famílias esperam imóveis

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GERAIS 4 BELÉM, DOMINGO, 31 DE MAIO DE 2015 FAMÍLIAS ESPERAM IMÓVEIS EM 7 ANOS, SÓ 16 DAS 244 UNIDADES HABITACIONAIS PROMETIDAS NO PROJETO DO PORTAL DA AMAZÔNIA ESTÃO PRONTAS Portal da Amazônia, na orla de Belém, é hoje um dos principais cartões postais da cidade. Porém, para as 344 fa- mílias que foram remanejadas da área para a construção do novo espaço, há 7 anos, a janela para a baía representa um problema não resolvido. A maior parte deles ain- da espera pelos imóveis prometi- dos no início da obra. Segundo moradores da área, a construção das unidades habita- cionais está parada; duas empre- sas assumiram e depois deixaram a obra inacabada. Segundo informações forneci- das pela Caixa Econômica Fede- ral (CEF), o valor total do inves- timento no portal é de R$ 25,71 milhões, dos quais R$ 21,60 mi- lhões são repasses do Governo Federal e R$ 4,12 milhões corres- pondem à contrapartida da pre- feitura de Belém. Ainda segun- do a Caixa, dos R$ 25,71 milhões aplicados na obra via Caixa, R$ 10,39 milhões foram liberados - restam R$ 15,32 milhões. Ainda segundo a Caixa, o Pro- jeto de Urbanização de Assen- tamentos Precários do Portal da Amazônia prevê, além da cons- trução de 244 unidades habita- cionais, obras de drenagem, água, esgoto, iluminação pública e ur- banização na área. “As obras estão paralisadas em função da rescisão de contrato da empresa executora com a prefeitu- ra de Belém. Será necessária nova licitação, a ser feita pela prefeitura, à contratação de nova empresa para a conclusão dos serviços. O prazo licitado de 12 meses se ini- cia com a retomada das obras, a ser feita pela nova empresa a ser contratada”, explicou a assessoria de comunicação da Caixa. O terreno em que eram cons- truídas as unidades habitacionais fica na rua Osvaldo da Caldas Bri- to, próximo à orla da cidade, no bairro do Jurunas, mas hoje o lu- gar reflete ao descaso. Outra área, que fica na rua dos Mundurucus, também deverá ser usada para a construção das casas. “As obras estão inacabadas e 344 famílias ainda aguardam para ser remanejadas. Somente 16 uni- dades foram entregues”, diz Agos- tinho Gonçalves Farias, 55 anos, vice-presidente da Associação dos Moradores do Portal da Amazô- nia, que mora há 29 anos na área. “Quem não recebeu a casa própria foi beneficiado com auxílio-mo- radia de 450,00 da prefeitura, mas nesses sete anos teve reajuste de apenas R$ 50,00. O valor não dá para alugar imóvel para uma família, pois a área sofreu espe- culação imobiliária e os valores aumentaram. Eu tiro todo mês R$ 200,00 do meu dinheiro para ajudar a pagar meu aluguel, que é R$ 700,00. Com os R$ 200,00 eu podia pagar minha água e luz, mas pago uma dívida que não é minha nem estava nos meus pla- nos. O prazo de entrega da casa era de um ano. A gente se muda de um lado para outro e acaba tudo que a gente tem. Esperamos que a prefeitura resolva essa situação, porque nossa luta é grande”, disse Agostinho. O dirigente da associação disse que as duas empresas que chega- ram a iniciar os trabalhos no empre- endimento não avançaram como a comunidade esperava. “Primeiro entrou a Uni Engenharia, que le- vou três anos para construir os 16 apartamentos, ainda no man- dato do prefeito Duciomar Cos- ta (PTB). No atual governo, veio a empresa GD Engenharia, que construiu só essa base para dois blocos, tomando um ano e seis meses, aí sumiu. É um jogo de em- purra entre empresa e prefeitura. Um diz que pagou e outro diz que não recebeu. Nunca tivemos reu- nião estando ambos presentes, só com a prefeitura, que diz que tem dinheiro para fazer, mas não faz a obra”, disse o líder comunitário. Projeto inicial apresentado aos moradores previa o remanejamento de 344 famílias; só 16 voltaram EVERALDO NASCIMENTO/AMAZÔNIA O CLEIDE MAGALHÃES da redação Cansados de esperar pelo po- der público, há dois anos, a asso- ciação de moradores do Portal recorreu ao Ministério Público Federal (MPF), que mediou uma audiência na primeira semana de maio. Além do MPF, estive- ram presentes representantes da prefeitura, da CEF e moradores. Ainda no último dia 11, a Pro- curadora Regional dos Direitos do Cidadão, do MPF, Melina Tos- tes, e o defensor público federal Cláudio Santos, da Defensoria Pública da União (DPU), enca- minharam ofício ao secretário municipal de Habitação, João Cláudio Klautau, solicitando al- guns documentos da prefeitura: comprovantes de pagamentos das empresas contratadas para execução do projeto; cópia dos contratos firmados com as empresas já contratadas (Uni Engenharia e GD Engenharia); relatórios de fiscalização da obra feitos pelo servidor do Municí- pio investido na função de fiscal de contrato e cópia do projeto de reprogramação a ser remetido à Caixa. A iniciativa faz parte do pro- cedimento administrativo ins- taurado na Procuradoria para acompanhar a execução do projeto, regido pelo contrato nº. 222.629-71. Até o último dia 27, a prefeitu- ra não havia respondido ao MPF. “Ainda não obtivemos resposta. Queremos saber se há informa- ções na Prefeitura sobre a obra. Caso contrário, vamos tomar medidas judiciais”, ressaltou a procuradora. Vistoria - Além desse pro- cedimento, a procuradora Me- lina Tostes disse que o MPF solicita documentos da Caixa para que a equipe de engenha- ria do MPF faça uma visita no local e, junto com a DPU, se re- úna com a prefeitura. “Iremos nos reunir com o secretário de Habitação para cobrar que a prefeitura agilize a licitação, contrate nova empresa e, prin- cipalmente, fiscalize as obras e puna as empresas anteriores”, enfatizou a procuradora. MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ESPERA POSICIONAMENTO DA PREFEITURA Agostinho Farias reclama do baixo valor do auxílio-moradia EVERALDO NASCIMENTO/AMAZÔNIA Até quem recebeu da prefeitura a nova moradia no Portal da Ama- zônia se sente prejudicado com a falta de fiscalização no local. “Re- cebi minha casa há quatro anos. A casa é boa, bonita e tem visão de frente para o rio. Foi bom conse- guir, fui um dos abençoados por Deus em ter minha casa própria, porque há pessoas que moravam na área há mais de 30 anos, foram remanejadas e ainda não voltaram pra cá. A obra está demorando mui- to. Outro problema é que a empresa fez escavações deixando buracos e quando chove se formam poças de água, que atraem mosquitos da dengue e carapanã para o prédio. Atrás de casa está tudo alagado”, diz Edenilson Santos, 34 anos, um dos 16 beneficiados com moradia no Portal da Amazônia. “Além de não fazerem as casas, ainda deixam essa situação que traz risco à nossa saúde e ninguém fiscaliza”, disse. A Coordenadoria de Comunica- ção da prefeitura de Belém foi pro- curada no dia 26, terça-feira, mas até o fechamento desta edição não se manifestou sobre o assunto. MORADOR DENUNCIA PROBLEMAS EM CANTEIRO Moradores relatam abandono do canteiro de obras por empresas EVERALDO NASCIMENTO/AMAZÔNIA

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GERAIS4

BELÉM, DOMINGO, 31 DE MAIO DE 2015

FAMÍLIAS ESPERAM IMÓVEISEM 7 ANOS, SÓ 16 DAS 244 UNIDADES HABITACIONAIS PROMETIDAS NO PROJETO DO PORTAL DA AMAZÔNIA ESTÃO PRONTAS

Portal da Amazônia, na orla de Belém, é hoje um dos principais cartões postais

da cidade. Porém, para as 344 fa-mílias que foram remanejadas da área para a construção do novo espaço, há 7 anos, a janela para a baía representa um problema não resolvido. A maior parte deles ain-da espera pelos imóveis prometi-dos no início da obra.

Segundo moradores da área, a construção das unidades habita-cionais está parada; duas empre-sas assumiram e depois deixaram a obra inacabada.

Segundo informações forneci-das pela Caixa Econômica Fede-ral (CEF), o valor total do inves-timento no portal é de R$ 25,71 milhões, dos quais R$ 21,60 mi-lhões são repasses do Governo Federal e R$ 4,12 milhões corres-pondem à contrapartida da pre-feitura de Belém. Ainda segun-do a Caixa, dos R$ 25,71 milhões aplicados na obra via Caixa, R$ 10,39 milhões foram liberados - restam R$ 15,32 milhões.

Ainda segundo a Caixa, o Pro-jeto de Urbanização de Assen-tamentos Precários do Portal da Amazônia prevê, além da cons-trução de 244 unidades habita-cionais, obras de drenagem, água, esgoto, iluminação pública e ur-banização na área.

“As obras estão paralisadas em função da rescisão de contrato da empresa executora com a prefeitu-

ra de Belém. Será necessária nova licitação, a ser feita pela prefeitura, à contratação de nova empresa para a conclusão dos serviços. O prazo licitado de 12 meses se ini-cia com a retomada das obras, a ser feita pela nova empresa a ser contratada”, explicou a assessoria de comunicação da Caixa.

O terreno em que eram cons-truídas as unidades habitacionais � ca na rua Osvaldo da Caldas Bri-to, próximo à orla da cidade, no bairro do Jurunas, mas hoje o lu-gar re� ete ao descaso. Outra área, que � ca na rua dos Mundurucus, também deverá ser usada para a construção das casas.

“As obras estão inacabadas e 344 famílias ainda aguardam para ser remanejadas. Somente 16 uni-dades foram entregues”, diz Agos-tinho Gonçalves Farias, 55 anos, vice-presidente da Associação dos Moradores do Portal da Amazô-nia, que mora há 29 anos na área. “Quem não recebeu a casa própria foi beneficiado com auxílio-mo-radia de 450,00 da prefeitura, mas nesses sete anos teve reajuste de apenas R$ 50,00. O valor não dá para alugar imóvel para uma família, pois a área sofreu espe-culação imobiliária e os valores aumentaram. Eu tiro todo mês R$ 200,00 do meu dinheiro para ajudar a pagar meu aluguel, que é R$ 700,00. Com os R$ 200,00 eu podia pagar minha água e luz, mas pago uma dívida que não é minha nem estava nos meus pla-nos. O prazo de entrega da casa

era de um ano. A gente se muda de um lado para outro e acaba tudo que a gente tem. Esperamos que a prefeitura resolva essa situação, porque nossa luta é grande”, disse Agostinho.

O dirigente da associação disse que as duas empresas que chega-ram a iniciar os trabalhos no empre-

endimento não avançaram como a comunidade esperava. “Primeiro entrou a Uni Engenharia, que le-vou três anos para construir os 16 apartamentos, ainda no man-dato do prefeito Duciomar Cos-ta (PTB). No atual governo, veio a empresa GD Engenharia, que construiu só essa base para dois

blocos, tomando um ano e seis meses, aí sumiu. É um jogo de em-purra entre empresa e prefeitura. Um diz que pagou e outro diz que não recebeu. Nunca tivemos reu-nião estando ambos presentes, só com a prefeitura, que diz que tem dinheiro para fazer, mas não faz a obra”, disse o líder comunitário.

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Cansados de esperar pelo po-der público, há dois anos, a asso-ciação de moradores do Portal recorreu ao Ministério Público Federal (MPF), que mediou uma audiência na primeira semana de maio. Além do MPF, estive-ram presentes representantes da prefeitura, da CEF e moradores.

Ainda no último dia 11, a Pro-curadora Regional dos Direitos do Cidadão, do MPF, Melina Tos-tes, e o defensor público federal Cláudio Santos, da Defensoria Pública da União (DPU), enca-minharam ofício ao secretário municipal de Habitação, João Cláudio Klautau, solicitando al-guns documentos da prefeitura: comprovantes de pagamentos das empresas já contratadas para execução do projeto; cópia dos contratos � rmados com as empresas já contratadas (Uni Engenharia e GD Engenharia); relatórios de � scalização da obra feitos pelo servidor do Municí-pio investido na função de � scal de contrato e cópia do projeto de reprogramação a ser remetido à Caixa.

A iniciativa faz parte do pro-cedimento administrativo ins-taurado na Procuradoria para acompanhar a execução do projeto, regido pelo contrato nº.

222.629-71. Até o último dia 27, a prefeitu-

ra não havia respondido ao MPF. “Ainda não obtivemos resposta. Queremos saber se há informa-ções na Prefeitura sobre a obra. Caso contrário, vamos tomar medidas judiciais”, ressaltou a procuradora.

Vistoria - Além desse pro-cedimento, a procuradora Me-lina Tostes disse que o MPF

solicita documentos da Caixa para que a equipe de engenha-ria do MPF faça uma visita no local e, junto com a DPU, se re-úna com a prefeitura. “Iremos nos reunir com o secretário de Habitação para cobrar que a prefeitura agilize a licitação, contrate nova empresa e, prin-cipalmente, � scalize as obras e puna as empresas anteriores”, enfatizou a procuradora.

MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ESPERA POSICIONAMENTO DA PREFEITURA

Agostinho Farias reclama do baixo valor do auxílio-moradia

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Até quem recebeu da prefeitura a nova moradia no Portal da Ama-zônia se sente prejudicado com a falta de fiscalização no local. “Re-cebi minha casa há quatro anos. A casa é boa, bonita e tem visão de frente para o rio. Foi bom conse-guir, fui um dos abençoados por Deus em ter minha casa própria, porque há pessoas que moravam na área há mais de 30 anos, foram remanejadas e ainda não voltaram pra cá. A obra está demorando mui-to. Outro problema é que a empresa fez escavações deixando buracos

e quando chove se formam poças de água, que atraem mosquitos da dengue e carapanã para o prédio. Atrás de casa está tudo alagado”, diz Edenilson Santos, 34 anos, um dos 16 beneficiados com moradia no Portal da Amazônia. “Além de não fazerem as casas, ainda deixam essa situação que traz risco à nossa saúde e ninguém fiscaliza”, disse.

A Coordenadoria de Comunica-ção da prefeitura de Belém foi pro-curada no dia 26, terça-feira, mas até o fechamento desta edição não se manifestou sobre o assunto.

MORADOR DENUNCIA PROBLEMAS EM CANTEIRO Moradores relatam abandono do canteiro de obras por empresas

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