extremos intra-sazonais de temperatura na península antártica e

Download extremos intra-sazonais de temperatura na península antártica e

If you can't read please download the document

Upload: duongcong

Post on 09-Jan-2017

221 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • UNIVERSIDADE DE SO PAULO

    INSTITUTO DE ASTRONOMIA, GEOFSICA E CINCIAS ATMOSFRICAS

    DEPARTAMENTO DE CINCIAS ATMOSFRICAS

    EXTREMOS INTRA-SAZONAIS DE TEMPERATURA NA PENNSULA ANTRTICA E MECANISMOS ATMOSFRICOS ASSOCIADOS

    NATHALIE TISSOT BOIASKI

    DISSERTAO DE MESTRADO

    ORIENTADORA: PROF.DR. LEILA MARIA VSPOLI DE CARVALHO

    SO PAULO

    2007

  • NATHALIE TISSOT BOIASKI

    EXTREMOS INTRA-SAZONAIS DE TEMPERATURA NA PENNSULA ANTRTICA E MECANISMOS ATMOSFRICOS ASSOCIADOS

    Dissertao apresentada ao Instituto de Astronomia, Geofsica e Cincias Atmosfricas da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Mestre em Cincias. rea de concentrao: Meteorologia. Orientadora: Prof. Dr. Leila Maria Vspoli de Carvalho.

    SO PAULO

    2007

  • Aos meus pais, Arnaldo e Marion, com

    admirao, amor e gratido.

  • AGRADECIMENTOS

    Deus.

    Meu especial agradecimento Prof Dr. Leila M. V. de Carvalho, por esta

    oportunidade. Seus ensinamentos, dedicao so exemplos a serem seguidos. Sobretudo,

    lembrarei sempre da sua amizade e carinho.

    Aos meus pais pela formao moral, incentivo e pelo exemplo de vida, e as minhas

    irms, Morgana e Vanessa, por estarem sempre ao meu lado me apoiando.

    Com muito amor agradeo ao Jnatan D. Tatsch, por seu carinho, companheirismo,

    apoio e incentivo que foram fundamentais nesta etapa da minha vida.

    minha av Ruth e tia Marisa, pelo apoio e pelas palavras carinhosas que me

    ajudaram a suportar a saudade.

    minha sobrinha amada, Luiza Boiaski Brignol, que mesmo to pequenina, fez parte

    do meu incentivo para a realizao da pesquisa.

    minha cunhada e amiga Dada, por seu carinho, amizade e companheirismo.

    Aos amigos do laboratrio GEM: Ana Elizabethe, Fbio, Flvio, Michel, Rodrigo e

    Sebastian, pela amizade, auxlio e discusses que foram fundamentais no desenvolvimento da

    pesquisa.

    Aos amigos Candida, Marta e Ricardo Acosta, pelo carinho, companheirismo e pela

    ajuda em diversas etapas da pesquisa.

    Aos colegas de mestrado e professores do IAG, pelo conhecimento compartilhado.

    Ao Departamento de Cincias Atmosfricas, pela oportunidade de realizao do curso de mestrado.

    FAPESP pelo suporte financeiro desta pesquisa atravs do auxlio 05/52389-2.

    Ao pessoal do suporte tcnico, secretrias e biblioteca, em especial ao Samuel,

    Sebastio, Luciana, Rose, Bete e Rosa M. S. Santos.

    Ao Prof. Dr. Edmilson Dias de Freitas, pela sua amizade e companheirismo.

    A todos os amigos que de alguma forma ajudaram direta ou indiretamente no

    desenvolvimento desta dissertao.

  • Suba o primeiro degrau com f. No necessrio que voc veja toda a escada. Apenas d o primeiro passo.

    M. L. King

  • RESUMO

    O clima na Antrtica tem um papel fundamental no balano de energia global. Estudos sugerem que a atividade convectiva tropical e a circulao estratosfrica exercem um papel importante sobre a circulao atmosfrica nos extratrpicos. A temperatura do ar uma varivel sensvel s mudanas na circulao, no entanto, ainda no foi investigada a importncia da escala intra-sazonal na sua variabilidade sobre a Antrtica. Neste trabalho estudou-se a variabilidade intra-sazonal da temperatura do ar a superfcie na regio da Pennsula Antrtica enfocando as interaes trpicos-extratrpicos e troposfera-estratosfera na modulao de eventos extremos de temperatura naquela regio. Foram utilizados dados dirios de estaes localizadas nos setores leste e oeste da Pennsula Antrtica no perodo de 1986-2002. A anlise espectral dos dados ressaltou a importncia da escala intra-sazonal na variabilidade da temperatura na Pennsula Antrtica, principalmente no perodo de inverno, primavera e vero. Baseado nestes resultados, os dados foram filtrados na escala intra-sazonal (banda de 20-100 dias) e posteriormente, obteve-se os extremos intra-sazonais frios e quentes para as trs estaes do ano, atravs dos quartis da distribuio dos dados. Os eventos extremos intra-sazonais de temperatura (EIT) foram mais intensos no inverno e mais fracos no vero. As caractersticas da circulao atmosfrica intra-sazonal associada aos EIT foram obtidas atravs de composies defasadas das anomalias intra-sazonais da altura geopotencial em 200 hPa, vento zonal em 200 hPa e vento meridional em 850 hPa. Nas trs estaes do ano, observou-se nos eventos extremos intra-sazonais frios (EIF) a persistncia de anomalias ciclnicas em altos nveis, a diminuio da intensidade do jato polar e uma adveco de ar frio em baixos nveis sobre a regio de estudo. Uma situao oposta foi verificada nos eventos extremos intra-sazonais quentes (EIQ). De forma geral, observou-se um trem de ondas entre latitudes mdias e altas no Hemisfrio Sul (HS) durante os EIT, particularmente no inverno e primavera. Esta configurao mostrou-se semelhante a tele-conexo conhecida como Pacfico-Sul Americano (PSA). O papel do modo anular do HS sobre os EIT foi analisado atravs do clculo de Funes Ortogonais Empricas das anomalias intra-sazonais da altura geopotencial em 700 hPa ao sul de 20S. Sua estrutura foi mais intensa (mais fraca) nos EIF (EIQ) de inverno sobre a regio de estudo. A interao troposfera-estratosfera no controle dos EIT foi investigada atravs do Fluxo Eliassen-Palm. Nas composies das anomalias intra-sazonais deste fluxo (EPIS), observou-se durante os EIF (EIQ) de inverno, um aumento da atividade de onda da baixa estratosfera (alta troposfera) para a alta troposfera (baixa estratosfera) sobre a regio de estudo, associado diminuio (aumento) da intensidade do jato polar. Na primavera, a atividade de onda foi mais intensa e verificou-se uma mudana na direo do fluxo EPIS quando comparado com os EIT de inverno. O fluxo EPIS e as anomalias intra-sazonais do vento zonal foram mais fracos no vero. As anomalias intra-sazonais da circulao atmosfrica e da atividade de onda na troposfera e estratosfera foram observadas por cerca de 10 dias antes da observao dos EIT de inverno. Portanto, a atividade intra-sazonal nos extratrpicos e as interaes troposfera-estratosfera so fatores relevantes para um melhor entendimento da variabilidade da temperatura sobre a Pennsula Antrtica.

  • ABSTRACT

    The Antarctic climate plays a significant role for the global energy budget. Previous studies suggest that interactions tropics-extratropics and the dynamics of the stratosphere are important factors to understand climate variations in the extratropics. The air temperature near surface responds to changes in circulation in low and upper levels. However, no previous studies have objectively investigated the importance of intraseasonal variations in modulating temperature around the Antarctica Peninsula. The present study examines intraseasonal extreme anomalies of near surface air temperature in the Antarctica Peninsula, and investigates interactions tropics-extratropics and troposphere-stratosphere. Daily temperature data from stations located east and west of the Antarctica Peninsula during 1986-2002 are investigated. Spectral analyses indicate that intraseasonal anomalies in temperature records are statistically significant during summer, winter and spring in all stations. Based on these results, temperatures are band-filtered on intraseasonal timescales (20-100 days) and extreme anomalies are investigated in each season (spring, summer and winter) based on the quartiles of the distributions. Intraseasonal extreme temperature (IET) anomalies are more intense during winter than during summer. Variations in the atmospheric circulation during IET are investigated by performing composites of intraseasonal anomalies of the geopotential height in 200hPa, zonal wind in 200hPa and meridional wind in 850hPa. During the three seasons, cold IET are associated with persistent upper level cyclonic anomalies, easterly anomalies of the polar jet and cold advection in low levels over the Peninsula. Opposite features are observed during warm IET. An extratropical wave-train is observed during all IET with stronger intensity during winter and spring. This feature resembles the Pacific South American (PSA) teleconnection pattern. The Southern Hemisphere Annular mode during the IET, identified as the first Empirical Orthogonal Function (EOF) of the intraseasonal 700hPa geopotential height anomalies poleward of 20oS, is more intense (weak) during cold (warm) IET events during winter. The stratosphere-troposphere interaction during IET events was examined with composites of the Eliassen-Palm Flux intraseasonal anomalies (EPIS). During spring, the wave activity is more intense and the EPIS direction is opposite to winter. During summer, EPIS are weak. Intraseasonal anomalies in the circulation and the wave activity in the troposphere and stratosphere lead the IET during winter in about 10 days. Therefore, the intraseasonal activity in the extratropics and the interactions stratosphere-troposphere are important factors for a complete understanding of the temperature variability over the Antarctica Peninsula.

  • i

    SUMRIO LISTA DE FIGURAS iii

    LISTA DE TABELAS x

    LISTA DE ABREVIATURAS xi

    Captulo 1: Introduo 1

    1.1 O papel da Antrtica no clima global .....................................................................1

    1.2 Variabilidade climtica na Antrtica .....................................................................4

    1.2.1 Oscilao intra-sazonal tropical: Oscilao Madden-Julian (OMJ) ................9

    1.3. Mudanas climticas e a Antrtica ......................................................................10

    1.4. Objetivo do trabalho .............................................................................................11

    Captulo 2: Variabilidade da temperatura do ar na Pennsula Antrtica 13

    2.1. Caracterizao do clima na Pennsula Antrtica ...............................................13

    2.2. Descrio dos dados e das estaes meteorolgicas utilizadas ..........................16

    2.3. Variaes da temperatura do ar na regio..........................................................21

    2.4. Extremos de temperatura .....................................................................................25

    2.5. Anlise espectral dos dados ..................................................................................26

    Captulo 3: Extremos intra-sazonais de temperatura na Pennsula Antrtica 33

    3.1 Filtragem dos dados ...............................................................................................33

    3.2. Eventos extremos intra-sazonais de temperatura (EIT) ....................................36

    3.2.1. Variabilidade interanual dos EIT: relao com o El Nio-Oscilao Sul .....45

    3.3. Variaes intra-sazonais da circulao atmosfrica associada aos EIT ...........51

    3.3.1. Inverno.................................................................................................................51

    3.3.2. Primavera ............................................................................................................60

    3.3.3. Vero....................................................................................................................67

  • ii

    3.3.4. Comparao entre os casos com intensidades e persistncias extremas e

    prximas da mediana ...................................................................................................74

    3.4. Variaes intra-sazonais da atividade convectiva nos trpicos e os EIT .........79

    3.5. Variaes intra-sazonais na estrutura da AAO: relao com os EIT ...............83

    Captulo 4: Interao troposfera-estratosfera e os EIT na Pennsula Antrtica 88

    4.1. A atividade de onda e a interao com o fluxo zonal mdio ..............................89

    4.1.1. O Fluxo Eliassen-Palm (EP) ..............................................................................89

    4.1.2. Comparao entre a climatologia da temperatura, circulao e da atividade

    de onda entre troposfera - estratosfera ......................................................................90

    4.2. Anomalias intra-sazonais do Fluxo EP e os EIT.................................................94

    4.2.1. Inverno.................................................................................................................95

    4.2.2. Primavera ............................................................................................................98

    4.2.3. Vero..................................................................................................................101

    4.3. Consideraes gerais ...........................................................................................104

    Captulo 5: Concluses e sugestes para trabalhos futuros 105

    Referncias Bibliogrficas 109

    Apndice A: Diferena entre duas propores 115

    Apndice B: Funes Ortogonais Empricas (EOF) 117

  • iii

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1. 1. Mapa orogrfico da Antrtica. O intervalo dos contornos de 500m (Turner e

    Pendlebury 2004)................................................................................................................2

    Figura 1. 2. (a) Modelo conceitual da circulao troposfrica sobre a Antrtica. Ventos

    catabticos em superfcie esto em equilbrio com a convergncia em altitude e a

    subsidncia sobre o continente, que sustenta uma circulao ciclnica em nveis mdios

    (King e Turner, 1997, p.163). (b) Divergncia em superfcie resulta em ventos

    catabticos que adquirem forte componente de leste prximo costa (King e Turner,

    1997, p.94)..........................................................................................................................2

    Figura 1. 3. Esquema representando a circulao atmosfrica na regio da Antrtica,

    destacando a alta presso sobre o continente e a regio de baixa presso circumpolar

    prxima latitude de 66S (Adaptada de Australian Antarctic Division)..........................3

    Figura 1. 4. Concentrao mdia do gelo marinho antrtico baseado na climatologia do

    perodo de 1978-2002, para os meses de (a) fevereiro, perodo de concentrao mnima

    de gelo e (b) setembro, perodo de mxima concentrao de gelo (Adaptada de National

    Snow and Ice Data Center NSIDC, 2004).......................................................................4

    Figura 1. 5. Padres de tele-conexo obtidos pelas anomalias do vento zonal em 200 hPa

    (U200) durante os eventos negativos (acima), positivos (centro) da AAO e a diferena

    entre os dois campos (abaixo). Figura extrada de Carvalho et al. 2005............................8

    Figura 2. 1. Mapa da Pennsula Antrtica localizando as estaes de pesquisas utilizadas

    neste estudo (pontos em laranja). Imagem obtida pelo google earth. ..............................14

    Figura 2. 2. Desenvolvimento dos ventos de barreira (adaptado de King e Turner, 1997,

    p.282)................................................................................................................................15

    Figura 2. 3. Trajetrias dos fluxos inerciais originrios dos ventos de barreira, ao ultrapassar

    o extremo norte da Pennsula Antrtica. Velocidade inicial estimada em 20 m s-1

    . A

    trajetria a representa o fluxo de ar sem atrito; b e c representam trajetrias com atrito

    fraco e forte, respectivamente (adaptado de Schwerdtfeger, 1984, p.108). .....................15

    Figura 2. 4. Mapa da Ilha Rei George, localizando algumas estaes utilizadas neste estudo

    (adaptada de Turner e Pendlebury 2004)..........................................................................18

  • iv

    Figura 2. 5. Dendrograma gerado a partir das distncias euclidianas (DE) das sries dirias da

    temperatura do ar entre as estaes da Pennsula Antrtica. ............................................19

    Figura 2. 6. Distribuio de freqncia da temperatura mdia diria em cada ms para: (a)

    Arturo e (b) Marambio. A caixa (box) em verde representa o intervalo inter-quartlico

    (25%-75%) e os pontos conectados dentro do box, a mediana. A barra em azul representa

    os valores mnimos e mximos.........................................................................................22

    Figura 2. 7. Anemograma climatolgico para as estaes (a) Arturo e (b) Marambio. Os

    dados de vento foram obtidos no NSIDC. ........................................................................23

    Figura 2. 8. Temperaturas mdias anuais para Arturo (linha slida) e Marambio (linha

    tracejada) e suas respectivas tendncias em C/ano, obtidas por regresso linear das

    sries de dados. .................................................................................................................24

    Figura 2. 9. Variao da temperatura mdia anual em C da estao Marambio (linha preta) e

    da extenso mdia anual do gelo marinho em Km2 na regio do mar de Weddell (linha

    azul), no perodo de 1991 a 2002. Tambm so mostrados os valores das tendncias de

    cada varivel, que em ambos os casos foram significativos ao nvel de 99%. Os dados de

    gelo marinho foram obtidos no NSIDC. ...........................................................................25

    Figura 2. 10. Funo taper - split-cosine-bell aplicada em 10% nas extremidades das sries

    de temperatura para evitar descontinuidades no final das mesmas (como exemplo, o

    trimestre de inverno JJA)...............................................................................................29

    Figura 2. 11. Demonstrao da aplicao dos pesos da funo taper nas anomalias de

    temperatura (como exemplo, o inverno de 1986 da estao Arturo)................................30

    Figura 2. 12. Densidade espectral mdia (linha azul) da temperatura do ar, calculada para a

    estao Arturo durante: (a) inverno, (b) primavera, (c) vero e (d) outono. As linhas

    vermelhas e verdes (verdes tracejadas) correspondem ao rudo vermelho e o nvel de

    significncia de 95% (90%), respectivamente..................................................................31

    Figura 2. 13. Idem a Fig. 2.12, mas para a estao Marambio................................................32

    Figura 3. 1. Comparao entre as sries das anomalias intra-sazonais (vermelho) e totais

    (azul) de temperatura das estaes Arturo (a) e Marambio (b) no perodo de 1986-2002.

    ..........................................................................................................................................35

    Figura 3. 2. Correlao entre as anomalias intra-sazonais de temperatura em Arturo

    (ordenada) e Marambio (abscissa)....................................................................................36

    Figura 3. 5. Distribuio de freqncia da persistncia dos eventos intra-sazonais frios (EIF)

    e quentes (EIQ) em Arturo para o perodo de inverno (a), primavera (b) e vero (c). A

  • v

    caixa (box) em verde representa o intervalo inter-quartlico (25%-75%) e o ponto verde,

    a mediana (median). Os pontos discrepantes (outliers) so valores a 1,5 vezes a altura

    do box e os extremos (extremes) so pontos onde os valores so a 3,0 vezes a altura do

    box. ...................................................................................................................................44

    Figura 3. 6. Idem a Figura 3.5, mas para a estao Marambio................................................45

    Figura 3. 7. Variabilidade interanual da frequncia dos eventos extremos intra-sazonais frios

    (EIF) e quentes (EIQ) durante o inverno (a), primavera (b) e vero (c) para Arturo. Os

    pontos em azul (vermelho) representam os anos de episdios La Nia (El Nio) do

    ENOS obtidos pelo CPC/NCEP. ......................................................................................47

    Figura 3. 8. Idem a Figura 3.7, mas para a estao Marambio................................................48

    Figura 3. 11. Composies defasadas de anomalias intrasazonais do geopotencial (mgp) em

    200 hPa durante os eventos extremos intrasazonais: (a) frios (EIF) e (b) quentes (EIQ) no

    inverno em Arturo (Pennsula oeste). As linhas contnuas (tracejadas) indicam valores

    positivos (negativos). As reas destacadas em vermelho (azul) so para os valores

    positivos (negativos) estatisticamente significativos ao nvel de 95%, baseado no teste t-

    Student. O intervalo dos contornos de 10 mgp..............................................................53

    Figura 3. 12. Idem a Fig. 3.11, mas para Marambio (Pennsula leste)....................................54

    Figura 3. 13. (a) EOF1 e (b) EOF2 da funo corrente turbulenta em 200 hPa durante o

    inverno austral. (c) Correlaes defasadas entre a PC1 e PC2 das anomalias totais

    (crculo em branco) e da srie temporal filtrada na banda intra-sazonal (10-90 dias)

    (crculo em preto). Figura extrada de Mo e Higgins (1998)............................................55

    Figura 3. 14. Composies defasadas de anomalias intrasazonais do vento zonal (m/s) em

    200 hPa durante os eventos extremos intrasazonais: (a) frios (EIF) e (b) quentes (EIQ) no

    inverno em Arturo (Pennsula oeste). As linhas contnuas (tracejadas) indicam valores

    positivos (negativos). As reas destacadas em vermelho (azul) so para os valores

    positivos (negativos) estatisticamente significativos ao nvel de 95%, baseado no teste t-

    Student. O intervalo dos contornos de 1 m/s. ................................................................56

    Figura 3. 15. Idem a Fig. 3.14, mas para Marambio (Pennsula leste)....................................57

    Figura 3. 16. Composies defasadas de anomalias intrasazonais do vento meridional (m/s)

    em 850 hPa durante os eventos extremos intrasazonais: (a) frios (EIF) e (b) quentes

    (EIQ) no inverno em Arturo (Pennsula oeste). As linhas contnuas (tracejadas) indicam

    valores positivos (negativos). As reas destacadas em vermelho (azul) so para os

    valores positivos (negativos) estatisticamente significativos ao nvel de 95%, baseado no

    teste t-Student. O intervalo dos contornos de 1 m/s. .....................................................58

  • vi

    Figura 3. 17. Idem a Fig. 3.16, mas para Marambio (Pennsula leste)....................................59

    Figura 3. 18. Composies defasadas de anomalias intrasazonais do geopotencial (mgp) em

    200 hPa durante os eventos extremos intrasazonais: (a) frios (EIF) e (b) quentes (EIQ) na

    primavera em Arturo (Pennsula oeste). As linhas contnuas (tracejadas) indicam valores

    positivos (negativos). As reas destacadas em vermelho (azul) so para os valores

    positivos (negativos) estatisticamente significativos ao nvel de 95%, baseado no teste t-

    Student. O intervalo dos contornos de 10 mgp..............................................................61

    Figura 3. 19. Idem a Fig. 3.18, mas para Marambio (Pennsula leste)....................................62

    Figura 3. 20. Composies defasadas de anomalias intrasazonais do vento zonal (m/s) em

    200 hPa durante os eventos extremos intrasazonais: (a) frios (EIF) e (b) quentes (EIQ) na

    primavera em Arturo (Pennsula oeste). As linhas contnuas (tracejadas) indicam valores

    positivos (negativos). As reas destacadas em vermelho (azul) so para os valores

    positivos (negativos) estatisticamente significativos ao nvel de 95%, baseado no teste t-

    Student. O intervalo dos contornos de 1 m/s. ................................................................63

    Figura 3. 21. Idem a Fig. 3.20, mas para Marambio (Pennsula leste)....................................64

    Figura 3. 22. Composies defasadas de anomalias intrasazonais do vento meridional (m/s)

    em 850 hPa durante os eventos extremos intrasazonais: (a) frios (EIF) e (b) quentes

    (EIQ) na primavera em Arturo (Pennsula oeste). As linhas contnuas (tracejadas)

    indicam valores positivos (negativos). As reas destacadas em vermelho (azul) so para

    os valores positivos (negativos) estatisticamente significativos ao nvel de 95%, baseado

    no teste t-Student. O intervalo dos contornos de 1 m/s. ................................................65

    Figura 3. 23. Idem a Fig. 3.22, mas para Marambio (Pennsula leste)....................................66

    Figura 3. 24. Composies defasadas de anomalias intrasazonais do geopotencial (mgp) em

    200 hPa durante os eventos extremos intrasazonais: (a) frios (EIF) e (b) quentes (EIQ) no

    vero em Arturo (Pennsula oeste). As linhas contnuas (tracejadas) indicam valores

    positivos (negativos). As reas destacadas em vermelho (azul) so para os valores

    positivos (negativos) estatisticamente significativos ao nvel de 95%, baseado no teste t-

    Student. O intervalo dos contornos de 10 mgp..............................................................68

    Figura 3. 25. Idem a Fig. 3.24, mas para Marambio (Pennsula leste)....................................69

    Figura 3. 26. Composies defasadas de anomalias intrasazonais do vento zonal (m/s) em

    200 hPa durante os eventos extremos intrasazonais: (a) frios (EIF) e (b) quentes (EIQ) no

    vero em Arturo (Pennsula oeste). As linhas contnuas (tracejadas) indicam valores

    positivos (negativos). As reas destacadas em vermelho (azul) so para os valores

  • vii

    positivos (negativos) estatisticamente significativos ao nvel de 95%, baseado no teste t-

    Student. O intervalo dos contornos de 1 m/s. ................................................................70

    Figura 3. 27. Idem a Fig. 3.26, mas para Marambio (Pennsula leste)....................................71

    Figura 3. 28. Composies defasadas de anomalias intrasazonais do vento meridional (m/s)

    em 850 hPa durante os eventos extremos intrasazonais: (a) frios (EIF) e (b) quentes

    (EIQ) no vero em Arturo (Pennsula oeste). As linhas contnuas (tracejadas) indicam

    valores positivos (negativos). As reas destacadas em vermelho (azul) so para os

    valores positivos (negativos) estatisticamente significativos ao nvel de 95%, baseado no

    teste t-Student. O intervalo dos contornos de 1 m/s. .....................................................72

    Figura 3. 29. Idem a Fig. 3.28, mas para Marambio (Pennsula leste)....................................73

    Figura 3. 30. Composies das anomalias intrasazonais do vento zonal (m/s) em 200 hPa

    para os casos: (a) abaixo do percentil de 10% e (b) acima do percentil de 90% das

    anomalias intra-sazonais de temperatura no inverno em Arturo. As figuras (c-e)

    representam os EIQ em Arturo com persistncia abaixo do percentil 25%, igual ao

    percentil de 50% e acima do percentil de 75%, respectivamente. As linhas contnuas

    (tracejadas) indicam valores positivos (negativos). As reas destacadas em vermelho

    (azul) so para os valores positivos (negativos) estatisticamente significativos ao nvel de

    95%, baseado no teste t-Student. O intervalo dos contornos de 1 m/s. .........................75

    Figura 3. 31. Idem a Fig. 3.30, mas para a primavera. ............................................................77

    Figura 3. 32. Idem a Fig. 3.30, mas para o vero. ...................................................................78

    Figura 3. 33. Composies defasadas de anomalias intrasazonais de radiao de onda longa

    (W/m) durante os eventos extremos intrasazonais: (a) frios (EIF) e (b) quentes (EIQ) no

    inverno em Arturo (Pennsula oeste). As linhas contnuas (tracejadas) indicam valores

    positivos (negativos). As reas destacadas em vermelho (azul) so para os valores

    positivos (negativos) estatisticamente significativos ao nvel de 95%, baseado no teste t-

    Student. O intervalo dos contornos de 2 W/m..............................................................80

    Figura 3. 34. Idem a Fig. 3.33, mas para a primavera. ............................................................81

    Figura 3. 35. Idem a Fig. 3.33, mas para o vero. ...................................................................82

    Figura 3. 36. Coeficiente de regresso das anomalias dirias da altura geopotencial em 700

    hPa na EOF-1. Este modo explica cerca de 26% da varincia total dos dados (Figura

    obtida em Carvalho et al. 2005). ......................................................................................84

    Figura 3. 37. Correlao entre as anomalias de H700IS e a EOF-1 obtida para os EIF (a) e os

    EIQ (b), no inverno em Arturo. A varincia explicada pela EOF-1 est indicada no topo

    de cada figura....................................................................................................................85

  • viii

    Figura 3. 38. Idem a Fig. 3.37, mas para Marambio. ..............................................................85

    Figura 3. 39. Correlao entre as anomalias de H700IS e a EOF-1 obtida para os EIF (a) e os

    EIQ (b), na primavera em Arturo. A varincia explicada pela EOF-1 est indicada no

    topo de cada figura. ..........................................................................................................86

    Figura 3. 40. Idem a Fig. 3.39, mas para Marambio. ..............................................................86

    Figura 3. 41. Correlao entre as anomalias de H700IS e a EOF-1 obtida para os EIF (a) e os

    EIQ (b), no vero em Arturo. A varincia explicada pela EOF-1 est indicada no topo de

    cada figura. .......................................................................................................................87

    Figura 3. 42. Idem a Figura 3.41, mas para Marambio. ..........................................................87

    Figura 4. 1. Climatologia do vetor EP (1011 kg m s-2) e do vento zonal (m/s) na alta troposfera

    e baixa estratosfera para o inverno (a), primavera (b), vero (c) e outono (d), no perodo

    de 1979-2005. O vetor EP em 150 hPa foi multiplicado por 10-1 devido as diferenas de

    magnitude entre a troposfera e estratosfera. Os vetores EP foram escalados tal que

    ),( zy FcFF a , onde c = 0,0091, como descrito em Palmer (1981)................................92

    Figura 4. 2. Climatologia da temperatura do ar (C) na baixa estratosfera (em 50 hPa),

    durante o inverno (a), primavera (b), vero (c) e outono (d), obtida por reanlises do

    NCEP-NCAR no perodo de 1979-2005. ..........................................................................93

    Figura 4. 3. Idem a Fig. 4.2, mas para alta troposfera (em 200 hPa). .....................................94

    Figura 4. 4. Composies defasadas das anomalias intra-sazonais do vetor EP (1011 kg m s-2)

    e do vento zonal (m/s) na alta troposfera e baixa estratosfera para os EIF (a) e EIQ (b),

    durante o inverno em Arturo. O vetor EP em 150 hPa foi multiplicado por 10-2 devido as

    diferenas de magnitude entre a troposfera e estratosfera. Os vetores EP foram escalados

    como na Fig 4.1. ...............................................................................................................96

    Figura 4. 5. Idem a Fig. 4.4, mas para a estao Marambio....................................................97

    Figura 4. 6. Composies defasadas das anomalias intra-sazonais do vetor EP (1011 kg m s-2)

    e do vento zonal (m/s) na alta troposfera e baixa estratosfera para os EIF (a) e EIQ (b),

    durante a primavera em Arturo. O vetor EP em 150 hPa foi multiplicado por 10-2 devido

    as diferenas de magnitude entre a troposfera e estratosfera. Os vetores EP foram

    escalados como na Fig 4.1................................................................................................99

    Figura 4. 7. Idem a Fig. 4.6, mas para Marambio. ................................................................100

    Figura 4. 8. Composies defasadas das anomalias intra-sazonais do vetor EP (1011 kg m s-2)

    e do vento zonal (m/s) na alta troposfera e baixa estratosfera para os EIF (a) e EIQ (b),

  • ix

    durante o vero em Arturo. O vetor EP em 150 hPa foi multiplicado por 10-2 devido as

    diferenas de magnitude entre a troposfera e estratosfera. Os vetores EP foram escalados

    como na Fig 4.1. .............................................................................................................102

    Figura 4. 9. Idem a Fig. 4.8, mas para Marambio. ................................................................103

  • x

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 2. 1. Estaes utilizadas neste estudo com suas respectivas elevaes, latitude,

    longitude, perodo de dados disponveis e porcentagem de dados faltantes no perodo

    1986-2002.........................................................................................................................17

    Tabela 2. 2. Anlise do coeficiente linear de correlao de Pearson entre as sries temporais

    das estaes da Pennsula Antrtica. ................................................................................20

    Tabela 2. 3. Mdia, desvio padro e tendncia da temperatura mdia anual nas estaes

    Arturo e Marambio. Valor em negrito: significativo ao nvel de 95%.............................21

    Tabela 2. 4. Anlise sazonal da tendncia na temperatura mdia anual nas estaes Arturo e

    Marambio. Valores em negrito: significativos ao nvel de 90%. .....................................24

    Tabela 2. 5. Anlise sazonal dos extremos frios (q25) e quentes (q75) nas estaes Arturo e

    Marambio. ........................................................................................................................26

    Tabela 3. 1. Data do primeiro dia de cada evento intra-sazonal frio (EIF) e quente (EIQ) e

    suas respectivas persistncias, em ordem de ocorrncia (N), para as estaes Arturo e

    Marambio, durante o inverno austral................................................................................41

    Tabela 3. 2. Idem a tabela 3.1, mas para a primavera austral. .................................................42

    Tabela 3. 3. Idem a tabela 3.1, mas para o vero austral. ........................................................43

    Tabela 3. 4. Nmero de eventos El Nio, La Nia e neutros do ENOS, observados em cada

    estao do ano durante 1986-2002. ..................................................................................49

  • xi

    LISTA DE ABREVIATURAS

    HS Hemisfrio Sul

    AAO Antarctic Oscillation

    EOF Empirical Orthogonal Function

    HN Hemisfrio Norte

    AO Artic Oscillation

    ENOS El Nio- Oscilao Sul

    EN El Nio

    OS Oscilao Sul

    TSM Temperatura da superfcie do mar

    PSA Pacific-South American

    PNA Pacific-North American

    OI Oscilao Intra-sazonal

    OMJ Oscilao Madden-Julian

    EIT Eventos extremos intra-sazonais de temperatura

    EIF Eventos intra-sazonais frios

    EIQ Eventos intra-sazonais quentes

    NSIDC National Snow and Ice Data Center

    DE Distncia Euclidiana

    q75 quartil superior

    q25 quartil inferior

    FFT Fast Fourier Transform

    CPC Climate Prediction Center

    NCEP National Centers for Environmental Prediction

    NCAR National Center for Atmospheric Research

  • 1

    Captulo 1: Introduo

    1.1 O papel da Antrtica no clima global

    A atmosfera terrestre uma grande mquina de calor, impulsionada pela diferena no

    balano de energia, positivo no equador e negativo nos plos. A circulao geral da atmosfera

    organiza-se de forma a distribuir esta energia por todo o globo.

    O continente antrtico o grande sumidouro de calor do Hemisfrio Sul (HS),

    devido seu balano de radiao deficitrio, exercendo controle sobre a circulao atmosfrica

    em mdias e altas latitudes. A imensa massa de gelo permanente, com temperaturas que

    variam entre 30C e 70C no seu interior, induz a formao de um centro de alta presso

    sobre o continente. Em funo da altitude do domo de gelo, superando 4000 m no plat

    Antrtico (Figura 1.1), esta circulao gera fortes e persistentes ventos catabticos, que

    conduzem ar frio do interior do continente em direo costa (Figura 1.2a). O efeito

    catabtico, aliado ao gradiente negativo de presso da escala global, devido Coriolis, resulta

    em ventos de leste praticamente constantes prximo costa (Figura 1.2b) (King e Turner,

    1997).

    Em altitude, a orografia assimtrica do continente com relao ao plo geogrfico d

    origem s ondas de Rossby, que afetam a circulao de latitudes mdias ao propagarem-se

    para o norte. Esta ondulao modulada pela corrente de jato polar, que marca o

    posicionamento da Frente Polar e serve de condutora para os sistemas meteorolgicos

    transientes, promovendo a troca de massas de ar subtropicais e polares. Estes sistemas so

    ciclones e anticiclones extratropicais migratrios, que evoluem ao redor do continente

    antrtico. Esta regio, em latitude mdia de aproxidamente 66S, configura a Baixa Presso

    Circumpolar (Figura 1.3). Caracteriza-se pela convergncia do ar frio vindo do continente

  • 2

    com o ar quente vindo de latitudes mais baixas, sendo a regio do planeta com maior

    quantidade de nuvens (cobertura mdia de 6/8 a 8/8) (King e Turner, 1997).

    Figura 1. 1. Mapa orogrfico da Antrtica. O intervalo dos contornos de 500m (Turner e Pendlebury 2004).

    Figura 1. 2. (a) Modelo conceitual da circulao troposfrica sobre a Antrtica. Ventos catabticos em superfcie esto em equilbrio com a convergncia em altitude e a subsidncia sobre o continente, que sustenta uma circulao ciclnica em nveis mdios (King e Turner, 1997, p.163). (b) Divergncia em superfcie resulta em ventos catabticos que adquirem forte componente de leste prximo costa (King e Turner, 1997, p.94).

  • 3

    Figura 1. 3. Esquema representando a circulao atmosfrica na regio da Antrtica, destacando a alta presso sobre o continente e a regio de baixa presso circumpolar prxima latitude de 66S (Adaptada de Australian Antarctic Division).

    O estado mdio da atmosfera, chamado de clima, determinado pela emisso da

    radiao solar, rotao da Terra e caractersticas orbitais, composio da atmosfera, e

    interaes entre a atmosfera e os outros componentes do sistema terrestre que determinam os

    fluxos de massa, energia e momentum na superfcie da Terra, como os oceanos e a criosfera.

    Estes componentes contribuem para a inrcia trmica do sistema climtico. Se no fosse pelo

    grande armazenamento de calor no oceano e criosfera durante o vero, e a liberao deste

    calor no inverno seguinte, as variaes sazonais na temperatura sobre continentes em mdia e

    altas latitudes seriam maiores que o observado.

    Os oceanos por conta das correntes geradas pelos ventos e da circulao termohalina

    gerada pelas diferenas de densidade transportam guas relativamente frias para o equador e

    calor para os plos. No Oceano Sul, a circulao ocenica governada pelos ventos de oeste

    em superfcie, chamada de Corrente Circumpolar Antrtica (localizada ao longo de 55S,

    latitude da passagem de Drake que separa a Antrtica e a Amrica do Sul), modera as

    temperaturas nas regies costeiras em altas latitudes do HS.

    A criosfera contribui para a refletividade ou albedo da Terra, influencia a circulao

    termohalina e armazena quantidade significativa de gua influenciando o nvel do mar global.

    A rea continental da Antrtica representa cerca de 2,7 % rea da superfcie da Terra (contra

    0,35 % da Groenlndia) (Wallace e Hobbs 2006). Sua superfcie coberta de gelo e contm

  • 4

    cerca de 90 % da gua doce do mundo. A presena de gelo marinho ao redor da Antrtica tem

    efeito significativo na interao oceano-atmosfera, seja na troca de calor, transferncia de

    vapor dgua para a atmosfera ou no balano de radiao solar recebida e refletida (Ferron,

    1999). A extenso do gelo varia sazonalmente (Figura 1.4), atingindo a mxima em setembro

    (18,8 milhes de km2) e a mnima em fevereiro (3,6 milhes de km

    2), o que resulta numa

    variao (15,2 milhes de km2) que supera a prpria rea do continente (14 milhes de km

    2)

    (Ferron, 1999).

    Figura 1. 4. Concentrao mdia do gelo marinho antrtico baseado na climatologia do perodo de 1978-2002, para os meses de (a) fevereiro, perodo de concentrao mnima de gelo e (b) setembro, perodo de mxima concentrao de gelo (Adaptada de National Snow and Ice Data Center NSIDC, 2004). 1.2 Variabilidade climtica na Antrtica

    As variaes de longo prazo ou mudanas no estado mdio da atmosfera, dentro de um

    mesmo intervalo de tempo, so referidas como variabilidade climtica. Estas variaes podem

    ser geradas por processos internos na atmosfera, processos acoplados com outros

    componentes do sistema terrestre (como os oceanos e a criosfera) e por forantes externas

    (como a variabilidade solar, erupes vulcnicas ou mudanas na composio atmosfrica

    induzida pela atividade humana) (Wallace e Hobbs 2006).

    Muitos padres de variabilidade climtica (algumas vezes referidos como modos)

    identificados no HS apresentam sinais robustos no continente Antrtico. A Oscilao

    Antrtica (Antarctic Oscillation - AAO), tambm conhecida como modo anular de altas

    latitudes do Hemisfrio Sul, um dos mais importantes modos de variabilidade nas mdias e

    altas latitudes do HS. A AAO foi originalmente identificada por Walker (1928) como as

    (a) (b)

  • 5

    mudanas de presso observadas num cinturo de presso que atravessa o Chile e Argentina,

    com sinais opostos sobre os mares de Weddell e Bellingshausen. Muitos estudos subseqentes

    determinaram que a AAO uma flutuao zonal de presso e geopotencial entre latitudes

    mdias e altas do HS (Gong e Wang 1999; Thompson e Wallace, 2000; Carvalho et al. 2005).

    A AAO pode ser objetivamente caracterizada atravs da anlise de funes ortogonais

    empricas (Empirical Orthogonal Function EOF) na anomalia da altura geopotencial em

    700hPa. A fase positiva da primeira componente principal (ou ndice da AAO) consiste em

    anomalias negativas na altura geopotencial sobre a Antrtica e prximo aos oceanos austrais

    em altas latitudes e anomalias positivas da altura geopotencial ao norte de 50S. Gong e Wang

    (1999) descobriram que a AAO existe durante todo o ano na troposfera, mas se amplifica com

    a altura em direo estratosfera em certas pocas do ano ou estaes ativas (Thompson e

    Wallace 2000). Estes autores mostram ainda que a estao ativa no HS no final da

    primavera austral e que a AAO parece modular a intensidade da circulao mdia na baixa

    estratosfera, a altura da coluna de oznio e a altura da tropopausa sobre latitudes mdias e

    altas. Alm disso, a tendncia da AAO em dcadas recentes para a fase positiva da oscilao

    (e.g., Thompson et al. 2000) est associada ao aumento dos ventos de oeste em latitudes

    mdias e s condies frias sobre a maior parte da Antrtica, exceto sobre a Pennsula, onde

    torna-se mais quente devido a adveco de ar dos mares a oeste. As razes para estas

    mudanas esto sob discusso, mas j se sabe que o aumento na concentrao dos gases estufa

    e a diminuio do oznio estratosfrico so fatores importantes que afetam a AAO (Turner,

    2004). Esta oscilao tem uma contraparte no Hemisfrio Norte (HN) chamada de Artic

    Oscillation (AO). A variabilidade sazonal dos modos anulares e a conexo troposfera - baixa

    estratosfera tem algumas implicaes. Thompson et al. (2002) mostraram evidncias que

    anomalias de baixas (altas) temperaturas do ar em superfcie durante o inverno e o aumento na

    freqncia de ocorrncia de extremos frios (quentes) sobre algumas regies continentais no

    HN estariam relacionadas ao enfraquecimento (intensificao) do vrtice polar estratosfrico

    durante o inverno no HN. No entanto, ainda no foram investigadas as conseqncias da

    relao entre a AAO e a estratosfera para o clima e tempo de mdias e altas latitudes do HS.

    A variabilidade acoplada mais proeminente envolvendo atmosfera-oceano como

    conhecido como ENOS, o qual se refere ao fenmeno El Nio (indicado por um padro de

    anomalias positivas da temperatura da superfcie do mar no Pacfico equatorial) e a Oscilao

    Sul (indicado por um padro de anomalias da presso ao nvel do mar em Darwin na Austrlia

    e no Taiti). Ambas as sries temporais de El Nio (EN) e Oscilao Sul (OS) (no mostradas)

  • 6

    revelam um forte acoplamento entre a atmosfera e oceano na escala interanual. As fases do

    ENOS tm impactos na circulao global, em particular na posio e intensidade dos jatos

    subtropicais em altos nveis em ambos os hemisfrios (e.g., Karoly 1989; Chen et al. 1996;

    Kiladis e Mo, 1998).

    A relao entre ENOS e Antrtica foi discutida por Turner (2004), ao analisar as

    anomalias de altura geopotencial em 500 hPa durante o inverno do HS. O autor verificou que

    em anos de El Nio (La Nia) anomalias positivas (negativas) de geopotencial so observadas

    no Pacfico Sul, prximo ao continente Antrtico, causando um aumento (diminuio) da

    temperatura mdia da camada sobre esta regio. Chen et al. (1996) mostraram que o jato

    subtropical mais intenso durante eventos quentes do ENOS, com o jato polar mais intenso

    durante eventos frios ou neutros.

    A AAO proporciona uma forma de acoplamento entre o clima antrtico com o clima de

    latitudes mais baixas. Portanto, variaes no ENOS podem tambm afet-la (Carvalho et al.

    2005). A fase negativa (positiva) da AAO durante o vero austral est associada com padres

    de temperatura da superfcie do mar (TSM), conveco e anomalias de circulao que se

    assemelham fase El Nio (La Nia) do ENOS (Carvalho et al. 2005).

    Muitos trabalhos mostram tele-conexes (i.e., correlaes estatisticamente

    significativas entre parmetros meteorolgicos em regies remotas) entre as condies

    atmosfricas no Pacfico tropical e latitudes extratropicais. Hoskins e Karoly (1981), por meio

    de uma investigao terica, mostraram que regies de conveco profunda prxima ao

    equador podem gerar ondas de Rossby, atravs da vorticidade gerada por aquecimento

    diabtico. Estas ondas movem-se em direo aos plos em ambos os hemisfrios, e

    proporcionam uma forma de tele-conexo entre ENOS e o clima de mdias latitudes. Karoly

    (1989) relatou que um trem de ondas observado durante o inverno austral em anos de El

    Nio. Este trem de ondas afeta as condies sinticas sobre a regio sul da Amrica do Sul,

    bem como a Pennsula Antrtica (Harangozo, 2000). Os padres de tele-conexo em

    anomalias mensais da presso ao nvel do mar e altura geopotencial em 500 hPa no HS foram

    investigados por Mo e White (1985). Carvalho et al. (2005), examinaram os padres de tele-

    conexo nas anomalias do vento zonal em 200 hPa (U200) relacionados com as fases opostas

    da AAO. Os autores escolheram U200, pois os jatos de oeste podem atuar como guias de

    ondas de Rossby (Hoskins e Ambrizzi 1993), direcionando a propagao das ondas para

    regies geogrficas preferenciais (Ambrizzi et al. 1995) e, assim, fornecendo uma melhor

    interpretao dos padres de tele-conexo entre trpicos-extratrpicos. De acordo com a

  • 7

    Figura 1.5. obtida em Carvalho et al. (2005), observa-se que o padro de tele-conexo

    simtrico zonalmente nos subtrpicos (altas latitudes), com mximo negativo em aprox. 45S

    (60S), est relacionado ao jato subtropical (polar) no HS. Para as fases negativas da AAO

    (Figura. 1.5, acima), as caractersticas subtropicais esto mais deslocadas para o equador do

    que durante as fases positivas, visto que as caractersticas em altas latitudes esto mais fracas

    (exceto nas regies centradas em 180 e 100W). Outra notvel diferena observada prxima

    costa sudeste da Amrica do Sul (Fig. 1.5, abaixo), que juntamente com estas duas regies

    de mxima mencionadas anteriormente, sugerem a trajetria preferencial de propagao dos

    trens de onda em latitudes mdias observados no vero austral (Carvalho et al. 2004). As

    fases positivas da AAO (Fig. 1.5, centro) esto associadas com um deslocamento para o plo

    das caractersticas subtropicais e uma intensificao das caractersticas em altas latitudes. Em

    suma, o padro de tele-conexo observado na Fig. 1.5 sugere modificaes na posio e

    intensidade do jato subtropical e assim as ondas de Rossby podem propagar para o plo

    seguindo os guias de onda e tomando trajetos descritos em Hoskins e Ambrizzi (1993).

    Mo e Ghil (1987), investigando a circulao de inverno no HS, detectaram atravs da

    terceira EOF das anomalias da altura geopotencial em 500 hPa, um padro de anomalias anti-

    ciclnicas sobre o Pacfico Central associado a anomalias ciclnicas no Pacfico Sul e

    anomalias anti-ciclnicas centradas na Pennsula Antrtica. Este padro foi denominado

    Pacfico/Sul Americano (PSA) por ser anlogo aos trs centros do padro de tele-conexo

    Pacfico/Norte Americano observado na Amrica do Norte por Wallace e Gutzler (1981).

    Posteriormente, Ghil e Mo (1991b), Mo e Higgins (1998) entre outros, encontraram dois

    modos de baixa freqncia, no qual so conhecidos como os modos do padro do PSA (PSA1

    e PSA2) e so caracterizados por dois padres de nmeros de onda trs em quadratura entre si

    (i.e., defasados 90 graus entre si) e por trens de ondas bem definidos estendendo do Pacfico

    central ao continente sul Americano. Os modos foram obtidos por EOFs das anomalias de

    altura geopotencial em 500 hPa ou funo corrente em 200 hPa e so observados nas bandas

    interanual (Kidson 1988; Mo e Paegle 2001) e intra-sazonal (Kidson 1991; Ghil e Mo 1991;

    Mo e Higgins 1998; Mo e Paegle 2001). Ambos os modos do PSA so padres de tele-

    conexo no HS (Mo e White 1985). Alm disso, Grimm e Silva-Dias (1995) encontraram que

    a reposta das ondas de Rossby fontes de onda no Pacfico exibe padres horizontais

    similares aos modos do PSA.

  • 8

    Figura 1. 5. Padres de tele-conexo obtidos pelas anomalias do vento zonal em 200 hPa (U200) durante os eventos negativos (acima), positivos (centro) da AAO e a diferena entre os dois campos (abaixo). Figura extrada de Carvalho et al. 2005.

    Na escala interanual, o PSA1 aparece como resposta ao ENSO no HS (Karoly 1989;

    Mo e Paegle 2001) e o PSA2 associado com a componente quase-bienal do ENOS, com um

    perodo de 22-28 meses (Mo e Paegle 2001). Na banda intra-sazonal, os modos do PSA so

    modulados pela conveco tropical no vero e inverno (Mo e Paegle 2001). Durante a fase

    positiva do PSA1, observa-se um aumento da conveco no Pacfico central e supresso da

    conveco no Pacfico oeste, o qual a assinatura da Oscilao intra-sazonal (OI) tropical

    (Mo e Higgins 1998, Mo e Paegle 2001). O padro de conveco associado ao PSA2 o

    oposto ao observado no PSA1.

    No Hemisfrio Norte (HN), Higgins e Mo (1997) demonstraram que o

    desenvolvimento de anomalias persistentes no Pacfico Norte est freqentemente relacionado

  • 9

    com a oscilao intra-sazonal (OI) tropical. Segundo Mo e Higgins (1998), a relao entre a

    OI tropical e os modos do PSA so muito similares s anomalias persistentes no Pacfico

    Norte. A forante tropical cria uma situao favorvel para o desenvolvimento de um dos

    modos do PSA (Mo e Higgins, 1998).

    1.2.1 Oscilao intra-sazonal tropical: Oscilao Madden-Julian (OMJ)

    Assim como o fenmeno ENOS, a Oscilao Madden-Julian (OMJ) um dos principais

    modos de variabilidade de baixa freqncia na atmosfera tropical, no qual a componente

    dominante da variabilidade intra-sazonal (aprox. 10-90 dias) (Madden e Julian 1994). A OMJ

    consiste de padres acoplados entre a circulao atmosfrica de grande-escala e a conveco,

    manifestando-se com uma lenta propagao para leste (velocidade de fase na ordem de 5-10

    m/s) dos distrbios atmosfricos sobre os oceanos ndico equatorial e Pacfico oeste/central

    (onde a instabilidade convectiva pode ser sustentada pela superfcie do mar quente, conhecida

    como a piscina quente). Sua estrutura horizontal dominada por nmero de onda um e dois

    na direo zonal, e sua estrutura vertical baroclnica. As estruturas das ondas de Kelvin e

    Rossby foram consideradas dinamicamente essenciais para a OMJ (e.g., Madden, 1986).

    Uma importante caracterstica da OMJ o alto grau de variabilidade caso a caso bem

    como sua variao sazonal a interanual (e.g., Madden e Julian 1994; Jones et al. 2004b). A

    existncia da variabilidade sazonal das anomalias intra-sazonais nos trpicos est bem

    documentada. Um exemplo o aumento na freqncia e intensidade das anomalias intra-

    sazonais tropicais durante o vero austral (e.g., Jones et al. 2004b). Em latitudes mdias, a

    mxima atividade intra-sazonal observada durante o perodo de inverno em ambos os

    hemisfrios (Ghil e Mo 1991). A variabilidade sazonal da OMJ influencia o clima em diversas

    regies do globo, como as mones na Austrlia (Hendon e Liebmann, 1990), sia (Lau e

    Chan, 1986), e nas Amricas (Mo e Higgins 1998; Jones 2000; Jones e Carvalho 2002;

    Liebmann et al. 2004). Esta oscilao afeta a precipitao e eventos extremos em diversas

    localidades ao redor do mundo (Jones 2000; Jones et al. 2004c; Carvalho et al. 2004).

    Desde sua descoberta por Madden e Julian (1971), a OMJ tem sido um tpico de grande

    interesse devido diversidade de fenmenos que interagem com esta oscilao. A OMJ no

    Pacfico parece ser robusta antes de um evento quente do ENOS e fraca depois e durante um

    evento frio (Zhang e Gottschalck, 2002). Jones et al. (2004) verificaram que, para o perodo

    de 1979-2002, mais eventos OMJ ocorreram durante eventos El Nio e neutros do que

    durante La Nia no vero austral; entretanto, estas diferenas no so estatisticamente

  • 10

    significativas. A relao entre a OMJ e AAO foi investigada por Carvalho et al. (2005)

    durante o vero austral (DJF). Os autores detectaram um aumento (diminuio) da atividade

    intra-sazonal dos trpicos para os extratrpicos do HS associado com as fases negativas

    (positivas) da AAO. Alm disso, encontraram indicaes que o incio da fase negativa da AAO

    esteja relacionado com a propagao da OMJ. Na fase positiva da AAO foi observada

    supresso da atividade convectiva intra-sazonal sobre a Indonsia.

    Estes resultados sugerem que a conveco profunda no Pacfico central tropical, o qual

    est relacionada com o El Nio e (ou) com a propagao para leste da MJO, modula a

    circulao no HS e favorece a fase negativa da AAO durante o vero austral (Carvalho et al.

    2005). Alm disso, a OMJ parece estar relacionada com o trem de onda que se estende sobre o

    Pacfico Sul a Amrica do Sul (Mo e Higgins 1998), que consequentemente pode afetar as

    condies de tempo e clima na Pennsula Antrtica.

    1.3. Mudanas climticas e a Antrtica

    As mudanas climticas observadas no ltimo sculo so caracterizadas

    principalmente por mudanas na temperatura mdia global, especialmente desde a metade da

    dcada de 1970, assim como mudanas na circulao atmosfrica. No Hemisfrio Sul (HS), as

    maiores tendncias significativas na temperatura foram observadas sobre a Antrtica, com

    destaque no aquecimento registrado na regio da Pennsula Antrtica (IPCC 2001; King 1994;

    Vaughan et al. 2001; Marshall et al. 2002; Turner et al. 2005; Trenberth et al. 2007). De

    acordo com Turner et al. (2002; 2005; 2007), altas tendncias anuais de aquecimento foram

    encontradas nesta regio, as quais atingiram valores de at +0,56 C por dcada no setor oeste

    da Pennsula, na estao Faraday/Vernadsky. O maior aquecimento observado ocorreu no

    inverno para a maioria das estaes da Pennsula Antrtica, chegando a +1,09 C por dcada

    na estao Faraday/Vernadsky. Concomitantemente, foi observado um resfriamento no

    continente Antrtico de aprox. -0,2 C por dcada no Plo Sul (Thompson e Solomon 2002;

    Turner et al. 2005; Turner et al. 2007; Chapman e Walsh 2007).

    Turner et al. (2006) relataram um aquecimento significativo na mdia troposfera em

    dcadas recentes utilizando observaes de radiossondagem na Pennsula e continente

    Antrtico, mas os resultados em superfcie no foram to evidentes. No entanto, ao longo da

    Pennsula Antrtica, o progressivo derretimento (colapso) de plataformas de gelo tem

    ocorrido desde o final da dcada de 1980 (Vaughan 1993), culminando com o colapso da

    plataforma Larsen-B (no leste da Pennsula Antrtica) em 2002 (Trenberth et al. 2007).

  • 11

    O impacto que essas mudanas podem trazer para o clima global e a razo para o

    aquecimento observado sobre a Pennsula Antrtica no so bem compreendidos. Por essa

    razo, crucial que se entenda em profundidade os principais mecanismos que influenciam o

    clima da Antrtica, os quais ocorrem em diversas escalas espaciais e temporais. Estes, por sua

    vez, esto associados com variaes na circulao atmosfrica e as mudanas nas

    concentraes de oznio estratosfrico, que podem produzir flutuaes de baixa freqncia na

    temperatura do ar na Pennsula Antrtica (Thompson e Solomon 2002; Turner et al. 2007;

    Trenberth et al. 2007).

    1.4. Objetivo do trabalho

    Este trabalho tem como objetivo avaliar a natureza e as causas da variabilidade intra-

    sazonal da temperatura do ar, utilizando dados medidos em estaes de pesquisas situadas na

    regio da Pennsula Antrtica. A variabilidade da temperatura ser investigada para cada

    estao do ano separadamente: inverno (maio-setembro), primavera (agosto-dezembro), vero

    (novembro-maro) e outono (fevereiro-junho). Confirmada a existncia da variabilidade intra-

    sazonal na temperatura, sero investigadas a ocorrncia de eventos extremos intra-sazonais de

    temperatura (EIT) e suas propriedades estatsticas (freqncia, persistncia e intensidade),

    com o objetivo de responder as seguintes questes:

    1) Existe uma dependncia sazonal das propriedades (freqncia, persistncia e

    intensidade) dos EIT?

    2) Quanto variabilidade interanual, h alguma relao com as fases do ENOS?

    3) Qual a caracterstica da circulao atmosfrica relacionada com a ocorrncia de

    EIT na Pennsula Antrtica?

    4) H alguma relao dos EIT com as fases do modo anular do HS (AAO)?

    5) Pode a interao troposfera-estratosfera desempenhar um papel na modulao dos

    EIT?

    O trabalho foi desenvolvido em quatro etapas principais. No Captulo 2,

    caracterizados o clima da regio da Pennsula Antrtica, a seleo das estaes de pesquisa

    utilizadas neste estudo e uma discusso sobre a variabilidade da temperatura do ar na regio.

    No Captulo 3, so apresentados os resultados da variabilidade extrema intra-sazonal da

    temperatura na Pennsula Antrtica, discutindo a variabilidade sazonal e interanual dos

  • 12

    eventos intra-sazonais quentes (EIQ) e frios (EIF), juntamente com a circulao atmosfrica

    observada durante a ocorrncia desses eventos. O papel da interao troposfera-estratosfera na

    modulao de EIT apresentado no Captulo 4. Por fim, as concluses do trabalho so

    apresentadas no Captulo 5.

  • 13

    Captulo 2: Variabilidade da temperatura do ar na Pennsula Antrtica

    2.1. Caracterizao do clima na Pennsula Antrtica

    A pennsula Antrtica, posicionada quase-longitudinalmente entre as latitudes 63 e

    75S (aproximadamente), uma faixa de terra montanhosa com largura mdia de 70 km,

    composta por um plat interno com elevao mdia de 1500 m (Ferron, 1999) e representa

    cerca de 3,7 % da rea do continente antrtico (Figura 2.1). Funciona como uma barreira

    circulao atmosfrica regional, provocando marcada distino climtica de um lado e de

    outro.

    No lado leste est o mar de Weddell, regio climaticamente mais fria devido

    drenagem constante do ar frio do interior continental antrtico. O ar nos primeiros 500-1000

    m bastante estvel em funo do resfriamento provocado pela superfcie da cobertura de

    gelo. Acima dele encontra-se uma camada de ar relativamente mais quente (cerca de 5-10 C

    a mais no vero; 10-20 C a mais no inverno). Os ventos persistentes de leste na regio

    costeira empurram este ar frio contra a barreira montanhosa da pennsula, que fica ali

    comprimido devido forte inverso trmica (Schwerdtfeger 1975, 1984; Schwerdtfeger e

    Amaturo, 1979). A massa de ar frio no consegue ascender e, portanto deflete para

    norte/nordeste, paralelo cordilheira, acompanhando o gradiente de presso. Estes ventos,

    chamados ventos de barreira, promovem o transporte de grandes pores da banquisa para

    nordeste, abrindo canais que logo congelaro novamente (da a grande produo de gelo

    marinho no mar de Weddell, um dos nicos setores da Antrtica a preservar gelo plurianual).

    Mais ao norte, prximo latitude 64 S, a deriva do gelo sofre desvio para leste, pois no h

    mais a proteo das montanhas ante os ventos de oeste (Schwerdtfeger, 1975).

  • 14

    Figura 2. 1. Mapa da Pennsula Antrtica localizando as estaes de pesquisas utilizadas neste estudo (pontos em laranja). Imagem obtida pelo google earth.

    O constante aporte de ar frio do continente e a conseqente cobertura de gelo no mar

    de Weddell fazem com que a costa leste da Pennsula Antrtica apresente um clima pseudo-

    continental (Aquino, 1999). O ar frio acumulado contra a montanha fora a ascenso do ar

    mais aquecido que est sobre ele, at que este ultrapasse a altura da barreira montanhosa. A

    alta presso que ali se forma faz com que o ar aquecido flua para alm da crista e desa a

    vertente oeste, originando ventos catabticos do tipo fhn (Figura 2.2) (King e Turner, 1997).

    Nestas condies, as temperaturas na face leste podem ser at 10C inferiores e a presso

    atmosfrica 5 mb superiores em relao face oeste na mesma latitude (Schwerdtfeger,

    1984).

    Fluxos inerciais de ar frio so comuns no estreito de Bransfield. No extremo norte da

    Pennsula Antrtica, quando termina a barreira montanhosa, o ar transportado nos ventos de

    barreira depara-se com um novo ambiente onde o gradiente de presso horizontal no lhe

    exerce nenhuma oposio, sendo muitas vezes inexistente. A parcela de ar pode ento manter

    a sua identidade por mais algum tempo, sofrendo apenas um ajuste inercial do efeito Coriolis,

    que fora a sua deflexo no sentido anti-horrio (Figura 2.3) (Schwerdtfeger, 1984).

  • 15

    .

    Figura 2. 2. Desenvolvimento dos ventos de barreira (adaptado de King e Turner, 1997, p.282).

    Na costa oeste os ventos so predominantemente de norte e nordeste, sendo a regio

    mais temperada e mida de toda a Antrtica (Ferron et al., 2004), pois tais ventos trazem o ar

    relativamente quente e mido do oceano Pacfico para o mar de Bellingshausen.

    Figura 2. 3. Trajetrias dos fluxos inerciais originrios dos ventos de barreira, ao ultrapassar o extremo norte da Pennsula Antrtica. Velocidade inicial estimada em 20 m s

    -1. A trajetria a representa o fluxo de ar sem atrito; b

    e c representam trajetrias com atrito fraco e forte, respectivamente (adaptado de Schwerdtfeger, 1984, p.108).

    O estudo de Carrasco et al. (1997) avaliou a atividade de vrtices ciclnicos de meso-

    escala no entorno da Pennsula Antrtica, no ano de 1991. Eles se formam e se desenvolvem

    sobre o setor sul do mar de Bellingshausen prximos rea costeira ou no limite da extenso

    do gelo marinho (King e Turner 1997), devido a insurgncias de ar frio associadas a ciclones

    de escala sintica. Este ar frio migra do interior do continente antrtico em direo ao

    equador, cruzando sobre um ambiente mais quente e mido que o setor sudeste do oceano

    Pacfico. Fluxos de calor sensvel e latente do oceano para a camada inferior da atmosfera

    podem induzir conveco na massa de ar frio, desenvolvendo ou fortalecendo perturbaes

  • 16

    ciclnicas. Acompanhando as correntes ocenicas, estes sistemas avanam para nordeste em

    direo passagem de Drake, levando condies de tempo severas ao extremo norte da

    Pennsula Antrtica.

    O clima da Pennsula Antrtica influenciado pela variao nas extenses mdias de

    gelo marinho nos mares de Weddell e Bellingshausen (Figura 1.4). O gelo, por sua vez, tem

    sua formao influenciada diretamente pela ao dos ventos dominantes na regio, ventos

    estes que tm padres de circulao impostos pela presena da Pennsula (Setzer e Hungria,

    1994). Se no lado leste a adveco de sul/sudoeste (ventos de barreira ar frio) contribui para

    a contnua formao de gelo marinho, no lado oeste vem ocorrendo justamente o contrrio.

    Um incremento na adveco de norte/noroeste, trazendo ar mais aquecido durante o inverno,

    est sendo interpretado como um dos possveis agentes responsveis pela retrao do gelo

    marinho no leste do mar de Bellingshausen (Schwerdtfeger, 1976; Jacobs e Comiso, 1993,

    1997; King e Harangozo, 1998; Smith e Stammerjohn, 2001). Todos estes trabalhos afirmam

    que a extenso do gelo marinho a oeste da pennsula Antrtica possui forte correlao

    negativa com a temperatura do ar (i.e., extenso do gelo marinho aumenta enquanto a

    temperatura do ar diminui, e vice-versa), todavia os processos estariam acoplados e no se

    sabe qual agente seja indutor do outro. King (1994) atribui maior variabilidade interanual e

    tendncia de aumento na temperatura mdia do ar para os meses de inverno, o que implica

    numa diminuio da amplitude trmica anual. Seu estudo reporta tambm uma tendncia de

    retardo das anomalias de gelo marinho com relao a anomalias de temperatura do ar, o que

    sugere uma dependncia da primeira varivel com relao a segunda e no o contrrio. Smith

    e Stammerjohn (2001) atestam que o gradiente norte-sul ao longo da Pennsula, tanto do gelo

    marinho quanto da temperatura, resultado de um balano entre influncias climticas

    martimas (norte) e continentais (sul). Uma maior variabilidade nos meses de inverno seria

    conseqncia disto, pois ela atribuda alta variabilidade interanual da cobertura de gelo

    marinho e o correspondente aumento na influncia continental quando esta cobertura existe.

    Quando ela no existe (i.e., no vero), predomina a influncia martima e, portanto a

    variabilidade da temperatura menor.

    2.2. Descrio dos dados e das estaes meteorolgicas utilizadas

    Os dados de temperatura do ar da pennsula Antrtica foram obtidos no Centro

    Nacional de Dados de Neve e Gelo (National Snow and Ice Data Center NSIDC) da

  • 17

    Universidade do Colorado. As estaes de pesquisa foram selecionadas em funo da melhor

    cobertura temporal de dados, totalizando oito estaes de pesquisa situadas na pennsula

    Antrtica (Figura 2.1; Tabela 2.1). Os dados esto disponibilizados na escala horria, em

    geral, a cada 3 horas. Posteriormente, estes dados foram analisados, excluindo valores

    esprios, e convertidos em mdias dirias de temperatura do ar para cada estao. O perodo

    de dados heterogneo entre as estaes; no entanto, foi escolhido o perodo entre 1986-

    2002, que compreende o perodo em comum entre as estaes da pennsula Antrtica (Tabela

    2.1). Das oito estaes selecionadas, seis esto localizadas no arquiplago das Shetland do

    Sul: a estao chilena Arturo Prat, localizada na Ilha Greenwich (Figura 2.1); e cinco estaes

    localizadas na Ilha Rei George (Bellingshausen, Jubany, Dinamet, Presidente Frei e Great

    Wall) (Figura 2.4). A estao uruguaia Dinamet fica nas proximidades da estao Artigas

    (Figura 2.4). A estao chilena Bernardo OHiggins est localizada na pennsula Trinity, costa

    oeste do extremo norte da pennsula Antrtica. Tambm na pennsula Trinity, mas no setor

    leste da pennsula Antrtica, localiza-se na Ilha Seymour a estao argentina Marambio

    (Figura 2.1).

    Tabela 2. 1. Estaes utilizadas neste estudo com suas respectivas elevaes, latitude, longitude, perodo de dados disponveis e porcentagem de dados faltantes no perodo 1986-2002.

    N da estao (O.M.M)

    Nome da estao

    Pas responsvel

    Altitude (m) Latitude Longitude

    Perodo de dados (anos)

    Dados Faltantes (%) entre 1986-

    2002 89050 Bellingshausen Rssia 16 6212S 5856W 1973-2002 5,3 89053 Jubany Argentina 11 6214S 5838W 1985-2002 3,0 89054 Dinamet Uruguai 10 6210S 5850W 1986-2002 3,4 89055 Marambio Argentina 198 6414S 5643W 1973-2002 2,8 89056 Pres. Frei Chile 10 6225S 5853W 1985-2002 2,0 89057 Arturo Prat Chile 5 6230S 5941W 1986-2002 1,9 89058 Great Wall China 10 6213S 5858W 1986-2002 3,7 89059 OHiggins Chile 10 6319S 5754W 1985-2002 2,0

  • 18

    Figura 2. 4. Mapa da Ilha Rei George, localizando algumas estaes utilizadas neste estudo (adaptada de Turner

    e Pendlebury 2004).

    Atravs da anlise de agrupamentos (cluster analysis), possvel obter informaes de

    quais estaes possuem comportamentos semelhantes, visto que algumas esto localizadas em

    regies climticas diferentes (como descrito anteriormente). A anlise de agrupamentos

    baseia-se nas distncias euclidianas (DE), calculadas a cada par de conjuntos de dados (x,y),

    verificando o nvel de similaridade entre eles (equao 2.1). Portanto, quanto menor o valor

    de DE, maior a semelhana entre dois conjuntos de dados.

    ( )2/1

    1

    2),(

    =

    =

    n

    iyixiyxDE (2.1)

    Uma representao grfica da anlise de agrupamento dada pelo dendrograma

    (grfico em forma de rvore). Na escala vertical est indicado o nvel de similaridade entre as

    temperaturas dirias das estaes da pennsula Antrtica (Figura 2.5), obtido pelo clculo de

    DE. No eixo horizontal esto marcadas as estaes, onde as linhas verticais partindo das

    estaes tm altura correspondente ao nvel em que as estaes so consideradas semelhantes.

    importante ressaltar que no h um critrio comparativo para afirmar se a semelhana

  • 19

    muita ou pouca. O conhecimento do processo e a familiaridade com as grandezas envolvidas

    que iro contribuir para uma boa anlise (Bassab et al. 1990). Observando a Figura 2.5, nota-

    se que a srie temporal de Marambio tem um comportamento diferenciado em relao s

    sries das demais estaes. As estaes mais similares em termos de temperatura so as

    localizadas no arquiplago das Shetland Sul. Em ordem decrescente de semelhanas: 1) Great

    Wall e Bellingshausen; 2) Pres. Frei e Jubany; 3) Dinamet, Pres. Frei e Jubany; 4) Dinamet,

    Pres. Frei, Jubany, Great Wall e Bellingshausen; 5) Arturo, Dinamet, Pres. Frei, Jubany, Great

    Wall e Bellingshausen. A estao Bernardo OHiggins apresenta o comportamento da

    temperatura um pouco diferenciado em relao s temperaturas das estaes localizadas nas

    Ilhas Shetland Sul; porm, no tanto quanto o comportamento da estao Marambio. Em

    suma, a anlise de cluster identificou duas principais regies homogneas em funo da

    temperatura do ar: uma contendo as estaes localizadas no setor oeste da pennsula

    Antrtica, representada pelas estaes das Ilhas Shetland Sul; e a outra localizada no leste da

    pennsula Antrtica, representada pela estao Marambio.

    Figura 2. 5. Dendrograma gerado a partir das distncias euclidianas (DE) das sries dirias da temperatura do ar entre as estaes da Pennsula Antrtica.

    Para selecionar a estao representativa do setor oeste da pennsula, foi calculado o

    coeficiente linear de correlao de Pearson entre as sries temporais das estaes (equao

    2.2).

  • 20

    = =

    =

    =

    n

    i

    n

    iii

    n

    iii

    r

    yyxx

    yyxx

    1 1

    22

    1

    )()(

    ))(( (2.2)

    onde xi, yi representam dois conjuntos de dados e x , y as mdias de cada conjunto de dados, respectivamente.

    O comportamento diferenciado da srie temporal de Marambio apresentado pela

    anlise de agrupamentos, confirmado pelos valores mais baixos do coeficiente de correlao

    desta estao com as demais (Tabela 2.2). A estao de Bellingshausen mostrou maior

    correlao entre as estaes da pennsula oeste (Tabela 2.2); entretanto ela apresentou maior

    quantidade de dados faltantes, cerca de 5% (Tabela 2.1). Por isso, alternativamente, optou-se

    pela estao Arturo Prat como representativa da pennsula oeste, por ter menor quantidade de

    dados faltantes (1,9% , Tabela 2.1) e boa correlao (acima de 0,9) com as estaes

    localizadas na Ilha Rei George (Tabela 2.2).

    Tabela 2. 2. Anlise do coeficiente linear de correlao de Pearson entre as sries temporais das estaes da Pennsula Antrtica.

    Belling Jubany Dinamet Marambio Frei Arturo Great OHiggins

    Belling 0,93 0,92 0,78 0,95 0,90 0,99 0,93

    Jubany 0,96 0,81 0,98 0,92 0,94 0,89

    Dinamet 0,77 0,96 0,92 0,92 0,87

    Marambio 0,79 0,78 0,80 0,86

    Frei 0,92 0,95 0,90

    Arturo 0,90 0,86

    Great 0,93

    OHiggins

    Estas anlises tambm serviram para o preenchimento de falhas nos dados, utilizando

    os dados das estaes que apresentaram melhor similaridade e alta correlao com a estao

    Arturo. Os procedimentos para preencher as falhas nos dados foram: (i) interpolao linear:

    na ausncia de apenas um dado (um dia), foi realizada a interpolao do valor correspondente

    ao dia anterior e posterior; (ii) regresso linear: na ausncia de dados por dois ou mais dias,

    utilizou-se a equao da reta de regresso entre duas estaes para o preenchimento, sendo

    estas bem correlacionadas; (iii) climatologia: utilizou-se o ciclo anual quando nenhum dos

  • 21

    mtodos anteriores foi satisfeito. Na estao Marambio, somente as condies (i) e (iii) foram

    utilizadas no preenchimento de falhas, devido a pouca similaridade e baixa correlao com as

    demais estaes (Figura 2.4 e Tabela 2.2). importante ressaltar ainda, que ao utilizar a

    climatologia no preenchimento de falhas, qualquer sinal de alta ou baixa freqncia perde a

    continuidade.

    2.3. Variaes da temperatura do ar na Pennsula Antrtica

    A estao Marambio destaca-se pela menor temperatura mdia anual (-8,2 C) e maior

    desvio padro interanual (8,2 C), enquanto que Arturo apresenta -1,7 C de mdia anual e

    menor variabilidade, com desvio padro de 3,6 C (Tabela 2.3). Tabela 2. 3. Mdia, desvio padro e tendncia da temperatura mdia anual nas estaes Arturo e Marambio. Valor em negrito: significativo ao nvel de 95%.

    Mdia (C) Desvio padro (C) Tendncia (C/ano)

    Marambio -8,2 8,2 +0,12 Arturo Prat -1,7 3,6 +0,04

    A Figura 2.6 mostra a variabilidade sazonal da temperatura mdia diria nas duas

    estaes selecionadas. Ambas exibem valores mnimos em junho-julho e mximos entre

    dezembro-janeiro, mas a estao Marambio apresenta um ciclo mais pronunciado na curva de

    medianas do que a estao Arturo, sendo as amplitudes anuais de aprox. 15 C e 3,5 C,

    respectivamente. Observa-se que as distribuies de freqncia de temperatura em Arturo so

    assimtricas, com um pronunciado alongamento para as temperaturas frias principalmente nos

    meses de outono at a primavera (Fig. 2.6a). Por outro lado, Marambio apresenta uma maior

    simetria mesmo durante o inverno (Figura 2.6b). Uma discusso mais detalhada sobre a

    variabilidade dos quartis de temperatura nas estaes Arturo e Marambio ser abordada no

    item 2.4.

  • 22

    (a) Arturo (b) Marambio

    JAN

    FEV

    MA

    R

    AB

    R

    MA

    I

    JUN

    JUL

    AG

    O

    SET

    OU

    T

    NO

    V

    DEZ

    meses

    -35

    -30

    -25-20

    -15

    -10

    -50

    5

    10

    tem

    pera

    tura

    do

    ar (

    C)

    Mediana 25%-75% Min-Max

    JAN

    FEV

    MA

    R

    AB

    R

    MA

    I

    JUN

    JUL

    AG

    O

    SET

    OU

    T

    NO

    V

    DEZ

    meses

    -35

    -30

    -25-20

    -15

    -10

    -50

    5

    10

    tem

    pera

    tura

    do

    ar (

    C)

    Mediana 25%-75% Min-Max

    Figura 2. 6. Distribuio de freqncia da temperatura mdia diria em cada ms para: (a) Arturo e (b) Marambio. A caixa (box) em verde representa o intervalo inter-quartlico (25%-75%) e os pontos conectados dentro do box, a mediana. A barra em azul representa os valores mnimos e mximos.

    O vento predominante na estao Marambio de sudoeste (Figura 2.7b), devido ao ar

    frio que escoa do interior do continente antrtico seguindo a configurao topogrfica da

    Pennsula Antrtica. Adicionalmente, a cobertura de gelo predomina na maior parte do ano

    (Figura 1.4) sobre o mar de Weddell, caracterizando um clima pseudo-continental nesta

    regio (Aquino, 1999). Na costa oeste, onde se localiza a estao Arturo os ventos so

    predominantemente de leste e sudoeste (Figura 2.7a). Esta regio influenciada, alm dos

    ventos catabticos (Figura 1.2b), pela passagem freqente de sistemas ciclnicos que tem

    origem na poro sul do mar de Bellingshausen e que acompanham as correntes ocenicas

    avanando para nordeste, advectando ar relativamente quente e mido do Oceano Pacfico.

    Estas caractersticas de cada estao explicam as diferenas entre as magnitudes das

    temperaturas mdias (Tabela 2.3). Adicionalmente, a estao Arturo 193 metros mais baixa

    que a estao Marambio (Tabela 2.1) e a presena de gelo marinho dura no mximo dois

    meses (Smith et al. 1996), predominando a influncia martima, o que explica a menor

    amplitude anual da temperatura (Figura 2.6a).

  • 23

    (a) Arturo (b) Marambio

    Figura 2. 7. Anemograma climatolgico para as estaes (a) Arturo e (b) Marambio. Os dados de vento foram obtidos no NSIDC.

    Com respeito s tendncias (Figura 2.8 e Tabela 2.3), as estaes mostraram um

    aumento na temperatura ao longo dos anos, assim como observado em estudos prvios para

    algumas estaes da Pennsula Antrtica (p.ex. Turner et al. 2005; 2007). A estao Arturo

    apresentou menor tendncia na temperatura (+0,68 C em 17 anos), enquanto Marambio

    apresentou maior aquecimento ao longo dos anos (aproximadamente +2 C em 17 anos, com

    significncia estatstica de 95%). Isto tambm pode ser observado na anlise sazonal das

    tendncias na temperatura mdia anual para as estaes Arturo e Marambio (Tabela 2.4.).

    Nesta anlise possvel verificar que as estaes apresentaram aquecimento durante todas as

    estaes do ano, sendo que as maiores tendncias na temperatura so observadas no vero

    (dezembro-fevereiro) e outono (maro-maio) em ambas as estaes. Neste perodo, as

    tendncias de + 0,024 no vero e + 0,118 C ano-1 no outono foram observadas em Arturo,

    enquanto que as tendncias na temperatura em Marambio foram de + 0,09 e + 0,3 C ano-1,

    respectivamente. Estes valores so estatisticamente significativos ao nvel de 90 %, baseados

    no teste-t. Valores de + 0,068 e + 0,038 C ano-1 so observados em Marambio no inverno e

    na primavera, respectivamente. Em Arturo, valores ainda menores so observados nesta

    poca: + 0,005 C ano-1 no inverno e + 0,006 C ano-1 na primavera. Porm, essas tendncias

    no so significativas. Estes resultados divergem de alguns estudos prvios que observaram

    um maior aquecimento durante o inverno em algumas estaes da Pennsula Antrtica (p.ex.

    Turner et al. 2005; 2007). No entanto, estes trabalhos avaliaram tendncias em sries mais

  • 24

    longas de temperatura (nos ltimos 50 anos), o que pode explicar as tendncias diferentes,

    dependendo do perodo de dados que est sendo computada a regresso linear.

    A variao dos valores mdios anuais de temperatura para Marambio e da extenso de

    gelo marinho para o Mar de Weddell mostrou que nos ltimos 10 anos (Figura 2.9), h uma

    tendncia de aumento da temperatura (+1,9 C por dcada) e concorrente tendncia de

    reduo na extenso de gelo marinho (-3,5 x 105 Km2 por dcada), ambas significativas ao

    nvel de 99% (baseadas no teste-t). As duas variveis mostraram uma alta correlao negativa

    (r =-0,86), indicando a presena de um forte mecanismo de feedback entre a temperatura do ar

    e o gelo marinho no lado leste da Pennsula Antrtica. Para o setor oeste da Pennsula

    Antrtica (no mostrado), no foi encontrada significncia estatstica entre as tendncias da

    temperatura do ar em Arturo e a extenso do gelo marinho na regio do mar de

    Bellingshausen.

    1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002

    a nos

    -12

    -10

    -8

    -6

    -4

    -2

    0

    tem

    pera

    tura

    do

    ar (

    C)

    Arturo (+0,04C/ano) Marambio (+0,12C/ano)

    Figura 2. 8. Temperaturas mdias anuais para Arturo (linha slida) e Marambio (linha tracejada) e suas respectivas tendncias em C/ano, obtidas por regresso linear das sries de dados. Tabela 2. 4. Anlise sazonal da tendncia na temperatura mdia anual nas estaes Arturo e Marambio. Valores em negrito: significativos ao nvel de 90%.

    Tendncia (C/ano) Inverno (JJA) Primavera (SON) Vero (DJF) Outono (MAM)

    Arturo +0,005 +0,006 +0,024 +0,118

    Marambio +0,068 +0,038 +0,090 +0,300

  • 25

    1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002

    -10

    -8

    -6

    Tem

    pera

    tura

    (C

    )

    3.2x106

    3.6x106

    4.0x106Extenso de G

    elo marinho (K

    m2)

    + 0,19C ano-1

    - 3,5 x 104 Km2 ano-1

    Figura 2. 9. Variao da temperatura mdia anual em C da estao Marambio (linha preta) e da extenso mdia anual do gelo marinho em Km2 na regio do mar de Weddell (linha azul), no perodo de 1991 a 2002. Tambm so mostrados os valores das tendncias de cada varivel, que em ambos os casos foram significativos ao nvel de 99%. Os dados de gelo marinho foram obtidos no NSIDC.

    2.4. Extremos de temperatura na Pennsula Antrtica

    Os extremos foram definidos utilizando como critrio o quartil inferior (q25) e

    superior (q75) da distribuio da temperatura do ar para Arturo e Marambio. Abaixo do

    quartil inferior so considerados os extremos frios e acima do quartil superior, os extremos

    quentes. Os limiares q25 e q75 foram obtidos para cada estao do ano separadamente:

    inverno (junho, julho, agosto), primavera (setembro, outubro, novembro), vero (dezembro,

    janeiro, fevereiro) e outono (maro, abril, maio). Na tabela 2.5 so apresentados os valores

    dos limiares para cada estao do ano. Os extremos frios so mais intensos no inverno (abaixo

    de -21,0 C), seguido pelo outono (abaixo de -15,4 C), primavera (abaixo de -11,6 C) e

    vero (abaixo de -2,8 C) na estao Marambio; enquanto que em Arturo os valores mais

    baixos de temperatura so observados no inverno (abaixo de -6,7 C), seguido pela primavera

    (abaixo de -3,1 C), outono (abaixo de -2,3 C) e vero (abaixo de 0,3 C). Esta situao

    observada nos extremos quentes, onde Arturo apresenta valores maiores de temperatura no

    vero (acima de 1,9 C) e outono (acima de 0,9 C), enquanto que Marambio os extremos

    quentes so mais intensos no vero (acima de 0,3 C) e primavera (acima de -2,0 C). Em

    suma, Arturo e Marambio apresentam algumas diferenas na intensidade dos extremos nas

    estaes de transio: Arturo mais frio na primavera do que no outono, enquanto em

    Marambio ocorre o contrrio. Uma explicao para tal acontecimento dada pela influncia

    do gelo marinho nos mares ao redor das estaes Arturo e Marambio. Entre agosto-setembro

  • 26

    (aproximadamente) observa-se a presena do gelo marinho no Mar de Bellingshausen (Smith

    et al. 1996), enquanto que o Mar de Weddell concentra gelo marinho quase todo ano (Figura

    1.4), fazendo com que as temperaturas em Marambio sejam mais baixas e o clima

    caracterizado como pseudocontinental (Aquino 1999). Em Arturo, o regime climtico

    martimo predomina na maior parte do ano, fazendo com que as temperaturas sejam mais

    elevadas, exceto no inverno-primavera onde a presena do gelo marinho na regio, faz com

    que as temperaturas apresentem valores mais baixos e maior variabilidade do que as demais

    estaes do ano (Figura 2.6.).

    Tabela 2. 5. Anlise sazonal dos extremos frios (q25) e quentes (q75) nas estaes Arturo e Marambio.

    Arturo Marambio

    Inverno Primavera Vero Outono Inverno Primavera Vero Outono q25 (C) -6,7 -3,1 0,3 -2,3 -21,0 -11,6 -2,8 -15,4

    q75 (C) -1,1 -0,2 1,9 0,9 -7,9 -2,0 0,3 -3,7

    2.5. Anlise espectral da temperatura na Pennsula Antrtica

    Para detectar a influncia sistemtica de fenmenos atmosfricos em determinadas

    bandas de freqncia nas sries dirias de temperatura foi estimada a densidade espectral

    mdia para cada estao do ano nas estaes Arturo e Marambio. Primeiramente, a tendncia

    linear e o ciclo anual das mdias dirias de temperatura foram removidos, obtendo-se assim

    uma srie de anomalias. A seguir, aplicou-se uma funo taper do tipo split-cosine-bell (w(t),

    eq. 2.3) em uma poro p igual a 10% das extremidades das sries (5% em cada extremidade)

    para evitar descontinuidades no final das mesmas (Bloomfield, 1976). Uma descontinuidade

    na srie poderia acrescentar um co-seno que na realidade no existe.

    ]}/)5,0(cos[1{5,0)(

    1)(]}/)5,0(cos[1{5,0)(

    mtNtwtw

    mttw

    +==

    =

    NtmNmNtm

    mt

    ++

    11

    1 (2.3)

    onde m calculado tal que p=2m/N. Neste caso, p=10%, N=tamanho da srie (92 dias no

    inverno, 91 na primavera, 90 no vero e 92 dias no vero) e, portanto, m~5.

    Uma ilustrao da funo taper aplicada para o perodo de inverno (como exemplo)

    dada na Figura 2.10, onde se observa os pesos tendendo a zero do quinto ao primeiro dia,

  • 27

    assim como nos cinco ltimos dias. A demonstrao da aplicao da funo taper split-

    cosine-bell nas anomalias de temperatura no