extra pauta ed. 61

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Carlos Dorneles e a cobertura da guerra PÁGINAS 14 e 15 Eleições no Sindicato dos Jornalistas PÁGINA 6 Nova diretoria Entrevista EXTRA PAUTA Jornal do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná - Nº 61 - janeiro a abril de 2003 - ISSN 1517-0217 [email protected] http://www.sindijorpr.org.br Jornalismo é cada vez mais perigoso PÁGINA 7 Liberdade de Imprensa Fórum Social Mundial Um laboratório de idéias formidável PÁGINA 16 Jornalistas na luta em defesa do diploma Roberto Rocco Manifestações de profissionais da imprensa e estudantes em favor do diploma foram realizadas em todo o país no dia 7 de abril, Dia do Jornalista. Em Curitiba, cerca de 300 pessoas participaram de um protesto contra a sentença da juíza Carla Rister, que suspendeu a obrigatoriedade de curso superior para o exercício da profissão. Manifestações semelhantes ocorreram em Ponta Grossa, Foz do Iguaçu, Londrina e Maringá. PÁGINAS 8 a 13 e 24 3600137940-DR/PR . Emerson Gonçalves Valdenêr P. de Oliveira

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Janeiro - Abril/2003

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Page 1: Extra Pauta Ed. 61

Carlos Dorneles e a

cobertura da guerra

PÁGINAS 14 e 15

Eleições no Sindicato

dos Jornalistas

PÁGINA 6

Nova diretoria

Entrevista

EXTRA PAUTAJornal do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná - Nº 61 - janeiro a abril de 2003 - ISSN 1517-0217

s i n d i j o r @ s i n d i j o r p r . o r g . b r

h t t p : / / w ww. s i n d i j o r p r . o r g . b r

Jornalismo é

cada vez mais

perigoso

PÁGINA 7

Liberdade de Imprensa

Fórum Social Mundial

Um laboratório

de idéias formidável

PÁGINA 16

Jornalistas naluta em defesa

do diplomaRoberto Rocco

Manifestações de profissionais da imprensa e estudantes em favor do

diploma foram realizadas em todo o país no dia 7 de abril, Dia do

Jornalista. Em Curitiba, cerca de 300 pessoas participaram de um

protesto contra a sentença da juíza Carla Rister, que suspendeu a

obrigatoriedade de curso superior para o exercício da profissão.

Manifestações semelhantes ocorreram em Ponta Grossa, Foz do

Iguaçu, Londrina e Maringá.

PÁGINAS 8 a 13 e 24

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Emerson Gonçalves

Valdenêr P. de Oliveira

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2 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 6 1 - j a n e i r o a a b r i l - 2 0 0 3

editorial

Extra Pauta é órgão de divulgação oficial da gestãoExtra Pauta, do Sindicato dos Jornalistas Profissionais

do Paraná. Endereço: Rua José Loureiro, 211,Curitiba/Paraná. CEP 80010-140. Fone/Fax (041)

224-9296. E-mail: [email protected]

Jornalista ResponsávelMário Messagi Júnior

Reg. prof. 2963/11/101z

expedien-

te

RedaçãoCasemiro Linarth

[email protected] nesta edição

Alexandre Palmar, Silvio Rauth Filho, Tomás Eon Barreiros,Mario Messagi Jr., Luís Henrique Pellanda, Emildo Coutinho

FotografiasRoberto Rocco, Emersom Gonçalves, Júlio Covello, Valdenêr P.

de Oliveira, Luiz Augusto Costa, Aluísio de Paula.IlustraçõesSimon Taylor

Edição GráficaLeandro Taques

Tiragem3.500 exemplares

As matérias deste jornal podem serreproduzidas, desde que citada a fonte. Não são

de responsabilidade deste jornal os artigos deopinião e as opiniões emitidas em entrevistas,por não representarem, necessariamente, a

opinião de sua diretoria.

É hora de participar

AoJornalista Mário Messagi JúniorPresidente do Sindicato dos Jorna-

listas Profissionais do ParanáEm primeiro lugar, desejamos

cumprimentá-lo e à diretoria do nossosindicato pela justíssima luta que em-preendem com o objetivo de reverter adecisão judicial que derrubou a neces-sidade do diploma de graduação para oexercício profissional do jornalismo, eque confundiu a regulamentação da pro-fissão com liberdade de expressão ecriou uma verdadeira excrescência nasociedade brasileira.

Os jornalistas e sua atividade pro-fissional têm sido atacados ultimamen-te de forma solerte, como essa tentati-va de deslustrar a importância do tra-balho exercido por repórteres cientes

de sua missão de informar e sujeitos,inclusive, a perder a vida no cumpri-mento do dever, como foi o caso doassassinato do colega Tim Lopes, noRio de Janeiro.

Até mesmo nas páginas do ExtraPauta nº 60, órgão de divulgação do sin-dicato, pudemos ter um exemplo dissocom a descabida e fantasiosa noçãotransmitida pelo escritor GeorgesBourdoukan, de que a imprensa é ser-vil, ignorante, adesista e preguiçosa, emrelação à questão do Oriente Médio,durante um debate realizado, no anopassado, em Curitiba, oportunidade emque o mesmo chegou a ofender os pro-fissionais de um grande jornalpaulistano. É preciso, contudo, desta-car a boa cobertura que o Extra Pautafez do evento, mostrando não só as

absurdas e delirantes colocações deBourdoukan, mas também a reposiçãoda verdade de que não existe liberdadede imprensa nos países árabes, feitapelo professor de História SérgioFeldman, na mesma ocasião.

Bourdoukan, aliás, tem tido um com-portamento execrável. Seu preconcei-to racial contra os judeus e Israel emnada o faz diferir dos métodos da pro-paganda nazista. Ao invés de defendera paz e a coexistência entre árabes ejudeus — objetivo que todos devemosperseguir — ele procura em seus es-critos seguir à risca os ensinamentosde Goebbels (repetir uma mentira tan-tas vezes quanto possível até que elase torne uma verdade) inventando fal-sidades e embustes acerca do OrienteMédio.

ERRATAA Tribuna do Povo de

Umuarama não está comsalários e 13º atrasados,

conforme informou oExtra Pauta nº 60.

Oano começou mal para osjornalistas. Nos primeirosdias de janeiro, foi publicada

a sentença da juíza Carla Rister, daJustiça Federal de São Paulo, acaban-do com a obrigatoriedade do diplomapara o exercício do jornalismo. Umapéssima notícia para quem se preo-cupa com a qualidade da informaçãoe com a ética. Uma boa notícia parapicaretas e “aventureiros”.

A reação da Federação Nacionaldos Jornalistas (FENAJ) e dos sindi-catos não poderia ser diferente. Ime-diatamente, recorreram da decisão. Eé na Justiça que os jornalistas espe-ram reverter essa sentença, restabe-lecendo o que determina a legislaçãoem vigor.

A batalha jurídica, porém, não é

suficiente para vencer essa guerra.O Sindicato do Paraná tem absolutaconvicção disso. Por isso, buscou —e continua buscando — apoio políti-co em várias esferas. A AssembléiaLegislativa já aprovou uma moção emdefesa do jornalismo e, em Brasília,dois deputados federais do Paraná fi-zeram pronunciamentos a favor des-ta campanha. Várias entidades, sin-dicatos, ordens e conselhos declara-ram apoio à obrigatoriedade do diplo-ma. São vitórias expressivas para acampanha. Entretanto, é possívelavançar ainda mais.

Além do apoio político, é precisomostrar a diversos setores da socie-dade o crime que está sendo cometi-do contra os jornalistas. Nesse as-pecto, o sindicato tem dificuldades.

Uma prova disso foi a manifestaçãode 7 de Abril, que, como protesto, foium sucesso. Como pauta, teve um re-sultado mediano.

Mesmo reunindo 300 pessoas noDia do Jornalista, distribuindo 20 milpanfletos e atravessando o centro deCuritiba com uma passeata, a maio-ria dos jornais, TVs e rádios deu pou-ca (ou nenhuma) importância ao fato.

Faz parte do jogo.Mesmo assim, é preciso repudiar a

atitude de proprietários de empresasde comunicação de censurar eventose manifestações de seu grande adver-sário, o Sindicato dos Jornalistas. Piorque isso só a autocensura de certos“companheiros”, que, por covardia oupor pura bajulação, boicotam as notí-cias relativas ao sindicato.

Esta estupidez, porém, não im-pede que a campanha continue —e obtenha êxito. Para isto, é neces-sário que cada jornalista vista a ca-misa e lute junto com o sindicato.O primeiro passo é estar cadastra-do na entidade. A partir daí, rece-berá por e-mail todas as informa-ções sobre a questão e convoca-ções para as atividades, como oabaixo-assinado enviado em mar-ço para os 2.500 endereços eletrô-nicos. São ações como essa —coletar assinaturas em apoio àcampanha — que podem levar osjornalistas a uma vitória definitiva.Por isso, faça sua parte. Ajude naluta em defesa do diploma, da éti-ca, da qualidade, enfim, da profis-são de jornalista.

Como judeus e jornalistas profissio-nais repelimos as atitudespreconceituosas desse indivíduo a ser-viço de fins inconfessáveis e reafirma-mos nossa esperança de que o OrienteMédio possa alcançar a paz e que osestados de Israel e da Palestina convi-vam sem violência, sem ódio, sem der-ramamento de sangue e construindo umfuturo promissor e harmonioso.

Szyja Ber Lorber e Léo Kriger, jor-nalistas

Carta ao Extra Pauta

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Exercício 2002

Assembléia aprova prestaçãode contas de 2002

Assembléia convocada pelo Sin-dicato dos Jornalistas Profis-sionais do Paraná aprovou, no

dia 17 de março, prestação de contasapresentada pela diretoria. Na ocasião,foram debatidos o relatório da direto-ria do exercício de 2002, o balançoanual com parecer do Conselho Fiscale a Proposta Orçamentária.

Na mesma data, o Sindicato envioupara os 1.100 e-mails de jornalistas ca-dastrados na entidade o relatório de ati-vidades de 2002. Abaixo, segue um re-sumo do relatório.

Relatório de atividadesdo Sindijor em 2002

Janeiro — Funcionário que traba-lhava como jornalista em O Estado doParaná, sem ter o devido registro pro-fissional, é demitido depois de denún-cia do Sindijor-PR e de fiscalização doMinistério do Trabalho - Mtb. CNT émultada pelo Mtb por ter estagiária ir-regular. Tribuna de Umuarama é mul-tada pelo Mtb por empregar jornalistasem registro profissional.

23 de janeiro — O Sindijor-PR é oúnico sindicato do Brasil a garantir opagamento das dívidas trabalhistas dosdemitidos da Gazeta Mercantil. Em 23de janeiro, em audiência na 9ª Vara doTrabalho, a empresa aceitou pagar ossalários atrasados e indenizaçõesrescisórias. Ela só tomou essa decisãoporque não tinha outra alternativa, jáque cerca de R$ 350 mil foram blo-queados por uma liminar concedida pelaJustiça, em ação movida pelo Sindijor-PR.

18 de fevereiro — Sindicato entracom ação contra a Folha de Londrinapara regularizar depósitos do FGTS. OSindijor também entrou com outra açãopara que a Folha pague os reajustes sa-lariais devidos.

14 de março — O Sindijor se reú-

ne com a Folha de Londrina e o Esta-do do Paraná, na Delegacia Regionaldo Trabalho. O assunto foi um possí-vel acordo entre as duas empresas paratroca de material jornalístico. As em-presas negaram e o assunto não vol-tou a ser cogitado.

19 de março — O Sindijor e os sin-

dicatos patronais fecham calendário denegociação permanente.

6 de abril — Festa do Sindijor emhomenagem ao Dia do Jornalista reúne300 pessoas.

20 de maio — Gazeta do Povo fal-ta à audiência no Ministério Público doTrabalho, em Curitiba, para esclarecera inexistência de cartão-ponto para osjornalistas da empresa.

11 de junho — Com o teatro doHSBC lotado, é feita a entrega do 7ºPrêmio Sangue Novo.

Julho — A Folha de Londrina de-mitiu a secretária-geral do Sindijor-PR,Rosane Henn, em 1º de julho. No dia25, por determinação da Jutiça, a em-presa foi obrigada a reintegrar a jorna-

lista.17 de julho — Sindijor e sindica-

tos patronais promovem seminário so-bre PLR.

25 de julho — O Sindijor e aFENAJ reagiram às ameaças contra arepórter Sâmar Razzak, do Jornal doEstado (JE).

Agosto — A pauta de reivindica-ções da Campanha Salarial 2002/2003

é aprovada por assembléias em todo oEstado.

Setembro — Sindijor lança segun-da etapa da campanha em defesa dodiploma, com venda do livro Forma-ção Superior em Jornalismo - Uma exi-gência que interessa à sociedade, alémda entrega de adesivos e cartazes.

11 de setembro — Sindijor promo-ve debate, no Teatro da Reitoria daUFPR, sobre liberdade de imprensa.

23 e 24 de setembro — RPC anun-cia corte da gratificação de aniversá-rio, que era paga há 15 anos pela em-presa. Sindijor realiza assembléias comjornalistas da Gazeta do Povo e da TVParanaense sobre o corte. Propostaaprovada pelos jornalistas prevê a subs-tituição do valor da gratificação porações da empresa e por estabilidade de5 anos.

24 de setembro — Assembléiasaprovam contraproposta dos jornalis-tas para os patrões.

1º de outubro — Em reunião naDRT, O Estado do Paraná apresenta re-latório comprovando pagamento doplano de previdência privada aos jor-nalistas.

17 de outubro — Patrões propõemreajuste de 9,58% em três parcelas edesistem de alterar a forma de paga-mento do anuênio.

31 de outubro — Em reunião, aRPC informa que não temcontraproposta para substituir a grati-ficação de aniversário.

11 de novembro — Assembléiasdecidem aprovar reajuste de 9,58% emtrês parcelas: 89% votaram pela acei-tação e 9% foram contra, com 2% deabstenções.

13 de dezembro — Sindicato iniciadiscussão sobre reforma do estatuto.

20 de dezembro — A ConvençãoColetiva de Trabalho é assinada, esta-belecendo o novo piso salarial, de R$1.299,23.

A Rede Paranaense de Comunicação (RPC) pro-pôs ao Sindicato dos Jornalistas Profissionais doParaná (Sindijor-Pr) uma negociação com o prin-cipal objetivo de cortar gastos na empresa. A RPC,que abrange a Gazeta do Povo, as filiadas da TVGlobo no Paraná, o Jornal de Londrina e a FM 98de Curitiba, convidou o Sindicato para uma reu-nião em 23 de janeiro. Na ocasião, foi relatado que

RPC propõe negociação para reduzir gastosa empresa precisa diminuir seus custos, pois a si-tuação financeira está delicada.

A diretoria do Sindijor se reuniu em 27 de janei-ro com a assessoria de Cid Cordeiro do Dieese edo advogado Sidnei Machado, e decidiu solicitaruma série de dados à RPC, como balanços, folhade pagamento, receitas e dívidas para elaborar pro-postas viáveis à empresa. Para o Sindicato, só com

essas informações é possível avaliar o efeito depossíveis mudanças trabalhistas na RPC. Outradecisão da diretoria da entidade é discutir com osjornalistas qualquer proposta que seja apresentadapela empresa.

O Sindijor enviou no dia 28 ofício à RPC infor-mando o resultado da reunião do dia 27. Mas a di-reção da empresa não manteve mais contato.

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demissões

Dono de hotel pressiona e Gazetado Povo demite jornalistas

AGazeta do Povo, doParaná, demitiu no dia17 de janeiro dois jorna-

listas. A decisão de dispensar osprofissionais teria sido tomadadepois da ingerência do dono doHotel Santa Paula, em Guaratuba,junto à direção do jornal.

Insatisfeito com as matériaspublicadas que, segundo ele, po-deriam prejudicar o comércio lo-cal, o empresário teria pressio-nado em várias ocasiões os jor-nalistas, que integravam a equi-pe de cobertura do litoral duran-te o verão e estavam hospeda-dos no hotel.

O estopim, aparentemente,teriam sido as notícias sobre aschuvas que caíram no início doano, deixando mais de cemdesabrigados nas cidades deGuaratuba e Matinhos. Por causa da re-comendação da Defesa Civil do estadopara que os veranistas evitassem descerpara as praias enquanto o mau tempo per-sistisse, o proprietário do hotel teria sesentido lesado.

Segundo relato dos jornalistas, o bo-letim da Defesa Civil que irritou o donodo hotel foi divulgado pela TVParanaense, emissora que pertence aogrupo proprietário da Gazeta do Povo,mas com qual os profissionais do jornalnão tem vínculo algum. Indiferente às ex-plicações, no entanto, o empresário pas-sou a perseguir os repórteres diariamen-te. Em várias ocasiões, eles foram cha-mados à sala da diretoria do hotel para“justificar” matérias publicadas no jornalou veiculadas na TV.

No dia 13, a reportagem sobre umgrupo de 120 pessoas de uma mesma fa-

mília que estava hospedada em uma casapróxima ao hotel foi motivo para nova re-clamação. Para o proprietário, a matéria,se publicada, poderia depor contra o lito-ral e, por conseqüência, contra o seu ne-gócio.

Após uma discussão acalorada, o pro-prietário afirmou que iria pedir a “cabeçados jornalistas” à direção da Gazeta. Aameaça foi presenciada por várias teste-munhas. Na quinta-feira, dia 17, os re-pórteres foram chamados ao jornal e co-municados da demissão. A alegação dadiretoria de Redação foi de que a Gazetaestaria adotando um regime de conten-ção de custos.

O discurso, no entanto, mudou de tomuma semana mais tarde, quando circu-lou na Redação do jornal a informação deque os repórteres estariam preparando umabaixo-assinado para cobrar explicações

da direção da Gazeta sobre as demissões.Imediatamente foi baixada uma ordempara que nenhum dos editores oucoordenadore assinasse qualquer petiçãocom esse propósito.

Esta não é a primeira vez que a Gazetado Povo tem a sua credibilidade colocadaem jogo devido a “pressões externas”. Em1999, um repórter foi demitido do jornalquando trabalhava na cobertura da CopaAmérica, em Foz do Iguaçu. O motivo dadispensa nunca foi esclarecido.

No Ministério do Trabalho,empresa mantém versão

Informado da demissão pelos repórte-res, o Sindicato dos Jornalistas Profissio-nais do Paraná convocou uma reunião coma Gazeta do Povo no Ministério do Traba-lho, que ocorreu em 29 de janeiro. A em-presa alegou que as demissões foram mo-

tivadas por cortes de gastos.“Tanto é que não ocorreram no-vas contratações para substituiros demitidos”, alegou o represen-tante da Gazeta. O Sindicato per-guntou quem tomou a decisão equal foi o critério para as demis-sões, ou seja, porque os dois re-pórteres foram escolhidos entredezenas de jornalistas. Os repre-sentantes da empresa disseramque não tinham essas informa-ções e insistiram que o fato foiuma “coincidência”. O Sindicatoreafirmou que não acredita na ver-são apresentada pela empresa.

A entidade lamenta que, emalguns aspectos, a Gazeta doPovo seja administrada de ma-neira irresponsável e arbitrária,sem qualquer respeito ao jorna-lismo e à ética, e que priorize aci-

ma de tudo os interesses comerciais, pre-judicando profissionais, o ambiente de tra-balho e a produção jornalística.

Dimitri do ValleTrês semanas depois da demissão

dos dois jornalistas, a Gazeta do Povotambém demitiu o repórter Dimitri doValle, subordinado à editoria Paraná. Ojornalista foi comunicado da sua dispen-sa no dia 13 de fevereiro. A justificativada empresa para demiti-lo foi “produti-vidade insuficiente”. Dimitri, porém,questiona a alegação e afirma que inú-meras vezes apresentou três ou quatroreportagens e teve mais de uma matériacortada ou transformada em nota. Se-gundo ele, um jornal que está reduzindoo número de páginas e o conteúdo “nãopode dizer que corta pessoal por falta deprodutividade”.

Jornalistas deixam rádio CBNCinco profissionais da Rádio CBN de Curitiba dei-

xaram a emissora no final de março, depois de en-tregar sua carta de demissão, reduzindo quase pelametade a sua equipe de jornalismo. O motivo dospedidos de dispensa teria sido a incompatibilidadeda equipe com o atual diretor da rádio, Eudes Moraes,que assumiu o cargo há cerca de um ano. Até a sa-ída dos jornalistas, a equipe da CBN era formadapor doze profissionais.

A saída dos jornalistas ocorreu depois que JoséWille, diretor de jornalismo e âncora da emissora,

entregou sua carta de demissão, sendo acompanha-do pelos outros quatro profissionais. Além de Wille,pediram demissão o chefe de reportagem GladimirNascimento, a chefe de redação Michelle Thomé, arepórter Jordana Martinez e o produtor Tiago Eltz.

Segundo jornalistas da emissora, José Wille esta-ria insatisfeito com a ingerência de Eudes Moraesnas pautas e sua subordinação a interesses comerci-ais e a maneira como ele trata a equipe de jornalismoda rádio. Em comunicado interno que enviou por e-mail aos jornalistas da casa, Moraes afirmou que “os

pedidos de desligamento que ocorreram sãoepisódicos e não geram problemas de solução decontinuidade”. Ele não repôs os cargos e remanejouos próprios jornalistas da emissora para ocupar asfunções dos que pediram demissão. Como novo di-retor de jornalismo foi nomeado o âncora ToniCasagrande.

José Wille prepara novo programa de notícias,comentários e participação de formadores de opi-nião. Estréia em maio na Rádio Rock, 96.3 FM, to-dos os dias, das 7h às 9h da manhã.

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Imprensa no Paraná

As truculências de José Eduardo VieiraComo já se tornou costume na

Folha de Londrina, o ex-senadore ex-banqueiro José Eduardo

Andrade Vieira não cumpriu suas promes-sas aos jornalistas. Não pagou a últimaparcela de salários atrasados, que deveriater ocorrido no dia 28 de fevereiro, con-forme um cronograma assinado no iní-cio do ano. Além disso, decidiu arbitrari-amente, ao contrário do que havia com-binado com seus funcionários, que até omês de julho os salários serão pagos so-mente no dia 20 de cada mês.

Os jornalistas reclamaram e, mais umavez, o proprietário da Folha reagiu comtruculência, demitindo uma repórter e“suspendendo” com a retenção ilegal dossalários e o afastamento das funções qua-tro jornalistas que fazem parte do Sindi-cato dos Jornalistas Profissionais de Lon-drina. Uma das jornalistas “suspensas” éRaquel Carvalho, presidente do Sindica-to.

Outdoors na cidadeNo dia 27 de fevereiro, Andrade Vieira

chamou à sua sala os editores do jornal ecomunicou que não depositaria a últimaparcela dos atrasados no dia seguinte,como havia sido combinado. Os editoresvoltaram à redação e informaram aos co-legas a decisão do diretor superintenden-te da Folha.

Benê Bianchi, uma das integrantes dacomissão de negociação interna para opagamento dos salários, convocou entãouma reunião na própria redação com ou-tras jornalistas para discutir a questão. Foiquando Andrade Vieira entrou na redaçãoe “interrompeu bruscamente a conversaque se iniciava e ameaçou demitir por justacausa aqueles que não voltassem imedia-tamente ao trabalho”, segundo nota doSindicato dos Jornalistas de Londrina.

No dia seguinte, o Sindicato de Lon-drina fez uma assembléia na qual foi de-cidida a colocação de outdoors na cidadeinformando sobre a situação na redaçãoda Folha, os atrasos de salários e a forma

desrespeitosa como Andrade Vieira tra-tou os funcionários. O proprietário daFolha reagiu demitindo Benê Bianchi, comdez anos na empresa, no dia 7 de março.Mesmo sendo da comissão de negocia-ção interna para o pagamento dos salári-os, Benê não é dirigente sindical.

Intimidação violentaSegundo a nota do Sindicato de Lon-

drina, “os jornalistas estavam no pleno

direito de exigir o que foi acordado e ain-da protegidos pelo estado de greve, defi-nido em assembléia”. Em nota de repú-dio, o Sindicato manifestou sua indigna-ção “com a atitude do dono da Folha, queseguidamente vem desrespeitando seustrabalhadores. Além de atrasar salários,humilha e ameaça os jornalistas, trabalha-dores que têm direitos assegurados porlei”.

Em carta aberta à população, o Sindi-cato de Londrina denunciou que Andrade

Vieira também suspendeu o contrato detrabalho e o pagamento de três diretorasda entidade - Célia Polesel, Silvana Leão eRaquel de Carvalho (presidente) - e daex-diretora Érika Pelegrino “por defen-derem os direitos dos jornalistas, funçãopara a qual foram eleitas”. Os saláriosforam pagos com atraso no dia 20 demarço aos demais jornalistas.

Ainda na carta aberta, o Sindicato dosJornalistas de Londrina afirma que “os jor-

nalistas passam por situações constran-gedoras. Sem salário, pagam juros emcontas atrasadas, têm o nome incluído emcadastros de maus pagadores. Quando semanifestam, os jornalistas são intimida-dos de forma violenta pelo dono da Folhae até demitidos. Como não conseguiucalar o Sindicato, que representa os jor-nalistas, o sr. José Eduardo agora age di-retamente contra as diretoras da entida-de, que são suas funcionárias”.

As quatro jornalistas já entraram com

ação na Justiça trabalhista para assegurarseus direitos. Por seu lado, Eduardo Vieirateria dito que vai processar os responsá-veis pelos outdoors, que na opinião deleexpuseram a Folha de forma irregular àpopulação de Londrina.

Estado de greveCom decisões quase unânimes em as-

sembléias realizadas em Londrina eCuritiba (apenas um voto contrário), no

dia 10 de janeiro, os jorna-listas da Folha decidiraminiciar uma greve no dia 14de janeiro, para obter o pa-gamento dos salários, queestavam atrasados desde omês de novembro. Ao mes-mo tempo, os jornalistasdas duas redações resolve-ram por unanimidade entrarem assembléia permanente.

Em assembléia realiza-da no dia 14, os jornalistasda sede e da sucursal deCuritiba decidiram não en-trar em greve, aguardandoo cumprimento da propos-ta feita pelo ex-senador JoséEduardo Andrade Vieira decolocar em dia os saláriosatrasados até o final de fe-vereiro. Mas também resol-veram manter-se em esta-do de greve até que o donoda Folha cumprisse o quehavia prometido.

A proposta de Andrade Vieira era pa-gar o salário de novembro no dia 17 dejaneiro, metade do salário de dezembrono dia 31 de janeiro, a outra metade dedezembro no dia 28 de fevereiro e o salá-rio de janeiro de 15 a 20 de fevereiro. Adireção da Folha depositou o pagamentodos salários como havia sido combinadonos dias 17 e 31 de janeiro. Masdescumpriu o prazo do pagamento da úl-tima parcela que constava no cronogramaque assinou no início do ano.

Dono da Folha cria sindicato patronal do interiorEm assembléia realizada na sede da Folha de Lon-

drina, no dia 28 de janeiro, proprietários de jornais erevistas do interior do Paraná criaram em Londrina oSindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Re-vistas do Interior do Estado do Paraná. Participaramrepresentantes de onze veículos de comunicação quecirculam em diferentes regiões. Na mesma reunião foieleita a primeira diretoria da nova entidade.

A iniciativa da fundação do novo sindicato é do ex-senador José Eduardo Andrade Vieira, dono da Folhade Londrina, que há tempos vinha tendo atritos com a

diretoria do sindicato patronal presidido por Abdo ArefKudri e não acatava suas determinações. Com a cria-ção do novo sindicato, Andrade Vieira também preten-de pagar salários menores aos jornalistas, como já vemfazendo, pois não respeitou as duas convenções cole-tivas de trabalho de 2002 e 2003. Os sindicatos dosJornalistas do Paraná e de Londrina já entraram comação para que as CCTs, sejam cumpridas.

Da assembléia participaram representantes dos se-guintes jornais e revistas: Jornal União, Paraná Repór-ter, Diário do Noroeste, O Londrinense, Folha de

Ibiporã, Umuarama Ilustrada, Tribuna do Interior, VozÁrabe, Fatos do Paraná, Tribuna do Norte, Diário dosCampos, Tribuna de Londrina, Diário do Norte doParaná e Rádio Cultura do Paraná.

O presidente do novo sindicato patronal é o próprioJosé Eduardo Andrade Vieira, que pretende filiar osdemais veículos de comunicação instalados no interi-or. Ele informa que, com a criação do sindicato dointerior, as empresas por ele representadas automati-camente ficam desfiliadas da entidade estadual, comsede em Curitiba.

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Nova diretoria

Eleições no Sindicato dos JornalistasApenas uma chapa se inscreveu

para concorrer às eleições noSindicato dos Jornalistas Pro-

fissionais do Paraná. A votação serános dias 29 e 30 de abril. As datasforam definidas pela Comissão Elei-toral, escolhida em assembléia geraldos jornalistas no dia 13 de feverei-ro. O edital de convocação das elei-ções foi publicado no dia 28 de feve-reiro, no jornal O Estado do Paraná.O prazo final para a inscrição de cha-pas foi no dia 31 de março.

As eleições seguirão o que deter-mina o novo estatuto, aprovado emassembléia no dia 13 de fevereiro.Uma das principais mudanças é a elei-ção separada para o Conselho Fiscal,com candidaturas individuais, inde-pendentes da chapa. Outra mudançaé que a escolha da Comissão de Éticanão será feita junto com a chapa. Peloestatuto, os integrantes serão defini-dos em assembléia geral dos jornalis-tas, logo após a posse da nova dire-toria.

A votação será realizada das 9 às20h. Segundo o edital de convocaçãodas eleições para a diretoria adminis-trativa e para o Conselho Fiscal, te-rão direito a voto os sindicalizados até29 de janeiro de 2003 e que até 14 deabril estiverem em dia com as contri-buições sindicais. Haverá urnas fixasna sede do sindicato e em locais defi-nidos pela Comissão Eleitoral e tam-bém urnas itinerantes, a critério daComissão Eleitoral.

O quorum para as eleições de 2003

é de mais de 50% dos associados ap-tos a votar. Não sendo atingido esseíndice, haverá nova eleição nos dias 6e 7 de maio, exigindo-se o quorum demais de 40% dos votantes. Se nova-mente não houver quorum, a terceiravotação será nos dias 13 e 14 de maio,com mais de 25% dos votantes. Nes-tes casos, os locais e horários de vo-tação serão os mesmos definidos parao pleito de 29 e 30 de abril, podendohaver alteração de itinerário, a critérioda Comissão Eleitoral.

Para alguns calendários,29 de janeiro é o Dia do Jor-nalista. Entretanto, a Fenaj eo Sindicato dos JornalistasProfissionais do Paraná come-moram o Dia do Jornalistaapenas em 7 de abril. A cele-bração se relaciona com aabdicação de Dom Pedro I,nesta mesma data, em 1831,episódio em que a imprensateve uma importância funda-mental.

Um ano antes do fim doseu governo, Dom Pedro ata-cou a imprensa, na épocaidentificada com os liberais ereprimiu passeatas nas ruasdo Rio de Janeiro. Em 20 denovembro de 1830, morreriaassass inado o jornal is taLíbero Badaró, que se torna-ria mártir da luta dos liberaispor uma nova Constitução.Depois do assassinato, DomPedro perdeu o apoio popu-lar. Passeatas foram organi-zadas, como em 11 de marçode 1831. Conhecidas na His-tória do Brasil como a “Noitedas Garrafadas”.

Sem o apoio da imprensae da população, não restava aDom Pedro I outro caminhosenão a abdicação. E ela se

tornou realidade quando os quar-téis aderiram às manifestações em6 de abril. “O Repúblico”, um dosjornais de esquerda, pregava o“dever sagrado da resistência à ti-rania”. Na madrugada de 7 deabril, Dom Pedro abdicaria e opaís entraria em um novo perío-do monárquico, a regência.

Para Sindicato,7 de abril é o

Dia do Jornalista

Assembléia de jornalistas aprovanovo estatuto do Sindicato

O Sindicato de Jornalis-tas Profissionais do Paraná(Sindijor-PR) tem novo es-tatuto. Ele foi aprovado nodia 13 de fevereiro em as-sembléia realizada na sededa entidade, em Curitiba.Assim, a eleição da nova di-retoria do Sindicato, a serrealizada em abril, deveráseguir as determinações donovo estatuto. A assembléiatambém decidiu que a elei-ção dos membros do Con-selho de Ética será feita emassembléia depois da elei-ção da nova diretoria, e nãoem chapa separada, comopropunha a diretoria.

Na mesma assemblé iaforam votados por unanimi-dade os jo rna l i s tas LuizHenrique Herrmann, asses-sor de imprensa da APP-Sindicato, Eduardo Goulart,do Conselho Regional de Fi-sioterapia e Terapia Ocupa-cional da 8ª Região, e Moa-cir Domingues, da Gazetado Povo, para comporem acomissão eleitoral, que co-ordenará e conduzirá o pró-ximo processo eleitoral.

O novo Conselho de Éti-ca será composto por setemembros efet ivos, sendo quatrojornalistas e três representantes dasociedade. Comissões de ética dejornalistas como os de Minas Ge-rais e de São Paulo já incluem re-presentantes da sociedade civil or-ganizada. “Isto, além de ampliar adiscussão, evita possíveis proteci-onismos corporativistas, que têm

acontecido principalmente em ou-tras categorias, como médicos eadvogados”, afirma Mário MessagiJúnior, presidente do Sindijor-PR.

Também o Conselho Fiscal teráeleição independente. “Como suafunção é fiscalizar a gestão finan-ceira do sindicato, é estranho queele seja eleito junto com a direto-

ria, no mesmo grupo, na mesmachapa” , jus t i f ica a d i re tor ia doSindijor-PR.

Segundo o novo estatuto, a elei-ção é individual e qualquer jorna-lista pode se candidatar. Os trêsmais votados vão compor o Con-selho Fiscal. Todos os demais, pelaordem de votação, são suplentes.

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E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 6 1 - j a n e i r o a a b r i l - 2 0 0 3 - 7

Doze jornalistas morreram naguerra no Iraque, até o dia 14 de abril:um da Austrál ia (AustralianBroadcasting Corporation), dois daGrã-Bretanha (ambos da rede de tevêbritânica ITN), um do Irã (da tevêbritânica BBC), dois dos EstadosUnidos (do Washington Post e daNBC), dois da Espanha (El Mundo eTelecinco), um da Alemanha (sema-nário Focus), um da Jordânia (rede

Liberdade de imprensa

Em 2002, 25 profissionais de im-prensa foram mortos no exercí-cio de sua função. Este número

consta do relatório anual da organiza-ção internacional Repórteres sem Fron-teiras (www.rsf.fr), com sede em Pa-ris, que defende a liberdade de expres-são em todo o mundo. Da lista faz parteo repórter Tim Lopes, da TV Globo,que foi assassinado em junho do anopassado por traficantes de drogas noRio de Janeiro.

O número de jornalistas assassina-dos no ano passado diminuiu em rela-ção a 2001. Em 2001, 31 profissio-nais de imprensa foram mortos por es-tarem em áreas de combate ou porqueforam abatidos deliberadamente porterem feito investigações ou publica-do matérias sobre assuntos “sensí-veis”. Mas Repórteres sem Fronteirasalerta que mais de trinta casos de as-sassinato de jornalistas em 2002 estãosendo investigados, sem que ainda sepossa afirmar que haja uma ligaçãocom suas atividades profissionais.

Em compensação, outros indicado-res (jornalistas agredidos, interroga-dos, ameaçados) cresceram muito. Onúmero de jornalistas interrogados(692 em 2002) aumentou cerca de40% e o de jornalistas agredidos ouameaçados (1.420), 100%. Um núme-ro cada vez maior de profissionais deimprensa estão presos no mundo. Hojehá 118 atrás das grades. Somando-seos colaboradores dos meios de comu-nicação (3) e os dissidentes da Internet(pelo menos 42), 163 estão presos porterem procurado informar livremente.

A censura aos meios de comunica-ção não sofreu mudança significativaem relação a 2001 (389 casos em 2002e 378 em 2001). Com isso, cada diaum meio de comunicação é censuradono mundo e cerca de um terço da po-pulação mundial vive num país ondenão existe liberdade de imprensa.

Aumento vertiginosoA maioria dos jornalistas que mor-

reram no ano passado foram assassi-nados por grupos armados. O casomais conhecido é o do repórter DanielPearl, do The Wall Street Journal, quefoi seqüestrado e assassinado porfundamentalistas islâmicos noPaquistão. Na Colômbia, três repórte-res foram mortos, vítimas do conflitoarmado ou de revelações sobrecorrupção de políticos. Em toda a Amé-rica Latina, nove profissionais da in-

Jornalismo é cada vez mais perigosoformação perderam a vida. Só a Ásiafoi mais fatal para os jornalistas em2002 (11 casos).

Quase nenhum homicídio e assas-sinato de jornalista cometido nos últi-mos anos foi resolvido, denuncia Re-pórteres sem Fronteiras. Os mandan-tes continuam em liberdade e não fo-

ram incomodados pela justiça do seupaís. Em Israel, por exemplo, as in-vestigações sobre a morte de um fo-tógrafo italiano e dois repórteres pa-lestinos no ano passado não resulta-ram em nenhuma punição. Como Re-pórteres sem Fronteiras já denunciouem 2001, a impunidade de que gozamos assassinos ou os agressores de jor-nalistas motivou novas violências.

No ano passado, 700 jornalistas fi-caram na prisão por períodos mais oumenos longos, segundo Repórteressem Fronteiras. Pelo menos 118 per-maneciam na cadeia em 1o de janeirode 2003 por causa de suas opiniõesou de suas atividades profissionais.No mesmo período de 2001, eram

apenas 110. Quase metade (53) estãodetidos na Ásia. Só no Nepal, pelomenos 130 jornalistas e colaborado-res dos meios de comunicação pas-saram pela prisão em 2002.

As agressões e ameaças contraprofissionais de imprensa aumentaramde maneira vertiginosa. Pelo menos

1.420 foram espancados, ameaçadosde morte, seqüestrados, acusados pelapolícia ou importunados. Quase me-tade dessas agressões e ameaças ocor-reram na Ásia (589). Na América La-tina, o número de agressões cresceumuito com a tensão política ou eco-nômica na Venezuela, na Argentina eno Haiti.

“Terrorismo como pretexto”Quanto à censura, Repórteres sem

Fronteiras afirma que “os governosusam e abusam de leis de imprensa”.Isso permitiu fechar temporária ou per-manentemente sucursais ou mesmoempresas de comunicação que, na obri-gação de informar, atingiram políticos

diretamente. A maioria dos casosocorreram na Ásia. Os escritórios docanal árabe de informação Al-Jazira,que ganhou projeção na guerra dos Es-tados Unidos contra o Afeganistão, fo-ram fechados em 2002 na ArábiaSaudita, no Kuwait, na Jordânia e tem-porariamente no Iraque.

O combate ao terrorismo depoisdos atentados ao World Trade Centere ao Pentágono serviu como pretextopara muitos governantes reprimiremveículos de comunicação. “Muitos go-vernos intensificaram e justificaramsua repressão às vozes de oposição ouindependentes em nome desse comba-te”, afirma Repórteres sem Fronteiras.A proteção às fontes foi um dos gran-des problemas de 2002. Em regimesautoritários e democráticos, dezenasde jornalistas foram ouvidos, investi-gados, intimados ou ameaçados por te-rem se recusado a revelar suas fon-tes, sobretudo em casos de terroris-mo.

Jornalistas mortos na guerra no IraqueAl-Jazira de Catar), um da Ucrânia(agência Reuters) e um da Argentina(America TV), além de um intérpreteque trabalhava para a BBC.

Um repórter cinematográfico daFrança e um intérprete do Líbano es-tão desaparecidos desde o incidentedo dia 22 de março em que dois jor-nalistas britânicos morreram, prova-velmente por disparos da coalizão.

O dia mais trágico para a impren-

sa internacional no Iraque foi 8 deabril, quando o disparo de um tanqueamericano atingiu o Hotel Palestinaem Bagdá, onde se encontra a impren-sa estrangeira, matando dois repórte-res cinematográficos. Algumas enti-dades de defesa da liberdade de ex-pressão acham que o disparo foi depropósito, para intimidar os jornalis-tas que querem cobrir a guerra demaneira independente.

Números de 2002

25jornalistas mortos

118jornalistas presos

692jornalistas interrogados

1.420jornalistas agredidos ou

ameaçados

389veículos de comunicação

censurados

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8 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 6 1 - j a n e i r o a a b r i l - 2 0 0 3

Ajuíza federal Carla AbrantkoskiRister, da 16a Vara Cível de SãoPaulo, suspendeu, em todo o

país, a obrigatoriedade do diploma de jor-nalismo para obter o registro profissio-nal no Ministério do Trabalho. A sen-tença foi publicada no Diário Oficial doEstado de São Paulo no dia 10 de janei-ro e proferida em ação civil pública pro-posta pelo Ministério Público Federal e

Sindicato das Empresas de Rádio e Te-levisão no Estado de São Paulo.

Em sua decisão, Carla Rister afirmaque a profissão de jornalista não podeser regulamentada sob o aspecto da ca-pacidade técnica, pois não pressupõe aexistência de qualificação profissionalespecífica, indispensável para a prote-ção da coletividade. Para ela, a regula-mentação do Decreto-Lei 972, de 1969,“não visa ao interesse público, que con-siste na garantia do direito à informa-

Em defesa do Jornalismo

Juíza dispensa diploma para jornalistação, a ser exercido sem qualquer restri-ção, através da livre manifestação dopensamento, da criação, da expressão eda informação, conforme previsto naConstituição Federal”.

Segundo a juíza, o Decreto-Lei 972,de 1969, foi elaborado em época em quenão havia liberdade de expressão, inclu-sive nos meios de comunicação. Ele “co-lide materialmente com os princípios

consagrados pela Constituição de 1988,das liberdades públicas, donde se inserea liberdade de manifestação do pensa-mento, a liberdade de expressão intelec-tual, artística e científica”, afirma.

Carla Rister argumenta que a exigên-cia do diploma é “de cunho elitista” eofende “aos princípios constitucionais,na medida em que impõe obstáculos aoacesso de profissionais talentosos à pro-fissão, mas que, por um revés da vida,não puderam ter acesso a um curso de

Os advogados da Federação Naci-onal dos Jornalistas e dos Sindicatosdos Jornalistas do país entraram nodia 27 de janeiro com recurso de ape-lação da sentença de primeira instân-cia da juíza Carla Rister, da 16a VaraCível da Justiça Federal de São Pau-lo, contra a exigência de formaçãoespecífica para o registro profissio-nal de jornalista.

A Fenaj reuniu sua diretoria e re-presentantes do Sindicato em São

Fenaj e Sindicatos entram com recurso

A 3ª Turma do Tribunal Regio-nal Federal (TRF) da 4ª Região de-cidiu, no dia 18 de março, que aDelegacia Regional do Trabalho(DRT) de Santa Catarina pode exi-gir o diploma de curso superior emjornalismo da catarinense LucinéiaAparecida Coelho. A medida sus-pende os efeitos da sentença profe-rida pela Justiça Federal deFlorianópolis em abril do ano pas-sado.

Lucinéia é jornalista provisionadae ingressou com mandato de segu-rança na 6a Vara Federal deFlorianópolis porque a DRT iria mul-tar a empresa para a qual trabalha-va. A empresa contratante teria ale-gado que não poderia manter umprofissional sem curso superior naárea se a delegacia efetuasse a au-tuação.

A 6a Vara permitiu que a jorna-lista provisionada exercesse a pro-fissão de jornalista sem possuir odiploma, mas a União ingressoucom recurso no TRF, que enten-deu ser legítima a exigência de di-ploma para o exercício do jornalis-mo.

O Ministério Público Federal deuparecer segundo o qual a atividadejornalística é regulamentada, haven-do a possibilidade de continuaremna profissão os jornalistasprovisionados que exerciam a pro-fissão nos dois anos anteriores aoDecreto 83284, de 1979, que regu-lamenta a profissão. O parecer tam-bém destacou que não pode seraceito o argumento de que o diplo-ma de jornalista é dispensável pelaprática periódica do exercício pro-fissional.

É importante ressaltar que o pro-cesso em Santa Catarina não inter-fere diretamente na ação movidapelo Ministério Público Federal deSão Paulo, que resultou em senten-ça da Justiça Federal de São Pauloproibindo o Ministério do Trabalhode exigir diploma em jornalismopara o registro profissional de jor-nalista.

TRF nega registro

de jornalista a

profissional sem

diploma

Paulo, no início de fevereiro, paradefinir novas ações em defesa da re-gulamentação profissional dos jorna-listas. No dia 30 de janeiro houve umaaudiência com o ministro do Traba-lho, Jaques Wagner, para tratar doassunto. Alguns dias antes, o minis-tro da Educação, Cristóvam Buarque,antecipou ao secretário geral da Fenaj,Celso Schoreder, o apoio à nossa luta,colocando-se à disposição para a de-fesa da formação específica de nível

superior para os jornalistas.O Sindicato dos Jornalistas Profis-

sionais do Paraná apresentou à Fenaj,em 21 de janeiro, 18 sugestões deações jurídicas e políticas em defesado diploma. Pediu ainda que fossemarcada uma reunião com todos ossindicatos de jornalistas do País, como objetivo de discutir as sugestões edefinir um cronograma de atividades,encontro que foi realizado no dia 8 defevereiro (ver matéria na página 10).

nível superior, pelo que estariarestringida a liberdade de manifestaçãodo pensamento e da expressão intelec-tual”, ressalta.

A juíza federal afirma ainda que, se aexigência do diploma prevalecesse, “oeconomista não poderia ser o responsá-vel pelo editorial da área econômica, oprofessor de português não poderia sero revisor ortográfico, o jurista não pode-

ria ser o responsável pela coluna jurí-dica, e assim por diante, gerandodistorções em prejuízo do público, quetem o direito de ser informado pelosmelhores especialistas da matéria emquestão”.

Em sua sentença, Carla Rister de-termina que a União não mais exijadiploma de curso superior em Jorna-lismo para o registro no Ministério doTrabalho e não execute mais fiscali-zação sobre o exercício da profissãode jornalista por profissionais semgrau universitário de Jornalismo. Alémdisso, fixa a multa de R$ 10 mil paraquem descumprir a sua decisão.

Nova liminarNo dia 7 de fevereiro, a juíza Carla

Rister concedeu nova liminar deter-minando que a Federação Nacional deJornalistas (Fenaj) expeça carteirapara quem obtiver o registro precá-rio. Foi um mandado de segurança

individual, a pedido de um interessadoque alegou sentir-se prejudicado por nãoter conseguido a carteira que pediu àFenaj.

Desde a concessão da liminar pelajuíza Carla Rister, é a Fenaj que emite acarteira de jornalista para quem se be-neficia dessa ação, para ter o controledo número de registros precários. Ossindicatos só emitem carteira para quemapresentar o registro de acordo com aregulamentação profissional.

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Em defesa do Jornalismo

Tenho medo da JustiçaTomás Eon Barreiros

Ajuíza federal Carla Rister, da 16a

Vara Cível de São Paulo, suspen-deu, em todo o país, a

obrigatoriedade do diploma de jornalis-mo para a obtenção do registro profissi-onal no Ministério do Trabalho e o con-seqüente exercício da profissão. A sen-tença foi publicada dia 10 de janeiro noDiário Oficial do Estado de São Paulo.E é de assustar. Embora seja jornalistaprofissional diplomado e professor emuma faculdade de jornalismo, não é porum sentimento de defesa corporativa queme assusto. O que apavora é o teor dodocumento produzido por ela. É de im-pressionar que haja no Judiciário, deci-dindo questões que afetam as vidas demilhares de pessoas, juízes que julgamsem o mínimo conhecimento de causasobre aquilo que pontificam.

Os argumentos apresentados pelamagistrada em apoio à sua decisão sãode um primarismo absolutamente as-sustador. Passariam por piada, não fi-zessem parte de uma triste realidade: ado despreparo flagrante de alguns ele-mentos do Judiciário. O documento dajuíza indica que ela não tem idéia doque faz um jornalista. Sua noção é ba-seada numa visão romântica do jorna-lismo do início do século passado, quan-do sequer havia televisão e muito me-nos Internet. E, ao que indica o texto,a dra. Carla Rister parece também nãoter o hábito de ler jornais e revistas.Afirma ela, por exemplo, que, caso aexigência prevalecesse, o economistanão poderia ser o responsável pelo edi-torial da área econômica, o professorde português não poderia ser o revisorortográfico, o jurista não poderia ser oresponsável pela coluna jurídica, e as-sim por diante, gerando distorções emprejuízo do público, que tem o direitode ser informado pelos melhores espe-cialistas da matéria em questão. Ora,qualquer pessoa que leia os maioresperiódicos nacionais está acostumadaa ler economistas tratando de econo-mia, médicos escrevendo sobre saúdeetc., sem qualquer infração à exigênciado diploma de jornalismo.

Veja-se este trecho do documento: Ojornalista deve possuir formação cultu-ral sólida e diversificada, o que não seadquire apenas com a freqüência a umafaculdade (muito embora seja forçosoreconhecer que aquele que o faz poderávir a enriquecer tal formação cultural),mas sim pelo hábito da leitura e pelo pró-prio exercício da prática profissional.

Pensemos a quantas profissões pode seadequar tal brilhante descrição. Um pro-fessor de história, por exemplo. Ou umadvogado, que pode ser muito bem for-jado por uma formação cultural sólida ediversificada, pelo hábito da leitura e pelopróprio exercício da prática profissio-nal. Ou um professor de português, oude geografia, ou de letras... Então, quese acabe com a exigência de qualquerdiploma para o exercício de profissõespara cuja competência bastem esses re-quisitos. E seriam poucas as que não seenquadrariam.

Há, entretanto, trechos mais assom-brosos no texto da juíza. Vejamos a pé-rola máxima: “Tenho ainda que a esti-pulação do requisito de exigência de di-

ploma, de cunho elitista, considerada arealidade social do país, vem perpetrarofensa aos princípios constitucionais,na medida em que impõe obstáculos aoacesso de profissionais talentosos à pro-fissão, mas que, por um revés da vida,que todos nós bem conhecemos, nãopôde ter acesso a um curso de nívelsuperior, pelo que estaria restringida aliberdade de manifestação do pensamen-to e da expressão intelectual”, escrevea magistrada. Rir ou chorar diante detal pieguice? Proclame-se então: todosaqueles que, afetados pelos tristes re-veses da vida, não puderam ter acessoa um curso superior, podem exercer aprofissão com que sonharam, desde

que tenham talento para tal. Aliás, eugostaria de ser juiz. Tenho talento parao mister, sou justo, tenho formaçãocultural sólida e diversificada e hábitode leitura. Infelizmente, os reveses davida não me permitiram cursar Direito.Quanto ao caráter elitista do diploma,se a solução é abolir a exigência do di-ploma, por que não adotar o mesmocritério para todas as profissões regu-lamentadas?

Mas os absurdos não param por aí.Crê a magistrada que a exigência de di-ploma fere o preceito constitucional delivre manifestação do pensamento e daexpressão intelectual! Rir ou chorar?Vou recorrer à dra. Carla Rister solici-tando que ela obrigue a Globo a ceder-

me cinco minutos diários no Jornal Na-cional para a garantia de meu direitoconstitucional à livre manifestação dopensamento. E a Folha de S. Paulo teráque ceder-me espaço para a garantia deminha expressão intelectual, conformedetermina a Constituição.

Há mais, ainda. A ilustre juíza argu-menta que a atual regulamentação damatéria é falha, por condicionar o exer-cício da profissão tão-somente combase na exigência do diploma de jorna-lista, sem prever qualquer outra exigên-cia que aferisse o mérito ou a possedos atributos de qualificação profissio-nal”. Essa é boa. Então, para um médi-co ser contratado por um hospital bas-

ta apresentar o diploma? Para um veí-culo de comunicação contratar um jor-nalista basta, também, que este mostreo canudo? Os empregadores não têmcritérios para “aferir o mérito ou a pos-se dos atributos de qualificação profis-sional”?

O pior de tudo, entretanto, é pergun-tar o que há por trás dessa decisão dajuíza, em uma ação civil pública propostapelo Ministério Público Federal e Sindi-cato das Empresas de Rádio e Televisãono Estado de São Paulo. É triste que oteor da decisão dê ensejo e justifique quese formule tal questão. Melhor seriaacreditar, mesmo, na ignorância da juíza,embora nos quinze meses de debate quehouve entre a liminar e a decisão final a

magistrada tivesse todas as condiçõesde se informar melhor a respeito do quefaz um jornalista.

Diante disso, confiar no Judiciárioou temê-lo? A resposta virá após o jul-gamento do recurso cabível. Esperoque meus temores sejam injustificadose que nas instâncias superiores, qual-quer que seja a decisão, esteja ela bemfundamentada no conhecimento a res-peito daquilo que se julga.

Tomás Eon Barreiros é jornalistaprofissional diplomado, professor

universitário e microempresário

Texto extraído do portal Comunique-se

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Em defesa do Jornalismo

AAssembléia Legislativado Paraná aprovou umamoção de apoio à luta

em defesa da obrigatoriedadedo diploma para o jornalismo.O texto do documento foi en-tregue pelo Sindicato dos Jor-n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d oParaná - Sindijor-PR ao depu-tado Ângelo Vanhoni (PT), quecoletou assinaturas de 20 de-putados e encaminhou para vo-tação no plenário da Casa. Amoção foi aprovada e será en-viada ao presidente do Supre-mo Tribunal Federal , MarcoAurélio Mello.

Para o Sindijor-PR, a moçãotem importância estratégica nacampanha em defesa da profis-são. “Isto prova que nossa luta tem forte signi-ficativo apoio político”, avaliou o presidente doSindojor-Pr, Mário Messagi Júnior. “Não pode-mos deixar que só uma pessoa, uma juíza pou-co informada, decida a questão e faça o debateindividualmente, sem ouvir os diversos setoresda sociedade. Por isso, estamos levando a dis-cussão para o Legislativo, para as ruas e paradiversas esferas”, afirmou Sílvio Rauth Filho,diretor do sindicato.

Assembléia aprova moção deapoio à campanha do diploma

Na semana de 7 de abril, Dia do Jornalista, apedido do Sindicato dos Jornalistas Profissionaisdo Paraná, os deputados federais Oliveira Filho(PL) e Selma Schons (PT) fizeram pronunciamen-tos na Câmara dos Deputados em apoio à campa-nha dos jornalistas a favor da obrigatoriedade dodiploma para o exercício da profissão.

Em seu pronunciamento, o deputado Oliveira Fi-lho perguntou: “Por que dar os mesmos direitos pro-fissionais a pessoas que nunca pisaram em uma Uni-versidade e desconhecem elementos importantíssi-mos em qualquer profissão, como a ética, enquantooutros que se prepararam, tiveram uma formação aca-dêmica, se vêem roubados em seus direitos?”

Oliveira Filho defendeu a obrigatoriedade dodiploma para a formaçãodo jornalista. “O diplomanão é apenas um pedaçode papel para ser coloca-do na parede. É, antes detudo, a responsabilidadecom a notícia, o respeitoaos fatos e a seriedade di-ante da profissão”, afir-mou.

Deputados se manifestampela obrigatoriedade

Fenaj e sindicatos definem nova estratégia

Ângelo VanhoniArlete CaramêsArtagão JúniorBarbosa NetoBradockCarlos SimõesChico Noroeste

Em defesa do JornalismoOs deputados que assinaram a moção:

DobrandinoElton WelterElza CorreiaFrancisco BuhrerHermes FonsecaLuciana RafagninLuciano Ducci

Luiz AccorsiMarcos IsferNatálio SticaPedro IvoRatinho JúniorRenato GaúchoTadeu VeneriZucchi

A diretoria da Fenaj e representantes de 12 dos 30sindicatos de jornalistas do país estiveram reunidos nodia 8 de fevereiro em São Paulo para definir a segundafase da campanha em defesa da profissão de jornalis-ta. O Paraná foi representado pelo presidente MárioMessagi Junior. Confira abaixo o que foi decidido.

1. Ampliar a campanha para a sociedade, mas re-forçando e intensificando junto à categoria, meio aca-dêmico, outras entidades e segmentos do campo dacomunicação. Com isso, é preciso ampliar também oenfoque da campanha: tirar o foco exclusivamente dodiploma e centrar no direito à informação, ressaltandoa importância da formação de qualidade neste proces-so e da nossa regulamentação profissional. Conjugarcom esta questão a luta pela aprovação do ConselhoFederal de Jornalismo, cujo anteprojeto tramita noCongresso Nacional.

2. Dentro deste enfoque amplo e claro, desenvol-ver a campanha pela exigência do diploma relacionan-do-a e conjugando-a com a qualidade do ensino, de-mocratização da comunicação, código de ética, cam-panhas salariais e a nossa proposta de criação do Con-selho Federal de Jornalismo.

3. Produção das peças publicitárias com os novosenfoques e eixos (cartazes e adesivos). No Paraná fo-ram distribuídos 2 mil adesivos e 150 cartazes na pri-meira fase da campanha.

4. Produção de uma peça institucional da campa-nha para distribuição de massa.

5. Boletim eletrônico semanal com informaçõesatualizadas da campanha.

6. Nova edição do livro “Formação Superior emJornalismo: uma exigência que interessa à sociedade”.Será feita uma atualização, incluindo nova apresenta-ção, matéria com resgate de tudo o que aconteceudesde a primeira edição e seleção de novos textos.

7. Criar peças para rádio e tv, buscando num pri-meiro momento veiculação na rede pública de rádio etelevisão.

8. Incentivar a produção e veiculação de arti-gos em defesa da regulamentação. No Paraná, oSindicato já lançou essa idéia e reforça mais umavez a necessidade de continuar a produção de ar-tigos.

9. Buscar apoios e pareceres junto a entidadese outros conselhos profissionais. No Paraná, já

foi feito durante a primeira fase da campanha, maso Sindicato buscará mais apoios.

10. Retomar os abaixo-assinados.11. Realizar um dia nacional em defesa da re-

gulamentação profissional (7 de abril).12. Buscar apoio do Governo Federal, de enti-

dades do campo da comunicação e de classe econselhos profissionais.

13. Propor ao governo a criação de um espaçopúblico para a discussão das políticas públicas decomunicação, debatendo-se neste, por exemplo,o modelo de comunicação, o desemprego e ques-tões trabalhistas em geral. A idéia é uma comis-são tripartite governo, Fenaj e empresariado.

14. Realizar um seminário no Congresso so-bre regulamentação profissional e direito à in-formação, aproveitando a Comissão de DireitosHumanos da Câmara.

A Comissão Nacional da Campanha em Defesada Regulamentação Profissional dos Jornalistas temuma coordenação com quatro integrantes, além daparticipação de todas as vice- presidências regio-nais da Fenaj e um representante de cada Sindicato.

O deputado Ângelo Vanhoni, (no centro), com MárioMessagi Jr. (à esquerda) e Silvio Rauth Filho (à direita)

Pastor Oliveira:“responsabilidade

com a notícia”

Júlio Covello

Luiz Augusto Costa

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E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 6 1 - j a n e i r o a a b r i l - 2 0 0 3 - 11

ODia do Jornalista, 7 de abril,foi marcado por uma grandemanifestação em Curitiba.

Cerca de 300 profissionais e estudan-tes de jornalismo participaram de umprotesto contra a sentença da juízaCarla Rister, da Justiça Federal deSão Paulo , que suspende aobrigatoriedade do diploma para oexercício da profissão. O Sindicatodos Jornalis tas Profissionais doParaná — Sindijor-PR organizou oato, com apoio da União Paranaensedos Estudantes (UPE), do Sindicatodos Bancários de Curitiba, do DCEMude (UTP) e de vários centros aca-dêmicos.

A manifestação começou às 10h,na Boca Maldita, com a distribuiçãode 20.000 panfletos. Logo em segui-da, a pedido do Sindijor-PR, o grupoteatral ´Respirar-te´ fez no local umaapresentação ironizando a sentença dajuíza Carla Rister e a ação movida pelopromotor André Ramos, do Ministé-rio Público Federal de São Paulo.

Depois da apresentação, os ma-nifestantes seguiram pelo calçadão daRua 15 de Novembro carregando umdiploma de 3 metros e acompanha-dos de um carro de som. Em frenteà sede Procuradoria da República noParaná, jornalistas e estudantes blo-quearam a entrada do prédio e deita-ram no chão. O pres idente doSindijor-PR, Mário Messagi Júnior,fez um pronunciamento alertandosobre as distorções e erros contidosna ação movida pelo promotor AndréRamos. A manifestação terminou naPraça Santos Andrade, com maispanfletagem e com os presentes can-tando o Hino Nacional.

“Alcançamos nosso objetivo.Mostramos para a população o repú-dio dos jornalistas a uma decisão mí-ope dessa juíza”, afirmou MessagiJúnior. “Foi um sucesso absoluto. Émais uma prova de que o Sindijor tempoder de mobilização e de reação”,defendeu Silvio Rauth Filho, diretor-executivo da entidade.

Atividades e protestos com omesmo objetivo foram realizadosnas principais cidades do Paraná edo Brasil, organizados pelos sin-d i c a t o s d e j o r n a l i s t a s e p e l aFENAJ.

diploma

Manifestação unejornalistas e estudantesem defesa do diploma

Nesta segunda-feira, 7 de abril de2003, é dia de luta para uma catego-ria de trabalhadores brasileiros: os jor-nalistas. Há um ano e meio, não exis-te nenhum critério para obtenção doregistro de jornalista e atuar profissi-onalmente. Uma decisão da juízaCarla Rister, da Justiça Federal de SãoPaulo, suspendeu em todo País a exi-gência de qualquer formação para oexercício da nossa profissão.

A juíza paulista, na verdade, sus-tenta a confusão entre exercício pro-fissional do jornalismo e direito de ex-pressão. Enquanto o direito de ex-pressão é inerente à existência da ci-dadania em qualquer sociedade demo-crática, e válida para todos, o exercí-cio da profissão atinge tão somenteaqueles que utilizam o jornalismocomo meio de vida. Qualquer cida-dão, desde que autorizado pelo pro-prietário do veículo, pode se manifes-tar livremente em jornal, rádio, revis-tas, TVs etc. No entanto, jornalismo,só deve ser praticado por jornalistas.

O resultado previsível desta deci-são judicial será uma sociedade aindamais distante das condições ideais deacesso à informação de qualidade, éti-ca e pluralista, imagem reforçada deum país condenado pelo monopóliodos meios de comunicação, cuja con-centração é vedada pela ConstituiçãoFederal, este sim, um princípio cons-tantemente desrespeitado.

A Federação Nacional dos Jorna-listas (FENAJ) e todos os Sindicatosde Jornalistas a ela filiados reafirmamo seu entendimento de que a decisãoda juíza é contrária ao interesse pú-blico. É, ainda, uma decisão retrógra-da, pois tenta retirar dos jornalistasuma conquista de 80 anos de luta, queé a exigência de formação específicapara a obtenção do registro profissi-onal.

A FENAJ e os sindicatos de jor-nalistas do país mantém a confiançade que a lei da profissão é absoluta-mente constitucional e que, por essarazão, alcançarão a vitória na decisãofinal sobre essa questão. Portanto,neste 7 de abril, dia do jornalista, re-pudiam publicamente mais essa ten-tativa oportunista de desregulamentara profissão e que ameaça o verdadei-ro princípio da liberdade de expres-são e do acesso público à informaçãolivre, plural e democrática.

Federação Nacional dos Jornalistas

Manifesto emDefesa daProfissão

VEJA NA PRÓXIMA EDIÇÃOComo foi o 7 de Abril no Interior do Paraná

Valdenêr P. de Oliveira

Valdenêr P. de Oliveira

Alu

ísio

de

Pau

la

O grupo Respirar-te fez apresentação criticandoa decisão de Carla Rister

MárioMessagi Jr.discursa emfrente à sededo MinistérioPúblicoFederal

A porta daProcuradoria

foi fechadapelos

manifestantescom a ajuda

de umdiploma de 3

metros

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12 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 6 1 - j a n e i r o a a b r i l - 2 0 0 3

Opresidente do Sindicato dosJornalistas Profissionais doParaná, Mário Messagi Júnior,

fez no dia 1º de abril um pronunciamen-to na Assembléia Legislativa do Paranápedindo o apoio dos deputados estadu-ais à luta da categoria contra a decisãoda juíza federal Carla Rister, que revo-gou a obrigatoriedade do diploma para oexercício da profissão. Apresentado pelodeputado Ângelo Vanhoni (PT), Messagiafirmou que, embora a luta em defesado diploma interesse muito à categoria,a discussão sobre o assunto diz respeitoa todos os cidadãos que fazem a demo-cracia.

Depois do seu pronunciamento, opresidente do Sindicato recebeu o apoioà luta dos jornalistas profissionais emdefesa da obrigatoriedade do diploma dosdeputados Tadeu Veneri (PT), HomeroBarbosa Neto (PDT) e Elza Correia(PMDB). Também representantes daUnião Paranaense de Estudantes (UPE)e do Diretório Central de Estudantes(DCE) Mude da Universidade Tuiuti doParaná estiveram dando seu apoio naAssembléia.

Leia abaixo a íntegra do discurso.

EM DEFESA DA PROFISSÃO DE JORNALISTA

Pronunciamento proferido na As-sembléia Legislativa do Paraná, no dia1º de abril de 2003.

Digníssimo presidente da AssembléiaLegislativa do Paraná, deputado HermasBrandão, demais membros da mesa di-retora, senhores deputados estaduais,colegas jornalistas, demais presentes.

Gostaria de iniciar o meu pronuncia-mento me dirigindo primeiro aos meuscolegas de profissão. Sem vocês, carosjornalistas, esta casa legislativa estarialonge do povo, a quem deve represen-tar. Sem jornalistas e sem jornalismo, ademocracia ficaria míope, e o povo nãoteria como interferir e escolher seus le-gítimos representantes.

Senhor presidente, não se faz demo-cracia sem a tripartição dos poderes,mas também não se faz democracia, emparte alguma do mundo, sem jornalis-mo e sem bons jornalistas. Onde come-çam os regimes de exceção, rapidamen-te se impõem o silêncio à imprensa e,logo na seqüência, se diminui ou se cala

Em defesa do Jornalismo

Presidente do Sindicato pede apoio aoLegislativo em defesa do diploma

o Legislativo. Por isso, de certa forma,somos, cada uma com seu papel, fun-damentais para democracia: legislativoe imprensa.

Senhores deputados, vossas senho-rias, fontes constantes de nossa ativida-de, sabem, melhor do que qualquer um,a importância de bons jornalistas. Porisso, recorro a esta casa para pedir apoioa uma categoria, é verdade, mas sobre-tudo ao perfeito funci-onamento da democra-cia.

Relato os fatos. Nodia 18 de dezembro de2002, a juíza federalCarla Rister acolheu osargumentos do procura-dor André Ramos eexarou uma sentençarevogando o inciso V, doartigo 4º, do decreto972/69, que exigia for-mação superior em jor-nalismo para o exercí-cio da profissão. A partir de então, qual-quer pessoa pode se dirigir à DelegaciaRegional do Trabalho e solicitar seu re-gistro profissional de jornalista, bastan-do para tanto não ser julgado e conde-nado na justiça, ser brasileiro e ter car-teira de trabalho.

A juíza proferiu sua sentença combase nos seguintes argumentos:

1) a exigência de diploma configuraelitismo indisfarçável, pois cerceia o in-gresso na profissão de qualquer pessoa“talentosa” que não tenha a possibilida-de de fazer um curso superior. Parte da

duvidosa premissa de que talento é algoinato e não formado ao longo de todauma vida e aplica um princípio geral aum único caso específico. O elitismoestá em toda sociedade, desde a exigên-cia de primeiro grau para ser gari, o desegundo para ser bancário até a neces-sidade de mestrado para ser professoruniversitário. Coerente seria, com baseneste argumento, não restringir o aces-

so de ninguém a qual-quer profissão;

2) a lei teriasido promulgada emépoca adversa, num re-gime de exceção, poruma junta militar. Ajuíza desconsidera,olimpicamente, a exis-tência do decreto lei83284/79, que dez anosdepois confirmou a re-gulamentação da pro-fissão de jornalista e foipromulgado por um

presidente da República. Podem, ainda,argumentar que estávamos em uma di-tadura. No entanto, num país como onosso, que viveu mais períodos de ex-ceção que de democracia plena, argu-mentar que isto invalida uma lei é des-montar boa parte de nosso arcabouçojurídico, incluindo o sistema de repre-sentação das unidades federativas no Se-nado e a CLT;

3) a juíza considera que não há nadade específico na formação de um jorna-lista, nem uma ética, nem uma técnica,nem princípios jornalísticos. Por isso,

qualquer um, com boa formação geral ecom capacidade de redigir textos, po-deria exercer a profissão. No entanto,caros parlamentares, a decisão de pu-blicar ou não uma declaração ou outrados senhores envolve uma escolha quese rege por princípios jornalísticos. Ojornalismo é o principal agente da agen-da pública de discussão, é a atividadeque define o que em política é impor-tante para a sociedade discutir. Isto ca-racteriza a especificidade da atividade,entre tantas outras coisas. Mas não voume alongar neste ponto. E explicarei asrazões um pouco mais à frente;

4) segundo a sentença, apenas pro-fissões que colocam a vida em perigo,diretamente, deveriam ser regulamenta-das, como médicos, engenheiros... deresto, não competiria ao Estado regula-mentar profissões por outros motivos.Esta concepção é simplória.Desconsidera um tempo em que as co-municações ganharam uma dimensãoformidável e exercem um poder simbó-lico que, no limite, também mata. Aguerra no Iraque se assenta sobre o apoioda opinião pública norte-americana,construída nos bastidores da notícia. Adifamação e a calúnia acabam com vi-das, sim, como induziram, no Paraná,um profissional honrado a se suicidar,num caso relativamente recente. Ade-mais, por este limite, todas as profis-sões da área de humanidades e de soci-ais aplicadas deveriam serdesregulamentadas: economistas, con-tadores, administradores, sociólogos,historidores e, evidentemente, advoga-dos. Para que exigir que nas salas deaula professores de literatura tenham queter feito curso superior de Letras? Vos-sos filhos, se não gostarem de literatu-ra, não morrerão. Além do quê, tal for-mação prescinde de curso superior.Compete ao Estado proteger a socieda-de e regulamentar áreas que considererelevantes, tanto exigindo formação ade-quada dos nossos professores quantoformação adequada dos nossos jorna-listas;

5) por fim, o último argumento. Alei fere, na concepção da juíza, a Cons-tituição, pois limita o acesso e a expres-são da opinião. Por isso, ao colidir como artigo 5º da Carta Magna, teria se tor-nado inconstitucional. Nada mais tolo.Exercer o jornalismo não é expressar aprópria opinião diariamente nos jornais.Jornalistas reportam, mediam as vozes

Mário Messagi Júnior discursa na AssembléiaLegislativa do Paraná defendendo o diploma

Júlio Covello

“A luta pelodiploma não ésó nossa, masde qualquercidadão que

preza ademocracia”

Mario Messagi Jr.

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E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 6 1 - j a n e i r o a a b r i l - 2 0 0 3 - 13

alheias. Os senhores sabem tanto dissoque devem cobrar dos jornalistas quesuas declarações sejam tratadas de ma-neira transparente. Além disso, a lei per-mite que qualquer pessoa escreva nosjornais, manifestando sua opinião. Seeste espaço é restrito pelas empresas,este problema está muito longe da regu-lamentação da profissão. A juíza con-funde, lamentavelmente, opinião e infor-mação, por inépcia ou má-fé. A senten-ça, no limite, deveria produzir o resulta-do que objetiva. Ou seja, extinta a exi-gência do diploma, o acesso ao espaçoeditorial dos jornais deveria ser franque-ado a qualquer cidadão. É isto que acon-teceria?

A miopia da decisão não vê que di-reito de expressão é algo distinto de di-reito de informação. A lei nunca impe-diu que qualquer pessoa manifeste suasopiniões nos jornais. As empresas decomunicação, sim. De qualquer forma,o que deve estar garantido na democra-cia é, mais que isso, o acesso às infor-mações, com qualidade, transparênciados atos dos três poderes para que aopinião pública possa se formar legiti-mamente e não manipulada.

Ademais, num país onde uma emis-sora de TV pode comprar os direitos detransmissão de um evento esportivo enão transmiti-lo, ferindo meu direito ci-dadão de ser informado, tratar a regula-mentação dos jornalistas como uma res-trição ao direito de informação é risível.

Mas o mais grave, senhores, não éisso. Discutir se uma profissão exige aformação superior, a especificidade daformação em jornalismo, o elitismo dalei, a especificidade ética da profissãocompete ao Legislativo, não ao Judiciá-rio. O que a juíza está fazendo fere, fla-grantemente, o estado democrático dedireito, a tripartição de poderes na Re-pública. Toda essa discussão não lhecompete, mas sim ao Legislativo. Quan-do um poder se arvora o direito de exer-cer atividades de outro, algo está erradona democracia. Como se a simplesdesregulamentação em si não colocasseem risco a democracia, a própria sen-tença, pelo seu teor, é uma agressão aesta casa e a todas as casas legislativasque zelam pelo seu papel.

Por isso, o Sindicato dos JornalistasProfissionais do Paraná está aqui hoje,pedindo o apoio da AssembléiaLegislativa do Paraná, numa luta que in-teressa muito à nossa categoria. Poréma discussão não é só nossa, mas de qual-quer cidadão que preza a democracia.

1º de abril de 2003.Mário Messagi Júnior

Presidente do Sindijor-PR

Convenção Coletiva garanteobrigatoriedade do diploma no Paraná

Em defesa do Jornalismo

Adecisão da juíza Carla Rister, da16a Vara Cível da Justiça Federal de São Paulo, de acabar com

a obrigatoriedade do diploma para o exer-cício do jornalismo não tem efeito noParaná. O motivo é a cláusula 38 daConvenção Coletiva de Trabalho 2002/2003 (CCT 02/03), assinada entre ossindicatos dos jornalistas paranaenses eos sindicatos das empresas de jornais,revistas, televisões e rádios do Estado.A CCT, com validade de 1o de outubrode 2002 a 30 de setembro de 2003, tempeso de lei.

A cláusula 38 proíbe que empresasjornalísticas contratem jornalistas semo registro profissional estabelecido peloDecreto 83284 de 1979, que determinaa obrigatoriedade do diploma para o exer-cício do jornalismo. Portanto, estará ir-regular e passível de multa a empresaque empregar pessoa com registro pre-cário – denominação utilizada pelo Mi-nistério do Trabalho para as concessõessem o diploma.

O único efeito da decisão da juíza noParaná será permitir que qualquer pes-soa consiga o registro precário. Entre-tanto, não poderá trabalhar em empresajornalística situada no Estado.

O Sindicato pede que todos os jor-nalistas ajudem na fiscalização e denun-ciem qualquer empresa jornalística quecontrate profissionais irregulares. Onome de quem fizer a denúncia serámantido em sigilo. Caso não tenha cer-teza se o profissional em questão édiplomado ou não, consulte o sindicato,que possui a relação dos registros pro-fissionais abrangidos pela CCT, ou seja,os concedidos na forma do Decreto83284 de 1979, e também a relação detodos os registros precários.

A cláusula 38“A prestação de serviços em qual-

quer uma das funções previstas peloDecreto n. 83284/79 é privativa de pro-fissionais jornalistas habilitados na for-ma da lei em qualquer empresa ou veí-culo de comunicação ou a ele equipara-dos.

Parágrafo único: A empresajornalística ou a ela equiparada compro-mete-se a cumprir rigorosamente o quedispõem os artigos 302 e seguintes daCLT ou seu correspondente em caso dealteração da CLT, o Decreto-Lei n. 972/69 e suas regulamentações posteriores,especialmente o Decreto n. 83284/79.

Luta permanenteO Sindicato dos Jornalistas Profissi-

onais do Paraná - Sindijor-PR alerta quea luta pelo diploma não pode parar, mes-mo com a cláusula 38 da CCT 02/03.

“A decisão da juíza representa umatentado grave ao Decreto 83284, umaconquista histórica dos jornalistas bra-sileiros. Se não respondermos a esse ata-que, ficaremos fragilizados”, argumen-ta a diretoria do Sindijor-PR. “Mesmoque o Paraná esteja em situação privile-giada, por causa da CCT, precisamoslutar em defesa do jornalismo, para quenão seja vítima de novos golpes”, de-fende a entidade, que espera contar como apoio de todos os filiados nessa cam-panha.

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Luís Henrique Pellanda

Orepórter Carlos Dorneles, na Globo há 20 anos, ex-correspondenteem Londres e Nova Iorque, aca-

ba de lançar um livro. Pouca gente sabe.O trabalho não está sendo muito comen-tado pela mídia nacional. Trata-se deDeus É Inocente, um estudo sobre a for-ma parcial, conivente ou passiva com quea imprensa viria divulgando, desde osatentados de 11 de setembro de 2001, in-formações sobre a Guerra doAfeganistão, as ameaças ao Iraque, o ter-rorismo e os conflitos entre judeus e pa-lestinos. Durante um ano, Dorneles con-sultou várias agências internacionais denotícias e alguns dos maiores jornais erevistas mundiais, como os norte-ameri-canos The Washington Post, The NewYork Times e Time Magazine. No Brasil,concentrou sua pesquisa sobre sete veí-culos: O Estado de S. Paulo, Folha de S.Paulo, Jornal do Brasil, O Globo, Época,Veja e IstoÉ. As conclusões do autor sãodesanimadoras. Em entrevista ao Cader-no G da Gazeta do Povo, Dorneles falousobre manipulação de informações e acrise de confiabilidade por que passa aimprensa.

Caderno G – Como a imprensa rece-beu o lançamento de seu livro? Houvealgum retorno?

Carlos Dorneles – Nenhum. E eunão esperava o contrário. Não houve, emnenhum dos jornais ou revistas, qualquerreferência ao livro. Tenho a impressão,mas não a certeza, de que o Estadão deuuma pequena nota sobre o lançamento.Mas não consigo imaginá-los fazendouma reportagem sobre um livro que cri-tica o trabalho deles.

Como as redações brasileiras poderi-am fugir do texto das agências interna-cionais?

Não é fácil. Não só no Brasil, mas nomundo ocidental inteiro, o massacre dasagências de notícias é impiedoso. Elas têmo monopólio da informação. Mas nãobasta dizer: “Vamos resistir.” Porque nãoé apenas o leitor que é influenciado poressas informações. Os próprios jornalis-tas acreditam no que publicam. Acredi-tam por acreditar ou por passividade.

E a crise entre Estados Unidos eCoréia do Norte? Assim como fez comBin Laden e Saddam Hussein, a impren-sa estaria pintando Kim Jong Il como lou-

Entrevista

Massa de manobraco ou exótico?

Sem dúvida. Vi ontem, na televisão,uma chamada mais ou menos assim: “Oditador esquisito”. Para provar sua es-quisitice, a matéria falava que ele gostade velocidade e cinema. É exótico gostarde cinema? O importante é que os Esta-dos Unidos estão pipocando para a Coréiado Norte, enquanto são extremamenteexigentes com o Iraque. A diferença en-

tre um e outro é óbvia: petróleo. Mas vocêpode ter certeza de que não foi um reda-tor ou um editor da Record ou da Bandque resolveu chamar Kim Jong de exóti-co. Isso já veio pronto nas agências denotícias. Esse é o tom de todas as cober-turas.

E dentro da Globo?A dificuldade é a mesma de qualquer

outro órgão de imprensa. É muito com-plicado você dar uma visão que seja di-ferente da passada pelas agências. Quan-do isso acontece, dizem: “O quê? Estátodo mundo falando que o ditador daCoréia do Norte é um insano e você con-

ta uma história diferente?” Um colegameu, de jornal, me disse: “Peguei umareportagem sobre Israel que era obvia-mente um informe oficial do exército is-raelense. Os palestinos não tinham histó-ria. Sobre os israelenses havia todo umdrama.” Ele quis saber: “O que eu faço?Corto do jornal?” É muito complicadodecidir. O primeiro passo é ter um espí-rito crítico – o que já é difícil. O segundo

é colocá-lo em prática. Difícil também.Mas acho que há sempre um meio-ter-mo. Você não precisa romper com os li-mites da grande imprensa ou botar suacabeça a prêmio para fazer um trabalhohonesto. Nem é preciso fazer editoriais.Não há condições ou poder para isso. Masvocê pode, no dia-a-dia, ir limpando es-sas informações, dando prioridade à no-tícia, não acreditando no que não temfundamento jornalístico, no que não foicomprovado. Ou apenas tentando apu-rar os fatos – coisa que não se faz emcobertura internacional.

Em relação à cobertura dos conflitos

entre judeus e palestinos, o medo de serconsiderado anti-semita influencia mui-to o jornalista?

Como os maiores desastres da huma-nidade aconteceram com os judeus, issoé usado politicamente para calar vozescríticas, hoje, quando Israel já domina umpovo há décadas. Absurdo. São fatosabsolutamente distintos.

Israel deve ser cobrado duramentepelo que pratica hoje. Mas é evidente queo conservadorismo judaico usa isso commuita eficiência, inclusive no Brasil. Qual-quer crítica é considerada anti-semitismo.

Seu livro é direcionado mais à opi-nião pública do que à imprensa. Por quê?A imprensa nunca muda?

Não tenho a ambição de mudá-la. Se-ria muita petulância. Mas quero dar mi-nha contribuição. Em pesquisas deconfiabilidade, a imprensa nunca apare-ce entre os primeiros. É aquele descrédi-to iconoclasta e incendiário: nada prestana imprensa, os jornalistas são todos unsabutres. O que eu quis foi dar subsídiospara que as pessoas reflitam não só so-bre os acontecimentos internacionais,mas sobre as entrelinhas dos jornais, paraque saibam como consumir tanta infor-mação. Aliás, sempre se diz que a infor-mação é uma coisa ótima, quanto maismelhor. Tenho convicção de que a quan-tidade de informação não representa nada.Se fosse assim, o povo americano seriao mais sábio do mundo. Hoje, o acesso àinformação é fantástico. Isso significa queas pessoas estão mais esclarecidas?

A melhor e a primeira crítica aosmétodos da imprensa deveria, então, serfeita por ela própria?

A primeira, eu diria. E não é feita. Aimprensa é muito corporativista, não ad-mite críticas.

Sobre o Iraque, você vê futuro nessaguerra anunciada?

Bush está numa situação difícil. Elequer a guerra de qualquer jeito. E, quan-to mais o tempo passa, mais difícil fica.Essa guerra é injustificável, um escânda-lo. A Coréia do Norte abertamente desa-fia os Estados Unidos. E, com os norte-coreanos, eles negociam. Qual a diferen-ça? A Coréia do Norte tem uma bombanuclear e o Iraque tem petróleo. São tra-tamentos diferenciados. O mundo começaa reagir contra a guerra. E, mesmo queencontrem armas no Iraque, isso já seriaum absurdo. Por que a maior superpo-

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Carlos Dorneles: “o massacre das agênciasde notícias é impiedoso”

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Política

Matéria sobre salário dedeputados paranaenses

gera contestação

Sai Mesa Executiva, entra novaMesa Executiva, e antigos vícios teimam em persistir na

Assembléia Legislativa do Paraná. Nasegunda-feira, 3 de fevereiro, o Jor-nal do Estado publicou matéria como título “Verba de deputado passa deR$ 54 mil”. Como a matéria expli-cou, esse total inclui os R$ 9,5 milde salário do deputado, mais R$ 30mil de verba de gabinete, além de R$15 mil de verba de ressarcimento.

Na verdade, segundo o informa-tivo Para Todos de março/abril de2003, do mandato do deputado es-tadual Tadeu Veneri (PT), a verbaque cada deputado recebe todo mêschega quase aos R$ 60 mil.

No dia seguinte, o presidente daAssembléia Legislativa, deputadoHermas Brandão (PSDB), contestoudado da matéria, afirmando quecada parlamentar tem direito a R$12 mil mensais para a contrataçãode funcionários em cargos de con-fiança, e não R$ 30 mil.

Segundo Ivan Santos, editor depolítica do Jornal do Estado, “a As-sembléia Legislativa continua sendouma caixa preta e ninguém conse-gue obter informações sobre os seusgastos. Essas informações devemser públicas. Qualquer cidadão deveter acesso a esses dados, e muitomais os jornalistas, porque é dinhei-ro dos contribuintes”. Ele afirmaque o JE fez o seu trabalho e nãovai voltar mais ao assunto.

A matéria do JE, assinada pelorepórter José Marcos Lopes, publi-ca que, “apesar da promessa danova Mesa Executiva da Assembléiade dar mais transparência às contasda Casa, ainda é difícil descobrir aocerto o valor a que cada deputadotem direito por mês. A maioria dosparlamentares não gosta de comen-tar o assunto, principalmente o rea-juste na verba de ressarcimento”,que deve ser reajustada de R$ 13 milpara R$ 15 mil na atual legislatura.

Para Ivan Santos, “o mais im-portante é a transparência. A con-testação do presidente da Assem-bléia foi pontual, relativa apenasaos salários”. Existem documentos

de gabinetes de deputados com-provando repasse acima de R$ 59mil aos parlamentares. “É precisocobrar da Mesa Executiva da As-sembléia que ela tem a obrigaçãode passar informações corretas ,inclusive à imprensa”.

Segundo o deputado estadualTadeu Vener i (PT) , o problemacom a t ransparência das contastambém ocorria na Câmara Muni-cipal de Curitiba. Mas foi resolvi-do desde que a Câmara passou apublicar todos os seus gastos noDiário Oficial, e assim qualquercontribuinte pode saber onde estásendo empregado o dinheiro que écobrado dele através dos impos-tos .

Durante a elaboração da maté-ria, o que chamou a atenção dosjornalistas do JE é que a maioriados parlamentares não gosta decomenta r o a s sun to , p r inc ipa l -mente o reajuste na verba de res-sarcimento. “Inclusive deputadosdo PT, partido que sempre defen-deu a transparência nas contas pú-blicas, preferem silenciar sobre oque cabe a cada parlamentar naAssembléia Legislativa”, diz IvanSantos . Os deputados argumen-tam que o seu salário é “justifica-do” pela Constituição Federal, quedetermina que o valor não passede 75% do que é pago aos depu-tados federais.

tência do planeta pode possuir armamen-tos de todo tipo e o Iraque não? Antes,os Estados Unidos prometiam guerra seo Iraque não permitisse a entrada dos ins-petores. Tinham certeza de que Saddamnunca aceitaria isso. Mas aceitou. Ago-ra, têm que achar outro motivo para aguerra. Então começam as provocações:fazem os inspetores entrar em palácios.Imagine uma comissão, no Brasil, man-dada pelos Estados Unidos, entrando noPalácio do Planalto. É uma humilhação.Querem que alguém diga: “Aí já é demais,aqui não pode entrar.” Pronto. É ali queestarão as tais armas nucleares. Bush éum perigo para o planeta. Mas, à medidaque o tempo passa, vou ficando mais oti-mista. As coisas estão ficando mais difí-ceis para ele.

O que você achou da cobertura daseleições no Brasil e das manchetes sobreo nervosismo do mercado?

Mais uma vez, a imprensa serviu comomassa de manobra do chamado merca-do. Foi para o lado que ele definiu. Todasas manchetes econômicas eram ao sa-bor da sua vontade. Isso continua, mes-mo depois das eleições: “O mercado pede,quer, espera.” A chantagem do mercadofoi imediatamente absorvida pela impren-sa. Eu gostaria de escrever, para o futu-ro, um trabalho mais detalhado sobre aatuação do tal Mercado com M maiús-culo no Brasil. Quem é o mercado e quemé a imprensa nessa relação?

E o chamado “poder paralelo” noRio, como ele é tratado pela impren-sa?

Você fala do tráfico? Sempre mequestionei sobre o que seria o tal crimeorganizado. Para mim, é desorganizado.Mas a imprensa cria uma organizaçãoque, na verdade, não existe. O que te-nho visto é chamarem de organizado ocrime na favela. Uma garotada que morremuito cedo. O que eu chamo de crimeorganizado é aquele que nunca aparece.Mas a imprensa tem o hábito de trans-formar a bandidagem em mito. É o Co-mando Vermelho, o PCC. Como se fos-sem organizações extremamente efici-entes. Transformam uma pessoa nomaior dos bandidos. Daí matam aquelebandido e começa tudo de novo.

A imprensa, então, viveria da substi-tuição constante de um mito por outro?

Em todos os setores, do esporte àeconomia.

Matéria publicada no dia 20 de ja-neiro de 2003 e transcrita com a au-torização do autor.

VERBA DOS DEPUTADOS

Salário do deputado:

R$ 9.540,00Verba de assessoria:

R$ 30.229,78Verba de ressarcimento:

R$ 20.000,00Fonte: Informativo ParaTodos, março/abril de 2003, do mandato do deputado estadual Tadeu Veneri (PT)

“Asinformações

da AssembléiaLegislativadevem serpúblicas.Qualquer

cidadão deveter acesso a

seus dados, emuito mais os

jornalistas,porque é

dinheiro doscontribuintes”

Ivan Santos,editor de Política do Jornal do Estado

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Um laboratório de idéias formidá-vel e uma mistura surpreenden-te de reflexões e debates sobre

a globalização e seus efeitos, que des-pertou um entusiasmo cada vez maiordesde a sua criação, em 2001, para seopor ao Fórum Econômico Mundial, emDavos, na Suíça. Foi assim que o jor-nal francês Le Monde definiu o FórumSocial Mundial, que teve a sua terceiraedição em Porto Alegre, de 23 a 28 dejaneiro.

Como nos anos anteriores, o Fórumfoi aberto com uma grande marcha,com mais de 70 mil pessoas que ex-pressaram a sua oposição à guerra e aoneoliberalismo. A manifestação se es-tendeu pelas ruas centrais da capital ga-úcha no final da tarde do dia 23, paraterminar perto do Acampamento da Ju-ventude, um enorme ajuntamento debarracas que abrigou cerca de 25 miljovens do mundo inteiro.

O alvo comum dos manifestanteseram os Estados Unidos. Nas faixascarregadas por grupos de pessoas devários países da América Latina e daEuropa, a palavra “imperialismo” vol-tou à moda. O rosto de Che Guevaraera exibido nas camisetas por muitosjovens ou agitado ao vento nas bandei-ras. A solidariedade aos palestinos apa-recia em cartazes com as palavras “VivaArafat”. Cem judeus pacifistas, brasi-leiros e israelenses, estavam presentes,manifestando-se em favor da paz.

Do Fórum Social Mundial partici-pam associações empenhadas nas re-formas econômicas, confederações sin-dicais internacionais, associações hu-manitárias, ordens religiosas dedicadasà promoção social, partidos políticosbrasileiros, movimentos sociais, traba-lhadores sem terra, povos indígenas detoda a América Latina, e até adeptos dameditação indiana. “Aqui se encontramrepresentantes de todas as tribos”, ob-serva Gerson Almeida, secretário doMeio Ambiente da Prefeitura de PortoAlegre. O clima é muitas vezes de fes-ta, sempre descontraído. Nele são tro-cados muitos endereços de sites naInternet. Um participante tenta o inglêscom uma interlocutora que julgava bra-sileira e depois o espanhol, e finalmen-te descobre que ambos são franceses.

Um agrupamento heterogêneoPorto Alegre é uma torre de Babel

social, basicamente contra a guerra, umagrupamento muito heterogêneo com

preocupações humanistas. No primei-ro ano se credenciaram 4 mil delega-dos de organizações, vindos de 122países, num total de 10 mil participan-tes. Em 2002 já eram 60 mil e 100 milem 2003.

Os mais animados são os brasilei-ros. Eles vêm de todos os Estados, emgrandes caravanas ou em pequenosgrupos. O país vive uma mudança po-lítica, o início da era Lula e o tempo documprimento das promessas – da fomezero e da erradicação do analfabetismo.Mas o evento atrai a América Latina

inteira, atingida pelas crises, e, do ou-tro lado do Atlântico, os europeus, prin-cipalmente franceses e italianos. Aindapouca gente da África, e menos aindado mundo árabe, eslavo e asiático.

Na multidão cosmopolita, é possí-vel encontrar todo tipo de anônimos,resistentes de uma causa, membros deum movimento, de uma associação,engajados nas regiões da utopia. A paz,neste ano, esteve escrita em todos ossuportes, bandeiras, cartazes, camise-tas, e até nas testas. Muitos participan-tes do Fórum defendem duas causas:contra a guerra e contra a Aids. Umgrupo de norte-americanos de Michiganveio a Porto Alegre para defender “odireito à água”. Mas não se esquece daguerra: “Quanto mais gente se mani-festar contra a guerra, melhor”, diz aamericana Holly.

Neste ano, devido ao sucesso cada

vez maior, o comitê organizador brasi-leiro distribuiu o evento por vários pon-tos da capital do Rio Grande do Sul.Além do complexo da Pontifícia Uni-versidade Católica (PUC), pólo centraldo evento, um ginásio de esportes co-berto, o Gigantinho, do Internacionalde Porto Alegre, acolheu conferencis-tas, intelectuais engajados, dirigentes deorganizações e políticos, que se expres-saram perante auditórios lotados commais de 15 mil pessoas muito anima-das. No cardápio das intervenções,“Imperialismo, guerra e unilateralismo”,

“Paz e valores”, “Meios de comunica-ção e globalização”. A alguns quilôme-tros dali, à beira do rio Guaíba, setearmazéns enormes viram suceder-semesas-redondas que acolheram de 200a 300 pessoas, “pelo direito das cida-des”, “pelo acesso pleno à água, à co-mida, à terra”.

Todas as idadesA grande maioria das oficinas ocor-

reram na PUC, ministradas pelas pró-prias associações participantes. Emquatro dias, mais de 1.700 encontrosforam realizados, distribuídos pelas sa-las de aula da universidade. Filas de 30metros formavam-se para esperar nosbalcões o programa do primeiro dia.Havia rostos de todas as idades. As pa-redes, os painéis e os corrimões dasescadas estavam cobertos com peque-nos cartazes, anunciando reuniões so-

bre “a dívida externa”, “a fome em SãoPaulo” ou “a agricultura biológica”. Al-gumas propunham ações concretas ouuma troca de experiências.

Nas avenidas entre os prédios daPUC, uma quantidade enorme deestandes, onde as camisetas com o ros-to de Che Guevara rivalizam com ou-tras contra a intervenção dos EstadosUnidos no Iraque. É possível encon-trar faixas das grandes organizações nãogovernamentais (Ongs) do mundo in-teiro espalhadas por todos os lugares epiqueteiros argentinos em manifesta-

ções ruidosas. Perto doprédio principal da univer-sidade, um grupo folcló-rico gaúcho apresentasuas canções.

Nos corredores, umamultidão enorme. Filas de20 metros formavam-separa entrar nos elevado-res. Nos diversos andares,algumas salas acolhiampequenos grupos de qua-tro ou cinco e outras es-tavam lotadas. Cada umacom o seu tema: “Cons-trução da cidadania desdea infância”. “Uma outraeconomia é possível”, “Vi-olência e controle social”,“A corrupção como en-trave ao desenvolvimen-to”.

Às vezes, a profusãode assuntos levava à con-fusão. “É tudo um pouco

caótico”, comprovava um pesquisadorem ciências sociais sueco, irritado comos problemas de organização. Uma reu-nião sobre a Argentina na sala 709 doprédio 40 era transferida na última horapara a sala 310 do prédio 41.

A “outra globalização”Conforme seus princípios de fun-

dação, o terceiro Fórum Social Mundi-al terminou no dia 28 de janeiro semnenhuma declaração final. Porém, muitagente tomou posição, de forma indivi-dual ou em nome de movimentos soci-ais da “outra globalização” (segundo onovo conceito da antiglobalização). Nes-te ano, foram comuns as declarações emanifestações contra a guerra, princi-palmente no Iraque, e contra qualquerprocesso de militarização.

No último dia, os representantes docomitê organizador se expressaram

Fórum Social Mundial

Um laboratório de idéias formidável

Uma grande marcha, com mais de 70 mil pessoas, inaugurou o Fórum

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numa conferência de imprensa. Nela,Cândido Grzybowski avaliou que “oFórum Social não é mais um evento,mas um processo, uma usina de pen-samentos”. Ele disse que o encontrodeste ano reuniu “mais jornalistas (4mil) que a última Copa do Mundo defutebol” e “deslegitimou oneoliberalismo”. Grzybowski tambémconfirmou que o Fórum Social Mundi-al, previsto para o próximo ano na Ín-dia, será realizado de novo em PortoAlegre em 2005, e não ocorrerá maisnas mesmas datas de Davos, que inici-almente foi o seu contraponto.

Uma espécie de repetição do desfilede abertura, a marcha que acompanhouo encerramento dos trabalhos no dia 27foi o encontro, mais uma vez, deslogans contra a guerra no Iraque, aOrganização Mundial do Comércio(OMC) e a Área de Livre Comércio dasAméricas (Alca, na qual os EstadosUnidos pretendem englobar, a partir de2005, todos os países do continente,com exceção de Cuba).

O tema da guerra apareceu muitasvezes ao lado de outras preocupaçõesdos participantes, tanto econômicascomo políticas ou sociais. Outra vez, o“imperialismo americano” cristalizouboa parte das reflexões saídas de cen-

tenas de assembléias, mesas-redondas,seminários do Fórum, e do grande nú-mero de oficinas organizadas duranteo evento.

“Cultura de resistência”Muitos participantes, como Peter

Wahl, da organização alemã Weed, pe-diu o apoio às organizações e gruposque, nos Estados Unidos, resistem aopensamento do governo de George W.Bush. Vindos em maior número este ano(mais de 1.000), vários delegados ame-ricanos foram muito aplaudidos em suasintervenções. Alguns deles, comoRobert Burbach, do Center for Studyof America, insistiram na “importânciade o Fórum manter ligações com a so-ciedade americana”. Assim, diversasvezes a idéia de organizar um FórumSocial regional nos Estados Unidos foilembrada, para estimular uma “culturade resistência”.

Além da guerra, a questão do res-peito aos direitos fundamentais das pes-soas também esteve no centro de vári-as temáticas, atravessando-as comomotivo condutor: direito ao respeito dadignidade humana, às seguranças ali-mentar e social, à água, à educação eà saúde, à moradia. A maioria dos te-mas foram acompanhados por uma

reflexão mais ampla sobre os meios aserem utilizados para garantir essesdireitos em nível internacional.

Muitas vezes, no Fórum, houvemais perguntas do que respostas. Seas mesas-redondas determinaram cla-ramente os objetivos, as estratégias aserem postas em prática ainda preci-sam ser mais bem elaboradas. Deba-tes tentaram fazer as articulações pos-

síveis entre o surgimento de novosmovimentos sociais, como o FórumSocial, e a ação política. Neste senti-do, Francisco Whitaker, um dos fun-dadores do Fórum, avaliou que oFórum devia ser entendido “como umespaço” e “um lugar de incubação”,onde “os partidos políticos poderiamvir e ouvir o que é dito”, paraaprofundar e renovar suas propostas.

A eleição de Lula atraiu grande número de participantes ao Fórum

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Fórum Social Mundial

Oterceiro Fórum Social Mundi-al, realizado em Porto Alegre, foicoberto por 4.094 jornalistas

credenciados de 1.423 veículos, de 51países do mundo. Desse total 3.262 vie-ram representando veículos de impren-sa, rádio ou tevê e 832 como jornalistasfree-lancers. Brasil, Itália, França, Esta-dos Unidos e Uruguai lideraram a lista dosmeios de comunicação que mais envia-ram representantes ao FSM 2003. O Ex-tra Pauta também esteve presente.

A estrutura de imprensa montadapara o Fórum Social Mundial impressi-onou não só pelo tamanho, mas sobre-tudo pela eficiência. Os jornalistas podi-am servir-se de dois pólos de imprensa.O maior, no estacionamento da PontifíciaUniversidade Católica do Rio Grande doSul, oferecia 160 computadores e 40pontos de conexão para laptop,conectados à Internet e munidos de pro-gramas para texto e manipulação de ima-gens digitais. Foi escolhido o sistemaLinux para que os jornalistas pudessemdispor de softwares gratuitos. No giná-sio Gigantinho, local das conferências emesas-redondas, em outra sala havia 50computadores e 20 pontos para laptops.

No Acampamento da Juventude, umcentro de comunicação independentecolocou 50 computadores à disposição.Estúdios de rádio e TV podiam ser utili-zados pelas emissoras para fazer entre-vistas com todo o conforto. As grandesagências de notícias, como a Reuters ea Associated Press, e algumas redes decomunicação alternativa montaramestandes exclusivos, como a AgênciaLatino-Americana de Informação (Alai)

A explosão da mídia alternativa

e a Associação Mundial de Rádios Co-munitárias (Amarc).

Mais uma vez, o que surpreendeu foia grande cobertura de meios de comu-nicação alternativos. A Ciranda(www.ciranda.net) e a Rede SocialMundial montaram plataformas exclu-sivamente para o Fórum Social Mundi-al. A cobertura da Ciranda encontra-sena Internet, enquanto a Rede SocialMundial produziu matérias para a televi-são e para o rádio.

A Ciranda Internacional de Informa-ção Independente reuniu 800 jornalistas.Segundo Antônio Martins, um dos res-ponsáveis pela edição do site, a Cirandapublicou 50 artigos por dia em seis lín-guas diferentes, além de vídeos, repor-tagens sonoras e ilustrações. Já a RedeSocial Mundial, embora estivesse pre-sente no fórum anterior, só neste foi re-almente operacional. Ela chegou a ofe-recer dezoito horas de programas paratelevisão por dia via cabo, além de pro-

gramas de rádio em três freqüências di-ferentes, nas contas de Gelcira Teles,responsável pelo setor de televisão.

Tanto a Ciranda como a Rede SocialMundial cobriram todo o fórum paratodos os tipos de mídia (com exceçãodo jornalismo escrito). Porém, o volu-me de informação foi tão grande que osmeios de comunicação alternativos per-manentes se revelaram insuficientes.

O trabalho dos meios de comunica-ção comerciais e dos alternativos trans-correu em bom entendimento. “Às ve-zes abordamos os mesmos assuntos, masos conteúdos são diferentes, e os públi-cos também”, explica NormanStockwell, da Amarc. Essa associaçãoreuniu em Porto Alegre vinte jornalis-tas, que produziram programas destina-dos ao seu próprio veículo e para meiosde comunicação comunitários.

Também se credenciaram para a co-bertura a Associação Latino-Americanade Educação pelo Rádio (Aler) e a Rádio

Mais de 4 mil jornalistas de todo o mundo fizeram a cobertura do Fórum

Internacional Feminista (RIF). Nos 30metros quadrados de superfície da salade imprensa, vinte homens e mulheresvindos dos Estados Unidos, da Argenti-na, do Equador, do Paraguai, do Uruguaie do Brasil compartilharam o espaço, pro-curando um outro modo de informar eatender a preocupações de independên-cia em relação às multinacionais da in-formação e para que a informação não sesujeite às pressões do mercado.

Como no Fórum de 2002, foi quasesó a mídia alternativa que informou seusleitores, telespectadores e ouvintes sobreo conteúdo efetivo dos debates. A maio-ria da mídia comercial ficou nos fatos desuperfície, nos atos isolados, no que éexcepcional e “esquisito”, e ignorou aimensa programação do fórum. A mídiacomercial ainda não entrou dentro doFSM, o que renderia pautas fantásticaspara enriquecer uma mídia tão pobre degrandes reportagens. A presença do pre-sidente Luiz Inácio Lula da Silva e a re-percussão do que foi dito em Porto Ale-gre em Davos permitiu ao leitor e espec-tador brasileiro ter uma visão melhor doque foi debatido no fórum. Mas ainda faltamuito para que o leitor, ouvinte,telespectador e usuário da Internet brasi-leiro tenha uma boa cobertura desse even-to.

��������� �� ����� �����������:www.ciranda.net

www.redesocialmundial.orgwww.agenciacartamaior.com.br

www.amarc.orgwww.alai.org

www.mediasol.org

Em um mês de circulação emCuritiba, o jornal Brasil de Fato já con-seguiu mais de 100 assinaturas só nacidade. Em todo o país, elas passamde 3 mil. Comitês destinados à capta-ção de assinaturas foram inauguradosem Ponta Grossa, Cascavel, Maringáe Londrina. Em Curitiba, o lançamen-to do jornal ocorreu no dia 13 de feve-reiro, no auditório lotado do Sindicatodos Engenheiros no Estado do Paraná,com a presença de deputados federaise estaduais, vereadores, dirigentes sin-dicais e lideranças religiosas.

O lançamento oficial do jornal acon-teceu no dia 25 de janeiro, no auditó-rio Araújo Viana, em Porto Alegre, em

Lançamentos concorridos do jornal Brasil de Fatoevento paralelo ao terceiro Fórum So-cial Mundial, com a presença de cercade 10 mil pessoas. A explicação paraessa grande afluência é que não se tratade um jornal qualquer: como declara-ram vários participantes, ele representauma nova experiência no esforço pararecuperar a informação e a comunica-ção como um direito do cidadão e aserviço da organização social.

A apresentação pública do Brasil deFato foi acompanhada não só por umgrande número de brasileiros, mas tam-bém por delegações de movimentossociais e populares de diversos paísesque participaram do Fórum. Dezenasde intelectuais, artistas, políticos e au-

toridades se fizeram presentes. O even-to foi prestigiado pelo escritor uru-guaio Eduardo Galeano, autor de “Asveias abertas da América Latina” e“Memórias de Fogo”, e pela argenti-na Hebe de Bonafini, presidente dasMães da Praça de Maio.

Brasil de Fato nasceu depois de umlaborioso processo que incluiu não sóa garantia da qualidade jornalística,mas também da parte econômica. Aexperiência inclui um sistema de pe-quenas contribuições das principaisorganizações sociais do Brasil. Noinício ele terá edição semanal e a par-tir de junho seu editor-chefe, JoséArbex Júnior, espera transformá-lo

num diário que “não só informe mastambém eduque e contribua para for-talecer o movimento social e partici-pe das mudanças de que a sociedadebrasileira precisa”.

O lançamento do Brasil de Fato foiuma festa. No palco do Araújo Vianapersonalidades políticas e intelectuaisdo Brasil e da América Latina expres-saram suas opiniões sobre o lança-mento do jornal, num revezamentocom músicas, clamores e aplausos,aos quais se juntaram Sebastião Sal-gado, mestre da fotografia social,Olívio Dutra, ministro das Cidades eex-governador do Rio Grande do Sul,e Aleida Guevara, a filha do Che.

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Os meios de comunicação foramum dos temas principais dosdebates no terceiro Fórum So-

cial Mundial. O eixo 3 do evento, Mídia,cultura e contra-hegemonia, mobilizouum grande número de pessoas em dis-putadas conferências, seminários e me-sas-redondas. A Internet esteve sempreem pauta, fortalecendo a idéia de sua im-portância como instrumento de inclusãosocial. Os meios de comunicação alter-nativos, muito presentes em Porto Ale-gre, dedicaram a ele muitas oficinas.Falou-se inclusive na “criação de umarede de meios de comunicação alterna-tivos”.

Ignacio Ramonet, do jornal francêsLe Monde Diplomatique, apresentou osgrandes meios de comunicação como“os agentes principais da globalização”.Segundo ele, são multinacionais que en-globam todas as formas e meios de co-municação em escala planetária. Aban-donando o seu papel de “quarto poderou contra poder”, os grandes meios decomunicação “se uniram ao poder” paraoprimir os povos, afirmou Ramonet.Diante desta situação, ele propôs a cria-ção de um Observatório Internacionaldos Meios de Comunicação, que foi lan-çado no dia 27 de fevereiro em PortoAlegre (ver matéria na página 21).

Para Ramonet, a Venezuela, que vi-veu uma crise política durante váriosmeses, é um caso típico em que os mei-os de comunicação “assumem o poderideológico contra as reformas sociais”Esta situação pode ocorrer também noEquador e no Brasil, preveniu. No Equa-dor, o ex-coronel golpista LúcioGutierez, que tomou parte numa revoltaindígena, assumiu o cargo em 15 de ja-neiro depois de ser eleito presidente.

Ignacio Ramonet também retomouo conceito de “ecologia da informação”,lançado no ano passado no segundoFórum Social Mundial. É preciso “queos jornalistas ajam conforme a sua cons-ciência e não em função dos interessesdaqueles que os empregam”, afirmou.É preciso exigir “mais ética”, o respeitoà verdade e a regras deontológicas.

Uma agenda socialSally Burch, diretora da Agência La-

tino-Americana de Informação (Alai),com sede em Quito, no Equador, ava-liou que o principal desafio consiste em“desenvolver uma agenda social de co-municação”, considerando a comunica-ção como “um direito humano funda-mental e estratégico”. Para ela, a luta pela

Fórum Social Mundial

A mídia, tema principal do Fórumdemocratização da comu-nicação é uma das lutaschaves do novo milênio edeve figurar na agenda dosmovimentos sociais.

Desenvolver uma agen-da social de comunicaçãopassa por um conjunto deeixos que dizem respeito adiversos setores, afirmouSally Burch. “Essa agendadeve levar em conta a ne-cessidade de lutar contra aconcentração dos meios decomunicação, pelo estabe-lecimento de políticas pú-blicas de comunicação, depolíticas de participaçãodos cidadãos nos proces-sos de comunicação e nadefesa de uma informaçãoindependente”, propôs.

É preciso também,prosseguiu Sally Burch,cuidar para que os meiosde comunicação façam oseu trabalho como “umserviço social”, contribuirpara que os indivíduos se-

jam considerados como cidadãos e nãocomo “consumidores dos meios de co-municação”, rejeitar a imagem sexista ecombater “a falta de visibilidade dasmulheres como protagonistas e figurasde opinião”.

Sally Burch manifestou a sua preo-cupação sobre como será a atitude dospoderes em relação a várias questões daatualidade. Ela avalia que a maneira comoo problema da segurança dos dados seapresenta hoje nos Estados Unidos co-

loca em risco a segurança dos cidadãos.Segundo ela, a atitude do governo nor-te-americano mostra que a tecnologia,que pode facilitar a emancipação dosagentes sociais, também pode favore-cer o autoritarismo.

“Inimigos fictícios”A filipina Susanna Georges falou so-

bre o papel dos “meios de comunicaçãoglobais” em diversas situações. Estigma-tizou a “homogeneização das culturas”

e a “criação de grandes inimigos fictíci-os”. Insurgiu-se contra o fato de que atelevisão não mostrou as milhares devítimas afegãs do ataque norte-ameri-cano de 10 de outubro de 2001, comomostrou a dor das famílias americanasdepois dos atentados de 11 de setembrodo mesmo ano em Washington e NovaYork.

Também denunciou “a banalização domilitarismo e da violência” através dos“matadores heróis”, que fazem parte daprogramação diária dos meios de comu-nicação. Além disso, condenou o queconsidera “uma crescente aliança entreas multinacionais da comunicação e asNações Unidas”.

Esta aliança se explica, segundoSusanna Georges, pelo fato de que a or-ganização mundial aceitou, em váriasocasiões, financiamento demultinacionais, como a Time Warner, quelhe fez a doação de 10 milhões de dóla-res. Susanna Georges conclui que osmeios de comunicação “têm interesse nagovernância global” e sugere “uma am-pla resistência” e a crítica às “idéias re-cebidas” .

Escrever a históriaNa mesma linha, o jornalista Eugê-

nio Bucci, presidente da Radiobrás, seposicionou em relação às multinacionaisda comunicação, que são, segundo ele,“incompatíveis com a democracia e ainformação”. Hoje, afirmou, além de “fa-bricar a mercadoria, as multinacionaistambém fabricam a imagem da merca-doria”, “além de reproduzir o capital,também fabricam a representação docapital”.

“Tudo se torna imagem e espetá-culo”, critica Eugênio Bucci, que res-salta que “o jornalismo foi absorvidopelo show business”. “Não se perce-be que as pessoas se tornam merca-dorias”, prosseguiu. Para EugênioBucci, até a guerra é transformada emespetáculo. Fazendo alusão aos aten-tados de 11 de setembro e seu trata-mento pelos meios de comunicaçãoglobais, o especialista brasileiro co-mentou: “É no olhar que a guerra co-meça.”

Por fim, Eugênio Bucci se pronun-ciou pela construção e pelo reforço deinstrumentos públicos de informaçãoe de comunicação, visando a expan-são do direito à informação e “para queos cidadãos possam ter condições deescrever a história antes que o merca-do a escreva em seu lugar”.

Ramonet: “a grande mídia se uniuao poder para oprimir os povos”

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Os meios de comunicação pri-vados da Venezuela criaram ascondições para o golpe de

Estado de 11 de abril de 2002 contrao presidente constitucional HugoChavez, fabricaram o pretexto paraque ele fosse concretizado sobretudona televisão e promoveram o gover-no golpista. Chegaram inclusive aocupar alguns de seus cargos, denun-ciaram e lincharam pessoas conside-radas simpatizantes do presidente, eimpuseram um black-out quando apopulação se revoltou.

A denúncia foi feita numa audiên-cia pública sobre os meios de comu-nicação privados da Venezuela reali-zada no dia 27 de janeiro em PortoAlegre, no terceiro Fórum SocialMundial. A iniciativa da audiênciapública foi do Observatório Interna-cional dos Meios de Comunicação(Media Watch Global), lançado duran-te o evento.

Um júri de especialistas internaci-onais da comunicação, formado porNaomi Klein (Canadá), Daniel Hertz(Brasil), Gianni Mina (Itália), Tariq Ali(Paquistão) e Steve Rendall (EstadosUnidos), e presidido pelo PrêmioNobel da Paz Adolfo Perez Esquivel(Argentina) e por Walden Bello (Fili-pinas), membro do Comitê Internaci-onal do Fórum Social Mundial, ouviue interrogou seis testemunhas.

Depois de uma introdução históri-ca dos professores Earle Herrera eLuiz Brito Garcia, da Venezuela, astestemunhas, apoiando-se em proje-ções de vídeo, descreveram a atua-ção da mídia venezuelana privada con-tra o presidente Hugo Chavez. AndresIzarra, ex-diretor de informação docanal RCTV, contou como foi demi-tido em pleno golpe de Estado devidoà decisão do seu canal de censurarqualquer declaração e imagem do pre-sidente Chavez.

As outras testemunhas explicaramcomo, depois de restabelecida a de-mocracia, os mesmos meios de co-municação privados continuam cons-pirando mediante a manipulaçãosubliminar, a incitação ao ódio sociale racial, a propaganda de guerra, oapelo contínuo para que as institui-ções democráticas sejam ignoradase o governo constitucional seja der-rubado outra vez. O dirigente ruralBráulio Álvarez detalhou como osmeios de comunicação identificam ostrabalhadores do campo com os ter-roristas e invasores para justificar a

repressão aos beneficiáriosda nova Lei das Terras.

Uma representante dosíndios denunciou que as rá-dios e televisões privadasdifamam os indígenas atodo momento, tratando-oscomo “animais” pagos com“laranjas e bananas” pelopresidente Chavez. BlancaEekhout, diretora da CatiaTVE, uma das televisões co-munitárias mais importantesda Venezuela, relatou a de-núncia da rede afro-ameri-cana da Venezuela das cam-panhas racistas permanen-tes dos meios de comunica-ção privados. Em nome daAssociação Nacional dosMeios Comunitários, Alter-nativos e Livres, GabrielaFuentes explicou que a de-lação por esses meios de co-municação privados daque-les “que usam câmaras emminiatura” resultou emagressões aos jornalistas dascomunidades populares.

Como exemplo de fal ta deprofissionalismo, Ignacio Ramonet,diretor do jornal francês Le MondeDiplomatique, contou o caso de umafalsa entrevista na qual teria critica-do duramente o presidente Chavez,publicada pelo jornal de oposição ElNacional. Para Gabriel Prioli, da TVEducativa de São Paulo, o compor-tamento dos meios de comunicaçãoprivados na Venezuela é motivo devergonha para todos os jornalistas

não só da América Latina como doresto do mundo. Gianni Mina, jorna-lista italiano, criticou a pressão queé feita contra a Venezuela pelos mei-os de comunicação no plano inter-nacional.

No final da audiência, cada jura-do formulou suas observações e re-comendações. O escritor paquistanêsTariq Ali, que vive exilado há muitosanos na Inglaterra, disse que o mo-nopólio dos meios de comunicaçãona Venezuela é politicamente corrup-

Fórum Social Mundial

Um golpe de Estado preparado pela mídiato e deve ser cassado. SegundoNaomi Klein, as Ongs que defendemos direitos humanos se concentrammuito nas restrições impostas peloEstado e deveriam ocupar-se maiscom a concentração cada vez maiordos meios de comunicação nas mãosde grupos multinacionais.

Steve Rendall, da poderosa orga-nização nor te-americana Fair(Fairness and Accuracy inReporting), opôs-se ao fechamentode canais, mas recomendou que me-didas sejam tomadas contra os mei-os de comunicação que apoiam gol-pes de Estado e a violência, comofaria qualquer país. “Nenhum ataquecontra a imprensa deve ser tolerado,o que significa que é preciso ouvirtambém as denúncias dos meios decomunicação comunitários”, decla-rou.

Com os outros jurados, Rendallsugeriu que a investigação continueem abril em Caracas e alguns já ma-nifestaram sua intenção de mantercontato com donos e diretores demídias comerciais para entender me-lhor como esses fatos puderam acon-tecer. Daniel Herz, do Conselho Na-cional de Comunicação Social e daFederação Nacional dos Jornalistas(Fenaj), acentuou a necessidade deum controle público sobre os meiosde comunicação e do reforço parale-lo de um setor de meios de comuni-cação comunitários.

InteressesinternacionaisOs dois principais veículos inter-

nacionais que agridem o governo dopres idente Hugo Chavez, daVenezuela, são a rede CNN (CableNews Network) e o jornal espanholEl País. A denúncia foi feita pelojornalista Heinz Dieterich Steffan epublicada no site alternativo espanholRebelión (www.rebelion.es).

Steffan escreve que três anos deguerra de informação do canal de te-levisão CNN, dos Estados Unidos, edo jornal espanhol El Pais contra ogoverno consti tucional de HugoChavez obrigam a indagar sobre osmotivos dessa agressão constante damídia. Em sua matéria, Steffan per-gunta como se explica a ati tudeantiética desses dois grandes veícu-los contra um dos governos mais de-mocráticos da América Latina.

“A resposta se encontra na rede

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Blanca Eekhout, diretora da Catia TVE,televisão comunitária da Venezuela

Daniel Herz, do Conselho Nacional deComunicação Social e da Fenaj

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Um dos eventos principais do ter-ceiro Fórum Social Mundial foio lançamento, dia 27 de janeiro,

do Observatório Global dos Meios de Co-municação (Media Watch Global, em in-glês). O objetivo da nova organização in-ternacional é produzir e comunicar infor-mação, e promover e garantir o direito àinformação dos cidadãos em todos os pa-íses do mundo. O presidente da nova en-tidade é o jornalista Ignacio Ramonet,diretor do jornal francês Le MondeDiplomatique.

O Observatório Global terá a sua sedeem Paris e deverá reunir associações epessoas do setor jornalístico, universitá-rio e associativo. A sua carta de princípi-os, que foi lida na presença de mais de400 pessoas no Anfiteatro da PUC do RioGrande do Sul, entre as quais muitos jor-nalistas, convoca todos os cidadãos alutar pelo respeito à ética jornalística emnível nacional e internacional e contra amanipulação da informação.

A carta de princípios destaca que aentidade “expressa a preocupação de to-dos os cidadãos diante do poder e da ar-rogância dos gigantes da comunicação”.Analisando que “a honestidade e oprofissionalismo jornalísticos se encon-tram em queda livre”, a organização sepropõe a examinar “a construção do con-teúdo das notícias, assinalando todas asdistorções e manipulações que possamser feitas: encobrimento da informação,desprezo da ética e da honestidade,distorção dos fatos, invenção de realida-des falsas, difusão de propaganda”.

Segundo Ramonet, a proposta danova organização é analisar as causas

Fórum Social Mundial

Um observatóriomundial da mídia

estruturais dadesinformação e amaneira como ainformação é pro-duzida. “O Obser-vatório Global dosMeios de Comuni-cação quer ser so-lidário com os jor-nalistas indepen-dentes e sua von-tade de valorizar oequilíbrio e a di-versidade da infor-mação”, afirmou ojornalista francês.

O resultadoque se pretende obter com o Observató-rio Global dos Meios de Comunicação éa formação de um “poder civil”, que seoponha ao poder dominante, explicouRamonet. A novidade dessa estruturaestá, segundo ele, no fato de que ela per-mite a coabitação entre jornalistas, pes-quisadores e representantes de outros se-tores.

O jornalista Roberto Savio, da agên-cia italiana Inter Press Service (IPS) esecretário geral da nova organização, afir-mou que o Observatório vem apoiar pro-fissionais da informação contra “a inter-ferência dos donos dos meios de comu-nicação”, visando a liberdade de exercí-cio da profissão de jornalista.

Muitos participantes do terceiroFórum Social Mundial aplaudiram a cria-ção da nova estrutura. Representantes devárias redes de observação, sobretudodos Estados Unidos, da Itália e daVenezuela, afirmaram a sua intenção de

de negócios econômicos e políticosdo neocolonialismo espanhol, doneoliberalismo norte-americano e dealgumas oligarquias latino-america-nas”, observa Steffan. “Estão emcena o magnata venezuelano GustavoCisneros, o ex-presidente social-de-mocrata venezuelano Carlos AndresPerez, o ex-primeiro-ministro espa-nhol Felipe González, o atual primei-ro-ministro espanhol José MariaAznar, o magnata Jesus de Polanco,o ex-presidente argentino Carlos SaúlMenem e a elite política dos EstadosUnidos, sobretudo a dinastia Bush.”

Segundo Steffan, a vertente darede foi montada nos anos 70, quan-do Felipe González era secretário ge-ral do Partido Socialista Operário Es-panhol (PSOE) e Carlos AndresPerez presidente da Venezuela, de1974 a 1979. Os dois faziam parteda Internacional Socialista e logo “fi-zeram uma grande amizade, à qualse juntou o importante homem de ne-gócios Gustavo Cisneros, que ajudouo socialista espanhol com suas mui-tas relações internacionais e sua ri-queza”, af i rma Heinz Dieter ichSteffan.

Já a agressão prolongada na mídiamultinacional da CNN ao governovenezuelano se deve a quatro fato-res, na opinião de Steffan: “os inte-resses e as redes econômicas, polí-ticas e acadêmicas internacionais domagnata ant i -chavis ta GustavoCisneros e de outros membros da oli-garquia venezuelana, como o ex-pre-sidente da PDVSA (a empresa públi-ca venezuelana de petróleo), LuisGiusti, que em 1998 quis privatizara empresa e hoje é assessor sobrequestões energéticas do presidenteGeorge W. Bush; a venda da CNN àtransnacional Time Warner, Inc., em1996, e a fusão posterior com aAmerica Online (AOL), em 2001; asubordinação incondicional da CNNao projeto da nova ordem mundial deGeorge W. Bush, Donald Rumsfelde Dick Cheney, depois de 11 de se-tembro; e a situação deplorável deseus jornalistas, moderadores e co-mentaristas”.

“São muitos os negócios da eco-nomia global que não resultam deuma melhor posição decompetitividade no mercado, massão efeito da integração da elite eco-nômica a redes informais do poder et ráf ico de inf luências” , af i rmaSteffan. “É nesse aspecto que o po-der do Grupo Cisneros é temível epermite que ele influencie a políticanacional e internacional”.

colaborar com o Observatório Global. Po-rém, alguns deles acharam que o campode intervenção desse organismo não develimitar-se à informação, mas deve abran-ger toda a produção dos meios de comu-nicação.

Alguns representantes dos países doterceiro mundo sugeriram que a ação doObservatório não se limite à luta contra ocontrole das multinacionais sobre a in-formação e lembraram os entraves polí-ticos à liberdade de expressão em muitospaíses do hemisfério sul.

Dois brasileiros fazem parte do Con-selho de Administração do Media WatchGlobal. O advogado Joaquim Palhares,de Porto Alegre, é um de seus vice-pre-sidentes, e o jornalista Carlos Tibúrcio,de São Paulo, é o seu secretário-geraladjunto. A jornalista Beth Costa, presi-dente da Federação Nacional dos Jorna-listas (Fenaj), também participou damesa-redonda de lançamento.

Faleceuno dia 16 defevere i ro ,aos 50 anos,em conse-qüência decompl ica-ções decor-rentes deum trans-plante de fí-gado, o jor-

nalista Lourival Souza Curvelo (foto),coordenador de reportagem da TevêParanaense/Canal 12, emissora da

Morrem Lourival Curvelo e Fernando Câmara

Memória

Rede Paranaense de Comunicação(RPC). Natural de Poções (BA), Curveloera filho de Manoel José Curvelo e AnáliaSouza Curvelo. Ingressou na RedeParanaense em junho de 1989 como pro-dutor, passou a chefe de produção echefe de reportagem. Trabalhou comorepórter na CNT e como editor na rádioEducativa. Deixa viúva Vanderluiza San-tos e três filhos, sendo uma do primeirocasamento. O corpo foi sepultado dia17 de fevereiro no Cemitério ParqueIguaçu.

O jornalista Fernando Câmara, 38anos, morreu às 6h da manhã do dia 24

de março, vítima de derrame cerebral.Câmara estava internado desde o dia22 no Hospital Santa Casa MonsenhorGuilherme. Fernando Câmara trabalha-va há 11 anos como produtor na TVCataratas, afiliada da Globo. Formadopela UniSinos (RS), trabalhou tambémno jornal O Mensageiro, de Medianeira(PR), na sucursal de O Estado doParaná em Foz do Iguaçu, e foi repór-ter da TV Naipi (SBT). Era muito res-peitado e colecionou inúmeros elogiosde seus colegas de profissão, princi-palmente pela exemplar conduta pro-fissional e pessoal.

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Beth Costa, presidente da Fenaj, participou dolançamento do Observatório Global da Mídia

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22 - E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 6 1 - j a n e i r o a a b r i l - 2 0 0 3

Emildo Coutinho

Único museu da notícia interativodo mundo, o Newseum (junçãodas palavras inglesas news e

museum) é um ponto de parada obrigató-rio para todos os profissionais de comu-nicação ou simpatizantes que visitam acosta leste dos Estados Unidos. Funda-do pelo The Freedom Forum - entidadeinternacional não-partidária dedicada à li-berdade de imprensa - está localizado nacidade de Arlington, no estado da Virgínia,região que faz parte da área metropolita-na de Washington D.C.

Com o slogan “a história atrás danotícia”, a instituição tem como objeti-vo ajudar público e mídia a entenderemmelhor um ao outro através de exposi-ções, programas educacionais e outrasatividades. “Neste sentido, mostramosao público o que é, onde achamos ecomo são feitas as notícias veiculadaspor jornal, revista, televisão e rádio”, dizMargareth Engel, jornalista da equipe domuseu.

Para isso, o Newseum traça a evolu-ção do ato de comunicar-se desde tem-pos ancestrais, passando pelo Egito an-tigo, até a tecnologia da comunicaçãoglobal dos dias atuais. Para contar essahistória, são exibidos artefatos, objetos,jornais históricos, revistas, fotografias,notícias de rádio e imagem, muita ima-gem.

A parte interativa consiste na possi-bilidade de o visitante ter a experiênciade ser um âncora ou correspondente deTV em imagem gravada num vídeo de 5minutos que pode ser comprado a US$7,00. Quanto ao jornalismo impresso,pode-se testar habilidades como repór-ter de jornal, repórter fotográfico oueditor através de programa de compu-tador que possibilita ao visitante ser ummembro da equipe do jornal ficcional TheDaily Miracle. Nessa seção do museuhá o Ethics Center. Desta vez, o visitan-te pode explorar um drama mais com-plexo enfrentado por jornalistas: a ques-tão da ética. Há, ainda, a oportunidadede participar de programas que são gra-vados com jornalistas e outros profissi-onais de comunicação em estúdio insta-lado dentro do museu.

Os primórdios da notíciaA visita ao museu se inicia pela Early

News Gallery, algo assim como “Galeriadas Primeiras Notícias”. Nesta seção es-tão os artefatos usados pelo homem paracomunicar-se antes do advento da im-pressão. São tambores, buzinas, berran-

memórias da mídia

tes e outros objetos utilizadospara emitir som. As notíciaseram avisos de perigo, ondeencontrar comida, divulgarordens de chefes tribais, avi-sos de guerra ou paz, nasci-mento ou morte. Entre os ob-jetos dessa primeira galeria seencontra uma rocha com pin-tura rupestre descoberta nonorte da África. Feita por vol-ta de 4000 a.C., mostra o queseria a forma mais antiga detrocar notícias: conversando.Gravada na rocha, pode-sever a imagem de duas pesso-as sentadas. Enquanto umafala e gesticula, a outra pareceouvir com atenção.

A parte da notícia escri-ta começa pelos sumérios,que em algum período du-rante o quarto milênio an-tes de Cristo, onde hoje seencontra o Iraque, começa-ram a gravar símbolos emblocos de barro. As infor-

mações eram vitórias militares, editaise acontecimentos diários, como nas-cimentos, mortes e pagamentos de dí-vidas. Desse período, encontra-se noNewseum uma pedra de argila naqual, por volta de 2100 a.C., foi gra-vada a notícia “sua adorável mulherteve um filho”.

Em seguida, vem a seção do Egitoantigo, que adotou a idéia dossumérios e desenvolveu oshieróglifos, criando com isso umaclasse privilegiada: os escribas. Nes-sa seção, pode-se apreciar pedaços depapiros contendo a escrita egípcia euma estátua de Thoth, o deus dosescribas.

Após informações sobre o siste-ma de impressão usando blocos demadeira esculpidos que eram pressi-onados sobre papel - criado pelos

chineses - e, mais tarde, a invençãodos tipos móveis de chumbo porJohann Gutenberg, passando pelaescrita mais pré-colombiana, chega-mos à News History Gallery, ondese pode contemplar mais de 500 anosde história.

A aventura da notíciaA News History Gallery começa com

Cristóvão Colombo escrevendo sobresua viagem ao Novo Mundo e chega aténossa época, onde recebemos notíciasatravés de material impresso, rádio, te-levisão e Internet. Faz parte dessa gale-ria uma coleção inigualável de jornaisantigos originais e, novamente, rarosartefatos e objetos pertencentes a repór-teres que fizeram a história da notícia.Entre eles podemos contemplar umaimpressora de madeira do século 17,

Newseum, um museu interativocontendo os tipos móveis, e um vídeomostrando seu funcionamento utilizan-do personagens com figurino da época.

Para os apaixonados por reportagem,talvez essa seja a parte mais atraente doNewseum. Nela, encontramos algumascuriosidades, como informações sobrea primeira mulher contratada como re-pórter por um jornal diário norte-ameri-cano. Trata-se de Margaret Fuller (1810-1850), que posteriormente também se-ria a primeira correspondente femininana Europa. Na volta para os EstadosUnidos, seu navio naufraga, morrendocom ela seu marido e filho. Outra jovemrepórter, Nellie Bly (1864-1922), dá avolta ao mundo em 72 dias, quebrandoo record da personagem de Júlio Verneem “A Volta ao Mundo em 80 Dias”.Entre os fotógrafos, encontramosGeorge Watson (1892-1977), que se des-tacou por sua excentricidade ao foto-grafar astros de Hollywood para o TheLos Angeles Times na década de 20.

Além das exposições permanentes, omuseu promove outras temporadas comtemas diversos. A última realizada, “His-tórias de Guerra”, mostrou um vastomaterial sobre jornalismo em épocas deconflito. Entre os objetos expostos, umaporta de carro perfurada com balas deaço mostrou um pouco do drama vividopelo repórter fotográfico Chris Morrisquando na Bósnia a serviço da Time.Acompanha as exposições programa gra-tuito e aberto ao público no qual se dis-cute o tema abordado. Para este último,foram convidados vários repórteres efotógrafos correspondentes de guerrapara falar sobre suas experiências.

ServiçoNewseum (1101 Wilson Blvd,

Arlington, VA/www.newseum.org)

Graduado pela Universidade Estadualde Ponta Grossa (UEPG), EmildoCoutinho, 33 anos, se autodefine comoum eterno apaixonado pela profissão.“Paixão ou vício, uma vez que me disse-ram que jornalismo é uma ‘cachaça’ ”.diz ele. Passou por várias redações noParaná, mas a única coisa que lembracom grande satisfação são várias gran-des reportagens que fez como freelancerpara a Folha do Paraná - muitas capasdo Caderno 2 - onde, segundo ele, pôdeexercer plenamente suas habilidades. Atu-almente residindo em Washington D.C.,Emildo trabalha como repórter fotográ-fico freelancer enquanto estuda inglêsacadêmico para dar início a um mestradoem comunicação na American University.

Newseum, um ponto de parada obrigatório

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Liberdade de imprensa

Jornalista da Gazeta do Povo éagredido na Prefeitura de Farol

Ojornalista Dilmércio Daleffe,correspondente da Gazeta doPovo em Campo Mourão, foi

agredido no dia 25 de fevereiro depoisde uma entrevista que fez com o prefei-to da cidade de Farol, Edson Martins(PSDB), sobre a contratação de paren-tes na administração da cidade, que ficaperto de Campo Mourão. Dilmércio re-cebeu um soco de Nildo Martins, irmãodo prefeito e seu chefe de gabinete.

Dilmércio tentou entrevistar por te-lefone o prefeito de Farol sobre denún-cia de nepotismo na administração domunicípio. Edson Martins respondeuque só falaria se o repórter se deslo-casse até a sua cidade. Dilmércio foi aFarol e a entrevista, que durou cercade uma hora, transcorreu normalmen-te. Quando ia se despedir, o prefeitodisse ao repórter que vereadores da ci-dade queriam falar com ele sobre umamatéria que havia escrito sobre a Câ-mara Municipal da cidade. Há algunsmeses atrás, Dilmércio redigiu matériadenunciando que os vereadores de Fa-rol não haviam apresentado nenhumprojeto de lei nos últimos anos.

Entraram na sala do prefeito doze pes-soas, entre as quais Nildo Martins, che-fe de gabinete da prefeitura, que colo-caram um banco na porta, impedindoque o correspondente da Gazeta do Povopudesse sair. Então Nildo Martins, quefoi policial em São Paulo, começou aagredir verbalmente o jornalista.Dilmércio tentou sair, quando recebeuum soco do chefe de gabinete do pre-feito de Farol.

O Sindicato dos Jornalistas Profis-sionais do Paraná publicou uma notade repúdio à agressão que Dilmérciosofreu na Prefeitura de Farol e tomouprovidências para que os responsáveis

sejam punidos. A Gazeta do Povo co-locou seu Departamento Jurídico à dis-posição do seu correspondente emCampo Mourão.

Há quatro meses atrás, outro jorna-lista, Sid Fauer, repórter da Folha deLondrina em Campo Mourão, também

foi agredido verbalmente por NildoMartins. Sid recebeu a denúncia de queo prefeito havia aplicado um duro cas-tigo a um funcionário do almoxarifadoda prefeitura de Farol. Sid foi conferira denúncia e, assim que entrou na ci-dade, começou a ser agredido verbal-

mente pelo irmão do prefeito de Farol.Nildo Martins tentou intimidar o repór-ter da Folha de Londrina, dizendo que“tomasse cuidado” com o que ia pu-blicar.

Outro ladoOuvido pelo Extra Pauta, o prefei-

to de Farol afirmou: “Não vi nada. Naminha frente não aconteceu nada. Emnosso gabinete tratamos bem até osque falam mal da cidade. Se houveagressão não foi dentro da Prefeitu-ra.”

NOTA DE REPÚDIO

O Sindicato dos Jornalistas Profis-sionais do Paraná - Sindijor/PR e a Fe-deração Nacional dos Jornalistas -FENAJ repudiam a agressão praticadapelo prefeito de Farol (PR), EdsonMartins (PSDB), e pelo seu irmão NildoMartins, contra o jornalista DilmércioDaleffe. A atitude representa um aten-tado à liberdade de imprensa, na medi-da em que tenta cercear o livre exercí-cio da profissão de jornalista, garanti-do pela Constituição e pela Lei de Im-prensa. A democracia também é deson-rada quando ocupantes de cargos pú-blicos abandonam a civilidade e o res-peito ao ser humano e adotam a agres-são física para coagir e atingir objeti-vos políticos.

O Sindijor/PR levará o caso a todosos Poderes, instâncias e esferas com-petentes para que esse crime seja apu-rado e os culpados, punidos. A entida-de pede às autoridades rigor na apura-ção desse grave crime contra o jorna-lista Dilmércio Daleffe, contra a liber-dade de imprensa e contra a democra-cia.

A Cooperativa dos Trabalhadores na Im-prensa do Paraná - Cootipar, convoca todosos seus membros cooperados para a Assem-bléia Geral Extraordinária, a realizar-se nasexta-feira, dia 25 de abril de 2003, em suasede à rua José Loure i ro , 211 , Cur i t iba ,Paraná. A primeira convocação será feita às14:00 horas, com dois terços (2/3) dos mem-bros; não havendo quorum, a segunda con-vocação ocorrerá às 15:00 horas, com o com-

Assembléia Geral da Cootiparparecimento de metade mais um de seus mem-bros; se ainda assim não houver quorum, seráfeita uma terceira convocação, às 16:00 horas,com dez (10) cooperados presentes. A Assem-bléia Geral Extraordinária obedecerá à seguinteOrdem do Dia:

1 - Discussão e aprovação da ata da Assem-bléia anterior;

2 - Alteração do art igo 28 dos Estatutos(Extinção do Conselho de Administração);

3 - Alteração do período de gestão da Di-retoria, de dois (02) para cinco (05) anos;

4 - D e s l i g a m e n t o d e c o o p e r a d o sinadimplentes

5 - Eleição da nova Diretoria;6 - Assuntos diversos.

Curitiba, 06 de março de 2003

A Diretoria

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Delegacia de Foz do Iguaçu

Alexandre Palmar

Omanifesto do 7 de abril marcouum importante passo do jorna-lismo em Foz do Iguaçu. Profis-

sionais e estudantes aproveitaram a datapara ocupar a Praça das Nações, colégi-os e para ser notícia na mídia. O objetivofoi nasce uma bandeira que nasce na ca-tegoria, mas atinge todo o Brasil: a quali-dade de informação, respeito à sociedadee ética.

Foram realizados debates e distribuí-dos seis mil panfletos, que provocaramsecundaristas e população a não aceita-rem o pensamento único, a sempre bus-car mais de uma fonte de informação e,principalmente, a diferenciar jornalistasde supostos jornalistas e a separar jorna-listas de donos de veículo de comunica-ção. O segundo momento desse trabalhoé a montagem de clubes de leitura alter-nativa e crítica.

Importante passo dos jornalistas em Foz

O ato foi organizado pela Delegaciade Foz e Região do Sindicato dos Jorna-listas Profissionais do Paraná, em parce-ria com um grupo de dez jornalistas vo-luntários e do Centro Acadêmico de Jor-

nalismo da UDC. A concentração acon-teceu às 18 horas, com discurso pró-for-mação superior e duas apresentações te-atrais, uma da Cia. de Teatro Foz e outrado Grupo Amadeus.

Durante o dia, o ato público contoucom as exposições “A língua do fotógra-fo e olhar do poeta” (sete fotojornalistasretratam o cotidiano de Foz), “Retratosda fronteira” (Fabrício Azambuja), “Ín-dio” (Áurea Cunha), “Passagem para aÁfrica” (Dalmont Benites) e fotos pro-duzidas por estudantes de jornalismo.Também teve mostra sobre o históricoda regulamentação, painel contra o ata-que dos EUA ao Iraque, banca de livrose mostra de poesias de Carlos Luz.

O movimento colheu adesões para oabaixo-assinado que reivindica a forma-ção superior em jornalismo como condi-ção mínima para o jornalismo e contoucom ampla cobertura da imprensa locale estadual. Para os organizadores, o re-sultado foi positivo porque a delegacialocal sempre empunhou bandeiras da so-ciedade, mas desta vez saiu às ruas paralevantar uma causa ao lado do povo, sen-do bem recebida pela comunidade.

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Estágio é fiscalizado

ADelegacia de Foz do Iguaçu eRegião do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná

está notificando as empresas de comu-nicação e órgãos públicos da cidade queestiverem contratando estudantes de co-municação como estagiários. Atualmen-te, vários acadêmicos, de diferentes pe-ríodos, estão trabalhando ilegalmente emjornais, assessorias, emissoras de rádioe televisão a cabo. A prática estudantilfere o Decreto 83284, de 1979, que re-gulamentou o exercício da profissão.

Segundo o artigo 19, “constitui frau-de a prestação de serviços profissionaisgratuitos, ou com pagamentos simbóli-cos, sob pretexto de estágio, bolsa decomplementação, convênio ou qualqueroutra modalidade, em desrespeito à le-gislação trabalhista e a este regulamen-to”.

Além da afronta à legislação, outrograve problema identificado foi a faltade acompanhamento de profissionais notrabalho dos estagiários. O que era paraser um período de aprendizado fora dasala de aula acaba constituindo-se – namaioria dos casos – no repasse de víci-os das redações.

A ilegalidade tem outros reflexos. Osestudantes recebem remuneração infe-rior a meio piso salarial, trabalham mui-tas vezes numa jornada superior às cin-co horas da categoria e assinam matéri-as como free lancer, sem dizer que, des-

Acervo permiteintercâmbiota forma, as empresas ficam isentas de

pagar encargos trabalhistas.As empresas dispensam seus re-

pórteres para não pagar horas extras eao mesmo tempo contratam a mão-de-obra barata. Fica claro o desrespeito àcategoria (hoje nove profissionais es-tão desempregados na cidade).

Pior, essa prática está invertendo alógica do aprendizado em jornalismo:primeiro é preciso buscar a formaçãoteórica, depois a prática. A realidaderevela acadêmicos do primeiro perío-do – com base teórica quaseinexistente – já trabalhando em reda-ções.

PropostaDiante desse problema, a Delegacia

resgatou a proposta do InstitutoParanaense de Estudos em Jornalismo(IPEJ) para regulamentação do estágio.O documento é fruto de discussões daFederação Nacional dos Jornalistas(Fenaj), Executiva Nacional dos Estu-dantes de Comunicação Social (Enecos)e sindicatos.

Entre os critérios para o estágio estáa necessidade de o estudante ter con-cluído o terceiro ano ou sexto período.Ou seja, por enquanto os alunos de ins-tituições locais não podem usufruir daproposta. Por causa dessa barreira, serápromovida uma assembléia entre alunos,professores e sindicato.

A Delegacia começou a montar umacervo de livros, revistas e outras pu-blicações relacionadas à mídia e as-suntos correlatos para consulta dosseus associados. A iniciativa, aindatímida, está longe de tornar-se umabiblioteca, porém nasce com a pers-pectiva de ser uma alternativa a maisno intercâmbio de pensamentos e in-dicações de leituras entre os associa-dos.

Por enquanto, o número de títu-los é pequeno. A entidade está abertaa doações. O acervo inclui ainda li-vros sobre política, história e econo-mia, e cópias encadernadas de títu-los sobre teoria da comunicação.

A Delegacia conseguiu, empres-tado, um acervo de quase 300 edi-ções da revista Imprensa, Comuni-cação, Jornal dos Jornais, entre ou-tras publicações de interesse da ca-tegoria, como a Caros Amigos (co-leção completa, inclusive edições es-peciais), Carta Capital, Reportagense Debate Sindical.

Entre os livros comprados recen-temente estão à disposição Arte de fa-zer um jornal diário, Ricardo Noblat;Histórias das teorias da comunicação,Armand Mattelart; Comunicação demassa sem massa, Sérgio Caparelli;

Jornalismo e desinformação, LeãoServa; Jornalismo ética e liberdade,Francisco José Karam; Ética na co-municação, Clóvis de Barros Filho;Notícia, um produto à venda,Cremilda de Araújo Medina; Texto dareportagem impressa, OswaldoCoimbra; Técnicas de codificaçãoem jornalismo, Mário Erbolato; Ma-nual de radiojornalismo Jovem Pan,Maria Elisa.

Os livros doados ao Sindicato:Manual de Imprensa do Estatuto daCriança, escrito por Ivanéa MariaPastoreli; O Jornalista Brasília, deAdísia Sá (relata a história da Fenaje dos jornalistas no Brasil); Em ou-tras palavras - Meio ambiente parajornalistas, de Teresa Urban; PautaGeral (análise da mídia), vários au-tores; Formação superior em jorna-lismo - Uma exigência que interessaà sociedade, Fenaj.

Entre os títulos sobre assessoriade imprensa, aparecem Manual dosJornalistas em Assessoria de Comu-nicação, Fenaj; Assessoria de im-prensa – O papel do assessor, diver-sos autores; A imprensa do Brasil,Fenaj; Fonte (sobre encontros naci-onais dos jornalistas de assessoria deimprensa).

Foz doIguaçuparticipa daluta a favordo diploma

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E X T R A P A U T A - J o r n a l d o S i n d i c a t o d o s J o r n a l i s t a s P r o f i s s i o n a i s d o P a r a n á - nº 6 1 - j a n e i r o a a b r i l - 2 0 0 3 - 25

Em um momento tão di-fícil da economia naci-onal, os jornalistas bus-

cam fontes para complemen-tar sua renda. Muitos deles,inclusive, dispensados dasredações por conta de um“controle de custos”, têm nostrabalhos freelancers sua úni-ca fonte de renda. Entretan-to, ao mesmo tempo que anecessidade aumenta, tam-bém cresce uma triste inci-dência: o calote.

Um exemplo disso ocor-reu com o jornalista EmersonGonçalves. Dispensado nomês de maio pela revistaMóbile, onde trabalhou pordois anos, ele começou a fa-zer frilas. “Por um lado é le-gal, porque há meses em quevocê tira mais do que se tra-balhasse com carteira assina-da. Por outro, não dá nempara o cafezinho. É bem sa-zonal”, comenta Gonçalves.

Contudo, o profissionalpassou por uma situação com-plicada ao iniciar um frilapara a recém-criada agência de notí-cias de Londrina, PRPress. “Tinhaboas referências deles. Uma agênciamontada por jornalistas e administra-da por eles. Achava que seria uma ex-periência boa”, destacou. Todo oacerto e contato para envio das ma-térias foi feito com o também jorna-lista Alexandre Horner.

Calote “on line”Internet

Para atendê-los da melhor forma,Emerson Gonçalves disponibilizouuma linha telefônica exclusiva, bemcomo um horário específico, das13h30 às 18h30. “Era regime de re-dação mesmo. No início da tarde tro-cávamos e-mails com sugestões depautas e ‘pau na mula’. Confesso quegostava do pique e da correria e de

ver o material no site, principalmenteas especiais como a que fizemos so-bre o primeiro ano dos atentados de11 de setembro”, comenta.

Em 32 dias, Gonçalves produ-ziu 58 matérias, algumas delas es-peciais, e 14 fotos. Na hora de re-ceber pelo trabalho começou seudrama. “Você ligava para os caras

e lhe diziam que os jornaisnão haviam depositado ain-da”. A situação começoua se arrastar e o profissio-nal interrompeu os traba-lhos. “Liguei , mandei e-mails pedindo para que elesme mandassem pelo me-nos o dinheiro das despe-sas com o telefone e o fo-tógrafo, contudo nem issoos caras pagaram”. Emer-s o n G o n ç a l v e s c o m e n t aque tirou do próprio bolsopara pagar as fotos feitaspara a agência.

Com a ajuda do Sindica-to dos Jornalistas, tentouuma negociação amigáveljunto da DRT. Na reunião,o mediador do Ministério doTrabalho chegou a ligar paraAlexandre Horner, que secomprometeu a fazer o de-pósito até o dia 15 de no-vembro do ano passado, oque não ocorreu. Orientadopelo departamento jurídicodo sindicato, Emerson Gon-çalves entrou com uma ação

judicial, tomando a tabela freelancerdo sindicato como base para a co-brança de seus honorários.

Recentemente, ele descobriu queoutros profissionais passaram pelomesmo problema. “Espero sincera-mente que outros colegas não en-frentem a mesma situação. A frus-tração é muito grande”, lamenta.

Televisão pública

A Televisão e a Rádio Educativa do Paraná es-tão com nova programação jornalística desde o dia10 de março. Na Rádio entrou no ar o “Jornal daEducativa”, das 7h às 7h30, e na TV o “Minuto deNotícia” e o “Serviço”. A nova programação pre-tende se adequar às características de uma televi-são pública. “A nossa filosofia está voltada para aeducação e a promoção da cidadania”, explicaBerenice Mendes, presidente da Rádio e da Televi-são Educativa do Paraná.

As mudanças começaram com o jornalismo,mas vão se estender a toda a programação da emis-sora. “Nosso compromisso é a prestação de servi-ços públicos de educação, cultura, informação eentretenimento como alternativa à programação dastevês comerciais”, diz Lu Rufalco, diretora de pro-gramação da TV Educativa. Dentro dessa filosofia

TV Educativa tem nova programaçãoestá o “Serviço”, um boletim que entra no ar nointervalo da programação. O conteúdo é semprede orientação ao cidadão.

“O jornalismo público resgata o papel social datelevisão, que é contribuir com a melhoria da qua-lidade de vida da população”, afirma Fernanda Ro-cha, diretora de jornalismo da TV Educativa. Ain-da segundo ela, esse processo começa na escolhada equipe, pois numa tv pública o jornalista deveter uma visão mais crítica a aprofundada da notí-cia.

“Para completar essa mudança é precisoconscientizar o telespectador, que também é donoda tv pública. Aqui ele tem espaço para manifestarsuas idéias, tirar dúvidas, conhecer seus direitos,saber dos deveres do estado e das decisões gover-namentais que afetam sua vida”, afirma Fernanda.

A equipe de jornalismo está completa, com 21profissionais escolhidos de acordo com a experi-ência profissional e a afinidade com a nova pro-posta da emissora. “Procuramos formar uma equipeconhecida e ao mesmo tempo respeitada. Vamospriorizar o conteúdo e não só a estética. Isso valepara os profissionais e também para os programas”,observa Fernanda Rocha.

Já nas Rádios Educativa AM e FM toda a pro-gramação foi reestruturada e as emissoras só trans-mitem em cadeia o jornal das 7h às 7h30. No res-tante do dia, as programações são independentes,intercaladas com notícias. “A visão da rádio é amesma da TV, focalizando no assunto e não naspessoas”, conta Rodrigo Leite, que ancora o jor-nal. O noticiário traz informações do dia, política,esportes e cultura.

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O advogado e jornalista RobertoRequião assumiu o governo do Estado nodia 1o de janeiro em solenidade naAssembléia Legislativa do Paraná. O seumandato irá até o final de dezembro de2006.

Como secretário da ComunicaçãoSocial assumiu o publicitário AirtonCarlos Pissetti e como secretário especialdo governador o jornalista José BeneditoPires Trindade.

Na Secretaria de Estado daComunicação Social entraram AndréLopes (ex-Hora H News), Alícia Dudeque(ex-assessora do PMDB na AssembléiaLegislativa), Carolina Lopes (ex-Hora HNews), Valdeci Lizarte (ex-PrimeiraHora), Marilda Weigert, Fabiana PiresTrindade (ex-Hora H News) e BlimaLorber (ex-Procon/PR). Elisa Carneiro(ex-Folha do Paraná), com brevepassagem pela Secretaria de Cultura,deve assumir funções especiais.

Novo governo, mudança completanas assessorias de imprensa dassecretarias de Estado. Para a Secretariade Estado da Saúde foram AdrianaTaques Mussi Endres e Carlos Eduardode Francisco.

Na Secretaria da Educação entraramEduardo Yokomizo (que continuarepórter e redator da revista Crea/PR),Jackson Gomes Júnior (ex-redator daAgência Artstudio de São Paulo/SP),Fabiana Ferreira (ex-pauteira do CanalParaná) e Marcelo Sampaio.

Na Secretaria do Planejamento, a novaassessora é Edilma Vera Rangel (ex-repórter e editora da Gazeta do Povo). NaSecretaria da Agricultura entrou AnaMaria Bordin Guernieri (cedida pelaCeasa).

Na Secretaria do Meio Ambienteencontra-se Regina Toledo (cedida peloIapar de Londrina) e Marina Koçouski(ex-assessora do Rexona e ex-PrimeiraHora). Márcia Rodrigues (ex-Fundepar)está na Secretaria do Turismo.

Cristiane Rangel (ex-Gazeta Mercantil)e Ricardo Caldas (ex-Rádio Clube) fazemassessoria na Secretaria de Transportes.Léa Oaksenberg é a nova gerente deComunicação Social da Sanepar.

Luciano Patsch (ex-revista Tudo, daAbril, São Paulo) encontra-se na

Rádio corredor

Secretaria de Segurança e Norma SueliCorreia (ex-Gazeta do Paraná), naPolícia Civil. Walmor Marcellino fazassessoria no Banco Regional deDesenvolvimento do Extremo Sul(BRDE).

Márcia Oleskovicz.(que retornou deSão Paulo, onde assessorava váriasempresas) está na Secretaria doDesenvolvimento Urbano. Natália Peres(ex-assessora na Assembléia Legislativa)trabalha na Secretaria da Indústria,Comércio e Assuntos do Mercosul.

Débora Iankilevich e Cacilda Calixto,que atuaram em assessoriasparlamentares, agora fazem assessoriana Cohapar.

Na Secretaria da Cultura está TaísMireli (que também continua na Gazetado Paraná). Valéria Palombo transferiu-separa a Secretaria da Administração. ERegina Rocha voltou para a Secretaria daCiência, Tecnologia e Ensino Superior.

Élson Faxina, ex-Canal Paraná, échefe de gabinete e coordenador decomunicação da Secretaria do Trabalho,Emprego e Promoção Social. Com eletrabalha Rosiane Correia de Freitas.

Adriano Rattmann (ex-assessor deimprensa do Coritiba FC), premiado nosdois últimos anos como melhor assessorde imprensa da crônica esportiva pelaAssociação dos Cronistas Esportivos -Acep, está na coordenação decomunicação da Paraná Esporte.

Assumiu como secretário deComunicação da Prefeitura Municipal deCuritiba o jornalista Deonilson Roldo.

Caras novas no setor de Comunicaçãoda Prefeitura: Sílvio Lohmann, SolangePatrício, Rosemeire Tardivo e SandraNassar. Saíram Guilherme Pupo, LuizLomba e Renato Muller. Manoel CarlosKaram está agora no IPPUC e Raul Urbancobre as Secretarias de Abastecimento eEsporte e Lazer.

O jornalista e repórter fotográficoLevis Litz, responsável pelo site Fotos eRumos (www.fotoserumos.com) e pelojornal Classe A, de Joinville (SC), agoraé também o editor da revista PraiaSecreta, de Curitiba, publicaçãoassociada ao jornal Praia Secreta, quetrata de assuntos relacionados comaventura, esporte e natureza.

Roberto Nicolato deixou o CadernoCultura G da Gazeta do Povo e agora sededica exclusivamente à atividadeacadêmica. No ano passado, terminou omestrado na Universidade Federal doParaná, em Estudos Literários, com adissertação intitulada “Literatura eCidade - O Universo Urbano em DaltonTrevisan”. Além do curso de Jornalismoda Tuiuti, agora também leciona nomesmo curso da Faculdade do Brasil.

O Canal Paraná montou uma novaequipe de jornalismo (foto). Dela fazemparte Fernanda Rocha (diretora deJornalismo), Valdireni Alves (chefe deredação), Ézio Ribeirette (chefe dereportagem), Abonico R. Smith (chefe deprodução), Rodrigo Leite (chefe deredação da rádio) e os repórteres eapresentadores Rosi Guilhen, CarlãoKaspchak, Renata Bonacin, IrmaBicalho, Manoel Costacurta, RossaneLemos, Izabela Barwinski de Camargo,Fábio Soruco, Mariana Gotardo,Fernando Tupan, Fernanda Stica,Marcelo Fachinello, Maicon Amoroso,Gizely Campos, Fernando César, JoséRoberto Martins, Cida Bacaycôa, EllenTaborda, Auta Resende, Darya Valeska,Mara Lúcia de Carli e Angela Ribeiro.

Foi lançado no dia 14 de março, noBeto Batata, o jornal Manifesto Arte, quejá se encontra em seu segundo número.Um pré-lançamento foi feito no CaféCultura, no dia 13. Dirigido e editado pelajornalista Audrey Farah, publicou em seuprimeiro número matérias dos jornalistasJosé Alexandre Saraiva, José Fiori eEwaldo Schleder. É um jornal feito emsistema cooperativo e conta com acolaboração de um grupo de artistas eescritores de Curitiba.

Marco Assef não é mais o assessor daPolícia Militar do Paraná. É agora ogerente do Sindicato dos JornalistasProfissionais do Paraná, em substituição

a Cosmo Santiago, que deixou a funçãodepois de quase 12 anos.

.Carlos Marassi assumiu a Secretaria

de Comunicação de Araucária. Substituiuo jornalista Renato Barroso.

Carlos Delgado (ex-Canal Paraná) é onovo editor da sucursal da TV Tarobá emCuritiba.

Elísio Alves de Abreu é o editor darevista Paladina, de Política & Cia. A

primeira edição,com 20 páginas,circulou com 15mil exemplares.Paladina tratabasicamente depolítica e édistribuídagratuitamente. Apróxima ediçãodeve sair com 25mil exemplares. Oendereço na

Internet é www.paladina.com.br.

Cristiano Luiz Freitas, editor docaderno Gazetinha, da Gazeta do Povo,recebeu dia 21 de março no Teatro Alpha,em São Paulo, troféu do Grande PrêmioAyrton Senna de Jornalismo na categoriaMídia Jovem e Infantil.

Eduardo Goulart assumiu, no início deabril, a assessoria de imprensa do ConselhoRegional de Fisioterapia e TerapiaOcupacional da 8ª Região - Crefito 8.

Paulo Eduardo Cajazeira, produtor daTV Paranaense, Canal 12, começou omestrado em Comunicação e Linguagensna Universidade Tuiuti do Paraná (UTP).Cajazeira é professor nos cursos deJornalismo da UTP e da Uniandrade.

Rodney Caetano (editor de Economiana Gazeta do Paraná, de Cascavel), queestá concluindo especialização emlingüística, semiótica e leitura de múltiplaslinguagens na Pontifícia UniversidadeCatólica do Paraná, foi aprovado nosexames de admissão ao mestrado docurso de Letras da Universidade Federaldo Paraná.

No dia 10 de abril foi lançado no CaféCultura, em Curitiba, a revista Colt 45,Arte de Grosso Calibre, editada em Fozdo Iguaçu. É dedicada à poesia e à arte econta com a colaboração de váriosjornalistas.

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convênios

Clube de Descontos Sindijor

Mais convênios:www.sindijorpr.org.br

novos convênios

OSindicato dos Jornalistas está lan-çando o Clube de DescontosSindijor. Os filiados à entidade re-

ceberão gratuitamente uma carteirinha quedará descontos em cinemas, bares, restau-rantes, danceterias, lojas e diversos outroses tabelecimentos . Acesse o endereçowww.allsul.com.br/all/menu.shtml para ve-rificar os benefícios.

* Para adquirir a carteirinha, que tem va-lidade de um ano, o jornalista deve estar emdia com o Sindicato e precisa preencher oformulár io de adesão. Acesse owww.sindijorpr.org.br para verificar sua si-tuação junto ao Sindijor e para preencher aficha.

* A carteirinha será entregue na sede doSindicato em, no máximo, sete dias. Se oassociado preferir, será enviada pelos Cor-reios, mas apenas depois de 25 dias.

* O filiado poderá adquirir a carteira tam-bém para seus dependentes. Nesse caso, po-rém, será cobrada taxa por unidade, que va-ria de R$ 10 a R$ 20. Para mais informa-ções, acesse o www.sindijorpr.org.br.

* Os antigos convênios do Sindicato —publicados mensalmente no Extra Pauta —continuam em vigor e permitem acesso coma carteira da Fenaj.

* Portanto, haverá dois tipos de convê-nios:

1) Clube de Descontos. Não aceitaráa carteira da Fenaj e terá uma carteirinhaespecífica. É organizado pela ALL SUL Ad-

ministradora de Convênios e distribuído peloSindijor.

2) Tradicionais. Acessíveis com a car-teira da Fenaj e organizados pelo Sindicatodos Jornalistas.

CLUBE DE DESCONTOS

Confira abaixo algumas das vantagens danova carteirinha:

Cinemas - 50% de desconto nos cinesPlaza, Batel e Água Verde

Danceterias - 100% de desconto nas en-tradas do The Hall, Marroks, El Rancho, Me-diterrânea, Mistura Brasil, D-Vynil, Java Bar,Cats Club e Crossroads. 50% de descontonas entradas da Millenium e Ponto Zero.

Academias - 30% na mensalidade daSportcenter. 20% na mensalidade da StudioCorpo Livre, da Body Planet´s e da Acade-mia Body Center. 15% na mensalidade da Aca-demia AM3.

Farmárcia - 25% de desconto naSindifarma.

Descontos também em postos de combus-tível e churrascarias, restaurantes, bares, lo-jas de cosméticos, perfumarias, escolas delínguas, gráficas, livrarias, lojas de calçados,oficinas mecânicas, óticas, provedores deinternet, clínicas médicas, odontológicas, fi-sioterapia e psicologia.

Mais informações sobre os descontos:www.allsul.com.br. Para receber sua cartei-ra: www.sindijorpr.org.br

tabela de preçosSALÁRIOS DE INGRESSO OUT 2002/OUT 2003

Repórter, redator, revisor, ilustrador, diagramador,

repórter fotográfico e repórter cinematográfico 1.299,23

Editor 1.688,99

Pauteiro 1.688,99

Editor chefe 1.948,84

Chefe de setor 1.948,84

Chefe de reportagem 1.948,84

Estes são os menores salários que poderão ser pagos nas redações;

Os valores da tabela são para jornada de trabalho de 5 horas.

O piso salarial da categoria é definido em Acordo Coletivo de Trabalho,

Convenção Coletiva e/ou Dissídio Coletivo.

FREE LANCE

Redação

Lauda de 20 linhas (1.440 caracteres) 69,71

Mais de duas fontes: 50% a mais

Edição por página

Tablóide 90,29

Standard 108,19

Diagramação por página

Tablóide 45,15

Standart 61,58

Revista 33,56

Tablita / Ofício / A4 22,94

Revisão

Lauda (1.440 caracteres) 18,17

Tablóide 37,95

Tablita 28,62

Standard 79,35

Ilustração

Cor 107,72

P&B 71,73

Reportagem fotográfica – ARFOC

Reportagem Editorial

Saída cor ou P&B até 3 horas 163,99

Saída cor ou P&B até 5 horas 307,87

Saída cor ou P&B até 8 horas 344,79

Adicional por foto solicitada 30,95

Foto de arquivo para uso editorial 246,31

Reportagem Comercial/Institucional

Saída cor ou P&B até 3 horas 326,64

Saída cor ou P&B até 5 horas 581,14

Saída cor ou P&B até 8 horas 774,96

Adicional por foto 61,58

Reportagem Cinematográfica

Equipamento e estrutura funcional fornecida pelo contratante

Saída até 3 horas 89,82

Saída até 5 horas 143,58

Saída até 8 horas 235,98

Adicional por hora 35,87

Foto de arquivo para uso em:

Anúncio de jornais 533,51

Anúncio de Revista e TV 574,75

Capa de Disco e Calendário 739,07

Outdoor 1132,26

Cartazes, Folhetos e Camisetas 369,53

Audiovisual até 50 unidades 780,09

Audiovisual acima de 50 unidades a combinar

Diária em reportagem que inclui viagem 452,44

Reportagem aérea internacional a combinar

Hora técnica 71,73

Observações importantes:

A produção (filme, laboratório, hospedagem, transporte, seguro de

vida, credenciamento, etc.) é por conta do contratante; Na

republicação, serão cobrados 100% do valor da tabela; A foto

editorial não pode ter Utilização comercial.

OPERADORA DE TURISMOA operadora de turismo aventura Praia Secreta concede para os jornalistas 15% de des-

conto nas descidas de Rafting no Rio Tibagi.Valor normal: R$ 42. Com desconto para jornalista: R$ 35,70Inclui: Equipamentos, instrutor especializado, logística local e uma refeição s/ bebidas

(prato típico tropeiro).Contato: Daniel Spinelli - Praia Secreta Expedições. Fone/Fax: (41) 362-3010

e-mail: [email protected] www.praiasecreta.com.br

CURSO DESENHO E PINTURA = RELAXAMENTOA artista plástica Índia O’hara abriu as inscrições para o curso de desenho e pintura. A

artista trabalha com matérias alternativos e também agrega a sua técnica um trabalho derelaxamento físico e mental, que propicia a soltura das mãos e leveza dos traços, ajudandoassim no desenvolvimento da criatividade. Inscrições pelo telefone 252-1475 ou 9191-2030.

O que: Curso de pinturaOnde: Loja Irmãos Guernieri (Av. Manoel Ribas, 1399) em frente ao McDonald’s das

Mercês.Informações: 252-1475 ou 9191-2030 com ÍndiaDesconto: 10% para jornalistas

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Imagem

Até 1979, Pablito Pereira nunca havia feito uma foto.Trabalhava com quadros artesanais e resolveu fotografá-los. “Fui fazer a revelação no laboratório do jornal OEstado do Paraná, onde encontrei o Orlando Kissner, queme mostrou como se revela um filme. Para minhasurpresa, uma de minhas fotos saiu no dia seguinte naprimeira página do jornal.”

A publicação da foto rendeu um estágio no jornal.“Três dias depois, José Sarney, articulador do governomilitar na época, veio ao Paraná lançar opluripartidarismo. Estava presente todo o mundo políticodo Estado. Ney Braga e Paulo Pimentel eram inimigospolíticos. Dei o clique bem no momento em que eles secumprimentavam. Ao ouvir o ruído da máquina, os doisse voltaram para mim. A foto saiu outra vez na primeirapágina e fui contratado pelo jornal”, lembra-se Pablito,que ainda articulava o suplemento cultural Fim deSemana.

Ele diz que a sua principal fotografia não foi editada,mas foi mostrada em uma exposição da Funarte.Registrava a última missa da ditadura militar em frente àCatedral Metropolitana de Curitiba. Representava osmilitares assistindo à missa nos degraus da basílica e umamendiga com o filho sentada aos seus pés. “A censuranão deixou a foto sair no Estado do Paraná. Tentei outrosgrandes jornais brasileiros, mas não consegui publicá-la.Por aí a gente vê a força da imagem e a força da censuradurante o regime militar.”

Pablito Pereira já deu aulas de fotografia para criançasem colégios, na Fundação Cultural e no Solar do Barão.Foi ele quem montou o Departamento de Fotografia dojornal Correio de Notícias em 1985, “o último grandemomento do fotojornalismo em preto e branco noParaná”, comenta. Fez fotos para campanhas políticas,publicitárias e humanitárias. É free-lance há doze anos eestá na área.

“Nas fotos políticas, é emocionante ver o povoreunido procurando uma luz no caos. Assim comoPicasso, eu não procuro nada. Encontro e tento registraras manifestações de busca e de crescimento da cidadania,da exigência cívica de um povo oprimido por diversostipos de poderes e coerções. Já o teatro é a face autênticadessa mesma procura. Gosto imensamente de fotografaro teatro de rua e também o dos palcos iluminados”,observa Pablito.

Numa entrevista que fez com Sebastião Salgado,perguntou a ele como havia se tornado o maior fotógrafodo mundo. “Ele respondeu que o que o diferencia deCartier-Bresson, por exemplo, é que ele entra nofenômeno, sem distanciamento. Neste momento asimagens surgem mais poderosas. Antes, ele estudaprofundamente o tema que vai fotografar. Escrever com aluz, fotografar, exige conhecimento e entrega”, vaticinaPablito Pereira.

Registrando asmanifestaçõesdo povo

Pablito