fabulas fabulas v

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Fábulas O leão e o ratinho Luís Camargo Depois de trabalhar à noite toda, o Leão foi dormir. Deitou e começou a rugir baixinho, como se estivesse roncando. Nisso, aparece um Ratinho cantando alto: – Gosto muito de te ver, leãozinho! O Leão acorda, bravo: – Que barulheira é essa? Não se pode mais dormir sossegado? O Ratinho, com medo: – Desculpe, Seu Leão! O dia está tão bonito que me deu vontade de cantar. O Leão, mais calmo: – Está certo, Seu Ratinho! Realmente está um belo dia! Só que eu trabalhei à noite toda e acho que tenho direito de dormir sossegado. O Ratinho concorda: – O senhor tem toda a razão, Seu Leão! O meu direito de cantar acaba onde começa o seu direito de dormir sossegado. – É isso mesmo! – diz o Leão – Espero que de hoje em diante o senhor respeite meus direitos. Agora me deixe dormir que eu estou bastante cansado. Tchau, Seu Ratinho! – Tchau, Seu Leão! Durma bem! – diz o Ratinho. O Leão deita e o Ratinho vai embora. Enquanto o Leão está dormindo, aparece um Caçador e joga uma rede em cima do Leão. O Leão acorda, bravo:

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Page 1: Fabulas Fabulas V

Fábulas

O leão e o ratinho

Luís Camargo

Depois de trabalhar à noite toda, o Leão foi dormir. Deitou e começou a rugir

baixinho, como se estivesse roncando.

Nisso, aparece um Ratinho cantando alto:

– Gosto muito de te ver, leãozinho!

O Leão acorda, bravo:

– Que barulheira é essa? Não se pode mais dormir sossegado?

O Ratinho, com medo:

– Desculpe, Seu Leão! O dia está tão bonito que me deu vontade de cantar.

O Leão, mais calmo:

– Está certo, Seu Ratinho! Realmente está um belo dia! Só que eu trabalhei à noite toda

e acho que tenho direito de dormir sossegado.

O Ratinho concorda:

– O senhor tem toda a razão, Seu Leão! O meu direito de cantar acaba onde começa o

seu direito de dormir sossegado.

– É isso mesmo! – diz o Leão – Espero que de hoje em diante o senhor respeite meus

direitos. Agora me deixe dormir que eu estou bastante cansado. Tchau, Seu Ratinho!

– Tchau, Seu Leão! Durma bem! – diz o Ratinho.

O Leão deita e o Ratinho vai embora.

Enquanto o Leão está dormindo, aparece um Caçador e joga uma rede em cima do

Leão. O Leão acorda, bravo:

– Que falta de respeito! A gente deita um pouquinho pra descansar e logo aparece um

caçador que se aproveita da situação!

O Ratinho ouve o Leão e vem correndo.

– Que foi isso, Seu Leão?

– Jogaram uma rede em cima de mim e eu não consigo me soltar – explica o Leão.

– Deixa comigo, Seu Leão! Eu vou roer essa rede!

O Ratinho rói a rede e diz:

– Pronto! Dessa o senhor está livre!

O Leão se desembaraça da rede e agradece:

Page 2: Fabulas Fabulas V

– Obrigado, Seu Ratinho! Muito obrigado! Eu não podia imaginar que um bichinho tão

pequeno podia ser de ajuda tão grande!

O burro brincalhão

Fábula de Esopo recontada por Luís Camargo

Um burro pulou no telhado de uma casa. O que vocês acham que aconteceu?

Quebrou várias telhas.

O que será que o dono da casa fez?

O dono da casa subiu no telhado e expulsou o burro de lá com umas boas

lambadas.

O burro perguntou:

– Por que o senhor está me tratando dessa maneira, se ontem mesmo o macaco

fez a mesma coisa e o senhor achou tão divertido?

O burro brincalhão

Fábula de Esopo recontada por Luís Camargo

Um burro pula no telhado de uma casa e quebra várias telhas.

O dono da casa sobe no telhado e expulsa o burro de lá com umas boas

lambadas.

O burro pergunta:

– Por que o senhor está me tratando dessa maneira, se ontem mesmo o macaco

fez a mesma coisa e o senhor achou tão divertido?

O cavalo e o burro

Fábula de Esopo recontada por Luís Camargo

Um cavalo ia todo orgulhoso por uma estrada, quando encontrou um burro.

Todo carregado, o burro andava lentamente e saiu de lado, deixando o cavalo passar.

– Eu mal posso resistir à tentação de lhe dar uns coices, seu burro de carga! –

disse o cavalo.

O burro procurou manter a calma e apenas pediu justiça aos deuses, mas em

silêncio.

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Page 3: Fabulas Fabulas V

Não muito tempo depois, o cavalo ficou doente e seu dono o mandou a uma

fazenda.

O burro, vendo o cavalo puxando uma carroça carregada de bosta de vaca,

perguntou:

– Então, seu carregador de bosta, onde está sua antiga arrogância?

O burro e o lobo

Fábula de Esopo recontada por Luís Camargo

O burro estava pastando, quando vê o lobo se aproximar, prontinho para atacá-

lo. O burro resolve fingir que está manco.

O lobo pergunta porque o burro estava mancando.

O burro responde que tinha machucado o pé num espinho e pede que o lobo tire

o espinho antes de comê-lo, para não correr o risco de ficar engasgado com o espinho.

O lobo concorda, levanta o pé do burro, procurando o espinho atentamente.

O burro aproveita, dá um coice bem no meio da cara do lobo e dá no pé.

Com a cara toda machucada, o lobo fala: “Bem feito para mim. Por que é que eu

quis bancar o médico, se meu pai só me ensinou a ser açougueiro?”

O burro e sua sombra

Fábula de Esopo recontada por Luís Camargo

Um viajante alugou um burro para levá-lo a um lugar distante. O sol estava

muito forte. O viajante parou para descansar à sombra do burro. Mas a sombra só dava

para uma pessoa.

O viajante e o dono do burro começam a discutir sobre quem é que tem direito à

sombra. O dono afirma que ele só tinha alugado o burro, não sua sombra. O viajante,

por sua vez, insiste que o aluguel do burro inclui o aluguel da sombra. Das palavras, a

briga chega aos socos.

Enquanto o viajante e o dono do burro brigam, o burro pica a mula.

O pastor e a cabritinha

Fábula de Fedro recontada por Luís Camargo

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Page 4: Fabulas Fabulas V

O pastor quebra o chifre de uma cabritinha com seu cajado e pede:

– Por favor, não diga ao patrão que eu quebrei seu chifre.

– Seu covarde, mesmo que eu fique calada, meu chifre quebrado vai dizer quem

é o culpado.

O cão e o crocodilo

Fábula de Fedro recontada por Luís Camargo

Você já tentou passar a perna em quem é mais esperto?

Dizem que, no antigo Egito, os cães bebiam água correndo para não serem

abocanhados pelos crocodilos.

Um dia, um cão começou beber água. Correndo, como de costume. Vem um

crocodilo diz:

– Não tenha medo! Beba sossegado.

– Por São Roque! – diz o cão – Eu faria isso mesmo se não desconfiasse que

você está com fome.

O burro e o cachorrinho de estimação

Fábula de Esopo recontada por Luís Camargo

Um homem tinha um burro e um cachorrinho de estimação. O burro dormia no

estábulo e era bem tratado. Tinha tudo o que um burro poderia desejar.

O cachorrinho fazia um monte de gracinhas e o dono gostava muito dele. Fazia

carinhos no cachorrinho e raramente almoçava ou jantava sem lhe dar um bocadinho.

O burro não fazia gracinhas. Trabalhava duro: transportando milho para o

moinho, farinha para o mercado, madeira da floresta, cargas da fazenda. Muitas vezes o

burro se queixava de trabalhar muito, enquanto o cachorrinho não fazia nada de útil, só

vivia fazendo gracinhas.

Um dia, o burro quebrou o freio, soltou as rédeas e foi até a casa do seu dono e

resolveu imitar o cachorrinho. Deu pulinhos, abanou o rabo, saltou em cima do dono,

igualzinho ele via o cachorrinho fazer. Acabou quebrando uma mesa com tudo o que

tinha em cima. E ainda tentou dar umas lambidas no seu dono.

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Page 5: Fabulas Fabulas V

Ouvindo a barulheira, os empregados correram até a casa e, vendo o patrão em

perigo, prenderam o burro e o levaram de volta para o estábulo. O burro apanhou que só

vendo.

Ficou pensando na lição:

– Por que é que eu não me contentei em trabalhar como meus companheiros, em

lugar de querer imitar aquele cachorrinho inútil?

O galeto e os gatos

Fábula de Fedro recontada por Luís Camargo

Um galeto andava de liteira, todo gabola, carregado por gatos selvagens.

A raposa aconselha:

– Cuidado, senhor! Se prestar atenção nos seus escravos, verá que eles

transportam uma presa, não um patrão.

De fato, quando os selvagens ficaram com fome, mataram o senhor e dividiram-

no entre si.

A leitoa parturiente e o lobo

Fábula de Fedro recontada por Luís Camargo

A Leitoa entra em trabalho de parto e começa a gemer.

Vem o Lobo e diz:

– Dona Leitoa, eu sou médico obstetra e gostaria de colocar meus

conhecimentos

a seu serviço.

A Leitoa dispensa a ajuda:

– Doutor Lobo, o senhor já ajuda bastante ficando longe.

Se a Leitoa tivesse confiado no Lobo, sabe o que teria acontecido?

Sofreria as dores do parto e a perda da sua prole.

O burrinho e o violão

Fábula de Fedro recontada por Luís Camargo

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Page 6: Fabulas Fabulas V

Um burrinho vai de Petrolina a Juazeiro. Vê um violão no meio da ponte. (Ponte

Presidente Dutra, sobre o rio São Francisco.) Aproxima-se e toca as cordas com a pata.

O violão canta:

– Bambalalão, senhor...

– Que belo violão! – diz o burro – Pena que eu seja totalmente ignorante nessa

arte. Se fosse outro, mais instruído – um Yamandu Costa, já imaginou? – que tivesse

encontrado este violão, que música divina encantaria nossos ouvidos... Ah! Velho

Chico, quantos talentos não se perdem, como este violão, largados por aí...

Esopo e o atrevido

Fábula de Fedro recontada por Luís Camargo

Certa vez, Esopo levou uma pedrada e agradeceu:

– Muito obrigado!

E, ainda por cima, deu um real ao atrevido, dizendo:

– Não posso lhe dar mais dinheiro, mas vem vindo alguém que poderá lhe

recompensar muito melhor. Um homem rico e poderoso. Dê-lhe uma pedrada que ele

lhe dará uma digna recompensa.

Convencido pelas palavras de Esopo, o atrevido fez o que o fabulista sugeriu.

Mas suas esperanças foram para o brejo: ele foi preso, açoitado e crucificado.

O veado na fonte

Fábula de Fedro recontada por Luís Camargo

O que nós desprezamos muitas vezes se mostra muito mais útil do que aquilo

que nós elogiamos. É isso o que esta fábula mostra.

Na fonte, o veado, depois de beber, ficou parado, olhando o seu retrato.

Então, elogia seu chifre:

– Que chifre frondoso, tão formoso!

E despreza seus pés:

– Que pés finos, tão horrorosos!

De repente, o veado se assusta com a voz dos caçadores e foge pelo campo. Sua

corrida ligeira deixa os cães para trás. Na mata, escapa das feras. Mas fica preso pelos

chifres e começa a ser rasgado pelas mordidas dos cães.

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Page 7: Fabulas Fabulas V

Dizem que morrendo ele disse assim:

– Que infeliz eu sou! Só agora percebo a utilidade dos meus pés ligeiros, que

antes desprezei, e quanto sofrimento me causam os meus chifres, que tanto elogiei.

A mosca e a mula

Fábula de Fedro recontada por Luís Camargo

A mosca pousa na carroça e começa a implicar com a mula:

– Como você é lerda! Não dá pra ir mais depressa? Se não eu vou picar o seu

pescoço!

A mula responde:

– Suas palavras não me movem, quem me move é o carroceiro. É ele que, com

seu chicote e com o freio, me faz avançar mais depressa ou me faz parar. Pode parar

com essas ameaças, que eu sei a quem devo obedecer.

Esta fábula mostra como fechar a boca dos que querem mandar sem ter

autoridade.

Trabalho e lazer

Fábula de Fedro recontada por Luís Camargo

Esopo estava brincando com nozes, com algumas crianças.

Passa um ateniense e começa a rir:

– Tão velhinho e brincando como criança?

Esopo, que preferia rir, em lugar de ser objeto de risos, coloca um arco no chão:

– Ei, sabichão, explique o que isso quer dizer.

Junta gente. O ateniense quebra a cabeça, mas não consegue decifrar o enigma.

Por fim, entrega os pontos. Esopo explica:

– Se deixar o arco sempre tenso, você vai acabar quebrando-o. Mas, se o deixar

relaxar, ele estará em forma, quando precisar. Assim, de quando em quando, é preciso

dar um pouco de descanso à mente, para pensar melhor.

O gavião e as pombas

Fábula de Fedro recontada por Luís Camargo

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Page 8: Fabulas Fabulas V

Quem confia em quem não merece confiança, em lugar de ajuda só encontra

prejuízos.

As pombas sempre fugiam do gavião. Com as asas rápidas evitavam a morte. O

gavião resolveu mudar de estratégia. E enganou as aves pacíficas dizendo assim:

– Por que viver aflitas, se vocês podem ter um rei para protegê-las de todos os

perigos?

As outras, crentes, coroam o gavião, que começa a reinar, comendo as pombas

uma por uma.

Uma das pombas que restou diz:

– Nós bem merecemos essa provação por confiar nossas vidas ao nosso

predador.

Esopo e o atleta vitorioso

Fábula de Fedro recontada por Luís Camargo

Um atleta se gabava de sua vitória.

Esopo pergunta:

– O adversário era mais forte?

– Não diga bobagem! – responde o atleta – Minha força é muito maior.

– Então, seu tolo, qual é o mérito de vencer um mais fraco? Você seria digno de

louvor se tivesse vencido alguém mais forte.

A raposa e o corvo

Luís Camargo

Perto de um pequizeiro, o corvo encontra um pão de queijo. O corvo voa até

o pequizeiro, pousa em um galho e prepara-se para saborear o pão de queijo.

Aparece a raposa e diz:

– Senhor Corvo, Vossa Senhoria tem os pés tão bonitos, o bico tão belo, um

perfil tão lindo, uma plumagem formosíssima! Se a vossa voz fosse tão excelente

quanto vossa aparência, Vossa Senhoria seria o Rei dos Pássaros!

O corvo abre a boca e começa a cantar:

– Rolinha voou, voou...

Nisso, o pão de queijo cai no chão e rola até os pés da raposa, que diz:

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Page 9: Fabulas Fabulas V

– Enganei um bobo na casca do ovo! Seu Corvo bobo, vou lhe dar um

conselho em troca do pão de queijo:

– Não dê ouvidos a bajuladores!

A raposa pega o pão de queijo e vai embora toda feliz, saboreando o pão de

queijo.

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