fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio...
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Rui André Sampaio Gomes Batista
Fabrico e Caraterização de BateriasRecarregáveis de Lítio em Estado Sólido
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Est
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Sólid
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Universidade do MinhoEscola de Engenharia
Novembro de 2011
Tese de MestradoCiclo de Estudos Integrados Conducentes ao Grau de Mestreem Engenharia Eletrónica Industrial e Computadores
Trabalho efetuado sob a orientação doProfessor Doutor Luís Gonçalves
Rui André Sampaio Gomes Batista
Fabrico e Caraterização de BateriasRecarregáveis de Lítio em Estado Sólido
Universidade do MinhoEscola de Engenharia
EM MEMÓRIA DOS MEUS
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido V
Agradecimentos
A realização deste trabalho só foi possível com o apoio de várias pessoas, às quais o
autor gostaria de destacar e deixar o seu mais sincero agradecimento.
Em primeiro lugar aos meus pais por me proporcionar a oportunidade de poder estudar e
de me apoiar nas minhas escolhas.
Ao meu orientador Professor Luís Gonçalves do Departamento de Eletrónica Industrial
da Universidade do Minho, primeiro por me ter aceite como seu orientando e depois
pelo seu apoio, orientação científica e ajuda na revisão da tese.
Ao laboratório de Microtecnologias pelo bom ambiente de trabalho em especial ao João
Ribeiro pela toda a ajuda prestada e pela paciência para me auxiliar.
Ao pessoal das oficinas do Departamento, em especial ao Sr. Joel e Carlos pela boa
disposição e simpatia com a qual sempre fui recebido.
A todos os meus Professores, por me formarem desde os meus 6 anos.
Aos meus amigos por me aturarem, ajudarem, pelos momentos de distração e pela
amizade.
Para não me esquecer de ninguém, gostaria de agradecer a todos aqueles que
participaram na minha vida.
Finalmente à minha família pela alegria e apoio seja nos bons ou maus momentos para o
bem ou para o mal.
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido VII
Resumo
Um dos grandes desafios do século 21 é sem dúvida alguma a produção e o
armazenamento de energia. A crescente redução no consumo de energia nos sistemas
eletrónicos tem permitido criar dispositivos cada vez mais autónomos. Estes
dispositivos por vezes tiram partido das técnicas de energy harvesting para aumentar
ainda mais a sua autonomia. Apesar destas técnicas, os dispositivos referidos
apresentam picos de consumo de energia, sendo necessário efetuar o seu
armazenamento. Por este motivo, estes dispositivos precisam de uma bateria capaz de os
alimentar quando a fonte de energia que os suporta não esteja disponível.
O foco desta dissertação é o fabrico e caracterização de uma bateria de lítio em estado
sólido. As baterias de estado sólido destacam-se pelo facto de todos os seus materiais
constituintes serem sólidos e desta forma permitirem aplicar técnicas de fabrico
compatíveis com a microeletrónica. A bateria de lítio proposta será composta
principalmente por quatro materiais: cátodo, eletrólito, ânodo e a camada protetora. O
elétrodo positivo (cátodo) e negativo (ânodo) apresentam elevada condutividade elétrica
e a capacidade de extração e inserção de iões de lítio. O eletrólito tem como principais
características a elevada condutividade iónica e elevada resistividade elétrica. Já a
camada protetora tem de ser resistente, inerte em contacto com os outros materiais e tem
de proteger o lítio da oxidação com a atmosfera terrestre. Os materiais escolhidos para a
bateria foram o cobaltato de lítio (cátodo), o oxinitreto de fósforo de lítio (eletrólito), o
lítio metálico (ânodo) e o nitreto de silício (proteção).
O cobaltato de lítio (LiCoO2) foi depositado por RF sputtering, após a sua deposição foi
efetuado o annealing durante duas horas a 650ºC em vácuo de modo a torna-lo
totalmente cristalino. O oxinitreto de fósforo de lítio (LixPOyNz também conhecido por
LiPON) foi depositado por RF sputtering. Já o lítio (Li) foi obtido através da deposição
por evaporação térmica sendo medida a resistência elétrica, a quatro pontas durante a
deposição, para quantificar a sua oxidação. O nitreto de silício (Si3N4) foi depositado
por RF sputtering utilizando um wafer de silício com árgon (Ar) e azoto (N2) durante o
sputtering.
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido IX
Abstract
One of the great challenges of the 21st century is the production and storage of energy.
The increased reduction in energy consumption by electronic devices has enabled the
creation of autonomous devices. These devices often take advantage of energy
harvesting techniques to further increase their autonomy. Despite these techniques,
these devices have peak power consumption, requiring energy storage. These devices
require a battery capable sustaining them when their power source isn’t available.
This dissertation focuses on the fabrication and characterization of a lithium solid-state
battery. The solid-state batteries stand out because all of their constituents are solid and
microelectronics techniques can be used in their fabrication. The lithium battery
proposed will be mainly composed of four materials, the cathode, electrolyte, anode and
the protective layer. The positive electrode (cathode) and negative (anode) have high
electrical conductivity and capacity of extraction and insertion of lithium ions. The
electrolyte's main features are the high ionic conductivity and high electrical resistivity.
The protective layer has to be resistant, inert when in contact with the others materials
and must protect the lithium from oxidation. The materials chosen for the battery are
lithium cobalt oxide (cathode), the lithium phosphorus oxynitride (electrolyte), lithium
metal (anode) and silicon nitride (coating).
The lithium cobalt oxide (LiCoO2) was deposited by RF sputtering and annealing has
been carried out for two hours at 650 ° C under vacuum. The lithium phosphorus
oxynitride (Li3PO4N) was deposited by RF sputtering. The metallic lithium (Li) was
deposited by thermal evaporation and its electrical resistance measured at four points
during the deposition. The silicon nitride (Si3N4) was deposited by reactive RF
sputtering, in an argon and nitrogen atmosphere, using a silicon target.
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido XI
Índice
Resumo ...................................................................................................... VII
Abstract ....................................................................................................... IX
Índice ........................................................................................................... XI
Listas de abreviaturas e siglas ................................................................... XV
Lista de símbolos .....................................................................................XVII
Lista de figuras ......................................................................................... XIX
Lista de tabelas ......................................................................................... XXI
1 Introdução ............................................................................................... 1
1.1 Enquadramento .................................................................................................. 1
1.2 Motivação .......................................................................................................... 1
1.3 Objetivos ............................................................................................................ 2
1.4 Organização da tese ........................................................................................... 3
1.5 Bibliografia ........................................................................................................ 3
2 Estado da Arte ........................................................................................ 4
2.1 Evolução das Baterias ........................................................................................ 4
2.2 Lítio .................................................................................................................... 9
2.2.1 Lítio em Portugal ...................................................................................... 10
2.3 Nanotecnologias nas baterias ........................................................................... 12
2.4 Bibliografia ...................................................................................................... 15
3 Teoria das Baterias ............................................................................... 17
3.1 O que é uma Bateria? ....................................................................................... 17
3.2 Baterias de Lítio ............................................................................................... 17
3.3 Baterias de estado sólido .................................................................................. 20
XII Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
3.4 Conceitos básicos ............................................................................................. 21
3.4.1 Classificação de uma bateria .................................................................... 21
3.4.2 Capacidade (de armazenamento de Energia)............................................ 22
3.4.3 Tensão de uma bateria .............................................................................. 23
3.4.4 Tempo de Vida ......................................................................................... 23
3.4.5 Profundidade de Descarga ........................................................................ 24
3.4.6 Resistência Interna .................................................................................... 24
3.4.7 Circuito de proteção.................................................................................. 26
3.5 Cátodo .............................................................................................................. 27
3.6 Eletrólito .......................................................................................................... 28
3.7 Ânodo ............................................................................................................... 29
3.8 Proteção ........................................................................................................... 29
3.9 Nitreto de Silício .............................................................................................. 29
3.9.1 História, Características e Aplicações ...................................................... 30
3.10 Bibliografia................................................................................................... 31
4 Técnicas de fabrico e caracterização .................................................... 34
4.1 Deposição de filmes finos ................................................................................ 34
4.1.1 Técnica CVD e PVD ................................................................................ 34
4.1.2 Máscara de Sombra .................................................................................. 35
4.1.3 Feixe de eletrões ....................................................................................... 35
4.1.4 Pulverização catódica ............................................................................... 36
4.1.5 Evaporação térmica .................................................................................. 38
4.2 Etching ............................................................................................................. 39
4.2.1 Fotolitografia ............................................................................................ 40
4.2.2 Wet etching ............................................................................................... 41
4.2.3 Dry etching ............................................................................................... 42
4.2.4 Pulverização Catódica .............................................................................. 42
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido XIII
4.2.5 Corrosão Iónica Reativa (RIE) ................................................................. 43
4.2.6 Vaporização .............................................................................................. 43
4.2.7 Comparação .............................................................................................. 44
4.3 Caracterização de filmes finos ......................................................................... 45
4.3.1 Difração de raios X ................................................................................... 45
4.3.2 Espectroscopia por energia dispersiva de raios X e microscopia eletrónica
de varrimento .......................................................................................................... 46
4.3.3 Resistividade elétrica ................................................................................ 47
4.3.4 Calorimetria diferencial de varrimento..................................................... 49
4.3.5 Condutividade iónica ................................................................................ 51
4.3.6 Termogravimetria ..................................................................................... 54
4.3.7 Testes de encapsulamento ........................................................................ 55
4.4 Trabalho Prévio ................................................................................................ 56
4.5 Bibliografia ...................................................................................................... 62
5 Fabrico e Resultados Experimentais .................................................... 67
5.1 Proteção com Nitreto de Silício ....................................................................... 67
5.2 Bateria .............................................................................................................. 72
5.3 Teste à bateria .................................................................................................. 78
5.4 Bibliografia ...................................................................................................... 79
6 Conclusões e trabalho de futuro ........................................................... 80
Anexo A ...................................................................................................... 81
Anexo B ....................................................................................................... 82
Anexo C ....................................................................................................... 83
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido XV
Listas de abreviaturas e siglas
Lista de abreviaturas e Siglas
UPS Fonte de alimentação ininterrupta
SES Armazenamento estático de energia
TCO Temperatura de corte
PTC Coeficiente de temperatura positiva
FET Transístor de efeito de campo
DC Corrente contínua
AC Corrente alternada
ORNL Oak Ridge National Laboratory
EUA Estados Unidos da América
CVD Deposição por vapor químico
PECVD Deposição química por fase de vapor induzido por plasma
MEMS Sistemas Microeletromecânicos
RIE Corrosão Iónica Reativa
RF Radio frequência
XRD Difração de raios X
DSC Calorimetria diferencial de varrimento
TGA Termo Gravimetria
SEM Microscopia eletrónica de varrimento
EDX Espectroscopia por energia dispersiva de raios X
CAD Projeto Assistido por Computador
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido XVII
Lista de símbolos
Lista de Símbolos
CAH Capacidade de uma bateria em [Ah]
t Tempo [s]
I Corrente [A]
RDC Resistência, utilizando testes de carga DC [Ω]
RAC Resistência, utilizando testes de carga AC [Ω]
Vx Tensão medida no ponto x [V]
Ix Corrente medida no ponto x [V]
n Número inteiro
λ Comprimento de onda dos raios X incidentes [µm]
d Distância entre planos [m]
θ Ângulo de difração [º]
ρ Resistividade [r.m]
h Espessura do filme [µm]
σ Condutividade iónica [S]
A Área [m2]
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido XIX
Lista de figuras
Figura 1-1 Esquema proposto para a bateria projetado em corte transversal ................... 2
Figura 2-1 Alessandro Volta e a sua pilha [2][3]. ............................................................ 4
Figura 2-2 Perspetiva da evolução das baterias [13]. ....................................................... 7
Figura 2-3 Início da construção da fábrica de baterias da Nissan em Portugal. ............. 11
Figura 3-1 Exemplo de uma bateria de ião de lítio recarregável [29]. ........................... 18
Figura 3-2 Ilustração do processo de carga e descarga de uma bateria. ......................... 19
Figura 3-3 Comparação entre baterias de estado sólido e convencionais [13]. .............. 21
Figura 3-4 DC load Test [6]. Uma queda de tensão maior significa uma resistência
maior [6]. ........................................................................................................................ 25
Figura 3-5 Teste de carga AC [6]. .................................................................................. 25
Figura 3-6 Circuitos de controlo de carga [6]................................................................. 26
Figura 3-7 Ilustração de um circuito exemplo para a utilização do integrado MM1412
[18]. ................................................................................................................................ 27
Figura 4-1 Exemplo de utilização de uma mascara sombra. .......................................... 35
Figura 4-2 Ilustração do funcionamento da técnica feixe de eletrões. ........................... 36
Figura 4-3 Ilustração da interação dos átomos durante o sputtering [11]. ..................... 37
Figura 4-4 Exemplo dos dois tipos de sistemas sputtering [11]. ................................... 38
Figura 4-5 Ilustração do método [28]. ............................................................................ 39
Figura 4-6 Processo de fotolitografia. ............................................................................ 41
Figura 4-7 Ilustração dos tipos de corrosão [23]. ........................................................... 42
Figura 4-8 Sistema RIE [21]. .......................................................................................... 43
Figura 4-9 Esquema ilustrativo da Lei de Bragg [29]. ................................................... 45
Figura 4-10 Ilustração da interação do feixe de eletrões com uma superficie [33]. ....... 47
Figura 4-11 Ilustração dos diferentes tipos de configurações [10]. ................................ 48
Figura 4-12 Gráfico DSC com alteração de fase [55] .................................................... 50
Figura 4-13 Exemplo de um gráfico DSC. ..................................................................... 50
Figura 4-14 Ilustação de um sistema heat flux [38]. ...................................................... 51
Figura 4-15 Ilustração de um sistema power compensation [39]. .................................. 51
Figura 4-16 Esquema de uma amostra para o cálculo da condutividade iónica. ............ 52
Figura 4-17 Impedância das amostras. ........................................................................... 52
Figura 4-18 Circuito equivalente para o cálculo da condutividade iónica. .................... 53
XX Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
Figura 4-19 Exemplo do diagrama de Nyquist de uma amostra e semicircunferência
para cálculo da R. ........................................................................................................... 54
Figura 4-20 Gráfico típico de TGA [10]. ....................................................................... 55
Figura 4-21 Oxidação do lítio metálico. ......................................................................... 56
Figura 4-22 XRD dos filmes de LiCoO2. ....................................................................... 57
Figura 4-23 Resistividade dos filmes de LiCoO2, da deposição “#03”. ......................... 58
Figura 4-24 Resistência do lítio medida durante a sua deposição [10]. ......................... 59
Figura 4-25 Resistência do lítio medida quando exposto à atmosfera terrestre [10]. .... 59
Figura 4-26 Diagrama de Nyquist das diferentes amostras de LiPON........................... 61
Figura 4-27 Condutividade iónica dos filmes de LiPON. .............................................. 61
Figura 5-1 Lâmina de vidro com contactos. ................................................................... 67
Figura 5-2 Lâmina de vidro após a deposição do nitreto de silício. ............................... 68
Figura 5-3 Lamina de vidro para deposição do lítio. ...................................................... 69
Figura 5-4 Resistividade do Lítio durante as deposições. .............................................. 69
Figura 5-5 Resistividade do Lítio em vácuo e em contacto com o ar. ........................... 70
Figura 5-6 Resistividade do Lítio. .................................................................................. 71
Figura 5-7 A- Amostra 1 antes do início da deposição; B- Amostra 1 após a abertura da
camara; C- Amostra 1 após 40 minutos de exposição ao ar; .......................................... 71
Figura 5-8 Esquemático proposta para a bateria. ........................................................... 72
Figura 5-9 Camada de proteção da máscara. .................................................................. 72
Figura 5-10 Wafer antes do annealing. ........................................................................... 73
Figura 5-11 Wafer depois do annealing. ........................................................................ 74
Figura 5-12 Máscaras polidas. ........................................................................................ 75
Figura 5-13 A-Amostra antes do annealing B- Amostra após o annealing. .................. 75
Figura 5-14 Alvo de LiPON. .......................................................................................... 76
Figura 5-15 Amostra após a deposição de LiPON. ........................................................ 76
Figura 5-16 Perspetiva do formato da bateria. ............................................................... 77
Figura 5-17 A – Amostra antes do annealing B-Após annealing. ................................. 78
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido XXI
Lista de tabelas
Tabela 2-1 História das Baterias. ...................................................................................... 6
Tabela 2-2 Propriedades de algumas baterias................................................................... 8
Tabela 2-3 Extração do lítio [18] .................................................................................... 11
Tabela 2-4 Baterias otimizadas....................................................................................... 13
Tabela 3-1 Algumas caraterísticas do lítio metálico. ..................................................... 28
Tabela 4-1 Comparação entre o Wet e o Dry etching ..................................................... 44
Tabela 4-2 Parâmetros de deposição do LiCoO2. ........................................................... 57
Tabela 4-3 Parâmetros de deposição do Lítio. ............................................................... 58
Tabela 4-4 Parâmetros da deposição do eletrólito. ......................................................... 60
Tabela 5-1 Parâmetros de deposição do nitreto de silício. ............................................. 68
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 1
1 Introdução
1.1 Enquadramento
Esta dissertação incide sobre o fabrico de uma bateria recarregável de lítio de estado
sólido em filme fino para integração com um painel solar flexível e conversor DC-DC,
obtendo assim um microsistema de alimentação flexível e autónomo.
1.2 Motivação
Hoje em dia, o mercado de energia portátil já exige maior densidade energética assim
como capacidade das baterias de lítio [1]. Estes requisitos podem não ser atendidos
pelas baterias convencionais, como por exemplo as baterias de chumbo ácido. Novos
materiais e sistemas devem ser desenvolvidos para atender essas exigências.
A produção e armazenamento de energia é sem dúvida alguma o maior desafio para
estes novos sistemas. A utilização de energia por parte dos dispositivos eletrónicos tem
vindo a reduzir substancialmente, graças aos novos desenvolvimentos da tecnologia
(redução do comprimento do canal em tecnologia CMOS). O que tem levado ao
aparecimento de muitos aparelhos eletrónicos sem fios (wireless) com grande
autonomia. Estes dispositivos também têm beneficiado com a evolução das técnicas de
energy harvesting, que permitem o aproveitamento de diversos tipos de energia do
ambiente (térmica, luz, vibrações, etc.) para a sua alimentação, o que aumenta ainda
mais a autonomia destes dispositivos [2]. Os dispositivos que utilizam estas técnicas
necessitam também de uma bateria capaz de os alimentar quando a energia da rede
eletrica deixa de estar disponível. Esta bateria permite ainda o nivelamento do consumo
de energia, dado que os dispositivos wireless utilizam picos de energia durante a
transmissão da informação e têm consumos muito baixos no restante período de tempo.
A integração desta bateria no microchip do circuito eletrónico aumenta a integração e a
miniaturização do dispositivo, possibilitando ainda a redução de custos [2].
Com a constante miniaturização dos dispositivos eletrónicos autónomos cada vez mais
as baterias assumem um papel fulcral no reduzido tamanho destes. As baterias de lítio
têm-se destacado pelo facto de todos os seus materiais constituintes serem sólidos e
2 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
poderem ser fabricadas em filme fino. Deste modo, as baterias podem ser integradas em
microchips usando técnicas MCM (Multi chip module). Para esta integração ser
conseguida, a bateria deve ser de estado sólido e fabricada através de técnicas de filmes
finos, isto é, fabricada sobre o mesmo substrato que suporta o microchip. Estas baterias,
podem ainda ser fabricadas em qualquer forma e tamanho, não se verificando um
aumento no custo da miniaturização das mesmas.
Na Figura 1-1 é ilustrado uma possível configuração para uma bateria de lítio em estado
sólido, utilizando o cobaltato de lítio (LiCoO2) como cátodo, o oxinitreto de fósforo de
lítio (LiPON) como eletrólito, o lítio metálico (Li) como ânodo e o nitreto de silício
como camada protetora (Si3N4).
Figura 1-1 Esquema proposto para a bateria projetado em corte transversal
1.3 Objetivos
O objetivo desta dissertação foca-se sobre os processos de deposição dos materiais para
o fabrico de uma bateria recarregável de lítio. Uma bateria é constituída principalmente
por três partes, o cátodo, eletrólito e ânodo. Mas visto que será uma bateria de lítio em
estado sólido então, será necessário uma quarta parte que é a proteção, para que esta
possa funcionar em contacto com a atmosfera terrestre.
O fabrico e a caraterização da bateria são o objetivo.
Protective coating
(Si3N
4)
Cathode current
collector (Ti+Pt)Anode current collector
Cathode (LiCoO2)
[100] silicon substrate
Anode (Li)
Electrolyte (LiPON)
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 3
1.4 Organização da tese
Neste capítulo apresentam-se o enquadramento, os motivos que conduziram à seleção
das opções tomadas, os objetivos e por último a organização da dissertação.
No segundo capítulo apresenta-se o estado da arte das baterias e o trabalho que
atualmente se desenvolve nesta área, apresentando-se ainda uma perspetiva futura.
O terceiro capítulo aborda a teoria das baterias, assim como a diferença entre as baterias
convencionais e baterias de estado sólido.
No quarto capítulo efetua-se uma pesquisa sobre o nitreto de silício e sobre o modo
como pode ser obtido. Já no quinto capítulo são descritas as técnicas de deposição e
caracterização de filmes finos para além de uma breve comparação entre as técnicas
CVD e PVD.
No sexto capítulo são apresentados os resultados obtidos na deposição do nitreto de
silício e do fabrico da bateria.
No último capítulo apresentam-se as conclusões e simultaneamente traça-se uma
perspetiva para futuros trabalhos.
1.5 Bibliografia
[1] M. Armand and J.-M. Tarascon, "Building better batteries", Nature, 2008.
[2] João Ribeiro, "Deposição e caracterização de filmes finos para baterias de lítio em
estado sólido," Universidade do Minho, Guimarães, Tese de Mestrado 2010.
4 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
2 Estado da Arte
2.1 Evolução das Baterias
A primeira bateria foi inventada em 1799, por Alessandro Volta, tendo comunicado o
fato à Royal Society of London em 1800 [1].
Figura 2-1 Alessandro Volta e a sua pilha [2][3].
Em 1791, Luigi Galvani descobriu que os músculos de uma perna de rã se contraíam
quando tocados por um objeto metálico. Neste contexto, eletricidade animal foi o nome
atribuído a este fenómeno na altura [4]. Estimulado após a leitura do trabalho de
Galvani, Volta iniciou um estudo e consequentes experiências que mais tarde
resultariam no desenvolvimento da primeira bateria [5] . Como seria de esperar, esta
invenção foi um grande avanço na área eletroquímica, o que impulsionou também
outras mentes nesta área. E em 1802, William Cruickshank, cirurgião militar e químico
[6] idealizou e desenvolveu a primeira bateria com potencial de produção em massa.
Esta bateria era formada por folhas de zinco quadradas e as suas extremidades eram
soldadas a folhas de zinco com a mesma dimensão, que posteriormente seriam
colocadas numa caixa de madeira selada com cimento sendo enchida com água saturada
de sal (o eletrólito) [5].
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 5
Michael Faraday estabeleceu em 1833, as bases da eletroquímica com a Lei de Faraday
que permite quantificar o processo de redução numa célula elétrica (bateria) [5].
Mais tarde, em 1836 John F. Daniell inventou a bateria que ficou conhecida como
Daniell cell, que era uma bateria mais estável que a bateria voltaica. A bateria de
Daniell era capaz de fornecer uma corrente constante durante dias [7]. Mas em 1844,
William Robert Grove desenvolveu uma bateria com uma corrente mais elevada que a
de Daniell com quase o dobro da tensão. Esta consistia num cátodo de platina
mergulhado em ácido nítrico e num ânodo de zinco mergulhado em ácido sulfúrico,
separados por barro poroso [8].
Gaston Planté inventou em 1959, a primeira bateria recarregável, a bateria de chumbo-
ácido. Estas ainda são muito utilizadas nos dias de hoje [9]. Esta bateria foi
desenvolvida no seu laboratório, tendo a primeira bateria sido constituída por um rolo
espiral com duas folhas de chumbo puro separados por um pano de linho. Esta espiral
encontrava-se submergida num frasco de vidro numa solução de ácido sulfúrico [9].
Em 1866, Georges Leclanché inventou uma bateria, a qual ficou conhecida como célula
Leclanché. Esta bateria era constituída por um eletrólito de cloreto de amónio, um
cátodo de carbono constituído de dióxido de manganésio despolarizado e um ânodo em
zinco [10]. A química desta bateria foi utilizada mais tarde na criação de baterias de
estado sólido. Carl Gassner patenteou em 1886 uma bateria que é uma derivação da
invenção de Laclanché, que foi reconhecida como bateria seca, porque o eletrólito não
era um líquido livre [5][9].
O sueco Waldmar Jungner inventou em1899 a bateria de níquel-cadmio que usa o
níquel como elétrodo positivo e o cadmio como elétrodo negativo. Dois anos mais tarde,
o norte-americano Thomas Edison introduziu uma alteração a este tipo de baterias, isto
é, substituiu o cadmio por ferro. No entanto, devido ao elevado custo destas baterias
comparadas com as existentes na época, as aplicações praticas destas eram muito
limitadas [5]. Isto verificou-se até Schlecht and Ackermann terem em 1932 inventado a
placa de polos sintetizado (sintered pole plate) [11]. Esta descoberta permitiu-lhes
alcançar uma maior corrente de carga e aumentar a longevidade da bateria mas só mais
tarde, em 1947, é que Neuman conseguir selar completamente esta bateria [11].
6 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
O interesse em “fontes de energias portáteis” e a crise energética vivida no início dos
anos 70 (sobretudo durante a 2ª Guerra Isrealo-Árabe em 1973) [5][8] impulsionou
vários estudos nesta área. Foi então que nesta época (inícios dos anos 70) surgiu a
primeira bateria de lítio. Mais tarde surgiram as primeiras baterias de lítio recarregáveis
que devido a restrições relacionadas com a segurança não foram comercializadas [11].
Isso só viria acontecer em 1991, quando estas baterias foram desenvolvidas por uma
equipa de investigação liderada por John B. Goodenough [8][11]. Mais tarde, em 1996,
começaram a surgir as baterias de lítio de polímeros que apresentavam uma maior
densidade energética do que e as suas antecessoras. Recentemente, em 2009, surgiram
no mercado as primeiras baterias de lítio pelas mãos da empresa americana Cymbet [8].
Nos EUA, um grupo do Oak Ridge National Laboratory (ORNL), tem-se dedicado à
criação de baterias de filme fino [8].
Tabela 2-1 História das Baterias.
História do Desenvolvimento das Baterias
1600 Gilbert (Inglaterra) Estabeleceu o estudo eletroquímico
1791 Galvani (Itália) Descobrimento da eletricidade animal
1800 Volta (Itália) Invenção da primeira bateria
1802 Cruickshank (Inglaterra) Bateria elétrica para produção em massa
1820 Ampére (França) Criar eletricidade através do magnetismo
1833 Faraday (Inglaterra) Anúncio da Lei de Faraday
1836 Daniell (Inglaterra) Invenção da célula de Daniell
1859 Planté (França) Invenção da bateria chumbo-ácido
1868 Leclanché (França) Invenção célula de Leclanché
1888 Gassner (EUA) Finalizou a primeira célula seca
1899 Jungner (Suécia) Invenção da bateria níquel-cádmio
1901 Edison (EUA) Invenção da bateria ião níquel
1932 Shlecht e Ackermann (Alemanha) Invenção da placa de polos sintetizado
1947 Neumann (França) Como selar as baterias de níquel-cádmio
1960 Union Carbide (EUA) Desenvolvimento das baterias alcalinas
1970 Válvula reguladora para baterias chumbo-ácido
1990 Comercialização de baterias metal níquel
1992 Kordesch (Canada) Comercialização de baterias alcalinas reutilizáveis
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 7
1999 Comercialização das baterias de iões de lítio
2001 Produção de membrana para troca de protões
Hoje em dia existem inúmeras investigações em curso para tentar melhorar as
características de algumas baterias existentes como o caso das baterias de lítio, onde
estão a ser investigados materiais nano estruturados. Trabalhos realizados nesta área
estão a dar uma nova vida as baterias de iões de lítio [12].
Figura 2-2 Perspetiva da evolução das baterias [13].
Existem investigadores que defendem que num futuro próximo será possível a
utilização de material orgânico, existindo até já investigações sobre a viabilidade da
utilização de LixC6O6 obtido a partir de açúcares naturais [13]. Na Tabela 2-2 pode se
ver algumas tecnologias de baterias já estabelecidas e outras que ainda se encontram em
fase de estudos.
8 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
Tabela 2-2 Propriedades de algumas baterias.
Tipo de Bateria Características Impacto Ambiental
NI-MH (Estabelecido)
Baixa tensão, densidade
energética moderada,
densidade de potência
Aplicações: portáveis e
grande escala
Reciclável, difícil extração
e insustentável, toxico. Não
é raro mas é limitado.
Chumbo-ácido
(Estabelecido)
Fraca densidade energética,
densidade de potência
baixa, baixo custo.
Aplicações: grande escala,
potência de arranque,
estacionárias.
O chumbo é toxico mas é
reciclável com uma
eficiência de 95%. Tempo
de vida limitado a altas
temperaturas.
Lítio ião (Estabelecido)
Alta densidade energética,
bom tempo de vida.
Aplicações: portáveis.
Por vez faz uso de
materiais esgotáveis como
o caso do cobalto. Mas este
pode ser substituído por
magnésio e ferro que são
abundantes e sustentáveis.
A química do lítio é amiga
do ambiente. É possível a
reciclagem do lítio ao custo
de energia.
Zinco ar (Estabelecido)
Densidade energética
moderada, alta densidade
de potência.
Aplicações: grande escala.
A fundição do Zinco não é
verde.
Fácil de reciclar
Lítio Orgânico (Futuro)
Alta densidade e
capacidade energética mas
com um rácio de potência
limitada. Espera-se que
seja de baixo custo.
Aplicações: Média e
Recarregável
Boa pegada de carbono
Elétrodos renováveis
De fácil reciclagem
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 9
grande escala, à exceção de
ferramentas de potência.
Lítio Ar (Futuro)
Densidade energética
elevada mas fraca
eficiência. Baixo custo.
Aplicações: Grande escala
de preferência
estacionárias.
Falta comprovar a
possibilidade de ser
recarregável.
Pegada de carbono
excelente.
Fácil de reciclar.
Magnésio-Enxofre
(Futuro)
Prevê-se que tenha uma
boa densidade energética.
Tanto o Magnésio como o
Enxofre são considerados
amigos do ambiente.
Reciclável.
A pegada de carbono é
pequena.
Al-CFx (Futuro)
Prevê-se que tenha uma
densidade energética
moderada.
Alumínio e flúor são
ecológicos.
Reciclável.
Bateria de Protões
(Futuro)
Prevê-se que seja
completamente orgânica,
baixa tensão e como
densidade energética
moderada.
Ecológica e biodegradável.
2.2 Lítio
O lítio é um mineral de cor violeta [14] e foi descoberto por Arfwedson em 1817 que na
altura estudava um mineral chamado petalite, não conseguindo no entanto isolá-lo. Tal
só viria a ser realizado em 1855 através da eletrólise do cloreto de lítio fundido, por
Bunsen e Matthiessen. O nome deste elemento teve origem da palavra grega “litheos”,
que significa pedra, pois na época acreditava-se que o lítio só estaria presente em pedras
[15].
10 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
O lítio é o metal menos denso [14], a sua densidade é metade da densidade da água [16].
Na sua forma mais pura é um metal macio, de color branco-prateado, que oxida
rapidamente quando em contacto com o ar ou água.
O lítio é aplicado em diversas áreas que vão desde da medicina até à eletrónica. Na
eletrónica, devido ao seu elevado potencial eletroquímico, o lítio é usado como ânodo
no fabrico de baterias. As características deste elemento conferem-lhe um bom conteúdo
energético tendo teoricamente uma capacidade de 3860Ahkg-1, o que é bastante elevado
quando comparado com outros elementos utilizados para o mesmo efeito (como é o
caso do zinco, 820Ahkg-1 )[13].
As ciências farmacêuticas fazem uso de saís de lítio, nomeadamente o carbonato e o
citrato de lítio, para tratar doenças depressivas tanto uni e bipolar [14]. Já o cloreto e o
brometo de lítio são agentes exsicantes sendo utilizados como lubrificantes [17].
As aplicações para o lítio vão para além destas duas áreas, por exemplo, na cerâmica
recorre-se várias vezes à junção do óxido de lítio com outras substâncias para se baixar
o ponto de fusão destas. Nas metalúrgicas é comum o uso deste elemento na refinação
de metais fundidos. Elementos compostos por lítio como é o caso do hidróxido de lítio
(LiOH), é usado pelas empresas espaciais e construtoras de submarinos na purificação
do ar, extraindo o dióxido de carbono produzido pelas tripulações.
Dadas as características do lítio e a sua fácil associação com outros elementos, existe
um vasto leque de aplicações para o lítio. Nesta dissertação o lítio usado na produção de
uma bateria de iões de lítio.
2.2.1 Lítio em Portugal
Portugal é o quinto maior produtor de lítio, sendo o maior ao nível Europeu. O lítio é
um mineral escasso e preciosíssimo para o setor automóvel, dado o facto que os
veículos elétricos estão a entrar nos mercados mundiais e por enquanto as baterias
usadas são de lítio. Sendo Portugal um dos maiores produtores e de ser o país com as
maiores reservas do mundo de lítio, já existem empresas automobilísticas a instalar
fábricas de baterias, desta forma reduzem os custos na matéria-prima.
Um dos problemas na produção do lítio é que o lítio é extraído pela indústria de
minérios e encontra-se agregado a outros minerais. Mas já existem estudos para se
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 11
verificar a viabilidade para se passar à fase seguinte na obtenção de lítio, ou seja, a fase
de fundição do minério, acrescentando valor ao lítio produzido.
Figura 2-3 Início da construção da fábrica de baterias da Nissan em Portugal.
A crise do petróleo tem-se acentuado nos últimos tempos, o que pode criar as condições
perfeitas para a entrada dos veículos elétricos no mercado. Para que isto aconteça com
uma maior celeridade terá de existir um investimento tanto por parte das empresas
produtoras como dos próprios governos. Nesta fase o investimento poderá ser feito sob
forma de incentivos à compra de veículos deste tipo mas também poderá ser feito em
empresas de reciclagem de lítio assim como em empresas mineiras e de fusão.
Existem ainda uma outra forma de extração de lítio que é através das águas do mar,
sendo um processo mais ecológico do que os anteriores, pois quase só utiliza energia
solar, não necessitando de recorrer a indústrias mineiras.
Tabela 2-3 Extração do lítio [18]
COMO O LÍTIO É EXTRAÍDO
1>>> Um dia, todo deserto de sal foi um mar. Não foi diferente no
caso do salar de Uyuni, da Bolívia. Provavelmente por causa de um
calor intenso, toda a água evaporou, deixando para trás areia e sais
em pó. Entre eles sais de lítio
12 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
2>>> Na extração, grandes camiões retiram toda essa poeira do
deserto que levam para centros de processamento. Onde o lítio é
separado da areia e dos demais sais
3>>> Mais tarde, o lítio é dissolvido em ácido. Depois, esta mistura
é seca até se transformar em pó novamente, denominado de cloreto
de lítio.
2.3 Nanotecnologias nas baterias
A nanotecnologia permite trabalhar à escala nano o que abriu um vasto e novo mundo
para a ciência e para a indústria. Na área de armazenamento de energia, as baterias de
lítio são uma escolha popular para diversos aparelhos eletrónicos como portáteis,
telemóveis, etc. [19]. Apesar serem um dos grandes sucessos da eletroquímica moderna
assim como um sucesso comercial, ainda se pode aumentar a eficiência e capacidade da
baterias, recorrendo às nanotecnologias [12][19].
As tentativas para melhorar as baterias de lítio tinham sido feitas ao nível microscópio,
mas hoje em dia já estão a ser realizados à nanoescala[20]. Os nanomateriais
demoraram a imporem-se como uma alternativa viável aos materiais convencionais
devido ao facto de um aumento da área do elétrodo aumentava o risco de reações
secundarias, acelerando a decomposição do eletrólito. Só recentemente, no ano 2000, é
que se descobriu que estas reações poderiam ser controladas/evitadas. O controlo destas
reações passa pelo revestimento dos elétrodos, de modo a proteger o eletrólito de
reações redox indesejáveis com os materiais dos elétrodos[20].A chegada dos nano
materiais revitalizou as baterias de lítio e a investigação nesta área. Com a utilização
destes materiais advieram benefícios como por exemplo, maior capacidade, potência e
menor custo. A sustentabilidade dos materiais é que ainda esta longe de ser plenamente
explorada [12][20].
Como já referido acima o uso nanoelétrodos tem as suas desvantagens como o risco de
reações secundarias entre os elétrodos e o eletrólito [12], o que pode levar à
autodescarga da bateria e consequentemente à diminuição da vida útil[20]. Para além
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 13
desta desvantagem, existem outras como o fato da síntese destes componentes ser
complexa e ainda a diminuição dos packages poder levar a uma diminuição da
densidade energética a não ser que métodos especiais de compactação para estes
materiais sejam desenvolvidos [21]. Mas o uso dos nanoelétrodos também tem as suas
vantagens como a diminuição no esforço na inserção e remoção das partículas de lítio o
que leva uma um maior ciclo de vida [12]. O aumento da área de contacto entre o
elétrodo e o eletrólito promove uma maior taxa quer de carga quer de descarga [21]. O
uso de nano materiais nos elétrodos facilita o transporte elétrico e facilita de igual forma
o transporte de iões Li+. Tendo em conta estas vantagens e desvantagens, vários estudos
têm sido feitos para criar e melhorar os elétrodos atuais.
Na Tabela 2-4 são apresentadas algumas empresas que se tem dedicado ao
melhoramento das baterias recorrendo à nanotecnologia. Algumas destas baterias já
podem ser encontradas no mercado.
Tabela 2-4 Baterias otimizadas.
Nome da
Empresa
Produto Vantagem
A123Systems Bateria de iões de lítio com um
cátodo feito à base de nano-
fosfato
Alta densidade energética, re-
carregamento mais rápido.
NanoEner
Technologies
Eletrodos compostos por nano
partículas, num substrato para uso
em baterias
Maior taxa de carga e descarga
que os elétrodos convencionais
Mphase
Technologies
Bateria com os químicos isolados
dos electrodos por nanograss
quando a bateria não se encontra
em uso
Vida útil muito longa
Altairnano Bateria de iões de lítio com ânodo
composto por titanato de lítio
com nanopartículas.
Recarregamento mais rápido,
menor quantidade de material
ativo do que o standard das
baterias de ião litío.
Naoexa Bateria de iões de lítio que usa
um nanocomposto nos eletrodos
Alta densidade energética, menor
quantidade de material ativo do
14 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
que o standard das baterias de
iões de lítio
EcoloCap
Solutions
Baterias de Chumbo Acido com
os elétrodos revestidos por
nanotubos
Aumento da densidade
energética a um custo menor que
as baterias de iões de lítio.
Zpower Bateria de zinco-prata com
nanopartículas no cátodo de prata
Maior densidade energética.
Nexeon Ânodo de silício estruturado para
uso nas baterias de lítio
Maior densidade energética
Nei Nanomateriais para electrodos de
baterias de lítio
Contour
Energy
Baterias de lítio concebidas
usando técnicas desenvolvidas no
MIT de electrodos baseados em
nanotubos de carbono
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 15
2.4 Bibliografia
[1] Marco Piccolino, "The bicentennial of the Voltaic battery", Elsevier Science, 2000.
[2] http://dspt.perso.sfr.fr/VOLTA.htm, consultado a 29-03-2011.
[3] http://www.cq.ufam.edu.br/bateria/Historia_Bateria_Volta.html, consultado a 29-
03-2011.
[4] Marco Piccolino, "Luigi Galvani and animal electricity", Elsevier Science, 1997.
[5] Isidor Buchman, "Batteries in a Portable World", 2nd ed.
[6] http://www.oxforddnb.com/index/57/101057592/, consultado a 28-03-2011.
[7] Thomas O. Sistrunk, "John Frederic Daniell", Chemical Education, p. 27.
[8] João Ribeiro, "Deposição e caracterização de filmes finos para baterias de lítio em
estado sólido", Universidade do Minho, Guimarães, Tese de Mestrado 2010.
[9] P. kurzweil, "Gaston Planté and his invention of the lead acida battery", Power
Sources, 2010.
[10] W.E. Ayrton and T. Mather, "Practical Electricity", London Cassel and Company,
ltd., 2000.
[11] H.J. Bergveld, P.H.L. Notten and P.P.L. Regtien V. Pop, "State of the art of battery
state of charge", MEASUREMENT SCIENCE AND TECHNOLOGY, 2005.
[12] Peter Bruce, Bruno Scrosati, Jean-Marie Tarascon and Walter Van Schalkwijk
Antonio Salvatore Aricò, "Nanostructured materials for advanced energy
conversion and store devices", Nature Publishing Group, vol. IV, no. Nature
materials, 2005.
[13] Colin A. Vincent, "Lithium batteries: a 50-year perspective", Solid State Ionics,
2000.
[14] http://boasnoticias.pt/index.aspx?p=MenuDetail&MenuId=1081&ParentId=31
16 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
consultado a 02-03-2011.
[15] J.Fraústo da Silva and R.J.P.Wlliams, "The Biological Chemistry of the Elements",
Oxford, 1991.
[16] http://aeiou.visao.pt/litio-um-tesouro-desaproveitado=f527066 consultado a 0203-
2011.
[17] http://nautilus.fis.uc.pt/st2.5/scenes-p/elem/e00330.html consultado a 02-03-2011.
[18] Enrico Fantoni, "Lítio: O futuro num deserto de sal", Revista Galileu, Outubro
2009.
[19] Bruno Scrosati, Mario Wachtler and Fausto Croce Stefania Panero,
"Nanotechnology for the progress of lithium batteries R&D", Power Sources, vol.
129, 2004.
[20] M. Armand and J.-M. Tarascon, "Building better batteries", Nature Publishing
Group, 2008.
[21] Jin-Ming Chen Chien-Min Wang, "Nanotechnology Prospect for Rechargeable Li-
ion Batteries" , Taiwan, 2008.
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 17
3 Teoria das Baterias
3.1 O que é uma Bateria?
De uma forma simplista, uma bateria pode ser vista como um dispositivo que armazena
energia. Esta energia pode ser armazenada sob a forma de energia química que depois
será disponibilizada como energia elétrica [2].
Este dispositivo é constituído por três componentes: dois elétrodos e um eletrólito. Por
definição, o segundo é uma substância ou material que contém iões livres. Esta
caraterística proporciona-lhe uma elevada condutividade iónica bem como elevada
resistividade elétrica.
Quanto aos elétrodos, são condutores elétricos normalmente utilizados para permitir
contacto com o eletrólito. Ao elétrodo positivo chama-se cátodo enquanto o negativo é
o ânodo. Os dois elétrodos encontram-se separados pelo eletrólito. A reação química,
designada de redox (oxidação-redução) [4], que ocorre numa bateria implica a perda de
iões por parte do cátodo que serão absorvidos pelo ânodo, este fluxo de iões forma a
corrente que poderá ser retirada da bateria [3]. Quando os elétrodos são conectados um
a outro através de um circuito externo, pelo qual os eletrões do pólo negativo fluirão
para o positivo, este é o processo de descarga da bateria [5]. Simultaneamente, os iões
passaram através do eletrólito mantendo assim um balanço nas cargas. Caso se pretenda
recarregar a bateria será necessário aplicar uma tensão no sentido inverso [1].
A qualidade de energia armazenada numa bateria pode ser maximizada por três formas:
uma grande diferença de potencial químico entre os elétrodos; um pequeno volume de
reagentes por troca de eletrões ou, finalmente, garantir que o eletrólito não seja
consumido durante a reação química da bateria [1].
3.2 Baterias de Lítio
Hoje em dia é normal ouvir-se falar em baterias de lítio pois estas são a fonte de energia
mais comum para aparelhos portáteis. O lítio é usado no fabrico de baterias devido às
18 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
suas características, como por exemplo, a leveza, ao potencial eletroquímico, ao facto de
se conseguir obter tensões mais elevadas do que outros elementos e à sua boa
condutividade [6]. Este material é normalmente usado como ânodo ou é parte
constituinte deste [4]. As baterias de lítio podem ser categorizadas devido à constituição
do seu ânodo. Baterias com um ânodo constituído por lítio metálico são conhecidas por
baterias de lítio, já as baterias que possuem um ânodo de óxido de metal ou de nitreto
são denominadas por iões de lítio e as baterias nas quais o ânodo é o próprio contacto
são designadas por “Li-free Batteries”, normalmente nestas baterias o material utilizado
para ânodo é o cobre [4].
Numa bateria de lítio, a tensão de funcionamento é definida pela composição química
do cátodo e ânodo, e não devido ao seu tamanho [4][6]. Já a capacidade é definida pelo
volume do cátodo e do ânodo. Maior volume traduz-se num maior número de átomos de
lítio o que resultará numa carga maior [4][1].
Figura 3-1 Exemplo de uma bateria de ião de lítio recarregável [29].
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 19
Na Figura 3-1 apresenta-se um exemplo de uma bateria de ião de lítio recarregável
assim como a reação química que ocorre no processo carga e a descarga da mesma. De
notar que nem todas as baterias de lítio são recarregáveis [6]. Uma bateria de lítio
recarregável envolve uma reversibilidade de inserção/extração de iões de lítio de um
elétrodo para o outro, ou seja, o conceito destas baterias passa por aprisionar os átomos
de lítio num circuito fechado [7]. Os elétrodos encontram-se separados pelo eletrólito
[8], que permite a passagem só de iões de lítio [4], já os elétrodos só permitem a
passagem de eletrões. A descarga de uma bateria ocorre quando é conectado um circuito
externo à mesma. Este evento provoca uma reação de redução no cátodo e uma reação
oxidação no ânodo, o que fará com que os eletrões fluam pelo circuito externo [9]. Na
carga ocorre uma extração de iões de lítio do cátodo para o ânodo [4]. Na carga da
bateria ocorre também uma reação redox (redução/oxidação) assistida por um fluxo de
eletrões, uma corrente inserida no sentido inverso, que fará com que os iões
extraídos/inseridos voltem ao seu elétrodo inicial [7]. Na figura abaixo apresentada
demonstra o processo de carga e de descarga de uma bateria.
Figura 3-2 Ilustração do processo de carga e descarga de uma bateria.
Nas baterias de iões de lítio assim como nas baterias de níquel é necessário assegurar
que o eletrólito não é consumido nas reações químicas, sendo por este motivo utilizados
cátodos e ânodos que contenham os mesmos iões, no caso das baterias de lítio ião Li+
no caso das de hidreto de níquel (Ni-MH) o H+ [1].
20 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
3.3 Baterias de estado sólido
As baterias de estado sólido, como o próprio nome diz, são as baterias que em que todos
os seus constituintes são compostos por materiais em estado sólido, ou seja, os elétrodos
e eletrólito são materiais sólidos [10]. Normalmente as baterias convencionais, apesar
de ter elétrodos sólidos, usam um ácido ou uma solução alcalina contendo iões de metal
dissolvidos ou um solvente orgânico, que consiste em sais com os iões do metal, como
eletrólito [2]. Este tipo de baterias apresenta uma série de limitações que não são
encontradas nas baterias de estado sólido [10]. As baterias com eletrólito líquido
requerem um encapsulamento o que leva a um aumento no peso da bateria, o que
consequentemente leva a uma redução da densidade energética da bateria [12].
Numa bateria com um eletrólito de estado sólido, para além ter uma elevada
condutividade iónica e um elevada resistência elétrica, deve garantir um bom contacto e
uma boa estabilidade química com os elétrodos [2][11]. Geralmente este tipo de
eletrólito encontram-se livres de fugas e não são inflamáveis o que não acontece com os
eletrólitos líquidos [11]. Nestas baterias podem ser conseguidos excelentes valores de
densidade de energética, devido à redução do tamanho e do encapsulamento da bateria
[12].
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 21
Figura 3-3 Comparação entre baterias de estado sólido e convencionais [13].
3.4 Conceitos básicos
Neste subcapítulo serão abordados alguns conceitos básicos das baterias. Quando se
trabalha ou tem de se escolher uma bateria para um projeto ou uma aplicação existem
alguns conceitos a ter em conta, como o tipo da bateria a escolher qual os parâmetros
necessários para a aplicação ou sistema em causa.
3.4.1 Classificação de uma bateria
As baterias podem ser classificadas como recarregáveis ou não recarregáveis. Uma
bateria não recarregável é denominada de primária, já uma bateria secundária é tida
como uma bateria recarregável. Dentro destas classificações existem ainda outras que
servem para distinguir estruturas particulares, como é o caso das fuel cells [6].
As baterias primárias são difíceis de carregar de uma forma eficiente e são normalmente
descartáveis [6]. Estas baterias são baratas, leves e geralmente usadas em brinquedos,
22 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
equipamento fotográfico, em memórias de backup e iluminação portátil, i.e. lanternas.
As vantagens destas são a alta densidade energética, quer com taxas de descarga baixas
ou moderadas, são também de fácil uso e praticamente não necessitam de manutenção
[6][3].
Quanto às baterias secundarias, estas podem ser recarregadas, após a descarga, através
da passagem de uma corrente no sentido oposto à corrente de descarga. Estas baterias
são muito usadas no armazenamento de energia elétrica [6][3]. O uso destas baterias
pode ser categorizado em duas categorias [6]. Numa estarão as aplicações que usam a
bateria como um dispositivo de armazenamento, que se encontra ligado a uma fonte de
energia, tendo como função fornecer energia a determinados componentes do sistema.
Como exemplos tem se os sistemas de automóveis e aviões, fontes UPS (uninterruptible
power supply), veículos híbridos, SES (stationary energy storage) entre outros [6],
[3].Na outra categoria, inserem-se as aplicações que usam uma bateria secundaria como
uma bateria primária mas após a descarga estas são recarregadas ao invés de serem
descartadas. As baterias secundárias são muitas vezes usadas na eletrónica de consumo
como, portáteis, ferramentas elétricas, veículos elétricos e também para redução de
custos, ou seja, pode-se recarregar ao invés de comprar uma nova [6].
3.4.2 Capacidade (de armazenamento de Energia)
Foi convencionado que a capacidade de uma bateria como a carga que se consegue
retirar de uma bateria [3]. Este parâmetro é quantificado em mAh ou Ah (não confundir
com mA/h ou A/h), exemplo 200mAh, corresponde a uma bateria com a capacidade de
fornecer 200 miliamperes durante uma hora [14]. Se a bateria for descarregada a uma
corrente constante pode chegar-se à seguinte relação:
∫ ( )
I- Corrente de descarga continua
CAH - Capacidade
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 23
A corrente de descarga continua como o próprio nome indica é a corrente máxima que
pode ser retirada da bateria continuamente, sem que esta fique danificada ou inutilizada
[3]. Esta corrente é normalmente definida pelo fabricante da bateria, de modo a prevenir
taxas de descargas elevadas o que pode danificar ou diminuir a capacidade da bateria
[14]. Existem outras correntes a ter em consideração quando se escolhe uma bateria que
é a corrente de pico assim como a corrente de carga.
A corrente de pico é a corrente máxima que uma bateria consegue descarregar por
pulsos. Esta corrente também é definida pelo fabricante [14]. Já a corrente de carga de
uma bateria é a corrente ideal para se começar a carregar a bateria antes de se passar
para uma corrente de carga constante, normalmente isto acontece por volta dos 60-70%
da carga [3][14].
3.4.3 Tensão de uma bateria
Como já referido anteriormente, aquando a escolha de uma bateria existem fatores a ter
em consideração [6], como é o caso da tensão desta. Os valores das tensões podem ser
encontrados na bateria. A tensão nominal é conhecida como a tensão de referência da
bateria, ou normal [3]. A tensão nominal é normalmente a tensão aos terminais da
bateria quando esta se encontra em carga, e carregada [14]. Já a tensão em circuito
aberto, ou tensão máxima, é a tensão lida aos terminais da célula/bateria ligada sem
carga, ou a tensão até à qual a bateria/célula pode receber em carga [3][14]. Esta tensão
é superior à tensão nominal, no entanto se a mesma se encontrar dentro do limite da
tensão em aberto não se encontra em sobrecarga. Quando em carga a tensão da bateria
desce para a tensão nominal [14]. Uma outra tensão a considerar é a tensão mínima de
descarga, também conhecida por tensão de “cut-off”. Esta é a tensão à qual a bateria
pode descarregar sem perigo de se danificar [6][14]. Quando a bateria atinge esta tensão
diz-se que está descarregada [14].
3.4.4 Tempo de Vida
O tempo de vida de uma bateria é expresso em número de ciclos de carga/descarga, e
indica a longevidade expectável de uma bateria. Normalmente este índice vem referido
a uma profundidade de descarga, indicando a longevidade expectável, quando os ciclos
de carga/descarga não excedem a profundidade de descarga referida [14].
24 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
3.4.5 Profundidade de Descarga
A profundidade de descarga pode ser vista como a quantidade de energia percentual que
a bateria transferiu até atingir a sua tensão de descarga mínima [14]. Uma boa
profundidade de descarga é admitida quando o índice de Profundidade de Descarga se
situa nos 80% ou mais.
3.4.6 Resistência Interna
Resistência interna é, como o próprio nome sugere, uma resistência intrínseca à própria
bateria. O valor deste parâmetro difere conforme o estado da bateria, assim como
quando se encontra em carga ou descarga. [14].
Hoje em dia é um parâmetro muito importante, visto que a maioria dos aparelhos são
digitais. Ao contrário do que acontecia nos aparelhos analógicos, em que a corrente era
sempre retirada de um modo constante. Nos aparelhos digitais, como por exemplo nos
telemóveis, por vezes é necessário que a bateria forneça elevados picos de corrente por
curtos períodos de tempo. Logo, quanto mais baixa a resistência interna da bateria, mais
fácil será para a bateria conseguir fornecer estes picos de corrente [3][15].
Existem vários métodos para medir a resistência interna de uma bateria, sendo que os
mais usados são o DC load test e o AC load test. Para a obtenção da resistência
utilizando o método DC, aplica-se uma corrente de descarga enquanto se mede a queda
de tensão.
- Tensão no ponto 1,2.
- Corrente medida no ponto 1,2.
- Resistência interna.
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 25
Figura 3-4 DC load Test [6]. Uma queda de tensão maior significa uma resistência maior [6].
O método AC load test é também conhecido como teste de condutividade. Neste método
aplica-se uma corrente alternada aos terminais da bateria, a frequência desta está
dependente do tipo de bateria e do seu fabricante. A frequência pode variar entre os 10 e
os 1000Hz. O valor da resistência é calculado de forma idêntica ao método DC load test
[15].
Figura 3-5 Teste de carga AC [6].
26 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
3.4.7 Circuito de proteção
Normalmente as baterias comercializadas incorporam algum tipo de proteção, para
proteger a bateria e/ou o equipamento que a utilizará, caso ocorra algum problema de
funcionamento [16]. Numa bateria existem vários fatores a ter em conta como a
temperatura, a corrente e tensão de carga e descarga [6]. Através da proteção térmica é
possível controlar a corrente. Para a proteção térmica de uma bateria normalmente
usam-se termístores, termóstatos com temperatura de corte (TCO), fusíveis térmicos e
dispositivos de coeficiente de temperatura positiva (PTC) [6]. O termístor é um
dispositivo cujo valor da resistência varia inversamente com temperatura. Um TCO
funciona a uma temperatura fixa e é usado para interromper a carga ou a descarga
quando a temperatura interna da bateria atinge o valor pré estabelecido. Os fusíveis de
temperatura são ligados em série com as células da bateria e abrirá o circuito caso a sua
temperatura de rutura seja atingida. Estes são incluídos na bateria e são normalmente
configurados para atuar a 30-50oC acima da temperatura de funcionamento máxima da
bateria. Os PTCs são dispositivos reconfiguráveis cuja resistência aumenta rapidamente
quando a temperatura estabelecida é atingida, estes são ligados em série o que faz com
que a corrente da bateria seja reduzida quando a temperatura aumenta [6]. Na Figura 3-6
são apresentados dois circuitos de controlo de carga, usando estes componentes.
Figura 3-6 Circuitos de controlo de carga [6].
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 27
Uma outra abordagem na proteção de uma bateria é o uso de um circuito à base de
FETs. Estes circuitos efetuam a monitorização da corrente e previnem correntes
elevadas, sobrecargas impedindo ainda a descarga total da bateria [6][18]. Na Figura 3-7
apresenta-se um circuito exemplo que usa um integrado da Mitsumi, o MM1412, que é
um integrado desenvolvido para a proteção de baterias de lítio e que faz uso de FETs
para esse fim.
Figura 3-7 Ilustração de um circuito exemplo para a utilização do integrado MM1412 [18].
No entanto existem circuitos de proteção mais completos que tornam essas baterias
mais seguras [16]. Para além destes circuitos de proteção existem os sistemas de gestão
de baterias, BMS [17]. Para além de aumentar o tempo de vida das baterias, englobam
também a monitorização e proteção destas. Muitos BMS fazem uso de métodos de
controlo para conseguir obter o máximo rendimento de uma bateria [17].
3.5 Cátodo
28 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
O cátodo é o elétrodo positivo de uma bateria [3], é aqui que ocorre a reação de
redução, por transferência de eletrões [2]. Durante a descarga os eletrões e iões são
transferidos do ânodo para o cátodo [3]. Existem duas características que um cátodo
deve possuir para possibilitar uma transferência mais rápida e eficaz. Para que isto
aconteça o cátodo deve ter uma elevada condutividade elétrica assim como uma elevada
difusividade e capacidade de inserção de iões [19]. Quanto maior a tensão em circuito
aberto do cátodo em relação a uma referência, maior será a tensão de funcionamento da
bateria. Normalmente, a referência para baterias de lítio é o lítio metálico [19].
Tabela 3-1 Algumas caraterísticas do lítio metálico.
Caraterísticas Valores
Potencial (V) -3.05
Capacidade (mAhg-1
) 3860
Ponto de fusão (°C) 180.5
Ponto de Ebulição (°C) 1345
3.6 Eletrólito
O eletrólito de uma bateria é um material ou substância que separa os dois elétrodos [2].
O eletrólito pode ser visto como uma passagem para os iões e como uma barreira para
os eletrões [4]. Um eletrólito deve garantir um ótimo contacto com os elétrodos assim
como uma excelente estabilidade química em contracto com estes. Um eletrólito deve
também possuir uma elevada condutividade iónica assim como uma resistividade
elétrica elevada, estas são as principais características que um bom eletrólito deverá
possuir [2].
Como já referido, os eletrólitos das baterias convencionais podem ser um ácido ou uma
solução alcalina contendo iões de metal dissolvidos ou um solvente orgânico que
consiste em sais com os iões do metal [2]. Este tipo de eletrólitos embora apresentem
uma boa resistividade elétrica assim como condutividade iónica e um excelente contato
com os elétrodos, necessitam de um encapsulamento o que leva a um aumento do peso e
tamanho da bateria e diminui a densidade energética da mesma [20]. Para diminuir o
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 29
tamanho e aumentar a densidade energética de uma bateria, como já vistos
anteriormente, eletrólitos sólidos e vítreos (sólido e amorfo) tem sido alvo de estudos e
de investigação desde 1970 [2][4].
3.7 Ânodo
O ânodo é o elétrodo negativo, a fonte de iões de uma bateria [2]. É neste elétrodo onde
ocorre a reação de oxidação, onde são libertados iões para o eletrólito e eletrões para o
circuito externo [2]. Os iões fornecidos pelo ânodo difundem-se pelo eletrólito [4],
alojando-se no cátodo, enquanto os eletrões percorrem o circuito externo.
Normalmente o ânodo deve de ser um metal ou um composto metálico com baixa
eletronegatividade (tendência que um átomo tem para atrair eletrões de um outro átomo
quando os dois formam uma ligação química) assim como deve ter uma condutividade
elétrica alta [2] [4].
3.8 Proteção
Um dos problemas que existe quando se fabrica uma bateria de filmes finos é o facto do
lítio (assim como outros materiais alcalinos) reagir quando em contacto com a
atmosfera terrestre [21]. Para que estas baterias possam funcionar sem que tenham de
estar num ambiente controlado é necessário revestir estas baterias com um material que
as proteja [21][22]. A proteção terá de ser capaz de proteger o metal alcalino de reações
com a atmosfera [21]. Hoje em dia existem estudos sobre este problema existindo uma
diversidade de métodos e materiais em estudo, no entanto existem dois materiais que se
destacam, que é o caso do nitreto de silício (Si3N4) e do oxinitreto de fósforo de lítio
LiPON.
3.9 Nitreto de Silício
30 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
3.9.1 História, Características e Aplicações
O nitreto de silício (Si3N4) é um composto sintetizado e pode ser obtido através de
diferentes métodos e reações químicas [23]. Foi sintetizado pela primeira vez em 1857
por Henri Deville e Friedrich Wöhler [24]. Este material tem cor cinzenta, é isolante,
muito resistente, quimicamente é inerte e possui grande estabilidade térmica [23]. Estas
caraterísticas fazem como que este composto suscite um grande interesse no seio da
comunidade científica.
O Si3N4 é usado em varias áreas: pode ser encontrado em aplicações ligadas há área da
cerâmica devido a sua estabilidade térmica [27]. A primeira grande aplicação do Si3N4
foi nos aparelhos de corte, devido ao facto de ser um material duro era usado para
revestir as lâminas e extremidades de outros aparelhos de corte, tornando-os mais
robustos e eficazes. Já na área da micro e nanotecnologias, o nitreto de silício é muito
usado como material de revestimento devido a ser isolante e resistente, protegendo
outros materiais da oxidação do contato com a atmosfera terrestre, corrosão. Além disso
é também usado em revestimento de paneis solares [26]. O nitreto de silício é
igualmente usado no revestimento de peças para automóveis para prolongar o tempo de
vida de peças que estão sujeitas a grandes desgaste, como válvulas e rotores para
motores [28]. Já na indústria aeronáutica é usado na construção de hélices, pás de
turbinas entre outros [26].
O Si3N4 pode ser obtido de diferentes maneiras recorrendo a diferentes métodos e a
diferentes reações químicas. Pode ser obtido diretamente pela mistura de silício (Si)
com azoto (N2). Estes reagem um com o outro formando o Si3N4, numa gama de
temperaturas entre os 1300ºC e os 1400ºC [25].
3 Si (s) + 2 N2 (g) → Si3N4(s)
Ainda é possível a sintetização deste material a outras temperaturas e utilizando outros
materiais como reagentes, como se pode verificar nas seguintes reações [25]:
SiCl4(l) + 6 NH3(g) → Si(NH)2(s) + 4 NH4Cl(s) a 0ºC
3 Si(NH)2(s) → Si3N4(s) + N2(g) + 3 H2(g) a 1000ºC
Pode-se obter o nitreto através da técnica de CVD ou PECVD, de seguida são
apresentadas duas reações exemplo:
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 31
SiO2(s) + C(s) → SiO(g) + CO(g)
3 SiO(g) + 2 N2(g) + 3 CO(g) → Si3N4(s) + 3 CO2(g)
ou
3 SiO(g) + 2 N2(g) + 3 C(s) → Si3N4(s) + 3 CO(g)
3.10 Bibliografia
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Technology, Tese de Doutoramento 2005.
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, Marcel Dekker Inc., 2003.
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estado sólido," Universidade do Minho, Guimarães, Tese de Mestrado 2010.
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32 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
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[19] J. O. Besenhard, "Handbook of battery materials", Wilcy-VCH Verlag, 1999.
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and Related Materials 11, 2002.
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 33
[27] NASA, "Space Shuttle Main Engine Enhancements", retrieved 2009-06-06.
[28] http://accuratus.com/silinit.html consultado a 3 de Março de 2011
[29] http://www.gaston-lithium.com consultado a 2 de Março de 2011
34 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
4 Técnicas de fabrico e caracterização
4.1 Deposição de filmes finos
4.1.1 Técnica CVD e PVD
O CVD, designação para Chemical Vapor Deposition, é um método de deposição de um
material numa superfície através de vapores, provenientes de reações químicas [1]. Hoje
em dia este método é muito usado pela indústria de semicondutores na deposição de
filmes devido ao seu baixo custo e ao alto grau de pureza dos materiais depois de
deposição. É também usado em aplicações de optoelectrónica em revestimentos óticos
sendo usado em outras indústrias para revestimento de peças de forma a aumentar
resistência destas [2].
Um sistema CVD típico consiste numa câmara de vácuo, uma fonte de alimentação,
linhas para os gases, controladores de fluxo, um sistema de aquecimento para o wafer
no qual será depositado o filme e sensores de temperatura para o mesmo [3].
Para se realizar uma deposição utilizando o método CVD deve-se definir a mistura de
gases e o seu fluxo de entrada na câmara (num processo CVD ter-se-á reagentes e gases
inertes) estes gases difundem-se pela câmara até à superfície do substrato, onde reagem
formando o filme, após o fim da deposição o subprodutos provenientes das reações
químicas ocorridas serão extraídos do reator através de uma bomba de extração de gases
[3][5].
Existe um outro método para deposição de materiais, o PVD, denominado de Physical
Vapor Deposition. Neste método, tal como no CVD, o filme de material é depositado
sobre um substrato, mas para isso é necessário converter ao estado gasoso o material a
depositar [3].
O CVD permite o revestimento de estruturas tridimensionais grandes, ao contrário do
processo de PVD, que é geralmente muito direcional e pode não cobrir o objeto todo.
No PVD, o reator/câmara é relativamente simples e pode ser redimensionada para
acolher diferentes substratos, assim como dispensa o uso de pressões elevadas.
Habitualmente no CVD as taxas de deposição são muito superiores às do PVD [2][1],
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 35
[4]. Consegue-se atingir uma maior taxa de uniformidade e conformidade recorrendo à
técnica de CVD [5].
Existem também algumas desvantagens no uso do CVD, como por exemplo, em certos
processos atingem-se temperaturas altas (cerca de 600oC), o que por vezes é impróprio
para alguns substratos. Outra das desvantagens do uso desta técnica é o facto de utilizar
materiais tóxicos ou facilmente inflamáveis, sob a forma de gases, e muitas vezes
perigosos. O processo CVD contém ainda um grande número de parâmetros que dever
ser otimizados para produzir um bom filme [2].
4.1.2 Máscara de Sombra
As mascaras de sombra são utilizadas recorrentemente nas técnicas de deposição de
materiais, a função destas resume-se à delimitação da área de deposição. A mascara de
sombra é normalmente colocada sob o substrato, fazendo com que o material seja
depositado na(s) área(s) desejada(s) [7] .Um dos cuidados a ter-se é o material a utilizar
na construção destas, pois esse deve satisfazer alguns critérios como a resistência
mecânica e os critérios da precisão dimensional que se pretende dar ao material [6].
Figura 4-1 Exemplo de utilização de uma mascara sombra.
4.1.3 Feixe de eletrões
O feixe de eletrões correntemente conhecido como e-beam, é uma técnica utilizada para
evaporar/sublimar um determinado material através do aumento da temperatura do
36 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
mesmo. O aquecimento é conseguido através de um feixe de eletrões que incide sobre o
material [8]. Durante o processo o material será bombardeado por eletrões de elevada
energia provenientes de um emissor de eletrões [9] e o direcionamento destes será
conseguido por um campo magnético [10].
Neste processo consegue-se atingir temperaturas mais elevadas do que na evaporação
térmica [10], devido à localização pontual do aquecimento sobre o material.
Figura 4-2 Ilustração do funcionamento da técnica feixe de eletrões.
4.1.4 Pulverização catódica
A pulverização catódica é uma técnica essencialmente de PVD [11], também conhecida
por sputtering, e permite a deposição de filmes finos a temperaturas relativamente
baixas, normalmente abaixo dos 150oC [10]. O sputtering foi observado pela primeira
vez por William Robert Grove, pioneiro das fuel cells [13] em 1852, quando efetuava
uma experiência num tubo de descarga de gás e lhe aplicou uma corrente contínua.
Grove verificou que havia material proveniente do cátodo depositado nas paredes do
tubo. Na época este foi considerado um fenómeno indesejado mas hoje em dia o
sputtering é muito utilizado para a efetuar limpezas em superfícies, em processos de
etching e na deposição de filmes finos [11].
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 37
O sputtering ocorre quando se utiliza um feixe de iões para extrair átomos de um
material específico, denominado de alvo. Os átomos retirados ligam-se ao substrato a
nível atómico, criando deste modo o filme [11], [12]. O feixe de iões, plasma, é
conseguido através da ionização e aceleração de um gás [10], chamado de gás de
sputtering, normalmente utiliza-se o Árgon (18Ar) [11]. Na Figura 4-3 abaixo
apresentada pode-se ver a interação dos átomos num processo sputtering.
Figura 4-3 Ilustração da interação dos átomos durante o sputtering [11].
Recorrendo a esta técnica consegue-se obter um filme com uma melhor composição e
uniformidade [5] quando comparada com a técnica de feixe de eletrões, isto deve-se à
elevada área de incidência do plasma [10].
O sputtering pode ser realizado por uso de corrente direta (DC sputtering), o sistema
mais simples para a realização deste método [11], ou por rádio frequência (RF
sputtering) [10]. O DC sputtering apenas é exequível se o material for condutor elétrico
[5], visto que para se proceder ao DC sputtering é necessário manter a passagem da
corrente entre o cátodo e ânodo e como o material é colocado no cátodo este impedirá a
passagem de corrente caso seja isolante [10], já o RF sputtering não apresenta qualquer
restrição. Na Figura 4-4 está representado um sistema de sputtering.
38 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
Figura 4-4 Exemplo dos dois tipos de sistemas sputtering [11].
4.1.5 Evaporação térmica
Esta técnica PVD, consiste na evaporação ou sublimação de um material através do
aumento de temperatura [26]. A sublimação é a passagem direta, de um material, no seu
estado sólido para o estado gasoso, já a evaporação é a passagem do estado líquido para
o estado gasoso. Os vapores provenientes do aquecimento material condensam aquando
contacto com o substrato assim formando um filme fino desse material [10]. O aumento
de temperatura é conseguido eletricamente através de uma corrente que percorre uma
superfície, onde é colocado o material, a qual se da o nome de cadinho [27],
[10].Normalmente utiliza-se um cadinho de Tungstênio (W) ou Molibdênio (Mo), pois
estes materiais têm pontos de evaporação/sublimação elevados desta forma não
interferem com a vaporização [26].
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 39
Figura 4-5 Ilustração do método [28].
4.2 Etching
A utilização da técnica etching, remonta ao século XVI, no qual foi usada pela primeira
vez por um artista suíço chamado Urs Graf, que era conhecido pelas suas gravuras em
placas de aço [19]. A técnica de etching faz uso de um ácido para criar gravuras,
esculturas, relevo em metais [19][20]. Para a realização desta técnica tem de se cobrir a
o metal com uma substância resistente ao ácido que irá ser usado, depois é efetuado o
desenho recorrendo a agulhas ou a um burin [20]. Após já se ter o desenho efetuado o
metal é mergulhado num banho ácido e todo o metal exposto será corroído, desta forma
criando o relevo pretendido, este será tão profundo quanto o tempo que a placa estiver
mergulhada neste dependendo também do grau de acidez do ácido [19]. Posteriormente
é removido a substância protetora, podendo se refazer todo o processo para criar outros
relevos ou dar profundidades diferentes aos relevos já existentes.
Hoje em dia a técnica etching, para além de ser utilizada nas artes plásticas, foi também
adotada por outras áreas de saber, como por exemplo na microtecnologia. Nesta área,
esta técnica é fundamental na criação de estruturas MEMS (MicroElectroMechanical
Systems) [5].
40 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
Existem dos tipos de processo de etching (Corrosão), a corrosão por meio aquoso e
corrosão a seco [24][23]. A corrosão por meio aquoso ocorre quando se submerge o
material numa solução ácida, ao passo que a corrosão seca é efetuada através de gases
que reagem com o substrato [23].
4.2.1 Fotolitografia
A litografia foi inventada há cerca de duzentos anos, por Alois Senefelder como meio
de impressão. Alois fazia uso de óleos para proteger as áreas onde não queria que a tinta
aderisse [14].
Hoje em dia é usado uma técnica parecida na criação de circuitos integrados que é
denominada de fotolitografia, esta técnica é usada para definir estruturas [15][16]. Para
se definir a estrutura desejada é preciso criar uma ou mais máscaras. Este método faz
uso de um químico ao qual se dá o nome de photoresist. Um photoresist é uma
substância muito sensível à luz quem tem a característica de se modificar quando
expostos à radiação UV [16][5]. Existem dois tipos de photoresist, o positivo e o
negativo, o tipo positivo distingue-se pelo facto da parte que não seja exposta à radiação
se torne insolúvel, quando submersa num developer, enquanto a parte exposta irá se
dissolver, já no tipo negativo acontece o inverso [16]. Um photoresist developer, é uma
solução alcalina a qual dissolve o photoresist solúvel [18].
Para a realização desta técnica é necessário preparar o substrato. Em primeiro lugar é
necessário limpar e secar (faz-se uso de um álcool para a remoção de partículas e
resíduos orgânicos de seguida procede-se à secagem usando um jato de azoto.
Posteriormente o substrato é aquecido para a evaporação do líquido). De seguida é
aplicado photoresist na superfície do substrato, pode-se recorrer ao uso da técnica spin-
coating para se obter uma maior uniformidade na espessura. Após a aplicação do
photoresist procede-se a uma cura preliminar, ou seja, o substrato é aquecido para
evaporar solventes residuais e melhorar a adesão do material fotossensível.
O próximo passo será a exposição do substrato a luz ultravioleta através da máscara
com a estrutura pretendida, de modo a sensibilizar o filme. A máscara deverá ser opaca
ao comprimento de onda utilizado. No passo seguinte procede-se à revelação, o
substrato é submerso num revelador (developer). No final é lavado com um álcool,
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 41
normalmente com IPA (álcool isopropílico). De seguida é elaborada mais uma cura com
a finalidade de evaporar os solventes residuais e promover a adesão e estabilidade do
filme. Finalmente efetua-se a remoção do photoresit. Isto é possível através do uso de
um photoresist remover [16]. Na figura abaixo apresentada pode ver-se um processo
simplificado da fotolitografia.
Figura 4-6 Processo de fotolitografia.
4.2.2 Wet etching
Este é o processo de corrosão mais simples [22], consiste na utilização de produtos
químicos, nomeadamente ácidos, para a remoção de material do wafer, sem alterar a
natureza química do mesmo. Em geral a remoção do material envolve uma ou mais
reações químicas que consomem os reagentes original produzindo uma nova [23]. O uso
desta técnica está ligado ao facto de se querer um padrão específico num material. Para
se atingir esse fim são utilizadas mascaras que são colocadas sobre o wafer. A máscara a
utilizar não se dissolve no ácido utilizado [22].
Normalmente neste processo ocorre uma corrosão do tipo isotrópica [21], isto é,
apresenta uma taxa de corrosão igual em todo o material mas para alguns materiais
cristalinos, de cristal único, como o silício, pode apresentar uma corrosão anisotrópica
com certos produtos químicos [21][22][23]. Uma corrosão anisotrópica não é uniforme
e depende da orientação cristalina da estrutura.
42 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
Figura 4-7 Ilustração dos tipos de corrosão [23].
4.2.3 Dry etching
A corrosão “a seco”, dry etching, não faz uso de qualquer banho químico para efetuar a
remoção de material no wafer. Assim como na wet etching, esta técnica recorre a
máscaras para proteger as partes do wafer que se pretende manter o material [22]. Esta
técnica pode realizada de três maneiras destintas:
- Corrosão iónica reativa (RIE);
-Pulverização Catódica (sputter etching);
-Vaporização (vapor phase etching)
4.2.4 Pulverização Catódica
O etching recorrendo ao processo de sputter pode ser visto como uma técnica RIE, mas
sem iões reativos [24]. Os sistemas utilizados neste tipo de processo são muito similares
aos sistemas de deposição, a grande diferença está o facto do substrato se encontrar
sujeito ao bombardeamento de iões ao invés de um alvo de um material que é o que
acontece na deposição de materiais [22].
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 43
4.2.5 Corrosão Iónica Reativa (RIE)
Nesta técnica, o substrato é colocado numa câmara onde também são introduzidos
diversos gases [5]. Devido a esses gases e ao uso de uma fonte de sinal RF, que aplicará
um sinal de radiofrequência, será criado um fluxo de iões (plasma) [5][24]. Os iões são
acelerados e reagem com a superfície do material aquando a colisão [24], formando um
material gasoso. Isto é a química do RIE. Quanto à parte física deste processo é
semelhante ao processo de deposição de material, ou seja, se um ião tiver energia
suficientemente alta, eles podem remover átomos dos material a corroer sem que haja
qualquer reação química. Manter o equilíbrio químico e físico no processo de dry
etching é algo complexo visto que são muitos os parâmetros a ajustar [22]. Ao alterar
esse equilíbrio é possível influenciar o tipo de corrosão, ou seja, quimicamente o
processo seria isotrópico e quanto à parte física é altamente anisotrópica [24] e uma
combinação deste pode formar paredes de formas redondas até verticais Na Figura 4-8
apresenta-se um esquema de um sistema típico RIE.
Figura 4-8 Sistema RIE [21].
4.2.6 Vaporização
A vaporização, é também um método de dry etching e que pode ser realizada de uma
forma mais simples do que o RIE [23]. Para a realização deste método tem de se colocar
o wafer numa câmara onde também serão introduzidos um ou mais gases. O material
exposto ao gás será corroído ao passo que o material protegido pela mascara se manterá
44 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
inalterável. Dois dos gases mais usados neste tipo de processo é o Fluoreto de Xenônio
(FeX2) e o Fluoreto de Hidrogénio (HF) [23].
4.2.7 Comparação
O processo wet etching é o processo mais barato e simples de realizar obtendo-se
normalmente bom resultados [25]. Este processo é muito usado para o etching em
filmes finos assim como em substratos [24]. Quanto ao processo dry etching é muito
mais caro e complexo em comparação com o wet etching [25]. Dependendo do que seja
pretendido pode-se optar por um método ou pelo outro, em baixo está apresentada uma
tabela com as vantagens e desvantagens inerentes a cada um dos processos.
Tabela 4-1 Comparação entre o Wet e o Dry etching
Wet Etching Dry Etching
Método -Solução Química; -Bombardeamento de iões;
ou
-Reações Químicas;
Equipamento necessário -Solução ácida ou básica e
pode ser realizada às
condições atmosféricas
normais,
- Câmara de Vácuo;
Vantagens -Baixo custo e fácil de
efetuar;
-Taxas de corrosão
elevadas;
-Boa seletividade para a
maioria de materiais;
- Capacidade para definir
estruturas a pequenas
escalas (<100nm);
Desvantagens - Desadequado para definir
estruturas de tamanho
<1µm;
-Provável manuseamento
de químicos perigosos;
-Risco de contaminação da
- Elevado custo;
- Difícil de implementar,
-Fraca seletividade;
-Risco de contaminação
devido à radiação;
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 45
4.3 Caracterização de filmes finos
4.3.1 Difração de raios X
A difração raios X, XRD, permite quantificar a estrutura cristalina de um determinado
material [7]. Ao irradiar um material com pequenos comprimentos onda de raios obtêm-
se um padrão de difração. Com este padrão é possível determinar a orientação dos
cristais, o plano cristalino assim como a distorção do plano e seu tamanho [4]. Isto
apenas é possível porque os átomos ordenam-se em planos cristalinos separados entre si
por distâncias da mesma ordem de grandeza dos comprimentos de onda dos raios X [7].
Figura 4-9 Esquema ilustrativo da Lei de Bragg [29].
A difração baseia-se na Lei de Bragg, a qual estabelece uma relação entre o ângulo de
difração e a distância entre os planos que originam [30], [31]. De seguida é apresentada
a equação de Bragg:
nλ = 2d sen θ
n: número inteiro
wafer;
Direcionamento Isotrópico (exceto para
corrosão de materiais
cristalinos)
Anisotrópico [8]
46 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
λ: comprimento de onda dos raios X incidentes
d: distância entre planos
θ: ângulo de difração
Entre as vantagens desta técnica destaca-se a sua simplicidade, rapidez e fiabilidade e à
possibilidade de análise de materiais compostos por uma mistura de fases e uma análise
quantitativa destas fases [30][10].
4.3.2 Espectroscopia por energia dispersiva de raios X e microscopia eletrónica
de varrimento
A espectroscopia por energia dispersiva de raios X ou EDX, como é normalmente
conhecida, é uma técnica utilizada na análise e caracterização química de uma amostra
[32]. Nesta técnica faz-se incidir um feixe de eletrões sobre a amostra causando desta
forma a excitação e consequente remoção de eletrões do material, criando uma lacuna
[7].A emissão de raios X ocorre quando a lacuna criada é preenchida por um eletrão da
orbita exterior [32] [10]. A amostra deverá ser condutora elétrica [7].Este método
permite a análise química, devido ao facto dos comprimentos de onda emitidos serem
específicos para cada elemento constituinte de um material. Esta análise é efetuada em
todo o material, partindo da superfície até à espessura de 2 μm de profundidade, não
permitindo no entanto obter a composição de elementos com um baixo número atómico
[10].
Normalmente associado a um sistema de EDX existe um microscópio SEM [10]. A
técnica SEM permite obter imagens muito pormenorizadas da superfície de um material
e consegue-se aumentar a imagem (zoom) até 300.000 vezes [33]. A imagem obtida é
formada pela incidência de um feixe de eletrões sob a amostra o que provoca a emissão
de eletrões captados por numa matriz de deteção [33][10].
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 47
Figura 4-10 Ilustração da interação do feixe de eletrões com uma superficie [33].
4.3.3 Resistividade elétrica
A resistividade elétrica de um material pode ser medida a quatro pontas, utilizando o
método de Van De Pauw [35]. O método de medição por quatro pontas foi
originalmente proposto por F.Wenner em 1915 para medir a resistividade elétrica da
Terra sendo que em 1954 L.B. Valdes adotou esta técnica obter a resistividade elétrica
dos wafers de materiais semicondutores [34]. Em 1958 Van De Pauw criou um método
que permite medir a resistividade elétrica e o coeficiente de Hall de uma amostra [35].
(Efeito de Hall – assenta na produção de uma de tensão num condutor elétrico, tensão
de Hall, transversal à corrente elétrica e a um campo magnético que é perpendicular à
corrente).
Este método tem erros associados à geometria dos contactos e à anisotropia do material
no entanto, consegue-se diminuir esses erros, efetuando várias medições em
configurações diferentes [36]. O método a quatro pontos pressupõe uma uniformidade
na espessura da amostra [36].
48 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
Figura 4-11 Ilustração dos diferentes tipos de configurações [10].
Para a obtenção do valor da resistência mede-se a queda de tensão entre duas pontas e
aplica-se uma corrente constante e conhecida nas outras duas pontas [7], [37].
Posteriormente estes valores de tensão e corrente são utilizados para calcular o valor de
RA e RB, obtidos através das seguintes equações:
Determinado o valor da resistência de RA e RB, pode-se então calcular o valor de RS
através de métodos numéricos:
(
)
( )
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 49
Finalmente é possível calcular o valor da resistividade (ρ) utilizando o valor de RS
anteriormente calculado e sabendo a espessura do filme (h):
4.3.4 Calorimetria diferencial de varrimento
A calorimetria diferencial de varrimento, o DSC, é a técnica de análise térmica mais
utilizada [40], tem como principio a libertação ou absorção de calor por parte de uma
amostra [41]. O DSC é uma técnica relativamente nova, surgiu em 1963 quando a
empresa Perkin-Elmer colocou no mercado a DSC-1, o primeiro equipamento que
permitia realizar o DSC [40].
A caracterização da amostra é conseguida através da diferença de temperatura entre a
amostra e um material usado como referência [42][43]. A realização desta técnica exige
uma câmara onde a atmosfera e a temperatura possam ser controláveis. Para o controlo
da atmosfera é introduzido um gás inerte para limpar a câmara, proteger a amostra e
prevenir a deposição de gelo no interior da câmara caso esta opera a baixas temperaturas
[44].
Nesta técnica tanto a amostra como a referência são colocadas à mesma temperatura de
modo a possibilitar a quantificar a capacidade calorifica necessária para provocar um
aumento de temperatura na amostra. Esta técnica permite ainda analisar a mudança de
fase desta. A análise de fase é conseguida pelo facto de que quando ocorre a amostra
precisará de absorver ou libertar calor para conseguir ficar à mesma temperatura da
referência. Na Figura 4-12 pode-se observar uma gráfico DSC com mudança de fase já
na Figura 4-13 não houve qualquer mudança de fase.
50 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
Figura 4-12 Gráfico DSC com alteração de fase [55]
Figura 4-13 Exemplo de um gráfico DSC.
Existem dois tipos de sistemas de DSC, o power compensation e o heat flux [42]. No
power compensation a amostra e a referência são colocadas em fornos idênticos mas
separados e a temperatura pode ser controlada de forma diferente. No entanto faz-se
com que as temperaturas sejam igual variando a potência de entrada dos fornos. Já nos
sistemas de heat flux a amostra e a referência são colocadas num metal de baixa
resistência térmica, normalmente um disco metálico, e posteriormente colocado num
único forno [42].
Comparativamente o power compensation oferece melhor resolução, sensibilidade e é
mais rápido tendo ainda a possibilidade de se poder modelar a temperatura usando o
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 51
StepScan [39]. O StepScan DSC é um software, desenvolvido pela PerkinElmer, que
permite uma caracterização mais avançada das propriedades térmicas do material [39].
Figura 4-14 Ilustação de um sistema heat flux [38].
Figura 4-15 Ilustração de um sistema power compensation [39].
4.3.5 Condutividade iónica
A condutividade iónica é a medida existente para quantificar a quantidade e mobilidade
de iões, ou agregados de iões que se possam deslocar por ação de um potencial elétrico
ou químico [45][46]. Neste trabalho a condutividade foi determinada recorrendo à
técnica das impedâncias, que se baseia na obtenção de um espectro de frequências do
eletrólito, condutor iónico.
Um condutor iónico, pode ser visto como um material onde a corrente é “transportada”
devido ao movimento dos iões [47]. Neste tipo de transporte da corrente existe sempre
uma reação química associada ao fluxo desta que ocorre sempre que a corrente iónica é
52 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
convertida em elétrica, i.e. nos contactos ou elétrodos [48][47]. Por vezes, em sistemas
iónicos pode existir uma diferença de potencial mensurável sem que exista fluxo de
corrente nestes casos não há lugar as reações químicas [47]. A grande diferença entre o
fluxo convencional de corrente (fluxo de eletrões) e a corrente iónica é mesmo o facto
de existir as tais reações químicas o que significa que o sistema será alterado com o
decorrer do tempo [47][48]. A condutividade iónica é de grande importância na área de
armazenamento de energia, como por exemplo baterias e fuel cells [48][47].
Para determinar a condutividade iónica foram depositados contactos no eletrólito de
forma a aplicar sinais de variadas frequências, o que irá possibilitar o cálculo da
condutividade. Esta técnica é possível devido à separação da análise da resposta do
eletrólito, à da resposta das ligações elétrodo/eletrólito.
Figura 4-16 Esquema de uma amostra para o cálculo da condutividade iónica.
Figura 4-17 Impedância das amostras.
Normalmente utilizam-se elétrodos em forma de discos e de espessura reduzida para
minimizar a distância de separação entre os elétrodos e maximizar a área, os elétrodos
são metais e condutores elétricos [10]. Desta forma consegue-se diminuir a corrente
elétrica que percorre o sistema para que não exista alterações eletroquímicas da amostra.
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 53
Estas condições servem de garantia para a prevenção de transferência de carga elétrica
através das interfaces metal/eletrólito [49][10]. Estas interfaces exibem um
comportamento puramente capacitivo. Considerando que os contactos metal/eletrólito
sejam iguais então pode-se considerar o seguinte circuito [49].
Figura 4-18 Circuito equivalente para o cálculo da condutividade iónica.
Para altas frequências, a impedância é dominada pelo circuito em paralelo (o material
do eletrólito) enquanto para as baixas frequências a impedância será dominada pelo
circuito em série (a interface elétrodo/eletrólito) [50].
Para o estudo do espectro de frequências é necessário um diagrama da impedância
(Nyquist) da amostra. O diagrama de Nyquist permite representar a impedância num
plano cartesiano onde no eixo das abcissas se representa a impedância real e no eixo das
ordenadas a parte imaginária da impedância. Este diagrama é obtido aplicando um
tensão sinusoidal à amostra numa vasta gama de frequência, que pode ir de 10-4
Hz ate
107Hz [51]. Na Figura 4-19 esta representado um exemplo de um diagrama de Nyquist
obtido utilizando esta técnica, obtido o diagrama agora é necessário traçar uma
semicircunferência para obter o valor de R(Ω).
54 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
Figura 4-19 Exemplo do diagrama de Nyquist de uma amostra e semicircunferência para cálculo da R.
Depois de calculado o valor de R, este pode ser aplicado na seguinte equação, sendo h a
espessura do filme, A a área e σ a condutividade iónica [10].
( ) ( )
( ) ( )
4.3.6 Termogravimetria
As técnicas de análise térmica têm se como sendo um grupo de técnicas que regista o
comportamento de uma determinada propriedade de uma amostra em função da
temperatura [10]. A análise termogravimétrica, TGA, analisa a massa de uma amostra
em função da temperatura [52]. Para a realização desta técnica é necessário ter-se uma
atmosfera e temperatura controlável para este fim usa-se uma câmara, ou forno [52], e
faz se uso de uma termobalança para obter a massa da amostra [53]. Na Figura 4-20 é
apresentado um gráfico tipo de uma técnica TGA.
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 55
Figura 4-20 Gráfico típico de TGA [10].
4.3.7 Testes de encapsulamento
O objetivo do encapsulamento (proteção) da bateria passar por impedir com que o lítio
se oxide quando em contacto com a atmosfera terrestre. Na Figura 4-21 apresenta-se
uma imagem do lítio metálico oxidado precedido pela sua equação de oxidação. Para
evitar essa reação decidiu-se fazer a deposição do lítio e medir a sua resistividade a
quatro pontas a quando da deposição. Após a deposição do lítio será a depositado a
respetiva proteção e medida a resistividade do lítio já com a proteção e de seguida a
amostra é exposta à atmosfera. Com os valores obtidos será traçado um gráfico da
resistência em ordem ao tempo e daqui se verificará se a proteção estará a proteger o
lítio.
56 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
Figura 4-21 Oxidação do lítio metálico.
( ) ( ) ( )
4.4 Trabalho Prévio
O trabalho previamente realizado serviu como base para este trabalho [10]. Neste foram
selecionados e caraterizados os materiais constituintes para o fabrico de uma bateria de
lítio em estado sólido. Uma bateria de lítio é constituída principalmente por três
materiais: cátodo, eletrólito e ânodo, para além dos contactos metálicos e do substrato.
Para o substrato foi usado o silício de modo a integrar a bateria com os processos de
microeletrónica [10]. Já os contactos foram constituídos por dois filmes finos, 30 nm de
titânio e 70nm de platina, desta forma eliminou-se o problema de adesão da platina ao
silício. Estes foram depositados fazendo uso da técnica e-beam.
O material escolhido como cátodo foi o cobaltato de lítio (LiCoO2). O LiCoO2 foi
escolhido devido à sua excelente estabilidade eletroquímica e capacidade de inserção e
extração de iões de lítio. Estas características derivam da sua excelente estabilidade
estrutural [10]. Foram criadas diferentes amostras deste material por RF sputtering,
segundo os parâmetros apresentados na Tabela 4-2.
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 57
Tabela 4-2 Parâmetros de deposição do LiCoO2.
Amostra Técnica de
Deposição
Alvo Espessura Pressã
o
Potência
da Fonte
Gases (sscm)
O2 AR N2
#01
RF
sputtering
LiCoO2
1 μm
2x10-3
mbar
150 W
10 30 -
#02 - 40 -
#03 - 40 -
Antes de serem caracterizadas, todas as amostras foram todas submetidas a um
tratamento térmico que consistiu no seu aquecimento, annealing. O annealing permite
aumentar a cristalização e diminuir a resistividade do filme de LiCoO2 [10].
Para se proceder à caracterização dos filmes foram utilizadas as técnicas XRD, Van de
Pauw, EDX e SEM respetivamente para medir a cristalização, a resistividade elétrica e a
composição química [10].
Figura 4-22 XRD dos filmes de LiCoO2.
Da técnica XRD verificou-se que as temperaturas em que se obtinham picos mais
definidos eram na amostra “#03” as temperaturas 650ºC e 700ºC. Nestas temperaturas a
estrutura cristalina do filme de LiCoO2 aumenta a difusidade dos iões de lítio, o que é
uma característica muito importante para o cátodo de uma bateria [10].
58 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
Figura 4-23 Resistividade dos filmes de LiCoO2, da deposição “#03”.
Após a medição da resistividade verificou-se que a amostra “#03” era a que simultâneo
com os resultados obtidos pelo XRD, foi a amostra que mostrou uma menor
resistividade, cerca de 3,7Ω.mm.
O lítio metálico (Li) foi o material escolhido para ser o elétrodo negativo (ânodo) que
permite uma elevada quantidade de transferência de iões na descarga da bateria. Este
material foi depositado utilizando a técnica de evaporação térmica [10]. Na Tabela 4-3
são apresentados os parâmetros das amostras efetuadas.
Tabela 4-3 Parâmetros de deposição do Lítio.
Filme
Fino
Técnica de
Deposição
Corrente
de Fonte
Espessura Resistência com 3 μm
de espessura
#01 Evaporação
Termica
150 A
6 μm 3,26 Ω
#02 5,3 μm 3,04 Ω
#03 3,3 μm 3,5 Ω
A caracterização deste material foi realizada através de medições da resistência elétrica
deste material que pode ser verificada nas figuras abaixo apresentadas.
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 59
Figura 4-24 Resistência do lítio medida durante a sua deposição [10].
Figura 4-25 Resistência do lítio medida quando exposto à atmosfera terrestre [10].
60 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
Os resultados obtidos demonstraram que o filme de lítio oxida muito rapidamente em
contacto com a atmosfera e por isso é necessário um filme de proteção, depositado por
cima do lítio, para o funcionamento da bateria.
Já o oxinitreto de fósforo de lítio (LiPON) foi o material escolhido para ser o eletrólito,
devido à elevada estabilidade eletroquímica. O LiPON foi depositado recorrendo à
técnica RF sputtering. Assim como aconteceu no material do catádo foram criadas
diferentes amostras de modo a se verificar qual seria a melhor maneira de fabricação
dos filmes. Na Tabela 4-4 pode ser ver os parâmetros das amostras criadas.
Tabela 4-4 Parâmetros da deposição do eletrólito.
Filme
Fino
Técnica de
Deposição
Alvo N2 Pressão Potência
da Fonte
Espessura
#01
RF
sputtering
Li3PO4
20 sscm
1x10-2
mbar
200W
1 μm
#02 2x10-3
mbar
#03 7x10-3
mbar
#04 3x10-4
mbar
#05 3x10-4
mbar 150W
Este material foi caracterizado através da análise XRD e SEM e das técnicas de análise
térmicas DSC e TGA tendo ainda sido realizados testes à sua condutividade iónica.
A medição da condutividade iónica foi realizada aplicando um sinal com 25 mV pico a
pico à amostra numa gama de frequências entre 0,5 Hz e 65 kHz. Na Figura 4-26 pode-
se observar o diagrama obtido para a amostra “#4” e “#5”.
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 61
Figura 4-26 Diagrama de Nyquist das diferentes amostras de LiPON.
Na Figura 4-27 pode se ver a condutividade iónica das deposições “1”, “3” e “4” em
função da pressão durante a deposição.
Figura 4-27 Condutividade iónica dos filmes de LiPON.
Para além da escolha e caracterização destes materiais foi ainda definido um processo
de fabrico com estruturas diferenciadas para cada um dos materiais constituintes da
bateria. Desta forma pretende-se prevenir o contacto entre o cátodo e o ânodo da bateria.
62 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
Para este fim foram projetadas e construídas mascaras sombra para o fabrico dos filmes
dos respetivos materiais.
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66 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
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Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 67
5 Fabrico e Resultados Experimentais
5.1 Proteção com Nitreto de Silício
Para a proteção da bateria o material escolhido foi o nitreto de silício devido as suas
características. O nitreto de silício é um bom material protetor pois é resistente,
quimicamente é inerte, tem uma boa estabilidade térmica e tem boas propriedades
dielétricas [1]. O nitreto de silício pode ser obtido através da técnica de sputtering
reativo utilizando um wafer de Si3N4 e utilizando Ar (árgon) ou N2 (azoto) ou então
uma mistura destes dois ajustando a quantidade de cada um [2]. Um outro método para
obtenção do nitreto de silício passa pela utilização da mesma técnica mas usando um
wafer de silício [2].
Decidiu-se utilizar um wafer de silício e uma mistura de gases de Ar/N2 (pela sua
disponibilidade imediata) para a obtenção de Si3N4. Foram criadas amostras com o fim
de caracterizar o material que seria obtido no fim do processo. Para isso foram
utilizados lâminas de vidro nas quais foi depositado alumínio e platina e através do
processo de fotolitografia como se pode verificar na Figura 5-1.
Figura 5-1 Lâmina de vidro com contactos.
68 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
Tabela 5-1 Parâmetros de deposição do nitreto de silício.
Amostra Técnica de
Deposição
Alvo Espessura Pressão
(mbar)
Potência
da Fonte
Gases (sscm)
Ar N2
#01
RF
sputtering
Si
1 μm 2x10-3
200W 20 20
#02 400nm 2x10-3
300 W 20 20
#03 400nm 2x10-3
300W 24 16
Apesar da realização destas amostras não foi possível a obtenção de Si3N4 com boa
adesão. Todas amostras demonstraram o mesmo problema, em algumas partes da
amostra o nitreto escamava, como se não tivesse aderido bem ao material.
Figura 5-2 Lâmina de vidro após a deposição do nitreto de silício.
Apesar da fraca adesão no vidro, o mesmo poderia não acontecer noutros substratos.
Procedeu-se então à deposição direta do nitreto de silício no lítio, medindo a
resistividade do lítio a quatro pontas, durante e após a deposição. Deste modo poder-se-
ia verificar se o nitreto estaria bem constituído através da proteção oferecida por este ao
lítio. Como se sabe o lítio oxida em contacto com a atmosfera terrestre o que leva a um
aumento drástico da sua resistividade [3].
Nestas duas tentativas, foram mais uma vez utilizadas lâminas de vidro com contactos,
Figura 5-3. Estas foram utilizadas para depositar o lítio e de seguida o nitreto.
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 69
Figura 5-3 Lamina de vidro para deposição do lítio.
Na primeira tentativa o lítio foi depositado recorrendo à técnica de evaporação térmica a
uma pressão de 2x10-3
mbar, foi utilizado um cadinho de tântalo, EVSME22. Estima-se
que a espessura tenha sido 850nm. Esta estimativa deve-se ao facto do cristal do
aparelho de medida se tenha danificado no decorrer da deposição. Após a deposição do
lítio procedeu-se à deposição de 100nm de nitreto de silício, esta foi feita através de RF
sputtering. Neste processo foi utilizada um wafer de silício e a quantidade de gases
introduzidos foram 24sccm de Ar e 16sscm de N2, a potência da fonte RF foi de 200W,
a pressão de deposição foi de 8x10-4
mbar e não foi efetuada início de deposição com
shutter fechado.
Figura 5-4 Resistividade do Lítio durante as deposições.
0,1
1
10
100
1000
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100
Re
sist
ance
(o
hm
)
Time (min)
Electrical resistance of Li sample Sputtering Si with Ar + N2
Li deposition by thermal evaporation
Still in vaccum, 5e-6mbar
70 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
Na Figura 5-4 pode-se observar a evolução da resistividade do lítio durante a deposição
dos materiais. Verifica-se que se obteve uma boa amostra de lítio com uma resistência
de 0.50 Ω subiu quando a inserção dos gases na câmara de vácuo e que após a
deposição do nitreto estabilizou por volta dos 35Ω.
Figura 5-5 Resistividade do Lítio em vácuo e em contacto com o ar.
Com o passar do tempo o valor da resistência do lítio foi subindo até aos 100Ω, que
quando exposto ao ar a resistividade deste voltou a aumentar para valores mais altos por
volta dos 300Ω. Verificou-se, através destes valores de resistividade do lítio, que com
estes parâmetros o nitreto estava a proteger mas não o suficiente pois necessita-se que o
lítio tenha uma resistividade mais baixa.
Na segunda tentativa houve algumas modificações. A deposição do lítio foi realizada
por evaporação térmica com uma pequena alteração desta o aumento da corrente foi
mais suave e o shutter só foi aberto passado algum tempo da fonte de corrente ter
atingido o valor de 150A. A pressão de deposição foi igual à da primeira tentativa,
2x10-3
mbar, nesta deposição foi utlizado um cadinho de tântalo com alumina,
EVSME22BAO. Já na deposição do nitreto de silício foi alterado a quantidade de gases,
introduzindo se 5sscm de Ar e 20sscm de N2 numa proporção de 20% de Ar para 80%
N2. A espessura de 100nm foi mantida assim como a pressão de deposição e a potência
da fonte RF. Nesta tentativa foi efetuado início de deposição com o shutter fechado.
0,1
1
10
100
1000
860 862 864 866 868 870 872 874 876 878 880 882
Re
sist
ance
(o
hm
)
Time (min)
Electrical resistance of Li sample
Exposed to air
Still in vaccum, 5e-6mbar
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 71
Figura 5-6 Resistividade do Lítio.
Na Figura 5-6 pode ver os valores de resistividade obtidos nesta tentativa. Deste gráfico
pode-se depreender que esta amostra em comparação com a primeira ficou muito pior,
isto deve-se à quantidade dos gases.
Figura 5-7 A- Amostra 1 antes do início da deposição; B- Amostra 1 após a abertura da camara; C- Amostra 1
após 40 minutos de exposição ao ar;
A resistência subiu bastante durante a deposição (até 10KΩ), comparativamente à
experiência anterior (35Ω). A maior quantidade de N2 na deposição é responsável por
este aumento, provavelmente pela reação de N2 com a superfície de lítio, criando nitreto
de lítio.
1,E-011,E+001,E+011,E+021,E+031,E+041,E+051,E+061,E+071,E+081,E+091,E+10
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80 85 90 95 100105110115120125
Re
sist
ance
(o
hm
)
Time (min)
Electrical resistance of Li sample SiN dep. Li dep.
Expose to air
72 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
5.2 Bateria
Figura 5-8 Esquemático proposta para a bateria.
Para o fabrico da bateria de lítio é necessário o uso de máscaras de sombra por um lado
para evitar curto-circuito (Anexos A e B) entre os vários filmes e por outro devido à
inexistência de processos de litográfica que possam substituir as mascaras [4].
Anteriormente já haviam sido desenhadas máscaras para o fabrico da bateria (anexo A).
Estas máscaras foram feitas em aço mola, com uma espessura de 150µm. Foi com estas
que foi realizado a primeira tentativa para a construção da bateria lítio em estado sólido.
Foi também elaborado um guia para o fabrico da bateria (Anexo B).
Figura 5-9 Camada de proteção da máscara.
Nesta tentativa os matérias foram depositados de acorda com o trabalho previamente
realizado. O titânio e a platina foram depositados por e-beam com espessuras de 30nm e
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 73
70nm respetivamente. De seguida procedeu-se à deposição de LiCoO2, através da
técnica de sputtering. Aqui surgiu um problema, as máscaras tinham uma pequena
camada de tinta azul na sua superfície colocada pelo fabricante para evitar a sua
oxidação, como se pode verificar na Figura 5-9. Esta tinta durante o sputtering foi
absorvida pelo wafer, como se pode verificar na Figura 5-10.
Figura 5-10 Wafer antes do annealing.
Apesar disto, efetuou-se o annealing para verificar se mais algum problema surgia no
fabrico para o identificar e melhorar o fabrico na tentativa seguinte. Mas durante o
annealing o LiCoO2 escamou ficando com o aspeto, que pode ser observado na Figura
5-11. De notar que neste processo devido ao equipamento que se dispõe, é necessário
retirar o wafer do shutter para a realização do annealing e de seguida volta-lo a colocar.
Devido a isto, é necessário garantir o alinhamento na recolocação. Por isso, nas
máscaras foram criadas propositadamente, uma cruz e uma circunferência como
referência. Estes sinais podem ser verificados na Figura 5-10, assim como na figura
abaixo apresentada.
74 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
Figura 5-11 Wafer depois do annealing.
E mesmo após a aparição deste problema continuou-se com o fabrico da bateria. O
passo seguinte foi a deposição do LiPON através da técnica de sputtering. A deposição
do eletrólito, LiPON, através de sputtering decorreu como previsto, apesar do alvo se
encontrar algo danificado. Seguiu-se então a deposição do lítio por evaporação térmica.
Nos testes à bateria verificou-se que a bateria não funcionou.
Seguiu-se uma nova tentativa seguindo todos os passos da primeira. Desta feita as
máscaras sombras foram polidas para retirar a proteção azul do acabamento.
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 75
Figura 5-12 Máscaras polidas.
Resolvido o problema das mascaras deu-se inicio à deposição do titânio e platina,
passando de seguida para a deposição do LiCoO2. Foi realizado o annealing à amostra
mas após a técnica esta ficou danificada, começando a escamar como se pode verificar
na Figura 5-13.
Figura 5-13 A-Amostra antes do annealing B- Amostra após o annealing.
Após esta tentativa foi realizada uma outra. A fase inicial decorreu como as tentativas
anteriores, foi depositado o titânio e a platina seguindo-se a deposição do LiCoO2 mas
devido ao mau estado do alvo, a deposição voltou a ficar defeituosa.
76 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
Figura 5-14 Alvo de LiPON.
Desta feita levou-se mais uma vez o processo até ao fim de modo a detetar mas alguma
falha. Procedeu-se então à deposição do LiPON por RF sputtering, após esta deposição
verificou-se a existência de defeitos que advieram do mau estado do alvo de LiPON
como se pode observar na Figura 5-14.
Figura 5-15 Amostra após a deposição de LiPON.
Apesar deste problema continuou-se o processo até ao fim, depositando-se o lítio
através de evaporação térmica. De seguida tentou-se obter algum resultado, mas não se
obteve nada pois a bateria desenvolvida tinha mais o comportamento de uma resistência
do que o desejado. Após retirado o wafer do shutter verificou-se que um problema,
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 77
provavelmente numa das extremidades da bateria o ânodo e cátodo estariam em
contacto.
Devido a este problema, foram criadas umas novas mascaras (Anexo C) para corrigir
algum destes problemas. Estas novas máscaras foram desenhadas num software CAD,
computer aided design. O software utilizado foi o SolidWorks. Estas máscaras (Anexo
C) assim como as suas antecessoras (Anexo A) também contêm uma marca para
garantir o alinhamento do wafer aquando a realização do annealing. Para além do
alinhamento foram também garantidas margens razoáveis para que não haja nenhum
contacto de material indesejado. Nesta nova versão ao invés de se ter duas baterias foi
pensado em aproveitar-se o espaço do wafer e tentar obter seis pequenas baterias. Na
Figura 5-16, pode-se observar uma imagem das baterias que se esperam obter, onde o
preenchimento a branco é a área de contacto entre o cátodo, o eletrólito e o ânodo.
Figura 5-16 Perspetiva do formato da bateria.
Estas baterias têm diferentes áreas activas, sendo a mais pequena com dimensões de
2x2mm, as três de baixo de 6x4mm e as restantes de 4x4mm e 6x6mm.
78 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
Uma nova tentativa usando estas máscaras foi feita. Estas foram elaboradas em aço
mola com a mesma espessura das anteriores, sendo polidas antes da sua primeira
utilização. Para o início da deposição do material procedeu-se à oxidação térmica do
wafer de silício. Após o termino deste processo o wafer foi colocada no shutter , aqui
surgiu um problema é que na “Base1” que pode ser verificada no Anexo C os furos
deveriam ser todos iguais o que não acontece pois têm se quatro furos maiores que os
outros. Esta máscara é importante pois é ela que segura o wafer durante todo o processo.
Este problema foi resolvido usando a primeira máscara “Base1” (Anexo A). Resolvido
este imprevisto foi efetuado a deposição de LiCoO2 através da técnica de sputtering.
Devido ao mau estado do alvo, o filme obtido não foi satisfatório e acabou por se
desfazer após a realização do annealing, como se pode observar na figura abaixo
apresentada.
Figura 5-17 A – Amostra antes do annealing B-Após annealing.
5.3 Teste à bateria
Devido aos diversos imprevistos, problemas e falhas nas diferentes tentativas não foi
possível produzir uma bateria na qual fosse possível realizar qualquer teste à bateria.
Mas devido a estes problemas foram detetadas as falhas e tiradas conclusões sobre estas
e consequentemente o processo para o fabrico da bateria foi melhorado.
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 79
5.4 Bibliografia
[1] M. Lattemann, S. Ultich, H. Holleck, M. Stuber e H. Leiste, "Characterisation of
silicon carbide and silicon nitride thin films and Si3N4 and SiC multilayers", Diamond
and Related Materials, 2002.
[2] M. Vila, C. Prieto, J. Garcia-Lopez, M.A. Respaldiza, " Influence of the target and
working gas on the composition of silicon nitride thin films prepared by reactive RF-
sputtering", Nuclear Instruments and Methods in Physics Research, 2003.
[3] J.Fraústo da Silva and R.J.P.Wlliams, "The Biological Chemistry of the Elements",
Oxford, 1991.
[4] João Ribeiro, "Deposição e caracterização de filmes finos para baterias de lítio em
estado sólido," Universidade do Minho, Guimarães, Tese de Mestrado 2010.
80 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
6 Conclusões e trabalho de futuro
O objetivo de fabricar uma bateria de lítio não foi cumprido, devido aos imprevistos
documentados. Apesar do fabrico ter falhado conseguiu-se corrigir falhas e otimizar o
modo de fabrico para que certos erros não voltem a acontecer.
Quanto à camada de proteção da bateria, tentou-se obter nitreto de silício mas devido ao
tempo disponível não foi possível efetuar a sua caracterização conforme pretendido. O
único teste realizado ao nitreto de silício foi o da proteção do lítio. Neste obteve-se
alguns resultados e verificou-se, após a realização do teste com o lítio, que a mistura de
gases que lhe conferiu maior proteção era composta por 60% de árgon e 40% de azoto.
Apesar da fase da proteção não ter sido concluída na totalidade, acredita-se que se
conseguirá obter um bateria seguindo o guia de fabrico (Anexo B), sendo possível a sua
caracterização em vácuo.
Relativamente ao processo de fabrico podem realizar-se algumas alterações, como é o
caso da reformulação das máscaras de sombra, corrigindo o erro da “Base 1”. A “Base
0” também pode ser alterada de forma a garantir um maior alinhamento, a quando da
realização do annealing. Na “Base 0” sugere-se que seja efetuado o desenho do wafer
na base e que seja criado no interior da mesma um relevo de 1mm, espessura do wafer
utilizada, por forma a esta encaixar na perfeição. Para que deste modo as outras
máscaras não tenham de ficar dobradas devido à pressão criada para segurar o wafer
contra a base, diminuindo também a sombra criada durante a deposição.
Quanto a proteção sugere-se que sejam criadas mais amostras com misturas dos gases
perto dos valores da melhor tentativa, e que também sejam investigados outro tipo de
proteção como por exemplo o LiPON e o Parylene.
Por fim seria a integração da bateria nos processos de fabrico de microeletrónica,
visando a sua integração num microsistema constituído pela bateria e dispositivos de
energy harvesting.
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 81
Anexo A
Desenho das mascaras para o fabrico da bateria de lítio em estado sólido (medidas em
milímetros).
82 Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido
Anexo B
1º Dia:
Oxidação térmica do wafer de silício
2º Dia:
1) Colocar o alvo de LiCoO2;
2) Verificar os cristais;
3) Por Platina e Titânio no E-Beam e pesar cada um anotando os respetivos valores;
4) Colocação do substrato no shutter com a mascara do Pt;
5) Garantir que o shutter e o cristal ficam direcionados para o E-Beam;
6) Fechar câmara e fazer vácuo.
3º Dia:
1) Deposição de Titânio (30nm);
2) Deposição de Platina (70nm);
3) Abrir câmara e colocar máscara para LiCoO2;
4) Garantir que o shutter e o cristal ficam direcionados para o Sputtering;
5) Fechar câmara e fazer vácuo.
4ª Dia:
1) Depositar LiCoO2 (1um);
2) Abrir câmara, retirar as amostras e a mascara;
3) Fazer o annealing (2h a 6500C em vácuo, com subida e decida lenta);
4) Limpar o magnetrão;
5) Colocar alvo de LiPON;
6) Verificar os cristais;
7) Colocar as amostras no shutter com a máscara de LiPON, garantindo o alinhamento;
8) Garantir que o shutter e o cristal ficam direcionados para o Sputtering;
9) Fechar câmara e fazer vácuo.
5º Dia:
1) Depositar o LiPON (1um);
2) Abrir câmara e retirar a mascara de LiPON;
3) Colar os contactos do cátodo e ânodo e colocar a mascara de Lítio;
4) Garantir que o shutter e o cristal ficam direcionados para a evaporação térmica;
5) Colocar lítio na evaporação térmica;
6) Fechar câmara e fazer vácuo.
6º Dia:
1) Depositar lítio (3um);
Realização de testes.
Fabrico e caraterização de baterias recarregáveis de lítio em estado sólido 83
Anexo C
Desenho das segundas máscaras para o fabrico da bateria de lítio em estado sólido
(medidas em milímetros)