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FACULDADE CEARENSE CURSO DE DIREITO RAIMUNDO CARLOS NOBRE O CUMPRIMENTO DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS PELO ADOLESCENTE INFRATOR EM FORTALEZA FORTALEZA / CEARÁ DEZEMBRO - 2013

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FACULDADE CEARENSE

CURSO DE DIREITO

RAIMUNDO CARLOS NOBRE

O CUMPRIMENTO DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS PELO ADOLESCENTE

INFRATOR EM FORTALEZA

FORTALEZA / CEARÁ

DEZEMBRO - 2013

RAIMUNDO CARLOS NOBRE

O CUMPRIMENTO DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS PELO ADOLESCENTE INFRATOR

EM FORTALEZA

Monografia submetida à aprovação da coordenação

do Curso de Direito do Centro de Ensino Superior do

Ceará – Faculdade Cearense, como requisito parcial

para a obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientação: Prof. Marco Antônio Castro Costa

FORTALEZA / CEARÁ

DEZEMBRO - 2013

RAIMUNDO CARLOS NOBRE

O CUMPRIMENTO DE MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS PELO ADOLESCENTE

INFRATOR EM FORTALEZA

Monografia apresentada como pré-requisito para a

obtenção do título de Bacharelado em Direito,

outorgado pela Faculdade Cearense – FAC, tendo

sido aprovada pela banca examinadora, composta

pelos Professores:

BANCA EXAMINADORA

Prof. (Orientador)

Prof. (Examinador)

Prof. (Examinador)

Data de aprovação: _____/_____/______

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por ter-me permitido

obter o êxito pela conclusão deste desejado curso.

A toda a minha família, colegas, professores e

coordenador do curso, que dedicaram total apoio e

forças para o sucesso dessa longa caminhada.

Por fim, a bancada composta pelos mestres e

professores Marco Antonio (orientador), Roberto Silvio

e Giovanni (examinadores), os quais com toda

competência contribuíram para o acontecimento

desse sonho.

“Os jovens tem que sair e se fazer valer; sair e

lutar por seus valores”.

Papa Francisco

RESUMO

O interesse pelo estudo do tema “o cumprimento de medidas socioeducativas pelo adolescente infrator em Fortaleza” está relacionado a uma percepção do senso comum sobre os conflitos cotidianos divulgados na mídia local envolvendo adolescentes nas mais diferentes práticas de delito. Para efeito metodológico, realizamos um estudo fundamentado em referências bibliográficas e documentais com o objetivo de apresentar um quadro de informações para a compreensão das causas e consequências envolvidas no cumprimento de medidas socioeducativas por adolescentes infratores em Fortaleza. Objetivamos ainda discutir os conceitos de adolescência, vulnerabilidade e violência; compreender o percurso histórico entre a criação do Código de Menores até a formulação do Estatuto da Criança e do Adolescente e, por fim, discutir as bases do sistema de garantia de direitos e o cumprimento das medidas socioeducativas em Fortaleza. Este estudo compreende três capítulos sequenciais e complementares. O primeiro apresenta o conceito de adolescência; a condição de vulnerabilidade e, por último, a violência e seu contraponto: a violação dos direitos. No segundo discutimos o percurso entre o Código de Menores e o Estatuto da Criança e do Adolescente. Subdividimos a temática na interpretação do conceito de menor infrator, para em seguida abordarmos o adolescente em conflito com a lei. O terceiro discute o sistema de garantia de direitos e o cumprimento de medidas socioeducativas, culminando com o mapeamento das unidades de atendimento em Fortaleza. Portanto, fundamentados em relatório publicado pela Comissão da OAB, resultante de inspeção efetivada no Centro Educacional São Miguel apresentamos, linhas gerais das condições em que se assentam a privação de liberdade dos adolescentes em Fortaleza. Concluímos, pela urgente necessidade de repensarmos todo o sistema sob pena de estarmos negligenciando sobre uma realidade onde o conflito e a falta de respostas consequentes agravam cotidianamente as possibilidades de reversão do quadro de violência instaurado nos quatro cantos da cidade.

PALAVRAS-CHAVE: Adolescência; Ato Infracional; Medida Socioeducativa.

ABSTRACT

The interest in studying the theme "the fulfillment of educational measures made by the adolescent offender in Fortaleza" is related to a perception of common sense about everyday conflicts reported in the local media and involving adolescents in many different practices of crime. For methodological effect, we made the choice to perform a study based on documentary and bibliographic references for the purpose of presenting a frame of reference for understanding the causes and consequences involved in the fulfillment of educational measures for juvenile offenders in Fortaleza. We aimed to further discuss the concepts from adolescence, vulnerability and violence; understand the historical background of the creation of the Code of Minors to the formulation of the Statute of Children and Adolescents, and finally, discuss the basis of the rights guarantee system of rights and the fulfillment of educational measures in Fortaleza. This study is conducted in three sequential and additional chapters. The first articulated the concept of adolescence, the condition of vulnerability and, finally, violence and its counterpoint: the violation of rights. The second discussed the route between the Code of Children and the Child and Adolescent. We subdivided the theme on the interpretation of the juvenile offender concept, to then approach the adolescents in conflict with the law. The third discusses the system of protection of rights and fulfillment of educational measures, culminating with the mapping of the in Fortaleza. Finally, we make use of a report issued by the Brazil’s Bar Association that resulted from an inspection carried out in Centro Educational São Miguel, to present outline of the conditions in which stands the detention of adolescents in Fortaleza. We conclude, after all, by showing the urgent need to rethink the whole system, otherwise we may be neglecting about a reality in which conflict and lack of subsequent responses daily aggravate the chances of reverting the violence that has spread in the city.

KEYWORDS: Adolescence; infraction Act; Socio-Educational Measures.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................... 8

1. ADOLESCÊNCIA, VULNERABILIDADE E VIOLÊNCIA …................. 10

1.1 Sobre o Conceito de Adolescência ….................................................. 10

1.2 A Condição de Vulnerabilidade …....................................................... 13

1.3 Violência e Violação de Direitos …...................................................... 15

2. O PERCURSO ENTRE O CÓDIGO DE MENORES E O ESTATUTO

DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE …..................................................

21

2.1 Interpretando o Conceito de “menor infrator” ….................................. 21

2.2 Transição entre o Código e o Estatuto …............................................ 23

2.3 Adolescentes em Conflito com a Lei …............................................... 25

3. O SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS E O CUMPRIMENTO DE

MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS EM FORTALEZA-CE ….......................

29

3.1 O Sistema de Garantia de Direitos …................................................. 29

3.2 A instituição do Direito do Adolescente …........................................... 32

3.3 Mapeando o Atendimento ao Adolescente em Conflito com a Lei:

Base Legal e Proposta Pedagógica …......................................................

35

3.3.1 Centro Educacional São Miguel: Prisão como Represália …........... 39

CONSIDERAÇÕES FINAIS ….................................................................. 44

REFERÊNCIAS …..................................................................................... 46

8

INTRODUÇÃO

O interesse pelo estudo do tema “o cumprimento de medidas

socioeducativas pelo adolescente infrator em Fortaleza” está relacionado a uma

percepção do senso comum sobre os conflitos cotidianos divulgados na mídia

local envolvendo adolescentes nas mais diferentes práticas de delito.

Diante de tal realidade percebemos certa revolta na fala dos repórteres

e nos diálogos eventuais com profissionais envolvidos com a questão observamos

de modo preocupante um estado de “impotência” quando indagados sobre as

possíveis soluções para o enfrentamento de tal realidade.

Assim, decidimos pela abordagem dessa temática e, para efeito

metodológico, conduzimos um estudo fundamentado em referências bibliográficas

e documentais.

Definimos como objetivo geral, apresentar um quadro de referências

para a compreensão das causas e consequências envolvidas no cumprimento de

medidas socioeducativas por adolescentes infratores em Fortaleza.

Mais especificamente, objetivamos discutir os conceitos de

adolescência, vulnerabilidade e violência; compreender o percurso histórico entre

a criação do Código de Menores até a formulação do Estatuto da Criança e do

Adolescente e, por fim, discutir as bases do sistema de garantia de direitos e o

cumprimento das medidas socioeducativas em Fortaleza.

Para alcançar os objetivos pretendidos, estruturamos este estudo em

três capítulos sequenciais e complementares.

O primeiro capítulo discute amplamente três temas importantes e

essenciais ao desenvolvimento deste trabalho, quais sejam: o conceito de

adolescência; a condição de vulnerabilidade e, por último, a violência e seu

contraponto: a violação dos direitos.

No segundo capítulo abordamos o tema que discute o percurso entre o

Código de Menores e o Estatuto da Criança e do Adolescente. Aqui subdividimos

9

a temática na interpretação do conceito de menor infrator, para em seguida

abordarmos o adolescente em conflito com a lei.

O terceiro capítulo discute o sistema de garantia de direitos e o

cumprimento de medidas socioeducativas, culminando com o mapeamento das

unidades de atendimento disponíveis em Fortaleza e, por último, nos valemos de

um relatório publicado pela Comissão da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),

na linha dos direitos humanos, resultante de um trabalho de inspeção efetivado no

Centro Educacional São Miguel, para apresentarmos linhas gerais das condições

em que se assentam a privação de liberdade dos adolescentes em Fortaleza.

Concluímos, pela urgente necessidade de repensarmos todo o sistema,

sob pena de estarmos negligenciando sobre uma realidade na qual o conflito e a

falta de respostas consequentes agravam cotidianamente as possibilidades de

reversão do quadro de violência instaurado nos quatro cantos da cidade.

10

1. ADOLESCÊNCIA, VULNERABILIDADE E VIOLÊNCIA

Neste estudo, a categoria “adolescente em situação de vulnerabilidade”

é destaque. Entretanto, chegar a essa condição pressupõe um conjunto de fatores

e influências antecedentes, no qual as relações familiares, sociais e econômicas

vividas desde a infância perpassam e determinam o quadro da realidade que

contextualiza aspectos da vulnerabilidade e violência que adolescentes vivenciam.

Com essa compreensão passamos a construir um capítulo no qual os

conceitos centrais delimitados para o campo de análise deste estudo se

entrelaçam em formulações teóricas clássicas e contemporâneas. Para compor

um quadro da realidade presente voltamos no tempo, reunimos pedaços, fatos e

consequências que perpassam a vida das famílias até chegarmos ao modelo

contemporâneo de vulnerabilidade e violência delineados no cenário da vida de

adolescentes brasileiros, principalmente, entre habitantes das grandes

metrópoles.

1.1 Sobre o conceito de adolescente

Estudos de Ariés (1977) sobre a família na realidade francesa do século

XVI identificam a proximidade que havia entre crianças e adultos. O autor

descreve a rua como espaço de convívio de todas as idades e condições sociais.

Palco natural dos pequenos e grandes acontecimentos a rua era considerada o

espaço no qual as crianças faziam a aprendizagem da vida, dos ofícios e do

saber, em contato direto com o mundo dos adultos. Mesmo nas tavernas “mal

afamadas” as crianças se misturavam a pessoas adultas.

Por esse tempo, na área da psicologia, começam as divergências sobre

questões educativas e comportamentais direcionadas às crianças e adolescentes

sob diferentes olhares e orientações.

11

No século XVIII as pessoas começaram a buscar defesas contra

determinados aspectos da vida em sociedade, cujo convívio natural, até então,

havia sido a fonte de educação da reputação e da fortuna (Ariés, 1977, p. 274).

No transcurso das relações feudais para os primeiros ensaios da

produção capitalista, manifestou-se no meio burguês o modelo da família centrado

criança, no lar e no patrimônio. Nesse cenário, o padrão relacional se definia pela

autoridade restrita aos pais e no profundo amor parental destes, aos seus filhos.

Enquanto isso, a população mais pobre e numerosa continuava vivendo sob o

mesmo modelo de sociabilidade de convívio pelas ruas e o estilo burguês

começava a rejeitar e submeter essas práticas naturais à sua dominação

(Osterne, 1991, p. 21).

É nesse cenário que surge a “escola” como espaço institucional

responsável por acolher crianças e adolescentes em regime disciplinar cada vez

mais austero, até que surgiram os internatos e, no século XIX, adquiriram formas

de regime de privação de liberdade infanto-juvenil.

Na área da psicologia alguns estudos sugerem que qualquer vivência

castradora, violenta ou mesmo de indiferença na infância ou na juventude,

acompanha o indivíduo pelo resto da vida. Tais experiências operam sob o

desenvolvimento humano interferindo no domínio emocional e social das pessoas.

Do mesmo modo, crianças negligenciadas ou abusadas sexualmente ficam

vulneráveis a um futuro severamente prejudicado.

No campo da sociologia Durkheim (1858 – 1917) desenvolveu uma

proposta para a reforma da educação. Considerava que a família era responsável

pela liberação emocional e afetos compartilhados, enquanto a escola constituía

um grupo autêntico para treinar a criança para a vida coletiva, diferente da vida do

lar. Seus postulados defendiam que a sociedade deveria ocupar o lugar da família

no que se refere à educação das crianças. Para tanto, estas deveriam ter acesso

à escola o mais cedo possível, porque o lar não cumpria a função educativa, ao

contrário, produzia desajustados e delinquentes juvenis.

12

Sob o ponto de vista político, as relações sociais são emancipadas dos

antigos conteúdos naturais e divinos. No aspecto socioeconômico os valores

mercantilistas e utilitários são privilegiados e a nova sociedade transforma tudo

em mercadoria, inclusive homens e seus mais íntimos valores (Osterne, 1991).

Nas primeiras décadas do século XX, em meio às transformações

mundiais, a dicotomia entre riqueza e pobreza adquire novos destaques. Por esse

tempo, as condições socioeconômicas da população trabalhadora apresenta

novos desafios à convivência familiar e, mesmo entre as classes mais favorecidas,

as mulheres começam a buscar trabalho fora dos limites do lar para ajudar no

orçamento da família.

Gradativamente começam a se delinear os primeiros traços para os

caminhos que vão retratar aspectos da vida de crianças e adolescentes

empobrecidos e em situação de vulnerabilidade na sociedade contemporânea.

Um novo modo de vida vai sendo delineado sob contornos mais

perversos em forma de violência, no qual o abandono, dentre outros fenômenos,

vão se manifestar na sociedade brasileira.

A partir de tais considerações, contextualizamos o conceito de

“adolescente”, compreendido na dinâmica familiar, inserida no cenário econômico,

político, cultural e social que perpassam as condições de vida na sociedade

brasileira.

A palavra adolescência vem do latim, “adolescere” que significa crescer

com dores nessa fase do desenvolvimento (Ferreira, 1986).

A literatura que trata do conceito de “adolescência” articula múltiplos

fatores que vão desde o desenvolvimento biológico, intelectual e social. Na

evolução física, psicossocial e emocional da adolescência, uma série de sintomas,

características e comportamentos se manifestam nessa etapa da vida.

A Organização Mundial da Saúde (OMS/OPAS, 1990) sugere que tais

comportamentos dependem de características individuais e ambientais,

identificando dentre elas, a busca de si mesmo e de identidade, tendência grupal

13

ou de isolamento; necessidade de intelectualizar ou de fantasiar, manifestações e

preferências sexuais (Tiba, 1997).

Dado importante para a compreensão do comportamento do

adolescente é perceber que as características pessoais de seus genitores se

projetam no comportamento dos filhos. É na dinâmica familiar que se forma uma

cadeia de valores e vínculos afetivos. É também na família que as condições

econômicas são objetivadas (ou não) para a formação sociocultural de seus

integrantes.

O percurso da infância para a adolescência e desta para a vida adulta

não acontece sob a redoma da proteção. A vida, em todas as suas etapas, é

permeada por conflitos de maiores ou menores proporções. Assim, a noção de

crise existencial, idade difícil, etapa conturbada ou período de turbulências podem

se manifestar com maior ou menor intensidade em conflitos com a ordem social,

seja familiar ou em diferentes espaços coletivos mais amplos. Aprofundar a

compreensão sobre a condição de vulnerabilidade vivenciada por adolescentes é

o interesse que norteia a continuidade deste estudo no item que se segue.

1.2 A condição de vulnerabilidade

O conceito de vulnerabilidade perpassa o discurso das políticas sociais

e adquire diferentes conotações.

No campo da saúde, o conceito de vulnerabilidade é relacionado aos

riscos ligados ao surgimento da AIDS, associado às diferentes susceptibilidades

que o indivíduo adquire ao ser contaminado pelo vírus, em razão de certas

características individuais, econômicas e sociais de seu cotidiano, julgadas

relevantes para maior exposição ou menor chance de proteção, diante do

problema (Ariés, 1996).

Sob o ponto de vista social, a vulnerabilidade pode ser compreendida a

partir de aspectos que envolvam o acesso à informação, a bens e serviços

14

disponíveis, e seu contraponto, a exclusão, promove os mais diferentes riscos à

própria preservação da vida.

Alguns esforços para identificar características de situações de

vulnerabilidade entre adolescentes vêm sendo desenvolvidos. De posse dos

resultados divulgados pelo Instituto para a Saúde e Justiça de Boston, os quais

relacionam novos fatores de risco (pobreza, violência estrutural, baixa

escolaridade, iniquidade de gêneros, etc.), alguns sugerem que a vulnerabilidade

presente na vida dos adolescentes na contemporaneidade já não se limita aos

tradicionais comportamentos de risco.

Diante do cenário de violência urbana que permeia o cotidiano da vida

nas grandes cidades brasileiras, a vulnerabilidade a que se sujeitam os

adolescentes se apresenta sob as mais diferentes facetas e se revela intimamente

relacionada a questões subjetivas, individuais e coletivas, como também e na

mesma proporção, as condições objetivas e aspectos estruturais, nas quais estão

incluídos, para além das condições familiares, a governabilidade sobre as políticas

públicas, voltadas à inclusão desse público nos mais diferentes cenários da vida

coletiva.

Sem desconsiderar os avanços na busca de referencial para a

compreensão e intervenção governamental nas situações de vulnerabilidade entre

adolescentes, ainda observamos limitações justamente pela pluralidade de fatores

que o tema comporta. Acreditamos, que a condição de vulnerabilidade não pode

ser compreendida, senão apreendida como determinação da realidade na qual o

adolescente se encontra como resultante do conflito dialético entre a dimensão

individual, familiar, governamental, jurídica e coletiva como partes integrantes de

um mesmo e plural fenômeno, onde a influência de um elemento pode ser

determinante, tanto para situá-lo no viés da vulnerabilidade, quanto para protegê-

lo dessa condição.

A partir de tais considerações, este estudo avança para considerar os

aspectos da evolução dos fundamentos jurídicos em que se assentam os direitos

e obrigações da família, do Estado e do próprio adolescente, nos contornos da

15

proteção e da punição, sobre as mais diferentes condições objetivas em que se

assentam as situações de vulnerabilidade na vida dos adolescentes no Brasil.

1.3 Violência e violação de direitos

Nos últimos anos e, tomando como referência o Estatuto da Criança e

do Adolescente (ECA) - Lei Federal nº 8.069, de 13 de julho de 1990, a sociedade

brasileira vem assistindo a um duplo cenário de contradições no que se refere à

violência ora praticada pela família, Estado e sociedade contra adolescentes, ora

o seu avesso, no qual adolescentes violentam suas famílias, o Estado e a

sociedade como um todo, nas mais diferentes formas de expressão.

Assim compreendendo, pretendemos com este artigo traçar as linhas

gerais em que se assenta a realidade da violência em seus contornos que

perpassam a vida dos adolescentes e suas repercussões legais.

A violência que perpassa a vida de adolescentes no Brasil apresenta-se

diluída no contexto das violências estruturais da sociedade e precisa ser

compreendida dentro de uma perspectiva global.

Uma primeira dificuldade para a compreensão do conceito de violência

está na forma diversa como ela se manifesta e de como a percebemos ou a

toleramos. O fenômeno é difuso, manifesta-se em diversos níveis e os padrões

econômicos e culturais de cada sociedade e de cada indivíduo interferem na

construção de um juízo comum sobre o tema. A OMS entende violência como uso

intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio,

contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade que resulte ou

possa resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento

ou privação (OMS, 2002).

A definição de violência elaborada por Marilena Chauí (1999), sem

contradizer os postulados da OMS (2002), avança para outras dimensões,

permitindo uma apreensão mais abrangente do fenômeno, nos seguintes termos:

16

A violência tem uma expressão multifacetada: seria tudo que se vale da força para ir contra a natureza de um agente social; todo ato de força contra a espontaneidade, a vontade e a liberdade de alguém; todo ato de transgressão contra o que uma sociedade define como justo e como um direito. Consequentemente, violência é um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico e/ou psíquico contra alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão e intimidação, pelo medo e o terror (Chauí, 1999, p. 25).

Para Chauí (1999) a violência se manifesta em duplo caráter simbólico

e prático, os quais funcionam como elementos-chave para sua reprodução nos

diversos campos sociais. Compreender essas formas de manifestação e

reprodução da violência é essencial para que possamos pensar no seu

enfrentamento.

A violência está disseminada e presente em nosso cotidiano em

diversos espaços sociais, sendo praticada não somente por sujeitos enquadrados

no estereótipo clássico de “desequilibrados mentais”, sem consciência de seus

atos e de suas consequências.

Sobre tal realidade, trazendo a violência para o campo das relações

sociais a violência pode ser percebida como uma disfunção sendo importante,

para tanto, descartar a perspectiva da violência como doença da sociedade e a

concebe como instrumental e mediática, detentora de racionalidade, sendo eficaz

para alcançar o fim que a justifica. Assim, a violência perde seu caráter mágico ou

demoníaco que em comum alguns lhe atribuem.

Pierre Bourdieu (2002) estudou a gênese do processo social de

incorporação e reprodução das práticas de violência. Sua percepção sugere que

os dominados aplicam sobre aquilo que os domina, um esquema de dominação.

Assim, os processos de materialização e consciência da violência, entre outras

práticas, são frutos das relações sociais e políticas de várias ordens que geram

disposições diversas e que buscam legitimidade.

No processo de (re) produção, configura-se uma identidade de sentido

entre o agredido e o agressor, como base para sua manifestação cotidiana.

17

Agredido e agressor tendem a perceber as relações sociais a partir de

referências comuns, o que gera a naturalização de práticas violentas e sua

repetição, no futuro, pela própria vítima de ocasião.

Assim, como a prática da violência é histórica e relacional, as

percepções que permitem sua apreensão e sua definição também o são, uma vez

que os vínculos sociais são marcados por relações de disputa entre pessoas que

disputam um mesmo espaço (Bourdieu, 2002).

Para a compreensão da violência, Foucault (1988) apresenta outras

direções. Entende o poder como uma prática social historicamente constituída e

identifica diferentes maneiras para sua utilização eficaz. Assim, a sociedade

sustenta uma profusão de micro poderes, aparelhos diversos de disputa, sendo

oportuno ganhar ou perder, porque o poder flui nas relações.

Sob essa perspectiva, as manifestações de violência mais visíveis

como a fome, tortura, assassinato, roubo, preconceito, exploração no trabalho,

violação sexual, dentre outras, são reflexos de um conjunto de estruturas e

práticas sustentadas nas formas de poder existentes. Logo, romper com a lógica

do poder é fundamental para superar um conjunto de condições e o exercício da

violência.

Além das possibilidades psicológicas, sociológicas, filosóficas e

antropológicas que delineiam o conceito da violência, outras importantes

condições para sua reprodução entre adolescentes no Brasil são construídas no

cotidiano. No plano do imaginário assume grande relevância a publicidade dos

fatos pelo mercado da propaganda nacional que socializa, invoca e determina o

desejo de consumir produtos específicos, gerando principalmente entre

adolescentes, oriundos de famílias empobrecidas, consequências perversas.

O consumismo assume papel determinante na conformação da

percepção da realidade nacional, instituída em uma batalha dinâmica e cotidiana

entre forças econômicas e sociais.

O Mapa da Violência publicado anualmente aponta no ano de 2010,

que em 10 anos (1997 a 2001) o Brasil registou 512,5 mil assassinatos.

18

Demonstra também que, desde 1980 a violência vem crescendo entre os jovens.

Se, a cada 100 mil jovens (entre 15 e 24 anos) 30 deles morriam por homicídio em

1980, o número saltou para 50,1 em 2007.

Na edição de 2013, o autor da pesquisa, considera que:

Não parece haver muitos motivos para festejar; pelo contrário. A situação que já era inaceitável quando elaboramos o primeiro mapa, agravou-se ainda mais. Foi precisamente a grande preocupação com os índices alarmantes de mortalidade de nossa juventude que nos levou a traçar o primeiro desses mapas e continuar depois com os outros estudos e projetos. Hoje, com grande pesar, vemos que os motivos ainda existem e subsistem, apesar de reconhecer os avanços realizados em diversas áreas. Contudo, são avanços ainda insuficientes diante da magnitude do problema (WAISELFISZ, 2013, p. 5).

Diante da proporção epidêmica que se observa, é de se concluir que a

violência juvenil no país já não se restringe somente aos aspectos econômicos ou

familiares clássicos. Ela está sendo reforçada, também, pelo crime organizado,

que utiliza jovens para atuarem como soldados do narcotráfico, aproveitando-se

das fragilidades que a legislação proporciona. Por isso, na grande maioria dos

casos, sempre há um menor envolvido nas ações dos bandidos, no sentido de

assumir a culpa, na tentativa de livrar os cúmplices.

Sem sombra de dúvida, o caos da violência urbana brasileira tornou-se

insuportável a toda a sociedade, entretanto, a juventude é a maior vítima da

violência. Ao contrário ao senso comum a juventude não mata mais, e sim morre

mais, especialmente, a juventude pobre, negra e que mora nas periferias das

grandes cidades. Isso configura o Brasil como o segundo país do mundo em

número de mortes violentas de jovens. Esta é a tragédia brasileira: um país que

está matando sua juventude, sua energia e, com ela, muitas possibilidades e

sonhos de mudar a sociedade (Oliveira, 2013).

Pesquisas apontam para concluir que o que parece caracterizar a

criminalidade entre os jovens hoje é a cooptação destes para o crime organizado,

principalmente para o tráfico de drogas, é o que revela o estudo levantado pela

Fundação Casa (antiga FEBEM de São Paulo):

19

Se olharmos, por exemplo, os motivos pelos quais os adolescentes foram internados na Fundação Casa (antiga FEBEM de São Paulo) em 2010, descobriremos que a grande maioria (80%) foi internada por roubo (43%) e tráfico de drogas (37%). Apenas 1% do total de adolescentes internados em 2010 estava lá por homicídio. Considerando o homicídio como o indicador de violência juvenil mais ressaltado pelos defensores da redução da maioridade penal, temos que sua proposta pode resolver aproximadamente 1% da criminalidade juvenil.

Ampliando a análise dos dados para um período maior, temos que, em pesquisa feita pela própria Fundação Casa em parceria com o Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP), o roubo somou os mesmos 43%, o tráfico de drogas representou somente 9%, e o homicídio totalizou 2,3% dos motivos que levavam à internação dos adolescentes entre os anos de 1990 e 2006. Essa série histórica, se comparada ao ano de 2010, indica que as internações por roubo permaneceram constantes; as motivadas pelo envolvimento com tráfico de drogas cresceram acentuadamente e, enfim, as motivadas por homicídio diminuíram

1.

Ressalte-se que a centralidade do consumo na vida social gera novas

formas de hierarquização nas relações entre os indivíduos. Nesse cenário, o

reconhecimento da cidadania é relativizado de acordo com a cor da pele, o nível

de escolaridade, a faixa salarial e/ou o espaço de moradia dos que residem nas

cidades.

Quando se trata de violência, o juízo de valor flui de modo particular, no

menor ou maior grau de tolerância de conformidade como praticante e o alvo da

agressão e não com o ato violento em si. Esse é o comportamento da mídia, dos

órgãos de segurança no trato do discurso e da própria ação que assume tons

diferenciados, quando um morador da periferia ou outro das camadas média ou

alta sofre ou comete uma violência.

A criminalização da pobreza vem sendo explorada como expressão

atual do velho preconceito quando a mídia, o poder do Estado ou mesmo a

sociedade em geral identifica grupos sociais empobrecidos como “classe

perigosa”.

1 DE PAULA, Liana. A redução da maioridade penal é uma ilusão no enfrentamento da violência juvenil. Disponível em http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/conteudo.phtml?id=1381097&tit=A-reducao-da-maioridade-penal-e-uma-ilusao-no-enfrentamento-da-violencia-juvenil. Acesso 21/10/2013.

20

Da mesma forma, o assassinato de adolescentes pobres e a

exploração sexual de meninas e meninos nessa faixa etária e na condição de

pobreza, são aceitos e até mesmo defendidos por grandes parcelas da sociedade.

A maior parte da sociedade defende, também, a exploração do trabalho doméstico

por adolescentes.

Tais posturas são assumidas pelas mesmas pessoas e setores sociais

que defendem o endurecimento das medidas legais contra os adolescentes

infratores e a permanência de um sistema judiciário para a aplicação de penas

baseadas na punição, em vez de um sistema de ressocialização dos infratores da

lei, fundado conforme o sistema de garantia de direitos.

21

2. O SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS E A PERSPECTIVA DA

RESPONSABILIDADE PENAL ENTRE ADOLESCENTES EM CONFLITO COM

A LEI

A compreensão sobre os opostos e interfaces que perpassam o tema

em debate neste estudo requer uma abordagem sobre as contradições

circunscritas em dupla face e que transita entre a realidade do adolescente infrator

e a perspectiva do sistema de garantia dos direitos para esse mesmo adolescente.

Diante das dificuldades anunciadas pelos indicadores sociais que

evidenciam agravamento dessa questão, discutir o tema se mostra relevante e,

para compor um quadro de referências sobre a problemática, este capítulo propõe

uma discussão sobre os marcos conceituais “menor infrator” e “adolescente em

conflito com a lei” para finalmente aprofundar os pressupostos do sistema de

garantia de direitos.

2.1 Interpretando o conceito de menor infrator

Para balizar a articulação dos opostos que transitam a compreensão da

problemática vivenciada contemporaneamente pela condição do adolescente

infrator, resgatamos alguns fatos históricos sobre a infância e juventude no Brasil.

A situação de abandono social da infância e suas consequências têm

início no Brasil Colônia, com a chegada de crianças nas embarcações

portuguesas. Sequencialmente índios e africanos foram escravizados, imigrantes

foram explorados e, mesmo após a abolição da escravatura, e com o advento da

República até os dias atuais, a exclusão dos descendentes destes povos

permanece como questão de fundo para a infância e adolescência no Brasil.

Um exemplo histórico é a roda dos expostos, instituída no Brasil do

século XVIII, quando as ordens religiosas acolhiam os rejeitados para amenizar a

situação de abandono e preservar a vida dos recém-nascidos excluídos e

desfiliados da ordem social e preservar o anonimato de seus pais (Souza, 2000).

22

Atingidas pelo abandono, tanto dos bens materiais quanto dos laços

afetivos, aqueles que não acolhiam as normas e preceitos da igreja tinham como

destino as ruas, onde aprendiam a sobreviver e a cometer pequenos delitos para

atender às suas necessidades básicas de alimentação e vestimentas.

Assim, as crianças cresciam sem a proteção de uma família, sem a

intervenção estatal e vivenciando a rejeição da sociedade. Essa situação se

arrasta sem grandes alterações durante todo o século XVIII e meados do século

XIX.

Com a industrialização e urbanização no Brasil do século XIX e início

do século XX, o êxodo rural interfere no crescimento das populações urbanas

provocando considerável aumento das camadas populares empobrecidas nos

grandes centros urbanos.

Nesse cenário, Santos (2007) observa “o grande número de menores

criminosos que constantemente ameaçavam a ordem pública e a tranquilidade da

família” como fator determinante para o crescimento da vadiagem que era

considerada como crime nas grandes cidades.

Contrapondo-se a essa realidade a legislação vigente – o Código Penal

de 1890 – estabelecia a idade do menor e lhe atribuía às penalidades nos

seguintes termos:

Não considerava criminosos os menores de nove anos que obrassem sem discernimento. Punia aqueles que tendo entre nove e quatorze anos tivessem agido conscientemente; deviam ser recolhidos a estabelecimentos disciplinares industriais pelo tempo que ao juiz parecer, não devendo lá permanecer depois dos 17 anos (Santos, 2007, p. 216)

No governo Vargas, na década de 1930, ocorreram mudanças

importantes na situação dos “menores infratores” pela organização de políticas

públicas e sociais. Antes tratadas como questão de polícia e pelo prisma da

repressão policial, a questão dos menores passa a ser compreendida em seus

determinantes sociais.

Por esse tempo foi criado o Departamento Nacional da Criança, como

também o Serviço de Assistência ao Menor (SAM). Mesmo considerados como

23

avanços para o período, no que tange aos resultados, estes serviços se

mostraram inadequados e insuficientes porque as medidas supostamente

adotadas com caráter social, na verdade eram repressoras e fundadas na cultura

prisional na concepção e intervenção aos adolescentes em conflito com a lei.

O Código do Menor, criado em 1927, é anunciado como legislação

protetiva. Entretanto, o “menor” é culturalmente estigmatizado como perigo

iminente, o que é refletido pelo Código, ampliando a dicotomia ética entre “menor”

e “adolescente”.

O Código de Menores, construído sobre um módulo punitivo e de

controle social, enraizou profundamente no imaginário coletivo da sociedade

brasileira a categoria sociológica reduzida à condição de criminoso, o “menor

infrator”, dando sentido a um marco conceitual que generaliza uma visão

reducionista sobre os adolescentes envolvidos com a prática de atos infracionais.

Compreendido unilateralmente sobre o foco de “menor infrator”, o envolvimento

com o delito sobrepõe-se à condição de pessoa, como ser humano em condição

peculiar de desenvolvimento.

2.2 Transição entre o Código e o Estatuto

O Código de Menores vigorou no Brasil de 1890 até 1990, quando foi

promulgado o Estatuto da Criança e do Adolescente que o revogou. A nova

legislação é fundamentada pela Constituição Federal de 1988, situando a criança

e o adolescente como pessoa em condição peculiar de desenvolvimento e como

sujeito de direitos, sendo dever da família, do Estado e da sociedade assegurá-

los.

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária (Art. 4º, ECA).

24

Ao considerar a criança e o adolescente como “pessoas em

desenvolvimento”, o art. 6º do ECA articula garantias de proteção com o seu art.

7º, ao definir o direito à proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de

políticas sociais públicas, que permitam o nascimento e desenvolvimento sadios e

harmoniosos em condições dignas de existência.

Especificamente para o adolescente que comete atos infracionais, por

ser considerado como pessoa em desenvolvimento não fica imune às

responsabilidades e, para o enfrentamento dessa questão, o ECA estabelece o

cumprimento de medidas socioeducativas, mudando a lógica do aprisionamento

punitivo para ações socioeducativas essencialmente pedagógica, quer para

medidas de privação de liberdade, quer para aquelas que devem ser cumpridas

em meio aberto.

A esse respeito observamos a evolução do Estatuto da Criança e do

Adolescente comparativamente ao antigo Código de Menores, em seus

dispositivos sobre a gestão, o método e o conteúdo relativos ao tratamento a ser

dispensado à infância e aos adolescentes brasileiros, que a partir de então deve

se dar de modo a promover a democratização da coisa pública, a parceria entre o

Estado e a sociedade e a municipalização dos serviços públicos de atenção a

esses segmentos populacionais.

Souza (2000) observa, no entanto, que a ênfase da ação estatal se dá

sobre as crianças e adolescentes dos segmentos empobrecidos, com ênfase para

suas carências e não em suas potencialidades. Há uma dualidade na percepção,

porque a infância é vista como privilegiada e vulnerável. A desconstrução do

termo “menor” e seu significado é lenta, gradual e, para muitos, ainda

imperceptível. Ainda se mantém vivo no senso comum e reforçado em grande

parte pela mídia, o julgamento dos adolescentes como vagabundos, delinquentes

e de certo modo irrecuperáveis, portanto, devem ser punidos, preferencialmente

com a longa privação de liberdade, desconsiderando, desse modo, a sua

condição, inclusive legal, de adolescente que está em processo de formação.

25

Mesmo com os avanços conceituais contidos no Estatuto da Criança e

do Adolescente, aqueles em conflito com a lei não encontram eco para a defesa

de seus direitos, pois, pela condição de terem praticado ato infracional, são

desqualificados em sua condição de “adolescente”, tal como propõe o ECA (Volpi,

2001).

Percebendo a adolescência como uma construção social, embora o

termo reflita uma fase do desenvolvimento humano, quando o termo é associado a

determinado conflito social, os preconceitos adquirem relevância em detrimento do

olhar para a condição de vulnerabilidade porque, envolvidos em delito,

potencializam a revolta da sociedade e minimizam a capacidade de percepção de

suas próprias necessidades de proteção.

2.3 Adolescentes em conflito com a Lei

Para compreender a dupla dimensão que se assenta nas contradições

da vida dos adolescentes que se colocam enquanto agressores e vitimizados no

campo das lutas sociais vivenciadas no cotidiano das grandes metrópoles

brasileiras, precisamos destacar duas dimensões: a objetiva e a subjetiva. A

primeira nos permite destacar a situação concreta, a realidade em que esses

adolescentes vivem e a segunda nos convida a pensar sobre as condições

objetivas para a formação e desenvolvimento do adolescente em sua

individualidade e no contexto das peculiaridades do seu modelo familiar.

Quando um adolescente comete um ato infracional, a sua condição

peculiar, de pessoa em desenvolvimento, é devidamente situada pelo ECA para o

enfrentamento das medidas socioeducativas que, diferente do aprisionamento

punitivo contido no antigo Código de Menores, adquire essência pedagógica, quer

para as medidas de privação de liberdade, quer para aquelas a serem cumpridas

em meio aberto.

A dimensão objetiva ou a subjetividade é determinada e expressa o

modo como às condições sociais estão organizadas como realidade na qual o

26

adolescente se desenvolve, tanto em seus aspectos materiais, quanto nas

condições espirituais, culturais que permeiam o entorno social da sua convivência.

A dimensão objetiva é perceptível à medida em que problematizamos

as condições de vida do adolescente, considerando primeiro seu ambiente e

acolhida familiar e depois, as forças sociais politicamente reconhecidas para a

garantia do acesso à alimentação, saúde, educação, moradia, vestuário, enfim, a

um conjunto de possibilidades de desenvolvimento. Tal dimensão pode se dar e

ser compreendida sob a negação de tais condições e, nesse prisma percebemos

as múltiplas expressões da questão social que vai além das justificativas banais

da “vontade divina” ou “é mau por natureza” como carga de determinações que

não justificam o real.

Considerando a dimensão objetiva da questão, podemos afirmar que o

envolvimento de adolescentes com o ato infracional é fenômeno social decorrente

principalmente das complexas injustiças sociais e econômicas que rebatem na

vida cotidiana de grupos populacionais empobrecidos, que submetem crianças e

adolescentes a vulnerabilidades e riscos sociais de cujos laços não conseguem se

desvencilhar.

Negamos aqui a perspectiva das formulações conformistas fundadas na

visão linear e simplista que concorrem para afirmar que esses adolescentes são

vítimas do sistema e, por isso mesmo, estão destinados ao fracasso, como se não

fosse possível objetivar condições favoráveis à sua formação e ao seu

desenvolvimento.

Mesmo sem um aprofundamento sobre essa questão, importa

considerar as injustiças e desigualdades que perpassam a realidade da vida dos

adolescentes envolvidos em situações de conflito.

Os adolescentes em conflito com a lei, em geral, do ponto de vista

estrutural, são duplamente vitimizados. De um lado, pelas consequências do

sistema capitalista contemporâneo e do modelo em que se assentam as políticas

públicas compensatórias que, via de regra, se dizem universalizantes, mas na

prática são excludentes, fragmentadas e não conseguem romper com o ciclo das

27

desigualdades. Por outro lado, são também vitimizados pelo modelo institucional

concebido para a perspectiva “socioeducativa” que acaba por apelar para práticas

conservadoras de violência institucionalizada.

(...) os meninos aprendem a arte de usar a violência como mediadora de todas as suas relações, aprendem a tornar-se impessoais e insensíveis à dor e às punições, aprendem a camuflar seu próprio eu sob a máscara de uma identidade institucional (...) o tornar-se infrator foi a resposta comportamental do adolescente à violência simbólica com que se defrontou na sociedade (SILVA, 1997, p. 118)

A abordagem de Silva (1997) remete nosso olhar para a compreensão

objetiva que perpassa a situação do adolescente que comete um ato infracional.

Penalizam as pessoas contra as quais praticam delitos, quando a condição de

vitimizados em que se encontram e faz parte do que eles são permanece oculta

sob uma cadeia de relações, determinações e julgamentos de senso comum

fundados no preconceito e destituídos de leitura crítica da realidade.

Sem que seja possível ultrapassar as barreiras que embotam a

compreensão objetiva do problema, nos deparamos com a dimensão subjetiva

inerente à vida do adolescente em conflito com a lei. A subjetividade é parte do

indivíduo que se manifesta ou não, diante das objetividades que circunscrevem o

viver de cada um.

Quando identificamos o imenso contingente de adolescentes envolvidos

com o mundo do crime e o crescimento das estatísticas em todo o Brasil,

chegamos a pensar que diante das ofertas dos mais diferentes programas e

projetos de inclusão social, delinquir pode ser uma opção pessoal, individual e

muito assumida por determinado grupo étnico (negros, pardos e mestiços) de uma

camada social (os pobres, acomodados). Do mesmo modo que sair dessa

situação depende exclusivamente da vontade do adolescente e da determinação

de sua família em apoiar uma decisão de transformação da realidade.

Na verdade, as relações subjetivas e objetivas perpassam todo o trajeto

de vida dos adolescentes envolvidos com a prática de delitos e uma boa parcela

desses infratores não conseguem atravessar sem sofrimento a frágil linha que

28

separa de um lado, a sociabilidade do bem e, do outro, o mundo do crime no qual

adentram, enquanto outros que vivenciam os mesmos riscos ultrapassam a linha

da vulnerabilidade e conseguem superar suas próprias limitações pela via da

inclusão em oportunidades de educação, assistência social, cultura, esporte,

dentre outras possibilidades.

Assim considerando, se analisarmos as condições objetivas que

perpassam o envolvimento do adolescente com o delito, sem atentar para as

condições subjetivas e individuais que determinam escolhas e decisões pessoais,

capturamos por uma visão imediatista e fragmentada pela qual se sobressai uma

vocação natural para o crime e para a violência e, assim pensando, não podemos

colaborar com a sugestão de políticas públicas emancipatórias, capazes de ajudar

esses adolescentes a construírem caminhos diferentes.

Pelo exposto, podemos afirmar que a situação do adolescente em

conflito com a lei o coloca como vítima e agressor, por múltiplos fatores e

condicionalidades e que, romper com o quadro que atualmente vivenciamos exige

mais que contabilizar estatísticas, mas pressupõe disseminar conhecimentos

sobre a dupla dimensão do problema e superar os estigmas que norteiam a

condição de adolescentes infratores.

A forma de compreender, aprender e cuidar da questão, seja pela

família ou pelo Estado, precisa ser repensada sob pena da sociedade permanecer

ameaçada e demandando pela construção de presídios.

29

3. O SISTEMA DE GARANTIA DE DIREITOS E O CUMPRIMENTO DE

MEDIDAS SOCIOEDUATIVAS EM FORTALEZA – CE

O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/1990) estabelece

uma sistemática para a plena efetivação dos direitos infanto-juvenis. Tal

sistemática exige a intervenção de diversas instâncias e autoridades que embora

possuam atribuições específicas, assumem igual responsabilidade na apuração e

integral solução dos problemas vivenciados por esses meninos e meninas quer

seja no plano individual ou coletivo. Assim considerando, dedicamos um capítulo

sobre o tema, por sua relevância contemporânea para enfim, discutir as condições

em que se assentam o cumprimento de medidas socioeducativas em Fortaleza.

3.1 O sistema de garantia de direitos

O “sistema de garantia de direitos” tal como se apresenta

contemporaneamente não mais se assenta sob o viés da “autoridade suprema”,

tendo nivelado o papel de seus integrantes atribuindo-lhes a mesma relevância

para a “proteção integral” de todas as crianças e adolescentes.

Considerando que a Lei nº 8.069/1990 destinou um título específico à

prevenção (Livro I, Título III, arts. 70 a 85), não mais é preciso esperar que uma

criança ou adolescente tenha seus direitos violados para que – somente então – o

“sistema” passe a agir. Não é mais admissível que a ação seja restrita ao plano

individual e muito menos que a institucionalização seja considerada como a única

solução tal como acontecia no passado.

Dentre os integrantes do sistema de garantia de direitos de crianças e

adolescente, podemos citar: Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente

em âmbito Nacional, Estadual e Municipal; Conselho Tutelar; Juiz da Infância e da

Juventude; Promotor da Infância e da Juventude; gestores de políticas públicas da

educação, saúde, assistência social, cultura, esporte, dentre outros; responsáveis

30

pelas entidades não governamentais de atendimento a crianças e adolescentes;

famílias, etc.

A amplitude de instâncias componentes desse sistema não permite, no

entanto, a “transferência de responsabilidade” fazendo com que o usuário do

sistema passe de um órgão para o outro e que cada um realize um trabalho

isolado e sem compromisso com os resultados e solução do problema.

Do mesmo modo, o envolvimento da família é indispensável e

essencial, sendo essa prática determinada pelo artigo 205 da Constituição Federal

de 1988, assim como os demais direitos infanto-juvenis.

Dentre os integrantes do sistema de garantia de direitos de crianças e

adolescentes vale ressaltar o papel dos Conselhos Municipais que, além do

exercício da participação e controle social, compete promover a articulação dos

demais integrantes desse sistema de garantia de direitos, procurando otimizar a

atuação de cada um e coordenar intervenções conjuntas de modo a garantir o

atendimento às mais variadas demandas.

Um diagrama expresso da visão sistêmica para a garantia dos direitos

de crianças e adolescentes articula forças transversais e intersetoriais, podendo

ser compreendido nas seguintes dimensões:

Figura 1: Diagrama sobre a garantia dos direitos de crianças e adolescentes

FAMÍLIA

Sistema Educacional

Sistema Único da

Assistência Social

Sistema Único da

Saúde

Sistema de Justiça e

Segurança Pública

Sistema de Atendimento

Socioeducativo

31

Nesses termos, o sistema de garantia de direitos da criança e do

adolescente foi concebido pela Resolução 113 do CONANDA, em 19 de abril de

2006, dispondo sobre os parâmetros para a institucionalização e o fortalecimento

das ações de proteção e aplicação de instrumentos normativos e funcionamento

de mecanismos de promoção, defesa e controle para a efetivação dos direitos

humanos da criança e do adolescente.

Esse sistema se articula, portanto, com todos os sistemas de

operacionalização de políticas públicas e, especialmente com sistemas

congêneres de promoção, defesa e controle da efetivação dos direitos humanos.

Uma reflexão sobre tal sistema sugere a compreensão de que os

direitos das pessoas, em sua relação com a sociedade resultam de uma

construção social de conteúdo ético, resultante de um processo histórico e

dinâmico de conquistas e de consolidação de espaços que não foram outorgados

gratuitamente, mas são resultantes de lutas, resistências, reivindicações e

pressão social, assim como sugere Bobbio (1992):

(…) não é nem filosófico, nem moral. Mas tampouco é um problema jurídico. É um problema cuja solução depende de um certo desenvolvimento da sociedade e, como tal, desafia até mesmo a Constituição mais evoluída e põe em crise até mesmo o mais perfeito mecanismo de garantia jurídico (BOBBIO, 1992, p. 45).

A ideia de estruturação de um sistema de garantia de direitos na área

da criança e do adolescente no Brasil foi evocada pela primeira vez por

Wanderlino Nogueira, no III Encontro Nacional da Rede de Centros de Defesa

realizado em Recife em outubro de 1992.

Para Nogueira, a estruturação desse sistema objetivava acentuar a

especificidade da política de garantia de direitos de crianças e adolescentes

dentro do campo geral das políticas de Estado, reforçando seu papel no conjunto

das ações estratégicas de “advocacia de interesses de grupos vulnerabilizados”.

Para concretizar sua competência o sistema de garantia de direitos de

crianças e adolescentes assumiria a tarefa de enfrentar os níveis de

desigualdades e iniquidades manifestas nas discriminações, explorações e

32

violências observadas em razão de classe social, gênero, raça/etnia, orientação

sexual, deficiência e localidade geográfica que dificultam a realização plena dos

direitos. Teria ainda como mecanismos estratégicos:

I. Judiciais e extrajudiciais de exigibilidade de direitos.

II. Financiamento público de atividades e órgãos públicos e entidades sociais de

atendimento de direitos.

III. Formação de operadores do sistema.

IV. Gerenciamento de dados e informações.

V. Monitoramento e avaliação das ações públicas de garantia de direitos.

VI. Mobilização social em favor dessa garantia.

A partir da reflexão sobre a dinâmica histórica em que se assentam os

ideais do sistema de garantia de direitos de crianças e adolescentes no Brasil,

importa considerar neste estudo, as condições em que se encontram as

perspectivas do direito, que passamos a discorrer no próximo item deste capítulo.

3.2 A instituição do direito do adolescente

Essa discussão fundamenta-se nas bases do “direito legal” instituído e

estabelecido pelo sistema normativo, configurado pelas leis e regras que norteiam

as relações da sociedade – sejam elas constitucionais, complementares e

ordinárias, sejam resoluções ou decretos legislativos – cuja função é da

responsabilidade do Poder Legislativo.

Precisamos ter a compreensão de que as leis e regras são instituídas e

determinadas pelos processos permanentes de mudanças que incidem sobre as

relações sociais, portanto, as etapas a serem percorridas para a garantia desses

direitos deve ultrapassar a formalização do direito.

Nos moldes do Estado representativo e democrático, como é o caso do

Estado brasileiro, a participação da sociedade na perspectiva da instauração do

33

“direito legal” se efetiva através de seus representantes indicados pelo voto, por

meio de eleição direta.

No Brasil, a função legislativa é de competência do Estado, em suas

diferentes instâncias. No nível da União ela é exercida pelo Congresso Nacional

(composta pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal) ao qual compete

legislar sobre todas as questões de interesse e competência nacional.

Na abrangência estadual, os órgãos legislativos são as Assembleias

Legislativas, compostas pelos deputados estaduais e nos municípios o Poder

Legislativo é exercido pelas Câmaras Municipais, compostas pelos vereadores.

Em cada uma dessas Câmaras, funcionam comissões parlamentares,

as quais, em geral, são constituídas por número restrito de membros, os quais são

encarregados de estudar e examinar as proposições legislativas e apresentar

pareceres sobre determinadas postulações legais, podendo ainda votar e discutir

projetos de lei que, conforme o regimento dispensam essa competência do

Plenário, salvo se houver recurso de 1/10 dos membros da casa.

O espaço legislativo constitui-se como o principal fórum para deliberar,

debater e aprovar leis em uma democracia representativa.

O acesso à justiça ou às instâncias públicas e os mecanismos jurídicos

de proteção legal dos direitos humanos instituídos – gerais e especiais – se efetiva

pelas ações judiciais realizadas no caso de crianças e adolescentes, nas Varas da

Infância e da Juventude; nas Varas Criminais Especializadas; nos Tribunais do

Júri, nas Coordenadorias da Infância e da Juventude dos Tribunais de Justiça.

Nele situam-se também as ações político ministeriais da responsabilidade das

Promotorias de Justiça, dos Centros de Apoio Operacional, das Procuradorias de

Justiça, das Procuradorias Gerais de Justiça e das Corregedorias Gerais do

Ministério Público.

São também instâncias responsáveis pela garantia dos direitos de

crianças e adolescentes as Defensorias Públicas, os serviços de assessoramento

jurídico e de assistência judiciária, da Advocacia-Geral da União, das

34

Procuradorias Gerais dos Estados, as Ouvidorias e a Polícia Civil Judiciária,

inclusive a Polícia Técnica e a Polícia Militar.

No âmbito da sociedade civil, a defesa dos direitos de crianças e

adolescentes é da responsabilidade dos Conselhos de Direitos e dos Conselhos

Tutelares, como também das entidades ou Organizações não Governamentais de

defesa dos direitos humanos, incumbidas de prestar proteção jurídica social.

A promoção dos direitos de crianças e adolescentes inicia-se pela

formulação de políticas sociais, nas quais são criadas as condições materiais para

que a liberdade, a integridade e a dignidade desses atores sociais sejam

respeitadas e suas necessidades básicas atendidas.

O controle social do direito é campo preferencial e peculiar das

organizações representativas da população, isto é, a sociedade civil organizada

para o exercício desse controle.

Para que os direitos assegurados a crianças e adolescentes não se

transforme em “letra morta”, disseminar conhecimentos sobre as dimensões de

cobertura desses direitos é essencial.

Difundir a cultura de promoção e proteção, defesa e garantia de direitos

e mobilizar a sociedade em favor da efetivação desses direitos pode viabilizar o

enfrentamento positivo de muitas dificuldades que se colocam para a

materialização do que está preconizado no ECA. Para tanto, os espaços de

comunicação assumem grande relevância.

Consideramos, enfim, que “o maior problema da democracia numa

sociedade de classes é o da manutenção de seus princípios – igualdade e

liberdade – sob os efeitos da desigualdade real” (Chauí, 2011).

No caso do Estado do Ceará e, mais especificamente no que se refere

à cidade de Fortaleza, está em curso à consolidação de uma proposta de

atendimento ao adolescente em conflito com a lei, cujas condições passamos a

analisar.

35

3.3 Mapeando o atendimento ao adolescente em conflito com a lei: Base

legal e proposta pedagógica

A execução das medidas socioeducativas aplicadas aos adolescentes

infratores no Ceará foi concebida por profissionais do governo do Estado e

aprovada pelo Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente do

Ceará – CEDCA-CE, por meio da Resolução nº 41/2002, que disciplina sobre as

“Diretrizes Gerais para o Atendimento Socioeducativo”.

Em seu preâmbulo, o documento reconhece os esforços desenvolvidos

no país e em especial no Ceará após a implantação do ECA, mas destaca: “pouco

se avançou na superação dos problemas relacionados com a criminalidade e a

violência que atinge crianças e adolescentes, sobretudo nas grandes cidades”.

“Livre de paixões”, uma análise da realidade é sugerida para uma

referência diagnóstica do Estado do Ceará e a problemática é retratada nos

seguintes termos:

No Ceará, o crescimento da favelização, principalmente em Fortaleza e

da violência doméstica, prostituição infanto-juvenil, turismo sexual, gravidez

precoce e prática de aborto são indicadores crescentes.

Estudos e pesquisas envolvendo participação dos adolescentes, a

exemplo do Relatório “Nas Pegadas da Juventude” são registrados fatos e dados

estatísticos que ressaltam diferentes ângulos da violência contra crianças e

adolescentes em Fortaleza.

A percepção dos adolescentes é retratada em suas falas e “a violência

está presente em tudo, o tempo todo, em toda parte”. Em Fortaleza, os homens

mais que as mulheres, são atingidos pela violência. Os jovens de classes

populares surgem como vítimas preferenciais da agressão física, da violência

sexual, da discriminação.

Os policiais, para se fazerem temidos, usam o recurso extrajurídico da

punição física e social, ao mesmo tempo que legitimam ideologicamente sua ação,

36

reduzindo os jovens à categoria de vagabundos e protegidos do Estatuto da

Criança e do Adolescente.

Neste cenário, as crianças e adolescentes empobrecidos vivenciam

situações de violência, abuso, exploração em que seus direitos são negados,

desrespeitados, forjando uma realidade de exclusão na qual suas vítimas

dificilmente podem assimilar valores para a convivência pacífica.

O quadro conjuntural das infrações cometidas por adolescentes no

Ceará, em especial em Fortaleza, foi apresentado pelo Governo do Estado

(Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social – STDS) em 2002, nos

seguintes termos:

O maior índice de atos infracionais era cometido por adolescentes na

faixa etária entre 16/17 anos, sendo estes praticados em maioria por adolescentes

do sexo masculino, residentes em Fortaleza, oriundos dos bairros Água Fria,

Aldeota, Joaquim Távora, Cidade 2000 e Meireles. Dentre eles, 0,86% nunca

frequentaram a escola; 54% estavam evadidos da escola na época em que

cometeram o ato infracional e 42% cursavam alguma série do ensino formal.

Características do perfil dos adolescentes podem ser compreendidas,

também, em observância aos seguintes fatos:

- Em 1998, 53% das ocorrências foram cometidas por adolescentes que nunca

haviam praticado uma infração.

- Em 1999, 48% foram praticados por adolescentes primários, constatando-se

uma reincidência de 50% entre 1998 e 1999.

- O número de adolescentes primários do ano 2001 é praticamente igual ao

número de adolescentes que reincidiram na prática do ato infracional no mesmo

período.

- 90% daqueles que ingressaram na internação moravam com seus familiares

antes de serem sentenciados.

37

- Em maioria têm envolvimento com drogas lícitas e ilícitas e são provenientes das

novas formas de organização familiar, vivendo em meio a relações familiares

conflituosas.

Segundo dados da Unidade de Recepção Luís Barros Montenegro, em

2001 foram registrados 1774 adolescentes aos quais foram atribuídos a prática

dos seguintes atos infracionais:

Quadro I. Atos Infracionais

ATOS INFRACIONAIS QUANTIDADE

Latrocínio 11

Homicídio 41

Danos 93

Ameaça 98

Uso, Porte e Tráfico de Drogas 104

Perturbação da Tranquilidade 106

Lesão Corporal 117

Porte Ilegal de Armas 164

Furto 409

Roubo 432

Outros 199

Total 1774

FONTE: Governo do Estado do Ceará.

Proposta de Atendimento ao Adolescente em Conflito com a Lei no Ceará. Fortaleza, 2001.

A contraposição dos dados se dá pela responsabilidade do Estado na

prestação de serviços de assistência social de alta complexidade, pela via de

manutenção de unidades de acolhimento do adolescente que cometeu ato

infracional e cujo mapeamento das unidades em Fortaleza apresenta-se nos

seguintes termos:

1. Projeto Mãos Dadas: atende adolescentes egressos de medidas

socioeducativas de privação de liberdade e em meio aberto, na faixa etária de 16

a 21 anos, oriundos dos Centros Educacionais, da Liberdade Assistida e da

Prestação de Serviços à Comunidade.

38

2. Centro Educacional São Francisco: atende adolescentes de 12 a 18 anos, do

sexo masculino, em regime de internação provisória, autores de atos infracionais,

enquanto aguardam a conclusão da apuração do ato infracional pelo Juizado da

Infância e Adolescência. De Janeiro a Outubro de 2013, registrou-se o

atendimento de 996 adolescentes nesta situação (CEARÁ, STDS, 2013).

3. Centro Educacional Cardeal Aloísio Lorscheider: atende adolescentes atores de

ato infracional de natureza grave, na faixa etária entre 18 e 21 anos, do sexo

masculino, cumprindo medida de internação. No período compreendido entre

Janeiro a Outubro de 2013 foram atendidos 362 adolescentes na Unidade.

4. Centro Educacional Patativa do Assaré: atende adolescentes de 16 a 17 anos

e, excepcionalmente até os 21 anos, em regime de internato, autores de ato

infracional de natureza grave, enquanto se conclui o processo de apuração do ato

infracional pelo Juiz da Infância e da Juventude. Entre Janeiro a Outubro de 2013

foram atendidos 500 adolescentes.

5. Centro Educacional Dom Bosco: atende a adolescentes entre 12 e 21 anos do

sexo masculino, sentenciados por descumprimento de medida, em regime de

internação, com permanência máxima de 90 (noventa) dias. Desde Janeiro até

Outubro de 2013 o Centro contabiliza o atendimento de 506 adolescentes nesta

situação.

6. Unidade de recepção Luís Barros Montenegro: Acolhe, por até 24 horas, os

adolescentes aos quais são atribuídos a autoria de ato infracional, os quais são

oriundos da Delegacia da Criança e do Adolescente e da Vara da Infância e da

Juventude, assim como pelas Comarcas do Interior do Estado. Ali permanecem

até a sua apresentação ao Ministério Público e Juiz (Plantão Interinstitucional –

art. 145 – ECA). Foram atendidos 4.716 adolescentes de Janeiro a Outubro de

2013.

7. Centro Educacional Aldaci Barbosa Mota: atende adolescentes na faixa etária

de 12 a 21 anos, do sexo feminino, que cumprem medidas de internação por

prática de atos infracionais, em regime de internação provisória, privação de

39

liberdade e semiliberdade. Registra atendimento de 311 adolescentes, no período

entre Janeiro e Outubro de 2013 (CEARÁ, STDS, 2013).

8. Centro de Semiliberdade Mártir Francisca: atende adolescentes de 12 a 18

anos e adulta de 18 a 21 anos do sexo masculino, sentenciados com medida de

semiliberdade, encaminhados por ordem judicial das Comarcas de Fortaleza e do

Interior do Estado. No período de Janeiro a Outubro de 2013 realizou atendimento

a 213 adolescentes (CEARÁ, STDS, 2013).

Para efeito deste estudo, apresentamos, a seguir, uma avaliação da

realidade vivenciada por adolescentes internos no Centro Educacional São

Miguel, no qual relatamos aspectos mais significativos do relatório apresentado

pela Equipe de Inspeção Nacional realizada por integrantes da Ordem dos

Advogados do Brasil (OAB), Comissão de Direitos Humanos.

3.3.1 Centro Educacional São Miguel: Prisão como represália

Sob o olhar dos profissionais responsáveis pela Inspeção Nacional às

Unidades de Internação de Adolescentes em Conflito com a Lei, em conformidade

com dados contidos no relatório das visitas realizadas simultaneamente em 22

estados brasileiros em Março de 2006, destacamos o ponto de vista desses

avaliadores sob a Unidade de Internação, o Centro Educacional São Miguel, o que

passamos a apresentar.

O Centro Educacional São Miguel, localizado à Rua Menor Jerônimo,

S/Nº, Jardim União, em Fortaleza/CE, originariamente recebia adolescentes para

o cumprimento de medidas socioeducativas de internação em caráter definitivo.

Atualmente recebe, também, adolescentes para internação provisória. O Centro

conta com a seguinte equipe profissional:

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Quadro II. Corpo Técnico da Unidade Centro Educacional São Miguel

PROFISSIONAL QUANTIDADE SITUAÇÃO

Assistente Social 2 Terceirizado

Pedagogo 1 Terceirizado

Advogado 1 Terceirizado

Psicologia 1 Terceirizado

Médico 1 Terceirizado

Dentista 1 Terceirizado

Aux .de Enfermagem p/Médico 1 Terceirizado

Aux. De Enfermagem p/Dentista 1 Funcionário da STDS

Fonte: Pesquisa Direta

Proposta Pedagógica – Profissionalizante:

- Atividade de lazer: inexistente

- Atividade Esportiva: Inexistente

- Atividades Sociais: Inexistentes

- Programa de Acompanhamento a Egressos: Inexistente

- Acompanhamento Psicológico: Em fase de planejamento – não desenvolveu

atendimento individualizado

Os adolescentes da internação provisória não têm contato com aqueles

internos em caráter definitivo. Estes últimos ficam isolados, restritos a um espaço

da unidade denominado “Anexo”, por falta de espaço.

Os avaliadores identificaram “superlotação”, com capacidade instalada

para 45 adolescentes, por ocasião dos trabalhos de inspeção a unidade abrigava

68 internos.

A equipe de inspeção foi informada sobre a existência de Regimento

Interno, no qual as regras do Centro Educacional São Miguel estariam dispostas.

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Tal documento deveria ser compartilhado com as famílias e os internos,

entretanto, os adolescentes presentes ao momento da inspeção informaram

desconhecer qualquer documento sobre as normas da casa.

Na Unidade, os adolescentes são divididos em dormitórios, os quais

são numerosos e se assemelham à clãs. Suas portas são grades, semelhantes às

usadas nas prisões. Entre os dormitórios existem dois tipos: uns com capacidade

para três e outros comportam até cinco internos, mas a equipe de inspeção

constatou que alguns dormitórios abrigam até sete adolescentes.

A sujeira dos dormitórios foi observada pelos avaliadores com destaque

para os banheiros que se limitam a ter um buraco no chão, em cada dormitório

protegido por duas meias-paredes, com garantia de privacidade. “Os colchões

cheiram mal e para cada 3 (três) adolescentes existe apenas 1(uma) toalha de

banho”.

A limpeza do dormitório é feita pelos próprios adolescentes e não

acontece todos os dias por falta de material de limpeza. “De acordo com os

adolescentes, os educadores sempre afirmam que eles não têm do que reclamar

porque estão presos e não passando férias em um hotel”.

O tempo de banho para cada adolescente é de 1 minuto. Caso

excedam são retirados do chuveiro por meio de agressões físicas. Como só

tomam um banho por dia, à direção da casa permite que encham garrafas

plásticas de 2 litros para que durante o dia possam se refrescar, considerando que

a Unidade é quente e sem ventilação.

O material de higiene trazido pelas famílias não é entregue aos

adolescentes, mas estes são retidos pela direção porque foi constatado que eles

misturam o líquido do desodorante com suco ou refrigerante para beber.

Em nenhum momento os adolescentes se movimentam livremente nas

dependências da Unidade. Nos horários reservados à TV, devem estar sentados

em silêncio. Não podem mudar o canal. Assistem ao programa que o educador

determinar.

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Durante todo o dia, se não estão assistindo TV ficam em seus

dormitórios nada fazendo.

Na Unidade existe a “Tranca”, um lugar reservado, escuro, quente,

abafado e fétido, com quatro celas nas quais ficam enclausurados os

adolescentes que não se comportam de forma adequada. Ali se alimenta, dorme

sem colchão, sem lençol e sem toalha. Não recebem os lanches enviados por

suas famílias. Sem prazo, sem regras definidas para o tempo de confinamento, o

adolescente permanece trancado conforme decisão dos orientadores. Tal atitude

levou os inspetores a um questionamento: com qual legitimidade esses

profissionais agravam medidas judicialmente impostas? Em qual norma do

ordenamento encontra-se o fundamento jurídico para que esses profissionais

trancafiem um adolescente sem que haja prazo definido para o confinamento?

O advogado da Unidade desenvolve trabalho de acompanhamento dos

adolescentes nas audiências. As defesas são elaboradas por Defensor Público. O

advogado não elabora defesa, embora fique atento para que o prazo de 45 dias

seja respeitado.

O Defensor Público só é lotado na unidade, nem estabelece qualquer

contato com o adolescente que defende. Só se encontram por ocasião da

audiência e os adolescentes desconhecem sua situação prisional.

Ao saírem da Unidade de Internação, com documento de transferência

para a busca de vagas nas escolas da comunidade onde residem, geralmente são

rejeitados, lhes sendo negado o direito de matrícula pelo fato de serem egressos

de uma Unidade de Internação.

Fugas são constantes e as crises internas são gerenciadas pela direção

da Unidade. Os educadores, técnicos e gestores não são preparados para a

mediação de conflitos e gerenciamento de crises.

Os adolescentes têm direito à visitas duas vezes por semana. Cada

visita estende-se por uma hora, podendo ser realizada por duas pessoas, em

geral, seus pais. Os visitantes são cadastrados. Os irmãos do adolescente só

podem visitá-los se acompanhados por um dos genitores. Os internos não têm

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direito de usar o telefone, somente se passados dias e nenhum familiar fizer

contato com a unidade. Os adolescentes não têm direito a visitas íntimas, mesmo

aqueles que já têm companheira e filhos. Os adolescentes são revistados antes e

depois de cada visita com desnudamento.

Os adolescentes podem se comunicar também por cartas. Estas são

lidas pelos profissionais da instituição antes de serem entregues aos familiares.

Os profissionais que trabalham na Unidade não portam armas. Todavia,

os policiais militares que fazem a segurança estão armados e, embora não

circulem livremente pelas dependências da Unidade, em caso de tumultuo são

chamados a intervir.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sem a pretensão de esgotar todas as nuances que perpassam o

cenário em que se delineiam as questões que determinam a condição dos

adolescentes em conflito com a lei e privação de liberdade na cidade de Fortaleza,

podemos apresentar, à guisa de conclusões, algumas considerações gerais sobre

os achados das pesquisas bibliográfica e documental que empreendemos para

compor este estudo.

Primeiramente podemos afirmar que as estratégias de enfrentamento à

violência contra crianças e adolescentes no país exigem maiores reflexões.

Precisamos compreender com maior nitidez, as causas e consequências da

violência que acomete crianças e adolescentes e essa tarefa é urgentíssima.

Depois, entendemos a necessidade da abertura do diálogo entre

adolescentes, suas famílias e todos os atores sociais que integram o sistema de

garantia de direitos para identificarmos as balizas do abismo que separa

percepções de uns e de outros. Em todas as buscas de compreensão da

realidade observamos uma dicotomia de olhares: de um lado, os adolescentes se

sentem triplamente vitimizados e agredidos por seus familiares, pela sociedade e

pelo Estado. Por outra via, a sociedade se nega, se exclui das possibilidades de

diálogo com esses adolescentes e o Estado é acusado permanentemente de

negligência, enquanto suas famílias raramente se envolvem nos processos

voltados à sua reinserção social.

Identificamos nos estudos que serviram de fonte de pesquisa para este

trabalho que quando um adolescente é encaminhado para o cumprimento de

medida socioeducativa de privação de liberdade, por cometer um ato infracional

(conduta descrita como crime), compete ao Estado disponibilizar condições

objetivas para a superação do problema. No entanto, essa não é a constatação

apresentada pelo Relatório dos profissionais que promoveram a inspeção nas

unidades de internação de adolescentes em todo o Brasil e, em especial, na

Unidade de Internação São Miguel, em Fortaleza, tal como descrito neste estudo.

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Das 30 (trinta) unidades visitadas, em 17 delas (56,66%) foram

relatados pelos adolescentes, ocorrências de espancamentos, lesões

(hematomas, edemas, etc.) e os responsáveis seriam os próprios educadores

sociais ou policiais militares responsáveis por promover a ordem.

A literatura especializada aponta o déficit educacional como fator de

risco para a prática do ato infracional. Das 30 (trinta) unidades visitadas, 17%

descuidam da escolarização e entre seus internos, esse déficit chega a ser de 7

(sete) anos escolares. Assim, descumprem os determinantes do ECA e, além de

segregar, marginalizam ainda mais seus internos.

Sem oportunidades de aprendizado de uma atividade laboral, esses

adolescentes ao serem libertados das unidades de internação não se livram das

antigas alternativas de sobrevivência: a prática de furtos ou outros delitos.

A internação provisória ocorre sempre antes da sentença e serve para

apurar a autoria e materialidade do ato infracional. O prazo máximo é de 45 dias,

mas via de regra, esse prazo não é cumprido, em flagrante desrespeito ao ECA.

Muitas unidades de internação não fundamentam seu trabalho em um

Projeto Pedagógico Profissionalizante.

As queixas relativas às condições de higiene e saúde abrangem um

leque variado. Falta higiene, medicamentos e tudo o mais que se possa pensar

em termos de prevenção e preservação da saúde.

Assim, as recomendações dos profissionais da equipe de inspeção do

funcionamento dessas unidades, com base nos determinantes do ECA são

dirigidas ao Ministério da Justiça e a Secretaria Especial de Direitos Humanos

para que incentivem as Medidas Socioeducativas em meio aberto e desativem as

“unidades depósito”.

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