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FAFIPAR - Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de

Paranaguá

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL - PDE

UNIDADE TEMÁTICA

UMA REFLEXÃO SOBRE AVALIAÇÃO E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS:

UMA PROPOSTA DE INTENÇÃO NO COLETIVO DA ESCOLA

Autora: Neusa dos Santos Stremel Orientadora: Mestra Mary Sylvia Miguel Falcão.

Curitiba 2011

2

SUMÁRIO

JUSTIFICATIVA................................................................................................03

RESUMO..........................................................................................................04

CRONOGRAMA:..........................................................................................., 07

UMA REFLEXÃO SOBRE AVALIAÇÃO E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS..... 08

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................ 19

ANEXOS:......................................................................................................... 21

3

UNIDADE TEMÁTICA

Uma reflexão sobre Avaliação e Práticas Pedagógicas

Autora: Neusa dos Santos Stremel1

JUSTIFICATIVA: Esta Unidade temática se justifica como um dos instrumentos a ser utilizado na implementação do Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola que busca a reflexão sobre a Avaliação e as Práticas Escolares e discute o descompasso entre a teoria e a prática. Destina-se a refletir junto aos professores em estudo com leituras e reflexões sobre diversas concepções os problemas relacionados à avaliação e as práticas pedagógicas, sensibilizando-os com um novo olhar sobre a avaliação, repensando sua prática, pois o problema que percebemos não está no entendimento que se tem sobre tais concepções, mas na dificuldade de colocá-las em prática.

Palavras chave:Projeto Político Pedagógico; Concepções de avaliação;

Práticas-pedagógicas

1 Neusa dos Santos Stremel, pedagoga, formada pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, no

ano de 1979, formada em psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná e pós-graduada pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Extensão Universitária (IBPEX). Pedagoga na Secretaria de Educação do Estado do Paraná.

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1. RESUMO.

Partindo do pressuposto de que a avaliação da aprendizagem está a

serviço de um projeto pedagógico construtivo, e se olha o educando como um ser

em desenvolvimento, em construção permanente ela é diagnóstica. NNeessssee sseennttiiddoo

ttoommaammooss ccoommoo rreeffeerrêênncciiaa CCiipprriiaannoo CCaarrllooss LLuucckkeessii qquuee ddeeffiinnee aa aavvaalliiaaççããoo ccoommoo::

instrumento dialético do avanço, o instrumento da identificação de novos rumos, do reconhecimento

dos caminhos percorridos e da identificação dos caminhos a serem perseguidos ((LLUUCCKKEESSII,, 22000077

pp..4433)).. Ou seja, um instrumento de compreensão do estágio de aprendizagem em que

se encontra o aluno, tendo em vista tomar decisões suficientes e satisfatórias para

que possa avançar no seu processo de aprendizagem. Constatou-se que muitos

professores não têm compreensão às concepções da avaliação tomando-a apenas

na sua dimensão somativa. Em face disso, faz-se necessário a sensibilização dos

educadores, que repense o aluno como o pivô do fracasso escolar. No levantamento

do problema detectou-se a necessidade de rever as práticas escolares e em

decorrência as formas de avaliação. Com base nas citações dos autores, (Cipriano

Carlos Luckesi, Jussara Hoffmann, Vitor Paro, Philippe Perrenoud, Isabel Cristina

Neves, Ana Maria Saul, Paulo Freire, Lindomar W. Boneti), venho instrumentalizar

novas concepções nas práticas pedagógicas dos professores, como forma de

estabelecer um processo dialógico e coletivo na escola, com vistas a explicitar os

conflitos entre concepções e as práticas de avaliação A metodologia parte do

diagnóstico da realidade da escola, para posterior levantamento das ações coletivas

que remetem a formação de grupos de estudo com o corpo docente para um

trabalho de sensibilização por meio de leitura e reflexão com aprofundamento teórico

na temática entre outros. Em relação aos resultados esperados desse processo,

acredita-se que pode ser satisfatório se houver conscientização e mudança na

prática docente dos professores, e se a comunidade escolar atuar mais efetivamente

para contribuir com a melhora da qualidade do ensino na escola. No segundo

semestre de 2011, daremos inicio a implementação do projeto de intervenção,

seguindo os passos na pesquisa-ação, com vistas alcançar os objetivos propostos.

2. PÚBLICO ALVO:

5

Professores e Equipe Pedagógica.

3. OBJETIVOS:

3.1. Geral:

Ensejar a intervenção de referenciais teóricos no campo da avaliação

escolar que instrumentalizem novas concepções nas práticas pedagógica dos

professores como forma de estabelecer um diálogo crítico com as visões de

avaliação somativa que regulam as práticas escolares na escola.

3.2. Específico:

Analisar a qualidade das relações interpessoais e afetivas que precedem a

ação educativa, a pertinência e a significância dos conteúdos em relação ao

referencial do trabalho pedagógico explícito na filosofia de cada disciplina.

Relacionar concepções críticas de avaliação.

Estabelecer espaços de reflexão sobre a prática.

Instrumentalizar teoricamente todos os envolvidos para uma melhor

compreensão da temática em questão.

Sensibilizar o coletivo sobre a temática em questão.

4. METODOLOGIA DA PESQUISA-AÇÃO:

Conforme determina a metodologia da pesquisa-ação, o presente projeto foi

elaborado mediante um levantamento com o coletivo da comunidade escolar para

levantar os problemas que estão interferindo na aprendizagem dos alunos levando

ao baixo rendimento nas avaliações.

Em diálogo com o coletivo, constatou-se a necessidade de rever as práticas

pedagógicas, com a intenção de fazer uma reflexão sobre a temática, com a

6

expectativa de transformar a realidade da escola, com relação à avaliação

educacional.

5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS:

A partir do questionamento que se fez a respeito da avaliação como

instrumento utilizado na prática pedagógica de professores elaborou-se os seguintes

procedimentos:

5.1. No segundo semestre de 2011, daremos inicio a implementação do projeto

de intervenção, seguindo os passos na pesquisa-ação, com vistas

alcançar os objetivos propostos. Em reunião pedagógica com direção,

professores e equipe pedagógica, na Semana Pedagógica por meio do

diálogo com todos os envolvidos no processo pedagógico serão

abordadas as questões, as quais direcionaram o tema de pesquisa, com

posterior apresentação da Produção Didático-Pedagógica em DATA

SHOW e já como primeira atividade será apresentada oralmente as

diversas possibilidades de solucionar os problemas levantados. Leitura e

discução sobre a concepção de avaliação do Projeto Político Pedagógico

da escola em comparação com as concepções da Produção Didático-

Pedagógica

5.2. Durante os meses de agosto setembro e outubro de 2011, em reunião

pedagógica com os docentes, em grupos de estudo durante a Hora

Atividade: leitura e reflexão das concepções de avaliação citadas na

Produção Didático-Pedagógica elaborada pela autora.

5.3. Na última semana do mês de outubro de 2011 em reunião pedagógica, com

professores, direção e equipe pedagógica, para verificar se a

implementação do Projeto foi satisfatória através do debate sobre os

textos trabalhados anteriormente.

7

6. CRONOGRAMA DE AÇÕES:

2º SEMESTRE / 2011

ATIVIDADES AGO SET OUT NOV DEZ

a).1. Apresentação do Projeto

de Intervenção Pedagógico na

escola 2. Reflexão sobre a

concepção e ações do Projeto

Político Pedagógico da escola

e do Projeto de Intervenção,

reelaboração das novas

ações. (Direção, professores e

equipe pedagógica)

SEMA

NA

PEDAG

ÓGICA

EM

REUNI

ÃO

PEDAG

ÓGICA

X

b). Leitura e reflexão: Textos

do Projeto de intervenção na

escola. Estudo em grupo com

professores por área.

H.A.

X X X

c).Debate com o corpo

docente: Apresentação da

Produção Didática Pedagógica

debate sobre as concepções

de avaliação do Projeto

Político Pedagógico da escola.

REUNI

ÃO

PEDA

GÓGI

CA

X

d). Avaliação do Projeto: por

meio de debate

X

7- PROPOSTA DE AVALIAÇÃO: ação -reflexão- ação.

8

Reunir os professores para avaliar as ações desenvolvidas por meio de

debate.

1. Houve real participação dos professores?

2. Aconteceram resultados não esperados?

3. Quais as mudanças adquiridas?

Após as discussões realizadas destacar os pontos positivos do processo com as

mudanças alcançadas nas práticas pedagógicas docentes.

TEXTO

UMA REFLEXÃO SOBRE AVALIAÇÃO E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS:

UMA PROPOSTA DE INTENÇÃO NO COLETIVO DA ESCOLA

Certos professores acreditam que as mudanças comportamentais dos

alunos quantificadas, isto, implica a valorização dos testes e provas, ainda

constituem a forma mais eficaz de avaliação, pois definem e selecionam inclusive o

bom educador. Normalmente atribuem a culpa pelo fracasso escolar ao sistema

educacional e aos próprios alunos, jamais admitem serem também responsáveis, e

o repensar no próprio fazer não é uma prática comum entre eles, logo o que se vê

na escola é um discurso, no qual o educador se mostra motivado para mudar seu

modo de avaliar e uma prática oposta, ou seja, conservadora. Assim faz-se

necessário rever as concepções em avaliação.

Segundo Jussara Hoffmann (1991) essa contradição entre o discurso

inovador e a prática conservadora de alguns educadores encontra explicação na sua

concepção de avaliação, a qual é reflexa de sua história como aluno e professor,

quando existe a vontade de fazer, porém não se sabe como fazer. Logo a princípio,

necessitam tomar consciência destas influências para que não se venha a reproduzir

o que se contesta no discurso, o autoritarismo e a arbitrariedade. Nessa abordagem

tanto o objeto do conhecimento quanto os sujeitos envolvidos, professor e aluno

passam a ser valorizados a partir de suas experiências, seus valores e suas

9

condições de produção, como capazes de construir suas respostas, ao invés de

submeter-se às respostas fabricadas.

Isabel Cristina Neves (2008) citando Enguita (1989) relata que, no contexto

da Revolução Industrial os mercadores passaram a intervir na educação das

crianças. A escola que seria responsável pela formação de um sujeito adaptado às

exigências do capitalismo, para dar conta de sua função reprodutora na sociedade

capitalista precisou incorporar, aos seus objetivos, às suas práticas avaliativas e à

organização do trabalho pedagógico, toda a ideologia desse modelo de economia.

A escola capitalista exerceu uma função social seletiva, selecionando recursos

humanos para os vários postos de trabalho existentes na sociedade e as

desigualdades educacionais geradas principalmente pela avaliação classificatória e

excludente, foram transformadas em desigualdades econômicas e de forma cíclica

em desigualdades educacionais. Ainda hoje, observa-se a tendência do mercado de

trabalho em tornar-se cada vez mais seletivo, elevando o nível das qualificações

exigidas para a admissão, onde os candidatos às vagas que conseguiram acesso ao

saber são classificados e os demais excluídos caracterizam assim uma avaliação

classificatória.

UMA CONCEPÇÃO TRADICIONAL: A AVALIAÇÃO CLASSIFICATÓRIA

A avaliação classificatória era utilizada na pedagogia tradicional, renovada

ou escolanovista e tecnicista, esse tipo de avaliação é associado às idéias de

classificação, mérito, medida, comparação, rotulação, controle, execução, ou seja,

avaliação com a finalidade de realizar o julgamento da aprendizagem de um dado

conteúdo a fim de estabelecer a verificação da mesma sempre atrelada à atribuição

de uma nota.

O sistema educacional e o regimento da escola têm como base, a avaliação

classificatória, com a pretensão de verificar a aprendizagem por meio de notas,

pressupondo que as pessoas aprendem do mesmo modo e ao mesmo tempo. O que

explica estar à avaliação, “no âmago das contradições do sistema educativo,

10

constantemente na articulação da seleção e da formação, do reconhecimento e da

negação das desigualdades”. (PERRENOUD 1999 p.10)

Outro autor que estuda o tema, Vitor Paro (2001) observa que: AA avaliação

classificatória, que predomina atualmente é, pois, uma concepção de educação

voltada para a escola tradicional baseada na imposição de conteúdos e na

passividade dos alunos, os quais se vêm na obrigação de apenas aceitá-los, sem

participação ativa e sem criticidade.

Nessa concepção tradicional a avaliação submete à prática escolar certa

monotonia, na qual o professor é o único detentor do saber, sem dar oportunidade

para o aluno mostrar seu potencial e leva o próprio professor cometer falhas na hora

de avaliar esse aluno, pois desconhece suas habilidades acadêmicas.

Na opinião de Jussara Hoffmann (1993),

O sistema classificatório, é tremendamente vago no sentido de apontar as falhas do processo, não aponta as reais dificuldades dos alunos e dos professores, As notas das provas funcionam como rede de segurança em termos de controle exercido pelos professores sobre seus alunos, das escolas e dos pais sobre os professores e do sistema sobre suas escolas. Controle esse que parece não garantir o ensino de qualidade que pretendemos. Ele apenas reforça a manutenção de uma escola para poucos. (HOFFMANN 1993 p.26)

Ao referir-se a qualidade, Jussara Hoffmann critica a atribuição de notas

nas tarefas, provas, recuperação, pois conferem ao trabalho do aluno um significado

de obrigação e nessa situação não avaliamos o educando em suas crenças

verdadeiras e espontâneas, mas induzimos à memorização com padrões pré-

estabelecidos, em bases comparativas, e critérios de promoção elitistas e

discriminatórios.

Isabel Cristina Neves (2008) nos traduz um pouco da injustiça dessa prática

de avaliação, cometida atualmente dentro do processo escolar, citando Mariano

Fernandez Enguita (1989):

O registro global dos cadáveres que a escola deixa pelo caminho – cadáveres simbólicos, claro, embora também alguns reais – é espetacular, mas a ele se chega como resultado de um lento gotejar. Este ano repetem cinco estudantes do

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grupo, no ano passado tiveram que fazê-lo quatro e no próximo ano serão três. Um com boas notas nas outras matérias afundou-se na matemática; outro que era bom em matemática, não se deu bem com a física; um terceiro foi bem em ambas, mas não teve sorte com o latim ou a história. Cada caso aparece como uma combinação específica de êxitos e fracassos parciais, pontos fortes e fracos, sucessos e insuficiências. O resultado final é a exclusão, mas a dispersão casuística reforça a idéia de que trata de problemas individuais, de que a escola não pode ser proclamada culpável (ENGUITA 1989 p.215)

Portanto, entende-se a urgente necessidade de rever o processo avaliativo

praticado na instituição, tendo como ponto de partida a concepção de avaliação

contida no Projeto Político Pedagógico, pressupondo a intervenção do Professor em

promover a aprendizagem do aluno e assim por meio de uma reflexão critica buscar

formas de estabelecer os critérios de avaliação de forma que faça a escola cumprir

sua função social. À escola cabe a responsabilidade de oferecer condições para que

todos os alunos desenvolvam suas capacidades de aprendizagem, tendo em vista a

aquisição de conhecimentos, habilidades, condições estas fundamentais para o

exercício da cidadania na construção de uma sociedade democrática, com um

ensino atrativo e uma avaliação compatível, com o propósito de atrair e manter esse

educando. Dessa forma permite que todos estejam na escola, pois os alunos que

têm melhores condições de aprender aprendem mais, enquanto outros, com outras

características, que não respondem tão bem ao conjunto de disciplinas, aprendem

menos e quando são avaliados em igualdade com os outros da mesma classe e não

demonstram bons resultados são colocados em situação de inferioridade e muitas

vezes abandonam a escola, evitando passar pela situação vexatória da reprovação

e assim deixam de exercer plenamente a sua cidadania.

Na análise de Vitor Paro (2001), A forma de avaliação classificatória,

baseada em teste exame e prova, está articulada com o próprio método de ensino

antieducativo de nossas escolas, baseado na imposição de conteúdos, onde os

alunos são obrigados a aceitá-los, e guardá-los.

Dessa maneira Paulo Freire (2004) complementa com a sua visão de

concepção bancária onde,

A educação se transforma no ato de depositar, transferir ou transmitir valores ou conhecimentos, em que o educando é tomado como uma conta corrente, e o educador o depositante, onde ele no lugar de comunicar faz comunicados, depósitos que os alunos recebem pacientemente, memorizam e repetem, onde a

12

única margem e ação que se oferece ao educando são a de receber os depósitos, guardá-los e arquivá-los. (FREIRE 2004 p.59)

Segundo Paulo Freire nesse tipo de educação não pode haver

conhecimento, pois o educando não é chamado para conhecer e sim para

memorizar o conteúdo narrado pelo educador, arquivar a narração ou os depósitos

que lhe faz o educador e quanto mais se exercita o educando no arquivamento

desses depósitos, tanto menos desenvolverá em si a consciência crítica de que

resultaria a sua inserção no mundo, como sujeito transformador dele e da sociedade

em que vive com pouca ou nenhuma contribuição efetiva, para a melhoria dessa

sociedade, e para a sua própria realização individual.

Como afirma Cipriano Carlos Luckesi (2007): “A avaliação educacional escolar como instrumento de classificação, não serve em nada para a transformação, contudo é extremamente eficiente para a conservação da sociedade, pela domesticação do educando.” (LUCKESI 2007 p.43)

Segundo Cipriano Carlos Luckesi para que a avaliação educacional escolar

assuma o seu verdadeiro papel de instrumento dialético de diagnóstico para o

crescimento precisa estar a serviço de uma pedagogia que se preocupe com a

transformação social e não com a sua conservação.

AVALIAÇÃO NA CONCEPÇÃO PROGRESSISTA:

Na Concepção Progressista: a avaliação tem função formativa, diagnóstica,

dialética, traz no seu bojo, o caráter emancipatório o da promoção humana, com

função, formativa e mediadora. Assim avalia-se para modificar, promover uma ação,

para ir além da constatação do fracasso, realiza um diagnóstico de como está se

dando a aprendizagem, como aprendeu, o que não aprendeu e porque não

aprendeu, visa diagnosticar quais foram os procedimentos que o aluno adotou para

chegar a uma determinada resposta para formular determinado conceito. A

avaliação deve ter o caráter de investigação dos progressos e dificuldades dos

alunos para fazer um plano de trabalho para esses alunos com vistas a alcançar os

objetivos propostos. Deve servir não apenas para diagnosticar, para obter resultados

através da aplicação de instrumentos, mas também para orientação e revisão dos

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objetivos/critérios que não foram atingidos. A avaliação só tem sentido se servir para

transformar a prática, melhorar os resultados da aprendizagem promovendo o

sucesso escolar.

Na avaliação com função formativa, os critérios avaliativos passam a

desempenhar a função de auxiliar na organização da prática docente, critérios

claros, coerentes, pertinentes, objetivos que contribuem para o direcionamento de

uma prática significativa, pois esta está centrada nos conteúdos relevantes, que

efetivamente possibilitam ao aluno o acesso ao saber científico, e assim sua melhor

inserção cultural na sociedade em que vive.

AVALIAÇÃO NUMA VISÃO EMANCIPATÓRIA

Na opinião de Ana Maria Saul (2001), avaliar visando à emancipação implica

numa avaliação autêntica, direta e profunda, pois num processo de educação

transformador é necessário que o educando e o educador participem de forma

dialógica de todas as fazes desse processo, inclusive da imposição da nota pelo

sistema educacional.

Essa abordagem envolve uma avaliação mútua, entre os envolvidos no

processo em reavaliação constante, também a auto-avaliação onde o educando

busca o seu próprio aprendizado.

Na opinião de Ana Maria Saul (2001): “O compromisso principal de uma avaliação emancipatória é o de fazer com que as pessoas direta ou indiretamente envolvidas em uma ação educacional escrevam sua história e gerem as suas próprias alternativas de ação”. (SAUL 2001 p.61)

Ana Maria Saul caracteriza a avaliação emancipatória como um processo de

descrição, análise e critica de uma dada realidade, visando transformá-la, logo está

comprometida com o futuro, com o que se pretende transformar, a partir do

autoconhecimento crítico do real, que possibilita a clarificação de alternativas para a

revisão desse real e aposta no valor emancipador dessa abordagem para os

agentes integrantes de programas educacionais. Acredita que esse processo possa

permitir que o homem, através da consciência crítica, imprima uma direção às suas

14

ações nos contextos em que se situa, de acordo com valores que elege e com os

quais se compromete no decurso de sua historicidade.

O suporte epistemológico de apoio dessa abordagem buscando, construir

consciências críticas em processo de emancipação se expressa por um processo

dialógico que deve ser entendido:

Como coloca Paulo Freire, Encontro entre os homens, midiatizados pelo mundo.

(FREIRE 1987 p.93)

Segundo Paulo Freire, Ninguém educa ninguém, também ninguém educa a

si mesmo, os homens se educam entre si em comunhão midiatizados pelo mundo,

através do diálogo.

Ana Maria Saul (2001) aponta algumas vertentes do paradigma da avaliação

emancipatória, que são: democrática, critica institucional e criação coletiva, as quais

precisam estar articuladas a uma proposta pedagógica mais ampla como no Projeto

Político Pedagógico da escola.

Nessa vertente emancipatória conforme explica Ana Maria Saul (2001) o primeiro

momento é a expressão e descrição da realidade, inclui-se aqui a verbalização e a

problematização de uma dada realidade conforme um grupo consegue apreendê-la.

O segundo momento é a critica do material expresso, o qual se caracteriza por um

recuo critico do grupo da instituição, que passa a assumir a critica de sua própria

ação, através de procedimentos de reflexão sobre a sua prática e por último o

terceiro momento, caracteriza-se pela criação coletiva, segundo a autora, o grupo

prevê o delineamento de alterações necessárias no curso da ação em uma

organização.

Caracterizando os três momentos do paradigma da avaliação emancipatória:

a descrição da realidade, a crítica da realidade e a criação coletiva. Se o objetivo é

modificar, ressignificar o processo de avaliação é preciso pensar em alternativas

relacionadas ao contexto do trabalho que atua, buscando teorizar o processo no

qual está imerso ao mesmo tempo distanciando-se dele e numa postura dialética,

reconstruir os caminhos que vai abrindo, a avaliação emancipatória é um dos

caminhos possíveis de pensar a avaliação para além de propostas conservadoras,

excludentes, classificatórias e seletivas.

15

Ana Maria Saul (1991p. 55) comentando as afirmações de Paulo Freire

(1980) sobre a educação que leva à autonomia, através da conscientização:

A conscientização é neste sentido, um teste de realidade. Quanto mais conscientização, mais se desvela a realidade, mais se penetra na essência fenomênica do objeto gente ao qual nós nos encontramos para analisá-lo. Por esta mesma razão a conscientização não consiste em estar frente a realidade assumindo uma posição falsamente intelectual. A conscientização não pode existir fora da frase, ou melhor, sem o ato da ação-reflexão esta unidade dialética constitui de maneira permanente o ato de transformar o mundo que caracteriza os homens. Por isso mesmo a conscientização é um compromisso histórico. É também consciência histórica: é inserção crítica na história, implica que os homens assumam o papel de sujeito que fazem e refazem o mundo. Exige que os homens criem sua existência com o material que a vida lhes oferecer (...). A conscientização não está baseada sobre a consciência, de um lado e o mundo de outro; por outra parte não pretende uma separação. Ao contrário está baseada na relação consciência-mundo. (FREIRE 1980 p.26)

Nessa perspectiva, segundo Ana Maria Saul, (1991) O processo de

conscientização é o princípio norteador de uma pedagogia emancipadora, em que

os envolvidos são tratados como sujeitos capazes de criticamente desenvolver suas

próprias ações, é também um processo dialógico que privilegiando um enfoque

multidisciplinar, busca uma apreensão simultânea e integrada, das múltiplas

dimensões de análise da instituição em suas relações com a sociedade.

Todavia, esse diálogo a que Freire se refere requer um pensamento crítico e

é também capaz de gerar um pensamento crítico, é na sua proposta que vemos a

verdadeira educação, a educação que emancipa.

Na análise de Vitor Paro (2001). Educar-se é fazer, é tornar-se autônomo

condutor do próprio destino e a auto avaliação é que sintetiza o estágio de seu

desenvolvimento. Sem motivação não ocorre qualquer tipo de aprendizagem.

O educando precisa ter autoconsciência de seus progressos e dificuldades levando-

o à motivação, pois, sendo a educação a apropriação de um processo da herança

histórico- cultural do individuo, ela se dá com o fim de construir a sua própria

personalidade, e como a motivação é intrínseca, logo ele precisa querer aprender

para que o aprendizado se dê.

Esse desejo de aperfeiçoamento cultural não nasce com o indivíduo, é um

conteúdo histórico que lhe é sugerido pelo meio social onde ele cresce. A

16

particularidade desse conteúdo, é que ele deve acompanhar necessariamente a

educação, a qual supõe a emancipação do homem como sujeito histórico, e é como

sujeito que ele avalia as dimensões dos erros e acertos que comete as dificuldades

que enfrenta e subjetivamente leva-os em conta no seu desenvolvimento.

Se durante a sua vida, no processo de desenvolvimento de sua

personalidade, o educando só contar com avaliação externa: dos pais, professores e

da escola, poderá permanecer sempre, um ser dependente do juízo dos outros, com

pouca ou nenhuma contribuição efetiva, para a melhoria da sociedade, e para a sua

própria realização individual.

AVALIAÇÃO NUMA PERSPECTIVA MEDIADORA

Hoffmann (1991) nos mostra que a avaliação numa perspectiva mediadora

analisa teoricamente as várias manifestações dos alunos em situação de

aprendizagem, verbais ou escritas, para acompanhar as hipóteses, que vêm

formulando a respeito de determinados assuntos, em diferentes áreas do

conhecimento, de forma a exercer uma ação educativa, que lhes favoreça a

descoberta de melhores soluções ou a formulação de hipóteses preliminarmente

formuladas, ou seja, prestar muita atenção no educando, insistindo em conhecê-lo

melhor, em entender suas falas, seus argumentos, ouvindo suas perguntas, fazendo

novas e desafiadoras questões, sem delimitar e padronizar, oportunizar discussão

entre os alunos a partir de situações desencadeadoras.

A avaliação mediadora exige a observação individual de cada aluno, atenta

ao seu momento no processo de construção do conhecimento o que exige uma

relação direta com ele a partir de muitas tarefas (orais ou escritas) interpretando-as

(um respeito a tal subjetividade) refletindo e investigando teoricamente razões para

soluções apresentadas, em termos de estágios evolutivos do pensamento, da área

de conhecimento em questão, das experiências de vida do aluno.

17

Jussara Hoffmann (1991) aponta a seguir, alguns princípios coerentes com

uma ação avaliativa mediadora: Oportunizar aos alunos muitos momentos de

expressar suas idéias. As tarefas são elementos essenciais para observação das

hipóteses construídas pelos alunos ao longo do processo. Através delas o professor

poderá estabelecer um diálogo com o aluno no sentido de debruçar-se sobre sua

produção de conhecimento para compreender em que momento se encontra, qual a

dimensão do seu entendimento sobre uma prática avaliativa inovadora que

abandone a realização de tarefas pelos alunos.

Ela afirma que, é importante se respeitar o saber elaborado pelo aluno,

espontâneo partindo de ações desencadeadoras de reflexão sobre tal saber,

desafiando-lhe a evoluir, encontrar novas e diferentes soluções às tarefas

sucessivamente apresentados pelo professor. Ela sugere muitas e diversificadas

tarefas em todos os momentos da escola. Em aula, em casa, algumas mais

extensas, outras menores. O importante é garantir a espontaneidade do aluno ao

realizá-la.

O que determina a natureza das questões é a sua finalidade: porque

formular tais perguntas, sobre esse assunto e nesse momento o que pretende

investigar ou observar em relação à compreensão dos seus alunos. Se o educador

valorizar efetivamente toda a produção do estudante, partindo de suas idéias ou

dificuldades para o planejamento de novas ações educativas, estará naturalmente

tornando-o participante do processo.

UMA CONCEPÇÃO DIAGNÓSTICA DA AVALIAÇÃO

Segundo Cipriano Carlos Luckesi (2007) a avaliação classificatória, tanto a

institucional quanto a da aprendizagem, nada transforma. Para não ser autoritária e

conservadora, a avaliação deverá ser diagnóstica, isto é, ela deverá dar ao professor

condições para compreender o estágio de aprendizagem em que se encontra o

aluno, para trabalhar com ele no sentido de tirá-lo desse estágio defasado, e que ele

possa avançar em termos dos conhecimentos necessários

Como afirma Cipriano Carlos Luckesi “A atual prática da avaliação escolar não viabiliza um processo de democratização do ensino. Ao contrário, possibilita um

18

processo cada vez menos democrático no que se refere à expansão do ensino quanto à sua qualidade.” (LUCKESI 2007p. 81).

Logo, para que a avaliação sirva a democratização do ensino, é preciso

modificar a sua utilização para diagnóstica, Desse modo a avaliação não seria

apenas para aprovação dos alunos que atingiram a média estabelecida pelo

regimento escolar ou reprovação daqueles que por alguma razão não atingiram a

média, levando-os ao desinteresse pela continuidade dos estudos, mas sim um

instrumento de diagnóstico de uma situação, visando encaminhamentos adequados

para a sua aprendizagem.

No entender de Cipriano Carlos Luckesi (2007) para que o ato de avaliar

cumpra seu papel, é preciso passar por três variáveis. Na primeira variável, está o

juízo de qualidade o qual é produzido por um processo comparativo entre o objeto

que está sendo ajuizado e um determinado padrão de julgamento. Na avaliação da

aprendizagem há um dado de realidade, que são as condutas do aluno, e há uma

atribuição de qualidade a essa realidade a partir de um determinado padrão ideal

dessa conduta. O professor tendo em mãos os resultados da aprendizagem do aluno

compara esse resultado com a expectativa de resultado que possui como ideal, e

atribui-lhe uma qualidade de satisfatoriedade ou insatisfatoriedade.

A segunda variável está no juízo de qualidade, o qual deve ser fundado

sobre dados relevantes da realidade, no caso da avaliação da aprendizagem são as

condutas aprendidas e manifestadas pelo aluno. A sua aprendizagem será mais, ou

menos satisfatória na medida em que se aproximar do padrão ideal, da expectativa

que temos dessas condutas.

A terceira variável é a tomada de decisão, no caso da avaliação da

aprendizagem, se refere à decisão do que fazer com o aluno quando a sua

aprendizagem se manifesta satisfatória ou insatisfatória. Se não se tomar uma

decisão sobre isso o ato de avaliar não completou seu ciclo constitutivo.

Porém o que ocorre na prática da avaliação educacional é que dificilmente

os professores definem com clareza no ato do planejamento de ensino, qual é o

padrão mínimo de qualidade que se espera da conduta do aluno, após ser

submetido a uma determinada aprendizagem. E como não há um padrão de

expectativas estabelecido com certa clareza, a variabilidade de julgamento se dá

19

conforme o estado de humor do professor o qual poderá aprovar um aluno que não

apresenta condições suficientes para ser aprovado e reprovar um que tenha

condições suficientes para ser aprovado. A avaliação praticada sem uma definição

prévia dos mínimos necessários pode ser utilizada, como prêmio para uns e castigo

para outros.

Essa colocação torna-se importante, devido ao fato de que, muitas vezes, os

professores tomam dados irrelevantes como se eles fossem relevantes; uma vez ou

outra por descuido, às vezes intencionalmente, os professores consideram dados

irrelevantes para tornarem os seus instrumentos de avaliação mais difíceis, para

punir os alunos.

Com relação a essa postura Cipriano Carlos Luckesi (2007) analisa. Os

professores utilizam as provas como instrumentos de ameaça e tortura prévia dos

alunos, protestando ser um elemento motivador da aprendizagem.

Porém, o estudante se dedica aos estudos não que os conteúdos sejam

importantes, significativos e prazerosos de serem aprendidos, mas porque está

sendo ameaçado pela prova, isso o leva a estudar com a intenção de conseguir a

média para ser aprovado, porém os conteúdos memorizados não são assimilados e

no ano seguinte, estão com defasagem de conteúdos sem os pré-requisitos para a

série, o que justificam os professores.

Luckesi nos ensina como utilizar a avaliação diagnóstica:

Em primeiro lugar, propomos que a avaliação do aproveitamento escolar seja praticada como uma atribuição de qualidade aos resultados da aprendizagem dos educandos, tendo por base seus aspectos essenciais e, como objetivo final, uma tomada de decisão que direcione o aprendizado e, conseqüentemente o desenvolvimento do educando (LUCKESI, 2007 p.95)

Nesse sentido ao avaliar o professor deverá:

Coletar, analisar e sintetizar da forma mais objetiva possível as

manifestações das condutas (cognitivas e afetivas, do educando ), produzindo uma

configuração do efetivamente aprendido.

Atribuir uma qualidade a essa configuração da aprendizagem, a partir de um

padrão, preestabelecido e admitido como válido pela comunidade dos educadores e

especialistas dos conteúdos que estejam sendo trabalhados

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A partir dessa qualificação dessa qualidade tomar uma decisão sobre as

condutas docentes e discentes a serem seguidas, tendo em vista:

A reorientação imediata da aprendizagem, caso sua qualidade se mostre

insatisfatória caso o conteúdo, habilidade ou hábito, que esteja sendo ensinado e

aprendido, seja efetivamente essencial para a formação do educando;

O encaminhamento do educando para passos subseqüentes da

aprendizagem, caso se considere que, qualitativamente, atingiu um nível satisfatório

no que estava sendo trabalhado. Assim, o objetivo primeiro da aferição do

aproveitamento escolar não será a aprovação ou reprovação do educando, mas o

direcionamento da aprendizagem e seu conseqüente desenvolvimento.

1. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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2010.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática

educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

FREIRE Paulo. Pedagogia do oprimido: alfabetização, métodos, teoria I – titulo II.

38ª Ed. Paz e Terra, 2004.

HOFFMANN, Jussara. Pontos & contrapontos do pensar e agir em avaliação.

Porto Alegre: Mediação, 2007.

HOFFMANN, Jussara. Avaliação: mito e desafio - uma perspectiva construtivista.

Porto Alegre: Educação e Realidade, 1991.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da aprendizagem escolar. 15ª Ed. São Paulo:

Cortez, 2003/2007.

NEVES, Isabel Cristina. Avaliação da aprendizagem: concepções e práticas de

formadores de professores. Guarapuava: Uni Centro, 2008.

PARO, Vitor Henrique. Reprovação escolar: renúncia à educação. São Paulo:

Xamã, 2001.

21

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1999.

PERRENOUD, Phillippe. Não mexam na minha avaliação: para uma abordagem

sistêmica da mudança pedagógica. Porto 1993 p.171 a 191.

Projeto Político Pedagógico da Escola Ernani Vidal - Ensino Fundamental.

SAUL, Ana Maria. Avaliação emancipatória: desafios à teoria e a prática de

avaliação e reformulação de currículo. 2ª Ed. São Paulo: Cortez, 1991.

BONETI, Lindomar W. Exclusão como estratégia de desenvolvimento. Cadernos

CEAS, nº 170. Jul/Ago/1997, Salvador: CEAS PP, p. 33-49.

ENGUITA, F. M. A face oculta da escola: educação e trabalho no capitalismo.

Porto Alegre. Artes Méicas, 1989.

FREIRE. Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática

Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.