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FACED - IPPEX

Ano.1 n.4 out./dez. 2011 ISSN 2236-9678

Diversidade de Saberes

Meditare

Revista Acadêmica dos Cursos de Graduação da FACED

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Conselho Consultivo

Antonio José AlvesEdite Natividade Nogueira

Fernando de Oliveira TeixeiraJadir Vilela de Souza ( In memorian)

Jadir Vilela de Souza JúniorLúcia Maria Fonseca Rodrigues

Maria Celeste Teixeira de OliveiraMarna Elizabete da Natividade Nogueira Lima

Funções dos Órgãos Administrativos da Revista Meditare

Coordenação: Jurandir Marques Silva JúniorVice-coordenação: Luiz Augusto de Lima Ávila Secretárias: Cássia Moreira Jardim e Sirlen Márcia Borges Tesouraria: Leandro Maia e Mônica Fischer Comunicação: Célio Faria e Márcio Zacarias Lara Diagramação: Eduardo Antônio Medeiros SouzaRevisão de texto: Luiz Augusto de Lima Ávila

Conselho Editorial

Sociedade Dom Bosco de Educação e Cultural LTDA Mantenedora de: Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis de Divinópolis; Faculdade Divinópolis e Faculdade de Arte e Design. Editoria: Instituto de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão. Conselho Editorial: Cássia Moreira Jardim – FACEDFrancys Gomes Freitas - FACEDJurandir Marques Silva Júnior - FACEDLeandro Maia – FACED Márcio Zacarias – FACED Mônica Fischer – FACED Neusa Gontijo da Fonseca Monteiro – FACED Arte- Final / Diagramação: Eduardo Antônio Medeiros SouzaRevisão: Luiz Augusto de Lima Ávila

Diretora Acadêmica: Arlita Maria da SilvaDiretor Administrativo: Célio Fraga da Fonseca

Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema de Biblioteca da SODBEC/FACED

Revista Mediare / Sociedade Dom Bosco de Educação e Cultura,Ltda: Instituto de Pós- Graduação, Pesquisa e Extensão, ano 1, n.4, out. 2011. Divinópolis: IPPEX, 2011.115 p.

Trimestral

ISSN: 2236-9678

1. Generalidades. 2. Períódico. I. Título. CDD – 000

Bibliotecária Responsável: Neusa Gontijo da Fonseca Monteiro CRB- 6 - 2243

Sociedade Dom Bosco de Educação e Cultura Ltda.Praça do Mercado, 191 – Centro – Divinópolis – Minas GeraisCep: 35500-048Tel:: (37) 3512-2000 – Biblioteca: (37) 3512-2015 Site: www.faced.br E-mail: [email protected] / [email protected]

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EDITORIAL

Revista MeditareRevista Eletrônica dos Cursos de Graduação e Pós-Graduação

A Revista Meditare – Revista Eletrônica dos cursos de graduação e pós-graduação da FACED tem, agora, o seu quarto número publicado, completando um ano de publicações trimestrais. Para nós, colaboradores da FACED, a publicação desta revista é motivo de orgulho e comprometimento com o ensino, a pesquisa e a extensão.

Porentenderqueoacessoadequadoeatualizadoàinformaçãotécnico-científicaéessen-cial ao desenvolvimento e considerando os problemas de distribuição e disseminação de periódicos impressos, a Revista Meditare – Revista Eletrônica dos cursos de graduação e pós-graduação, optou por se tornar um veículo de publicação eletrônico. Esperamos que nossa decisão seja do agrado de todos e que a facilidade da circulação permita com que nossa revista seja um veículo útil de divulgação dos estudos de diversos saberes.

O objetivo da comissão editorial é transformar a Revista Meditare- Revista Eletrônica dos cursos de graduação e pós-graduação em um periódico respeitado e conhecido nacional e interna-cionalmente.

Gostaríamos de agradecer aos colegas que muito gentilmente aceitaram nosso convite para participar do Conselho Editorial, respaldando a seriedade que buscamos para a Revista Meditare. Da mesma forma, agradecemos àqueles que atendem prontamente nossa chamada por colabo-ração e concordam, de modo desprendido, em apoiar nossa publicação. Esperamos sempre cor-responder ao apoio que nos é dado.

Sejam todos bem-vindos à Revista Meditare!

Coordenação Geral da Revista Meditare Revista Eletrônica dos cursos de graduação e pós-graduação.

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SUMÁRIO

A ARTE COMO INSTRUMENTO DE INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL: contribuições sociais na perspectiva familiar dos participantes do Projeto Familiarte no município de Abaeté, MG Raquel Cristina Costa Linda Maira dos Santos Nunes 8

A IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE DO RISCO NO ESTUDO DE VIABILIDADE ECONÔMICA DE PROJETOS Wellington Luiz Teixeira Troglio 20

A OBRA AUTOBIOGRÁFICA DE LEONILSON: O REAL COMO ARTIFÍCIO E O ARTIFÍCIO COMO REAL Clícia Ferreira Machado 39

A SUBJETIVIDADE NA CONTEMPORANEIDADE: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE A UTILIZAÇÃO DOS GRUPOS DE APRENDIZAGEM COMO METODOLOGIA DE ENSINO, SOB A LUZ DA TEORIA DOS VÍNCULOS. Jean Ferreira Assunção Juliana Luzia de Almeida Assunção Gilma Generoso Moura 45

AS CONDIÇÕES DE MERCADO PODEM LEVAR A APLICAÇÃO DO CÓDIGO DO CONSUMIDOR AOS CONTRATOS TÍPICOS? Edgar Gastón Jacobs Flores Filho. Mariana Sousa Faria. 53

ESTADO, SOCIEDADE E MERCADO. INTERAÇÕES E REFLEXOS SOCIAIS. Elizabeth Guimarães Machado 65

REDES EMPRESARIAIS DE COOPERAÇÃO: ESTUDO DE CASO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE CERÂMICA VERMELHA DE IGARATINGA-MG Autoria: Leonardo Mól de Araújo 92

NORMAS EDITORIAIS PARA A PUBLICAÇÃO DE TRABALHOS 114

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A ARTE COMO INSTRUMENTO DE INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL: contribuições sociais na perspectiva familiar dos participantes do Projeto Familiarte no município

de Abaeté, MG

Raquel Cristina Costa1

Linda Maira dos Santos Nunes2

RESUMO

Este trabalho refere–se a uma pesquisa de conclusão de curso, ao qual discutiu o trabalho de um assistente social dentro de um projeto que envolve a arte como intervenção do serviço social. Ob-jetivou- se analisar quais as contribuições sociais que o Projeto Familiarte proporcionou na vida das crianças e dos adolescentes moradores do município de Abaeté, MG, sobre a ótica da família. Alémdapesquisabibliográficaedocumentalfoinecessárioametodologiaquantitativaeaqualita-tiva. E para tratamento e analise dos dados, utilizou–se a triangulação dos mesmos, conectando: entrevista semi estruturada, observação e diário de campo. Os resultados da pesquisa mostram que o trabalho desenvolvido pelo assistente social usando a arte como instrumento contribuiu para mudanças de comportamento dos envolvidos no projeto, no que se refere ao relacionamento inter-pessoal, responsabilidade e a autoestima.

Palavras Chaves: Serviço Social. Projeto Familiarte. Arte.

ABSTRACT

This research discusses the work of social workers in a project that involves art as social services intervention with families living in a disadvantaged community. Its objective was to examine what the social contributions that provided the Project Familiarte the lives of children and adolescents liv-ing in the city of Abaeté, MG, about the perspective of the family. For the construction of this work were consulted bibliographies and laws related to the theme. To further the theme was carried out fieldworkinthecommunitywheretheprojectisdevelopedFamiliarte.Weusedthesemistructuredinterview to collect the data, in order to meet the project objectives and to know which social con-tributions that it has brought to those involved. The results show that the work done by social work-ers using art as an instrument contributed to changes in behavior of children and adolescents with regard to interpersonal relationships, responsibility and self-esteem assists in education.

Keywords: Social Service. Project Familiarte. Art.

INTRODUÇÃO

Este artigo discorre sobre o uso da arte como forma de intervenção do serviço social entre crianças e adolescentes em uma comunidade carente no município de Abaeté Minas Gerais (MG). TemcomofinalidadeanalisarquaisascontribuiçõessociaisqueoprojetoFamiliarteproporcionouna vida das crianças e dos adolescentes moradores do Bairro da Cerâmica no município de Abaeté, MG, sobre a ótica da família. O interesse em falar sobre o tema serviço social e arte surgiu da curiosidade em saber como que a arte pode trazer mudanças e contribuições sociais a partir do trabalho desenvolvido pelo as-sistente social, coordenador e professor musical do projeto Familiarte. Este projeto utiliza a arte, maisespecificamenteamúsica,comoinstrumentoparaintervirentrecriançaseadolescentescomcondições de vulnerabilidade social desta comunidade. Trabalhar com essas crianças e adoles-centes vai ao encontro à proposta do serviço social, que trabalha com a complexidade da questão social, em que o objetivo é de inclusão, cidadania, respeito, à defesa intransigente das pessoas que 1 Assistente social graduada em 2010 pela FACED. [email protected] Assistente social professora Ms da FACED [email protected]

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vivem a margem de uma sociedade capitalista, vivenciando situações de riscos e vulnerabilidades sociais. Neste sentido, a arte é um instrumental, pois trabalha o ser em sua totalidade e contribui para a prática do assistente social como mecanismo de interpretação da realidade social e, a partir disso, intervir nas expressões da questão social, além de ser considerada um elemento educa-cional e cultural fundamental na vida social do ser humano. Serviço Social: aspectos históricos, éticos e metodológicos

Hoje,oserviçosocialéumaprofissãovoltadaparafunçõesdecunhointeiramentesocial,comprometida com a classe trabalhadora, e tem como objeto de intervenção as manifestações da questão social. De acordo com Carlos Montaño (2007), existem duas teses que fundamentam a natureza doserviçosocial.Elemencionaautoresqueacreditamnateoriadaevoluçãoeprofissionalizaçãodasformasanterioresdeajuda,caridadeoufilantropiaqueagoraestãovinculadasàquestãosocialeautoresquediscordamdestateoriaeacreditamnaformaçãodeumaprofissãoqueemergepormeio dos projetos políticos econômicos da classe burguesa. Balbina Ottoni Vieira (1985) acredita que o serviço social como intervenção do homem no mundo só foi reconhecido no século XX, mas que a idéia de ajudar ao próximo existe deste o surgi-mentodosprimeiroshomensnaTerra.AautoramencionaqueparaentenderaprofissãodehojeéprecisoentenderasformasdecaridadeefilantropiadopassadoequeoexercíciodacaridadeestábaseadoemfazerobemporamoraDeuseoexercíciodafilantropiaéumaquestãodeética,fazero bem por amor aos homens. Montaño(2007)consideraomarcodonascimentodaprofissão ligadaaumaperspectivahistórico-crítica, em um contexto marcado pelas lutas de classes, em torno de projetos sociais an-tagônicos, na etapa monopolista do capitalismo. Consegue-se ver aqui a particularidade do serviço social, inserida e construtiva de uma “totalidade” num determinado contexto histórico. Entende-se o surgimentodaprofissãovinculadoaumaordemsocioeconômicadeterminadapelaclassehegem-ônica e detentora do capitalismo monopolista. Martinelli (2000) também atribui a existência do serviço social relacionada com o proces-so do desenvolvimento do capitalismo e suas conseqüências, ao passo que a base do modo de produção capitalista está associada à exploração da mão de obra (grande jornada de trabalho), à baixa remuneração e à manutenção do trabalhador sempre alienado, para este nunca contestar as barbaridades sofridas pela classe dominante. Um aspecto determinante para a manutenção do capitalismo é o exército industrial de reserva, pois, com um número grande de pessoas desem-pregadas,vivendonamisériaepassando fome,ficamais fácilparaesses indivíduosaceitaremqualquer oferta de trabalho. NestaperspectivaNettoeBrazafirmamque

(...) os capitalistas valem-se da existência desse contingente de desempregados para pressionar para baixo os salários; aliás, os próprios capitalistas dispõem de meios para força do desemprego (entre outros, o aumento da jornada de trabalho e o emprego de crianças). (NETTO; BRAZ, 2006, p. 132.)

Nesteaspecto,Martinelli(2000)afirmaqueaclasseburguesa,diantedasquestõessocial3 e política por meio do Estado, cria formas de assistência capazes de ganhar aceitação da classe trabalhadora, e ao mesmo tempo manter esta última sempre sobre o controle da primeira. A preo-cupação da classe burguesa em conter o avanço do movimento operário fez com que ela recor-resse ao Estado e o mobilizou para incorporar a prática da assistência social em suas estruturas. Contudo, Martinelli e Montaño compartilham da mesma opinião, quanto ao surgimento do serviçosocialcomoprofissão,cujafunçãonasociedadeéaexecuçãoterminaldaspolíticassociaise legitima a ordem do capital, que tem como base a lógica de acumulação, maximizando a produ-3 Conforme Netto (2006, p. 104), “(…) a questão social deve ser entendida como um conjunto de problemáticas sociais políticas e econômicas que se geram com o surgimento da classe operária dentro da sociedade capitalista”.

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tividade do trabalhador e a redução da força de trabalho. Para mudar o comportamento de uma prática tradicionalista conservadora na manutenção dosistemacapitalista,foinecessárioqueserviçosocialreconceitua-seaprofissão.Sóapartirdeentão que se rompeu com o viés tradicional e conservador e passou a agir de acordo com interesse da classe trabalhadora. É nesse período que se deu início aos novos ideais da categoria, que se constituiu no surgi-mentodoprojetoprofissional,denominadodeprojetoético-político4, que por sua vez se vincula ao projetosocietárioedefineparater-secomoreferênciaasaçõesético-políticas.

O projeto ético-político tem em seu núcleo o reconhecimento da liberdade como valor ético central – a liberdade concebida historicamente, como possibilidade de escolha entre alternativas concretas; daí um compromisso com a autonomia, a emancipação eaplenaexpansãodosindivíduossociais.Consequentemente,oprojetoprofissionalvincula-se a um projeto societário que propõe a construção de uma nova ordem so-cial, sem dominação e/ou exploração de classe, etnia e gênero. (NETTO, 1999, p. 104–105.)

OCódigodeÉticaeasDiretrizesCurricularessãoexpressõesdesseprojetoprofis-sional reno¬vado, crítico e que aponta para a superação da ordem societária capi-talista,estabelecen¬domediaçõesparaoexercíciodaprofissão.(BRASIL,2009.)

De acordo com Mendes, Nogueira e Couto (2001), surgiu a necessidade do aprimoramento daprofissãopara romper-secomsuasantigaspráticas,e foiapartirdessanecessidadequeoserviço social acumulou uma grande bagagem de conhecimentos metodológicos pelas pesquisas relacionadas aos processos sociais. Assim sendo, o processo de ruptura com a teoria política quad-rante do tradicionalismo só se tornou possível a partir do arsenal de conhecimentos conquistados pelos assistentes sociais. Para Mendes, Nogueira e Couto (2001) foi também por meio do código de ética que os as-sistentes sociais adquiriram democraticamente seus direitos e deveres para nortearem-se em suas açõesprofissionais. O que se percebe, de acordo com os autores e o código, é que, ao longo deste processo, semudamasfeiçõesdoserviçosocial,tornado-seumaprofissãomaisbemqualificadagraçasaoseu aprimoramento intelectual, reconhecida e legitimada socialmente e que tem por interesse o compromisso com a classe trabalhadora, no que se refere à equidade, à liberdade, à democracia, ao direito e à justiça social. Nãosópelocódigodeéticaoassistentesocialemseuexercícioprofissionalsenorteia,mastambém pala Lei n.o 8.662/1993, que foi sugerida pela Comissão de Orientação e Fiscalização doConselhoFederaldeServiçoSocial(CFESS),nointuitodeaprimorar,fortalecerequalificarotrabalhodoassistentesocialedosagentesfiscais,alémdefornecersubsídiosparaaaçãoprofis-sional e fonte teórica para as indagações que emergem no cotidiano (BRASIL, 2009).

Estenovopatamarlegaltrouxeàfiscalizaçãoprofissionalpossibilidadesmaiscon-cretasdeintervenção,poisdefiniacommaiorprecisãoascompetênciaseatribuiçõesprivativas do(a) assistente social, delineando, portanto, o seu campo de atuação ( BRASIL, 2009, p. 1–2.)

Taislegislaçõesregulamentamoexercícioprofissionaledaoutrasprovidencias,queservecomo uma orientação de conduta, para uma melhor atuação perante os usuários. Iamamoto (2008) assim como autores citados a cima, atribui a atuação do assistente social relacionadaàquestãosocialeàssuasmúltiplasrefrações,eestasnecessitamda“açãoprofissionaljunto à criança, ao adolescente, ao idoso, a situação de violência contra a mulher, a luta pela terra etc.” (IAMAMOTO, 2008, p. 62). A intervenção nas expressões da questão social é de competên-4 O projeto ético-político iniciou-se nos anos de 1970 e teve seu marco no III CBAS, na cidade de São Paulo, quando exon-erou da mesa de abertura oficiais da ditadura e os substituiu por trabalhadores. Este congresso ficou conhecido como o Congresso da Virada e o projeto ético-político avançou pelos anos 80 e consolidou-se nos anos de 1990.

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cia do assistente social, mas elas só se tornam possíveis de acontecer porque, de acordo com Iamamoto (2008), o assistente social em sua formação acadêmica aprende a fazer uma análise dasociedade,doindivíduoedocontextosocial;nestecasoaprofissionalpesquisaestecontextosocial, pois ele é seu objeto de trabalho e ao conhecer este objeto é possível que haja mudanças na realidade social. SouzaeAzeredo(2004)afirmamqueoassistentesocialaoagirnocotidianosocialdemon-strasuaspráticas,açõesecompetênciasaoatingirsuasfinalidades.Competeaesteprofissionalno seu exercício ter uma atitude crítica além de ética, sem discriminação, sem preconceitos ou juízo de valores, com o objetivo de socializar informações a respeito dos direitos sociais. É de acordo com essas atitudes tomadas pelos assistentes sociais que se impedem em sua prática ações con-servadoras e inativas.

Não basta fazermos a incorporação de conteúdos teóricos se não soubermos, de forma concreta, direcionar política e eticamente ações para o alcance dos objetivos desejados. Surgem aqui elementos diversos, que devem ser considerados como talento e criatividade, tanto do ponto de vista da análise que devem ser feitas, como dos resultados advindos da prática cotidiana. (SOUZA; AZEREDO, 2004, p. 53.)

Dessaforma,deacordocomasautorasépossívelcriarnovascompetênciasprofissionaisemsuaatividadeprofissional,para intervirnocotidianoeassimconseguirobternovossentidoshumanitários, voltados para as ações do coletivo e sempre se baseando na ética e na Lei n.o 8.662/1993,queregulamentaaprofissãodoserviçosocial.E,afinal,éembasadonestaleiqueoassistentesocialexercelegalmentesuaprofissão. É seguindo esses parâmetros e usando a criatividade que o assistente social do Familiarte procura trabalhar, pois é por meio da música que ele intervém no cotidiano da comunidade, trabal-handodeformapropositiva,nosentidodeampliaroshorizontesdapopulaçãobeneficiada,semdeixardeatenderosrequisitosinternosdaprofissão,criandoinstrumentosquefomentemoatendi-mento ético – político da categoria, que preconiza as mudanças sociais, empoderando os sujeitos, tornando responsáveis pela própria solução desses problemas. Tais ações que são desenvolvidas pelo assistente social no projeto são portadoras da instru-mentalidade,aopassoque,aoutilizaraartenasuapráticaprofissionalcomomeioouinstrumento,é porque por meio dela é possível chegar a uma transformação social e cultural. Ainstrumentalidadeéacapacidadeoupropriedadequeaprofissãoadquireaolongodesuahistória à medida que seus objetivos vão sendo realizados. É por meio destas capacidades que o assistente social adquire novas formas de intervir em determinada realidade social para alterá-la, transformá-laemodificá-lanoseucotidianoprofissional.Aorealizartaismodificações,vãosurgindonovas estratégias, ou seja, novos meios e instrumentos capazes de alcançar os objetivos alme-jados pelo assistente social.

Namedida em que os profissionais utilizam, criam e adequam às condições ex-istentes, transformando-as em meios/instrumentos para objetivação das intencionali-dades, suas ações são portadoras de instrumentalidade. (GUERRA, 2008, p. 47.)

Guerra(2000)afirmaqueépormeiodainstrumentalidadequesepercebeaformadeoperardaprofissão,suascompetênciaseosdiversosespaçossócio-ocupacionaisemqueaprofissãopodeatuar.ParaCostaeNicolau(2008,p.3)“Abasedainstrumentalidadeestánaformaçãoprofis-sional, de acordo com as dimensões práticas – formativas do Serviço Social”. Segundo as autoras, a instrumentalidade começa a ser formada na academia em seus com-ponentes curriculares, mas, além disso, os estudantes podem ir mais adiante com as atividades extracurriculares, que também contribuem na formação da instrumentalidade. Écomoprevêocódigodeéticaprofissionalemseusprincípiosfundamentais.“Comprom-isso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectivadacompetênciaprofissional”(BRASIL,1997,p.18). Deste modo percebe-se que a instrumentalidade do serviço social se dá tanto pela sua for-

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maçãosócio-histórica,tantopelaformaçãodoconhecimentoquantonapráticaprofissional.

Desenvolvendo a essência da arte

DeacordocomZolberg(2006),nãosetemaocertoumconceitodefinidodearte,aopassoque a arte pode ser considerada como as belas artes5 ou pode ser simplesmente considerada como umartesanato,ouartepopular.OautorafirmaqueoconceitodeartenoOcidenteestásempremudando, pois sempre há uma nova reivindicação de inclusão da arte. Desta maneira o conceito de arte é subjetivo, pois varia de acordo com a cultura a ser anal-isada, período histórico ou até mesmo indivíduo em questão. DeacordocomoFerreira(2004),apalavraartetemváriossignificados:

1. Capacidade ou atividade humana de criação plástica ou musical; 2. artes plásticas; 3. os preceitos necessários à execução de qualquer arte; 4. Habilidade, engenho; 5. ofício (em especial nas artes manuais); 6. maneira, modo; 7. travessura; 8. arte de vanguarda. A que apresenta inovações ousadas, opondo-se aos padrões artísticos convencionais. Arte dramática. O teatro. Arte marcial. Repertório de técnicas e exer-cícios corporais para defesa e ataque. Arte poética (...). (FERREIRA, 2004)

Zolberg (2006)afirmaque,antes,asobrasdeartesóeramconsideradasgrandiosassefossem feitas por artistas que tivessem passado por treinamento em algum tipo de instituição, sobre ojulgodosjuízesoficiais,queconsideravamatécnica,conteúdoeatradição.Estefatocomeçaaser mudado à medida que as instituições artísticas começam a mudar no século XIX, quando as instituições, de forma geral, sofrem transformações. Alguns artistas preferiram, ao contrário de óleo sobre tela, manipular objetos achados, ou tocar a música fora de instrumentos convencionais. É o caso, por exemplo, do Projeto Familiarte, em que as crianças e os adolescentes criam seu próprio instrumento de percussão com latas vazias de tintas para tocar. Esta arte é considerada como arte marginal6, pois ela não se enquadra nos padrões das academias artísticas. E depois de formado esteconceitoedeváriosataquesnosignificadodearte,quasetudopodeserapresentadosobforma de arte. De acordo com Buoro (2001), o homem como ser biológico é indissociável de suas especi-ficidadespsicológicas,sociaiseculturais,eestassempreestiverampresentesnavidadohomem,e é por meio delas que o homem se relaciona com o mundo e com a natureza, adquirindo, assim, meios de sobrevivência e desenvolvimento. Neste sentido, a arte, como linguagem, interpretação e representação do mundo, faz parte deste processo. Buoro(2001)afirmaqueaarteéuminstrumentodemuitaimportânciaparaodesenvolvi-mento da consciência humana, porque proporciona o contato consigo mesmo e com o mundo. Assim sendo, a arte é uma forma de entender-se o contexto em que se vive e ao mesmo tempo de relacionar-se com ele. Esta dinâmica é muito importante, uma vez que conhecer o meio é básico para a sobrevivência do homem e representar este meio é um modo de ampliar o saber. Já Fischer (1979) diz que a arte, além de trazer o prazer, a alegria e a distração, ela também possibilita ao homem reconhecer e transformar a realidade social. Bertolt Brecht, citado por Fischer (1979), ressalta que neste mundo alienado em que se vive a realidade social deve ser mostrada e o teatro é uma forma de mostrar tal realidade das con-tradiçõesdomundocapitalista.Destamaneiraelefalaqueaplatéiaaoidentificar-secomaobradeve apossar-se dela de maneira a requerer ação e decisão. Gilberto Gil (2005) destaca uma visão interessante a este respeito, dizendo que:

(...) é preciso ver a cultura, como algo essencial e não apenas como um vaso de

5 Podem ser consideradas como belas-artes aquelas que são certificadas por aclamação oficial, pela aceitação de museus, pelo alto preço resultante da escassez ou singularidade das obras, pela atração exercida sobre um público limitado ou exclusivo, pelo desinteresse dos criadores (a obra de arte com um fim em si mesmo) e pela complexidade do conteúdo e da textura.6 A expressão arte marginal foi cunhada pelo crítico de arte Roger Cardinal em 1972, transladando ao inglês o conceito de art brut, concebido pelo artista francês Jean Dubuffet; dirigia-se especialmente para as manifestações artísticas levadas a cabo por pacientes de hospitais psiquiátricos. Disponível em: <HTTP://pt.wikilinque.com/es/arte marginal>. Acesso em: 15 out. 2010.

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floresqueornamentaolazerdaelite.Trate-sedeumpropulsordodesenvolvimentodo país. De um fator de diferenciação e competição. Um instrumento de transfor-mação e compreensão do mundo. Que merece ser encarado como prioridade gov-ernamental e individual e como canal de diálogo vital entre pessoas e instituições. (GIL, apud VERONEZE, 2009, p. 187.)

Mattos (2006) atribui a carência vivenciada pelos jovens de periferia à falta de recursos matérias e culturais. Ela diz que a carências destes recursos fazem com que os jovens se sintam excluídos da sociedade e com a autoestima baixa.Mattos(2006)aindaafirmaque:

Percebe-seumadificuldadedeinserçãosocialdessejovemcarentenanossasocie-dade, contudo ele estabelece uma relação com a arte, tornado se mais crítico e sua visão de mundo se diferencia, auxiliando-o a manter uma relação com a sociedade de forma construtiva e cidadã. Este contato com a arte permite uma valorização de si mesmo e do grupo que o cerca, contribuindo para o equilíbrio de sua estima. Por meio da arte o indivíduo entra em contato com seu eu, aprende a se conhecer melhor e desperta o sentimento de valorização de si e do outro. Essa experiência permite que o jovem forme outros conhecimentos para sua formação de indivíduo, promov-endo condições de inclusão, criando espaços para a apropriação do saber, assim fortalecendo a identidade sociocultural. (MATTOS, 2006, p. 24.)

Desta forma o encontro com a arte é um meio de descobrir outras formas de conhecimento, e este por sua vez auxilia a pessoa a ter uma visão mais questionadora e crítica da sociedade em que está inserido. Também a arte é uma forma de inclusão, pois, a partir do momento em que o indivíduo obtém o conhecimento, passa a ter outras visões de mundo e novas perspectivas de vida; assim este jovem está tendo a oportunidade de aprender e a exercer sua cidadania. É nesta perspectivaqueaprofissãodoserviçosocialpodeutilizaraartecomouminstrumentoparaobterainclusão, a cidadania e a educação. De acordo com Veroneze (2009), o serviço social está empenhado em ampliar e aprimorar formas diferentes de intervenção, mas desde que atenda aos seus requisitos internos e tenha um compromissoético-político,poisoserviçosocialtemnosdiasatuaiscomodesafioromperdefiniti-vamente com o conservadorismo e a submissão. Prates(1998)afirmaque:

Buscaralternativascriativaseeficazesparaumnovofazerprofissional,deformaater uma concepção da realidade e dos sujeitos sociais que a constituem e por ela são constituídos como unidade dialética, pressupõem um novo olhar, um novo tra-tar,utilizando–sedeinstrumentaiseficientesquerespondamasdemandasatuais.(PRATES, apud VERONEZE, p. 182.)

Veroneze(2009)afirma tambémqueaarte trazsubsídiosparaqueoassistentesocialautilizecomoinstrumentoinvestigativoedereflexãoparacompreenderealterarumadeterminadarealidade social de uma comunidade. A presença e a articulação do assistente social nesses es-paços são indispensáveis para estabelecer todo um processo de resgate da cidadania e convivên-cia social.

Assim, uma das ações do assistente social é a busca de fomento de políticas públicas culturais que preencham as lacunas existentes para a universalização dos direitos, principalmente, e tem como compromisso ético-político, preservar as class-es subalternizadas da ignorância cultural. (VERONEZE, 2009, p. 188.)

Assimsendo,Santos(2008)afirmaqueprojetosculturaiseartísticossãoconsideradoscomopolítica de inclusão cultural e esta pode ajudar indivíduos e principalmente os jovens excluídos a não mais se tornarem excluídos, ao passo que estes jovens têm sido motivos com frequência de

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tantas interrupções de vida na sociedade.

Para o assistente social, trata-se de um novo caminho que se constrói e favorece o caráter emancipatório presente no projeto ético-político da categoria e a defesa dos princípiosnorteadoresdaéticaprofissionaldoserviçosocial.(SANTOS,2008,p.5.)

Paraaautoraousodaartecomomediaçãoserveparaseterumaintervençãoqualificadana realidade social e no enfrentamento das expressões da questão social.

Projeto Familiarte

A pesquisa de campo foi realizada no local em que é desenvolvido o Projeto Familiarte, que se localiza no município de Abaeté, MG, e atende adolescentes moradores do Bairro Cerâmica. Participavam do projeto vinte famílias, o que corresponde a 25 crianças participantes das atividades disponibilizadas pelo Projeto Familiarte. Mas destas conseguiu-se entrevistar dez; per-fazendo um total de 10%. Todas as entrevistas foram respondidas pelas mães das crianças e dos adolescentes. Foi também entrevistado o assistente social que coordena o projeto e ao mesmo tempo é o seu professor musical. O Projeto Familiarte surgiu no ano de 1997, em Caratinga, MG, com a ideia inicial de implan-tação de um campo de estágio para os alunos do curso de serviço social, uma vez que o estágio é etapa obrigatória no processo de formação do assistente social, segundo as Diretrizes Curriculares do Curso. Além de contemplar o aspecto legal para o funcionamento do curso o projeto visa tam-bém a cumprir com a responsabilidade social. O projeto já foi executado em várias cidades, como Montes Claros, Janaúba e agora em Abaeté. O Familiarte é um projeto que intervém em uma comunidade, vulnerável economica, social e culturalmente; ele conta com a parceria da Escola Estadual Irmã Maria de Lourdes, visando ao entrosamento do serviço social com a comunidade. Trata-se de um grupo musical com 25 crianças e adolescentes na faixa etária de dez a catorze anos inseridas ou evadidas da escola parceira. A formação deste grupo dá-se a partir das aulas musicais ministradas pelo próprio assistente social, que acredita na transformação por meio da música. Paralelamente às aulas de música, são ministradas aulas temáticas, visando a despertar uma formação crítica quanto à música e a com-preender a realidade que os cerca, entendendo que, muito mais que a música, o projeto contribui para a preparação dessas crianças e desses adolescentes para o exercício da plena cidadania. O projeto contempla também a intervenção social entre as famílias com o objetivo de acom-panhar a vida escolar e familiar das crianças e dos adolescentes, bem como socializar informações na perspectiva de garantias de direitos, para que todos possam exercer plenamente sua cidada-nia. Quanto aos critérios estabelecidos para a entrada dos alunos no projeto, são indicados pelo setor pedagógico da escola e geralmente são alunos pouco frequentes, com problemas de disci-plina ou baixo aproveitamento escolar. Para a realização dos encontros são usados instrumentos de percussão feitos de material reciclável, como latas e baldes, que são fabricados pelos próprios participantes. É utilizada uma sala, com TV, DVD e equipamentos de som cedidos pela própria escola, para a realização das ativi-dades. Em relação aos recursos humanos, é utilizado o trabalho do assistente social e estagiários do curso de serviço social. O projeto funciona por meio de parcerias entre a Fundação Educacional de Divinópolis e Universidade de Minas Gerais (Funedi/Uemg) e a Prefeitura Municipal de Abaeté, MG.

Crianças/adolescentesbeneficiados:perfilsocioeconômicoecultural

O que se observou por meio da pesquisa realizada é que das dez famílias entrevistadas, oito moramemcasaprópriaeduasmoramemcasafinanciada,oquecorrespondea80%defamíliasquepossuemcasaprópriaea20%quemoramemcasafinanciada.Quantoaocupaçãocinco

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pessoas trabalham como doméstica, duas pessoas trabalham como vendedores no comércio, três exercem o ofício de pedreiro, uma pessoa é funcionário público, uma trabalha no lava-jato, outra trabalha na britadeira e uma trabalha na creche. De acordo com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) (2010), para suprir as necessidades ditas na Constituição federal, o salário mínimo deve-ria ser nos dias atuais de R$ 2.047,58, que corresponde em média a quatro salários. E a família considerada para viver dignamente com esta renda é de duas pessoas adultas e duas crianças, sendo que estas consomem o equivalente a um adulto. Veja-se a seguir a tabela de composição familiar das entrevistadas, para visualizar esta questão.

TABELA 1Composição e renda familiar

Fonte: Dados da pesquisa

De acordo com os dados tabulados referentes à renda familiar, observa-se que três famílias ganham em média de R$ 510,00 a R$ 775,00, quatro famílias ganham de R$ 840,00 a R$ 940,00 e outras três famílias ganham de R$ 1.150,00 a R$ 2.230,00. Os dados coletados mostram que, das dez famílias, apenas 10% ganham R$ 2.230, que se enquadram na estatística do Dieese. No que se refere ao grau de escolaridade de cada componente familiar e, num total de 46 pessoas, quinze possuem o ensino básico, vinte possuem o ensino fundamental e onze possuem o ensino médio. Pode-se concluir que a maioria das pessoas possui uma baixa escolaridade.

Percepção da família acerca do Projeto Familiarte

Quando questionada a opinião da família sobre o que despertou o interesse na criança ou adolescente em participar do projeto, obteve-se a informação de que 10% das famílias respond-eram que foi por meio de convite dos amigos outros 10% das famílias responderam que foi para buscaralgodiferente;eamaioria,quecorrespondea80%,afirmouqueseusfilhosparticipamdoprojeto por causa do interesse pela música. Koellreutter,citadoporLouro(2009),afirmaqueutilizaramúsicacomoprocessoeducativoé um meio de desenvolver a concentração, autodisciplina, capacidade analítica, desembaraço, au-toconfiança,criatividade,sensocrítico,memória,sensibilidadeevaloresqualitativos. É neste sentido que o assistente social desenvolve seu trabalho no Projeto Familiarte, quan-do ele usa desses benefícios que a música proporciona, e quando a utiliza como prática educativa. A música torna-se um instrumento desta prática, o qual permite trabalhar questões pertinentes à cidadania, que, de acordo com Guerra,

(...)namedidaemqueosprofissionaisutilizam,criam,adequamàscondiçõesex-istentes, transformando-as em meios/instrumentos para a objetivação das intencion-alidades, suas ações são portadoras de instrumentalidade. (GUERRA, 2008, p. 47.)

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Guerra(2000)tambémafirmaqueépormeiodainstrumentalidadequesepercebeaformadeoperardaprofissão,suascompetênciaseosdiversosespaçossócio-ocupacionaisemqueaprofissãopodeatuar.Nestesentidooassistentesocialexercesuascompetênciasbaseadasnoparágrafo 2.º da Lei n.º 8.662/1993, que diz respeito a “elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil’’, e no parágrafo 3.º, que diz “encaminhar providências, prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população” (BRASIL, 1997). No que se refere à questão se a criança/adolescente gosta de participar das atividades reali-zadasnoprojeto,todasasmãesafirmaramquesimequeestelhesfazmuitobem,poisnobairronãoháopçõesdelazerequeseusfilhosaprendemmuitocomoAssistentesocial..

Gráficon.º5–OProjetoFamiliarteparaafamília

Fonte: Dados da pesquisa

Sobre a importância do Projeto Familiarte para as famílias, 50% responderam que ele auxilia na educação; 30% responderam que o projeto é uma ocupação para o menor no sentido de evitar o contato com as drogas; e 20% não sabem explicar o que é o Projeto Familiarte para a família. O que se percebe neste sentido é que esses 30% também se pode incluir na educação de um modo mais amplo, ao passo que um dos objetivos do Projeto Familiarte é de trabalhar com os menores além da arte, assuntos que perpassam seu cotidiano como, por exemplo, o uso das dro-gas, o respeito, a solidariedade e outros. O assistente social, neste caso, desempenha uma função pedagógica no conjunto Cerâmica comosendoumaintervençãoprofissionalconsideradapráticaeducativa.

Contribuições/mudanças em relação aos relacionamentos familiares e sociais

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Gráficon.º6–ContribuiçõesdoprojetoFonte: Dados da pesquisa

Quando questionadas quais as contribuições que o Projeto Familiarte trouxe para as pos-síveis mudanças na dinâmica familiar, 10% das famílias relataram não ter observado contribuições nocomportamentodascriançasedosadolescentes.Perfazendoumsignificativopercentual,90%das famílias constataram relativas mudanças no comportamento das crianças e dos adolescentes depois da participação destes no projeto. De acordo com Barbosa, citado por Mattos (2006), quando se produz algo importante que podetrazermodificações,ojovementraemcontatocomseuinteriorebuscaládentroumamoti-vação e uma perspectiva de futuro. Dos 90% que observaram mudanças na dinâmica familiar, 20% relataram que houve mu-dança em relação à autoestima do menor. Para Tessari:

Aautoestimaéacapacidadequeumapessoatemdeconfiaremsiprópria,desesentir capazdepoderenfrentarosdesafiosdavida, é saberexpressarde formaadequada para si e para os outros as próprias necessidades e desejos, é ter amor próprio.Abaixaautoestimageraansiedade,medo,depressão, fobias,enfim,umasérie de outros problemas. (TESSARI, 2009.)

A entrevistada n.º 1 disse:

Meufilhoestámaiscontroladoemocionalmente;eramuitoemotivoechoravacomfacilidade. Hoje está mais feliz, mais respeitoso em casa, está mais responsável com a família e com os estudos.

A entrevistada n.º 2 relatou que:

Meufilhoeramuitotímido,masamúsicaoajudouamelhorarnadesenvoltura.Oqueele não dava conta de fazer antes que era tocar para seus colegas de escola hoje já consegue.

Para Mattos (2006), ao fazer arte, o jovem experimenta e representa suas vocações, for-talece sua autoestima e desenvolve sua criatividade. Ao fazer e fruir a arte, o jovem pode buscar equilíbrio para uma sustentação psicológica que tanto necessita nesta fase. E 40% falaram que a mudança veio por meio da responsabilidade. Todas as mães que observaramamudançapormeiodaresponsabilidade;afirmaramqueseusfilhosficarammaisre-sponsáveisnoqueserefereàquestãoescolar,poisoprofessortemumafilosofiadetrabalhoqueé acompanhar a vida escolar dos menores. A entrevistada n.º 3 disse:

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Minhafilhaestámaisresponsáveleamávelcomsuasirmãs,seinteressamaispe-los estudos pós-escola e está mais concentrada quando está em alguma atividade; antes ela era muito dispersa.

A entrevistada n.º 6 relatou que:

Depoisquemeusfilhoscomeçaramaparticipardoprojetoelesficarammaisrespon-sáveis com dever de casa e tiveram mais respeito com os colegas e irmãos, pois antes eles brigavam muito.

E 30% das entrevistadas observaram mudanças no relacionamento interpessoal. Mattos (2006) considera que o envolvimento com o grupo e a valorização de sua atividade artística podem ajudar a pessoa a sentir-se mais segura nas relações familiares e nas relações interpessoai

Consideraçõesfinais

A realização desta estudo proporcionou compreender que é possível a utilização da arte como um instrumento de intervenção do serviço social e obter resultados a partir disso. Este en-tendimento só foi possível depois da pesquisa realizada no Projeto Familiarte no município de Aba-eté,MG,quandoseverificaramasmudançasecontribuiçõesqueascriançaseosadolescentesobtiveram depois da participação no projeto, sobre a ótica da família. Quanto ao interesse das crianças e dos adolescentes em participarem do projeto a maioria interessava-se pela música e gostava de participar do Familiarte, porque este proporcionava mo-mentos de lazer. Pode-se considerar que para a maioria das famílias o projeto auxiliava na educação de seus filhos. Quanto ao trabalho do assistente social, pôde-se constatar que este era positivo e trazia muitos benefícios, contribuições por meio da música, das dinâmicas, das palestras para aqueles criançaseadolescentesdoBairrodaCerâmica,poisficouaveriguadoqueascriançaseosadoles-centes amadureceram em seus relacionamentos interpessoais, aprenderam a respeitar o próximo, além de ter contribuído com a sua autoestima. Observou-se também que o projeto era uma forma de lazer e, assim sendo, contribuía também para o desenvolvimento do pensamento criativo, da co-ordenação motora por meio da percussão, regras de convivências como, por exemplo, o respeito. Seguindo este mesmo raciocínio, pôde-se notar que a música assim como o lazer proporcionava benefíciosquetraziamautoconfiança,memória,disciplina,sensocrítico,bemcomoainclusãodes-sas crianças e adolescentes. Estapesquisacontribuiuparaaformaçãoprofissionaldasautorasdesteestudo,aumentan-do seus conhecimentos teóricos, oportunizando rever a questão dos instrumentos que são usados napráticaprofissionalecontribuiuparaumnovoolharsobreofazerprofissional,umfazerdiferente,paraquenãofiqueumtrabalhorotineiro,corriqueiro,executivoesubmisso,conformeBravo(2007)aborda em seus escritos.. Este trabalhonãoseencerraporaqui,porqueoconhecimentoé infinitoe,apartirdestapesquisa, pretende-se ampliá-la, dando início a novos estudos e trabalhos, no intuito de averiguar porqueaarteétãopoucousadanaprofissãodoserviçosocial,sendoquetrabalharcomaarteépossívelfazerintervençõesqualificadasnasmanifestaçõesdaquestãosociale,apartirdisso,obter resultados concretos e positivos, que atenda as demandas sociais da atualidade e adquirir mudanças e contribuições. Referências

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A IMPORTÂNCIA DA ANÁLISE DO RISCO NO ESTUDO DE VIABILIDADE ECONÔMICA DE PROJETOS

WELLINGTONLUIZTEIXEIRATROGLIO

RESUMO

As empresas estão atuando em um mercado globalizado cuja competição está cada vez mais acir-rada, com clientes mais informados e exigentes, o que exige de seus gestores decisões acertadas sobre novos investimentos. A dinâmica ambiental torna projeções de longo prazo bastante insegu-ras,eaelaboraçãodeumfluxodecaixafuturoparaumaempresaérepletodeincertezas.Nestecenário é que o presente trabalho busca descrever de forma objetiva as principais técnicas de avaliação de viabilidade econômica em projetos de investimentos considerando seu risco. Foi reali-zadaumapesquisabibliográficasobreosprincipaismétodosdeanálisedeinvestimentosesobreaanálise de riscos, destacando três técnicas de análise de viabilidade econômica em condições de risco: análise de sensibilidade, análise de cenários e a simulação de Monte Carlo. A utilização de métodos de análise do risco em estudos de viabilidade econômica é de suma importância para os gestoresfinanceirosetomadoresdedecisão,poisépossívelverificarcomoosresultadosdaem-presa são afetados frente a essas incertezas. Tais métodos permitem que se tenha uma medida do riscodoprojeto,oqueminimizaasincertezasemaximizaaqualidadedasdecisõesfinanceiras.

PALAVRAS – CHAVE: Risco. Viabilidade Econômica. Análise de Sensibilidade. Probabilidade.

ABSTRACT

Thecompaniesareoperatinginaglobalmarketwherecompetitionisincreasinglyfierce,withmoreinformed and demanding customers, requiring their managers informed decisions about new invest-ments. The dynamic environment makes long-term projections very uncertain, and the elaboration ofafuturecashflowforabusinessisfraughtwithuncertainty.Thisscenarioisthatthisworkseeksto objectively describe the main techniques for evaluating the economic feasibility of investment projectsconsideringtheirrisk.Weperformedaliteraturesearchonthemainmethodsofinvestmentanalysis and risk analysis, focusing on three techniques for analysis of economic feasibility in terms of risk: sensitivity analysis, scenario analysis and Monte Carlo simulation. The use of methods of riskanalysis infeasibilitystudies isofparamount importancetofinancialmanagersanddecisionmakers, because you can see how the company’s results are affected face these uncertainties. These methods allow us to have a measure of project risk, which minimizes uncertainty and maxi-mizesthequalityoffinancialdecisions.

KEYWORDS:Risk.EconomicViability.SensitivityAnalysis.Probability.

1 INTRODUÇÃO

A análise de viabilidade econômica em projetos de investimentos tem sido uma preocupação constante do empresariado. Nenhuma empresa ou organização pode assumir riscos que não tenha condições de “bancar” ou que porventura afetem o negócio. Conhecer os tipos de riscos e projetá-los no tempo é indispensável para evitar situações adversas no futuro. A ordem atual, de mundo globalizado e integrado, exige do empreendedor decisões freqüentes sobre novos investimentos. Há uma imposição para contínuas alterações nas empresas, seja no processo produtivo, seja na necessidade de renovação tecnológica, para atingir uma melhor com-petitividadeeinserçãooumanutençãonestemercadoglobalizado.Osucessodogestorfinanceiroé avaliado pela maximização da riqueza dos proprietários das empresas sendo imperiosa a at-ençãoàssinalizaçõesdaeconomiaeadoçãodeferramentascadavezmaiseficientesparaanálise

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e controle de risco associado a estes novos projetos. A avaliação de projetos de investimento geralmente envolve um conjunto de técnicas que buscam estabelecer parâmetros de sua viabilidade. Comumente estes parâmetros são expressos pelo Payback (período de retorno do investimento inicial), da TIR (taxa interna de retorno), ou do ValorPresenteLíquido(VPL–resultadodosfluxosdecaixadescontadosadatazeropelocustodecapital do projeto e subtraído o investimento inicial). Porémpoucassãoasconsiderações formaissobreos riscosqueenvolvemosfluxosdecaixa de um projeto. A dinâmica ambiental torna projeções de longo prazo bastante inseguras. É comum utilizar-se de um horizonte de cerca de três a cinco anos quando da elaboração do orça-mento empresarial. A partir da receita provável de vendas, a organização elabora os orçamentos de produção, compras, e dos custos e despesas para os anos vindouros. Acontece que a elaboração deumfluxodecaixafuturoparaumaempresaérepletodeincertezas,devidoàinexistênciadevaloresplenamenteconfiáveis. Independentemente do seu porte e do setor, uma avaliação de um projeto de investimento leva, muitas vezes, à tomada de decisões em ambiente de incerteza. Os métodos tradicionais baseiam-se na análise de dados ou indicadores determinísticos, em poucos cenários, como Valor Presente Líquido - VPL, Taxa Interna de Retorno – TIR, Payback, entre outros. No entanto, sabe-se que a realidade pode não ser bem captada por esses indicadores. Isto quer dizer, a complexidade easincertezasdomercadodificultamaavaliaçãodaeficiênciadeumprojeto. O VPL, quando adotado como parâmetro de decisão, por exemplo, avalia apenas os valores dereceitaecustoinseridosnofluxodecaixa,semquehajaumtratamentomatemáticomaissofisti-cado para as possíveis variações, seja na receita, seja nos custos. Atualmente, existem técnicas de simulação bastante exploradas nas áreas de gerenciamento de risco, mas pouco difundidas entre os gerentes de projetos. As incertezas nos projetos são muitas e minimizá-las é uma tarefa que poucos gerentes sabem. Neste contexto, as técnicas de simulação surgem como importante ferramenta para prever e minimizar incertezas de custos e tempo de projetos. Como alternativa, o Método de Monte Carlo pode ser utilizado largamente na avaliação de projetos, onde os riscos envolvidos podem ser ex-pressos de forma simples e de fácil leitura, e as simulações auxiliam a decisão. Assim, os indica-dores deixam de ser determinísticos e passam a ser estocásticos, probabilísticos. Conhecer bem os cenários e os riscos, assim como as alternativas, foi necessário sempre que o homem precisou tomar decisões. Segundo Martins e Assaf Neto (1985), a realidade das empresas é bastante complexa, pois está basicamente voltada para o futuro. Nesse ambiente, a introdução de variável de risco no objeto da análise de investimentos de projetos comerciais e industriais é necessária. Quando o VPL é adotado como parâmetro de decisão, o tratamento matemático formal en-volve a determinação do valor médio e de sua variabilidade (ou risco, expresso sob a forma de desviopadrão)calculadosavalorpresentedosfluxosdecaixadesteprojeto.Seimaginarmosquecadafluxodecaixapodeserconsiderado resultantedeumconjuntode fatoresde risco (comopreços praticados, quantidades vendidas, custos e despesas), o tratamento matemático conven-cional seria muito complexo e, portanto quase impossível visto que boa parte dos tomadores de decisão ou analistas de projetos não teria condições de realizá-los. Oproblemapropostopelotrabalhovisaforneceraosgestoresfinanceirosetomadoresdedecisão, ferramentas adequadas de análise de viabilidade econômica que contemple os riscos in-erentes ao projeto estudado. Portanto o objetivo principal deste trabalho versa sobre a importância da análise do risco no estudo de viabilidade econômica. Comoobjetivosespecíficosdescrevem-sesobreosprincipaismétodosdeanálisedevia-bilidade econômica, como Payback Simples e Descontado, Taxa de Retorno do Payback, Valor PresenteLíquido-VPL,TaxaInternadeRetorno-TIR,TaxaInternadeRetornoModificada(MIRR),Custo Anual Equivalente – CAE e Índice de Lucratividade (IL). Comparam-se os principais métodos deanálisedeinvestimentos(VPL,TIReCAE)destacandoseuspontosfortesefracos.Definem-se então os vários tipos de risco que permeiam a análise de viabilidade econômica. Propõem-se

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métodos para prever e minimizar as incertezas existentes nos projetos de investimento. Ametodologiautilizada foiapesquisabibliográficaourevisãobibliográfica(muitocomumemtrabalhosmonográficos),poisestetrabalhofocaoimpactoeaimportânciadorisconaanálisede viabilidade econômica com base em referências teóricas publicadas em livros, revistas, artigos científicos,dissertaçõeseoutros.

2 MÉTODOS DE ANÁLISE DE VIABILIDADE ECONÔMICA

Aanálisedeviabilidadeeconômicaconsisteemdefinirtãoprecisamentequantopossível,al-ternativas de investimento e prever suas conseqüências, reduzidas a termos monetários, elegendo-se um instante de referência temporal e considerando o valor do dinheiro no tempo. Para Gitman (2007) o orçamento de capital é um processo de avaliação e seleção de inves-timentos de longo prazo compatíveis com o objetivo de maximização da riqueza do proprietário da empresa. Ainda segundo Gitman (1997, p. 326) existem várias técnicas para se realizar estas anális-es. As abordagens preferidas integram conceitos de valor do dinheiro no tempo, considerações de risco e retorno e conceitos de avaliação. A atividade de investir em novos ativos é que determina o Orçamento de Capital e envolve o planejamentodosinvestimentosdecapitaleadeterminaçãodosfinanciamentosdessassaídas. Provavelmente, o fator que mais afeta a lucratividade de um negócio é a qualidade das de-cisõesgerenciaisqueenvolvemocomprometimentodosrecursosdafirmaemnovosinvestimen-tos. SegundoBrighameEhrhardt(2007)orçamentoéumplanoquedetalhaosfluxosdecaixaprojetados durante algum período futuro, e orçamento de capital é uma descrição dos investimentos planejados em ativos operacionais, e o processo de orçamento de capital é o processo completo de análise de projetos e de decisão de quais projetos incluir no orçamento de capital. Segundo Motta e Calôba (2002) a análise de investimentos busca por meio de técnicas avançadas,utilizandoaEstatística,MatemáticaFinanceirae Informática,umasoluçãoeficientepara uma decisão compensadora. Portanto é necessário o domínio de vários indicadores para es-truturar um modelo que forneça resultados otimizados. Aseguirdescrevem-seosprincipaismétodosutilizadosparaclassificarosprojetosedecidirse eles devem ou não ser aceitos.

2.1 Payback Simples

BrighameEhrhardt(2007)definemoperíododepaybackcomoonúmeroesperadodeanosrequeridos para recuperar o investimento original. Foi o primeiro método formal utilizado para av-aliar projetos de orçamento de capital. Segundo Motta e Calôba (2002, p.97), o payback ou payout é utilizado como referência para julgar a atratividade relativa das opções de investimento. Deve ser encarado com reservas, apenas como um indicador, não servindo para seleção de alternativas de investimento. Assaf Neto (2005, p.305) também contribui com este limitado método quando diz que o período de payback, de aplicação bastante generalizada na prática, consiste na determinação do tempo necessário para que o dispêndio de capital (valor do investimento) seja recuperado por meio dosbenefíciosincrementaislíquidosdecaixa(fluxosdecaixa)promovidospeloinvestimento. De acordo com Gitman (1997, p.327), “o período de payback é o período de tempo exato necessário para a empresa recuperar seu investimento inicial em um projeto, a partir das entradas de caixa”. Para Motta e Calôba (2002, p.98) “o payback de uma série uniforme pode ser calculado de forma simples, pela razão entre investimentos e receitas”.

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Parasecalcularoperíododepaybackcomfluxosdecaixanãouniformesondeasentradasousaídasdecaixasãoirregulares,faz-seofluxodecaixaacumulativo,ouseja,soma-seofluxodecaixapontualdecadaanocomoresultadodofluxocumulativodosanosanteriores.Afraçãonoperíododepaybackéobtidaatravésdeanálisegráfica(semelhançadetriângulos)oupormeioderegra de três. Entre alternativas de vários projetos de investimentos, baseado no período de payback sim-ples, escolhe-se o que tiver o menor período, ou seja, aquele que apresentar o retorno do capital investido em um menor tempo possível. Uma grande desvantagem deste método é o fato de não considerar o valor do dinheiro no tempo (juros) e também a rentabilidade dos projetos. Motta e Calôba (2002) acrescentam um conceito no período de payback que é a taxa de retorno do payback, sendo calculada pela seguinte fórmula:

2.2 Payback Descontado

Visandocontornararestriçãodovalordodinheironotempoécomumaintroduçãodofluxode caixa descontado no método do período de payback (Assaf Neto 2005). A forma proposta é a atualização por meio de uma taxa de desconto que leve em consideração o valor do dinheiro no tempo,dosváriosfluxosdecaixaparaomomentoinicial,econfrontaresteresultadolíquidocomovalor do investimento. O payback descontado vai depender da taxa de desconto considerada, ou seja, o período de tempo necessário ao repagamento do investimento será em função da taxa de desconto adotada. ParaBrighameEhrhardt (2007,p.505-506)operíododepaybackdescontadoédefinidocomoonúmerodeanosnecessáriospararecuperaroinvestimentodosfluxosdecaixalíquidosdescontados. Segundo Motta e Calôba (2002, p.105) o payback descontado pode ser obtido pela fórmu-la:

Onde: FCC(t)éovaloratualdocapital,ouseja,ofluxodecaixadescontado(paraovalorpresente)cumulativo até o instante t; I é o investimento inicial (em módulo), ou seja, -I é o valor algébrico do investimento, locali-zado no instante 0 (início do primeiro período); Rj é a receita proveniente do ano j; Cj é o custo proveniente do ano j; i é a taxa de juros empregada; j é o índice genérico que representa os períodos j = 1 a t. Cadafluxodecaixadeveráserdescontado,ouseja,divididopor(1+0,1) j, onde j é o ano deocorrênciadessefluxo.Umavezfazendoestedescontoparatodaatabela,osvaloresdosfluxosdevemsersomados,sendoassimofluxodecaixacumulativodescontadonoanotasomadetodososfluxosdecaixade0at,descontadospelataxaempregada.Quando ocorrer FCC (t) = 0, t é o Payback Descontado, com t inteiro. Se ocorrer FCC (t) < 0 em j -1 e FCC (t) > 0 em j interpola-se para determinar um t fracionário. Isto é alcançado fazendo a

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análisegráficaeutilizandoasemelhançadetriângulos,ousimplesmenteutilizandoaregradetrêssimples,conformeutilizadonocálculodepaybackparafluxosdecaixairregularescomentadoan-teriormente. Estataxadedescontopodeserobtidamedianteainflaçãooucustodeoportunidadedaem-presa,tornandoocálculodopaybackdescontadomaisprecisoeconfiável. SegundoAssafNeto(2005,p.309)mesmodescontandoosfluxosdecaixadoprojeto,opay-back descontado não leva em consideração o que ocorre após seu período, caracterizando uma deficiênciaconsiderávelnaanálisedeviabilidadeeconômica. BrighameEhrhardt(2007)tambémapontamadeficiênciadestemétodoemignorarosfluxosde caixa que são pagos ou recebidos após o período de payback. Mas advertem que, apesar dessa deficiência,estemétodoproporcionainformaçõessobrequantotempoosfundosficarãoretidosemumprojeto,evidenciandoaliquidezdomesmo.Alémdisso,comoosfluxosdecaixaesperadosnofuturodistantesãomaisarriscadosqueosfluxosdecaixadecurtoprazo,opayback,muitasvezes,é utilizado como um indicador de risco do projeto.

2.3 Valor Presente Líquido (NPV)

À medida que as falhas no período de payback foram sendo encontradas, as pessoas começaramabuscarmaneirasdemelhoraraeficiêncianaavaliaçãodeprojetos.Umadelaséométododovalorpresentelíquido(NPV),quedependedastécnicasdefluxodecaixadescontado(Brigham e Ehrhardt – 2007).Para Gitman (1997, p.329), por considerar explicitamente o valor do dinheiro no tempo, o valor pre-sentelíquidoéconsideradoumatécnicasofisticadadeanálisedeorçamentodecapital.

Esse tipode técnica, deuma formaoudeoutra, descontaos fluxosde caixadaempresaaumataxaespecificada.Essataxa,freqüentementechamadadetaxadedesconto, custo de oportunidade ou custo de capital, refere-se ao retorno mínimo que deve ser obtido por um projeto, de forma a manter inalterado o valor de mercado da empresa.

SegundoMottaeCalôba(2002,p.106),ovalorpresentelíquidopodeserdefinidocomo“OValorPresenteLíquidoDescontadoéasomaalgébricadetodososfluxosdecaixadescontadospara o instante presente ( t = 0 ), a uma taxa de juros i”. Para Penido (2008, p.239 e 240) o método do valor presente líquido (VPL) é uma técnica de análisesdefluxodecaixaquecomparaovalorpresentedosresultadosdeuminvestimentocomopróprio valor investido. Portanto o VPL calcula o lucro ou prejuízo de um negócio em valores atuais, considerando uma taxa mínima de atratividade. Segundo Bruni e Famá (2008, p.378) o método do valor presente representa os recebimen-tos futuros trazidos e somados na data zero, subtraído do investimento inicial – sendo assim, um valor presente líquido do investimento inicial. Para Assaf Neto (2005, p.319) a medida do valor presente líquido é obtida pela diferença entre o valor presente dos benefícios líquidos de caixa, previstos para cada período do horizonte de duração do projeto, e o valor presente do investimento (desembolso de caixa).A fórmula para o cálculo do Valor Presente Líquido é:

Onde: VPL é o valor presente líquido descontado a uma taxa i; i é a taxa de desconto (essa taxa pode ser o custo de capital ou custo de oportunidade); jéoperíodogenérico(j=0aj=n),percorrendotodoofluxodecaixa; FCjéumfluxogenéricoparat=(0...n)quepodeserpositivo(receita)ounegativo(custo);

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I é o investimento inicial do projeto.

Para Gitman (1997, p.329), utilizando-se o VPL, tanto as entradas como as saídas de caixa são traduzidas para valores monetários atuais. Já que estamos tratando de investimentos conven-cionais, o investimento inicial está automaticamente expresso em termos monetários atuais. Se não for esse o caso, o VPL de um projeto deverá ser obtido subtraindo-se o valor presente das saídas do valor presente das entradas de caixa. Para se tomar decisões utilizando o VPL, com duas alternativas A e B, adota-se: Se VPL A > VPL B, A é dominante em relação a B; Se VPL A< VPL B, B é dominante em relação a A; Se VPL A = VPL B, as alternativas são equivalentes.

Caso haja mais de duas alternativas, escolher-se-á o de maior VPL. Para se tomar decisões utilizando o VPL, com apenas uma alternativa, dada uma taxa de desconto i, adota-se:

Se VPL > 0, a alternativa é viável economicamente, Se VPL < 0, a alternativa é inviável economicamente, Se VPL = 0, é indiferente investir ou não, mas ela ainda é viável economicamente, pois não trará prejuízo. Segundo Motta e Calôba (2002) o que deve ser ressaltado no cálculo do VPL é a rentabili-dade do investimento. O valor presente líquido descontado a uma taxa i compara o investimento purodetodoocapitalaessataxaiearentabilidadedofluxodecaixaprojetado.Dessaforma,ovalor presente líquido corresponderá ao excedente de capital em relação ao que se encontraria investindo o dinheiro a i% por período. É isso que está implícito ao se dizer, para uma só alternativa que ela será viável economica-menteseVPL≥0.

2.4 Taxa interna de retorno (TIR)

Penido(2008,p.249)defineaTIRcomosendoataxaefetivadedescontoqueigualaazerooVPL de um projeto de investimento. Continua dizendo que a TIR é amplamente utilizada no mundo paradeterminarocustoefetivodeoperaçõesfinanceiras.Comestemétodopode-sesaberqualataxaefetivaqueestáembutidanosnegóciosqueenvolvemfluxosdecaixavariáveis. SegundoBrighameEhrhardt (2007)a taxa internaderetornoédefinidacomoa taxadedesconto que iguala o valor presente das entradas de caixa esperadas de um projeto ao valor pre-sente dos custos desse projeto. DeacordocomGitman(1997,p.330)ataxainternaderetornoédefinidacomo:

“...a taxa de desconto que iguala o valor presente das entradas de caixa ao investi-mento inicial referente a um projeto. A TIR, em outras palavras, é a taxa de desconto que faz com que o VPL de uma oportunidade de investimento iguala-se a zero (já que o valor presente das entradas de caixa é igual ao investimento inicial).

Para Motta e Calôba (2002) a TIR é um índice relativo que mede a rentabilidade do inves-timento por unidade de tempo, necessitando para isso, que haja receitas envolvidas, assim como investimentos. Penido (2008) informa que a TIR só pode ser obtida através de dois processos:• Atravésdeprogramasdisponíveisemcalculadorasfinanceiras,Excelouprogramasespecí-ficos;• Peloprocessointerativo(“tentativaeerro”)seguidodeinterpolaçãolinear.

Segundo Hazzan e Pompeo (1994, p.98 e 99) o cálculo da taxa interna de retorno consiste em achar a taxa de juros, dado um conjunto de capitais C0 ,C1, C2, C3, ...Cn nas datas 0, 1, 2, 3,

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...n que equivale a um valor presente V. Basicamente, o problema consiste em achar o valor de i tal que:

Vi

Ci

Ci

Ci

CC nn =

++

++

++

++

)1(......

)1()1()1( 33

2

21

10

Será necessário resolvermos uma equação polinomial de grau n e, em geral, isto não pode ser feito por métodos clássicos (em geral, essas equações não têm fórmula resolutiva). O que ver-emos é um método aproximado de resolução. Assim, transpondo V para o 1º membro e chamando P(i) o 1º membro, teremos:

Observemos que:a) P(i) é uma função contínua de i, para valores positivos de i, pois é uma função racional;

b) P(i) é uma função estritamente decrescente de i (para i positivo), pois a derivada P’(i) é sempre negativa. De fato,

e,como(1+i)2,(1+ i)3, ...(1+ i)n+1sãoparcelaspositivas(bemcomoC1,C2,C3,...,Cn),segue-se que:

c) P(0)=C0+C1+C2+C3+...+Cn–V.ComoemgeralC0+C1+C2+C3+...+Cn>V,segue-se que:

Logo,ográficodeP(i)interceptaoeixoynumpontoacimadaorigem

d) Quandoitendeparaoinfinito,P(i)tendepara(C0–V),pois

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e, portanto,

ComoemgeralC0<V,entãoC0–V<0e,conseqüentemente,ográficodeP(i)temcomoassíntota a reta horizontal C = C0 – V. Resumindooquevimos,podemosconcluirqueoaspectodográficodafunçãoP(i)é:

Opontoondeográficocruzaoeixoxtemabscissai*,eP(i*)=0.Portantoi*éataxainternade retorno. Araizi*daequaçãoP(i)=0podeserobtidaatribuindo-sevaloressucessivosaiatéqueP(i)se torne negativo. De posse desse valor de i e o imediatamente inferior, procede-se uma interpolação linear paradeterminarovalordei*.Talprocedimentopodeserrepetidováriasvezesatéqueseatinjaumaboa aproximação. Segundo Gitman (1997, p.330) a taxa interna de retorno, apesar de ser consideravelmente maisdifícildecalcularàmãodoqueoVPL,épossivelmenteatécnicasofisticadamaisusadaparaavaliação de investimentos. Conforme foi deduzido, a fórmula matemática da TIR é:

∑=

−+

=n

tt

t ITIR

FC1 )1(

0$

Onde:

FCtéumfluxodecaixaqualquer,genéricoparat=1an; TIR = taxa interna de retorno; I é o investimento inicial.

A tomada de decisão pela taxa interna de retorno (TIR), segundo Motta e Calôba (2002, p.119) é realizada comparando a TIR com outra taxa chamada taxa mínima de atratividade TMA, conforme segue:

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Se TIR > TMA o projeto é economicamente viável;Se TIR < TMA o projeto é economicamente inviável;Se TIR = TMA é indiferente investir os recursos no projeto A ou deixá-lo rendendo juros à taxa mínima de atratividade (desconsiderados os riscos do projeto). Considerando duas alternativas de investimento distinto A e B e ordenando-os pelo inves-timento inicial,domenorparaomaior,chama-sefluxodecaixadiferencialofluxodecaixaqueconsidera apenas as diferenças entre alternativas relevantes, cujo cálculo, segundo Motta e Calôba (2002), é obtido através da fórmula:

Depossedofluxodecaixadiferencial,calcula-seaTIRecompara-secomataxamínimadeatratividade – TMA – conforme mencionado anteriormente. Segundo Assaf Neto (2005, p.312) a TIR é válida desde que ocorra somente uma inversão desinaisnasequênciadosfluxosdecaixadoinvestimento,ouseja,desdequeopadrãodofluxodecaixasejadotipodefinidocomoconvencional.Noentanto,essemodeloconvencionalpoderánãoseverificarnaprática.Nestecaso,medianteaaplicaçãodocritériodaTIR,poderãoserencon-tradas três respostas:• Múltiplastaxasderetornoqueseigualam,emdeterminadomomento,asentradascomassaídas de caixa;• Umaúnicataxainternaderetorno;• Taxainternaderetornoindeterminada(nãohásolução). Para Mota e Calôba (2002, p.120) um projeto que apresente comportamento bem previsível, com investimentos no início de sua vida e receitas líquidas positivas ao longo de sua duração, não apresentará problemas na aplicação do método da TIR. AssafNeto(2005,p.315)afirmaqueaTIRsomenteseráverdadeirasetodososfluxosin-termediários de caixa forem reinvestidos à própria TIR calculada para o investimento. Não sendo possível o reinvestimento a essa taxa, o retorno esperado da decisão de investimento altera-se, podendoinclusivemodificarsuaatratividadeeconômica. Hoji (2007, p.184) aponta uma limitação do método da taxa interna de retorno quando con-sideraataxadejurosdaaplicaçãofinanceiraseramesmataxadofinanciamento. Uma sugestão geralmente adotada para esse pressuposto implícito do método da TIR é apurar-seaTaxaInternadeRetornoModificada(MIRR)quelevaemconsideraçãoemseucálculoastaxaspossíveisdereaplicaçãodosfluxosintermediáriosdecaixa. SegundoBrighameEhrhardt(2007,p.517e518)ataxainternaderetornomodificada(MIRR)édefinidacomosegue:

OFSCserefereaosfluxosdesaídadecaixa(númerosnegativos)ouocustodoprojeto.OFECcorrespondeaosfluxosdeentradasdecaixa(númerospositivos).Otermoàesquerdaésimplesmente o PV dos desembolsos do investimento quando descontados ao custo de capital, e o numerador do termo à direita é o valor capitalizado das entradas, pressupondo que as entradas de caixa sejam reinvestidas ao custo de capital. O valor capitalizado das entradas de caixa também é

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chamado Valor Terminal (VT). A taxa de desconto que força o PV do VT a ser igual ao PV dos custos édefinidacomoaTaxaInternadeRetornoModificada. Assaf Neto (2005) conclui que o desempenho de um investimento é dependente não so-mente das projeções de caixa, mas também de sua taxa de reinvestimento. Brigham e Ehrhardt (2007) concluem que a MIRR é superior a TIR como indicador da ver-dadeira taxa de retorno, ou “taxa de retorno de longo prazo esperada” de um projeto, porém o método do Valor Presente Líquido (NPV) ainda é melhor para a escolha de projetos mutuamente excludentes, pois oferece um indicador melhor de quanto cada projeto vai aumentar o valor da em-presa.

2.5 Método do Custo Anual Equivalente (CAE)

O método do custo anual equivalente pode ser empregado no caso de um benefício anual líquido e não apenas custo anual.OCustoAnualEquivalente–CAE–épordefinição,segundoMottaeCalôba(2002),atransfor-mação de todos os custos de caixa (investimentos, custos operacionais, valor residual, etc.) em uma série anual uniforme, sendo empregado geralmente em alternativas que envolvem custos. Ocálculoéfeitotransformando-seumfluxodecaixairregularemumasérieuniformeequiva-lente, dada uma taxa mínima de atratividade e de determinado número de períodos, geralmente igual à vida útil da alternativa. A alternativa de investimento que apresentar o menor CAE é escolh-ida. Outra forma de se aplicar o CAE é usar uma receita virtual, para permitir o cálculo de um excedente líquido. A alternativa que tiver maior excedente líquido (menor custo) é a vencedora. Para Motta e Calôba (2002, p.124) pode-se operar com o custo anual equivalente do Fluxo de Caixa Diferencial, que poderá surgir uma inversão de sinal (receitas ao invés de apenas custos) quepermitirácalcularaTIRdofluxodecaixadiferencial. Aceitando que as alternativas de investimentos possam ser repetidas em condições idên-ticas, indefinidamente, não haverá necessidade de se preocupar comumhorizonte comumdeplanejamento, mesmo que as alternativas possuam vidas diferentes, quando se trabalha com o CAE. Sejam duas alternativas, A e B. Se ocorrer , então B é preferível a A.

2.6 Índice de Lucratividade (IL)

Para Assaf Neto (2005) o índice de lucratividade (IL), ou índice de valor presente, é uma variante do método do Valor Presente Líquido (VPL); é determinado por meio da divisão do valor presente dos benefícios líquidos pelo valor presente dos dispêndios (desembolsos de capital). Indica, em termos de valor presente, quanto o projeto oferece de retorno para cada unidade monetária investida. Segundo Brigham e Ehrhardt (2007, p.519) o índice de lucratividade pode ser obtido pela fórmula:

OCFtrepresentaosfluxosdecaixafuturosesperados,eoCF0representaocustoinicial.OIL mostra a lucratividade relativa de qualquer projeto. O critério de aceitar/rejeitar uma proposta de investimento com base no índice de lucrativi-dade segue o seguinte esquema:• IL>1–oprojetodeveseraceito(VPL>0)• IL=1–indicaVPLnulo,emprincípioéconsideradoatraente,poisremuneraoinvestidoremsua requerida atratividade;• IL<1–oprojetoindicaumVPLnegativo,portantodeveserrejeitado.

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2.7 Estudo dos principais métodos de análise de investimentos

ParaGitman(1997,p.335)oVPLeaTIRfreqüentementeclassificam-seprojetosdeformasdiferentes, devido às suas diferentes suposições de reinvestimento das entradas de caixa que eles irão gerar. De um ponto de vista puramente teórico, o VPL é a melhor técnica para análise de orça-mento de capital. Essa superioridade teórica deve-se a vários fatores. O mais importante, é que o uso do VPL supõe, implicitamente, que todas as entradas de caixa intermediárias geradas pelo investimento sejam reinvestidas ao custo de capital pela empresa. O uso da TIR supõe um reinvestimento a uma taxa freqüentemente elevada, dada pela TIR. Já que o custo de capital tende a ser uma estimativa razoável da taxa à qual a empresa poderia investir hoje suas entradas de caixa intermediárias, o uso do VPL com sua taxa de reinvestimento mais conservadora e realista é teoricamente preferível.Além disso, para Gitman (1997), certas propriedades matemáticas podem fazer com que projetos comfluxosde caixanão-convencionais apresentemmaisdeumaTIRounenhuma, oquenãoocorre quando se usa o VPL. ParaMottaeCalôba(2002)seosresultadosestimadosparaelaboraçãodofluxodecaixasãodadosemtermoscorrentes,levandoemcontaainflaçãogeral,entãoataxainternaderetornoTIR incorporará o efeito das variações de preços e custos, ao longo do tempo. Para se retirar o efeito, lança-se mão da fórmula que relaciona a taxa de juros com a in-flação:

Onde: i’’éataxainflacionada θéainflação i é a taxa interna de retorno TIR Para Motta e Calôba (2002) a taxa interna de retorno é um indicador relativo, não podendo, isoladamente, ser usado para seleção de alternativas, a não ser quando for corretamente apli-cada. Sobre o Custo Anual Equivalente – CAE, se este é a conversão do VPL em função de uma dada taxa de juros (i) e um determinado número de períodos (n), então, ordenar seus projetos por VPL será o mesmo que ordená-los por seus CAE. Segundo Motta e Calôba (2002, p.128), tudo vai depender da taxa de atratividade, ou custo de capital que é a taxa de desconto utilizada. Segundo Brigham e Ehrhardt (2007, p.519), matematicamente, os métodos NPV, IRR, MIRR e IL sempre indicarão as mesmas decisões de aceitação/rejeição para projetos independentes: se o NPV de um projeto for positivo, sua IRR e sua MIRR sempre excederão K (TMA – taxa mínima de atratividade) e seu IL sempre será maior que 1. Entretanto estes métodos poderão apresentar classificaçõesconflitantesparaprojetosmutuamenteexcludentes.Nestecasodeve-setomarcertaprecaução com relação ao uso do método, por não dimensionar a escala do investimento e a dis-tribuiçãodosfluxosdecaixanotempo. Noentanto,napráticaasdecisõesfinanceirasnãosãotomadasemambientedetotalcerte-za com relação a seus resultados. Em verdade, por estarem essas decisões fundamentalmente voltadas para o futuro, é imprescindível que se introduza a variável incerteza como um dos mais significativosaspectosdoestudodaanálisedeviabilidadeeconômica,oqueastécnicasemétodosapresentados não abordaram. Portanto descreve-se sobre o risco e como este pode ser associado na análise de viabili-dade econômica.3 ANÁLISE DO RISCO

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Segundo Hoji (2007, p. 233) o risco existe em todas as atividades empresariais, pois se refere a um resultado futuro, portanto incerto. Geralmente está associado a algum fator negativo quepossaimpediroudificultararealizaçãodoquefoiplanejado. Todavezqueaincertezaassociadaàverificaçãodedeterminadoeventopossaserquan-tificadapormeiodeumadistribuiçãodeprobabilidadesdosdiversosresultadosprevistos,diz-seque a decisão está sendo tomada sob uma situação de risco. Dessa maneira, segundo Assaf Neto (2005) o risco pode ser entendido pela capacidade de se mensurar o estado de incerteza de uma decisão mediante o conhecimento das probabilidades associadas à ocorrência de determinados resultados ou valores. A idéiaderisco,de formamaisespecífica,estádiretamenteassociadaàsprobabilidadesde ocorrência de determinados resultados em relação a um valor médio esperado. É um conceito voltado para o futuro, revelando uma possibilidade de perda. Segundo Brigham e Ehrhardt (2007) o risco pode ser medido de diferentes formas e difer-entes conclusões a respeito do risco podem ser tiradas dependendo da medida utilizada. A análise do risco pode ser um pouco confusa, mas o ajudará se você se lembrar do seguinte:• Éesperadoquetodososativosfinanceirosproduzamfluxosdecaixa,eoriscodeumativoéjulgadoemtermosdoriscodosseusfluxosdecaixa;• Oriscodeumativopodeserconsideradodeduasformas:(1)emumabaseisolada,emqueosfluxosdecaixadosativossãoanalisadosisoladamente;ou(2)emcontextodecarteira,emqueosfluxosdecaixadeváriosativossãocombinadoseseusfluxosdecaixaconsolidadossãoanalisados. Há uma importante diferença entre risco isolado e risco de carteira, e um ativo de risco altoemantidoindividualmentepodeoferecermenosriscosefizerpartedeumacarteiramaior;• Emumcontextodecarteira,oriscodeumaaçãopodeserdivididoemdoiscomponentes:(1)riscodiversificável,quepodeserdiversificado,econseqüentemente,serdepoucapreocupaçãoparaosinvestidoresdiversificados,e(2)riscodemercado,querefleteoriscodedeclínionomer-cadodeaçõesemgeral,enãopodeeliminadopeladiversificação.• Umativocomaltograuderiscorelevante(demercado)deveoferecerumataxaesperadaderetorno relativamente alta para atrair investidores, que em geral, possuem aversão ao risco. Fundamentalmente,riscoéapossibilidadedeperdafinanceira.Emtermosmaisformais,apalavra risco é usada como sinônimo de incerteza e refere-se à variabilidade dos retornos asso-ciadosaumativo.Algunsriscosafetamtantoosadministradoresfinanceirosquantoosacionistas.Oriscooperacionaleoriscofinanceirosãomaisespecíficosàempresa.Osriscosdevariaçãodetaxasdejuros,liquidezemercadosãomaisespecíficosparaosacionistas.Descreve-seabaixoumresumo das fontes comuns de risco para as empresas e seus acionistas.• Riscos específicos da empresa: risco operacional e risco financeiro.O risco operacionalrefere-se à possibilidade de que a empresa não seja capaz de cobrir seus custos de operação. Seunívelédeterminadopelaestabilidadedasreceitasdaempresa(fixos)epelaestruturadeseuscustosoperacionais(variáveis).Jáoriscofinanceiroassocia-seàpossibilidadedequeaempresanãosejacapazdesaldarsuasobrigaçõesfinanceiraseémedidopelaprevisibilidadedosfluxosdecaixaoperacionaisdaempresaesuasobrigaçõesfinanceirascomencargosfixos.• Riscosespecíficosaosacionistas:riscodetaxadejuros,riscodeliquidezeriscodemer-cado. O risco de taxa de juros refere-se a possibilidade de que as variações das taxas de juros afetem negativamente o valor de um investimento. A maioria dos investimentos possui uma relação inversa com a taxa de juros, ou seja, quando um sobe o outro cai e vice-versa. O risco de liquidez verificaapossibilidadedeumativonãoserliquidadocomfacilidadeaumpreçorazoável.Aliquidezésignificativamenteafetadapeloporteepelaprofundidadedomercadonoqualoativoécomu-mente negociado. O risco de mercado associa a possibilidade de que o valor de um ativo caia por causa de fatores de mercado independentes do ativo (eventos econômicos, políticos, sociais,...). Em geral, quanto mais o ativo reage ao comportamento do mercado, maior é seu risco, e quanto menos reage, menor seu risco.• Riscoscomunsaempresaseacionistas:riscodeevento,riscodecâmbio,riscodepoderaquisitivo e risco de tributação. O risco de evento refere-se à possibilidade de um evento totalmente

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inesperadoexerçaefeitosignificativosobreovalordaempresaouumativoespecífico.Esseseven-tos raros como determinada decisão do governo, costumam afetar somente um pequeno grupo de empresasouativos.Oriscodecâmbioestáatreladoàexposiçãodosfluxosdecaixaesperadosparaofuturoaflutuaçõesdastaxasdecâmbio.Quantomaiorapossibilidadedeflutuaçõescam-biaisindesejáveis,maiororiscodosfluxosdecaixae,portanto,menorovalordaempresaoudoativo. Já o risco do poder aquisitivo associa-se à possibilidade de que a variação dos níveis gerais depreços,causadaporinflaçãooudeflaçãonaeconomia,afetedesfavoravelmenteosfluxosdecaixa e o valor da empresa ou de um ativo. O risco da tributação refere-se à possibilidade de que mudanças adversas na legislação tributária venham a ocorrer. Empresas e ativos cujos valores são sensíveis a essas mudanças implicam maior risco. As atitudes em relação ao risco diferem entre os administradores onde se observa três comportamentos básicos: aversão, indiferença e propensão. Aversão ao risco, o que ocorre com a maioria dos administradores segundo Gitman (1997), é quando os gestores e tomadores de de-cisão são mais conservadores e possuem certo medo em relação ao risco, exigindo um retorno mais elevado para compensar o aumento do risco. Indiferença ao risco é quando os tomadores de decisão e investidores não exigem maior retorno para um risco maior, não fazendo muito sentido na situação empresarial. O administrador propenso ao risco é aquele mais agressivo, que gosta de correr riscos. Em algumas situações percebe-se que o retorno diminui quando o risco aumenta o que é explicado pela disposição do administrador em abrir mão de alguma quantia de retorno em função de assumir risco e não perder a oportunidade. Segundo (NEVES, 1982, p. 169-175), citado Bernardi (2002), o objetivo principal da análise do risco é calcular as chances do projeto se tornar viável (NEVES, 1982, p. 169-175). Riscoénormalmentedefinidocomoograuestimadodeincerteza,comrespeitoàrealizaçãode resultados futuros desejados. Quanto mais ampla for a faixa de valores possíveis para o retorno de um investimento, tanto maior será o grau de risco do investimento, Bernardi, (2002), apud, (AN-DRADE, 1989, p. 261). A busca pela diferenciação entre risco e incerteza partiu da subjetividade, considerada como uma limitação que advém da hipótese de que cada indivíduo atribua a cada investimento possível, certa distribuição de probabilidade. Com este pensamento: Oconceitodeincertezanãopodeserdefinidodeformaclara,masdistingue-seportrêscom-ponentes básicos: “a incerteza ligada à imprevisibilidade dos parâmetros econômicos relevantes; ligados aos eventos políticos; ligadas à percepção do investidor”, isto é, a subjetividade. Tal proposta persiste até hoje, onde o conceito de risco e incerteza se difere basicamente pela:quantidadee/ouqualidadeda informação;esubjetividade.Abibliografiaeconômicaaceitaque o risco seja mensurado quando se tem os resultados possíveis e suas probabilidades, isto é, quanto maior a variância, maior é o risco de um determinado investimento, é a distância de um valor esperado sobre as expectativas do decisor. A incerteza é apurada sob ambiente de pouca ou nula informação. Segundo Fleischer (1973), citado Bernardi, (2002) “na literatura da teoria da decisão se faz uma distinção semântica entre análise de risco e análise de incertezas, sendo a análise do risco os casos em que se podem fazer previsões acerca das probabilidades”. O autor denomina o futuro incertocomoincerteza,eclassificaofuturomaisprovávelpelaanálisedorisco.Paraoscasoscom“resultados futuros com probabilidade conhecidas [...] vemos o futuro como míopes”. SegundoGitman(1997),oriscoémedidocombasenavariabilidadedosretornos.Define-seretorno como o ganho ou a perda total sofrida por um investimento em certo período. É comumente medido pela soma dos proventos em dinheiro durante o período com a variação de valor, em ter-mosdeporcentagemdovalordoinvestimentonoiníciodoperíodo.Podeserdefinidapor:

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BrighameEhrhardt(2007)afirmamqueoretornoofereceaosinvestidoresumaformacon-venientedeexpressarodesempenhofinanceirodeuminvestimento. Para Assaf Neto (2008, p.207) o risco, é na maioria das vezes, representado pela medida estatística do desvio padrão, indicando se o valor médio esperado é representativo do comporta-mento observado. Assim, ao se tomarem decisões de investimento com base num resultado médio esperado, o desvio padrão passa a revelar o risco da operação, ou seja, dispersão das variáveis (resultados) em relação à média.

3.1 Fundamentos de estatística na análise do risco

Os fundamentos de estatística aplicados na mensuração e análise do risco são de grande utilidade para os gestores e tomadores de decisão na avaliação das alternativas de investimento. Segundo Mota e Calôba (2002, p.298) a descrição estatística destes dados indica qual a melhor distribuição de probabilidade para a variável aleatória e pode ser utilizada para se obter uma melhor noção do quão arriscado é o projeto. Para Brigham e Ehrhardt (2007) o risco de investimento está relacionado à probabilidade de realmente se obter um retorno baixo ou negativo em relação aos resultados estimados. Quanto maior for a chance de o retorno ser baixo ou negativo, mais arriscado será o investimento. Para Gitman (1997) as distribuições de probabilidades (modelo que associa probabilidades aos eventos correspondentes) oferecem uma visão mais quantitativa do risco de um ativo. Aprobabilidadedeumeventoédefinidacomoachancequeoeventotemdeocorrer.Setodos os eventos possíveis, ou resultados de um investimento, estiverem listados, e se uma proba-bilidadefordefinidaparacadaresultado,essalistageméchamadadistribuiçãodeprobabilidades.Se multiplicarmos cada possível resultado por sua probabilidade de ocorrência e somarmos esses produtos, teremos a média ponderada dos resultados. Os pesos são as probabilidades e a média ponderada é a taxa de retorno esperada. Brigham e Ehrhardt (2007) propõem uma fórmula para o cálculo da taxa de retorno, con-forme segue:

Nessa equação, ki é o i-ésimo resultado possível, Pi é a probabilidade de ocorrência do i-ésimo resultado, e n é o número de possíveis resultados. Assim, é uma média ponderada dos resultados possíveis, com cada peso de resultado sendo uma probabilidade de ocorrência. AssafNeto(2008)reforçaesteconceitoquandoafirmaqueamensuraçãodoriscoemuminvestimento processa-se geralmente por meio do critério probabilístico, o qual consiste em atribuir probabilidades – objetivas ou subjetivas – aos diferentes estados de natureza esperados e, em conseqüência, aos possíveis resultados do investimento. Então é delineada uma distribuição de probabilidades dos resultados esperados e mensuradas suas principais medidas de dispersão e avaliação do risco. Neste caso, o risco pode ser interpretado pelos desvios previsíveis dos futuros fluxosdecaixaresultantesdeumadecisãodeinvestimento.Suaprincipalmedidaestatísticaéa

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variabilidade dos resultados esperados de caixa em relação à média. O retorno esperado está vin-culadoaosfluxosincertosdecaixadoinvestimento,sendodeterminadopelaponderaçãoentreosvaloresfinanceirosesperadosesuasrespectivasprobabilidadesdeocorrência. Segundo Brigham e Ehrhardt (2007) risco é um conceito de difícil compreensão, e as ten-tativasdedefini-loemedi-loestárodeadodemuitascontrovérsias.Porémumadefiniçãocomum,satisfatória para muitos propósitos, é determinada em termos de distribuições de probabilidades: quanto mais estreita a distribuição de probabilidade dos retornos esperados no futuro, menor será oriscodeuminvestimento.Parasermaisútil,qualquermedidaderiscodeveterumvalordefinido- precisamos de uma medida de concentração da distribuição de probabilidade. Tal medida é o desviopadrão,paraoqualosímboloéσ,osigmaminúsculo.Quantomenorodesviopadrão,maisestreita é a distribuição de probabilidade e, conseqüentemente, menor o risco da ação. Asfigurasabaixorepresentamdiferentesgrausdedispersãodosvaloresemrelaçãoàmédiadadistribuição, indicando diferentes níveis de risco. Essas medidas de dispersão indicam como os valores de um conjunto distribuem-se (disper-sam) em relação ao seu ponto central (média). Quanto maior se apresenta o intervalo entre os val-ores extremos, menor é a representatividade estatística da média, pois os valores em observação encontram-se mais distantes dessa medida central.

SegundoGitman(1997)oindicadormaiscomumdoriscodeumativoéodesviopadrão,σ,o qual mede a dispersão em torno do valor esperado. Brigham e Ehrhardt (2007) descrevem a fórmula para calcular o desvio padrão como sendo três etapas:• 1ªEtapa–calculeataxaderetornoesperada.

• 2ªEtapa–subtraiaataxaderetornoesperada( ) de cada possível resultado ( ) para obter um conjunto de desvios ao redor de .

• 3ªEtapa–eleveaoquadradocadadesvioemultipliqueoresultadopelaprobabilidadedeocorrência de seu resultado correspondente; então some esses produtos para obter a variância da distribuição de probabilidade.

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• 4ªEtapa–encontrearaizquadradadavariânciaparaobterodesviopadrão.

Assim, o desvio padrão é essencialmente uma média ponderada dos desvios em relação ao valor esperado, e oferece uma idéia de quão distante, acima ou abaixo, do valor esperado o valor efetivo deverá se situar. Para Assaf Neto (2005) tanto o desvio padrão como a variância tem por objetivo medir es-tatisticamente a variabilidade (grau de dispersão) dos possíveis resultados em termos de valor esperado. Representam, então, medidas de risco. Outramedidaimportantenaanálisedoriscoemuminvestimentoéocoeficientedevariação(CV), obtido pela divisão do desvio padrão pelo retorno esperado. ParaGitman(1997)ocoeficientedevariaçãoéumamedidadedispersãorelativaútilnacomparação dos riscos de ativos com retornos esperados diferentes. É calculado pela fórmula:

Onde: σ=desviopadrão = taxa de retorno esperado

BrighameEhrhardt(2007,p.211)reforçamaimportânciadocoeficientedevariaçãoquandoafirma que estamedida ajuda a responder a questão: como escolher entre dois investimentosquando um possui uma taxa de retorno mais alta e o outro um menor desvio padrão? Para estes autoresocoeficientedevariaçãomostraoriscoporunidadederetornoeofereceumabasemaisconfiávelparacomparaçãoquandoosretornosesperadosnasduasalternativasnãosãoiguais. 3.2 Decisões de investimento em condições de risco

O risco de um ativo pode ser analisado de duas formas: (1) em uma base isolada, em que o ativo é considerado isoladamente e (2) em uma base de carteira, na qual ele é mantido como um dos vários ativos em uma carteira. Como propósito deste trabalho é destacar a importância da análise do risco no estudo de viabilidade econômica, estudaremos o risco isolado. Além disso, é necessário entender o risco isolado para compreender o risco em um contexto de carteira. O risco isolado ou risco de um ativo individual é o risco em que um investidor ou tomador de decisão incorre caso mantenha apenas esse único ativo, no caso, avaliar um investimento. Segundo Fernandes e Batista (2002), “para que se tenha um levantamento mais seguro da viabilidade do projeto, não é válido basear o processo de escolha somente na TIR ou VPL, pois os mesmos não consideram o nível de risco do empreendimento”. AnaturezadasdistribuiçõesdecadafluxodecaixaindividualeascorrelaçõescomoutrofluxodeterminaanaturezadadistribuiçãodeprobabilidadedoNPV(valorpresentelíquido)e,as-sim, o risco isolado do projeto. Destacam-se três técnicas de avaliação do risco isolado: análise de sensibilidade, análise de cenários e a simulação de Monte Carlo. Para Assaf Neto (2008) a análise de sensibilidade é a metodologia de avaliação de risco que revelaemquantooresultadoeconômicoNPVdeuminvestimentosemodificarádiantedealter-açõesemvariáveisestimadasdosfluxosdecaixa.

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Segundo Gilman (1997) a análise de sensibilidade recorre a diversas estimativas dos retor-nos possíveis para oferecer uma noção da variabilidade dos resultados. Brigham e Ehrhardt (2007, p.560) reforçam este conceito de análise de sensibilidade quando afirmamqueéumatécnicaqueindicaquantoovalorpresentelíquido(NPVouVPL)mudaráemre-sposta a uma dada mudança em uma variável de entrada, enquanto os outros fatores permanecem constantes. Hirschfeld (1998, p.290) descreve sobre a análise de sensibilidade:

Aanálisede sensibilidade tempor finalidadeauxiliar a tomadadedecisãoao seexaminarem eventuais alterações de valores, como valor presente líquido, valor uni-formelíquido,valorfuturolíquidooudeoutroqualquervalorrepresentativosdofluxode caixa produzidos por variações nos valores dos parâmetros componentes.

Na análise de sensibilidade, cada variável é mudada em vários pontos percentuais acima e abaixo do valor esperado, mantendo-se constante todas as outras variáveis. Então um novo NPV é calculado usando cada um desses valores. Finalmente o conjunto de NPV’s é representado graficamenteparamostrarquantooNPVésensívelamudançasemfunçãodecadavariável.AsinclinaçõesdaslinhasnográficomostramquãosensíveloNPVéàsmudançasemcadaumadasentradas: quanto mais íngreme for a inclinação, mais sensível será o NPV a uma mudança na variável. Se estivermos comparando dois projetos, aquele com as linhas de sensibilidade mais ín-gremes será o mais arriscado, pois para ele um erro relativamente pequeno na estimativa de uma variável, como unidades de venda produziria um grande erro no NPV esperado do projeto. Assim a análise de sensibilidade pode fornecer uma visão útil quanto ao risco de um projeto. Programas de planilhas eletrônicas, como o Excel, são idealmente apropriadas para análise de sensibilidade. A mensuração do risco por meio do comportamento do cenário econômico incorpora a dis-tribuição de probabilidade no estudo da sensibilidade de um projeto, revelando-se muito útil aos gestores e tomadores de decisão. Segundo Brigham e Ehrhardt (2007, p.560) a análise de sensibilidade, apesar de ampla-mente utilizada, possui algumas limitações:• nãoutilizaradistribuiçãodeprobabilidadesnasentradas;• nãopermitiraalteraçãodemaisdeumavariávelaomesmotempodeformaapoderveracombinação dos efeitos nas mudanças das variáveis. Para Brigham e Ehrhardt (2007, p.560) a análise de cenário inclui probabilidades de mu-danças nas principais variáveis de entrada e permite mudar mais de uma variável ao mesmo tem-po.Naanálisedecenário,oanalistafinanceirocomeçacomumcasobaseecompara-ocomumcenáriodemelhoreumcenáriodepiorcaso,estimadocominformaçõesconfiáveisbaseadasnasdiversas áreas operacionais, de marketing, engenharia, e outros. Atribui-se as probabilidades de ocorrência entre estes cenários para análise do risco. As probabilidades de cenários e os NPV´s constituem uma distribuição de probabilidades de retornos,podendo-seestimarovaloresperado,odesviopadrãoeocoeficientedevariação(Brigham e Ehrhardt – 2007).

SegundoAssafNeto(2005,p.343)ocoeficientedevariaçãocalculadopodesercomparadocomocoeficientemédiodosprojetosimplementadospelaempresa,oqueindicaodesviopadrãopara cada unidade monetária de riqueza (NPV) esperada pelo investimento. A simulação de Monte Carlo é consideravelmente mais complexa que a análise de cenário,

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pois enlaça as sensibilidades e as distribuições de probabilidades (Brigham e Ehrhardt – 2007). Segundo Mota e Calôba (2002, p.306) a simulação de Monte Carlo se baseia na geração de números pseudo-aleatórios por meio de software, cujo objetivo é calcular um resultado em função de diversas variáveis aleatórias que possuem distribuição de probabilidades distintas. A simulação de Monte Carlo se refere ao ato de realizar um processo de amostragem con-sistente de n interações. Em cada uma delas, todas as variáveis aleatórias de entrada (imputs) são amostradas, dando origem a determinados resultados para as variáveis de saída (outputs) de interesse. Realiza-se um número de interações que garanta que os resultados estarão tendendo a certa estabilidade. Obtêm-se, então, a distribuição das variáveis de saída observadas. Em uma análise de simulação, o computador escolhe um valor randômico para cada variável (preço de venda, custo variável por unidade, unidades de vendas, e assim por diante). Esses val-ores são combinados e o NPV do projeto é calculado e armazenado. A seguir um segundo conjunto de valores de entrada é selecionado de forma randômica e um segundo NPV é calculado. Este processo é repetido muitas vezes (1000 ou mais). A média e o desvio padrão destes vários NPV´s são calculados. A média ou valor médio é usado como medida do NPV esperado. O desvio padrão eocoeficientedevariaçãosãoutilizadoscomomedidaderisco.

4 CONCLUSÃO

Desde que o risco não possa ser eliminado, é essencial que sejam adotadas medidas para minimizá-lo de maneira a permitir que a organização atinja da melhor forma possível, seus objetivos estabelecidos. Embora a mensuração do risco seja passível de debates, existem maneiras de se atribuir o risco à análise de viabilidade econômica de forma a otimizar as decisões de investimentos. A análise de sensibilidade, a análise de cenários e a simulação pelo método de Monte Carlos são exemplos de como o risco pode e deve ser incorporado no estudo da viabilidade econômica dos projetos de investimentos presentes nas empresas, mesmo porque existem vários softwares desenvolvidos para este tipo de simulação, havendo pacotes integrados que reúnem além da simu-lação outras ferramentas para a análise de decisões. Muitos desses pacotes estão incluídos como adicionais nos programas de planilhas eletrônicas como o Excel da Microsoft. Fazendo uso destes instrumentos de mensuração do risco e aplicá-los na análise de viabi-lidade econômica de qualquer projeto de investimento, além de necessário diante da volatilidade do mercado globalizado e da concorrência cada vez mais acirrada, pode-se tornar uma fonte de vantagem competitiva.

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A OBRA AUTOBIOGRÁFICA DE LEONILSON:O REAL COMO ARTIFÍCIO E O ARTIFÍCIO COMO REAL

Clícia Ferreira Machado1

RESUMO

ApartirdoexamedasobrasNinguém(1992)eOPerigoso(1992),opresentetextobuscaidentificartraçosmarcantesnaconfiguraçãodalinguagemartísticadoartistaplásticoJoséLeonilsonBezerraDias. Para a análise, utilizou-se como base o texto Paixões do Real, Paixões do Semblante, de Slavoj Zizek. Acredita-se que a obra de Leonilson pode ser percebida como uma versão ou forma de expressão da “paixão pelo real” e que as ideias propostas por Zizek oferecem um percurso que possibilitaobservareelucidarquestõesrelativasaoprocessodesignificação,bemcomoparticu-laridades dos elementos constitutivos das obras selecionadas para análise.

PALAVRAS-CHAVE: arte contemporânea; José Leonilson; paixão pelo real.

ABSTRACT

From the examination of the books Ninguém (1992) and O Perigoso (1992), this text seeks to identifyhallmarksintheartisticlanguage´sconfigurationoftheartistJoséLeonilsonBezerraDias.For the analysis, it was used as base the text Paixões do Real, Paixões do Semblante, by Slavoj Zizek. It is believed that Leonilson´s paper can be perceived as a version or a form of expression of “paixão pelo real” and that the ideas set by Zizek offer a course that makes possible to observe and clarifyquestionsrelatedtotheprocessofsignificance,aswelltheparticularitiesoftheconstituentelements of the works selected for analysis.

KEYWORD:Contemporaryart;JoséLeonilson;passionforreal

A arte contemporânea tem sido objeto constante de estudo e pesquisa. Os estudos reali-zados, entretanto, longe de esgotarem o tema, engendram novas indagações e apontam lacunas ainda por preencher. É que a diversidade da produção artística contemporânea produz um “enevoa-mento”eopacidadequantoàclassificação,compreensãoeapreensãodassuaspráticas. O fenômeno, devido à riqueza da questão – extensão, pluralismo, heterogeneidade, dina-mismoecomplexidadedasproduçõesartísticasrecentes–,possuicaráternãoexaustivo.Aafir-maçãodofilósofoTheodorAdorno,feitaem1961,(momentoemquetodasasnoçõesanterioressobre arte seriam postas à prova), se mantém atual: “Hoje aceitamos sem discussão que, em arte, nada pode ser entendido sem discutir e, muito menos, sem pensar” (ADORNO apud ARCHER, 2008, p. IX). A questão, apesar de não ser nova, continua sendo muito produtiva: a profusão e amál-gama de estilos, formas e práticas característicos da arte contemporânea apresentam um espaço privilegiado para a constituição de um pensamento sobre os modos de expressão na atualidade. Pode-seafirmarqueaabundânciadeestilos,práticasetécnicasdaartedosdiasatuaisédecorrente das mudanças ocorridas na arte a partir do início dos anos 60 – e que tem origem na Pop Art. Continuidade dos questionamentos sobre a natureza da arte – que remonta a Marcel Du-champesesolidifica,especialmente,comaPopArt–,aproduçãocontemporâneapotencializaarelaçãoentrearteevidacotidianae,enquantolinguagem,seconfiguracomouminstrumentoaindanovo (e turvo), porém vigoroso, de apreensão das realidades que nos cercam. É por intermédio da linguagem que o sujeito estrutura a compreensão da realidade exterior, sua visão de mundo, bem como sua percepção e ordenação. Assim, para a construção da realidade – melhor dizer realidades, no plural – verdade ou falsidade não são mais marcas distintivas, uma vez que, o que existe são interpretações de realidade. Sobre a construção da realidade, a partir da linguagem, diz Anne Cauquelin.1 Mestranda em Estudos de Linguagens – CEFET/MG, 2010

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Se o mundo circundante tem para nós alguma realidade objetiva, é a construída pela linguagem que utilizamos. Não podemos escapar a esse universo de linguagem. O quesignifica,entreoutrascoisas,queodesenvolvimentodelinguagensartificiaiseouso cada vez mais generalizado delas alteram nossa visão da realidade. Constroem, pouco a pouco, outro mundo (2005, p. 64).

Nessesentido,cabeafirmarquearealidadeadquireumaspectodeficção.Oespectroreal(a ideologia) é o que dá corpo àquilo que se denomina real, que é uma “sobre-estrutura” simboli-camente estruturada2.Oquesepercebeéqueaseparaçãoentrerealidadeeficção,nomundocontemporâneo parece apagada. Os limites, as fronteiras entre esses dois pólos parecem perder sua intensidade, se extinguir. Assim, este estudo busca ampliar os conhecimentos sobre a linguagem das artes, suas diferentes formas de manifestação, as interfaces e o percurso gerador de sentido na contempora-neidade.Estudoscomabordagemespecíficasobreosfenômenosdecomunicaçãoeexpressãona contemporaneidade – no tocante à diversidade, multiplicidade e o mosaico de linguagens que seorganizaparacomporumsignificado–podemcontribuirparaminimizaraausênciadeclareza,elucidar e até mesmo suscitar questionamentos relevantes a respeito desse objeto ainda carente de análise. Cabe salientar também a necessidade de atualização dos estudos, dada a complexi-dade e o dinamismo do fenômeno, o que revela também sua contemporaneidade e exigência de interrogação frequente. A partir do exame da obra Ninguém (1992) e de um dos desenhos da série O Perigoso (1992), o presente estudo discute a produção do artista plástico José Leonilson Bezerra Dias (1957-1993), buscandoidentificartraçosmarcantesnaconfiguraçãodalinguagemartísticapropostapeloartistaeempenha-seemcompreenderasrelaçõesentrerealidadeeficção–materializadosatravésdapalavra, texto e elementos estéticos e plásticos da arte e da moda –, como estratégias para compor umconjuntosignificante.AeleiçãodaobradeLeonilsoncomofocodotrabalhodecorredofatodesua produção se constituir como um corpus que contempla as relações acima referenciadas e se apresentar, portanto, como um conjunto privilegiado para se pensar tais relações. Para a análise, proponho uma abordagem das relações interartes, utilizando como base o texto Paixões do Real, Paixões do Semblante, de Slavoj Zizek. Acredito que a obra de Leonilson pode ser percebida como uma versão ou forma de expressão da “paixão pelo real”, tema abor-dado por Zizek no livro Bem-vindo ao Deserto do Real (2003) e que as ideias propostas pelo au-tor oferecem um percurso que possibilita observar e elucidar questões relativas ao processo de significação,bemcomoparticularidadesdoselementosconstitutivosdasobrasselecionadasparaanálise.

LEONILSON: UMA OBRA AUTOBIOGRÁFICA

Nascido em Fortaleza, José Leonilson Bezerra Dias (1957-1993) mudou-se para São Paulo ainda pequeno, e logo cedo começou a demonstrar interesse pela arte. Ingressou no curso de Artes Plásticas da Fundação Armando Álvares Penteado, sem, entretanto, concluí-lo – o que não o impe-diu de se tornar um dos grandes expoentes da arte brasileira contemporânea3. Predominantemente autobiográfica,aobradeLeonilsonincluipinturas,desenhos,bordadosecosturas(quepassama ser recorrentes em sua produção a partir de 1989)4, algumas esculturas e instalações. Sobre a vida-obra do artista, diz a crítica Lisette Lagnado:

[...] Concentrada no curto período dos dez últimos anos de sua vida, a obra é quase exclusivamenteautobiográficaereúnecercademiltrabalhos,entredesenhos,pin-turaseobjetosdepanoclassificadoscomo‘bordados’.Trata-sedeumvolumecomqualidades desiguais, embora dotada da propriedade de se manter coeso em torno

2 Registro feito a partir de colocações feitas pelos professores, durante as aulas da disciplina Tecnologia e Imaginário Cul-tural.3 http://www2.uol.com.br/leonilson4 http://www.itaucultural.org.br

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de imagens e temáticas recorrentes.5

A trajetória artística de Leonilson, segundo Lagnado (1995), é composta por três núcleos formativos:aprimeirafase,de1983a1988,queconsistenabuscadeumadefiniçãoestéticapormeio do “prazer de pintar”, que se traduz numa mensagem alegre, colorida e icônica; a segunda fase, de 1989 a 1991, marcada pelo tema do “abandono” e pelo romantismo; e a terceira fase, nos dois últimos anos da sua vida, em que a alegoria da doença domina por completo a sua linguagem artística – em 1991, o artista descobre ser portador do vírus da AIDS. Apesar de considerar essa classificação taxonômicademasiado rígidae,porvezes, imprecisa–umexamepanorâmicodaprodução do artista revela a existência de elementos e procedimentos que a acompanham do iní-cioaofim,oqueéumadasexplicaçõesparaminhasdúvidasquantoàcategorização–,penso,noentanto,quedidaticamentetalclassificaçãoforneceumabaseútilparaosestudosdaproduçãodoartista e se mostra oportuna para a análise aqui proposta. Uma análise acurada da produção de Leonilson permite constatar sua obra como a ex-pressão de uma experiência subjetiva. A obra espelha, sem dúvida, a vida do artista. Em alguns dos trabalhos, Leonilson incluiu seu nome e até dados indicadores de sua identidade – Leo não consegue mudar o mundo, 1989, J.L.B.D, 1993 e J.L 35, 1993, são exemplos. Aqui, reside uma das característicasrealista-ficcionaldaobra–quetransitaentreadimensão“exata”da“realidade”eaconstrução de uma simbologia inequívoca. Através de sua obra, Leonilson constrói um percurso existencial, marcado por experiências/referênciaspessoais.Oartista“foimovidopelacompulsãoderegistrarsuainterioridadeafimdededicá-la aos objetos do desejo” (LAGNADO, 1995, p. 27). Umainquietação:nãoseriaocaráterautobiográficodaobra,umaexpressãodapaixãodoartista pelo real? O real como artifício e o artifício como real? Ninguém (Fig.1) justifica tal suspeita.Um travesseiro,de tamanho reduzido,envoltoporuma fronha de algodão na cor rosa. Bordados, em sua extensão, delicados poás e na parte inferior, pequenoslaçoseflores–“motivos”quelembramosbordadosdeantigaspeçasdeenxoval.Nocanto superior esquerdo, também em tamanho reduzido, bordado em negro a palavra “ninguém”. A obra de arte reporta-se a um travesseiro, uma peça de uso cotidiano; há na peça um in-dicativodequeasuasignificaçãosecomplementapelasugestãodecaráterutilitáriodamesma. A palavra inscrita é ali usada como desenho de uma imagem não projetada (ou projetável). Ninguémsedánosignificantedapalavra,nasubjetividadedacorenasproporçõesdeescala.Apalavra, bordada, entra neste trabalho não apenas no seu sentido etimológico, mas como constru-toradaforma,sugestionadapelacorepelotamanho/posiçãono“quadro”,nasuperfície.Ofioqueborda,costuraoespaçodesignificaçãodaobra.Apalavraassociadaàsuperfície indicanovossentidos para os elementos que compõem a obra. Penso que o travesseiro – pessoa que divide o leito com outra; amante6 – com a inscrição “ninguém” – nenhuma pessoa7 – podem ser lidos como objetos simbólicos da sufocante solidão em que o artista vivia à época – talvez, uma decorrência/evidência, da doença. Em 1991, o artista descobreserportadordovírusdaAIDSeestefatoserefleteclaramenteemsuaobra.Amaiorpartede seu trabalho, a partir de então, sugere aspectos metafísicos e alude à fragilidade da vida. A cor rosa, associada em certas culturas, ao feminino, é também apreendida, convencional-mente,comoacordoromanceedosbebês.Assimcomoorosa,opretotambémtemumsignifi-cado singular em algumas culturas. Normalmente, associa-se a cor preta à morte, à tristeza, à doença. Nesse sentido, um aspecto merece ser destacado: o contraste entre a cor rosa da fronha eopretodainscriçãobordada.Configura-seassim,umatensão:tristezaemorteversusalegriaenascimento. Outro ponto a salientar é o tamanho da “peça”. Diminuto, tem as dimensões de um traves-seiro de bebê/criança – mais um signo da fragilidade do artista. AoconsideraracaracterísticaautobiográficadaproduçãodeLeonilson,pode-seinferirquea obra funciona, portanto, como registro e expressão do sentimento do artista – seria uma obra con-5 http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/leonilson/leonilson-3.php6 Definição da locução “travesseiro de orelha”, segundo o Dicionário Houaiss.7 Conforme definição do Dicionário Houaiss.

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fessional. As informações contidas na obra levam a suspeita e/ou induz a um efeito de “verdade”, independente da “verdade” de fato. Isso é dado pela natureza do objeto e a palavra inscrita (que indicam ambos, a presença de um “par”), pelo tamanho da peça, cor do tecido e características do bordado. A cor preta representando a tristeza pela doença e o próprio conteúdo da frase que sugeremasolidão.Acorrosa,socialmenteatribuídaàmulher,aquiéreferenciadaporumafiguramasculina – o que insinua a revelação da homossexualidade do artista. As aproximações com o “real” não deixam “mentir”. Passo à análise da série de desenhos O Perigoso (Fig. 2). Uma das mais evidentes demon-strações da fragilidade do artista, estes desenhos fazem referência à AIDS que, como citado anteri-ormente, na terceira fase da trajetória do artista, é “alçada a uma dimensão alegórica” (LAGNADO, 1995,p.54);noconjuntodaobra,oartistaassociaadoençaaumavariedadedeflores–marga-rida, prímula, “lisiantros” (conforme registrado na obra), copo de leite – numa composição com o buquê de lírios, símbolo cristão da inocência e da morte, que aparece em obras anteriores. A obra caracteriza o período da economia de materiais, gestos e procedimentos, que marcou aproduçãodeLeonilsonapartirdofinaldosanos80.CarlosEduardoRiccioppoFreitascarac-teriza essa fase como emergência de “uma poética da escassez” (2010, p. 54), que se manifestou primeiramente nas questões de escala, no modo como o artista passou a demarcar as suas su-perfícies, como estabeleceu um contraponto entre o papel, quase todo deixado em branco, e a diminuta imagem de seus desenhos, que se evidencia também nos bordados, nos quais pequenas imagens,palavrasesignosgráficoshabitamoscantosdegrandespedaçosdefeltro,voileeoutrostecidos. Uma proposta de se dedicar a uma reapresentação do vazio, de assinalar a potência do vazio – assim como a “página em branco” de Mallarmé. Atenho-me à leitura do primeiro desenho da série: uma folha branca de papel, no centro, em tamanho reduzido, uma gota de sangue (do sangue contaminado de Leonilson), tendo como invólucro a expressão “o perigoso”, escrita em nanquim.

O primeiro desenho desta série tem a identidade de um corpo de delito: uma sim-plesgotadoprópriosanguecontaminado.Oquepoderiaagoraconfigurarumaar-madilha da literalidade (do uso de um sangue perigoso à singela representação de um rosário) relata a dor do traço que, mesmo débil, não sucumbe à autopiedade (LAGNADO, 1995, p. 54).

Osangue,contaminado,aquisepresentificacomoumaapariçãoparadoxal:símbolodevidaemorte,depermanênciaefinitude,realeimaginário. Invisível, tácito, realidade insensível, porém potente e pontual na constituição da obra e da leitura aqui proposta, é o corte físico a que se submeteu o artista para construir o trabalho. Reali-dade transposta para o universo da representação artística. Segundo Zizek, tal atitude

[...] trata-se de um paralelo exato da virtualização de nosso ambiente: representa uma estratégia desesperada de volta ao Real do corpo. [...] O ato de se cortar pode ser comparado, em si, às inscrições tatuadas no corpo, que simbolizam a inclusão daquela pessoa numa ordem simbólica (virtual) – o problema das pessoas que se cortaméexatamenteooposto,ouseja,aafirmaçãodaprópriarealidade(2003,p.24).

Mais que um tema de sua produção, para Leonilson, a doença se apresenta como um in-strumento expressivo, vigorosamente capaz de tratar do processo de esgarçadura da condição humana – nesse caso, a sua própria condição. Uma questão sobre o “real” se coloca: ainda que se apresente como literalmente real (um sujeito desfalecente, de existência fugaz, uma gota de sangue contaminadopelovírusdaAIDS),seria“operigoso”umpersonagemdeficção–alguémquerepre-senta a si mesmo? O Perigoso relata o “perigo do gozo” para aquele que se atreve a gozar a vida em sua plenitude? A referência tão visceral à doença e sua condição física poderiam ser apontadas como uma tentativa de sentir a “realidade real” como uma “realidade virtual”? A doença acontece noespaçobrancodatela,éumaficção.

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PerceboemOPerigosoumatentativadoartistadese“fixar”numa“realidadereal”,deseagarrar à “vida real”. O caráter cada vez mais efêmero da sua condição – a vida sentida como que se esvaindo – implicaria a necessidade irreprimível de uma ressurgência do real, de uma ancor-agemfirmenumaqualquer“realidadereal”.

O Real que retorna tem o status de outro semblante: exatamente por ser real, ou seja, em razão de seu caráter traumático e excessivo, não somos capazes de inte-grá-lo na nossa realidade (no que sentimos como tal), e portanto somos forçados a senti-lo com um pesadelo fantástico (ZIZEK, 2003, p. 33).

Corpo e obra se juntam num jogo de complementariedade – o real, o imaginário e o sim-bólico. A obra de Leonilson, que apresenta um elevado nível de complexidade – e é marcada por questõesparadoxais–,sugeredificuldadesdeleitura.Arriscoafirmarqueessaestruturaparadoxaledual,impedequalquerfixaçãooudeterminaçãorigorosadesentido. Nos trabalhos aqui analisados, entretanto, bem como em toda a extensão da obra de Leon-ilson, é possível se deparar com uma narrativa ou uma anotação que reporta a experiências pes-soaisdeartista.Suaobraflertoucomosacontecimentosdesuavidaeevidencioucaracterísticasegostos pessoais, experiências, romances, estados de espírito pelos quais passou o artista. É essa aproximação entre as obras e as experiências pessoais do artista que a aproximam da “paixão pelo real” – uma obra construída a partir de uma estrutura dual: realidade e símbolos. REFERÊNCIAS

ARCHER, Michael. Arte Contemporânea, uma história concisa. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2001. 263 p.

CAUQUELIN, Anne. Arte Contemporânea: uma introdução. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2005. 168 p.

Enciclopédia Itaú Cultural Artes Visuais. Disponível em: http://www.itaucultural.org.br. Acesso em: 10 de março de 2010.

FREITAS, Carlos Eduardo Riccioppo. Leonilson, 1980-1990. 2010. 145 f. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais) – Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.

LAGNADO, Lisette. Leonilson: são tantas as verdades. São Paulo: Projeto Leonilson/SESI, 1995. 223 p.

NINGUÉM, TRAVESSEIRO. In: Houaiss, Antônio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Dis-ponível em: http://houaiss.uol.com.br/busca.jhtm?verbete=travesseiro&stype=k&x=12&y=10. Aces-so em: 02 de setembro de 2011.

Portal São Francisco. Disponível em: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/leonilson/leonilson-3.php. Acesso em 05 de março de 2010.

Projeto Leonilson. Disponível em: http://www2.uol.com.br/leonilson. Acesso em: 05 de março de 2010.ZIZEK, Slavoj. Bem-vindo ao Deserto do Real: cinco ensaios sobre o 11 de setembro e datas rela-cionadas. São Paulo: Boitempo Editorial, 2003.

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A SUBJETIVIDADE NA CONTEMPORANEIDADE: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE A UTILIZAÇÃO DOS GRUPOS DE APRENDIZAGEM COMO METODOLOGIA DE ENSINO, SOB A

LUZ DA TEORIA DOS VÍNCULOS. THE SUBJECTIVITY IN CONTEMPORARY: AN EXPLORATORY STUDY ON THE USE OF THE

LEARNING GROUPS AS TEACHING METHODOLOGY, UNDER THE VINCULUM THEORY.

Jean Ferreira Assunção1 Juliana Luzia de Almeida Assunção2

Gilma Generoso Moura3

RESUMO

A presente pesquisa objetivou investigar como os alunos do curso de psicologia da Universidade do Estado de Minas Gerais – Campus Divinópolis – FUNEDI/UEMG percebem a utilização dos grupos deaprendizagemcomometodologiadeensino.Comoobjetivosespecíficos,apesquisaconceitu-ou subjetividade, sua relação com a educação contemporânea e com os pressupostos da Teoria dos Vínculos proposta por Pichon-Rivière. A metodologia de pesquisa utilizada foi exploratória, descritiva, do tipo quantitativa, com pressupostos da Teoria dos Vínculos, e com a aplicação de questionário estruturado aos alunos do curso de psicologia, horário matutino, da FUNEDI/UEMG. Os resultados sugerem que os alunos percebem a utilização dos grupos de aprendizagem como metodologiadeensinocomoumamaneiraeficazdepotencializarosmodosdeeducareaprender,porém os dados apontam para obstáculos relacionados à comunicação, aprendizagem e tele.

Palavras-chave: Subjetividade. Grupos. Teoria dos Vínculos. Educação contemporânea.

ABSTRACT

This paper aimed to investigate as the students of the course of psychology of the Universidade de Minas Gerais - Campus Divinópolis - FUNEDI/UEMG perceive the use of the learning groups as teachingmethodology.Asspecificobjectives,theresearchconsideredsubjectivity,yourrelationshipwith the contemporary education and with the presuppositions of the Vinculum Theory proposed by Pichon-Rivière. The methodology of used research was exploratory, descriptive, quantitative, with presupposed of the Vinculum Theory, and with application of the structured questionnaire in the stu-dents of the psychology course, morning schedule of the FUNEDI/UEMG. The results suggest that the students notice the use of the learning groups as teaching methodology as an effective way of increase the manners of to educate and to learn, however the data appear for obstacles related to the communication, learning and tele.

Key-words: Subjectivity. Groups. Vinculum Theory. Contemporary education.

INTRODUÇÃO

Ocenárioatualtrazgrandesdesafiosaosindivíduos,tendoemtelaqueaglobalizaçãoagecomo propulsor para as inovações tecnológicas e mudanças nas relações sociais, econômicas, políticas e culturais. Nestecontexto,cadaindivíduovivenciaessasmudançasdemaneirasingular,influenciadopor suas relações e experiências passadas e com o mundo exterior. Logo, esse processo de sub-jetivação é uma construção social, que passa por desejos, expectativas, características biológicas einfluênciasdomeiosocial.(SOUZA,2009).

1 pesquisador, professor da Faculdade de Ciências Econômicas, Administrativas e Contábeis de Divinópolis – FACED.2 pedagoga, Graduanda do 6º período do curso de psicologia da Universidade do Estado de Minas Gerais campus FUN-EDI.3 Graduanda do 2º período do curso de psicologia da Universidade do Estado de Minas Gerais campus FUNEDI.

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Na educação, Cardoso et al (2006, p. 5) entendem que a subjetividade é “uma força capaz de potencializar os modos de educar e de aprender”. Apontam que a subjetividade pode despertar o desejo e a vontade do indivíduo atualizar-se, de buscar novos conhecimentos e de combater a mentalidade instituída pela educação tradicional. Desta forma, Klososki (2007) vê as instituições de ensino, juntamente com a família, como os maiores responsáveis pelos processos de subjetivação. Em seus estudos, Klososki (2007), aponta osgruposdeaprendizagemnasinstituiçõesdeensinocomoumamaneiraeficazdepotencializaros modos de educar e aprender. Dentre as várias formas metodológicas de ensino, Klososki (2007) dá ênfase aos trabalhos e pesquisas em grupo realizados por docentes, relatando um amadurecimento intelectual, pessoal eprofissionaldiferenciadosentreosmembrosparticipantes. Diante da hipótese de que os grupos de aprendizagem potencializam os modos de educar e aprender surge o seguinte problema de pesquisa: Como os alunos do curso de psicologia da Universidade do Estado de Minas Gerais – Campus Divinópolis – FUNEDI/UEMG percebem a uti-lização dos grupos de aprendizagem como metodologia de ensino? DeacordocomosestudosdeKlososki(2007)eAlves(2009),espera-sequesejaconfirmadaa seguinte hipótese: os alunos percebem a utilização dos grupos de aprendizagem na metodologia deensinocomoumamaneiraeficazdepotencializarosmodosdeeducareaprender. Como instrumento de pesquisa, será utilizado um questionário estruturado, com 14 questões fechadas e autoaplicáveis, elaboradas a partir dos momentos mencionados na espiral dialética da Teoria dos Vínculos e adaptadas dos estudos de Alves (2009). Como objetivo geral, a pesquisa buscará investigar se os alunos percebem a utilização dos gruposdeaprendizagemnametodologiadeensinocomoumamaneiraeficazdepotencializarosmodosdeeducareaprender.Comoobjetivosespecíficos,apesquisaconceituarásubjetividade,sua relação com a educação contemporânea e com os pressupostos da Teoria dos Vínculos pro-posta por Pichon-Rivière (1998, apud AFONSO, 2002).

CONCEITUANDO SUBJETIVIDADE

Segundo Bock, a subjetividade é

[...] a síntese singular e individual que cada um de nós vai constituindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural; é umasíntesequenosidentifica,deumlado,porserúnica,enosiguala,deoutrolado,na medida em que os elementos que a constituem são experienciados no campo comum da objetividade social. (BOCK, 2002, p. 23).

A subjetividade é um processo de construção do sujeito que ocorre em todos os âmbitos de sua existência e está em constante transformação. São vários os processos que perpassam esse sujeito, alterando seus modos de ser e de sentir. Refere-se a um sujeito não na sua singularidade, mas nas suas relações com o mundo exterior, que envolve a cultura, a mídia, as artes e outros ve-tores de subjetivação. (SOUZA, 2009; GONÇALVES, 2008). Para Souza (2009, p. 130), “a subjetividade é uma construção social”. O processo de sub-jetivação passa pelos desejos e expectativas investidos pelos pais, antes mesmo da concepção, unindo-seàscaracterísticasbiológicaseàsinfluênciasdomeiosocial. Gonçalves (2008) ressalta que a noção de subjetividade para Deleuze e Guattari não se remete apenas a indivíduos, mas a tudo que é produzido por instâncias individuais e coletivas. E, Souza (2009, p. 134) destaca que a “subjetividade é uma construção cultural que muda com o tempo”. Logo, a subjetividade não se restringe ao sujeito, mas também ao objeto da subjetividade, estando fortemente ligada às relações e aos processos de construção cultural.

SUBJETIVIDADE E EDUCAÇÃO CONTEMPORÂNEA

SegundoCardosoet al (2006), a contemporaneidade trazdesafios crescentesdiantedo

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avanço da tecnologia e das rápidas transformações, sejam elas econômicas, políticas e sociais. Relatam um cenário de incertezas, onde tudo se consome. As práticas são construídas neste con-texto através de interações e negociações sociais constantes, onde os indivíduos criam para si mesmos representações e idéias, através dos processos de subjetivação. Na educação, Cardoso et al (2006, p. 5) entendem que a subjetividade é “uma força capaz de potencializar os modos de educar e de aprender”. Apontam que a subjetividade pode despertar o desejo e a vontade do indivíduo atualizar-se, de buscar novos conhecimentos e de combater a mentalidade instituída pela educação tradicional. Porém, Parpinelli e Souza (2005, p. 486) descrevem que a vivência da subjetividade pode se dar em dois sentidos: no primeiro, denominado processo de singularização, o sujeito rompe com o instituído, “[...] criando novas formas de ser e perceber o mundo”; no segundo, denominado processo de individualização, “[...] o indivíduo reproduz e aceita os conteúdos propagados pelos diferentes vetores de dominação que participam do processo de subjetivação”.

O modo pelo qual os indivíduos vivem essa subjetividade oscila entre dois extremos: uma relação de alienação e opressão, na qual o indivíduo se submete à subjetivi-dade tal como a recebe, ou uma relação de expressão e criação, na qual o indivíduo se reapropria dos componentes da subjetividade (DELEUZE; GUATTARI, 1999 apud PARPINELLI; SOUZA, 2005, p. 486).

Nestesentido,Bockafirmaqueasubjetividade

[...] não é só fabricada, produzida, moldada, mas também é automoldável, ou seja, o homem pode promover novas formas de subjetividade, recusando-se ao assujei-tamento e à perda de memória imposta pela fugacidade da informação; recusando amassificaçãoqueexcluieestigmatizaodiferente,aaceitaçãosocialcondicionadaao consumo, a medicalização do sofrimento. Nesse sentido, retomamos a utopia que cada homem pode participar na construção do seu destino e de sua coletividade. (BOCK, 2002, p. 24)

Para Bock (2002), o estudo da subjetividade na contemporaneidade é tentar entender as subjetividades emergentes, novos modos de ser, agir e pensar dos indivíduos, produzidos pelas relações culturais, políticas, econômicas e históricas, tendo como elementos básicos o movimento e a transformação. Neste enfoque, Souza (2009) aponta para a mudança de paradigmas na educação. Relata uma transição gradativa de um modelo racionalista e tecnocentrista, onde o professor deixa de ex-ercer o papel central, passando a ser um mediador dos processos de aprendizagem.

A cultura, quanto ao modo de educar, muda com o tempo, acompanhando o para-digma sociocultural vigente, mas a mudança é lenta, assim como tudo em educação. Marcas ainda persistem em nossos sistemas educacionais, quer implícita quer ex-plicitamente,refletindo-senaavaliaçãodaaprendizagem,queporvezesocorredeforma unilateral, descontextualizada, autoritária. É a avaliação que favorece a com-petição entre os alunos, focada na nota, nos desempenhos, nas habilidades cogniti-vas. (SOUZA, 2009, p. 131).

Segundo Gayotto e Domingues (1996), apesar das propostas inovadoras, o autoritarismo e a diretividade continuam presentes nas escolas e universidades. No ensino tradicional, o aluno é incentivado a ser um bom membro do grupo, porém a preocupação se centra na produção e não nas relações internas do grupo ou nos objetivos que unem seus integrantes. Assim, valoriza-se a centralização, o domínio pelo saber e o individualismo. Gadotti(1995apudSOUZA,2009)afirmaqueodeverdaeducaçãoéconservareaumentaro impulso vital do aluno, passando ele a ser o centro do processo de aprendizagem. O aluno passa a ser o autor de sua própria existência, enquanto o professor passa a exercer o papel de mediador do processo de aprendizagem.

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Para Souza,

A sala de aula moderna é lugar de encontro, de troca de experiências, de construção ereconstruçãodoconhecimento.Relaçõesdeensinareaprendercomplexificam-seacadadia,diantedasexigênciasdomercadodetrabalhoedosdesafioscolocadospor uma sociedade globalizada. (SOUZA, 2009, p. 134)

Souza (2009) coloca o aluno como o sujeito da educação e, para que o mesmo possa ter autonomia, é necessário que se vislumbre a formação humanística do cidadão, bem como um movimento de reforma educacional que rompa os resquícios da educação racionalista e tecnocen-trista.

DEFININDO GRUPOS SOB A ÓTICA DA TEORIA DOS VÍNCULOS

Pichon-Rivièredefineogrupocomo

[...] um conjunto de pessoas, ligadas no tempo e espaço, articuladas por sua mútua representação interna, que se propõe explicita ou implicitamente a uma tarefa, inter-atuando para isto em uma rede de papéis, com o estabelecimento de vínculos entre si.Coerentecomestadefinição,suateoriasobreogrupodágrandeimportânciaaosvínculos sociais, que são a base para os processos de comunicação e aprendiza-gem, uma vez que o sujeito – como sujeito social – se constitui na relação com o outro. (PICHON-RIVIÈRE, 1998 apud AFONSO, 2002, p. 21)

Weil(1983)conceituagrupocomotodareuniãodeindivíduosunidosporumobjetivocomum,podendo se constituir de forma espontânea e planejada, denominados grupos organizados, como por exemplo, clubes, times esportivos, turmas de alunos, estados-maiores, comissões técnicas ou políticas, dentre outros. Freire (1992 apud KLOSOSKI, 2007) amplia o conceito de grupo, ao destacar que não se trata apenas de um conjunto de indivíduos com papéis pré-estabelecidos, mas uma reunião de pes-soas com identidade própria, com membros diferenciados entre si, não apenas no tocante ao papel que desempenham, mas em sua subjetividade.

A TEORIA DOS VÍNCULOS

Pichon-Rivière(1998,apudALVES,2009)definevínculocomoumaformaparticulardere-lação de objeto, em que os vínculos externos e internos se integram em um processo. A teoria dos vínculos de Pichon-Rivière tem como foco o indivíduo inserido em um grupo, percebendo a interseçãoentresuahistóriapessoalanterioratéomomentodesuaafiliaçãoaestegrupo. O processo de integração na Teoria dos Vínculos é apresentada na concepção de uma es-piral dialética, relativa aos momentos do grupo. Esses momentos não seguem uma lógica linear ou cumulativa, pois existe um constante movimento de renovação da imagem do grupo e de seus ob-jetivos, em uma espécie de destruição imaginária do objeto, para recriá-lo de maneira renovada. Segundo Pichon-Rivière (1998, apud AFONSO, 2002, p. 21), “o grupo se une em torno de uma “tarefa” consciente, mas também pela dimensão do afeto”. Desta forma, o grupo tem uma tarefaexterna,definidapelosobjetivosconscientesdogrupo,emumadimensãológicaeracional;também, uma tarefa interna, que passa pelo trabalho com todos os processos vividos pelo grupo, conscientes e inconscientes, racionais e emocionais, para que se consiga manter o grupo e realizar a tarefa externa. ConformeAfonso(2002),aespiraldialéticadefinesetemomentosparaoprocessogrupal,asaber:afiliação,referindo-seaomomentodeintegração,aquiescênciaaogrupo;pertença,queen-volveosentimentodeidentificação,bemcomodediferenciação;cooperação,quepressupõeajudamútua através do desempenho de diferentes papéis e funções; comunicação, processo em que selevamemconsideraçãoasredesdecomunicaçãonogrupo,bemcomoosconflitosdiversose

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entraves; aprendizagem, que se refere à capacidade de criar alternativas, indo além da mera incor-poração de informações; tele, que indica a disposição positiva ou negativa dos membros do grupo entresi,constituindo-seemumarededetransferênciasdepercepções;e,porfim,apertinência,que se refere à produtividade do grupo e de sua capacidade de centrar-se em seus objetivos. Aafiliaçãoeapertençaindicamograudeidentificaçãodosindivíduosdogrupoentresiecom a tarefa. Esses dois momentos são básicos para o desenvolvimento dos demais processos grupais. Já a cooperação e a comunicação, interligam-se e favorecem o processo de aprendi-zagem. Na aprendizagem, o grupo precisa compreender seus obstáculos à comunicação, para compreender os obstáculos à aprendizagem. Na tele, ocorrem as transferências de sentimentos e vivências dos sujeitos, através de atribuição de papéis ao outro a partir das expectativas psíquicas do sujeito. Na pertinência, é necessário que o grupo rompa com o conformismo, sem romper-se totalmentecomocontexto,afimdecentrar-senastarefaseobjetivos.(AFONSO,2002).

METODOLOGIA

A metodologia de pesquisa utilizada foi exploratória, descritiva, do tipo quantitativa, com pressupostos da Teoria dos Vínculos, com a aplicação de questionário estruturado aos alunos do curso de psicologia, horário matutino, da Universidade do Estado de Minas Gerais – Campus Di-vinópolis – FUNEDI/UEMG. Segundo Gil (1991 apud SILVA; MENEZES, 2001) a pesquisa exploratória proporciona maior familiaridade com o problema, tornando-o explícito ou permitindo a elaboração de novas hipóteses. Envolve levantamento bibliográfico; entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticascom o problema pesquisado; análise de exemplos que estimulem a compreensão, dentre outros. Comoetapaprimeira,foirealizadaumapesquisabibliográfica,paradarsustentaçãoaoref-erencial teóricodoestudo.ConformeMarconieLakatos(2003),o levantamentodebibliografias(como livros, revistas, jornais, artigos, dentre outras) permite colocar o pesquisador em contato direto com estudos, como base para auxiliar no entendimento da situação investigada. Para Manzo (1971,p.32apudMARCONI;LAKATOS,2001,p.44)apesquisabibliográfica“oferecemeiosparadefinir,resolver,nãosomenteproblemasjáconhecidos,comotambémexplorarnovasáreas,ondeosproblemasaindanãosecristalizaramsuficientemente”. Para o levantamento de dados, o instrumento de pesquisa utilizado foi um questionário es-truturado, composto por questões fechadas e autoaplicáveis. Foram formuladas 14 questões a partir dos estudos de Alves (2009), tendo sido feitas as adaptações necessárias ao objetivo desta pesquisa,quefoiidentificarapercepçãodosalunosemrelaçãoàutilizaçãodosgruposdeaprendi-zagem como metodologia de ensino, analisando os momentos mencionados na espiral dialética da Teoria dos Vínculos. Quanto às questões contidas no questionário, as mesmas foram ordenadas da seguinte forma:processodeafiliação,questões1e12;pertença,questões2e11;cooperação,questões3 e 9; comunicação, questões 4 e 10; aprendizagem, questões 6 e 13; tele, questões 5 e 7; per-tinência, questões 8 e 14. Os respondentes tiveram que atribuir conceitos de freqüência para cada questão, enumerados de 1 a 5, respectivamente nunca, poucas vezes / raramente, em média 50% das vezes, na maioria das vezes, sempre. Quanto à aplicação do questionário, foram distribuídos aleatoriamente a todos os períodos semestrais do curso de psicologia matutino da FUNEDI/UEMG, no dia 19/11/2009, obtendo-se retorno de 25 questionários no total, sendo 5 questionários do 2º período, 4 questionários do 4º período, 5 questionários do 6º período e 11 questionários do 8º período. A fim de se verificar a tendência das respostas, os dados foram tabulados em planilhaeletrônica,utilizando-sedoprogramaMicrosoft®OfficeExcel®2007,versão12.0,ondeforamcal-culados a média, moda e mediana.

RESULTADOS E ANÁLISE

Com a tabulação dos dados extraídos dos questionários, obteve-se as seguintes medidas de

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tendência:

A partir dos dados da tabela 1, pode-se fazer as seguintes inferências:-quantoàanálisedosmomentosdepertençaeafiliação,pode-seafirmarqueosrespondentespossuemidentificaçãocomogrupo,comosmembrosentresiecomastarefasquejárealizaramjuntos;- a cooperação foi o único processo que obteve conceito 5 para as medidas de moda e mediana, e amaiormédiaaritmética,asaber4,34,pressupondoqueaajudamútuaeaflexibilizaçãoentreosmembros seja preponderante em relação à rivalidade e competição entre eles;- a comunicação obteve conceito médio inferior a 4, apesar de ter apresentado mediana e moda igual a 4. Sabido que a comunicação, juntamente com a cooperação, favorece a aprendizagem, o resultado obtido sobre este último é coerente;- como na comunicação, a aprendizagem apresentou mediana e moda igual a 4, mas média inferior a 4. De acordo com a Teoria dos Vínculos, o grupo precisa “compreender seus obstáculos à comu-nicação para se analisar os obstáculos à aprendizagem”. (AFONSO, 2002, p. 24). Logo, o resultado obtido é corroborado pelo resultado do processo de comunicação, analisado anteriormente;- os resultados obtidos na tele indicam que existe uma disposição positiva dos membros dos grupos entre si em atuar em conjunto e permitir processos de transferências de percepções. Porém, mes-mo com mediana e moda igual a 4, esse processo obteve a menor média da pesquisa, indicando que essa disposição positiva não acontece com tanta freqüência para alguns respondentes;-porfim,naavaliaçãodapertinência,amodaeamedianaforam4,enquantoamédiafoibastantepróxima, a saber 3,9. Apesar dos resultados obtidos nos processos de comunicação, aprendizagem e tele, os respondentes consideram que conseguem centrar-se em suas tarefas e objetivos, con-tribuindo para a produtividade do grupo, bem como entendem que o uso dos grupos de aprendiza-gem contribui para o aumento de suas habilidades e competências.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa objetivou investigar como os alunos do curso de psicologia da Univer-sidade do Estado de Minas Gerais – Campus Divinópolis – FUNEDI/UEMG percebem a utilização dosgruposdeaprendizagemcomometodologiadeensino.Comoobjetivosespecíficos,apesquisaconceituou subjetividade, sua relação com a educação contemporânea e com os pressupostos da Teoria dos Vínculos proposta por Pichon-Rivière (1998, apud AFONSO, 2002). Os resultados obtidos sugerem que os alunos percebem a utilização dos grupos de aprendi-zagemnametodologiadeensinocomoumamaneiraeficazdepotencializarosmodosdeeducare aprender, porém os dados apontam para obstáculos relacionados à comunicação, aprendiza-gem e tele. Em relação à comunicação, relativas às questões 4 e 10, o resultado de tendência foi influenciadoprincipalmentepelosvaloresde freqüênciaatribuídosaodesentendimentoentreosmembrosdogrupo.Quantoàaprendizagem,oresultadofoiinfluenciadopelaquestão6,queserefere a problemas com horários, encontros e pesquisa. Já na tele, as médias das questões 5 e 7 foram bastante próximas, respectivamente 3,40 e 3,44. Ou seja, os resultados indicam existência de rivalidade entre os membros do grupo e certa indisposição de atuar em conjunto. Apesardapesquisaterconfirmadoahipótese,ficaevidentequeosdocentesdevempar-ticiparcomomediadoreseorientadoresnosobstáculosapontados,afimdequeosobjetivosme-todológicos dos grupos de pesquisa e trabalhos possam ser atingidos. Esta pesquisa carece de ferramenta estatística que permita uma análise que possa generali-

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zarosresultados.Asmedidasdetendênciautilizadasobjetivaramapenasidentificarastendênciasdas respostas coletadas, limitando-se seus resultados à amostra pesquisada. Sugere-se para pesquisas futuras que, as variáveis sócio-econômicas e culturais possam seranalisadas,taiscomoidade,estadocivil,classesocial,sexo,dentreoutras,afimdeseobservarse existe uma correlação entre tais variáveis e os resultados obtidos. Semapretensãodeserconclusivo,estetrabalhoesperatercontribuídocomareflexãoso-bre o tema e espera ser motivador de novas pesquisas e hipóteses.

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ANEXO I – QUESTIONÁRIO APLICADO

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SEÇÃO 1: CARACTERIZAÇÃO DO RESPONDENTE

1.1 - Curso : ______________________________________1.2 - Período : 1. ( ) 2º 2. ( ) 4º 3. ( ) 6º 4. ( ) 8º 5. ( ) 10º1.3 - Sexo: 1. ( ) Masculino 2. ( ) Feminino1.4 - Faixa etária: 1. ( ) até 20 anos 2. ( ) de 21 a 25 anos 3. ( ) de 26 a 30 anos 4. ( ) de 31 a 35 anos 3. ( ) de 35 a 40 anos 4. ( ) mais de 40 anos1. 5 - Esta trabalhando atualmente: 1. ( ) Sim 2. ( ) Não1. 6 - Estado Civil: 1. ( ) Solteiro(a) 2. ( ) Casado(a) 3.( ) Outros______________

SEÇÃO 2: ELEMENTOS CONSTITUINTES DO VÍNCULO ENTRE ALUNOS EM GRUPOS DE TRABALHOS E PESQUISAS ESCOLARES

Assentençasabaixovisamidentificaroselementosconstituintesdovínculoentreosalunosdos grupos de trabalhos e pesquisas escolares das diversas disciplinas do seu curso. Responda cada questão marcando com um “X”, atribuindo sua opinião sincera, na seguinte escala:

[ 5 ] Sempre [ 4 ] Na maioria das vezes [ 3 ] Em média 50% das vezes [ 2 ] Poucas vezes / raramente [ 1 ] Nunca

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As condições de mercado podem levar a aplicação do Código do Consumidor aos contratos típicos?

Estudo sobre a situação do mercado de imóveis para repúblicas estudantis no Município de Ouro Preto, Brasil.

Edgar Gastón Jacobs Flores Filho.1

Mariana Sousa Faria.2

Resumo

O artigo trata da possibilidade de aplicação do Código de Defesa do Consumidor aos contratos de locação feitos no Município de Ouro Preto. Isto porque o mercado imobiliário desta cidade mostra-se extremamente desequilibrado, sobretudo em face da detenção do poder econômico por parte dos locadores, que tem ditado as regras da negociação contratual, reduzindo muito a possibilidade de barganha por parte dos locatários. Deste modo, com base numa visão que aproxima Direito e Economia e em estudos feitos no local, foi constatada a existência de falhas de mercado como aluguéis caros, reajustes fora de prazo e negligências em relação a benfeitorias necessárias e, diante dessas distorções a aplicação das normas regulares de locação são insuficientes.Alémdisso,percebe-setambémquenocontextoemanálise,amoradiaétransfiguradaemmercadoriaeoferecidaaosinquilinosdeummodoqueostornahipossuficientes.Palavras-chave: Ouro Preto. Falhas de Mercado. Especulação Imobiliária. Detenção do Poder Econômico. Barganha. Código de Defesa do Consumidor. Possibilidade de Aplicação.

Abstract

This paper discusses the possibility of implementing the Consumer Law to rent contracts made in the city of Ouro Preto. That’s because this city shows a real state market extremely unbalanced es-pecially in the face of the economic power of arrest by the lessors, which have dictated the rules of contract negotiations, greatly reducing the possibility of bargaining on the part of the renters. Thus, based on a view that approach law and economy and on studies done on site, we noticed the exist-ence of market failures such as high rents, adjustments out of the time and negligence in relation to necessary improvements, and because of this distortions the enforcement of the regular location lawareinsufficient.Also,werealizedthatinthiscontextdwellingquestionistransfiguredintoacom-modity and offered to renters in a way that makes them unprotected. Keywords: Ouro Preto. Market Failure. Real Estate Speculation. Detention of Economic Power. Bar-gain. Consumer Law. Possibility of Application.

Introdução

Ouro Preto é uma cidade de 70.227 habitantes (IBGE, 2011) que possui um grande acervo de imóveis tombados pelo Patrimônio Histórico, os quais geram boa parte da renda das pessoas no Município. Em paralelo, a cidade recebe uma injeção de recursos de outro seguimento social, os estudantes. A maioria deles vive em repúblicas(1), sendo que atualmente esse grupo é composto de um número que varia de cinco a seis mil pessoas (TRIBUNA LIVRE, 2011, p.5). A Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP é uma instituição pública com 8851 mil es-tudantes distribuídos em seus 38 cursos presenciais(2). Grande parte deles é de outras cidades e outros estados do Brasil. No ano de 2009, por exemplo, das 2.437 novas vagas que oferecidas pela UFOP, 1.677 delas destinaram-se a cursos no Campus de Ouro Preto (SANTOS; GOMES, 2009). E, nesse mesmo período, a UFOP recebeu estudantes de todas as regiões do Brasil (SANTOS; GOMES, 2009). O presente artigo trata da questão da locação nesse contexto.

1 Doutor em Direito Privado.2 Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Ouro Preto.

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Com a quantidade elevada de pessoas interessadas há sempre uma demanda enorme, em virtude disso, alguns locadores abusam de seus direitos e causam graves distorções no mercado. Aluguéis caros, reajustes fora de prazo, negligências em relação a benfeitorias necessárias, dentre outros problemas, são contrapostos a uma baixíssima possibilidade de negociação dos locatários. Este artigo surge desta situação diferenciada, constatada por uma pesquisa empírica feita por estudantes e professores da UFOP. Com base numa visão que reúne preceitos de Direito e Economia analisamos a situação dos moradores-locatários de Ouro Preto não apenas a partir da legislação locatícia, como fazem os Tribunais. Observamos a situação concreta e constatamos um desequilíbrio de mercado que mantémoslocatáriosemsituaçãodehipossuficienciaquejustificaaaplicaçãodoCDC.Ouseja,utilizamos a falha de mercado como determinante para aplicação do Direito do Consumidor. Con-sideramos aspectos concorrenciais e, principalmente, partimos das circunstâncias concretas indi-cadas por uma pesquisa de campo. Nesta pesquisa foi observado que em decorrência da falta de oferta de imóveis, a “lei da ofertaedaprocura”prevalecesobrealegislaçãocivil,quesemostranitidamenteinsuficiente.Porisso, apresentamos uma proposta de aplicação do Código de Defesa do Consumidor a esta situ-ação, na qual a moradia é transformada em mercadoria e oferecida de forma que os locatários se tornamhipossuficientes. Por meio do Law and Economics buscamos oferecer uma análise dos fatos que permita corrigir falhas de mercados e favorecer todos os envolvidos, garantindo aos locatários, inclusive, dignidade e condições de barganha. No primeiro capítulo analisaremos a detenção do poder econômico por parte dos locadores de imóveis no mercado de locação imobiliária de Ouro Preto e a situação desprivilegiada dos lo-catários, grupo composto majoritariamente por estudantes. No segundo capítulo explicaremos os motivos que nos levam a considerar a relação locatícia imobiliária de Ouro Preto uma relação de consumo, destacando, inclusive, dados de uma pesquisa empíricaquepermitemverificaravulnerabilidadedoslocatários. Em seguida, traremos discussões judiciais referentes à aplicação do Código de Defesa do Consumidor nas lides que envolvem contratos de locação imobiliária. E, exporemos as razões que ensejam a aplicação do Código de Defesa do Consumidor no contexto do mercado de locação imo-biliária de Ouro Preto, juntamente com os prováveis benefícios que tal prática pode trazer para os locatários, que são os indivíduos prejudicados no âmbito dessa relação desequilibrada. Logo após, na quarta parte, discutiremos as alegações que poderiam surgir em oposição aonossoentendimento,comooexcessodeflexibilizaçãodoscontratos.Eexplicaremosquetaispreocupações, em geral, só têm razão de ser em um mercado no qual não existam falhas. Porfim,combasenosdadosexistentesapresentamosnossatese,jáfundamentada,dequeos locatários podem ser considerados consumidores em algumas circunstâncias e que, talvez, uma delas seja a que se apresenta no Município de Ouro Preto.

1 O mercado imobiliário de Ouro Preto e suas características atuais

O mercado de imóveis envolve, não apenas a compra e venda, mas o aluguel para moradia ou comércio. E se antes a compra e venda era a atividade mais comum, hoje, as pessoas interes-sadas no acesso aos imóveis buscam mais a locação (RIFKIN, 2001). Em Ouro Preto este fenô-meno é enfatizado pela existência de diversos moradores que se consideram provisórios e não se interessam em adquirir bens imóveis na cidade. No caso específico deOuroPreto, foi realizada a pesquisa “A Formação e a Execuçãode Contratos de locação residencial das repúblicas estudantis em Ouro Preto- MG” apoiada pela CNPq em parceria com um instituto especializado em estatísticas, o NEASPOC, em 165 repúblicas particulares da cidade, revelando a alto nível de abusos no setor de locação imobiliária ouropre-tano. Não obstante, o Núcleo de Prática Jurídica de Ouro Preto, implantou o projeto “Incorporação Imobiliária – Uma análise do Mercado Imobiliário ouropretano” para oferecer orientação jurídica

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gratuita à comunidade, tendo como objetivo amenizar a situação de desamparo dos locatários da cidadefrenteàsarbitrariedadeseinjustiçasqueseconfiguravamacadadianarelaçãodelocaçãoimobiliária, sobretudo no que dizia respeito à instituição de preços de aluguel exorbitantes por parte dos locadores. Apesquisaeoprojetoacimareferidossejustificaramporquenestacidade,localização,con-forto, tamanho, ausência de umidade (Ouro Preto é uma cidade na qual existe problema crônico de “mofo”) e outros critérios se sobrepõem ao preço, especialmente porque os aluguéis costumam ser pagos por um grupo de pessoas e não apenas por um locatário. Em contraponto, os locadores ouropretanos detêm o grande o poder econômico, já que em virtude da baixa oferta e elevada demanda são capazes de controlar os preços de seus aluguéis e ostermosdacontratação.Nessesentido,PhaneHiggins(2004,p.34)afirmamqueumaquanti-dade crescente de evidências indica a determinação das escolhas de consumidores não somente pelas opções que ele possui, mas também pelo contexto no qual as opções são apresentadas. Em Ouro Preto, ocorre uma situação de escolha determinada exatamente pelo contexto, no sentido exposto por Pham e Higgins, pois as contratações ocorrem numa cidade de pequeno porte, com poucos imóveis disponíveis e uma demanda diferenciada, por sua não apenas em termos quantitativos,comoqualitativos.Afinaloqueprocuramoslocatáriosésatisfazerodireitobásicoàmoradia. A estipulação de valores de aluguéis abusivos em Ouro Preto deve ser cuidadosamente avaliada. Tanto é que Judith Martins-Costa (2006, p. 265), abordando o aumento das prestações sucessivas,afirmouqueestassofremprincipalmenterestriçõesdeordemética-jurídicaelegislativaos contratos que interessam diretamente à subsistência pessoal, tais como os relativos a aluguéis. Porém, neste artigo buscamos ir além da civilística, analisando a questão concorrencial num mer-cado imobiliário diferenciado. A realidade na cidade analisada está muito distante daquilo que seria um mercado imobiliário ideal, isto é, aquele no qual as relações encontram-se equilibradas e nenhuma parte sobrepõe seus interesses. Nesta situação ideal, nem contratante, nem contratado controlariam a formação dos preços, e as condições de realização dos contratos dos imóveis de aluguel na cidade. E o grande o número de fornecedores de serviços locatícios e de potenciais consumidores faria funcionar a lei da oferta e da procura. No caso mercado imobiliário ouropretano, a concorrência é baixa e a procura é elevada, criando uma possibilidade de aumento arbitrário de lucros. Num panorama desses, o consumidor normalmente não tem a possibilidade de aceitar o preço comum e terminar sua procura ou rejeitá-lo eprocurarporumpreçomenor(ZWICK;RAPOPORT;CHUNGLO;MUTHUKRISHNAN,2001,p.3),pois não existem muitas alternativas disponíveis. Desse modo, o consumidor do serviço de locação imobiliáriafica,muitasvezes,àmercêdasdecisõesdoslocadores,sobretudonoqueserefereàestipulação dos termos do contrato ora em análise. No caso concreto há uma situação na qual um grupo composto primordialmente por estu-dantes disputam os escassos imóveis disponíveis para locação e, seus proprietários, numa mani-festadeclaraçãodesuaposiçãoprivilegiada,determinampreçosdealuguéisexorbitantesefirmamcontratos abusivos com os adquirentes de seu serviço, buscando sempre maximizar o lucro sobre seu imóvel, como faz qualquer agente econômico dentro da lógica do mercado, da qual não se ex-clui a teoria contratual (CARPENA, 2005, p.51). Esta situação poderia até ser considerada legítima, não fosse o bem envolvido – direito de moradia – e o aumento arbitrário, baseado apenas em Poder de Mercado. No caso em análise, considerando o interesse provisório e essencial, de um lado, em oposição ao uso dos bens imóveis como forma de mercadoria, de uso padronizado, destinação ao usuáriofinalepreçodeterminadopelovalordetroca,existeumarelaçãodeconsumo,quenãonosremete apenas à lei de locações. Em Ouro Preto a locação de residências para estudantes é uma atividade econômica regular. E devido ao aspecto mercantil conferido a este contrato de locação de imóveis, segundo entend-emos, esta atividade econômica deve respeitar o princípio constitucional de defesa do consumidor, previsto no Art. 170, V da nossa Constituição, bem como os incisos IV, X, XIII, XV, XVI e §1º, III, do

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CDC,nosentidodeconfigurarumarelaçãoequilibradaentreofornecedor(locador)eoconsumidor(locatário), que se encontra numa situação em que a moradia é a ele oferecida de um modo que o tornahipossuficiente. É nesse diapasão o entendimento de Bruno Camilloto Arantes e Ludmilla Santos de Barros Camilloto, quando aduzem:

(...) acreditamos que a aplicação do CDC aos contratos de locação de imóveis resi-denciaisatendeàfinalidadeessencialdaquelanorma,qualseja,aproteçãodohipos-suficientenomercadodeconsumo.Diante,portanto,darealidadesocialcomplexaquanto às questões que envolvem a locação dos imóveis residenciais (...) cremos que o Direito deve proteger de forma adequada as partes contratantes. (ARANTES; CAMILLOTO, 2006, p.17)

Nesse sentido, os locatários e locadores, incluindo os de Ouro Preto, são consumidores e fornecedores, respectivamente, segundo o conceito de consumidor e de fornecedor utilizado no Código de Defesa do Consumidor:

Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviçocomodestinatáriofinal.Parágrafo único: Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.Art. 3º. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestações de serviços. (BRASIL, 2011, p. 572).

Isso ocorre na medida em que os referidos locatários utilizam um serviço (de locação), for-necido pelos locadores de imóveis, dentro de um sistema econômico (mercado imobiliário de Ouro Preto). Desse modo, se existem os componentes da relação de consumo, o contrato será regido pelaeficáciadoCódigodeDefesadoConsumidor(PINTO,2003).

2 A vulnerabilidade do consumidor aplicada à relação de locação imobiliária de Ouro Preto

Aconstataçãodavulnerabilidadedoconsumidoreasfalhasdemercadojustificamaapli-cação do Código de Defesa do Consumidor, que foi elaborado sob o amparo dos valores esculpidos pela nossa Constituição (PINTO, 2003) e dos demais instrumentos jurídicos de viés protecionista. Em Ouro Preto, uma das razões que confere às relações locatícias natureza de relação de consumoéqueolocatário,sobretudooestudantedaUFOP,mostra-sehipossuficienteemrelaçãoao locador, especialmente em face das condições de mercado, do seu nível de informação sobre este mercado e da natureza essencial do objeto da contratação. Isso, além do já mencionado modo de oferta dos imóveis, essencialmente mercantilizado e, por esse motivo, diferenciado em relação àslocaçõesprevistasnaleiespecífica. Nesta cidade, os locadores (por nós considerados como fornecedores do serviço de locação no contexto analisado) estão inseridos num mercado no qual detém a posição privilegiada. Eles não apenas procuram dar uso a um imóvel não habitado, mas constroem novos imóveis já pensando em locá-los e exercer esta atividade para a qual encontram baixíssima concorrência. Por isso, não enfrentamodesafiodebuscarinfluenciarocomportamentodeaquisiçãodoconsumidoremfavordo serviço (de locação) que oferecem (EKEHA, 2004, p.8), já que são os locadores que disputam o serviço. Justamente em face de riscos de condutas dessa natureza a Constituição República de-termina a defesa do consumidor como um dos princípios da atividade econômica (art. 170, V). Conforme João Bosco Leopoldino da Fonseca: “O constituinte entendeu, seguindo as modernas correntes do Direito, que um dos elos da economia de mercado é o consumidor, e por isso impõe ao Estado a sua proteção”. (FONSECA, 2005, p.90).

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Nessa direção, Pedro Lenza destaca os dispositivos constitucionais: art. 5º, XXXII; art.24, VIII;art.129,III;art.150,§5º;art.170,Veart.48(ADCT)parafundamentarsuaafirmaçãodequeasConstituiçõesPortuguesaeEspanholainfluenciaramnossaConstituiçãode1988aestabelecer“regras protetivas para o consumidor” (LENZA, 2009, p. 769). A atividade econômica, qualquer que seja, precisa ser regulamentada para evitar ou reduzir as falhas de mercado. Assim, existem instrumentos como a Lei 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), que corrigem essas falhas tornando a relação de consumo objeto de proteção pelo ordenamento jurídico e também apresentando esse sujeito como um agente econômico protegido pela ordem jurídica. O consumidor é protagonista da relação nas novas relações de mercado, tanto que o art. 4º, I do CDC, reconhece o princípio da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo. E, na esteira deste raciocínio, Heloisa Carpena considera a ideia de vulnerabilidade o cerne do conceito de consumidor (CARPENA, 2005, p. 180). O conceito de vulnerável diz respeito àquele que pode ter seus direitos desrespeitados, por estarnumaposiçãomenosposiçãomenosprivilegiada.Sejanoaspectofinanceiro,noinformacion-al ou mesmo pelas circunstâncias – necessidade, uso excessivo de marketing etc. – pode existir um desequilíbrio nas relações de mercado e uma das partes pode se tornar bem mais vulnerável aos atos da outra. Assim, o contratante vulnerável pode ser aquele que não possui o conhecimento necessário ou o poder de mercado para orientar sua decisão e fazer uma escolha consciente. EmOuroPreto,verificamosessacaracterísticanos resultadosdapesquisa “AFormaçãoe a Execução de Contratos de locação residencial das repúblicas estudantis em Ouro Preto-MG” (MELO, 2010, p.25) que constatou, além de outros pontos interessantes: que entre o grupo de estu-dantes pesquisados, a maioria tem dúvidas acerca do conteúdo do contrato, ou seja, não conhece tudooquefoipactuado;que,apesardecercade60%dosquestionáriosanalisadosafirmaremqueos contratos possuíam algum índice de reajuste, este não tem sido respeitado, já que os locadores têm aumentado o valor do aluguel arbitrariamente (MELO, 2010, p.24); e que dentre os pesquisa-dos, 24% deles não respondeu ou não sabia se existia cláusulas referentes a benfeitorias nos con-tratosfirmados(MELO,2010,p.25). Esse é um indício de que a princípio grande parte dos locatários que integram o mercado imobiliário ouropretano é vulnerável tecnicamente e não possui habilidade necessária para avaliar o serviço de locação que adquire por meio de um contrato. Não obstante, o consumidor dos serviços locatícios em Ouro Preto é vulnerável também no aspecto técnico, pois muitas vezes o locador conta com auxílio de imobiliárias e advogados e com as próprias peculiaridades do mercado de locação em Ouro Preto, o que cria um óbice à possibili-dade de barganhar na negociação do contrato.E,porfim,emfacedareduzidaoferta,suaopçãodenegociarcláusulasficapraticamenteexcluí-da. Tais fatos levam o consumidor a se submeter às determinações dos locadores, pois suas opções acabam por se resumir a “pegar ou largar”. Nesse sentido, a referida pesquisa fornece um indício do que ocorre em Ouro Preto, posto que, quando os estudantes foram questionados so-bre quem redigiu o contrato, “obteve-se um resultado que chama a atenção” (MELO, 2010, p.23): dentre todos os contratos, apenas 20% (28 respondentes) deles, foram elaborados em conjunto por estudantes e proprietário (ou locadora). Contratos padrão, similares a contratos de adesão, demonstram o Poder de Mercado e mostram que a relação não se baseia em autonomia privada ou qualquer outra visão clássica do direito privado (no qual, em tese, deveria se embasar o contrato de locação típico). Em virtude desses indícios e da possibilidade de aplicação do direito do consumidor a quais-quer tipos de contratos, entendemos que é possível a aplicação do Código Consumerista as re-lações locatícias descritas. É importante ressaltar que a habilidade do locatário evitar erros, isto é, alugar um imóvel por meio de um contrato que prejudica a si mesmo, tende a aumentar à medida que considera mais informações sobre cada alternativa de contrato de locação que está disponível no momento da contratação (PHAM; HIGGINS, 2004, p. 17).

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Portanto, a concorrência favorece o contratante na medida em que torna a prestação do serviçode locaçãomaiseficiente,maisqualificadoecompreçosmais justos.Naesteiradesseraciocínio:

(...) na fase que precede o consumo (o plano concorrencial), que vamos localizar uma primeira preocupação com a posição de vulnerabilidade do consumidor. É ele então protegido, não do modo direto, mas pela via transversa da garantia de um modelo concorrencialgenuíno. (...),naesteiradoadágiodea ‘aconcorrênciaéomelhoramigo do consumidor’. (Proteção do consumidor e patentes: o caso dos medicamen-tos. Revista do Consumidor, v.10. São Paulo: Revista dos Tribunais, abril/junho 1994, p.22 apud Carpena, p.225.).

Então, proteger o consumidor e a concorrência nesse mercado imobiliário é mister também porque existem falhas no mercado, tanto externas quanto internas. Dentre elas, a concorrência restrita e as informações assimétricas, pois o locatário não está apto para escolher livremente sua moradiadentreasdisponíveis,considerandoqueainformaçãoécapazdeinfluenciarasdecisõesdos consumidores (McColl-Kennedy & Fetter Jr apud EKEHA, 2004, p. 10). A nova principiologia do Direito Contratual no Brasil se aproxima à do Direito do Consumidor, até porque os contratos de consumo são os mais comuns no atual contexto de trocas econômi-cas. Nesserumo,oConselhodeJustiçaFederalfirmouenunciadonosentidodeque:

Com o advento do Código Civil de 2002, houve forte aproximação principiológica en-tre esse Código e o Código de Defesa do Consumidor, no que respeita à regulação contratual, uma vez que ambos são incorporadores de uma nova teoria geral dos contratos (Enunciado nº 167).

Não há regra ou princípio que imponha a separação entre contratos de locação – ou compra e venda ou representação ou mandato – e direito do consumidor. Até mesmo porque a locação pode assumir contornos de mero contrato civil ou de contrato de consumo, conforme exista equilí-brio ou desequilíbrio entre os contratantes. Nesse caso, não se aplica um princípio de tipicidade do contrato para afastar princípios que além de pertinentes, emanam da Constituição da República. Enfim,parecedefensável,senãoextremamentelógica,aaplicaçãodoDireitodoConsumi-dor a alguns contratos locatícios.

3 A discussão judicial sobre a aplicação do Código de Defesa do Consumidor aos contratos de locação no Brasil

A jurisprudência brasileira mostra-se majoritariamente contrária à aplicação do Código de DefesadoConsumidorquandooslitígiostratamdeconflitosconcernentesacontratosdelocaçãoimobiliária. AjustificativadessaresistênciaporpartedoJudiciáriodeve-seàexistênciadaleinº8.245,de18deoutubrode1991,recentementemodificadapelaleinº12.112de2009,tambémconhecidacomo “Lei do Inquilinato”, pois grande parte dos julgadores acredita que a relação contratual de lo-caçãojáéregidaporuminstrumentonormativoespecíficoequeestefatoexcluiriaaaplicaçãodeoutra norma, no nosso caso, o CDC. Essaalegaçãoseverificaemváriosjulgadosarespeitodotema.Porexemplo,oSuperiorTribunal de Justiça(3) já decidiu que as relações locatícias possuem lei própria que as regula e que carecem de características existentes em uma relação de consumo; e também o Tribunal de Justiça de Minas Gerais(4) ao julgar ação de cobrança relativa a encargos locatícios. No entanto, estes julgados tratam, normalmente, de discussões sobre o valor da multa aplicável, usando o relevante fato de que multas irrisórias – a do CDC é de apenas 2% - não via-bilizariam relações locatícias. Nessas circunstâncias, também defendemos a aplicação do diploma específico,poisamultadoCDCdizrespeitoàsmáscondutasdoconsumidor-locatárioemfacede

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procedimento regular do locador. Neste caso, não há vulnerabilidade do consumidor, poderia haver, na verdade, uma conduta oportunista dele. Mas para situações nas quais há assimetria, seja de informação ou econômica, e possibili-dade de vantagem excessiva para os locadores, consideramos que os instrumentos de proteção ao locatário previstos no Código Civil, como a lesão, e nas demais legislações de natureza civil não sãosuficientesparacontrolarumaespeculaçãoimobiliáriatalcomoaqueocorreemOuroPreto.No caso desta cidade os imóveis disponíveis para locação não são observados de forma rigorosa pelos locatários antes da decisão de contratar (EKEHA, 2004, p.15) fazendo com que os contratos de locação adquiram natureza puramente mercantil, e por isso o Código de Defesa do Consumidor pode ser aplicado. Apesar de minoritário, entendimento semelhante ao nosso foi o do Ministério Público, ao propor ação civil coletiva com o objetivo de anular cláusulas de um contrato de locação usado pela imobiliária ré, consideradas abusivas ao locatário, e impedir pactuações posteriores que as uti-lizem. Sobre o tema, podemos transcrever trecho do voto do Tribunal:

Parquet parte ilegítima para postular a declaração de nulidade das cláusulas contrat-uais que considera abusivas e proibir a inserção das mesmas nos futuros pactos locatícios, ainda que contra a imobiliária.Irresignado,recorreuoMinistérioPúblico,afiançando,emresumo,setratarapresente demanda de prestação de serviços entre a ADMINISTRADORA de im-óveis e o locatário, sendo, portanto, regida pela Lei 8.078/90, que é complementar à Lei do Inquilinato - Lei 8.245/91, não havendo que se falar em incompatibilidade entre as duas, que se complementam.Alega que, se a lesão atinge a todos os inquilinos que firmaramos contratos deadesão com uma prestadora de serviços, o que existem são direitos individuais de origem comum, homogêneos, que podem, por isso, ser tutelados por ação coletiva, de acordo com o art. 81, § único, III, do CDC.Aduz que os pedidos formulados na inicial são cumulativos: um deles visando a declaração de nulidade de cláusulas abusivas inseridas em contratos de adesão e o outro perseguindo uma obrigação de não-fazer, ou seja, condenar a recorrida a não inserir nos novos contratos as cláusulas impugnadas, sendo o primeiro pedido individualhomogêneoeosegundodireitodifuso,oquesignificaqueaalegaçãodeque o CDC não se aplica às relações locatícias não teria qualquer pertinência para excluir a legitimidade do Ministério Público, pois o que se discute não é a relação locatícia, mas a prestação de serviços de intermediação de aluguel feita pela ADMIN-ISTRADORA.Aofinal,pretendeuadeclaraçãodalegitimidadeativadoMinistérioPúblicoeacas-sação da sentença.Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso(5).

Além disso, o Ministério Público argüia o fato dos contratos serem “contratos de adesão” e de ser atividade exercida por imobiliária, com nítida natureza mercantil. Nesse caso, a aplicação de conceitos clássicos, como o de contrato de adesão, favoreceram a tese e expuseram com clareza apossibilidadedeaplicaçãodoCDCnocasoespecífico. Ou seja, há entendimento de que diante de determinados contextos sociais, o contrato de locação se reveste de características econômicas que acabam por conferir ao serviço locatício o caráter de mercadoria, ou seja, objeto de consumo dos locatários. Deste modo, o CDC pode colaborar para o equilíbrio das relações, por exemplo, exigindo o aprimoramento das informações colocadas à disposição do locatário e facilitando sua escolha, impedindo a inserção de cláusulas abusivas nos contratos, e também facilitando a defesa dos lo-catários em juízo. Neste sentido é também o entendimento de SCHETTINI e SILVA (2011, p.9), que ao ver-sarem sobre as diferenças entre o tratamento dado à especulação imobiliária em Ouro Preto e na cidadedoPorto,alegamquealeidoinquilinato,apesardesuamodificaçãoem2009,aindanãoécapaz de conter o abuso que acontece na especulação imobiliária.

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Sobreainsuficiênciadaleidoinquilinatonaproteçãodoslocatários,asreferidasautoras(2011, p.2) também aduzem: “centenas de famílias e estudantes (...) [em Ouro Preto] muitas vezes não se vêem protegidos pela lei do inquilinato (...) apesar dessa lei possuir cerca de 100 artigos, se mostraineficientenoquedizrespeitoàprevençãodaespeculaçãoimobiliária”. Enfim,nãoobstanteoposicionamentomajoritáriodaJurisprudência,entendemosqueháespaço para a aplicação do Código de Defesa do Consumidor nas relações locatícias, no mínimo, para situações diferenciadas, como a que ocorre em Ouro Preto.

4 Como seriam as relações locatícias se fosse aplicado o Código de Defesa do Consumidor

Justificativascomo “segurança jurídica”ouvantagensda “tipicidadecontratual”poderiamainda ser argüidas no âmbito prático. Oscontratosficariammuitoflexibilizadoseomercadoacabaria tornando-sepiorparaosconsumidores. Os fornecedores, por exemplo, poderiam deixar de ofertar imóveis para estudantes e nem mesmo os estudantes saberiam exatamente quais os seus direitos. Estasjustificativaspoderiamserválidasemmercadossemfalhas,masquandohátantade-mandadificilmenteosfornecedoresdeixariamdelucrarporrespeitarregrasconsumeristas.E,porisso, seria difícil imaginar um dono de 10 (dez) ou 20 (vinte) unidades para locação, simplesmente desprezar a demanda dos estudantes. Além disso, o que se busca é justamente uma regulação dos reajustes que são burlados peloslocadores.E,dificilmente,oresultadodessaregulaçãoseriaumaumentodepreços,puroesimples. Com a aplicação do Código de Defesa do Consumidor os locatários teriam proteção em re-lação a cláusulas abusivas, sobre reformas de imóveis, prazos de vigência e reajustes de preços. Eles teriam também proteção sob forma de favorecimento processual, com a possibilidade de inversão do ônus da prova e privilégio de foro em virtude de residirem, normalmente, em outras cidades. Porém, o efeito mais importante seria a possibilidade da aplicação da regra do art. 6º, V do Código de Defesa do Consumidor, que trata da lesão em caso de prestações desproporcionais. Nessa linha de entendimento, posição similar é a de Antônio Herman de Vasconcelos e Benjamin (1991, p.251):

É de grande a importância da aplicação do CDC aos contratos de locação em virtude de sua relevância social e de extrema vulnerabilidade fática, que se encontra o indi-víduo ao necessitar alugar um imóvel para sua moradia e de sua família, tal vulnera-bilidade aliada a um mercado de oferta escassa, parece incentivar práticas abusivas, na contratação (cobrança de taxas abusivas, por ex.) e na elaboração unilateral dos contratos; o fenômeno é mundial.

Deste modo, os locatários, e nesse caso, os estudantes que moram em repúblicas, teriam uma proteção em face de preços e reajustes exorbitantes, impostos apenas em virtude da posição privilegiada dos locadores.

5 Conclusões

A posição privilegiada dos locadores no Município de Ouro Preto desequilibra a relação de consumo estabelecida com os locatários, criando oportunidades de abusos por parte dos primeiros. E mesmo diante de problemas já relatados em face de posições protecionistas em contratos de locação é necessário corrigir as falhas de mercado antes de permitir que o mesmo funcione sim-plesmente em função da lei da oferta e da procura. Neste artigo demonstramos que o mercado imobiliário de Ouro Preto possui peculiaridades que podem indicar a aplicação do Código de Defesa do Consumidor. Baixíssima oferta, em face de uma elevada e crescente demanda, combinadas com um problemaevidentedeinformação,indicamqueosestudantesquechegamaomunicípioficama

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mercê de condições impostas pelos locadores. E com esta situação todos os locatários da cidade acabam sendo prejudicados. Além disso, em face das peculiaridades do mercado, não há como considerar o serviço de locação senão como uma mercadoria, que é oferecida para o mercado, com intuito de lucro e sem qualquer preocupação com os princípios norteadores do contrato locatício previsto em lei especial. Ou seja, não se trata de um locador que entrega seu imóvel excedente e busca obter frutos de sua propriedade, mas de um empresário que possui vários imóveis e visa lucro. Trata-se de uma atividade na qual os contratos são padronizados e impostos aos locatários e os reajustes têm por objetivo o aumento arbitrário do lucro, não a recomposição do valor dos alu-guéis. E por isso, não parece pertinente afastar a aplicação do Código de Defesa do Consumidor. Limites assim poderiam manter uma concorrência mais equilibrada, na qual preceitos clássi-cosdoscontratospossamserrespeitados.Contratofirmadoapartirdeumacordoentreaspartes,com um índice de reajuste previamente estabelecido e um locatário munido de informações objeti-vas é satisfatório, a médio e longo prazo, para todos que estão neste mercado. Enfim,nuncaéexcessivodizerquetalsituaçãoocorreporqueosserviçoslocatícios,nestalocalidadeespecífica,foramtransformadosemmercadoriaqueestásetornandoexcessivamenteonerosa para seu consumidor-locatário. Nessas condições, a aplicação do Código do Consumidor pode equilibrar a posição dos agentes no mercado e permitir um melhor funcionamento do mer-cado.

Notas Explicativas

1. A Universidade de Ouro Preto possui 64 quartos individuais (alojamentos) no Centro de Con-vergência do Campus Morro do Cruzeiro. Possui também, em Ouro Preto, 58 repúblicas federais (imóveis que a UFOP disponibiliza para a moradia estudantil). Universidade Federal de Ouro Preto – Moradias Estudantis. Disponível em: <http://www.ufop.br/index.php?option=com_content&task=view&id=56&Itemid=157>. Acesso em: 22 de abril de 2011.No entanto, grande parte dos estudantes mora em repúblicas particulares (imóveis alugados). A UFOP registra em número de pouco mais de 250 repúblicas particulares, mas sabe-se existem centenas delas ainda não cadastradas. Universidade Federal de Ouro Preto – Moradia Estudan-til – Repúblicas particulares em Ouro Preto. Disponível em: <http://guiche2.ufop.br/scripts/sme/smeweb.exe/pesquisa?cidade=1&situacao= PARTICULAR&republica=>. Acesso em 22 de abril de 2011.

2. Além dos 8851 alunos nos 38 cursos presenciais da Instituição, existem mais 3819 alunos dis-tribuídos nos 6 cursos à distância oferecidos pela instituição, totalizando 12670 alunos. Sistema de Controle Acadêmico da Universidade Federal de Ouro Preto. A Graduação em Tempo Real. Dados OficiaisdaUFOPnãopublicados.

3. Conteúdo da Decisão: LOCAÇÃO - DESPESAS DE CONDOMÍNIO - MULTA - CÓDIGO DE DEFESADOCONSUMIDOR-INAPLICABILIDADE.(Brasil.STJ.5ªTurma,REsp.262.620/RS,relator: ministro Felix Fischer, j. 13/9/2000).

4. Conteúdo da decisão: AÇÃO DE COBRANÇA - ENCARGOS LOCATÍCIOS - CÓDIGO DE DE-FESA DO CONSUMIDOR - INAPLICABILIDADE - MULTA - REDUÇÃO - INTELIGÊNCIA DO ART. 5º DA LEI DE INTRODUÇÃO DO CÓDIGOCIVIL. (Brasil. TJMG. Processo: 2.0000.00.400319-2/000(1). Rel: Des: SALDANHA DA FONSECA, julg. 10/09/2003.

5. MINAS GERAIS. Tribunal de Justiça. Processo: 2.0000.00.387587-0/000(1). Rel: Des: MAURO SOARES DE FREITAS, julg. 27/08/2003.

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Estado,sociedadeemercado.Interaçõesereflexossociais.

Elizabeth Guimarães Machado

RESUMO

A ética social é um atributo indispensável para as organizações que querem manter-se vivas no mercado, e a sociedade civil está cada vez mais alerta para os desvios de conduta das organiza-ções e suas conseqüências, além da busca de uma igualdade social. De outro lado, conforme mostra a linha doutrinária do economista Milton Friedman, a racionalidade dosistemaeconômicocapitalistanãosevêvoltada,especificamente,paraatenderaoconsumidorem suas necessidades sociais, ou mesmo da sociedade civil em seu entorno. Estimula o consum-ismo num mercado global, ante a idéia de que, através de um consumo cada vez maior, o cresci-mento econômico ocorrerá, gerando oportunidades de renda e circulação de riquezas. As necessi-dades sociais, constantemente, não são levadas em consideração pelos empresários que buscam uma lucratividade maior em suas atividades, sob a alegação de que a principal responsabilidade das empresas é maximizar o lucro dos investidores, cabendo ao Estado a preocupação com o so-cial.Verifica-se,porsuavez,anecessidadedointervencionismoestatalnaeconomia,refletidapelaatuação do Estado no sentido de adoção de medidas protecionistas em favor da comunidade civil, originadas com razões de motivação de ordem social como: busca de igualdade na distribuição dos recursos e de poder na sociedade civil, e a busca pelo ideal democrático, visando à participação de todos os cidadãos nos processos de tomadas de decisões que a todos afetam.

Palavras-chave: Empresa. Mercado. Função social. Responsabilidade social.

ABSTRACT

Social ethic is an indispensable predicate for an organization which intends to keep itself in the market place and civil society is increasingly alert for the deviation of conduct and its consequences by companies, besides the civil society’s growing search for social equality. Besides, according to economist Milton Friedman, the reason for capitalism to exist is not the consumers’ social needs, neither the society where they are found. Capitalism stimulates consumerism in a global market, selling the idea that greater consumption of goods leads to economical growth, generating jobs and wealth circulation. Social needs often are not taken into consideration by executives, who only seekgreaterprofitsintheiractivities,claimingthattheirmajordutyistomaximizeinvestors’profits.Thesocial issues,intheirview,shouldbetakencarebythegovernment.It isverified,therefore,the need of State intervention in the market, by adopting preservative measures in favor of the civil community, measures that will be based on the society’s best interest such as: search for equality in the distribution of resources and power in the civil society; search for the democratic ideal, having all citizens participate in the decisions which will affect all.

Key-words: Organization. Company. Market. Social function. Social responsibility.

INTRODUÇÃO

Arecentepassagemdeséculoinstigoupessoasdomundointeiroàreflexãosobreasatuaiscondições de vida planetária e as perspectivas de futuro da humanidade, realçando o que já vinha sendo alertado principalmente a partir dos anos 90, sobre a precariedade e a crescente deterio-ração das condições de vida social e econômica para a grande massa popular mundial e, principal-mente, os danos ao meio ambiente, a nível global, contrastando com o crescente poder decorrente da atividade empresarial, inserida neste ambiente e suas afetações com governos, sociedade civil e meio ambiente. Em decorrência do desenvolvimento da tecnologia e do conseqüente avanço dos meios de

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comunicaçãoemmassa,aflorou,naspessoas,odespertardeumaconsciênciaeticamentemaiscrítica e reforça o desconforto ante a indiferença e o sentimento de impotência no mero espectador, frentearelaçõesdepodernãoigualitárias,nãoinclusivas,daígerandoreflexosdegradativaecres-cente alteração de posturas, de meros espectadores, a atores sociais responsáveis, com propostas de reformulações das relações sociais e respectivos paradigmas de valor, num estado democrático de direito, em persecução do desenvolvimento sustentável global. Este trabalho tem como proposta o estudo sobre a postura do Estado em suas diversas for-matações e demais atores ante o agravamento das necessidades sociais e de danos ambientais contrastados com a meta principal da atividade empresarial focada na lucratividade, além de cres-centepoderioeinfluênciadasempresasnavidasocialenomeioambiente,aliadoàtendênciadedelegação ao governo das atribuições quanto ao bem-estar social, e as novas posturas sociais cor-porativas em busca de um desenvolvimento sustentável, com fortalecimento da imagem e alcance de mercado a longo prazo. Utilizando a metodologia de pesquisa em bases bibliográficas, procuramos uma maiorabrangência, quanto à busca, de entendimentos doutrinários sobre o tema. Abordamos o direito positivo, além da base doutrinária, para distinguirmos a atividade em-presarial da não empresarial, ambas de fundamento econômico, em conformidade com o Código Civil em vigor. Prosseguimos nosso estudo com a análise dos paradigmas e a evolução do Estado de Di-reitoaoEstadodoBem-estarSociale,finalmente,aoEstadoDemocráticodeDireito,esteúltimoadotado como nosso marco teórico. Estudamos a aparente transição da democracia representativa para a participativa, na visão de que esta última, ainda em fase embrionária, constitui mola propulsora para a responsabilidade social corporativa. Analisamos o papel do Estado na promoção do bem-estar social, nos setores da sociedade e na crescente parceria intersetorial como um dos enfoques do fundamento do papel do Estado “versus” o papel das empresas no contexto social e as respectivas responsabilidades, sob a ótica do desenvolvimento sustentável.

ESTADO, SOCIEDADE E MERCADO. INTERAÇÕES E REFLEXOS SOCIAIS.

1.Contornosdosreflexossociaisdecorrentesdaatividadeempresarialemambienteglobalizado.

As empresas, assim consideradas pelo exercício efetivo de atividade empresarial, no âmbito individual ou coletivo, têm grande impacto nas atividades humanas. Na atualidade, é inconcebível a vida em sociedade sem a dependência do resultado da atuação das empresas. Alfredo Lamy Filho1 descreve o vínculo crescente da empresa na vida do homem moderno, vínculo este ligado ao progresso econômico e à conquista do bem-estar social, fenômeno tendente a um “crescimento em marcha acelerada, e não revela indícios de reversão”. Vista por sua importância econômica, é considerada uma “unidade de produção da economia moderna”, aliada à importância social traduz-idapelosignificadohumanoporrepresentarum“quadrodeencontrodoshomensparaaaçãoemcomum que lhes assegura sua existência”. Na fala do autor, dependemos da empresa:

para o nosso trabalho, e nosso lazer, para nos transportarmos e nos comunicarmos, para a produção de alimentos ou de mobiliário e vestuário, para a defesa de nossa saúde, para a habitação, para a produção de toda essa parafernália de utilidades empregadas no dia-a-dia do homem moderno. [...] Não é por outro motivo que, em toda a parte, os estudiosos das ciências políticas, sociais e econômicas se voltaram paraaanálisedaempresa,a‘céluladebasedetodaaeconomiamoderna’,ograndeinstrumento de criação de riquezas, de poder e de promoção individual, e, ao mesmo tempo, origem e solução dos problemas, de complexidade crescente que fazem a grandeza e a miséria da vida do homem moderno.

1 LAMY FILHO, Alfredo. A empresa – formação e evolução – responsabilidade social. In Novos estudos de direito comercial em homenagem a Celso Barbi Filho. SANTOS, Theophilo de Azeredo (Coordenador). Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 1-2.

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O cerne da atividade empresarial é a busca da lucratividade e do crescimento econômico, aliado à necessidade de sua sustentabilidade no mercado, situação “sine qua non” para viabilizar a perpetuidade do exercício desta atividade, o que nos leva ao entendimento de sua dependência ligada a estratégias administrativas que visam ao desenvolvimento sustentável destas empresas, inseridas num contexto global2. O fenômeno da globalização, traduzido pelo funcionamento do mercado atual que “impõe uma integração econômica que favorece aos países ricos”3, “ipso facto”, apresenta uma falha es-trutural, posto que mostra sua incapacidade de satisfazer a grupos de pessoas que se encontram na condição de excluídas, cuja magnitude é variável4. Como nos mostra Zygmunt Bauman em seu livro “Globalização: as conseqüências humanas”5, essa falha produz riqueza e bens, através da atividade empresarial, produzindo o efeito de aumentar o círculo de dependentes das novas ne-cessidades que cria, sendo que, grande parte da população não pode gozar desta riqueza e bens, devido à precariedade de recursos e ao aumento do fosso entre ricos e pobres6, cuja distância so-cial é fator que gera instabilidade não só social, mas também na preservação da atividade empre-sarial, que tem seu mercado consumidor reduzido, pela privação do cidadão comum ao acesso ao consumo, ou seja, o ciclo produtivo torna-se insustentável com a redução do mercado consumidor, cada vez com menor poder aquisitivo. Alfredo Lamy Filho7 faz referência à ascensão da empresa moderna que ultrapassa os lim-itesdosimplesexercíciodaatividadeparaomercado,adquirindoum“status”degrandesignificadoeconômico, político e social, efeitos estes que se projetam em termos de poder. Neste sentido, ensina:

Comefeito,cadaempresarepresentaumuniverso,integradopelosrecursosfinan-ceiros de que dispõe e pelo número de pessoas que mobiliza a seu serviço direto. O círculo de dependentes das decisões empresariais não se esgota aí, no entanto. As-sim,nocampoeconômico-financeiroaatividadetrazrepercussõesaosfornecedores

2 Alfredo Lamy Filho mostra em seu artigo sobre a formação e evolução da empresa – responsabilidade social, citado supra, p. 2-3, a dependência que o homem moderno advinda do resultado da atividade empresarial, sendo esta o meio através do qual é promovido o desenvolvimento social, econômico, científico, tecnológico e industrial que, segundo Francis-Paul Benoit, referenciado pelo autor, “implicam a evolução do saber, dos meios e das mentalidades. Com a revolução tecnológica que vivemos, o homem criou utilidades novas; essas utilidades mudam as condições de vida, e podem mudar o próprio homem. São as empresas que, fundamentalmente, têm feito face aos difíceis problemas de iniciativa, do controle – e da aceitação também – dessas transfor-mações.” Acrescenta os comentários dos empresários François Dalle e J. Bounine inseridos no livro Quand l’Entreprise s’Éveille à la Conscience Sociale (Paris, 1975), assim transcritos: “no curso dos últimos anos, as sociedades industriais viram crescer seus índices de produção a taxas jamais igualadas. Seus membros puderam beneficiar-se de uma abundância de bens materiais e modos de vida que teriam sido inimagináveis há apenas quinze anos [o livro foi publicado em 1975]. Mas, para tanto, tiveram que consentir em viver em estado de simbiose sem precedentes com a empresa. Jamais os homens, em atividade ou aposentados, trabalhando ou viajando, repousando ou se alimentando, sentiram tão intensamente como em nossos dias os efeitos do processo de industrialização.”3 FARIAS, Edilsom. Democracia, censura e liberdade de expressão e informação na Constituição Federal de 1988 . Jus Navigandi, Teresina, a. 5, n. 51, out. 2001. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2195>. Acesso em: 05 fev. 2006.4 Ver. LORENZETTI, Ricardo Luis. Consumidores. Buenos Aires: Rubinzal – Culzoni Editores, 2003.5 BAUMAN, Zygmunt. Globalização: as conseqüências humanas. Tradução de Marcus Penchel. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999. O livro contém importante estudo sobre as conseqüências da globalização em nossos tempos, com dados es-tatísticos e referências a diversos autores, tais como: John Kavanagh, do Instituto de Pesquisa Política de Washington; Ryszard Kapuscinski, cronista do The Economist, mostrando casos vivenciados pelo cronista na África e dados estatísticos que comprovam o problema da pobreza mundial, editado sob o título “Como alimentar o mundo”, além de, entre outros, Jeremy Seabrook, Lester Thurow e Robert Reich; Martin Woollacott; Georg Henrik von Wright. Um referencial para quem quer aprofundar pesquisa sobre o tema.6 Bernardo Kliksberg fez um importante estudo sobre este tema, referenciado pelo autor como uma “falha do mercado” e as diferenças por ela criadas, com mostras de dados estatísticos relacionados aos problemas sociais da América Latina, publicado em seu livro: Falácias e mitos do desenvolvimento social. Tradução de Sandra Trabucco Valenzuela, Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Cortez. Brasília, DF: UNESCO, 2001. Outro autor que analisa e critica o capitalismo mostrando suas contradições e diferenças criadas em decorrência deste sistema, é o filósofo húngaro István Mészáros, em monumental obra intitulada Para além do capital – rumo a uma teoria da transição. Traduzido por Paulo César Castanheira e Sérgio Lessa. São Paulo: Boitempo Editorial, 2002. No Brasil, ver FISCHER, Rosa Maria. O desafio da colaboração: práticas de responsabilidade social entre empresas e terceiro setor. São Paulo: Editora Gente, 2002, p.33.7 LAMY FILHO, Alfredo. A empresa... op. cit. p. 14-15.

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dos insumos, às empresas concorrentes ou complementares, aos consumidores que se habituaram aos seus produtos, aos investidores que se associaram à empresa, e aos mercados em geral; no setor humano, a empresa, como se disse, é campo de promoção e realização individual, cuja ação (de propiciar emprego, demitir, pro-mover, remover, estimular e punir) ultrapassa a pessoa diretamente atingida para projetar-se nos campos familiar e social.

Os efeitos da atividade empresarial, no meio social, sugerem uma administração empre-sarial visando a mudanças, por meio de melhores alternativas em termos econômicos, sociais, ecológicos e humanos, com a utilização de estratégias que levem a um resultado que atenda aos interesses empresariais, que não podem perder o foco no mercado consumidor. Este, por sua vez, tem sido afetado pela desigualdade social, gerada pelo empobrecimento da grande maioria da população global, aliado à perda da qualidade de vida pessoal, social e ao crescente esgotamento dos recursos naturais e efeitos negativos, que a atividade empresarial tem gerado ao ecossistema, como muito bem relata Bernardo Kliksberg8 quando confronta as realidades da América Latina re-lacionadas à pobreza, desigualdade e deterioração da família:

[...] as extremas desigualdades no acesso a oportunidades socioeconômicas mantêm eintensificamdramascomoamisériaemquevivemascomunidadesindígenas,amarginalização da população de cor em alguns países, a subordinação da mulher, particularmente da mulher pobre, em diversas áreas, a isso, surge uma sociedade com grandes fraturas, que geram exclusão, tensão social e com freqüência, ideolo-giasintolerantesquevisamjustificartaisfraturas.

Barrington Moore, Jr.9, estudando os aspectos morais do crescimento econômico, nos mos-tra como o mercado gera desigualdades, com a conseqüente perda do poder aquisitivo do cidadão comum, efeito este que resultará num risco de redução de clientela do empresário, gerado pela falta de poder aquisitivo dos afetados:

[...]omercadoreproduzfielmentetodasasinjustiçasdasociedadevigente.Maisdoqueisso,pareceque,numasociedadedemercado,oricoficacadavezmaisricoeo pobre cada vez mais pobre. Vantagens geram mais vantagens de um dos lados na relação de troca, e o contrário é também verdadeiro.

Neste contexto, algumas empresas têm direcionado suas atividades para objetivos concre-tos, no sentido de gerar um desenvolvimento sustentável, buscando não só a execução de metas, com vistas à lucratividade por meio de arranjos produtivos, mas também tentando proporcionar sua continuidade, tendo, para isto, que minimizar os efeitos deletérios que vêm afetando a sociedade global e o meio ambiente, gerando a preocupação paralela com a sociedade civil em seu entorno. Nos últimos anos muito se tem avançado neste sentido, entretanto há um longo caminho a ser percorrido, conforme aponta Bernardo Kliksberg10, citando a América Latina:

Demonstrou-sequeosocialnãose resolveatravésdo ‘derrame’.Namaioriadoscasos estudados pelos informes sobre Desenvolvimento Humano da Organização das Nações Unidas, por exemplo, mesmo havendo crescimento econômico, em con-dições de alta desigualdade, ele não circula, tende a estacionar-se em certos setores da sociedade. Os perdedores continuam aumentando e os ganhadores aumentam suas brechas relativas com respeito a eles.

Por outro lado, independentemente da iniciativa de buscar o desenvolvimento sustentável de suas atividades e a promoção do bem-estar social em seu redor, as empresas, que, se por

8 KLIKSBERG, Bernardo. Falácias e mitos do desenvolvimento social. Tradução de Sandra Trabucco Valenzuela, Silvana Cobucci Leite. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2001, p. 47.9 MOORE, Barrington Jr. Aspectos morais do crescimento econômico e outros ensaios. Tradução Max Altman. Rio de Ja-neiro: Record, 1999, p. 172. [Título original norte-americano: Moral aspects of economics growth and other essays].10 KLIKSBERG, Bernardo. Falácias... op. cit . p. 99

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meio de suas atividades, contribuem para a ocorrência de dano social ou ecológico, devem ter a responsabilidade de prevenir sua não-ocorrência, ou saná-los, caso já provocados. Neste sentido, leciona Alfredo Lamy Filho11aomostrarosefeitosabrangentesesignificativosqueasdecisõesdaspequenas, médias e, principalmente, das grandes empresas, que têm o condão de afetar a vida econômica, política e social da sociedade em geral, mostrando o poder que detêm12. Segundo o autor, as decisões empresariais

[...] de que dependem a vida e a realização de tantas pessoas e o desenvolvimento econômico em geral, são tomadas pelos administradores da empresa – que exer-cem, assim, um poder da mais relevante expressão, não só econômica como política e social, e o das mais fundas conseqüências na vida moderna.

O Código Civil Brasileiro vigente, adotando o princípio da socialidade, prevê a responsabi-lidade do empresário, individual ou coletivo, mesmo que, por atos praticados por seus prepostos, em decorrência do exercício da atividade empresarial13; disciplina ainda a responsabilidade pessoal dos prepostos por danos causados no exercício de suas atividades, devendo responder perante o preponente pelos atos culposos e, perante terceiros, solidariamente, com o preponente, pelos atos dolosos, vinculando, assim, preponente e preposto perante terceiros, sociedade e meio-ambi-ente14. Por sua vez, a atividade empresarial, intrinsecamente, não representa ato ilegal ou fraudu-lento.Temsuascaracterísticaspróprias, cujoescopoéafinalidade lucrativa.Seusefeitos,nosmeios econômico, social e ambiental, estes, sim, é que causam danos à vida em sociedade e ao ecossistema e devem ser prevenidos ou reparados, segundo a participação de cada ator social, individualmente, e em seu inter-relacionamento.

2. Os paradigmas do Estado de Direito e do Estado do Bem-estar Social ante a iniciativa privada.

O Estado de Direito é uma forma de organização política, tendo como base a separação dos poderes do legislativo, executivo e judiciário, interdependentes entre si, além da instituição de direi-tos fundamentais de caráter individual instituídos na Carta Magna. Conforme Marcelo Cattoni15

11 LAMY FILHO, Alfredo. A empresa... op. cit. p. 15.12 István Mészáros, em sua obra Para além do capital... op. cit. p. 1085-1086 alerta sobre o antagonismo político resultante da penetração econômica dos EUA em proporção global e tendência do empresário internacional em sua persecução ao lucro, cujos dados extraídos de: The Guardian, 5 de fevereiro de 1986. Selling off, and shrugging yet again e comentários do autor tran-screvemos: “‘Em meio a um recente escândalo político, que se seguiu à revelação de negociações secretas do governo com empre-sas gigantescas dos EUA, o líder do Partido Trabalhista britânico referia-se a ‘mais um ato de colonização na economia britânica.’ Ele conseguiu pleno apoio da imprensa liberal. Um editorial do The Guardian protestava: Inicialmente foi a United Technologies, negociando para controlar a Westland (e sendo bem-sucedida com o auxílio da manipulação governamental e de transações sus-peitas sob o manto do sigilo). Em seguida a General Motors com a Lotus; depois a ameaça de retirar o radar aerotransportado da GEC (que também se tornou depois um fato consumado) e transferi-lo para as mãos da Boeing. Agora a Ford pode comprar a BL, tudo o que resta da indústria automotiva de propriedade britânica. Uma ou duas dessas negociações talvez pudessem ser desculpáveis. Mas tantas, e tão próximas umas das outras, deixam a impressão de que a Sra. Thatcher tem tão pouca fé nos fabri-cantes do Reino Unido, que deseja converter o país num sorvedor terceiro-mundista de produtos multinacionais. (...) “O Sr. Bob Lutz, presidente da Ford européia, afirmou recentemente ao Financial Times: Se acharmos que temos insta-lações de montagem importantes, mas que, independentemente do país em questão, por uma razão ou por outra – talvez por ações governamentais impróprias (feriados mais longos, semanas de trabalho mais curtas), ou por intransigência sindical – não podem ser competitivas, não nos recusaremos a tomar a decisão de fechá-las”.

13 Artigo 1.178, caput, Código Civil/2002: “Os preponentes são responsáveis pelos atos praticados por quaisquer prepostos, praticados nos seus estabelecimentos e relativos à atividade da empresa, ainda que não autorizados por escrito”. Parágrafo único do artigo 1.178, Código Civil/2002: “Quando tais atos forem praticados fora do estabelecimento, so-mente obrigarão o preponente nos limites dos poderes conferidos por escrito, cujo instrumento pode ser suprido pela certidão ou cópia autêntica do seu teor”.14 Parágrafo único do artigo 1.177, Código Civil/2002: “No exercício de suas funções, os prepostos são pessoalmente responsáveis, perante os preponentes, pelos atos culposos; e, perante terceiros, solidariamente com o preponente, pelos atos do-losos”.15 CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Coesão interna entre estado de direito e democracia na teoria discursiva do direito de Jürgen Habermas. In Jurisdição e hermenêutica constitucional no estado democrático de direito. Coordenação CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004, 183-184.

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O paradigma liberal pressupõe uma sociedade econômica de mercado que se in-stitucionaliza por meio do Direito Privado; vincula-se à expectativa de que se possa alcançar justiça social pela garantia de um status negativo, pela delimitação de es-feras de liberdades individuais. O paradigma do Estado Social desenvolveu-se a partirdeumacríticaconsistenteaessasuposição.Sea ‘liberdadedepoder terepoder adquirir’ deve garantir justiça social, é preciso haver uma igualdade do poder juridicamente.

Segundo preleciona Pellegrini16 no paradigma do Estado de Direito “nota-se a divisão da sociedade em duas grandes esferas”: a sociedade civil, representando a esfera privada, e a socie-dade política, representando a esfera pública, com o mínimo de intervenção do Estado Liberal na esfera privada, cujos parâmetros de liberdade de atuação dos atores, nesta esfera, “poderiam ser compreendidos como toda atuação que não fosse contrária ao direito, ou seja, o que não é proibido por lei é permitido”.17 Com o efeito da sociedade capitalista, ante a globalização das atividades produtivas, re-sultando no empobrecimento da grande massa da sociedade civil, percebe-se, neste contexto, significativaexclusãosocial, contrastando-secomoenriquecimentoepodernasmãosdepou-cos, grupos estes que, em virtude de sua situação privilegiada, assumem o controle inclusive das tendências legislativas que deveriam ser de caráter genérico e abstrato, conforme formatação do paradigma do Estado de Direito. Conforme Habermas18

[...] A tendência à destruição do Estado Social e o surgimento de uma subclasse nas sociedades industriais desenvolvidas carece de uma análise acurada também sob o ponto de vista normativo do recurso efetivo, e sob igualdade de chances, aos direitos de participação política.

O Estado Social tem como escopo a busca de melhoria das condições sociais da comuni-dade e promoção de justiça social19. O surgimento do paradigma do Estado Social se dá ante a incapacidade do Estado Liberal de responder às demandas sociais, cujas garantias dos direitos fundamentais de caráter individual, direitos de primeira geração, previstos teoricamente, na prática, nãofuncionavam,gerandoconflitossociais.ConformevisãodePellegrine20:

A passagem do paradigma do Estado Liberal ao Estado Social ocorre em função das demandas sociais, as quais o Estado Liberal mostrou-se completamente incapaz de responder. A mera previsão em textos constitucionais dos princípios da igualdade, liberdadeepropriedadenãoforamsuficientesparaqueosmesmosfossemconcre-tamente garantidos.

Sob o manto do Estado do Bem-estar Social, altera-se o papel do Estado, cabendo-lhe promover o bem-estar social, o equilíbrio e equidade da vida em sociedade, expectativas de comportamento vislumbradas em constituições sociais promulgadas após a Primeira Grande Guerra Mundial, como amexicana(1917),aalemã[ConstituiçãodeWeimar-1919]21. Em Habermas22

ArepúblicadeWeimarfaziapartedatradiçãodeumEstadodedireito–jádesen-16 PELLEGRINI, Flaviane de Magalhães Barros. O paradigma do estado democrático de direito e as teorias do processo. In virtualjus revista eletrônica. Ano 3. julho, 2004, p. 4.17 CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Coesão... op. cit., p. 176.18 HABERMAS, Jürgen. A inclusão do outro – estudos de teoria política. Tradução George Sperber e Paulo Astor Soethe. São Paulo: Edições Loyola, 2002, p. 367.19 MEIRELES, Heli Lopes. Direito administrativo brasileiro. 10. ed. atualizada. São Paulo: Ed. Revista dos Tribunais, 1984, p. 497.20 PELLEGRINE, Flaviane de Magalhães Barros. O paradigma ... op. cit., p. 5.21 Ver KÜNG, Hans. Projeto de ética mundial: uma moral ecumênica em vista da sobrevivência humana. Tradução Haroldo Reimer. São Paulo: Paulinas, 1993, p. 49: o autor mostra que sem consenso, adquirido através do diálogo, a democracia não fun-ciona, como no caso da República de Weimar, que existiu de 1919 a 1933 na Alemanha, que resultou no caos.22 HABERMAS, Jürgen. A inclusão... op. cit., p. 153.

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volvido durante a monarquia constitucional – que deveria proteger os cidadãos dos abusos do poder do Estado; contudo, ela integrava, pela primeira vez em solo ale-mão, o Estado de Direito com a forma de Estado e com o conteúdo político da de-mocracia.

Bem-estar social é traduzido por Hely Lopes Meirelles 23 como “o bem-comum, o bem do povo em geral, expresso sob todas as formas de satisfação das necessidades comunitárias”, abran-gendo “as exigências materiais e espirituais, as necessidades vitais dos indivíduos coletivamente considerados”. No Estado de Bem-estar Social ocorre a expansão do Estado, no sentido de viabi-lizarumtratamentojurídicodequalquersituaçãoqueviseao“fimsocial”,nabuscapelaigualdadee redução da exclusão social. A Constituição Federal de 1988 vislumbra, entre os objetivos funda-mentais do Estado, a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, a garantia do desenvolvi-mento nacional, a erradicação da pobreza e da marginalidade, redução das desigualdades sociais e regionais, a promoção do bem de todos, sem preconceitos de raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º e §§), numa marca evidente do Estado de Bem-estar Social, criado pelo Constituinte de 1988. NaliçãodeHelyLopesMeireles,oEstadodeBem-estar(WelfareState)éumaprimoramen-to do Estado de Direito.

Não é o Estado Liberal, que se omite ante a conduta individual, nem o Estado Social-ista, que suprime a iniciativa particular. É o Estado orientador e incentivador da con-duta individual no sentido de bem-estar social. Para atingir esse objetivo, o Estado de Bem-Estar intervém na propriedade e no domínio econômico, quando utilizados contra o bem-comum da coletividade.

ÉsobatuteladoEstadodoBem-estarSocialqueosdireitossociaisecoletivossãodefinidose chamados de direitos de segunda geração, acrescidos aos direitos individuais, considerados de primeirageração,quesãoredefinidos,conformeMenelickdeCarvalhoNeto24:

Não se trata apenas do acréscimo dos chamados direitos de segunda geração (os direitoscoletivosesociais,masinclusivedaredefiniçãodosdeprimeira(osindivid-uais); a liberdade não mais pode ser considerada como o direito de se fazer tudo o que não seja proibido por um mínimo de leis, mas agora pressupõe precisamente toda uma plêiade de leis sociais e coletivas que possibilitem, no mínimo, o recon-hecimento das diferenças materiais e o tratamento privilegiado do lado social ou eco-nomicamente mais fraco da relação ou seja, a internalização na legislação de uma igualdade não mais apenas formal, mas tendencialmente material.

Esta co-dependência da sociedade perante o Estado Social acaba gerando um efeito con-trário ao pretendido, a saber, a criação de “guetos jurídicos”, exemplos da tutela dos direitos dos negros, da criança e do adolescente, das mulheres, dos idosos, entre outros, sem que houvesse a participação efetiva dos afetados pelas normas criadas. Ao invés de proteger estes grupos, acaba por gerar mais exclusão social. A posição de Chamon Júnior25 é de que não é mais sustentável o paradigma do modelo “Estado Social”, apesar de reconhecer ser dever do Estado, numa ótica de política deliberativa, “buscar a implementação de políticas públicas ou intervir em certos domínios”, desde que esta in-tervenção

seja deliberada democraticamente, e isto implica abertura capaz de ser travada quan-do de uma compreensão que seja procedimental do Direito e da Política em que nen-hummodelodesociedade,devalores,de‘interessescoletivos’sãotomadoscomo

23 MEIRELES, Heli Lopes. Direito... op. cit. p. 497.24 PELLEGRINE, Flaviane de Magalhães Barros. O paradigma ... op. cit., p. 6.25 CHAMON JÚNIOR, Lúcio Antônio. Filosofia do direito na alta modernidade. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris. 2005, p. 270.

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bandeira para a própria exclusão participativa no seio de tomadas de decisão26.

Chamon Júnior27 considera uma debilidade da democracia a interpretação paternalista do “Direito e do Estado”, no sentido de uma co-dependência da sociedade, quanto à materialização de suas necessidades. Alerta que não deve ocorrer vinculação de carências materiais no exercício efetivo da democracia, sob o pretexto de que a sociedade ainda não alcançou a realização plena de um Estado de bem-estar, ou seja, de que a “democracia somente será possível, quando tenha-mos todos escolaridade, acesso à saúde, à justiça, à moradia, a empregos, etc.”, sob o fundamento de que “todos temos direitos igualmente e reciprocamente reconhecidos”. Requer, outrossim uma consciência política de um povo amadurecido para autodeterminar-se e autogovernar-se, sob o pálio da democracia28. Necessário se torna que as pessoas se vejam realmente livres, num Estado organizado de modo a garantir a liberdade de todos e de cada um. Fundamentando este entendimento, Chamon Júnior29 mostra a capacidade da sociedade civildeseorganizarefazervalerseusdireitospolíticos,exemplificandocomoexercíciodemani-festações populares, ocorridas, recentemente, na Argentina e Venezuela, cuja prática “tende a se fortalecer, se não abafada por práticas coativas arraigadas nas velhas pré-compreensões dita-toriais que sempre rondam nossa região”. Segundo entendimento de Antonio Augusto Cançado Trindade30, imprescindível se torna a existência de uma educação dos agentes da lei e das forças policiais e militares, à luz dos direitos humanos que viabilizarão maior proteção, principalmente, dos “segmentos vulneráveis e mais pobres da população”, ao lado da existência de um poder judiciário “verdadeiramenteeficiente”,acessívelatodos.Anteestasperspectivas,lecionaoautorque“odi-reito de participação há de fortalecer-se, sobretudo, mediante a educação e auto-organização da sociedade civil com diversas formas de desenvolvimento e atuação das comunidades locais para fortalecer a própria democracia”. Neste mesmo sentido, Bernardo Kliksberg31 aponta, entre outros, a Villa El Salvador, Peru que, através de iniciativa popular, cooperação, trabalho comunitário e soli-dariedade, criaram a partir do nada, regras de convivência que geraram para a população envolv-ida, uma identidade sólida e impulsionaram a auto-estima pessoal e coletiva. No Brasil, o mesmo autor mostra a experiência realizada em Porto Alegre, em 1989, com o Orçamento Participativo. Convidada pelo Prefeito para co-gerir o processo orçamentário da cidade, na época com grave falta de recursos, a população participou ativamente, se organizou e o orçamento foi formado de baixo para cima, numa reação que o autor denomina “febre participativa”, melhorando a qualidade de vida de toda a sociedade. O sucesso da experiência foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas - ONU que a acolheu como uma das quarenta mudanças urbanas eleitas, em todo o mundo, para ser analisada na Conferência Mundial sobre Assentamentos Humanos (Habitat II, de Istambul) e, em 1997, o Instituto de Desenvolvimento Econômico do Banco Mundial realizou uma conferên-cia internacional em Porto Alegre, com a presença de nove países da região para examinarem a experiência. Para Moore Barrington Jr.32 o cidadão comum deve ter direitos de protesto e crítica contra atos injustos, ante a não-satisfação das necessidades sociais. A existência de oposição, em certa medida efetiva, deve persistir, “enquanto a sociedade humana existir, porque toda sociedade hu-mana impõe, necessariamente, muitas frustrações aos desejos e instintos dos indivíduos que a constituem”. A saudável manifestação de liberdade de pensamento, de experimentação e de as-sociação, tenta e ousa combinações novas e incomuns; pesquisa e troca de informações entre si;escolheseucampodeatuaçãoprofissionalepersegueosprópriosinteresses,nosdizeresde

26 CHAMON JÚNIOR, Lúcio Antônio. Tertium non datur: pretensões de coercibilidade e validade em face de uma teoria da argumentação jurídica no marco de uma compreensão procedimental do Estado Democrático de Direito. In Jurisdição e hermenêu-tica constitucional no estado democrático de direito. Coordenação CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Belo Horizonte: Mandamentos, 2004. Mesma abordagem, também em CHAMON JÚNIOR. Filosofia ... op. cit., nota 6, p. 270.27 CHAMON JÚNIOR, Lúcio Antônio. Filosofia ... op. cit. p. 27128 Ver CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Coesão ... op. cit., p. 181.29 CHAMON JÚNIOR, Lúcio Antônio. Filosofia ... op. cit. p. 270.30 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Direitos humanos e meio-ambiente: paralelo dos sistemas de proteção internac-ional. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris Editor, 1993, p. 210-211.31 KLIKSBERG, Bernardo. Falácias... op. cit., p. 124-139.32 MOORE, Barrington Jr. Aspectos... op .cit., p. 118.

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Moore, e elas devem existir em contexto onde haja ordem, em que necessidades básicas sejam garantidas, uma vez que o mercado implica ordem e liberdade. Neste sentido, leciona Antonio Au-gusto Cançado Trindade33:

A democracia alimenta e estimula as aspirações a uma melhor qualidade de vida, mas como os problemas econômicos – apesar de todos os sacrifícios sociais impos-tos à grande maioria da população – não são resolvidos e se agravam, as expectati-vas são prontamente frustradas. A par da não-observância dos direitos econômicos e sociais, decaem verticalmente os serviços públicos básicos – educação, saúde – na medida em que crescem paralelamente a violência em suas múltiplas formas, e o sentido de extrema vulnerabilidade e insegurança pessoais: a vida humana, neste quadro perverso, passa a valer muito pouco, ou quase nada.Deterioram-se grave e implacavelmente o nível e a qualidade de vida da grande maioria da população, vítima do desastroso fenômeno corrente do empobrecimento geral, o qual atesta a não-observância – se não violação – generalizada dos direi-tos econômicos sociais e culturais. A construção da democracia real e o fortaleci-mento do Estado de Direito hão de dar-se à luz da interrelação ou indivisibilidade de todos os direitos humanos. Determinados direitos, de caráter econômico e social, como, e.g., o direito a não ser discriminado em relação a emprego e ocupação, e a liberdadedeassociaçãoparafinssindicais,estãointimamenteligadosàschamadasliberdades civis. Outros exemplos podem ser invocados. De que vale o direito a não ser submetido a penas ou tratamentos desumanos ou degradantes sem as garantias do due process? De que vale o direito ao trabalho desprovido de um salário justo, capaz de atender às necessidades humanas básicas? De que vale o direito à vida sem o provimento de condições mínimas de uma existência digna, se não de sobre-vivência (alimentação, moradia, vestuário)? [...].

A organização do mercado é, portanto, indispensável para a ordem social. Para que haja livre iniciativa sustentável tem que existir controle do Estado, resultando, conseqüentemente, na produção, na circulação de bens e serviços com previsibilidade e estabilidade das operações. Se-gundo Barrington Moore Jr.34:

Sem garantia de direitos de propriedade e sem garantias de cumprimento decontratosnãohaveráoperaçõeseconômicasregulares,pacíficas.Liberdadedecontratar, liberdade para dispor da propriedade, liberdade para decidir são marcos fundamentais em qualquer economia de mercado. Restrições a qualquer dessas liberdades decorrem de decisões políticas e, muitas vezes, não são efetivas por di-ficuldadedeultrapassarbarreirascriadaspelasinstituiçõessociais.

Por outro lado, analisando a trajetória histórica brasileira, considerando que o Estado Bra-sileiro foi colônia de Portugal, marcada por um processo de colonização com o predomínio da ex-ploraçãodomercantilismoeuropeu,semquefossemlevadas,emconsideração,asespecificidadese necessidades locais, aliadas à utilização de mão-de-obra escrava e à formação de oligarquias poderosas, oriundas de fazendas e famílias rurais, nossa cultura foi moldada por práticas de dis-tribuição de favores e na afeição, “em um estilo patrimonialista de gestão da coisa pública, que acaboupordefiniromododefazerpolíticanopaís,mesmoapósaIndependência,em1822,eaconstituição da república, em 1889”, conforme cita Rosa Maria Fischer35. Em nenhum momento, o Estadobrasileiropodeconfigurar-secomoomodeloconhecidocomowelfarestateencontradonospaíses de economia avançada. Fischer36 aponta como causas:

a fragilidade da economia, a precariedade da arrecadação tributária, os critérios de elaboração do orçamento nacional, a amplitude da exclusão social, a baixa capaci-dade de pressão política das classes populares, a falta de sensibilidade dos técnicos

33 TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Direitos... op. cit., p. 210.34 MOORE, Barrington Jr. Aspectos... op. cit., p. 40.35 FISCHER, Rosa Maria. O desafio... op. cit., p. 40.36 Ibidem.

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que elaboram e implementam as políticas governamentais.

Ela chegou à conclusão de que jamais existiu, no Brasil, um Estado voltado, prioritariamente, para atender às demandas sociais ou promover ações de desenvolvimento, visando a superar as desigualdades de distribuição de renda e de fruição das benesses do capitalismo. Em Haber-mas37,

Os direitos de cidadania, direitos de participação e comunicação política são, em primeira linha, direitos positivos. Eles não garantem liberdade em relação à coação externa, mas sim a participação em uma práxis comum, por meio de cujo exercício os cidadãos só então se tornam o que tencionam ser – sujeitos politicamente respon-sáveis de uma comunidade de pessoas livres e iguais.

Chamon Júnior, assim como Habermas, reconhecem a possibilidade da existência da co-de-pendência em termos de procedimentos, no sentido de que “nossa esfera de liberdades subjetivas somente pode ser legitimamente reconhecida numa esfera pública”, dentro de um parâmetro ético e moral. Noambienteassistencialista,configuradonoparadigmadoEstadodoBem-estarSocial,asempresas enquadram suas condutas, buscam a regularidade funcional tendo em foco seu objeto social, com escopo na lucratividade. Os empregados contam com a satisfação pessoal, fulcro em garantias de direitos trabalhistas. Neste ponto, aparecem as exclusões sociais resultantes de me-didas protecionistas do Estado, como é o caso da mulher gestante38, que tem a estabilidade pro-visória, juridicamente protegida em decorrência da gravidez, mas enfrenta o mercado de trabalho fechado, como conseqüência desta mesma proteção pretendida pelo Estado que, como norma, corresponde a uma expectativa de conduta.

3. O exercício da atividade empresária no Estado Democrático de Direito aliado à prática da re-sponsabilidade social corporativa.

Nas décadas de 60 e 70, registros históricos de manifestações, questionando o paradigma doEstadodoBem-estarSocial,aexemplodosmovimentoshippie,estudantis,pacifistas,ecológi-cos e feministas, mostram, entre outros, a luta pelos direitos das minorias, aliados aos efeitos da Segunda Grande Guerra Mundial, provocam a superação do Estado social. É no paradigma do Estado Democrático de Direito que, junto aos direitos de primeira e se-gunda gerações39, são introduzidos os de terceira geração, representados pelos direitos difusos, a exemplo da preservação do meio ambiente e das relações de consumo, estes com forte ligação aos resultados do exercício da atividade empresarial. Surge uma visão mais complexa e mais rica de articulação do Estado, da empresa e da sociedade civil, em torno de objetivos, simultaneamente, sociais, econômicos e ambientais. Ao analisar a Constituição Federal Brasileira atual, percebe-se, em nosso ordenamento, a preocupação com o bem-estar social em seu preâmbulo40 e regulamentos relacionados à ordem econômicaefinanceira,aomesmotempoqueestimulaainiciativaprivadanabuscadestebem-estar social e individual, e a redução da presença do Estado como agente econômico, ao instalar 37 HABERMAS, Jürgen. A inclusão... op. cit., p. 272.38 Ver CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Coesão... op. cit., p. 185-186.39 Instituídos como uma das bases do Estado Liberal, os direitos de primeira geração consistem em direitos fundamentais de caráter individual. No Estado social são instituídos os direitos de segunda geração, representados pelos direitos sociais, como o de acesso à saúde, ao trabalho, à educação e ao lazer, direito de voto e o direito de greve, conforme Bonavides, 2000, citado por PELLEGRINI, Flaviane Magalhães Barros. A participação da vítima no processo penal e sua sobrevitimização – em busca de uma interpretação constitucionalmente adequada. Belo Horizonte: Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Tese de douto-rado, 2003.40 Constituição Federal de 1988, preâmbulo: “Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, [...]”.

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os princípios gerais da atividade econômica fundados na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, objetivando assegurar a todos uma existência digna, conforme os ditames da justiça so-cial (art. 170 da Constituição Federal de 1988, caput). Sobre o tema, assim leciona Eduardo Goulart Pimenta41:

Especificamenteemnossoordenamento,o interessesocialnamodernaempresaprivada, dentro de uma ordem econômica fundada na liberdade de iniciativa (art. 170 da Constituição Federal de 1988, caput), vem se tornando cada vez mais premente, em especial em contexto onde a presença do Estado como agente econômico está diminuindo, ao mesmo tempo em que aumenta a preocupação com a realização dos ditames da justiça social (art. 170 da Constituição Federal de 1988, caput).

Na expectativa de conduta no Estado Democrático de Direito, cada ator social deve procurar construir seu bem-estar ao conviver em sociedade, resultando em um conseqüente envolvimento harmonioso dos indivíduos e grupos aos quais eles pertencem, e no reconhecimento da pluralidade ética. Ocorre na abertura e na vivência do social, uma pluralidade de estilos de distintos grupos e no reconhecimento da diferença. Como ressalta Habermas42, as minorias “inatas”, inseridas em sociedades multiculturais, se organizadas como Estados Democráticos de Direito, “apresentam-se, todavia,diversoscaminhosparasechegaraumainclusão‘comsensibilidadeparaasdiferenças’”,numa coexistência com igualdade de direitos de diferentes comunidades étnicas, grupos lingüís-ticos, confissões religiosas e formas de vida, conformadas numa política geral, uniformementecompartilhadapeloscidadãos.Nestecontexto,oambienteémaisfluídico,mutável,adequávelàsnecessidades atuais dos grupos, numa estrutura que se mantém sempre aberta a revisões. Ocorre uma elaboração mais racional e participativa de todos os valores que são voláteis e incapazes de seremreduzidosesolidificadosnumaestruturaeterna43, ou seja, não existindo um modelo padrão estagnado, são estes revisáveis, mutáveis, adequáveis, num processo legislativo democrático com base na soberania popular. Sob o sustentáculo da autonomia privada, a sociedade civil organizada intervém na esfera política, no sentido de concretizar suas pretensões jurídicas e éticas, de qualidade de vida, de respeito ao meio ambiente, de geração de um clima de segurança, de preservação do espaço de liberdade e de criatividade individual e social. O Estado de Direito moderno e constitucional é estru-turado, de forma que cada indivíduo seja livre interior e exteriormente, ou seja, a liberdade exterior é assegurada pelas leis, e as organizações sociais e políticas garantem a liberdade individual e o bem comum. Nos dizeres de Pellegrine44:

OEstadopassaaserquestionadoefiscalizadoapartirdaorganizaçãodasociedadecivil, que exige sua constante participação no debate tanto das coisas públicas como deseus interesses fundamentais. [...]Significa issoacompreensãodeumdireitoparticipativo, em que a sociedade civil exerce importante papel controlador e confor-mador do Estado, pluralista, respeitando os diversos matizes sociais, na busca da implantação de direitos, quer de primeira, segunda ou terceira geração, visto como um complexo de direitos e garantias que não podem ser aplicados em separado. Nesse sentido, não importa ter direitos sociais ou, mesmo, proteção aos direitos difu-sos se não há garantias mínimas de que a atuação estatal, principalmente no âmbito jurisdicional, não atingirá os indivíduos em seus direitos fundamentais.

41 PIMENTA, Eduardo Goulart. Exclusão... op. cit., p. 30.42 HABERMAS, Jürgen. A inclusão... op. cit., p. 16643 O sociólogo ZYGMUNT BAUMAN, fez um interessante estudo sobre a transição da modernidade “pesada” e “sólida” para uma modernidade “leve” e “líquida”, infinitamente mais dinâmica. O livro resultante: Modernidade líquida. Tradução, Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001, nos mostra o mundo na modernidade, totalmente interligado pelos avanços tecnológicos que propulsionam a vida em sociedade num dinamismo extraordinário, que resulta numa comunicação mais ágil e promove mutações constantes de poder, crenças, necessidades, despertando, segundo Bauman, a autoconsciência, a compreensão e a responsabilidade individuais. O livro mostra a organização da vida humana compartilhada, interativa e que resulta em autonomia e na liberdade individual e de grupos distintos.44 PELLEGRINE, Flaviane de Magalhães Barros. O paradigma ... op. cit., p. 7-8.

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Representando o Estado neste sentido, o Secretário do Estado do Paraná, Virgílio Moreira Filho45, fala da parceria do Estado com entidades, tais como organizações não governamentais e empresas, no sentido de um trabalho em conjunto visando a um desenvolvimento sustentável, com novosfocosdeatuação,afimdequeosnegóciosresultantesdaatividadeempresarialmantenhamseus lucros sob o enfoque de um desenvolvimento sustentável, concomitante ao desenvolvimento de um papel social, considerável por parte das empresas, de modo a atenuar seus efeitos e revig-orar o mercado, num círculo construtivo onde um depende do outro, numa interatividade de todos em busca do bem-estar de cada um e do grupo a que pertencem. Nos dizeres de Virgílio Moreira Filho46:

O empresário deve buscar o programa de dentro para fora e, assim, transformar a sociedade a sua volta. Quanto ao Estado, estamos unidos na proposta de bem-estar para toda a população e estar atrás dos arranjos produtivos e das cadeias reprodu-tivas. Assim os empreendimentos devem ser aqueles que capacitam e aperfeiçoam a sociedade.

De outro lado, numa visão positivista, hodiernamente, grupos da sociedade civil, em al-ianças intersetoriais, vêm movimentando-se no sentido de estimular práticas que visem a reduzir a exclusão e promover o desenvolvimento social. O movimento incipiente, na América Latina, vem ganhando força. Vem crescendo o uso de práticas de responsabilidade social entre empresas e terceiro setor, concomitantemente com a criação de fundações que, com personalidade jurídica própria, assumem a missão da implementação de projetos sociais impulsionados pelas empresas institucionalizadoras, ou seja, a responsabilidade social corporativa em parcerias que permitem autonomia da atuação dos parceiros envolvidos (empresas representando o segundo setor com associações ou fundações particulares, desempenhando funções do terceiro setor)47. Bernardo Kliksberg48 mostra a necessidade da atuação do Estado com outros segmentos da sociedade para promover o desenvolvimento social e aponta o risco do funcionamento do mercado sem a respectiva regulação pelo Estado que resulta no aprofundamento das brechas e desigual-dades e nos alerta: “[...] o Estado sozinho não pode resolver os problemas, mas sua minimização agrava-os”. A vida em sociedade torna-se mais estável de forma a suprir as necessidades do povo no decorrer da evolução da vida social, com a participação dos cidadãos, na construção de seus di-reitos em cumprimento às expectativas de comportamento no Estado Democrático de Direito, con-forme ditames da Constituição Federal de 1988, artigo 1º, caput, que insere entre seus fundamen-tos, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, o pluralismo político e, principalmente no parágrafo único49, ressalta a importância da participação popular na construção de seus direitos e no controle do poder que resultará num ordenamento jurídico legitima e democraticamente institucionalizado. Tratando-se de sistema protetivo, portanto, visando à melhoria da qualidade de vida em sociedade, com foco em determinado grupo em situação de risco ou exclusão, tem maior possibi-lidade de êxito, quando seus destinatários, principais interessados em seu perfeito funcionamento, participam da administração deste e da formulação de novas estratégias sociais. A participação ativa da comunidade50 na gestão de assuntos públicos representa os avanços da democratização,

45 SARMIENTO, Suzana. Evento em Curitiba apresenta experiências bem sucedidas em Responsabilidade Social. Disponível em <http://www.setor3.com.br/senac2>. Acesso em 14 out. 2005. 46 SARMIENTO, Suzana. Evento... op. cit.47 ROSA MARIA FISCHER em seu livro O desafio da colaboração – práticas de responsabilidade social entre empresas e terceiro setor. São Paulo: Editora Gente, 2002, realizou interessante trabalho investigativo, interpretando dados sobre as alianças estratégicas intersetoriais mapeados nas pesquisas realizadas no CEATS – Centro de estudos em administração do terceiro setor, da USP, com levantamentos de campo e descrições e análises e casos, num processo centrado na compatibilidade entre a teoria e a prática, entre a fundamentação acadêmica e a realidade empírica.48 KLIKSBERG, Bernardo. Falácias... op. cit., p. 33.49 Parágrafo único do art. 1º da Constituição Federal de 1988: “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.50 Ver CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Coesão... op. cit.

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produto de longas lutas históricas dos povos que, nos dizeres de Bernardo Kliksberg51, represen-tam “exigências crescentes das grandes maiorias da sociedade na América Latina e em outras regiões”. Para o mesmo autor:

[...] os programas sociais fazem melhor uso dos recursos, conseguem ser bem-suce-didos no alcance de suas metas e criam auto-sustentabilidade, se as comunidades pobres às quais se deseja favorecer participam desde o início e ao longo de todo o seu desenvolvimento e compartilham do planejamento, da gestão, do controle e da avaliação. [...] A comunidade multiplica os recursos escassos, somando a eles in-contáveis horas de trabalho, e é geradora de contínuas iniciativas inovadoras. Além disso, a presença da comunidade é um dos poucos meios que previne efetivamente contra a corrupção.52

Kliksberg53 aponta diversos dados e pesquisas sobre a superioridade gerencial da partici-pação comunitária em seus livros: 1. Falácias e mitos do desenvolvimento social; 2. Seis teses no convencionales sobre participación em instituciones y desarrollo. Em referência à constatação de Stern, economista-chefe do Banco Mundial, após múltiplos estudos da instituição sobre o assunto (2000), o autor declara:

Ao longo do mundo, a participação funciona: as escolas operam melhor se os pais participam, os programas de irrigação são melhores se os camponeses participam, o crédito trabalha melhor se os solicitantes participam. As reformas dos países são muito mais efetivas se forem geradas no país e dirigidas pelo país. A participação é prática e poderosa54.

Entretanto, esta é uma falácia apontada por Kliksberg que impede o desenvolvimento social com a participação da grande massa popular, num claro divórcio entre o discurso e a realidade, representada por “falsas promessas” fato percebido pela população, cuja constatação gera descon-tentamento e frustração. Segundo o autor, por um lado “existem resistências profundas de que definitivamenteascomunidadespobresparticipem,quesedisfarcemdiantedesuailegitimidadeconceitual, política e ética”; por outro, a situação agrava-se no interior dos Estados regionais e dos municípios com diversos casos de “oligarquias” locais, pequenas, “que controlam, desde tempos imemoriais, o funcionamento da sociedade local, direcionando projetos em seu próprio interesse”. Necessário se faz que sejam realizados trabalhos no sentido de capacitar recursos humanos locais com o propósito de dirigir os programas sociais sem entraves burocráticos e políticos tendencio-sos. Neste contexto, Kliksberg sugere seja feita, pelo Estado, uma revolução organizacional, para transformá-lo num Estado Social inteligente, com a substituição da “cultura burocrática atual aberta ou sorrateiramente antiparticipativa por uma cultura realmente interessada na participação e dis-posta a promovê-la”. Paraqueocrescimentosignifiquebem-estarcoletivo,devehaver,simultaneamente,desen-volvimento social. O bem-estar social é o escopo da justiça social a que se refere nossa constitu-

51 KLIKSBERG, Bernardo. Falácias... op. cit., p. 39-41.52 Ver FISCHER, Rosa Maria. O desafio... op. cit., p. 16.53 KLIKSBERG, Bernardo. Falácias... op. cit., p. 40.54 KLIKSBERG, Bernardo. Falácias... op. cit., p. 40 aponta dois recentes trabalhos efetuados em 2000 pelo PNUD, Super-ando a pobreza, e pelo Banco Mundial, The voices of the poor, baseado numa gigantesca pesquisa com 60 mil pobres de 60 países, chegam a similar conclusão em termos de políticas: É preciso dar prioridade para investir e fortalecer as organizações dos próp-rios pobres. Eles carecem de “voz e voto” real na sociedade. Fortalecer suas organizações lhes permitirá participar de modo muito mais ativo e recuperar terreno em ambas as dimensões. Propõe-se, entre outros aspectos: facilitar sua constituição, apoiá-las, dar possibilidades de capacitação a seus líderes, fortalecer suas capacidades de gestão. A constatação é de que, na América Latina, “continuam predominando os programas impostos ‘chave na mão’ e impostos verticalmente, onde quem tem poder de decisão ou os que desenham são aqueles que sabem e a comunidade desfavorecida deve acatar suas diretivas e ser sujeito passivo deste. Também são comuns os programas em que se fazem fortes apelos quando se trata de programas participativos, quando na verdade há um mínimo conteúdo real de intervenção da comunidade na tomada de decisões. O discurso diz ‘sim’ à participação na região, mas os fatos com freqüência dizem ‘não’”.

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ição (artigo 170), e só pode ser alcançado através do desenvolvimento nacional. Kliksberg sublinha que a inter-relação Estado-comunidade deve ser articulada pelo Estado e reconhece que “a reali-dade social é tão difícil, que, em primeiro lugar, exige-se, imperativamente, a responsabilidade de todos os atores sociais”. Todos devem cooperar, incluindo Estado, sociedade civil, nela inserida os cidadãos, segundo e terceiro setores. É um entendimento de, entre outros, Kliksberg e Chamon Júnior, porque concerne a todos o que vai acontecer, sob o fundamento de que o ordenamento jurídico, legitimamente instituído, através de procedimentos de formação democrática da opinião e da vontade, fundamentam a suposição da aceitabilidade racional dos resultados pelos cidadãos55. Em decorrência de seu estudo sobre as falácias e mitos do desenvolvimento social, Ber-nardo Kliksberg56 alerta a sociedade civil para a encruzilhada histórica em que a América Latina se encontra ante o problema do aumento da delinqüência, questionando qual direcionamento a ser trilhado, ou seja:

Por qual caminho optará? O que vai em direção à criminalização da pobreza ou o da integração social? Cabe aprofundar na democracia este debate transcendental, substituirosslogansemedidasdefachadapordadossérios,identificarascausasestruturais do problema e ter em conta que aí está em jogo, nada mais nada menos, do que a qualidade moral básica de nossas sociedades.

O Estado, como agente regulador da economia, é de vital importância para a promoção da estabilidade e segurança social. A intervenção estatal moderada, como instrumento jurídico para ordenar atividades econômicas, é necessária, no sentido de reduzir falhas nos mercados, falhas estas que, conforme Rachel Sztajn57, tendem a comprometer o bem-estar das pessoas. Falando sobre as possibilidades de democracia em um país que depende de uma base so-cial independente do governo, Barrington Moore Jr.58 estabelece algumas condições como a ampla difusão da propriedade entre a população, aliada à capacidade técnica laboral e uma economia em razoáveis condições de funcionamento. Moore se baseia no entendimento de que “um sistema econômico que priva uma parte substancial da população de suas fontes de sustento, por meio do desemprego, no caso dos assalariados e da perda da propriedade da terra pelos fazendeiros e camponeses, provocará um enorme sofrimento e amargura”, resultando perda de lealdade políti-ca. A atividade empresarial tem interesse social, pois, como nos dizeres de Rachel Sztajn59: é umadasrazõesquejustificamapromoçãodetrocaseficientes,porqueistoaumentaobem-estardas pessoas e mostra a necessidade da intervenção moderada do Estado no domínio econômico com mecanismo de controle de mercados e, em seguida, com a busca de redução de riscos ou incentivos a certas pessoas ou setores da atividade econômica. A solução encontrada por Moore60, quanto ao que se pode fazer para inibir o comporta-mento anti-social, por parte de algum segmento da sociedade, capaz de gerar instabilidade social, seria “montar um sistema adequado de recompensas em troca de um comportamento desejado, e penalidades para comportamentos indesejáveis, e esperar pelos resultados que logo estarão evidentes”. Posicionamento similar é o adotado por Armando Castelar Pinheiro e Jairo Saddi61, ao analisarem incentivos ao comportamento, com vistas ao cumprimento de contratos. Conforme os autores,osincentivosdevemterconotaçãofinanceira–monetáriaporexcelência,jáqueatendên-cia dos agentes econômicos é de reduzir os custos da transação e seus impactos. Interpretam a lei como um contrato entre a sociedade e o cidadão, “que busca criar um sistema de incentivos (majoritariamente calcado em penalidades) capaz de alinhar os objetivos individuais aos do coletivo social”, tendo em vista o entendimento que o direito é prescritivo, “uma vez que estabelece normas

55 HABERMAS, Jürgen. A era das transições. Tradução e introdução Flávio Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003, p. 153-154.56 KLIKSBERG, Bernardo. Falácias... op. cit., p. 166. 57 SZTAJN, Rachel. Teoria jurídica da empresa: atividade empresária e mercados. São Paulo: Atlas, 2004, p. 52.58 MOORE, Barrington Jr. Aspectos... op. cit. p. 131.59 SZTAJN, Rachel. Teoria ... op. cit. p. 43.60 MOORE, Barrington Jr. Aspectos... op. cit. p. 161.61 PINHEIRO, Armando Castelar; SADDI, Jairo. Direito, economia e mercados. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005, p. 141.

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de condutas que devem ser seguidas por todos e se vale de mecanismos de coação e sanção no seudescumprimento”.Nesteprisma,seosistemajurídicoforeficiente,comdecisõesjudiciaisuni-formesarespeitodecondutasquedesafiamsuasdiretrizes,servedeincentivosedesincentivoscomo orientação para um comportamento correto do cidadão.

4. Transição da democracia representativa para a participativa.

Tem o Estado brasileiro, como meta principal, “assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais; a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia socialecomprometidacomaordeminternaeinternacional,buscando-seasoluçãopacíficadascontrovérsias”.62 Lembrando a tese defendida por Habermas, analisada por Cattoni de Oliveira63, de que “não há Estado de Direito sem democracia” e que “o Direito moderno legitima-se a partir da autonomia garantida igualmente a todo cidadão [...]”, para o Estado brasileiro atuar como Estado Democrático de Direito, ele o faz através de representantes eleitos pelo povo, por meio dos poderes constituídos, considerados, globalmente, como órgãos de soberania nacional, seguindo sistematização proposta, inicialmente, por Montesquieu64. Ante a impossibilidade de todo homem governar a si próprio, cri-ando leis que o atendam particularmente, Montesquieu65 propõe, como forma de liberdade política, “que o povo exerça pelos seus representantes tudo aquilo que não possa praticar por si mesmo”. É o governo do povo, pelo povo e para o povo. Em seu livro – De L’Esprit des Lois, editado pela primeira vez em 1748, ensina que

[...] A liberdade política, num cidadão, é essa tranqüilidade do espírito que provém da opinião que cada um possui de sua própria segurança; e, para que se possua essa liberdade, é preciso que o governo seja tal que um cidadão não possa temer a um outro [...].

Conforme o parágrafo único do artigo 1º da Constituição Federal de 1988, “in verbis”: “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”. Hodiernamente, a democracia representativa abre espaço para a de caráter participativo, na qual as pessoas emitem parecer sobre assuntos políticos que os afetarão66. Se-gundo Idalberto Chiavenato67, está, em curso, uma revolução política na qual “as pessoas cujas vidas são afetadas por uma decisão, devem fazer parte do processo de se chegar a esta de-cisão”. A sociedade atual, de governo democrático, tende ao pluralismo, com diversos centros de poder, embora, ainda, com a prevalência do poder oligárquico. Reproduzindo a fala de Idalberto Chiavenato68“a decorrência maior dessa passagem da democracia representativa para a democ-raciaparticipativaseráamaiorinfluênciadosmembrosdaempresa,emtodososseusníveis”,fa-tor que provoca a necessidade de redução de diferenças hierárquicas internas, conseqüentes de modelo administrativo, anteriormente estruturado em formatação piramidal e centralizador. Mesmo entendimento é o de Bernardo Kliksberg. Após vinte anos de pesquisa sobre as diferenças sociais da América Latina, constata que, atualmente, há uma vigorosa pressão, para que a participação popular adquira características cada vez mais pró-ativas. Aspira-se substituir, segundo o autor, a 62 Conforme preâmbulo da Constituição Federal Brasileira de 1988.63 CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Coesão... op. cit., p. 173.64 MONTESQUIEU, Charles-Louis de Secondat, Barão de La Brède et de. Do espírito das leis. Tradução: Gabriela de An-drada Dias Barbosa. Introdução: Otto Maria Carpeaux, com anotações de Voltaire, de Crévier, de Mably, de La Harpe, etc. Edições de Ouro. Título original francês: De L’Esprit dês lois. Direitos cedidos por Edições e Publicações Brasil Editora S.A., Vol. 1. Livro décimo-primeiro. Capítulo VI. Ver PINHEIRO, Armando Castelar; SADDI, Jairo. Direito... op. cit., p. 8.65 MONTESQUIEU. Do espírito ... op. cit. p. 205.66 Ver SANTOS, Boaventura de Sousa. O fórum Social Mundial: manual de uso. São Paulo: Cortez, 2005.67 CHIAVENATO, Idalberto. Teoria geral da administração. Volume 1. 6ª ed. Rio de Janeiro: Campus, 1999, p. 23.68 CHIAVENATO, Idalberto. Teoria... op. cit., p. 23. Ver ainda VELOSO, Letícia Helena Medeiros. Responsabilidade social empresarial: a fundamentação na ética e na explicitação de princípios e valores. In Ética e responsabilidade social nos negócios. Coordenação Patrícia Almeida Ashley. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

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democracia passiva por uma inteligente, onde o cidadão esteja amplamente informado, disponha de múltiplos canais para transmitir seus pontos de vista – e não através da eleição das autoridades máximas,detantosemtantosanos–eexerçamumainfluênciarealeconstantesobreagestãodos assuntos públicos. A participação ativa da sociedade civil, na solução de seus problemas, como um processo social, transforma seus próprios atores. Segundo Kliksberg, isto gera o efeito deempoderamentodosgruposfavorecidos;fazcresceraconfiançaemsuasprópriascapacidadese contribui para a sua articulação, constituindo elementos que, em sua totalidade, colocam estes gruposemmelhorsituação,paralutaremporseusdireitoseinfluírem,demodoefetivo,nomeioem que vivem69. Relevando a experiência participativa, no âmbito das organizações, Idalberto Chiavenato70 leciona ainda:

Durante séculos, os empreendimentos humanos foram organizados e administrados dentro de uma estrutura hierárquica de conformação piramidal e centralizadora. Em função das restrições, conservantismo e rigidez desse modelo autocrático e imposi-tivo, no qual predomina a comunicação vertical e descendente, as pessoas foram forçadas a interagir umas com as outras, criando a organização informal, em outros termos, exercendo a comunicação lateral ou horizontal. Este processo gera redes informais de comunicação que se superpõem à malha formal, ultrapassando-a no tempo e no espaço. Essas redes são mais ágeis e diretas, mais ricas e profundas, levando a um maior contato humano entre as pessoas.

A organização hierárquica e piramidal frustra e aliena as pessoas, pois a autoridade única (ou unidade de comando) restringe a comunicação da pessoa, afetando negativamente, o seu com-prometimento com a organização. As estruturas tradicionais tornam-se inadequadas para as com-plexas empresas de hoje que têm que se adaptar a padrões globais de produção. A tendência atual éadeganharespaçoosmodelosdeadministraçãomaisflexíveis,adequáveisàsdiversasculturas,atendendo às exigências ambientais e com comportamentos obedecendo a valores morais, univer-salmente aceitos71. Segundo gestão voltada para o capital intelectual (ou de capital humano), sob a análise de Idalberto Chiavenato72:

A comunicação lateral intensiva será a maneira de garantir o suprimento do recurso então mais importante: a informação. Esta tendência para a comunicação lateral in-tensiva provocará certamente uma maior visibilidade e transparência das empresas. Enquantocrescem,ainfluênciaambientalqueexercemnecessariamenteaumenta.Isto faz com que as empresas chamem mais a atenção do ambiente e do público e passem a ser mais visíveis e percebidas pela opinião pública. Aumenta, assim, a sua visibilidade. Porém, enquanto se tornam mais intensivas as comunicações lat-erais, aumenta a transparência das empresas. Isto faz com que os eventos internos passem facilmente ao conhecimento de estranhos ou elementos externos. Assim, a visibilidade da empresa – a sua capacidade de chamar a atenção – e a sua trans-parência – a capacidade de se revelar – podem ocorrer de muitas maneiras positivas ou negativas. Mas o que não permite dúvidas é o fato de que a empresa jamais será ignorada. E a sua visibilidade e transparência causarão enorme impacto em sua es-trutura e seu comportamento.

69 Ver exemplo da Fundação Acesita com a interatividade da sociedade e que resultou numa melhoria substancial da quali-dade do ensino regional, ampliação das oportunidades de formação profissional e geração de renda para famílias carentes, estí-mulo ao artesanato e microprodutores agrícolas da região, viabilizando produção e comercialização de bens, tendo como resultado o desenvolvimento da comunidade e o fortalecimento no mercado da imagem institucional [da empresa]. Case in FISCHER, Rosa Maria. O desafio... op.cit. Ver ainda: experiências da Vila El Salvador, no Peru, as Feiras de Consumo Familiar, na Venezuela, e o Orçamento Municipal Participativo, em Porto Alegre, Brasil, considerados casos exemplares de sucesso e, atualmente, referência internacional. Cases in KLIKSBERG, Bernardo (Org.). Capital social y cultura: claves estratégicas para el desarrollo. Buenos Aires: Ediciones Fondo de Cultura Econômica, 2000.70 CHIAVENATO, Idalberto. Teoria... op. cit., p. 2371 Ver BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Tradução Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.72 CHIAVENATO, Idalberto. Teoria... op. cit., p. 24.

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À medida que o ambiente se torna mutável, dinâmico e incerto, as empresas precisam ser inovadoras,flexíveis,orgânicas,ouseja,precisammudarsuasfeiçõesinternas,comtalfreqüência,queoscargosedepartamentossão,constantemente,revistoseredefinidos.

5. O papel do Estado na promoção do bem-estar social.

Objetivando o alcance interno do equilíbrio social, do bem-estar social, da justiça social, na vida do povo brasileiro, o Estado-nação se organiza em estruturas com vínculos atributivos, traduzi-dos, de um lado, pela administração pública direta [exercida por entidades políticas, através de seus órgãos, de acordo com sua estrutura organizacional], de funções básicas indelegáveis e, com vistas, a viabilizarem o intervencionismo estatal no limite necessário ao atendimento do reclame social. A outra forma de atuação do Estado-nação se faz por meio da administração pública indireta [exercida por entes públicos, dotados de personalidade jurídica própria, criados ou mantidos pelo Estado, com o propósito de prestarem serviços públicos ou de interesse público delegável]. Segundo preceitos constitucionais vigentes, podemos enumerar como objetivos fundamen-tais do Estado-nação no campo interno: construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza, a marginalização e reduzir as desigualdades so-ciais e regionais; promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade ou quaisquer outras formas de discriminação73. Quanto à atuação do Estado, tendo em vista a responsabilidade social corporativa, Fábio Konder Comparato74 mostra sua preocupação no sentido de que ele entende caber, principalmente, ao Estado, a iniciativa de promover o bem-estar social.

A tese da função social das empresas apresenta hoje o sério risco de servir como mero disfarce retórico para o abandono, pelo Estado, de toda política social, em homenagemàestabilidademonetáriaeaoequilíbriodasfinançaspúblicas.QuandoaConstituiçãodefinecomoobjetivofundamentaldenossaRepública“construirumasociedade livre, justa e solidária (art. 3°, I), quando ela declara que a ordem social tem por objetivo a realização do bem-estar e da justiça social (art. 193), ela não está certamente autorizando uma demissão do Estado, como órgão encarregado de guiar edirigiranaçãoembuscadetaisfinalidades.

Bernardo Kliksberg75 nos mostra a necessidade da atuação do Estado em parceria com out-ros segmentos da sociedade, para promoverem o desenvolvimento social e aponta o risco do fun-cionamento do mercado sem a respectiva regulação pelo Estado, que resulta no aprofundamento das brechas e desigualdades, e alerta: “[...] o Estado sozinho não pode resolver os problemas, mas sua minimização agrava-os”. Este cenário é visto por Mcintosh et alii76 que apontam como único caminho para a construção de comunidades sadias e seguras, o trabalho em conjunto entre governo,sociedadecivilenegócios.Semessaparceria,cadasetor,porsisó,nãoéauto-suficienteparaatenderàsnecessidadessociaisnocontextoatual.Ejustificam:“Damesmaformapelaqualos governos não podem solucionar os problemas do mundo sozinhos, sem mercados para motivar, inovar e inspirar, não se pode esperar que os negócios o façam sozinhos”. Fazendo referência à lição de Charles Handy77, complementam: “O capitalismo não tem capacidade de fornecer uma vida boa para todos, nem uma sociedade decente. Não penso que devemos esperar que o faça. Ele é ummeio,nãoumfim”. Reconhecendo a atribuição primordial do Estado, quanto ao desenvolvimento social, mas, também, quanto à importância da atuação em parceria, com respectiva co-responsabilidade entre

73 Ver GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988: interpretação crítica. 9. ed. São Paulo: Malheiros, 2004.74 COMPARATO, Fábio Konder. Estado, empresa e função social. Revista dos Tribunais, São Paulo: Revista dos Tribunais, ano 85, n. 732, out. 1996. p. 46.75 KLIKSBERG, Bernardo. Falácias... op. cit., p. 33.76 MCINTOSH, Malcolm et alii; Cidadania corporativa: estratégias bem-sucedidas para empresas responsáveis. Tradução de Bazán Tecnologia e Lingüística. Rio de Janeiro: Qualitymark ed., 2001, p. 18-19.77 MCINTOSH, Malcolm et alii; Cidadania... op. cit., nota 38.

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os atores sociais, Fernando Mânica78 entende a prática da responsabilidade social uma inter-re-lação entre Estado, empresas e sociedade, em relações recíprocas:

Responsabilidade social é uma expressão recentemente adotada para referir-se ao modo como o Estado, as empresas e a sociedade se comportam em suas relações recíprocas. Compõem o conceito de responsabilidade social os padrões de ética, moralidade, transparência e altruísmo que permeiam a conduta dos atores sociais.

Poroutrolado,atentandoparaofimeconômicodaatividadeempresarial,quando,porseuexercício efetivo e regular, a empresa produz bens e riquezas, gera empregos, paga tributos e en-cargos sociais e, assim, já está contribuindo para o desenvolvimento social, ou seja, cumpre sua função social. Além disto, deve a empresa desempenhar outro papel na promoção do bem-estar social, paralelo ao seu objetivo de lucro como resultado da atividade empresarial? Sérgio Botrel79 entende que não, sob o argumento de que o exercício de atividades no mercado, em conformidade com as diretrizes constitucionais “não impõem ao empresário qualquer tipo de dever assistencialis-ta”, não constituindo dever daqueles que desenvolvem a livre iniciativa promover a busca do pleno emprego ou reduzir as desigualdades regionais e sociais. “Esses deveres competem ao Estado”. Em oposição à doutrina de posicionamento conservador, encabeçada por Milton Friedman e, ideologicamente integrado nos termos da corrente doutrinária modernista, defendida por Andrew Carnegie [1899], para Bernardo Kliksberg80, em contraposição do que, segundo ele, comumente ocorre na América Latina, existe uma tendência das empresas para a prática da responsabilidade social corporativa nos países desenvolvidos. Conforme seu depoimento:

Aumentou no mundo desenvolvido a participação empresarial no apoio à ação so-cial da sociedade civil. As contribuições e iniciativas empresariais de solidariedade foram incrementadas e o crescimento de sua responsabilidade social passou a fazer partecadavezmaiordalegitimidadedaprópriaempresa.Aafirmaçãofeitaháanospor Milton Friedman, o guru da Escola de Chicago, de que a única responsabilidade da empresa privada é produzir utilidades para seus acionistas, tem sido refutada constantemente por empresários proeminentes e é hoje rejeitada maciçamente pela opinião pública dos países desenvolvidos. Na América Latina, a situação tende a ser muito diferente [...].

No exercício de suas atividades, as empresas partem para a prática de marketing social, com projetos sociais que suprem necessidades de determinados grupos, tendo, como foco, a conquista de mercado, ou seja, usam de estratégia empresarial com objetivo de garantir sucesso econômico a longo prazo. Os projetos sociais assim direcionados são suportes para sustentabilidade da ativi-dade empresarial, na conquista do público consumidor. O ânimo dos cidadãos, envolvidos neste contexto, na concepção de Habermas81 tem origem em um “ethos democrático”, motivado por virtudes civis, “mesmo que essas orientações generali-zadas de valor não decidam, previamente, sobre normas em particular.” São atos voltados para suprimento de questões éticas, que simbolizam o que é útil e bom para o grupo e para a sociedade, entretanto não são capazes de ser impostos ou determinados por outrem82. Neste sentido e no en-78 MÂNICA, Fernando. Entrevista para responsabilidadesocial.com. Edição: 31. Ano: 2 ISSN: 1677-4949. Extraída do site: http://www.responsabilidadesocial.com . Acesso em 18 de ago. 2005.79 BOTREL, Sérgio. Direito societário constitucional: uma proposta de leitura constitucional do direito societário. São Pau-lo: Atlas, 2009, p. 59.80 KLIKSBERG, Bernardo. Falácias... op. cit. p. 37.81 HABERMAS, Jürgen. A inclusão... op. cit., p. 301.82 As normas SA 8000 e NBR 16000 representam sistemas de gestão para dirigir e controlar uma organização no que diz respeito à responsabilidade social; a primeira contém requisitos para a certificação, a segunda objetiva “prover às organizações os elementos de um sistema da gestão da responsabilidade social eficaz, passível de integração com outros requisitos de gestão, de forma a auxiliá-las a alcançar seus objetivos relacionados com os aspectos ambientais, econômicos e sociais, permitindo à organi-zação formular e implementar uma política e objetivos que levem em conta os requisitos legais e outros, seus compromissos éticos e sua preocupação com a promoção da cidadania, transparência de suas atividades; e promoção do desenvolvimento sustentável”. São sugestões de procedimentos sem sanções pelo seu não acolhimento. Descreve OCEANO ZACHARIAS que os requisitos de responsabilidade destas normas são: 1. Trabalho infantil; 2. Trabalho forçado; 3. Segurança e saúde no trabalho; 4. Liberdade de associação e direitos coletivos; 5. Discriminação; 6. Práticas disciplinares; 7. Carga horária de trabalho; 8. Remuneração; 9. Sis-

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tendimento de Habermas83“ pode-se sugerir aos cidadãos que se orientem segundo o bem comum, mas não se pode transformar tal orientação em obrigação jurídica”. A relação entre Direito e Moral é de complementaridade e não de subordinação, devendo o Direito estar sempre em consonância com a Moral.

CONCLUSÃO

O que se percebeu, ao longo deste trabalho, é que a alteração das relações de mercado, em virtude dos efeitos provocados por alarmantes indicadores sociais, marcados pela desigualdade de distribuição de renda e de oportunidades de ascensão social, nas últimas décadas, aclarada no Brasil, principalmente, pós-regime militar, a pobreza passa a ser percebida como uma ameaça à ordem social e de desvigoramento do mercado. AConstituição Federal de 1988, inicialmente, conformando umEstadoSocial, define osdireitos dos cidadãos, e declara a função social da propriedade. A formatação constitucional atual estimula o envolvimento da sociedade, para que contribua no sentido de minimizar os efeitos das múltiplas carências sociais, sob a mediação interventiva e gerencial do Governo, devendo este as-segurarobomfuncionamentodomercado,“status”quetemconduzidoaumaredefiniçãodepapéisde cada ator social, no alcance do bem comum, provocando um fortalecimento do terceiro setor, cujocrescimentopodeserobservado,nãoapenaspeloaumentosignificativodeorganizaçõessemfinslucrativos,tambémnosrecursosmobilizadosenasaçõessociaisempreendidasemprogramassociais, em evidente crescimento de alianças intersetoriais, com vistas ao desenvolvimento sus-tentável e ao fortalecimento da sociedade civil, conduzindo-a para a democracia participativa como valor universal. Partimos do pressuposto de que, no contexto de um Estado Democrático de Direito, a re-sponsabilidade social é atribuição inerente a todos: indivíduos, grupos familiares, organizações, governos, como partícipes do processo de crescimento organizado e da evolução do povo do qual fazemos parte. Todas as pessoas capazes têm obrigação de assumir responsabilidades por suas decisões e atos, sejam elas pessoas naturais ou jurídicas, estas últimas, de direito privado ou de direito público, de forma que possuam direitos e deveres similares e proporcionais aos efeitos por elas provocados. Os quadros de miséria e privação, existentes no entorno das organizações do segundo se-tor, constituem riscos quanto à sustentabilidade do exercício das atividades mercantis, constatação esta que se dirige à iniciativa do uso de estratégias negociais, com vistas, no mínimo, à sobrevivên-cia das empresas. Emcontrapartida,umasociedadecivilforteébenéficaparaasatividadesnegociais.Ainter-ligaçãoeparcerias,entresociedades,negóciosegovernos,emelosdeconfiançaemutualidade,são essenciais para o fortalecimento de todos os setores envolvidos. Por outro lado, o mercado está mais consciente das questões globais – efeito da ampla di-fusão da informação – via tecnologia. Sem o cuidado com o social e o meio ambiente preservado, a vida humana não será mais possível no planeta. Em conseqüência, temos um mercado mais exigente, seletivo, global e mutante. Clientes esclarecidos, no mundo todo, estão fazendo perguntas exigentes a respeito dos produtos. O mer-cado global tem exigido das empresas postura ética e transparente, focada nos aspectos sociais e ambientais, visando não somente o crescimento econômico, mas também e, principalmente, ao desenvolvimento sustentável. A participação ativa da sociedade civil, na solução de seus problemas, como um processo social, transforma seus próprios atores. Este ativismo político gera o efeito de empoderamento dos gruposfavorecidos;fazcresceraconfiançaemsuasprópriascapacidadesecontribuiparaasua

tema de gestão. - ZACHARIAS, Oceano. SA 8000 – Responsabilidade social – NBR 16000 – Estratégia para empresas socialmente responsáveis. São Paulo: Editora EPSE, 2004, p. 48 a 61 e 70. Ver também: SROUR, Robert Henry. Ética empresarial: a gestão da reputação. 5. tiragem. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. p. 37-38.83 HABERMAS, Jürgen. A inclusão... op. cit., p. 302. Ver CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Coesão... op. cit., p. 177.

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articulação, constituindo elementos que, em sua totalidade, colocam estes grupos em melhor situ-açãoparalutaremporseusdireitoseinfluírem,demodoefetivo,nomeioemquevivem. Inseridas neste mercado competitivo, as empresas precisam promover sua boa imagem, valorizarem suas marcas, reforçarem sua credibilidade e estarem atentas às reações do mercado. São estratégias administrativas, que orientam suas atitudes no mercado, posturas essas, de ad-equação, que geram valores e resultam em condicionamento para continuarem bem sucedidas. Não podem ser desconsiderados fatores importantes como o desenvolvimento socioambi-ental sustentável, quando pensamos no exercício de atividades econômicas, por atores inseridos num contexto social, com suas respectivas responsabilidades, numa rede de relacionamentos, sob a égide de princípios éticos universais. A função social da empresa está associada ao exercício da atividade empresarial que gera riquezaeemprego,e,porconseqüência, interagecomasociedade.Éo reflexodasatividadeseconômicas na sociedade e no meio ambiente.

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REDES EMPRESARIAIS DE COOPERAÇÃO:ESTUDO DE CASO DO ARRANJO PRODUTIVO LOCAL DE

CERÂMICA VERMELHA DE IGARATINGA-MG

Autoria: Leonardo Mól de Araújo

RESUMO

A competitividade global da economia tem gerado a criação de formas diferenciadas de estratégias competitivas de negócios, inserindo possibilidades que alteram o formato empresarial convencion-aldafirmaindividual.Ocrescimentodaprodutividadeeoacirramentodacompetição(quantoaganhos de escala na compra, produção, distribuição, venda e divulgação) têm forçado um reposi-cionamento das organizações empresariais, com ampliação da participação das grandes empresas em diversos mercados e redução de vantagens competitivas das Micro e Pequenas Empresas (MPE’s). Muitas MPE’s não sobrevivem a esse cenário, por não possuírem reservas para suportar esse nível de competitividade e capacidade de reestruturar a estratégia do negócio individual-mente. Uma possível saída para a competitividade dessas organizações tem sido a estruturação de redes empresariais formais e informais que possibilitem reduzir as diferenças competitivas para grandesempresas.Asredesempresariaisdecooperação,deumamaneirageral,podemserdefini-dascomoumarranjomultidimensionaldeempresasqueseinter-relacionamafimdeampliarasuacapacidadecompetitiva.Aformaçãodessesarranjosestáfortementeligadaàculturadeconfiançanas relações, ao compartilhamento de intenções estratégicas e à natureza dos recursos utilizados pelos seus membros nas suas interações. Este estudo teve como objetivo analisar as estratégias competitivas do cluster de cerâmica vermelha de Igaratinga, diagnosticando os pontos críticos dire-tamente ligados à produção de vantagem competitiva, e propor soluções de estruturação de redes empresariais que possam impulsionar a competitividade das empresas ceramistas da região.

Palavras-chaves: estratégias competitivas. redes de cooperação. cluster. interempresariais. com-petitividade.

ABSTRACT

The global competitiveness of economy has generated the creation of different ways of competitive business strategies, raising possibilities that change the conventional business format of individual firm.Produtivitygrowthandincreasingcompetition(regardingthescalegainsinpurchasing,pro-duction, distribution, sales and advertising have forced a repositionig of business organizations, with expanded participation of large companies in different markets and reduction of competitive ad-vantages of Micro and Small Enterprises (MSE’s). Many MSE’s do not survive this scenario due to lack of reserves to support this level of competitiveness and the capacity to restructure the business strategy individually. A possible solution to the competitiveness of these organizations has been the structuring of formal and informal business networks that enable them to reduce the competitive dif-ferences between them and large companies. The cooperation business networks, in general, can bedefinedasamultidimensionalgroupingofcompaniesthatareinterrelatedinordertoincreasetheir competitive capacity. The formation of these groupings is strongly connected to the culture of trusting in relationships, to the sharing of strategic intentions and to the nature of resources used by the members in their interactions. This study aimed to analyze the competitive stratagies of the cluster of red ceramics of Igaratinga, diagnosing the critical points directly related to the competitive advantage production and propose solutions for structuring business networks that can boost com-petitiveness of ceramic companies in the region.

Key words: competitive strategies. cooperation networks. cluster. interbusiness. competitiveness. 1 Introdução

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O atual ambiente competitivo é caracterizado pela preocupação das empresas em ganhar flexibilidade, aprimorar sua capacitação tecnológica e gerencial,manter oacesso ao mercado e estar em sintonia com as mudanças internacionais. Uma das mais notáveis características dessas mudanças é a crescente importância de re-laçõesinterfirmaseinterinstitucionais.Defato,diferentementedopassado,quandoas estratégias gerenciais, bem como as políticas governamentais, estavam focadas em nível da empresa ou do setor, hoje, devido à enorme pressão que vêm sofrendo para responder rapidamente ao mercado, as empresas já não podem agir isolada-mente (CASAROTTO FILHO; PIRES, 2001, p.156).

Numa situação em que há aumento do volume de empresas atuando em parceria como consequência da globalização e das constantes mudanças no mercado, as empresas sentem-se obrigadas a modernizarem-se para garantir sobrevivência. Essas adotam estratégias competitivas com o objetivo de tornarem-se competitivas em preço, diferenciação e mix de produtos, qualidade de serviços, desenvolvimento de marca própria e marketing compartilhado de acordo com o mer-cado concorrencial. Segundo Casarotto Filho e Pires (2001), empresas de pequeno e médio porte, quando competitivas, têm papel decisivo no crescimento da economia local, especialmente quando estruturadas em forma de redes, pois melhoram sua competitividade. As Pequenas e Médias Empresas (PME’s) vêm se unindo com o objetivo de usufruir pos-síveisbenefíciosqueessenovotipodearranjopodegerar.KupfereHasenclever(2002)afirmamqueessasvantagensproduzemdiversosimpactos,taiscomo:amelhoriadaeficiência,amelhoriana forma de enfrentamento da concorrência, a criação e difusão de informações e o aprofunda-mento dos mecanismos de aprendizagem em rede. Este trabalho é constituido de uma pesquisa descritiva que tem sua origem no objetivo de identificaraspossibilidadesdeaçõescompetitivasqueasempresasdopolodecerâmicavermelhade Igaratinga poderiam incrementar à capacidade competitiva. Portanto, buscar a competitividade desse segmento requer, de certa forma, estudar as economias de escala possíveis ou as possibilidades de diferenciação. Na busca de alternativas que elevem as vantagens competitivas, pode-se perceber um impressionante crescimento de parcerias entre empresas. Essas parcerias têm como um dos seus objetivos atender a consumidores mais exigentes devido à abertura de fronteiras que levam ao seu alcance maior diversidade de ofertas no mercado. A vantagem competitiva, segundo Porter (1986), é o resultado da capacidade de uma organi-zaçãorealizareficientementeoconjuntodeatividadesnecessáriasparaobterumcustomaisbaixoque o dos concorrentes ou de organizar essas atividades de forma única, capaz de gerar um valor diferenciado para os compradores.

2 Estratégias Competitivas: uma Análise para Formulação das Estratégias

A estruturação de uma estratégia objetiva enfrentar a competição. O estado da competição num setor depende de cinco forças básicas, que estão representadas na Figura 1. A potência coletiva dessas forças determina, em última instância, as perspectivas de lucro do setor.

Independentemente da potência coletiva, o objetivo do estrategista empresarial é encontrar uma posição na qual a empresa seja capaz de melhor se defender contra essas forçasoude influenciá-lasemseu favor.Apotênciacoletivadessas forçastalvez seja dolorosamente aparente para todos os antagonistas, mas, para enfrentá-las, os estrategistas devem perscrutar abaixo da superfície e analisar as fontes de cada uma (PORTER, 1999, p. 289).

Por exemplo, o que torna o setor vulnerável a novos entrantes? O que determina o poder de negociação dos fornecedores? Segundo Porter (1999), o conhecimento das fontes subterrâneas da pressão competitiva constitui-se nos pilares da agenda estratégica para a ação. Elas realçam os pontos fortes e fracos

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mais importantes da empresa, inspiram seu posicionamento no setor, iluminam as áreas em que asmudançasestratégicastalvezproporcionemomaiorretornoeidentificamospontosemqueastendênciassetoriaissãomaissignificativas,emtermosdeoportunidadeouameaças.Oconheci-mentodasfontestambémsecomprovaútilnaanálisedasáreasparaadiversificação. A força ou as forças competitivas mais poderosas determinam a rentabilidade de um setor e, em consequência, são da maior importância na formulação da estratégia. É evidente que diferentes forças se tornam preeminentes na conformação da competição em cada setor. Todos os setores têm uma estrutura subjacente ou um conjunto de características econômicas e técnicas fundamen-tais que dão origem às forças competitivas. O estrategista, no esforço de posicionar a empresa paramelhorenfrentaroambientesetorialoudeinfluenciá-loemfavordela,devecompreenderosfatores que determinam suas peculiaridades. Segundo Porter (1999), os novos entrantes em um setor trazem novas capacidades, o dese-jo de ganhar participação no mercado, e, em geral, recursos substanciais. As empresas que se diversificampormeio deaquisiçõesnumdeterminado setor de outrosmercados,muitas vezesalavancam os recursos para “sacudir” esse setor, como a Philip Morris agiu com a cerveja Miller. Porter (1999, p.476) diz ainda que, a seriedade da ameaça de entrada depende da expecta-tiva dos entrantes em relação às barreiras existentes e à reação dos concorrentes. Se as barreiras de entrada forem altas e os recém-chegados esperarem uma forte retaliação dos concorrentes entrincheirados, é evidente que não representarão séria ameaça. Porter(1999)afirmaqueosfornecedoressãocapazesdeexerceropoderdenegociaçãosobre os participantes de um setor por meio da elevação dos preços ou da redução da qualidade dos bens e serviços. Assim, os fornecedores poderosos dispõem de condições para espremer a rentabilidade de um setor que não consiga compensar os aumentos de custo nos próprios preços Segundo Porter (1999), da mesma forma, os clientes também são capazes de forçar a baixa dos preços, de exigir melhor qualidade ou de cobrar maior prestação de serviços, jogando os concorrentes uns contra os outros – em detrimento dos lucros do setor. O poder de cada grupo de compradores ou fornecedores importantes depende de inúmeras características da situação do mercado e da importância relativa das respectivas vendas ou compras para o setor, em com-paração com o negócio como um todo. Porter diz que um grupo de compradores é poderoso se:

• Éconcentradooucompraemgrandesvolumes.Oscompradoresdegrandesvolumes representam forças particularmente potentes quando o setor se caracteriza porcustosfixoselevados;• Osprodutosadquiridosnosetorsãopadronizadosounãodiferenciados.Cer-tos de que sempre disporão de fornecedores alternativos, os compradores jogam um fornecedor contra o outro, como ocorre na extrusão de alumínio.• Os produtos adquiridos no setor são componentes dos produtos dos com-pradorese representamparcelassignificativasdeseuscustos.Nessasituação,éprovável que os compradores busquem preços mais favoráveis e comprem de for-ma seletiva. Quando os produtos vendidos pelo setor em questão constituem uma pequena fração dos custos, os compradores são, em geral, muito menos sensíveis ao preço;• Seuslucrossãobaixos,criandoumforteincentivoparaareduçãodoscustosde suas compras. Já os compradores de alta rentabilidade são, em geral, menos sensíveis ao preço;• Osprodutosdosetornãosãoimportantesparaaqualidadedosprodutosouserviços dos compradores. Nas situações em que a qualidade dos produtos dos compradoresémuitoinfluenciadapelosprodutosdosetor,elessão,emgeral,menossensíveis ao preço;• Oprodutodosetornãoeconomizaodinheirodocomprador.Nassituaçõesem que o produto ou serviço do setor é capaz de pagar muitas vezes a si próprio, raramente o comprador é sensível ao preço; ao contrário, ele está interessado na qualidade;• Oscompradoresrepresentamumaameaçaconcretadeintegraçãoparatrás,

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incorporando o produto do setor (PORTER, 1999, p. 203).

Porter(1999,p.347)afirmaqueamaioriadessasfontesdepoderdocompradoréatribuívelaos consumidores como grupo, assim como os compradores industriais e comerciais, necessitan-do-seapenasdealgumasmodificaçõesnaestruturadereferência.Osconsumidorestendemasermais sensíveis ao preço se estiverem adquirindo produtos não diferenciados, caros em relação às respectivas rendas e do tipo em que a qualidade não é importante. Ainda de acordo com Porter (1999, p. 197), o poder de compra dos varejistas é determinado pelas mesmas regras, com um importante elemento adicional: eles são capazes de conquistar um expressivopoderdenegociaçãojuntoaosfabricantesquandoconseguemexerceralgumainfluên-cia sobre as decisões de compra dos consumidores, como no caso de componentes de áudio, joalheria, eletrodomésticos, produtos esportivos e outros bens. Porter (1999) salienta que, é inquestionável que, quanto mais atrativa for a opção excludente preço-desempenho oferecida pelos produtos substitutos, mais rígidos serão os limites impostos ao potencial de lucro do setor. Os produtos substitutos que, do ponto de vista estratégico, exigem maior atenção, são aque-les que (a) estão sujeitos a tendências que melhoram sua opção excludentete preço-desempenho em relação aos produtos do setor, ou (b) são produzidos por setores de alta rentabilidade. Os sub-stitutos logo entram em cena se algum acontecimento aumenta a competição no setor e provoca uma redução no preço ou melhoria no desempenho.

3 Redes empresariais de cooperação, arranjos produtivos e alianças – Organizações empresariais para a competitividade das MPE’s.

3.1 Redes Empresariais

Mediante ampla revisão da literatura existente sobre esse tema, constata-se que o conceito de rede é, de forma geral, muito abrangente e complexo. Em uma primeira aproximação, pode-se referirànoçãodeumconjuntoouumasériedecédulasinterconectadasporrelaçõesbemdefini-das. Segundo Porter:

estetermo(redes)aliadoaestadefiniçãonãoéutilizadoapenasnateoriaorganiza-cional, mas também em uma ampla gama de outras ciências, tais como pesquisa operacional, teoria da comunicação e teoria dos pequenos grupos. No caso presente definiremosredescomosendoométodoorganizacionaldeatividadeseconômicaspormeiodacoordenaçãoe/oucooperaçãointer-firmas.(PORTER,1998,p.478)

“Emsetratandoderede,otermonãoénovo,apresentandodiversossignificadoseaplicaçõesnos mais variados campos da ciência como, antropologia, psicologia e sociologia.” (NORHIA, 1992, p. 185). Como pode ser visto no quadro I, apresentado em seguida, há um amplo escopo que o termo rede propicia, permitindo uma amplitude nos estudos, conferindo o caráter interdisciplinar ao termo. Dessa forma, as redes estão situadas no âmago da teoria organizacional, e pode-se com-preenderqueumaredeinterfirmasconstitui-senomododeregularainterdependênciadesistemascomplementares (produção, pesquisa, engenharia, coordenação e outros), o que é diferente de agregá-losemumaúnicafirma. Candido e Abreu (2000), apresentam de forma esquemática esse caráter amplo que o con-ceito de rede confere à análise social e econômica, dentro da qual incluem-se as organizações de natureza empresarial (conforme ilustra a Figura 9, em anexo). As redes decorrem de princípios que se assemelham a esse convívio, quais sejam: inter-ação, relacionamento, ajuda mútua, compartilhamento, integração e complementariedade. Conforme Candido (2001), o primeiro aspecto, o intraorganizacional, parte do princípio de que, internamente, uma organização pode ser vista como uma rede de pessoas, departamentos

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esetoresespecíficos,mantendoumaconstante redede relaçõescaracterizadaporumasubdi-visão. Segundo Ribaut et al (1995), a sociedade de empresas, também chamada de rede de em-presas, consiste em um tipo de agrupamento de empresas cujo objetivo principal é o de fortalecer asatividadesdecadaumdosparticipantesdarede,semque,necessariamentetenhamlaçosfi-nanceiros entre si. Atuando em redes, as empresas podem complementar-se umas às outras, tanto nos aspectos técnicos (meios produtivos), como mercadológicos (redes de distribuição). Por outro lado ainda, a constituição de uma rede de empresas pode ter por objetivo, por exemplo, a criação de uma central de compras comum às empresas da rede. ParaCasarottoFilhoePires(2001),naformaçãoderedesinterfirmas,podem-seidentificartrêsvariáveisdeterminantes,quaissejam:adiferenciação,ainterdependênciainterfirmaseaflexi-bilidade. A diferenciação, quando relacionada a uma rede, pode prover seus benefícios inovadores atodososseusparticipantes;omesmonãoocorreparaumafirmaisolada,dadoqueadiferen-ciaçãopode,nessecaso,gerarelevaçãoemseuscustos.Jáainterdependênciainterfirmastraduz-se por um mecanismo que efetivamente prediz a formação de redes e por isso mesmo é adotado comoumaunidadeorganizacional.Finalmente,a flexibilidade, entendidaaqui tantonoaspectoinovador e produtivo como no próprio aspecto organizacional, é uma das maiores propriedades das redes, já que algumas podem auto-arranjar-se de acordo com suas contingências. ParaCorrêa(1999),omodelodecoordenaçãoderelacionamentopodedefinirtiposdere-des, que resulta em três tipos de arranjos cooperativos empresariais, quais sejam: rede estratégica, redelinearerededinâmica.Conformesepodeobservarnafigura10,apresentadaemanexo,oprimeiro tipo apresenta como modelo de coordenação o controle por uma empresa central e dis-tribuiçãodeatividadesjuntoaoutrasempresassatélites.Osegundotipodefine-secomoumar-ranjo horizontal de empresas orientado segundo a cadeia de valor dos seus produtos e serviços. Porfim,asredesdinâmicasapresentamummodelomenosrígidoeaberto,configuradasapartirdaintensidade dos seus relacionamentos. Os demais fatores constituem as ações conjuntas entre o Estado e do empresariado asso-ciados a práticas que aperfeiçoam o tecido institucional, como o entrelaçamento entre empresas e instituições de suporte que aperfeiçoam a competitividade em nível empresarial por meio da cri-açãodeambientesflexíveiseágeisqueaumentamaqualidadeeaprodutividade.SegundooIAD,a cooperação necessita de:

• trocadeinformaçõesentreváriasempresas;• estabelecimentodeumintercâmbiodeideias;• desenvolvimentodevisãoestratégica;• definiçãodeáreasdeatuação;• análiseconjuntadosproblemasesoluçõescomuns;e• definição de contribuições de parceiros (IAD apud CASAROTTO FILHO;PIRES, 2001, p. 301).

Numa visão mais genérica podemos constatar que as micro e pequenas empresas geral-mentesãomaiságeiseflexíveisdoqueasgrandesempresasnasfunçõesprodutivas.Emcontra-partida, possuem desvantagens em termos de consolidação da marca, da logística e da tecnologia. SegundoCasarottoFilhoePires(2001),redesflexíveisdepequenasemédiasempresascolabo-ram entre si com o objetivo principal de juntar esforços em funções em que há necessidade de uma escala maior e maior capacidade inovativa para a sua viabilidade competitiva. Segundo Amato Neto (2000), as PME’s que efetivamente trabalham dentro de uma cadeia produtiva,ondeosclientesexigemqualidadeassegurada,entregasconfiáveis,etc.,asempresasque compõem esta rede, se tornam mais cooperativas. Dessa forma, a criação de redes de coop-eração empresarial se tornam mais integradas e cooperadas podendo gerar economias coletivas para tornar uma cadeia Asfiguras11e12apresentamosdoistiposderedes.Noprimeirocaso,aredetopdown,naqual a pequena empresa pode tornar-se membro fornecedor de uma grande empresa, ou, princi-palmente, subfornecedor. É uma rede na qual o fornecedor é altamente dependente das estratégias

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daempresa-mãeepossuipoucaflexibilidadeoupoderdeinfluêncianarede. DeacordocomPorter(1999,p.390),osegundomodeloéoderedesflexíveisquetemsidoa base da competitividade de economias com um alto grau de desenvolvimento. É o caso da região da Emilia Romagna, na Itália. As empresas se organizam em forma de um consórcio que possui objetivosespecíficose,aomesmotempoamplos,comfocoemsubsidiarospequenosnegóciosnasdeficiênciascompetitivasidentificadasnascincoforçascompetitivasapresentadasporele. Essemodelode redeflexívelécapazdepropiciaràspequenasempresasasvantagenscompetitivasdeumagrandeempresae,aomesmotempo,propiciarumaflexibilidademaior.Osfocos competitivos propostos por consórcios, segundo Porter, são os seguintes:

• Formaçãodoproduto;• Valorizaçãodoproduto;• Valorizaçãodamarca;• Desenvolvimentodeprodutos;• Comercialização;• Exportações;• Padrõesdequalidade;• Obtençãodecrédito.(PORTER,1999,p.312).

A importância da estruturação de redes para as MPE’s se tornarem mais competitivas é fundamental,porémasuaorganizaçãoéumgrandedesafioparaosempresárioseentidadesdeapoio. Isso se deve ao fato de que essa estruturação impacta na estratégia de negócio individual e issodificultamuitoessetipodeorganização. Alémdadificuldadedeabrirasempresasindividualmenteparasepensaremgrupo,outrasdificuldadessãoencontradasparaaestruturaçãodeumarede,sendoelas:

• Asbaixasrelaçõesdeconfiançasencontradasemconglomerados;• OsbaixosrecursosfinanceirosdisponíveisnasMPE’sparaessetipodeinvestimento;• Adificuldadenegocialcomossteackholdersdoconglomerado,ouseja,umfornecedorsem-pre tentará quebrar essas relações para continuar poderoso em relação ao grupo;• AbaixavisãodelongoprazodeempresáriosdeMPE’s;• Oimpactodasrelaçõescompetitivasdasempresasnasrelaçõesdosempresários;• Abaixaqualidadedacomunicaçãonoconglomerado,gerandoconflitos;• Osinteressesindividuaisdosatoresdoconglomerado.

Essas barreiras para estruturação de redes têm sido o grande gargalo para a organização dessetipodenegócio.Parasuperaressasbarreirasédefundamentalimportânciaidentificarumgrupocadavezmaishomogêneo,quepossuiliderançaeconfiançae,ainda,objetivoscomuns.

4 O setor de Cerâmica Vermelha

O futuro de uma empresa depende do nível de aceitação dos seus produtos e serviços pe-los consumidores, da sua capacidade de tornar acessíveis esses produtos nos pontos de venda do mercado potencial, na qualidade e quantidade desejada e com preço competitivo, e do grau de diferenciação entre sua oferta de produtos e serviços frente à concorrência direta e indireta. A análise mercadológica insere-se nesse contexto como um instrumento fundamental para empresáriosdemicroepequenasempresas.Adinâmicadosmercadosmodifica-secontinuamentee as exigências dos consumidores alteram-se e ampliam-se na mesma velocidade. A falta de um conhecimento abrangente sobre o ambiente de negócios, a cadeia produtiva do setor de atuação, os mercados atuais e potenciais e os avanços tecnológicos que impactam, da produção à comer-cializaçãodeprodutoseserviços,podelevaroempresárioaperderoportunidadessignificativasde negócios, além de colocar em risco não só seu crescimento e sua lucratividade, como a própria sobrevivência da empresa. A maior parte dos empresários que gerem essas micro e pequenas empresas não tem uma

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compreensão ampla sobre as características, desejos, necessidades e expectativas de seus con-sumidores e de seus clientes atuais. Consequentemente, esses empresários tendem a desenvolver produtos, colocar preços e selecionar canais de distribuição a partir de critérios que atendam à sua própria percepção (às vezes, parcial e viesada) sobre como deve ser o modelo de negócios. Os dados do setor de Cerâmica Vermelha no Brasil apresentam divergência entre as princi-pais associações representativas. A Associação Nacional da Indústria Cerâmica (ANICER) aponta que o mercado conta com cerca de 5.500 empresas entre cerâmicas e olarias, sendo responsável por mais 400 mil empregos diretos, 1,25 milhão indireto e gerando um faturamento anual de R$ 6 bilhões (4,8% do PIB da con-strução civil). Poroutrolado,aAssociaçãoBrasileiradeCerâmica(ABC)contabiliza,especificamenteparaa cerâmica vermelha, a existência de 11.000 empresas de pequeno porte distribuídas pelo país, empregando cerca de 300 mil pessoas, e gerando um faturamento de R$ 2,8 bilhões. O fato de existirem informações divergentes liga-se a um grande problema que permeia a atividade de toda a cadeia da construção civil, a informalidade. Um estudo realizado pela União Nacional da Construção (UNC) em agosto de 2006 revelou que, dos R$ 37,85 bilhões de Valor Adi-cionado ao PIB nacional, 22,5% vieram de atividade informal. A cidade de Igaratinga situa-se a 80 km da capital mineira e possui aproximadamente 8.000 ha. A principal atividade do município é a indústria cerâmica e depois a pecuária do leite. O polo de cerâmica vermelha de Igaratinga compõe-se de 47 indústrias que geram formal-mente 3.000 empregos diretos e estima-se mais 2.500 indiretos. As empresas produzem basica-mente tijolos de vedação e estruturais. O setor produz aproximadamente 20.000 milheiros por mês, gerando um PIB de R$ 72 milhões/ano. As empresas se formaram a partir da instalação de uma grande empresa na década de 50, por causa da grande disponibilidade de matérias-primas na região e proximidade de um grande centro consumidor (Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH)). A partir daí, diversos funcionários se desligaram da empresa e formaram novos negócios, utilizandotecnologiasultrapassadaseprocessos ineficientes.Quandoda instalaçãodefornece-dores de tecnologia nas proximidades e a facilidade de crédito, muitas dessas empresas se mod-ernizaram e melhoraram suas instalações. Apesar do avanço tecnológico, muitas empresas não possuem sistemas de gestão e controle, o que gera decisões baseadas no conhecimento empírico e, muitas vezes, imprecisas. Destaca-se também no polo, a informalidade na aquisição de materiais como argila e lenha, além de registros da mão-de-obra e comercialização dos produtos. De certa forma, os números apresentados não representam o tamanho e a importância do setor para a cidade e região. E, ao mesmotempo,mostraoperfildoempresário,queéumoperáriodonodeempresasemvisãoem-preendedora. São donos de empresa que não se preocupam em melhorar a gestão e, por terem sido formados em produção, preocupam-se basicamente com os processos. Como já dito anteriormente, a principal matéria-prima do setor é a argila, que se encontra em abundâncianaregião,massemmuitaelasticidade,oqueprovocanoprodutofinalmenorresistên-cia. Os fornecedores se localizam próximos às empresas e são pulverizados (24 extratores de argila). Esses, por sua vez, oneram seus produtos de acordo com a demanda e a qualidade do produto. Por ser um produto cuja qualidade possui uma variável muito grande, o seu preço de mer-cado varia de forma exponencial. Portanto, existem muitos oportunistas no sistema de fornecimento que fazem especulação no mercado, deixando as indústrias vulneráveis com relação aos materiais. Já a lenha é vendida por diversos fornecedores pelo mesmo preço, pressionando ainda mais as indústrias nos seus cus-tos. As empresas distribuem seus produtos por meio de vendas diretas e revendedores externos. Esseprimeirocanalreduzainfluênciadeatravessadoresqueimpactamdiretamentenopreço;osegundo, revende os produtos a valores remarcados e não garante o recebimento. O transporte da mercadoria, realizado aproximadamente três vezes ao dia, é na maioria das vezes feito por

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veículos próprios. Algumas empresas aproveitam para transportar na volta, materiais para queima. A ocupação média dos caminhões é de 95% o que viabiliza a verticalização dessa atividade pelas empresas. O setor possui diversos substitutos presentes no mercado que possuem algumas vantagens sobreosetor.Osprodutosmaiscomunsquepossuemacapacidadedesupriroperfildademandasão: blocos de cimento, paredes pré-moldadas e blocos de material reciclados. Com a pressão do consumo de cimento pelo trabalho das grandes cimenteiras, há também uma pressão para o con-sumo dos blocos de cimento e uma grande publicidade incentivando o consumo do mesmo. Os principais concorrentes estão localizados na mesma região de Igaratinga e RMBH que possuem estrutura produtiva mais avançada, mas, pelo crescimento do setor, esta rivalidade não temseacentuado,apesardacapacidadefinanceiradestesconcorrentes. A pressão dos concorrentes com foco no preço ocorre mais quando da redução do con-sumo. Com essa estrutura, o posicionamento estratégico do polo é fabricar um produto para as classes C e D na RMBH, onde estas pretendem construir uma pequena casa ou realizar uma pequena reforma, comprando seus tijolos em pequenos depósitos próximos das localidades da construção.

5 Resultados da Pesquisa

O presente capítulo tem como objetivo apresentar os resultados da pesquisa realizada para aidentificaçãodosfatoresimpeditivosàformaçãoderedesdeempresas,tendocomofocoosre-sponsáveis pelas empresas ceramistas da região de Igaratinga. Na tabela 2, os empresários, em sua maioria, não responderam a essa questão, se ele é realmente um empresário ou trabalhador da empresa, pois, supõe-se que não entenderam a per-gunta,ou,nãosouberamidentificaroqueéserempresárioeoqueésertrabalhador.Pelobaixonível de escolaridade apresentada, concluiu-se que essa pergunta representa a condição de baixa cultura empresarial e empreendedora dos empresários de MPE’s do setor ceramista de Igarat-inga. Osgráficos1,2,3,4,5,6emanexoapresentamasprincipaisdificuldadesenfrentadaspelasempresas do setor de cerâmica vermelha participantes do projeto. Asdificuldadesapresentadaspelasempresasdecerâmicavermelhanapesquisa,possuemum destaque em importância nos seguintes fatores: • Custosaltosdematérias-primas;• Desconhecimentodoscustosdeprodução;• Custosaltosdedistribuição;• Concorrênciadesleal.

O primeiro fator, custos altos de matérias-primas, obteve um destaque com treze respostas comgraudeimportânciamáximodasdezesseisrespondidas.Issosedeveàsdificuldadesenfren-tadas junto aos órgãos de licença ambiental e à escassez desses produtos para a compra. Assim, asempresastêm,cadavezmais,dificuldadedecomprarmatérias-primasdequalidadeapreçoscompetitivos. O segundo fator, desconhecimento dos custos de produção, se deve ao fato de que os em-presáriospossuemumperfiloperacionalenãogerencial.Assim,ogerenciamentodoscustosdeumsistemaprodutivocomplexo,comoéodosetor,setornaumdesafio. O terceiro fator, se deve ao fato do produto possuir um baixo valor agregado e do custo de transporterepresentarparcelasignificativanoscustosdoproduto. Oúltimofator,concorrênciadesleal,éumadificuldadeparaasempresasdogrupopesquisa-da pois, nesse mercado, elas possuem grandes concorrentes, que detêm grande participação de mercado,grandepoderdebarganhaealtatecnologia,e,destaforma,influenciamtodooambientede forma rápida e perigosa. Além disso, algumas empresas destacaram concorrência desleal entre

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empresas do setor na região, mas não dentro do grupo. Osfatoresdeconfiançaecolaboraçãoentreasempresas,que,sãocritériosdesustentaçãoparaorganizaçãoeestruturaçãodeumarede,foramclassificadoscomomenosimportantes.Issoocorre pelo fato de que essas empresas desenvolveram essas relações e deixaram de ser prob-lemaentreogrupopesquisado,ouseja,ogrupovenceuodesafiodasrelaçõesnoquetangeàconfiançaecolaboraçãoe,apartirdeagora,buscarompernovasbarreiras. Isso não quer dizer que todas as empresas do setor na região possuem essas relações bem desenvolvidas, pois não possuem uma convivência aprofundada como o grupo pesquisado. Então, nãopodemosafirmarqueessasrelaçõesjáestãoestruturadasnosetorcomoumtodo. O fator tributos, que foi considerado também como menos importante, se deve ao fato de as empresas trabalharem comercialmente de forma muito informal, fazendo com que estes custos não sejam representativos. A periodicidade que o grupo se encontra para discutir assuntos relativos ao setor é quinze-nal,issodemonstraproximidadedogrupo,podendolevá-losadesenvolverrelaçõesdeconfiançae, possivelmente, uma maior união do grupo em relação aos problemas do setor. Além desses en-contros formais, os empresários se relacionam no ambiente social da cidade, pois, participam dos mesmos grupos sociais como: igrejas, festas, clubes de serviços, etc., facilitando o rompimento das barreirasdasrelaçõesquesão:confiançaecomprometimentocomogrupo. Segundo dados levantados na pesquisa, as estratégias de atuação conjunta do grupo, de-vem obedecer a seguinte ordem de prioridade:

• Melhoraracompetitividadejuntoaosfornecedoresdevidoàbaixacapacidadecompetitivados mesmos;• InvestirdeformaconjuntaemTecnologiaePesquisaeDesenvolvimento,pois,inovarnessemercado pode aumentar a rentabilidade das empresas;• Reduzirosimpactosambientais,otimizando:licençasemconjunto,contrataçãodeespecial-istas e compra de áreas licenciadas em conjunto;• Reduziracompetitividadedeconcorrentesdeoutrasregiõespormeiodeumaestratégiaconjunta de comercialização e mix de produtos;• Reduçãodacapacidadedebarganhadosclientes,estabelecendoestratégiasdecomerciali-zação padrão para todo o grupo;• Oportunidadedeexplorarnovosmercados.Essaaçãoémaiscomplexadevidoaocustodetransporte, mas poderia ser realizada para novos produtos que o grupo viesse a lançar.

Todas essas atividades competitivas conjuntas dependerão de uma avaliação mais aprofun-dada de cada uma delas, para avaliar a melhor estratégia para explorar a força do grupo. Em outra questão foi perguntado aos empresários quais benefícios obteriam com o trabalho em conjunto Os empresários responderam diferenciando os benefícios pelo grau de importância. Os fa-tores mais importantes destacados pelos empresários foram:

• Reduçãodoscustosdeprodução;• Barganhanacompradematérias-primas;• Reduçãodaconcorrênciadesleal;• Regulamentaçãodomercadodeargila;• ReduçãodoscustosdeP&D;• Reduçãodoscustosambientais.

Os benefícios mais importantes destacados na pesquisa demonstram uma predominância em atividades que não interferem na concorrência entre as empresas do grupo, apresentando uma certa homogeneidade na estratégia de trabalho em conjunto. Apesar da pesquisa apontar seis ben-efícios mais importantes, percebemos que, as opções selecionadas pelo grupo de respondentes se baseou na percepção das atividades operacionais típicas de redes, tal como discutido no capítulo 3. Mas, para a atividade que essas empresas desenvolvem esses benefícios afetarão diretamente

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a competitividade e sobrevivência das empresas. Agora, analisaremos cada fator e seu impacto na estrutura de uma possível rede.

• Areduçãodecustosdeproduçãopoderiaocorrernocompartilhamentodeequipamentos,minimizando investimentos, custos de manutenção, depreciação, etc., e, além disso, a tecnologia poderia ser mais avançada, diminuindo as despesas destacadas.• Abarganhanacompradematérias-primasocorreriapelofatodehaveremmuitosfornece-dores com baixo poder de negociação e, caso o grupo viesse a se estruturar, reduziria o custo destes materiais, pois aumentaria muito a capacidade de barganhar na compra, tornando-se com-petitivo em relação às grandes empresas da região.• Areduçãodaconcorrênciapoderiaserestruturadaapartirderegrasdemercadomaisclarase organizadas, fazendo com que o próprio grupo não se prejudicasse, ajustando a produção ao mercadoedefinindoestratégiasdenegociaçãocomclientes,chegandoapodernegociaracomer-cialização de forma conjunta.• Comacompradematéria-primaconjunta,ogrupoquepossuir50%doconsumo,farácomque os fornecedores se adequem às normas de mercado, regulamentando-o em termos de preço e qualidade.• Umdosgrandesproblemasconcorrenciaisdasempresas,baseia-senadificuldadedeino-vação do setor. São equipamentos muito especializados e de difícil diferenciação. As empresas, re-alizando pesquisas em conjunto, poderiam desenvolver novos produtos e introduzi-los no mercado, massificandoaaculturaçãodomesmo.• Oscustoscommeioambienteparaatipologiadessenegócioinfluenciadiretamenteaso-brevivência desse setor. São despesas de licenças do processo produtivo e jazidas de argila. Com anegociaçãoconjuntapoderiaminfluenciarnasleis,contratarconsultoresespecializadosconjunta-mente, reduzindo custos e ainda realizando investimentos em tecnologia para reduzir os impactos ambientais.

Já quanto aos fatores menos importantes, percebe-se uma tendência para a não organi-zação de atividades conjuntas de inovação, qualidade, gestão e atividades que interferem direta-mente na capacidade competitiva das empresas. Isso reforça a tese de tendência à estruturação de uma rede com objetivo de somente reduzir custos, ou seja, consolida a visão de curto prazo dos empresários do setor. Quantoàquestãorelativaàinterferênciadalocalizaçãogeográficanodesenvolvimentodoclusteredasempresassituadasnaregião,21,7%dasrespostasafirmamquealocalizaçãointer-feremuitonodesenvolvimento,36%acreditamqueainterferênciaéfortee32%afirmamqueháuma grande interferência. Isso demonstra a percepção dos ganhos coletivos que os empresários possuem de si mesmos e do setor. A maioria acredita que, pelo fato de estarem numa mesma região, existem fatores de desenvolvimento que impulsionam a competitividade do cluster e das empresas. Conforme vimos na introdução desta pesquisa, o pesquisador possui uma proximidade pela tipologia do trabalho do mesmo, que é a de apoiador ao desenvolvimento do setor. Por meio da observação do mesmo junto ao setor, destacamos alguns fatores que contribuem para o desen-volvimento:

• Proximidade das empresas com vários fornecedores, pois, a região se torna umgrandemercado para a cadeia fornecedora. Dessa forma, inovações tecnológicas estão próximas das em-presas;• Interaçãodasempresasemrelaçãoàprodução,queprovocaumamaiordisseminaçãodenovos processos;• Aproximidadedasempresaseempresáriosprovocamaioruniãoesensodeajuda,propi-ciando maior cultura cooperativista.

Quantoàcompetiçãoeàcooperação,osempresáriosafirmaramqueaconcentraçãodas

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empresasnumamesmaregiãoprovocaumaumentodacooperação,oqueconfirmaarelaçãodes-tas empresas em um grupo. Embora um empresário tenha alegado um aumento da competição, esta é uma percepção isolada e que não representa a percepção do grupo. Apesar da pouca ex-pressão, isso demonstra o interesse explorativo do empresário e, mais do que isso, a participação é momentâneaeoportunista.Esseperfil,namaioriadasvezes,nãocontribuiparaodesenvolvimentodo grupo e geralmente possui atitudes em favor da individualidade. Os demais empresários acreditam que o grau de cooperação que pode ser atingido pelo grupo é maior do que a competição entre as empresas, pois, a concorrência não é somente entre as empresas do cluster. Na tabela 5 em anexo, que apresenta a resposta dos empresários em relação à cooper-ação,podemosafirmarqueháumaculturadecooperaçãoentreasempresaseéumhábitodosempresários da cidade. Pela observação do pesquisador percebemos que, além da localização ge-ográficaqueimpulsionaumaculturacooperativista,orelacionamentosocialentreosempresáriosesuas famíliasaumentaarelaçãodeconfiançaentreeles, fazendocomque issorepercutanarelaçãoprofissional. Deacordocomatabela6emanexo,osempresáriosresponderamsobreaconfiançadelesemrelaçãoàsoutraspessoas.Dasrespostasobtidas66,6%afirmaramqueamaioriadaspessoaséconfiável.Somente10,5%afirmaramquedeve-setercautelaaonegociarcomaspessoas,poisamaioriadelasnãoéconfiável.Essasrespostasconfirmamacrençanorelacionamentodeconfi-ança que existe entre os empresários pesquisados. Conforme apresentado na introdução desta pesquisa, o pesquisador possui uma proximi-dade com o grupo, por causa das ações que o mesmo tem desenvolvido com ele, e, através desta proximidadeopesquisadoridentificouaçõesconjuntasdesenvolvidasporessasempresas.Umdosexemplos é uma “organização” de seguros de caminhões, que tem como foco dar seguridade aos equipamentos de movimentação de cargas das empresas. Essa organização é feita de forma muito poucoregularizada,porémbastantefuncional.Issoapresentaumasupostarelaçãodeconfiançaexistente no grupo, possibilitando uma sustentabilidade de ações conjuntas. A tabela 8 em anexo, apresenta as respostas dos empresários em relação ao que é impor-tante para que possam cooperar. Os critérios destacados como importantes para a cooperação foram:

• Reconhecimentopelaajuda:estecritériosedeveaofatodequeosempresáriosesperamque sejam recompensados pela ajuda dada. Ou seja, espera-se que, caso precisem, possam con-tar com a ajuda de outrem.• Interessespessoais:estecritériodemonstraqueapesardaconfiançaedadisposiçãoemcooperar,existemosinteressespessoaiscomoformadedefiniraaçãodecooperaçãoounão;• Interessescoletivos:estecritériodemonstraqueopensamentocoletivoéumaculturadogrupo e, isso facilita o trabalho em rede;• Conhecimento sobre a atividade: este outro critério, destacado como muito importante,demonstraapreocupaçãoemcooperarcomeficiênciae,aomesmotempo,cooperarcomrespon-sabilidade.

6 CONCLUSÃO

Redes de empresas são arranjos cooperativos cuja formação tem sido a estratégia de so-brevivência de muitas MPE’s, em especial daquelas que atuam em mercados competindo com grandes players. Conforme destacado anteriormente, a atuação por meio de redes pode trazer ganhos competitivos substanciais em áreas como custos, tecnologia, comercialização e gestão, áreasnasquaisasMPE’sisoladamentepossuemgrandesdificuldadesdecompetir. Opresentetrabalhoprocurouidentificarfatoresquefacilitamedificultamaestruturaçãoderedes das empresas de cerâmica vermelha da cidade de Igaratinga, Minas Gerais, partindo da pressuposição de que o arranjo por meio de rede pudesse proporcionar grandes ganhos competi-tivos.

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Respondendo à questão central proposta, a pesquisa demonstrou que existem fatores posi-tivosparaaestruturaçãoderedes,taiscomo:aexistênciaderelaçãodeconfiançaentreosem-presários, uma estrutura produtiva muito similar e a necessidade e vontade de se organizarem como rede. Porém, a pesquisa apontou também fatores impeditivos, tais como: baixa formalização das relações empresariais, inexistência de lideranças e uma visão míope dos empresários em re-lação a crescimento e desenvolvimento. Comrelaçãoaocapitalsocialefinanceiroeàsrelaçõesexistentesnacidade,estesforamdeterminantesparaaformaçãoderelaçõesdeconfiançaentreosatoresdosetornacidade.Dessaforma, existe um alto nível de cooperação, porém, de forma limitada e informal. Essas relações têm provocado transformações cooperativas como: compras de equipamentos e materiais em conjunto, estruturação de uma central de seguros e busca de tecnologia em conjunto. Porém, todas as organizações cooperativas são informais e limitam-se a atividades de redes tradicionais. Ainda existe o receio das empresas de se abrirem totalmente para uma verdadeira estruturação de rede. A pesquisa demonstrou também que, para as empresas, a rede seria importante para at-ender inicialmente objetivos básicos comuns como, por exemplo: exploração da argila, compras de equipamentos, mapeamento e licenciamento de argilas. Isso mostra a visão de curto prazo dos empresárioseadificuldadedeexpandiraçõescooperativas. Em relação aos atores (proprietários ou dirigentes) do setor de cerâmica vermelha de Iga-ratinga, não se pode dizer que são “empresários” no sentido formal e na perspectiva schumpeteri-ana, pois, em sua maioria, estes atores estão voltados para atividades operacionais de produção e gestão, praticando uma visão de curto prazo apenas. É perceptível que a maioria dos atores do setor de cerâmica vermelha de Igaratinga colabo-ram entre si, de forma extremamente informal e em atividades muito tradicionais para um arranjo deredes.Essa informalidade,emalgunscasos isolados,geradesconfiança,dificultandoacon-tinuidade das ações colaborativas, e, automaticamente, a estruturação formal de uma rede. Essa dificuldade da formalização está baseada na cultura das relações de confiança existente entreesses atores. Em algumas situações a formalização não existe, desenvolvendo uma maior relação deconfiançaentreosempresários. Quanto aos agentes de desenvolvimento e entidades representativas, percebe-se uma forte presença da Associação Comercial e Industrial de Igaratinga (ASCIG) como a principal entidade de apoio e desenvolvimento. Essa, por sua vez, atua prestando serviços burocráticos, ambientais e de segurança no trabalho. Com a forte presença dessa entidade, há a possibilidade das relações terem sido desenvolvidas, e os empresários estarem mais prontos para se organizarem em redes. Outra entidade que merece destaque é o SEBRAE-MG que atua no setor de cerâmica vermelha de Igaratinga promovendo ações que possibilitam a aproximação dos atores e, mais do que isso, apresenta de forma prática a estratégia para atuação em redes. Além dos fatores evidenciados anteriormente, podem-se considerar outros que afetam dire-tamente a organização em redes como:

• Ahistóriadasempresasquenasceramcomempresários formadosnosprocessosprodu-tivos de outras empresas e não possuem visão empresarial de médio e longo prazo;• Aausênciadeentidadesparceirasdebasetecnológicaquepoderiamestimularainovaçãocooperativa, agregando valor aos produtos e serviços das empresas;• Apulverizaçãodefornecedoresdeargilaqueespeculamnomercado,dificultandoasnego-ciações em conjunto;• Apresençadeempresasdediferentestamanhos,apresentandonecessidadesdistintasdecooperação,dificultandoaestruturaçãoderede;• A atuação nosmesmosmercados regionais, gerando em algunsmomentos relações dedesconfiança.

Existem, também, outros fatores além daqueles já citados que contribuem para a formação de redes empresariais no setor de cerâmica vermelha de Igaratinga, que são:

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• Aculturadereuniõesedebatesperiódicosentreasempresas,comfoconadiscussãosobreproblemasdefiscalização,ambientais,preçosdematérias-primas,etc.Dessaforma,aculturadecoopetição tem se formado há anos no setor;• Apresençadeliderançassituacionais,buscandoresolveroproblemadogrupo,temgera-domaiorníveldecolaboração,poisestebuscadesenvolverumarelaçãodeconfiançaentreosatores.

Quanto ao objetivo da pesquisa em levantar os fatores impeditivos e facilitadores para for-mação de redes empresariais no setor de cerâmica vermelha de Igaratinga, conclui-se que existe umambientefavorável,devidoàsrelaçõesdeconfiançaexistentesentreosatores.Porém,deve-se observar e melhorar alguns fatores como a informalidade nas relações, a disputa dos mesmos mercados e a visão de curto prazo dos atores como forma de estruturar e organizar as empresas em forma de rede. Finalizando, espera-se que a presente pesquisa tenha servido para a observação de enti-dades que apoiam o desenvolvimento e formação de redes, para que estas tenham os cuidados necessários na abordagem de um setor, e, ao mesmo tempo, busquem informações formais e in-formais nas relações dos atores como forma de traçarem a melhor estratégia. Espera-se, também, que a pesquisa sirva para os agentes de desenvolvimento e atores para que tomem as devidas ações para que a formação de redes possa ser uma estratégia competitiva para as empresas do setor de cerâmica vermelha de Igaratinga. REFERÊNCIAS

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Figura 1: Forças que governam a competição num setorFonte: PORTER (1986)

Quadro1:ConceitosedefiniçõesdeRedesFonte: Adaptado de Candido e Abreu (2000) e de Balestrin e Vargas (2004)

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Figura 9: A evolução das redes em uma perspectiva organizacionalFonte: Adaptado de Candido e Abreu (2000)

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Redes estratégicas Redes horizontais Redes dinâmicas

Figura 10: Tipos de Redes InterempresariaisFonte: Corrêa (1999)

Figura 11: Rede TopdownFonte: Adaptado de IADI /Federação da Indústria de Santa Catarina (FIESC) (2000)

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Figura 12: Tipos de redes de empresas

Fonte: Adaptado de IADI/FIESC (23) (2000)

Tabela 1 – Critérios de Escolha pelos clientes (lojas de materiais, clientes e construtoras)

Fonte: SEBRAE

Tabela 2PerfildaAmostra,segundofunçãoocupadanaempresa

Fonte: Dados da pesquisa

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Gráfico1:CustosaltosdedistribuiçãoFonte: Dados da pesquisa

Gráfico2:Concorrênciadesleal

Fonte: Dados da pesquisa

Gráfico3:FaltadeconfiançanasrelaçõesentreasempresasFonte: Dados da pesquisa

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Gráfico4:FaltadecolaboraçãoentreasempresasFonte: Dados da pesquisa

Fonte: Pesquisa

Fonte: Pesquisa

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Fonte: Dados da pesquisa

Fonte: Dados da pesquisa

Fonte: Dados da pesquisa

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Normas Editoriais para a publicação de trabalhos

A Revista MEDITARE – Revista Acadêmica dos cursos de graduação da FACED, publicará artigosdeinteressecientífico,comasseguintescaracterísticas:

• textoconterá,nomáximo,15páginas. • artigocientíficopodeser: a. Original ou divulgação: apresenta temas ou abordagens originais e podem ser: rela-tos de caso, comunicação ou notas prévias. b. Revisão ou sobre o estado da arte: os artigos de revisão analisam e discutem trabal-hosjápublicados,revisõesbibliográficasetc. • Osartigosdeverãoserdigitadoscomasseguintesinformações: a)Fonte da letra Times New Roman; b) Tamanho 12; c) Espaçamento entre linhas 1,5; d) Citações com mais de 3 linhas devem ter recuo de 04 cm da margem esquerda e não devem apresentar recuo na margem direita e nem aspas e devem ter um espaçamento duplo, do corpo do texto. A fonte da citação deve ser menor que o corpo do texto (tamanho 09) e o espaça-mento entre as linhas deve ser simples. e) Citações com até 3 linhas podem aparecer no corpo do texto e devem apresentar aspas; f) Palavras estrangeiras escritas em itálico; g) Os títulos devem ser apresentados em neg-rito; h)O título do artigo (mesma fonte, bond, tamanho 14) será centralizado; e, nas linhas subse-quentes, também centralizados o nome do autor e sua titulação. i)Deverá também ser apresentado um resumo do artigo ( máximo de 10 linhas) em portu-guês com tradução para o inglês (abstract) e palavras-chave. j) Nome completo do(s) autor (es) na forma direta, acompanhados de um breve currículo que o(s)qualifiquenaáreadoartigo.Ocurrículo:nomedainstituiçãodeorigem,informaçãosobreaatual situação acadêmica do autor (se é graduando ou graduado), incluindo endereço (e-mail) para contato, deve aparecer em nota de rodapé. k)Ascitaçõesbibliográficasserão indicadasnocorpodo texto,entreparênteses,comasseguintes informações: sobrenome do autor em caixa alta; vírgula; data da publicação; vírgula; abreviatura da página (p.) e o número desta. Exemplo: ( AZEVEDO, 2001, P. 128-132). As citações acima de três linhas virão na mesma fonte, itálico, tamanho 10, espaço simples; sem aspas, com recuode1,5com.Notasexplicativasereferênciasbibliográficasdeverãoestarnofinaldotexto,conforme as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). l)Introdução:Naintroduçãodeve-seexporafinalidadeeosobjetivosdotrabalhodemodoque o leitor tenha uma visão geral do tema abordado. Desenvolvimento: parte principal e mais ex-tensa do trabalho deve apresentar a fundamentação teórica, a metodologia, os resultados e a dis-cussão. Divide-se em seções e subseções conforme a NBR 6024, 2003. Os títulos de cada seção devem ser apresentados em negrito. Conclusões: as conclusões devem responder às questões da pesquisa, correspondentes aos objetivos e hipóteses; devem ser breves . m) Glossário: elemento opcional elaborado em ordem alfabética; n)Apêndices: Elemento op-cional.“Textooudocumentoelaboradopeloautorafimdecomplementarotextoprincipal”.(NBR14724,2002,p.2);o)Asilustrações(quadros,figuras,fotosetc)deverãoserenviadasemarquivossepara-dos,claramenteidentificadas(ex:Figura1,Figura2etc),indicandootextoeolocal(espaço)ondedevemserinseridas.Suaidentificaçãoaparecenaparteinferior,precedidadapalavradesignativa,seguida de seu número de ordem de ocorrência do texto, em algarismos arábicos, do respectivo título,ailustraçãodevefiguraromaispróximopossíveldotextoaqueserefere.ConformeoIBGE(1999) as tabelas devem ter um número em algarismo arábico, seqüencial, inscritos na parte supe-rior da tabela, a esquerda da página, precedida da palavra Tabela. Exemplo: Tabela 5 ou Tabela 3.5. A fonte deve ser colocada imediatamente em baixo da tabela para indicar a autoridade dos dados e/ou informações da tabela, precedida da palavra Fonte.

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p)Indicativo de seção: O Indicativo Numérico da seção precede o título [da seção] alinhado à es-querda. “Não se utilizam ponto, hífen, travessão ou qualquer outro sinal após o indicativo da seção ou de seu título”.(NBR 6024, 2003, p.2). Os títulos e subtítulos de cada seção devem estar sem adentramento e numerados em número arábico – apenas a primeira letra do subtítulo deve ser maiúscula. • Localdeentregadostrabalhos:SecretariadoInstitutodePós-Graduação,PesquisaeEx-tensão da FACED. Endereço: Praça do Mercado, 191 – Centro. CEP: 35500-048 - Divinópolis, Minas Gerais. • Temaparaopróximonúmero-AÉticaeseusdesdobramentos.• DatadeEnviodosartigos:Dia02demaioà30dejunhode2011.