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FABIANA DO AMARAL SERRANO NOVOS COMPOSTOS DERIVADOS DE PALÁDIO E RUTÊNIO COM ATIVIDADE ANTITUMORAL São Paulo 2010 Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo Escola Paulista de Medicina, para obtenção do título de Doutor em Ciências.

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FABIANA DO AMARAL SERRANO

NOVOS COMPOSTOS DERIVADOS DE PALÁDIO E RUTÊNIO COM

ATIVIDADE ANTITUMORAL

São Paulo

2010

Tese apresentada à Universidade Federal

de São Paulo – Escola Paulista de

Medicina, para obtenção do título de Doutor

em Ciências.

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FABIANA DO AMARAL SERRANO

NOVOS COMPOSTOS DERIVADOS DE PALÁDIO E RUTÊNIO COM

ATIVIDADE ANTITUMORAL

Orientadora: Profª. Dra. Elaine Guadelupe Rodrigues

São Paulo

2010

Tese apresentada à Universidade Federal

de São Paulo – Escola Paulista de

Medicina, para obtenção do título de Doutor

em Ciências.

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Serrano, Fabiana do Amaral

Novos compostos de Paládio e Rutênio com atividade antitumoral / Fabiana do Amaral Serrano – São Paulo, 2010.

165 folhas.

Tese (Doutorado) – Universidade Federal de São Paulo. Programa de Pós-graduação em Microbiologia, Imunologia e Parasitologia

Título em inglês: Novel palladium and ruthenium antitumoral compounds

1. Compostos de Paladio 2. Compostos de Rutênio

3. melanoma murino B16F10-Nex2 4. apoptose 5. metástase

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MY WAY - Frank Sinatra

And now the end is near And so I face the final curtain

My friend, I'll say it clear I'll state my case of which I'm certain

I've lived a life that's full I traveled each and every highway

And more, much more than this I did it my way

Regrets, I've had a few But then again, too few to mention

I did what I had to do And saw it through without exemption

I've planned each charted course Each careful step along the byway

And more, much more than this I did it my way

Yes there were times, I'm sure you knew When I bit off more than I could chew

But through it all when there was doubt I ate it up and spit it out

I faced it all and I stood tall And did it my way

I've loved, I've laughed and cried I've had my fill, my share of losing

And now as tears subside I find it all so amusing

To think I did all that And may I say, not in a shy way

Oh no, oh no, not me I did it my way

For what is a man, what has he got? If not himself, than he has naugth

To say the things he truly feels And not the words of one who kneels

The record shows, I took the blows And did it my way

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Aos meus pais Antonio e Lídia;

Ao meu marido André Luiz.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço minha orientadora, Dra. Elaine Guadelupe Rodrigues, por me

aceitar como aluna e pela oportunidade de desenvolver um trabalho

maravilhoso. Sou grata por todos os ensinamentos ao longo desta trajetória,

pela confiança depositada em mim, pela paciência, pelas conversas, pelos

chás, e pelas broncas merecidas.

Agradeço ao Profº Dr Luiz Rodolpho Travassos pela grande contribuição

durante o desenvolvimento deste trabalho. Pelas dicas, pelas conversas, por

ser o grande cientista que é.

Aos Professores e colaboradores que participaram deste trabalho:

- Profº Dr. Antonio Carlos Caíres, pela síntese do composto Ciclopaladado 7A;

- Profº Dr. Douglas Wagner Franco e a sua aluna, Renata Osti, pela síntese

dos compostos de Rutênio;

- Profª Dra. Soraya Smaili e sua aluna, Priscila Monteforte, pela colaboração

estabelecida para identificar o mecanismo de ação do ciclopaladado 7A;

agradeço pelas reuniões esclarecedoras e por tudo que foi aprendido através

desta parceria;

- Profª Dra. Leny Toma e sua aluna, Vivien Coulson-thomas, por auxiliar nos

experimentos (ainda que em andamento) com os compostos de rutênio

sulfatados;

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- Aos meus amigos doutores da Unidade de Oncologia Experimental

(UNONEX) Dr. Alisson Matsuo, pelo auxílio nos experimentos finais com o

ciclopaladado 7A; Dra. Thaysa Paschoalin, pelos ensaios de angiogênese; Dra.

Denise Arruda, por ajudar a determinar o mecanismo de ação dos compostos

sulfatados.

Agradeço aos professores e alunos da Disciplina de Biologia Celular, por

disponibilizarem seus laboratórios e reagentes para a conclusão desta tese.

Agradeço aos profissionais técnicos da Discilpina de Biologia Celular:

Antonio Furlaneti (Tutis) e Luizão, pela disposição e ajuda durante os

experimentos.

Agradeço aos funcionários da sala de lavagem Maria e Américo. Sem

eles nada disso (de verdade!) seria possível!

Agradeço ao pessoal da Secretaria, que está sempre “quebrando nossos

galhos”, Marcelo e Márcia. Márcia, pelas risadas, pela amizade, por me ouvir,

obrigada!

Agradeço meus pais Lidia e Antonio, por todo amor, pela confiança e por

estarem sempre ao meu lado em todos os momentos da minha vida. Obrigada

por serem meus pais....tenho muito orgulho de vocês. Tenho certeza de que

vocês também estão orgulhosos de mim. Sem vocês, nada disso seria

verdade...obrigada! Amo vocês!

Ao meu marido André Luiz (conhecido popularmente como mor querido

e/ou morzão) por ter me ajudado com problemas tecnológicos durante o

desenvolvimento deste trabalho. Agradeço todos os dias pela sua carreira de

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analista de sistemas, que possibilita eu queimar o notebook, sumir com os

dados do pen-drive, e mesmo assim você consegue recuperar todas as

informações! Obrigada por todo o apoio durante esta fase da minha vida, por

acreditar em mim, por achar que as coisas que eu faço são sempre “as mais

bonitas”, “as melhores”, por ter certeza de que tudo o que eu faço vai dar

certo........por ser meu amor!

Aos meus queridos amigos que pertencem, ou algum dia fizeram parte

da Unidade de Oncologia Experimental: Ana Beatriz, Andrey, Alisson, Bianca,

Carla, Cíntia, Denise, Ellen, Eliana, Flávia, Filipe, Felipe, Jorge, Juliana, Karina

Luana, Luis, Manoela, Mariana, Natasha, Rafael (Toddy), Tiemi,

Thaysa.......espero não ter esquecido de ninguém. Gostaria de deixar explícito

que todos vocês contribuíram, de alguma forma, para meu crescimento

profissional e pessoal. Obrigada por me ouvirem, por estarem sempre

querendo o meu melhor. Foram muitas risadas e tensões, mas todos os

momentos passados juntos foram igualmente inesquecíveis. Pelos grandes

amigos que eu fiz, este trabalho valeu muito à pena.

Enfim.....a todas as pessoas que, de alguma forma, meu auxiliaram para

a realização deste trabalho maravilhoso. Aos amigos, professores e

colaboradores, muito obrigada!

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ÍNDICE

RESUMO.........................................................................................................i

ABSTRACT........................................... ........................................................iii

1.0 INTRODUÇÃO...............................................................................................1

1.1 Origem do Melanoma..........................................................................1

1.2 O Melanoma........................................................................................2

1.3 Dados Epidemiológicos.......................................................................3

1.4 Quimioterapia Antitumoral...................................................................4

1.5 Compostos de Coordenação..............................................................8

1.5.1 Compostos de Platina......................................................................9

1.6 Exemplos de Compostos metálicos em Ensaios Pré-clínicos..........11

1.6.1 Complexos de Ferro.......................................................................11

1.6.2 Compostos de Ouro.......................................................................12

1.6.3 Compostos de Paládio...................................................................13

1.7 Exemplos de Compostos Metálicos em Ensaios Clínicos................16

1.7.1 Compostos de Gálio.......................................................................16

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1.7.2 Compostos de Rutênio...................................................................17

1.8 Apoptose...........................................................................................23

1.8.1 Apoptose mediada pela Via Extrínseca.........................................25

1.8.2 Apoptose mediada pela Via Intrínseca..........................................26

1.8.3 Alterações celulares ausadas pelo estímulo apoptótico................28

2.0 OBJETIVOS...................................... ...........................................................33

3.0 MATERIAIS E MÉTODOS............................ ...............................................34

3.1 Quimioterápicos.................................................................................34

3.2 Linhagens de células tumorais e condições de cultivo......................36

3.3 Animais..............................................................................................37

3.4 Obtenção de macrófagos derivados de medula óssea.....................38

3.5 Dosagem protéica.............................................................................38

3.6 Ensaio de citotoxicidade celular in vitro.............................................39

3.7 Ensaio de inibição da citotoxicidade do complexo 7A in vitro com

DTT....................................................................................................39

3.8 Ensaio de citotoxicidade in vitro em presença de inibidores de

proteases: Ca074-Me (catepsina B) ou E-64 (cisteíno-proteases)...40

3.9 Quantificação da acidificação extracelular........................................40

3.10 Microscopia ótica..........................................................................41

3.11 Microscopia de Transmissão Eletrônica.......................................41

3.12 Alterações no Potencial de membrana mitocondrial....................42

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3.13 Translocação da Proteína Bax-GFP em células transfectadas....43

3.14 Determinação da concentração intracelular de cálcio..................43

3.15 Ativação de caspases...................................................................44

3.16 Avaliação de condensação nuclear por microscopia de

fluorescência.....................................................................................45

3.17 Ensaio de degradação de DNA....................................................46

3.18 Ensaio de TUNEL (Terminal Transferase dUTP Nick End

Labeling)............................................................................................47

3.19 Detecção da translocação da fostatidilserina (PS) para a

superfície celular...............................................................................48

3.20 Ensaio de Angiogênese................................................................49

3.21 Ensaio de hemólise......................................................................49

3.22 Ensaio de colonização pulmonar e tratamento com os

quimioterápicos.................................................................................50

3.23 Desenvolvimento tumoral subcutâneo in vivo..............................50

3.24 Análise estatística.........................................................................51

4.0 RESULTADOS: CICLOPALADADO...................... .....................................52

4.1 Efeitos sobre células tumorais humanas in vitro...............................52

4.2 Efeito antimetastático do Ciclopaladado 7A......................................60

4.3 Alterações morfológicas provocadas pelo Composto 7A..................62

4.4 Interação do Ciclopaladado 7A com mitocôndrias............................64

4.5 Alterações mitocondriais observadas por microscopia de transmissão

eletrônica em células de melanoma murino tratadas com C7A........72

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4.6 Participação do cálcio no processo de morte induzido pelo

Ciclopaladado 7A..............................................................................74

4.7 Ativação de caspases........................................................................76

4.8 Alterações nucleares e degradação de DNA induzidas pelo

Cciclopaladado 7A.............................................................................78

4.9 A morte celular causada pelo Ciclopaladado 7A em células tumorais

não é dependente de catepsinas......................................................81

4.10 Efeito do Ciclopaladado 7A no processo angiogênico.................84

5.0 RESULTADOS: COMPOSTOS DE RUTÊNIO............... .............................86

5.1 Compostos de Rutênio apresentam ação citotóxica in vitro..............86

5.2 Alterações morfológicas causadas por Compostos de Rutênio nas

células tumorais in vitro.....................................................................91

5.3 Degradação de DNA provocada por Compostos de Rutênio............93

5.4 Efeito do RuImNO na angiogênese...................................................95

5.5 Estabelecimento de protocolo terapêutico in vivo para avaliação do

efeito antitumoral dos Compostos de Rutênio...................................98

5.6 Determinação do mecanismo de ação do Composto RuImSO4.....108

6.0 DISCUSSÃO..............................................................................................118

6.1 Composto Ciclopaladado C7A: mecanismo de ação......................118

6.2 Compostos de Rutênio....................................................................130

7.0 CONCLUSÕES..........................................................................................138

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8.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................... ....................................141

9.0 ANEXOS....................................................................................................164

9.1 Comitê de Ética...............................................................................164

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i

RESUMO

O melanoma é a forma mais agressiva de câncer de pele em virtude do

elevado grau de proliferação, invasão e metástase das células tumorais. Menos

de 10% dos pacientes com melanoma metastático sobrevivem por 5 anos.

Quimioterapias com um único composto são bem toleradas, mas associadas a

baixas taxas de resposta terapêutica. Associações de quimioterápicos já

aprovados para uso humano também foram relacionadas a baixas taxas de

resposta, sem redução da toxicidade. Logo, a identificação de novos agentes

antitumorais é crítica para o tratamento do melanoma, e este trabalho buscou

avaliar a atividade antitumoral de novos quimioterápicos derivados de paládio e

rutênio no modelo pré-clínico de melanoma murino B16F10-Nex2.

Um composto ciclopaladado, [Pd2(S(-)C2, N-dmpa)2 (µ-dppe)Cl2],

denominado C7A, avaliado anteriormente pelo nosso grupo, demonstrou

elevada atividade antitumoral e baixa toxicidade in vivo, porém, seu mecanismo

de ação ainda não estava determinado. Neste trabalho demonstramos que este

composto interage com grupos tiol presentes em proteínas da membrana

mitocondrial, induzindo uma abrupta redução na acidificação extracelular,

colapso do potencial de membrana mitocondrial e translocação da proteína Bax

para o interior dessa organela. Evidenciamos também um aumento nas

concentrações intracelulares de cálcio, proveniente de organelas celulares e do

meio extracelular. Estes efeitos iniciais causaram ativação de caspases

efetoras, condensação nuclear, degradação do DNA e dramáticas alterações

morfológicas nessas células. Esses dados sugerem que C7A provoca uma

morte celular por apoptose induzindo a via intrínseca em células de melanoma

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ii

murino B16F10-Nex2. Observou-se que células tumorais humanas são

sensíveis ao C7A, e o mecanismo de ação do composto nessas células parece

ser idêntico ao observado em células murinas. O ciclopaladado 7A reduziu

significativamente o número de nódulos pulmonares sem toxicidade aparente,

indicando sua eficiência também contra tumores metastáticos.

A atividade antitumoral de diversos compostos nitrosil-tetraamina-rutênio

(trans-[RuII(NH3)4(L)NO+], onde L corresponde a diferentes ligantes de

estabilização, e que são doadores de óxido nítrico (NO) em meios biológicos foi

avaliada. Todos os compostos testados foram citotóxicos in vitro para células

tumorais murinas e humanas. Alguns compostos foram selecionados e

avaliados in vivo, mostrando uma elevada toxicidade em paralelo a uma

atividade antitumoral. No entanto, observou-se que os compostos onde o NO

havia sido substituído por um radical sulfato, utilizados como controles dos

compostos doadores de NO, apresentaram elevada atividade antitumoral e

baixa toxicidade in vivo, retardando o desenvolvimento do tumor subcutâneo e

prolongando a sobrevida dos animais tratados. Os compostos sulfatados

também apresentaram baixa toxicidade ao reduzir o número de nódulos

metastáticos dos animais tratados. Esses compostos também foram citotóxicos

in vitro para células tumorais humanas, e as alterações morfológicas,

externalização de fosfatidilserina, condensação nuclear e degradação de DNA

observados sugerem que os compostos tetraamina rutênio sulfatados levam a

célula tumoral à morte por apoptose.

Ambos os quimioterápicos testados abrem novas possibilidades para o

tratamento do melanoma maligno.

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iii

ABSTRACT

Melanoma is the most aggressive form of skin cancer mainly because of

the high degree of tumor cell proliferation, invasion and metastasis. Less than

10% of metastatic melanoma patients show 5 years survival. Single drug

chemotherapy is well tolerated but associated with low response rates.

Associations of chemotherapeutic agents approved for human use are related

to low response rates, without improvement on side effects. Therefore, the

identification of new antitumor agents is critical to melanoma treatment, and this

study aimed to evaluate the antitumor effect of novel palladium and rutheniun

derived chemotherapeutic drugs in the preclinical model of murine melanoma

B16F10-Nex2.

A cyclopalladated compound, [Pd2(S(-)C2, N-dmpa)2 (µ-dppe)Cl2], named

C7A was previously evaluated by our group. The complex showed high

antitumor and low toxicity in vivo, however, the targets for this compound in

tumor cells were not determined yet. In this work we demonstrated that C7A

interacts with thiol proteins present in the mitochondrial membrane, leading to

an abrupt reduction of extracellular acidification, collapse of mitochondrial

membrane potential and Bax translocation to the interior of this organelle. It was

also observed an increase in intracellular calcium concentrations, originated

from cellular organelles as well as from extracellular medium. These initial

effects caused activation of effector caspases, nuclear condensation, DNA

degradation and dramatic morphological changes in these cells. All these data

suggests that the cyclopalladated 7A induces the intrinsic pathway apoptotic

cell death on B16F10-Nex2 murine melanoma cells. Human tumor cells are

sensitive to this compound and mitochondria also seem to be the target for C7A

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iv

on these cells. Cyclopalladated 7A significantly reduced the number of

pulmonary nodules with no apparent toxicity, indicating that this compound is

also active against metastatic melanoma lesions.

Antitumor activity of several nitrosyl tetraammine ruthenium compounds

with general formula (trans-[RuII(NH3)4(L)NO+], where L corresponds to different

stabilization ligands, were evaluated. These compounds are nitric oxide (NO)

donors in biological media. All tested compounds were cytotoxic in vitro to

human and murine tumor cells. Some compounds were selected and evaluated

in vivo, showing numerous side effects in association with the antitumor effect.

However, it was found that the compounds where the NO was replaced by a

sulfate group, used regularly as a negative control for NO-donor ruthenium

complexes, showed a pronounced antitumor activity and low toxicity in vivo,

delaying subcutaneous tumor development and extending survival of treated

animals. Sulfate compounds also reduced the number of metastatic lung

nodules with no apparent toxicity. These compounds were also cytotoxic for

human tumor cells in vitro, and the morphological alterations,

phosphatidylserine externalization, nuclear condensation and DNA degradation

observed after cell treatment suggested that sulfate tetraamine compounds

induced an apoptotic cell death.

Both evaluated chemotherapeutic drugs open new possibilities for

malignant melanoma treatment.

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1

1.0 INTRODUÇÃO

O presente trabalho concentra-se na avaliação de novos quimioterápicos

com atividade antitumoral no modelo de melanoma murino B16F10-Nex2 in

vivo e in vitro. Foi também analisado o modo de ação destes compostos que

futuramente poderão ser empregados como agentes antitumorais na clínica

médica.

1.1 Origem do Melanoma

O melanoma desenvolve-se a partir da transformação maligna dos

melanócitos. Os melanócitos são células produtoras de melanina, que residem

na camada basal da epiderme na pele humana. Os melanócitos cutâneos

originam-se da alta mobilidade dos progenitores presentes na crista neural, que

migram para a pele durante o desenvolvimento embrionário (Chudnovsky et al,

2005). É possível que a habilidade de rápida metastatização das células de

melanoma seja uma característica semelhante à propriedade de migração dos

melanócitos precursores, antes de alcançar os tecidos epiteliais (Balch et al,

1993).

A homeostase dos melanócitos é regulada por queratinócitos presentes

na epiderme. Em resposta à luz ultravioleta, estes queratinócitos secretam

fatores que regulam a sobrevivência, diferenciação, proliferação e motilidade

desses melanócitos, estimulando estas células a produzir melanina. Portanto

os melanócitos têm a função de proteger a pele contra os danos causados pela

luz ultravioleta (Gray-Schopfer et al, 2007). Existe uma série de fatores de

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2

riscos para o desenvolvimento do melanoma. De acordo com a Organização

Mundial da Saúde, sensibilidade ao sol, pele clara e exposição excessiva são

fatores que predispõem ao desenvolvimento do melanoma. Dessa forma,

medidas preventivas para se evitar a doença devem ser tomadas, tais como,

evitar a exposição prolongada ao sol, principalmente em horários onde a

incidência de radiação ultravioleta (UVB) dos raios solares é maior, além do

uso de equipamentos de proteção, como óculos escuros, chapéu e filtro solar.

1.2 O Melanoma

O melanoma cutâneo pode ser subdividido em vários subtipos,

dependendo de sua localização anatômica e do seu padrão de crescimento.

Clark et al (1978) propuseram um modelo classicamente aceito para a

progressão de melanomas. Os melanócitos de lesões névicas, originados

direta ou indiretamente de melanócitos imaturos, poderiam se converter

progressivamente em melanócitos de nevos displásicos, melanomas de

crescimento radial (invasivo in situ), melanomas de crescimento vertical e

finalmente melanomas metastáticos. Alternativamente, como em todos os

modelos de progressão, melanócitos imaturos poderiam originar ab initio

qualquer uma das formas tumorais propriamente ditas. As lesões névicas são

caracterizadas por serem lesões proliferativas benignas com potencial de

malignidade. Uma vez estabelecido o melanoma primário profundo (fase de

crescimento vertical), subpopulações dessas células têm a capacidade para

causar metástases. Nos indivíduos, estas transformações celulares se

convertem em alguns sintomas característicos. A manifestação da doença na

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3

pele normal se dá a partir do aparecimento de uma pinta escura com bordas

irregulares, acompanhada de coceira e descamação. Em casos de uma lesão

pigmentada pré-existente, ocorre um aumento no tamanho e alteração na

coloração e na forma da lesão que passa a ser assimétrica com bordas

irregulares (Instituto Nacional do Câncer - http://www.inca.gov.br).

1.3 Dados epidemiológicos

A incidência do melanoma está aumentando drasticamente na população

ocidental. Estima-se que 2 a 3 milhões de casos de câncer de pele sejam

diagnosticados no mundo a cada ano, e apesar do melanoma representar

aproximadamente 132.000 destes casos (cerca de 7%), esta é a forma mais

agressiva de câncer de pele, e pode levar o indivíduo à morte (Gray-Schopfer

et al, 2007). De acordo com o Instituto Nacional do Cancer (INCA), foram

relatados no Brasil cerca de 470.000 novos casos de neoplasias em 2008.

Destes, 6.000 eram casos de câncer do tipo melanoma, com taxas de

equivalência entre homens e mulheres (Instituto Nacional do Câncer -

http://www.inca.gov.br).

O prognóstico deste tipo de câncer pode ser considerado bom, se

detectado nos estágios iniciais da doença. Neste caso há a possibilidade de

cura através da intervenção cirúrgica. Cerca de 80% dos casos são tratados

dessa maneira. Nos últimos anos houve uma grande melhora na sobrevida dos

pacientes com melanoma, principalmente devido à detecção precoce do

mesmo. Nos países desenvolvidos a sobrevida média dos pacientes com

detecção precoce da lesão é de 73%, enquanto que em países em

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4

desenvolvimento, a sobrevida média desses pacientes é de 56%. Entretanto,

se detectado apenas nos estágios avançados da doença, o melanoma maligno

metastático é altamente resistente às terapias disponíveis atualmente e possui

um prognóstico ruim, com uma média de sobrevida de apenas 6 meses, e de 5

anos para menos de 5% dos pacientes. Dessa forma, novas estratégias de

tratamento precisam ser urgentemente desenvolvidas (Gray-Schopfer et al,

2007).

1.4 Quimioterapia antitumoral

Atualmente, os maiores problemas associados ao tratamento do

melanoma, bem como da maioria dos cânceres, estão relacionados ao rápido

crescimento tumoral e ao desenvolvimento de metástases. Portanto, a

utilização de drogas que interfiram nestes dois processos é de fundamental

importância clínica (Dua et al, 2007). Diferentes abordagens vêm sendo

desenvolvidas para o tratamento do melanoma, incluindo quimioterapia e

bioquimioterapia, como terapia simples ou ainda em combinação.

A quimioterapia é considerada o tratamento padrão para o melanoma em

estágios mais avançados. Entretanto, o melanoma é considerado um tumor

resistente às quimioterapias. Os quimioterápicos poderiam teoricamente atingir

as células metastáticas, porém os tratamentos atuais não promovem benefício

terapêutico significativo (Soengas & Lowe, 2003). Vários quimioterápicos

podem ser utilizados no tratamento do melanoma (Tabela 1) , e o único

quimioterápico aprovado pelo FDA (Food and Drug Administration, USA) é a

Dacarbazina (DTIC). Este quimioterápico, utilizado como terapia simples

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permite remissão completa em apenas 5 a 10% dos pacientes tratados

(Serrone et al, 2000). Termozolomide, um derivado da dacarbazina mostrou-se

um agente eficaz contra metástases cerebrais, mas não demonstrou aumento

significativo nos índices de sobrevida (Atkins, 2000). Ambos os agentes

promovem alquilação e metilação dos ácidos nucléicos, levando à inibição da

síntese de proteínas e de ácidos nucléicos (Soengas & Lowe, 2003). Outros

compostos que não foram eficazes em estudos randomizados incluem as

nitrosuréias (carmustina, lomunstina) que provocam quebra do DNA da célula

tumoral; taxanos (taxol, docetaxol) e alcalóides da vinca (vincristina,

vimblastina), que agem alterando a divisão celular, motilidade e transporte

intracelular por impedir os mecanismos de despolimerização das proteínas do

microtúbulo no citoesqueleto; e derivados de platina (cisplatina, carboplatina).

Além disso, o melanoma é notavelmente resistente ao tratamento com outros

quimioterápicos considerados padrão, como, por exemplo, doxorubicina (que

age provocando quebra e inibição de síntese do DNA e ainda impede

replicação do DNA) e etoposide (que atua inibindo a enzima topoisomerase II).

Como existem quimioterápicos que, quando usados como terapia

simples, possuem alguma atividade contra o melanoma, existe a possibilidade

de se combinar dois ou mais quimioterápicos para se alcançar uma resposta

antitumoral mais expressiva. No entanto, mesmo a combinação de dois ou

mais quimioterápicos não promoveu um aumento significativo da sobrevida.

Estudos recentes sugerem que a associação de sorafenib (um inibidor de

tirosina quinase com atividade no receptor de VEGF e BRAF) e dacarbazina,

droga padrão utilizada no tratamento do melanoma, pode dobrar as taxas de

resposta, no entanto não aumenta a sobrevida dos pacientes. Tem sido

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sugerido que essas duas drogas possam ainda ser combinadas com novas e

efetivas drogas quimioterápicas, desenvolvendo um protocolo terapêutico que

leve a um aumento real na sobrevida total dos pacientes tratados.

Combinações de quimioterápicos têm sido utilizadas com sucesso no aumento

da sobrevida de outros tumores sólidos como, por exemplo, no carcinoma de

cólon, que atualmente utiliza a associação de fluorouracil (5FU) e leucovorin

(Yang & Chapman, 2009).

As células tumorais podem responder aos tratamentos com

quimioterápicos de diversas formas. Kerr et al (1972) foram os primeiros a

descrever alterações morfológicas, como formações de blebbing na membrana,

condensação de cromatina e fragmentação nuclear, após tratamento com

compostos que levam as células tumorais à morte. Estas características foram

posteriormente descritas como indicativas de uma morte celular por apoptose.

Atualmente, está bastante claro que apoptose é um, e não o único, dos eventos

que contribuem para o efeito dos quimioterápicos convencionais (Johnstone et

al, 2002). Proteínas que controlam o processo apoptótico mostram-se alvos

promissores para diversos tipos de tumores, incluindo o melanoma (Reed,

2001a).

Sabe-se que o melanoma é extremamente resistente a agentes

quimioterápicos, e os mecanismos de resistência variam de acordo com o

quimioterápico avaliado (Zigler et al, 2008). Os mecanismos de escape e

resistência à quimioterápicos podem ser devidos à desregulação na via de

apoptose das células tumorais, dano nas proteínas que controlam o ciclo

celular e no reparo do DNA (La Porta, 2007). Soengas e Lowe (2003) postulam

que uma explicação simples para as células de melanoma serem tão eficientes

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no controle das vias de apoptose e sobrevivência celular não se dá apenas

pela ação da própria célula tumoral, mas também por mecanismos oriundos

das células vizinhas presentes no estroma e no microambiente tumoral. A

produção de produtos inesperados e eventos autócrinos e/ou parácrinos

contribuem bastante para os eventos de resistência aos quimioterápicos.

Tabela 1: Quimioterápicos utilizados no tratamento do melanoma. (Yang &

Chapman, 2009; Soengas & Lowe, 2003)

NitrosuréiasCarmustinaLomustinaSemustina

Alquilação de ácidos nucléicos e proteínasQuebra do DNA

TriazenosDacarbazinaTemozolomida

Alquilação e metilação de ácido nucléicosInibição da síntese de ácidos nucléicos e

proteínas

AntibióticosDoxorubicina

Quebra do DNAInibição da replicação do DNA e RNA

Alcalóides da VincaVincristinaVimblastina

Alterações na divisão celular e motilidadeAlterações no transporte intracelular

TaxanosTaxol

PaclitaxelDocetaxol

Alterações na divisão celular e motilidadeAlterações no transporte intracelular

Drogas de PlatinaCisplatina

Carboplatina

Mudanças na estrutura do DNAInibição na síntese de DNA e RNA

NitrosuréiasCarmustinaLomustinaSemustina

Alquilação de ácidos nucléicos e proteínasQuebra do DNA

TriazenosDacarbazinaTemozolomida

Alquilação e metilação de ácido nucléicosInibição da síntese de ácidos nucléicos e

proteínas

AntibióticosDoxorubicina

Quebra do DNAInibição da replicação do DNA e RNA

Alcalóides da VincaVincristinaVimblastina

Alterações na divisão celular e motilidadeAlterações no transporte intracelular

TaxanosTaxol

PaclitaxelDocetaxol

Alterações na divisão celular e motilidadeAlterações no transporte intracelular

Drogas de PlatinaCisplatina

Carboplatina

Mudanças na estrutura do DNAInibição na síntese de DNA e RNA

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1.5 Compostos de coordenação

Para um futuro imediato, a combinação de modalidades terapêuticas,

como cirurgia, radioterapia e quimioterapia é a melhor escolha para o

tratamento das neoplasias. Entretanto, para que avanços terapêuticos sejam

alcançados é necessária a descoberta de quimioterápicos mais efetivos. A

maioria dos novos compostos estudados é de origem inorgânica ou produtos

naturais, incluindo antibióticos, agentes alquilantes, alcalóides, enzimas e

hormônios. A alta reatividade dos compostos metálicos é a razão pela qual

estes compostos tem sido frequentemente usados como agentes diagnósticos

ou terapêuticos (Bonati et al, 2006; Clarke, 2003, Galanski et al, 2003). O

sucesso limitado da pesquisa com agentes antitumorais derivados de metais

pode ter sido causado pela falta de diversidade estrutural dos compostos

avaliados em ensaios clínicos, que na sua maioria são derivados do

quimioterápico Cisplatina, o primeiro agente quimioterápico a ser descrito

(Matesanz & Souza, 2007).

A aplicação de quimioterápicos contendo átomos de metais no

tratamento do câncer teve seu início em 1969, quando Rosenberg,

acidentalmente, descobriu que a eletrólise de um eletrodo de platina gerou

vários compostos que inibiram a fissão binária da bactéria Escherichia coli, que

cresceu cerca de 300 vezes seu tamanho normal sem divisões celulares. Ao

testar esses compostos em um modelo de sarcoma inoculado em ratos,

observou que o composto mais ativo foi a cis-platina (cis-Pt(NH3)2Cl2)

(Rosenberg et al, 1969). Esta descoberta abriu perspectivas para uma nova

classe de agentes antitumorais denominados de complexos inorgânicos de

coordenação.

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1.5.1 Compostos de Platina

A Cisplatina [Pt(NH3)2Cl2] é um dos agentes antitumorais mais utilizados

no mundo. É um agente efetivo no tratamento de vários tipos de câncer,

especialmente no tratamento de tumores testiculares, como uma taxa de cura

de 90% (Zhang & Lippard, 2003). No tratamento do melanoma, a Cisplatina

como agente único tem atividade que varia de 10 a 20% (Chapman & Yang,

2009). A Cisplatina entra na célula por difusão passiva (Ziegler et al, 1999) e

também através de transporte ativo mediado por receptor (Ishida et al, 2002). A

citotoxicidade da Cisplatina inicia-se pela ligação da droga ao DNA e formação

de adutos de platina. A interação da Cisplatina com o DNA causa uma

distorção significativa da sua estrutura helicoidal, resultando em inibição da

replicação, transcrição e reparo desse DNA (Ziegler et al, 1999). A Cisplatina

induz a apoptose por aumentar a atividade da caspase-8, aumentar a

expressão de p53, quebra de Bid para sua forma truncada, ativação e

translocação mitocondrial de Bax, indução de permeabilidade da mitocôndria,

liberação de citocromo C no citosol, ativação da caspase-9 e consequente

entrada na fase de execução da apoptose. Está também envolvida na

degradação proteolítica da procaspase-3 e ativação da caspase-3, redução de

Bcl-2 e aumento de Bcl-xL, todos esses fatores levando a célula a um processo

de morte por apoptose (Henkels et al, 1999). Curiosamente, a ativação das

duas vias de apoptose, extrínseca e intrínseca, são também responsáveis

pelos efeitos tóxicos do quimioterápico (Florea et al, 2009). Há evidências que

a ligação da cisplatina com alvos diferentes do DNA pode contribuir com o

mecanismo de ação do composto (Fuertesa et al, 2003; Cepeda et al, 2007).

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O sucesso clínico da Cisplatina é limitado pela grande quantidade de

efeitos colaterais e pela rápida indução de células tumorais resistentes ao

quimioterápico. Para contornar esses problemas, novos compostos derivados

de platina foram desenvolvidos para que apresentassem uma melhora no

desempenho farmacológico e um grande espectro de atividade antitumoral.

Vários compostos de platina foram aprovados para uso na terapêutica

antitumoral, como por exemplo, carboplatina, oxaliplatina, nedaplatina e

lobaplatina, todavia, estes novos complexos não demonstraram vantagens com

relação à Cisplatina, principalmente com relação aos efeitos de toxicidade

gastrointestinal e hematológicos induzidos (Zhang & Lippard, 2003). A

resistência das células à Cisplatina e seus análogos está associada a um

aumento na atividade do sistema de reparo do DNA e também com a captura e

inativação do composto por componentes macromoleculares do sangue e/ou

tiol-proteínas que atuam como redutoras, podendo modular a sensibilidade das

células ao quimioterápico (Timerbaev et al, 2006). Mais importante, somente

um número limitado de tumores podem ser tratados com quimioterápicos

contendo platina (Galanski et al, 2005).

Estas desvantagens, sem soluções aparentes, com relação aos

complexos de platina estimulam a pesquisa de novos compostos coordenados

com outros íons metálicos, diferentes da platina. Embora poucos compostos

com metais diferentes da platina tenham sido aprovados para uso como

agentes quimioterápicos antitumorais, existe um considerável progresso no

desenvolvimento destes agentes (Ott & Gust, 2007). Até o momento, apenas o

composto trióxido de arsênico (ATO) foi aprovado para o uso na clínica. Este

composto, relativamente antigo proveniente da medicina chinesa, foi

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redescoberto e demonstra uma completa remissão em pacientes com leucemia

promielocítica aguda (Soignet et al, 1998). O uso deste composto foi aprovado

pelo FDA (Food and Drug Administratrion, USA) em 2000, para o tratamento da

leucemia, mieloma e para pacientes com alto risco de desenvolver

neuroblastoma (Bahlis et al, 2002; Munshi et al, 2001). Este composto, em

baixas concentrações, causa inativação da proteína de fusão oncogênica PML-

RARα, enquanto que em altas concentrações induz as células ao processo

apoptótico, causando quebra no DNA e estresse oxidativo (Dilda & Hogg,

2007).

Complexos de titânio, gálio e rutênio estão sendo preparados e testados,

sendo que alguns deles já estão em ensaios clínicos de fase II e III (Alama et

al, 2009). Em fase pré-clínica estão complexos de ferro, cobalto, ouro e

paládio, que demonstram uma promissora atividade antitumoral, mas também

complexos de outros metais estão em avaliação, como bismuto, antimônio,

estanho, vanádio, rádio e cério (Ott & Gust, 2007).

1.6 Exemplos de compostos metálicos em ensaios pré- clínicos:

1.6.1 Complexos de Ferro

Os primeiros complexos de ferro que mostraram alguma atividade

antitumoral foram os sais de ferroceno, picrato e tricloroacetato, com o íon ferro

em estado de oxidação +III (Köpf-Maier et al, 1984). Estes compostos

apresentaram atividade antiproliferativa in vitro, e in vivo no modelo utilizando

animais desenvolvendo tumor de Ehrlich, observando-se uma redução de 48%

no tamanho dos tumores subcutâneos dos animais tratados com o composto

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(Köpf-Maier, 1985) A atividade citotóxica destes compostos não é baseada na

ligação direta com o DNA, e sim à capacidade de formar espécies reativas de

oxigênio, que acarreta em dano ao DNA (Ott & Gust, 2007).

Mais recentemente, outros compostos contendo ferro foram sintetizados

e testados, mostrando efeito apoptótico ou antiproliferativo in vitro, como por

exemplo, um derivado ferroceno do tamoxifeno (Ott & Gust, 2007).

1.6.2 Compostos de Ouro

Compostos contendo átomos de ouro são bastante conhecidos devido a

sua aplicação clínica no tratamento da artrite reumatóide, sendo também

agentes antitumorais. Complexos de ouro mostram um enorme espectro de

atividade antitumoral in vitro, especialmente em linhagens tumorais resistentes

à cisplatina. Estudos demonstram que, ao contrário da cisplatina, o DNA não é

o primeiro alvo destes compostos. A sua citotoxicidade é mediada pela

capacidade de alterar as funções mitocondriais e inibir a síntese de proteínas

(McKeage, 2002). Pillarsetty e colaboradores (2003) relataram a atividade de

um complexo de ouro (I), sobre células de carcinoma de cólon humano. Neste

caso houve um prolongamento na fase G1 do ciclo celular. Complexos de ouro

(III) são candidatos promissores como agentes antitumorais. Ensaios de

citotoxicidade in vitro demonstram intensa atividade antiproliferativa em

linhagens celulares humanas de gliobastoma (Ott & Gust, 2007).

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1.6.3 Compostos de Paládio

Antes dos estudos desenvolvidos por Khan et al (1991), os compostos

de paládio possuíam pouca ou nenhuma aplicação como agentes antitumorais,

devido a sua extrema instabilidade em fluidos biológicos. Entretanto,

complexos ciclopaladados são mais estáveis, além de menos tóxicos,

sugerindo que podem ter uma atividade antitumoral mais específica in vivo

(Navarro-Ranninger et al, 1993). A atividade citotóxica de diversos compostos

ciclopaladados foi testada in vitro contra várias linhagens tumorais humanas, e

os resultados mostraram que a maioria desses complexos são mais eficientes

que a cisplatina, carboplatina e oxaliplatina, levando as células a um processo

de morte por apoptose (Caires, 2007)

Em colaboração com o Prof. Antonio Carlos Favero Caires, da

Universidade de Mogi das Cruzes, foram sintetizados diversos compostos

ciclopaladados. Esses complexos ciclopaladados foram obtidos a partir dos

agentes de ciclometalação N, N-dimethyl-1-phenethylamine (dmpa), phenyl-2-

pyridinyl-acetylene e 1-phenyl-3-N,N-dimethylamine-propine, que foram

complexados ao ligante bifosfínico dppe [1, 2 ethanebis (diphenylphosphine)]

(Rodrigues et al, 2003).

Os compostos foram testados in vitro e in vivo no modelo de melanoma

murino B16F10-Nex2, com o objetivo de avaliar uma possível atividade

antitumoral. A sublinhagem de melanoma murino B16F10-Nex2 é pouco

imunogênica e possui a capacidade de desenvolver-se in vivo tanto como um

tumor subcutâneo ou ainda como nódulos metastáticos pulmonares, quando

administrado intravenosamente.

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De acordo com o esperado, os compostos ciclopaladados sintetizados

foram mais estáveis em ambientes biológicos, permitindo a utilização de doses

baixas, reduzindo a toxicidade. Três dos compostos sintetizados apresentaram

atividade citotóxica in vitro com baixas doses, menores que 1,25 µM.

Entretanto, uma resposta efetiva contra o tumor in vivo depende de

vários parâmetros, incluindo metabolismo e clearance da droga, concentração

plasmática e acesso às células tumorais. Características estruturais dos

compostos podem afetar drasticamente as suas propriedades antitumorais.

Quando testados in vivo, apenas o complexo [Pd2(C2,N-S(-)(dmpa)2(µ-dppe)Cl2]

(Figura 1) , denominado 7A, (mas não o seu estereoisômero

[Pd2(C2,N-R(-)(dmpa)2(µ-dppe)Cl2]), provocou um retardo no desenvolvimento

do tumor, aumentando significativamente a sobrevida dos animais tratados

(Rodrigues et al, 2003).

O complexo 7A causou degradação de DNA, mas não aumentou os

níveis das caspases 1 e 3, sugerindo a indução de um processo apoptótico

caspase-independente in vitro. Principalmente, o complexo demonstrou efeito

no metabolismo respiratório da célula, causando um colapso no gradiente de

prótons mitocondrial, como demonstrado por uma abrupta e total redução na

acidificação extracelular em tempo curto de incubação, cerca de 100 minutos

(Rodrigues et al, 2003). Mais importante, não foi observada toxicidade em

camundongos inoculados com doses crescentes do complexo, chegando a

240ng/kg, dose 6 vezes maior que a dose terapêutica utilizada (40ng/kg).

Esses resultados introduziram os complexos ciclopaladados-dppe como

promissores quimioterápicos antitumorais, com elevada especificidade

estrutural para sua ação in vivo.

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Outro complexo ciclopaladado, derivado do N,N-dimethyl-1-

phenethylamine e o ligante de coordenação 1,1’-bis(diphenylphosphine)

ferrocene, apresentou atividade antitumoral in vitro contra células leucêmicas

humanas. O complexo [Pd2(C2,N-S(-)(dmpa)(dppf)Cl2] mostrou-se um potente

inibidor reversível da atividade da Catepsina B (Bincoletto et al, 2005), (Figura

1). Ratos inoculados subcutaneamente com tumor de Walker e tratados com

uma dose do composto tiveram 90% do crescimento tumoral inibido. Por outro

lado, esse complexo ciclopaladado não protegeu ratos desenvolvendo ascites

após inoculação do tumor de Erlich, embora tenha apresentado baixa

toxicidade (Bincoletto et al, 2005). O complexo ciclopaladado-dppf induziu

apoptose em linhagem celular de leucemia humana (HL60) por uma via não-

clássica (Bincoletto et al 2005), e quando foi testado em células de leucemia

K562, foi sugerido uma via de apoptose dependente da permeabilização da

membrana de lisossomos, sendo essa organela o alvo inicial da droga e a

catepsina B liberada no citoplasma atuaria como mediador do processo de

morte celular (Barbosa et al, 2006). Esses resultados introduziram o complexo

ciclopaladado-dppf como um novo agente antitumoral.

Curiosamente, esse ciclopaladado não apresentou efeito in vivo contra o

melanoma murino B16F10-Nex2, embora tenha apresentado efeito citotóxico in

vitro contra essa linhagem tumoral.

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Figura 1: Representação esquemática dos compostos ciclopaladados. (A)

Ciclopaladado 7A, com atividade antitumoral in vitro e in vivo contra o

melanoma murino B16F10-Nex2. (B) BCP, com atividade in vitro contra células

leucêmicas humanas e inibitória sobre Catepsina B.

1.7 Exemplos de composto metálicos em ensaios clíni cos:

1.7.1 Compostos de Gálio

Toxicidade e atividade antitumoral dos sais de gálio foram descritas no

início da década de 70 (Hart & Adamson, 1971), e desde então, várias outras

propriedades biológicas vêm sendo relatadas. O mecanismo de ação do gálio

está relacionado à inibição da enzima ribonucleotídeo redutase, que catalisa a

conversão entre ribonucleotídeos e desoxirribonucleotídeos (Louie &

Meade,1999). Assim como o Fe(II), o gálio também é transportado pela

transferrina e é encontrado principalmente nos lisossomos das células. Dessa

forma, a toxicidade do gálio eleva-se bastante devido ao aumento do transporte

através da transferrina (Collery et al, 2002). Além de ser bastante eficiente nas

[Pd2(C2,N-S(-)(dmpa)2(µ-dppe)Cl2][Pd2(C2,N-S(-)(dmpa)2(µ-dppe)Cl2]

A B

[Pd2(C2,N-S(-)(dmpa)2(µ-dppf)Cl2][Pd2(C2,N-S(-)(dmpa)2(µ-dppf)Cl2]

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fases de crescimento exponencial dos tumores, estes compostos também

apresentam atividade nas fases estacionárias do crescimento tumoral e este

efeito depende exclusivamente do tempo de exposição das células tumorais

aos quimioterápicos (Collery et al, 2002; Rasey et al, 1982).

Ensaios clínicos de fases I e II estão sendo realizados utilizando nitrato e

maltolato de gálio. Nitrato de gálio, quando administrado intravenosamente,

não foi efetivo no tratamento de diversos tipos de câncer, entre eles melanoma

e câncer de mama. Mas em estudo de fase II para o tratamento de carcinoma

urotelial metastático utilizando uma combinação de nitrato de gálio, vimblastina

e ifosfamida, observou-se uma resposta antitumoral em 67% dos pacientes.

Entretanto, efeitos colaterais bastante acentuados foram relatados e os

pacientes ficaram protegidos em média por apenas vinte semanas (Einhorn et

al, 1994).

O complexo gálio 8-quinolinolato (KP46), em estudo de fase I,

demonstrou atividade antitumoral em carcinoma de células renais; uma

resposta parcial foi observada em um paciente, enquanto que dois pacientes

mantiveram a doença estabilizada por 11 meses (Hofheinz et al, 2005).

1.7.2 Compostos de Rutênio

Alternativamente aos compostos de platina e paládio, uma nova classe

de quimioterápicos, complexos de rutênio, vem sendo testada com sucesso,

contra diferentes tipos de tumores desde a década de 1970 (Ott & Gust, 2007).

Estes compostos apresentem menor citotoxicidade comparados à cisplatina,

são bem tolerados in vivo e podem ser uma alternativa na quimioterapia do

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câncer, substituindo ou em associação aos tradicionais compostos de platina

(Kostova, 2006).

Complexos de Ru (III) mantém o estado de oxidação do metal até

alcançar o tumor, onde a baixa concentração de oxigênio permite a ativação

pela redução para Ru (II). Estudos demonstram que a atividade antitumoral

destes compostos depende exclusivamente deste processo de redução

(Clarke, 2003), que in vivo pode ser induzido por glutationa ou outros agentes

redutores presentes nos tecidos (Ott & Gust, 2007). A atividade antitumoral dos

complexos de rutênio envolve interação com o DNA, mas outros mecanismos

adicionais também são possíveis. A forte capacidade de ligação com a

albumina e transferrina influencia muito a biodistribuição destes compostos.

Uma importante característica destes compostos é a capacidade de inibir o

processo angiogênico e metaloproteases presentes na matriz,

consequentemente interferindo na formação de metástases in vivo (Alama et al,

2009).

Entre os diversos complexos de rutênio (III) que estão sendo testados

em ensaios clínicos, os mais promissores são os compostos KP1019 (trans-

[tetrachlorobis(1H-indazole)ruthenate(III)] e NAMI-A, abreviatura do nome New

Anti-tumour Metastasis Inhibitor –A, [(ImH)trans-Ru(Im)(Me2SO)Cl4).

KP1019 apresenta efeitos inibitórios na proliferação celular in vitro e,

quando é internalizado nas células, induz apoptose predominantemente por

ativação do processo apoptótico através da via intrínseca mitocondrial,

causando estresse oxidativo e dano ao DNA. A captação do KP1019 pelas

células é mediada por mecanismos dependentes ou independentes da

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transferrina (Piccioli et al, 2004). Após incubação das células com este agente,

55% do rutênio intracelular é encontrado na região do núcleo da célula. Este

valor é significativamente elevado, se compararmos com a cisplatina, um outro

composto de metal, onde apenas 10% do metal intracelular é encontrado no

núcleo das células (Heffeter et al, 2004). Resultados promissores em ensaios

clínicos de fase I são demonstrados utilizando este composto. Cinco de seis

pacientes com tumores sólidos, submetidos a este quimioterápico

permaneceram com a doença estabilizada. Apenas alguns efeitos colaterais

foram observados (Clarke, 2003).

O complexo de rutênio NAMI-A pertence a uma classe de compostos de

rutênio sintetizados com o objetivo de, seletivamente, atingir a massa de um

tumor sólido e somente ser ativado no microambiente tumoral, reduzindo a

toxicidade para os tecidos normais. Quando foi testado sobre linhagens

tumorais in vitro, mostrou-se pouco efetivo. Apesar desta baixa atividade in

vitro, NAMI-A apresenta atividade antitumoral bastante significativa in vivo

(Pluim et al, 2004). Em estudo clínico de fase I, observou-se que a infusão de

NAMI-A (300mg/dia; cinco dias durante três semanas) mostrou-se segura para

24 pacientes com câncer de pequenas células progressivo de pulmão, sendo

que um paciente permaneceu estável por 21 semanas (Rademaker-Lakhai et

al, 2004). Este efeito antitumoral é atribuído a propriedades anti-metastáticas

deste agente, que in vivo, demonstra efeito antiangiogênico pela inibição do

fator de crescimento para células endoteliais (VEGF), que pode ser resultado

da inativação do óxido nítrico (Vacca et al, 2002).

Em colaboração com o Dr Douglas Wagner Franco, da Universidade de

São Paulo – Campus São Carlos, foram testados in vitro e in vivo vários

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compostos nitrosil-tetraamina rutênio, sendo que a particularidade destes

compostos é a capacidade de serem doadores de óxido nítrico. Compostos

capazes de liberar óxido nítrico podem ter uma grande aplicação e serem úteis

no estudo da ação fisiológica do óxido nítrico em diversos sistemas (Oliveira et

al, 2007).

A descoberta de diversas funções biológicas para o óxido nítrico (NO)

tem estimulado e facilitado o desenvolvimento de alvos farmacêuticos.

Processos biológicos mediados pelo óxido nítrico incluem neurotransmissão,

regulação da pressão sanguínea e respostas imnunológicas. Além disso, o

óxido nítrico é um excelente ligante para íons metálicos. Como conseqüência,

complexos de metais nitrosilados demonstram grande valor terapêutico (Zang

& Lippard, 2003).

O óxido nítrico pode ter ações dicotômicas durante o desenvolvimento

de diferentes tumores. Em alguns modelos o óxido nítrico tem efeito

antineoplásico (inibindo metástases, e levando as células tumorais ao processo

de apoptose) ou pode ter efeito pró-neoplásico (causando progressão, invasão

e angiogênese). Acredita-se que os efeitos biológicos mostrados pelos

doadores de NO dependem da meia-vida da droga utilizada e do tipo celular

exposto ao composto (Huerta et al, 2008).

A diversidade de efeitos biológicos do óxido nítrico tem estimulado

estudos para compreensão de sua interação com complexos de metais de

transição para a síntese compostos que funcionariam como liberadores de NO,

e uma melhor compreensão nos mecanismos associados com a formação e

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dissociação dos complexos nitrosil levará à síntese de compostos mais efetivos

em condições biológicas (Zanichelli et al, 2007).

A fórmula geral dos compostos nitrosil-tetraamina rutênio testados é

[RuII(NO+)(NH3)4L]3+ (Figura 2 ), onde L corresponde a diferentes ligantes, que

determinam a velocidade de liberação do NO em meio aquoso (Toledo et al,

2005). Esses compostos apresentam baixa toxicidade, alta solubilidade e

estabilidade em água/meios aquosos na presença de oxigênio, e são ativados

para a liberação do NO por agentes redutores presentes em meios biológicos

(Zanichelli et al, 2006). Dois dos complexos de rutênio doadores de NO, trans-

[Ru(NO)(NH3)4isn](BF4)3 e trans-[Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3, apresentaram

efeitos anti-proliferativos e tripanocidas contra o parasita Trypanosoma cruzi,

protegendo 80% dos animais tratados, e esses efeitos foram dependentes do

NO liberado (Silva et al, 2007). Os compostos eliminaram também formas

amastigotas do parasita de ninhos formados no miocárdio, e observou-se que a

diferença entre a dose efetiva 50% (ED50) e a dose letal 50% (LD50), calculadas

para camundongos Balb/c para ambos os complexos, foi bastante elevada

(Silva et al, 2009).

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Figura 2: Representação esquemática dos compostos de Rutênio. A. Fórmula

geral do composto doador de óxido nítrico [RuII(NO+)(NH3)4L]3+; B. Estrutura

dos ligantes.

NN

Imidazol (imN)

L

NONONONOA

B

N

Pyridina (Py)

N

CH3

4-Picolina (4-Pic)

N

NH2 O

Isonicotinamida (isN)

N

NH2

O

Nicotinamida (Nic)

N

NNH2

O

OH

L-histidina (L-his)

NN

Imidazol (imN)

L

NONONONOA

B

N

Pyridina (Py)

N

CH3

4-Picolina (4-Pic)

N

NH2 O

Isonicotinamida (isN)

N

NH2

O

Nicotinamida (Nic)

NN

Imidazol (imN)

NN

Imidazol (imN)

L

NONONONOA

B

N

Pyridina (Py)

N

CH3

4-Picolina (4-Pic)

N

NH2 O

Isonicotinamida (isN)

N

NH2

O

Nicotinamida (Nic)

L

NONONONO

L

NONONONOA

B

N

Pyridina (Py)

N

Pyridina (Py)

N

CH3

4-Picolina (4-Pic)

N

CH3

4-Picolina (4-Pic)

N

NH2 O

Isonicotinamida (isN)

N

NH2 O

Isonicotinamida (isN)

N

NH2

O

Nicotinamida (Nic)

N

NH2

O

Nicotinamida (Nic)

N

NNH2

O

OH

L-histidina (L-his)

N

NNH2

O

OH

L-histidina (L-his)

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1.8 Apoptose

Nos últimos anos tem ficado claro que existem várias modalidades de

morte celular, tais como apoptose, entosis, catásfrofe mitótica, necrose,

necroapoptose e piroapoptose. De acordo com um Comitê específico formado

para estudos em morte celular, o Nomenclature Comitee on Cell Death (NCCD,

Kroemer et al 2009), regras foram estabelecidas para a correta denominação

da morte celular, e vários fatores devem ser analisados para a correta

classificação da mesma.

O processo de apoptose é largamente caracterizado por uma resposta

antiproliferativa aos agentes quimioterápicos e, portanto é o modelo prevalente

para se explicar o sucesso da maioria das terapias antitumorais (Portugal et al,

2009).

Apoptose é o processo de morte celular programada mais bem definido.

Este mecanismo de “suicídio celular” programado é essencial para o

desenvolvimento embrionário, funções do sistema imune e manutenção da

homeostase em organismos multicelulares (Jacobson et al, 1997). A

desregulação da apoptose está implicada em várias condições patológicas,

incluindo doenças neurodegenerativas, autoimunidade e câncer (Okada & Mak,

2004). Esse mecanismo de morte celular é mediado por uma família de cisteíno

proteases conhecida como caspases (Alnemri et al, 1996). As caspases estão

presentes em sua forma inativa em células saudáveis, na forma de enzimas

precursoras, com pouca ou nenhuma atividade proteolítica. Entretanto, um

estímulo apoptótico pode induzir ativação de caspases (Creagh et al, 2003)

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Existem duas vias apoptóticas que podem ser iniciadas pela ativação das

caspases: uma via extrínseca, mediada por receptores presentes na superfície

celular, e uma via intrínseca, onde eventos extra e intracelulares induzem

alterações mitocondriais que culminam no processo de morte celular (Figura

3).

Figura 3: Esquema das vias de apoptose. Taylor CR. et al, 2008

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1.8.1 Apoptose mediada pela Via Extrínseca

A morte celular induzida através da ativação da via extrínseca ocorre

pela interação de um ligante a um receptor específico, localizado na membrana

celular. Procaspases são convertidas em caspases ativas após a ativação

desses receptores pelos seus respectivos ligantes (Van Cruchten & Broeck,

2002). Os ligantes mais bem conhecidos são o ligante de Fas e o Fator de

Necrose Tumoral α (TNFα) (Saikumar et al, 1999). O Fas ligante interage com

um receptor Fas, enquanto que TNFα liga-se ao TNFR1. Ambos os receptores

apresentam um domínio citoplasmático responsável pela transdução do sinal

de apoptose. Este domínio citoplasmático é também conhecido como “domínio

de morte” (death domain ou DD) (Boldin et al, 1995). O acoplamento do

receptor de morte com seus respectivos ligantes provoca o recrutamento de

proteínas adaptadoras, FADD e TRADD. Este recrutamento provoca o acúmulo

de várias moléculas de caspase-8, promovendo assim o seu

autoprocessamento e ativação (Taylor et al, 2008). TRADD medeia a apoptose

através da ligação com FADD, portanto, eventualmente ambas Fas e TNFR1

utilizam FADD para transdução do sinal de morte celular. A transdução do sinal

mediada pelos dois receptores acontece via caspase-8 (Enari et al, 1995).

Procaspase-8 liga-se ao o domínio de morte FADD e torna-se ativada em

caspase-8. TRADD ativa caspase-8 indiretamente, através da associação com

o FADD. A ativação das caspase-8 efetora é essencial para as alterações

morfológicas típicas do processo apoptótico (Shiokawa et al, 1997).

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1.8.2 Apoptose mediada pela Via Intrínseca

A apoptose mediada por receptores não é o único mecanismo de morte

celular programada. Alguns agentes citotóxicos e radiação causam apoptose

por uma via que envolve a mitocôndria e, mais especificamente, a proteína

mitocondrial Citocromo C (Van Cruchten & Broeck, 2002). A ativação do

processo apoptótico desencadeado por alterações mitocondriais é conhecido

como morte celular através da via intrínseca.

As barreiras para indução de apoptose dependem da integridade das

membranas mitocondriais, responsáveis por manter isolada uma grande

variedade de proteínas apoptóticas na sua forma ativa, confinadas no espaço

inter-membranar mitocondrial (Armstrong, 2006). O estímulo apoptótico induz

aumento da permeabilidade mitocondrial, permitindo liberação de agentes

proapoptóticos (tais como Citocromo C) no citosol. O Citocromo C liga-se à

proteína Apaf-1, recrutando e ativando caspase-9, formando assim o complexo

apoptossomo (Li &Yuan, 2008). Uma vez que o Citocromo C liberado, a

cascata de ativação de caspases torna-se irreversível (Goldstein et al, 2000). O

complexo apoptossomo e caspase-9 ativam a caspase 3 e/ou caspases 6 e 7,

desencadeando eventos proteolíticos que culminam em uma desintegração

celular coordenada (Acehan et al, 2002). Portanto as caspases 3, 6 e 7 são

consideradas caspases executoras do processo apoptótico, enquanto que

caspase-9 age apenas como um regulador do processo (Green & Kroemer,

1998).

Alterações mitocondriais, como a estimulação para a produção de

espécies reativas de oxigênio, inibição do metabolismo respiratório e

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consequente diminuição dos índices de ATP, perda do potencial de membrana

e liberação de agentes proapoptóticos são eventos envolvidos no processo de

morte celular (Bras et al, 2005). Portanto, podemos afirmar que

permeabilização da membrana mitocondrial é um fator crucial para a indução

do processo apoptótico pela via intrínseca.

A permeabilização da membrana mitocondrial resulta em dissipação no

potencial de membrana, um parâmetro indispensável para as funções

essenciais desta organela, tais como, transporte de íons, biogênese e

produção de energia (Gordon et al, 2000; Smaili et al, 2000). Este evento de

permeabilização da membrana mitocondrial é regulado por genes pertencentes

à família Bcl-2 (Yip & Reed, 2008). A família consiste em proteínas

antiapoptóticas do grupo Bcl-2 e proteínas proapoptóticas do grupo Bax e

proteínas da família BH3 (Danial, 2007).

As proteínas antiapoptóticas da família Bcl-2, tais como Bcl2 e Bcl-XL

seqüestram as proteínas com domínio BH3 impedindo assim a formação de um

complexo proapoptótico (Li & Yuan, 2008). O grupo das proteínas

proapotóticas inclui a proteína Bax e Bak. Bak está associada

constitutivamente à mitocôndria. Já a proteína Bax está localizada

predominantemente no compartimento citoplasmático na sua forma

monomérica, em células viáveis (Carvalho et al, 2004). Após algum estímulo

apoptótico, uma fração significante desta proteína forma dímeros e se transloca

para a membrana mitocondrial (Wolker et al, 1997). A translocação de Bax para

a mitocôndria está associada com liberação de Citocromo C e colapso no

potencial de membrana mitocondrial (Smaili et al, 2001).

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Estudos demonstram que a proteína Bax e outros membros

proapoptóticos da família Bcl-2 podem modular os estoques de cálcio no

retículo endoplasmático e também causar alterações no conteúdo de cálcio na

matriz mitocondrial (Nutt et al, 2001; Pan et al, 2000). Além disso, a integridade

da membrana mitocondrial é alterada pela captação excessiva de cálcio

(Andreyev et al, 1998). Bax e outra proteína, Bak, podem translocar para o

retículo endoplasmático, depletando cálcio e ativando caspase-12 (Zong et al,

2003). Entretanto, ainda são necessários estudos mais avançados para

entender a função de Bax e outras proteínas proapoptóticas no retículo

endoplasmático, interação mitocondrial e redistribuição do cálcio entre estas

organelas durante o processo apoptótico (Carvalho et al, 2004).

Alterações no cálcio citosólico podem ocasionar a apoptose. Algumas

dessas alterações incluem mudanças na captação do cálcio pelas mitocôndrias

promovido por estímulos apoptóticos, a qual aumenta a probabilidade de

ativação do poro de transição de permeabilidade. Depleção dos estoques de

cálcio intracelular também está relacionada com indução de apoptose, já que

uma diminuição nas concentrações de cálcio provocado pelo aumento da

captação deste íon pelas mitocôndrias determina a quantidade de liberação de

Citocromo C (Gogvadze et al, 2008) e apoptose (Pinton et al, 2001).

1.8.3 Alterações celulares causadas pelo estímulo a poptótico

Além das diferentes alterações bioquímicas e moleculares que uma

célula sofre ao receber determinado estímulo apoptótico, existem também

algumas características que definem uma célula em processo de morte celular

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por apoptose. Estas características baseiam-se em alterações da estrutura

celular levando às alterações clássicas do processo de morte induzido por

apoptose.

Após a ativação das caspases, estas têm a capacidade de clivar

constituintes do citoesqueleto celular. Estes substratos incluem microfilamentos

de actina como, por exemplo, a própria actina, e proteínas associadas à actina,

tais como, miosina, espectrina, α-actinina, gelsolina e filamina (Browne et al,

2000). Algumas proteínas de microtúbulos também são substrato para as

caspases, incluindo tubulinas e proteínas associadas aos microtúbulos (Adrain

et al, 2006). Proteínas dos filamentos intermediários também são afetadas (Ku

et al, 1997). A proteólise dos constituintes do citoesqueleto provavelmente

contribui para o arredondamento e retração da célula nos estágios iniciais da

apoptose. O enfraquecimento do citoesqueleto provoca a formação de blebbing

na membrana celular, uma característica de células em apoptose (Cotter et al,

1992).

Outra característica importante das células nos estágios iniciais do

processo apoptótico é a capacidade de liberação da matriz extracelular. Estas

células tipicamente se retraem das células vizinhas e perdem o contato com a

matriz. Este processo de descolamento envolve mecanismos dependentes de

caspases que, provavelmente tem como objetivo facilitar a remoção das células

apoptóticas pelos fagócitos (Rosenblatt et al, 2001). Outra forma de facilitar o

trabalho dos fagócitos é a geração dos chamados corpos apoptóticos. Estas

estruturas provavelmente são uma conseqüência do processo dirigido pela

actina-miosina para a formação dos blebbings (Cotter et al, 1992) Esta é talvez

a forma mais segura de se quebrar uma célula em diversos pedaços para que

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estas possam ser engolfadas com facilidade. Isso tem como objetivo minimizar

possíveis falhas na fagocitose da célula morta a fim de se evitar liberação de

sinais de perigo que podem provocar ativação do sistema imune inato (Taylor

et al, 2008).

Apesar da importância da fagocitose, não está claro como a célula

apoptótica é reconhecida pelos fagócitos. O exemplo melhor caracterizado de

ligante fagocítico é o fosfolipídio de membrana fosfatidilserina. A fosfatidilserina

está confinada internamente na membrana plasmática de células saudáveis,

mas esta se transloca para a face externa da membrana após um estímulo

proapoptótico, induzindo assim a fagocitose (Martin et al, 1995). Esta

translocação também é caspase-dependente, mas como estas cisteíno-

proteases promovem esta translocação ainda não foi definido (Martin et al,

1996).

Alterações nucleares também estão presentes no processo de apoptose.

Apesar da fragmentação nuclear ser uma das características mais marcantes

da apoptose, permanece desconhecido o motivo pelo qual o núcleo fragmenta-

se e se dispersa ao longo da célula durante este processo de morte celular

(Taylor et al, 2008). A fragmentação nuclear depende da desintegração da

lâmina nuclear e do colapso do envelope nuclear. O primeiro destes eventos

envolve a proteólise das proteínas laminas A, B e C através das caspases (Rao

et al, 1996). O citoesqueleto de actina também tem um papel na fragmentação

nuclear. Por causa das ligações entre o citoesqueleto de actina e do envelope

nuclear, ocorre destruição nuclear durante apoptose (Croft et al, 2005). A

clivagem da proteína lamina por si só não é suficiente para causar a

fragmentação nuclear na ausência da força contrátil do citoesqueleto de actina,

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mas pode enfraquecer a membrana nuclear, permitindo que o envelope nuclear

se rompa (Croft et al, 2005). Na fragmentação do núcleo, os microtúbulos do

citoesqueleto têm sido implicados na dispersão de fragmentos nucleares na

membrana plasmática para a formação dos blebbings (Moss et al, 2006).

Um dos primeiros sinais bioquímicos a ser identificado como

característico de um processo apoptótico é a degradação do DNA genômico

em fragmentos (ladder of fragments) (Wyllie, 1980). Este padrão de

fragmentação é resultado da clivagem da cromatina em sítios

internucleossomais mediada por endonucleases. E este processo é tipicamente

acompanhado de condensação da cromatina (Schulze-Osthoff et al, 1994). A

fragmentação do DNA durante o processo apoptótico exclui qualquer outra

possibilidade de divisão celular, tornando cromatina mais gerenciável para

posterior eliminação por células fagocíticas (Taylor et al, 2008).

Pelo exposto nesta Introdução, fica claro que as alternativas terapêuticas

disponíveis para o tratamento do melanoma apresentam efeitos limitados, logo,

o desenvolvimento de novos agentes que atuem inibindo o desenvolvimento

tumoral é de extrema importância. Além da descoberta de novas drogas, é

fundamental compreender o modo de ação das mesmas, para que os

mecanismos de resistência da célula tumoral ao quimioterápico, tão

frequentemente induzidos durante o tratamento, possam ser compreendidos e

eventualmente contornados.

Resultados anteriormente obtidos pelo nosso grupo sugeriram que o

ciclopaladado 7A, que apresentou um interessante efeito terapêutico in vivo,

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induz nas células tumorais uma morte por apoptose caspase-independente,

levando ao final do processo à degradação de DNA de células tratadas

(Rodrigues et al, 2003). No entanto, como o mecanismo de ação do

ciclopaladado 7A ainda não foi totalmente elucidado, é de nosso interesse

determinar os eventos que precedem a degradação de DNA observada nas

células tumorais após tratamento com o ciclopaladado 7A.

Além disso, poucos trabalhos na literatura exploram o efeito anti-tumoral

de compostos de Rutênio, e mais especificamente, compostos de Rutênio

doadores de óxido nítrico. Foi nosso interesse o estudo desses compostos no

tratamento do melanoma murino experimental, assim como a determinação do

seu mecanismo de ação, tendo em vista que o efeito do óxido nítrico no

desenvolvimento tumoral ainda não está elucidado.

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2.0 OBJETIVOS

O objetivo geral deste trabalho foi a avaliação de novos compostos

organometálicos derivados de Paládio e Rutênio em ensaios pré-clínicos.

Os objetivos específicos foram:

• Avaliar os efeitos citotóxicos do Complexo ciclopaladado 7A, [Pd2(S(-)C2,

N-dmpa)2 (m-dppe)Cl2], sobre linhagens celulares tumorais humanas;

• Avaliar a atividade do Ciclopaladado 7A no modelo metastático de

melanoma murino B16F10-Nex2;

• Elucidar o mecanismo pelo qual o Ciclopaladado 7A causa a morte das

células tumorais;

• Avaliar a atividade in vitro dos compostos tetraamina nitrosil Rutênio e os

respectivos equivalentes sulfatados sobre células de melanoma murino

B16F10-Nex2 e sobre células tumorais humanas;

• Avaliar a atividade in vivo dos compostos tetraamina Rutênio

previamente selecionados como ativos in vitro no modelo subcutâneo de

melanoma murino B16F10-Nex2;

• Investigar o mecanismo pelo qual os compostos tetraamina Rutênio

causam a morte das células tumorais.

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3.0 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Quimioterápicos:

Complexo ciclopaladado 7A (C7A): O composto ciclopaladado foi

obtido através da síntese de N,N-dimethyl-1-phenethilamida, complexado com

o ligante 1,2 ethanebis (diphenylphosphina), conforme descrição detalhada em

Rodrigues et al, (2003). Fórmula molecular C44H52N2Cl2P2Pd2, com rendimento

de síntese de 92%. O complexo ciclopaladado foi sintetizado pelo Prof. Antonio

Carlos F. Caires, Centro Interdisciplinar de Investigação Bioquímica, da

Universidade de Mogi das Cruzes.

Compostos de Rutênio: Todos os compostos de Rutênio foram

sintetizados pela aluna Renata Osti, sob orientação do Prof Douglas Wagner

Franco, do Departamento de Química e Física Molecular, Universidade de São

Paulo, campus São Carlos. Os compostos de partida para a síntese dos

complexos de rutênio, trans-[Ru(NH3)4SO2Cl]Cl, trans-

[Ru(NH3)4(P(OEt)3)2](PF6)2 e K[Ru(Hedta)Cl], foram preparados seguindo

procedimentos descritos na literatura (Vogt et al, 1965). A partir desses

compostos de partida, foram sintetizados os seguintes compostos testados

neste trabalho:

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A) trans -[Ru(NH3)4L(SO4)]+ : Os compostos trans-[Ru (NH3)4 L (SO4)]+

(L: py = piridina; 4-pic = 4-picolina; isn = isonicotinamida; nic = nicotinamida;

ImN = imidazol; L-his = L-histidina) foram preparados dissolvendo-se 100 mg

do complexo trans-[Ru(NH3)4SO2Cl] Cl em 3,5 ml de solução de NaHCO3 10-2

mol.l-1 previamente desaerada, e em seguida excesso de 10 vezes do ligante L

foi adicionado (2 vezes para a L-his). A mistura permaneceu em reação sob

atmosfera de argônio durante 20 minutos. Em seguida, 1 ml de HCl 6 mol.l-1 e

2,5 ml de H2O2 30 % foram adicionados. Acetona (aproximadamente 70 ml) foi

acrescentada, e a mistura permaneceu em refrigerador por 12 horas. O sólido

foi coletado por filtração, lavado com acetona, seco e estocado sob vácuo e na

ausência de luz.

B) trans -[Ru(NO)(NH3)4L]3+ : Os compostos trans-[Ru(NO)(NH3)4L]3+ (L:

py = piridina; 4-pic = 4-picolina; isn = isonicotinamida; nic = nicotinamida; ImN =

imidazol; L-his = L-histidina) foram preparados a partir dos respectivos

complexos do tipo trans-[Ru (NH3)4 L (SO4)]Cl. Inicialmente, 100 mg dos

sulfatos compostos são dissolvidos em 3 ml de solução de HCF3COO pH 5,4

desaerada, e reduzidos com amálgama de zinco por 30 minutos (50 minutos

para complexo com piridina) para gerar trans-[Ru(NH3)4L(H2O)]2+. A esta

solução foram adicionados 0,10 g de NaNO2 e 1,3 ml de solução desoxigenada

de HBF4 5 mol.l-1. A solução resultante foi mantida sob atmosfera de argônio

por 1 hora, após este período 100 ml de etanol desoxigenado foram

adicionados. O sólido foi coletado por filtração, lavado com etanol, seco e

estocado sob vácuo e na ausência de luz.

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C) trans -[Ru(NO)(NH3)4P(OEt)3](PF6)3 : Dissolveram-se 0,20 g de trans-

[Ru(NH3)4(P(OEt)3)2](PF6)2 em 200 ml de solução desoxigenada de CF3COOH

0,001 mol.l-1. A mistura permaneceu em reação por 6 horas sob fluxo de

argônio, a 40 oC. Acompanhou-se a formação da banda em 316 nm (ε = 650 M-

1) por UV-visível. Evaporou-se o excesso de solvente em evaporador rotatório

(a 40 oC) até volume de aproximadamente 3,0 mL, transferiu-se para 2,0 mL de

solução 2,0 mol.l-1 de CF3COOH, previamente desoxigenada. Adicionaram-se

0,200 g de NaNO2. A solução adquiriu uma coloração rósea. Acrescentaram-se

0,300 g de NH4PF6 e deixou-se no refrigerador até a formação de sólido

cristalino róseo. Coletou-se por filtração, lavando-se com éter. O complexo foi

seco e estocado a vácuo e ao abrigo da luz.

D) [Ru(NO)Hedta] : O complexo [Ru(NO)Hedta] foi preparado

dissolvendo-se 500 mg de K[Ru(Hedta)Cl] em 20 ml de uma solução 10-2 mol.l-1

de HCl em balão de fundo redondo. O balão foi tampado e permaneceu sob

atmosfera de argônio durante 30 minutos. Após este tempo, NO e argônio

foram borbulhados na solução durante 3 horas e 30 minutos. Etanol foi

adicionado à mistura e o nitrosilo composto formado precipitado na forma de

um sólido de cor lilás o qual foi então isolado, seco e armazenado sob vácuo e

protegido da luz.

3.2 Linhagens de células tumorais e condições de cu ltivo: Foram utilizadas

células de melanoma murino B16F10-Nex2, uma sublinhagem da linhagem

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B16F10 (Fidler et al, 1975 que mantém as características da linhagem original

de baixa imunogenicidade e alta eficiência na implantação in vivo (Freitas et al,

2004). Células tumorais humanas isoladas de adecarcinoma de mama (SKBr-3

e ZR753A), adenocarcinoma de cólon (HCT-8 e LS-180), leucemia

promielocítica (HL-60), adenocarcinoma de cérvix uterino (HeLa, CasKi e

SiHa), melanoma (Me91 e SKMel-25) e glioblastoma (U-87 ) foram utilizadas.

Para os ensaios de angiogênese, foi utilizada a linhagem de células endoteliais

humanas isoladas de veia de cordão umbilical (HUVECs). Todas as células

foram cultivadas in vitro em meio RPMI-1640, suplementado como 10mM de

HEPES, 24mM de bicarbonato de sódio, 40mg/ml de gentamicina, pH 7.2 e

10% de soro fetal bovino. Para manuseio das células, foram utilizados PBS

(140mM NaCl, 2.7mM KCl, 10mM Na2HPO4, 1.8mM KH2PO4, pH 7.4) para

lavagem e, PBS/EDTA (PBS com 0,02% de EDTA) para liberação das células

dos frascos e placas de cultura.

3.3 Animais: Camundongos C57Bl/6 machos (6 a 8 semanas) foram obtidos

do Centro de Desenvolvimento de Modelos Experimentais (CEDEME), da

Universidade Federal de São Paulo. Os animais foram mantidos em

microisoladores, com água, ração e serragem autoclavadas, e em estantes

ventiladas (Alesco, Brasil). Os experimentos envolvendo animais foram

desenvolvidos com aprovação do Comitê de Ética para Experimentação Animal

da Universidade Federal de São Paulo, projeto registrado sob número 1507/09.

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3.4 Obtenção de macrófagos derivados de medula ósse a: Precursores de

macrófagos presentes na medula óssea foram coletados de ossos femurais de

animais C57BL/6. Os ossos foram retirados e em seguida lavados em álcool

70%, álcool iodado e PBS. As epífises foram cortadas e a medula foi coletada

por pressão positiva com o auxílio de uma seringa de 10ml contendo meio de

diferenciação (meio RPMI acrescido de 30% de “meio L” e 20% de soro fetal

bovino). O meio L é constituído do sobrenadante das células L929, que

secretam constitutivamente CSF e G-CSF. O sobrenadante destas células foi

coletado, testado para garantir a ausência de Mycoplasma, e em seguida,

utilizado para a constituição do meio de diferenciação. Utilizamos placas de

Petri próprias para cultura celular (Corning) para diferenciar os macrófagos in

vitro. As células foram incubadas durante 4 dias em estufa a 37°C e 5% de

CO2, sendo então adicionados mais 10ml de meio de diferenciação. No sétimo

dia, as células diferenciadas foram coletadas. O meio metabolizado foi aspirado

para a adição de meio de troca (meio RPMI acrescido de 25% de “meio L” e

15% de soro fetal bovino). A placa permaneceu a 4°C por 1 hora, ou até que os

macrófagos diferenciados estivessem soltos da placa. A partir daí, as células

foram utilizadas para os ensaios.

3.5 Dosagem Protéica: O método de Bradford foi utilizado para quantificação

protéica (Bradford, 1976), adaptado a uma micrométodo. 10mg do Corante

Commasie Brilliant Blue G-250 (Sigma) foram diluídos em 5mL de etanol

absoluto (Merck) seguido da adição de 10mL de ácido ortofosfórico (Merck), e

completando-se o volume para 100mL com água destilada. Após agitação a

solução foi filtrada e protegida da luz. Para quantificação da proteína, 100µL de

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reagente foi adicionado a 20µL da amostra, previamente diluída ou não, com

leitura imediata. A cada dosagem construiu-se uma curva padrão (de 0,2 a

1,0µg) a partir de uma solução de PBS/BSA 1mg/ml e a leitura da absorbância

foi feita em espectofotômetro de placas em 620nm (Titertek Multiskan MCC/340

MKII).

3.6 Ensaio de citotoxicidade celular in vitro : Células B16F10-Nex2

(1x104/poço), células tumorais humanas (2x105/poço), macrófagos murinos

(1x105/poço) e células HUVECs (5x103) foram cultivadas em placa de 96 poços

(TPP) e tratadas com diferentes concentrações do complexo 7A e com

compostos de rutênio. Após 24h de incubação a 37°C, os poços foram lavados

com PBS e o número de células viáveis aderentes foi determinado em câmara

de Neubauer, utilizando o corante de exclusão Trypan Blue (Invitrogen).

Gráficos de concentração da droga versus número de células viáveis foram

construídos, e a Concentração Inibitória 50% (IC50) foi calculada usando-se o

Programa Microsoft Excel, do software Microsoft Office.

3.7 Ensaio de inibição da citotoxicidade do complex o 7A in vitro com DTT:

Células B16F10-Nex2 (104/poço) foram plaqueadas em placa de 96 poços

(Corning). Após 24h de incubação, as células foram pré-tratadas ou não com

2mM de DTT por 10 minutos. As células foram lavadas com solução de PBS e

incubadas com uma dose elevada do Complexo 7A (10µM). Após 1h e 2h as

células viáveis foram coletadas com PBS-EDTA e contadas em presença de

Trypan Blue.

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3.8 Ensaio de citotoxicidade in vitro em presença de inibidores de

proteases: Ca074-Me (catepsina B) ou E-64 (cisteíno -proteases): Células

B16F10-Nex2 (104/poço) foram plaqueadas em placa de 96 poços (Corning).

Após 24h de incubação, as células foram pré-tratadas ou não com diferentes

concentrações de Ca074-Me (L-3-trans-(Propylcarbamyl)oxirane-2-carbonyl)-L-

isoleucyl-L-proline methyl Ester) ou E-64 (trans-epoxysuccinyl-L-leucylamido-[4-

guanido]butane), ambos da Sigma, por 2 horas. As células foram lavadas com

solução de PBS e incubadas com uma dose elevada de compostos 7A (10µM).

Após 24h, as células foram destacadas com PBS-EDTA e as células viáveis

foram contadas utilizando Trypan Blue em Câmara de Neubauer.

3.9 Quantificação da acidificação extracelular : Células tumorais humanas

(HCT-8, Siha e Skmel25) foram plaqueadas (3x105/poço) em cubetas

transwells com poros de 3.0 µm (Corning Costar) e os transwells foram

mantidos em placas de cultura de 12 poços (Corning) por 12h antes do

experimento. A taxa de acidificação extracelular de células tratadas e não

tratadas foi determinada utilizando-se um microfisiômetro Cytosensor

(Molecular Devices). As cápsulas contendo as células aderentes tratadas ou

não foram transferidas para câmaras sensoras e mantidas em RPMI com baixo

tamponamento e 1% BSA, a 37ºC. O meio de perfusão (50 µl/min) contendo as

drogas (C7A ou Cisplatina, usada como controle positivo) ou não (controle

negativo) foi bombeado através das câmaras de cada sensor com ciclos de 90

seg de fluxo, seguido de um período de 30 seg sem fluxo de meio. Durante os

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períodos sem fluxo, os prótons H+ liberados pelas células se acumulam no

sensor e são quantificados.

3.10 Microscopia ótica: Células B16F10-Nex2 (1x104/lamínula) foram

cultivadas em lamínulas estéreis com diâmetro de 13mm em placas de cultura

de 12 poços. Após 24 horas as células foram tratadas com C7A (1µM) por

diferentes intervalos de tempo, sendo o tempo máximo de 25 minutos. Após o

tratamento, as lamínulas foram lavadas com PBS e as células fixadas com

paraformaldeído 4% em PBS. As lamínulas foram fixadas em lâminas e

analisadas por microscopia ótica utilizando-se um microscópio (Nikon Eclipse

E600 (aumento de 40x).

3.11 Microscopia Eletrônica de Transmissão: Células B16F10-Nex2 (105

células/lamínula) foram cultivadas em lamínulas com diâmetro de 13mm em

placas de 12 poços. O complexo 7A foi adicionado na concentração de 1µM e

incubado por apenas 15 minutos, tempo suficiente para que a droga provoque

alterações morfológicas nas células, sem que as mesmas se soltem

naturalmente do substrato. As células foram fixadas em 2,5% de glutaraldeído

em tampão cacodilato de sódio 0,1 M, pH 7,4. A pós-fixação foi realizada com

tampão cacodilato de sódio contendo 1% de tetróxido de ósmio, 0,08 % de

ferricianeto de potássio, 5 mM de cloreto de cálcio, durante 60 minutos ao

abrigo da luz. A desidratação foi feita com diluições em série crescente de

acetona e a infiltração em resina Epoxi Polybed (Polysciences). Cortes

ultrafinos foram obtidos por ultramicrotomia, coletados em grades (malha 300)

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e contrastados em acetato de uranila e citrato de chumbo. A análise

ultraestrutural foi feita em Microscópio Eletrônico de Transmissão Zeiss EM-

900, no Centro de Microscopia Eletrônica (CEME) da UNIFESP.

3.12 Alterações no potencial de membrana mitocondri al (∆∆∆∆ΨΨΨΨm) : Células

B16F10-Nex2 (5x104/poço) foram plaqueadas em lamínulas redondas de

25mm de diâmetro. Estas lamínulas foram previamente tratadas com poli-lisina

(0,1mg/ml). Para o preparo das lamínulas, estas foram lavadas com álcool

70%, seguida de lavagens com água destilada. Após este processo, cobrimos

as lamínulas com poli-lisina e incubamos em temperatura ambiente por 1 hora.

Retiramos a poli-lisina e deixamos por 30 minutos sob a luz ultravioleta, dentro

do fluxo laminar para esterilização. Após este procedimento, as células foram

plaqueadas. As lamínulas foram adaptadas em câmara de Leiden para

acondicionamento no microscópio. As células foram incubadas com o indicador

de fluorescência potenciométrico, tetrametilrodamina-etil-éster (TMRE, 50nM.

Molecular Probes) por 15 minutos em temperatura ambiente, na presença ou

ausência do inibidor DTT (2mM). As lamínulas foram então colocadas no

microscópio e as células foram tratadas com o Complexo 7A (1µM). Na fase

final do experimento, adicionamos o desacoplador mitocondrial FCCP (5µM).

Este reagente provoca uma rápida queda no potencial de membrana

mitocondrial, sendo utilizado como controle positivo do experimento. A

fluorescência do TMRE foi adquirida em tempo real, (548nm de excitação e

585nm de emissão), a 1 quadro / 6 segundos, usando o microscópio invertido

Nikon TE 300. As mitocôndrias foram identificadas individualmente, onde as

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regiões de interesse foram desenhadas sobre cada organela para a

determinação da variação do potencial de membrana mitocondrial.

3.13 Translocação da Proteína Bax-GFP em células tr ansfectadas: Células

B16F10-Nex2 (5x104/lamínula) foram plaqueadas em lamínulas com 25mm de

diâmetro, pré-tratadas com poli-lisina (0,1mg/ml). Em seguida, as células

foram transfectadas com plasmídeo contendo inserto da quimera proteica Bax-

GFP (Green Fluorescent Protein) utilizando Lipofectina (Invitrogen), segundo

instruções do fabricante. O plasmídeo Bax-GFP foi construido como descrito

em (Wolter et al, 1997) e gentilmente cedido pela Profª Dra Soraya Smaili,

Departamento de Farmacologia da Universidade Federal de São Paulo. As

lamínulas contendo as células transfectadas foram adaptadas em câmara de

Leiden e incubadas com C7A (1µM). A translocação de Bax-GFP foi observada

em tempo real (458nm de emissão e 488 nm de excitação) a 1 quadro / 6

segundos. As imagens foram visualizadas em microscópio de luz (Nikon

E8000, Nikon, Osaka, Japan) e analisadas no programa Image Pro-Express

(Media Cybernetics, MD, USA).

3.14 Determinação da concentração intracelular de C álcio: Células

B16F10-Nex2 (5x104/lamínula) foram plaqueadas em lamínulas redondas de

25mm de diâmetro, previamente tratadas com poli-lisina (0,1mg/ml) e

acondicionadas na câmara de Leiden. As células foram incubadas em meio

com o indicador de fluorescência Fura-2-AM (2µM) e Pluronic F127 (20%) por

30 minutos em tampão contendo 130mM NaCl, 5.36mM KCl, 0.8mM MgSO4,

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1mM Na2HPO4, 25mM glicose, 20mM HEPES, 1mM piruvato de sódio, 1.50mM

CaCl2, 1mM ácido ascórbico, pH7.3. Para os ensaios com tampão livre de

cálcio, utilizamos o mesmo protocolo descrito acima, porém sem a adição do

CaCl2. Após este período, as células foram tratadas com o complexo 7A (1µM)

e a leitura da fluorescência do Fura-2 foi realizada em dois comprimentos de

onda de excitação, 340 e 380nm. O cálculo da razão 340/380 indica a

quantidade de Fura-2 que se encontra no citosol na forma complexada com

Cálcio (340nm) em relação à quantidade de Fura-2-AM que se encontra na

forma livre (380nm). As imagens foram visualizadas em microscópio invertido

(Nikon TE300, Nikon, Osaka, Japan) e analisadas no programa Image Pro-

Express (Media Cybernetics, MD, USA).

3.15 Ativação de caspases: Para avaliar a atividade de caspases após

tratamento com drogas, utilizamos dois métodos: um método colorimétrico e

outro por citometria de fluxo. O método colorimétrico foi realizado utilizando um

kit denominado Caspase Colorimetric Protease Assay (Invitrogen). Este kit

permite a avaliação qualitativa da atividade de caspase-2, caspase-3, caspase-

6, caspase-8 e caspase-9. Resumidamente, células B16F10-Nex2 (5x106)

foram cultivadas e tratadas in vitro com o complexo 7A (1µM) por 5 minutos.

Para o controle positivo, o mesmo número de células B16F10-Nex2 foram

incubadas em exposição à luz ultravioleta por 7 minutos. Em seguida, as

células foram coletadas da placa com o auxílio de um cell scraper e

centrifugadas a 5.000g. Após a centrifugação, as células foram ressupendidas

em 50µL do tampão de lise, fornecido pelo kit, e incubadas no gelo por 10

minutos. Centrifugamos a 10.000g por 1 minuto e o sobrenadante foi

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transferido para um novo tubo. A concentração proteica da amostra foi avaliada

pelo método de Bradford e a amostra foi diluída em tampão de lise a uma

concentração de 1mg/ml. Adicionamos 50µL do tampão de reação, contendo

10mM de DTT, fornecido pelo kit e incubamos com os respectivos substratos

referentes às caspases 2, 3, 6, 8 e 9 (VDVAD, DEVD, VEID, IETD, LEHD)

durante 2 horas a 37ºC. A leitura da absorbância foi feita em comprimento de

onda de 405nm em espectofotômetro de placas (Titertek Multiskan MCC/340

MKII). O aumento da atividade das caspases foi determinado pela comparação

direta com os níveis de caspases presentes no controle não tratado. A

caspase-3 foi também quantificada por citometria de fluxo. Células B16F10-

nex2 (1x106) foram tratadas por 12h com o ciclopaladado 7A ou Camptotensina

(10µM), como controle positivo. As células tratadas foram lavadas duas vezes

com PBS e ajustadas para 1x106 células por amostra. Em seguida, as células

foram incubadas com anticorpos anti-caspase-3 (Promega) diluído 1:000 em

PBS/BSA 1% por 1 hora, no gelo, protegido da luz. A atividade foi avaliada por

citometria de fluxo, onde foram capturadas 10.000 células. A marcação foi

analisada através do citômetro de fluxo FACSCalibur (Becton-Dickinson), com

análise dos resultados pelo software CellQuerst®.

3.16 Avaliação de condensação nuclear por microcopi a de fluorescência :

Células B16F10-Nex2 (1X104) foram plaqueadas em lamínulas de 13mm de

diâmetro e tratadas com o complexo 7A (1uM, por no máximo 25 minutos) ou

com compostos de rutênio trans-[Ru (NH3)4 ImN (SO4)]+ (444uM, por 24h). As

células foram marcadas com Hoescht 33342 (thyhidrocloride thihydrate, Sigma

Chemical) durante 15 minutos e depois visualizadas em microscopia de

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fluorescência (microscópio invertido Nikon TE 300), excitado em 350nm e com

emissão em 450nm. Avaliamos a porcentagem das células com características

nucleares alteradas, tais como, condensação nuclear, núcleo picnótico e maior

intensidade de fluorescência. Foram contadas pelo menos 200 células por

lamínulas, em triplicatas. A partir destes dados, a porcentagem de células com

alterações nucleares foi calculada.

3.17 Ensaio de degradação de DNA : células B16F10-Nex2 (1x105/poço)

foram cultivadas em placa de 12 poços e tratadas com o complexo 7A (1µM,

por 24h) ou com compostos de rutênio trans-[Ru (NH3)4 ImN (SO4)]+, (444µM,

por 24h. Após 12h de incubação a 37°C, todas as cél ulas, aderentes ou em

suspensão foram coletadas e o seu DNA foi extraído utilizando o protocolo de

extração com tampão TELT [Tris-HCl 50mM pH8.0 (Gibco), 4% de Triton X-100

(LKB), EDTA 2.5mM pH 9.0 (Pharmacia) e 2.5M de LiCl (Merck)], para lise das

células. O material foi centrifugado a 12.000g por 10 minutos. Ao sobrenadante

adicionou-se igual volume de fenol (Gibco, pH 7.5), homogeneizando bem e

centrifugando-se por 15 minutos a 12.000g. A fase aquosa foi transferida para

novo tubo e a este adicionou-se igual volume de Clorofórmio (Merck),

centrifugando-se por 15 minutos a 12.000g. Adicionou-se ao sobrenadante 0,1

volume de acetato de sódio 3.0M e 2.5 volume de etanol absoluto (Merck),

incubando-se o material a -20ºC por 24h. Após este período, o material foi

centrifugado a 12.000g por 15 minutos, e ao precipitado adicionou-se 500uL de

etanol 70% (Merck) para lavagem. O material foi centrifugado a 7.500g e em

seguida o mesmo foi seco em temperatura ambiente. Depois de seco, o

precipitado foi ressuspendido em água contendo RNAse (50ug/mL). Ao final da

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extração, o material foi quantificado por espectofotômetro a 260nm. Para

verificação da degradação do DNA, 1µg de DNA de cada amostra foi separado

eletroforeticamente em gel de agarose 0.8% (Pharmacia) contendo 2µL de

brometo de etídio. A corrida foi realizada a 100V por aproximadamente 40

minutos.

3.18 Ensaio de TUNEL ( Terminal Transferase dUTP Nick End Labeling) : A

fragmentação de DNA também foi analisada utilizando o “In Situ Cell Death

Detection kit, AP” (Roche Molecular Biochemicals, Mannheim, Germany) de

acordo com as instruções do fabricante. Esta técnica fundamenta-se na

marcação direta de fragmentos terminais de DNA (porção 3' -OH),

caracteristicamente relacionados com a fragmentação do DNA nuclear. As

células foram plaqueadas (1 x 104) em lamínulas de 13mm e incubadas por 24

h a 37° C em presença de meio RPMI com 10% SFB para adesão das células

na lamínula. As células foram incubadas com o composto de Rutênio trans-[Ru

(NH3)4 ImN (SO4)]+ por 24 h. Após o tempo de incubação, as células foram

lavadas 3 vezes com PBS em temperatura ambiente e em seguida fixadas com

2% de paraformaldeído por 30 minutos. Após a fixação das células foi realizada

a permeabilização da membrana celular, utilizando 0,1% Triton X-100 por 30

minutos. As células foram lavadas 3 vezes com PBS e incubadas por 1h com

os reagentes do kit (“enzyme solution” e “label solução” na proporção 1:9) a

37° C ao abrigo da luz. As células foram lavadas novamente e incubadas com

1mg/mL de DAPI por 10 minutos em temperatura ambiente. As lamínulas foram

aderidas às lâminas na presença de Vectashield (Vector) e em seguida, as

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células foram observadas em um microscópio de fluorescência microscópio

(Nikon TE 300). O DAPI foi observado no comprimento de onda de 454-488nm

e a fluorescência do ensaio de TUNEL foi observada no comprimento de onda

de 515-565nm.

3.19 Detecção da translocação da fosfatidilserina ( PS) para a superfície

celular: Para a determinação da translocação da PS para a superfície celular

após tratamento com o quimioterápico, foi utilizado o kit Annexin V-FITC

Apoptosis Detection Kit (Sigma), onde as células são coradas com Anexina V-

FITC e iodeto de propídio (PI), seguido por análise em citômetria de fluxo

(FACS). Células B16F10Nex2 (1x106) foram cultivadas em placas de 6 poços e

incubadas o composto trans-[Ru (NH3)4 ImN (SO4)]+ (444uM) por 12 horas a

37° C e 5% CO2. Células não tratadas foram utilizadas como controle. Após

incubação, células tratadas e não tratadas foram liberadas da placa com

tripsina, centrifugadas, coletadas e lavadas 3 vezes com PBS. As células foram

ressuspendidas em tampão “Binding Buffer” (Sigma) contendo 10 mM

HEPES/NaOH, pH 7.5 e 140 mM de NaCl e 2.5 mM CaCl2. Posteriormente as

células foram incubadas à temperatura ambiente com 0.5 µg/mL de Annexin-V

e 2 µg/mL de iodeto de propídio por 10 minutos. Durante o período de

incubação as amostras foram protegidas da luz. A determinação da

fluorescência foi realizada em Citômetro de Fluxo Becton-Dickinson, com

análise dos resultados pelo software CellQuest®. Células viáveis não

apresentam nenhuma marcaçao fluorescente. Células em processo de morte

por apoptose caracterizam-se pela marcação com o conjugado Anexina V-

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FITC. Células duplamente marcadas foram consideradas como células nas

fases finais da apoptose e/ou em processo de necrose.

3.20 Ensaio de Angiogênese: Para observação dos efeitos do complexo 7A e

dos compostos de rutênio no processo angiogênico, foi realizado ensaio in vitro

com células endoteliais isoladas de veias de cordão umbilical humano

(HUVEC). Alíquotas de Matrigel (BD) foram descongeladas e 10uL foram

aplicados em placas de 96 poços com o auxílio de ponteiras geladas. As

células HUVEC (5x103) foram associadas aos compostos a serem testados em

10uL de meio RPMI 0.2% SFB e em seguida adicionadas sobre o Matrigel. A

concentração dos compostos utilizada neste ensaio foi previamente

padronizada em ensaios de citotoxicidade celular sobre as células HUVECs,

conforme descrição no item 3.6. Após 24h de incubação, os poços foram

fotografados em um aumento de aproximadamente 8X com o auxílio de uma

Câmera digital Sony Cyber-shot. O resultado foi expresso em número de

formações pró-angiogênicas (anéis fechados) contadas visualmente nas

fotografias. Células não tratadas foram utilizadas como controle.

3.21 Ensaio de hemólise: Para verificar a toxicidade do ciclopaladado C7A,

hemácias humanas foram obtidas a partir da fração celular de sangue de

indivíduo normal, coletado na presença do anticoagulante citrato de sódio e

centrifugado a 3.000 rpm por 10 minutos. As células foram lavadas duas vezes

e ressuspendidas em PBS-BSA (1%). Os eritrócitos (3x107) foram incubados

em placas de 96 poços de fundo em “U” a 37ºC por 2 horas, sob agitação, na

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50

presença de diferentes concentrações do complexo 7A. Após incubação, a

placa foi centrifugada a 2.000 rpm por 10 minutos. Os níveis de hemoglobina

no sobrenadante foram determinados por leitura em espectrofotômetro a 405

nm e comparados com o controle positivo obtido pela lise total utilizando-se

0.2% de Triton X-100. Os resultados foram expressos em porcentagem de

hemólise em relação ao controle sem tratamento.

3.22 Ensaio de colonização pulmonar e tratamento co m os

quimioterápicos: Para o ensaio de colonização pulmonar, 1x105 células

B16F10-Nex2 foram inoculadas endovenosamente pela veia da cauda dos

animais. A partir do dia seguinte, os animais foram tratados com 200ng/kg do

composto 7A, três vezes por semana. Após 13 dias, os animais foram

sacrificados e os pulmões retirados para contagem dos nódulos pulmonares.

Utilizamos o mesmo protocolo para o tratamento com os compostos de

Rutênio.

3.23 Desenvolvimento tumoral subcutâneo in vivo : camundongos C57Bl/6

foram injetados subcutaneamente com 5x104 células B16F10-Nex2 (lavadas e

diluídas em PBS). No dia seguinte, iniciou-se o tratamento com diferentes

concentrações do Composto de rutênio trans-[Ru (NH3)4ImN(SO4)]+,

administrados intraperitonealmente, três vezes por semana até o sacrifício dos

animais. Os tumores foram medidos também três vezes na semana e o volume

tumoral foi calculado usando a seguinte fórmula: V = 0.52 x D12 x D2, onde D1

e D2 correspondem respectivamente ao diâmetro menor e maior da massa

tumoral.

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51

3.24 Análise estatística: A análise estatística foi realizada com Teste t de

Student do Programa Microsoft Excel, do software Microsoft Office,

considerando os valores iguais ou menores de p<0.05 como significativos. Os

valores de média e desvio padrão foram obtidos utilizando o mesmo programa.

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52

4.0 RESULTADOS: CICLOPALADADO 7A

4.1 Efeitos sobre as células tumorais humanas in vitro

Em estudo anteriormente publicado pelo nosso grupo, observou-se a

atividade antitumoral do complexo 7A in vitro e in vivo contra o modelo de

melanoma murino B16F10-Nex2. Nesse trabalho, demonstrou-se que o

ciclopaladado 7A causou o colapso da atividade respiratória das células

B16F10-Nex2, sugerido pelo decréscimo abrupto na acidificação celular em

curtos tempos (Rodrigues et al, 2003).

Para avaliar se esse composto também seria eficaz contra tumores

humanos, foi testada a ação citotóxica do complexo 7A in vitro, contra várias

linhagens celulares tumorais humanas. Observou-se que o ciclopaladado 7A foi

citotóxico in vitro de modo dose-dependente contra células tumorais humanas

em doses muito baixas quando comparadas a um agente quimioterápico

regularmente utilizado no tratamento do câncer, a Cisplatina (Tabela 1).

Enquanto a maioria das linhagens celulares avaliadas apresentou um IC50

acima de 100 µM para a Cisplatina, essas mesmas células apresentaram um

IC50 menor que 0,5 µM para o Ciclopaladado 7A. Somente 2 linhagens testadas

apresentaram IC50 igual ou acima de 1 µM para o C7A, a linhagem HL-60 de

leucemia promielocítica e a linhagem U-87, de glioblastoma. O IC50 dessas 2

linhagens foram 70 e 150 µM para a Cisplatina, respectivamente.

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53

No trabalho anterior foi realizado um teste de toxicidade in vivo do C7A,

onde doses crescentes do ciclopaladado foram injetadas em camundongos

C57Bl/6, e ao final do tratamento, vários órgãos foram coletados desses

animais e uma análise histopatológica não demonstrou alterações teciduais,

sugerindo uma baixa toxicidade do composto. No tratamento in vivo foi utilizada

a dose de 40ng/Kg, 3 vezes por semana, e no teste de toxicidade chegou-se à

dose de 240ng/kg (Rodrigues et al, 2003).

Foram realizados testes de toxicidade in vitro, complementares ao já

realizado in vivo, e observou-se que o ciclopaladado não afetou a viabilidade

de macrófagos murinos após 6h de incubação (Figura 1) ou eritrócitos

humanos (Tabela 2) tratados com até 50µM do composto.

Esses resultados sugerem que o Ciclopaladado 7A tem atividade

citotóxica contra células tumorais humanas in vitro e este composto apresenta

baixa toxicidade contra células normais.

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54

IC50 Complexo 7A (µM)

IC50 Cisplatina (µM)

Melanoma murino B16F10-Nex2 0,42 176

Carcinoma de cólon

humano

LS-180 0,26 > 200 HCT-8 0,22 > 200

Carcinoma de mama

humano

SKBr-3 0,26 66 ZR753A 0,34 > 200

Carcinoma do cervix

uterino humano

HeLa 0,3 68 CasKi 0,24 140 SiHa 0,19 > 200

Melanoma humano

Me91 0,14 156 SK-Mel 25 0,15 > 200

Leucemia

promielocítica humana

HL-60 1,0 70

Glioblastoma humano U-87 3,5 150

Tabela 1: Citotoxicidade in vitro do complexo 7A e do quimioterápico Cisplatina

sobre o melanoma murino B16F10-Nex2 e células tumorais humanas. Cada

linhagem celular foi testada com diferentes doses do composto, e a IC50 foi

calculada como descrito em Materiais e Métodos.

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55

Figura 1: O complexo 7A não foi citotóxico para macrófagos murinos in vitro.

Macrófagos maturados a partir de progenitores de medula óssea foram incubados

com diferentes concentrações do ciclopaladado 7A. Após 6h, as células viáveis

foram contadas com o auxílio do corante de exclusão Trypan Blue.

0 1 5 10 20 50

C7A (µM)

Núm

ero

de c

élul

as v

iáve

is (

x104

)

0 1 5 10 20 50

C7A (µM)

Núm

ero

de c

élul

as v

iáve

is (

x104

)

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56

% de hemólise

Hemáceas sem tratamento 0

Triton X-100 100

Hemáceas + C7A 0,5µM 0

Hemáceas + C7A 1µM 0

Hemáceas + C7A 2,5µM 0

Hemáceas + C7A 5µM 0

Hemáceas + C7A 10µM 0

Hemáceas + C7A 20µM 0

Tabela 2: Porcentagem de hemólise causada por diferentes concentrações do

ciclopaladado 7A. Hemáceas coletadas de voluntários sadios humanos foram

incubadas por 2h com C7A, e a concentração de hemoglobina no sobrenadante

foi avaliada por leitura espectrofotométrica em 405 nm. Controles utilizados foram

hemáceas sem tratamento e hemáceas tratadas com 0.2% de Triton X-100. A

porcentagem de hemólise foi calculada em relação ao controle sem tratamento.

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Como foi demonstrado anteriormente que o mecanismo de ação do

complexo 7A sobre células de melanoma murino B16F10-Nex2 envolvia o

bloqueio da respiração celular, com a diminuição da acidificação extracelular,

esse parâmetro foi avaliado em algumas linhagens celulares tumorais

humanas. A acidificação extracelular foi avaliada utilizando-se um equipamento

específico, o Cytosensor Microphysiometer (Molecular Devices), onde a droga

é injetada nas células em pulsos, alternadamente a pulsos de meio sem droga

quando o pH do meio extracelular é quantificado. Esse sistema quantifica

alterações na acidificação extracelular em tempo real, que podem ser o

resultado de alterações na demanda de energia ocorrida em células viáveis,

respondendo a um estímulo, ou de alterações na troca de sódio-hidrogênio que

ocorre na membrana celular durante o controle homeostático do pH

intracelular.

Como se observa nos gráficos da Figura 2, enquanto o controle negativo

mantém valores estáveis durante todo o experimento, o ciclopaladado 7A

provoca uma queda abrupta na acidificação extracelular nas 3 linhagens

tumorais humanas testadas. Em 1h ou menos, a taxa de acidificação

extracelular diminuiu cerca de 80% nas células tratadas com o C7A, como

observado anteriormente com as células murinas B16F10-Nex2. Como

esperado, a Cisplatina não provocou alterações significativas no pH

extracelular das células analisadas, uma vez que o IC50 dessa droga nessas

linhagens foi muito alto, maior do que 200 µM.

O ciclopaladado 7A afeta tanto células de melanoma murino como

células tumorais humanas muito rapidamente, inibindo o seu metabolismo,

particularmente a geração de prótons na cadeia respiratória, sugerindo que a

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mitocôndria pode ser um alvo do quimioterápico nas células tumorais, e que o

mecanismo de ação do C7A tanto em células tumorais murinas como humanas

pode ser o mesmo.

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59

Figura 2: Complexo 7A diminui os níveis de acidificação extracelular em células

tumorais humanas. As células foram plaqueadas em placas de transwell durante 24h

e mantidas em meio RMPI completo com 10% de soro fetal bovino. As cubetas

foram então ajustadas no Cytosensor Microphysiometer e o sistema foi calibrado

durante 20 minutos com meio RPMI contendo 1% de BSA. As drogas, C7A (10µM) e

Cisplatina (200µM), foram diluídas no mesmo meio, adicionadas no tempo zero e

inoculadas em pulsos durante todo o experimento.

Tampão

C7A

Cisplatina

Tempo (min)

Aci

dific

ação

(%

)

Tempo (min)

Aci

dific

ação

(%

)

Tempo (min)

Aci

dific

ação

(%

)

Tampão

Cisplatina

C7A

C7A

Cisplatina

Tampão

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60

4.2 Efeito antimetastático do Ciclopaladado 7A

A atividade antitumoral do complexo 7A foi anteriormente demonstrada no

tratamento do melanoma primário, onde células de melanoma murino B16F10-

Nex2 foram inoculadas subcutaneamente, e o volume tumoral, assim como a

mortalidade, nos animais tratados ou não foram acompanhadas (Rodrigues et

al, 2003).

Para verificar o efeito antimetastático do ciclopaladado 7A,

camundongos C57BL/6 foram inoculados intravenosamente com células

B16F10-Nex2 e a colonização pulmonar por essa linhagem tumoral foi avaliada

após 13 dias. Os animais receberam doses de 200ng/kg do composto a partir

do primeiro dia após a inoculação das células tumorais, 3 vezes por semana.

Após 13 dias, os animais foram sacrificados e os pulmões coletados para a

contagem de nódulos pulmonares. Em comparação ao grupo controle, que

receberam apenas injeções de PBS, notamos uma redução significativa no

número de nódulos pulmonares nos animais tratados com o ciclopaladado 7A,

mostrando que o protocolo utilizado reduziu significativamente a formação de

nódulos pulmonares (Figura 3).

Esse resultado sugere que o ciclopaladado 7A tem uma importante ação

antimetastática no melanoma murino B16F10-Nex2.

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Controle

7A

A

B

Figura 3: O tratamento de camundongos C57Bl/6 inoculados com células de

melanoma murino com o Complexo 7A reduziu significativamente a formação de

nódulos pulmonares in vivo. Células B16F10-Nex2 foram inoculadas

intravenosamente em camundongos C57Bl/6. Os animais foram tratados

intraperitonealmente com 200ng/kg do complexo 7A, em dias alternados durante

13 dias. No 13º dia os animais foram sacrificados e o número de nódulos

pulmonares foi determinado. (A) Pulmões representativos dos animais controle

e tratados com C7A. (B) Quantificação dos nódulos pulmonares em animais

tratados e não tratados com o complexo 7A. Animais estão representados

individualmente em cada grupo e a linha horizontal representa a média, com a

barra de desvio padrão. p<0.05

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4.3 Alterações morfológicas provocadas pelo Compost o 7A:

Resultados preliminares anteriores sugeriram que o ciclopaladado 7A

leva células tumorais à morte por indução de apoptose. O tratamento de

células B16F10-Nex2 com C7A levou à degradação do DNA celular, de forma

independente de caspases 1 ou 3 (Rodrigues et al, 2003).

Iniciamos os estudos para determinação dos mecanismos pelos quais o

composto 7A causa morte das células tumorais pela avaliação das alterações

morfológicas sofridas pelas células tratadas. Células B16F10-Nex2 foram

cultivadas em lamínulas, tratadas com o quimioterápico e analisadas por

microscopia. Como pode ser observado na Figura 4, células B16F10-Nex2

tratadas com a droga apresentam alterações morfológicas em tempos bastante

curtos. Na presença da droga, observa-se uma retração do citoplasma e um

aumento da granulosidade citoplasmática, já visíveis após 5 minutos de

tratamento. A condensação nuclear fica mais evidente aos 15 minutos de

incubação com a droga (Figura 4D). Esses aspectos morfológicos são

característicos de eventos apoptóticos em células aderentes (Casciola-Rosen

et al, 1994).

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63

A

DC

B

Figura 4: Alterações morfológicas após tratamento com o complexo 7A

(10µM), observadas em microscopia óptica, como descrito em Materiais e

Métodos. Células B16F10-Nex2 (5x103 células/lamínula) foram incubadas com

10µM do ciclopaladado 7A. Mudanças na morfologia celular foram observadas

após 5 (B), 10 (C) e 15 (D) minutos de tratamento; (A) Células não tratadas.

Barra de aumento: 200µm

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64

4.4 Interação do Ciclopaladado 7A com mitocôndrias

A inibição da geração de prótons pela cadeia respiratória provocada pelo

composto 7A sugeriu que a mitocôndria das células tumorais poderia ser

afetada pelo quimioterápico, e desta forma, avaliamos diversos parâmetros

ligados a essa organela após tratamento com o C7A.

O primeiro parâmetro estudado foi o potencial de membrana mitocondrial

(∆Ψm) em células tratadas. Para isso, as células tumorais foram pré-tratadas

com TMRE, reagente fluorescente capaz de atravessar membranas íntegras,

rapidamente seqüestrado por mitocôndrias ativas e utilizado para medir o

potencial de membrana dessas organelas. As células vivas foram então

observadas em microscópio de fluorescência sem fixação, desde antes da

adição do quimioterápico, e as mitocôndrias de várias células na presença da

droga foram acompanhadas. Em condições de repouso, previamente à adição

do complexo 7A, as mitocôndrias aparecem regularmente distribuídas como

estruturas alongadas ao longo do citoplasma celular, com um alto valor de

∆Ψm (Figura 5A). Após a adição do complexo 7A, observou-se uma rápida

redução dos valores de ∆Ψm, que se mantiveram até o momento que o FCCP

foi adicionado, reagente responsável pela promoção do colapso máximo de

potencial de membrana mitocondrial. As várias mitocôndrias de cada célula

foram analisadas individualmente, e nas Figuras 5B, 5C e 5D estão

representados gráficos que mostram as diferentes variações do ∆Ψm

observadas após o tratamento com o C7A. Na Figura 5B está representada

uma mitocôndria com colapso do ∆Ψm, efeito observado em 88% das

mitocôndrias das células tratadas (Tabela 3). Na Figura 5C observa-se o perfil

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65

de uma mitocôndria com aumento do ∆Ψm, o que foi observado em 11% das

organelas analisadas (Tabela 3). E por fim, na Figura 5D está representado o

perfil de organelas não responsivas à droga C7A, que correspondem somente

a 1% das organelas analisadas no ensaio (Tabela 3).

Esse resultado demonstrou que quase a totalidade das mitocôndrias

analisadas foi afetada pelo ciclopaladado 7A, sofrendo uma diminuição ou

elevação do ∆Ψm, o que leva a uma inibição do processo respiratório e da

produção de energia para a manutenção da viabilidade celular.

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Figura 5: Tratamento das células B16F10-Nex2 com o complexo 7A provoca colapso

no potencial de membrana mitocondrial (∆Ψm). (A) Imagem representativa da ∆Ψm

após adição de C7A e FCCP. As fotos mostram uma das 100 imagens adquiridas a 1

quadro/6 segundos com objetiva de 40X, representativa do colapso de ∆Ψm. Barra de

aumento: 20µm. Em B, C e D, gráficos representativos mostrando o colapso do

potencial de membrana, aumento do potencial de membrana e mitocôndrias não

responsivas, respectivamente. As setas indicam o momento de adição das drogas.

A

B

C

D

0

100

200

300

400

500

1 10 19 28 37 46 55 64 73 82 91 100

7A 1µM

FCCP 5µM

0

500000

1000000

1500000

2000000

2500000

1 10 19 28 37 46 55 64 73 82 91 100

0

1000000

2000000

3000000

4000000

5000000

6000000

1 10 19 28 37 46 55 64 73 82 91 100

Imagem

Inte

nsid

ade

de F

luor

escê

ncia FCCP 5µMFCCP 5µM

C7A 1µMC7A 1µM

C7A 1µMC7A 1µM

C7A 1µMC7A 1µM

FCCP 5µMFCCP 5µM

FCCP 5µMFCCP 5µM

B16F10-Nex2 + C7A + FCCPB16F10-Nex2 + C7A + FCCP

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67

C7A (%)

Colapso do

∆Ψm

88

Aumento do

∆Ψm

11

Não

responsivas

1

Foram também analisados outros parâmetros para confirmar a

participação da mitocôndria na morte celular pela via intrínseca provocada pelo

C7A.

Um dos eventos pró-apoptóticos mais importantes que levam a um

processo de morte celular pela via intrínseca é a translocação da proteína Bax.

Bax é um membro pró-apoptótico da família Bcl-2 localizado

predominantemente no compartimento citosólico em células viáveis. Quando a

célula sofre qualquer estímulo apoptótico, uma fração significativa da proteína

Bax é translocada para a membrana externa mitocondrial (Wolter et al, 1997).

Para verificar se o tratamento com o ciclopaladado 7A induz a translocação da

Tabela 3: Porcentagem de mitocôndrias totais que apresentaram variação

no ∆Ψm após tratamento com o ciclopaladado 7A.

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proteína Bax para as mitocôndrias, células de melanoma murino foram

transfectadas com um plasmídeo expressando a proteína quimérica

fuorescente GFP-Bax, e realizou-se um ensaio em microscopia vital, aonde as

células são mantidas viáveis e observadas, não fixadas, em tempo real. Como

mostra a Figura 6, o complexo 7A provoca translocação de Bax para as

mitocôndrias da célula. Após 2h30min, é possível visualizar a translocação da

proteína Bax, caracterizada pela presença de intenso pontilhado ao longo da

célula. A translocação de Bax para a mitocôndria está associada com a

liberação do citocromo C da mitocôndria e ao colapso do potencial de

membrana mitocondrial (Smaili et al, 2001).

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69

0´ 30´ 1h

1h 30´

3h2h30´2h1h30´

0h 3h A

B

Figura 6: Complexo 7A promove translocação da proteína GFP-Bax citoplasmática para

mitocôndrias em células de melanoma murino. Células B16F10-Nex2 transfectadas com a

proteína GFP-Bax foram incubadas com o complexo 7A. A translocação da proteína pró-

apoptótica Bax do citoplasma para as mitocôndrias foi observada em microscopia de

fluorescência vital, com objetiva de 40X. (A) Imagem representativa de um campo onde

todas as células transfectadas e tratadas com C7A sofreram translocação de Bax após

3h. Barra de aumento: 20µm. (B) Imagem representativa de uma única célula isolada em

diversos tempos.

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70

Recentemente foi demonstrado por Santana et al (2009) que o

ciclopaladado 7B [Pd(C2,N-(R(+)dmpa)(dppe)].Cl, um enantiômero do complexo

7A, interage com grupos tióis em proteínas da membrana mitocondrial,

catalisando ligações cruzadas desses grupos e levando à permeabilização

mitocondrial, em ensaios utilizando mitocôndrias isoladas de fígado de rato.

Para verificar se C7A poderia apresentar esse mesmo efeito, células B16F10-

Nex2 foram incubadas, in vitro, com C7A na presença de DTT, um agente

redutor dos grupos tióis. Observamos que, na presença de DTT, o efeito

citotóxico do ciclopaladado foi completamente suprimido e as células

permaneceram viáveis mesmo após 2 horas de incubação com o

quimioterápico (Figura 7A). O efeito do DTT na alteração do potencial de

membrana mitocondrial causado pelo C7A também foi avaliado. Como

mostrado nas Figuras 7B e 7C, o DTT inibiu completamente o colapso de

potencial de membrana causado pelo C7A, inibindo a redução da fluorescência

do indicador TMRE.

Surpreendentemente, a análise individual das mitocôndrias nesse ensaio

demonstrou que 85% das células que receberam o tratamento com DTT

apresentaram organelas não responsivas ao ciclopaladado (Tabela 4).

Somente 15% das células apresentaram aumento ou diminuição do ∆Ψm.

Esses resultados sugerem que o complexo 7A interage diretamente com as

proteínas presentes na membrana mitocondrial, provocando um colapso no

potencial de membrana mitocondrial, translocação de Bax, com posterior

liberação de citocromo C, confirmando a morte celular através da via intrínseca

mitocondrial.

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71

C

0

5.000.000

10.000.000

15.000.000

20.000.000

1 10 19 28 37 46 55 64 73 82 91 100

Imagem

7A 1µM + DTT

FCCP5µM

Inte

nsid

ade d

e Flu

ores

cênc

ia

1 hora 2 horas

Figura 7: Efeito in vitro do complexo 7A é completamente inibido pela

adição de DTT. (A) Ensaio de citotoxicidade in vitro em presença e

ausência de DTT. Células B16F10-Nex2 foram pré-incubadas com 2mM

de DTT durante 15 minutos. Em seguida, as células foram tratadas com

10µM de C7A durante 1 ou 2 horas. A porcentagem de células viáveis

foi comparada às células sem tratamento. (B) Imagens representativas

da ∆Ψm após pré-incubação das células B16F10-Nex2 com DTT e

posterior tratamento com C7A e FCCP. As fotos mostram 3 de 100

imagens adquiridas a 1 quadro/6 segundos com objetiva de 40x. Barra

de aumento: 20µm. (C) Representação gráfica da intensidade de

fluorescência do ensaio. As setas indicam o momento de adição das

drogas.

A

B

C

B16F10 -Nex2 C7A+ DTT + FCCPB16F10 -Nex2 C7A+ DTT + FCCP

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72

4.5 Alterações mitocondriais observadas por microsc opia eletrônica de

transmissão em células de melanoma murino tratadas com C7A

Como demonstrou-se que o ciclopaladado 7A afeta as mitocôndrias das

células B16F10-Nex2, provocando um colapso do potencial de membrana

totalmente inibido por DTT, e a translocação de Bax, estudamos também a

morfologia dessas organelas após o tratamento com o quimioterápico.

Observou-se que as mitocôndrias das células tumorais tratadas com 1µM

de C7A por 15 minutos mostram-se alteradas, sem a disposição típica das

cristas mitocondriais. Observou-se também que o citoplasma das células

tratadas encontrava-se menos elétron-denso, e que a integridade da

membrana plasmática foi mantida (Figura 8).

C7A +DTT (%)

Colapso ∆Ψm 6

Aumento ∆Ψm 9

Não responsivas

85

Tabela 4: Porcentagem de mitocôndrias totais que apresentaram variação no ∆Ψm após

tratamento com o ciclopaladado 7A na presença de DTT.

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73

Esse resultado comprova o efeito do ciclopaladado 7A sobre as

mitocôndrias da célula tumoral, induzindo um processo apoptótico intrínseco.

B

N

M

N

MPM

A

Figura 8: Microscopia de transmissão eletrônica das células B16F10-Nex2

tratadas com o ciclopaladado 7A. (A) Células não tratadas. (B) Células

tratadas com 1µM de C7A, por 15 minutos. N: núcleo; M: mitocôndria; MP:

membrana plasmática. Barra da escala 0.5µm

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74

4.6 Participação do cálcio no processo de morte ind uzido pelo

Ciclopaladado 7A.

A homeostase do cálcio, que se mantém em concentrações muito

baixas intracelularmente, na ordem de nanomolar, é importante para a fisiologia

celular e sua regulação depende de um sistema complexo (Haak et al, 2000).

Alterações na concentração de cálcio podem desencadear apoptose, ou ainda

exacerbar um estímulo apoptótico prévio. Avaliamos então se o tratamento com

o complexo 7A poderia aumentar a concentração de cálcio intracelular,

colaborando assim com a cascata pró-apoptótica. Células B16F10-Nex2 foram

incubadas com o fluoróforo Fura-2AM, que permite a quantificação do cálcio

intracelular. Quando as células foram incubadas em tampão contendo cálcio,

observou-se que o tratamento das células de melanoma murino com o

complexo 7A provoca um aumento significativo de cálcio intracelular. E quando

as células tumorais foram incubadas em tampão desprovido de cálcio,

observou-se também um aumento do cálcio intracelular, embora em menor

intensidade (Figura 9).

Esse resultado sugere que o tratamento com o ciclopaladado 7A induza

a liberação de cálcio de organelas celulares (mitocôndrias, retículo

endoplasmático), mas que também uma pequena concentração de cálcio

extracelular é internalizada, o que potencializa o efeito apoptótico causado pelo

quimioterápico.

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75

0 100 200 300 400 500

100

80

60

20

40

0

-20-40

0 50 100 150 200 250 300 350

50

40

20

30

10

0

-10

ImagemRaz

ão d

e F

luor

escê

nci

a (3

40/3

60n

m)

0

20

40

60

80

100

+ Cálcio - Cálcio

Raz

ão d

e F

luor

escê

nci

a(34

0/38

0 n

m)

+ Cálcio - Cálcio

.

Figura 9: Ciclopaladado 7A induz liberação de cálcio intracelular. (A)

Representação gráfica da variação da concentração de cálcio intracelular em

células B16F10-Nex2 marcadas com o indicador Fura-2AM e tratadas com C7A

em meio contendo ou não cálcio. Células tumorais foram pré-incubadas com

FURA-2AM e tratadas no tempo 0 com C7A (B) Gráfico que representa a média

da concentração do cálcio em 50 células analisadas ; *p<0,05

*

A

B

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76

4.7 Ativação de caspases

Um dos eventos característicos da apoptose é a ativação de caspases.

Como nossos resultados sugerem uma morte celular por ativação da via

intrínseca mitocondrial, avaliamos o perfil de caspases ativadas nestes eventos

de morte celular gerados pelo ciclopaladado. O complexo 7A é capaz de ativar

a caspase-3, como observado em ensaio de citometria de fluxo, de maneira

bastante semelhante ao controle positivo, Actinomicina D (Figura 10A).

Avaliando-se a ativação de outras caspases, agora por um método

colorimétrico (Figura 10B), observou-se que o tratamento com o ciclopaladado

7A ativou todas as caspases avaliadas, caspase 2, 3, 6, 8 e 9, da mesma

forma que o tratamento com a luz UV (controle positivo no ensaio). A ativação

de caspases pode levar à degradação do DNA celular, levando assim a célula

à morte.

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77

Figura 10: O tratamento com o ciclopaladado 7A ativa caspases nas células

B16F10-Nex2. (A) Ativação de caspase 3 nas células B16F10-Nex2 após 24h

de incubação com Actinomicina D (10µg) ou C7A (10µM). C1, células

B16F10-Nex2 sem nenhum tratamento. C2, células B16F10-Nex2 incubadas

somente com anticorpos anti-caspase 3. Amostras foram analisadas por

citometria de fluxo. (B) Ativação de caspases quantificada por ensaio

colorimétrico, após tratamento com C7A (10µM) ou exposição à luz UV, como

descrito em Materiais e Métodos. Controle, células sem nenhum tratamento.

A C2

C1

Actinomicina DC7A

Ativação de Caspase 3 (%)

C2

C1

Actinomicina DC7A

Ativação de Caspase 3 (%)

Controle

UV

7A

B

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78

4.8 Alterações nucleares e degradação do DNA induz idas pelo

Ciclopaladado7A

Células B16F10-Nex2 foram incubadas com o corante fluorescente

Hoechst 33342, que se liga ao DNA, com o objetivo de avaliar se o complexo

7A provoca alterações nucleares. Foram consideradas as seguintes alterações

nucleares: aumento na intensidade de fluorescência do indicador Hoescht

33342 e presença de núcleos picnóticos.

Observamos que o composto ciclopaladado 7A induz alterações

nucleares de modo tempo dependente (Tabela 4). Na Figura 11A, observa-se

que as células B16F10-Nex2 não tratadas apresentam núcleos corados e com

pouca ou nenhuma condensação nuclear. Entretanto, o tratamento das células

com o complexo 7A deixa os núcleos bastante fluorescentes, sugerindo uma

intensa condensação nuclear, e ainda alguns núcleos picnóticos.

Em seguida, foram realizadas extrações do DNA genômico de células

B16F10-Nex2 após tratamento com o complexo 7A. Através desta metodologia

é possível visualizar degradação do DNA característica de processo apoptótico,

observando-se fragmentos com pesos moleculares múltiplos de 200 pares de

bases, resultante da atividade da nuclease CAD (caspase-activated

deoxyribonuclease), que é ativada por caspase-3. Podemos observar na Figura

11B que o DNA extraído das células tratadas com o C7A apresentou padrão

semelhante ao observado em células que sofreram apoptose, tratadas com

Actinomicina D (controle positivo do ensaio).

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79

Esse resultado corrobora a ativação da caspase 3 com a consequente

ativação da nuclease CAD, e que o tratamento com o ciclopaladado 7A leva

células tumorais à morte por apoptose.

Tempo (min) %

0 6.5 5 12.5

10 41 25 85

Tabela 4: Porcentagem das células B16F10-Nex2 que apresentaram

alterações nucleares como aumento na intensidade da fluorescência e núcleos

picnóticos após o tratamento com o ciclopaladado 7A.

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80

Figura 11: Alterações nucleares e degradação de DNA causada pelo complexo 7A.

(A) Imagens representativas das células murinas tratadas com C7A durante 0, 5, 10 e

25 minutos. O aumento da fluorescência das células marcadas com Hoechst 33342

indica condensação nuclear. As setas representam alterações nucleares tais como:

aumento na intensidade de fluorescência e presença de núcleos alongados e/ou

picnóticos. (B) Células B16F10-Nex2 foram tratadas durante 24h com C7A (10µM) ou

Actinomicina D (Act D , 10µg). B16F0-Nex2 , células sem tratamento. O DNA celular

foi extraído, separado por eletroforese em gel 0.8% e visualizado pela coloração por

brometo de etídio. STD: Marcador de peso molecular, fragmentos de 1Kb (Invitrogen).

Barra de aumento: 20µm.

A

0` 5`

10` 25`

A

0` 5`

10` 25`

B16

F10-

Nex

2

STD

Act

D

C7A

B

B16

F10-

Nex

2

STD

Act

D

C7A

B

STD

Act

D

C7A

B

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81

4.9 A morte celular causada pelo ciclopaladado 7A e m células tumorais

não é dependente de catepsinas

Um dos ciclopaladados sintetizados, denominado Ciclopaladado 6B

(Rodrigues et al, 2003), apresenta atividade antitumoral contra células

leucêmicas in vitro, levando as células tumorais à morte através de um

processo de apoptose por liberação de enzimas lisossomais. Este

quimioterápico induz a liberação de catepsina B das organelas lisossomais, e

catepsinas vem sendo implicadas na regulação das vias intrínseca e extrínseca

de apoptose, assim como cogita-se que as mesmas tenham uma atividade

enzimática direta sobre caspases. Para verificar se o efeito do ciclopaladado

7A poderia envolver a participação de enzimas lisossomais nas células de

melanoma murino B16F10-Nex2, catepsinas foram inibidas previamente ao

tratamento com o quimioterápico.

Primeiramente, foi utilizado o inibidor de cisteíno-proteases E-64, capaz

de atravessar a membrana das células tumorais. Após pré-incubação com o

inibidor na concentração de 200, 300 ou 400µM por 120 minutos, as células

foram tratadas com 1µM de C7A e a viabilidade celular foi avaliada. Como pode

ser observado na Figura 12A, o pré-tratamento com E-64 não conseguiu

prevenir a morte celular causada pelo complexo 7A, sugerindo que enzimas

lisossomais não estejam envolvidas no processo de morte causado pelo C7A.

O mesmo ensaio foi realizado utilizando um inibidor seletivo de catepsina B, o

CA-074-Me (N-(L-3-trans-Propylcarbonyl-oxirane-2-carbonyl)-L-isoleucyl-L-

proline methyl ester), derivado metilado e permeável do composto CA-074

(Figura 12B). Novamente, não se observou inibição do efeito do C7A.

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As concentrações utilizadas nos ensaios descritos foram previamente

determinadas como não tóxicas para células B16F10-Nex2, e são

concentrações capazes de inibir seletivamente a atividade enzimática nessas

células in vitro (Paschoalin, T. Comunicação pessoal).

Esses resultados mostram que catepsinas não participam no processo

de morte induzido pelo C7A.

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83

0

10

20

30

40

50

60

Controle 7A 1µM 200µM 350µM 500µM 200µM 350µM 500µM

núm

ero

de

célu

las

viá

veis

(x10

4 )

E-64 + 7A

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

Controle 7A (1µM) 10µM 5µM 2.5µM 10µM 5µM 2.5µM

n°de

cél

ulas

viáv

eis

(x10

4 )

7A + Ca074-Me Ca074-Me

E-64

E-64

A

B

Figura 12: Atividade do ciclopaladado 7A sobre células tumorais não é

dependente de catepsinas. Células B16F10-Nex2 foram pré-incubadas com

inibidores e tratadas com C7A por 24h. A viabilidade celular foi derminada com

Trypan Blue. (A) Diferentes concentrações de E-64 foram usadas na presença

ou não de 1 µM de C7A. (B) Diferentes concentrações de Ca074-Me foram

usadas na presença ou não de 1 µM de C7A.

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4.10 Efeito do Ciclopaladado 7A no processo angiogê nico

Além da atividade direta sobre as células tumorais, o composto 7A pode

afetar também o processo angiogênico. Este fenômeno caracteriza-se pela

formação de novos vasos sanguíneos no ambiente tumoral, favorecendo assim

o crescimento do tumor in vivo. Para este estudo, foi padronizado um ensaio in

vitro em nosso laboratório (Paschoalin et al, 2007) onde utiliza-se células

endoteliais do cordão umbilical humano (HUVECs) em presença de Matrigel. O

Matrigel consiste em matriz extracelular secretada por células de sarcoma

murino, que contém uma série de componentes presentes na matriz, como, por

exemplo, laminina e colágeno IV, capazes de ativar a formação de neo-vasos

por células endoteliais.

Primeiramente, determinou-se a atividade citotóxica direta do

ciclopaladado 7A in vitro sobre as células HUVECs, na ausência do Matrigel.

Na Figura 13A observa-se que o complexo 7A é bastante tóxico para a

linhagem de células endoteliais HUVEC, pois a concentração de 1µM é

próxima do IC50 do quimioterápico. A concentração de 0.5 µM corresponde

aproximadamente ao IC20 do C7A para essa linhagem celular. Desta forma,

utilizamos as concentrações de 0,5 e 0,2 µM para verificar a capacidade de

inibição da formação estruturas pró-angiogênicas no ensaio padronizado.

Observou-se que a concentração de 0,5 µM do C7A, que inibiu 20% do

crescimento da linhagem de células HUVEC in vitro, inibiu 100% da formação

de estruturas pró-angiogênicas in vitro, sugerindo que o ciclopaladado 7A

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possa também apresentar um efeito sobre a angiogênese tumoral in vivo, além

da atividade citotóxica direta sobre as células tumorais.

Figura 13: Efeito do ciclopaladado 7A sobre a angiogênese. Diferentes concentrações de

C7A foram diluídas em meio contendo 0,2% de SFB e adicionadas a 5x103 células

HUVEC. (A) Citotoxicidade do complexo 7A sobre as células HUVECs in vitro. (B)

Representação gráfica do número de estruturas pró-angiogênicas contadas por poço. As

células foram cultivadas em placa de 96 poços contendo Matrigel, como descrito em

Materiais e Métodos

A

B

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

0 0,1 0,2 0,5 1 2 5

Abs

570

nm

C7A (µM)

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

1,2

1,4

0 0,1 0,2 0,5 1 2 5

Abs

570

nm

C7A (µM)

0

10

20

30

40

50

60

0 0,2 0,5 1

No.

est

rutu

ras

pré-

angi

ogên

icas

C7A (µM)

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86

5.0 RESULTADOS: COMPOSTOS DE RUTÊNIO

5.1 Compostos de Rutênio apresentam ação citotóxica in vitro

Em colaboração com o Prof. Dr. Douglas Wagner Franco, foram testados

compostos tetraamina rutênio doadores de óxido nítrico, que apresentam a

fórmula geral trans-[Ru(NH3)4L(NO)], onde L é um ligante de estabilização do

complexo e os grupos imidazol, isonicotinamida, L-histidina, piridina ou picolina

foram testados (Borges et al, 1998). Alguns destes compostos, como por

exemplo, trans-[Ru(NO)(NH3)4isn] (BF4)3 e trans-[Ru(NO)(NH3) 4imN] (BF4)3

já foram testados em modelo experimental de doença de Chagas, aonde

observou-se que estes compostos eram capazes de lisar o parasita

Trypanossoma cruzi in vitro e in vivo (Silva et al, 2009). Os compostos

conseguiram eliminar ninhos de amastigotas no tecido do miocárdio, com uma

dose de 400nmol/kg, garantindo a sobrevivência de todos os animais

infectados. Além disso, estes compostos tetraamina rutênio doadores de óxido

nítrico foram também eficientes na indução de vasodilatação, já que estes

agentes induziram um efeito relaxante nos anéis da artéria aorta (Zanichelli et

al, 2007).

A ação do óxido nítrico é bastante variada no câncer, já que a literatura

relata funções antineoplásicas versus proneoplásicas (Mocelin et al, 2007)

Portanto, a atividade final do óxido nítrico no câncer é dependente do

microambiente, incluindo o tipo de célula exposto ao composto, concentração

intracelular final e duração da exposição intracelular ao óxido nítrico (Huerta et

al, 2008). Alguns estudos demonstram que o óxido nítrico apresenta

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propriedades antiapoptóticas em células de melanoma, enquanto que outros

trabalhos sugerem que o óxido nítrico pode inibir metástases, diminuindo a

resistência ao quimioterápico (Ekmekcioglu et al, 2005).

Para verificar se os compostos tetraamina rutênio sintetizados com o

objetivo de liberar NO apresentavam atividade antitumoral no modelo

experimental de melanoma, células B16F10-Nex2 foram incubadas por 24h na

presença dos diferentes compostos de rutênio sintetizados. As células viáveis

pós-tratamento foram contadas e os valores de IC50 foram calculados. Como

pode ser observado na Tabela 1, a maioria dos compostos nitrosados

causaram redução na viabilidade da linhagem celular analisada. Com exceção

do composto Ru(NO)Hedta, todos os compostos nitrosados apresentaram IC50

abaixo de 100 �M. Os 3 compostos sulfatados testados, sintetizados com os

mesmos ligantes para controle dos compostos doadores de NO, apresentaram

IC50 acima de 100 µM, chegando a 1 mM.

Baseando-se nos valores de IC50 e na estrutura dos compostos testados,

escolhemos apenas três para seguir com os ensaios in vivo. Selecionamos dois

compostos doadores de óxido nítrico. São eles: trans-[Ru(NO)(NH3)4isn](BF4)3,

por apresentar o IC50 mais baixo dos compostos testados (1 �M), trans-

[Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3, pelo seu valor intermediário de IC50 (74 �M), e como

controle negativo dos experimentos, escolhemos um composto sulfatado,

incapaz de liberar óxido nítrico, mas com o mesmo ligante de um dos

compostos selecionados, trans-[Ru(NH3)4imN(SO4)]Cl, com um valor de IC50

bastante elevado, 444 µM.

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88

Em seguida, um ensaio de citotoxicidade celular in vitro sobre linhagens

tumorais humanas foi realizado com os dois compostos selecionados: trans-

[Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3 e o seu controle sulfatado trans-

[Ru(NH3)4imN(SO4)]Cl. Analisando as Tabelas 2 e 3 observa-se que ambos os

compostos são citotóxicos contra células tumorais humanas. Entretanto, as

células tumorais humanas parecem ser mais resistentes ao composto doador

de óxido nítrico do que as células de melanoma murino, uma vez que os IC50

para as células humanas ficaram em torno de 300 µM enquanto para as células

murinas foi de 74 µM. Já para o composto sulfatado, os valores de IC50 foram

semelhantes, tanto para as células murinas como para as células humanas.

Esses resultados mostram que compostos de rutênio doadores de óxido

nítrico, além de atividades anti-parasitária e angiogênica, também apresentam

atividade antitumoral in vitro sobre células de melanoma murino e linhagens

tumorais humanas.

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89

Tabela 1. Valores de IC50 dos compostos trans-[RuIII(NO+)(NH3)4(L)]3 e alguns

compostos sulfatados, sintetizados como controle, testados em células de

melanoma murino B16F10-Nex2

COMPOSTOS DE RUTÊNIO IC50 (µM)

trans-[Ru(NO)(NH3)4isn](BF4)3 1

trans-[Ru(NO)(NH3)44-pic](BF4)3 6

trans-[Ru(NO)(NH3)4nic](BF4)3 20

trans-[Ru(NO)(NH3)4P(OEt)3](PF6)3 33

trans-[Ru(NO)(NH3)5](BF4)3 44

trans-[Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3 74

trans-[Ru(NO)(NH3)4py](BF4)3 86

[Ru(NO)Hedta] > 4000

trans-[Ru(NH3)4isn(SO4)]Cl 137

trans-[Ru(NH3)4imN(SO4)]Cl 444

trans-[Ru(NH3)4L-his(SO4)]Cl 1000

COMPOSTOS DE RUTÊNIO IC50 (µM)

trans-[Ru(NO)(NH3)4isn](BF4)3 1

trans-[Ru(NO)(NH3)44-pic](BF4)3 6

trans-[Ru(NO)(NH3)4nic](BF4)3 20

trans-[Ru(NO)(NH3)4P(OEt)3](PF6)3 33

trans-[Ru(NO)(NH3)5](BF4)3 44

trans-[Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3 74

trans-[Ru(NO)(NH3)4py](BF4)3 86

[Ru(NO)Hedta] > 4000

trans-[Ru(NH3)4isn(SO4)]Cl 137

trans-[Ru(NH3)4imN(SO4)]Cl 444

trans-[Ru(NH3)4L-his(SO4)]Cl 1000

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90

Linhagens tumorais humanas IC50

(µM)

SKMel25

SKMel28

HCT

LS180

Siha

MDA

MCF-7

U-87

HL-60

338

297

271

399

272

319

459

389

436

Tabela 2 . Valores de IC50 do composto trans-[Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3 em

células tumorais humanas tratadas in vitro.

Tabela 3 . Valores de IC50 do composto trans-[Ru(NH3)4imN](SO4)]Cl em células

tumorais humanas tratadas in vitro.

Linhagens tumorais humanas IC 50 ( µM )

A2058

HCT

Siha 333

Linhagens tumorais humanas IC 50 ( µM )

A2058 335

HCT 287

Siha 333

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91

5.2 Alterações morfológicas causadas por Compostos de Rutênio nas células tumorais in vitro

Para determinar o mecanismo de ação pelo qual os compostos de

rutênio nitrosados poderiam estar levando as células tumorais à morte, foram

primeiramente analisados os aspectos morfológicos das células B16F10-Nex2

tratadas com um dos compostos doadores de óxido nítrico, o trans-

[Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3, daqui para frente denominado de RuImNO e com o

composto controle trans-[Ru(NH3)4imN(SO4)]Cl, denominado RuImSO 4. Após o

tratamento das células por 24h com as doses de IC50 já mostradas na Tabela 1,

pode-se observar alterações morfológicas bastante significativas (Figura 1). As

células incubadas na presença do composto RuImNO mostram uma completa

destruição celular, com perda da integridade de membrana, liberação do

conteúdo citoplasmático, e intensa formação de debris. Essas características

morfológicas sugerem a indução de um processo necrótico pelo composto

nitrosado. Por outro lado, as células de melanoma murino tratadas com o

composto RuImSO4 mostram uma retração citoplasmática, com a manutenção

da integridade da membrana plasmática, sugerindo a indução de um processo

apoptótico de morte celular.

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92

200X

Controle

RuImNO

RuImSO 4

Figura 1: Alterações morfológicas nas células tumorais murinas após o

tratamento com os compostos trans-[Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3 (RuImNO ) e

trans-[Ru(NH3)4imN(SO4)]Cl (RuImSO 4). Células B16F10-Nex2 (5x103

células/poço) foram incubadas com os valores de IC50 dos respectivos

compostos. Mudanças na morfologia celular foram observadas após 24h de

incubação, em microscópio ótico NiKon Eclipse E600, em aumentos de 200

e 400 X, em contraste de fase, como descrito em Materiais e Métodos. Barra

de aumento: 20µm.

400X

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93

5.3 Degradação de DNA provocada por Compostos de Ru tênio

Em seguida, foi avaliada a integridade do DNA após o tratamento com os

compostos RuImNO e RuImSO4. O DNA genômico foi extraído das células

B16F10-Nex2 após o tratamento com o IC50 dos compostos por 24h. Pode-se

observar na Figura 2 que o DNA extraído das células tratadas apresentou

padrão de degradação semelhante ao observado em células que sofreram

apoptose induzida por 10 µM de Camptotensina, conhecido agente indutor de

apoptose.

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94

Figura 2: Degradação de DNA causada pelos compostos RuImNO e RuImSO4.

Células B16F10-Nex2 foram tratadas durante 24h RuImNO (74µM), RuImSO4

(444µM) e Camptotensina (10µM). O DNA celular foi extraído e separado por

eletroforese em gel 0.8% e visualizado pela marcação por brometo de etídio.

Standard : Marcador de peso molecular, fragmentos de 1Kb (Invitrogen). B16F10-

Nex2, células controle não tratadas.

Standard

B16F10

-

Nex2

B16F10

-

Nex2 +

ImnNO

B16F10

-

Nex2 +

ImnNO

+

Z

-

vad

B16F10

-

Nex2 +

Camptotensina

B16F10=Nex2 +

Camptotensina

+

Z

-

vad

Sta

ndar

d

B16

F10

-Nex

2

B16

F10

-Nex

2 +

Cap

tote

nsin

a

B16

F10

-Nex

2 +

RuI

mN

O

Standard

B16F10

-

Nex2

B16F10

-

Nex2 +

ImnNO

B16F10

-

Nex2 +

ImnNO

+

Z

-

vad

B16F10

-

Nex2 +

Camptotensina

B16F10=Nex2 +

Camptotensina

+

Z

-

vad

Standard

B16F10

-

Nex2

B16F10

-

Nex2 +

ImnNO

B16F10

-

Nex2 +

ImnNO

+

Z

-

vad

B16F10

-

Nex2 +

Camptotensina

B16F10=Nex2 +

Camptotensina

+

Z

-

vad

Sta

ndar

d

B16

F10

-Nex

2

B16

F10

-Nex

2 +

Cap

tote

nsin

a

B16

F10

-Nex

2 +

RuI

mN

O

ImnNO Camptotensina

Camptotensina

+

Z

-

vad

+

Z

-

vad

Sta

ndar

d

B16

F10

-Nex

2

B16

F10

-Nex

2 +

Cap

tote

nsin

a

B16

F10

-Nex

2 +

RuI

mS

O4

ImnNO Camptotensina

Camptotensina

+

Z

-

vad

+

Z

-

vad

Sta

ndar

d

B16

F10

-Nex

2

B16

F10

-Nex

2 +

Cap

tote

nsin

a

B16

F10

-Nex

2 +

RuI

mS

O4

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95

5.3 Efeito do RuImNO na angiogênese

Existem vários relatos na literatura demonstrando o papel do óxido nítrico

na progressão tumoral, principalmente promovendo a angiogênese no

microambiente tumoral, facilitando o crescimento do tumor in vivo (Bonavida et

al, 2006; Ambs et al, 1998). Entretanto, existem relatos que, dependendo da

concentração, o óxido nítrico pode inibir o desenvolvimento tumoral (Huerta et

al, 2008). Desta forma, analisamos o efeito do composto RuImNO no processo

angiogênico in vitro.

Inicialmente, foi analisado se o composto apresentava ação direta in vitro

sobre as células HUVECs, na ausência do Matrigel. A Figura 3A mostra que o

composto RuImNO não apresenta atividade inibitória significativa sobre a

viabilidade das células endoteliais humanas nas concentrações utilizadas, de

10 a 500 µM. Na concentração mais alta houve uma redução de cerca de 25%

na viabilidade celular quantificada por MTT.

Para a verificação do efeito do complexo RuImNO no processo de

angiogênese, foi utilizado um ensaio in vitro, padronizado em nosso laboratório

por Paschoalin et al , 2007, com as concentrações de 25, 100 e 250µM do

complexo, e cultivo das células em presença de Matrigel. Após 18h de

incubação, o número de estruturas pré-angiogênicas foram contadas como

descrito em Materiais e Métodos (Figura 3B) e representadas graficamente

como mostrado na Figura 3C. Observa-se que nas concentrações de 100 e

250µM, o composto RuImNO foi capaz de inibir significativamente a formação

de novos vasos, sugerindo que in vivo o complexo de Rutênio doador de NO

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96

pode também apresentar um efeito antiangiogênico, interferindo no

desenvolvimento tumoral.

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97

A

Figura 3: Efeito do composto RuImNO sobre a angiogênese. O quimioterápico foi

diluído em meio contendo 0.2% de SFB em diferentes concentrações e incubado na

presença de 5x103 células HUVEC. As células foram adicionadas em placa de 96

poços contendo Matrigel. (A) Citotoxicidade in vitro do composto sobre as células

HUVECs. (B) Fotos representativas da formação de estruturas pré-angiogênicas após

18h de incubação na presença de Matrigel. (C) Representação gráfica do número de

estruturas pré-angiogênicas contadas. Cada ponto foi feito em triplicata.

0 10 25 50 100 250 500

RuImNO (µM)

Abs

(570

nm)

0 10 25 50 100 250 500

RuImNO (µM)

Abs

(570

nm)

B

250 µµµµ M 100 µµµµ M 25 µµµµ MControle

0 250 100 25

RuImNO (µM)

nºde

est

rutu

ras

pré-

angi

ogên

icas

C

B250 µµµµ M250 µµµµ M 100 µµµµ M100 µµµµ M 25 µµµµ M25 µµµµ MControleControle

0 250 100 25

RuImNO (µM)

nºde

est

rutu

ras

pré-

angi

ogên

icas

C

0 250 100 25

RuImNO (µM)

nºde

est

rutu

ras

pré-

angi

ogên

icas

0 250 100 25

RuImNO (µM)

nºde

est

rutu

ras

pré-

angi

ogên

icas

C

B

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98

5.4 Estabelecimento de protocolo terapêutico in vivo para avaliação do

efeito antitumoral dos Compostos de Rutênio

Foram realizados ensaios in vivo com os dois compostos de rutênio

doadores de NO selecionados pelos valores de IC50 obtidos in vitro, como

descrito anteriormente.

Camundongos C57Bl/6 foram desafios subcutaneamente com 5x104

células B16F10-Nex2. No dia seguinte após o desafio, os animais foram

tratados com injeções intraperitoneais com diferentes doses dos seguintes

compostos: trans-[Ru(NO)(NH3)4isn](BF4)3 ou RuIsnNO , e trans-

[Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3, ou RuImNO . Ambos os compostos apresentam

estruturas químicas bastante semelhantes, possuindo um átomo de Rutênio

complexado a 4 moléculas de NH3, que se liga ao NO e a um ligante que

estabiliza a estrutura. A diferença entre os dois é o ligante que estabiliza a

molécula: o composto RuImNO possui um grupo Imidazol como ligante,

enquanto que o composto RuIsnNO possui o grupo isonicotinamida. Foram

usadas as concentrações de 100nmol e 500nmol por dose, por animal para o

composto RuImNO e de 10 e 100nmol por dose, por animal para o composto

RuIsnNO. A concentração selecionada dos compostos para os ensaios in vivo

baseou-se nas concentrações utilizadas em ensaios com animais Balb/c para o

tratamento experimental da Leishmaniose e da Doença de Chagas, aonde

observou-se que o tratamento foi bastante eficiente. Cada grupo de animais foi

tratado durante duas semanas em dias alternados. Após este período, os

animais foram acompanhados para avaliação do desenvolvimento tumoral e

valores de sobrevida.

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99

A Figura 4 mostra a evolução tumoral e as porcentagens de sobrevida

dos animais tratados com RuIsnNO. Observa-se que o tratamento dos animais

com a dose de 10nmol foi mais eficiente do que o tratamento com a dose de

100nmol. Observou-se que 40% e 20% dos animais ficaram livres de tumor nas

doses de 10 e 100nmol, respectivamente, sugerindo que doses menores do

composto apresentam menor toxicidade in vivo. No entanto, observa-se

claramente que enquanto um grupo de animais responde ao tratamento, o

desenvolvimento tumoral de alguns animais (60% e 80% para as doses de 10 e

100nmol, respectivamente) não é afetado pela droga, e os tumores se

desenvolvem de forma muito similar aos animais não tratados.

No tratamento com o composto RuImNO, tanto no grupo de animais

tratados com 100nmol do composto como no grupo que recebeu 500nmol da

droga observou-se que 40% dos animais ficaram livres de tumor (Figura 5).

Novamente, observam-se 2 grupos distintos de animais: os responsivos, que

são protegidos; e os não responsivos, que para este composto parecem

desenvolver os tumores de forma mais exacerbada que os controles não

tratados, indo a óbito mais rapidamente.

Apesar do efeito terapêutico dos compostos RuIsnNO e RuImNO in vivo

sobre um grupo de animais responsivos, tanto na Figura 4 quanto na Figura 5

nota-se que existem alguns animais do grupo tratado que morrem

precocemente, até mesmo antes dos animais do grupo tratado apenas com

PBS, com volumes tumorais abaixo dos 3 cm3. Isso se deve provavelmente ao

efeito tóxico destes compostos doadores de óxido nítrico. Observamos que

durante as semanas de tratamento, os animais que recebiam os compostos

ficaram bastante debilitados. Havia queda de pêlos e alguns animais perdiam

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100

peso (dados não mostrados). Estes sintomas também foram observados nos

animais livres de tumor. Ao término das duas semanas de tratamento, estes

animais se recuperavam, mantendo assim os níveis de sobrevida em cerca de

40%.

Para diminuir essa possível toxicidade, um novo protocolo com o

composto RuImNO em dose mais baixa, 50nmol por animal, e com a dose já

testada anteriormente de 100nmol por animal, foi avaliado. Após o desafio

subcutâneo com 5x104 células B16F10-Nex2, os animais foram inoculados com

o quimioterápico intraperitonealmente durante duas semanas. Na primeira

semana os animais receberam o tratamento em dias consecutivos, enquanto

que na semana seguinte o tratamento se deu em dias alternados. Não foi

observada diminuição no efeito tóxico ou melhora no efeito terapêutico do

composto nesse novo protocolo (dados não mostrados).

Para avaliar se a atividade antitumoral e, ao mesmo tempo, tóxica para

os animais era devido a liberação do óxido nítrico pelos compostos nitrosados,

ensaios in vivo foram realizados com o composto controle sulfatado RuImSO4.

Este composto possui uma molécula de sulfato no sítio de coordenação do

óxido nítrico e tem como ligante o grupo imidazol, e foi sintetizado

primariamente como controle do composto nitrosado com o mesmo ligante de

estabilização.

No primeiro protocolo terapêutico utilizado, após o desafio com as

células tumorais, os animais receberam doses do composto RuImSO4 em dias

alternados pelo período de duas semanas. Surpreendentemente, como mostra

a Figura 6, 80% e 50% dos animais que receberam as doses de 100nmol e

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101

500nmol, respectivamente, ficaram livres de tumor. Na dose de 100 nmol,

somente 1 animal de um grupo de 5 desenvolveu tumor subcutâneo, e mesmo

assim, com um retardo significativo em relação ao grupo controle. Já na dose

de 500nmol observou-se novamente a existência de um grupo de 50% de

animais não responsivos ao tratamento. Mais importante, não foi observado

efeito tóxico deste composto nos animais tratados.

O mesmo ensaio foi realizado com uma menor concentração do

composto RuImSO4. Os animais foram tratados com 50nmol ou 100nmol do

composto RuImSO4 por 2 semanas em dias alternados. Observa-se na Figura

7 que ambas as doses se mostraram bastante eficientes na inibição do

desenvolvimento tumoral. Houve um aumento significativo na sobrevida dos

animais tratados com a dose de 100nmol, e o tratamento com 50nmol de

RuImSO4, além de não ter ocasionado efeitos colaterais, protegeu cerca de

30% dos animais, que ficaram livres de tumores. Em ambas as doses, houve

um retardo significativo no desenvolvimento tumoral da maioria dos animais

tratados, comparados ao grupo de animais tratados com PBS. Utilizou-se

também o protocolo onde os animais eram inoculados na primeira semana em

dias consecutivos e na segunda semana em dias alternados com essas 2

doses, e não observou-se melhora na resposta terapêutica ao composto

(dados não mostrados).

Como o composto sulfatado e com o ligante de imidazol mostrou-se mais

efetivo nos protocolos in vivo do modelo subcutâneo do melanoma murino, ele

também foi testado no modelo de metástase pulmonar. Animais C57Bl/6 foram

desafiados endovenosamente com 5x105 células B16F10-Nex2, e no dia

seguinte após o desafio, iniciou-se o tratamento com 100nmol do composto

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102

RuImSO4, com injeções intraperitoneais, em dias alternados. No 13º dia, os

animais foram sacrificados e o número de nódulos pulmonares foi avaliado.

Como mostra a Figura 8, o tratamento com o composto RuImSO4 levou a uma

redução significativa na formação de nódulos pulmonares, demonstrando que o

composto é ativo tanto no tratamento de tumores primários como metastáticos.

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103

Figura 4: Composto RuIsnNO no tratamento de animais desafiados com

células de melanoma murino. Animais C57Bl/6 foram desafiados

subcutaneamente com células de melanoma murino B16F10-Nex2. No dia

seguinte, iniciou-se o tratamento intraperitoneal com RuIsnNO ou PBS por 2

semanas em dias alternados. (A) Animais tratados com 10nmol/kg. (B)

Animais tratados com 100nmol/kg. Foram utilizados 10 animais para o grupo

controle e 5 animais para o grupo experimental. Estão representados o

volume tumoral individual medido a cada 3 dias, como descrito em Materiais e

Métodos, e a sobrevida dos animais, observada por até 60 dias.

A

B

20 25 30 35 40

3000

2500

2000

1500

1000

500

0

3000

2500

2000

1500

1000

500

020 25 30 35 40 20 30 40 50 60

20 30 40 50 60

100

80

60

40

20

0

100

80

60

40

20

0

Dias após o desafio

Dias após o desafio Dias após o desafio

Dias após o desafio

Sob

revi

da (

%)

Sob

revi

da (

%)

Vol

ume

tum

oral

(m

m3 )

Vol

ume

tum

oral

(m

m3 )

PBS RuIsnNO 10nmol

PBS RuIsnNO 100nmol

20 25 30 35 40

3000

2500

2000

1500

1000

500

0

3000

2500

2000

1500

1000

500

020 25 30 35 40 20 30 40 50 60

20 30 40 50 60

100

80

60

40

20

0

100

80

60

40

20

0

Dias após o desafio

Dias após o desafio Dias após o desafio

Dias após o desafio

Sob

revi

da (

%)

Sob

revi

da (

%)

Vol

ume

tum

oral

(m

m3 )

Vol

ume

tum

oral

(m

m3 )

PBS RuIsnNO 10nmolPBS RuIsnNO 10nmol

PBS RuIsnNO 100nmolPBS RuIsnNO 100nmol

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104

Figura 5: Composto RuImNO no tratamento de animais desafiados com

células de melanoma murino. Animais C57Bl/6 foram desafiados

subcutaneamente com células de melanoma murino B16F10-Nex2. No dia

seguinte, iniciou-se o tratamento intraperitoneal com RuImNO ou PBS por 2

semanas em dias alternados. (A) Animais tratados com 100nmol/kg do

composto. (B) Animais tratados com 500nmol/kg do composto. Foram

utilizados 10 animais para o grupo controle e 5 animais para o grupo

experimental. Estão representados o volume tumoral individual medido a cada

3 dias, como descrito em Materiais e Métodos, e a sobrevida dos animais,

observada por até 42 dias.

A

B

Sob

revi

da (

%)

Sob

revi

da (

%)

100

80

60

40

20

100

80

60

40

20

20 25 30 35 40

20 25 30 35 40

3000

2500

2000

1500

1000

500

0

3000

2500

2000

1500

1000

500

0

Vol

ume

tum

oral

(m

m3 )

Vol

ume

tum

oral

(m

m3 )

Dias após o desafio

Dias após o desafio

25 28 30 32 34 36 38 40 42 44

25 28 30 32 34 36 38 40 42

Dias após o desafio

Dias após o desafio

PBS RuImNO 100nmol

PBS RuImNO 500nmol

Sob

revi

da (

%)

Sob

revi

da (

%)

100

80

60

40

20

100

80

60

40

20

20 25 30 35 40

20 25 30 35 40

3000

2500

2000

1500

1000

500

0

3000

2500

2000

1500

1000

500

0

Vol

ume

tum

oral

(m

m3 )

Vol

ume

tum

oral

(m

m3 )

Dias após o desafio

Dias após o desafio

25 28 30 32 34 36 38 40 42 44

25 28 30 32 34 36 38 40 42

Dias após o desafio

Dias após o desafio

PBS RuImNO 100nmolPBS RuImNO 100nmol

PBS RuImNO 500nmolPBS RuImNO 500nmol

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105

Figura 6: Composto RuImSO4 no tratamento de animais desafiados com

células de melanoma murino. Animais C57Bl/6 foram desafiados

subcutaneamente com células de melanoma murino B16F10-Nex2. No dia

seguinte, iniciou-se o tratamento intraperitoneal com RuImSO4 ou PBS por 2

semanas em dias alternados. (A) Animais tratados com 100nmol/kg do

composto. (B) Animais tratados com 500nmol/kg do composto. Foram

utilizados 10 animais para o grupo controle e 5 animais para o grupo

experimental. Estão representados o volume tumoral individual medido a cada

3 dias, como descrito em Materiais e Métodos, e a sobrevida dos animais,

observada por até 60 dias.

A

B

3000

2500

2000

1500

1000

500

0

3000

2500

2000

1500

1000

500

0

Vol

ume

tum

oral

(m

m3 )

Vol

ume

tum

oral

(m

m3 )

100

80

60

40

20

0

100

80

60

40

20

0

Sob

revi

da (

%)

Sob

revi

da (

%)

20 25 30 35 40

20 25 30 35 40

30 35 40 45 50 55 60

30 35 40 45 50 55 60Dias após o desafioDias após o desafio

Dias após o desafioDias após o desafio

PBS RuImSO4 100nmol

PBS RuImSO4 500nmol

3000

2500

2000

1500

1000

500

0

3000

2500

2000

1500

1000

500

0

Vol

ume

tum

oral

(m

m3 )

Vol

ume

tum

oral

(m

m3 )

100

80

60

40

20

0

100

80

60

40

20

0

Sob

revi

da (

%)

Sob

revi

da (

%)

20 25 30 35 40

20 25 30 35 40

30 35 40 45 50 55 60

30 35 40 45 50 55 60Dias após o desafioDias após o desafio

Dias após o desafioDias após o desafio

PBS RuImSO4 100nmolPBS RuImSO4 100nmol

PBS RuImSO4 500nmolPBS RuImSO4 500nmol

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106

Figura 7: Composto RuImSO4 promove aumento de sobrevida dos animais

desafiados com células de melanoma murino. Animais C57Bl/6 foram

desafiados subcutaneamente com células de melanoma murino B16F10-

Nex2. No dia seguinte, iniciou-se o tratamento intraperitoneal com RuImSO4

ou PBS por 2 semanas em dias alternados. (A) Animais tratados com

50nmol/kg do composto. (B) Animais tratados com 100nmol/kg do composto.

Foram utilizados 10 animais por grupo. Estão representados o volume tumoral

individual medido a cada 3 dias, como descrito em Materiais e Métodos, e a

sobrevida dos animais, observada por até 60 dias.

A

B

100

80

60

40

20

0

100

80

60

40

20

0

Sob

revi

da (

%)

Sob

revi

da (

%)

3000

2500

2000

1500

1000

500

0

3000

2500

2000

1500

1000

500

0

20 30 40 55 60

15 20 25 30 35 40 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42

20 25 30 35 40 45 50 55 60Dias após o desafio

Dias após o desafio

Dias após o desafio

Dias após o desafio

Vol

ume

tum

oral

(m

m3 )

Vol

ume

tum

oral

(m

m3 )

PBS RuImSO4 50nmol

PBS RuImSO4 100nmol

100

80

60

40

20

0

100

80

60

40

20

0

Sob

revi

da (

%)

Sob

revi

da (

%)

3000

2500

2000

1500

1000

500

0

3000

2500

2000

1500

1000

500

0

20 30 40 55 60

15 20 25 30 35 40 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42

20 25 30 35 40 45 50 55 60Dias após o desafio

Dias após o desafio

Dias após o desafio

Dias após o desafio

Vol

ume

tum

oral

(m

m3 )

Vol

ume

tum

oral

(m

m3 )

100

80

60

40

20

0

100

80

60

40

20

0

Sob

revi

da (

%)

Sob

revi

da (

%)

3000

2500

2000

1500

1000

500

0

3000

2500

2000

1500

1000

500

0

20 30 40 55 60

15 20 25 30 35 40 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42

20 25 30 35 40 45 50 55 60Dias após o desafio

Dias após o desafio

Dias após o desafio

Dias após o desafio

Vol

ume

tum

oral

(m

m3 )

Vol

ume

tum

oral

(m

m3 )

PBS RuImSO4 50nmolPBS RuImSO4 50nmol

PBS RuImSO4 100nmolPBS RuImSO4 100nmol

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107

RuImSO 4

Figura 8: Composto RuImSO4 foi capaz de reduzir significativamente a

formação de nódulos pulmonares in vivo. Células B16F10-Nex2 foram

inoculadas intravenosamente em camundongos C57Bl/6. Os animais foram

tratados intraperitonealmente com 100nmol/kg do composto, em dias

alternados. Após 13 dias, os nódulos pulmonares foram contados. (A)

Pulmões representativos dos animais controle e tratados com RuImSO4.

(B) Quantificação dos nódulos pulmonares em animais tratados e não

tratados com o composto RuImSO4. Foram utilizados 4 animais no grupo

controle e 5 animais no experimental. As barras horizontais representam a

média dos valores individuais

A

B

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108

5.6 Determinação do mecanismo de ação do composto R uImSO 4.

Dentre todos os compostos de Rutênio avaliados na terapia do

melanoma murino in vivo, o composto RuImSO4 foi, sem dúvida, o que

apresentou melhores resultados e menores efeitos colaterais para os animais

tratados. Este resultado nos surpreendeu, uma vez que a idéia inicial era testar

os compostos de rutênio doadores de óxido nítrico e os compostos sulfatados

funcionariam apenas como controle para os ensaios. Resolvemos, então,

avaliar no composto sulfatado o que estaria interferindo com o desenvolvimento

tumoral, se a atividade estava relacionada ao átomo metálico de Rutênio, ou

ainda se os ligantes também tinham participação no efeito terapêutico do

quimioterápico.

Para determinar o papel do ligante estabilizador desse complexo,

realizou-se um ensaio in vitro, onde as células de melanoma murino B16F10-

Nex2 foram incubadas com várias concentrações de imidazol (1,3-Diaza-2,4-

cyclopentadiene, Sigma Aldrich). Após 24h, a viabilidade celular foi avaliada. O

ligante Imidazol sozinho não foi capaz de reduzir a viabilidade das células

tumorais murinas in vitro (Figura 9).

Para determinarmos o papel do átomo metálico de Rutênio na ausência

de um grupamento sulfato no efeito antitumoral do composto RuImSO4,

utilizou-se um derivado desse composto, onde o ligante de estabilização

Imidazol foi substituído por um grupo trietilfosfito e o sulfato foi substituído por

NO, o trans-Ru(NO)(NH3)4P(OCH2CH3)3 (representado na Figura 10A). O

ligante trietilfosfito [P(OCH2CH3)3, ou P(OEt)3] é um composto organofosforado

utilizado amplamente como ligante na química organometálica, e que se

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109

degrada facilmente em dietil- e monofosfito. A característica mais marcante

desse derivado trans-Ru(NO)(NH3)4P(OCH2CH3)3 é a extremamente rápida

liberação do NO de seu sítio de coordenação e a entrada de uma molécula de

água, devido à influência do ligante trietilfosfito presente. Desta forma, esse

derivado em solução não contém o grupo sulfato, que foi substituído por uma

molécula de água, e que foi denominado aqui de composto “Aquo”.

Em ensaio in vivo, o composto “Aquo” não foi capaz de interferir no

desenvolvimento tumoral ou na sobrevida dos animais tratados, quando

comparado aos animais tratados com PBS (Figura 10B), sugerindo que o

átomo de Rutênio sozinho não apresenta o efeito terapêutico observado com o

composto RuImSO4.

Animais tratados com o composto RuIsnSO4, onde o ligante de

estabilização é o grupo isonicotinamida, na presença do grupo sulfato,

apresentaram maior sobrevida e retardo no desenvolvimento tumoral nas 2

doses utilizadas, 50 e 100nmol (Figura 11).

Esses resultados em conjunto sugerem que o efeito terapêutico dos

compostos sulfatados de Rutênio deve-se à estrutura química do composto,

contendo o átomo de metal coordenado com os ligantes NH3, um ligante de

estabilização inespecífico e um grupo sulfato.

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110

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

Controle 1800 1000 500 180 18 2

núm

ero

de cé

lula

sviá

veis

(10

4 )

Concentração(µM)

Imidazol

Figura 9: Viabilidade celular após tratamento com Imidazol in vitro.

Células B16F10-Nex2 foram incubadas na presença de diferentes

concentrações de Imidazol (1,3-Diaza-2,4-cyclopentadiene, Sigma

Aldrich). Controle , células não tratadas. Após 24h, a viabilidade foi

avaliada utilizando o corante de exclusão Trypan Blue. p> 0,05 para

todos os pontos comparados ao Controle.

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111

Figura 10: O átomo metálico de Rutênio não é capaz de interferir no

desenvolvimento tumoral in vivo. (A) Representação esquemática dos compostos

de Rutênio envolvidos neste ensaio. (B) Sobrevida dos animais tratados com

100nmol/kg do composto Aquo ou PBS.

B

A

Dias após o desafio

Sob

revi

da (

%)

Dias após o desafio

Sob

revi

da (

%)

H2O

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112

Figura 11: Efeito do composto RuIsnSO4 sobre animais desafiados com

células de melanoma murino. Animais C57Bl/6 foram desafiados

subcutaneamente com células de melanoma murino B16F10-Nex2. No dia

seguinte, iniciou-se o tratamento intraperitoneal com RuIsnSO4 ou PBS por 2

semanas em dias alternados. (A) Animais tratados com 50nmol/kg do

composto. (B) Animais tratados com 100nmol/kg do composto. Foram

utilizados 10 animais por grupo. Estão representados o volume tumoral

individual medido a cada 3 dias, como descrito em Materiais e Métodos, e a

sobrevida dos animais, observada por até 60 dias.

B

A 3000

2500

2000

1500

1000

500

0

3000

2500

2000

1500

1000

500

0

Vol

ume

tum

oral

(m

m3 )

Vol

ume

tum

oral

(m

m3 )

100

80

60

40

20

0

100

80

60

40

20

0

Sob

revi

da (

%)

Sob

revi

da (

%)

10 20 30 40 5015 20 25 30 35 40 45 50

20 25 30 35 40 45 50 55 6020 30 40 50 60Dias após o desafio

Dias após o desafio

Dias após o desafio

Dias após o desafio

PBS RuIsnSO4 50nmolPBS RuIsnSO4 50nmol

PBS RuIsnSO4 100nmolPBS RuIsnSO4 100nmol

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113

A análise morfológica por microscopia óptica, mostrada na Figura 1,

sugere que as células tratadas com este composto estejam sofrendo um

processo apoptótico, já que se observam alterações morfológicas significativas,

com a manutenção das membranas celulares. Ensaios foram então realizados

para determinar o tipo de morte celular que o tratamento com os compostos

sulfatados estava induzindo, em colaboração com a Dra. Denise Arruda,

Unidade de Oncologia Experimental, UNIFESP.

Primeiramente, foi realizado ensaio para marcação fluorescente com

Anexina V e Iodeto de Propídio (PI), e leitura em citometria de fluxo. Neste

ensaio, células apoptóticas apresentam marcação positiva para Anexina V, pois

este marcador se liga diretamente à fosfatidilserina externalizada na membrana

de células apoptóticas. A marcação com PI sugere processo necrótico,

indicando que houve um aumento na permeabilidade da membrana com o

corante entrando livremente e corando o núcleo das células. A dupla marcação

caracteriza as fases finais do processo de morte celular. O gráfico da Figura 12

sugere que as células tumorais tratadas com o composto sulfatado RuImSO4

sofrem um processo de morte por apoptose, pois há um aumento expressivo

das células marcadas com Anexina V, chegando a 12% após 12h de

tratamento com o quimioterápico.

Analisando o núcleo das células tratadas com o composto sulfatado e

coradas com o corante Hoechst 33342, observa-se que após 24h de

tratamento com a dose correspondente ao IC50, as células de melanoma

murino mostram-se com núcleos condensados (Figura 13). A contagem das

células com este fenótipo demonstrou que na população estudada,

aproximadamente 70% das células de melanoma murino tratadas com o

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114

composto sulfatado apresentavam núcleos condensados como os mostrados

na Figura 13.

Por fim, utilizou-se a metodologia de TUNEL para verificar o tipo de

morte celular que o composto de rutênio sulfatado induziu nas células de

melanoma murino. Neste ensaio, uma enzima específica que reconhece

terminações de DNA (TdT) insere nucleotídeo fluorescente a cada terminação,

o que faz com que a fluorescência seja proporcional à quantidade de

fragmentos de DNA presentes em células submetidas a um estimulo

apoptótico. Observou-se que as células tratadas com o quimioterápico

apresentaram marcação positiva no ensaio, enquanto células não tratadas não

apresentaram marcação (Figura 14).

Estes resultados sugerem que células de melanoma murino B16F10-

Nex2 tratadas com o composto RuImSO4 entrem em processo de apoptose,

como demonstrado pelas condensação nuclear, fragmentação do DNA e

exposição de fosfatidilserina na superfície celular.

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115

0

5

10

15

20

25

3h 6h 12h

Célu

las p

ositi

vas (

%)

Anexina+

PI+

Anexina+ PI+

Figura 12: Marcação de Anexina e PI em células de melanoma murino B16F10-

Nex2 após tratamento com composto RuImSO4. Gráfico representativo da

porcentagem de células positivas para Anexina V e/ou PI, quantificadas em

citometria de fluxo como descrito em Materiais e Métodos.

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116

B

A

Figura 13: Alterações nucleares causada pelo composto RuImSO4. (A) Células

B16F10-Nex2 murinas não tratadas e coradas com o corante Hoechst 33342. (B)

Células B16F10-Nex2 tratadas durante 24h com RuImSO4 e coradas com Hoechst

33342. Metodologia descrita em Materiais e Métodos. Nota-se, ao centro, células

com alterações nucleares (setas). Barra de aumento: 20µm.

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117

Controle

RuImSO4

Fase TdTDapi

Figura 14: Ensaio de TUNEL em células de melanoma murino B16F10-Nex2

tratadas com composto RuImSO4. Imagens representativas das células murinas

tratadas ou não com RuImSO4 e submetidas ao ensaio de TUNEL, como descrito

em Materiais e Métodos. Fase, visualização das células em microscopia de fase;

Dapi, células coradas com o corante nuclear Dapi; TdT, células após ensaio de

TUNEL. Barra de aumento: 20µm

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118

6.0 DISCUSSÃO

6.1 Composto ciclopaladado C7A : mecanismo de ação

Complexos de paládio obtidos a partir da reação do dmpa (N,N-dimethyl-

1-phenethylamine) com derivados de diphenylphoshine (dppe) e dppf

mostraram-se potenciais agentes antitumorais em ensaios pré-clínicos. Um dos

complexos sintetizados com os derivados dppe [1,2-

ethanebis(diphenylphosphine)] mostrou atividade antitumoral in vitro e in vivo

contra o modelo singeneico e de baixa imunogenicidade do melanoma murino

B16F10-Nex2, parecendo exercer seu efeito citotóxico sobre mitocôndrias,

embora o mecanismo de ação não tenha sido completamente elucidado

(Rodrigues et al, 2003). Um outro complexo ciclopaladado, sintetizado com o

derivado dppf [1,1’-bis(diphenylphosphine)ferrocene] induziu a permeabilização

de lisossomas em células leucêmicas humanas K562, o que levou as células à

apoptose por via lisossomal (Barbosa et al, 2006). Esses resultados

demonstram que a ação antitumoral dos complexos ciclopaladados é o

resultado de uma atividade organela-específica, e que esses compostos não

compartilham um único mecanismo de ação.

Neste trabalho nós elucidamos o mecanismo de ação do enantiômero

S(-) do dppe-Ciclopaladado, denominado de Complexo Ciclopladado 7A, ou

C7A.

Estudos anteriores de nosso grupo demonstraram a eficácia

antineoplásica in vitro e in vivo do Ciclopaladado 7A em células de melanoma

murino B16F10-Nex2 (Rodrigues et al, 2003). Esse composto foi selecionado

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119

pelo seu marcante efeito in vivo, dentre vários compostos ciclopaladados

testados no modelo. Animais tratados com o C7A apresentaram um retardo no

desenvolvimento tumoral e um aumento significativo na sobrevida. In vitro, o

ciclopaladado 7A reduziu muito rapidamente a acidificação extracelular, que

atingiu valores 80% menores após 40 minutos de incubação, e reduziu a

acidificação extracelular em 100% após 110 minutos de incubação, o que

mostra a inibição do metabolismo e também da geração de prótons na cadeia

respiratória pelo composto. Foi também demonstrada degradação do DNA, e

não foi observada ativação de caspases efetoras 1 e 3, o que sugeriu que o

quimioterápico levasse as células à morte por indução de um processo

apoptótico independente de caspases. Foi também demonstrada uma interação

do C7A com um plasmídeo por dicroismo circular, sugerindo que o efeito do

quimioterápico poderia ser semelhante ao efeito da Cisplatina, que interage

com o DNA celular ativando a via apoptótica por ativação de p53 (Sedletska et

al, 2005)

Neste trabalho demonstramos que o ciclopaladado 7A também é ativo in

vitro contra diversas linhagens de células tumorais humanas. Quase todas as

células tumorais humanas testadas respondem muito bem ao tratamento com o

C7A, com doses de IC50 relativamente baixa, abaixo de 500 nanomolar. A

eficácia do quimioterápico em doses baixas é muito importante, pois isso pode

indicar uma atenuação de possíveis efeitos colaterais, tão comuns em

quimioterápicos antitumorais já utilizados. As doses efetivas de Cisplatina

sobre essas mesmas células foram cerca de 200 a 1.300 vezes maiores.

Este efeito citotóxico acentuado in vitro não foi observado em linhagens

tumorais de leucemia (HL60) e glioblastoma (U87) humanas, que mostraram

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120

um IC50 para o quimioterápico de 1 e 3.5µM, respectivamente, sugerindo que

alguns tipos tumorais podem ser mais resistentes ao C7A. Mesmo assim, as

doses efetivas foram muito abaixo das doses efetivas de Cisplatina, que foram

70 e 43 vezes maiores para a linhagem HL-60 e U87, respectivamente.

Foi demonstrado anteriormente que o ciclopaladado 7A apresenta baixa

toxicidade in vivo. Concentrações crescentes do complexo foram inoculadas

em camundongos C57Bl/6, de 10 a 60µM, 3 doses em dias alternados para

cada concentração, e ao final do experimento vários órgãos foram analisados

histologicamente, não se observando alterações significativas (Rodrigues et al,

2003).

Complementando esse resultado, a incubação de macrófagos murinos e

eritrócitos humanos na presença de várias concentrações relativamente

elevadas do composto C7A, não levou essas células à morte. O fato do C7A

não causar a lise dos eritrócitos humanos sugere que este composto não age

diretamente sobre a membrana celular, mas em organelas essenciais para a

manutenção da homeostase da célula.

A rápida redução na atividade respiratória observada após o tratamento

das células tumorais humanas com o C7A sugere que o mecanismo de ação

do quimioterápico seja o mesmo tanto em células tumorais murinas como

humanas, envolvendo a participação da mitocôndria no processo de morte

causado pelo composto.

Nossos resultados demonstraram que o C7A interage diretamente com

proteínas contendo grupos tiol na membrana mitocondrial. A inibição, com o

agente redutor DTT, do colapso no potencial de membrana mitocondrial e no

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121

efeito citotóxico in vitro sobre as células tumorais causados pelo C7A

comprovou a participação de proteínas contendo grupos tiol na

permeabilização da membrana mitocondrial.

Esse mesmo efeito foi observado por Santana et al (2009) quando

estudaram o efeito do C7A e do enantiômero R(+) do C7A, o complexo

[Pd(C2,N-(R(+)dmpa)(dppe)].Cl, sobre mitocôndrias isoladas de hepatócitos de

rato. Nesse estudo foi demonstrado que os paladociclos induziram inchaço da

mitocôndria independente de cálcio, permeabilização mitocondrial,

desligamento da fosforilação oxidativa e liberação de cálcio mitocondrial,

efeitos totalmente prevenidos pelo tratamento com DTT. Foi observado um

decréscimo na quantidade de grupos tiol reduzidos nas proteínas da membrana

mitocondrial, e também presença de agregados proteicos na membrana da

mitocôndria, possivelmente formados pela indução de pontes dissulfeto entre

grupos tiol de proteínas de membrana vicinais, catalizadas pelo ciclopaladado.

Esses efeitos levaram à liberação de citocromo C, demonstrando uma alta e

específica reatividade do ciclopaladado com grupos tiol de proteínas da

membrana mitocondrial, catalisando a formação de pontes dissulfeto que levam

à permeabilização da mitocôndria, e a um efeito pró-apoptótico dos dppe-

ciclopaladados. A reatividade dos ciclopaladados com grupos tiol presentes em

proteínas foi também demonstrado para os complexos dppf-ciclopaladados,

que mostram uma atividade inibitória sobre a Catepsina B, uma cisteíno-

protease que contém um grupo tiol no seu sítio catalítico (Barbosa et al, 2006).

Nosso trabalho, realizado com células íntegras e viáveis, utilizando

métodos microscópicos que mantém a viabilidade celular, portanto, em um

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122

sistema extremamente complexo, corroboram esses resultados obtidos com a

mitocôndria isolada.

Tanto C7A como seu enantiômero R(+) apresentaram efeitos

semelhantes sobre mitocôndrias isoladas de hepatócitos de rato, mas o

enantiômero R(+) foi o mais potente nas condições in vitro do estudo (Santana

et al, 2009). Interessante observar que o enantiômero R(+) não apresentou

efeito in vivo contra o melanoma murino B16F10-Nex2, embora tenha

apresentado efeito citotóxico in vitro com IC50 semelhante ao C7A, abaixo de

1.25µM (Rodrigues et al, 2003), sugerindo que os enantiômeros possam ser

absorvidos e apresentem biodisponibilidades diferentes in vivo.

Já foi demonstrado que a depleção de ATP causa uma rápida

desfosforilação de proteínas próapoptóticas da família Bcl-2, translocação de

Bax para a mitocôndria, permeabilização da membrana externa mitocondrial e

subseqüente morte celular (Xu et al, 2005).

Não há dúvida de que as mitocôndrias desempenham um papel central

na morte celular programada. Alguns parâmetros de desregulação mitocondrial

têm sido descritos como características próprias de um processo apoptótico:

perda do potencial de membrana mitocondrial, a interrupção do transporte de

elétrons e fosforilação oxidativa, a geração de espécies reativas de oxigênio e

liberação de fatores próapoptóticos, que desencadeiam a ativação de

caspases. Já que tal organela desempenha um papel fundamental no

desencadeamento de apoptose, há um grande interesse em explorar as suas

funções próapoptóticas para interferir no crescimento de células tumorais. (Dias

& Bailly, 2005).

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Nossos resultados demonstram que o ciclopaladado 7A causou uma

rápida queda no potencial de membrana mitocondrial, alterando assim a

permeabilidade da membrana desta organela, comprovada pela imagem da

microscopia eletrônica, que mostra um claro inchaço das estruturas

mitocondriais nas células tumorais de melanoma murino B16F10-Nex2 tratadas

com o C7A. Existe uma série de compostos antitumorais que agem dessa

mesma maneira são descritos na literatura. A Lonidamina é um agente

antitumoral derivado do ácido indazol-3 carboxílico, que atua na mitocôndria,

inibindo o consumo de oxigênio e bloqueando o metabolismo energético. A

Lonidamina causa perda do potencial de membrana mitocondrial e liberação de

citocromo C em mitocôndrias isoladas (Stryker & Gerweck, 1988)

A superexpressão de proteínas antiapoptóticas da família Bcl-2 em

diversas linhagens tumorais pode inibir a permeabilização da membrana

mitocondrial externa e formação de póros mediada pelas proteínas Bax/Bak. O

efeito antitumoral próapoptótico de alguns tratamentos convencionais (p.ex.,

radiação ionizante) é baseado na habilidade de estimular a produção de

espécies reativas de oxigênio (Gogvadze et al, 2009). Drogas antitumorais que

induzem a formação de um póro de transição de permeabilidade na membrana

mitocondrial podem induzir modificações nesta organela mediada pelo acúmulo

de reativos de oxigênio. Por exemplo, com altas doses do agente

quimioterápico trióxido de arsênico, observou-se uma modificação oxidativa em

grupos tiol e conseqüente liberação de citocromo C através da indução do poro

de transição de permeabilidade. Entretanto, em concentrações aceitáceis para

o uso clínico, esta droga estimula liberação de citocromo C e apoptose através

de mecanismos dependentes das proteínas Bax/Bak (Larochette et al, 1999).

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Bax é um membro pró-apoptótico da família Bcl-2 localizado

predominantemente no compartimento citosólico, na forma monomérica, em

células viáveis. Após um estímulo apoptótico, uma fração significativa desta

proteína formam dímeros e se transloca para a membrana externa mitocondrial

formando poros (Wolker et al, 1997).

A translocação da proteína Bax para as mitocôndrias foi observada em

células de melanoma murino B16F10-Nex2 transfectadas com uma proteína

quimérica Bax-GFP e tratadas com o C7A. Além das alterações mitocondriais

já descritas anteriormente, a translocação de Bax forma póros que liberam o

citocromo C, que por sua vez ativa caspases. A ativação de caspases foi

observada nas células de melanoma murino tratadas com o C7A. Verificou-se

um expressivo aumento na atividade das caspases efetoras 3 e 6.

Estudos têm demonstrado que Bax e outras proteínas pró-apoptóticas

podem modular estoques de cálcio no retículo endoplasmático e nas

mitocôndrias (Nutt et al, 2001). Foi também demonstrado que a integridade da

membrana mitocondrial pode ser alterada pela captação excessiva de cálcio

(Andreyev et al, 1998). Em condições fisiológicas, o aumento do cálcio

citosólico estimula a captação deste íon pela mitocôndria, provocando assim

um aumento de cálcio mitocondrial (Robb-Gaspers et al, 1998). Alterações no

cálcio citosólico podem ativar a via de apoptose. Algumas destas alterações

incluem mudanças na captação do cálcio mitocondrial, o que aumenta a

probabilidade de ativação do póro de transição de permeabilidade (Pacher et

al, 2002). A depleção dos estoques de cálcio intracelular também está

relacionada com indução de apoptose (Pan & Dilley, 2000).

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Nossos resultados demonstram que o C7A provoca o acúmulo de grande

quantidade de cálcio intracelular, liberado do interior das organelas. Ensaios

preliminares demonstraram que o C7A provoca liberação de cálcio tanto do

retículo endoplasmático como das mitocôndrias (dados não mostrados). Além

do C7A causar uma importante liberação do cálcio intracelular, também

observou-se uma entrada de cálcio proveniente do meio extracelular. Este

cálcio em excesso não consegue ser captado totalmente pelas organelas

responsáveis pelo estoque deste íon, colaborando assim com mais um

estímulo apoptótico.

A condensação nuclear e a degradação de DNA observadas em células

de melanoma murino tratadas com o ciclopaladado 7A é mais uma forte

indicação de que as células tumorais estão morrendo por um processo

apoptótico. Diversos compostos metálicos, como por exemplo, drogas

derivadas de platina, em geral tem como alvo predominante o DNA (Brabec &

Kasparkova, 2005), embora estudos recentes sugiram que existam também

outros alvos (Gourdier et al, 2004; Cullen et al, 2007).

Um complexo dppf-ciclopaladado, denominado BCP (Biphosphinic

Palladacycle Complex), foi testado in vitro contra as linhagens celulares de

leucemia humana K562, HL-60 e Jurkat, e para todas elas o IC50 foi menor do

que 8µM. O ciclopaladado acumulou-se nos lisossomas celulares, levando à

permeabilização dessa organela com a liberação de catepsina B, que foi

responsável pela ativação das caspases 3 e 6, como demonstrado pela inibição

da ativação dessas enzimas efetoras da apoptose por um inibidor seletivo de

catepsina B (CA074) (Bincoletto et al, 2005; Barbosa et al, 2006; Oliveira et al,

2009). Nesse modelo, os autores levantam a hipótese de que a catepsina

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liberada pelos lisossomas pode agir sobre outras organelas, principalmente

mitocôndrias e núcleo, o que levaria as células a um processo de morte por

apoptose (Oliveira et al, 2009).

Com o objetivo de verificarmos a possível participação de catepsinas no

efeito citotóxico causado pelo C7A em células de melanoma murino, células

B16F10-Nex2 foram tratadas com o ciclopaladado 7A, na presença de CA074-

Me, inibidor seletivo de catepsina B metilado, o que permite sua entrada na

célula. O mesmo procedimento foi realizado com o inibidor seletivo de cisteíno-

proteases E-64. Os resultados mostraram que a inibição da catepsina B e de

cisteíno-proteases em geral não foi capaz de impedir a morte celular causada

pelo C7A, sugerindo que não há participação dessas enzimas no processo de

morte celular causado pelo composto.

No início do desenvolvimento deste projeto, tínhamos como hipótese de

mecanismo de ação do C7A a indução de morte celular por necrose, uma vez

que observamos uma queda abrupta no pH extracelular, sugerindo a parada na

respiração celular e queda na produção de ATP, degradação nuclear e

ausência de ativação das caspases efetoras 1 e 3 (Rodrigues et al, 2003).

Concentrações muito baixas de ATP estão relacionadas à indução de processo

necrótico (Smaili et al, 2009). Além disso, o resultado da microscopia

eletrônica de transmissão com células de melanoma murino mostrou um

inchaço das mitocôndrias após tratamento com o C7A, e alterações

mitocondriais são encontradas tanto no processo apoptótico como no necrótico

(Kroemer et al, 2009).

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Golstein & Kroemer (2007) analisando seis diferentes sistemas

experimentais observaram que a necrose celular se caracteriza por uma

sequência de eventos bioquímicos intracelulares, que incluem alterações

mitocondriais como inchaço, depleção de ATP, falha na manutenção da

homeostase de cálcio, ativação de algumas proteases, como calpaínas e

catepsinas, entre outros eventos, que acumulados de uma forma programada e

organizada podem definir a necrose. Várias características observadas após o

tratamento com o ciclopaladado 7A eram similares às descritas como

indicativas de necrose, e testamos então, se essa via poderia estar implicada

na morte celular causada pelo C7A.

Ensaios pré-clínicos indicam que a inibição de várias moléculas

implicadas no processo de necrose apresenta efeitos benéficos, como por

exemplo, a inibição de PARP, RIP1,CypD, calpaínas e catepsinas que inibiu a

morte celular por necrose in vivo em modelos de perda aguda de células

(Kroemer & Martin, 2005). Em um ensaio para screening de novas drogas

foram identificadas as Necrostatinas, que inibiram in vitro a morte celular em

células Jurkat deficientes em FADD, e apresentaram efeitos benéficos em

modelo experimental de isquemia (Degterev et al, 2005). Necrostatina-1 inibe

quimicamente a quinase RIP1, envolvida na necrose mediada pelos receptores

TNFR1, Fas/CD95, TRAILR e TLR3 (Degterev et al, 2005; Degterev et al,

2008). Embora não haja um consenso, alguns grupos propuseram a utilização

do termo “necroptosis” para indicar um processo necrótico regulado, ao

contrário de um processo acidental. Em nível bioquímico, a necroptosis pode

ser definida como um processo que pode ser evitado pela inibição da quinase

RIP1 (Kroemer et al, 2009)

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Necrostatina-1 (Sigma Aldrich) foi utilizada como inibidor da atividade do

C7A sobre células tumorais, sendo incubada em várias concentrações com as

células previamente ao tratamento com o quimioterápico, ou alternativamente

em associação com o C7A. Não foi observado efeito da necrostatina-1 nessas

condições (dados não apresentados).

Uma característica marcante das células tumorais é a produção de ATP

predominantemente através da via glicolítica, mesmo em condições aeróbias,

conhecido como "efeito Warburg". Devido a esta peculiaridade, mitocôndrias

das células tumorais desempenham papel fundamental na sobrevivência e

morte celular, o que torna essa organela um alvo importante para

quimioterápicos antitumorais. A exploração do efeito Warburg pode representar

uma nova e promissora abordagem para complementar os tratamentos

convencionais, que tem outros alvos na célula tumoral (Gogvadze et al, 2009),

e evidências sugerem que terapias antitumorais que tem a mitocôndria como

alvo podem tornar as células tumorais mais sensíveis a outros quimioterápicos

(Gogvadze et al, 2008).

A terapia sistêmica do melanoma metastático tem apresentado efeitos

muito aquém do esperado. Os quimioterápicos disponíveis poderiam, em

teoria, agir também sobre sítios metastáticos, mas com frequência metástases

não são responsivas aos tratamentos (Lowe e Soengas, 2003).

A atividade do C7A contra metástases pulmonares do melanoma murino

também foi avaliada. Observou-se uma redução significativa no número de

nódulos pulmonares dos animais tratados. Este é um achado importante pois

além do ciclopaladado mostrar eficácia no tratamento de tumores primários,

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como observado por Rodrigues et al (2003), também poderia ser utilizado no

tratamento de tumores em estadios metastáticos mais avançados.

Como as terapias convencionais frequentemente apresentam baixa

eficácia no tratamento do melanoma, diferentes abordagens terapêuticas têm

sido avaliadas para o tratamento desse tumor, principalmente a associação da

quimioterapia com agentes imunoterápicos, denominada de bioquimioterapia

(Sun & Schuchter, 2001).

Recentemente foi demonstrado. pelo nosso grupo, que a neutralização

da interleucina 13, uma interleucina imunosupressora, com um receptor decoy,

in vivo, aumentou significativamente a sobrevida dos animais tratados. Mais

importante, a associação da neutralização da IL-13 com o ciclopaladado 7A

levou a um significativo retardo no desenvolvimento do melanoma murino

subcutâneo, com impressionantes 30% de animais tratados livres de tumor por

um tempo prolongado (Hebeler-Barbosa et al, 2008). Esses resultados

mostram que o C7A também pode ser usado com sucesso em associação a

outros tipos de terapias antineoplásicas.

Além da atividade direta antitumoral observada com o C7A, é possível

que o composto interfira também em outros processos importantes para o

desenvolvimento tumoral in vivo. Um dos eventos essenciais para o

crescimento do tumor é a formação de novos vasos sanguíneos, que tem como

função principal nutrir a população de células tumorais em crescente

proliferação (Bonavida et al, 2006)).

Nossos resultados demonstram que o ciclopaladado 7A apresenta uma

atividade citotóxica direta sobre uma linhagem de células endoteliais humanas,

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e também foi capaz de inibir a formação de estruturas pré-angiogênicas em

ensaio in vitro, estruturas estas que se relacionam à capacidade de formação

de neovasos in vivo.

6.2 Compostos de Rutênio

Neste trabalho, além da determinação do mecanismo de ação de um

composto ciclopaladado com atividade antitumoral, avaliamos também o efeito

antitumoral de compostos tetraamina rutênio, doadores de óxido nítrico. Estes

compostos foram previamente testados in vitro e in vivo em diferentes modelos

experimentais, como na vasodilatação e no tratamento de parasitoses

(Leishmaniose e Doença de Chagas), e a atividade demonstrada foi

dependente do óxido nítrico liberado pelo composto (Zanichelli et al, 2007;

Silva et al, 2009)

Os complexos nitrosil-tetraamina-rutênio foram avaliados no relaxamento

de anéis aórticos desprovidos de endotélio e pré-contraídos com noradrenalina.

Observou-se que o NO liberado dos complexos reduzidos foi o responsável

pelo relaxamento, e que esse efeito pode ser modulado pela adição de

diferentes ligantes estabilizadores, que determinam a velocidade de liberação

do íon (Zanichelli et al, 2007).

A avaliação destes compostos no tratamento da doença de Chagas

experimental mostrou uma elevada atividade antiproliferativa e tripanocida in

vitro, mais efetiva do que Violeta Genciana, usada atualmente na profilaxia da

transmissão de Doença de Chagas em bancos de sangue. Em testes in vivo,

dois compostos, trans-[Ru(NO)(NH3)4isn](BF4)3 e trans-

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Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3, eliminaram as formas extracelular e intracelular do

Trypanosoma cruzi no sangue e miocárdio, e aumentaram a sobrevida de até

80% dos camundongos infectados por um período superior a cinqüenta dias

(Silva et al, 2009).

O desenvolvimento de resistência das células tumorais a vários agentes

citotóxicos continua a ser um grande desafio na área da oncologia e novas

abordagens terapêuticas são urgentemente necessárias (Huerta et al, 2009).

Entre os novos agentes que surgiram recentemente, estão os que induzem

produção endógena de óxido nítrico ou agem como doadores desta molécula.

O óxido nítrico é um mensageiro intracelular produzido pelo organismo de

forma endógena a partir de reações catalisadas por uma família de enzimas

denominadas óxido nítrico sintases (NOS), que convertem o aminoácido L-

arginina em NO e L-citrulina. Há pelo menos quatro diferentes isoformas

conhecidas dessa enzima, duas delas são constitutivas, eNOS e cNOS (com

níveis de NO produzido comumente ao redor de µmol.l-1), e uma induzível,

iNOS, que é ativada após estímulo, que pode ser, por exemplo, durante uma

resposta inflamatória, quando NO é secretado em concentrações de mmol.L-1

por macrófagos ativados, e que pode ter uma função protetora. Uma quarta

enzima foi recentemente descoberta, mtNOS ou NOS mitocondrial, identificada

como uma isoforma da nNOS, e está envolvida na inibição da respiração

mitocondrial (Elfering et al, 2002).

Nos últimos anos, o papel do óxido nítrico no desenvolvimento tumoral

tem sido foco de numerosos estudos. A transfecção do gene que codifica iNOS

em células de melanoma murino induz apoptose, suprime a tumorigênese e

elimina a formação de metástases (Xie et al, 1995.; Xie et al, 1997). Altos

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níveis de iNOS tem sido encontrados em metástases de melanoma não-

progressivo comparativamente à melanomas progressivos (Tschugguel et al,

1999), e tratamentos que visam a liberação de NO no ambiente tumoral tem

sido extensivamente avaliados em modelos experimentais (Sonveaux et al,

2009).

No entanto, além do seu papel possivelmente protetor, o NO também

tem sido implicado na carcinogênese, progressão, invasão e metástases,

angiogênese, escape da vigilância imunológica, e na modulação da resposta

terapêutica (Ekmekcioglu et al, 2005).

Tornou-se claro que o óxido nítrico possui propriedades moduladoras em

várias vias de transdução de sinais, o que depende da concentração do íon e

do contexto em que ele se encontra.

Nossos resultados demonstraram que os compostos tetraamina rutênio

doadores de óxido nítrico testados apresentam uma importante atividade

citotóxica sobre células tumorais humanas e murinas in vitro. Dentre os

diversos compostos testados selecionamos para nosso trabalho o composto

mais ativo, com o mais baixo valor de IC50, o trans-[Ru(NO)(NH3)4isn](BF4)3, e

um composto com valor intermediário de IC50, o trans-

[Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3.

O composto trans-[Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3, denominado aqui de

RuImNO, causou alterações nas células tumorais in vitro (intensa destruição

celular com formação de debris e degradação de DNA), além de inibir a

angiogênese in vitro, como observado em ensaio de formação de estruturas

pré-angiogênicas por células endoteliais humanas. Possivelmente, a liberação

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de NO pelos compostos nitrosil-tetraamina-rutênio, como demonstrado em

outros modelos experimentais, tenha provocado esses efeitos.

Os compostos RuImNO e o trans-[Ru(NO)(NH3)4isn](BF4)3, aqui

denominado de RuIsnNO, foram também avaliados in vivo no tratamento de

camundongos C57Bl/6 inoculados com células de melanoma murino B16F10-

Nex2 subcutaneamente. Embora tenhamos observado que um grupo de

animais foi responsivo a baixas doses dos compostos doadores de NO,

observamos também que um grupo de animais apresentava um

desenvolvimento tumoral muitas vezes mais rápido que os animais não

tratados. Mesmo os animais que responderam ao tratamento eliminando o

crescimento tumoral, apresentaram sintomas de intoxicação mesmo nas doses

mais baixas dos compostos RuImNO e RuIsnNO. Interessante notar que as

doses utilizadas no ensaio in vivo foram as mesmas doses utilizadas para o

tratamento de camundongos Balb/c infectados experimentalmente com T. cruzi.

Esses resultados mostraram que a utilização de compostos nitrosil tetraamina

rutênio, doadores de NO, em camundongos C57Bl/6 inoculados com células de

melanoma murino B16F10-Nex2, embora com algum efeito terapêutico, levou

ao aparecimento de efeitos colaterais bastante intensos. Diferença na

sensibilidade de linhagens de camundongos a agentes terapêuticos tem sido

demonstrado (Zhang et al, 2008; Gueders et al, 2009).

Para a síntese dos compostos nitrosil-tetraamina-rutênio, um

intermediário sulfatado é preparado, e estes compostos sulfato-tetraamina-

rutênio são utilizados normalmente como controles que contém o mesmo

Ligante de estabilização, mas que não é capaz de doar o NO em meio

biológico. Assim, compostos trans-[Ru(SO4)(NH3)4isn](BF4)3 e trans-

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[Ru(SO4)(NH3)4imN](BF4)3 (RuIsnSO4 e RuImSO4, respectivamente) foram

avaliados in vitro e in vivo com relação ao seu efeito antitumoral.

Observou-se que in vitro, os IC50 para os compostos foram de 137 e 444µM

para RuIsnSO4 e RuImSO4, respectivamente, valores bem superiores aos

obtidos com compostos doadores de NO.

Surpreendentemente, in vivo, o composto RuImSO4 foi o composto de

tetraamina rutênio mais eficiente no tratamento de animais com melanoma

murino. Foram testadas 3 doses, 500, 100 e 50nmol, e as doses menores

apresentaram melhor efeito terapêutico contra tumores subcutâneos. Efeito

terapêutico foi também observado em modelo de metástase pulmonar, onde

100nmol do composto reduziu significativamente o número de nódulos

pulmonares nos animais tratados. Além da eficiência do composto sulfatado in

vivo tanto no tratamento do tumor primário como do metastático, não foram

observados efeitos colaterais, sugerindo uma baixa toxicidade do RuImSO4.

Esse achado nos levou a determinar o elemento citotóxico presente no

RuImSO4, e foram então testados componentes isolados da fórmula. Imidazol e

um composto onde o átomo de rutênio é o componente mais importante, pois o

ligante de imidazol foi substituído por um grupo trietilfosfito e o grupo sulfato

por um átomo de água (composto denominado aqui de “Aquo”), foram

avaliados e não apresentaram atividade antitumoral. No entanto, quando

utilizou-se o composto RuIsnSO4, a atividade antitumoral foi similar ao

composto RuImSO4, nas doses de 50 e 100nmol. São necessários ensaios

mais aprofundados para a determinação da estrutura-atividade dos compostos

tetraamina-rutenio-sulfato, mas nossos resultados sugerem que a estrutura

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geral do composto tem importância na atividade antitumoral dos mesmos. Não

é conhecido se esses compostos são capazes de liberar o grupo sulfato em

meio biológico, o que poderia aumentar o grau de sulfatação dos componentes

da matriz extracelular e interferir com a interação da célula tumoral com a

matriz extracelular.

O composto RuImSO4 levou as células tumorais à morte por indução de

apoptose, como demonstrado pela inversão da fosfatidilserina na membrana

celular, condensação e fragmentação nuclear e pelas alterações morfológicas

apresentadas pelas células após tratamento com o complexo.

Alguns compostos de rutênio já foram testados no modelo de melanoma

murino B16. Gava e colaboradores (2006) utilizaram o composto de rutenio

NAMI-A (imidazolium trans-imidazoledimethylsulfoxide-tetrachlorouthenate),

que não apresenta atividade citotóxica direta sobre as células tumorais, para

tratamento de camundongos B6D2F1 inoculados nas patas com células B16 na

dose de 35 mg/kg por 6 dias intraperitonealmente. O composto não foi ativo

contra tumores primários, no entanto, reduziu em 20% e em 80% o número e o

tamanho das metástases pulmonares. O efeito foi relacionado à modulação do

efeito invasivo, com redução de atividade gelatinolítica das células in vitro e no

plasma de animais tratados in vivo. O composto doador de NO conhecido como

GIT-27NO [(S,R)-3-phenyl-4,5-dihydro-5-isoxazole acetic acid], mas não o

composto parental que não é capaz de liberar NO, apresentou atividade

citotóxica in vitro contra células tumorais humanas e murinas (Maksimovic-

Ivanic, 2008). O composto induziu apoptose em algumas linhagens celulares in

vitro, enquanto em outras induziu morte por autofagia, incluindo as células de

melanoma murino B16. Quando utilizado no tratamento do melanoma B16

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implantado em animais C57Bl/6, reduziu significativamente o tamanho dos

tumores subcutâneos após 30 dias, na dose de 0.5mg/animal/dia, durante 10

dias. Em nenhum dos dois estudos apresentados, o efeito dos compostos de

rutênio sobre a mortalidade dos animais tratados comparativamente aos

controles não tratados, ou a presença de efeitos colaterais, são descritos.

A aplicação de drogas baseadas em metais no tratamento do câncer

iniciou-se apenas em 1969 quando, acidentalmente, Rosemberg e

colaboradores (1969) descobriram a atividade antitumoral da cisplatina. A

introdução da cisplatina na clínica está relacionada a efeitos colaterais e

resistência adquirida ao quimioterápico pelas células tumorais (Stewart, 2007).

O estudo dos mecanismos pelos quais as células tumorais tornam-se

resistentes ao uso da cisplatina e seus análogos foram extensivamente

investigados e categorizados em quatro principais alterações: redução no

acúmulo intracelular da droga devido a uma diminuição na captação pelas

células tumorais; conjugação da droga com grupos tiol de proteínas como, por

exemplo, metalothioneína e/ou glutationa; aumento no reparo do DNA;

alterações nas vias moleculares envolvidas na sobrevivência e/ou morte celular

(Heffeter et al, 2008).

Devido às limitações do uso dos compostos de platina, novos agentes

antineoplásicos vêm sendo desenvolvidos com o objetivo de reduzir os efeitos

colaterais e reduzir a indução de resistência pelas células tumorais (Ott & Gust,

2007). Existem poucas informações sobre as causas de resistência aos novos

compostos conjugados a íons metálicos. Sugerem-se quatro possíveis causas

para que as células tumorais tornem-se resistentes ao tratamento com estes

novos compostos, baseadas na ação dos compostos de platina: redução da

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concentração intracelular das drogas, devido a diminuição na captação dos

compostos, aumento do efluxo e distribuição alterada do composto; ligação e

metabolização do composto, principalmente relacionado à sua conjugação com

tiol-proteínas; aumento nos mecanismos de reparo de DNA; modificações das

vias de sobrevivência, tais como aumento na expressão dos componentes da

família Bcl-2 (através da inibição de proteínas antiapoptóticas), inibição do

gene supressor de tumor p53, alterações na via JAK/STAT; e por último, pelo

controle do fator de transcrição responsivo aos metais (ativado para manter a

homeostase dos metais no organismo) (Heffeter et al, 2008).

Embora ainda sejam necessários estudos mais aprofundados para um

completo conhecimento dos mecanismos de ação e de indução de resistência

aos vários compostos conjugados a metais, orgânicos e inorgânicos, que estão

sendo recentemente avaliados, esses compostos tem apresentado resultados

promissores nos ensaios pré-clínicos já realizados, estimulando o estudo dessa

classe de moléculas antitumorais.

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138

7.0 CONCLUSÕES

Neste trabalho, a atividade antitumoral e o mecanismo de ação de

organometálicos conjugados a íons de Paládio e Rutênio foram avaliados

em ensaios pré-clínicos. Os resultados são relevantes para a descoberta de

novos agentes antitumorais que, futuramente, poderão ser aplicados na

clínica médica.

As principais conclusões do presente trabalho foram:

• O ciclopaladado 7A foi citotóxico in vitro tanto para linhagens celulares

tumorais humanas como para a linhagem de melanoma murino B16F10-

Nex2. A rápida redução da acidificação extracelular observada após

tratamento das células murinas e humanas sugere que o mecanismo de

ação desta droga seja semelhante nas células tumorais humanas e

murinas;

• O ciclopaladado 7A é efetivo no tratamento do melanoma primário

(subcutâneo) e também no tratamento do melanoma metastático

experimental. O C7A apresentou baixa toxicidade tanto in vivo como em

ensaios in vitro;

• O ciclopaladado 7A tem a mitocôndria como alvo na célula tumoral,

catalizando a formação de pontes dissulfeto entre proteínas da

membrana mitocondrial, levando à sua agregação. Esse efeito

desestabiliza a membrana da mitocôndria, permitindo a entrada de

solutos e destruição da estrutura mitocondrial, e apresentando um

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139

colapso no seu potencial de membrana, translocação da proteína pró-

apoptótica Bax para o interior da organela, liberação de cálcio

intramitocondrial e consequente aumento do cálcio intracitoplasmático,

ativação de caspases efetoras da apoptose e degradação de DNA. Os

efeitos fenotípicos e bioquímicos provocados pelo C7A indicam que o

composto leve a célula tumoral à morte por um processo apoptótico pela

via intrínseca.

• Além da citotoxicidade direta sobre as células tumorais, o ciclopaladado

7A apresentou uma atividade citotóxica direta sobre células endoteliais

humanas e inibiu a formação de estruturas pré-angiogênicas in vitro,

sugerindo uma adicional atividade anti-angiogênica in vivo.

• A citotoxicidade in vitro de diversos compostos nitrosil tetraamina rutênio

foi avaliada em linhagens celulares tumorais murinas e humanas. Esses

compostos são doadores de óxido nítrico (NO), e a velocidade com que

esse radical é liberado em meio biológico depende do ligante de

estabilização acoplado à estrutura do complexo.

• Os resultados com os compostos nitrosil tetraamina rutênio, doadores de

óxido nítrico, demonstraram que estes compostos são citotóxicos in vitro

para linhagens celulares tumorais murinas e humanas

• Os composto de rutênio trans-[Ru(NO)(NH3)4isn](BF4)3 e trans-

[Ru(NO)(NH3)4imN](BF4)3 apresentaram significativa atividade

antitumoral in vivo, utilizando o modelo subcutâneo de melanoma murino

B16F10-Nex2. Entretanto, a toxicidade destes compostos foi bastante

acentuada quando ensaiados in vivo;

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• Surpreendentemente, o composto de rutênio trans-

[Ru(NH3)4imN(SO4)]Cl, apresentou uma acentuada atividade antitumoral

in vivo, com ausência de efeitos tóxicos nos animais tratados com a

droga;

• A administração intraperitoneal do composto de rutênio trans-

[Ru(NH3)4imN(SO4)]Cl, em modelo de metástase também foi capaz de

inibir o desenvolvimento de nódulos pulmonares in vivo;

• Aparentemente, a atividade antitumoral do composto sulfatado não se

dá apenas pelo sulfato ou ao íon metálico, e sim pela estrutura química

como um todo;

• Os resultados para avaliar o mecanismo de ação do composto de

rutênio sulfatado sugerem que este quimioterápico provoca apoptose da

célula tumoral, já que observamos alterações morfológicas compatíveis

com processo apoptótico, bem como externalização de fosfotidilserina e

degradação de DNA.

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