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Ano V • n o 75 • Maio de 2012 Falta de critérios e parâmetros objetivos no novo regulamento de sanções administrativas podem gerar insegurança jurídica A TelComp acompa- nhou todo o processo de ela- boração do Regulamento de Aplicação de Sanções Admi- nistrativas, publicado pela Anatel no dia 07 de maio pela Resolução nº 589/2012, tendo apresentado contribuições às Consultas Públicas nº 847, de dezembro de 2007, e nº 22, de junho de 2010, bem como par- ticipado das audiências públicas que debateram o tema. Tanto em 2007 quanto em 2010, com vistas a apoiar o Regulador em sua tomada de decisão, a TelComp argumentou que a proposta de regulamento não deveria conter previsões ge- néricas, sob pena de lesar direitos constitucionalmente garanti- dos, inclusive o da ampla defesa do regulado. Assim, em sua manifestação, a TelComp expôs que o re- gulamento precisava ser o mais objetivo possível quanto a fatos, processos e sanções, sob pena de violar direitos fundamentais e gerar custos transacionais muito significativos para todas as partes envolvidas, contrariando aos objetivos públicos almeja- dos pela regulação, penalizando o consumidor. Da mesma forma indicou-se que dispositivos que trata- vam da proporcionalidade das penas impostas para as diferentes infrações continuavam comprometidos com a falta de parâme- tros e critérios claros na aplicação das sanções pecuniárias. Porém, a despeito das recomendações apresentadas nesse sentido por todo o setor, os atributos de transparência, objetivi- dade e gestão clara e eficiente de riscos não parecem ter sido priorizados pelo Conselho Diretor, conforme se verifica dos i- tens indicados a seguir, que permaneceram no texto final: 1. Classificação de sanção de natureza grave como a- quela que atinge um “número significativo de usuá- rios” (art. 9, §3º, III): dever-se-ia adotar critério mais objetivo, como, por exemplo, o relacionado a percentual definido de clientes atingidos dentro de universo da base de clientes da operadora que cometeu a infração. 2. Aplicação das Sanções de Obrigação de Fazer e Obrigação de Não Fazer (Art.15 e 16) e caracteriza- ção da má fé (art.7º): a inexatidão da pena a ser aplica- da em função de determinada infração faz desacreditar a relação de confiança entre regulador e regulado, infringindo preceito legal de natureza sancionatória e penal de que o réu precisa conhecer a pena a que se sujeitará se cometer determinado ato. O mesmo ocorre com a concepção de má fé, prevista no texto do regulamento de forma genérica, dando oportu- nidade para interpretação do agente fiscalizador, por falta de parâmetros objetivos. Os princípios constitucionais da legalidade (não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem a devida prescrição legal) e individualização da pena, não foram incorporados ao texto, na medida em que se deixou de especificar as condutas ilegais e os limites de inter- pretação e ação do Regulador. 3. Metodologia de cálculo das penas (Art. 39) e diferenciação de critérios pelas Superintendências (Art. 39, par. 2º): apesar das recorrentes manifestações no sentido de dar transparência ao método de cálculo das sanções a ser imposto pelo regulador, o Conselho Diretor não obrigou a submissão da portaria que tratará dessa questão à consulta pública, subtraindo assim a análise prévia pela sociedade civil, cuja participação é fundamental. Tal medida gera insegurança e não contri- bui para a credibilidade da Anatel, mas sim, contribui para a insegurança dos regulados, pois institui a pos- sibilidade de aplicação de critérios diferentes pelas várias superintendências para definição das sanções. 4. Restrição dos efeitos do novo regulamento aos processos sob reconsideração da Anatel (Art. 41): nesse momento não há razão econômica ou jurídica para tratar uma mesma infração de forma diferente, pela via educativa ou punitiva. O novo regulamento de sanções traz possibilidade de penas educativas, que devem ser passíveis de aplicação a todos os processos abertos e ainda em andamento na agência. Especialmente porque favorecem o réu e podem ser mais eficientes do ponto de vista de alcance de objetivos públicos. (continua) Telecom em Perspectiva

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Page 1: Falta de critérios e parâmetros objetivos no novo ... · conclusão do Plano Geral de Metas de Competição (PGMC). Além disso, a realização da Copa do Mundo em 2014 e das Olimpíadas

Ano V • no 75 • Maio de 2012

Falta de critérios e parâmetros objetivos no novo regulamento de sanções

administrativas podem gerar insegurança jurídica

A TelComp acompa-

nhou todo o processo de ela-

boração do Regulamento de

Aplicação de Sanções Admi-

nistrativas, publicado pela

Anatel no dia 07 de maio pela

Resolução nº 589/2012, tendo

apresentado contribuições às

Consultas Públicas nº 847, de

dezembro de 2007, e nº 22, de

junho de 2010, bem como par-

ticipado das audiências públicas que debateram o tema.

Tanto em 2007 quanto em 2010, com vistas a apoiar o

Regulador em sua tomada de decisão, a TelComp argumentou

que a proposta de regulamento não deveria conter previsões ge-

néricas, sob pena de lesar direitos constitucionalmente garanti-

dos, inclusive o da ampla defesa do regulado.

Assim, em sua manifestação, a TelComp expôs que o re-

gulamento precisava ser o mais objetivo possível quanto a fatos,

processos e sanções, sob pena de violar direitos fundamentais e

gerar custos transacionais muito significativos para todas as

partes envolvidas, contrariando aos objetivos públicos almeja-

dos pela regulação, penalizando o consumidor.

Da mesma forma indicou-se que dispositivos que trata-

vam da proporcionalidade das penas impostas para as diferentes

infrações continuavam comprometidos com a falta de parâme-

tros e critérios claros na aplicação das sanções pecuniárias.

Porém, a despeito das recomendações apresentadas nesse

sentido por todo o setor, os atributos de transparência, objetivi-

dade e gestão clara e eficiente de riscos não parecem ter sido

priorizados pelo Conselho Diretor, conforme se verifica dos i-

tens indicados a seguir, que permaneceram no texto final:

1. Classificação de sanção de natureza grave como a-

quela que atinge um “número significativo de usuá-

rios” (art. 9, §3º, III): dever-se-ia adotar critério mais

objetivo, como, por exemplo, o relacionado a percentual

definido de clientes atingidos dentro de universo da base de

clientes da operadora que cometeu a infração.

2. Aplicação das Sanções de Obrigação de Fazer e

Obrigação de Não Fazer (Art.15 e 16) e caracteriza-

ção da má fé (art.7º): a inexatidão da pena a ser aplica-

da em função de determinada infração só faz

desacreditar a relação de confiança entre regulador e

regulado, infringindo preceito legal de natureza

sancionatória e penal de que o réu precisa conhecer a

pena a que se sujeitará se cometer determinado ato. O

mesmo ocorre com a concepção de má fé, prevista no

texto do regulamento de forma genérica, dando oportu-

nidade para interpretação do agente fiscalizador, por

falta de parâmetros objetivos.

Os princípios constitucionais da legalidade (não há crime

sem lei anterior que o defina, nem pena sem a devida

prescrição legal) e individualização da pena, não foram

incorporados ao texto, na medida em que se deixou de

especificar as condutas ilegais e os limites de inter-

pretação e ação do Regulador.

3. Metodologia de cálculo das penas (Art. 39) e

diferenciação de critérios pelas Superintendências

(Art. 39, par. 2º): apesar das recorrentes manifestações

no sentido de dar transparência ao método de cálculo das

sanções a ser imposto pelo regulador, o Conselho

Diretor não obrigou a submissão da portaria que tratará

dessa questão à consulta pública, subtraindo assim a

análise prévia pela sociedade civil, cuja participação é

fundamental. Tal medida gera insegurança e não contri-

bui para a credibilidade da Anatel, mas sim, contribui

para a insegurança dos regulados, pois institui a pos-

sibilidade de aplicação de critérios diferentes pelas

várias superintendências para definição das sanções.

4. Restrição dos efeitos do novo regulamento aos

processos sob reconsideração da Anatel (Art. 41):

nesse momento não há razão econômica ou jurídica para

tratar uma mesma infração de forma diferente, pela via

educativa ou punitiva. O novo regulamento de sanções

traz possibilidade de penas educativas, que devem ser

passíveis de aplicação a todos os processos abertos e

ainda em andamento na agência. Especialmente porque

favorecem o réu e podem ser mais eficientes do ponto de

vista de alcance de objetivos públicos.

(continua)

Telecom em Perspectiva

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Associada em Destaque

Informativo TelComp é o boletim de notícias da Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas — www.telcomp.org.br — email: [email protected] Diretoria Executiva: Divino Sebastião de Souza (Presidente do Conselho Consultivo); Alexandre Costa e Silva (Vice-Presidente do Conselho Consultivo); Alexandre Martinez, Gilberto Sotto Mayor, Leandro Guerra, José Luiz Pelosini e Roberto Rio Branco (Diretores). Presidente Executivo: João Moura; Gerente - Estratégia Infraestrutura: Flávia Garão; Gerente - Estratégia Regulatória: Jonas Antunes Couto; Regulação e Competição: Marcos de Lucca. Av. Iraí, 438 conj. 44 - Moema - São Paulo (SP) - Tel: (11) 5533-8399 - Fax: (11) 5533-0051.

Ascenty, o novo nome do setor

de Telecom em soluções de

conectividade

A empresa fundada em 2010, a partir da unificação da

Metro Fiber Brasil Telecomunicações e Data Centers do Brasil,

anuncia grandes volumes de investimentos e nova denominação

a partir da aquisição da Ascenty, em 2012.

Com foco nos mercados de telecomunicações e data

centers, o controle acionário do Grupo Ascenty pertence ao

fundo de private equity Great Hill Partners, ex-acionista da

Vivax. O CEO Chris Torto, que foi fundador e principal

executivo da Vivax, está à frente da operação e concedeu

entrevista à TelComp (Associação Brasileira das Prestadoras de

Serviços de Telecomunicações Competitivas), da qual a

Ascenty é associada.

TelComp: Chris, qual é a estrutura de negócios da Ascenty? A

atuação do Grupo se concentrará em quais serviços?

Chris Torto: O Grupo atuará por meio de duas empresas

distintas, a Ascenty Telecom e a Ascenty Data Centers,

oferecendo soluções de transmissão de dados em alta

velocidade, de 2Mbps a 40Gbps, combinadas com serviços de

Data Center, tais como colocation, hosting gerenciado e cloud

computing, para os segmentos de operadoras de

telecomunicações e corporativo.

TelComp: O Grupo anunciou um investimento na ordem de R$

250 milhões, esse valor inclui a aquisição da Ascenty? Quais

são os planos de investimentos do Grupo?

Chris Torto: Sim, esse valor inclui a aquisição da Ascenty, que

já atuava em data centers. Neste segmento o total de

investimento será de R$200 milhões e inclui também a

inauguração de dois data centers próprios, o primeiro, previsto

para agosto de 2012, já em construção em Campinas, e o

segundo, em Santo André, para o primeiro semestre de 2013.

Além desse valor, outros R$ 50 milhões serão destinados à

ampliação das redes de fibras no ABC Paulista, Jundiaí,

Barueri, São Paulo e Campinas e também diversas cidades no

trecho de interligação entre São Paulo e Campinas.

TelComp: Há vários players de grande porte que atuam nos

mercados que você citou como foco da Ascenty, como vocês

esperam se diferenciar e expandir os seus negócios?

Chris Torto: O nosso diferencial está justamente nesse ponto.

Por não pertencermos a nenhum grande grupo de Telecom,

podemos oferecer serviços de qualidade de forma independente,

combinando a nossa infraestrutura de rede de fibra óptica com

data centers próprios. De acordo com a consultoria IDC, o setor

de data centers deve crescer 15% ao ano na próxima década e

os nossos serviços oferecem uma maior confiabilidade e

eficiência fim a fim, devido à melhor conectividade oferecida

pelas redes de fibra.

TelComp: Como foram escolhidas as cidades que você citou

para implantação dos data centers e expansão das redes?

Chris Torto: Estamos apostando em cidades com bom

potencial, mas que são pouco atendidas pelas grandes

companhias de telecom. Além das cidades que citei, os locais

que consideramos mais atraentes são Santos, São José dos

Campos e a região nordeste. O nosso país possui dimensões

continentais e há uma grande carência de infraestrutura, por

isso é importante que surjam empresas independentes para

incentivar a inovação, mais investimentos e, principalmente, o

aumento das opções para compra de serviços. Quanto mais

competidores, menor é a concentração e maior é o crescimento

do setor.

TelComp: Quais as outras oportunidades percebidas por vocês

no cenário atual do mercado de telecomunicações brasileiro?

Chris Torto: O Grupo Ascenty surge em um momento

propício para uma transformação na competição do setor,

proporcionados pelo Plano Nacional de Banda Larga e pela

conclusão do Plano Geral de Metas de Competição (PGMC).

Além disso, a realização da Copa do Mundo em 2014 e das

Olimpíadas em 2016 exigirá grandes investimentos em

infraestrutura para oferecer serviços de primeiro mundo, nesse

sentido a atuação da Ascenty será essencial.

O time executivo, liderado por Chris Torto é composto

por Roberto Rio Branco, Diretor de Relações Institucionais,

Pablo Campagnac, Diretor Comercial Telecom, Ricardo Soares,

Diretor de Engenharia e Operações Telecom, Gilson Granzier,

Diretor Administrativo e Financeiro, Felipe Caballero, Diretor

de Engenharia de Data Centers, Tiago Garbim, Diretor de

Operações de Data Centers, e Alexandre Pegorari, Diretor

Comercial de Data Centers.