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FACULDADE DE TECNOLOGIA EM SAUDE CIEPH LÍDIA CRISTINA SMITH E SILVA ACUPUNTURA COMO TRATAMENTO COMPLEMENTAR DE PACIENTE COM PÉ DIABÉTICO: UM ESTUDO DE CASO FLORIANÓPOLIS, SC 2015

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FACULDADE DE TECNOLOGIA EM SAUDE – CIEPH

LÍDIA CRISTINA SMITH E SILVA

ACUPUNTURA COMO TRATAMENTO COMPLEMENTAR DE PACIENTE COM

PÉ DIABÉTICO: UM ESTUDO DE CASO

FLORIANÓPOLIS, SC

2015

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LÍDIA CRISTINA SMITH E SILVA

ACUPUNTURA COMO TRATAMENTO COMPLEMENTAR DE PACIENTE COM

PÉ DIABÉTICO: UM ESTUDO DE CASO

Trabalho de conclusão de curso

apresentado ao Curso de Pós

Graduação em Acupuntura do CIEPH,

como pré-requisito para obtenção do

Título de Especialista em Acupuntura.

FLORIANÓPOLIS, SC

2015

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FACULDADE DE TECNOLOGIA EM SAUDE – CIEPH

ESPECIALIZAÇÃO EM ACUPUNTURA

LÍDIA CRISTINA SMITH E SILVA

ACUPUNTURA COMO TRATAMENTO COMPLEMENTAR DE PACIENTE COM

PÉ DIABÉTICO: UM ESTUDO DE CASO

Esse artigo apresentado como trabalho de conclusão de curso foi analisado pelos

professores e julgado e aprovado para obtenção do grau de Especialista em

Acupuntura.

Florianópolis, 15 de Julho de 2015.

_____________________________________________

Prof. Marcelo Fabián Oliva, Esp.

Presidente da banca

____________________________________________

Profª.Luisa Regina PericoloErwig, Mest.

Banca

____________________________________________

Profª. Thais Habkost Machado, Esp.

Banca

4

SMITH E SILVA, Lídia Cristina. ACUPUNTURA E MOXABUSTÃO COMO TRATAMENTO COMPLEMENTAR DE PACIENTE COM PÉ DIABÉTICO: UM ESTUDO DE CASO. 2015. p. 17. Estudo de Caso – Curso de Especialização em Massoterapia Oriental, CIEPH. Florianópolis, 2015.

RESUMO O Pé Diabético é uma das complicações mais preocupantes do Diabetes Mellitus (DM). Particularmente o DM tipo II acomete 90% dos casos de diabetes, é justamente esse tipo de diabetes que é o mais propenso a desenvolver a úlcera diabética, complicação esta que pode levar a uma amputação. A terminologia diabetes não é encontrada na literatura da Medicina Tradicional Chinesa, os sintomas descritos da patologia são considerados calor no organismo, calor no estomago e deficiência do rim, e apresenta uma série de possibilidades de intervenção pela acupuntura. O objetivo deste artigo é relatar o tratamento realizado por meio da acupuntura a um paciente que apresenta pé diabético. Após identificação dos sintomas de diabetes, realizados pela queixa do pacientes e pela análise clínica embasada em diagnóstico médico, foram realizadas 18 sessões de acupuntura, utilizando como referencial teórico a literatura da Medicina Tradicional Chinesa. Os resultados obtidos foram a diminuição da taxa glicêmica, melhora da sensibilidade, diminuição do edema, melhor circulação e cicatrização da úlcera. Palavras-chave: Diabetes Mellitus. Pé Diabético. Acupuntura. Terapia Complementar e integrativa. ABSTRACT The diabetic foot is one of the most troubling complications of Diabetes Mellitus (DM). Particularly type II DM occurs in 90% of cases of diabetes, is precisely the type of diabetes that is more prone to develop diabetic ulcer, this complication that can lead to amputation. The Diabetes terminology is not found in traditional Chinese medical literature, the symptoms described the pathology are considered heat in the body, heat in the stomach and kidney deficiency, and presents a number of possibilities of intervention by acupuncture. The objective of this paper is to report the treatment performed by acupuncture to a patient presenting diabetic foot. After identification of the symptoms of diabetes, carried out by the patient's complaint and the clinical analysis grounded in medical diagnosis, were performed 18 sessions of acupuncture, using as theoretical reference literature of traditional Chinese medicine. The results obtained were the reduction of the glycemic rate, improved sensitivity, reduction of edema, better circulation and ulcer healing. Keywords: Diabetes Mellitus. Diabetic Foot. Acupuncture. Complementary And integrative Therapy.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 6

2. O ENTENDIMENTO DO DIABETES PELA MEDICINA OCIDENTAL 7

3. COMPREENSÃO DO DIABETES PELO REFERENCIAL TEORICO

DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA

8

4. DESCRIÇÃO DO PACIENTE 12

5. TRATAMENTO POR MEIO DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA –

ACUPUNTURA

13

6. RESUMO CLÌNICO DA DOENÇA – O DIAGNOSTICO PELA

MEDICINA TRADICIONAL CHINESA E PRINCÍPIOS DE

TRATAMENTO POR INTERMÉDIO DA ACUPUNTURA

13

7. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 14

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS 15

9. REFERÊNCIAS 16

6

1. INTRODUÇÃO

A medicina tradicional chinesa e, mais especificamente, a acupuntura,

ainda são campos de estudos pouco conhecidos pelos terapeutas ocupacionais

brasileiros. Somente depois da regulamentação do uso da acupuntura como

Prática Integrativa e Complementar do Sistema Único de Saúde, estabelecida

pelo Ministério da Saúde através da portaria nº 971/2006, que a mesma começou

a despertar o interesse dos terapeutas ocupacionais que trabalham no âmbito

clínico e da saúde.

A acupuntura é um das terapias que compõem a Medicina Tradicional

Chinesa (MTC) para promover a saúde física, psíquica e espiritual do indivíduo.

De acordo com Campiglia (2004), Vectore (2005) e Silva (2007), a Medicina

tradicional chinesa e, portanto, a própria acupuntura, se baseia no princípio de

que o homem deve estar em harmonia com as forças primordiais da natureza,

sendo que essa harmonia gera um equilíbrio que pode ser traduzido como saúde,

e, por sua vez, o desequilíbrio, como doença. O princípio básico da MTC sustenta

que o equilíbrio é mantido no corpo humano por meio do fluxo suave de dois

princípios denominados pelos chineses de Yin/Yang energia que percorre o

sistema vivo através Xue (sangue e QI). Problemas ambientais, alimentares,

emocionais ou espirituais podem causar algum tipo de alteração na circulação do

Qi no organismo, originando assim algum tipo de disfunção ou patologia. A partir

do momento em que alguma patologia esteja instalada no organismo, uma das

formas de eliminá-la ou de minimizá-la seria a estimulação em pontos específicos

do corpo, que tem a propriedade de restabelecer esse fluxo suave, ou seja, pela

prática da acupuntura (Silva, 2007).

Tendo esse princípio como base, qualquer tipo de disfunção ou

patologia, como, por exemplo, a diabetes, pode ser tratada por intermédio da

MTC; porém, realizar o tratamento de uma patologia como a diabetes pela

acupuntura talvez não seja um procedimento tão simples de realizar, porque, na

literatura da Medicina Tradicional Chinesa, não existe referência a essa patologia

específica, cuja nomenclatura é tipicamente ocidental. E é a partir desse

entendimento da diabete como sintomas que é possível traçar paralelos entre o

conhecimento ocidental e a Medicina Tradicional Chinesa.

7

2. O ENTENDIMENTO DO DIABETES PELA MEDICINA OCIDENTAL

O Diabetes é dividido classicamente em Diabetes Insipidus, Diabetes

Mellitus e Diabetes Gestacional.

O Diabetes Insipidus é uma desordem do sistema neurohipofisiário

que falha em produzir suficiente vasopressina, um hormônio antidiurético. Esta

deficiência resulta em polidipsia e poliúria, os sintomas típicos desta forma de

diabetes. A produção e liberação da vasopressina são feita pelo hipotálamo, a

hipófise sendo utilizada para armazená-la. A doença portanto envolve problemas

no circuito hipotálamo - hipófise, como lesões nos núcleos hipotalâmicos ou na

haste pituitária. As lesões podem ser de origem primária por razões genéticas ou

idiopáticas, ou secundárias resultantes de trauma, neoplasmas, lesões vasculares

ou infecções. Outra forma de Insipidus deve-se à falta de reação dos rins à

vasopressina. O tratamento é feito com uma droga análoga à vasopressina,

drogas que reduzem a poliúria ou drogas que provocam a liberação de

vasopressina nos pacientes que ainda tem uma capacidade residual de produção.

Diabetes Mellitus é uma doença metabólica caracterizada por um

aumento do açúcar ou glicose no sangue. A glicose é a principal fonte de energia

do organismo, porém, quando em excesso, pode trazer várias complicações à

saúde.

O Diabetes Mellitus tipo I em geral manifesta-se já na infância ou

adolescência, sendo o tipo predominante antes dos 30 anos. É caracterizada por

hiperglicemia e propensão a cetoacidose. O pâncreas produz pouca ou nenhuma

insulina, sua estrutura tendo sido danificada provavelmente por um processo

auto-imune. O tratamento para este tipo é feito com insulina, dieta composta de

forma a evitar tanto a hiper quanto a hipoglicemia e atividade física.

A diabetes Mellitus tipo II em geral ocorre depois dos 30 anos,

caracterizando-se por hiperglicemia e resistência à insulina, a cetoacidose sendo

rara. Ele em geral está associado a obesidade, principalmente na região

abdominal/visceral , manifestando-se frequentemente após um período de

aumento de peso. O Diabetes Mellitus tipo II está relacionado à deficiência de

secreção da insulina e à incapacidade da insulina em promover a captação de

glicose pelo músculo esquelético e em restringir a formação de glicose pelo fígado

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(resistência à insulina). A resistência à insulina, se for acompanhada de aumento

de secreção de insulina, não provoca o diabetes. O tipo II é tratado com dieta,

atividade física e drogas hipoglicêmicas, eventualmente combinadas à insulina.

No Diabetes Mellitus a hiperglicemia provoca glicosúria e

desidratação que por sua vez resultam em perda de peso e polidipsia. A

hiperglicemia também pode causar visão turva, fadiga, náusea e propensão à

infecções. O longo prazo pode ocorrer doenças vasculares como a

ateroesclerose, retinopatia, nefropatia, polineuropatia, neuropatia autonômica,

úlceras no pé e problemas articulares.

A Diabetes Gestacional surge durante a gravidez e pode ser

diagnosticadas num exame de glicose em jejum após as 22 semanas de

gestação. Os sintomas da diabetes gestacional são semelhantes aos da diabetes

tipos 2. O tratamento é feito com alimentação adequada e exercícios para o

controle da diabetes, já que esta tende a desaparecer após o nascimento do

bebê.

A Sociedade Brasileira de Diabetes considera que 12.054.824 é o

número estimado de diabéticos, entre pacientes com diabetes tipo 1, diabetes tipo

2 e diabetes gestacional, sendo mais reincidente em mulheres. Atingindo 6,9% da

população adulta (VIGITEL, 2013). No Estado do Maranhão o IBGE 2013 aponta

5,4%.

3. COMPREENSÃO DO DIABETES PELO REFERENCIAL TEORICO DA

MEDICINA TRADICIONAL CHINESA

O Diabetes Mellitus na visão ocidental está relacionado à incapacidade

absoluta ou relativa do pâncreas em produzir insulina, o que resulta

em hiperglicemia. Isto é verdadeiro também para o fenômeno da resistência à

insulina já que esta só leva ao diabetes quando o pâncreas não consegue

aumentar sua produção de insulina. Segundo Maciocia (1996), o pâncreas não é

mencionado nos livros da MTC, sendo considerado dependente do Baço, motivo

pelo qual no Ocidente o meridiano do Baço é conhecido por Baço-Pâncreas. A

lesão energética do Baço e o Estômago através da alimentação inadequada,

como vimos, é uma causa possível de Diabetes para a MTC, conceito que

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concorda com a visão ocidental. Em relação à participação do Fígado no

processo da doença, a medicina ocidental reconhece que diversas doenças

endócrinas que podem desencadear o diabetes está associado a um problema

hepático. Ela não vê relação entre o fígado e o comportamento emocional

embora, através da Psicologia, tenha procurado detectar associações entre perfis

psicológicos e o diabetes e entre o estresse e a ocorrência de doenças

autoimunes. Quanto à participação dos rins, a medicina ocidental entende que a

nefropatia é uma das possíveis complicações a que o diabético está sujeito mas

não concordaria com a visão de que a doença possa originar-se a partir deles e

muito menos com a relação que a MTC estabelece entre a deficiência do Rim e a

atividade sexual , na qual só reconhece efeitos positivos. Estas diferenças de

conceito são importantes, pois implicam na recomendação de condutas ao

paciente.

O Diabetes Mellittus é conhecido na MTC como "Xiao Ke", isto é, uma

doença caracterizada pela polidipsia, polifagia e poliúria (Jiazhen e Zhufan,1997).

Segundo a MTC, o desejo de beber grandes quantidades de água fria indica a

presença de Calor no organismo enquanto que a sensação permanente de fome

é sinal de Calor no Estômago (Maciocia, 1989). A urina frequente e abundante

indica deficiência do Rim (Maciocia, 1989).

A MTC reconhece três tipos de origem para o Diabetes Mellittus:

(A) Danos no Baço e Estômago causados por alimentação inadequada:

A alimentação inadequada é um dos fatores que podem provocar

doença, seja pelo excesso ou pela insuficiência. No caso do DM a ingestão

excessiva de alimentos de natureza quente e/ou doce provocam o surgimento de

Calor no Estômago e lesam o Baço. Os alimentos de natureza quente que, em

excesso, podem gerar Calor no Estômago são as frituras, o álcool, as carnes

feitas diretamente no fogo (churrasco) e as pimentas. A agressão ao Baço e

Estômago (elemento Terra) ocorre diretamente e também através da dominação

excessiva do elemento Madeira / Fígado sobre Terra, já que os alimentos

quentes aumentam o Yang do Fígado. Outra forma de agressão ao Baço

ocorre através do excesso de consumo do sabor doce, principalmente na forma

de açúcar branco, pois este gera Umidade, fator cujo acúmulo a longo prazo

pode converter-se em Fleuma e Calor. O açúcar branco também esgota o Yang

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do Rim e por consequência o Qi do Rim. O quadro de Fogo no Estômago

caracteriza-se, entre outros sintomas, pela sede com desejo de líquidos frios,

fome constante, sensação de queimação no epigástrio, sangramento gengival e

mau hálito. A lesão das funções de transformação do alimento e transporte de

energia, próprias do Estômago e Baço, pode provocar tanto obesidade ou

emagrecimento. Juntamente com a dieta é preciso considerar também a

possibilidade do Estômago e/ou Baço serem constitucionalmente deficientes e

portanto mais suscetíveis a desenvolverem patologias, inclusive o diabetes. O

quadro psíquico também tem influência sobre o Baço e Estômago, já que a MTC

considera que o excesso de trabalho intelectual ou preocupação lesam o

elemento Terra.

(B) Danos no Fígado devido a alterações emocionais:

O desequilíbrio emocional é um fator etiológico reconhecido pela MTC.

Mencionamos acima que o Fígado, através de sua dominação sobre a Terra, tem

participação na fisiopatologia do Diabetes. A presença de Calor no Fígado além

de lesar Estômago e Baço também consomem os Fluidos Corpóreos (Jin Ye),

predispondo o organismo à Secura e ao Calor, quadros onde há polidipsia. O

Calor no Fígado pode decorrer dos fatores dietéticos já analisados, ou

emocionais. Emoções como o ressentimento, a fúria reprimida, a irritação, a

frustração e a depressão estagnam o Qi do Fígado e podem, após um certo

tempo, suscitar o surgimento do Calor no Fígado: "A Estagnação do Qi, por um

longo período pode conduzir ao Fogo, uma vez que a implosão do Qi, causada

pela repressão emocional, gera o Calor" (Maciocia, 1989). A expressão irrestrita

da fúria, por outro lado, pode também provocar a manifestação do Fogo no

Fígado, embora neste caso, o perigo maior não é a agressão ao Estômago, mas a

ocorrência de um acidente vascular cerebral.

(C) Deficiência do Rim:

A deterioração do Qi do Rim pode desencadear também o Diabetes. A

deficiência do Qi do Rim afeta a Bexiga, comprometendo suas funções de

transformação, armazenamento e excreção, originando a poliúria. O processo

que conduz ao quadro do DM parece iniciar-se através da Deficiência do Yin do

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Rim. Quando esta se agrava suscita o aparecimento do Calor-Vazio e, em

consequência, secura e consumo dos líquidos orgânicos (Jin Ye). A sudorese

noturna, boca seca a noite, sede e urina escassa e escura são algumas

das manifestações típicas da Deficiência do Yin do Rim. A poliúria aparece em

decorrência da polidipsia, gerada pela secura e diminuição dos líquidos orgânicos.

A deficiência do Yin do Rim afeta também o Yin do Fígado e do Coração,

predispondo ao surgimento de Fogo nestes sistemas. Ela pode ser constitucional

quando há deficiência de Essência (Jing) ou adquirida pelo excesso de trabalho

ou atividade sexual. A deficiência do Yin, assim como a de Yang, acaba

afetando o elemento oposto, tornando-se Deficiência de Yin e Yang .

A Deficiência do Yang do Rim resulta em urina abundante e clara ou

urina clara e escassa. A primeira situação parece corresponder ao Diabetes

Insipidus, embora a Deficiência do Yang do rim, a princípio, não comporte desejo

intenso de beber. A polidipsia talvez apareça em função da perda aumentada de

líquidos, sequência inversa portanto à verificada na deficiência de Yin. De

qualquer maneira, a poliúria e a polidpsia acabam engendrando uma a outra. A

deficiência do Yang do Rim afeta o Yang do Baço, criando um terreno propício

para o emagrecimento, fraqueza muscular e retenção de líquido (edema). A

Deficiência do Yang do Rim pode surgir depois de longos períodos de doença, de

atividade física ou sexual excessiva, envelhecimento ou por retenção prolongada

de Umidade, causada por deficiência do Baço.

Segundo Zhufan e Jiazhen (1997), o diabetes é classificado segundo o

Aquecedor acometido.

O primeiro tipo é o do Aquecedor superior atingido. Isto ocorre quando

o Calor patogênico consome o Yin do Pulmão, produzindo sintomas como sede

intensa, secura na boca e na língua, poliúria, ponta da língua e borda vermelhas

com revestimento fino e amarelo e pulso cheio e rápido .

O segundo tipo é o do Aquecedor médio. O Fogo excessivo do

Estômago consome o Yin do Estômago, produzindo os sintomas de polifagia,

emagrecimento, constipação, língua vermelha com revestimento seco e amarelo e

pulso forte e escorregadio.

O terceiro tipo é o do Aquecedor inferior e divide-se em dois subtipos.

O primeiro corresponde a evolução prolongada de uma deficiência de Yin, na

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qual os sintomas são poliúria, urina turva, secura na boca, língua vermelha com

revestimento escasso e pulso fraco e rápido. O segundo corresponde à evolução

de uma deficiência de Yin e Yang do Rim e os sintomas são poliúria grave, urina

turva, lassitude, sudorese espontânea, encurtamento da respiração, impotência,

compleição escura, língua pálida com revestimento branco e pulso fraco e

escondido.

4. DESCRIÇÃO DO PACIENTE

O paciente objeto deste estudo foi um homem com 88 anos, casado,

com seis filhos, residente em São Luis-Maranhão, com economia baseada na

aposentadoria federal, e diagnóstico Médico de Alzheimer, hemiplegia direita,

Hipertensão e Diabetes tipo 2. Procurou atendimento terapêutico ocupacional, por

apresentar, de acordo com relato de familiares, formigamento em MMSS e MMII,

inchaço de MMII.

Três dias antes de iniciar o acompanhamento Terapêutico houve o

aparecimento, inicialmente de vermelhidão e edema no pé direito acompanhado

de uma sensação de febre. Familiares o levou ao atendimento médico

emergencial, e foi constatada a alteração das taxas glicêmicas e sintomas de um

pé diabético. O paciente foi submetido a tratamento medicamentoso e por se

tratar de um idoso liberado para dar continuidade ao tratamento em casa, livre de

possíveis riscos de infecções hospitalares. Sobre liberação médica, a

filha/cuidadora buscou tratamento terapêutico ocupacional.

A partir dos relatos de familiares e das observações feitas, trata-se de

um paciente com funções motoras comprometidas, rigidez articular,

principalmente no lado direito, sem presença de macha (cadeirante), com fala

preservada, funções cognitivas comprometidas e presença de alterações

cutâneas.

Tais características constituíram oferecer ao paciente e aos familiares à

possibilidade de realizar um tratamento complementar utilizando-se a técnica da

acupuntura, que foi aceito pelos familiares.

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5. TRATANDO POR MEIO DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA –

ACUPUNTURA

A Medicina Tradicional Chinesa se baseia em conceitos Taoistas e

energéticos, os quais enfocam o indivíduo como um todo e como parte integrante

do universo. Para ela, o indivíduo é constituído por um conjunto de energias,

provenientes do céu e da terra, que fluem por todo do corpo, e que devem estar

em constante equilíbrio; quando isso não ocorre, temos então a manifestação de

Patologias. O objetivo de todas as técnicas utilizadas pela MTC é manter o

equilíbrio necessário entre estas energias para que se possa viver em plenitude,

baseado em noções de harmonia e equilíbrio a medicina tradicionalmente é

composta por cinco pilares que em conjunto são utilizados para o tratamento e a

reabilitação do paciente: Massagem, Práticas físicas, Dietoterapia, Fitoterapia e

Acupuntura para tratar ou prevenir patologias.

Na Acupuntura segundo Zhufan e Jiazhen (1997) devemos organizar

o tratamento a partir das classificações do Aquecedor. No diabetes com

acometimento do Aquecedor superior deve-se "expulsar o Calor, purgar o Fogo,

aumentar a produção do Jin Ye e aliviar a sede". No acometimento do Aquecedor

médio, deve-se "remover o calor do Estômago e nutrir o Yin", “tonificar o

pâncreas” para tratar o diabetes. No acometimento do Aquecedor inferior, deve-se

“tonificar o rim”.

Seguindo as orientações da literatura é recomendável a combinação de

ponto que drenam o Calor e tonificam o Yin, drenam a Umidade e fortalecem o

Baço/Estômago e os que fortalecem a energia do Rim, por meio da agulha e/ou

moxabustão que é um pequeno bastão confeccionado a partir das folhas de

Artemísia.

6. RESUMO CLÌNICO DA DOENÇA – O DIAGNOSTICO PELA MEDICINA

TRADICIONAL CHINESA E PRINCÍPIOS DE TRATAMENTO POR

INTERMÉDIO DA ACUPUNTURA

Com base nas observações, inquirição e palpação dos pulsos, que

apresentavam rápido, principalmente, no estomago, coração, fígado e deficiência

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ou estagnado, rim e pulmão, levantou-se a hipótese diagnóstica, dentro da

perspectiva da Medicina Tradicional Chinesa, trata-se de um padrão de calor no

sangue. Essa hipótese foi reforçada pelo exame da língua, que se apresentava

vermelha, com saburra amarela e fissuras.

Devido à forma de a Medicina Tradicional Chinesa diagnosticar e tratar

a doença estar baseada em uma análise integrativa de diferenciação de sinais e

sintomas, incluindo a causa e a natureza da doença, além das condições físicas e

emocionais do paciente, durante o tratamento terapêutico foi elaborado um

protocolo eficiente para a recuperação, de forma sistematizada, em longo prazo.

Um dos pontos mais importantes da Medicina Tradicional Chinesa é

identificar o que causou a desarmonia no paciente, pois a doença pode estar

relacionada a diversos fatores.

Desta forma, em consonância com os autores pesquisados e com os

objetivos desse estudo, percebe-se que o excesso de calor no sangue dificulta e

prejudica o funcionamento do baço-pâncreas, órgão intimamente relacionado com

o diabetes. Assim foi observado, antes de iniciar o tratamento, o perfil do paciente

conforme foi relatado no item 4 referente à descrição do paciente.

7. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

De acordo com o exposto e as considerações especificadas,

anteriormente, o objetivo geral desse trabalho remete-se a um estudo de caso

sobre a Acupuntura como tratamento integrativo e complementar de paciente com

pé diabético, considerando os conhecimentos da MTC, especificamente a

Acupuntura e Moxabustão, a qual remete o método abordado durante o estudo.

Neste sentido, objetivou-se analisar através da realização das sessões e

acompanhamento evolutivo do paciente, baseado nas literaturas referenciadas, os

resultados obtidos no decorrer dos atendimentos realizados ao paciente, assim

como avaliar dos aspectos que contribuíram positivamente no processo

terapêutico.

Para tanto foram realizadas 18 sessões de acupuntura e moxabustão

no período 8 semanas com sessões 3 vezes na semana e intercaladas. A partir

das seguintes combinações de pontos.

15

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao termino do presente trabalho foi possível perceber a evolução

favorável do paciente mediante os resultados apresentados ao longo do processo

de realização do tratamento complementar com acupuntura e moxabustão,

baseados no princípio da Medicina Tradicional Chinesa utilizando os pontos

adequados na atuação desse processo de forma sistemática.

Diante do exposto e da abordagem realizada, espera-se que este

estudo, motive a realização de novas pesquisas de campo que busquem como

desafio construir novos conhecimentos científicos no intuito de viabilizar e

dinamizar o tratamento de pacientes com pés diabéticos através do diagnóstico

preciso na visão da Medicina Tradicional Chinesa e a compreensão da relação

entre a desarmonia orgânica e os fatores externos e internos que ocasionaram o

desenvolvimento da patologia. Para uma atuação e forma de tratamento preciso

através dos pontos da acupuntura associados a outros fatores como alimentação

adequada, ambiente, qualidade de vida, dentre outros.

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9. REFERÊNCIAS IBGE MARANHÃO. Pesquisa Nacional de Saúde. Disponível em:

http://www.ibge.gov.br/estadosat/temas.php?sigla=ma&tema=pns_2013_est_saud

e

PORTAL DA SAÚDE. Autocuidado Diabetes. Disponível em:

http://autocuidado.saude.gov.br/

VIGITEL- VIGILÂNCIA DE FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO PARA

DOENÇAS CRÔNICAS POR INQUÉRITO TELEFÔNICO. Sociedade Brasileira

de Endocrinologia e Metabologia. Disponível em:

http://www.endocrino.org.br/vigitel-2011-diabetes/

FERNANDES, Carlos Alexandre Molena et al. A importância da associação de

dieta e de atividade física na prevenção e controle do Diabetes mellitus tipo

2. Rev. Acta Sci. Health Sci. Maringá, v. 27, n. 2, p. 195-205, 2005. Disponível

em:

http://bases.bireme.br/cgibin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&src=go

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D

CONSENSO INTERNACIONAL SOBRE PÉ DIABÉTICO. Grupo de trabalho

internacional sobre pé Diabético - publicado sob a direção de Hermelinda

Cordeiro Pedrosa; tradução de Ana Claudia de Andrade, Hermelinda Cordeiro

Pedrosa Brasília: Secretaria de Estado de Saúde do Distrito Federal, 2001.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Cadernos de Atenção Básica – Hipertensão Arterial

Sistêmica e Diabetes Mellitus – Protocolo de Diabetes Mellitus – Brasília –

2001. Disponível em:

http://www.pbh.gov.br/smsa/biblioteca/protocolos/diabetes.pdf.

ORGANIZAÇÃO MUNDIA DA SAÚDE. Relatório da OMS. Disponível em:

http://www.endocrino.org.br/relatorio-da-oms-doencas-cronicas/

17

MACIOCIA, G. Os Fundamentos da Medicina Chinesa. São Paulo, Roca,

1996.

THE MERCK MANUAL. 17ª edição, 1999.

ZHUFAN, X. ; JIAZHEN, L. Medicina Interna Tradicional Chinesa. São Paulo,

Roca, 1997.

18

ANEXOS

Imagem 1: 1ª sessão

Imagem 2: 4ª sessão

19

Imagem 4: 18ª sessão

Imagem 3: 8ª sessão