo,

a dieta com maior concentração proteica (490 g kg-1) promoveu os melhores índice

zootécnicos e econômicos .

O feijão-caupi (Vigna unguiculata) é uma leguminosa que tem seu plantio

realizado por muitas comunidades ribeirinhas, já que esta planta é adaptada às

40

condições climáticas da Região Amazônica, possuindo uma boa produtividade por

hectare. É um alimento bastante nutritivo, pois apresentam em média 25% de

proteína bruta, 55% de carboidrato, 1,7% de lipídios, 3,4% de cinzas, rico em lisina e

em outros aminoácidos essenciais. Com todas essas características, o feijão-caupi

aparece como um bom ingrediente a ser testado em alimentação de peixe

(Embrapa, 2002; Oliveira et al., 2003; Rebello et al., 2011)

O aumento dos custos de produção traz a necessidade da busca por fontes

alternativas de alimento que atendam as necessidades nutricionais de animais

criados em confinamento. Entretanto, é de vital importância o conhecimento do valor

nutritivo desses alimentos e sua inclusão em dietas animais, objetivando a

diminuição dos custos e aumento da produção (Tucci et al., 2003; Veiverberg et al.,

2008).

Neste trabalho foram avaliados os índices de desempenho zootécnicos de

juvenis de tambaqui alimentados com dietas contendo níveis de inclusão (0, 10, 20 e

30%) de feijão-caupi, tendo como objetivo avaliar o desenvolvimento corporal dos

juvenis alimentados com essas rações.

Os resultados obtidos neste estudo poderão ser utilizados como base para

estudos futuros que visem utilizar o feijão-caupi como ingredientes para juvenis de

tambaqui, contribuindo assim para o conhecimento dessa fonte alternativa de

alimento.

41

2. MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi realizado nas dependências da Coordenação de

Tecnologia e Inovação – COTI/INPA, Manaus, Amazonas, durante um período de 75

dias.

2.1 Animais utilizados

Juvenis de tambaqui foram adquiridos na Estação de Aquicultura da Fazenda

Experimental da UFAM, localizada no município de Manaus, Km 38 da BR 174.

Cerca de 400 juvenis de tambaqui, com peso médio de 47,0 ± 2,4g, foram

transportados para a COTI/INPA, onde foram aclimatados durante um período de 10

dias em tanques de concreto de 2000 L abastecidos por poço artesiano, onde

permaneceram até o início dos experimentos. Os peixes foram alimentados com

ração comercial contendo 28% de proteína bruta (PB), duas vezes ao dia (8:00 h e

16:00 h), até a saciedade aparente.

2.2 Obtenção do feijão-caupi

O feijão-caupi foi adquirido junto ao laboratório de sementes da Embrapa

Amazônia Ocidental, Localizada na rodovia Am – 010, Km 29, na quantidade de 10

kg, os quais foram transportados e acondicionados na sala de ração do COTI/INPA

para o processamento.

2.3 Processamento e obtenção da farinha do feijão-caupi

As sementes foram selecionadas retirando os grãos danificados e eliminados

as impurezas. Os 10 kg passaram pelo seguinte processamento térmico: 1) imersão

em água (4 L/kg) durante 15 horas. 2) descarte da água e lavagem dos grãos em

água corrente. 3) cozimento durante 30 minutos. 4) lavagem em água corrente. 5)

secagem em estufa por 24 horas à 55º C (Nieuwenhuis e Nieuwelink, 2003).

Um dia após a secagem, as sementes foram moídas em moinho martelo com

abertura de malha de 2 mm entrenós para a obtenção da farinha. Essa farinha foi

42

peneirada com malha de 8 mm e ensacada em sacos de 3 kg e armazenada em

freezer para posterior utilização.

2.4 Preparação da ração

Antes da elaboração das rações, os ingredientes foram submetidos a análises

bromatológicas no laboratório de nutrição da aquicultura (COTI/INPA) (Tabela 1),

para conhecer os valores de umidade (UM), cinzas (CZ), extrato etéreo, proteína

bruta (PB), fibra bruta (FB) e extrato não-nitrogenado (ENN), conforme metodologia

descrita pela AOAC (2000).

Tabela 1. Composição centesimal dos ingredientes utilizados na formulação das rações experimentais.

Ingredientes UM CZ EE PB FB ENN

Farelo de soja 10,10 7,10 1,40 54,40 2,90 24,10

Milho 11,60 1,00 3,30 7,80 1,20 75,10

Farelo de trigo 11,10 5,70 3,00 16,90 5,50 57,80

Farinha de carne e osso 7,90 26,80 9,80 65,30 - -

Óleo de soja - - 100,00 - - -

Feijão-caupi 11,70 3,80 1,60 27,20 10,10 45,60

UM = Umidade; CZ = Cinza; EE = Extrato etéreo; PB = Proteína bruto; FB = Fibra Bruta; ENN = Extrato não-nitrogenado.

Foram formuladas, através do Software Super Crac.5 (2006), quatro rações

experimentais com diferentes níveis de inclusão de farinha de feijão-caupi (0,0; 10,0;

20,0 e 30,0 %). As rações foram formuladas para serem isoprotéicas e

isoenergéticas (Tabela 2).

43

Tabela 2. Formulação e composição centesimal das rações experimentais utilizadas no experimento de desempenho para juvenis de tambaqui.

Ingredientes (%) Rações

Controle F.C 10% F.C 20% F.C 30%

Farelo de soja 6,47 32,98 31,23 28,50

Milho moído 5,99 16,11 20,91 21,63

Farelo de trigo 50,00 21,07 8,38 0,74

Farinha de carne e osso 30,00 10,00 10,00 10,00

Óleo de soja 3,42 5,72 5,36 5,01

Fosfato Bicálcico 2,00 2,00 2,00 2,00

Suplemento vitamínico e mineral* 2,00 2,00 2,00 2,00

Sal comum 0,12 0,12 0,12 0,12

Feijão-caupi 0,00 10,00 20,00 30,00

Total 100,00 100,00 100,0 100,0

Valores calculados

PB ração

32,00

32,00

32,00

32,00

EB (kcal/Kg) 3.760,00 3.760,00 3.760,00 3.760,00

EB:PB

Composição centesimal

UM (%)

CZ (%)

EE (%)

PB (%)

FB (%)

ENN (%)

EB (kcal/100g)

EB:PB (kcal/100g)

117,50

4,60

13,80

8,10

33,40

2,70

39,00

437,40

13,30

117,50

5,10

9,50

8,10

33,60

2,40

41,50

447,70

13,30

117,50

5,10

8,60

8,20

33,60

2,10

42,30

451,60

13,40

117,50

4,90

8,70

7,70

33,40

2,20

43,60

448,70

13,60

*Microminerais e vitaminas (mg/kg de mistura): manganês (26); zinco (140); ferro (100); cobre (14); cobalto (0,2); iodo (0,6); selênio (0,6), Vit. A (10.000 UI); Vit D3 (4.000 UI); Vit E (100); Vit K (5); Vit B1 (25); Vit B2 (25); Vit B6 (25); Vit B12 (30); niacina (100); ácido fólico (5); ácido pantotênico (50); biotina (0,8); colina (2000); inositol (50); Vit C (350). FC= feijão-caupi. UM= umidade; CZ= cinza; EE= extrato etéreo; PB= proteína bruta; FB= fibra bruta; ENN= extrato não nitrogenado; EB= energia bruta; EB:PB= relação energia bruta: proteína bruta.

Os ingredientes foram pesados em balança digital, com capacidade de 5 kg e

precisão de 1 g. Posteriormente, foram misturados e umedecidos até a formação de

massa firme o suficiente para a formação dos pellets. A massa foi colocada no

moedor de carne com matriz de 3 mm de diâmetro e após a obtenção dos pellets,

foram submetidos a secagem em estufa a temperatura de 40ºC durante 24 horas

Após período de aproximadamente 24 horas uma amostra de cada ração

formulada foi recolhida para estudos da composição centesimal, de acordo com

metodologia descrita pela AOAC (2000). O restante foi guardado em sacos plásticos

de 5 kg e armazenado em freezer na sala de rações da aquicultura (COTI/INPA).

44

2.5 Delineamento experimental

O experimento foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado,

constando de 4 tratamentos em triplicata. Foram utilizados juvenis de tambaqui, com

peso médio de 53,0 ± 0,7 g, colocados em 12 caixas d’água com volume últil de 120

L, abastecidas com água de poço artesiano, sendo colocados 8 exemplares por

unidade experimental. Os animais foram alimentados duas vezes ao dia (8:00 h e às

16:00 h) até a saciedade aparente, num período de 75 dias.

No decorrer do experimento, 96 peixes foram pesados a cada 15 dias em

balança digital, com capacidade de 5 kg e precisão de 1 g, e medidos por um

ictiômetro, para posterior análise dos índices zootécnicos.

2.6 Variáveis de desempenho

Foram analisados os índices zootécnicos descritos na tabela 3.

Tabela 3. Índices zootécnicos avaliados.

Índices zootécnicos Fórmulas

GP Peso final (g) – peso inicial (g)

CAA Quantidade de ração fornecida (g) / Ganho de peso (g)

TCE 100 X [(ln Pf – ln Pi) / t]

TCR (%) 100 x (Pf – Pi) / Pi

TEP Ganho de peso (g) / PB ingerida (g)

GP = ganho de peso; CAA = conversão alimentar aparente; TCE = taxa de crescimento específico; TCR = taxa de crescimento relativo; TEP = taxa de eficiência proteica. Pi = peso inicial; Pf = peso final; t = tempo; ln = logaritmo.

2.7 Composição corporal

Para mensurar os efeitos dos tratamentos na composição corporal dos

peixes, foram coletados cinco peixes no início do experimento. Ao final do

experimento foram coletados três peixes de cada unidade experimental. Os peixes

coletados foram embalados em sacos plásticos e congelados. Posteriormente, foram

triturados e liofilizados para análise bromatológica.

45

As análises bromatológicas: umidade (UM), proteína bruta (PB), extrato

etéreo (EE), fibra bruta (FB), cinzas (CZ), extrato não-nitrogenado (ENN) e energia

bruta (EB)foram realizadas com procedimentos da AOAC (2000).

2.8 Custo das rações contendo níveis crescentes de inclusão de farinha de

feijão-caupi.

Foi calculada através do software Super Crac.5 (2006), que é um sistema

para formulação de rações de custo mínimo.

2.9 Variáveis físicas e químicas da água

As variáveis físico-químicas oxigênio dissolvido, temperatura, condutividade

elétrica e pH foram monitoradas em dias alternados, por meio do aparelho digital. Os

níveis de amônia total e nitrito foram determinadas semanalmente pelo método

colorimétrico segundo Verdouw et al. (1978) e Boyd e Tucker (1992)

respectivamente.

Não foram encontradas diferenças significativas (p<0,05) entre as variáveis

monitoradas nos quatro tratamentos ao longo da realização do experimento. Para o

oxigênio dissolvido a média, durante o período de estudo, foi de 5,6 mg/L. Para a

temperatura o valor médio foi de 27,5 ºC. A média do pH manteve-se em 4,5.

Amônia total e nitrito apresentaram respectivamente as seguintes médias: 0,1 mg/L

e 0,02 mg/L para os quatro tratamentos. Finalmente, as médias de condutividade,

dureza e alcalinidade foram de 23,5 μS/cm, 3,7 mg/L e 3,5 mg/L respectivamente,

entre os tratamentos.

As variáveis físicas e químicas da água dos tratamentos experimentados

apresentaram as médias para oxigênio dissolvido de 5,6 ± 0,3 mg/L, pH 4,5 ± 0,0,

temperatura 27,5 ± 0,1°C, condutividade 23,5 ± 0,7 μS/cm, amônia total 0,1 ± 0,0

mg/L, nitrito 0,05 ± 0,0 mg/L, dureza 3,7 ± 0,8 mg/L e alcalinidade 3,5 ± 0,7 mg/L.

Estes valores mantiveram-se dentro dos parâmetros recomendados para criação de

tambaqui (Costa et al., 2004; Aride et al., 2007; Baldisserotto e Gomes, 2010).

46

2.10 Análises estatísticas

Os valores médios dos índices zootécnicos, composição corporal e das

variáveis físico-químicos da água de cada tratamento foram submetidos à análise de

variância (ANOVA) one way, com nível de significância de 5%. Todos os testes

estatísticos foram realizados através do programa SAEG (Sistema para análises

estatísticas), versão 9.1 (2007).

47

3. RESULTADOS

3.1 Composição corporal

Os valores de umidade diferiram significativamente entre o peixe inicial (70%)

e após os tratamentos com 10, 20 e 30% de inclusão de farinha de feijão-caupi (FC),

que apresentaram valores médios de 68,4% de umidade entre os tratamentos

citados acima.

Para proteína bruta foram observadas diferenças significativas entre peixe

inicial (60,7%) e os tratamentos controle (55,7%) e os tratamentos com 10% de FC

(56,2%), 20% de FC (51,9%) e 30% de FC (52,2%). Entre os tratamentos que foram

alimentados com FC, a diferença encontrada esteve entre os tratamentos com

10%de FC (56,2%) e 30% de FC (52,2%), sendo encontrado maior teor de proteína

na carcaça do primeiro tratamento citado.

No extrato etéreo, os tratamentos com 10, 20 e 30% de FC não diferiram

entre si, sendo a média dos três tratamentos de 29,8%, resultando em maior

acúmulo de gordura em relação ao controle (27,0% de EE) e ao peixe inicial (19,6%

de EE).

As cinzas não diferiram estatisticamente entre os tratamentos testados no

experimento.

Os valores dos nutrientes analisados na composição corporal dos peixes no

início e final do experimento podem ser observados na tabela 4.

Tabela 4. Composição corporal de juvenis de tambaqui alimentados com dietas contendo níveis crescentes de inclusão de farinha de feijão-caupi.

Tratamento Dados a 100% de matéria seca

UM (%) PB (%) EE (%) CZ (%)

Inicial 70,00 ± 1,10a

60,70 ± 0,30a

19,60 ± 0,4c

13,30 ± 0,10

Controle 70,30 ± 1,10ab

55,70 ± 1,20bc

27,00 ± 0,50b 13,30 ± 0,80

10% de FC 68,70 ± 1,50b 56,20 ± 0,70

b 27,80 ± 2,70

a 12,60 ± 0,60

20% de FC 68,40 ± 0,30b 51,90 ± 1,40

bc 30,50 ± 0,40

a 12,30 ± 1,40

30% de FC 68,10 ± 1,70b 52,20 ± 1,00

c 31,30 ± 0,50

a 11,90 ± 0,80

Valores são médias ± desvio padrão. Letras diferentes na mesma coluna representam diferenças significativas (p<0,05). FC= feijão-caupi. UM= umidade; PB= proteína bruta; EE= extrato etéreo; CZ= cinza.

48

3.2 Desempenho zootécnico

Não foi encontrada diferença significativa entre os pesos dos peixes nos

tratamentos. Os valores médios dos pesos depois de 75 dias foram de 92,0 g, 85,9

g, 92,9 g e 94,7 g, respectivamente para os tratamentos controle e com inclusão de

10, 20 e 30% de FC, crescendo ao longo do período experimental (Figura 1).

As variáveis analisadas neste experimento não diferiram significativamente

(p<0,05) entre os tratamentos analisados. As seguintes médias foram encontradas

entre os tratamentos: 63,9 g para ganho de peso, 2,3:1 para conversão alimentar,

1,0%/dia para taxa de crescimento específico, 120,5% para taxa de crescimento

relativo, 0,7 % para unidade liquida de proteína e 1,3 % para taxa de eficiência

proteica (Tabela 5).

Tabela 5. Variáveis de desempenho zootécnico de juvenis de tambaqui alimentados com dietas contendo níveis crescentes de inclusão de farinha de feijão-caupi.

Variáveis zootécnicas Tratamentos

Controle 10% FC 20% FC 30% FC

GP (g) 57,30 ± 8,10

59,30 ± 11,50

71,60 ± 3,10

67,40 ± 14,90

CAA 2,30 ± 0,30 2,60 ± 0,70 2,10 ± 0,10 2,50 ± 0,60

TCE (%/dia) 1,00 ± 0,10 1,00 ± 0,10 1,10 ± 0,00 1,10 ± 0,20

TCR (%) 107,10 ± 15,60 113,20 ± 23,00 135,60 ± 7,10 126,10 ± 26,50

TEP (%) 1,40 ± 0,20 1,30 ± 0,20 1,40 ± 0,10 1,30 ± 0,30

FC= feijão-caupi. GP= ganho de peso; CAA= conversão alimentar aparente; TCE= taxa de crescimento específico; TCR= taxa de crescimento relativo; ULP= utilização líquida da proteína; TEP= taxa de eficiência proteica.

0

20

40

60

80

100

120

140

0 15 30 45 60 75Mé

dia

do

pe

so

co

rpo

ral (g

)

Dias

Controle

10% deFC

Figura 1. Evolução do crescimento médio do peso corporal de juvenis de tambaqui alimentados com inclusão de farinha de feijão-caupi ao longo do tempo. FC= feijão-caupi.

49

3.3 Custos das rações contendo níveis crescentes de inclusão da farinha de

feijão-caupi

A inclusão de feijão-caupi em níveis de 10, 20 e 30% apresentaram custos

acima da ração controle. O custo por quilograma do nível de 10 e 30% de FC foi de

2,13 e 2,27 reais, sendo mais elevado do que o custo da ração controle (2,06)

(Tabela 6).

Tabela 6. Custo das rações contendo níveis crescentes de inclusão de farinha de feijão-caupi.

Ingredientes Rações experimentais

Controle 10% de FC

20% de FC

30% de FC

Custo/kg 2,06 2,13 2,20 2,27

Preço/kg dos ingredientes

Farelo de soja 1,83 0,95 0,73 1,64 3,35 3,60

41,96 1,00 2,75

Milho moído

Farelo de trigo

Farinha de carne e osso

Óleo de soja

Fosfato Bicálcico

Suplemento vitamínico e mineral

Sal comum

Feijão-caupi

FC = feijão-caupi

50

4. DISCUSSÃO

Houve redução no teor de PB quando comparados os peixes iniciais e os

alimentados com a dieta controle e com inclusão de FC. Entre os tratamentos com

10 (56,2%) e 30% (52,2%) de inclusão de FC ocorreu diferença significativa (p<0,05)

para o teor de PB. A redução da PB na carcaça dos peixes alimentados com as

rações teste pode ter ocorrido pelo fato das dietas não disponibilizarem quantidades

ideais de aminoácidos essenciais, tendo em vista que a qualidade dos ingredientes

utilizados para a formulação de dietas animais possui variações na composição de

seus nutrientes (Campestrini, 2005).

As farinhas de carne e osso possuem alto valor proteico, no entanto, já foi

constatado que a disponibilidade de alguns aminoácidos como triptofano, metionina,

cistina, treonina, isoleucina entre outros, são limitantes devido ao tipo de

processamento (Rhône Poulenc, 1993; Wang et al. 1997; Allan et al., 2000) . Em

relação às farinhas de feijões, há relatos que estas possuem pouca quantidade de

metionina e cisteina, aminoácidos essenciais (EMBRAPA, 1998; Frota et al., 2008).

A inclusão de feijão-caupi pode ter ocasionado à falta de aminoácidos sulfurados,

não atendendo as necessidades nutricionais dos juvenis de tambaqui.

A inclusão de outro ingrediente como farinha de peixe talvez poderia ter

trazido melhores resultados de PB na carcaça, pois este alimento possui excelente

perfil de aminoácidos, complementando a ausência destes na farinha de carne e

osso e da farinha de feijão-caupi utilizadas no preparo das rações experimentais

(Fabregat et al., 2011). Olvera-Novoa et al.(1990) relata que a mistura de vários

ingredientes na composição de rações para peixe aumenta a disponibilidade de

aminoácidos para estes, tendo em vista o melhor equilíbrio de aminoácidos

provenientes dos ingredientes incluídos na dieta.

Outro fator que pode ter contribuído com a diminuição do teor de PB na

composição corporal de animais pode estar relacionada com o aumento na

concentração de lipídios, influenciados pela relação energia:proteína das rações

(Bergamin et al., 2010). Dietas que apresentam desequilíbrio nutricional tendem a

aumentar a deposição de gordura na carcaça e vísceras principalmente quando a

dieta contém elevados teores de gordura, ocasionado, provavelmente, por

51

ingredientes de origem animal (Jahan et al., 2003; Veiverberg et al., 2008). Este fato

ocorreu no trabalho de Oishi (2007) que relatou um aumento na deposição de

gordura em carcaça de tambaqui quando alimentados com níveis de inclusão de 20

e 30% de farinha de castanha, pois com a inserção desses níveis houve um

aumento na quantidade de lipídios nas rações, ocasionando assim, maior energia

em relação à proteína.

Experimentos anteriores com guapote (Cichlasoma manguense), truta arco-

íris (Oncorhyncus mykiss) e tucunaré (Cichla sp) relataram um aumento de extrato

etéreo na carcaça desses peixes quando foram alimentados com dietas contendo

níveis crescentes de lipídios (Roja e Verdegem, 1994; Brauge et al., 1995; Sampaio

et al., 2000).

A diminuição na umidade da carcaça dos tambaqui alimentados com dietas

contendo inclusão de FC em relação aos peixes iniciais evidencia que houve

realmente maior acúmulo de lipídios na carcaça, pois de modo geral a porcentagem

de umidade é inversamente proporcional à quantidade de extrato etéreo na carcaça

de peixes (Moshen e Lovell, 1990; Serrano et al., 1992). Anselmo (2008) também

evidenciou tal relação quando incluiu 30% de resíduos de jenipapo (Genipa

americana) e 30% de resíduos de camu-camu (Myrcia dúbia), o que ocasionou

aumento na porcentagem de EE na carcaça do tambaqui ao passo que o percentual

de umidade foi menor.

O ganho de peso (GP) não foi influenciado (p<0,05) pelos tratamentos no

decorrer do tempo, indicando que 30% de FC não traz prejuízo para o

desenvolvimento dos juvenis de tambaqui. Flores et al., (2007), em experimento de

inclusão de FC em dietas para tilápia nilótica, encontraram melhor ganho de peso

quando alimentados com dietas contendo 20% de FC em comparação a tilápias

alimentadas com dietas contendo somente farinha de peixe como ingrediente

proteico principal. Os desvios padrões do tratamento controle e com inclusão de 10

e 30% de FC estavam elevados, mostrando um crescimento heterogêneo dos peixes

nas réplicas destes tratamentos. Este fato também ocorreu na pesquisa de Oishi

(2007) com inclusão de 10 e 30% de farinha de castanha da Amazônia em dietas

para juvenis de tambaqui, evidenciando que o crescimento heterogêneo dos animais

52

pode ser ocasionado, possivelmente, por predominância de alguns animais maiores

no consumo do alimento ofertado.

A taxa de crescimento relativo (TCR), que representa a porcentagem do

ganho de peso ao longo de um período de tempo, não diferiu entre os tratamentos,

confirmando que houve um aumento da massa corpórea dos animais no decorrer do

experimento. A taxa de crescimento específico (TCE), também não apresentou

diferença significativa (p<0,05) entre os tratamentos, confirmando que as dietas

contribuíram para o ganho de peso dos animais ao longo do tempo, sendo que até

30% de inclusão da FC não traz prejuízo para o crescimento dos animais. Anselmo

(2008) não encontrou diferença estatística para TCE entre os tratamentos de sua

pesquisa, porém, quando analisada a TCR entre as dietas verificou que os tambaqui

alimentados com 30% de inclusão de resíduos de camu-camu (Myrciaria dubia) e

araçá-boi (Psidium araçá R.) apresentaram crescimento menor.

A conversão alimentar aparente (CAA) expressa à quantidade de ração

consumida para o aumento da massa corporal animal. Verificou-se que entre os

tratamentos a CAA (2,3:1) não diferiu significativamente, porém, estiveram um pouco

acima dos valores encontrados por Flores et al., (2007) e Azaza et al., (2009), que

alimentaram respectivamente tilápias nilóticas com feijão-caupi (Vigna unguiculata) e

feijão faba (Vicia faba), obtendo CAA médio entre os tratamentos de 1,1 no trabalho

com caupi e 1,5 na pesquisa com faba. No presente trabalho, este fato talvez tenha

ocorrido pela menor quantidade de alguns aminoácidos essenciais, ocasionando

desbalanceamento destes nutrientes nas dietas experimentais. Olvera-Novoa et

al.(1990) afirmam que rações com inclusão de ingredientes de origem animal e

vegetal proporciona melhor balanceamento de aminoácidos essenciais. Estes

mesmos autores evidenciam que a farinha de peixe é rica em aminoácidos

essenciais, por isso é utilizada em rações para peixes, compensando a falta de

metionina e cisteina, presentes em baixas quantidades em ingredientes vegetais.

Não houve diferença significativa para a taxa de eficiência proteica (TEP)

entre as dietas, com média entre os tratamentos de 1,4 %, confirmando que a

proteína ofertada nas dietas foi aproveitada pelos peixes para o crescimento. Oishi

(2007) encontrou melhores TEP para juvenis de tambaqui quando alimentados com

inclusão de até 30 % de castanha da Amazônia, porém, suas dietas continham

53

farinha de peixe como um dos ingredientes, o que pode ter ocasionado um melhor

balanceamento de aminoácidos essenciais das rações.

Do ponto de vista econômico a inclusão do feijão-caupi não foi viável, pois a

medida que se aumentou o nível de feijão-caupi, o custo da ração aumentou. Azaza

et al. (2009) avaliaram o custo de rações que incluíam feijão faba como ingrediente

alternativo na alimentação de tilápia e concluiram que a inclusão de 24% reduz a

quantidade de farelo de soja em 20%, tornando a dieta mais barata, tendo em vista

que o farelo de soja possui preços mais elevados. O custo da produção de rações

com ingredientes não convencionais deve levar em conta além do valor nutritivo, a

produção em grandes quantidades do produto a ser utilizado (Boscolo et al., 2002).

54

5. CONCLUSÃO

É viável a inclusão da farinha de feijão-caupi em até 10% em rações para

juvenis de tambaqui, tendo em vista que esta porcentagem de inclusão não

prejudicou o desempenho zootécnico dos tambaqui e foi tão eficiente no

desenvolvimento desses animais quando comparado com a inclusão de 30% de

farinnha de caupi. No entanto, quando se inclui 10% de farinha de caupi os peixes

tende a acumular gordura em suas carcaças.

55

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