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FACULDADE AVM INTEGRADA
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL PARA A
APRENDIZAGEM
Por: Andréa Salvador Ferreira Moraes
Orientador
Professora Ms. Andressa Maria Freire da Rocha Arana
Rio de Janeiro
2011
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FACULDADE AVM INTEGRADA
LICENCIATURA EM PEDAGOGIA
A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL PARA A
APRENDIZAGEM
Apresentação de monografia ao IAVM como
requisito parcial para obtenção do grau de
licenciado em Pedagogia.
Por: Andréa Salvador Ferreira Moraes
Rio de Janeiro
2011
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AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, meu grande Pai,
pelos grandes ensinamentos e
contemplação divina;
Aos meus pais Joel, in memorian, e
Marlene, pelo exemplo de vida;
Ao meu marido Paulo Cesar, pelo
carinho e estímulo;
Ao meu filho Gabriel, pelo seu amor,
carinho, companheirismo e
compreensão.
4
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, por terem me ensinado
a respeitar o próximo;
Ao meu filho Gabriel, pelo amor
inocente;
Ao meu marido Paulo, pela paciência.
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RESUMO
A Literatura Infantil nasce trazendo em seu bojo características muito peculiares,
tendo origem na ascensão da família burguesa e do novo "status" concedido à
infância de então, tanto no meio social como na escola que é reorganizada. A
ligação da Literatura para crianças e a Pedagogia sempre foi bastante próxima, pois
as histórias eram criadas para serem ferramentas pedagógicas. No presente
trabalho apresenta-se o tema como de fundamental importância como recurso de
aquisição da leitura, formação de leitor de um ser humano mais harmônico e pleno.
A criança, estimulada pelo contato com os livros, desperta para este hábito e, tendo
a curiosidade mais aguçada, desenvolve mais rapidamente suas potencialidades e
amplia suas perspectivas, horizontes e limites. Deste modo a pesquisa trata a
relação entre leitura e evolução infantil e discorre, ainda, sobre a importância da
literatura infantil para a aprendizagem concordando com Abramovich (1997) quando
diz que “escutar histórias é o início da aprendizagem para ser leitor, e ser leitor é ter
um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo”. O
estudo que agora se apresenta tem, portanto, a finalidade de compreender a
construção do conhecimento infantil através da literatura produzida para a criança,
abordando sua importância para o sucesso do trabalho pedagógico realizado pelos
profissionais de Educação. A pesquisa bibliográfica revelou o caminho percorrido
pela Literatura Infantil até ser reconhecida como ferramenta utilizada pelo trabalho
pedagógico na busca de uma aprendizagem cada vem mais abrangente,
diversificada e melhor para todos.
Palavras-chave: Aprendizagem, Infância, Literatura Infantil, Lúdico.
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METODOLOGIA
A metodologia é uma técnica utilizada no processo de pesquisa e elaboração
de texto acadêmico que permite o autora/a ter o suporte teórico necessário para
refletir com mais segurança sobre o tema proposto; porém com uma análise própria
e uma busca que revele um olhar curioso, criativo e instigante.
O método escolhido irá auxiliar na elaboração e no desenvolvimento da
pesquisa, o que tornará possível o alcance do resultado desejado que foi planejado
em conceitos, reflexões, estudos publicados, enfim, em conhecimentos previamente
existentes.
No entendimento de Oliveira (2002) a Metodologia é “Uma forma de
pensar para se chegar à natureza de um determinado problema, quer seja para
estudá-lo, quer seja para explicá-lo”. Para Severino (2007) “O método é fundamental
no processo de conhecimento realizado pela ciência onde a diferencia do senso
comum”.
A presente pesquisa, elaborada com a intenção de investigar seu objeto de
estudo: A Literatura Infantil e sua relação com o processo de aprendizagem nesta
faixa etária, considerando a criança como um ser histórico e social e, deste modo,
importante para o entendimento dos fenômenos à ela associados.
A utilização de recursos lúdicos e educativos permite que a criança se
aproprie melhor de conceitos desenvolvidos durante o processo da aprendizagem;
porém, embora ainda pequena, a criança é um ser histórico que traz seus próprios
conhecimentos prévios e tem suas especificidades, fazendo dela um ser único, e tais
atributos precisam e devem ser levados em consideração durante o aprendizado
formal.
A opção de caminho metodológico para uma melhor compreensão deste
universo é a pesquisa bibliográfica, com maior suporte nos ensinamentos teóricos
dos seguintes autores: Fanny Abramovich, Nelly Novaes Coelho e Vigotsky, cujos
trabalhos serão utilizados, consultados, citados, durante a elaboração desta
7
pesquisa. Outros autores também nortearão os caminhos deste trabalho, porém
ressaltamos o trio já mencionado como fontes principais.
Em Abramovich se tem um conceito que reúne pontos importantes da
Literatura Infantil como a fantasia e o estímulo à percepção; porém a autora também
entende como fundamental a participação da criança na construção do texto, em seu
entendido o livro infantil é também construído pela visão que cada leitor a ele atribui
nas diferentes etapas da trajetória de vida.
A escolha de Coelho com um dos autores que norteiam esta pesquisa é
devido ao seu entendimento amplo sobre a relação entre escola e Literatura Infantil,
que coloca como fundamental para a formação do indivíduo. A autora, que é
ensaísta, crítica literária e especialista em Literatura Infantil, dedicou sua vida a
dedicar-se a uma carreira voltada para a educação e a arte-educação.
Para o russo Lev Vygotsky a imaginação e a criatividade encontrada na
Literatura para crianças é fator que contribui fortemente para o desenvolvimento do
pensamento lógico que acompanha o ser humano até a fase adulta.
O trabalho em foco, dividido em três capítulos, pretende abordar a questão
lúdica no universo da criança; a revisão de literatura e a importância das histórias –
para serem lidas e/ou contadas – que tem na infância o seu público alvo, porém
visando o futuro jovem e adulto deste público.
O estudo teve como fonte de sustentação a pesquisa em publicações sobre o
tema por estudiosos do assunto e a busca bibliográfica; como fonte secundária
apoiou-se em livros infantis e em conversas com autores e profissionais de
Educação.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I - O LÚDICO NO BRINCAR E NO APRENDER 11
CAPÍTULO II - REVISÃO DE LITERATURA 18
CAPÍTULO III – A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL PARA A
APRENDIZAGEM 23
CONCLUSÃO 31
BIBLIOGRAFIA 33
ÍNDICE 35
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INTRODUÇÃO
As crianças, quando bem cuidadas, são uma semente de paz e esperança.
Zilda Arns Neumann – última conferência, Haiti, 2010
A Literatura Infantil, que mexe e remexe com a imaginação de crianças e
adultos, não é simplesmente uma forma de traduzir o mundo para os pequeninos; a
Literatura Infantil, presente na infância e na formação de cidadãos mais conscientes,
é um ato de amor.
O tema deste trabalho desperta curiosidades, lembranças, vontades e a cada
passo dado tem-se a certeza da escolha do assunto, pois Literatura Infantil e
Aprendizagem estão intrínseca e positivamente ligados. O estudo que se apresenta,
então, pretende verificar que ligação é esta e qual a contribuição das histórias,
contadas, ouvidas, lidas, interpretadas, para o desenvolvimento da criança de hoje e
do adulto de amanhã.
As histórias fazem parte do cotidiano, fazendo parte da infância e abrindo
portas para as outras fases da vida humana. Mães, pais, avós, avôs, professores,
tias, madrinhas... todos contam histórias e recontam histórias que, por sua vez, lhe
foram contadas quando eram pequenos. Histórias cheias de sustos, aventuras,
correrias, risadas, sensações e mais sensações, cada uma sendo parte da
construção da ponte que liga o real ao imaginário, o imaginário ao real.
A criança, ao entrar no universo escolar, encontra um mundo de novidades,
de experiências, de descobertas e valores que irão despertá-la para o aprendizado
formal, que é somado ao que ela traz do seu universo familiar e de suas vivências. A
aprendizagem da criança acontece todos os dias, em todos os momentos, porém a
formalidade do aprender ocorrer através da entrada na escola onde também as
histórias estão presentes, seja nos livros, nos murais, nas que são contadas e nas
que são base para um número quase sem fim de atividades pedagógicas.
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O professor, ainda mais o que é responsável pela Educação Infantil (EI)
precisa ter clareza da importância do papel que a literatura tem sobre o
desenvolvimento da criança; havendo esta consciência o profissional,
desenvolvendo a prática de contação de histórias, entre outras relacionadas à
Literatura Infantil, levará aos pequenos alunos uma constante descoberta do mundo
e formará leitores que sempre encontrarão nos livros uma fonte de saber, prazer,
conhecimento e divertimento.
A Educação Infantil aliada à Literatura Infantil forma os valores éticos na
criança, além de contribuir para um melhor desenvolvimento psicológico e emocional
do infante. O educador que vive cotidianamente esse processo é um mediador, uma
ponte, entre a criança e todo o universo a desvendar de forma sólida, harmônica e
criativa, pois é o agente direto de sua aprendizagem. A Literatura para crianças,
posicionada nesse contexto, é compreendida como sendo parte inerente a este
processo de crescimento, pois é facilitadora da busca pelo conhecimento fornecendo
as ferramentas da criatividade, da curiosidade e da imaginação.
A Literatura é arte, sendo arte também a Literatura Infantil que tem na palavra
(contada, cantada, escrita, lida) seu instrumento de ofício e através deste abrir as
portas para uma infância criativa e feliz e uma aprendizagem que será para a vida
toda.
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CAPÍTULO I
O LÚDICO NO BRINCAR E NO APRENDER
1.1. O LÚDICO NO BRINCAR
A criança que brinca e o poeta que faz poemas
– estão na mesma idade mágica!
Mário Quintana
Mas o que é lúdico afinal? Entende-se como importante a resposta da
pergunta formulada, pois a partir do entendimento do conceito do termo “lúdico” é
que se desenvolverá o fio condutor deste capítulo inicial.
A palavra tem sua origem no latim ludus que significa “jogo”, e com a
evolução histórica e temporal sofre uma ampliação, porém sem deixar de abranger
também seu significado original, e passa a ser usada por diversos setores da
Educação e da Ciência como uma ação de características espontânea, funcional e
associada à satisfação. Nas ações consideradas lúdicas o mais importante é o
momento vivenciado.
No entendimento de Negrine (2000) a capacidade lúdica é inerente à pré-
história de vida do indivíduo, portanto, o autor entende que ludicidade é,
principalmente, um estado de espírito que se instala na conduta do ser humano
devido ao seu modo de vida.
Para Freinet (1998) a vivência lúdica pode ser vista como:
“[...] um estado de bem-estar que é a exacerbação de nossa necessidade de viver, de subir e de perdurar ao longo do tempo. Atinge a zona superior do nosso ser e só pode ser comparada à impressão que temos por uns instantes de participar de uma ordem superior cuja potência sobre-humana nos ilumina”.
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O jogo, ideia mãe do termo em foco, hoje é entendido – no contexto
pedagógico – como um dos canais através do qual a criança pode libera e canalizar
energias e potencialidade, ao jogar, brincar, o menino/menina tem o mágico poder
de transformar a realidade em fantasia, sendo esta “mágica” uma fonte de prazer e
alegria.
Jogar é, assim, um meio de integração e uma busca constante de novidades;
o que é fundamental para a construção do interesse da criança em relação ao
mundo que a cerca e ao seu universo interior.
Jogar, brincar, é poder construir e adquirir conhecimentos.
A ação de brincar, de jogar, é lúdica, e dela a criança se apropria para
experimentar, descobrir, inventar, aprender e desenvolver aptidões e habilidades.
Em Velasco (1996) vemos que os brinquedos, imaginados ou confeccionados,
sempre existiram em todos os povos tendo o caráter de objetos mágicos, de geração
em geração, continuam encantando tanto crianças como adultos, pois evocam a
infância já vivida para estes.
A criança utiliza o brinquedo como uma maneira de traduzir a realidade que
ainda não alcança para o seu mundo infantil, ao brincar ela adapta o que vê, sente,
vivencia, de modo que ela possa compreender e, assim, interagir.
Para Vygotsky (1994) a função definidora do brinquedo, da ação de brincar,
não pode ser limitada e definida apenas como um prazer da criança; o brinquedo, no
entender do teórico, preenche necessidades e atende expectativas, o que
proporciona à criança o constante avanço em seu desenvolvimento geral.
Recorre-se novamente a Velasco (1996) para ressaltar que a
espontaneidade, característica do lúdico, faz parte do cotidiano infantil pois toda
brincadeira é espontânea e também imaginativa, sem que seja preciso regras pré-
estabelecidas ou estruturadas.
Entende-se, assim, o movimento lúdico, a ludicidade, como sendo vital para o
desenvolvimento e crescimento, incluindo a saúde mental, do indivíduo; sendo
assim, o espaço para o lúdico deve ser merecedor de atenção e cuidados tanto dos
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pais como dos profissionais da Educação, pois é na vivência destas ações, destes
movimentos e momentos, que a criança exercita sua relação com as pessoas, os
objetos, enfim, com o mundo.
O lúdico, então, proporciona a relação da criança com um universo diferente
do seu, infantil, e soma positivamente na formação de sua personalidade e permite
sua socialização, o que será fundamental para a aprendizagem escolar.
1.1.1. VAMOS BRINCAR?
Brincar é tudo que a criança deseja e no brincar ela experimenta a vida, o
mundo, seu mundo. O adulto ao aceitar o convite para participar das infinitas
atividades que este verbo inclui está reforçando laços afetivos, manifestando amor e
revivendo sua própria trajetória.
São muitos os estudiosos do tema que entendem as brincadeiras como
elementos fundamentais para o desenvolvimento infantil e, também, para a sua
relação e integração com o crescer, com o universo a qual pertence e para a
preparação para alçar voos mais distantes. De acordo com Brougère (1995), a
brincadeira traz alegria e prazer e possibilita que a criança construa suas relações;
para Barbosa (2006) a brincadeira permite que a criança se desenvolva através de
uma experiência lúdica que é vivenciada para se movimentar, coordenar-se, pensar,
compreender significados, comunicar-se e experimentar novidades.
O convite infantil “Vamos brincar?” começa na família e fornece intimidade,
conhecimento e aprendizado que, vale dizer, não é bom apenas para a criança pois
estes momentos devem ser levados a sério e são importante ferramentas diárias
através das quais os pequenos aprendem a respeitar e vivenciar regras de
convivência, novo vocabulário, descobrem sobre a cultura em que vivem e lidar com
situações e reações novas para elas.
Até a ação de guardar os brinquedos com a mãe ou com quem estiver
brincando pode ser uma atividade orientada e agradável por meio da participação da
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criança na arrumação ao lado da pessoa adulta fazendo da organização e cuidados
um hábito natural que pode ser realizado, inclusive, com satisfação.
1.2. O LÚDICO NO APRENDER
O bom de um livro é que nele cabe o mundo todo. Cabe uma gaivota. Uma vez uma gaivota passou na minha casa, ai eu falei para a gaivota me dar uma carona para eu
chegar na escola.
Illan Brenman
O lúdico não é presente só no brincar; o lúdico também está no aprender, que
vamos aqui exemplificar como a ação de ler e na consequente apropriação desta
leitura como meio de novas descobertas e de outros olhares para a compreensão do
mundo, de universos além.
As atividades de cunho lúdico-criativas costumam exercer uma grande
atração sobre as crianças e, assim, podem ser utilizadas como poderosa ferramenta
para potencializar a aprendizagem, já que as atividades lúdicas favorecem o
desenvolvimento motor e psicomotor das crianças.
No entendimento de Amarilha (1997) “Na verdade, a atividade lúdica é uma
forma de o indivíduo relacionar-se com a coletividade e consigo mesmo”. A autora
ainda diz que a criança tem sua primeira impressão do mundo que a cerca através
das imagens e sons, que transformados pela palavra, pela verbalização, através da
construção literária traz um elemento prazeroso que está ligado da natureza lúdica
da linguagem empregada.
De acordo com Teixeira (1995, apud Nunes) as atividades lúdicas tem um
valor educacional que a ela é inerente e, assim, frequentemente é utilizada como
valioso recurso pedagógico. Ainda de acordo com o autor são diversos os motivos
pelos quais os profissionais da Educação, com foco na Educação Infantil, apoiam-se
nas atividades lúdicas e as empregam como recurso fundamental no processo de
ensino-aprendizagem.
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O universo infantil sempre intrigou os estudiosos e profissionais de áreas
diversas da ciência debruçaram-se sobre pesquisas, observações e teorias valiosas
sobre o desenvolvimento cognitivo e afetivo da criança. As contribuições de Piaget e
Vygotsky são valiosas no referente às relações existentes a imaginação e a
formação da identidade infantil.
Os estudos e pesquisas de ambos permitiram aos educadores, de várias
gerações e países, à Pedagogia a reavaliação da utilização de recursos como, por
exemplo, brincadeiras diversas, jogos e histórias infantis como elementos positivos
para uma melhor aprendizagem. Então, a ideia de brincar e contar histórias, vistas
apenas como passatempo, evoluiu passou a ter novos e fundamentais significados e
aplicações.
A consulta realizada a autores pertinentes ao tema, e também nas conversas
com profissionais da área, tornou possível compreender que para as crianças, na
fase da primeira infância, as atividades que mais os atraem são as dinâmicas e
mágicas que envolvam seu imaginário e fantasia.
A atividade lúdica, incidente no processo de aprendizagem, apresenta ainda
outro importante fator relacionado à utilização de recursos lúdicos, a permanência
das sensações prazerosas através do tempo, assim, as histórias infantis, o
aprendizado, as atividades, ficarão sendo parte da criança tanto em seu presente
como nas fases que sucederão a infância.
Entende-se que a ação desenvolvida no campo da imaginação, nas situações
do “faz de conta” abre espaço para a criatividade, ou sua intenção, que envolve
planos da vida real. O contato com o lúdico, assim, vai além da ideia do
entretenimento revelando sua fundamental importância no desenvolvimento infantil.
"O lúdico é o parceiro do professor". Esta afirmação, constatação, não é
produto deste trabalho ou de leituras para a elaboração deste, é conclusão da
psicopedagoga, especializada em Educação Infantil, Ângela Cristina Munhoz Maluf,
que resume nesta sentença a ideia viva de quem é profissional da área e sabe que o
desenvolvimento da criança passa pela imaginação que deve ser estimulada por
atividades lúdicas presentes cotidianamente.
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1.2.1 APRENDIZADO LÚDICO E O PAPEL DO PROFESSOR
A brincar e o aprender, verbos que aparentemente podem parecer quase
opostos, com objetivos distintos e tendo cada um sua hora e seu lugar. Então,
quando pode ser a escola um lugar de brincadeiras? Quando o professor cria
oportunidades para que a criança aprenda brincando e na brincadeira aprenda, pois
existem jogos e atividades divertidas que podem cumprir a função de meio
pedagógico. O profissional da Educação ao oferecer possibilidades diversas para a
criança desenhar, ouvir, contar e representar histórias, entre outras atividades, está
de posse de um rico material que pode ser trabalhado durante todo ano letivo.
O papel do professor garante a transformação da brincadeira em uma espécie
de atividade social da infância, entendendo que a ação de brincar deve ter espaço
próprio e central na formação infantil, assim, é o profissional de Educação uma
figura essencial na criação de espaços que permitam esta troca entre brincar e
aprender. O professor ao entender os benefícios de trazer o lúdico para o
aprendizado está, portanto, transmitindo valores e possibilitando às crianças uma
nova e ampla forma de assimilação de sua cultura, e de outras, de maneira
socializada, criativa e compartilhada.
Recorre-se a Vygotsky (1999) para reafirmar o jogo, o brincar, a descoberta
das histórias mágicas, contos de fada, como um exercício da apropriação infantil da
realidade já que, ainda segundo o autor, a criança tem necessidade da criança de
inventar/reinventar o mundo para que possa compreendê-lo e nele inserir-se.
Um olhar para a sala de aula revela ser necessário que os professores sejam
também participantes, vivenciando as atividades lúdicas pedagógicas propostas e,
ao fazer isso, podem orientar o aprendizado de forma interessante, divertida e
eficaz.
Escutar, ouvir, falar, contar, ações presentes no cotidiano histórico do ser
humano desde épocas imemoriais. Muitas são as experiências vivenciadas pelo
homem durante sua trajetória de vida, do nascimento à morte; assim como muitos
também são os conhecimentos assimilados através do que é ouvido. A Literatura
surge, então, da necessidade de contar o que se ouviu ou pensou, e pensar sobre o
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que se vê ou vive para depois falar – um moto contínuo que elaborado dá origem às
histórias literárias.
Os livros de histórias, contados, ouvidos, representados, estão entre as
experiências mágicas através dos quais a criança irá sonhar, imaginar, inventar
mundos e caminhos e, também, servir de fio condutor para lidar com expectativas,
conflitos e ser base para uma aprendizagem sólida que abra as infinitas portas do
conhecimento.
De acordo com Abramovich (1995) e Oliveira (2002), reafirma-se aqui, neste
final de capítulo, que durante os anos de Educação Infantil (EI) predominam as
atividades escolares ligadas aos jogos e brincadeiras, porém quando é proposto à
criança o trabalho com livros - principalmente a contação de histórias – há
rapidamente uma demonstração de interesse e os resultados obtidos são positivos
onde as crianças se apropriam do conhecimento de forma interativa.
Finaliza-se o presente capítulo reafirmando que ao fazer da brincadeira e da
literatura infantil um poderoso instrumento educacional os professores estarão,
também, influenciando na boa formação da criança de hoje e do adulto de amanhã.
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CAPÍTULO II
REVISÃO DE LITERATURA
Os professores podem guiá-las proporcionando-lhes os materiais apropriados mais o essencial é que, para que uma criança entenda, deve construir ela mesma, deve reinventar. Cada vez que ensinamos algo a uma criança estamos impedindo que ela descubra por si mesma. Por outro lado, aquilo que permitimos que descubra por si mesma, permanecerá com ela.
Jean Piaget
A Educação no Brasil atualmente está intrinsicamente ligada à Literatura
Infantil que, em seu início, foi entendida como sendo quase sinônimo de divertimento
e passatempo, algo simples que não tinha o objetivo de formar ou informar.
São muitas as discussões que existem hoje em torno do tema que foi
escolhido para o desenvolvimento deste trabalho, os teóricos desejosos que
compreender a Literatura Infantil cada vez melhor se debruçam em estudos que vão
da conceituação à relação desta com a aprendizagem, passando pela sua origem e
evolução. Os estudiosos percebendo esta mudança evolutiva contribuíram, e assim
continuam a fazer, com pesquisas, estudos que apontam caminhos para a utilização
da ludicidade existente na Literatura Infantil para o processo de ensino e
aprendizagem.
É antiga a polêmica que discute a natureza da literatura destinada às
crianças, discutindo-se se ela pertence mais ao campo da arte da escrita ou ao
pedagógico.
O livro e literatura infantil datam, segundo registros históricos, do século XVII
quando acontece uma mudança da visão que se tem da infância, pois até então a
criança era compreendida como uma espécie de adulto em miniatura. Em Maria
Antonieta Antunes Cunha (2002), vemos:
“... A história da Literatura começa a delinear-se no início do século XVII, quando a criança passa a ser considerada um ser diferente do adulto, com necessidades e características próprias, pelo que deveria distanciar-se da vida dos mais velhos e receber uma educação especial que a preparasse para a vida adulta”
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A Literatura Infantil hoje é vista como elemento indispensável para a formação
da criança, seja na escola, em casa, ou através de outros meios institucionais que
trabalham para desenvolvê-la tanto emocionalmente como para estimular sua
intelectualidade. Porém esta literatura específica nem sempre foi considerada assim,
muito menos fez parte da vida dos infantes de outrora, pois apenas na passagem do
século XVII para o próximo e daí por diante surge a produção de livros infantis.
Como se vê na citação abaixo, de Zilberman (1985) a infância não existia, assim,
também não escrevia para ela.
“Esta faixa etária não era percebida como um tempo diferente, nem o mundo da criança como um espaço separado. Pequenos e grandes compartilhavam dos mesmos eventos, porém nenhum laço amoroso especial os aproximava”.
Neste período histórico, conhecido como Idade Moderna, a infância começa a
ser vista de modo diferenciado da fase adulta, admite-se que ela tem interesses
próprios, assim como características, sendo preciso uma atenção dirigida e uma
formação específica. (ÀRIES, 1981).
Este novo olhar para a infância ocorre porque também há mudanças em
relação à família, o novo entendimento estimula o afeto entre os seus membros e
tem foco em sua estrutura nuclear (pai, mãe, filhos) e não nas relações ampliadas
de parentesco, como acontecia nos séculos anteriores. Deste modo, ao se valorizar
a relação familiar nuclear, a criança passa a ter mais atenção e importância, assim
como aumenta a preocupação a respeito de sua educação formal da qual a escola é
a maior encarregada.
E de acordo com Zilberman, (1985):
“É necessário ver a criança como um tipo de indivíduo que merece considerações especiais contendo-o no eixo a partir do qual se organiza a família cuja responsabilidade maior é permitir que seus filhos atinjam a idade adulta de maneira saudável e madura”.
Assim, a escola e a literatura passaram a andar juntas em uma dobradinha de
sucesso que vem evoluindo até os dias de hoje, porém o estágio inicial foi no
entendimento de que a criança necessitava de cuidados diversos dos adultos e que
sua formação deveria ter um caráter educativo. Este entendimento, embora fosse
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um avanço histórico e social, ainda se traduzia em livros que ainda se mostravam
distantes do objetivo de estimular o desenvolvimento infantil com o despertar da
imaginação e na criatividade.
A Literatura Infantil escrita só chega ao Brasil dois séculos depois de ter
surgido no continente europeu, aqui ainda prevalecia a tradição oral de contar
histórias. O autor Thales de Andrade é tido como precursor deste viés literário e o
grande “boom” da Literatura Infantil em território brasileiro acontece muito tempo
depois, através das histórias de Monteiro Lobato.
O conceito de literatura vem de um tempo longínquo, vem da Antiguidade
Clássica onde já se discutia se a sua natureza era utile (útil) ou dulce (lúdica).
A definição de Literatura Infantil é ainda muito questionada, como fica claro no
questionamento de Carlos Drummond de Andrade, onde:
“O gênero Literatura Infantil tem a meu ver existência duvidosa. Haverá música infantil? Pintura infantil? A partir de que ponto uma obra literária deixa de ser alimento para a alma de uma criança ou um jovem e se dirige ao espírito do adulto? Qual o bom livro para crianças que não seja lido com interesse pelo homem feito? (...) Observados alguns cuidados de linguagem e decência, a distinção preconceituosa se desfaz. Será a criança um ser à parte? Ou será a Literatura Infantil algo de mutilado, de reduzido, de desvitalizado – Porque coisa primária, fabricada na persuasão de que a imitação da infância é a própria infância?”
A questão, como se nota, é extensa e não conclusiva, porém não desejando
limitar sua definição mas apontar um entendimento apropria-se este trabalho do
conceito formulado pelo professor Lourenço Filho que diz: “Literatura Infantil é
linguagem carregada de significados até o máximo grau possível e dirigida ou não
às crianças, mas que responda às exigências que lhes são próprias”. (Lourenço
Filho, apud Goes,).
A amplitude do tema pode também ser vista nas palavras de Nelly Novaes
Coelho: "A literatura, e em especial a infantil, tem uma tarefa fundamental a cumprir
nesta sociedade em transformação: a de servir como agente de formação, seja no
espontâneo convívio leitor/livro, seja no diálogo leitor/texto estimulado pela escola"
A ponte entre ler e aprender, entre Literatura Infantil e Aprendizagem, tem
início em dois ambientes fundamentais para a criança: a casa e a escola, neste
trabalho o foco recai sobre a relação com o aprendizado formal, portanto, é com a
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ligação entre a influência das histórias, lidas, ouvidas, dramatizadas, e o
desenvolvimento do conhecimento e da aprendizagem escolar.
A solidificação desta ponte, o que vai possibilitar a segurança, a base sólida
desta construção, que servirá de caminho, de travessia de uma fase a outra da vida,
será a descoberta do que as histórias contam, sejam por escrito, oralmente ou ainda
nas dramatizações. A Literatura Infantil tem uma importância muito maior do que o
prazer e a alegria que são vivenciados ao experimentar, de várias formas, as
histórias, servindo também para uma efetiva iniciação das crianças para uma maior
complexidade da linguagem, das ideias, dos sentimentos e de valores. Deste modo
é inegável a função pedagógica da Literatura Infantil e seu valor para a
aprendizagem do aluno, desde o início da vida escolar e seguindo por toda sua
formação e refletindo-se depois desta.
Para um melhor entendimento da função essencial da Literatura Infantil, cita-
se Cecília Meireles (1990): “A literatura infantil não é como tantos supõem um
passatempo. É uma nutrição”
A importância da Literatura em geral e mais especificamente a Literatura
Infantil também pode ser vista em Coelho (2000):
Estamos com aqueles que dizem: sim a literatura, e em especial a infantil, tem uma tarefa fundamental a cumprir nesta sociedade em formação: a de servir como agente de formação, seja no espontâneo convívio leitor/ livro, seja no diálogo leitor/ texto estimulado pela escola... É ao livro à palavra escrita, que atribuímos à maior responsabilidade na formação da consciência de mundo das crianças e dos jovens.
Ler e ouvir histórias durante a infância e na Educação Infantil transforma
estas ações em um ato de aprendizagem, estimulando a criatividade, desenvolvendo
valores, aguçando a curiosidade e a imaginação, e possibilitando ao pequeno leitor
alcançar uma melhor qualidade em sua formação e uma interação entre as crianças
que visa uma integração no relacionamento social.
De acordo com Coelho (2000) vemos:
... a escola é, hoje, o espaço privilegiado, em que deverão ser lançadas as bases para a formação do indivíduo. E, nesse espaço, privilegiamos os estudos literários, pois, de maneira mais abrangente
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do que quaisquer outros, eles estimulam o exercício da mente; a percepção do real em suas múltiplas significações; a consciência do eu em relação ao outro; a leitura do mundo em seus vários níveis e, principalmente, dinamizam o estudo e conhecimento da língua, da expressão verbal significativa e consciente - condição sine qua non para a plena realidade do ser.
Segundo Abramovich (1997)
"(…) Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... escutá-las é o início da aprendizagem para ser leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo...".
Louis Paswels, apud Abramovich, (1994) entende que a criança ao ouvir o
que uma história conta consegue penetrar em tudo que ali está escrito como história
mas, segundo o autor, existe uma orelha detrás da orelha que conserva a
significação do conto e o revela muito mais tarde. Assim pode-se concluir que o
relato da história não fica somente na audição ou leitura das palavras, fixa-se na
mente da criança e tem o poder de fazer com que esta interprete e apreenda o
mundo social onde vive de maneira ativa e participativa.
Encerra-se este capítulo apontando, com base no que já foi dito e citado, para
a necessidade da introdução, pelos profissionais de Educação, na prática
pedagógica de uma Literatura Infantil de cunho formativo que, assim, contribua
contribui para o crescimento e a identificação pessoal da criança, possibilitando
àquele que está em processo de aprendizagem novas percepções e desperte a
criatividade e o convívio social que são elementos básicos fundamentais para a
formação da criança na atual sociedade brasileira.
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CAPÍTULO III
A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL PARA
APRENDIZAGEM
Ah! Tu, livro despretensioso, que, na sombra de uma prateleira, uma criança livremente descobriu, pelo qual se encantou, e, sem figuras, sem extravagâncias, esqueceu as horas, os companheiros, a merenda... tu, sim, és um livro infantil, e o teu prestígio será, na verdade, imortal.
Cecília Meireles
O contar histórias é imemorial, sendo possível que tenha surgido no momento
em que o homem sentiu vontade de comunicar a outro uma experiência vivida por
ele. A oralidade era a forma de manter viva a cultura, as tradições, os ensinamentos,
enfim, todo saber de um povo. Literatura e oralidade possuíam, portanto, uma
relação que podemos chamar de simbiótica.
As histórias são, assim, muito antigas mas é apenas no século XVII que a
Literatura Infantil surge como gênero; tal evento é consequência da consolidação da
escola e da família como instituições de um mundo em transformação. O século que
viria a seguir começa a entender a criança não como um pequeno adulto, mas
sendo diferente deste em suas necessidades e características que precisa ser
preparada para a fase adulta da vida. Neste século também surgiram os primeiros
livros dedicados às crianças, os exemplos de La Fontaine e Perrault continuam
sendo os melhores, e seus contos de fadas até hoje são conhecidos. Na sequencia
destes autores vieram, os também conhecidos desde então, com isto, muitos
autores foram surgindo, como Hans Christian Andersen e os irmãos Grimm. Na
literatura brasileira o destaque vai para Monteiro Lobato, até hoje tema de filmes,
programas, estudos etc.
Segundo os autores Lajolo & Zilbermann (2002) a partir desta época “... a
escola passa a habilitar as crianças para o consumo das obras impressas, servindo
como intermediária entre a criança e a sociedade de consumo”.
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Até meados do século passado os livros infantis possuíam um caráter ético e
didático por que seu objetivo era moldar as crianças para atender um modelo
pensado por adultos, a Literatura Infantil então procurava corresponder à estas
expectativas. As histórias não eram vistos, e nem elaboradas, como sendo algo que
podia causar prazer e alegria.
Olhando para trás pode-se ver que faz muito pouco tempo que a Literatura
Infantil emergiu, ou melhor, transformou-se e passa, então, a contribuir para a
educação das crianças abrangendo os mais variados temas em uma linguagem
acessível com a preocupação de estar formando pessoas e cidadãos. Pode-se,
então, afirmar que quanto mais cedo as crianças tiverem contato com os livros à
elas dedicados, e através da leitura ou da contação de histórias, se deliciar com
aventuras, magias, encantamentos, imaginando ora ser o cavaleiro e ora o homem
voador, maior será a probabilidade dela tornar-se leitor frequente quando adulto,
assim como adquirir para sua vivência cotidiana uma postura naturalmente crítica e
reflexiva.
De acordo com o pensamento teórico de Vigotsky (1992) estar próxima desta
vivência narrativa desde a mais tenra infância é fundamental para garantir o
desenvolvimento do seu pensamento lógico e criativo que, segundo o autor, andam
lado a lado “A imaginação é um momento totalmente necessário, inseparável do
pensamento realista”.
O capítulo seguinte responde às questões sobre a participação brasileira na
Literatura Infantil.
3.1. A LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA
Um país se faz com homens e livros
Monteiro Lobato
A primeira publicação infantil em território brasileiro aconteceu em 1808, com
o advento da Imprensa Régia, porém sendo os livros de então cópias traduzidas de
escritos europeus não entende-se este período como sendo o início da Literatura
Infantil no Brasil, esta viria acontecer no final do século XIX. A circulação das
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publicações nacionais eram, ainda, precárias e sem regularidade e eram as
portuguesas em maior número, só lentamente vieram as adaptações nacionais.
A nossa literatura para crianças tem início a partir do século XX, quando as
histórias realmente brasileiras – mitos, lendas, folclore - passa a ter espaço e ao
mesmo tempo há uma preocupação com a obra literária específica para o público
infantil e segundo Coelho (1991):
A literatura infantil praticamente não existia entre nós. Antes de Monteiro Lobato havia tão somente o conto com fundo folclórico. Nossos escritores extraíam dos vetustos fabulários o tema e a moralidade das engenhosas narrativas que deslumbraram e enterneceram as crianças das antigas gerações, desprezando, frequentemente, as lendas e tradições aparecidas aqui, para apanharem nas tradições europeias o assunto de suas historietas.
Monteiro Lobato revoluciona e cria um mercado, tanto editorial como de
público, ao escrever uma literatura totalmente voltada para crianças e com
marcantes personagens que eram reconhecidos em sua brasilidade, o que ainda
não havia acontecido no país. Porém, mesmo assim somente na década de 70 que
literatura voltada para crianças e jovens dá seu passo mais sólido mostrando que
não haveria retrocesso. Autores de sucesso como Ziraldo, Ruth Rocha e Ana Maria
Machado, que ainda são publicados atualmente, surgem trazendo novas histórias
que em maior abrangência de temas traziam aventuras, humor, suspense e crítica
social. Nos anos 80 a produção literária neste campo surge com uma tendência de
publicação de temas a respeito das relações sociais e do cotidiano, o realismo
avança embora o fantástico mantenha espaço e fãs. Eva Furnari, Pedro Bandeira,
Roniwalter Jatobá, Santuza Abras e Sylvia Orthof, fazem parte dessa geração. Dos
anos 80 para cá é crescente o número de autores que se dedicam à Literatura
Infantil, que também ganhou excelência em ilustração e apresentação.
Ao final deste breve resumo sobre a Literatura Infantil entende-se que, por ter
esclarecido sua importância e alcance, pode esta trabalho discorrer sobre as obras
literárias para crianças e sua relação com a escola e a aprendizagem.
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3.2. – LITERATURA INFANTIL E APRENDIZAGEM
Qual o papel dos contos de fadas na vida das crianças? Uma vez eu estava dando um curso de reciclagem para professores, quando uma professora me disse que não lia contos de fadas para os alunos dela porque eles eram de uma comunidade muito pobre e que aquelas histórias não tinham a nada a ver com a realidade dos meninos. Achei aquilo tão absurdo que na mesma hora respondi: Engraçado! Sabe que com a minha também não? Porque não moro em castelos, não convivo com reis nem com rainhas e menos ainda conheço uma bruxa má ou frequento florestas encantadas com lobos devoradores. Eu queria que aquela professora percebesse que o que ela tinha falado era muito absurdo, pois fantasia não tem classe social. Fantasia existe para quem quiser e souber vivê-la. Pois os contos de fada podem fazer muita criança, pobre ou rica, sonhar e imaginar mundos diferentes do seu, transformando sua realidade e levando aquela criança para outras terras, pra que ela conheça outras gentes e saiba sonhar com coisas novas.
A citação acima foi retirada de uma entrevista realizada com a escritora Anna
Claudia Ramos, e a partir dela é que este item será desenvolvido, pois a literatura
infantil não é ponte para o aprendizado, mas a vivência de sonhos que abrirão
portas e portais para um mundo a descobrir e aprender.
A participação das crianças na atividade da leitura (ouvindo, lendo,
interagindo) abre portas para que elas, desde cedo, elaborem suas experiências
associadas ao conhecimento lúdico e educativo do qual se apropriam, assim,
constroem seu próprio modelo ao vivenciar as diversas experiências e vão
encontrando um jeito próprio de exercitar e desenvolver a imaginação. As histórias
infantis, assim, são parte fundamental deste desenvolvimento, pois contribuem
acentuadamente para a capacidade de imaginar e criar.
Segundo Calvino (1991) a literatura é apontada como sendo “-“[...] criadora de
imagens é capaz de desenvolver a capacidade de imaginar, fantasiar e criar a partir
das imagens visíveis do texto”. E de acordo com Abramovich (1993) ouvir e ler
histórias “[...] é importante para a formação de qualquer criança. Escutá-las é o
inicio da aprendizagem para ser um leitor, e ser um leitor é ter um caminho
absolutamente infinito de descobertas e compreensão do mundo”.
No entendimento de Bettelhein (1980) a história deve prender a atenção da
criança despertando sua curiosidade e “´[...] enriquecer sua vida, estimular-lhe a
imaginação, ajudá-la a desenvolver seu intelecto e a tornar claras suas aspirações”.
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Concorda-se com os teóricos acima sobre a importância da vivência da leitura
infantil pelas crianças, leitura que direcionada é brincadeira, diversão, estímulo e
preparação emocional e intelectual que facilita todo o processo de aprendizado
formal do aluno e o prepara para a vida futura na fase adulta.
Entende-se que a escola é a instituição responsável pelo primeiro contato das
crianças com novos conhecimentos e saberes fora do círculo familiar; e no
entendimento de Soares (2004) é à ela que “a sociedade delega a responsabilidade
de prover as novas gerações das habilidades, conhecimentos, crenças, valores e
atitudes considerados essenciais à formação de todo e qualquer cidadão”
A história da Literatura Infantil é inerente à educação, pois é no ambiente
escolar que a grande maioria das crianças tem o contato inicial com os livros à elas
dedicados. Ainda de acordo com Soares (1999) “... não é possível ter escola sem ter
escolarização de conhecimentos, saberes, artes etc, afinal, o surgimento da escola
está indissociavelmente ligado à constituição de “saberes escolares”. O que aponta
a relação entre o processo de escolarização e a Literatura Infantil, pois esta é
apropriada pelas instituições de ensino como instrumento pedagógico e didático; o
livros infantis que são assim utilizados faz de sua própria literatura uma literatura
escolarizada.
A educação formal obtida através da frequência escolar mostra-se, portanto,
como espaço privilegiado onde são lançadas as sementes que uma vez fertilizadas,
certamente, abrirão os caminhos da aprendizagem. O suporte que a Literatura
Infantil proporciona, ao ser utilizada como instrumento pedagógico, é o que mais
alcança na mente da criança a percepção do real e do imaginário, além de trabalhar
um amplo conhecimento já que diversos são os livros e seus temas, além da
expressão verbal, escrita e falada. Deste modo o educador que trabalha com este
viés literário deve estar sempre atento para a sua função de mediador entre o aluno
em formação e a Literatura, que será meio de acessibilidade deste para o universo
do conhecimento e para uma melhor interação entre a criança e a sociedade em que
vive.
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A formação escolar da criança está intimamente ligada à cultura social em
que ela se enquadra, vivencia, pertence, assim, se a escola não referenda
praticamente o vínculo entre esta cultura e o livro a ser trabalhado em classe, pois
esta ponte não acontecendo o alunos não se reconhecerá na história e dela não vai
tirar proveito, já que a realidade representada não lhe diz respeito (AGUIAR, 1989).
A Literatura Infantil, em todos os seus desdobramentos pedagógicos,
envolvem as crianças e contribuem fundamentalmente para o desenvolvimento
afetivo e cognitivo, permitindo que a criança seja criança em seus sonhos,
imaginação e questionamentos.
Conclui-se que a Literatura Infantil, inserida em um contexto educacional,
deve ser apresentada e trabalhada sempre a partir da experiência socioeconômica e
cultural do seu público; a criança irá entender o texto proposto de acordo com seu
conhecimento prévio e com as influências que recebe e apreende dos universos por
onde transita, e também de acordo com o desenvolvimento cognitivo de cada uma.
Enfim, a escola é a instância privilegiada onde as crianças podem adquirir as
ferramentas necessárias para uma aprendizagem significativa, assim, ao ter
aguçada e estimulada suas habilidades de expressão, do livre pensar, do
questionar, sua criatividade, imaginação e próprias conclusões, a escola – como
espaço educacional amplo – está contribuindo com a formação da cidadania, pois ao
apreender tais conhecimentos específicos desenvolverá potencialidades que lhe
servirão de instrumentos para sua interação com o mundo, no presente e no futuro.
O papel do profissional de ensino é central, fundamental, na apresentação da
vasta produção, nacional ou não, de livros dedicados às crianças sendo estes
utilizados de formas diversas que vão da imaginação produzida pelas ilustrações,
leitura, ouvir histórias e ainda ver e representar histórias. O professor e a equipe
pedagógica deve relacionar faixa etária, gêneros, atividades aos livros que mais se
adequam. O aprender através da Literatura é constante e, ousa-se dizer, infinito.
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3.3 - O EDUCADOR
O educador tem um papel pedagógico fundamental em todas as etapas de do
desenvolvimento infantil, ao oferecer uma diversidade de elementos concretos ele
torna mais prazerosa e rica a imaginação da criança. O professor, portanto, é
responsável por dar aos alunos as condições necessárias, através de recursos
lúdicos e elementos concretos, para o desenvolvimento do imaginário infantil,
estimulando suas descobertas e conclusões.
Motivar os pequenos para a leitura é uma ação que está condicionada, ligada,
ao comportamento pedagógico do educador, pois há um abismo entre o profissional
da Educação que utiliza todos os recursos disponíveis para estimular o interesse dos
alunos e àquele que apenas lê o livro. Pode-se dizer, então, que o educador que
transforma o ato de ler em verdadeira aventura e emoção levando arte e educação
para a sala de aula.
A atividade da leitura não deve ser algo utilizado para fazer a criança se
acalmar ou como preenchimento de tempos vagos ou, ainda, porque as crianças
não podem sair porque o tempo está chuvoso. A hora da leitura deve ser uma
atividade única, com horário certo e local apropriado, sendo valorizada e tendo a
devida importância que tem na vida escolar infantil.
Ler e ouvir histórias tem consequências na aprendizagem infantil, já que
através da narrativa a criança expande seus conhecimentos entra em contato com
um novo universo, rico em imagens e palavras; o vocabulário aumenta e a própria
estrutura da história contada/lida - início, meio e fim – orienta os pequenos alunos a
organizar suas próprias narrativas.
O professor é também responsável pela mediação do conhecimento e, sendo
assim, precisa conhecer o material com que vai trabalhar, ou seja, deve dominar os
livros infantis que dispõe para aproveitar o máximo que ele oferece, adaptando o
vocabulário à capacidade de compreensão da faixa etária da classe ou, no caso da
criança ler sozinha poder oferecer o livro que melhor se adequa à ela, ou escolher
no acervo o livro com que irá trabalhar com toda a turma.
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A este profissional cabe escolher o livro infantil adequado ao contexto social
da criança e entender que este processo de aprendizagem de construção do
conhecimento através da Literatura Infantil é essencial e, portanto, deve-se levar em
consideração a estrutura da história, localizar a história no tempo e no espaço,
apresentar ao personagem e suas características, selecionar os pontos essenciais
da história, dar ênfase ao ponto culminante e, por fim chegar ao desfecho. O
momento em que se trabalha a Literatura Infantil, em suas diversas modalidades,
deve ser prazeroso e dar à criança a oportunidade de comparar ficção e realidade e
a narrativa com sua própria história.
De acordo com Ostetto (2000):
“É por meio de uma história que se podem descobrir outros lugares, outros tempos, outros jeitos de agir e de ser. Por isso o cotidiano educativo deve contemplar essa prática de contar histórias, aumentando muitos pontos para a vida humana”.
Deste modo as práticas pedagógicas devem somar prazer e aprendizagem,
transformando a experiência da leitura infantil em um mix de descobertas, ludicidade
e informações.
O educador, então, será o elo entre a criança, o mundo da imaginação e o
real desenvolvimento cognitivo. O universo literário não é linear, fixo, imutável, é um
mundo a descobrir que abre mil portas durante o caminho e ligam o aluno em
formação às infinitas possibilidades de expandir o conhecimento do qual professor e
o aluno apropriam-se continuamente. Ao trabalhar a Literatura Infantil no processo
de ensino-aprendizagem o professor está proporcionando às crianças diversão,
reflexão e ação no seu processo individual e único de aprender.
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CONCLUSÃO
As ideias desenvolvidas neste trabalho são indicações para futuras e novas
reflexões e apontam para a importância constante do debate e discussão sobre o
papel das produções literárias dirigidas ao público infantil e a contribuição que esta
literatura traz para o processo de aplicação e desenvolvimento da prática
pedagógica dentro das instituições de ensino.
A pesquisa confirmou o pressuposto base deste trabalho que, assim,
corrobora o apontamento sobre a importância das histórias infantis para o estímulo e
desenvolvimento da criança durante o processo de aprendizagem, pois no universo
escolar dirigido a este público-alvo a contação de histórias já é prática recorrente.
Observou-se e concluiu-se que a criança aumenta seu conhecimento sobre o mundo
ao ter contato frequente com a Literatura Infantil, suas histórias e personagens o que
permite o desenvolvimento cognitivo amplo e uma aprendizagem maior do que lhe é
apresentado durante a educação formal.
O uso lúdico do livro infantil cria intimidade com o objeto concreto, vence a
distância e incentiva a criatividade. A partir desta ação cotidiana na instituição de
ensino a criança estabelece relações entre ela e o outro, permitindo que o seu
pensamento, comportamento e ideias possam interagir com aquele grupo social
formado pelos colegas e profissionais da Educação. contar e ouvir as narrativas de
livros produzidos especialmente para elas é um estímulo constante no
desenvolvimento da criança, indo muito além de um simples momento de lazer ou
diversão, que permite o crescimento contínuo e das habilidades de comunicação e
expressão do pequeno aluno.
A criança estimulada ludicamente expressa melhor seus sentimentos e tende
a ter uma melhor convivência e relacionamento com o universo que a cerca. Brincar
é, portanto, fundamental e muito mais importante que uma grande porcentagem dos
adultos; a brincadeira influencia positivamente o desenvolvimento físico, mental e
social na fase da infância.
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Reporta-se a Coelho (2000), para afirmar que a Literatura Infantil torna
possível que as crianças tenham mais facilidade em todo processo de
aprendizagem, pois o ato de ler, escrever, refletir e concluir são intimamente ligados.
Deste modo entende-se a amplitude desta literatura específica, entendendo-a como
um fenômeno que lida com vários elementos e pode representar o mundo, o
homem, a vida, através da palavra e da imagem, unindo o real ao imaginário; a vida
prática e a mágica.
Muitos, então, são as variáveis que permitem a afirmação da importância de
utilizar a Literatura Infantil como suporte na prática escolar, pois esta desempenha o
papel de condução dos alunos à aprendizagem formal e informal, intra e extramuros
escolares, e, também à formação do futuro leitor.
Tão importante quanto a literatura infantil na aprendizagem da criança é o
papel do professor, do profissional da educação, que é elemento fundamental na
reflexão deste viés literário, sendo sua contribuição essencial para a formação de
leitores futuros. Sendo uma ferramenta pedagógica valorosa a literatura infantil deve
ser compreendida em sua real função e, para tal, é preciso um planejamento prévio
para adequar os livros às crianças em suas faixas etárias, interesses e
necessidades. Afirma-se, ainda, que a contribuição desta forma literária como
material pedagógico utilizado pelo educador, que atua como mediador entre o
conhecimento e a criança, é valiosa e enriquecedora tanto para a formação do aluno
como para a construção do adulto futuro que será.
Por fim, diz-se deste trabalho de pesquisa que o mesmo não pretende ser um
ponto final nessa história, ao contrário, se caracteriza como o início de novas
investigações e estudos que virão sobre o tema escolhido; mas deseja, sim, estar
contribuindo para somar na direção da transformação social da Educação através da
formação dos alunos da Educação Infantil.
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BIBLIOGRAFIA
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BENJAMIN, Walter. Reflexões: A criança, o brinquedo, a educação. São Paulo, Summus, 1984.
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PALO, Maria José e OLIVEIRA, Maria Rosa D. Literatura Infantil - Voz de Criança. São Paulo. Ática, 1986. SANTOS, Marli, dos Pires, (Org) Brinquedoteca, o Lúdico em diferentes contextos. Rio de Janeiro, Editora Vozes, 1997.
VELASCO, Gonçalves, Cacilda. Brincar o despertar psicomotor. Rio de Janeiro, Editora Sprint, 1996.
VYGOTSKY, Lev Semenovich. A Formação Social da Mente, São Paulo, Martins Fonte, 1999.
ZILBERMAN, Regina. A Literatura Infantil na Escola.. Global: São Paulo, 2003.
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ÍNDICE
CAPÍTULO I - O LÚDICO NO BRINCAR E NO APRENDER 11
1.1. O LÚDICO NO BRINCAR 11
1.1.1. Vamos brincar? 13
1.2. O LÚDICO NO APRENDER 14
1.2.1 Aprendizado lúdico e o papel do professor 16
CAPÍTULO II REVISÃO DE LITERATURA 18
CAPÍTULO III. A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA INFANTIL PARA
APRENDIZAGEM 23
3.1. ERA UMA VEZ... OU UM BREVE RELATO SOBRE A LITERATURA
INFANTIL. 24
3.2. A LITERATURA INFANTIL BRASILEIRA 26
3.3. – LITERATURA INFANTIL E APRENDIZAGEM 29
CONCLUSÃO 31
BIBLIOGRAFIA 33