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Por que é que os animais nos fazem tão bem?“O cão é o melhor amigo do homem” é uma conhecida expressão que reforça a ideia de que os animais de estimação devolvem o nosso investimento na forma de uma ligação afetuosa. Mas será que reconhecemos verdadeiramente os benefícios que os amigos de quatro patas nos proporcionam?
I nvestigadores em áreas distintas como a medi-
procuram entender a interação humano-ani-mal, enquanto interações mútuas e dinâmi-
cas entre pessoas e animais e as formas como elas podem afetar a saúde física e psicológica e, ainda, o bem-estar de ambos.
-ção humano-animal despertou em 1980 quando Ale-xander Friedmann constatou que após um enfarte agudo do miocárdio os pacientes que possuíam um animal de estimação apresentavam menor taxa de mortalidade do que aqueles que não viviam com ani-mais de estimação.Desde então, gerou-se uma intensa pesquisa no estudo dos benefícios desta interação humano-
domésticos apresentam melhor saúde física e men-tal, quando comparados com indivíduos do mesmo género e idade que não os possuem. A redução das emoções humanas negativas e valorização das po-sitivas relatada pelos tutores, é acompanhada de dados objetivos no registo de menos visitas médicas anuais, menos dias de baixa no emprego e períodos mais curtos de recuperação de doenças físicas e mentais, redução de doenças cardiovasculares, me-nor incidência de problemas de sono e uma melhor condição e registo de atividade física, diminuição das reações típicas do stresse, aumento do bem-es-tar psicológico, do cuidado pessoal e da autoestima do que os que não têm esta forma persistente de in-teração homem-animal.
A influência positiva dos animais em idososHoje em dia, as intervenções assistidas por animais estão presentes em países como os EUA, Canadá,
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Texto Dra. Isa Silvestre PSICÓLOGA NA CLÍNICA SÃO JOÃO DE DEUS
Japão, México, Coreia e Índia em diferentes abor-dagens disponibilizadas em hospitais, consultórios e escolas. Existem evidências de que as pessoas usualmente veem a relação com os seus animais de estimação
estudos revelam que a relação emocional com os cães pode preencher, em muitos casos, uma neces-sidade emocional. Pode ser uma fonte de segurança e, quando as pessoas se sentem ansiosas, o cão ou o gato podem ter um efeito calmante. Assim, a natu-reza do laço entre humanos e animais de companhia contém um forte fator de segurança, razão pela qual o companheiro de quatro patas pode substituir a companhia de outro humano. O apego emocional que temos com os animais de es-timação é enorme, faz com que a sensação de solidão seja menor. Desta forma, quando um idoso é privado de estar com o seu animal de estimação, não pela morte do animal mas, por exemplo, devido à perda de auto-nomia ou de mobilidade, à mudança para um lar de terceira idade, uma doença ou por internamento, observa-se uma reação adaptativa à perda do animal de estimação marcada por períodos de tristeza, apa-tia e um aumento do sentimento de solidão.Inúmeros estudos demonstram, sem deixar margem para dúvidas, que a presença dos animais consegue tranquilizar uma pessoa doente, diminui o risco de morte e ajuda a combater a solidão. Nos lares de ido-sos, a presença de animais aumenta a expetativa de vida. Possuir um animal de estimação pode mesmo afastar o sofrimento, físico e psicológico, diminuin-do a tristeza e o medo, tendo um efeito reparador e renovador. Estudos comprovam que os animais de estimação diminuem o sentimento de solidão e de isolamen-
VIVER MELHORF
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to, e fazem com que as pessoas sorriam com mais frequência. Algumas investigações revelam que as pessoas que têm animais de estimação apresentam mais características de personalidade consideradas positivas entre aqueles que não têm animais de es-timação. Os animais de estimação podem aumentar a fre-quência de interações sociais e reforçam a rede de relações entre pessoas Os animais facilitam o contacto inicial, “quebrando o gelo” em conversas casuais e promovendo uma conversação, quando o cuidador/dono passeia com ele na rua.
As crianças também beneficiam da interação com animaisMuitos estudos revelam que as crianças que tiveram um animal até aos cinco anos, tornaram-se mais re-sistentes a algumas doenças. Enquanto isso, aquelas que não tiveram a experiência de ter um animal de estimação, estavam mais propensas a desenvolver alergias e infeções de ordem respiratória. O facto de se respirar as poeiras trazidas pelos animais e até os pelos de gatos, demonstraram que o organismo hu-mano desencadeia uma proteção natural contra os agentes responsáveis pelas diversas infeções e pro-blemas respiratórios. As intervenções assistidas por animais – desde ca-valos, a cães, gatos ou até porquinhos da índia -tam-bém estão muito dirigidas para crianças com per-turbações emocionais, comportamentais, sociais,
relacionais, e de aprendizagem. Nos últimos anos,
crianças com perturbações do espetro do autismo. A equoterapia - terapia com cavalos - é um tratamen-to auxiliar para adultos em recuperação motora e
A convivência entre as crianças e os animais permite às crianças aprender e desenvolver as suas relações
irão estabelecer relação com as outras pessoas, se-gurança, compreensão, aceitação e respeito. Há também estudos que demonstram que a criança que convive com animais é mais afetiva, repartindo as suas coisas, é generosa e solidária. Por outro lado, apresenta autonomia, responsabilidade, preocupa-ção com a natureza, com os problemas sociais e de-senvolve uma boa autoestima.
Para a velha a!erção de que o cão é o melhor amigo do homem, devemos a"escen#r que é fundamen#l que o homem #mbém seja o melhor amigo do cão e de todos os outros animais, pois nes# interação humano-animal o denominador comum é a amizade
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Maior qualidade e aumento das relações sociais - Verifica-se um aumento significativo da frequên-cia e duração de comportamentos sociais verbais e não-verbais das crianças.Diminuição do stresse, da ansiedade e de com-portamentos indesejados ou estereotipados - É o efeito mais bem documentado em seres humanos como resultado da interação com animais. A sua evidência encontra-se atualmente bem suporta-da na literatura atual por parâmetros fisiológicos. Investigadores sugerem que a interação com um animal parece proporcionar-lhes a noção de familiaridade, previsibilidade e segurança para lidar com qualquer situação nova e naturalmente stressante.
BENEFÍCIOS DAS INTERVENÇÕES A$ISTIDAS POR ANIMAIS COM CRIANÇAS
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Os animais como facilitadores no processo de aprendizagemA escola é um ambiente naturalmente stressante
-ciais e académicos que lhe estão subjacentes. Esse
pela elevação dos níveis de cortisol nestas crianças quando interagem com os seus pares, pelo que a di-minuição dos níveis de ansiedade sugeridos na pre-sença do animal pode ter um papel importante para a criança na perceção do ambiente escolar como positivo.A decisão de adotar um animal de estimação deve ter em conta uma ponderação de custos/benefícios uma vez que o stresse, a falta de tempo e disponibi-lidade dos cuidadores/donos para cuidar de um ani-mal é um fator limitante. Para a velha asserção de que o cão é o melhor amigo do homem, devemos acrescentar que é fundamen-tal que o homem também seja o melhor amigo do cão e de todos os outros animais, pois nesta inte-ração humano-animal o denominador comum é a amizade. ™