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Brasília a. 40 n. 158 abr./jun. 2003 71 Márcia Ferreira Cunha Farias Introdução Peter HÄBERLE, professor titular de Di- reito Público e de Filosofia do Direito da Universidade de Augsburg, na Alemanha, afirma que o Juiz não é o único intérprete da Constituição, pois os cidadãos e todos aque- A norma no pragmatismo jurídico e a lógica do razoável Um paralelo da filosofia jurídica de Oliver Wendell Holmes e de Luis Recaséns Siches Márcia Ferreira Cunha Farias é Procura- dora-Geral do Ministério Público junto ao Tri- bunal de Contas do Distrito Federal. Mestran- da em Direito Público pela UFPE. Sumário Introdução. 1. Segurança jurídica, decisão judicial e o pragmatismo na tópica de Viehweg; 1.1. Direito e arbitrariedade. 1.2. A função prag- mática das decisões judiciais e a necessária cons- trução de uma lógica judicial argumentativa e concreta. 2. Recaséns Siches e a lógica do razoá- vel. 2.1. Recaséns Siches e a filosofia do Direi- to. 2.2. Recaséns Siches e a lógica do razoável como mecanismo de segurança jurídica. 3. Di- mensões da lógica do razoável. 3.1. Aspecto histórico e fático da lógica do razoável. 3.2. Aspecto valorativo da lógica do razoável. 3.3. Aspecto concreto da lógica do razoável. 3.4. As- pecto teleológico e cultural da lógica do razoá- vel. 3.5. Aspecto proporcional da lógica do ra- zoável. 4. O pragmatismo norte-americano. 4.1. O pragmatismo como teoria do significado na visão de seu fundador. 4.2. O aspecto moral do pragmatismo na visão de William James. 4.3. O aspecto jurídico do pragmatismo na visão de Holmes. 5. A lógica do razoável e a visão prag- mática do Direito como métodos hermenêuti- cos de condução à segurança jurídica. 5.1. A ló- gica formal e a lógica do razoável. 5.2. A lógica formal e a lógica jurídica de Holmes. 5.3. A lógica jurídica de Holmes e a lógica do razoá- vel como métodos hermenêuticos de condu- ção à segurança jurídica.

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  • Braslia a. 40 n. 158 abr./jun. 2003 7 1

    Mrcia Ferreira Cunha Farias

    IntroduoPeter HBERLE, professor titular de Di-

    reito Pblico e de Filosofia do Direito daUniversidade de Augsburg, na Alemanha,afirma que o Juiz no o nico intrprete daConstituio, pois os cidados e todos aque-

    A norma no pragmatismo jurdico e a lgicado razovelUm paralelo da filosofia jurdica de Oliver WendellHolmes e de Luis Recasns Siches

    Mrcia Ferreira Cunha Farias Procura-dora-Geral do Ministrio Pblico junto ao Tri-bunal de Contas do Distrito Federal. Mestran-da em Direito Pblico pela UFPE.

    SumrioIntroduo. 1. Segurana jurdica, deciso

    judicial e o pragmatismo na tpica de Viehweg;1.1. Direito e arbitrariedade. 1.2. A funo prag-mtica das decises judiciais e a necessria cons-truo de uma lgica judicial argumentativa econcreta. 2. Recasns Siches e a lgica do razo-vel. 2.1. Recasns Siches e a filosofia do Direi-to. 2.2. Recasns Siches e a lgica do razovelcomo mecanismo de segurana jurdica. 3. Di-menses da lgica do razovel. 3.1. Aspectohistrico e ftico da lgica do razovel. 3.2.Aspecto valorativo da lgica do razovel. 3.3.Aspecto concreto da lgica do razovel. 3.4. As-pecto teleolgico e cultural da lgica do razo-vel. 3.5. Aspecto proporcional da lgica do ra-zovel. 4. O pragmatismo norte-americano. 4.1.O pragmatismo como teoria do significado naviso de seu fundador. 4.2. O aspecto moral dopragmatismo na viso de William James. 4.3.O aspecto jurdico do pragmatismo na viso deHolmes. 5. A lgica do razovel e a viso prag-mtica do Direito como mtodos hermenuti-cos de conduo segurana jurdica. 5.1. A l-gica formal e a lgica do razovel. 5.2. A lgicaformal e a lgica jurdica de Holmes. 5.3. Algica jurdica de Holmes e a lgica do razo-vel como mtodos hermenuticos de condu-o segurana jurdica.

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    les que participam da sociedade, indivduose grupos, a opinio pblica, so foras vigo-rosas de interpretao, partindo do pressu-posto de que no existe norma jurdica, se-no norma jurdica interpretada (1997).

    A deciso judicial no decorre da puraaplicao da lei considerando um determi-nado caso concreto. Ao contrrio, a decisojudicial , essencialmente, uma deciso hu-mana. O Juiz no apenas aplica o Direito,mas o constri.

    O Juiz, ao proferir a sentena, ponto fi-nal do processo decisrio, faz uma adequa-o da norma, genrica e abstrata, a umarealidade concreta, transformando em Di-reito aplicado um Direito posto.

    O ponto relevante da obra de RecasnsSICHES consiste em que, independentemen-te da vontade da lei ou da vontade do legis-lador, o processo de individualizao dasleis nas decises judiciais refere-se, maisespecificamente, sua concretude e suatemporalidade. Assim, o juiz, como afirmaMargarida Lacombe CAMARGO, ao privi-legiar os efeitos concretos do Direito na so-ciedade, muitas vezes depara-se com a ne-cessidade de uma releitura da lei para fazerjustia, ou, ao menos, evitar injustia. Mas,para escapar de qualquer tipo de crtica ouacusao em virtude de terem agido arbitr-ria ou negligentemente, ameaando a ordeme a estabilidade social, precisam os juzeselaborar uma justificativa que apresente umaaparncia lgica e que seja, portanto, con-vincente. O que Recasns SICHES almeja que os juzes possam agir sem culpa; fazerjustia sem culpa, sob a luz do meio-dia(1999, p. 167).

    Em relao a Oliver Wendell HOLMES,a pedra angular de sua filosofia jurdica aidia de que o Direito experincia, e noprocedimento lgico1. HOLMES pregavaque o magistrado, ao julgar, deveria obser-var, sempre, as circunstncias do caso con-creto e sua insero na sociedade. Assimtambm a lei desenvolver-se-ia na mesmamedida das mudanas sociais. O conceitode razovel, embora no explcito em HOL-

    MES, expressa-se na adequao da norma realidade social; novamente, contudo, o ra-zovel no pode ser um conceito egocntri-co: HOLMES adotou a doutrina do judicialrestraint, segundo a qual o juiz no deveriadeixar que suas opinies sociais dominas-sem a fundamentao de suas decises.

    nesse contexto de estabilidade din-mica que surge o postulado da seguranajurdica. Assim, a segurana jurdica podeser vista como um valor transcendente aoordenamento jurdico, no sentido de que asua investigao no se confina ao sistemajurdico positivo, mas, antes, inspira os no-mos que, no mbito do Direito, atribuem-lheefetividade. preciso dar a cada cidado acerteza de que, ao pleitear um direito juntoao Poder Judicirio, no ser surpreendidocom mudanas absurdas na aplicao dalei ou em sua interpretao; no entanto, de-ver, tambm, ser garantida a adequao danorma s circunstncias fticas do caso.

    O presente trabalho tem por objetivo de-monstrar que a lgica do razovel de Reca-sns SICHES e a viso da norma no prag-matismo de Oliver Wendell HOLMES cons-tituem mtodos hermenuticos que se coa-dunam com a Tpica e a Argumentao.Alm disso, podem conduzir seguranajurdica, posto que razovel no simples-mente o que cada juiz entende por razo-vel necessria se faz a busca do razovelnos limites impostos pela lei e que tendem aconduzir a uma uniformidade mnima, emrespeito a essa segurana jurdica.

    1. Segurana jurdica, deciso judicial eo pragmatismo na tpica de Viehweg

    1.1. Direito e arbitrariedade

    Conforme ensina Recasns SI-CHES:

    La arbitrariedad consiste, pues,en que el poder pblico, con un meroacto de fuerza, salte por encima de loque es norma o criterio vlido y vigen-te en un caso concreto y singular, sin

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    responder a ninguna norma o crite-rio, o principio de carcter general, ysin crear una nueva regla que anulela anterior y la sustituya. Podemosdecir metafricamente del mandatoarbitrario que no tiene padres ni en-gendra hijos; es decir, que no se basaen un criterio, principio o norma ge-neral, y que a su vez no engendra nin-guna nueva norma. El mandato arbi-trario es el que simplemente respondea un mero porque s, porque me da lagana, porque as es me antoja; en suma,el que corresponde a un capricho queno dimana de un criterio general. Encambio, el mandato jurdico es el fun-dado en normas, criterios o principiosobjetivos, de una manera regular y quetiene validez para todos los casos an-logos que se presenten.

    Es precisamente caractersticaesencial de la norma jurdica el ligarde modo necesario al mismo poder que ladict se entiende, mientras ese poderno la derrogue con carcter general,en ejercicio de una competencia deigual rango que la que teria la autori-dad que haba creado la norma ante-rior(1979, p. 108).

    A arbitrariedade para Recasns SICHES uma afronta direta ao ordenamento jurdi-co. a indevida unificao entre a ativida-de legislativa e a atividade judicial de umaforma absoluta. o desrespeito, por ato in-justificado por regras ou princpios, ao con-junto de normas estabelecidas previamentepara regular a relao social; a busca dasoluo do problema fora do sistema jurdi-co; a incerteza do jurisdicionado do desti-no a ser dado sua lide.

    Nos termos das colocaes de Margari-da CAMARGO:

    O pensamento jurdico moderno,ou as vrias correntes filosficas quepensaram o direito no sculo XIX, de-tiveram suas preocupaes em tornodos valores que servem de essncia aoprprio Direito. Seriam eles: a justia,

    a certeza e a segurana. Entendemosque toda condio tica e moral con-centra-se no mbito da justia, assimcomo a ordem se refere certeza e segurana. repassarmos a histriado mundo moderno para percebermosque, mesmo antes da questo da jus-tia, impe-se a necessidade da se-gurana(1999, p. 57).

    A segurana e a ordem so os valorestpicos do mundo moderno. Com eles deu-se a criao do Estado de Direito, cujo obje-tivo foi o de estabelecer previses e evitar oarbtrio.

    Sobre o Estado de Direito, rica a coloca-o de SICHES:

    El poder pblico est ligado porlas normas formalmente vlidas, in-cluso por las mismas que l haya dic-tado; y obra jurdicamente slo en lamedida em que se acomode a ellas, ydentro de las facultades, que las mis-mas le concedam(1979, p. 109).

    Conforme sintetiza Jos Afonso da SIL-VA (1995, p. 113-122), as caractersticas doEstado de Direito, ou do Estado Liberal deDireito, eram:

    (a) submisso ao imprio da lei;(b) diviso de poderes;(c) enunciado e garantia dos direitos in-

    dividuais.O individualismo e o neutralismo do

    Estado liberal conduziram a graves injusti-as, e a necessidade de justia social trouxea concepo do Estado Social de Direito, como perfil de compatibilizao entre o capita-lismo e o assistencialismo.

    Na verdade, a igualdade, na concepoclssica do Estado de Direito, tinha por fun-damento a generalidade das leis, elementopuramente formal e abstrato. No cotidianoda sociedade, no havia como efetivar essaigualdade.

    Mais recentemente, as Constituies dosEstados buscam efetivar o Estado Democr-tico de Direito, que tem por fim a organiza-o social institucionalizada e a garantiaeficaz dos direitos por meio de princpios,

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    da hierarquia de normas, da democracia,dos direitos fundamentais, da justia sociale da diviso de poderes (SILVA, 1995, p. 122-123).

    Por outro lado, na ps-modernidade, asegurana e a ordem no so vistas comovalores absolutos garantidos pelo formalis-mo do racionalismo jurdico-matemticoque caracterizou a Escola da Exegese2.

    Abre-se espao para o valor da justia,garantido pela razoabilidade referente acada caso concreto.

    Nesse aspecto, no se pode confundir oato arbitrrio com o poder judicial criador.No arbtrio, ocorre um mero capricho, comoj transcrito de Siches (porque s, porque meda la gana). A deciso arbitrria no se vin-cula a nenhum elemento do ordenamentojurdico, seja ele princpio ou regra.

    No Estado Democrtico de Direito, a es-fera na qual os Tribunais atuam no umespao privado, mas, sim, um espao pbli-co, na medida em que suas decises produ-zem reflexos na sociedade, no Estado que sequer democrtico e na vida dos cidados.Isso porque, enquanto os Poderes Legislati-vo e Executivo buscam no voto popular sualegitimidade, o Poder Judicirio h de al-can-la no exerccio pleno das atribuiesque lhe so conferidas pela soberania po-pular, somente podendo ser fiscalizada econtrolada a correo desse exerccio pormeio da publicidade dos meios de tomadade decises, que definam a maneira com quese fez uma opo entre as existentes (HA-BERMAS, 1997, p. 17).

    A importncia da funo de justificaoda deciso posta pelo Poder Judicirio reve-la-se em preceito constitucional, na medidaem que a fundamentao das decises judi-ciais est expressamente prevista no art. 93,inciso IX, verbis:

    IX - todos os julgamentos dos r-gos do Poder Judicirio sero pbli-cos, e fundamentadas todas as decises,sob pena de nulidade, podendo a lei, seo interesse pblico o exigir, limitar apresena, em determinados atos, s

    prprias partes e seus advogados, ousomente a estes (grifo nosso).

    1.2. A funo pragmtica das decisesjudiciais e a necessria construo de umalgica judicial argumentativa e concretaA argumentao jurdica figura, tambm,

    como expresso da racionalidade da dog-mtica jurdica. No entanto, interessa noapenas ao jurista ou ao filsofo do Direito,como tambm ao cidado participante dasquestes relativas coisa pblica. Portanto,a funo pragmtica do Direito interessa nos ao carter cientfico da cincia do Direi-to, mas, principalmente, segurana dasdecises judiciais.

    1.2.1. Relevncia do pragmatismo nodiscurso jurdico

    A validade do pensamento pode estarcomprometida numa forma lingstica de-feituosa ou pouco transparente. Da a pos-sibilidade de uma abordagem pragmticapara as cincias sociais, uma vez que, nessarea do conhecimento, afiguram-se clarasas deficincias semnticas da linguagem.Eis por que a lgica moderna deve ter umraio de abrangncia muito maior que a cls-sica, justificando-se, pois, a criao de umalgica prpria para o trato das cincias so-ciais que ressalte o acentuado contedopragmtico da linguagem jurdica; logo, tor-na-se fundamental afirmar que, diante detextos normativos denotativamente impre-cisos (vagos), como o texto constitucional,faz-se necessrio o recurso argumentao,como raciocnio que visa aplicao dasnormas jurdicas aos casos concretos3.

    Nesse sentido, o processo argumentati-vo no tem como ponto de partida evidncias(juzo de realidade), mas sim juzos de va-lor, que so resgatados por meio das nor-mas jurdicas. A argumentao no Direitopressupe a articulao de um discursocom o fim de persuadir o rgo responsvelpela deciso ou, ainda, por eventual revi-so da deciso a aderir interpretao quese quer ter como vinculante para o caso con-

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    creto (conflito social que exige deciso jur-dica), ou, no caso da Suprema Corte, o con-vencimento de que a sua deciso (at porser definitiva) a mais acertada.

    Segundo Aristteles, h argumentaesrigorosas, lgicas, estabelecidas a partir deprincpios indubitveis, evidentes, e h ar-gumentaes dialticas, imprecisas, elabo-radas a partir de meras opinies e princ-pios dubitativos.

    Se, no primeiro caso, fica fcil obter oconvencimento dos destinatrios da comu-nicao, o mesmo no ocorre com o ltimo,que necessita de artifcios e estratagemaspara se impor. a que ressalta a importn-cia da retrica, como arte de persuadir e con-vencer os ouvintes. Para Santo Isidoro deSevilha, a retrica a cincia do bem falarnos assuntos civis, para persuadir o ouvin-te de coisas justas e boas, com abundnciade eloqncia.

    Ora, o Direito, em toda a sua complexarealidade, consiste justamente numa tarefade convencer e persuadir a respeito de cer-tas situaes, o que o torna eminentementeargumentativo e hermenutico.

    Tal tarefa, no mbito do Supremo Tribu-nal Federal, mostra-se fundamental, tendoem vista at a impossibilidade de reformade seus pronunciamentos, que s poderoser objeto de crtica da opinio pblica.

    H que ressaltar os aspectos pragmti-cos da linguagem jurdica nesse particular,em virtude de que os discursos que inten-tam fazer prevalecer uma determinada in-terpretao das normas jurdicas possuemapenas um uso ou funo informativos (en-quanto meras descries das normas jurdi-cas), mas surgem como explicitamente dire-tos e expressivos, porquanto destinados ainfluir na deciso a ser tomada pelo rgocompetente, e tambm porque envolvem noapenas aspectos racionais, mas tambmemotivos, em face da carga emocional dostermos e expresses invocados em susten-tao a uma determinada interpretao.

    A retrica assume, nesse contexto, papelprimordial enquanto processo argumenta-

    tivo que, ao articular discursivamente valo-res, tem por objetivo a persuaso dos desti-natrios da deciso jurdica quanto razoa-bilidade da interpretao prevalecente4.

    A fundamentao das decises judiciaisexpressa-se por meio de discursos retricos,como processos argumentativos que, ao ar-ticular valores, visam a persuadir as partese os rgos responsveis por eventual revi-so dessa deciso da razoabilidade da in-terpretao esposada pelo rgo prolator damesma. Pe-se em relevncia, desse modo,que, alm das peas e das sustentaes oraisproduzidas pelas partes do processo, tam-bm os atos decisrios do Poder Judicirioapresentam, nesse contexto, um contedoeminentemente retrico.

    Nesse sentido, Learned Hand (CARTER,1985, p. 258), Juiz da Suprema Corte norte-americana, ilustra que um juiz deve pen-sar em si mesmo como um artista... que em-bora conhea os manuais, nunca deveriaconfiar neles para guia; em ltima instn-cia, deve confiar no sentido instintivo acer-ca de onde reside a separao entre a pala-vra e os propsitos que subjazem atrs dela;deve atuar de forma a ser correto com am-bos. Assim, o autor prega a necessidadeda busca dos valores na norma jurdica, osquais so objeto precpuo da lgica do razo-vel e da viso de norma no pragmatismojurdico de Holmes.

    1.2.2. O contedo pragmtico do Direitoe o pensamento tpico

    Em seu livro Tpica e jurisprudncia, The-odor VIEHWEG (1979) analisa o pensamen-to dogmtico que tem predominado no di-reito atravs dos sculos e procura demons-trar o carter do discurso de que se utilizamos juristas, notadamente nas prticas judi-ciais, ressaltando o carter aportico da ju-risprudncia (conflito entre opinies).

    Desde logo, cumpre observar que, dife-rentemente dos sistematizadores dos quaisKelsen o exemplo mais tpico, Viehweg nocriou nem props um novo tipo de discursopara o direito, mas vislumbrou-o ao anali-

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    sar as produes jurdicas em que tal dis-curso se encontrava latente ou implcito. Omtodo tpico-retrico no foi, pois, criadopor Viehweg, mas reencontrado e difundi-do pelo pensador alemo.

    A tpica muito antiga e teve opositorescomo Scrates e Plato, que a consideravamcomo uma condenvel arte de disputar per-tencente ao domnio dos retricos e sofistas.Aristteles, que lhe deu nome de Topika,reservou para a filosofia o discurso apodti-co e para a tpica, o discurso dialtico, sig-nificando com isso que aquela se ocupa doverdadeiro, enquanto esta, do meramenteopinvel. O pensador grego chegou a proje-tar um catlogo de tpicos universais paratodos os problemas pensveis e Ccero utili-zou conscientemente o discurso tpico-re-trico.

    Sinteticamente, a tpica constitui tcni-ca de pensamento que se orienta a partir doproblema que se quer solucionar. Ope-seao pensamento sistemtico, que se orienta apartir de um paradigma geral. Segundo opensamento tpico, o que releva a soluodo problema, no importando a qual ou aquais sistemas tenha-se de recorrer para isso uma busca de caminhos para eliminaruma aporia. Segundo o pensamento siste-mtico, o que importa a fidelidade ao sis-tema: se determinado problema no encon-tra soluo dentro do sistema utilizado, porque se trata de um problema insolvel.Para o pensamento tpico, pelo contrrio,no existe problema insolvel.

    A tcnica do pensamento problemtico,portanto, no parte do ponto de vista geralpara resolver o caso particular; pelo contr-rio, pe o problema particular no primeiroplano de ateno e, sem jamais perd-lo devista, faz incurses nos diversos sistemasexistentes em busca de pontos de vista quelhe sejam pertinentes. Esses pontos de vistaso os topoi ou tpicos, lugares-comunsrevelados pela experincia bem sucedida.Isolados, no tm os tpicos nenhuma rela-o entre si. O que os relaciona e atrai soos dados do problema e o que os elege ou

    rejeita a soluo que se pretenda dar aoproblema.

    Segundo VIEHWEG (1979), existem t-picos universais e tpicos somente aplic-veis a determinado ramo do saber.

    A verdade que os tpicos encontram-se em todos os ramos do conhecimento, noapenas nas chamadas cincias humanas,mas at mesmo em algumas das ditas cin-cias exatas. O prprio legislador por vezesos recolhe, dando-lhes status de lei. Os tpi-cos nada mais so que opinies acredita-das que, por seu poder retrico, dispensamverificao ou demonstrao. Eles nada tmcom a verdade (tomada essa palavra comseu usual sentido absoluto), mas sim com averossimilhana. As concluses que se ob-tm, quando tpicos so tidos como premis-sas, no so lgicas, mas dialticas. Portan-to, a tpica uma prtica de argumentao.

    Com base na leitura da obra de VIEHWEGe na de Aristteles, identificam-se, pois, cincopassos a serem seguidos pelo operador jur-dico com a finalidade de convencer sua pla-tia (aspecto pragmtico da linguagem) e,conseqentemente, comunicar-se:

    1 passo: a determinao do problema,ou seja, a identificao e delimitao do casocom todas as suas circunstncias;

    2 passo: o inventrio dos tpicos perti-nentes ao caso;

    3 passo: a seleo dos tpicos pr e con-tra, agrupando-os segundo as solues pos-sveis para o caso;

    4 passo: a montagem da argumentao,exaltando os tpicos pr e desqualificando(refutando ou omitindo) os tpicos contraem relao soluo eleita pelo intrprete;

    5 passo: a sntese da concluso julgadajusta.

    Observa-se que, subjacente ao raciocniode Viehweg, encontra-se a noo da impor-tncia do fato concreto para a resoluo doproblema jurdico, conforme ressaltado porRecasns Siches na anlise da realidade f-tica que se constitui em uma das caracters-ticas del logos de lo razonable; do mesmomodo, parte Holmes da experincia, da re-

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    petio de casos concretos, para apresentara lgica jurdica5.

    2. Recasns Siches e algica do razovel

    2.1. Recasns Siches e a filosofia do Direito

    Lus Recasns Siches, Professor catedr-tico da Universidade de Madrid e professoremrito da Universidade Nacional do M-xico, filsofo, advogado e historiador, foidscipulo de Ortega Y Gasset e buscava in-tegrar o valor histrico da existncia huma-na como pressuposto para elaborao deuma teoria de valores.

    Na viso de REALE, sobre filsofos jur-dicos relacionados teoria tridimensionaldo direito, lugar parte ocupa Lus Reca-sns Siches, o qual, atravs de uma originalconcepo inspirada nos princpios do ra-ciovitalismo de Ortega y Gasset, elaborou,inicialmente, um tridimensionalismo pers-pectivstico, que exerceu larga influncia nomundo jurdico latino-americano, para, afi-nal, acolher a soluo por mim proposta,em termos de tridimensionalidade espec-fica(2001, p. 41).

    Recasns SICHES tinha, como Reale,uma viso tridimensional do Direito em va-lor, norma e fato:

    Nessa concepo conservam-seas trs dimenses de que tenho trata-do valor, norma e fato , porm in-dissoluvelmente unidas entre si emrelaes de essencial implicao. Odireito no um valor puro, nem mera norma com certos caractersticosespeciais, nem um simples fato soci-al com notas particulares. O Direito uma obra humana social (fato) de for-ma normativa destinada realizaode valores(1975, p. 159).

    Portanto, relevante a contribuio deRecasns Siches teoria tridimensional, noestudo da conceituao do direito e no daconcreo do fenmeno normativo, visto sero direito um produto de cultura, e, por con-

    seguinte, histrico, cujas trs dimenses nose do como trs objetos justapostos, masso, ao contrrio, trs aspectos essencial-mente entrelaados, de modo indissolvel erecproco.

    Nesse aspecto, ressalta REALE :Em outro ponto a doutrina de

    Recasns coincide com a que venhoexpondo, embora por outros funda-mentos: quanto historicidade es-sencial da experincia jurdica, queno exclui mas antes implica o reco-nhecimento das que denomino inva-riantes axiolgicas, condicionadorasdas situaes sociais histricas parti-culares. O pensamento de Recasnssitua-se nos quadros de uma amplacompreenso do direito como expe-rincia que se desenvolve segundoexigncias da razo vital e da razohistrica, no segundo relaes lgi-co-matemticas do logos da razo abs-trata, mas sim em consonncia com ologos concreto do razovel, que encon-tra nos motivos existenciais a sua fon-te constitutiva(2000, p. 42).

    Margarida Lacombe CAMARGO, poroutro lado, coloca a contribuio de Reca-sns Siches no mbito do que ela chama deps-positivismo:

    Luis Recasns Siches escreve aNova Filosofia da Interpretao doDireito sob o impacto da crise vividapelo direito nos anos que se seguiram Segunda Guerra Mundial, e que deuorigem ao que podemos chamar ago-ra de ps-positivismo. Entendemoscomo ps-positivismo o pensamentojusfilosfico que enfrenta mais de per-to as insuficincias do modelo lgico-formal para o tratamento das questesjurdicas.

    Recasns Siches fala em crise, ba-seando-se no fato de que os valoresda sociedade de sua poca no cor-respondiam mais aos valores consa-grados anteriormente. A certeza e aobjetividade trazidas pelo cientificis-

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    mo e pelo formalismo no se adequa-vam mais ao clamor da verdadeirajustia, encontrada na sociedade.Caem os sistemas formais e a filosofiado direito tem que dar conta de umanova fundamentao e mtodo queento se impunham(1999, p. 157).

    Dirceu GALDINO ressalta a contribuiode Recasns Siches na lgica do razovel:

    A lgica do razovel quebra a l-gica formal (tradicional), porque reco-nhece que a norma jurdica um pro-duto da vida humana, e, especifica-mente, vida humana objetivada. Emsua estrutura, a norma, imposta peloEstado, incorpora um tipo de aohumana, que se torna uma condutapara ao, um critrio ou um plano.Contudo, esses elementos no podemser captados inteiramente pela lgicaformal, insensvel s suas caracters-ticas especficas. Para apreender-lhesa essncia, tornam-se imprescindveismtodos adequados que se afeioem natureza do objeto a vida humana e que tambm decorram da razo.

    Frente vida humana h que seradotada uma atitude finalstica, valo-rativa. Da no se captar a norma jur-dica, em sua essencialidade, senocom mtodos tomados da lgica, masde uma lgica especial, a lgica dorazonable. Essa lgica tem por pressu-posto experincias humanas, realida-des e juzos de valor. Alicerando-senesses elementos, aprecia-se e revive-se uma norma jurdica, em cada caso;de maneira que a soluo por ela apre-sentada para um caso determinadono ter a generalidade que a lgicatradicional apregoa, porm estar im-pregnada de particularidade valora-tiva, de especificidade(1990).

    2.2. Recasns Siches e a lgica do razovelcomo mecanismo de segurana jurdicaAo constatar que a filosofia jurdica aca-

    dmica do sculo XX no vinha desempe-

    nhando papel suficientemente importanteno desenvolvimento do Direito de nossapoca, Recasns Siches buscou, para alar-gar os horizontes de juzes e advogados,idias que servem como fonte de inspiraopara o aperfeioamento do Direito positivo.

    Entre suas contribuies, a que mais sedestaca no mbito deste estudo a propostaarticulada de uma nova filosofia da inter-pretao do Direito que prope uma revisodas concepes tradicionais da funo ju-dicial e dos mtodos interpretativos, mas,tambm e sobretudo, procura definir as ba-ses tericas de uma lgica material do Direi-to, a ser utilizada em substituio lgicatradicional: trata-se da lgica do razovel.

    Em sua obra sobre uma nova filosofia deinterpretao, em contraponto logica for-mal, afirma Recasns SICHES:

    El Derecho es seguridad; pero,seguridad en que? Seguridad en aque-llo que se considera justo y que a lasociedade de una poca le importafundamentalmente garantizar, por es-timarlo ineludible para sus fines. (...) Loque el derecho debe proporcionar esprecisamente seguridad en lo justo.

    (...) Lo que el Derecho puede ofre-cernos es slo un relativo grado decerteza y seguridad, un mnimum in-dispensable de certeza y seguridadpara la vida social(1986, p. 15).

    Conforme assinala Margarida CA-MARGO, na poca em que RecsensSiches desenvolve sua teoria da lgi-ca do razovel, o aparelho judicialdo Estado chamado a dar efetivida-de aos direitos sociais consagradosem lei aps muito esforo e muita luta(1999, p. 159).

    Trata-se da viso de justia distributivaque se impe, retirando a exclusividade dosvalores relativos segurana da ordem so-cial, sob a nfase do individual. A crise quese verifica corresponde, na realidade, ten-so existente, por um lado, entre as exign-cias de certeza e segurana e os novos valo-res relativos justia; e, de outro, necessi-

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    dade natural de ordem e estabilidade soci-ais, diante dos anseios, tambm naturais,por novas transformaes que acompanhemo progresso.

    Para defesa de uma nova filosofia, Reca-sns Siches estabelece, em seu trabalho, nostermos de Margarida CAMARGO:

    uma distino entre filosofia jur-dica acadmica e filosofia jurdica no-acadmica. A primeira correspondequela ensinada nas universidadessob o ttulo de Teoria Geral do Direito,cuja preocupao divulgar concei-tos de ordem geral cabveis em todo equalquer ordenamento jurdico comoinstrumento facilitador para o trata-mento cientfico de questes especfi-cas de direito. Seriam, basicamente, osconceitos de sujeito de direito, objetojurdico, fato jurdico, relao jurdi-ca, a distino entre direito e moral,os ramos do direito etc. Diferente afilosofia jurdica no-acadmica, quese mostra mais preocupada com osproblemas oriundos da prtica jur-dica, independentes de conceitos deordem geral. O aplicador do direitomuitas vezes se depara com proble-mas que dificultam a escolha da nor-ma certa para o caso certo, bem comoa escolha do contedo certo para aque-le caso(1999, p. 159-160).

    Assim, a filosofia no-acadmica almejaresolver questes pertinentes interpreta-o e aplicao do Direito. Notando a im-portncia do valor jurdico certeza, sem sedescuidar da justia, Recasns Siches pro-cura um mtodo, uma lgica prpria paraas questes humanas.

    No sendo arbitrrio, o agir humanopossui uma razo prpria, distinta das quemovem os fenmenos da natureza. As obrashumanas so dotadas de sentido, de finali-dade, de objetivo. Assim, meios e fins se re-lacionam, tambm, no contexto da refern-cia histrica.

    Nas palavras do prprio Recasns SI-CHES:

    El anlisis de la humana existen-cia y, sobre todo, de la accin humanadescobre los siguientes pontos:

    A) Que el hombre acta u operasiempre en un mundo concreto, enuna circunstancia real, limitada y ca-racterizada por rasgos y condicionesparticulares.

    B) Que ese mundo concreto es li-mitado, es decir, que ofrece algunasposibilidades, pero que carece de otrasposibilidades.

    C) Que en la bsqueda, mediantela imaginacin, de lo que es posibleproducir en ese mundo limitado y con-creto para resolver el problema de unanecesidad, intervienen mltiplas va-loraciones: Primero, sobre la adecua-cin de la finalidad o meta para satis-facer la necesidad en cuestin; segun-do, sobre la justificacin de ese findesde varios puntos de vista estimati-vos: utilitario, moral, de justicia, dedecencia, etctera; tercero, sobre la cor-reccin tica de los medios; y cuarto,sobre la eficacia de los medios.

    D) Que en todas las operacionespara establecer el fin y para encontrarlos medios, los hombres se guan noslo por las luces de sus mentes per-sonales, sino tambin por las en-seanzas derivadas de sus propiasexperiencias y de las experiencias aje-nas(1979, p. 257).

    Toda obra humana no valor puro,mas ao humana, ou produto desta ao.Nesse aspecto, a norma jurdica como umproduto histrico intencionalmente referi-do a valores deve levar em conta a lgica dorazovel.

    Siches pode ser visto como autor que pre-ga a importncia do problema, do fato soci-al para o Direito, da mesma maneira prag-mtica de Viehweg:

    Com a idia inicial de lgica ma-terial, Recasns Siches se posicionajunto a autores como Viehweg e Perel-man, que tratam o direito de forma

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    assistemtica. Recasns Siches noenfrenta propriamente a questo me-tdica proposta pela tpica aristotli-ca, resgatada por Viehweg, e nem aretrica, retomada por Perelman, queadotam como base de raciocnio opi-nies lugar comum. Essas bases deverossimilhana, e no de verdades,levam formulao de um raciocnioopinativo que guarda fora apenas emseus argumentos; ao contrrio do ra-ciocnio matemtico, que se apia nacerteza das inferncias retiradas daspremissas e que levam a uma soluocorreta. No obstante a possibilidadede se estabelecer um raciocnio no-sistemtico, medida que se privilegiao problema o fragmento, em lugar dotodo , e tambm poder, com o auxlioda tpica, iluminar o problema sob osseus diversos ngulos, so ambas aspossibilidades aproveitadas por Reca-sns Siches. Na realidade, seria esta agrande contribuio de Recasns Si-ches: buscar, a partir do problema, aaxiologia do direito(CAMARGO,1999, p. 166-167).

    HOLMES, num mesmo sentido, ressaltaque o Direito est aberto a novas interpreta-es diante de mudanas nos hbitos soci-ais; e as decises judiciais espelham as cir-cunstncias temporais e geogrficas em queso proferidas:

    Such matters really are battlegrounds where the means do not existfor determinations that shall be goodfor all time, and where the decision cando no more than embody the preferen-ce of a given body in a given time andplace. We do not realize how large a part ofour law is open to reconsideration upon aslight change in the habit of the pulicmind(apud MARKE, 1955, p. 70).

    Essa afirmativa de Holmes serve a de-monstrar, tambm principalmente hoje,em que os meios de comunicao de massa,ou a mdia, so amplos e velozes , como aopinio pblica influi na deciso judicial.

    A conscincia social e o momento histrico,em Holmes, so de extremo peso nas pon-deraes da fundamentao da deciso.

    3. Dimenses da lgica do razovel

    Para Recasns SICHES (1979, p. 258-259), h sete caractersticas basilares da l-gica do razovel, a saber:

    ser limitada pela realidade concreta domundo em que opera aspecto histrico dalgica do razovel;

    ser impregnada de valores aspectovalorativo da lgica do razovel;

    seus valores so concretos, vinculadosa uma determinada situao humana as-pecto concreto da lgica do razovel;

    busca objetivos e finalidades no agirhumano aspecto teleolgico da lgica dorazovel;

    as finalidades e os objetivos condicio-nam-se realidade humana aspecto cul-tural da lgica do razovel;

    rege-se por razes de congruncia eadequao aspecto proporcional da lgi-ca do razovel;

    vincula-se aos ensinamentos extradosda experincia humana e histrica aspec-to ftico da lgica do razovel.

    Em face da semelhana ou correlao dealgumas dessas caractersticas, vamos agru-p-las em cinco categorias, que sero deta-lhadas a seguir:

    aspecto histrico e ftico da lgica dorazovel

    aspecto valorativo da lgica do razovel aspecto concreto da lgica do razovel aspecto teleolgico e cultural da lgica

    do razovel aspecto proporcional da lgica do ra-

    zovel

    3.1. Aspecto histrico e fticoda lgica do razovel

    Conforme ensina Recsens SICHES:A la vista de este esbozo de anli-

    sis de la accin humana, resulta posi-ble darse cuenta de que la lgica de la

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    accin humana o lgica de lo razona-ble, presenta, entre otras, las siguien-tes caractersticas:

    Primero, est limitada o circuns-crita, est condicionada y est influi-da, por la realidad concreta del mun-do en el que opera en el Derecho,est circunscrita, condicionada e in-fluida por la realidad de un mundosocial e histrico particular, en el cual,con el cual y para el cual son produci-das las normas jurdicas, lo mismo lasgenerales (leyes), que las individuali-zadas (sentencias judiciales y resolu-ciones administrativas ).

    (...)Sptimo, la lgica de lo razonable

    est orientada por las enseanzas ex-tradas de la experincia de la vidahumana y de la experincia histrica,esto es, de la experiencia individual yde la experiencia social presente ypasada , y se desenvuelve instruidapor esa experiencia(1979, p. 258-259).

    A dimenso histrica e ftica da lgicado razovel ratifica a afirmao de que algica do razovel a lgica da ao huma-na no mundo em que se encontra, datada eposicionada no espao.

    A norma jurdica surge em um determi-nado tempo e espao e deve ser aplicada emoutro tempo e espao. Esses elementos tem-porais e espaciais so importantssimospara a conformao da norma com a suarealidade.

    Nesse sentido, importantssima a colo-cao de Miguel REALE a respeito de a nor-ma jurdica estar situada no tempo e no es-pao e da necessidade de o intrprete ade-qu-la s necessidades sociais:

    Mas acontece que a norma jurdi-ca est imersa no mundo da vida, ouseja, na nossa vivncia cotidiana, nonosso ordinrio modo de ver e de apre-ciar as coisas. Ora, o mundo da vidamuda. Ento acontece uma coisa que muito importante e surpreendente:uma norma jurdica, sem sofrer qual-

    quer mudana grfica, uma norma doCdigo Civil ou do Cdigo Comerci-al, sem ter alterao alguma de umavrgula, passa a significar outra coi-sa. Querem um exemplo? H um arti-go do Cdigo Civil, o de nmero 924,segundo o qual pode o Juiz reduzir amulta convencionada no contrato pro-porcionalmente ao adimplemento daavena. Pois bem, na poca de indivi-dualismo que se seguiu ao CdigoCivil de 1916 at a dcada de 30, quefaziam os advogados? Os advogadosso uns seres muito espertos, dotadosde esperteza da tcnica que funda-mental. Os advogados punham nocontrato: a multa ser sempre devidapor inteiro, qualquer que seja o tempode adimplemento do contrato. De ma-neira que aconteceu um caso muitodoloroso em So Paulo, quando umapobre costureira, que havia cumpridoo contrato at o 20 ms, na compra deuma mquina de costura, no conse-guiu pagar as duas ltimas prestaes.O credor exigia, alm da devoluo damquina, mais a multa por inteiro.Ora, pela primeira vez na histria doDireito brasileiro o Tribunal de Justi-a de So Paulo declarou: Alto l! Ocontrato no pode prevalecer sobre alei, sendo a ressalva contratual nulade pleno direito. At ento no haviasido posta em dvida a clusula con-tratual, por entender-se que o artigodo Cdigo Civil era apenas dispositi-vo. O Tribunal de So Paulo, ao con-trrio, entendeu, e entendeu bem, queessa norma legal era de ordem pbli-ca, dirigida ao juiz para um juzo deeqidade. Alm disso, determinou queo bem fosse avaliado, cabendo costu-reira parte do valor apurado, o que a leiveio depois consagrar(2000, p. 125).

    3.2. Aspecto valorativo dalgica do razovel

    Conforme ensina Recsens SICHES:

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    A la vista de este esbozo de anli-sis de la accin humana, resulta posi-ble darse cuenta de que la lgica de laaccin humana o lgica de lo razona-ble, presenta, entre otras, las siguien-tes caractersticas:

    (...)Segundo, est impregnada de va-

    loraciones, esto es, de criterios estima-tivos o axiolgicos. Advirtase que esadimensin valoradora es por comple-to ajena a la lgica formal, o a cual-quier teor de la inferencia. Ese estarimpregnada de valoraciones es uno delos rasgos que decisivamente diferen-cia la lgica de lo razonable frente a lalgica de lo racional(1979, p. 258).

    A dimenso valorativa da lgica do ra-zovel destaca a diferena entre a lgica for-mal e a lgica do razovel.

    Em que medida se pode falar de uma l-gica jurdica? Certamente no se trata damera aplicao da lgica tradicional ao Di-reito; afinal, como bem aponta PERELMAN,no h mais sentido em falar de lgica ju-rdica quando nos referimos aplicaoda lgica geral aos fins especficos do Direi-to; assim como falarmos em lgica bioqu-mica ou lgica zoolgica ao utilizarmosas leis da lgica geral aplicadas bioqumi-ca ou fsica (1988, p. 13).

    Excluda essa concepo, encontramosno pensamento jurdico duas tendnciasbsicas sobre o conceito de lgica jurdica:para alguns, a lgica jurdica parte de umadisciplina mais abrangente, a lgica den-tica, que se ocupa de todos os campos doconhecimento que lidam com normas. Paraessa corrente, a lgica jurdica uma lgicaque se ocupa da formalizao da linguagemjurdica e tem por objetivo examinar as es-truturas formais do Direito6.

    Outra vertente doutrinria, na qual seincluem Recasns Siches e Miguel Reale,constatou que a experincia jurdica temdemonstrado que, na prtica cotidiana, osaplicadores do Direito se utilizam de umasrie de tcnicas intelectuais peculiares ao

    seu campo, tcnicas estas que, considera-das em conjunto, configuram inegavelmen-te uma espcie diferente de saber. Essa ou-tra lgica, assim definida, chamada por al-guns de lgica material do Direito (em oposi-o lgica formal tradicional), denomina-da por Recasns SICHES lgica do razovel.

    A expresso lgica do razovel deno-ta a convico de que esse saber a que nosreferimos um saber que atua dentro docampo da razo, mas ao mesmo tempo trans-cende as categorias da lgica formal. Trata-se de uma forma de conhecimento que, noobstante seja distinta da lgica formal, aindareivindica para si o status da racionalidade.

    3.3. Aspecto concreto dalgica do razovel

    Conforme ensina Recsens SICHES:A la vista de este esbozo de anli-

    sis de la accin humana, resulta posi-ble darse cuenta de que la lgica de laaccin humana o lgica de lo razona-ble, presenta, entre otras, las siguien-tes caractersticas:

    (...)Tercero, tales valoraciones son

    concretar, es decir, estn referidas auna determinada situacin humanareal, a una cierta constelacin social y,en consecuencia, deben tomar en cuen-ta todas las posibilidades y todas laslimitaciones reales(1979, p. 258).

    A dimenso concreta da lgica do razo-vel destaca a necessidade de utilizao doselementos do caso particular, a dimensoda eqidade da norma, da justia do casoconcreto.

    Nesse aspecto, pode estar, inclusive, aescolha do mtodo interpretativo mais efi-caz para determinada situao ftica sujei-ta Cincia Jurdica.

    Assim, tratando dos mtodos hermenu-ticos e da lgica do razovel em Siches, Gus-tavo PACHECO afirma:

    em cada caso o juiz deve interpretar a leisegundo o mtodo que leve soluo maisjusta entre todas as possveis, inclusive

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    quando o legislador impertinente-mente tiver ordenado um determina-do mtodo de interpretao (...) O or-denamento jurdico positivo, e portan-to o legislador, se prope, atravs dasnormas que emite, obter o maior graude realizao da justia, e dos valorespor ela implicados, em uma determi-nada sociedade. Tal , ao menos emprincpio, a inteno de todo sistemade Direito positivo, independentemen-te de qual seja o grau, maior ou me-nor, em que tenha conseguido reali-zar com xito este intuito. Assim, o le-gislador se prope com suas leis a re-alizar da melhor maneira possvel asexigncias da justia. Portanto, se ojuiz trata de interpretar essas leis demodo que o resultado de aplic-las aoscasos singulares traga a realizao domaior grau de justia, no faz outracoisa seno servir exatamente ao mes-mo fim a que se props o legislador. Ojuiz muito mais fiel vontade do le-gislador, e finalidade a que este seprops, quando interpreta as leis pre-cisamente de tal maneira que sua apli-cao aos casos singulares resulte omais prximo possvel da justia, doque quando as interpreta de uma ma-neira literal, ou reconstruindo imagi-nativamente a vontade autntica dolegislador, se esses mtodos aplicadosao caso aventado produzem uma so-luo menos justa [grifo nosso](1994,p. 122).

    Observe-se, por outro lado, que RecasnsSiches no defende o abandono do dogmada submisso do juiz ao Direito positivo,considerado por ele como garantia bsicade justia e do pleno funcionamento do or-denamento jurdico.

    3.4. Aspecto teleolgico e cultural dalgica do razovel

    Conforme ensina Recsens SICHES:A la vista de este esbozo de anli-

    sis de la accin humana, resulta posi-

    ble darse cuenta de que la lgica de laaccin humana o lgica de lo razona-ble, presenta, entre otras, las siguien-tes caractersticas:

    Cuarto, las valoraciones consti-tuyen la base o apoyo para la formu-lacin de los objetivos, esto es, para elestablecimiento de las finalidades.Tales objetivos o finalidades impreg-nan la lgica de lo humano o de lorazonable; y dan a sta su caracters-tica estructura especial.

    (...)Quinto, pero la formulacin de ob-

    jetivos o establecimiento de fines noslo se apoya sobre valoraciones, sinoque adems est condicionado por lasposibilidades que le ofrezca la reali-dad humana social concreta. El sea-lamiento de los fines u objetivos es elresultado de la combinacin del co-nocimiento sobre una realidad huma-na social particular con unas valora-ciones concebidas como pertinentesrespecto de lo que se debe hacer conesa realidad(1979, p. 258).

    A dimenso teleolgica e cultural da l-gica do razovel destaca que a conduta hu-mana finalstica.

    Admite-se que toda conduta humanadeve ser voluntria, isto , que sem vontadeno h conduta. A vontade implica sempreuma finalidade, porque no se concebe quehaja vontade de nada ou vontade para nada;a vontade sempre vontade de algo, isto , avontade sempre tem um contedo, que umafinalidade. Assim, afirma SICHES:

    La estructura del hacer humanoconsiste en que se quiere hacer lo quese hace, por algo (por un motivo, quederiva de una urgencia, de una necesi-dad, de un afn) y para algo (con unafinalidad), todo lo cual est dotado desentido o significacin(1979, p. 18).

    Nesse diapaso, colaciona-se o pensa-mento de REALE:

    Toda pessoa nica e nela j ha-bita o todo universal. Deve, assim, ser

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    vista como centelha que condiciona achama e a mantm viva, e na chama atodo instante crepita, renovando-acriadoramente, sem reduzir-se uma outra. Embora precria a imagem, o queimporta tornar claro que dizer pessoa dizer singularidade, intencionalidade,liberdade, inovao, transcendncia, o quese torna impossvel em qualquer concepotranspersonalista(2000, p. 135).

    3.5. Aspecto proporcional dalgica do razovel

    Conforme ensina Recasns SICHES:A la vista de este esbozo de anli-

    sis de la accin humana, resulta posi-ble darse cuenta de que la lgica de laaccin humana o lgica de lo razona-ble, presenta, entre otras, las siguien-tes caractersticas:

    (...)Sexto, consiguientemente la lgi-

    ca de lo razonable est regida porrazones de congruencia o de adecu-acin:

    A) Entre la realidad social y losvalores, es decir: cules sean los valo-res apropiados para la ordenacin deuna determinada realidad social.

    B) Entre los valores y los fines uobjetivos, esto es, cules sean los obje-tivos valiosos.

    C) Entre los objetivos y la realidadsocial concreta, esto es: cules sean lospropsitos de posible y convenienterealizacin.

    D) Entre los fines u objetivos y losmedios, en cuanto a la adecuacin delos medios para los fines.

    E) Entre los fines y los medios res-pecto de la correccin tica de los me-diar. Se trata de evitar la cada abis-mal en la perversa mxima de que elfin justifica los medios; mxima deintrnseca maldad, porque cuando setrata de servir un fin bueno con medi-os malos el fin pierde la bondad, con-tagindose de los medios.

    F) Entre los fines y los medios, enlo que se refiere a la eficacia de losmedios(1979, p. 258-259).

    A dimenso proporcional ou da razoa-bilidade da lgica do razovel destaca umaspecto muito em voga na hermenuticaconstitucional, o de que as leis devem seradequadas s suas finalidades.

    A idia de razoabilidade permeou gran-de parte da produo intelectual de Reca-sns SICHES, que enfatiza que toda a pro-duo do Direito (que se inicia com o traba-lho legislativo e culmina com a aplicaoconcreta s situaes individuais) deve es-tar inspirada pela noo do razovel, cujaanlise no se restringe aos elementos obje-tivos, mas inclui as circunstncias espao-temporais que limitam, influem e condicio-nam o homem, como ente possuidor de va-lores (1971, p. 533).

    Gilmar Ferreira MENDES utiliza propor-cionalidade e razoabilidade como expres-ses intercambiveis e contidas na clusu-la do devido processo legal do artigo 5, LIV,da Constituio Federal. Essa concluso foiobtida aps a anlise de decises proferidaspelo Supremo Tribunal Federal, especialmen-te quanto ao julgamento da Ao Direta deInconstitucionalidade n. 958-3-RJ, acerca daconstitucionalidade do artigo 5, seus par-grafos e incisos, da Lei n. 8.713, de 30 desetembro de 1993:

    Portanto, o Supremo TribunalFederal considerou que, ainda que olegislador pudesse estabelecer restri-es ao direito dos partidos polticosde participar do processo eleitoral, aadoo de critrio relacionado comfatos passados para limitar a atuaofutura desses partidos parecia mani-festamente inadequada e, por conse-guinte, desarrazoada.

    Essa deciso consolida o desenvol-vimento do princpio da proporciona-lidade ou da razoabilidade como pos-tulado constitucional autnomo quetem sua sedes materiae na disposioconstitucional que disciplina o devi-

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    do processo legal (art. 5, inciso LIV).Por outro lado, afirma-se de maneirainequvoca a possibilidade de decla-rar a inconstitucionalidade da lei emcaso de sua dispensabilidade (inexi-gibilidade), inadequao (falta de uti-lidade para o fim perseguido) ou deausncia de razoabilidade em senti-do estrito (desproporo entre o obje-tivo perseguido e o nus imposto aoatingido(1994, p. 469-475).

    4. O pragmatismo norte-americano

    Consider what effects, that mightconceivably have pratical bearings,we conceive the object of our concep-tion to have. Then, our conceptions ofthese effects is the whole of our con-ception of the object.

    Charles S. Peirce7Segundo ABBAGNANO, o pragmatis-

    mo a forma que foi assumida, na filosofiacontempornea, pela tradio clssica doempirismo ingls. Para Locke, como paraHume, pode-se considerar vlido qualquerproduto da atividade humana, desde queseja possvel encontrar na experincia oselementos de que resulta e desde que essessejam relacionados entre si do mesmo modoque na experincia (2000, p. 7).

    Para Peirce, fundador do Pragmatismo,esse um mtodo de tornar claras as idi-as, relacionando-as com seus efeitos 8.

    Assim, na longa discusso entre o empi-rismo e o idealismo, o pragmatismo aproxi-ma-se do empirismo, conforme destaca Peir-ce, em seu artigo How to make our ideasclear 9.

    Tratando da investigao cientfica, Peir-ce destaca que h diferentes modos paraestudar a velocidade da luz. Entretanto, to-dos eles convergem para um determinadoncleo comum. Assim, diferentes concepesfluem para a verdade, que a realidade10.

    O Pragmatismo surge na Universidadede Harvard nos EUA, no final do sculo XIXe incio do sculo XX. Devem-se ressaltar

    para sua compreenso os seus trs autoresclssicos: Charles Peirce, William James eJohn Dewey.

    No mbito deste trabalho que se volta segurana jurdica das decises judiciais,analisaremos somente os dois primeirosautores acima citados, pois que fundamen-tais compreenso da filosofia pragmticado Justice HOLMES.

    4.1. O pragmatismo como teoria dosignificado na viso de seu fundador

    Charles Peirce, autor com vasta biblio-grafia em temas que hoje seriam chamadosde filosofia da cincia, a partir dos qua-renta e oito anos de idade, consagrou-se filosofia. Foi, tambm, bastante conhecidopelo desenvolvimento da lgica simblica eda semitica, a teoria dos signos e smbolos.

    Nunca escreveu um livro. Viveu e traba-lhou na obscuridade. Foi seu amigo Willi-am James, que tornou o pragmatismo ame-ricano conhecido mundo afora (cf. KURTZ,1969, p. 45).

    Para Peirce, o conhecimento no umfato impessoal; adquire-se conhecimentocomo participante e no como mero espec-tador. Nesse diapaso, ABBAGNANOsintetiza:

    A tese filosfica fundamental dePeirce que o nico fim de toda a in-dagao ou forma de proceder racio-nal o estabelecimento de uma cren-a, entendendo-se por crena um h-bito ou uma regra de aco que, mes-mo que no conduza imediatamentea um acto, torna possvel um dadocomportamento quando a ocasio seapresenta (2000, p. 9).

    Nada definitivo no nosso conhecimen-to. ABBAGNANO, citando Peirce, afirmaque uma proposio verdadeira uma proposi-o acreditada que no conduzir a qualquer de-cepo enquanto no for compreendida de formadiferente daquela como foi inicialmente entendi-da (2000, p. 10).

    Peirce influenciou os trabalhos de Willi-am James e John Dewey, no obstante cada

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    um deles tivesse preocupaes diversas comtemas distintos. Assim, de acordo comBryan MAGEE:

    Quando os Estados Unidos se fir-maram como uma nao independen-te perto do final do sculo XVIII, issodeu novo mpeto ao desenvolvimentode uma cultura e de uma abordagemdas idias especificamente norte-ame-ricanas. Mas foi preciso quase outrosculo para que a filosofia norte-americana se desenvolvesse a ponto deatrair a ateno internacional; e veioento uma poca, no final do sculoXIX e comeo do XX, em que o departa-mento de filosofia de Harvard foi con-siderado por muitas opinies abaliza-das como o melhor do mundo. Trs ex-traordinrios filsofos norte-america-nos dessa poca adquiriram desde en-to status de clssicos e ficaram conhe-cidos como os pragmatistas america-nos. Destes, o mais original foi Char-les Sanders Peirce; o mais agradvel deler, William James; e o de projeo maisampla, John Dewey (2000, p. 186).

    No mbito da mutabilidade das verda-des, a influncia de Peirce em Dewey enor-me. Conforme destaca Martyn OLIVER:

    Em The Quest for Certainty (ABusca da Certeza), Dewey afirma quea investigao filosfica tradicional,que busca descobrir verdades perma-nentes baseadas em um conhecimen-to seguro e imutvel do mundo, umaatividade intil, pois ela est sempreem mutao. O critrio da verdade no fornecido por estruturas permanen-tes da realidade, mas sim pela expe-rincia. Por isso, a filosofia quase nun-ca tem conseqncias prticas, j queprocura encontrar um ponto de obje-tividade arquimediano alm da expe-rincia e, portanto, alm da prti-ca(1998, p. 138).

    O significado de uma idia deve ser des-coberto com base nos seus efeitos prticos.Em How to make our ideas clear? (1878), afir-

    ma Peirce que idia clara aquela que nose confunde com nenhuma outra. Nesse as-pecto, MAGEE assinala:

    Talvez a tese central de Peirce sejaa de que o conhecimento uma ativi-dade. Somos levados a inquirir, a que-rer saber, por alguma necessidade,carncia ou dvida. Isso nos leva aavaliar nossa situao-problema, atentar ver nessa situao o que esterrado, ou faltando, e os modos comopode ser corrigido.(...) O primeiro arti-go importante de Peirce se chamavaComo tornar claras nossas idias(1878), e ali se sustenta que para en-tender um termo claramente devemosperguntar a ns mesmos que diferen-a faria a sua aplicao nossa avalia-o de nossa situao-problema, oude uma soluo proposta para ela.Essa diferena constitui o significadodo termo (2000, p. 186).

    Nesse artigo, Peirce defende a tese cen-tral de que o conhecimento uma ativida-de prtica. Somos levados a indagar poralguma necessidade ou dvida (KURTZ,1969, p. 66).

    No mesmo sentido, William James afir-ma que a filosofia no uma cincia estan-que, algo para ser vivido integralmente 11.

    Peirce exemplifica que, no cotidiano, ohomem deve fazer opes e avaliar a situa-o-problema apresentada. Em indagaessimples, tal qual, como pagar o cocheiro quenos transportou? com um nickel ou com cin-co moedas de um centavo?, a resposta deve-ria ser: pagar com a(s) primeira(s) moeda(s)que aparecer (em) (cf. KURTZ, 1969, p. 65-66).

    O conceito de uma idia vincula-se aosefeitos daquela idia. Assim, o conceito deser duro (hard) vincula-se a no ser facil-mente arranhado por outras substncias. Oconceito de duro vincula-se, portanto, aosefeitos de ser duro. Algo pode ser duro emuma determinada circunstncia (compara-tiva) e mole em outra. O que demonstra queo conhecimento no absoluto e imutvel(KURTZ, 1969, p. 70).

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    Tambm, por meio de Peirce desenvol-ve-se a semitica, sendo o pragmatismo omtodo para determinar os significados dostermos.

    4.2. O aspecto moral do pragmatismo naviso de William James

    William James, mdico que ensinou su-cessivamente fisiologia, filosofia e psicologiaem Harvard, foi o autor que tornou o pragma-tismo mundialmente conhecido, tendo sidoconferencista em universidades europias.

    Em Philosophical conceptions and practicalresults, afirmou James que Peirce foi o funda-dor do Pragmatismo (cf. KURTZ, 1969, p. 105).

    Enquanto Peirce propunha que o prag-matismo fosse uma teoria do significado (se-mitica), com uma preocupao com a cin-cia, James tratou-o como uma teoria da ver-dade no campo da moral e da religio.

    Para James, o pragmatismo uma teoriada verdade que permite para um determi-nado indivduo testar uma determinadaidia em uma determinada circunstncia12.

    Para ele, verdadeiro qualquer coisa queresponda, satisfatoriamente, s indagaeshumanas. Exemplifica com a crena religio-sa, que auxilia uma me que perdeu seu fi-lho, na medida em que extrai conforto aoacreditar que seu filho est no cu (cf. MA-GEE, 2000, p. 189).

    Nesse sentido, ABBAGNANO afirma:O mtodo pragmtico foi enxertado no

    tronco da filosofia tradicional e utilizadopara uma defesa do espiritualismo por Wi-lliam James (...) Segundo este ponto de vista,tornam-se verdadeiras as crenas que soteis para a aco(2000, p. 11-12).

    Para James, as questes morais necessi-tam de resposta como as questes do mun-do visvel. Na obra The will to belief, afirmaque um organismo social de qualquer tipo,grande ou pequeno, o que porque cadamembro segue a sua conscincia moral coma confiana que os outros faro o mesmo(KURTZ, 1969, p. 138).

    Destacando esse aspecto, ABBAGNANOafirma:

    A tese fundamental de A vonta-de de crer consiste em que, sendo afuno do pensamento servir a aco,o pensamento no tem o direito de ini-bir ou bloquear crenas teis ou ne-cessrias para uma aco eficaz nomundo.(...) A simpatia, o amor, con-quistam-se com a f na sua possibili-dade. E qualquer organismo social,por pequeno ou grande que seja, serege pela confiana em que cada umfar o que deve, e , assim, uma conse-qncia desta confiana (2000, p. 13).

    James influenciou a Psicologia moder-na, na obra The principles of psychology (1890) clssico da psicologia at hoje. Sua teoriapsicolgica tem razes em Darwin (que in-fluenciar, tambm, Holmes) e contribuiupara o crescimento da psicologia do compor-tamento (behaviorismo) conscincia comouma funo e no como um ser (coisa) 13.

    A psicologia do comportamento vincu-la-se intimamente importncia da reali-dade que permeia toda a filosofia pragma-tista. O comportamento dos seres humanose dos animais visto igualmente em termosde respostas condicionadas aos estmulosambientais.

    Na concepo do radical empirism, Jamesexpressa que a filosofia s deve tratar deobjetos vinculados experincia, pois o pen-samento, por distinto que possa ser da ma-tria, essencialmente um espelho da realidadeexterna. Nesse aspecto, James dar nfase anlise do concreto em oposio anliseracional-idealista do todo.

    Nessa afirmao, James influenciar Ri-chard Rorty, pragmtico americano contem-porneo, que, na obra A filosofia e o espelhoda natureza, afirma que os argumentos cons-trudos pelos filsofos para suas filosofiasdo conhecimento e da verdade so aciden-tais, e no mais ou menos objetivos.

    William James assinala no artigo A worldof pure experience que:

    Para ser radical, o empirismo nodeve admitir na sua estrutura qualquerelemento que no fruto da experin-

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    cia e nem excluir qualquer elemento queseja fruto desta(KURTZ, 1969, p. 152).

    Explica Will DURANT que o pragmatis-mo americano volta-se ao resultado dos atoshumanos, no a suas origens:

    Em vez de perguntar onde sur-giu a idia, ou quais so as suas pre-missas, o pragmatismo examina osseus resultados; ele desloca a nfasee olha para frente; ele a atitude dedesviar o olhar das primeiras coisas,dos princpios, das categorias, dassupostas necessidades, para as coisasfinais, os frutos, as conseqncias, osfatos. A escolstica perguntava: Oque a coisa? e perdeu-se em qidi-dades; o darwinismo perguntava:Qual a sua origem? e perdeu-seem nebulosas; o pragmatismo pergun-ta: Quais as conseqncias? e vol-ta o rosto do pensamento para a aoe o futuro(2000, p. 464-465).

    Nesse aspecto das conseqncias e do agirconcreto que o pragmatismo ir influenciaro direito no realismo jurdico de Oliver Wen-dell Holmes.

    4.3. O aspecto jurdico do pragmatismona viso de Holmes

    Oliver Wendell Holmes Jr. (1841-1935)foi contemporneo de William James (1842-1941). Nomeado juiz da Corte Suprema em1902, pelo Presidente Theodore Roosevelt,ocupou o cargo por trinta anos.

    Holmes Jr. nasceu em Boston, Massachu-setts, primeiro de trs filhos de uma famliade classe mdia. Seu pai era mdico e littra-teur. A habilidade verbal do pai estava pre-sente no filho, que tinha um estilo levemen-te combativo. De sua me, Holmes herdouforte sentido de dever puritano e um ceticis-mo por tudo que no fosse evidente.

    Na juventude, Holmes foi influenciadopor Ruskin, Carlyle e Emerson, a quem co-nheceu pessoalmente, pois freqentavam, ostrs, ocasionalmente, a casa de seus pais.Emerson, especialmente, instigou em Hol-mes a investigao filosfica.

    Como seus contemporneos, Emersonbuscava uma espcie de substituto cientfi-co para a religio. Entendia ele que a cin-cia, particularmente a cincia da evoluo,explicaria e justificaria as instituies hu-manas; por isso, buscava na cincia da evo-luo a justificao do dever.

    Outra grande influncia em sua juven-tude foi o renascer, na Gr-Bretanha e nosEstados Unidos, dos princpios do cavalei-rismo (chivalry).

    No entender de Holmes, os juzes pri-meiro decidiam as causas para, aps, justi-ficar suas decises. Desde 1872, e at o finalde sua vida, Holmes expressava a idia deque a lei refletia no a opinio da maioria,mas os interesses de uma classe dominante.Consciente ou inconscientemente, os juzesexpressavam os desejos da classe da qualadvinham.

    A concluso principal de The common law,sua grande obra, a seguinte: se a lei ape-nas um instrumento para atingir determi-nados objetivos de ordem material, segue-se que a lei deveria ocupar-se apenas docomportamento exterior; seu contedo me-ramente moral ou subjetivo deveria ser-lheretirado por meio do processo de evoluo.Holmes sustentava poder distinguir no di-reito em desenvolvimento uma tendncia aapoiar-se em padres externos de com-portamento, em vez de estados subjetivosda mente ou culpabilidade pessoal.

    Sendo assim, Holmes voltava sua aten-o s conseqncias objetivas e materiaisda lei. Aqui insere-se sua teoria de que, paraentender a lei, deve-se partir do ponto devista de um homem mau, que no tem com-promisso com a moralidade (a bad manwho does not care for morality) (apudMARKE, 1955).

    Para Holmes, deve-se entender a lei demaneira prtica, vendo-a dissociada da mo-ralidade. Um homem mau tem tantos moti-vos quanto um homem bom para evitarconfrontos com a fora pblica, emborano se importe com regras ticas da socie-dade na qual vive. O que ele quer a todo

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    custo evitar a multa, a pena de recluso,ou seja, a sano.

    A norma, para Holmes, no se confun-de com a moral, embora seja por ela limi-tada. Mas, o que constitui a norma? Lem-bra Holmes que alguns doutrinadoresensinam que a norma distinta da juris-prudncia, das decises das cortes judi-ciais; que um sistema de pensamento,uma deduo de princpios de tica ou dedados axiomas ou qualquer outra coisa,que pode ou no coincidir com as deci-ses judiciais. Se lembrarmo-nos do ho-mem mau, contudo, veremos que, paraele, no interessam axiomas ou solues;para ele, o que importa so as decisesdas cortes. A promessa de sano e suaconcretizao so, exatamente, aquilo queconstitui a norma14.

    Para Holmes, as idias dominantes eramidentificadas com classes dominantes ougrupos raciais. O triunfo das idias refleti-ria a vitria do grupo. Sendo assim, a leiseria esse reflexo, ou seja, a garantia de so-brevivncia desse grupo.

    Embora, hoje, essas idias no pareamcientficas, preciso lembrar que, quandoHolmes escrevia sua obra The common law,as leis da gentica ainda no haviam sidoestabelecidas, e grande parte do que hojeconsideramos cultura acreditava-se serherdado. Era comum poca, por exemplo,referir-se classe dos trabalhadores comouma raa distinta daquela de seus em-pregadores.

    O pensamento de Holmes, nesse ponto,faz eco ao darwinismo social, idia formu-lada na dcada de 1850 pelo filsofo e soci-logo ingls Herbert Spencer, cujas declara-es iniciais antecederam Da origem das es-pcies de Darwin. Para Spencer, o progressohumano uma questo de competio bem-sucedida que resulta na sobrevivncia domais forte; os mais fortes e superiores sobre-vivem, ao passo que os mais fracos perecemou so dominados por aqueles, processoque conduz ao aperfeioamento contnuodas sociedades.

    O darwinismo social foi postura comumno final do sculo XIX e incio do sculo XX,atraindo sobretudo a ateno dos conserva-dores, pois justificava o status quo. Era mui-to empregado para explicar a expanso im-perialista e a estratificao social, as dispa-ridades econmicas e a desigualdade soci-al como naturais e inevitveis: o domnio deuma nao, classe ou raa sobre outra sim-plesmente demonstrava que esta era maisapta a governar. Entre os pensadores spen-cerianos de maior destaque na poca estoo terico poltico ingls Walter Bagehot, cujolivro Fsica e poltica, de 1872, correlaciona-va as cincias naturais e sociais, e o socilo-go americano William Graham Summer, queafirmava que o imperativo evolucionista tor-na as reformas sociais ineficazes e desne-cessrias.

    de destacar ainda a eugenia, vinculadaao darwinismo social e, em parte, por eleinspirada. Segundo essa teoria, seria poss-vel aprimorar a gentica humana por meiode procriao seletiva. Inspirado na idiade que certos indivduos e grupos tnicosso geneticamente superiores aos outros, oseugenistas afirmavam que os traos desej-veis, como inteligncia e moral, podem au-mentar na populao pela promoo da pro-criao entre os mais aptos (o que geral-mente era sinnimo de anglo-saxes) e pelodesestmulo ou pela preveno da procria-o dos no-aptos. O movimento tevegrande repercusso nos Estados Unidos, naGr-Bretanha e na Alemanha nos anos pre-cedentes s guerras mundiais. Foi respon-svel pelas leis americanas que restringiama imigrao do Sul e do Leste europeus, proi-biam a miscigenao e exigiam a esteriliza-o de criminosos e de deficientes mentais(ROHMANN, 2000, p. 93-94).

    Hoje, com o anncio recente de que oscientistas iniciaro a clonagem de seres hu-manos, a eugenia estar sendo repensada.Da por que esse assunto, a clonagem depessoas, j cientificamente possvel, vemsendo calorosamente debatido pelos juris-tas. Podem ser clonados criminosos ou defi-

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    cientes? Ou apenas indivduos considera-dos mais aptos, ou advindos de determi-nada classe ou raa? 15

    Holmes, entretanto, adicionou suas pr-prias idias ao evolucionismo. Os juristastinham grande dificuldade de entendercomo as vrias normas eram interpretadase aplicadas pelos tribunais. O proprietrio,por exemplo, tinha um dever para com seushspedes, mas no em relao aos invaso-res. As companhias frreas tinham deverescomplexos em relao a seus passageiros eaos proprietrios das cargas que levavam etraziam, e outros deveres em relao a pe-destres que cruzassem suas linhas. Holmes,tambm, de incio lutava com essas ques-tes. Em 1880, contudo, concebeu um novoconceito. A questo, sempre, caso a caso,envolveria a imposio, ou no, de sanes.Importava examinar no as regras, em si,mas as circunstncias sob as quais a infra-o regra seria punida. Ao observar essascircunstncias ignorando a racionalizaosobre dever e regras de conduta, a Holmesfoi possvel formular conceitos sobre a nor-ma e sua relao com a sociedade. Seu prin-cpio organizatrio era o seguinte: uma san-o seria imposta por danos que uma pessoa co-mum poderia ter previsto.

    Com esse princpio, Holmes unificavatodos os ramos do Direito, permitindo amaior liberdade pessoal possvel e, ao mes-mo tempo, evitando danos aos outros. A dis-cusso na obra The common law sugere queos juzes gradualmente traduzissem esseprincpio geral em regras especficas de con-duta. Essa teoria de Holmes teve grande in-fluncia na anlise econmica da lei, embo-ra Holmes no estivesse preocupado comas conseqncias econmicas da norma. Eleentendia que a norma tinha razes mais pro-fundas. Em The common law, ele argumentaque a norma evoluiu de origens mais primi-tivas at o padro externo da sano,como forma de substituio da regra pacfi-ca pelo antigo regime de violncia. Nesseprocesso, tornou-se um instrumento paraservir a fins sociais.

    5. A lgica do razovel e a visopragmtica do Direito como mtodos

    hermenuticos de conduo segurana jurdica

    5.1. A lgica formal e a lgica do razovel

    Ressaltando a busca de uma nova lgi-ca de interpretao distinta da lgica for-mal dedutiva, que considerava o Direitocomo um sistema estanque, Recasns SI-CHES faz meno obra de Viehweg e Pe-relman para condenar o pensamento jurdi-co sistmico e dedutivo:

    El profesor alemn Theodor Vi-ehweg, reivindicando la tpica, la re-trica y la dialctica de Aristteles,Cicern y los jurisconsultos romanos,muestra que el pensamiento jurdicono puede ser jams sistemtico, ni deduc-tivo, sino que debe ser pensamientosobre problemas, en torno a proble-mas, que considere todos los compo-nentes de tales problemas, lo mismolos hechos humanos sociales que losintegran, como tambin los criteriosvaloradores adecuados: debe ser loque se llama pensamiento aportico, esdecir, pensamiento que parte o arran-ca de la consideracin pormenoriza-da y profunda de un problema huma-no, al revs de lo que sucede com elpensamiento sistemtico que pre-tende extraer racionalmente conse-cuencias de premisas supuestamen-te axiomticas.

    Por una lnea similar a la de Theo-dor Viehweg, el profesor belga ChaimPerelman, inspirndose tambin en ladialctica y en la retrica de la Anti-gedad Clsica, condena definitiva-mente el pensamiento silogstico ymatematizante en campo del Derecho;y propugna una forma de. razonami-ento ms elevado, que es la deliberaci-n sobre las argumentaciones presenta-das en los casos jurdicos; y desen-vuelve toda una doctrina sobre la ar-

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    gumentacin y la deliberacin, lascuales nos llevan a la evidencia decarcter absoluto, pero conducen alhallazgo de la solucin ms justa y msadecuada para decidir los problemasjurdicos prcticos. Perelman elaborauna nueva retrica, com, una nuevadoctrina sobre el dilogo y la delibe-racin, y sobre la confrontacin entreargumentos diferentes(1979, p. 228).

    Recasns SICHES destaca, pois, a impor-tncia de centralizar a atividade hermenu-tica no problema, conforme dada nfasepela Tpica e pela Retrica-argumentativa,como meios de alcanar a deciso judicialprudente para a questo.

    Como afirma Paulo Roberto SoaresMENDONA,

    Recasns Siches inverte o eixo daoperao interpretativa, a qual passaa estar centrada no caso e no na nor-ma e, com isso, faz com que a normaaplicvel seja aquela realmente ade-quada ao fato existente e no apenasuma mera adaptao de uma lei gen-rica. A deciso passa ento a apresen-tar um carter construtivo, uma vezque atualiza o sentido da norma acada causa julgada, com o que a lite-ralidade do texto legal torna desne-cessrio um esforo hermenutico, nosentido de obter uma explicao ra-cional, para uma deciso que consi-dera de antemo como justa. A deci-so originada pela aplicao da lgi-ca do razovel pode ser melhor clas-sificada como correta, porque funda-da em valores socialmente relevantes(1997, p. 56-57).

    Por fim, evitando a babel dos mtodoshermenuticos tradicionais, SICHES pro-pugna a existncia de um nico mtodo, ellogos de lo razonable:

    Conviene insistir sobre el puntode que debemos desechar de una vezy para siempre el referirnos a una plu-ralidad de diversos mtodos de inter-pretacin. Ya expuse que el mtodo

    de interpretacin es uno solo; este solomtodo es el del logos de lo razona-ble, o, si se prefiere llamarlo as, el dela equidad(1979, p. 246).

    As limitaes da aplicao da lgica tra-dicional ao Direito so demarcadas compreciso por Recasns SICHES:

    Reconocer que la lgica de lo ra-cional es impertinente, intil y mu-chas veces perjudicial en el campo dela jurisprudencia; y que, para la juris-prudencia, la lgica que viene en cu-estin es la de lo razonable (1979, p.248).

    Assim, Siches demonstra que a lgicatradicional no campo do Direito no deveser empregada com exclusividade, pena decriar insegurana o resultado do processode deciso pode no ser adequado reali-dade. O que Recasns Siches pretende de-mostrar que tal lgica tem um campo deaplicao bastante limitado na esfera jur-dica, e que querer transcender esse campoleva inevitavelmente possibilidade de quesejam proferidas sentenas que, ainda queestejam de acordo com os requisitos da lgi-ca tradicional, so notoriamente injustas.

    Durante muito tempo, juristas conscien-tes buscaram evitar as decises injustas pormeio de malabarismos tcnicos que procu-ravam demonstrar que a soluo justa esta-va de acordo com a lgica tradicional. Mos-trando as verdadeiras razes que funda-mentam as solues justas que repelem algica tradicional, Recasns Siches se pro-pe a mostrar a esses juristas que o seu pro-cedimento era e correto, eliminando-se,assim, o complexo de culpa decorrente dano aplicao da lgica tradicional.

    Como funciona a lgica do razovel?Recasns Siches responde a essa perguntaanalisando detalhadamente um caso con-creto, j aventado anteriormente por outrosjuristas. Em uma estao ferroviria da Po-lnia, havia uma placa transcrevendo umartigo do regulamento da ferrovia, que proi-bia a presena de cachorros na plataforma.Certa vez, uma pessoa tentou entrar acom-

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    panhada por um urso, e o empregado en-carregado da vigilncia lhe barrou a passa-gem. A pessoa protestou, alegando que oartigo do regulamento proibia apenas a pre-sena de cachorros, e no de outros animais.Surgiu, portanto, um conflito em torno dainterpretao daquele artigo.

    Recasns Siches mostra, a partir da,como a aplicao estrita da lgica tradicio-nal a esse caso levaria forosamente con-cluso de que a pessoa que trazia o ursotinha direito a entrar com ele na plataforma.No h maneira de se atribuir norma emquesto outro sentido; o autor do regulamen-to no usou uma designao ampla, tal comoanimais perigosos, animais de grandeporte, nem sequer simplesmente ani-mais, usou a palavra cachorros, de sig-nificado absolutamente unvoco.

    claro que at mesmo um leigo percebe-ria que a concluso a que chegou o passagei-ro era absurda, mesmo sendo a nica corretado ponto de vista da lgica tradicional.

    Assim, nesse didtico exemplo de Siches,fica caracterizada a inadequao da lgicatradicional resoluo de problemas jur-dicos. Observa-se, por outro lado, que o em-pregado da estao utilizou-se, intuitiva-mente, da lgica do razovel, obtendo solu-o mais adequada e segura ao problema.

    Recasns Siches mostra que o raciocniodo empregado para chegar interpretaoadequada passou pela anlise de valores sub-jacentes norma jurdica (dimenso valorati-va), aos fins dessa norma (dimenso teleol-gica) e relao entre meios e fins da norma(dimenso proporcional) para a sua aplica-o no caso concreto (dimenso concreta).

    Portanto, as dimenses estudadas naseo anterior constituem princpios direti-vos a serem aplicados na hermenutica debusca da soluo jurdica segura para apacificao social.

    Em lapidar artigo, ressalta o Ministro doSuperior Tribunal de Justia Carlos AlbertoMenezes DIREITO:

    O Juiz tem, nos dias de hoje, umamplo campo do agir interpretativo.

    De modo geral, as teorias de interpre-tao procuram justificar esse papelconstrutivo do Juiz, como fundamen-to para a realizao da justia, para adistribuio pelo Estado da prestaojurisdicional ancorada na idia dajustia para todos. A lei, por isso, pas-sa a ser apenas uma referncia, deladevendo o Juiz extrair a interpretaoque melhor se ajuste ao caso concreto,com a preocupao nica de distribuira justia, ainda que, para tanto, tenhade construir sobre a lei, mesmo que aproposio esteja com claridade sufi-ciente para o caso sob julgamento(1999, p. 45).

    A hermenutica ganha hoje sempre maisvigor diante da rapidez com que a realida-de social se transforma; nesse aspecto, a l-gica do razovel, com suas dimenses jestudadas, contribui, enormemente, para acriao judicial, sem que se perca a segu-rana jurdica.

    indispensvel assinalar, como desta-ca Siches, o aspecto concreto da lgica dorazovel: es decir, estn referidas a una deter-minada situacin humana real.

    A rpida transformao social e a ade-quao da lei a casos concretos os mais di-versos no devem impedir o Juiz de buscar,a cada passo, distribuir justia, e de o fazercom uniformidade, com coerncia, de formaque o cidado no seja surpreendido porinterpretaes dspares.

    A deciso judicial deve inserir-se nosmandamentos da lei, mas com a temperan-a do razovel e do atual, pois o Juiz umagente do Estado, sempre bom repetir, queconcretiza o trabalho do legislador. A lei sest concretizada quando interpretada eaplicada ao caso concreto. E esse trabalhono de todo simples, como pode parecer.A o grave risco de transformar-se a ativida-de judicante em uma rotina de produzir sen-tenas. claro que em um pas como o nos-so, com uma enorme carga de processos, compoucos juzes e muitos processos, a tenta-o grande em deixar-se levar pelo des-

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    nimo. O Juiz deve considerar o ato de julgarcomo um trabalho que exige no apenas oseu conhecimento, mas, tambm, discipli-na. A disciplina para subordinar-se aocomando da lei, sem perder a capacidadede construir para fazer justia ao caso queest sob a sua responsabilidade; disciplinapara no transformar o seu julgamento nodesaguadouro das suas insatisfaes e cren-as pessoais; disciplina para meditar sobreo processo (DIREITO, 1999, p. 49).

    O trabalho de interpretao, por maioramplitude que possa ter, no tem legitimi-dade para ultrapassar os largos limites doordenamento jurdico. Entretanto, como res-salta Siches, os limites do ordenamento po-dem ser flexibilizados luz do problemapara adequao da norma realidade con-creta, com fundamentao slida, que per-mita que os juzes decidam luz do meio-dia e sem culpa.

    5.2. A lgica formal e algica jurdica de Holmes

    Em sua palestra The Path of the Law, pro-ferida na Faculdade de Direito da Universi-dade de Boston, HOLMES (1897) esclareceseu conceito de Direito. O Direito no ummistrio, algo mstico e pouco objetivo. Aocontrrio, uma profisso, ou, mais, a ala-vanca que ser necessariamente acionadapara que o Estado ponha em prtica a deci-so judicial. Assim, as pessoas precisam seradvertidas e aconselhadas sobre como agirpara que no infrinjam a lei: essa a tarefados advogados, dos operadores do Direito.

    A lei, por sua vez, deve conter um enun-ciado geral, e, a partir de uma srie de deci-ses judiciais, possvel ao cidado enten-der como deve agir para que no infrinja alei; ou, ao contrrio, o que ocorrer se a infrin-gir. A norma passa, ento, a constituir umaprofecia, qual d-se o nome de sentena 16.

    Holmes descreve a deciso judicial, por-tanto, como um acontecimento futuro certo,absolutamente predizvel17. Essa predicta-bilidade confere ao litigante segurana jur-dica, d-lhe todos os instrumentos para en-

    tender como ser julgado, nesta ou naquelacircunstncia.

    Essas previses, contudo, no so infini-tas, difceis, portanto, de dar-se a conhecer.Devem ser generalizadas e reduzidas a umsistema jurdico do qual possa o magistra-do dispor (cf. MARK, 1955, p. 60). Constitu-em, para Holmes, a essncia do Direito: Theprophecies of what the courts will do in fact, andnothing more pretentious, is what I mean by thelaw (p. 63).

    Para Holmes, a idia de que a lgica for-mal a nica fora presente na deciso ju-dicial e no Direito falaciosa.

    Admite o jurista que o Direito desen-volvido pela lgica, em sentido lato. Contu-do, inadmissvel afirmar que um sistemajurdico possa ser operado de forma mate-mtica, obtendo-se, de certas causas, deter-minados efeitos.

    Refere-se Holmes a um colega magistra-do que lhe teria dito jamais proferir umadeciso at ter certeza de que estava correta.Embora a deciso judicial utilize-se da lgi-ca, a certeza, para Holmes, uma iluso, e atranqilidade que dela advm no faz partedo destino da humanidade.

    possvel dar forma lgica a qualquerconcluso, mas a ela chega-se no pela lgi-ca, exclusivamente, mas, acima de tudo, poruma valorao do juiz, freqentemente inar-ticulada e inconsciente. Essa a raiz e onascedouro de todo o procedimento decis-rio (cf. MARK, 1955, p. 69).

    Nesse ponto, aproximam-se Holmes eRecasns Siches. Ambos admitem a impor-tncia da lgica formal no procedimentodecisrio, mas no o reduzem a apenas isso.Ressalta Alpio SILVEIRA, a comentar a l-gica do razovel de Siches: as duas lgicas aclssica e a do razovel entram na estrutura dadeciso, mas no com idntico carter funcional.A lgica do razovel ora pode ser reforada pelaprimeira, ora pode predominar sobre ela. O queno se pode admitir que a lgica clssica tenhaprimazia. Sempre predominar a lgica do ra-zovel, no passando a lgica clssica de um ins-trumento dela, de um dos elementos de que se

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    vale a lgica do razovel para chegar soluomais justa possvel, em face do sistema de valo-res que informam cada caso concreto([19- -?],p. 201-202).

    5.3. A lgica jurdica de Holmes e a lgicado razovel como mtodos hermenuticos de

    conduo segurana jurdicaA obra de Oliver Wendell Holmes e de

    Luis Recasns Siches tm pontos de conta-to: a soluo do caso concreto partindo-seda situao-problema, e no da norma; anegativa de que a lgica formal suficiente ou at mesmo prevalente fundamenta-o da deciso judicial; o reconhecimentoda idia de que o juiz, ao julgar, influencia-se por conceitos prprios, embora no pos-sa arbitrariamente decidir; a compreensodo direito como experincia desenvolvida apartir da razo histrica e de uma raciona-lidade humana, a que REALE se refere comorazo vital (2000, p. 42).

    preciso ter em mente, contudo, queHolmes nasceu em 1841 e, em 1902, foi no-meado Juiz da Suprema Corte norte-ameri-cana, onde serviu at quatro anos antes desua morte, em 1935. Recasns Siches, poroutro lado, escreveu boa parte de sua exten-sa bibliografia aps a Segunda Grande Guer-ra, embora seu manual sobre a Filosofia doDireito no sculo XX date de 192918. A pas-sagem da histria e a evoluo do pensamen-to jurdico-fisolfico encarregaram-se de aper-feioar e expandir em Siches algumas dasidias j presentes em Holmes. Demais disso,Recasns Siches era cosmopolita: foi profes-sor-visitante em dezenas de universidades,situadas na Europa e na Amrica (inclusiveem Braslia); escreveu nos idiomas espanhol,ingls, italiano, portugus, francs e alemo,e traduziu obras alheias do alemo, do italia-no e do ingls para o espanhol (a includasobras de Kelsen, Fischer, Radbruch, Weber,Del Vecchio e Kunz). Holmes manteve-se noeixo Inglaterra Nova Inglaterra.

    Os paralelos traados no presente estu-do, contudo, servem ao propsito de de-monstrar que, ao mesmo passo que os ju-

    zes devem submeter a norma ao caso con-creto e no o contrrio , utilizando-se demtodo hermenutico que privilegie a lgi-ca jurdica sobre a lgica formal, no po-dem distanciar-se da norma, julgando demaneira arbitrria. As conseqncias dainfrao norma devem ser sempre as mes-mas, guardadas as similaridades e diferen-as dos casos concretos, para que o homemcomum o cidado ou o homem mau, naspalavras de Holmes, possa ter convico deque sua causa ser julgada neste ou naquelesentido. A essa relativa certeza pois, comoafirma Holmes, no h certeza absoluta noDireito d-se o nome de segurana jurdica.

    A segurana jurdica tem razes no prin-cpio jurdico da igualdade, que consiste emigualar os iguais e desigualar os desiguais,no clssico ensinamento de Aristteles.

    preciso que o litigante sinta-se segurode que sua causa ser dada a mesma deci-so final que causa de outro litigante, emsituao idntica. E, por situao idntica,deve-se entender no apenas caso concretoidntico, mas, ainda, ocorrido no mesmotempo e no mesmo espao; enfim, sob asmesmas circunstncias.

    A segurana jurdica, assim, no diz res-peito apenas a pessoas iguais ou em situa-o igual, mas a casos concretos idnticossubmetidos mesma norma; ou, mais preci-samente, mesma norma submetida a ca-sos concretos idnticos19.

    Notas1 The life of the law has not been logic; it has

    been experience. The felt necessities of the time, theprevalent moral and political theories, intuitions ofpublic policy, avowed or unconsciors, even the pre-judices which judges share with their fellow-men,have had a good deal more to do than the syllogismin determining the roles by which men should begoverned (1991, p. 1).

    2 Segundo Trcio Sampaio Ferraz Jnior, o

    ncleo constituinte dessa teoria j aparece esboa-do ao final do sculo XVIII. O jusnaturalismo jhavia cunhado para o direito o conceito de sistema,que se resumia, em poucas palavras, na noo de

  • Braslia a. 40 n. 158 abr./jun. 2003 9 5

    conjunto de elementos estruturados pelas regrasde deduo. No campo jurdico, falava-se em sis-tema da ordem da razo ou sistema das normasconforme a razo, entendendo-se com isto a unida-de das normas a partir de princpios dos quais tudoo mais era deduzido. Interpretar significava, ento,inserir a norma em discusso na totalidade do sis-tema. O relacionamento, porm, entre sistema etotalidade acabou por colocar a questo geral dosentido da unidade do todo (1991, p. 240).

    3 Conforme assinala Jos Carlos Moreira AL-

    VES, no discurso inaugural da Assemblia Nacio-nal Constituinte de 1987, um dos argumentos her-dados do Estado liberal e hoje ainda fluente nosdebates quanto extenso do texto constitucionalse baseia na afirmao de que a Carta sinttica, deprincpios elevados e transcendentes, tem o mritode permitir que as mudanas sociais se realizemsem que se alterem os mecanismos do processopoltico (1988, p. 10).

    4 A primazia da retrica para o raciocnio jur-

    dico assinalada por CHAIM PERELMAN em suaobra La Lgica jurdica y la nueva retrica (1988).

    5 Para Holmes, a norma jurdica desvela uma

    trama em que todo o passado da humanidade detalhado. Belssima sua parbola, inserta no dis-curso feito Associao de Advogados de Suffolk,em jantar por esta oferecido, em 5.2.1885:

    When I think thus of the law, I see a princess migh-tier than she who once wrought at Bayeux, eternallyweaving into her web dim figures of the ever-lengthe-ning past, figures too dim to be noticed by the idle, toosymbolic to be interpreted except by her pupils, but tothe discerning eye disclosing every painful step and everyworld-shaking contest by which mankind has workedand fought its way from savage isolation to organicsocial life (MARKE, 1955, p. 92).

    6 Para maiores informaes a respeito da lgica

    dentica, vide Lourival VILANOVA (1997).7 Para desenvolver o significado de uma coisa,

    devemos simplesmente determinar quais os hbi-tos que ela produz, pois aquilo que uma determi-nada coisa significa consiste precisamente nos h-bitos a que d origem. Essa mxima foi propostapor PEIRCE no Popular Science Monthly em Janeirode 1878, p. 287 (apud KURTZ, 1969, p. 79).

    8 The meaning of an idea is to be discovered by

    reference to its conceivable practical bearings(KURTZ, 1969, p. 46).

    9 Thus we may define the real as that whose

    characters are independent of what anybody maythink them to be (KURTZ, 1969, p. 75).

    10 The opinion which is fated to be ultimately

    agreed to by all who investigate is what we mean bythe truth, and the object represented in this opinionis the real (KURTZ, 1969, p. 75).

    11 To James, philosophy was not a cloistered

    affair; it was to be lived and acted upon. James, a

    liberal in his political and social sentiments, was acivil service reformer, a pacifist, and an anti-impe-rialist, and he was sympathetic to some sort of so-cialistic equilibrium (KURTZ, 1969, p. 102).

    12 A theory of truth, which allowed for particu-

    lar individual and subjective consequences as thetest of an idea, thus making room for religious andmoral ideas. True ideas are those that we canvalidate, corroborate and verify. False ideas are tho-se that we can not (KURTZ, 1969, p. 120).

    13 Jamess influence on psychology was consi-

    derable, and he is frequently credited, with havingestablished the first psychological laboratory inAmerica. His great work, The Principles of Psycho-logy (1890), which took fourteen years to complete,is still considered a classic. Under the influence ofDarwin, James developed a biological and functio-nal psychology. His view that counsciousness wasa function, not an entity or stuff, contributed tothe growth of behaviorism (KURTZ, 1969, p. 104).

    14 The prophecies of what the courts will do in fact,

    and nothing more pretentious, are what I mean by thelaw (HOLMES, 1897).

    15 Quem assistiu ao filme The Boys from Brazil,

    inspirado na obra homnima de Ira Levin, ter vivaimagem de como a clonagem de seres humanos deh muito habita o imaginrio humano e de comoverdadeiras aberraes podem ser produzidas.

    16 It is to make the prophecies easier to be re-

    membered and to be understood that the teachingsof the decisions of the past are put into generalpropositions and gathered into text-books, or thatstatutes are passed in a general form. The primaryrights and duties with which jurisprudence busiesitself again are nothing but prophecies. (...) But, asI shall try to show, a legal duty so called is nothingbut a prediction that if a man does or omits certainthings he will be made to suffer in this or that wayby judgment of the court; and so of a legal right(MARKE, 1955, p. 60).

    17 The object of our study, then, is prediction,

    the prediction of the incidence of the public forcethrough the instrumentality of the courts (MA-RKE, 1955, p. 59).

    18 Direcciones contemporneas del pensamiento jur-

    dico. La Filosofia del Derecho en el siglo XX. (Manual n.198 da Coleccin Labor, Barcelona).

    19 A respeito do contedo jurdico do princpio

    da igualdade, cumpre reverenciar a obra de mesmonome de Celso Antnio Bandeira de Mello (1994).

    Bibliografia

    ABBAGNANO, Nicola. Histria da filosofia. Lisboa:Presena, 2000. v.11

  • Revista de Informao Legislativa9 6

    ALVES, Jos Carlos Moreira. Discurso inauguralda Assemblia Nacional Constituinte , 1987. Re-vista de Informao Legislativa, Braslia, SenadoFederal, n. 93